Você está na página 1de 2

Carta de Motivação

Prezados,
Escrevo para expressar meu profundo interesse em participar da formação da ONU sobre
direitos humanos, conforme anunciado. Me chamo Ane Kethleen Ferreira da Silva,tenho 23
anos,sou uma jovem liderança indígena apaixonada pela preservação da cultura e dos
direitos de minha comunidade.
Pertenço ao povo Pataxó, sou da aldeia Tibá, TI comexatiba, localizado no extremo sul da
Bahia.Nasci e cresci imersa em nossas tradições ancestrais,aprendendo sobre a riqueza
de nossa cultura,amor e orgulho ao meu povo;mas não somente isso,porque infelizmente
ainda enfrentamos muita luta para a conquista e garantia de nossos direitos.
Cresci em meio a momentos difíceis , como reintegrações, violências e desrespeito com
nossos direitos.
Aos 11 anos, fiz minha primeira viagem a Brasília , com meu avô Zé Fragoso, meu grande
professor da vida, onde já comecei a aprender como lutamos pela garantia e conquista de
nossos direitos. Mesmo tão nova, meu avô já me pôs em um desafio. Junto com ele ,
escrevemos uma carta para leitura em uma de nossas agendas. Mesmo com muito medo,
me encorajei e fiz a leitura diante de vários homens de terno preto, e fiz a seguinte pergunta
: Será que vou ficar velha, e não vamos ter nossas terras demarcadas ? Além de cobrar
uma saúde e educação de qualidade,dando início a minha jornada , como liderança.
Sempre atenta aos ensinamentos dos meus mais velhos , Zabelê que já se encantou , e
principalmente meu avô.
Aprendi muito, ao escuta- los, e ver como nós povos indígenas nos organizamos, como
pensamos o mundo , e como é a nossa luta pela garantia dos nossos direitos . Carrego
dentro de mim o mesmo desejo deles; Que um dia possamos viver em paz em nosso
territórios, com saúde e educação de qualidade . Minha bisavó Zabelê , ancestralizou com
esse sonho; e isso me inspira a lutar pela garantia destes, para que alcancemos o bem
viver, a proteção de nossos territórios e nossa mãe natureza.O que me motiva a participar
desta formação.
E meu avô que continua nessa luta, sendo exemplo vivo para mim, de coragem e
determinação , mesmo com seus 71 anos de idade .
Aos 18 anos ingressei no ensino superior, na Universidade Federal da Bahia , em Salvador,
no curso de fisioterapia. E mesmo vivendo em contexto urbano, não deixei de falar sobre o
meu povo e a fazer minha luta de resistência. A universidade abriu portas para mim contar
sobre a minha cultura , e meu povo. Escrevi um livro , sobre as lutas, vivências e histórias ,
de minha bisavó Zabelê, meu avô, minha mãe e o que eles representam pra mim . O livro é
intitulado como Tecendo histórias do meu lugar , e trás consigo muita memória e muitas
histórias.Produzi também um documentário intitulado : Awê: Cantos e contos do Cacique Zé
Fragoso.Um sonho de meu avô, que desejava o registro de suas composições.
Minha jornada na escrita me deu a voz para compartilhar nossas histórias e lutas com o
mundo, e a minha formação em saúde tem me mostrado de perto as disparidades e
injustiças que afetam as comunidades indígenas em relação aos direitos humanos básicos,
como acesso à saúde e educação adequadas.
Acredito firmemente que minha experiência única como uma jovem líder indígena e
escritora pode trazer uma perspectiva valiosa para as discussões durante a formação.
Tenho dedicado minha vida a promover a conscientização sobre os desafios enfrentados
pelos povos indígenas e a lutar por seus direitos fundamentais, através de palestras e
participações em eventos.
Além disso, estou profundamente motivada a aprender com os especialistas e líderes nesta
formação da ONU. Tenho um desejo ardente de contribuir para a construção de um mundo
mais justo e inclusivo para todos, independentemente de sua origem étnica, cultural ou
social. Estou confiante de que essa formação me proporcionará as ferramentas necessárias
para criar um impacto significativo em minha comunidade e além.

Agradeço antecipadamente pela consideração da minha candidatura. Estou ansiosa pela


oportunidade de participar desta formação, colaborar com outros participantes e contribuir
para o diálogo sobre direitos humanos.

Atenciosamente,

Ane Kethleen Ferreira da Silva


30/10/2023

Você também pode gostar