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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
DEPTO. DE TEORIA E PLANEJAMENTO DE ENSINO
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
PROFESSOR(A): ZILENE MOREIRA PEREIRA SOARES

Prezado professor Aldemir Silva (Mimi),

Gostaria de agradecer a oportunidade de refletir sobre minha trajetória acadêmica


e as interligações com a obra Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire. Ao longo dos anos
de estudo, comecei a perceber muitos paralelos entre a filosofia educacional de Freire e
minha própria experiência desde o fundamental I até a minha chegada a Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.

Lembro-me que nesse início de minha jornada na escola começou com muitas
incertezas por minha parte, mesmo sendo uma criança, pois, morava, e ainda moro, em
uma comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro, eu tinha muitas dúvidas sobre se seria
capaz de ter sucesso na escola. No entanto, logo percebi que havia algo dentro de mim
que me impulsionava a seguir em frente, e o incentivo por parte dos meus pais,
contribuíram para meu percebimento sobre isso. Esse desejo de aprender e crescer,
mesmo em circunstâncias difíceis, reflete a ideia central da Pedagogia da Autonomia: o
papel ativo do aluno em seu próprio processo educacional.

Minha trajetória escolar começou com o ensino fundamental I, onde tive a lastima
de aprender com alguns professores que não valorizavam a participação dos alunos e
incentivavam bem pouco a reflexão crítica sobre o mundo à nossa volta. Foi durante esse
período que, a pois a leitura da obra de Freire, comecei a perceber a importância de uma
educação que não apenas transmite conhecimentos, mas que também contribui para a
formação de indivíduos conscientes e críticos

Recordo-me de muitos professores não tinham essa ideia de despertar um senso


crítico aos seus alunos. Em brandas memorias, vem-me à mente uma professora que tive
no 6° ano do fundamental II, Gleise, seu nome, no qual obrigava os alunos a pensar como
ela. Passava lições que, caso não se adequasse ao seu pensamento, o aluno era humilhado
na sala na frente de todos, algo que, na visão do pedagogo Paulo Freire, jamais deveria
acontecer dentro de uma sala de aula.

Porém, no ensino médio, tive a sorte de encontrar professores que seguiam essa
mesma abordagem pedagógica defendida por Paulo Freire e que me permitiram continuar
desenvolvendo meu senso crítico e minha capacidade de análise. Ainda assim, sentia que
havia algo faltando. Foi quando, na universidade, apresentado, por minha professora de
Sociologia da Educação, à obra de Paulo Freire e, em especial, à "Pedagogia da
Autonomia", comecei a perceber que a minha educação havia sido até então um processo
de transmissão de informações, e não de formação de indivíduos críticos e autônomos. A
obra de Freire ajudou-me a compreender que uma educação crítica e transformadora deve
ser comprometida com a emancipação humana.

No início dos meus estudos na faculdade ainda não tinha essa compreensão,
porém, assim como no ensino médio, durante o curso de história, tive e tenho a sorte de
ter professores que compartilhavam essa mesma visão e que me incentivaram a
desenvolver minha capacidade crítica e reflexiva. Como resultado, estou conseguindo
vivenciar um processo de aprendizado em que sou incentivado a questionar e a buscar
conhecimento, ao invés de simplesmente absorver informações.

Ao longo dos anos, fui capaz de perceber que apliquei muitos dos ensinamentos
de Freire na minha própria vida, sem mesmo conhecê-los. A ideia de que a educação deve
ser um processo colaborativo, em que o aluno e o professor trabalham juntos para criar
conhecimento significativo, ressoou comigo desde o início. Eu descobri que, ao assumir
a responsabilidade por meu próprio aprendizado, eu me tornava mais engajado e
motivado. A obra de Paulo Freire, agora, também tem sido uma referência constante. Seus
conceitos e princípios pedagógicos se tornaram parte integrante da minha maneira de
pensar e agir, e foram fundamentais para a minha formação como um futuro docente. O
conceito de "educação como prática da liberdade" tem sido especialmente importante para
mim, pois compreendi que a liberdade de pensar e agir é uma condição necessária para a
formação de indivíduos críticos e autônomos.

Em particular, lembro-me de uma experiência que tive no ensino médio, com o


senhor, que ilustra bem essa ideia. Eu estava lutando para entender um conceito difícil na
aula de história, e você, como meu professor, percebeu que eu estava tendo dificuldades.
Em vez de me dar uma resposta pronta, ajudou-me a pensar sobre o problema e encorajou-
me a tentar resolver sozinho. A partir daí, trabalhamos juntos para encontrar a solução, e
eu me senti muito mais confiante em minha capacidade de aprender, principalmente
quando se tratava de assuntos mais difíceis.

Outra lição importante que aprendi, e novamente se encaixa as ideias do


pedagogo, é a importância da conscientização. Em sua obra, ele destaca a importância de
os alunos serem capazes de compreender seu papel na sociedade e as forças que moldam
suas experiências. Essa ideia me ajudou a ver a educação não apenas como um meio para
atingir objetivos pessoais, mas como uma maneira de entender melhor o mundo ao meu
redor.

Um exemplo concreto disso foi durante meu tempo no ensino médio, quando tive
a oportunidade de participar de um projeto comunitário. Trabalhamos juntos como grupo
para abordar um problema local de animais abandonados e, em seguida, refletimos sobre
o impacto de nossas ações e o que poderíamos fazer para melhorar a situação a longo
prazo. Foi uma experiência poderosa que me ensinou muito sobre a importância da ação
coletiva e da conscientização social.

Por fim, acredito que a obra de Freire me ensinou a importância da esperança e do


otimismo em face de desafios. Em um mundo muitas vezes marcado por desigualdades e
injustiças, é fácil se sentir desanimado e sem esperança. No entanto, acredito que é
precisamente em momentos como esse que devemos lembrar que a mudança é possível.
A Pedagogia da Autonomia me ensinou que, por meio do engajamento ativo entre ambas
as partes, aluno e professor, podemos desenvolver, principalmente ao aluno,
conhecimentos fora do âmbito escolar e formá-los para a vida, e pretendo aplicar esse
método dentro da minha sala de aula como um futuro professor de história. Assim como
Paulo Freire, acredito que todos nós temos o potencial de nos tornarmos agentes de
mudança e transformação social. A educação é a chave para desbloquear esse potencial e
criar uma sociedade mais justa e igualitária. Agradeço profundamente o papel que o
senhor desempenhou em minha educação e espero que possamos continuar a trabalhar
juntos para alcançar nossos objetivos educacionais e sociais.

Atenciosamente,

Vinícius de Albuquerque.

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