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CAMPOS, FORMAS E REFERÊNCIAS ESTÉTICAS

Fotografia documental
Um campo próximo ao fotojornalismo é a fotografia documental, que pressupõe
uma série maior de fotografias para contar a história e um tempo maior para
pesquisa, observação e desenvolvimento do trabalho, podendo levar meses ou anos para
finalizar o ensaio sobre um determinado tema.
Os ensaios são normalmente acompanhados por legendas escritas ou textos para
garantir que informações específicas ou uma mensagem sejam transmitidas. (Mãe
migrante, em 1936. Foto: Dorothea Lange. Acervo: FSA.)

Retrato de uma colhedora de algodão, em 1916. Foto: Lewis Hine.


Fotografia engajada ou ativista
As questões de mudanças sociais e de direitos humanos estão conectadas com a
fotografia engajada. Uma das maiores referências é Lewis Hine que, por meio das suas
fotografias de crianças trabalhando na primeira década do século 20, fez com que o
Congresso Norte-americano proibisse o trabalho infantil. “Se eu pudesse contar a
história em palavras, não precisaria carregar uma câmera.” Lewis Hine.

Fotografia comercial
São fotografias destinadas a campanhas publicitárias e normalmente aparecerão em
revistas, jornais, sites e outdoors com objetivo de vender produtos aos consumidores —
sejam roupas, carros ou outros bens. Hoje os bancos de imagens são repositórios de
milhões de imagens que são compradas por agências de publicidade. Retrato de
estúdio, moda e fotografia de casamento são outros ramos da fotografia comercial,
produzida para vender produtos ou serviços.
Retrato “Circus, Budapest, 19 May 1920” encontrado em 1920. Autor: Andre Kertesz.

Fotografia de rua
“Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração.” Henri Cartier-
Bresson

As ruas oferecem muitas possibilidades de experimentação formal e registros mais


espontâneos, refletindo a energia das urbes principalmente a partir dos anos de 1950.

Para outros, a cidade era o cenário em que se apresenta a tragicomédia da vida.


Natureza-morta (still life)

Still life ou natureza-morta, em português, é um gênero que também tem origem na


pintura e refere-se a imagens em que objetos parados ou sem vida são retratados.
Arranjados artisticamente, eles permitem ao artista celebrar a materialidade, a forma,
a cor e o jogo de luz e sombra.

As naturezas-mortas fotográficas variam desde os primeiros anos do meio, até a


fotografia contemporânea de publicidade — produto. A variedade é ilimitada; quase
toda foto de um objeto inanimado é uma natureza-morta.

Retrato "Apache ainda vida", encontrado por volta de 1907. Autor: Edward S. Curtis.

Fotografia conceitual:
Com o movimento de arte conceitual a partir da década de 1960, o termo
fotografia conceitual começa a ser utilizado, apesar de esse tipo e fotografia
sempre ter existido, mas sem essa definição. Neste campo, acontece também a
encenação da realidade para representar um conceito.

A forma de uma imagem conceitual também está na série, na sequência, na narrativa


de um conjunto de imagens que transmitem um conceito. Como nas séries tipológicas
de Bernd e Hilla Becher, fundadores do movimento Escola de Dusseldoft, que
influenciaram muitos fotógrafos. A câmera é um modo fluido de encontrar essa outra
realidade.” Jerry Uelsmanncontemporâneos, como Andreas Gursky e Candida Hofer.
Conheça esses artistas
Cindy Sherman, Bernd e Hilla Becher, Rineke Dijkstra , Nan Goldin, Jeff Wall, Oscar
Muñoz, Graciela Iturbide, Eustáquio Neves, Rosangela Rennó, Vik Muniz, Pedro
Motta, Rosana Paulino e Aline Motta.

Fotografia vernacular
“Nos últimos tempos, a fotografia transformou-se num divertimento que se pratica
quase tão amplamente como o ato sexual ou a dança – o que significa que, como toda
manifestação artística de massa, ela não é praticada pela maioria das pessoas como arte.
É sobretudo rito social, defesa contra a ansiedade e instrumento de poder.” Susan
Sontag)

Retrato da família Kulcsár, em 1940. Acervo pessoal.

Desde o lançamento da câmera da Kodak, em 1888, os instantâneos da família têm sido


um tema de destaque da fotografia. Naquela época, era considerada uma “fotografia
amadora”, pois a técnica fotográfica para fotografar com grandes formatos era
muito difícil e exigia muito estudo.

A fotografia vernacular inclui imagens informais — na grande maioria das vezes,


momentos felizes — férias, casamentos e aniversários tiradas por membros da família e
produzidas para serem vistas entre eles e por amigos. Não é necessário um rigor

técnico, pois, no contexto de suas famílias, esses registros particulares podem ser
preciosos.
Com o aparecimento do smartphone e o fenômeno das mídias sociais, houve uma
explosão de registros vernaculares.

Além de se referir às imagens do cotidiano, do casual, o termo também tem relação


com fotografias achadas nas ruas ou em brechós.

Nas últimas décadas, esse campo da fotografia tem sido apresentado em museus e
galerias, e o trabalho curatorial de Eric Kessels é uma referência.

São muitas as possibilidades de criação em foto e, com isso, muitas formas de registrar
nosso tempo e nossos espaços.

Você tem feito isso ultimamente? Você costuma guardar os registros que faz?

O livro de fotografia é a materialização de um projeto fotográfico. Inicialmente eram


mais usados para ilustrar o trabalho dos fotógrafos, mas, com o tempo, o produto livro
foi representando uma narrativa por si só, a coroação e o reconhecimento de um
grande ensaio.

A partir do século 21, o termo fotolivros começou a ser usado por pesquisadores,
colecionadores e o grande público. Hoje são aceitas as duas formas: livros de
fotografia e fotolivros.

São chamadas fotografias contemporâneas as imagens capturadas a partir da


década de 1980. Elas trazem um reflexo da realidade sociopolítica dos tempos atuais.
Escola de Dusseldorf. O movimento tem como referência os conceitos desenvolvidos
pela corrente estética Nova Objetividade.

Foi criado por Bernd e Hilla Becher e situa-se na fronteira entre arte e documento e a
criação de novas visualidades, usando a captura das fotografias pelo enquadramento
direto e com rigor metodológico. Bernd e Hilla Becher recebem o Prêmio Erasmus 2002
do Príncipe Bernhard (Holanda). Foto: acervo Fundação Praemium Erasmianum.
Fotografia ativista ou engajada.

A fotografia ativista é caracterizada por artistas que valorizam o ser humano. Utiliza a
fotografia para mostrar as injustiças sociais, lutando pelos direitos humanos e a questão
ambiental.
Conheça mais sobre a fotografia ativista, pesquisando as obras de alguns desses
artistas:Lewis Hine;Susan Meiselas; Zanele Muholi; Rafael Vilela;Sebastião
Salgado;Marcelo Brodsky;João Roberto Ripper; Isis Medeiros.Addie Card,
Com a redução de revistas para publicar ensaios, uma oportunidade de apresentar e
examinar assuntos com precisão e profundidade são os livros de fotografia ou os
fotolivros, onde a narrativa é feita por imagens fotográficas editadas que são as
protagonistas, podendo haver ou não o texto. A publicação de fotolivros com pequena
ou grande tiragem tem crescido exponencialmente na última década, pela facilidade
de processos e redução de preços, mas a história dos livros de fotografia iniciou logo
nos primeiros anos da década de 1840.

O Momento Decisivo
Do francês Henri Cartier-Bresson, publicado em 1952 e com capa de Matisse. Mais
do que uma retrospectiva do seu trabalho, o livro é uma declaração de uma
maneira específica de fotografar. O Momento Decisivo definido como “o instante
que a estética e a narrativa de uma cena têm seu clímax e sua composição
equilibrada” influenciou gerações de fotógrafos, imortalizando esses instantes
fugazes do cotidiano. Fotografando cenas em preto e branco em diversos países do
mundo, Cartier-Bresson procurava ser discreto na aproximação.
Os americanos
Do suíço Robert Frank, publicado em 1958 na França e depois em 1959 nos Estados
Unidos. Frank produz o livro com 83 fotografias em preto e branco a partir de uma
bolsa da Guggenheim, em 1955. Apresentou uma américa diferente da que os
americanos tinham, com imagens de segregação racial, solidão, falta de esperança,
alienação, tristeza e outros problemas sociais na América. É considerado por muitos
o livro mais importante da história da fotografia.

Capa do livro "Os americanos", de Robert Frank.

Na fotografia brasileira, destacamos:


Amazônia, de Claudia Andujar e George Love, publicado em 1978 com 147 fotografias
coloridas. Neste ensaio, há a narrativa visual inicial com paisagens aéreas da
floresta seguindo em um ritmo cinematográfico, que termina com os
Yanomami como os autênticos habitantes da terra.
Davi Kopenawa, porta-voz do povo Yanomami, disse: "Claudia é nossa amiga, e se
ela acha que as coisas estão bem, nós também achamos. As fotos são para serem
olhadas pelos homens e para os livros.”. O prefácio do livro escrito pelo poeta
amazonense Thiago de Mello foi censurado pela ditadura militar.
“A João Guimarães Rosa”, de Maureen Bisilliat, publicado em 1969 com 60
fotografias em preto e branco.
Ao receber de um amigo o livro “Grande Sertão Veredas”, de João Guimarães Rosa, ela
mergulhou naquele universo e o reinterpretou visualmente por meio de uma viagem
pelo sertão mineiro na procura por aspectos do sertanejo, como:
a família, o ritual do casamento, a vida e a morte. Maureen ainda publicou nesta linha,
em sua carreira, outros textos de Euclides da Cunha, Jorge Amado, Carlos Drummond
de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Os livros de fotografia são narrativas que nos
permitem apresentar e examinar com precisão e profundidade diversos assuntos,
levando a comunicação com o público pelas vias do sensível.
Que tal exercitar a argumentação sobre assuntos relevantes para você através de
um fotolivro?

Paris, 2019.Foto: João Kulcsár. Reprodução: Acervo pessoal.

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