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MEMORIAL DE UMA PROFESSORA DE UMA SOCIOLOGIA EM FORMAÇÃO:

SENTIDO E SIGNIFICADO1

Rosana de Medeiros Silva.2

RESUMO: Este trabalho produzido como produto final da disciplina Sociologia da


Educação do Mestrado Profissional em Sociologia (PROFSOCIO) tem como objetivo
principal abordar um relato das memórias de vida desta que escreve, a partir de um estudo
comparativo entre a experiência do mestrado e a escolarização da China, partindo da minha
realidade na escolarização brasileira. O trabalho que tem como metodologia o relato
detalhado de experiências vivenciadas no decorrer da trajetória acadêmica, conta também
com uma rápida relação entre essas experiências e as bases teóricas e epistemológicas
apreendidas no decorrer da disciplina da pós-graduação. A incumbência de escrever sobre
minha trajetória como professora de sociologia em formação me exigiu uma ação complexa
de rememorar e relembrar, cujos movimentos discursivos me levaram a refletir sobre eu
mesma e sobre minha subjetividade, em um espaço potencialmente interpretativo. Redigido
em plena maturidade, o memorial busca identificar etapas de minha vida – dos anos iniciais
ao percurso profissional – e para tanto assinalo, no transcurso da escrita, as situações que
julguei as mais significativas.

Palavras–chave: Memórias; Sociologia; Ensino; Educação.

INTRODUÇÃO

Escrever a trajetória de minha vida estudantil, profissional e acadêmica é


trazer para o presente os caminhos que trilhei e que permanecerão em minha
memória. Neste trabalho trata-se de um memorial e que, portanto, resulta de um
relato de minha trajetória de mulher, estudante e educadora. Revelarei a memória de
uma história de vida que me ensinou superar desafios.
É inerente a este trabalho referências a autores e teóricos que me ajudaram a
fundamentar a construção do meu conhecimento. Algumas questões ilustrativas e
importantes nessa caminhada em busca de sonhos, portanto, não poderiam ser
relatados sem lembrar-me de Galeano (2013) quando alerta que “A utopia está lá no

1
Artigo apresentado na disciplina de Sociologia da Educação, como obtenção da nota parcial, com
objetivo de aprovação na mesma. Ministrada pelo Prof. Dr. Rozenval de Almeida e Souza. Mestrado
Profissional de Sociologia em Rede Nacional – PROFSOCIO (UFCG/CDSA); Centro de
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA) Unidade Acadêmica de Ciências Sociais
(UACIS).
2
Mestranda em Sociologia, no Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional –
PROFSOCIO (UFCG/CDSA). Graduada em Ciências Sociais (Licenciatura), pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA).
Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Etnicidade e Cultura (NEPEC). Membro do corpo
editoral do Periódico: Cadernos de Ciências Sociais (CDSA/UFCG). Email:
medeirosrosana01@gmail.com.
horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Destaco, com muito orgulho, a presença honrada e brilhante da minha mãe e
minhas tias, que foram exemplo de grandes educadoras. Faço nesse memorial uma
descrição da educação que recebi e minha trajetória, contextualizando as épocas
em que vivi cada realidade a partir de um estudo comparativo entre a experiência do
mestrado e a escolarização na China, entre minha realidade (escolarização
brasileira) e a realidade da escolarização chinesa.
Saliento por muitos anos, tive uma educação escolar tradicional, ou seja, o
professor sabia de tudo e o aluno nada sabia. “O aluno era visto como uma tábua
rasa, ou seja, o aluno, o aprendiz, não tem poder algum. O “poder” está totalmente
nas mãos da figura do professor. O professor é potencia e o aluno a impotência. Há
uma hierarquia clara. Uma relação de poder unilateral. E em muitos casos, os
professores perdiam o controle com os alunos, tornando-se autoritários.
Ioschpe (2012, p.194) postula que “no Brasil ainda se confunde ordem com
autoritarismo, a desordem também é confundida com liberalidade”. Essa forma de
educação marcou meus primeiros anos escolares. Deixou marcas profundas. Tinha
quatro anos quando tive a oportunidade de ir para a escola pela primeira vez e
vivenciar um tempo em que a educação brasileira era mantida “engessada e
acabada”. Uma prática educacional diferente do sistema educacional chinês,
Ioschpe (2012), relata a importância da disciplina ensinada nas escolas a disciplina é
visivelmente ensina pela escola. O sistema realmente se importa com cada aluno,
ela combina a competividade dos americanos com o cuidado e amparo dos
melhores sistemas europeus. O Brasil não faz nenhum dos dois, a China esta
conseguindo unir as duas vertentes. Quando o aluno não tem um bom desempenho
a professora chama para uma conversa particular, não para cobrar, reclamar ou dar
bronca, mas busca saber o que esta acontecendo. O sistema chinês realmente se
importa com cada aluno. Neste sentido, o autor Ioschpe (2012 p.197) afirma “os
sistema cobra e exige muito do aluno porque ele mesmo sabe que isso é feito para o
seu bem que o sistema visa seus interesses. E também porque o sistema é justo.
Não apenas cobra dos alunos, mas cobra ainda mais dos professores.”
Será possível também nesse memorial o relato das observações e da
regência da disciplina de sociologia no estágio e durante minha experiência no
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), momento este
onde eu tive a oportunidade de pisar pela primeira vez no chão da escola. Essa
situação chamou a minha atenção para pensar ainda mais sobre o sistema
educacional brasileiro, em especial o ensino público, e o ensino de sociologia.
Entre estas, encontra-se conceitos e teorias amplamente debatidas no
campo da sociologia da educação e do currículo. O trabalho esta organizado em três
bases de discussão infância e ensino fundamental, adolescência e ensino médio,
fase adulta e universidade (processo de formação). Fases estas que marcaram
minha trajetória de vida no que diz respeito à educação.

2 INICIANDO O PERCUSO

Nasci, em Brejo do Cruz, Paraíba, na década de 90, alto sertão. Lembro-me


que quando faltava água por lá na época de estiagem, era preciso ir buscar água no
cacimbão. Então a Dona Edna, minha mãe, arrumava umas garrafas pet para que
ajudasse a buscar água. Sempre dava certo e conseguíamos trazer água. Não era
tão próximo de nossa casa, sempre íamos pela manhã, por motivos de que o tempo
era mais favorável (pouco sol) e a tarde ela lecionava.
Minha mãe fez o Curso Normal, que era o Magistério 2º grau. Na época ela
conta que só era cobrada uma taxa de matrícula. Escutei muitos relatos sobre os
professores serem excelentes. Lá só estudavam mulheres. Mas o quadro de
professores era misto, homens e mulheres. Em uma e suas falas, dizia o quão era
belíssima a arquitetura do colégio, incluindo uma capela, na qual todo mês havia
uma linda celebração para todos.
Esses relatos proporcionaram grandes reflexões, incentivo para seguir na
área da educação. Foi ouvindo e acompanhando o dia a dia de minha mãe que
realmente me identifiquei com a docência e percebi que deveria ser educadora como
um projeto de vida. Em uma dispensa, mainha guarda um acervo de livros toda vez
que eu entrava na mesma ficava encantada, quando pequeninha apenas folheava,
com o passar dos anos, fui crescendo e comecei a sozinha brincar de escolinha, eu
sendo a professora. Durkheim quando diz:

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas


que ainda não estão maturas para a vida social. Ela tem como
objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de
estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo conjunto da
sociedade política quanto pelo meio específico ao qual ela está
destinada em particular (DURKHEIM, p. 53-54, 2014).

Desde então, quando alguém perguntava qual seria minha profissão, não
pensava nenhuma vez, logo respondia: “Serei professora!”. Essa paixão se crescia
cada vez mais, por influencia de minha mãe.
Nesse tempo “as ferramentas da aprendizagem” fizeram parte da minha
educação, fui educada trazendo comigo aquela educação tradicional, Sayers (2019)
nos mostra como praticar as ferramentas da aprendizagem: a gramática, lógica e
retórica. Poder ter essas ferramentas ao longo de minha formação foram
imprescindíveis, pois dias desafiadores estavam por vim. Como explana a autora, a
educação clássica para atualidade, as formas de sua aplicação e a necessidade de
aprender a aprender não é um esforço em vão.
Recordar o passado não é algo simples, as lembranças do meu primeiro dia
de aula como aluna, são vagas, não recordo bem. Mas, lembro-me perfeitamente
como era a escola, pois na mesma, estudei boa parte do meu ensino primário,
localizada em fronte a casa onde eu morava na cidade de Brejo do Cruz – PB. Era
uma instituição privada de educação básica Escola Evangélica Betel Brasileiro,
oferecia aulas de Ensino Fundamental.
A proposta pedagógica do Colégio Betel Brasileiro era construída a parti de
conteúdos multidisciplinares, buscava estimular os alunos a trabalharem
individualmente e coletivamente, com intuito de fazer compreender desde cedo a
importância de respeitar as diferenças sociais, culturais e religiosas e valores
básicos da sociedade e da família. Além disso, o projeto político pedagógico da
Escola Evangélica Betel Brasileiro, utilizava de recursos educacionais que
relacionava o conteúdo trabalhado em sala de aula com as situações-problemas
vivências no cotidiano. Dessa maneira, proporcionar maior sentido a importância dos
componentes curriculares da escola.
A escola mesmo privada, o contraste para com a realidade das outras
escolas brasileiras era gritante. A escola era multisseriadas, tenho consenso que as
escolas no formato de multisseriação desafiam as redes de ensino por possuir uma
organização contrária às normas do sistema de ensino seriado. A estrutura da
escola, todo o espaço físico era muito bem cuidado, a escola é constituída de um
prédio com três compartimentos: a sala de aula, um pequeno espaço usado como
depósito, e outro espaço usado como banheiro, a escola não possuía computadores,
nem biblioteca, a sala de aula era pequena e não possuía ventilação.
A partir do exposto observou que essa realidade estava distante das escolas
chinesas, como relatava Ioschpe (2012), o espaço físico não era tão desenvolvido,
porém, não havia nada fora do lugar, há um engajamento muito grande por parte da
gestão escolar e professores para manter a escola. Na China, são detalhes simples
que fazem grandes efeitos. Não havia salas multisseriadas, e na maioria das classes
havia apenas de 30 a 35 alunos. O que clama muita atenção que logo na minha
primeira sala de aula como aluna, além de ter mais de 35 alunos, exista uma
variação de faixa etária, série e era apenas uma professora “Tia Vanúcia” para dar
de conta de todos os alunos.
Ao concluir o ensino fundamental, meu pai começou a pensar como poderia
dar continuidade ao meu ensino fundamental I, de maneira que fosse uma formação
em uma escola melhor, foi quando, minha avó materna faleceu e como minha mãe
era filha única, meu avó materno tinha outra família, morava na cidade vizinha
Belém de Brejo do Cruz – PB, não existia mais na cidade de Brejo parentes
sanguíneos, e toda a minha família paterna residia em Patos – PB. Com o
falecimento de minha avó materna, foi impulso para que meu pai pensar em voltar
para sua cidade de origem, Patos. Para além, existia o pensamento voltado para os
meus estudos, uma cidade maior, que tinha boas escolas e pra lá fomos morar.
Essa foi uma das maiores ações para minha educação feita pelos meus pais, dentre
tantas, grande iniciativa vinda do meu pai. Ele era um grande visionário.
Comparo esse esforço vindo dos meus com o mesmo feito pelas famílias
chinesas para dar educação aos seus filhos, tanto tem termos de tempo quanto ao
dinheiro. A situação não é tão diferente, pois foi nesse período, e o que também
torna comovente, nesta época minha mãe teve que fazer a escolha em continuar
com ensinando, ou deixar a sua profissão que tanto amava o que fazia, para junto
vim morar em outra cidade e buscar melhorias para a educação de sua filha,
buscando o melhor.
Ao chegar a Patos, comecei a estudar na Escola Rotary Norte, a instituição
tinha investimento privados e municipal, a mesma seguia o calendário escolar
municipal, estudei até o quarto ano, no ano final, a rotina foi um pouco corrida, o que
poderíamos fazer uma comparação com as escolas integrais, ao final de todas as
aulas havia um esforço escolar. Esse reforço escolar foi necessário, mesmo
cansativo, para que eu participasse o meu primeiro processo seletivo, em busca de
uma vaga para estudar, na época, em uma das melhores escolas públicas da
cidade, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio Branco.
Lembro-me muito bem o quão era difícil uma vaga, a concorrência era
altíssima, não havia distinção de classe, havia pessoas de nível social e educacional
elevado, como também, filhos de pais mais humildes. O sonho dos pais, assim como
os pais chineses, era poder dar ao seu filho uma vida melhor do que a sua. O jovem
chinês se não for ambicioso passa a ser naturalmente, é provável que a competição
estarão lá para dar um empurrão. (IOSCHPE, 2012, p. 187). Na minha primeira
grande conquista, tive esse empurrão, e consegui passar no processo seletivo, dos
cinquentas vagas, ocupei a décima.
Diante desse momento comecei vivenciar outra realidade educacional, a
escola tinha um gestor, no qual jamais esquecerei “Professor Osman”, este cuidava
da escola como se fosse seu próprio lar, além dele, tinha um quadro de professores
excelentes. Foi onde comecei a ter um quadro de professores misto, homens e
mulheres, a estrutura do colégio era enorme, belíssimo, tudo para mim era novidade,
eu que venha de realidades totalmente distintas.
A infraestrutura da escola era excelente, sala de aulas espaçosas, ao entra na
sala, jamais me esqueço da brancura das cadeiras, sem nenhum risco, e todos os
alunos tinha seu lugar marcado, de acordo com o número na caderneta. Havia como
nas escolas chinesas uma separação entre as cadeiras, milimétrica, todas as mesas
perfeitamente alinhadas com as carteiras, todos os alunos sentados em frente ao
quadro negro, costas eretas e pernas dentro de suas mesas. (IOSCHPE, 2012, p.
191). Fiquei encantada com a primeira aula de educação física, uma quadra
enorme, com muitos aparelhos. Havia um controle da turma por parte dos
professores, a atenção dos alunos era mantida, mesmo sendo alunos em uma faixa
etária de desenvolvimento, todos temiam as regras que eram postas pelo Professor
Osman, a disciplina era visivelmente ensinada pela escola, o tempo usando nas
aulas, assim como relata IOSCHPE (2012, p.192), eram valiosos, existia um contato
proveitoso entre os alunos e professores, usado para ensinar e aprender. Esta foi
uma grande etapa que me ensinou a reconhecer diferentes saberes.
Em 2006 entrei na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Monsenhor Manoel Viera, onde cursei todo o meu ensino médio. Em 2008, conclui o
ensino médio. Nesse período, fiz o Processo Seletivo Seriado – PSS, meu primeiro
vestibular para seguir a carreira acadêmica, estava confiante e sonhando alto que
iria conseguir. Almejava o curso de Pedagogia. Após fazer as provas, veio a grande
decepção, zerei a prova de matemática, nesse processo não podia zerar nenhuma
das disciplinas que eu automaticamente seria eliminada. A educação brasileira e os
vestibulares, até os dias atuais, é um sistema muito competitivo, muito semelhante
ao sistema de ensino da china. A transparência também tem suas semelhanças, os
resultados são amplamente divulgados.
Após ficar parada por um tempo, comecei a fazer um curso Técnico em
Nutrição no Instituto Tecnológico da Paraíba – ITEC. Nesta instituição, era
perceptível o quão a educação era tratada como mercadoria, a educação não deve
ser apenas uma transferência de conhecimentos, mas sim, conscientização e
testemunho de vida. É preciso se pensar em uma sociedade para além do capital.
(MÉSZÁRO, 2008, p.35.). Com o universo do neoliberalismo instaurado na
sociedade, em que “tudo se vende e se compra”, “tudo tem preço”, a educação tem
transformado os espaços educacionais em verdadeiros shoppings centers,
funcionais à sua lógica de consumo e do lucro. (MÉSZÁROS, 2008).
O sistema de ensino da instituição e por ser privada, trouxe consigo a
reprodução de um sistema capitalista onde apenas transmitia os interesses dos
donos dos capitais, reproduzindo um sistema apoiado no reino do capital. Era
tratada como objeto, um sistema que alienava para que logo possa ocupar o
mercado de trabalho como técnicos. Mészáros (2008, p.27) postula que em uma
sociedade do capital, a educação e o trabalho se subordinam a essa dinâmica, da
mesma forma em que uma sociedade em que se universalize o tratamento – uma
sociedade em que todos se tornem trabalhadores.
Foi justamente, quando eu estava concluindo o curso, estagiando na Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio Coriolano de Medeiros, que me bateu
aquele toque e eu enxerguei realmente o meu lugar, o ambiente escolar, onde minha
mãe fazia parte, o encanto pela educação voltou com toda força. Na minha mente
também precisava lutar contra toda alienação imposta pelo sistema educacional,
sobre tudo estranhar o mundo produzido pelos próprios homens. (MÉSZÁROS,
2008).
Lahire (1997) traz grandes contribuições, fruto de uma minuciosa investigação
empírica, quando ele aborda o tema “modalidades de transmissão” da herança
familiar. Nesse ponto, Lahire (1997) contribuiu com a importante reflexão no campo
de uma sociologia dos processos de constituição das disposições sociais. Assim,
como nas configurações familiares investigadas, a transmissão da herança familiar
como processo mecânico. Bernard Lahire mostra que nem sempre pais portadores
de capital cultural e/ou disposições culturais compatíveis com as exigências do
universo escolar estão em condições de efetivamente transmitir aos seus filhos.
Porém, no meu caso, em 2014, tive conhecimento do curso de Licenciatura
em Ciências Sociais, no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido
(CDSA), vinculado a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A
sociologia era um mundo novo, quando conclui o ensino médio em 2008, foi
justamente o ano onde a mesma passou a ser obrigatória no ensino secundário. Um
primo muito próximo estava cursando, ao ler alguns dos textos que ele apresentou,
me encantei pelo universo da Sociologia. Logo fiquei toda interessada, acessei o site
do CDSA, pesquisei a grande curricular do curso e tudo que era relacionado ao
mesmo. No ano de 2014, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio, após sair o
resultado fui aprovada, no dia 12 março de 2015 fiz o meu cadastramento e foi a
partir desta data iniciei as minhas atividade acadêmicas, como Licenciada do curso
de Ciências Sociais.
Foi pensando no poder da educação que transforma que resolvi cursa uma
licenciatura em Ciências Sociais, sempre acreditando que eu poderia contribuir mais
para a sociedade na qual eu fazia parte. Meu intuito era ser professora com melhor
formação e poder mais com os alunos na transformação da sociedade.
Durante minha graduação, procurei o máximo participar das atividades
acadêmicas, posso dizer que fiz parte dos três pilares da universidade: ensino,
pesquisa e extensão. A primeira vez que entrei em uma sala de aula para ministrar
uma aula foi na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Leite de
Souza, na cidade de Monteiro, a oportunidade surgiu porque na época eu era
bolsista CAPES, pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência -
PIBID, na Área de Sociologia. Atuando entre os anos de 2016 e 2018.
O que me proporcionou grandes reflexões para minha carreira profissional,
participando dos projetos, principalmente do PIBID, eu realmente me identifiquei
com a docência e percebi que deveria escolher ser professora como um projeto de
vida. Então decidir aprender e ensinar.
3. SER UMA PROFESSORA DE SOCIOLOGIA EM FORMAÇÃO

Sempre tive sede de conhecimento, ao concluir minha licenciatura, no ano de


2018, com objetivo adquirir mais conhecimentos acadêmico-científicos no âmbito da
educação e em especial na minha área de formação, dei iniciei minha formação
continuada no Mestrado Profissional de Sociologia (PROFSOCIO).
O estado precisa de uma burocratização e um dos direitos racional, assim
como as empresas capitalistas precisam de funcionários lógicos que visam maior
lucro, e saibam se basear no cálculo do custo de beneficio (Weber, 2010, p.471). E o
que isso tem haver com a sociologia da educação para Weber? De acordo com
Weber (2010), a sociologia da educação tem duas finalidades pedagógicas: preparar
o aluno a conduta de vida (Pedagogia do Cultivo) e transmitir conhecimento
especializado (Pedagogia do Treinamento).
Baseado no texto “Os letrados Chineses”, de Weber desenvolve conceitos da
educação e do treinamento, através de uma análise do sistema educacional na
China, caracterizando os letrados chineses e suas posições na burocracia estatal.
Segundo Weber, a educação chinesa também se preocupa com a formação
humanizada dos alunos, com o propósito de despertar e desenvolver nos discentes
o carisma necessário para ocupar o quadro especializado que o estado necessita.
Neste modo, quis cada vez mais, seguindo a perspectiva de Weber, à medida que
ocorre a racionalização da sociedade, a formação educacional se torna um meio de
estratificação social, de distinção, de obtenção de honra, de poder e direito.
As analises do modelo chinês de feita por Weber fazem referência a formação
do nosso modelo atual de educação, que conduzem à necessidade de preparo para
ocupação de cargos públicos, para a preparação e especialização para os exames
e, principalmente, faz referências as lutas por poder nas instituições de ensino e as
relações de trabalho.
De acordo com Ioschpe (2012), para que a Chiba obtivesse bons resultados
na formação dos alunos e professores foi um processo de anos, um processo
histórico. É fundamental reconhecer alguns pontos que fizeram dar certo o sistema
de ensino chinês:
1. Meritocracia: A remuneração dos professores é um grande exemplo da
macropolítica desenvolvida. Todos na área na da educação chinesa são
cobrados e valorizados por seus resultados;
2. Gradualismo: Outra grande marca do sistema chinês. Existe diversas
experimentações, até dar certo e torna-se uma política nacional. Neste
sistema, por exemplo, impede a existência de falhas como as do Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio);
3. Coletivismo: Os professores têm seus grupos de estudos, todos competem,
mas todos se ajudam.
4. Formação constante: Todos os profissionais da educação chinesa passam
por constantes temporadas de formação;
5. Material didático: Atualmente cada província escolhe o seu;
6. Currículo padronizado: Cada província tem seu currículo, que especifica o
que deve se ensinado em cada aula, como objetivos claros de habilidades e
conhecimentos que o aluno deve dominar a cada semestre.
7. Administração empoderada: As escolhas têm por objetivo elaborar um plano
para melhor a escola ruim.

Em diversos países, existe o currículo padronizado, o Brasil, é um dos poucos


lugares em que prevalece a ideia de que é democrático que cada professor e escola
decidem o que ensinar e como, atendendo-se apenas a parâmetros curriculares
genéricos. O pragmatismo, a meritocracia, o coletivismo e a abertura ao exterior em
ação, fazem a China está com o melhor sistema educacional do mundo.
No Brasil, considero fundamentais as preocupações lançadas pelas
Orientações Curriculares para o Ensino Médio - OC’Ns, assinalando como princípios
da Sociologia o estranhamento e a desnaturalização da realidade social, pois, de
fato, era isso que sempre prendi durante minhas aulas do estágio e PIBID, muitos
fatos que se passava diariamente era percebidos apenas como um espaço
elaborado a partir de um fenômeno social, minha ideia era desvelar as relações
sociais que estão na existência dos fatos sociais.
No que se refere aos pressupostos metodológicos das OCN’s é claro a
importância dos três recortes para a construção do ensino da sociologia, estes três
são: Conceito, tema e teoria. Existe ainda um quarto recorte, não menos importante
e que deve estar presente dentro dos três recortes. Nas OCN’s ( 2006, p.126) “[...] a
pesquisa pode ser um instrumento importante para o desenvolvimento à
compreensão e para explicação dos fenômenos sociais.”. A pesquisa dentro da
sociologia possui uma amplitude, onde tudo pode transforma-se em uma discussão
social, mas para torna-se acadêmica é necessário a obtenção do embasamento
teórico, mas antes de tudo o professor deve explicar como uma pesquisa sociológica
deve ser feita.
Metaforicamente é como se as OCN’S questionassem o tempo todo “Como
deve ser feito?” e respondesse imediatamente a pergunta. Diferentemente das
OCN’s, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC questiona e responde “o que”
deve ser trabalhada na sala de aula. A partir da BNCC as redes de ensino e
instituições escolares, sejam públicas ou privadas tem como base uma referência
nacional para a formação do currículo particular e propostas de ensino, garantindo o
crescimento na qualidade do ensino. Segundo o Ministério da Educação:

A Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional e estabeleceu uma mudança na estrutura do
ensino médio, ampliando o tempo mínimo do estudante na escola de
800 horas para 1.000 horas anuais (até 2022) e definindo uma nova
organização curricular, mais flexível, que contemple uma Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) e a oferta de diferentes
possibilidades de escolhas aos estudantes, os itinerários
formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação
técnica e profissional.

De acordo com a BNCC, busquei ensinar aos jovens de maneira que fossem
fortalecidos os questionamentos sobre si próprios e sobre o mundo no qual esta
inserido e assim possam compreender as temáticas e conceitos utilizados, como
também problematizar categorias, objetos e processos. Como professora em
formação, busco que os jovens tenham uma concepção e compressão mais apurada
da sociedade e estes estejam legitimados pela BNCC. Aguçando a imaginação
sociológica, eles possam construir hipóteses e elaboração de argumentos com
referências confiáveis e assim possamos realizar diálogos na sala de aula, como
também, para além, do ambiente escolar.
A Nova Sociologia da Educação (NSE), iniciada por Michel Young, se
estabelece como uma das correntes sociológicas primordiais para pensar o currículo
de sociologia, com poucas adaptações no Brasil, esta, tem como objetivo principal
dar ênfase ao conhecimento em suas produções, ou seja, a maneira de como é
selecionada e compreendida o currículo.
O currículo tem como base os estudos centrados na escola, na cultura
escolar, em seus modelos de organizar, levando em consideração o meio social no
qual estar inserido. Young destaca-se por apresentar preocupação com o currículo
durante todo o seu percurso de vida. Ao longo de muitas décadas, e todos os ciclos
que sociedade enfrenta de constantes mudanças, Michael Young reflete sobre
questões que deveriam ser tratadas em uma teoria voltada para o currículo.
Enfatiza a ideia de que o currículo é uma construção social e com objetivo de
transmitir o conhecimento acumulado, porém habilitar gerações seguintes para a
construção do conhecimento e reinventar criando novos conhecimentos de acordo
com o contexto social. O pensamento de Young permite analisar que existe uma
imposição dos interesses dos poderosos em qualquer que seja a seleção de
conhecimento, ou seja, a vontade de quem esta acima na sociedade prevalece no
momento da passagem de conhecimento.
Quando usada a palavra “conhecimento” deve-se fazer uma diferenciação
entre duas possibilidades: “Conhecimento dos poderosos” e “Conhecimento
Poderoso”. O conhecimento dos poderosos é chamado para aqueles que obtêm o
conhecimento, ora, mesmo nos dias atuais ao pensarmos no acesso na
universidade, os que possuem poder dentro da sociedade, cujo são considerados
renomados possuem os diversos tipos de conhecimento, então denominado
“Conhecimento dos Poderosos”.
Apesar de ainda não lecionar no Ensino Médio, acredito que há uma profunda
relevância para o aluno do ensino secundário “(...) compreender o seu lugar no
mundo, o lugar do conhecimento que ele está operacionalizando, e para tal feito
certamente a Sociologia possui uma contribuição inestimável.” (OLIVEIRA, 2013, p.
173).
As escolas transmitindo conhecimento especializado que não são existentes
em casa, e é por isso que nos dias de hoje, como antigamente, existe todo um
sacrifício por parte dos pais para manter seus filhos próximos a esse conhecimento.
A escola deverá oferecer ao aluno mecanismos para encaminhar o individuo
enquanto estudante no pensar criticamente e sociologicamente.
Considerações Finais

Ao longo de meus muitos anos como aluna e professora, senti, e fui inspirada
sobretudo por aqueles professores que tivera coragem de transgredir as fronteiras
que fecham cada aluno numa abordagem do aprendizado como uma rotina de linha
de produção. Esses professores se aproximaram dos alunos com a vontade e o
desejo de responder ao ser único de cada um, mesmo que a situação não permitia o
pleno surgimento de uma relação baseada no reconhecimento mútuo.
Neste sentido, pensar na sociologia por uma viés inovador é para mim,
enquanto professora um desafio, como também uma satisfação, pois permite sair da
minha zona de conforto e trazer uma nova visão para o ensino. Aprendendo a
reconhecer as fronteiras que moldaram o modo como o conhecimento é
compartilhado na sala de aula.
Fazer parte da educação é buscar reconhecer os alunos que estão em
sociedade e constantes ciclos, é tarefa de ordem proporciona a esses alunos que
eles cresçam e derrubem os obstáculos ao saber. Adequando o ensino de forma que
se rendam as maravilhas de desnaturalizar olhar de aprender e reaprender, novas
maneiras de conhecer a vida e a sociedade na qual estão inseridos.

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria


de Educação Básica, 2018.

BRASIL. Lei nº. 9.394. Estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional.


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YOUNG, Michael. F. D. Conhecimento e Currículo - Do socioconstrutivismo ao


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