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Peter Burke

Testemunha
ocular
história e Félix /RA
imagem Guilherme/RA
00331736
Rafael/ RA
Peter Burke
• Historiador e professor inglês, formado
em Oxford
• Foi professor-visitante do Instituto de
Estudos Avançados da Universidade de
São Paulo de 1994 a 1995 e desenvolveu o
projeto de pesquisa chamado Duas Crises
de Consciência Histórica.
• Premiado com a Medalha de Erasmus
introdução
• O livro está primordialmente interessado no uso de
imagens como evidência histórica.

• É escrito tanto para incentivar quanto para advertir


usuários dessa forma de evidência.

• Imagens constituem-se no melhor guia para o poder de


representações visuais nas vidas religiosa e política de
culturas passadas.

• Este livro investiga portanto o uso de diferentes tipos de


imagem, no sentido de evidências aceitáveis para diferentes
tipos de história.
Capitulo 5: Cultura • “Jamais consigo fazer com que você
material através de perceba a importância das mangas... ou das
imagens grandes questões que podem depender de
um cadarço de bota.”
-Holmes para Watson em Um caso de
identidade de Arthur Conan Doyle
• “O valor de imagens como evidência para a história do
vestuário é inquestionável. Alguns itens da vestimenta
sobreviveram por milênios. No entanto, para mudarmos
o foco do item isolado para o conjunto, para saber o que
se usava com o que, é necessário recorrer a pinturas e
gravuras”
• “Historiadoresda agricultura, da tecelagem, da
impressão de papéis, da guerra, da navegação e das
outras atividades práticas, a lista é virtualmente infinita,
têm-se baseado intensamente no testemunho de imagens
para reconstruir as maneiras pelas quais as ferramentas
eram utilizadas”
Paisagens de
cidades
• Historiadores urbanos há
muito tempo se dedicam a
“a cidade como artefato”. A
evidência visual é
particularmente importante
para esse enfoque de história
urbana.
• Por exemplo, existem pistas
valiosas sobrea aparência de
Veneza no século 15 como
pano de fundo de pinturas ao
“estilo testemunha ocular"
Interior e suas
mobílias
• No caso de imagens de
interiores de casas, o “efeito
realidade” é ainda mais forte
do que nas de vistas.
• O imediatismo é uma ilusão.
Não é possível entrar numa
casa do século 17 o que é
mostrado é uma
reconstituição na qual uma
equipe de museólogos agiu
como historiadores
baseando-se na evidência de
inventários, pinturas e
materiais impressos para
descobrir como o espaço era
organizado
• “A pintura também pode servir para advertir espectadores do
século 21 que um artista não é uma câmera, mas um comunicador
ou comunicadora com sua própria agenda. Mesmo na cultura da
descrição, as pessoas, ou pelo menos algumas pessoas,
continuavam a se preocupar com o que estava debaixo da
superfície, tanto da superfície das imagens quanto da do mundo
material que as imagens representavam.”
Publicidade
• “As imagens usadas em publicidade podem
auxiliar historiadores do futuro a
reconstituir elementos perdidos de cultura
material do século 20,de automóveis a
vidros de perfume, mas no presente, seja
como for, elas são mais úteis como cortes
para o estudo de atitudes passadas em
relação a mercadorias.”
Problemas e soluções
• O problema da fórmula visual. As representações descritas como
“formulaicas”.
• O problema das intenções do artista, seja para representar o mundo
visível de forma fiel ou para idealizá-lo ou até mesmo fazer uma alegoria.
• O problema da imagem que se refere a ou “cita” outra imagem, o
equivalente visual da intertextualidade.
• “O testemunho de imagens parece ser mais confiável nos pequenos detalhes.
Ele é particularmente valioso como evidência da arrumação dos objetos e de
seus usos sociais, não tanto a lança, ou garfo, ou livro em si, mas a maneira
como empunhá-los. Em outras palavras, imagens nos permitem reinserir velhos
artefatos no contexto social original.”
Capitulo 6: Visões de sociedade
• Muitos pintores poderiam ser descritos como
historiadores sociais pelo fato de que suas imagens
registram formas de comportamento social, cotidianas ou
de eventos festivos
• Historiadoresde diversas áreas estudaram a evidência
dessas imagens com cuidado e atenção para cada
detalhe. Sem elas, a reconstituição da prática do futebol
na Florença renascentista, por exemplo, seria
literalmente impossível .
Crianças
• Philippe Ariès, foi um pioneiro da história da infância, bem como no uso de imagens como
evidência.
• Para escrever a história da infância , foi necessário encontrar novas fontes - diários, cartas,
romances, pinturas e outras imagens.
• A partir dos séculos 16 ou 17, entretanto, na França e em outros lugares, o surgimento de
retratos e túmulos para crianças torna-se perceptível, junto com a crescente atenção do que
poderíamos chamar de “infantilidade”.
• Entre os argumentos que Ariès usou com referência a essas fontes visuais está o da falta de
segregação por idade no antigo regime, ilustrado por uma cena de uma taverna no século 17
na qual crianças e adultos se misturam.
• Contudo, o livro de Ariès tem sido frequentemente criticado desde de sua publicação. A ideia
de que as crianças eram vistos como adultos em miniatura, isso não leva em conta o fato de
que nem crianças nem adultos vestiam suas roupas do cotidiano quando posavam para
retratos.
• Outra crítica relevante é a acusação de ignorar as mudanças nas
convenções de representação.
• Ariès não conseguiu efetuar a leitura das convenções visuais do
início da época medieval, nem avaliar que temas eram
considerados apropriados para representação visual naquela
época, assuntos religiosos na sua maioria, nos quais crianças, com
exceção de Cristo menino, não se encaixavam facilmente
• Ariès também subestima as, funções ou os usos das imagens.
Crianças eram geralmente representadas de duas maneiras.
• Em primeiro lugar como parte de grupos familiares e em segundo
lugar, nos séculos 17 e 18, crianças eram cada vez mais
consideradas símbolos de inocência, e certas pinturas de crianças
eram alegóricas, ou quase alegóricas.
• Apesar das criticas o Ariès estimulou um conjunto de pesquisas de
imagens de crianças por historiadores sociais e por pesquisadores
em galerias e museus, como no Museu da Infância
• Um estudo de crianças no retratíssimo da família americana entre
1670 e 1810 adotou examinou 334 retratos representando 476
crianças
• Observou o aumento nas representações de brinquedos e outros
sinais de infância. a infância estava começando a ser mais
claramente distinguida da idade adulta, bem como mostrada de
uma forma mais positiva
• A tendência positiva prosseguiu ainda ao longo do século 19,
tanto que um bem conhecido historiador das ideias dedicou um
livro ao que denominou “culto da infância” nessa época.
bolhas de Sir John Millais
Mulheres na vida cotidiana
• É um lugar-comum da história das mulheres que frequentemente teve
de ser escrita ao contrário das fontes, especialmente das fontes de
arquivo, criadas pelos homens e expressando os interesses masculinos.
o silêncio dos documentos oficiais estimulou historiadores a voltarem-
se para imagens.
• Um historiador da China época Song conclui que "homens podiam ser
vistos em todos os lugares nas zonas comerciais da capital; mulheres
eram uma raramente vistas”.
• Em contraste, um impresso japonês da década de 1780 representando
uma rua em Edo (atual Tókio) à noite mostra mulheres numa multidão
de "atores, espectadores, passantes e comerciantes”.
• No Ocidente, pode-se atentar para as 132 cenas de Viena gravadas pelo artista
alemão Salomon Kleiner entre 1724 e 1737. Historiadores urbanos observaram
a participação das mulheres de Viena ou Amsterdã ou Londres na vida de rua
representa um contraste com a China tradicional e até mesmo com o Japão.
Imagens oferecem evidência particularmente valiosa dos tipos de trabalho que se
esperava que as mulheres realizassem, muitos deles na economia informal que
escapa frequentemente à documentação oficial.
Em relação à Europa, historiadores sociais poderiam se basear em testemunhos
semelhantes se assim o desejarem tomando as precauções usuais. uma imagem inglesa
do século 14 de três mulheres trabalhando na colheita, o que está em conflito com uma
impressão formada com base em outros tipos de evidência de que as mulheres
normalmente não se engajavam nessa atividade na época.
• A crescente popularidade desse gênero no século 18 sugere que aspectos da vida
da classe trabalhadora estavam começando a ser percebidos como “pitorescos”
pelos olhos da classe média.
• Entre as ocupações femininas mostradas nessas pinturas e de senhos estão a
costura, cerzido de tecido, tecelagem da seda, conserto de sapatos, arranjos de
flores e transporte de baldes de excrementos para fertilizar a terra.
• Os historiadores não pode se dar ao luxo de esquecer que essas imagens foram
produzidas num determinado contexto, por artistas locais trabalhando para
estrangeiros.
Mulheres lendo, por outro lado, são frequentemente representadas. Na Idade Média e
na Renascença várias imagens da Anunciação mostram a Virgem Maria lendo um livro.
O declínio das imagens lendo após 1520 pode ter sido uma das primeiras respostas ao
que pode ser denominado “demonização" da leitura pela igreja católica, Por outro lado,
imagens de outras mulheres lendo tomaram-se gradualmente mais frequentes a partir
dessa época.
Gênero
• Pinturas de gênero emergiram como um tipo de imagem independente na Holanda no
século 17. O exemplo holandês foi seguido por artistas na França do século 18 na
Escócia do século 19 e nos Estados Unidos .
• historiadores sociais não podem assumir que imagens como essas são documentos
impessoais. O enfoque moralizador de Jan Steen no seu Lar em desordem, por exemplo,
já foi registrado
• Tem se argumentado que algumas pinturas holandesas de charlatães não representam
cenas da vida urbana, mas cenas apresentadas no palco, Neste caso, os charlatães que
acreditávamos estar observando diretamente não passaram apenas por um, mas por um
duplo filtro de moralização.
• Retomamos ao problema do “realismo aparente”, no Casamento barato de Wilkie e em
outros casos. A sátira é especialmente clara na série de pinturas e gravuras de Hogarth
conhecida Casamento à moda
William Hogarth Marriage à la Mode (Casamento à
moda)
O REAL E O IDEAL
• Por um lado, então, historiadores sociais precisam estar conscientes das sugestões
satíricas das imagens. Por outro lado, não podem esquecer a possibilidade de
idealização
• mudança na maneira de representar pessoas mais velhas na arte francesa do final do
século 18. Estava-se iniciando um processo de ênfase na dignidade da idade avançada
em vez de destacar-se seus aspectos “grotescos”.
• No mesmo sentido, imagens francesas de multidões mudaram de uma forma bastante
notável após a revolução de 1830. Antes dessa época, indivíduos na multidão eram
geralmente mostrados, na forma de desordeiros, pedintes ou bêbados, com expressões
beirando o grotesco.
• A imagem, frequentemente representada nos séculos 18 e 19, do pai lendo para a
família também pode ser uma idealização, uma expressão de nostalgia pelos dias em
que a leitura era um ato mais coletivo do que individual
A Poor Family Gathers Around As The Father Reads From The Bible.
After A Work por Jean-Baptiste Greuze
• Fotografias da vida rural tiradas na Inglaterra por volta de 1900 bem podem
expressar um certo anseio pela “comunidade orgânica” da pequena cidade
tradicional, suscitando não apenas um sorriso dos protagonistas, mas
enfatizando também os implementos tradicionais à custa dos novos
maquinários.
• Por exemplo, as imagens rurais representadas nas iluminuras do inglês do
século 14 Luttrell Psalter, foram recentemente descritas como elementos que
oferecem uma “visão nostálgica” do mundo rural antes da crise do sistema
feudal.
• After Harvesting (Após a colheita), de Petr Zabolotsky, que mostra servos
russos dançando no pátio da casa grande, enquanto o proprietário e sua
família observam, a posição física no alto de um lance de escadas
simbolizando a superioridade social
• O caso de retratos de indivíduos, representações da sociedade nos dizem algo
sobre uma relação, a relação entre o realizador da representação e as pessoas
retratadas
Luttrell Psalter
Capitulo 7: • O "Outro”- maneira como povos e culturas
Esteriótipo do Outro diferentes classificavam outros povos e
culturas que encontravam.
• A “visão” ou ponto de vista, os artistas
necessariamente tinham um ponto de vista
sobre o que eles estavam enxergando, eles
tinham que se posicionar no momento de
representar o que estavam vendo, esse
ponto de vista pode ser de duas formas:
1- Positiva
• Negar a distância cultural e
assimilar os outros a "nós“,
utilizando analogias,
consciente ou
inconscientemente
• Gravura mostrando um
embaixador tibetano com
um “rosário”, nota-se como
o autor assimilou roupas e
costumes tibetanos com os
religiosos europeus.

Ian Nieuhof, L’Amhassadc de la Compagnie Orientate des Provinces Unies


vers VEmpereur de la Chine
(Embaixada da Companhia Oriental das Províncias Unidas junto ao Imperador
da China)
(Leiden: J. de Meurs, 1665).
2- Negativa
• Reverso da primeira reação,
cultura oposta à sua, seres
humanos iguais a nós são
vistos como "outros", um
povo é antítese do outro, por
isso são representados como
monstros, de forma
estereotipada e generalizada.
• A maneira como os
indígenas são retratados
comendo carne humana ,
amamentando em público,
arco e flecha em mãos.
Nota-se que a única coisa
. “A ilha e o povo que foram descobertos pelo rei cristão de Portugal ou
visível nos navios é o sinal
seus súditos".
da cruz, indicando uma
Gravura alemã em madeira mostrando canibais brasileiros, c. 1505. oposição religiosa
Bayerische Staatsbiblio-thek, Munique
Uso dos estereótipos
• Os estereótipos podem tanto ser usados de uma forma boa como de forma
negativa.
• O Estereótipo pode não ser completamente falso, mas exagera em alguns
traços da realidade e omite outros, como no exemplo da ilustração sobre os
indígenas do Brasil.
• Alguns desses estereótipos são positivos, como no caso do “nobre
selvagem”, uma expressão usada em 1672 pelo poeta e dramaturgo inglês
John Dryden. A imagem tornou-se um clássico que foi revivido no século
16 e desenvolveu-se junto com a imagem do seu oposto, a do canibal.
Esteriótipo positivo e negativo:

Theodore de Bry. Canibalismo entre os


Tupinambás.
A teoria das raças
monstruosas.
• Acreditava-se em todo tipo de raça
monstruosa nos continentes ainda
desconhecidos, como seres com cabeça no
tronco, Amazonas (mulheres naturalmente
nascidas com apenas um seio) .
• Acreditava-se que o clima diferente criava
esses seres. Após explorarem a África e a
Índia, passaram a acreditar que esses
monstros estavam no novo mundo
(Américas).
Orientalismo
• O orientalismo surgiu
primeiramente em 1978, em
uma obra de Edward Said de
mesmo nome.
• Said define o orientalismo
de duas maneiras parecidas:
• “Instituição homogênea para
tratar o Oriente”
• “É a fantasia coletiva
europeia do Oriente” ou “um
estilo ocidental de dominar o
Oriente”
O orientalismo
oriental
• Artistas que pintavam cenas
de sua própria cultura ao
estilo ocidental para que
fossem vistos através de
olhos Ocidentais, ou, de
alguma forma,
ocidentalizados.
• Um exemplo do
orientalismo oriental é o
artista Hamdi Bey (1842-
1910), um artista turco que
havia estudado em Paris e
pintou cenas de sua própria
cultura ao estilo ocidental.
Ocidencialismo
• Assim como ocorreu com os
orientais, também havia um
preconceito em relação aos
povos ocidentais.
• Isso pode ser observado na
maneira como eles são
representados, como no
exemplo ao lado de um
frasco de pólvora com uma
imagem japonesa do povo
português.
• Observa-se o destaque para
as grandes roupas
portuguesas e o grande nariz
destacado.
O Outro dentro do nosso país
• “Um processo semelhante de diferenciação e distanciamento ocorre no
interior de uma determinada cultura
• Exemplos ainda presentes: machismo, etarismo, preconceito com pessoas de
outras regiões, preconceito com pessoas do interior de determinado país.”

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