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A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique - (Extratos)

Research · June 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.2605.3281

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Manuel de Azevedo Antunes


Universidade Lusófona
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A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique
Neste livro sobre A Dinâmica da População no Desenvolvimento de
Moçambique, o autor procura, a partir de vários indicadores,
devidamente identicados, denidos e interligados, delinear a situação
socioeconómica, política e demográca do país, culminando com a
criação de um Índice de Desenvolvimento Humano Ponderado
Sustentável, que possibilite estabelecer comparações de Moçambique
com os demais países da região e do mundo. O que permite concluir, de
forma amplamente documentada, que Moçambique, um dos países
menos desenvolvidos do planeta, continuava, na viragem do milénio,
considerando os seus recursos naturais e populacionais, com múltiplas
opções e possibilidades de desenvolvimento, dependendo o seu futuro
das oportunas decisões políticas, na conjuntura nacional, regional e
internacional, em tempos de globalização.

A DINÂMICA DA POPULAÇÃO
NO DESENVOLVIMENTO
DE MOÇAMBIQUE

MANUEL DE AZEVEDO ANTUNES


MANUEL DE AZEVEDO ANTUNES

A DINÂMICA DA POPULAÇÃO
NO DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE
Nos termos legais, é expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer
forma ou meio, nomeadamente fotocópia ou digital, este livro.

FICHA TÉCNICA
Título: A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique
Autor: Manuel de Azevedo Antunes
Copyright © Manuel de Azevedo Antunes & CPES
Lisboa, 2015

Capa: Ana Moutinho

ISBN 978-1495447822
Impressão: Createspace – Amazon

CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais


ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Av. do Campo Grande, 376, 1749-024 LISBOA
Telef.: 217515500; Fax: 217577006
E-mail: mantunes@ulusofona.pt
www.ulusofona.pt
RESUMO

Centrada, embora não exclusivamente, na primeira década de Moçambique


independente, com incidências até à viragem do milénio, esta investigação visa,
essencialmente, uma análise sócio-económico-político-demográfica da inter-relação da
população com o desenvolvimento, naquele país.
Por isso, ao enquadramento metodológico e epistelomológico, segue-se uma reflexão
sobre a antinomia do desenvolvimento/subdesenvolvimento, segundo várias concepções,
passando-se, depois, a uma caracterização geral de Moçambique independente, antes de
centrar a atenção na relação da população com o desenvolvimento.
A partir de vários indicadores, devidamente identificados, definidos e interligados,
tenta-se delinear a situação socioconómica, política e demográfica do país, com a construção
de um Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável para Moçambique, o que permite
estabelecer comparações com os outros países da região e do Mundo.
Daí se poderá concluir, por forma amplamente documentada, que Moçambique, um
dos países menos desenvolvidos do planeta, continuava, na viragem do milénio, considerando
os seus recursos naturais e populacionais, com múltiplas opções e possibilidades de
desenvolvimento, dependendo o seu futuro das oportunas decisões políticas, na conjuntura
nacional, regional e internacional, em tempos de globalização.

Palavras-chave: desenvolvimento, globalização, Moçambique, população, subdesenvolvimento.

17
ABSTRACT

Focusing, although not exclusively, in the first decade of independent Mozambique,


with incidences to the turn of the millennium, this research essentially aims an economic,
political and demographic analysis of the interrelationship between the population and
development, in that country.
Therefore, a reflection on the antinomy of the development / underdevelopment,
according to various conceptions, follows the methodological and epistemological framing,
moving then to a general characterization of independent Mozambique, before focusing on
the relationship between the population and development.
Through the analysis of several, carefully identified, defined and interlinked
indicators, it tries to delineate the social, economic, political and demographic situation of
the country, with the construction of a Sustainable Human Development Index for
Mozambique, which allows comparisons with the other countries in the region and the World.
Hence, we will be able to conclude, in a widely documented way, that Mozambique,
one of the least developed countries in the World, considering its natural resources and the
population, still had multiple options and development possibilities in the end of the twentieth
century, its future depending on timely political decisions, within the national, regional and
international conjuncture, in times of globalisation.

Keywords: development, globalisation, Mozambique, population, underdevelopment.

18
RÉSUMÉ

Centrée, bien que pas exclusivement, dans la première décade de Mozambique


indépendant, cette thèse cherche, avec les incidences jusqu'au tour du millenium,
essentiellement, une analyse économique, politique et démographique de la inter-relation de
la population avec le développement, dans ce pays.
Par conséquent, après le cadre méthodologique et épistémologique, on présente une
réflexion sur l'antinomie du développement / sous-développement, d'après plusieurs
conceptions, pour passer, alors, à une caractérisation générale de Mozambique indépendant,
avant de centrer l'attention dans le rapport de la population avec le développement.
À partir de plusieurs indicateurs, qu'on a identifié, défini et lié avec soin, on essaie
d'esquisser la situation sociale, économique, politique et démographique du pays, avec la
construction d'un Index du Développement Humain Soutenable pour Mozambique, ce qui
permet établir des comparaisons avec les pays de la région et du Monde.
Par conséquent, on peut conclure, par voie largement documenté, que Mozambique,
était encore l’un des pays moins développés de la planète, au tournant du millénaire, compte
tenu de ses ressources naturelles et de la population, avec des choix multiples et des
possibilités de développement, en fonction de son avenir en temps opportun et des décisions
de politiques de conjoncture nationale, régionale et internationale, à l’époque de la
mondialisation.

Les mot-clés: développement, mondialisation, Mozambique, population, sous-développement.

19
INTRODUÇÃO

Na análise do desenvolvimento têm predominado, até agora, as perspectivas


económicas. Talvez por ser uma área em que os economistas, mais do que quaisquer
outros analistas do social, se têm debruçado. Daí que, não raro, aconteça confundir-se
desenvolvimento com crescimento económico. O que representa meio senão todo o
caminho andado para aquilo que se poderá rotular de «economicismo desenvolvimentista».
Fundamentalmente, esta perspectiva de análise põe o seu acento nos mecanismos
económicos que orientam as sociedades para o aumento da sua produção e consequente
transformação das respectivas estruturas. É, afinal, a afirmação da autonomia ou
independência dos fenómenos económicos como principal, quando não exclusiva,
explicação da dinâmica do desenvolvimento.
Sem menosprezar a importância do económico, constitui objectivo fundamental deste
trabalho fazer incidir esta análise do desenvolvimento em Moçambique também sobre
outros aspectos não menos importantes, nomeadamente sobre os aspectos sociopolíticos e
populacionais, com algumas das suas múltiplas variáveis.
Por isso, a questão de base a que se procurará responder é:
• Qual a importância da componente populacional no desenvolvimento, em
Moçambique?

A hipótese principal é que Moçambique, apesar das suas múltiplas possibilidades,


considerando as condições de vida da sua população, ainda estava, na viragem do século,
longe de alcançar um nível médio de desenvolvimento.
Outras hipóteses surgirão, ao longo do trabalho, nomeadamente, sobre:
• A noção de desenvolvimento;
• A medida do desenvolvimento;
• A caracterização de Moçambique;
• As variáveis e projecções demográficas;
• O impacto do VIH/SIDA;
• As prospectivas socioeconómicas;
• O Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável.

Para esclarecer esta problemática, começa-se por algumas Questões Prévias, com
uma breve referência à Metodologia utilizada e uma Reflexão Epistemológica sobre o
enquadramento do tema desta tese no âmbito da Ciência Política. Seguir-se-á uma análise da
antinomia do desenvolvimento/subdesenvolvimento. O que levará às origens, evolução e
prospectivas da Economia do Crescimento, passando pela análise sociocultural do
desenvolvimento e do desenvolvimento sustentável. No pressuposto (mais uma hipótese) de
que o desenvolvimento é um fenómeno global, resultante da interpenetração dinâmica de
múltiplos factores actuantes.
Esta refexão apontará, também, para a diversidade de caminhos ou modalidades de
desenvolvimento, nomeadamente, em função da história, da geografia, da política, da
economia, da cultura, da população.
Daí a necessidade de uma delimitação ao tema: A dinâmica da população no
desenvolvimento de Moçambique independente, nos finais do século XX, com principal
incidência na primeira década da independência, tendo em conta o passado mais recente
de Moçambique e o futuro mais próximo, com o conveniente enquadramento no contexto
regional e internacional, sempre que possível, necessário e oportuno.

25
Para isso, far-se-á uma caracterização geral de Moçambique, a nível
geográfico, político, socioeconómico e demográfico, a que se seguirá uma análise mais
aprofundada da problemática da população, com as suas implicações no desenvolvimento de
Moçambique. Isso será realizado, avaliando a evolução populacional e a política de
natalidade e protecção materno-infantil, a mortalidade, a escolarização e força de
trabalho, as migrações e pólos de desenvolvimento, a produção e distribuição
alimentar, as prospectivas para um futuro próximo, enfim, tentando definir e calcular um
Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável para Moçambique. O que constitui uma
importante e original inovação.
Desta análise sairão, assim se espera, algumas prospectivas e conclusões.
Trata-se de uma abordagem de grande pertinência científica. É, até, a primeira vez que,
nas Universidades portuguesas, se analisa a população de um país com os métodos aqui
utilizados, como se verá, não se limitando, nesse aspecto, o estudo a uma simples análise
demográfica, com a ideia pré-concebida de que os dados são incorrectos e de que a
Demografia é «para os países civilizados», no dizer de Achille Guillard, em 1855,
remetendo-se os outros países, como Moçambique, por exemplo, para o campo privilegiado
da Etnografia ou da Etnologia.
Intencionalmente, não se fará qualquer abordagem, nesta tese, dos aspectos
etnográficos ou etnológicos da população moçambicana, pois entende-se que a referida
população tem direito a ser estudada como a população de qualquer outro país, nomeadamente
em termos demográficos.
Por outro lado, a população, que, a par do território e do governo, constitui um dos
elementos fundamentais do Estado, costuma andar bastante arredada das análises políticas e
não só.
Daí a importância que é dada à componente populacional, no âmbito desta tese,
essencialmente centrada na bem pertinente questão da dinâmica da população no
desenvolvimento, em Moçambique, no último quartel do século XX.

26
Como contraponto/complemento da globalização tem-se desenvolvido a teoria e
prática da regionalização.
Como refere Raposo MEDEIROS,
“Na base da institucionalização da regionalização, estão forças políticas com
referencial aos poderes do Estado e buscando diminuir obstáculos intra-regionais à
circulação de mercadorias, de capitais e de pessoas. (...) No plano de facto, a
regionalização é encarada como um fenómeno económico resultante das mesmas
forças microeconómicas que aparecem na globalização. (...) Em suma: a
regionalização pode ser definida como «o conjunto de medidas tomadas pelos
Estados para aumentar, ou diminuir, os obstáculos às trocas, aos investimentos, aos
fluxos de tecnologia e a outros movimentos de factores entre os grupos de países».
Há ligações entre globalização e regionalização. Se na verdade constituem
processos opostos, na medida em que um é fundamentalmente centrífugo e o outro
centrípeto, eles podem não ser antagónicos, sobretudo quando a regionalização
reforça o campo da concorrência”371.

Esta tendência para a regionalização parece assentar na necessidade de aumento da


coesão política bem como no alargamento de mercados e obtenção de ganhos comerciais
resultantes da racionalização e da especialização das estruturas de produção, visando a
realização de políticas comerciais e económicas372.

1.6 - A MEDIDA DO DESENVOLVIMENTO

Como já foi referido, os termos crescimento e desenvolvimento, quando aplicados


à dinâmica social, são, muitas vezes, tomados um pelo outro. De qualquer forma, os autores
tendem cada vez mais a usar o termo crescimento, quando se referem aos aspectos
económicos dessa dinâmica, e desenvolvimento, para se referirem à evolução para mais e
melhor da interligação de todos os aspectos do social. Dentro do âmbito da análise aqui
proposta, é, sobretudo, o desenvolvimento que se terá em conta. E para ele será procurada
uma medida.
1.6.1 - A busca de Indicadores Sociais

Essa caracterização do desenvolvimento por um mais e melhor, significa que o


desenvolvimento será susceptível de uma quantificação e qualificação. Para traduzir essa
quantificação e qualificação têm-se desenvolvido metodologias com a utilização de Índices
e/ou Indicadores Sociais.
Um dos primeiros indicadores a ser utilizados, como medida de bem-estar
humano, foi o PIB (Produto Interno Bruto) per capita. É um indicador ainda hoje
correntemente utilizado, que assenta na ideia da identidade entre crescimento e bem-estar.
No entanto, a pouco e pouco foi-se tomando consciência de que se o crescimento económico
resolve um conjunto de problemas, também acaba por acarretar uma série de outros novos,
tais como a poluição, a alteração do ambiente, etc., com graves implicações na saúde e
qualidade de vida das populações.
Tudo isso, aliado ao fracasso da teoria e dos processos de planificação, assentes no
PIB, que, a partir dos anos de 1950 até hoje, em pouco ou nada contribuíram para a redução da
pobreza no mundo em desenvolvimento, tem levado ao aparecimento de estratégias al-
ternativas. Tais estratégias visam substituir ou complementar as estratégias economicistas,

371
Eduardo Raposo de MEDEIROS, op. cit., p. 583.
372
Cf. Idem, op. cit., p. 584.

122
que assentavam na ideia de que uma rápida industrialização levaria a uma modernização da
economia nacional, com uma consequente difusão dos benefícios monetários. Essas
estratégias resultaram num incremento dos Indicadores Sociais373.
Este «Movimento de Indicadores Sociais», como foi designado, nomeadamente, por
Otis Dudley DUNCAN374, surgido a meados da década de sessenta do século passado e
aplicado, principalmente, nos anos de 1970 e 1980, abarca uma grande variedade de
tentativas para especificar indicadores de bem-estar socioeconómico, tais como a qualidade
da habitação, da saúde, da educação, do emprego, da alimentação, segurança social,
lazer, etc., enfim, da qualidade de vida. E distendeu-se por todas as Ciências Sociais,
com uma grande variedade de aspectos e realizações, visando a mensuração do social
para apoio, em última instância, à decisão governamental, tentando romper com a fórmula
economicista:
desenvolvimento = crescimento = bem-estar.

O movimento dos modernos Indicadores Sociais teve os seus antecedentes. Por


exemplo, já em meados do século XVII, na Inglaterra, John GRAUNT, fazia colectâneas de
dados sobre a mortalidade, ao mesmo tempo que o seu conterrâneo e amigo, William PETTY,
desenvolvia o conceito de “aritmética política”, preconizando a utilização de dados
estatísticos pelo governo para elaborar um sistema de impostos ou avaliar o poder militar.
Aliás, desde as antiguidades oriental e ocidental que os governantes tiveram
preocupações com as colectâneas de dados referentes às populações. Basta recordar: o Censo
de Yao, imperador chinês, pelo ano de 2238 a. C.; os Censos hebraicos, referidos na Bíblia, já
a partir do séc. XVIII a. C.; os Censos egípcios, desde o séc. XVI a. C.; os Censos indianos do
séc. XI a. C.; os Censos gregos desde o séc. VIII a. C.; os Censos romanos, estabelecidos por
Sérvio Túlio, no séc. VI a. C., e que se estenderam a todo o império romano, inclusive ao
espaço que hoje é Portugal, nomeadamente por ordem do imperador César Augusto, no início
da era cristã375.
Estas contagens da população, principalmente para efeitos fiscais e militares,
continuaram durante toda a Idade Média e Moderna europeias e estão na base dos actuais
recenseamentos, feitos com regularidade em todo o mundo, que permitem a recolha dos mais
variados dados estatísticos, que possibilitam a elaboração de muitos indicadores sociais.
O próprio termo «estatística», ao que parece, utilizado pela primeira vez pelo italiano
GHILINI, em 1589, que deriva da palavra latina status, terá sido inicialmente tomado na
acepção de «Estado», ou «situação» (estado das coisas), com vista a designar o ramo de
conhecimento que tratava da “situação” em que, sob determinados aspectos, se encontravam
os Estados376.
Já no século XIX, foi notável o trabalho do Adolfo QUETELET, bem conhecido
cientista belga, que deixou a sua marca nos mais variados ramos do saber, da matemática à
física, da estatística à astronomia, da demografia à sociologia. Apaixonado pela astronomia,
QUETELET conclui que «os números governam o mundo». O que o levou, nas suas análises
do social, à idealização do «homem médio», espécie de homem tipo, ponto de referência para

373
Cf. Michael CARLEY, Indicadores Sociais: Teoria e Prática (Tit. orig. Social Measurement and social
indicators: issues of policy and theory, Londres, 1981), Trad. de Vera Ribeiro, Zahar Editores S.A., Rio
de Janeiro, 1985, Prefácio, s/p.
374
Cf. Otis Dudley DUNCAN, Towards Social Reporting: Next Steps, Russel Sage Foundation, New York, 1969.
375
Instituto Nacional de Estatística, Recenseamentos da População e da Habitação 1981 - Antecedentes,
Metodologia e Conceitos, Lisboa, 1984, pp. 9-10.
376
Cf. Vasco FORTUNA, Curso de Estatística, Repartição de Estatística Geral, Direcção dos Serviços de
Economia e Estatística Geral, Luanda, 1964, p.16.

123
todos os outros, que dele se distinguiriam por desvios mais ou menos acentuados. Interessado
pelos problemas sociais, tanto quanto possível mensuráveis, QUETELET escreveu em 1835 a
sua primeira obra de envergadura Sobre o Homem e o Desenvolvimento das suas Faculdades,
ou Ensaio de Física Social. E, em 1842, QUETELET conseguiu a realização do Censo de
Bruxelas, espécie de balão de ensaio para o Recenseamento de toda a Bélgica, em 1846, para,
poucos anos depois, em 1853, organizar, em Bruxelas, o 1º Congresso Internacional de
Estatística, que tão grande importância teve nos Censos posteriores de todo o mundo,
nomeadamente no I Recenseamento Geral da População Portuguesa, em 1864, que seguiu de
perto as orientações daquele Congresso.
No princípio do século XX, o italiano NICÉFORO (1876-1960), publicou um livro
que hoje é considerado o primeiro relatório social de todos os tempos: Les Indices numériques
de la civilisation et du progrès [Os Índices numéricos da civilização e do progresso], onde o
autor procura desenvolver indicadores que considera importantes para vários aspectos do seu
conceito de civilização377.
Na Inglaterra, Arthur Cecil PIGOU (1877-1959), discípulo de Alfred MARSHALL
(1842-1924), publicou, em 1920, o seu The Economics of Welfare [A Economia do Bem-
Estar], defendendo que a economia neoclássica teria que ter em conta os custos sociais e
ambientais, ou desserviços (disservices), hoje designados por «externalidades», e assinalando
que o bem-estar público poderia ser prejudicado por tais custos sociais, que estavam para além
dos custos de produção privados378.
Uma outra fonte do movimento dos indicadores sociais encontra-se na obra do
sociólogo americano William F. OGBURN, da Universidade de Chicago. Procurando
desenvolver o papel da investigação social no processo decisório do governo, OGBURN
publicou, em 1922, um livro intitulado Social Chance [Mudança Social], onde defende que a
melhor maneira de explicar a mudança social seria através da elaboração de medidas
fidedignas do desenvolvimento e da evolução cultural, isto é, de descrições tanto quanto
possível quantitativas sob a forma de séries estatísticas ou de observações descritas
cuidadosamente379.
Por incumbência do Presidente Hoover, dos Estados Unidos, OGBURN teve ainda a
oportunidade de dirigir a equipa de pesquisa de um Comité Presidencial, criado em 1929 com
o objectivo de analisar as tendências sociais em vários sectores da vida norte-americana, do
que resultou o clássico Recent Social Trends [Tendências Sociais Recentes], de 1933. Nesse
relatório, com 32 itens, que vão da educação à religião, passando pelos grupos étnicos,
recreação e lazer, saúde e ambiente, tendências rurais, mulheres, ocupações, família,
criminalidade, etc., OGBURN procurou estabelecer a inter-relação entre esses diversos
tópicos, de forma a obter uma perspectiva mais abrangente da sociedade norte-americana.
Nessa linha de ideias, OGBURN organizou ainda uma edição anual do American Journal of
Sociology [Jornal Americano de Sociologia], dedicado à mudança social entre 1928-1934380.
A influência da obra de OGBURN ainda hoje se repercute em inúmeras publicações de
indicadores estatísticos, por todo o mundo, a começar pelos Estados Unidos. De facto,
“(…) o impulso para o aumento do interesse pelos indicadores sociais nos Estados
Unidos surgiu em 1962, quando a Academia Norte Americana de Artes e Ciências
empreendeu um projecto para a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço

377
Cf. Michael CARLEY, op. cit., p. 16.
378
Cf. A. C. PIGOU, The Economics of Welfare (1920), Macmillan, Londres, 1932.
379
Cf. Michael CARLEY, op. cit., p. 17.
380
Cf. Idem, op. cit., pp. 17-18.

124
(NASA). A finalidade desse projecto era examinar os efeitos secundários do
programa de exploração espacial na sociedade norte-americana”381.

O que levou a equipa de investigação a aprofundar a questão do controle da mudança


sócio-económica. Do que resultou o livro, organizado por Raymond BAUER, Social
Indicators [Indicadores Sociais], de 1966.
Outros trabalhos do género se seguiram: Indicators of Social Change: Concepts and
Measurements, organizado pelos sociólogos Sheldon e Moore, para a Fundação Russell Sage,
em 1968; Human Meaning of Social Change, da autoria de Campbell e Converse, para a
mesma fundação, em 1972; Towards a Social Report, do Ministério da Saúde, Educação e
Bem-Estar, dos Estados Unidos, de 1969. E o exemplo espalhou-se pelo Reino Unido, com o
Social Trends, em 1970, pela Alemanha, com o Gesellschaftliche Daten, e pelo Japão, com o
Paper on National Life, em 1973, enfim, por mais umas três dezenas de países que, num
período de seis anos, publicaram os seus relatórios sociais382.
As próprias agências internacionais especializadas, desde os anos 50 do século
passado a esta parte, têm utilizado o critério dos indicadores sociais para a análise sócio-
-económica dos diversos países. Veja-se, a propósito, os Relatórios do Banco Mundial, os
Relatórios do PNUD, os Relatórios da O.C.D.E., etc. Curiosamente, a primeira definição de
«países subdesenvolvidos», elaborada por uma Comissão de técnicos das Nações Unidas, já
nos idos de 50, tomando em linha de conta um indicador estritamente económico, entendia
esses países como aqueles em que “a renda real per capita é baixa quando comparada com a
renda real per capita dos Estados Unidos da América, do Canadá, da Austrália e da Europa
Ocidental”383.
Os anos de ouro dos Indicadores Sociais ocorreram nas décadas de 60 e 70, do século
passado, com uma grande esperança em que esses meios possibilitassem um planeamento
social para uma melhoria da qualidade de vida. Mas tal entusiasmo veio a resfriar nos finais
dos anos 70, pois muitas das promessas feitas, com base nos referidos indicadores,
continuavam por realizar pelas entidades políticas com poder decisório. Mesmo assim, a
metodologia dos Indicadores Sociais tem ainda um papel importante a desempenhar no
âmbito da análise do social. A seguinte figura poderá ilustrar o lugar dos indicadores, no
conjunto da informação:

381
Idem, op. cit., p. 19.
382
Cf. Idem, op. cit., pp. 20-21.
383
UNITED NATIONS, Measures for the Economic Development of Underdeveloped Countries, New York,
1951, p. 3.

125
PIRÂMIDE DA INFORMAÇÃO

Fonte: Direcção Geral do AMBIENTE, Proposta para um


Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável,
Amadora, 2000, p. 11, adaptado de N. GOUZEE, et al.,
Indicators of Sustainable Development for Decision-
-Making, Report of the Workshop of Ghent, Belgium,
9-11 January 1995.

1.6.2 - A medida do «nível de vida»

Toda a tónica do movimento dos indicadores sociais aponta para a necessidade de


medir o desenvolvimento, não em termos simplesmente económicos, mas em relação com
o nível de vida alcançado. E aqui surge a necessidade de uma distinção entre nível de vida,
«standard» de vida e normas de vida.
“Esta distinção  como refere J. B. TRAPERO , foi introduzida por um comité
de peritos das Nações Unidas em 1964, da seguinte forma:
− O nível de vida refere-se às condições de vida presentes num momento
dado da colectividade.
− O «standard» de vida alude às aspirações ou esperanças de uma colectividade;
mais concretamente: as condições de vida que essa colectividade aspira a
considerar como adequadas e justas.
− As normas de vida referem-se às condições desejadas de vida que são
definidas para fins particulares, tais como as normas legais em matéria
laboral ou o estabelecimento do salário mínimo”384.

384
J. B. Pena TRAPERO, Problemas de la Medicion del Bienestar y Conceptos Afines. (Una Aplicacion al
Caso Español), Instituto Nacional de Estadística, Madrid, 1977, p.10.

126
No caso presente, interessa considerar o nível de vida. E, como este não é
directamente mensurável, pois resulta de um conjunto de situações objectivas e subjectivas,
além da agregação implícita na passagem do individual ao colectivo, há que elaborar
substitutos das medidas mais directas do nível de vida. Esses substitutos é que constituem
os Indicadores Sociais, “medidas de uma característica observável de um fenómeno social e
que estabelecem o valor de uma característica diferente mas não observável do fenómeno”385.
Nesse âmbito, com tais indicadores (que incluem aspectos tão variados como o nível de
emprego, qualidade habitacional, nível de instrução, qualidade dos transportes, esperança
média de vida, indicadores de morbilidade e mortalidade, de lazer, de carácter ambiental,
etc.), procura-se ultrapassar as limitações da medição do desenvolvimento apenas pelo
Produto Nacional Bruto.
Com refere Paul SAMUELSON,
“(…) os apologistas da economia e do sistema social existentes argumentam com
frequência que a livre iniciativa produziu um crescimento do PNB real nunca antes
observado na história da humanidade. Mas a confiança no PNB abrandou. Os
críticos queixam-se de que o PNB representa o materialismo excessivo de uma
sociedade devotada à produção enorme de bens inúteis. Como disse um crítico:
«Não me falem de todos os vossos números e dólares, do vosso produto nacional.
Para mim, o PNB significa poluição nacional bruta»”386.

Mais adiante, o mesmo autor continua:


“Os economistas tentaram recentemente corrigir os defeitos dos números oficiais
do PNB de modo a reflectirem melhor a verdadeira satisfação gerada pelos
produtos da nossa economia. Uma forma de abordagem tem sido a construção de
uma medida mais significativa do produto nacional designada de bem-estar
económico líquido, ou BEEL”387.

Para o cálculo do BEEL, SAMULSON propõe que ao PNB seja adicionado o «Valor
do Tempo de Lazer» e o «Valor da Economia Subterrânea», a que devem ser deduzidos os
«Prejuízos Ambientais»388. Remetendo, assim, também este consagrado autor, defensor da
«Economia Mista», para a utilização dos Indicadores Sociais. O que, como se viu, tem sido
feito por várias organizações internacionais. Será essa também a perspectiva aqui adoptada:
tentar abordar a problemática do desenvolvimento/subdesenvolvimento, em Moçambique,
pela identificação, definição e interligação de um conjunto de indicadores que permitam
visualizar a situação socioeconómica do país, com a consequente compreensão ex-
plicativa.

1.6.3 - Dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável ao


Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável

Tendo em conta a noção de desenvolvimento anteriormente apresentada – bem-estar


da população em harmonia com a natureza -, surge, naturalmente, a questão de saber que
critérios adoptar para quantificar a sua aplicação.

385
Michael CARLEY, op. cit., p. 2.
386
Paul A. SAMUELSON; William D. NORDHAUS, Economia (Tit. orig. Economics, 1948), 14ª Ed., Trad. de
Elsa Nobre Fontainha e Jorge Pires Gomes, McGraw-Hill, Lisboa, 1996, p. 498.
387
Idem, ibid.
388
Cf. Idem, op. cit., pp. 498-499.

127
É um facto que os modelos, até agora surgidos, de medição do desenvolvimento, não
conseguem abranger todos os aspectos do desenvolvimento assim definido.
O que mais se aproximaria seria um modelo que conjugasse o Índice do
Desenvolvimento Humano, preconizado pelo PNUD, desde 1990 a esta parte, com um Índice
de Desenvolvimento Sustentável, minimamente consensual, ainda inexistente, não obstante
algumas tentativas de construção desse Índice.
De facto, ao longo dos últimos anos, começaram a surgir alguns métodos para tentar
medir a sustentabilidade.
Um dos exemplos de novo método é o Indicador de Progresso Genuíno (GPI),
apresentado pela organização não-governamental Redefining Progress, baseado na
metodologia do Friends of the Earth, que, assente no cálculo do PIB, agrega outros dados
que podem influenciar aquele valor.
No cálculo do GPI entram os cálculos da distribuição da receita, do trabalho
doméstico e voluntário, o nível educacional, o custo do crime, a perda de recursos naturais, a
poluição, a degradação ambiental a longo prazo, a diminuição do tempo de lazer, os gastos
defensivos, o tempo de vida útil dos bens de consumo e da infra-estrutura pública, a
dependência de activos externos389.
Mas outros métodos têm surgido, tais como, por exemplo:
• O modelo Ecological Footprint Method (método da pegada ecológica);
• O modelo Dashboard of Sustainability (painel de sustentabilidade);
• O modelo Barometer of Sustainability (barómetro de sustentabilidade);
• O Índice de Sustentabilidade Ambiental;
• O Índice de Desempenho Ambiental;
• O modelo Pressão-Estado-Resposta, com os Indicadores da O.C.D.E.;
• O modelo Força Motriz-Estado-Resposta, com os Indicadores das
Nações Unidas.

O Ecological Footprint Method («Método da Pegada Ecológica») foi lançado com o


livro Our Ecological Footprint, de M. WACKERNAGEL e W. REES, em 1996390.
Como refere Hans Michael Van BELLEN,
“O Ecological Footprint Method é descrito pelas pessoas que o desenvolveram
como uma ferramenta que transforma o consumo de matéria-prima e a assimilação
de dejetos, de um sistema económico ou população humana, em área
correspondente de terra ou água produtiva. Para qualquer grupo de circunstâncias
específicas, como população, matéria-prima, tecnologia existente e utilizada, é
razoável estimar uma área equivalente de água e/ou terra. Portanto, por definição,
o Ecological Footprint é a área de ecossistema necessária para assegurar a
sobrevivência de uma determinada população ou sistema. O método representa a
apropriação de uma determinada população sobre a capacidade de carga do
sistema total”391.

389
Cf. Luís INDRIUNAS, HowStuffWorks - Como funciona o desenvolvimento sustentável, publicado em 17 de
outubro de 2007 (atualizado em 16 de junho de 2008) http://ambiente.hsw.uol.com.br/desenvolvimento-
sustentavel3.htm. Acedido a 11 de Setembro de 2008.
390
Cf. M. WACKERNAGEL; W. REES, Our Ecological Footprint, BC and Stony Creek, CT, New Society
Publishers,Gabriola Island, 1996.
391
Hans Michael Van BELLEN, “Desenvolvimento Sustentável: Uma Descrição das Principais Ferramentas de
Avaliação”, in Rev. Ambiente & sociedade, Jan.-Jun., Vol. 7, número 001, ANPPAS, Campinas, Brasil, 2004, p.
69.

128
Nesse sentido, o referido método fundamenta-se no conceito de capacidade de carga,
imposta ao meio ambiente pela sociedade, que o sistema pode suportar, segura e
persistentemente.
Em síntese, “este método consiste em definir a área necessária para manter uma
determinada população ou sistema económico indefinidamente, fornecendo:
a) energia e recursos naturais e
b) capacidade de absorver os resíduos ou dejetos do sistema”392.

Quanto ao Dashboard of Sustainability («Painel de Sustentabilidade»), desenvolvido


pelo International Institute for Sustainable Development, as pesquisas sobre este modelo
também remontam à segunda metade dos anos 90, do século passado, com vista a alcançar um
instrumento, internacionalmente aceite, de indicadores de sustentabilidade. Actualmente é
liderado “pelo Consultative Group on Sustainable Development Indicators, CGSDI, um grupo
de trabalho que funciona através de uma rede de instituições que operam na área de
desenvolvimento e utilizam sistemas de indicadores de sustentabilidade”393.
A designação Dashboard resulta da metáfora do painel do automóvel, onde se encontra o
conjunto de instrumentos de controlo, com os mostradores a representarem a
“(…) performance da economia, da saúde social e qualidade ambiental, para o caso
de um país, ou de performance da economia, da responsabilidade social e do
desempenho ambiental, no caso de um empreendimento. Cada um dos mostradores
possui uma seta que aponta para um valor que reflete a performance atual do
sistema. Um gráfico procura refletir as mudanças de desempenho do sistema
avaliado e existe um medidor que mostra a quantidade remanescente de alguns
recursos críticos”394.

A escala de cores, varia entre o vermelho escuro (situação crítica), passando pelo
amarelo (médio), até ao verde-escuro (estado positivo).
“Conceptualmente, o Dashboard of Sustainability é um índice agregado de vários
indicadores dentro de cada um dos mostradores citados anteriormente; a partir do
cálculo destes índices deve-se obter o resultado final de cada mostrador. Uma
função adicional calcula a média destes mostradores para que se possa chegar a um
índice de sustentabilidade global ou Sustainable Development Index, SDI. Se o
objetivo é avaliar o processo decisório, um índice de performance política, Policy
Performance Index, PPI, é calculado”395.

O sistema apresenta-se suficientemente flexível, podendo as dimensões ser


modificadas, tendo em conta as necessidades dos usuários, sem pôr em causa o sistema.
O Dashboard of Sustainability foi concebido numa perspectiva holística, com base
na teoria dos sistemas. Mas ainda apresenta bastantes limitações, nomeadamente por falta de
um consenso quanto aos indicadores a englobar, internacionalmente reconhecidos.
Um outro método que importa analisar é o Barometer of Sustainability (Barómetro
da Sustentabilidade), desenvolvido pelo WCU – The World Conservation Union e o
IDRC - The International Development Research Centre.
A principal vantagem deste método é a sua abordagem holística, procurando integrar
o bem-estar humano com o meio ambiente. Além de permitir uma abordagem comparativa,
presta-se bem a uma repressentação gráfica do desenvolvimento sustentável.
392
Idem, op. cit., p. 70.
393
Idem, op. cit., p. 74.
394
Idem, op. cit., p. 76.
395
Idem, ibid.

129
Como refere Van BELLEN,
“Para calcular ou medir o progresso em direcção à sustentabilidade os valores para
os índices de bem-estar social e da ecosfera são calculados, bem como os dos
subíndices, caso existam. O índice de bem-estar do ecossistema identifica
tendências da função ecológica no tempo. É uma função da água, terra, ar,
biodiversidade e utilização dos recursos. O índice de bem-estar humano representa
o nível geral de bem-estar da sociedade e é uma função do bem-estar individual,
saúde, educação, desemprego, pobreza, rendimentos, crime, bem como negócios e
atividades humanas. Trata-se de um gráfico bidimensional onde os estados do
bem-estar humano e do ecossistema são colocados em escalas relativas, que vão de
0 a 100, indicando uma situação de ruim até boa em relação à sustentabilidade. A
localização do ponto definido por estes dois eixos, dentro do gráfico
bidimensional, fornece uma medida de sustentabilidade ou insustentabilidade do
396
sistema” .

Os três modelos de sustentabilidade anteriormente referidos (o Ecological Footprint,


o Dashboard of Sustainability e o Barometer of Sustainability), apresentam características
gerais semelhantes, procurando medir a sustentabilidade de um sistema, baseado em índices
de diversas variáveis.
Mas há mais, como o modelo de Pressão-Estado-Resposta, desenvolvido pela , para
o estudo dos indicadores ambientais globais397.
Este modelo baseia-se no conceito de causalidade, onde as atividades humanas
exercem pressão sobre o ambiente, alterando o estado dos recursos naturais, a que a
sociedade responde mediante políticas ambientais, económicas ou sectoriais. A partir daí, são
especificados três tipos de indicadores ambientais: indicadores da pressão ambiental;
indicadores das condições ambientais; indicadores das respostas sociais398.
Nesse modelo, as pressões sobre o ambiente são reduzidas às causadas pela acção do
homem, não considerando as provenientes da acção da natureza, e a classificação por temas é
dividida em mudança climática, diminuição da camada de ozono, eutrofização, acidificação,
contaminação tóxica, qualidade ambiental urbana, biodiversidade, paisagens culturais,
resíduos, recursos hídricos, recursos florestais, recursos pesqueiros, degradação do solo e
indicadores gerais, sendo os sectores classificados em transportes, energia e agricultura399.
Por sua vez, as Nações Unidas propõem a classificação dos indicadores segundo o
modelo Força Motriz-Estado-Resposta, como uma proposta de desenvolvimento de
indicadores para a monitorização do desenvolvimento sustentável dos países, na
implementação da Agenda 21. Como resultado, foram identificados vários indicadores, num
relatório de 1995, que têm vindo a ser revistos até à 3ª edição de 2007400.
Na sequência do processo de investigação, até à construção de um Índice de
Desenvolvimento Sustentável, minimamente consensual, cada país tem seguido o seu rumo,
com relativa autonomia.
Por exemplo, no Brasil, a metodologia desenvolvida pelo IGBE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - baseia-se nos critérios das Nações Unidas401.
396
Idem, op. cit., p. 82.
397
Organization for Economic Co-Operation and Development (OECD), Environmental indicators, Paris, 1994.
398
Cf. Waleska Silveira LIRA; Gesinaldo Ataíde CÂNDIDO, “Análise dos Modelos de Indicadores no
Contexto do Desenvolvimento Sustentável”, in Rev. Perspectivas Contemporâneas, Vol.3, N 1, Faculdade
Integrado, Panamá, 2006, 34.
399
Cf. Idem, op. cit., p. 35.
400
Cf. United Nations, Indicators of Sustainable Development: Guidelines and Methodologies, Third Edition, United
Nations, New York, 2007.
401
Cf. Waleska Silveira LIRA; Gesinaldo Ataíde CÂNDIDO, op. cit., pp. 39s.

130
Em Portugal, após a edição de um documento de trabalho, em 1998, elaborado no
âmbito do Ministério do Ambiente, publicou-se, em 2000, a Proposta para um Sistema de
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, com 132 indicadores, dos quais 72 ambientais,
29 económicos, 22 sociais e 9 institucionais402, segundo o modelo Pressão-Estado-Resposta,
da O.C.D.E. Este trabalho foi melhorado, em 2007, com o Sistema de Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável – SIDS-PORTUGAL403, incluindo as categorias
Actividade/Força Motriz, Pressão, Estado, Impacte e Resposta, seleccionados com base em
critérios específicos para este tipo de indicadores, nomeadamente os critérios apresentados
pela Comissão da União Europeia e pela O.C.D.E., entre outros404.
Como se pode ler no referido documento,
“O número de indicadores-base do actual SIDS Portugal é de 118 (…), enquanto os
subdomínios de indicadores-chave e de indicadores-regionalizáveis são de 30 indicadores
(…), seguindo a experiência internacional em que os indicadores-base não devem exceder
os 150 e que os restantes subdomínios se devem situar entre os 10 e 30 indicadores
405
(…)” .

Mas ainda, não se avança para um Índice de Desenvolvimento Sustentável, a partir


da variedade de indicadores referidos. O que, certamente, não deixará de vir a acontecer,
quando se chegar a um maior consenso das entidades nacionais e internacionais sobre o
assunto. Pelo que, desde já, aqui se propõe a futura elaboração de um Índice de
Desenvolvimento Humano Sustentável, correspondente à média aritmética do Índice de
Desenvolvimento Humano com o Índice de Desenvolvimento Sustentável.
No entanto, como uma primeira tentativa de concretização do referido Índice e
utilizando a informação disponível do PNUD e do Dashboard of Sustainability406, procurar-
-se-á, mesmo assim, elaborar esse Índice, como se verá, mais adiante.

402
Cf. Direcção Geral do Ambiente, Proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável,
DGA, Amadora, 2000, p. 1.
403
Agência Portuguesa do AMBIENTE, Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – SIDS-
-PORTUGAL, Amadora, 2007.
404
Cf. Idem, op. cit., p. 14.
405
Idem, ibid.
406
Cf. The UN CDSDashboard, http://esl.jrc.it/dc/dbgal_en.htm. Acedido a 30 de Outubro de 2008.

131
4.3 - PARA A DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO PARA MOÇAMBIQUE

Em 1990, o PNUD  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 


decidiu produzir um relatório anual sobre o desenvolvimento humano. Daí surgiu o primeiro
Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento Humano - 199015, pondo ênfase no Índice do
Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq.
Desde então, como refere Amartya SEN, Prémio Nobel da Economia de 1998,
“(…) o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], que o Relatório de
Desenvolvimento Humano transformou em qualquer coisa como uma nau
capitânia, tem sido bastante bem sucedido na sua utilização como medida
alternativa do desenvolvimento, completando o PNB. Baseado, como está, em três
componentes distintas  indicadores de longevidade, educação e rendimento per
capita  não se centra exclusivamente na riqueza económica (como o PNB).
Dentro dos limites destas componentes, o IDH tem servido para alargar
substancialmente a atenção empírica que a avaliação dos processos de
16
desenvolvimento recebe” .

4.3.1 - O Relatório do PNUD

Nos termos do Relatório do PNUD, a mensagem principal é:


“(…) se o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB) é indispensável para
atingir os objectivos humanos essenciais, o importante é analisar como esse
crescimento se traduz  ou não se traduz  em desenvolvimento humano nas
diferentes sociedades. Certas sociedades atingiram níveis de desenvolvimento
humano elevados apesar de um fraco rendimento por habitante. Outras sociedades,
ainda que alcançando níveis de rendimentos superiores e um crescimento
económico rápido, não chegaram a alcançar níveis de desenvolvimento humano
17
mais elevado. Que políticas explicam tais resultados?” .

E o relatório, continua:
“(…) o que chamamos desenvolvimento humano é o processo que alarga o leque
das possibilidades oferecidas aos indivíduos: viver durante muito tempo e em boa
saúde, ser instruído e dispor de recursos que permitam um nível de vida
conveniente, são exigências fundamentais; a que se deve juntar a liberdade
18
política, os direitos do homem e o respeito por si próprio” .

Nesta perspectiva, o principal objectivo do referido relatório é apresentar o


desenvolvimento humano através de um índice composto “que tenha em conta a esperança de

15
Cf. PNUD, Rapport Mondial sur le Développement Humain 1990, (Tit. Orig. Human Development Report
1990), Economica, Paris, 1990.
16
Amartya SEN, “Avaliar o Desenvolvimento Humano”, in PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano
1999, (Tit. orig. Human Development Report 1999), Trinova Editora, Lisboa, 1999, p. 23.
17
Cf. PNUD, Rapport Mondial sur le Développement Humain 1990, …, p. iii.
18
Idem, op. cit., p. 1.

410
vida, o nível de alfabetização e dos recursos que permitem gozar de condições de vida
decentes”19.
No que respeita à esperança média de vida à nascença, o interesse deste critério está
no facto de, além de expressar a longevidade média de uma coorte, reflecte outros aspectos,
tais como uma correcta alimentação e uma boa saúde. O que faz da esperança média de vida
um importante indicador do desenvolvimento humano.
Por outro lado, a alfabetização é o reflexo do acesso ao ensino, cada vez mais
indispensável na sociedade dos nossos dias. Pelo que, na falta de informação mais detalhada
sobre a instrução, a alfabetização é um elemento importante a ter em conta no
desenvolvimento humano de base.
A terceira componente preconizada para a elaboração do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH)  acesso aos recursos necessários às convenientes condições de vida  é o
que apresenta maior dificuldade de medição. Por isso se recorre a um outro indicador, o PIB
per capita, em $US, ajustado em função do poder de compra, não obstante todas as
limitações deste critério20.

4.3.2 - O cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano

As referidas variáveis são, finalmente, relacionadas numa fórmula matemática do


IDH21:
( IDH ) j = (1 − I j )
onde:
(max X ij − X ij )
Iij =
(max X ij − min X ij )
e
3
∑ Iij
i =1
Ij =
3
Aplicando a fórmula ao caso de Moçambique, para o ano de 1987, com os dados do
Relatório do PNUD/90, ter-se-ia22:

19
Idem, ibid.
20
Cf. Idem, op. cit., pp. 12-13.
21
Cf. Idem, op. cit., p. 120.
22
Cf. Idem, op. cit., pp. 120, 140.

411
- Esperança máxima de vida
à nascença = 78.4
- Esperança mínima de vida
à nascença = 41.8
- Esperança média de vida
em Moçambique (1987) = 47.0
- Taxa máxima de alfabetização
dos adultos = 100.0
- Taxa mínima de alfabetização
dos adultos = 12.3
- Taxa de alfabetização
dos adultos
em Moçambique (1985) = 39.0
- PIB real máximo
por habitante (log) = 3.68
- PIB real mínimo
por habitante (log) = 2.3
- PIB ajustado por habitante
em Moçambique -1987-(log) = 2.70

Nestas condições, resulta para Moçambique:


- Falta em matéria de Eo
= (78.4 – 47.0) / (78.4 – 41.8) = 0.858 (X1)
- Falta em matéria de alfabetização
= (100.0 - 39.0) / (100.0 - 12.3) = 0.696 (X2)
- Falta em matéria de PIB
= (3.68 - 2.70) / (3.68 - 2.30) = 0.71 (X3)
- Falta média
= (0.858 + 0.696 + 0.71) / 3 = 0.755 (Ij)

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)j


= (1 - 0.755) = 0.245

O que situa Moçambique, para o ano de 1987, no conjunto dos países, como o 13º
país mais subdesenvolvido do mundo. Nessa escala, o Japão aparece como o país mais
desenvolvido, com um IDH = 0.996, e o Níger surge como o mais subdesenvolvido, com um
IDH = 0.11623.
Tomando por critério o PNB per capita, o Relatório do Banco Mundial de 1990,
colocava Moçambique em último lugar, com base nos dados de 198824.

23
Cf. Idem, op. cit., pp. 140-141.
24
Cf. World BANK, World Development Report 1990, World Bank, Washington, 1990, pp. 178-179.

412
4.3.3 - Aperfeiçoamento do IDH de base

Foi grande o interesse suscitado pelo Índice de Desenvolvimento Humano apresentado


pelo PNUD, dos políticos aos agentes económicos, dos académicos aos órgãos de
comunicação e público em geral. Daí que a fórmula do IDH tenha vindo a ser melhorada,
desde então a esta parte.
O cálculo do IDH começou, como se viu, em 1990, por relacionar as três
componentes: longevidade, instrução e rendimento.
Mas, logo no relatório do PNUD de 1991, a componente instrução é desagregada em
alfabetização, com uma ponderação de 2/3, e média de anos de estudo, com o peso de 1/3.
Também a variável rendimento passa a ser considerada tendo em conta que o
rendimento contribui para o desenvolvimento humano de forma decrescente a partir de
determinado limiar25.
Por outro lado, como o índice global de um país não evidencia suficientemente as
diferenças, começaram também a ser calculados índices de desenvolvimento específicos para:
homens e mulheres, diferentes grupos étnicos, regiões ou classes sociais. Por isso, o Relatório
do PNUD para 1993 já apresenta o IDH para diferentes grupos da população em cinco países.
E o Relatório de 1994 inclui mais nove países26.
De acordo com os novos critérios de cálculo do IDH, o Relatório do PNUD para 1994
dava os seguintes valores retrospectivos para Moçambique, que, para efeitos de comparação,
se apresentam juntamente com os países que, respectivamente, ocupavam o topo e o fim da
escala.

QUADRO Nº 181
Valores do IDH
1960-1992

Anos
1960 1970 1980 1992
País IDH
Canadá 0.865 0.887 0.911 0.932
Moçambique 0.169 0.248 0.247 0.252
Guiné 0.083 0.111 0.148 0.191
Fonte: Cf. PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 1994, ..., p. 105.

Tendo em conta o referido critério, Moçambique ocupava, em 1992, o 12º lugar antes
do fim da escala, entre os 173 países referenciados de todo o mundo.
Prosseguindo com a tarefa de aperfeiçoar o IDH, o relatório do PNUD de 1995
introduz duas alterações na construção do IDH. Assim, a variável média de anos de
escolaridade foi substituída pelas taxas de escolaridade conjuntas do primário, secundário e

25
Cf. PNUD, Rapport Mondial sur le Développement Humain 1991, Economica, Paris, 1991, pp. 100-104;
Rapport Mondial sur le Développement Humain 1993, Economica, Paris, 1993, pp. 110-114.
26
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 1994, (Tit. Orig. Human Development Report 1994),
Tricontinental Editora, Lisboa, 1994, p. 90.

413
superior, ao mesmo tempo que o valor mínimo de rendimento passou a ser considerado 100
dólares ponderados per capita27.
Nestas condições, Moçambique aparece, para 1992, em 167º lugar (oitavo antes do
fim), numa lista de 174 países de todo o mundo, em que o Níger ocupa o último lugar e o
Canadá continua com a primeira posição, na escala do Índice de Desenvolvimento Humano28.
Situação essa que se mantém em 199329. Já para 1994, Moçambique passa a ocupar a 166ª
posição, ficando a Serra Leoa, em último, numa lista de 175 países, continuando o Canadá em
primeiro lugar30. Posição que se mantém idêntica em 1995, com os 174 países considerados31.
Na busca de um aperfeiçoamento da metodologia para o cálculo do IDH, em 1999, o
PNUD elaborou novos critérios para a sua determinação32.
Segundo o PNUD, o IDH baseia-se nos indicadores de longevidade, medida pela
esperança média de vida à nascença, nível educacional, medido por uma combinação da
alfabetização adulta (ponderação de 2/3) com a taxa de escolarização combinada do primário,
secundário e superior (ponderação de 1/3) e nível de vida, medido pelo PIB real per capita em
$US.
Para a construção do índice foram estabelecidos valores mínimos e máximos fixos
para cada um dos seguintes indicadores:
• Esperança média de vida à nascença: 25 e 85 anos;
• Alfabetização adulta: 0% e 100%;
• Taxa de escolaridade bruta combinada: 0% e 100%;
• PIB real per capita em $US: 100 e 40000.

Para qualquer componente do IDH podem ser calculados índices individuais de acordo
com a seguinte fórmula geral:

Valor x i actual − valor x i mínimo


Índice =
Valor x i máximo − valor x i mínimo

Mas foi no tratamento do rendimento que se deram, na nova fórmula de cálculo


introduzida no Relatório de 1999, as maiores modificações. Considerando que a fórmula
anterior descontava o rendimento de forma muito drástica, penalizando os países em que o
rendimento excedia o valor limiar, a nova fórmula tentou rectificar esse problema, utilizando
uma base analítica mais sólida para a metodologia, de acordo com os estudos de ANE e
SEN33, assumindo a seguinte expressão:

27
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 1995, (Tit. Orig. Human Development Report 1995),
Tricontinental Editora, Lisboa, 1995, p. 134.
28
Cf. Idem, op. cit., pp. 155-157.
29
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 1996, (Tit. Orig. Human Development Report 1996),
Tricontinental Editora, Lisboa, 1996, pp. 135--137.
30
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 1997, (Tit. Orig. Human Development Report 1997),
Trinova Editora, Lisboa, 1997, pp. 146-148.
31
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 1998, (Tit. Orig. Human Development Report 1998),
Trinova Editora, Lisboa, 1997, pp. 128-130.
32
A metodologia a seguir apresentada é retirada de PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 1999, (Tit.
orig. Human Development Report 1999), Trinova Editora, Lisboa, 1999, pp. 159-160.
33
Cf. Sudhir ANE; Amartya SEN, “The Income Component in the HDI – Alternative Formulations”, Occasional
Paper, Human Development Report Office, United Nations Development Programme, New York, 1999.

414
log y − log y min
W(y) =
log y max − log y min

Esta fórmula apresenta como vantagens: não descontar o rendimento tão


intensamente como a fórmula antes usada; desconta todo o rendimento e não apenas o
rendimento acima de um certo nível; a assimptota começa muito cedo, pelo que os países de
rendimento médio não são indevidamente penalizados; além disso, como o rendimento cresce
mais nesses países, o seu rendimento crescente continuará a ser reconhecido como um meio
potencial para maior desenvolvimento humano.
Ilustrando com o caso de Moçambique, em 1997, onde34:
• Esperança média de vida à nascença (anos) 45.2
• Taxa de alfabetização de adultos (%) 40.5
• Taxa de escolaridade bruta combinada (%) 25.0
• PIB real per capita ($US) 740

o cálculo do IDH seria:


1. Índice da esperança de vida:
45.2 − 25 20.2
Índice da esperança de vida = = = 0.337
85 − 25 60
2. Índice da alfabetização de adultos:
40.5 − 0 40.5
Índice da alfabetização de adultos = = = 0.405
100 − 0 100
3. Índice de escolaridade bruta combinada:
25 − 0 25
Índice da escolaridade bruta combinada = = = 0.25
100 − 0 100
4. Índice do nível educacional:
Índice de nível educacional = [2(0.405) + 1(0.25)]/3 = 0.353

5. Índice do PIB real ajustado per capita ($US):


log (740) − log (100)
Índice do PIB real ajustado " per capita" = = 0.334
log (40000) − log (100)

Como o IDH é uma média simples do índice da esperança de vida, do índice do nível
educacional e do índice do PIB real ajustado per capita, pode-se agora calcular, dividindo a
soma dos três índices por 3:

Índice do Desenvolvimento Humano = (0.337 + 0.353 + 0.334) / 3 = 0.341

O IDH para Moçambique, em 1997, é, pois, igual a 0.341, tal como vem referido na
página 137 do Relatório do Desenvolvimento Humano 1999.

34
Cf. PNUD, op. cit., p. 137.

415
Tendo em conta os novos critérios introduzidos no cálculo do IDH, no mencionado
Relatório de 1999, Moçambique decaiu para a 169ª posição em 1997, continuando o Canadá e
a Serra Leoa a ocupar, respectivamente, a primeira e última posição entre os mesmos 174
países35.
Embora, em rigor, os valores do IDH no Relatório de 1999, não sejam comparáveis
com os dos anos passados, devido às mudanças introduzidas no tratamento do rendimento no
IDH e também à profunda revisão efectuada nas séries de dados de alguns indicadores,
nomeadamente nos dados do rendimento provenientes do Banco Mundial36, mesmo assim,
como se pode constatar, a posição de Moçambique tem-se mantido, segundo os Relatórios do
PNUD, sensivelmente idêntica de ano para ano.
Mas pode haver alterações no curto e médio prazos, pois, têm-se vindo a notar
melhorias na Escolarização e no PIB. Importará também inverter a tendência para a baixa
esperança média de vida à nascença, outro dos indicadores que entra na composição do Índice
do Desenvolvimento Humano, que foi especialmente afectado pelo incidência do VIH/SIDA.
De facto, essa tendência é já assinalada no Relatório do Desenvolvimento Humano
20002, onde Moçambique, para o ano de 2000, aparece no 170º lugar, com uma esperança
média de vida à nascença de 39.3 anos, no conjunto de 173 países37.

4.3.4 - Para uma análise mais aprofundada do IDH

Para a análise a desenvolver, toma-se como base o já referido Relatório do PNUD de


2002, que se reporta ao ano de 2000, na viragem do século. Esse Relatório também apresenta
valores retrospectivos para Moçambique, a que, para efeitos de comparação, se junta os países
que, respectivamente, ocupavam o topo e o fim da escala.

35
Cf. Idem, op. cit., pp. 134-137.
36
Cf. Idem, op. cit., p. 160.
37
Cf. Idem, Relatório do Desenvolvimento Humano 2002, Edição em Língua Portuguesa, Mensagem, Queluz,
s/d, p. 152.

416
QUADRO Nº 182
VALORES DO IDH
1975-2000

Anos
País 1975 1980 1985 1990 1995 2000
IDH
Noruega 0.859 0.887 0.888 0.901 0.925 0.942
Moçambique --- 0.302 0.290 0.310 0.313 0.322
Serra Leoa --- --- --- --- --- 0.275
Fonte: Adaptado de PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2002, Edição em Língua
Portuguesa, Mensagem, Queluz, s/d.

GRÁFICO Nº 59

TENDÊNCIA DO IDH

0,9

0,8

0,7

0,6
VALORES

Noruega
0,5
Moçambique

0,4

0,3

0,2

0,1

0
1975 1980 1985 1990 1995 2000

ANOS

Fonte: QUADRO anterior.

Para o ano de 2000, o IDH dos 173 países considerados apresenta os seguintes
parâmetros estatísticos:
- Valor mínimo: 0.275
- Valor máximo: 0.942
- Média aritmética: 0.693
- Desvio Padrão: 0.177

417
Uma análise mais pormenorizada, pode ser feita.
QUADRO Nº 183
ALGUNS PARÂMETROS DO IDH

ESTATÍS-
IDH PARÂMETROS
TICAS
Média 0.693

TODOS 95% Intervalo de Limite inferior 0.666


OS Confiança da Média Limite superior 0.719
PAÍSES Desvio Padrão 0.177
Mediana 0.741

Fonte: Resultados dos cálculos sobre os valores do IDH.


Moçambique, com um IDH de 0.322 está nitidamente afastado da média,
ligeiramente abaixo da metade do limite inferior, calculado a 95% do Intervalo de Confiança
da Média.
Se forem considerados os 3 níveis de desenvolvimento adoptados pelo PNUD
(elevado: 0.942 a 0.800; médio: 0.796 a 0.511; baixo: 0.499 a 0.275), Moçambique
encontra-se neste último grupo. E, mesmo assim, até muito abaixo do limite inferior do
Intervalo de Confiança da respectiva Média.
QUADRO Nº 184
ALGUNS PARÂMETROS DO IDH
POR NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO

ESTATÍS-
IDH PARÂMETROS
TICAS
Média 0.878
Limite inferior 0.864
95% Intervalo de
ELEVADO Confiança da Média Limite superior 0.892
Desvio Padrão 0.050
Mediana 0.883
Média 0.695
Limite inferior 0.677
95% Intervalo de
MÉDIO Confiança da Média Limite superior 0.713
Desvio Padrão 0.083
Mediana 0.727
Média 0.416
Limite inferior 0.395
95% Intervalo de
BAIXO Confiança da Média Limite superior 0.438
Desvio Padrão 0.063
Mediana 0.430
Fonte: Resultados dos cálculos sobre os valores do IDH.

418
Considerando os limites de confiança das médias dos IDH, distribuídos pelos três
níveis, já é de pressupor que há uma diferença significativa entre eles. O que é confirmado
pelo teste da Análise da Variância, com Sig. = 0.000, como se pode ver:

QUADRO Nº 185
ANÁLISE DA VARIÂNCIA
(ANOVA)

Soma dos Quadrado


IDH Quadrados gl das Médias F Sig.
Entre Grupos 4.566 2 2.283 460.761 0.000
Dentro dos
0.842 170 0.005
Grupos
Total 5.408 172
Fonte: Resultados dos cálculos sobre os valores do IDH.

Assim como há uma diferença significativa entre o número de países distribuídos


pelos três níveis referidos, a avaliar pelos resultados da aplicação do teste do Qui-Quadrado:

QUADRO Nº 186
TIPO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
Nº Nº
Tipo Observado Esperado Residual
Baixo 36 57.7 -21.7
Médio 84 57.7 26.3
Elevado 53 57.7 -4.7
Total 173

Fonte: Resultados dos cálculos sobre os valores do IDH.

QUADRO Nº 187
TESTE DO QUI-QUADRADO

Parâmetros Valor
Qui-Quadrado de Pearson 20.543
Gl 2
Asimp. Sig. (bilateral) 0.000
Fonte: Resultados dos cálculos sobre os valores do IDH.

419
4.3.5 - Proposta de um Índice de Desenvolvimento Humano
Ponderado Sustentável

Como se viu, o próprio PNUD tem vindo a melhorar os critérios de elaboração do


IDH, avançando mesmo com a apresentação de outros Índices, como o IDG (Índice de
Desenvolvimento Ajustado ao Género), a MPG (Medida de Participação Segundo o Género),
e o IPH (Índice de Pobreza Humana).
Segundo o PNUD,
“Enquanto o IDH mede a realização média, o IDG ajusta a realização média para
reflectir as desigualdades entre homens e mulheres nas seguintes dimensões:
• Uma vida longa e saudável, medida pela esperança de vida à nascença.
• Conhecimento, medido pela taxa de alfabetização de adultos e a taxa de
escolarização bruta, combinada do primário, secundário e superior.
• Um nível de vida digno, medido pelo rendimento auferido estimado (dólares
PPC)”38.

Por sua vez,


“A MPG, centrada mais nas oportunidades das mulheres do que nas suas
capacidades, capta a desigualdade entre os sexos com três áreas fundamentais:
• Participação política e poder de tomada de decisão, medidas pelas parcelas
percentuais de mulheres e homens dos assentos parlamentares.
• Participação económica e poder de tomada de decisão, medidos por dois
indicadores – as parcelas percentuais de mulheres e homens nas funções de
legislador, funcionário superior e gestor e as parcelas percentuais de mulheres
e homens nas funções especializadas e técnicas.
• Poder sobre os recursos económicos, medido pelo rendimento auferido
39
estimado de mulheres e homens (dólares PPC)” .

No caso do IPH (Índice de Pobreza Humana), o PNUD distingue entre os países em


desenvolvimento (IPH-1) e os países seleccionados da OCDE (IPH-2).
O IPH-1
“mede privações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano captadas
no IDH:
• Uma vida longa e saudável – vulnerabilidade à morte numa idade relativamente
prematura, medida pela probabilidade à nascença de não viver até aos 40
anos.
• Conhecimento – exclusão do mundo da leitura e das comunicações, medida
pela taxa da analfabetismo de adultos.
• Um nível de vida digno – falta de acesso ao aprovisionamento económico
global, medida pela percentagem da população que não utiliza fontes de água

38
Idem, op. cit., p. 255. Aí se refere também a fórmula de cálculo, cuja reprodução, aqui, se dispensa.
39
Idem, op. cit., p. 257. Também aqui se refere a fórmula de cálculo.

420
melhorada e a percentagem de crianças menores de cinco anos com peso
40
deficiente” .

“O IPH-2 mede privações nas mesmas dimensões que o IPH-1 e também
capta a exclusão social. Reflecte, assim, privações em quatro dimensões:
• Uma vida longa e saudável – vulnerabilidade à morte numa idade
relativamente prematura, medida pela probabilidade à nascença de não
viver até aos 60 anos.
• Conhecimento – exclusão do mundo da leitura e das comunicações,
medida pela percentagem de adultos (idades entre 16-65 anos) que são
funcionalmente analfabetos.
• Um nível de vida digno – medido pela percentagem de pessoas que
vivem abaixo da linha de privação de rendimento (50% da mediana do
rendimento familiar disponível.
• Exclusão social – medida pela taxa de desemprego de longo prazo (12
meses ou mais)”41.

A partir de três dos Índices referidos (IDH, IDG, MPG), deixando de parte o IPH, por
não apresentar um critério uniforme para todos os países, propõe-se a elaboração de um
Índice de Desenvolvimento Humano Ponderado (IDH_P), que poderá vir a ser melhorado.
Mas que, numa primeira versão, resultou de uma ponderação dos três Índices referidos.
Assim, para cada país, calculou-se:
IDH_P = 0.40xIDH + 0.30xIDG + 0.30xMPG
Nos casos em que não havia dados de IDG nem de MPG, considerou-se:
IDH_P = IDH
Nas situações em que faltavam dados de IDG, definiu-se:
IDH_P = 0.60xIDH + 0.40xMPG
Quando faltavam dados de MPG, fez-se:
IDH_P = 0.60xIDH + 0.40xIDG
Os resultados estão reproduzidos em APÊNDICE.

Dos Índices referidos e demais Indicadores considerados na sua elaboração, achou-se


oportuno calcular a correlação existente entre eles. Do que resultou o seguinte QUADRO de
Correlações:
40
Idem, op. cit., p. 254. A fórmula de cálculo também é apresentada.
41
Idem, ibid. Também se reproduz, aí, a respectiva fórmula de cálculo.

421
QUADRO Nº 188
MATRIZ DE CORRELAÇÕES

422
QUADRO Nº 188 (cont.)
MATRIZ DE CORRELAÇÕES

423
A correlação é uma medida de associação que procura quantificar a intensidade e a
direcção da associação entre variáveis. As correlações podem ser univariadas ou
multivariadas, conforme se reportam a duas ou mais variáveis. E, em função da escala de
medida das variáveis consideradas, existem vários tipos de coeficientes de correlação, de que
os mais usados são o coeficiente de correlação de Pearson, o coeficiente de correlação de
Spearman, o coeficiente V de Cramer, e o Phi (φ)42.
Como, no caso em análise, se trata de variáveis contínuas, com distribição normal
bivariada, achou-se por bem calcular o coeficiente de correlação de Bravais-Pearson,
conforme consta do QUADRO Nº 187.
Da análise dos resultados anteriores, constata-se que existe, ao nível de 1.00%,
correlações significativas, que vão de 0.534 (correlação moderada), entre TAXA DE
ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS e PRODUTO INTERNO BRUTO/CAPITA, a 0.999
(correlação muito alta) entre ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO_2000 e
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO AJUSTADO AO GÉNERO.
Não é de estranhar que haja correlação entre as variáveis consideradas, na medida em que os
Índices foram calculados a partir de Indicadores que entram na referida análise.
No texto original, a partir das variáveis em causa, aproveitou-se para fazer a Análise
Fatorial, que aqui se dispensa.
O QUADRO seguinte apresenta os valores do Índice de Desenvolvimento Humano
Ponderado (IDH_P) para Moçambique, em 2000, e para os países que ocupavam,
respetivamente, o topo e o fim da tabela:

QUADRO Nº 189
VALORES DO IDH_P
2000

Ano
Posição País 2000
IDH_P
1º França 0.927
170º Moçambique 0.316
173º Níger 0.271
Fonte: Resultados dos cálculos efectuados.

Neste caso, há uma ligeira alteração relativamente ao IDH, com a França a ocupar o
primeiro lugar e o Níger o último, mas Moçambique mantém-se no mesmo 170º lugar, o 4º
antes do fim.
Numa tentativa de construir um Índice de Desenvolvimento Humano Ponderado
Sustentável, o QUADRO seguinte dá conta de alguns dos valores do Índice de
Desenvolvimento Sustentável (IDS), segundo os dados do Dashboard of Sustainability43,
divididos por 1000, para reduzir à mesma escala do IDH_P.

42
Cf. João MAROCO, Análise Estatística - Com Utilização do SPSS, Edições Sílabo, Lisboa 2003, p. 32.
43
Cf. The UN CDSDashboard, http://esl.jrc.it/dc/dbgal_en.htm. Acedido a 30 de Outubro de 2008.
QUADRO Nº 190
VALORES DO IDS
2000

Ano
Posição País 2000
IDS/1000
1º Dinamarca 0.763
138º Moçambique 0.466
163º Serra Leoa 0.360
Fonte: The UN CDSDashboard, http://esl.jrc.it/dc/dbgal_en.htm.
Acedido a 30 de Outubro de2008.
Dados trabalhados em SPSS.

Fazendo a média aritmética dos valores do IDH_P com os do IDS, obtém-se o Índice

de Desenvolvimento Humano Ponderado Sustentável (IDH_PS), para os países em apreço,

como consta do QUADRO que segue.

QUADRO Nº 191
VALORES DO IDH_PS
2000
Ano
Posição País 2000
IDH_PS
1º Luxemburgo 0.832
157º Moçambique 0.391
163º Serra Leoa 0.318
Fonte: Cf. Idem, ibid.

A listagem completa dos Índices e Indicadores, referentes ao ano de 2000, encontra-


-se em Apêndice XII.

O QUADRO seguinte apresenta a correlação de Bravais-Pearson entre os diversos


Índices.

425
QUADRO Nº 192
MATRIZ DE CORRELAÇÕES DE ÍNDICES
2000

Índice de Índice de Índice de Índice de


Desenvolvi- Desenvol- Desenvol- Desenvolvi-
Correlações de Pearson mento Humano vimento vimento mento Humano
Ponderado Sustentável Humano
Sustentável Ponderado

Índice de Coeficiente de
1 .888(**) .968(**) .962(**)
Desenvolvimento Correlação
Humano Ponderado Sig. (bilateral) .000 .000 .000
Sustentável
N
163 163 163 163
Índice de Coeficiente de
.888(**) 1 .745(**) .774(**)
Desenvolvimento Correlação
Sustentável Sig. (bilateral) .000 .000 .000
N 163 163 163 163
Índice de Coeficiente de
.968(**) .745(**) 1 .974(**)
Desenvolvimento Correlação
Humano Ponderado Sig. (bilateral) .000 .000 .000
N
163 163 173 173
Índice de Coeficiente de
.962(**) .774(**) .974(**) 1
Desenvolvimento Correlação
Humano Sig. (bilateral) .000 .000 .000
N 163 163 173 173
** A correlação é significativa ao nível de 0.01 (bilateral).
Fonte: Resultados dos cálculos efectuados.

Da análise dos resultados do QUADRO anterior, verifica-se que há, ao nível de


1,00%, correlações significativas, que vão de 0.745 (correlação alta), entre ÍNDICE DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL e ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
PONDERADO, a 0.974 (correlação muito alta) entre ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO PONDERADO e ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO.
Ainda no que respeita a Moçambique, se é verdade que este país ocupa posições
muito baixas nas tabelas, em todos os índices referidos, não deixa de ser importante salientar
que, em termos de tendência, passa a ocupar posições bastante elevadas, nomeadamente no

426
que se refere ao Índice de Desenvolvimento Sustentável e Índice de Desenvolvimento dos
Objectivos do Milénio.

QUADRO Nº 193
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
TENDÊNCIA 1990-2000

Âmbito Posição de
Índice
Moçambique

Entre 152 Países do Mundo 15º 0.506


Entre 46 Países de África 3º 0.541
Entre 107 Países em Vias de
Desenvolvimento 8º 0.511
Entre 34 Países Menos
Desenvolvidos 3º 0.578
Fonte: Cf. The UN CDSDashboard, http://esl.jrc.it/dc/dbgal_en.htm.
Acedido a 30 de Outubro de 2008. Dados trabalhados em SPSS.

QUADRO Nº 194
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
DOS OBJECTIVOS DO MILÉNIO
TENDÊNCIA 1990-2006

Âmbito Posição de
Índice
Moçambique

Entre 206 Países do Mundo 14º 0,544


Entre 53 Países de África 2º 0,598
Entre 150 Países em Vias de
Desenvolvimento 12º 0,551
Entre 49 Países Menos
Desenvolvidos 12º 0,529
Fonte: Idem, ibid.

As tendências referidas parecem confirmar a consolidação do processo de


desenvolvimento em curso.

427
De tal modo que, nas hipóteses de:
• A esperança média de vida à nascença retomar o ritmo de crescimento,
de forma a atingir os 50 anos, como era espectável, em 2010, se não se
tivessem verificado os efeitos do VIH/SIDA, que reduziu essa E0 para
39.3 anos, em 2000;
• A taxa de alfabetização de adultos atingir os 60.0%, ao contrário do que
aconteceu em 2000, com 44.0%;
• A taxa de escolaridade bruta conjunta dos 1.º, 2.º e 3.º níveis chegar aos
70.0%, diferente dos 23.0%, de 1999;
• O «PIB per capita» atingir os 1500 US$, diferente dos 854 US$ de 2000;
Moçambique alcançaria o valor de 0.501 de Índice de Desenvolvimento Humano, deixando,
assim, de figurar no grupo dos países de Desenvolvimento Humano Baixo, para passar ao dos
países com Desenvolvimento Humano Médio.
Este objectivo afigura-se perfeitamente alcançável até 2015, meta estabelecida pelas
Nações Unidas para cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, tendo em
conta os indicadores do processo de desenvolvimento em curso, em Moçambique44.

44
Cf. PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2007/2008, Edição em Língua Portuguesa, Ed. Almedina,
Coimbra, 2007, p. 234.

428
CONCLUSÃO

Constituiu propósito fundamental desta tese analisar a população e o desenvolvimento


em Moçambique. Até porque, como se referiu, a população tem andado bastante arredada das
análises políticas, económicas, sociológicas, remetendo-se, a maior parte das vezes, para o
campo restrito da Demografia, entendida esta, ainda, geralmente, como uma mera estatística
da população, não raro na sua versão mais radical, «para os países civilizados», à maneira de
Achille GUILLARD, em 1855.
Pelo que esta tese se situa, deliberadamente, numa linha de «ruptura epistemológica»,
no dizer de Gaston BACHELARD1, o mesmo é dizer de «mudança de paradigma», segundo
Thomas KUHN 2. O que não foi fácil de fazer vingar no meio científico e académico.
De facto, como já se salientou, os estudos da população e do desenvolvimento
andaram totalmente de costas voltadas, até há cerca de trinta anos. Salvo raras e relevantes
excepções pioneiras, foi só a partir da Conferência de Bucareste, de 1974, organizada pelas
Nações Unidas, que a integração da população com o desenvolvimento se veio a incrementar.
Desde então, as próprias Nações Unidas já organizaram, sobre a temática da população e
desenvolvimento, a Conferência do México, em 1984, que reviu o programa de acção sobre a
população delineado em Bucareste; a Conferência do Cairo, que adoptou um novo programa
de acção para 1995-2015, que substituiu o plano de 1974. Mas está-se ainda longe de um
consenso teórico e ideológico sobre a relação da população com o desenvolvimento. Basta
atentar nas diversas teorias, por vezes bem contraditórias, sobre essa matéria, de MALTHUS a
BÖSERUP (1910-1999)3, passando pela posição dos Países do Sul na Conferência de
Bucareste e tantas outras. O seguinte esquema tenta sintetizar esta problemática:

1
Cf. Gaston BACHELARD, O Novo Espírito Científico (Tit. orig. Le Nouveau Esprit
Scientifique, 1934), Edições 70, Lisboa, 1996.
2
Cf. Thomas KUHN, A estrutura das Revoluções Científicas (Tit. orig. The Structure of
Scientific Revolutions, 1962), 7.ª Ed., Perspectiva, São Paulo, 2003.
3
Cf. E. BÖSERUP, Évolution agraire et pression démographique (1965), Trad. francesa,
Flammarion, Paris, 1970. Cf. Idem, Population and Technology, Basil Blackwell, Oxford,
1981.
Cf. Idem, Population and Technology, Basil Blackwell, Oxford, 1981.

429
Malthus
_
+ _
Crescimento Desenvolvimento
demográfico socioeconómico

Böserup

+ +
Crescimento Desenvolvimento
demográfico socioeconómico

Países do Sul - Bucareste

- +
Crescimento Desenvolvimento
demográfico socioeconómico

Outras
? ?
Crescimento Desenvolvimento
? ?
demográfico socioeconómico

Fonte: Adaptado de Christophe VANDESCHRICK, Du passé au future – Initiation aux logiciels de


perspectives démographiques, 2e Ed., Col. Population et Développement, nº 3, Academia -
Bruylant/L’Harmattan, Louvain-la-Neuve/Paris, 1998, p. 30.

De facto, para os malthusianos (nas suas diversas tendências), o crescimento


demográfico, nomeadamente com as altas taxas de fecundidade, constitui um entrave ao
crescimento socioeconómico. Mas, para outros, o crescimento demográfico levaria ao
progresso tecnológico e, em última análise, ao crescimento socioeconómico4, ou, como os
Países do Sul defenderam na Conferência de Bucareste, o desenvolvimento socioeconómico
provocaria a baixa da fecundidade e a consequente diminuição do crescimento demográfico.
Por outro lado, também há quem defenda que o progresso socioeconómico leva a um
aumento demográfico por um abaixamento da mortalidade. Em síntese, cada uma destas teses
“postula uma relação causal entre o demográfico e o socioeconómico”5.
Se, acerca da população (conjunto de seres humanos que vivem ou viveram num
espaço, num determinado período), já existe um entendimento consensual, depois de um
longo caminho6, o mesmo não acontece com o desenvolvimento.
Daí, uma profunda e detalhada análise que aqui foi feita, depois da breve reflexão
epistemológica justificativa do enquadramento desta problemática no âmbito da Ciência

4
Cf. Idem, ibid.
Cf. F. BÉZY, Demographie et sous-développement. Propositions anti-malthusiennes,
Louvain, 1974.
Cf. J. SIMON, Theory of population and economic growth, Basil Blackwell, Oxford, 1986.
5
Christophe VANDESCHRICK, Du passé au future – Initiation aux logiciels de perspectives
démographiques, 2e Ed., Col. Population et Développement, nº 3, Academia-
Bruylant/L’Harmattan, Louvain-la-Neuve/Paris, 1998, p. 30.
6
Cf. Hervé le BRAS, (org.), L’Invention des populations – Biologie, idéologie et politique,
Ed. Odile Jacob, Paris, 2000.

430
Política, sobre o desenvolvimento, nos aspectos históricos, económicos, culturais, ecológicos,
para culminar com uma definição: bem-estar da população, em harmonia com a natureza.
Mas como medir ou quantificar o desenvolvimento assim definido?
A partir dos instrumentos de análise social, essa medida e quantificação tornou-se
possível pelo cálculo e utilização de indicadores e índices apropriados.
Para isso, procurou-se fazer uma caracterização de Moçambique, através de vários
indicadores socioeconómicos, nomeadamente nos aspectos geográficos, políticos,
económicos, financeiros, sanitários, demográficos, escolares, laborais, nutricionais.
O que permitiu a elaboração de dois cenários:
• Um cenário de catástrofe, com base nas tendências da década de 80, do
século passado, em que os indicadores apontavam para que a situação
socioeconómica continuaria a degradar-se e a população a aumentar;
• Um ciclo de recuperação, a partir das tendências socioeconómicas e
demográficas, da década de 1990, nomeadamente depois do fim da
guerra civil, em Outubro de 1992.

Como medida do desenvolvimento, nos termos da definição anteriormente referida,


começou-se por lançar mão do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, preconizado
pelo PNUD, de 1990 a esta parte.
Esse índice foi, depois, aperfeiçoado com a proposta do IDH_P - Índice de
Desenvolvimento Humano Ponderado, pela agregação, ao índice original, do IDG – Índice
de Desenvolvimento Ajustado ao Género e da MPG – Medida de Participação segundo o
Género.
O processo veio a culminar com o cálculo do IDH_PS - Índice de Desenvolvimento
Humano Ponderado Sustentável de Moçambique, no conjunto dos demais países, a nível
mundial.
Se os diversos índices calculados remetem Moçambique para os últimos lugares da
tabela, a nível africano, mundial, dos países em desenvolvimento ou dos países menos
desenvolvidos, não se pode deixar de salientar que, nomeadamente, no que se refere ao
Desenvolvimento Sustentável e aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em termos
de tendência, de 1990 até à viragem do século, com repercussões até aos dias de hoje, as
posições de Moçambique aparecem já bastante elevadas, nos respectivos rankings.
Por outro lado, se houver um aumento da esperança média de vida à nascença, uma
melhoria das taxas de alfabetização e um crescimento do «PIB per capita», para valores que se
afiguram alcançáveis, Moçambique poderá ultrapassar, até 2015, a fasquia dos países em
Desenvolvimento Humano Baixo, para entrar no grupo dos países com Desenvolvimento
Humano Médio, com um Índice de Desenvolvimento Humano da ordem dos 0,501.
Neste processo, há que ter em conta que Moçambique é um país independente apenas
desde 1975. E, embora com grandes recursos para produção de matérias-primas, está ainda em
processo de construção de toda a sua economia, inclusive para satisfazer as necessidades mais
elementares, ao nível da própria subsistência da sua população7.
Como se detectou, foi a partir de meados da década de 90, do século passado, que
Moçambique começou a emergir de uma acentuada fase de declínio social e económico. O
que só foi possível com o «Acordo Geral de Paz», assinado por Joaquim CHISSANO e
Afonso DHLAKAMA, em 4 de Outubro de 1992, em Roma, que pôs fim a uma prolongada
guerra civil, a que se seguiram as primeiras eleições livres  presidenciais e legislativas ,
que tiveram lugar a 27 e 28 de Outubro de 1994. Mas isso não significou, só por si, que iria
haver desenvolvimento.
7
“Actualmente, em Moçambique, a classificação de «pobreza absoluta», segundo critérios da
ONU, aplica-se pelo menos a 60% da população e o país encontra-se entre os mais pobres do
mundo”, referia-se no Guia do Terceiro Mundo, - 93, Tricontinental Editora, Lisboa, 1993, p.
565.

431
Durante anos, Moçambique andou à procura do seu próprio destino, definindo
estratégias, gizando tácticas, elaborando planos, percorrendo caminhos que, por
condicionalismos internos ou pressões externas, se viu obrigado a abandonar, com frequência,
para recomeçar de cada vez mais baixo.
A análise feita leva a concluir que Moçambique não tem hoje capacidade para se
desenvolver, sozinho, pelas suas próprias forças. Carece da comunidade internacional, aos
níveis mais elementares, para a sua própria sobrevivência, incluindo a alimentar. Até a
eventual estabilidade interna do país depende dessa comunidade, como depende e dependeu a
instabilidade que aí se vive e viveu. O que criou fortes laços de dependência
político-económica, com vantagem para muitos países dessa mesma comunidade. Espera-se
que também seja de algum interesse para a população moçambicana.
São desde há muito conhecidos os interesses que envolvem a «ajuda» da comunidade
internacional a países subdesenvolvidos8.
O sistema de ajuda internacional para o desenvolvimento constituiu-se a partir dos
anos sessenta  Primeira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento9. Foi a
década da reivindicação, pelos países pobres, de uma Nova Ordem Económica Internacional,
com poucos ou nenhuns resultados práticos, apesar da criação de instituições como a
Associação Internacional para o Desenvolvimento (IDA), o Banco Africano para o
Desenvolvimento, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(O.C.D.E.), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), etc.
Os anos setenta não alteraram significativamente a situação, apesar da 1ª Convenção
de Lomé e da criação de Fundos e Bancos Árabes para o desenvolvimento, o que levou à
crítica generalizada das políticas de cooperação dos países mais industrializados.
Depois, a década de oitenta, foi marcada pelo apelo ao investimento privado e à ajuda
bilateral, com acentuadas restrições à ajuda pública para o desenvolvimento, fortemente posta
em causa pelos teóricos liberais, defensores dos mecanismos de mercado e da livre
concorrência. O lema passou a ser trade not aid  comércio e não ajuda10.
De facto, como refere Adelino TORRES,
“Em África, a articulação entre o nacional e o mundial depende ainda muito
da ajuda internacional. Mas esta está a mudar, apontando para a diminuição
da ajuda pública e uma maior intervenção do capital privado. A nova
orientação é, sem dúvida, susceptível de favorecer dinâmicas económicas,
mas não beneficia actualmente o continente africano na medida em que se
dirige essencialmente para outras regiões”11.

No entanto, Moçambique não pode prescindir dessa ajuda. E isto num mundo onde
há capacidade instalada para fazer de qualquer país, Moçambique incluído, em pouco tempo,
o país com maiores índices de crescimento económico. O que não significa que a solução seja
apenas de carácter técnico-económico-financeiro. A solução estará, parece, a nível político,
com as inevitáveis implicações internacionais, o que têm um preço nacional.
De qualquer forma, as medidas técnico-económico-financeiras serão imprescindíveis
e a elas haverá que chegar, mais tarde ou mais cedo. O que significa que o desenvolvimento

8
A propósito, cf. Tibor MENDE, Ajuda ou Recolonização? - As Lições de um Fracasso (Tit.
Orig. De l'Aide à la Recolonisation, Ed. du Seuil, Paris, 1974), Pub. Dom Quixote, Lisboa,
1974.
9
Cf. O Relatório do Secretário Geral das Nações Unidas, The United Nations Developmente
Decade — proposals for action, New York, 1962.
10
Cf. António SILVA, et al., A Cooperação Portuguesa: Balanço e Perspectivas à Luz da
Adesão à C.E.E. E do Alargamento da Convenção de Lomé III, Cadernos CEE, Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento, Lisboa, 1986, pp. 24-25.
11
Adelino TORRES, Horizontes do Desenvolvimento Africano no Limiar do Século XXI, Col.
Vega Universidade/Ciências Sociais e Políticas, VEGA Editora, Lisboa, 1998, p. 220.

432
de Moçambique e o respectivo crescimento económico não se fará sem o recurso à importação
de capitais, de tecnologia e de imigração de mão-de-obra qualificada, incluindo,
possivelmente, os quadros moçambicanos na diáspora. O que, aliás, não é caso único. O
contrário é que constituiria excepção. De facto, a generalidade dos países mais
industrializados passaram por esse processo, ainda que isso crie dependências.
A primeira e principal dependência teve-a Moçambique, durante anos, em relação à
vizinha República da África do Sul. Daí que, juntamente com outros países da região (Angola,
Tanzania, Botswana, Zâmbia, Lesoto, Malawi, Zimbabwe e Suazilândia) surgisse a tentativa
de criação de uma vasta zona económica que atraísse as atenções políticas e os apoios
financeiros internacionais, o que levou, em 1980, à criação da SADCC - Southern
African Development Coordination Conference. Mas, apesar dos múltiplos projectos em
carteira, devido à instabilidade político-militar da região, não produziu os resultados
esperados12, vindo a transformar-se na SADC – South African Development Community, em
1992, a que a própria África do Sul já aderiu durante o governo de Nelson MANDELA. Mas
outras dependências teve, ainda, Moçambique, a Leste e a Oeste.
Nos primeiros anos de independência, Moçambique voltou-se, sobretudo, para os
países ditos socialistas. Principalmente depois do III Congresso da FRELIMO, em 1977, em
que esta se constituiu como Partido Marxista-Leninista. Essa foi a tendência dominante até ao
IV Congresso, em 1983, altura em que se deu uma nítida viragem ao Ocidente, pelo menos a
nível da política externa, do que veio a resultar a adesão de Moçambique à Conferência de
Lomé III, ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional. Isso acabou por ter as suas
repercussões a nível interno, de que o Programa de Recuperação Económica  PRE ,
iniciado em princípios de 1987, foi uma das mais significativas expressões.
De qualquer forma, seja qual for o programa, por mais coerente que pareça, se não
for acompanhado de consensos e apoios internacionais que levem a uma estabilidade militar
interna e regional, aliada a um afluxo de recursos financeiro--tecnológicos e força de trabalho
qualificada, tal programa estará condenado ao fracasso. Tal como fracassaram tantos outros
programas, desde a independência de Moçambique, com naturais consequências a nível de
todas as componentes sócio--económico-políticas da sociedade moçambicana, apesar das
novas perspectivas abertas pelo compromisso dos Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio, dos 189 Estados Membros das Nações Unidas, de Setembro de 2000, ou da NEPAD
– Nova Parceria para o Desenvolvimento de África, aprovada na 37ª Cimeira da OUA, em
Julho de 200113.
Em síntese, nesta era da globalização/regionalização, com todas as suas grandes
limitações e múltiplas potencialidades, Moçambique continua nas encruzilhadas do
desenvolvimento.

12
Cf. Manuel ANTUNES, “África Austral: as encruzilhadas”, in Jornal ÁFRICA, 16.4.1986, pp. 20-21.
13
Cf. http://www.un.org/millenniumgoals/. Acedido a 28 de Dezembro de 2007.
Cf. http://www.nepad.org/2005/files/home.php. Acedido a 28 de Dezembro de 2007.
Cf. Fátima Moura ROQUE, A África, a Nepad e o Futuro, Texto Editores, Luanda, 2007.

433
APÊNDICE XII

503
504
505
506
507
508
ÍNDICE GERAL

PREFÁCIO ............................................................................................................................. 11
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... 14
PESSOAS E INSTITUIÇÕES CONTACTADAS............................................................... 15
1 – PESSOAS ..................................................................................................................... 15
1.1 - Responsáveis e/ou Técnicos Moçambicanos .................................................. 15
1.2 - Responsáveis e/ou Entidades não-Moçambicanos ........................................ 15
2 – INSTITUIÇÕES .......................................................................................................... 15
RESUMO ................................................................................................................................ 17
ABSTRACT ............................................................................................................................. 18
RÉSUMÉ ................................................................................................................................. 19
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ........................................................................................ 20
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 25
PARTE 0 - ALGUMAS QUESTÕES PRÉVIAS ................................................................ 27
0.1 - METODOLOGIA ..................................................................................................... 27
0.2 - UMA QUESTÃO DE EPISTEMOLOGIA............................................................. 28
0.2.1 - O âmbito da Ciência Política ....................................................................... 29
0.3 – A QUALIDADE DOS DADOS EM CIÊNCIAS/POLÍTICAS
DA POPULAÇÃO ................................................................................................... 34
Parte 1 - A ANTINOMIA DO DESENVOLVIMENTO / SUBDESENVOLVIMENTO 39
1.1 - A «(RE)DESCOBERTA» DO DESENVOLVIMENTO / SUBDESEN-
VOLVIMENTO ECONÓMICO ............................................................................. 39
1.1.1 - As ambiguidades do subdesenvolvimento .................................................. 40
1.1.2 - A diversidade das explicações do subdesenvolvimento/desenvolvi-
mento ............................................................................................................. 43
1.1.2.1 - As perspectivas deterministas do desenvolvimento ........................... 44
1.1.2.2 - As «etapas do crescimento económico»............................................... 45
1.1.2.3 - As análises dualistas do subdesenvolvimento .................................... 49
1.1.2.3.1 - O dualismo de Arthur LEWIS..................................................... 51
1.1.2.4 - As análises multissectoriais .................................................................. 52
1.1.2.5 - Para além dos sectores .......................................................................... 53
1.1.2.6 - O círculo vicioso do subdesenvolvimento............................................ 54
1.1.2.7 - O desenvolvimento como cadeia de desequilíbrios ............................ 56
1.1.2.8 - O desenvolvimento polarizado............................................................. 57
1.1.2.9 - O estruturalismo versus monetarismo ................................................ 61
1.1.2.10 - As teorias da dependência .................................................................. 63
1.1.2.11 - A ortodoxia marxista .......................................................................... 65
1.1.3 - As estratégias do crescimento/desenvolvimento......................................... 67
1.1.3.1 - As estratégias da industrialização ....................................................... 67
1.1.3.1.1- A industrialização para substituição das importações................ 68
1.1.3.1.2 - A industrialização para exportação............................................. 69
1.1.3.1.3 - A industrialização pelas indústrias industrializantes ................ 70
1.1.3.2 - A vertente agrícola ................................................................................ 71
1.1.3.2.1- A agricultura nas teorias do desenvolvimento do pós-guerra.... 73
1.2 - ORIGENS DA ECONOMIA DO CRESCIMENTO.............................................. 74
1.2.1 - As preocupações mercantilistas ................................................................... 75
1.2.2 - A conquista de novos mercados................................................................... 76

541
1.2.3 - Do fisiocratismo ao liberalismo ................................................................... 76
1.2.4 - Da ordem liberal à desigualdade social ...................................................... 79
1.2.5 - David RICARDO e a concentração do capital........................................... 81
1.3 - EVOLUÇÃO E PROSPECTIVAS DA ECONOMIA DO CRESCIMENTO ..... 82
1.3.1 - O distanciamento dos clássicos .................................................................... 83
1.3.2 - Da inovação empreendedora à crise capitalista ......................................... 85
1.3.3 - O intervencionismo capitalista .................................................................... 86
1.4 - ANÁLISE SOCIOCULTURAL DO DESENVOLVIMENTO ............................. 88
1.4.1 - As valorizações culturais .............................................................................. 89
1.4.2 - Para uma definição de cultura..................................................................... 89
1.4.3 - A estrutura cultural ...................................................................................... 91
1.4.4 - Do saudosismo ao difusionismo ................................................................... 92
1.4.5 - A interpenetração de culturas ..................................................................... 93
1.4.6 - Do funcionalismo ao estrutural-funcionalismo .......................................... 94
1.4.7 - A explicação do desenvolvimento na teoria da modernização.................. 97
1.4.8 - O materialismo dialético e histórico e a dinâmica sociocultural ............ 100
1.4.8.1 - Do modo de produção em abstrato à formação social concreta ..... 101
1.4.8.2 - As condições sociais do processo de produção.................................. 101
1.4.9 - A teoria do imperialismo, nas suas ligações com o marxismo-leninismo,
para a explicação do desenvolvimento/subdesenvolvimento.................. 103
1.4.10 - Para uma visão crítica da perspectiva marxista do desenvolvimento.. 105
1.5 - PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................... 107
1.5.1 - Os limites do crescimento........................................................................... 107
1.5.2 - A população no pensamento ocidental...................................................... 108
1.5.3 - As preocupações ecológicas do desenvolvimento ..................................... 113
1.5.3.1 - Da «economia da natureza» à socioecologia......................................... 114
1.5.3.3 - O desenvolvimento sustentável .......................................................... 116
1.5.4 - Para uma definição do desenvolvimento .................................................. 119
1.6 - A MEDIDA DO DESENVOLVIMENTO............................................................. 122
1.6.1 - A busca de Indicadores Sociais.................................................................. 122
1.6.2 - A medida do «nível de vida» ...................................................................... 126
1.6.3 - Dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável ao Índice de
Desenvolvimento Humano Sustentável ..................................................... 127
Parte 2 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DE MOÇAMBIQUE, NA PRIMEIRA
DÉCADA DA INDEPENDÊNCIA ..................................................................... 133
2.1 - A NÍVEL GEOGRÁFICO...................................................................................... 133
2.2 - A NÍVEL POLÍTICO ............................................................................................. 135
2.2.1 - Da independência moçambicana às opções político-ideológicas............. 135
2.2.2 - SADCC - Um plano para a «libertação económica da África Austral». 136
2.2.3 - A «Estratégia Total» Sul-Africana e o confronto de blocos.................... 138
2.2.4 - A guerra civil moçambicana ...................................................................... 141
2.3 - A NÍVEL SOCIOECONÓMICO .......................................................................... 143
2.3.1- Aspectos económicos................................................................................... 143
2.3.2 - Aspectos financeiros .................................................................................. 153
2.3.3 - Outros aspectos sociais ............................................................................... 159
2.3.3.1 - Escolarização ....................................................................................... 159
2.3.3.2 - A saúde ................................................................................................. 164
2.4 - A NÍVEL DEMOGRÁFICO .................................................................................. 177
2.4.2 - População Rural e Urbana......................................................................... 182

542
2.4.3 - População e Idades ..................................................................................... 185
2.4.3.1 - A qualidade/regularidade dos dados................................................. 187
2.4.3.2 - Os grandes grupos etários .................................................................. 194
2.4.4 - Evolução populacional .............................................................................. 198
Parte 3 - A POPULAÇÃO NA PERSPECTIVA POLÍTICA
DO DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE.......................................... 202
3.1 - PARA UMA APROXIMAÇÃO SISTÉMICA...................................................... 203
3.1.1 - A população como subsistema ................................................................... 204
3.2 - FECUNDIDADE E MORTALIDADE EM MOÇAMBIQUE ............................ 207
3.2.1 - A fecundidade.............................................................................................. 207
3.2.1.1 - A estimativa da fecundidade .............................................................. 208
3.2.1.2 - Da Fecundidade Total à Taxa Bruta de Reprodução ...................... 213
3.2.1.3 - A Taxa Líquida de Reprodução......................................................... 214
3.2.1.4 - O padrão de fecundidade ................................................................... 216
3.2.1.5 - A comparação da taxa de fecundidade ............................................. 217
3.2.2 - A nupcialidade feminina ............................................................................ 220
3.2.2.1 - Idade média ao primeiro casamento ................................................. 222
3.2.2.2 - Construção de uma Tábua de Nupcialidade .................................... 225
3.2.3 - Política de natalidade ................................................................................. 230
3.2.3.1 - Protecção materno-infantil................................................................. 232
3.2.3.2 - Comportamento reprodutivo da mulher na cidade de Maputo...... 236
3.2.3.2.1 - Idade do primeiro casamento e separação matrimonial.......... 237
3.2.3.2.2 - As uniões poligâmicas ................................................................. 237
3.2.3.2.3 - Idade reprodutiva e fecundidade ............................................... 238
3.2.3.2.4 - Mortalidade infantil e aborto ..................................................... 239
3.2.3.2.5 - A primeira relação sexual ........................................................... 240
3.2.3.3 - Comportamento reprodutivo da mulher, a nível do país ................ 241
3.2.3.3.1 - Determinantes da fecundidade................................................... 242
3.2.4 - A mortalidade.............................................................................................. 246
3.2.4.1 - Estimativa da mortalidade nos primeiros anos ................................ 247
3.2.4.2 - A mortalidade infantil e juvenil......................................................... 252
3.2.4.3 - Estimativa da mortalidade geral........................................................ 258
3.2.4.3.1 - Estimativa da mortalidade pelo «Método das Populações
Estáveis» ....................................................................................... 258
3.2.4.3.2 - Determinação das características da «População Quase-Estável».. 261
3.2.4.4 - Mortalidade e condições de vida........................................................ 265
3.2.5 - Acerca da teorização sobre a fecundidade e a mortalidade.................... 268
3.3 - ESCOLARIZAÇÃO E FORÇA DE TRABALHO ................................................... 273
3.3.1 – Escolarização .............................................................................................. 274
3.3.1.1 - A situação do analfabetismo............................................................... 275
3.3.1.2 - Ensino frequentado e completado ..................................................... 276
3.3.1.3 - População em idade escolar................................................................ 281
3.3.1.4 - A evolução do analfabetismo e os «ratios» escolares ....................... 283
3.3.1.5 - O sentido da alfabetização.................................................................. 286
3.3.1.6 - O Sistema Nacional de Educação e a sua aplicação......................... 288
3.3.2 - Força de trabalho........................................................................................ 292
3.4 - MIGRAÇÃO E PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO ........................................ 299
3.4.1- Migração ....................................................................................................... 299
3.4.1.1 - Migrações internas .............................................................................. 299

543
3.4.1.2 - Migrações internacionais.................................................................... 306
3.4.1.3 - A migração moçambicana nos anos 90.............................................. 309
3.4.1.4 - Análise dos modelos explicativos dos movimentos migratórios ...... 312
3.4.2 - Pólos de desenvolvimento........................................................................... 321
3.5 - PRODUÇÃO/DISTRIBUIÇÃO ALIMENTAR E POPULAÇÃO ..................... 324
3.5.1 - A estrutura da produção agrária .............................................................. 324
3.5.2 - A produção agrária..................................................................................... 325
3.5.3 - A produção de pecuária e pescas............................................................... 326
3.5.4 - A dieta alimentar ........................................................................................ 328
3.6 - PARA UMA PROJECÇÃO DA POPULAÇÃO MOÇAMBICANA ................. 330
3.6.1. A variável demográfica em alguns modelos de crescimento .................... 330
3.6.2 - Para uma noção de modelos....................................................................... 332
3.6.3 - Projecções da população moçambicana, com base no Censo de 1980 . 334
3.6.4 - Projecções com base no Censo de 1997 ..................................................... 339
3.6.4.1 - O Censo de 1997 .................................................................................. 339
3.6.4.2 - Os efeitos da SIDA .............................................................................. 340
3.6.4.3 - Perspectivas de evolução demográfica .............................................. 344
3.6.4.3.1 - Pressupostos para uma projecção demográfica,....................... 346
com base nos dados definitivos do Censo de 1997 ..................................... 346
3.6.4.3.2 - Resultados de uma projecção demográfica, com
base nos dados definitivos do Censo de 1997 ........................... 365
Parte 4 – PROSPECTIVAS ................................................................................................. 379
4.1 - CENÁRIO DA CATÁSTROFE,............................................................................ 379
A PARTIR DAS TENDÊNCIAS DA DÉCADA DE 80 ....................................... 379
4.1.1 - Aspectos económicos................................................................................... 379
4.1.2 - Outros aspectos sociais ............................................................................... 385
4.2 - O CICLO DA RECUPERAÇÃO........................................................................... 394
4.2.1 - Aspectos económicos................................................................................... 394
4.2.2 - Outros aspectos sociais ............................................................................... 400
4.3 - PARA A DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO.......... 410
HUMANO PARA MOÇAMBIQUE .............................................................................. 410
4.3.1 - O Relatório do PNUD ................................................................................ 410
4.3.2 - O cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano .................................. 411
4.3.3 - Aperfeiçoamento do IDH de base.............................................................. 413
4.3.4 - Para uma análise mais aprofundada do IDH........................................... 416
4.3.5 - Proposta de um Índice de Desenvolvimento Humano ............................. 420
Ponderado Sustentável .......................................................................................... 420
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 429
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 434
1 - FONTES PRIMÁRIAS................................................................................................... 434
2 - BIBLIOGRAFIA GERAL ............................................................................................. 442
3 - ALGUNS SÍTIOS CONSULTADOS NA INTERNET .............................................. 481
BREVE GLOSSÁRIO ......................................................................................................... 482
APÊNDICES ......................................................................................................................... 489
APÊNDICE I ........................................................................................................................ 490
APÊNDICE II ....................................................................................................................... 492
APÊNDICE III ..................................................................................................................... 494
APÊNDICE IV ...................................................................................................................... 495
APÊNDICE V ....................................................................................................................... 496

544
APÊNDICE VII .................................................................................................................... 498
APÊNDICE VIII .................................................................................................................. 499
APÊNDICE IX...................................................................................................................... 500
APÊNDICE X ....................................................................................................................... 501
APÊNDICE XI...................................................................................................................... 502
APÊNDICE XII .................................................................................................................... 503
APÊNDICE XIII .................................................................................................................. 509
SOFTWARE .......................................................................................................................... 509
ÍNDICES ............................................................................................................................... 511
ÍNDICE REMISSIVO.......................................................................................................... 512
ÍNDICE DE QUADROS ...................................................................................................... 531
ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................................ 539
ÍNDICE GERAL .................................................................................................................. 541

545

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