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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIENCIAS E TECNOLOGIA


Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações em Turismo
Nome de Estudante: Manuel Macumbi Pidas Nível: 2º Ano Período: Pós-Laboral
Docente: Prof. Dr. Nicuama
FICHA DE LEITURA
Referencias: Moçambique: (1998), Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Maputo-Moçambique.
Págs. Conteúdo

Prefacio

Os desafios em termos de desenvolvimento humano sustentável em


Moçambique são enormes. Este tema reflecte a franqueza e clareza de ideias dos
autores deste trabalho relativamente à finalidade mais nobre da paz e do crescimento
económico. O Relatório aplica com perspicácia e criatividade a visão contida no
conceito de desenvolvimento humano, definido desde o primeiro Human
Development Report em 1990 como “o processo de alargamento das escolhas das
pessoas”.

Contudo, também a este nível, os dados disponíveis no Relatório permitem


inferir que a situação do País parece estar a alterar-se em sentido positivo. A grande
questão sobre a qual o Relatório se interroga é: que tipo de crescimento? É preciso
não esquecer que a nível da África Austral, Moçambique tem o PIB per capita mais
baixo, os índices de escolarização mais precários e um dos mais baixos índices de
esperança de vida.

iii-iv O baixo nível e a fragilidade dos índices de desenvolvimento humano


sumarizam os enormes desafios que Moçambique terá de enfrentar para assegurar a
consolidação da paz, da democracia e da reconciliação nacional. O Relatório
pretende ser apenas uma contribuição para um debate mais amplo e construtivo
sobre as dificuldades, os desafios e as oportunidades de desenvolvimento em
Moçambique.

Introdução

Paz e crescimento económico, com ou sem desenvolvimento humano? Este é o


grande desafio com que se defronta Moçambique, este país da África Austral onde a
maioria do seu povo deseja ardentemente duas coisas: que a guerra devastadora que
sofreu até 1992 nunca mais volte a acontecer; que a revitalização do crescimento
económico emergente promova o seu desenvolvimento. As dúvidas sobre o futuro
de Moçambique não derivam dum cepticismo e descrédito sem fundamento. Pelo
contrário, elas resultam de causas profundas que ultrapassam as próprias fronteiras
de Moçambique.

A ideia que a ligação entre crescimento económico e desenvolvimento humano


não é automática tem sido vigorosamente discutida na série de trabalhos publicados
pelo Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento (PNUD), aqui designados
13-14 como Relatórios Globais de Desenvolvimento Humano (RsGDH).

Desde o surgimento do primeiro RGDH, esta série de trabalhos tem desafiado


duas ideias intimamente ligadas: (i) que todo o crescimento económico promove
automaticamente o desenvolvimento humano; (ii) que o crescimento económico
está, nas fases iniciais, inevitavelmente associado a uma deterioração na distribuição
do rendimento da maioria da população dum país.

No final, o que se espera é que as questões e análises aqui apresentadas sejam úteis
para os dirigentes políticos, técnicos e administrativos conceberem, implementarem,
14 monitorarem e avaliarem o impacto das suas estratégias e programas de
desenvolvimento.

O que é Desenvolvimento Humano?

O conceito de ‘desenvolvimento humano’, na perspectiva proposta pelos


RsGDH, surgiu pela primeira vez no Human Development Report (HDR) 1990,
definido como “o processo de alargamento das escolhas das pessoas” (RDH, 1990:
10). O HDR 1990 introduziu este conceito começando por afirmar: “As pessoas
16-17 constituem a riqueza real duma nação. O objectivo básico do desenvolvimento é
criar um ambiente adequado para que as pessoas possam gozar duma vida longa,
saudável e criativa. Trata-se duma verdade que parece muito simples.

Claro que, à semelhança do que acontece com qualquer conceito de


desenvolvimento, existem nele aspectos que são extremamente difíceis de
quantificar. Porém, entre os inúmeros aspectos do desenvolvimento total das
capacidades humanas existentes, os RsGDH identificaram três que são
indispensáveis para que as pessoas possam expandir as suas oportunidades na vida:
viverem uma vida mais longa e saudável, serem instruídas, e gozarem dum nível de
vida adequado.

Sejam quais forem as limitações desta operacionalização do conceito de


desenvolvimento, ela revelou-se original e efectiva para diversos propósitos.
Contudo, a transformação do conceito abstracto e bastante genérico de
desenvolvimento humano’ em definições operacionais e indicadores de medição de
dimensões específicas das capacidades humanas revelou-se bastante efectiva para o
debate sobre desenvolvimento.

O que é Desenvolvimento Humano sustentável?

O desenvolvimento humano é o fim mais nobre de todas as formas de


desenvolvimento: económicas, políticas, sociais, e culturais. A sua finalidade é o
que as pessoas sejam capazes de ser e fazer. Qual é a sua esperança de vida? Têm
uma vida saudável? São capazes de ler, escrever e aumentar os seus conhecimentos
para beneficiarem dos enormes progressos científicos e técnicos actualmente
existentes no mundo? Em que condições vivem? Têm meios financeiros e materiais
para uma vida aceitável? Vivem em paz e livres da ameaça às pessoais e políticas?
18-19 As instituições e autoridades da sociedade garantem o respeito pela dignidade do
indivíduo, incluindo as suas opiniões e opções políticas, religiosas e morais?

Mesmo se as respostas às questões aqui colocadas são positivas, é importante


que o processo de alargamento das escolhas das pessoas não comprometa a
possibilidade das gerações vindouras também satisfazerem as suas necessidades e
ansiedades. É esta a razão por que nos anos mais recentes tanto se tem insistido que
o desenvolvimento humano deve ser sustentável.

Que Medidas do Desenvolvimento Humano já foram Criadas?

Para além duma medida agregada e geral do desenvolvimento humano num


dado país, o IDH permite colocar cada país do mundo numa perspectiva global. A
MPS, também introduzido no RDH de 1995, mede a desigualdade entre os sexos em
19-20 áreas chave da participação económica e política e da tomada de decisão. A MPS
utiliza varáveis construídas explicitamente para medir a aquisição relativa de poder
por homens e mulheres nas esferas de actividade política e económica.

Os dados nacionais sintetizam a diversidade e complexidade da situação


específica do país. Tal síntese é útil porque a partir de medidas simplificadas e
agregadas, como o PIB ou o IDH, é possível comparar os países do mundo quanto à
distância a percorrer para se atingir certas metas de crescimento e desenvolvimento.
A questão escolhida para este relatório pode e deve ser debatida nas suas
implicações para as regiões do país. Mas numa primeira fase justifica-se que ela seja
abordada na perspectiva geral seguida, pois os principais aspectos aqui discutidos
são relevantes para todas as regiões do país.

Situação Geral do Desenvolvimento humano em Moçambique

Segundo, descreve-se a situação do desenvolvimento humano de Moçambique


no mundo em geral, e na região da África Austral e África Subsaariana, em
particular. Terceiro, apresenta-se a evolução dos níveis e tendências do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) no tempo, nomeadamente entre 1960 e o presente,
incluindo uma estimativa do IDH entre 1996 e 1998.

Em meados dos anos 1990 a esperança de vida dos moçambicanos era quatro
anos mais baixa que a média tanto dos países Subsaarianos como dos países de
baixo rendimento. Também abaixo da média estavam os índices de escolaridade de
adultos, taxas de escolarização, bem como indicadores sobre a saúde materno
infantil. No período pós-independência o governo expandiu os serviços de saúde
primária às zonas rurais, na base de um programa de saúde assente nas comunidades
e nos centros de produção. Em 1982 existiam 1.373 unidades sanitárias no país, mas
em 1987 um terço dessas unidades haviam sido destruídas ou encerradas (INE,
1996).

Educação e Desenvolvimento Humano

No início da década de 90 as diferenças de escolaridade entre os sexos


permaneciam manifestamente acentuadas: pouco mais de 20% das mulheres contra
mais de metade dos homens sabiam ler. Este desequilíbrio entre os sexos reflecte a
tendência nas taxas de escolarização. Em 1990, cerca de 1,3 milhões de crianças
matricularam-se no primeiro nível do ensino primário. Este número aumentou para
1,4 milhões em 1995, como resultado do restabelecimento da paz. As premissas
políticas da filosofia do regime de educação que precedeu o Sistema Nacional de
Educação encontram-se no processo da luta nacionalista. Este sistema tinha um
carácter nacional tendo como objectivo responder às necessidades concretas de
formação de recursos humanos para servir um determinado projecto político.

A reforma curricular é tomada como referência para se chegar à qualidade de


ensino que tem como ponto de partida o Ensino Primário. A planificação a longo
prazo no Ministério da Educação concretiza-se no Plano Estratégico precedido de
uma profunda apreciação da Política Nacional de Educação. A expansão da rede
escolar nos distritos, assenta na redução gradual da exclusão de acesso que é devida,
entre outros, à escassez de alojamento nos internatos.

Da Insegurança Nacional para a Segurança Humana

O contexto de transição social, política e económica para a segurança humana é


bastante complexo. Em muitos casos, a sua natureza e tendências são difíceis de
caracterizar e, sobretudo, quantificar. Por isso, os restantes capítulos do Relatório
visam aprofundar o debate sobre aspectos importantes do contexto actual do estádio
de desenvolvimento humano em Moçambique. “A segurança humana teve, desde
sempre, duas grandes componentes: liberdade do medo e liberdade da carência.”
(RDH, 1994: 24). Enquanto a liberdade do medo pode ser alcançada através duma
paz social efectiva, a liberdade das carências só pode ser conseguida pelo
desenvolvimento humano sustentável.

Outros autores argumentam que a redefinição de segurança social requer o


alargamento do próprio conceito, em termos horizontais e verticais. O seu
alargamento horizontal, envolve criar uma agenda que reconhece que a segurança
depende de factores tais como democracia política, direitos humanos,
desenvolvimento económico e social e sustentabilidade do meio ambiente, como o é
da estabilidade militar (Solomon e Cilliers, 1996: 6). O alargamento vertical do
conceito, envolve reconhecer que as pessoas deveriam ser a referência primária da
segurança. Neste caminho, torna-se possível identificar ameaças à \segurança
humana que emergem ao nível sub-nacional, nacional e transnacional (Solomon e
Cilliers, 1996: 6).

Por outras palavras, a noção de paz social deixa de se limitar à ideia defensiva de
segurança

territorial para passar a destacar a perspectiva de desenvolvimento humano


sustentável.
A paz social toma em consideração também a nova filosofia de utilização dos
recursos humanos, físicos e financeiros que foram libertos com o fim do conflito
armado em Moçambique. Todavia, o caminho de consolidação da paz em
Moçambique é longo. O alargamento do espaço político tem de fazer parte do
diálogo e entendimento para que haja maior receptividade de novas iniciativas e
ideias no processo de mudanças. A paz social não significa o fim dos conflitos no
seio da sociedade, e muito menos no modelo de vida das comunidades visáveis o
Estado Moderno.

Transição económica: que implicações para o desenvolvimento humano?

A liberdade da insegurança pessoal, política e comunitária só poderá ser


duradoira quando suportada pela liberdade das carências. Mas enquanto a primeira
se materializa através da paz social, discutida no Capítulo 3, a liberdade das
carências depende da ligação estreita e sustentável entre o crescimento económico e
o desenvolvimento humano. Neste contexto, o factor determinante para a
prosperidade e desenvolvimento humano da população Moçambicana não é tanto a
existência de vastos e ricos recursos naturais no seu país.

O que é determinante e decisivo é a forma como tais recursos expandem o


bem-estar das pessoas. Nos últimos quatro ou cinco anos Moçambique conseguiu,
não só um ambiente de paz e estabilidade política, mas a inversão da tendência e
direcção da sua economia. O crescimento real do PIB aumentou 4,4% em 1994,
relativamente ao ano anterior.

Ajustamento estrutural e restabelecimento do crescimentoeconómico: 1985-


1997

A estabilização macroeconómica visa repor o equilíbrio interno e externo da


economia, trazendo as despesas do sector privado e público ao nível do rendimento
nacional e da ajuda e endividamento sustentáveis. Por isso ela tem necessariamente
custos em termos de consumo e bem-estar. O ajustamento estrutural tem em vista a
alteração dos incentivos económicos aos consumidores e produtores para promover
a eficiência na economia. Em última instância, a longo prazo, o ajustamento tem
efeitos positivos sobre o crescimento económico, o emprego, o consumo e o bem-
estar.
Mas será que a curto prazo a conjugação das medidas de estabilização e
ajustamento, terá inevitavelmente que ter efeitos negativos sobre as dimensões
sociais e de desenvolvimento humano? Sobre esta questão as opiniões dos
economistas dividem-se em pelo menos duas posições principais. Por um lado,
economistas como Kuznets e Kaldos, bem como instituições como o Banco Mundial
e o Fundo Monetário Internacional (FMI), consideram que nas fases iniciais do
crescimento económico, a deterioração na distribuição dos rendimentos é inevitável,
pois os benefícios apenas são suficientes para os ricos (RDH, 1996: 6). Por outro
lado, autores como os que têm estado associados aos RsGDH refutam a
inevitabilidade dum conflito entre crescimento e equidade.

A importância da agricultura em Moçambique evidencia-se, acima de tudo,


pelo facto de envolver 80% da população. Ainda que contribua com apenas cerca de
25-30% para o volume do PIB, cerca de 70% das receitas de exportação agregadas
derivam de produtos agrícolas e de recursos naturais renováveis. Pelo menos para
metade da população rural, a actividade agrícola representa a principal fonte de
recursos necessários para assegurar a alimentação, saúde e educação, e por isso a via
principal de participação dos membros dos agregados familiares no
desenvolvimento económico e social do país.

O desenvolvimento do sector agrário, em particular da produção do produtor


familiar é vital para a segurança alimentar da população. Por outro lado, o vínculo
entre a agricultura e a indústria é crucial para o crescimento económico do país.
Moçambique herdou do colonialismo uma situação em que o desenvolvimento do
meio rural, em termos de acesso a serviços básicos de educação e saúde e de infra-
estruturas, era considerado dos mais pobres, mesmo nos padrões da África
Subsaariana. As políticas seguidas após a independência tiveram um impacto
diversificado sobre o meio rural. Por um lado, houve o esforço de melhoramento do
acesso aos serviços de educação e saúde, o qual mereceu o reconhecimento da
comunidade internacional.

Por uma Estratégia de Desenvolvimento Humano Rápido

Não são poucas as vezes que se assume, de forma implícita ou explícita, que o
crescimento económico, por si só, conduz a um melhoramento do desenvolvimento
humano. “Esta ideia encontra-se ligada a outra, habitualmente aplicada a países com
baixo rendimento como é o caso de Moçambique: que na fase inicial da
revitalização económica a redistribuição da riqueza é de relevância limitada porque
haverá sempre muito pouco para distribuir pela população”. (RDH, 1996: 6) Se estas
duas ideias são correctas, então também é verdade que o efeito de redistribuição dos
benefícios do crescimento económico - o famoso efeito “trickle down” - teria um
efeito igualmente limitado na redução da pobreza (Gaiha, 1993:11ff).

Os elementos duma estratégia de desenvolvimento humano são a envolvente


principal da argumentação do Capítulo 4 neste relatório. O princípio geral que se
encontra por trás da análise fornecida neste trabalho é o de que o desenvolvimento
humano, e em particular a redução dos índices de pobreza, requer políticas
deliberadas. Evidentemente, a possibilidade de se poder combinar o aumento das
receitas de exportações com a erradicação da pobreza levanta grandes expectativas
sobre tal pressuposto, visto que outros sectores com maior potencial de receitas de
exportações não têm uma relação tão linear com a erradicação da pobreza. Mas será
esta linearidade entre receitas de exportação e erradicação da pobreza válida?

A dificuldade reside no facto de que a liberalização parte da suposição de que


uma exposição total à concorrência internacional, mesmo que isso implique a
paralisação da maioria das fábricas, é a melhor, senão mesmo a única, forma para se
erradicar a pobreza. Porém, não está provado empiricamente que a liberalização por
si só contribua para a erradicação da pobreza; nem os seus efeitos multiplicadores na
economia podem ser considerados como um dado adquirido.

A experiência mostra que uma integração vertical via transformação de


produtos primários resulta na obtenção de rendimentos mais altos, sendo por isso
vantajosa. Por exemplo, a UNCTAD (1996) compara os esforços do sudeste asiático
de subirem na cadeia de valor de produtos derivados de aço e madeira com a
situação dos produtores de produtos similares na América Latina que ficaram
atolados na cauda da cadeia de valor. As evidências mostram que os produtos
processados trazem uma maior estabilidade de rendimentos uma vez que estes
tendem a ser mais estáveis do que os produtos primários (Yeats, 1991).

Estratégias de desenvolvimento envolvem níveis diferentes de intervenção, o


que quer dizer que elas não precisam necessariamente de um nível sofisticado de
planificação ou intervenção. A magnitude e a forma de intervenção variam de sector
para sector e obedecem a critérios pragmáticos. Porém, o aspecto importante a reter
deste primeiro Relatório é que o crescimento económico precisa de ser definido em
torno duma estratégia de desenvolvimento humano da população. Tal definição
requer a delineação de uma política de gestão, como afirma o RDH96, ‘criativa e
inteligente’; ou seja, uma política que deliberadamente forja e regularmente fortifica
os elos de ligação entre crescimento económico e desenvolvimento humano.

No caso de Moçambique, a necessidade duma tal política qualificada e


inteligente, reconhecida e aplicada por todos os intervenientes no processo de
desenvolvimento, é ainda mais premente por causa dos elevados índices de pobreza.
O alívio e erradicação da pobreza só poderão ser alcançados através da elevação dos
rendimentos, equidade e estabilidade social da população. A pobreza existe em
contextos sociais específicos. As reformas económicas implementadas na última
década conduziram à abertura da economia nacional à economia mundial e a
transferência dos mecanismos de criação da riqueza para o sector privado. Estas
reformas são indispensáveis para a revitalização do crescimento económico, mas
não são suficientes para uma ligação efectiva entre crescimento e desenvolvimento
humano.

Esta foi certamente a motivação, como se explica no Capítulo 4, da


transformação do PRE no PRES - Programa de Reabilitação Económica e Social. A
reforma política e administrativa, a descentralização e privatização dos activos
públicos, a reforma institucional e legislativa, a estabilização monetária e fiscal, e a
política de atracção de investimento estrangeiro, têm visado uma estabilização
económica a curto prazo. Porém, reformas com objectivos de curto prazo têm de
assentar numa visão de desenvolvimento de longo prazo. Tal visão estratégica de
longo prazo emerge sempre que nos interrogamos sobre o objectivo por detrás, por
exemplo, da alocação eficiente dos recursos. E, seja qual for a resposta, esta não se
pode circunscrever ao cliché “crescimento acelerado”, pois a pergunta que
imediatamente surge é a seguinte: crescimento rápido para quê e para quem?

A procura de respostas eficazes para este tipo de perguntas aponta para a


necessidade de uma cultura de auscultação das sensibilidades sociais como parte da
procura de uma estratégia abrangente e participativa. Tal estratégia é necessitada
pelo facto de que apesar de os mecanismos de mercado poderem engendrar
crescimento económico, não são suficientes para assegurar a eliminação da privação
humana. Em contra partida, os juízos e consensos colectivos nem sempre são fáceis
de conseguir. Gerações sociais caracterizadas por tipos diferentes de participação
geram juízos diferentes e estes influenciam os processos de elaboração de políticas
socioeconómicas. De qualquer modo, cada sociedade produz, de forma implícita ou
explicita, uma visão colectiva sobre o que constitui justiça económica, política e
social.

A ausência de uma visão consensual resulta sempre em conflitos que desaguam


na instabilidade. Quando a visão colectiva é inconsistente com os resultados do
crescimento económico, os governos perdem a confiança e credibilidade junto do
seu povo. O rápido crescimento dos anos 60 em alguns países africanos com
ligações fracas durou pouco porque foi baseado num boom de preço dos bens
primários e em economias não diversificadas. Estes países precisam de acelerar o
seu crescimento económico para iniciarem e sustentarem melhorias no
desenvolvimento humano. Apesar de alguns terem alcançado progressos
significativos no desenvolvimento humano, com crescimento modesto, o ritmo de
melhoria abrandou com o declínio económico (RDH, 1996: 83).

A necessidade duma estratégia de desenvolvimento humano torna-se cada vez


mais premente porque os níveis de crescimento económico, apesar de significativos
em termos relativos, são extremamente frágeis e não poderão ser sustentados nas
actuais condições de políticas de intervenção dispersas. A falta de pessoal formado,
uma das características de um desenvolvimento humano fraco e desequilibrado,
limita o número de estratégias que podem ser delineadas e implementadas com
sucesso. Contudo, esta fragilidade estrutural não obvia a necessidade de uma
estratégia. O desafio é encontrar as políticas que criem espaço e incentivos
necessários para libertar o potencial criativo dos recursos disponíveis, via
participação na procura de soluções para os problemas sociais, porquanto todo o ser
humano é um recurso. Este ponto tem de ser óbvio para todos os membros de uma
sociedade. A experiência sugere que nenhum país atravessa uma transformação
estrutural da economia sem elevar os níveis básicos de educação. As bem
conhecidas ligações entre instrução feminina e a fertilidade, entre educação e
produtividade e entre a instrução das mães e o nível educacional dos filhos, todas
explicam porque razão é assim. O primeiro passo na elaboração de tal estratégia é a
identificação dos objectivos gerais, através de debates nacionais.

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