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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Bacharelado em Gravura

DANIEL DHAYRAN SONCIN DIAS BERTÃO

DRE: 115030087

RIO DE JANEIRO
2019
Arte pós Daguerre

RESUMO:
Uma das causas que levou libertação da arte (pintura, escultura e ate literatura) do tradicional
e da limitação da representação da realidade foi à fotografia. Visto que anteriormente, a arte era
forma apenas de reproduzir o mundo e a fotografia veio a fazer isto de forma muito mais fidedigna,
rápida e fácil. Incentivando que o artista encontrasse uma forma transcender o real e possibilitar
que ele pudesse expor o imaginário, oferecendo a ele uma gama de referências que nunca havia
sido possível antes e permitindo a contemplação mundial de suas obras, além da criação de novas
formas de arte.

Palavras chaves: Daguerreotipia, arte moderna, fotografia.

Quais foram as interferências e contribuições da fotografia na história da arte.

A fotografia teve sua formação a partir dos trabalhos de estudiosos importantes, como
Hercules Florence e o criador do calótipo Fox Talbot, além de Daguerre e Niépce que em
1839 criaram o daguerreotipo que foi considerado o primeiro processo fotográfico a ser
anunciado e comercializado, porém não era tão prático e barato. A fotografia só passou a ser
mais acessível apenas no inicio da década de 1860.

Com a divulgação da fotografia, houve uma concorrência com as produções manuais de


retratos, por mostrar de uma forma mais fiel à realidade e ser mais barata, levando ao alcance
classes mais baixas a aquisição de um retrato, o que era antes um privilégio da elite. Além
disso, sua capacidade de registrar o mundo como ele é fez da câmera uma ferramenta de
pesquisa científica. No começo ela era usada para registrar evidência de pesquisas de
campo, retratar o povo de tribos remotas ou descobertas de novas espécies animais, vindo a
incitar um desejo de se fazer o “inventário do mundo”. Temos como famoso exemplo à
descoberta dos movimentos do cavalo enquanto corre, graças às disparadas consecutivas que
Eadweard Muybridge conseguia realizar com sua câmera, também mapeamentos mais
detalhados do corpo humano e da natureza. Por conta disso em determinada altura a pintura
e a fotografia começaram entre si e a evoluir uma com a outra, como os registros fotográficos
trouxeram para o artista imagens de lugares e belezas que não poderiam ser por eles
vislumbradas antes da fotografia, trazendo uma gama de referências enriquecendo seus
conhecimentos e ideias. Em contra partida ela trouxe dificuldades para os artistas, pois os
retratos, as ilustrações, as reportagens e afins, migram do domínio da pintura para a figura do
fotógrafo.
A repaginação de Paris, feita por George Haussmann entre 1850-1870, fomentou uma
mudança na visão da sociedade que voltava para o exterior, as ruas, os bulevares e os novos
recursos tecnológicos vindos com a revolução industrial, vivendo em cidades onde tudo se
transformava, os artistas vendo tudo ser demolido e reconstruído, começaram a se interessar
por este fenômeno o que decorreu no crescimento de substituições de pinturas nos interiores
das residências, por representações vindas da inspiração deste momento ou mesmo de
lembranças de uma natureza que a cidade, em plena (re)urbanização, já não mais oferecia.

Com isso vemos que uma nova geração de artistas compromete-se a trabalhar in loco,
diante do próprio tema, no anseio, entre outras coisas, de retratar com precisão fotográfica os
efeitos da luz, como Julia Margaret Cameron (1815-1879). Outros artistas que criaram obras
famosas que surgiram a partir do daguerreotipo, que veio se tornar uma técnica, tais como:

 L’Atelier de l’artiste (o ateliê do artista), Louis Daguerre,


 Boulevard du Temple, de Louis Daguerre,
 Robert Cornelius, dele mesmo (autorretrato),
 A Lua, de John William Draper,
 O retrato oficial de Abraham Lincoln,
 A primeira imagem da imprensa (1847),
 A Sequência do Eclipse Solar, de William Langenheim e Frederick Langenheim,
 O retrato de Joseph Jenkins Roberts, Augustus Washington.

Com todas essas funcionalidades científicas de sua comercialização massificada e


criação de produtos com intuito artísticos, com o passar do tempo um questionamento
começou a surgir: A fotografia podia ser considerada arte?
Nesse cenário, figuras relevantes da França como Boudelaire considerava
a fotografia “o inimigo mais mortífero da arte”, pois a ideia de considerá-la arte e
que fotógrafos poderiam ser artistas (aqueles vindos de classes sociais mais baixas,
principalmente) parecia absurda para alguns. Outros críticos, como o inglês John Ruskin,
acreditavam que a fotografia não tinha nenhuma relação com a arte e que não se igualaria a
ela. Esse pensamento reduzia a fotografia ao simples funcionamento do seu dispositivo
técnico que, simplesmente, usava a luz para registrar partes da realidade.
A partir disso, proliferam-se os debates acerca da situação da pintura frente à
emergência da fotografia, donde decorre uma necessidade crescente de se distinguir as
qualidades do pintor daquelas do fotógrafo. Como personagens deste debate temos Francis
Wey, que reconhecia à nova imagem ter a capacidade de representação fiel, entretanto,
negava o esforço intelectual “A fotografia não é interpretação porque lhe falta o ‘sopro da
inspiração’ e o ‘fogo do pensamento’, o que a leva a ser uma ‘fiel representação dos objetos
exteriores’, longe da verdadeira natureza da arte” e Courbet se posicionava, enfatizando que na
fotografia não havia a “força de trabalho” encontrada num quadro. Já Annateresa Fabris
aparece como defensora na sua declaração "O artista fotógrafo (...) se distinguiria de um
profissional qualquer pela ‘escolha da situação’, pelo ‘uso racional da luz e da sombra’, pela
perspectiva, pela harmonia, pelo equilíbrio, pela unidade, no caso das paisagens; pela pose, pelo
fundo, pelos detalhes, pela viragem (...)” e Delacroix, por volta de 1850 foi um dos primeiros
artistas a reconhecer a utilidade da fotografia para produzir arte.
Neste cenário conturbado temos a Exposição Universal de Paris de 1859 onde as fotos e
as artes clássicas (escultura, pintura, gravura, fotografia de palco paris) foram expostas ao
lado. Contrapondo temos a Exposição Internacional de Londres de 1862 que se recusou a
exibir fotografias na mesma sala dedicada às obras de arte, expondo-as na seção de
equipamentos mecânicos, demonstrando a dificuldade da aceitação da fotografia com arte.
Em 1890 surgiu o movimento pictorialista, na França, na Inglaterra e nos Estados
Unidos, que através disso o papel da fotografia começa a ganhar espaço reconhecido. Onde os
fotógrafos produziam aquilo que chamavam de fotografia artística. Este tipo de foto era
caracterizado por técnicas e efeitos das artes gráficas, com tons vibrantes e aparência
desfocada.
Um dos nomes mais influentes no movimento da fotografia como arte foi Alfred
Stieglitz (1864-1946), um americano que mantinha uma estreita relação com a Europa. Ele
dirigia a revista Câmera Work, que publicava o que se fazia de melhor em termos
de fotografia artística em todo o mundo. A terceira classe (1907), publicada na Câmera
Work em 1911, é considerada a primeira fotografia moderna.

Os artistas na Primeira Guerra Mundial, no anseio de representar a crise da fé e valores


tradicionais provenientes deste acontecimento, tentaram desenvolver técnicas de expressão
pictóricas, surgindo assim a primeiras fotos que retratavam o tempo, o espaço e aspectos
abstratos, incentivando as produções artísticas de vanguarda a partir de 1920, a fotografia
começou a ser vista como um meio de comunicação visual para a era moderna, sendo usada
pelos dadaístas alemães em obras que tinham varias críticas sociais, pelos construtivistas da
União Soviética para desenvolver estilos para uma nova era, pelos modernistas que utilizavam
as mais diversas formas de arte e design, até os surrealistas. Vemos então a fotografia
entrando definitivamente no mundo da arte.

O Museum of Modern Art de Nova York (MoMA) fundado em 1929, foi a referência da
vanguarda dominante na primeira metade do século XX, o modernismo, fazendo uma
importante exposição fotográfica em 1937, o que fez com que em 1940 fosse inaugurado um
departamento de fotografia no mesmo, vindo a ter a exposição The Family of Man em 1955
com 503 fotos de 273 profissionais, reunidas Edward Steichen, que percorreu o mundo por
oito anos, fazendo a fotografia Fine Art receber um tratamento diferente, sendo esta
responsável pela introdução adequada da fotografia de arte para o público no interior de
museus e galerias. Porém só em 1962 com o curador John Szarkowski a fotografia só passou
a ser considerada parte do modernismo.

E assim, a partir da década de 1960, com o pós-modernismo, os últimos obstáculos são


derrubados, se utilizando do crescimento dos meios de comunicação e da consolidação da
cultura de massa, a fotografia explora varias possibilidades de expressão, sendo algumas delas
a pop art, o minimalismo, entre outras, atingindo assim sua consolidação como arte.

Sendo assim a fotografia foi muito importante para a revolução da arte, pois com ela
veio varias formas de se observar, além de trazer para os artistas e a população mostrando
eventos e elementos que eram imperceptíveis aos olhos humanos, criando outras formas de
representar e entender uma ideia e apresentar o mundo. Esta tecnologia revolucionou a forma
de compartilhar a arte e permitindo levar seus questionamentos a todos, conseguindo torna-la
mais inclusiva, pois permite que qualquer pessoa possa contemplar obras que não teriam
acesso sem esse canal e vir a compor o mundo das artes que era restrito a privilegiados.
Bibliografia

BAUDELAIRE, C. O Pintor da vida moderna. São Paulo: Ed. Vega, 2013.

FABRIS, Annateresa. (org.). Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo: EDUSP, 1991

Novas questões para a arte -https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/8/06/mais!/22.html

Fotografia e arte:https://www.superprof.com.br/blog/nascimento-da-oitava-arte/

https://blog.emania.com.br/fotografia-como-arte/

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