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ensaio sobre a história em Ginzburg*


Ronald Raminelli

Durante as últimas décadas, muitos historiadores se debruçaram


sobre a cultura popular. Inúmeras pesquisas voltaram-se ao passado a fim
de resgatar tradições culturais que se perderam nas "brumas do tempo".
Os resultados desse empreendimento encontram-se nas várias mono-
grafias dedicadas aos costumes, ritos e mitos há muito esquecidos ou
"metamorfoseados" pelos séculos. Contudo, a cultura popular emergida
do passado dificilmente teve seu significado original resgatado; em mui-
tos casos, o embate entre o presente (o historiador) e o pretérito (o objeto
em estudo) produziu sentidos outros, muitos deles avessos à época em
questão. Uma parte significativa da historiografia dedicou-se a esta árdua
tarefa de resgate; procurando ser o mais fiel possível ao passado, a fim
de perceber uma racionalidade estranha à nossa, capaz de dar coerência
aos procedimentos ou fenómenos estudados.1
Muitos historiadores dedicados ao tema recorreram a teorias e
metodologias provenientes da Antropologia, buscando solucionar questões
suscitadas durante as investigações. O culturalismo e o funcionalismo
forneceram pistas valiosas para a compreensão do passado; como exem-
plo, vale citar a influência de Evans-Pritchard para os estudos sobre a
feitiçaria na Grã-Bretanha realizados por Keith Thomas e Alan Macfar-
lane.2 Porém, o presente ensaio não abordará a contribuição da Antropo-
logia, mas o caminho singular percorrido por Cario Ginzburg a fim de
também pensar a cultura popular. O historiador mencionado introduziu
duas preciosas perspectivas: a primeira quando aperfeiçoou a noção de
"circularidade cultural" de M. Bakhtin,3 criando a possibilidade de se
visualizar a dinâmica cultural entre os estratos da sociedade; a outra
quando elaborou uma metodologia baseada no "paradigma indiciário",

* O ensaio é inspirado no curso ministrado pela Prof. Dr. Ana Maria Burmester, na Pós-
graduação do Departamento de História da UFPR. Na elaboração deste texto, contei com a
valiosa contribuição do professor Marnio Teixeira Pinto.
1 Encontram-se referências sobre a historiografia dedicada à cultura popular em C. Ginzburg.
O queijo e os vermes.(trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1987. pp 16-20 e Stuart Clark.
"French historians and early modern popular culture" Past & Present, 100: 62-99, 1983.
2 Sobre a influência de Evans-Pritchard na historiografia dedicada à bruxaria, ver Mary
Douglas. Witchcraft, confession and accusation. London: Tavistock, 1970.
3 Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento, (trad.) São Paulo:
Hucitec, 1987.

| Rev. Brás, de Hist. S. Paulo | v. 13, n" 25/26 j pp. 81-96 [ set. 92/ago. 93 j

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recuperando temas esquecidos pelos historiadores devido à carência inerovíngea".5 Neste artigo o historiador avalia o quanto a tradição
documental. folclórica contribuiu para o fortalecimento e difusão do cristianismo.
Nesse aspecto, o estudo demonstrou que a romanização dos
bárbaros representou um forte apelo cultural sobre a Cristandade, que
CULTURA E CIRCULARIDADE induziu o clero a promover a difusão da palavra de Cristo. Esse em-
preendimento desenvolveu-se por intermédio de dois tipos de proce-
Os problemas em torno da dinâmica cultural foram abordados por dimentos: l - - o acolhimento do folclore pelos membros da Igreja,
Jacques Lê Goff, em dois artigos luminosos, ambos da décadas de 1960, facilitado por estruturas mentais comuns, ou pelo esforço do clero em se
nas quais procurou enfatizar como a tradição popular e a cultura erudita adaptar aos seus futuros fiéis; 2 — ao mesmo tempo, a cultura erudita
mesclaram-se no mundo medieval. Em "Os camponeses e o mundo rural recusou-se a assimilar algumas práticas da cultura popular, prática
na literatura da Alta Idade Média",4 Lê Goff preocupou-se em explicai efctivada através da destruição, desnaturalização ou obliteração de ritos
a ausência do camponês na literatura dos séculos V e VI, período de c crenças. Lê Goff enfatiza, portanto, o processo pelo qual a Igreja se
intensa ruralização da economia e sociedade europeias; e enfatizou o apropriou, em parte, do legado popular e o reelaborou, a fim de
vínculo existente entre literatura e sociedade, mostrando a primeira como aproximar o mesmo do cristianismo. Por outro lado, a Igreja elegeu
"espelho deformado" da sociedade real. alguns traços culturais como proibidos e criou um aparato repressor a
A motivo para o desaparecimento do camponês do universo fim de persegui-los. O historiador procurou portanto explorar o controle
erudito encontra-se na sua perda de sustentação económica, social c exercido pelo clero sobre a manutenção, o significado, ou mesmo, sobre
mental; a sociedade rural foi combalida pelas invasões bárbaras e poi a interdição dos mais variados aspectos da cultura popular. O artigo
uma ideologia destinada a menosprezar o valor do trabalho manual. ainda conclui pelo domínio clerical do processo de circulação cultural
Entretanto, nem mesmo a conjuntura desfavorável ao homem rural pôde entre os populares e o clero, sendo esse mecanismo indispensável à
anular por completo sua participação na literatura do período. Neste difusão do cristianismo e o constante "entrosamento" entre os setores da
sentido, o historiador descobre que o camponês se apresenta, nos textos sociedade.
eruditos, por intermédio de disfarces, como pagãos (não cristianizados), A visão de Lê Goff sobre a circulação cultural está profundamente
pecadores, pobres, ignorantes e iletrados. Os trabalhadores são retratados marcada pelo marxismo ,— a classe dominante manipula os costumes e
como seres marginais e passíveis de ser alocados em um bestiário tera- assim fortalece a sua hegemonia. C. Ginzburg não concebe a dinâmica
tológico. Em síntese, Lê Goff pensa a ruralização da economia e o in- cultural de modo unilateral; pelo contrário, o historiador entende que há
cremento das ordens monacais como responsáveis pelo afastamento, e uma troca incessante entre os vários níveis culturais. Na introdução de
mesmo clivagem, entre eruditos e camponeses e, consequentemente, pela "O queijo e os vermes", Ginzburg faz inúmeras considerações sobre a
constituição de dois universos aparentemente antagónicos. questão. De início menciona que a oralidade da cultura popular provo-
A visão erudita sobre o homem do campo na Alta Idade Média cou uma certa relutância, por parte dos historiadores, em se dedicarem
nos remete aos limites do emprego da literatura como fonte historie a ao estudo histórico sobre a tradição popular. As crenças, pensamentos e
Pois, se por um lado ela fornece um conhecimento preciso sobre a idi-o costumes das classes subalternas circulam através da fala, e poucas vezes
logia de setores letrados, por outro ela é imprópria quando se necessita deixam registros escritos. Essa situação se torna ainda mais grave para
de informações sobre a sociedade real. A mencionada ausência do cam o historiador, que se debruça sobre populações localizadas em tempos
ponês patenteia a marginalidade desse elemento e o desconhecimcniu remotos e obscuros. Entretanto, em algumas raras ocasiões, é permitido
clerical da tradição popular. Além de ser um indício do despreparo ou aos estudiosos do passado entrar em contato com a tradição popular.
desinteresse, por parte do clero, em difundir o cristianismo entre os Quando isto ocorre, tal documentação se lhe apresenta por intermédio de
camponeses. O contrário, todavia, ocorre nos documentos manuseados homens eruditos, que comumente desconhecem este legado, e por isso o
por Lê Goff em "Cultura clerical e tradição folclórica na civilizada.. deformam.

4 In: Para um novo conceito de Idade Média, (trad.) Lisboa: Imprensa UnivcrsiiàiinV ' M- cit. pp 207-219.
Estampa, 1980. pp. 121-133. " (' (]in/.burg. Op.cit.

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Ainda na introdução de "O queijo e os vermes", Ginzburg expli-
Apesar das dificuldades, alguns historiadores se dedicaram ao cita sua preferência pelo termo cultura, em vez de mentalidade. E, assim,
tema, mas nem sempre obtiveram êxito. Os limites dessas pesquisas se tece considerações sobre o caráter classista do primeiro, enquanto o
evidenciam quando concebem as classes populares como alvo fácil da segundo desprezaria as diferenças e os antagonismos, enfatizando o
aculturação empreendida pelas classes dominantes: ou quando atribuem aspecto "supraclassista". Além disso, segundo o historiador italiano, os
a esse segmento traços culturais, em parte, autónomos à sua cultura; estudos de mentalidade têm se voltado para o irracional, a inércia, o
outras vezes, nutrem um sentimento de "estranhamento absoluto" face à arcaísmo, a afetividade...
essa tradição, preferindo não tocá-la e deixá-la falar por si mesma. Nesta caracterização o estudioso demonstra o quanto sua con-
Porém, segundo Ginzburg, a melhor proposta destinada ao estudo da cepção de mentalidade é obtusa. Não há dúvida de que alguns trabalhos
cultura popular, por via da documentação escrita, encontra-se na obra de dedicados ao estudo da perspectiva mental têm se pautado pelas
M. Bakhtin. O mesmo acredita em uma influência recíproca entre a abordagens supracitadas. No entanto, nem todas as pesquisas possuem
"cultura das classes subalternas e a cultura dominante".7 Assim, ao invés esse aspecto "tenebroso", pois a existência de um substrato cultural
de caracterizar, como Lê Goff, a pretensa dominação por parte da classe comum a todos os segmentos sociais não invalida, a priori, as diferenças
dominante sobre a cultura popular, Bakhtin reforça a troca incessante classitas. A partir desse prisma, existiria um pool informativo comum
entre os dois níveis sociais. Em "O queijo e os vermes", Ginzburg segue (mentalidade = estrutura), como a língua, por exemplo, convivendo com
essa trilha, explorando sempre o cruzamento entre o erudito e o popular. níveis culturais e sociais profundamente diversos e, às vezes, antagó-
Em "Os andarilhos do bem", Cario Ginzburg depara-se com prá- nicos. Vale dizer que uma pesquisa que não leve em conta ambas as
ticas mágicas desconhecidas da demonologia, que por conseguinte perspectivas tende a simplificar a trama social e perder a ideia de
suscitaram estranheza à Inquisição. O historiador consultou vários totalidade.
processos envolvendo os benandanti e descobriu que, ao longo dos anos, Por outro lado, o termo cultura, empregado unicamente a partir do
o Santo Ofício e seu aparato repressor induziram a transformação das enfoque classista, inviabiliza a circularidade, pois, se não houvesse um
crenças próprias do grupo. O que era exógeno à demonologia, tornou-se substrato informativo comum entre os eruditos e os populares, como seria
parte dela. Deste modo, o estudioso pôde perceber como ocorreu a possível a comunicação, entre os dois níveis? Em suma, a ênfase no cará-
"diabolização" das práticas que, anteriormente, eram autónomas em rela- ter classista e o desdém pelo estudo das mentalidades invalidam a circu-
ção à herança clerical. No caso de Menocchio, porém, o fenómeno da laridade cultural, ou melhor, as pesquisas deste historiador. Deste modo,
circularidade é mais evidente, pois este moleiro atua como intermediaiio entendendo que as críticas a Lucien Febvre e à história das mentalidades
cultural entre a tradição folclórica e a literatura impressa. E assim n-a não passam de mera retórica.
liza uma síntese original e extraordinariamente instigante para a história Em "Ticiano, Ovídio e os códigos da figuração erótica do século
das ideias e da cultura popular.9 XVI", 10 o mesmo historiador introduz uma outra concepção de
Nesta mesma obra, Ginzburg procura DECOMPOR o pensamento circularidade, desta vez menos esquemática. A partir de uma análise
de um moleiro. Deste modo, consegue relacionar as ideias inéditas de sobre um quadro de Ticiano, Ginzburg demonstra o quanto a troca entre
Menocchio às possíveis origens; ou melhor, fracionando sua visão de níveis culturais é complexa, afastando-se um pouco da versão de Bakhtin.
mundo, o historiador torna-se capaz de indicar ou determinar as leituras O eixo central do presente texto será a procura de uma fonte inspiradora
realizadas pelo moleiro e a maneira particular dele apreender o contendo capaz de levar Ticiano a pintar algumas de suas obras-primas. Panofsky
das obras. Por intermédio da decomposição, Ginzburg visualiza a dm.i considera Ovídio como principal inspiração para o mencionado pintor.
mica cultural e a circularidade entre o pensamento popular e o erudito, Todavia, Ginzburg descobre que Ticiano não lia latim, e que por isso
a tradição do povo e a ortodoxia. dificilmente teria lido Ovídio no original. O mestre conheceu Ovídio por
intermédio de uma vulgarização das Metamorfoses, onde havia figuras

7 Idemp. 21. 'Ginzburg. Mitos, emblemas e sinais, (trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1989. pp 119-141
8 C. Ginzburg. Os andarilhos do bem. (trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1988.
9 Ginzburg. O queijo ... op. cit.
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dinâmica cultural, lembrando aos historiadores que os fenómenos da
pintadas de maneira tosca. Tanto o texto quanto as ilustrações loi.un cultura são complexos e muitas vezes capciosos.
fundamentais para a realização da obra de Ticiano, permitindo-lhe remiu No entanto, em "História noturna", Cario Ginzburg ainda não se
símbolos desconhecidos da poesia de Ovídio — símbolos estes pn-Mm. libertara da dicotomia entre o popular e o erudito. O popular foi con-
na vulgarização. Deste modo, a originalidade atribuída a Ticiano poi cebido como um estrato cultural muito antigo, disperso em um imenso
Panofsky tornou-se um indício da circularidade e, logo, da interpretai, ,i<> território entre a Europa e a Ásia. Por outro lado, o erudito produziu a
vulgarizada de uma obra erudita. dcmonologia, conhecimento elaborado a partir da cultura popular e
Neste ensaio de Ginzburg, dois aspectos são da maior impou.nu 1.1 destinado a perseguir inicialmente os judeus e, em seguida, as bruxas.
para a História: l — revela a complexidade do entrosamento eniu- o.
Enfim, o historiador entende o complexo do Sabá como síntese erudita,
vários níveis culturais, pois a obra de Ovídio (de cunho erudito) deu
realizada a partir da observação e perseguição da cultura popular.
origem a uma vulgarização (portadora de traços da tradição popular e >ln
Por fim, vale mencionar que a noção de circularidade levou
legado greco-romano), que por sua vez influenciou a obra erudita «li
Ginzburg a observar com muito cuidado a documentação referente aos
Ticiano; 2 — por outro lado, esse estudo nos induz a relativizar os mm
costumes e hábitos populares. O termo filtro cultural criado pelo
los (erudito e popular) introduzidos por Bakhtin, e ressalta a necessidade
historiador permite vislumbrar como as informações existentes nos
de um raciocínio capaz de entender a dinâmica da circularidade de loi
ma menos estanque. Assim, não se pode reduzir este fenómeno a u n M arquivos do Santo Ofício, por exemplo, são o resultado de um embate
entre
simples ação do erudito sobre o popular, ou vice-versa, por, ,\e da dinâmica cultural e,o logo,
heregea econfluência
o inquisidor. Ou melhor,
incessante e u i i . as narrativas preservadas pela
Inquisição constituem uma prova cabal de como os eruditos entendiam
os níveis de cultura, transforma a tarefa de rotulá-los, entre erudito «• os ritos e mitos provenientes de uma outra tradição cultural. Assim, os
popular, em uma missão árdua e muitas vezes estéril. depoimentos gravados pelos inquisidores servem menos como fontes para
Em "História noturna", o historiador indica uma nova faceta do a história da cultura popular e mais como recurso para uma história das
fenómeno da circularidade. Uma determinada cerimónia realizada amul representações do outro, da alteridade. Indiretamente, Ginzburg inaugura
mente em Frankfurt girava em torno da entronização de um rei acom um novo caminho para os estudos da Inquisição, transformando os
panhado de soldados travestidos de mulher. O monarca vinha cm um inquisidores em "antropólogos".
carro e se tornava alvo de risos e escárnio. O historiador nota aipim A noção de filtro cultural foi aperfeiçoada por Ginzburg em
parentesco entre esta festividade e uma outra realizada na Mésia miei mi alguns artigos da coletânea publicada pela Difel e organizada por Fran-
e na Capadócia, onde um rei era nomeado pelos soldados no período das cisco Bethencourt e Diogo Ramada. Em "A micro-história", há dois
calendas de janeiro. E assim, indagou Ginzburg: "A cerimónia «lê artigos da maior importância: "O inquisidor como antropólogo: uma ana-
Frankfurt não seria uma evocação erudita, inspirada por algum estúdio.,, logia e suas implicações" e "Saques rituais. Preâmbulos de uma in-
menos inclinado que Lipinius, a condenar de forma moralista as céu mo vestigação em curso". Neles, Ginzburg abala os alicerces das pesquisas
nias pagãs?"11 sobre a cultura popular. Inicialmente, ressaltando a participação do
Nesta hipótese o historiador aventa a possibilidade de a e u l i m a inquisidor nas informações advindas dos processos inquisitoriais; em
erudita determinar o aparecimento de uma cerimónia em Franklmi «Io seguida, demonstrando os limites do uso de teorias antropológicas para
século XVII a partir dos primeiros séculos da era cristã. A hipótese, no entendimento do passado.12
entanto, é descartada a partir da constatação de que os espectadores d«> No segundo artigo, o historiador percorreu os caminhos dos
evento entendiam perfeitamente o significado do rito, além de paitiei antropólogos pós-modernos (Clifford Geertz, James Clifford, Paul
parem do mesmo rindo e debochando do dito monarca. A contestação ,!.« Rabinow e Renato Rosaldo) e realizou um estudo histórico sobre a teoria
possível circularidade reforça a tese de Ginzburg de que há um suhsti.iio dos ritos de passagem. Descobriu então que os estudos antropológicos
cultural comum, unindo as populações da Eurásia. Por outro lado, a sobre o tema tiveram forte influência da tradição greco-romana, pois:
mesma hipótese levanta a possibilidade de um tipo muito singulai «lê
1' Ânimos encontrados na coletânea "A micro-história e outros ensaios", (trad.) Lisboa: Difel,
l ' > ' ) ! . p. 143-168 e 203-214.
11 Ginzburg. História Noturna.(trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1991. pp 166-167
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personagens: a medicina. Todos haviam passado pela escola de medicina
"Ao debruçarem-se sobre civilizações de outros continentes, os viajanics
e conheciam muito bem as "artimanhas" da semiologia.
e os estudiosos europeus serviram-se muitas vezes, e nem sempre de No entanto, as raízes deste modelo epistemológico são muito mais
forma consciente, dos conhecimentos e das categorias provenientes da antigas e remontam ao saber venatório. Os caçadores, há milénios,
Antiguidade Grega ou Romana..."13 Assim, ao recorrer às teorias perseguiam pegadas, ramos partidos, penas, e a partir desses dados iam
antropológicas, muitas vezes os historiadores não percebem a filiarão no encalço de animais. Sua tarefa era reunir informações desconexas e
entre os ritos de povos longínquos e os costumes próprios do passado conseguir capturar a presa. O poder de relacionar os rastros aos animais
europeu. Em "A micro-história", encontram-se reflexões sobre <> assemelha-se à capacidade mental de identificar em caracteres picto-
problema das representações e das mediações existentes entre o passado gráficos uma ideia ou um objeto. Assim, decifrar rastros, adivinhar por
das culturas populares e o historiador, ressaltando os limites às pesc|in indícios e ler são mecanismos mentais semelhantes e tributários do para-
sãs destinadas a conhecer as tradições populares. Em "Représentation Ir digma indiciário.
mot, 1'idée, Ia chose", seu último trabalho, o historiador aponta uma O historiador empreende, em seguida, um levantamento histórico
nova fase de sua produção historiográfica, deixando os estudos voltados dos desdobramentos deste paradigma e menciona o aparecimento da
à cultura popular, para se dedicar às representações do corpo do rei.14 jurisprudência, semiologia médica, arte divinatória, historiografia e da
filologia, durante a Antiguidade. E ressalta que após o Renascimento o
paradigma enfrentou uma grande resistência por parte dos critérios de
HISTÓRIA E MORFOLOGIA cientificidade elaborados por Galileu. A comprovação de uma experiência
se daria pela repetição (aspecto quantitativo) de um mesmo fenómeno,
Em "Sinais — raízes de um paradigma indiciado",15 Ginzbui) 1 enquanto a arte de conjecturar se originaria na análise qualitativa, ten-
reconstrói a formação de um modelo epistemológico, por muito tempo dendo a individualizar os fenómenos. Tal procedimento é tão conhecido
desqualificado pela ciência. O paradigma indiciário mencionado afirmou dos médicos quanto dos historiadores, pois, como na medicina, o
se como ciência humana somente por volta do final do século XIX, conhecimento histórico é indireto e conjecturai. Por isso, durante a época
quando nomes como Morelli, Sherlock Holmes e Freud procuravam moderna, esse modelo transformou-se em um mero auxiliar da ciência
indícios, aparentemente insignificantes, para reuni-los e, em seguida, galicaica, devido à ênfase na individualidade e na capacidade de servir
construir uma realidade complexa. Morelli, por exemplo, objctivava como instrumento de abstração. Ginzburg chega a afirmar que a ciência
distinguir os mestres da pintura de seus alunos e, para isso, não procurou moderna é anti-antropomófica, por desdenhar as particularidades de cada
particularizá-los através de sua formação académica, pois esse caminho ser humano e valorizar a padronização.
não permitiria o êxito de seu empreendimento. Buscou, então, identificai Entre os séculos XVIII e XIX, as ciências humanas assumiram,
os mestres por intermédio de indícios aparentente sem importância cada vez mais, o paradigma indiciário da semiologia. Contudo, somente
como orelhas, unhas e mãos das pessoas representadas em telas. Sua no final do "ottocento", com o surgimento da sociedade de massa, esse
intenção era debruçar-se sobre esses dados, a fim de chegar à modelo alcançou uma maior sistematização. Com Morelli, Freud e Conan
individualidade de cada artista (pois esses detalhes comumenic Doyle, vê-se a consagração de um tipo de pesquisa dedicado ao conhe-
escapavam ao controle consciente dos mestres no momento da execução cimento do indivíduo, saber dedicado sobretudo às condutas incons-
da obra). O mesmo método de trabalho e a sua evidente valorização do cientes. A enorme aceitação do paradigma não isentou as ciências
inconsciente foi empregado por Freud, na Psicanálise, e por Conan humanas de viver um terrível dilema: assumir um status científico débil
Doyle, no romance policial. Para explicar as conexões existentes entre os c chegar a resultados relevantes; ou assumir um status científico forte e
três estudiosos, o historiador percorre pistas, segue rastros e descohic obter respostas irrelevantes. O impasse é explicado a partir do rigor
(observando o uso da metalinguagem) um dado comum a esses elástico característico do paradigma, do carater mutável deste tipo de
conhecimento, que não se efetua por meio de regras preexistentes, mas
por intermédio da intuição. Ginzburg ainda classificou a intuição como
13 Ginzburg, C. Saques rituais. In: A micro história..., p. 163. alia e baixa; a primeira seria característica do conhecimento venatório e
14 Ginzburg, C. Représentation: lê mot, l'idée, Ia chose. Annales, 44: 1219-34, 1991.
15 Ginzburg. Mitos..., pp. 143-179. M - onstituiria, segundo faz entender o historiador, em um dom genético;

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alem de não fazer diferença entre as variadas regiões dos continentes
enquanto a outra se encontraria entre homens de uma elite ilustrada A europeu c asiático.
metodologia criada por Ginzburg e respaldada no paradigma indiciai m A problemática em torno do substrato cultural comum às
está evidente em quase todas suas pesquisas. Em História Notum.i populações da Eurásia surgiu a partir de processos inquisitoriais
contudo, há o aperfeiçoamento de tal metodologia. Classificar, comparai lelercntes à região do Friul, onde encontrou relatos de heresia da maior
e analisar informações em sincronia e diacronia tornaram-se os prm importância para a história da cultura popular. Os processos continham
cipais procedimentos metodológicos de Ginzburg na sua última obra A cultos religiosos desconhecidos dos demonólogos, que, a princípio,
estrutura do texto, a metodologia e a tese aí encontradas estão cm tiveram dificuldade de caracterizá-los como bruxaria. Ao longo dos anos
perfeita harmonia; não se pode explicitar a primeira sem recorrer aos e depois de muitos interrogatórios, os inquisidores conseguiram que os
outros dois e vice-versa. O historiador a dividiu em três partes: l - os adeptos do culto agrário assimilassem parte do discurso dos de-
capítulos iniciais caracterizam-se pela narrativa histórica, onde o auim monólogos, aproximando cerimónias exóticas do culto satânico. Por
relata como as perseguições aos leprosos e judeus contribuíram paia «> intermédio desta constatação, o pesquisador iniciou o estudo sobre
surgimento do complexo do Sabá e da caça às bruxas; 2 — a seguir, a ciieularidade cultural, que seria, mais tarde, aperfeiçoada em "O queijo
partir de série documental vastíssima, reúne indícios capa/.es <!<• e os vermes". Porém, o culto agrário desconhecido da Inquisição tornou-
comprovar a existência de um substrato cultural comum entre as pó se um interesse permanente do historiador; foi investigando os processos
pulações da Eurásia; para tanto recorre a sincronia, comparando a do Friul que encontrou os relatos de Menocchio e deu continuação à
morfologia de ritos encontrados numa vasta área e em períodos variad< >>., pesquisa que daria origem à "História Noturna". Deste modo, os
3 — a terceira e última parte é mais heterogénea quando comparada as lienandanti influenciaram toda a obra de Ginzburg, suscitando uma série
demais, pois em um capítulo Ginzburg emprega a perspectiva cio de problemas teóricos e metodológicos; muitos deles seriam abordados
nológica (diacronia) e conjectura sobre as várias imigrações ocorridas » K >m profundidade depois de vinte anos. Por muitos anos, comenta
partir do centro da Ásia em direção ao sul, oeste e leste; enquanto no (im/.burg, "partindo da documentação a respeito dos benandanti, procu-
outro recorre a metodologia empregada pelos estruturalistas para com iei aproximar - - tendo por base afinidades puramente formais —
provar o isomorfismo entre os mitos de Édipo, Aquiles, Cindercla e depoimentos sobre ritos, crenças e mitos, sem ter a preocupação de
outros tantos encontrados em uma vasta área compreendida entre <> inseri-los em alguma moldura histórica plausível". 16
sudoeste asiático e as ilhas britânicas. Depois de muitas pesquisas, o historiador encontrou respaldo
A metodologia desenvolvida por Ginzburg e destinada a investigai leorico para a conduta metodológica acima mencionada. Wittgenstein,
a cultura popular está evidenciada nas partes II e III quando o mesmo, nas reflexões sobre o Ramo de Ouro de Prazer, comenta que a
através de uma enorme massa documental, detecta semelhanças eniic explicação histórica (diacronia) não é a única forma de ordenar a evo-
traços culturais no tempo e espaço os mais variados. No entanto, é nu lução dos dados, é possível também ordená-los em sua relação recíproca
parte I que o pesquisador delimita o problema principal da obra: com (sincronia); a morfologia torna-se, assim, igualmente um pressuposto
provação da existência de um substrato cultural comuns às populações <l.i i apa/. de ordenar o material empírico. O historiador utilizou a mor-
Eurásia. O ponto de partida da investigação é o complexo do Sabá, lologia "como uma sonda", para examinar um estrato profundo, inatin-
cerimónia narrada em vários documentos, sobretudo nos procc gível por outro meio.17 Deste modo, inverteu a tese de Wittgenstein e
inquisitoriais a partir do século XV, onde se encontra uma série de lecorreu, como conduta inicial, à comparação dos ritos, mitos e crenças
traços culturais comum à tradição dos povos euro-asiáticos. Nesie encontrados, empregando, em seguida, a análise histórica da distribuição
sentido, entende-se que nas partes II e in encontram-se procedimentos leinioiial de traços culturais semelhantes.
metodológicos destinados a comprovar uma hipótese esboçada n»-, O empreendimento proposto acima esbarra em um obstáculo
primeiros capítulos. Na parte I, Ginzburg então avança no tempo (|iiase intransponível, a falta de documentação. A hipótese defendida pelo
cobrindo a Alta Idade Média até chegar à perseguição às bruxas cniie
os séculos XVI e XVII; na partes subsequentes, o procedimento e
inverso, pois a partir de traços culturais detectados no Sabá, <> "• < . I I I / I M I U » . História Noturna. Op. cit., p. 26.
pesquisador retrocede no tempo e percorre um enorme território. Na " l.lrni. p. 28.
verdade, o historiador italiano não respeita uma delimitação tempoi.il.
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heterogeneidade dos contextos e a homogeneidade dos dados. Isso coloca
estudioso requer dados sobre um período no qual a escrita praticamente questões das quais não podemos fugir. Mas para buscar uma resposta
inexistia nas vastas estepes da Ásia; além disso, quando a mesma fazia será necessário testar uma possibilidade que ainda não se levou em consi-
parte do legado de uma civilização, não era comum relatar práticas deração: isto é, que tais convergências formais devam-se a conexões de
populares, mas cânones religiosos e a vida administrativa. Devido à caráter histórico". 19
carência informativa, Ginzburg elaborou uma metodologia que primava No entanto, a análise histórica da difusão deste substrato cultural
por classificar, comparar e analisar dados coligidos aqui e ali na vasta tornou-se o ponto frágil da pesquisa. O título "Conjunturas eurasiáticas"
documentação consultada. A tarefa do historiador era COMPOR um já é um indício da debilidade do estudo em diacronia. A quase
substrato cultural que uniria vários povos: para isto, segue pistas, inexistência de testemunhos inviabiliza a parte que seria a mais preciosa
percorre rastros, compara ritos, aproxima cerimónias, encontra iso- do estudo, pois, segundo o próprio historiador, a análise sincrônica seria
morfismos e conjectura contatos. Indícios insignificantes, como um pé apenas uma sonda, enquanto à cronologia caberia explicar os iso-
descalço, podem construir uma realidade complexa: "Testemunhos morfismos. Neste sentido, "História Noturna" se aproxima de "O Ramo
fragmentados, distanciados no espaço que registram, uma vez mais, a de Ouro" e se afasta dos difusionistas; distancia-se dos historiadores e
profundidade do estrato cultural que tratamos de trazer à luz".18 bebe nas águas dos estruturalistas. Além de reafirmar um famoso dilema
A metodologia empregada descarta, então, a heterogeneidade das de Lévi-Strauss: "ou as nossas ciências se vinculam à sua ordem no
fontes documentais e as particularidades de seu surgimento, pressupondo tempo e se tornam incapazes de traçar-lhe a história, ou procuram
a homogeneidade das informações. Um indício é sempre semelhante a trabalhar à maneira do historiador, e a dimensão do tempo lhes
outros, já que faz parte de um mesmo puzzle. A fragilidade da pesquisa escapa".20
é, em princípio, contornada quando se pensa na unidade cultural que No capítulo seguinte, Ginzburg abandona a perspectiva diacrônica
promoveria uma padronização ou proximidade entre os mitos e ritos. e se inspira na análise estrutural dos mitos para elaborar um estudo
Contudo, a similitude não é um princípio, mas uma hipótese a ser fascinante. "Ossos e peles" é, sem dúvida, o ponto alto da pesquisa, mas
comprovada, e diga-se logo, de difícil comprovação. Tal procedimento não consegue ultrapassar a antítese entre diacronia e sincronia, muito
lança dúvidas sobre o rigor metodológico da pesquisa, e como historiador pelo contrário, reforça a segunda abordagem. A análise estrutural, ou das
eu pergunto: seria possível comparar orelhas e unhas existentes n;i características internas, tornou-se necessária, afirma Ginzburg, para se
pintura do Renascimento, da mesma maneira que se compara mitos do compreender a persistência temporal e a dispersão espacial do conjunto
sudoeste asiático com outros da Escócia? Ritos isomorfos teriam sempre de fenómenos examinados.21 Depois de constatados, os isomorfismos
míticos e rituais através de análises estruturais, o autor concluiu que a
a mesma origem? Possuiriam o mesmo sentido ou simbolismo em
similitude não pode ser atribuída à existência de arquétipos ou ao in-
sociedades tão díspares? O etnocentrismo não seria o responsável pel;i
consciente coletivo. A relação entre história e morfologia torna-se, por-
unidade ou similitude destas práticas?
tanto, o único caminho plausível para explicar o fenómeno. Entretanto,
A despeito dos obstáculos, Ginzburg dedica a parte II de "História nada se pode provar sobre as relações históricas; a realidade dos con-
Noturna" à morfologia, comparando e aproximando fenómenos culturais tatos, das migrações e da possível difusão do conjunto de ritos e mitos
A tarefa do pesquisador consistiu em DECOMPOR crenças, ritos e mhos, também não pode ser comprovada. Ginzburg finaliza o capítulo da se-
a fim de chegar a unidades isomorfas. Em muitos casos, sobretudo n.i guinte maneira: "Na falta de prova contrária, só resta postular, por trás
parte dedicada aos combates em êxtase, o empreendimento mostrou se dos fenómenos de convergência cultural que investigamos, um entrela-
frutífero, originando uma das análises mais instigantes da pesquisa; em çamento de morfologia e história — reformulação, ou variante, do antigo
outras, a carência documental não permitiu boas comparações. O hi.s contraste entre aquilo que existe por natureza e aquilo que existe por
toriador, todavia, não se contentou com o exame morfológico: "Nosso convenção".22
itinerário levou-nos a sociedades, tempos e espaços cada vê/, m.ir.
distantes do âmbito cultural em que o Sabá se cristalizara. Talve/. esse
19 Idem., p. 183. „._
resultado fosse previsível. Imprevisto, ao contrário, é o contraste entre u 20 C. Lévi-Strauss. Antropologia estrutural, (trad.) Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, l-
p. 15.
21 Ginzburg. História Noturna. Op. cit., p. 28.
1 Idem, p. 164. 22 Idem., p. 249.

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Por intermédio da exclusão, o historiador defende a tese que tem
Contudo, o historiador ressalta, na introdução, as discordâncias em
o difusionismo como responsável pelas semelhanças morfológicas; sendo
relação ao pensamento de Lévi-Strauss. Contesta, em princípio, a função
assim, à perspectiva diacrônica caberia explicar os isomorfismos. No
marginal e circunscrita atribuídas à história; não caberia aos histo-
entanto, as conexões históricas são frágeis e raramente comprováveis. C.
riadores a mera tarefa de responder questões propostas pela Antro-
Ginzburg, de modo curioso, constrói sua tese sobre o ponto mais débil
pologia. Os estudos históricos e morfológicos cobririam o "âmbito situado
da pesquisa, optando por um caminho há muito abandonado pela entre a profundidade abstraia da estrutura (...) e a concretude superficial
Antropologia. Devido à mesma fraqueza documental, alguns antropó- do evento".24 Ou melhor, a tarefa do historiador, diria Ginzburg, não
logos abandonaram a análise cronológica e procuraram pensar as seria refletir sobre a natureza humana, mas se debruçar sobre as
similitudes entre traços culturais de povos, que não possuem contatos variações de um mesmo tema ou a recorrência de um substrato cultural
documentados, por intermédio das estruturas — o modo de funciona- entre povos díspares.
mento da mente humana seria responsável pelas semelhanças. Apesar das divergências, a relação entre morfologia e história
O historiador ainda se refere, no mesmo trecho, ao contraste entre inaugura um veio da maior importância para o entrosamento entre
natureza e cultura (convenção). Deste modo, concebe a "natureza antropólogos e historiadores. O estudo de Ginzburg, apesar das limi-
humana" como ponto comum entre os mais variados fenómenos tações, é um excelente testemunho desta união, trazendo para a História
culturais; enquanto a convenção surgiria do entrosamento entre a u questões e debates encontrados em outros campos do conhecimento. A
natureza humana e o meio ambiente. Tal entrosamento entre natureza e interdisciplinaridade propalada pelos fundadores da revista Annales
cultura nos remete à concepção de difusionismo empregada por tornou-se a principal característica dos historiadores de vanguarda, pro-
Ginzburg. Em "História Noturna", a difusão de um substrato cultural movendo uma verdadeira revolução nas pesquisas sobre o passado.
não se realiza de modo mecânico; a dispersão de núcleo cultural promove "História Noturna" é, sem dúvida, um estudo instigante e muito polé-
a transformação ou metamorfose do mesmo — temas semelhantes são mico, capaz de provocar questões nunca antes enfrentadas pela histo-
expressos das mais diversas maneiras, revelando, por vezes, a relação riografia.
entre o homem e o contexto. A partir desta premissa, entende-se com
maior clareza a tese e a metodologia empregadas na referida obra: um
substrato cultural se dispersou entre Ásia e Europa, dando origem ;i BIBLIOGRAFIA
mitos e ritos variados, o que equivale a dizer que são semelhantes e,
logo, comparáveis. BAKHT1N, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento, (trad.) São
Após esta constatação, percebe-se que Lévi-Strauss é o grande Paulo: Hucitec, 1987.
DOUGLAS, Mary. Witchcraft, confession and accusation. London: Tavistock, 1970.
mentor intelectual de "História Noturna", seja quando o historiado! GINZBURG.Carlo. Os andarilhos do bem. (trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1988.
emprega a metodologia de análise dos mitos ou quando recorre ;io . O queijo e os vermes.(tiad.) São Paulo: Cia das Letras, 1987.
difusionismo. Em um artigo de 1983, publicado na revista Annales, Lr vi . Mitos, emblemas e sinais, (trad.) São Paulo: Cia das Letras, 1989.
Strauss comenta que uma enquete histórica se torna profícua quando •.<• . História Notuma.(ttzd.) São Paulo: Cia das Letras, 1991.
. A micro-história e outros ensaios, (trad.) Lisboa: Difel, 1991.
atrela a uma análise estrutural. A citação a seguir demonstra o quanio
. Représentation: lê mot, 1'idée, Ia chose. Annales, 44: 1219-34, 1991.
o antropólogo influenciou nosso historiador: "On s'aplique (aniôl .» LÊ GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média, (trad.) Lisboa: Imprensa
determiner dês centres de diffusion, tantôt à dégager dês s i i u i u i c . Universitária/ Estampa, 1980.
profondes; dans lê deux cãs, il s'agit de trouver lê semblablc sons l. LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural, (trad.) Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.
différent, autremente dit d'une quête de 1'invariant".23 Enfim o i u - < i i . ' . Histoire et ethnologie. Annales, 6: 1217-1231, 1983.
CLARK, Stuart. French historians and early modern popular culture. Past & Present, 100:
resume com perfeição os procedimentos de Ginzburg em sua u l i i m . i 62-99, 1983
pesquisa.

23 Lévi-Strauss."Histoire et ethnologie" Annales, 6: 1217-1231, 1983.


24 Ginzburg. História Noturna. Op. cit., p. 35.
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RESUMO ABSTRACT
O ensaio pretende percorrer a The article analyses the theoretical
trajetória teórica e metodológica do and metodological trajectory of Cario
historiador italiano Cario Ginzburg. Ginzburg since his book about "benandanti"
Partindo de seu trabalho sobre os and his studies focusing the relationship
benandanti e da problemática em torno between popular and erudite cultures, untill
da relação entre cultura erudita e cultura his researches about common cultural
popular, até o sua pesquisa em torno de substract among eurasian populations.
um subtraio cultural comum entre as
populações da Eurásia.

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