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Técnicas

Anatomicas:

Letícia Almeida Barbosa (orgs.)


Diego Carvalho Viana
Este livro é parte da obra sobre Técnicas Anatômicas. Depois
de despertar o interesse e difundir o conhecimento laboratorial
para o desenvolvimento de práticas e habilidades necessárias ^
ao estudo e desenvolvimento da anatomia, este livro agrega
informações dos mais diversos autores professores responsá-
veis pelo estudo anatômico em diversas partes do Brasil.
As informações desta coletânea de Técnicas Anatômicas: na
Prática reúnem conteúdo inédito e único, do qual nós, organi-
na Prática
zadores, muito nos orgulhamos por trazer ao acesso de todos

Técnicas Anatômicas: na Prática


o tão fascinante mundo da anatomia.

LETÍCIA ALMEIDA BARBOSA


DIEGO CARVALHO VIANA
Graduada em Ciências Bio- Diego Carvalho Viana Médico veterinário (UEMA) e Pedagogo
lógicas (UEMASUL). Participou em
grupo de estudos no Laboratório de
Letícia Almeida Barbosa (Centro Paula Souza), Mestre em
Ciência Animal (UEMA/ Campus São
Genética e Biologia Molecular (organizadores) Luís) e Doutor em Anatomia dos
(LabGeM) com enfoque em Genética
Animais Domésticos e Silvestres (FMV-
e Evolução (UEMASUL). Mestranda
Z/USP). Membro da Sociedade Brasileira
em Ciência Animal (UEMA), em São
de Anatomia e Imunologia. Professor
Luís – MA, com área de concentra-
efetivo de Morfofisiologia Animal do
ção em Conservação e Reprodução
curso de Medicina Veterinária da Univer-
animal, linha de pesquisa voltada
sidade Estadual da Região Tocantina do
para Conservação, Morfologia,
Maranhão (UEMASUL), campus Impera-
Citogenética e Reprodução animal.
triz – Maranhão, Brasil. Atua como
professor permanente do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Animal da
Universidade Estadual do Maranhão na
área de concentração na linha de
morfofisiologia e citogenética animal.
Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento
Núcleo de Estudos Científico e Tecnológico do Maranhão
Morfofisiológicos Avançados
(NEMO)

ISBN 978-65-251-2193-2

9 786525 121932
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Diego Carvalho Viana
Letícia Almeida Barbosa
(Organizadores)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

TÉCNICAS ANATÔMICAS:
na prática

Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Arte de Capa: Paulo Roberto dos Santos Vieira
Revisão: Monythele de Sousa Conceição

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE

Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização


Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

T255

Técnicas Anatômicas: na prática / Diego Carvalho Viana, Letícia Almeida Barbosa


(organizadores) – Curitiba : CRV, 2022.
274 p.

Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-2194-9
ISBN Físico 978-65-251-2193-2
DOI 10.24824/978652512193.2

1. Medicina veterinária 2. Anatomia 3. Morfologia – preservação I. Viana, Diego


Carvalho (org.) II. Barbosa, Leticia Almeida (org.) III. Título IV. Série

2022-26779 CDD 639.089


CDU 619
Índice para catálogo sistemático
1. Medicina veterinária – 639.089

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2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Ana Paula Meneguelo (UFES)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Anelise Maria Regiani (UFAC)
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Três de Febrero – Argentina) José Ayron Lira dos Anjos (UFPE)


Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Nerilson Marques Lima (UNESP)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Pedro Hermano Menezes de Vasconcelos (IFCE)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Reginaldo de Jesus Costa Farias (UEAP)
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Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Viviana Borges Corte (UFES)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)
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de La Havana – Cuba)
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de La Havana – Cuba)
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Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
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Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................................... 11
Horst Erich König

MÉTODOS ALTERNATIVOS E ATIVOS NO ENSINO DA ANATOMIA ..... 13


Soraia Alves Buarque
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Ligia Almeida Pereira


Alana Lislea de Sousa

TÉCNICA DE PREPARO DE PEÇAS


ANATÔMICAS POR CRIODESIDRATAÇÃO ............................................... 27
Leandro Luís Martins
Marna Eliana Sakalem

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DOS GRUPOS VERTEBRAIS


DO MORCEGO PHYLLOSTOMUS HASTATUS
(PALLAS, 1767) (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE) ............................. 39
Amanda Cristiny da Silva Lima
Tatiara Barbosa Dias Lima
Breno Campelo Lima
Maria Claudene Barros
Diego Carvalho Viana

COLHEITA DE MEDULA ÓSSEA EM CÃES E GATOS:


a importância da anatomia nesta aplicação prática ........................................ 51
Adriano de Alvarenga Junior
Dilayla Abreu
Caio Cavalcanti Balençuela
Tatiana Epiphanio
Renata Avancini Fernandes
Maria Angélica Meglino

ANESTESIA LOCAL EM PEQUENOS ANIMAIS:


a importância da anatomia nesta aplicação prática ........................................ 65
Adriano de Alvarenga Junior
Dilayla Abreu
Caio Cavalcanti Balençuela
Tatiana Epiphanio
Renata Avancini Fernandes
Maria Angélica Meglino
ANGIOTÉCNICAS:
ampliando as possibilidades de ensino e aprendizagem ................................ 87
Gustavo Marquezi Borges
Lucas Victoy Guimarães Zengo
Giulia Mohara Figueira Sampaio
Thaís Silva Peleteiro
Rejane Nunes Lopes de Oliveira

RECEBI UM CADÁVER, E AGORA? ......................................................... 103


Mary Anne Pasta de Amorim

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Ana Lupe Motta Studzinski
Thainá Sarah Dematé
Bruna Tamara Suzane Paganelli

RECEBIMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE CADÁVERES


EM LABORATÓRIO DE ANATOMIA HUMANA ......................................... 121
Mary Anne Pasta de Amorim
Ana Lupe Motta Studzinski
Thainá Sarah Dematé
Bruna Tamara Suzane Paganelli

MODELO ANATÔMICO DA ÁRVORE BRÔNQUICA


DE EQUINOS, BOVINOS, OVINOS, SUÍNOS E CANINOS
PELA TÉCNICA DE INJEÇÃO E CORROSÃO ......................................... 137
Cristiane Elise Teichmann
Bruna Carolina Ulsenheimer
Orestes Moraes Cabeleira
Gabriele Maria Callegaro Serafini

PLASTINAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES COMO


FERRAMENTA DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO ......................... 151
Yuri Favalessa Monteiro
Marcos Vinícius Freitas Silva
Renan Pavesi Miranda
Ana Paula Santana de Vasconcellos Bittencourt
Aureo Banhos
Athelson Stefanon Bittencourt
Daniel Medeiros Nunes
Natalie Emanuelle Ribeiro Rodrigues
Christianne Maria Tinoco Veras
Ludmila Tolstenko Nogueira
Yone Caroline Silva
TÉCNICA DE LATÉX NO ESTUDO DO SISTEMA VASCULAR
DO CORAÇÃO DE TUBARÃO-AZUL (PRIONACE GLAUCA) E
TUBARÃO-MAKO (ISURUS OXYRHINCHUS) ......................................... 199
Estela Silva Antoniassi
Maiara Gonçalves Rodrigues
Marcos Vinícius Mendes Silva
Daniela de Alcatara Leite dos Reis
Carlos Eduardo Malavasi Bruno
Denis Guilherme Guedert
Paola de Lima
Julio Cesar Gruebel
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Maiara Gonçalves Rodrigues


Estela Silva Antoniassi
Carlos Eduardo Malavasi Bruno
Daniela de Alcatara Leite dos Reis
Marcos Vinícius Mendes Silva

APLICAÇÃO DE OSTEOTÉCNICA ANATÔMICA


NA ESPÉCIE ANFÍBIA RHINELLA MARINA.............................................. 233
Dennisiane de Jesus Saraiva
Francielma Chaves Sousa
Ana Paula Rodrigues dos Santos
Ellainy Maria Conceição Silva
Ingrid Carolinne Lopes Marques
João Carlos Lopes Costa
Cleonilde da Conceição Silva Queiroz
Diego Carvalho Viana

CRÂNIO EXPANDIDO: uma explosão de detalhes ..................................... 245


Erick Candiota Souza
Paulo de Souza Junior

THE POLYETHYLENE GLYCOL IMPREGNATION METHOD


FOR PRODUCTION OF ANATOMICAL SPECIMENS.............................. 261
Horst Erich König
Mircea-Constantin Sora

ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................... 269


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PREFÁCIO
Para la asignatura de Anatomía, materia básica para cualquier formación mé-
dica, es de gran importancia la elaboración de material ilustrativo para la enseñanza.
Desde el tiempo de Andreas Vesalius y Carlo Ruini del siglo XVI, las
técnicas en la ciencia de Anatomía se desarollaron bastante. El cuerpo humano
y el de los animales pueden prepararse y conservarse con diferentes métodos.
En el segundo volumen del libro “Técnicas Anatómicas en la práctica”,
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varios científicos han descrito métodos de preparación utilizados para rea-


lizar dichas preparaciones. Todas las preparaciones (piezas anatómicas) de
diferentes partes del cuerpo se utilizan, por un lado, para la enseñanza y por
otro lado para las investigaciones. Los huesos se preparan como esqueleto
completo o como huesos aislados. En los huesos se pueden estudiar los lugares
de inserción de los músculos, además se ven las superficies articulares y los
forámenes vasculares. Los huesos son de gran importancia para la interpre-
tación de imágenes radiográficas en las materias clínicas.
Las preparaciones como secciones de las extremidades o cortes del
cuerpo se utilizan principalmente para entender la Anatomía topográfica,
ademas para comparar e interpretar las imágenes seccionales modernas, como
la tomografía computarizada y la resonancia magnética, que ahora se utilizan
de forma rutinaria en la clínica.
El cuerpo humano y animal es siempre una obra de arte de la natura-
leza. Unos talentosos anatomistas hacen modelos y esculturas de las piezas
anatomicas. Esos obras de arte se utilizan en la enseñanza y sirven tambien
como material de exposición en las colecciones anatómicas y en los museos.
Las técnicas presentadas en este libro son escritas en forma de publica-
ciones. Al final de cada publicación se encuentran referencias bibliograficas.
Esa lista bibliografíca sirve como ayuda para otros anatomistas, tanto para
investigar como para desarrollar nuevos métodos y técnicas anatómicas.
Esperamos que el segundo tomo de este libro “Técnicas Anatómicas en
la práctica“ sirva para muchos anatomistas, tanto para aplicar las técnicas
descritas, como para desarollar nuevas técnicas y tambien para contribuir al
mejoramiento de la enseñanza en la asignatura de Anatomía.

Horst Erich König


Profesor Emérito. Dr. Phd. Dr. h.c.
Instituto de Morfología, Universidad de Medicina Veterinaria de Viena, Austria.
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MÉTODOS ALTERNATIVOS E ATIVOS
NO ENSINO DA ANATOMIA
Soraia Alves Buarque1
Ligia Almeida Pereira2
Alana Lislea de Sousa3
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Introdução

Os profissionais educadores são provocados diariamente na execução de


suas tarefas uma vez que são desafiados a se manterem atualizados, aprendendo
novas habilidades e buscando estratégias de ensino para serem aplicadas em
sala de aula. A inclusão de diversas abordagens pedagógicas, ativas e alterna-
tivas, pode maximizar a interação entre educador e aprendiz diminuindo, por-
tanto, conflitos. Fialho [1] defende que estas atividades lúdicas podem ampliar
a cooperação e competitividade cordial entre alunos, auxiliar na criatividade,
além de ajudar na fixação do conteúdo e no desenvolvimento de conceitos.
Bondioli, Vianna e Salgado [2] destacam também outros benefícios
encontrados na ludicidade que, de acordo com os autores, isto despertaria
senso crítico e de responsabilidade, aptidão em resolver problemas, autonomia
e confiança. Mediante o exposto, o aluno seria, portanto, o protagonista do
seu próprio processo de aprendizagem. Por conta deste envolvimento, ins-
tituições que aplicam tais técnicas apresentam maior credibilidade e menor
evasão discente, sendo seus egressos, profissionais de alta qualificação [3].
No entanto, a modificação do modelo pedagógico tradicional deve ser
avaliada em cada aspecto. Para o sucesso da implementação, deve haver coe-
rência da metodologia proposta, além de estrutura e sistematização. A apli-
cação dos modelos alternativos pode ser adaptada ao método de treinamento
“S.P.I.D.E.R”, desenvolvido por Mellen e Sevenich MacPhee [4]. Para a imple-
mentação, primeiramente, a equipe docente irá traçar os objetivos de determi-
nada atividade (“Setting Goals”). Em seguida, deve-se planejar (“Planning”)
a metodologia de execução da tarefa (jogos, quizzes, discussões em grupos,
etc.). O próximo passo será implementar as estratégias de ensino (“Implemen-
tation”). É válido ressaltar ainda, que será necessário documentar e avaliar os

1 Mestra em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, CEP: 65055-310, São Luís-MA, Brasil
2 Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão, CEP: 65055-310, São
Luís-MA, Brasil
3 Departamento das Clínicas/Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do
Maranhão, CEP: 65055-310, São Luís-MA, Brasil
14

resultados obtidos (“Documentation e Evaluation”) para que assim a técnica


seja reajustada de acordo com as necessidades do grupo (“Re-adjustment”).
A introdução de metodologias alternativas, porém, é desafiadora em
cursos de graduação uma vez que questões administrativas e estruturais da
instituição podem dificultar este processo de ensino, além de também haver
a limitação de carga horária. Desta forma, o docente se torna o mediador e
facilitador das atividades, devendo ser articulado e estimulador, promovendo
o trabalho em equipe, a comunicação entre alunos, e respeitando o tempo de
aprendizado de cada um [5].

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As técnicas de aprendizado ativas devem ser desenvolvidas de acordo
com as necessidades e características de cada área de ensino. Isto vem se
mostrando bastante eficaz no rendimento de alunos das ciências exatas e da
saúde [6]. Contudo, apesar dos bons resultados, a forma de ensino conven-
cional ainda se faz mais presente, mesmo a tecnologia sendo uma grande
aliada (não substituta) [7].
A atuação do médico veterinário requer conhecimento da estrutura
funcional dos animais, sendo a anatomia de tecidos, órgãos e sistemas um
componente essencial para tal compreensão [8]. A disciplina de Anatomia
Topográfica Veterinária tem como objetivo descrever as estruturas anatô-
micas do corpo dos animais domésticos a partir das regiões corpóreas além
de articular o conhecimento anatômico sistemático aos aspectos clínicos,
semiológicos e cirúrgicos, que são necessários para a formação do médico
veterinário. Entretanto, a legislação atual, referente aos princípios da Ciência
do Bem Estar Animal, demanda a busca por modelos didáticos que favoreçam
a aprendizagem e redução do uso animal.
A Lei de Crimes Ambientais (9.605 de 12 de Fevereiro de 1998), capítulo
V, Seção I, Art. 32, §1º e §2º, diz que a pessoa, que realiza experiência dolo-
rosa ou cruel em animais vivos, mesmo que para uso didático ou científico,
quando existirem métodos alternativos, está passível de cumprimento de pena,
que pode ser aumentada de um sexto a um terço caso ocorra óbito do animal.
O Código de Ética do Médico Veterinário, no capítulo 10, Art. 18, inciso
IV, diz que o uso de animais em práticas de ensino e experimentação científica
se faz ético quando justificável, em situações que eleve o nível do aprendizado,
ou quando beneficie a vida animal e do homem, e apenas se não houver forma
alternativa de substituição cientificamente validada.
Em suma, o objetivo deste estudo foi apresentar a inclusão de metodo-
logias alternativas e ativas de ensino a 32 alunos da disciplina de Anatomia
Topográfica Veterinária do Curso de Medicina Veterinária da UEMA, no
segundo semestre de 2018.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 15

Material e métodos

A disciplina de Anatomia Topográfica Veterinária é ministrada aos alu-


nos do III período do Curso de Medicina Veterinária da UEMA. Possui carga
horária de 60h de aulas práticas e teóricas, sendo atribuídos 04 créditos ao
histórico escolar dos aprovados. A matéria Anatomia de Órgãos e Sistemas é
pré-requisito para que o estudante possa estar matriculado. Durante o segundo
semestre de 2018, a disciplina teve 32 matriculados. É necessário ressaltar
ainda, que metodologias alternativas de ensino (algumas a serem descritas a
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seguir) foram incluídas no plano de ensino.

Caixa misteriosa e percepção sensorial (Figura 1)

Utilizou-se caixas de papelão, com dimensões de aproximadamente


45cm x 35cm x 25cm (comprimento x largura x altura), das quais a equipe
docente fez aberturas circulares nas laterias para que os alunos colocassem
as mãos sem visualizar o conteúdo do interior (setas vermelhas – Figura 1A e
1C). Dentro de cada caixa, foram colocados elementos diversos, como peças
anatômicas de osteologia (vértebras, costelas, crânios), garrafas de água com
temperaturas diferentes (quente, natural e gelada), coxas de frango frescas
(adquiridas em açougue), algodão, gaze, maquetes anatômicas plásticas, etc
(Figura 1B). Os alunos, então, foram desafiados a descreverem, em equipe, as
características sensoriais e físicas do conteúdo de cada caixa (textura, tamanho,
forma, temperatura). As descrições foram discutidas com toda a turma e, só
após, os objetos foram revelados.
Nesta mesma ocasião, os estudantes tiveram a oportunidade de reconhe-
cer pontos de auscultação nos membros de suas equipes (seta azul – Figura
1C), sendo, o uso do estestoscópio, novidade para muitos. Além disso, em
outra bancada, cortes frescos de frango com pele serviram para que os alunos
utilizassem bisturis, pinças anatômicas e dente-de-rato e fios de sutura (setas
verdes – Figura 1C e 1D). O objetivo desta dinâmica foi explanar como ocorre
a retração da pele e das fibras musculares durante a incisão além de ilustrar
como deve ser realizada a união dos bordos de uma ferida cirúrgica.
16

Figura 1 – Caixa Misteriosa e percepção sensorial – Anatomia


Topográfica Veterinária. A: Caixa misteriosa; B: Elementos utilizados
nas caixas; C: Realização de diferentes atividades simultaneamente;
D: Incisão de pele e músculos em corte de frango fresco

Práticas com bovinos e equinos (Figura 2) Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

Os alunos tiveram a oportunidade de ter aulas práticas com animais


vivos no curral da UEMA. O objetivo foi demonstrar os métodos de estudo
anatomoclínicos, como inspeção, percussão, auscultação (Figura 2A) e pal-
pação, sendo os dois últimos os de maior interesse dos alunos. Na ocasião,
foi possível identificar os principais focos de auscultação em ruminantes e
equinos e criar ideia da dimensão de órgãos cavitários (coração, pulmões,
rúmen nos bovinos e ceco nos equinos). Ainda, muitos alunos tiveram a pri-
meira experiência de realizar palpação transretal em vacas (Figura 1B), em
que identificaram as estruturas do trato reprodutivo gestante e não-gestante.
A análise da disposição topográfica dos órgãos foi baseada no descrito
em tratados e atlas de anatomia veterinária, que foram sugeridos para a turma
durante a apresentação do plano de ensino.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 17

Figura 2 – Aulas práticas com equino e bovino no curral da UEMA.


A: Auscultação em equino. B: Palpação transretal em vaca
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Utilização de maquetes plásticas e esqueletos (Figura 3)

Maquetes de animais e esqueletos foram utilizados com o intuito de simu-


lar a topografia e projeção dos órgãos das cavidades corpóreas dos animais
domésticos. Os alunos foram separados em equipes e cada uma recebeu um
guia para estudos prévios com diferentes assuntos entre si. Houve discussão
do conteúdo dentro das equipes, e posterior exposiçao das maquetes para os
integrantes dos outros grupos, de forma que todos os alunos tivessem acesso
a todos os assuntos abordados nos guias.
Ao final de cada explanação, a docente da disciplina aprofundou o con-
teúdo e tirou as dúvidas que haviam surgido. Foram utilizadas maquetes de
equinos, bovinos, aves e esqueletos de equinos, bovinos e caninos.
18

Figura 3 – Aluna demonstrando conteúdo estudado previamente.


Utilização de maquete plástica como substituta ao uso de animais

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Acompanhamento de cirurgias no Hospital Veterinário

Durante o semestre, os alunos foram orientados a formarem pequenas


equipes para acompanhar procedimentos cirúrgicos no Hospital Veteriná-
rio Universitário Francisco Edilberto Uchoa Lopes, localizado na UEMA.
Mediante autorização dos médicos veterinários responsáveis pelas atividades,
os discentes registraram a visita por meio de fotografias. A partir do que foi
observado no bloco cirúrgico, pediu-se que cada aluno desenvolvesse um
relatório, a ser avaliado pela equipe docente. Os critérios de avaliação dos
relatórios foram: organização estrutural, coerência textual, gramática, pon-
tuação, introdução, considerações finais adequadas ao tema, desenvolvimento
e domínio de conteúdo, utilização de imagens com legendas e etc.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 19

Figura 4 – Aluna paramentada para acompanhar cirurgias no


Hospital Veterinário Francisco Edilberto Uchoa Lopes, UEMA
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Projeção de vísceras através de desenhos (Figura 5)

Como atividade complementar para fixação do conteúdo, os alunos rece-


beram fichas com desenhos de animais domésticos. Baseado no conteúdo
explanado durante aulas expositivas, e com auxílio de Atlas, Tratados de
Anatomia Veterinária e das maquetes plásticas disponíveis no Laboratório de
Anatomia, os estudantes deveriam desenhar as vísceras dos animais, respei-
tando todos os limites anatômicos, assim como as projeções dos órgãos nas
cavidades e os antímeros correspondentes a cada órgão. Sugeriu-se utilizar
lápis de cores diferentes para melhor visualização das estruturas. Em seguida,
os alunos compartilharam os desenhos entre si.
20

Figura 5 – Simulação de Projeção das vísceras através da coloração de desenhos

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Seminários (Figura 6)

A turma foi dividida em equipes, das quais cada uma ficou responsável
por desenvolver um seminário relacionado a uma região/cavidade corpórea.
Os grupos formados foram: Cabeça e pescoço; Membros torácicos; Membros
pélvicos; Cavidade torácica e Cavidade Abdominal.
Cada grupo recebeu uma imagem radiográfica e um artigo científico para
que servissem de base para o desenvolvimento do seminário. Tais materiais
deveriam ser expostos durante a apresentação. Foi sugerido ainda que mate-
riais complementares como fotos, vídeos e outros artigos científicos fizessem
parte da estrutura da apresentação, enriquecendo, assim, a atividade proposta.
Os seguintes parâmetros foram avaliados durante as apresentações: tempo
de apresentação, clareza e objetividade na fala, lógica na organização dos
slides, domínio do conteúdo, utilização de recursos de mídia (fotos, vídeos,
tabelas, gráficos), citação das fontes, seleção de artigos científicos, padroni-
zação dos slides entre outros.
Ao final do período letivo, aplicou-se questionário on-line, utilizando a
plataforma Google Forms, para coletar a opinião dos alunos sobre a evolução
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 21

dos mesmos em sala de aula, baseada a utilização dos métodos alternativos.


As respostas foram obtidas de forma voluntária e anônima, sem prejuízo à
performance do aluno durante a disciplina. As questões aplicadas foram:
1) Você acha que métodos alternativos de ensino auxiliam o aluno na
compreensão dos assuntos? Justifique sua resposta.
2) Classifique de 1 a 5 os métodos alternativos que mais auxiliaram na
fixação do conteúdo.
3) Classifique de 1 a 5 os métodos alternativos que despertaram maior
curiosidade e vontade de participar.
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4) Você conhece outro método alternativo de ensino? Se sim, qual?


5) Você já utilizou outro método alternativo de ensino/aprendizagem?
Se sim, qual?
Nas questões 2 e 3, foram listados todas as atividades ativas e alternativas
utilizadas durante o semestre. As notas seriam atribuídas, sendo 1 – mínimo,
2 – pouco, 3 – médio, 4 – bom, e 5 – ótimo.
Na questão 5, os alunos também poderiam assinalar se já utilizaram
outro método alternativo sozinhos (para fixação de conteúdo, por exemplo),
ou com outros docentes.

Figura 6 – Apresentação de seminários em equipe


22

Resultados e discussão

As atividades da caixa misteriosa e percepção sensorial se fizeram impor-


tantes, já que o aguçamento dos órgãos dos sentidos é de grande importân-
cia na formação do médico veterinário, sendo que em variadas situações
(principalmente clínico-cirúrgicas), o profissional deva expressar habilidades
sensoriais. Isto é indispensável no processo de diagnóstico, uma vez que os
métodos gerais de exploração clínica, como inspeção, palpação, percussão,
auscultação e olfação estão em sintonia com o conhecimento técnico e a

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conduta do profissional frente ao desafio [9].
As aulas práticas com animais vivos despertaram curiosidade e partici-
pação de todos da turma. Este tipo de atividade é de grande relevância para
alunos do ciclo básico de ensino da medicina veterinária (dois primeiros
anos), pois é capaz de nortear o aluno na escolha das suas áreas de preferên-
cia. A utilização de equipamentos como estetoscópio e a palpação transretal
conseguiram explorar o conhecimento técnico além dos livros, sendo úteis
na “visualização” de estruturas de forma mais concreta.
O acompanhamento das cirurgias no Hospital Veterinário nos períodos
de pré, trans e pós-cirúrgico se fez importante para conhecimento da rotina e
organização de um hospital veterinário. Os alunos se familiarizaram com as
normas de paramentação com o uso de Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) e assepsia, além de adotarem postura profissional diante de situações
de estresse e no envolvimento emocional de tutores. Os relatórios cobrados
após as visitas ao centro cirúrgico, contribuíram para o desenvolvimento da
escrita técnica, assim como para o senso de organização.
Ademais, a utilização de um cronograma pré-existente de cirurgia con-
tribuiu com a diminuição do uso de animais exclusivamente como modelos
experimentais para exibição de acessos cirúrgicos, o que nem sempre se faz
viável na realidade da burocracia e escassez de doações de cadáveres para
estudos. A utilização de maquetes também se apresenta como um método
substituto à utilização de animais, devido a dificuldade na obtenção de material
para dissecção para todos os alunos da turma no semestre. Ainda, restrições
orçamentárias se mostram um impeditivo no desenvolvimento de técnicas
inovadoras no ensino da Anatomia Veterinária, como utilização de modelos
impressos em 3D [10].
A utilização de desenhos para representação das vísceras se caracte-
rizou por uma atividade leve nas quais os alunos demonstraram diversão e
descontração. O uso de atividades lúdicas na educação de jovens e adultos
dinamiza as aulas e desperta motivação, fator importante no processo de ensino
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 23

e aprendizagem. Além disso, durante este tipo de atividade, os alunos intera-


gem mais entre si, sendo capazes de quebrar barreiras sociais e culturais [11].
O objetivo da aplicação do seminário foi relacionar as estruturas anatô-
micas com as imagens oriundas de técnicas radiológicas, como radiografia e
ultrassonografia, assim como apresentado previamente em aula expositiva.
Ainda, esperou-se dos alunos, organização em equipe e postura profissional
durante a apresentação, fatores relevantes para o ambiente acadêmico e seus
diversos desafios.
De acordo com o questionário aplicado ao final da disciplina, 95,5% dos
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alunos afirmaram que métodos alternativos auxiliam o aluno na compreensão


dos assuntos, enquanto 4,5% acreditam que depende do tipo de método apli-
cado. As justificativas para as respostas foram diversas, como:

• “O mesmo método de estudo fica monótono e cansativo”;


• “Os métodos alternativos auxiliam na compreensão do assunto,
pois tira o aulo da zona de conforto e faz com que ocorra desen-
volvimento de outras habilidades importantes para vida acadêmica
e pessoal.”;
• “Os métodos alternativos promovem uma memória fotográfica dos
assuntos abordados, além de mostrar de forma mais fiel à realidade.”;
• “Alguns métodos podem ser bem proveitosos, mas com a devida
organização e planejamento. Além disso, deve haver respeito a
limitações pessoais de alguns alunos, como timidez e ansiedade.”

Práticas com animais no curral da UEMA e acompanhamento cirúrgico


no Hospital Veterinário foram considerados os métodos que melhor auxilia-
ram na fixação do conteúdo e, juntamente com a caixa misteriosa e percepção
sensorial, despertaram maior curiosidade de participação.
Ainda, 63,6% afirmaram não conhecer outros métodos alternati-
vos além dos aplicados na disciplina. Os que já utilizaram outros méto-
dos, exemplificaram:

• Mapas mentais e infográficos;


• Gincanas;
• Filmes com temática médica;
• Aulas de campo (fazendas, eventos de raças de cães)

O desempenho dos alunos foi, de forma geral, satisfatório. A turma obteve


média geral de 7,5 e índice de aprovação de 90,6%.
24

Conclusão

O ensino da Anatomia Topográfica Veterinária contribui para que o aluno


desenvolva habilidades necessárias para a formação do médico veterinário,
como semiologia, clínica médica e cirúrgica. Além disso, a disciplina torna-se
uma aliada na identificação de áreas de atuação de maior afinidade por parte
do estudante. A aplicação de atividades práticas e alternativas aumentam a
interação da turma, favorecem o aprendizado e o trabalho em equipe e desper-
tam o interesse do alunado pela disciplina. Em consonância com a ciência do

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bem-estar animal, as técnicas também se mostram eficazes como alternativas
de modelos de estudo anatomoclínico.

Agradecimentos

Agradecimentos ao Grupo de Estudos em Anatomia – GRANATO – da


Universidade Estadual do Maranhão, aos funcionários do curral da UEMA
e do Hospital Veterinário Francisco Edilberto Uchoa Lopes, e aos alunos de
pós-graduação que auxiliaram na organização das aulas práticas.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 25

REFERÊNCIAS
[1] Fialho NN. Jogos no Ensino de Química e Biologia. Curitiba:
IBPEX, 2007.

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jovens e adultos. 2011. 44 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especiali-
zação) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2011.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

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Coleção de atlas de equino, canino e coelho, preparados por processo de maceração
natural (enterrados) e esbranqueamento com peróxido de hidrogênio e exposição solar

Autor: José Miguel Velásquez Salazar


TÉCNICA DE PREPARO DE
PEÇAS ANATÔMICAS POR
CRIODESIDRATAÇÃO
Leandro Luís Martins1
Marna Eliana Sakalem2
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Introdução

A Anatomia é uma ciência milenar, de cunho fundamental e básico, sendo


de extrema importância para o desenvolvimento da compreensão do corpo bem
como de suas partes. O estudo anatômico se baseia na descrição morfológica,
macroscópica, das estruturas que compõem o ser, do todo e das partes. Por
tratar de formas e contornos, o método preferencial de estudo depende do uso
de peças e cortes anatômicas, o que permite a compreensão da tridimensionali-
dade de cada estrutura a ser estudada, proporcionando um entendimento geral
e completo, bem como das relações espaciais de cada região. Tal abordagem
possibilita ao observador, seja ele acadêmico ou profissional da área da saúde,
visualizar e explorar cada parâmetro de um mesmo órgão ou região [1].
O estudo prático da anatomia, com uso de peças anatômicas cadavéricas,
pode ser obtido por emprego de peças frescas, o que se torna praticamente
inviável a longo prazo, por requerer reposição constante de material além do
impasse ético, seja no emprego de peças animais ou humanas [2]. Assim, se
faz crucial o emprego de técnicas de preservação e conservação já que pos-
sibilita o uso das mesmas estruturas a longo prazo, permitindo melhora das
habilidades de assimilação e compreensão do todo [3].
A preservação e conservação de material cadavérico, para permitir o uso
prolongado, envolve a retardação ou inibição da autólise, bem como inibição
da ação de microorganismos [4], o que pode ser atingido por emprego de
substâncias fixadoras, tais como folmaldeído, glicerina e álcool etílico. Os
fixadores, além de prevenirem decomposição, permitem preservação da forma,
aparência e dimensões gerais das peças e órgãos.
Por ter um custo baixo, o formaldeído é um dos fixadores mais empregados,
além de também apresentar alta penetrabilidade; após o período de fixação, a

1 Departamento de Anatomia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, 86062-000,


Londrina-Paraná, Brasil. Autor Correspondente: llmartins@uel.br; marna@uel.br
2 Departamento de Anatomia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, 86062-000,
Londrina-Paraná, Brasil.
28

preservação em formol é feita pela imersão contínua das peças em solução a 10%
de formol [5, 6], sendo o fixador mais utilizado em laboratórios de anatomia,
tendo um índice de penetração nos tecidos de 6 milímetros em 12 horas [6].
Apesar das vantangens mencionadas, o fixador apresenta efeito cumulativo no
organismo e toxicidade, inclusive com potenciais carcinogênicos e mutagênicos,
além de consequências graves para o meio ambiente por conta do descarte [7].
A glicerina, muito útil em laboratórios de anatomia por sua ação bactericida
e fungicida conjuntamente com o fato de preservar as peças de forma muito
semelhante a peças frescas, apresenta maior custo [8, 9]. O uso de cloreto de

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sódio a 30% é uma alternativa mais recente e extremamente viável, com fixação
em formaldeído e conservação em caixas plásticas com solução de sal, mas ainda
sim é um conservador pouco utilizado em comparação com os de mais [10].
A fim de reduzir a exposição constante e contínua ao formol, diversas
técnicas alternativas de preservação e conservação estão disponíveis. A crio-
desidratacao, que consiste em ciclos consecutivos de congelamento e descon-
gelamento e consequente redução do volume total da peça (com perda de água
em torno de 60 a 70%), minimiza o volume total de formol a ser utilizado, já
que este é somente empregado na fase inicial de fixação, diminuindo drasti-
camente a exposição de acadêmicos e profissionais ao formol. Desta forma,
esta técnica, antiga e barata, proporciona peças morfologicamente relevantes,
com riscos ínfimos à saúde por conta da drástica redução de exposição ao
formol, já que as peças finalizadas são conservadas a seco [11].
De forma simplificada, a peça é preparada inicialmente por fixação
em formol como de praxe. Após a completa penetração do fixador nos
tecidos, as peças são submetidas a sessões repetidas de congelamento e
descongelamento, em que as baixas temperaturas causam produção de pon-
tos descoloridos pela superfície do órgão (denominadas “pontos pálidos”)
concomitantemente com micro rupturas no tecido e nas células por conta
da formação de cristais de gelo e dilatação da água. Isso ocorre pelo fato
de o congelamento lento da água intracelular ocasionar sua expansão e
consequente formação de grandes cristais de gelo que, ao se formarem,
rompem a membrana plasmática. Tais micro lesões facilitam a liberação de
líquido durante a fase seguinte, prevenindo também que ocorram retrações
futuras. Todo o líquido que se desprende do material é eliminado durante
os descongelamentos, com as temperaturas mais altas, ao mesmo tempo
em que há a impregnação de cola de madeira hidrossolúvel, a qual confere
resistência e durabilidade para as peças. A criodesidratação é extremamente
eficaz em produzir peças morfologicamente relevantes e pode ser empregada
com sucesso para órgãos tanto ocos quanto parenquimatosos [11, 12] para
músculos [13] e até para segmentos [12, 14]. Mediante o exposto, o resultado
são espécimes leves, sem odor, e de excelente uso para ensino e estudo.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 29

Material e métodos

Materiais

A criodesidratação poderá ser realizada em órgãos, secções ou reduções


frescas de cadáveres animais ou humanos. Para a fixação, previamente à criode-
sidratação, será empregado formaldeído (metanal), a ser injetado com auxílio de
agulha e seringa, e para imersão do material cadavérico. Durante o procedimento,
será necessário um freezer -18°C, e glicerina líquida (glicerol / propanotriol), a ser
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pincelada diariamente com auxílio de pincel de cerdas macias. Ao final da técnica,


as peças serão pinceladas com verniz líquido (o mesmo usado em construção civil).

Metodologia

De forma simplificada, as peças frescas são fixadas em formol, e então


submetidas ao processo de desidratação por congelamentos sucessivos até
que ocorra perda significativa da água total, propiciando que as peças sejam
preservadas e evitando autólise ou ação de microorganismos.
Como preparo, os órgãos frescos são, previamente, lavados e dissecados,
com retirada da gordura externa excessiva. Dependendo do órgão, são pesados
para o cálculo médio de perda de volume conforme o processo de desidratação
se desenvolve. Em seguida, é realizada a injeção de formaldeído, diluído na
proporção de uma parte de formaldeído a 40% para uma parte de água, com
auxílio de seringa e agulha descartáveis, a um volume total de 10% do peso
inicial do órgão a ser preparado (Figura 1). Os órgãos cavitários (ocos) devem
ser preenchidos com algodão embebido em formol 10%, a fim de permitir a
manutenção da arquitetura original do órgão conforme ocorre a desidratação.

Figura 1 – Processo de injeção de formaldeído em coração de suíno


30

Cada órgão deve permanecer em caixas plásticas contendo solução de


formol a 10%, onde permanecerá mergulhado por 20 dias. Para uma melhor
fixação, é necessário colocar um pano de algodão cobrindo os órgãos no
interior da caixa imersa com formol (Figura 2).

Figura 2 – Fixação dos órgãos por imersão em formol por 20 dias,


antes do início do procedimento de desidratação. A) corações de suínos
acondicionados em caixa plástica contendo formaldeído a 10%. B) rins de
suínos acondicionados em caixa plástica contendo formaldeído a 10%

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Decorrido o tempo de fixação, as peças são lavadas, dissecadas para reti-
rada de excesso de gorduras remanescentes, e retirado o excesso de água com
papel absorvente. Neste momento, as peças podem ser seccionadas media-
namente ou mantidas inteiras. Os órgãos cavitários terão seu preenchimento
substituído por algodão limpo e seco.
Antes de iniciar o processo de criodesidratação, todos os órgãos devem
ser pesados novamente. Após a pesagem, serão congelados a -18°C em freezer
horizontal, por no mínimo 12 horas e, após este período, retirados e descon-
gelados em ambiente sombreado e ventilado. Terminado o descongelamento,
dependendo da espessura da parede do órgão, é indicado, com o auxílio de
um pincel de cerdas macias, que passe uma fina camada de glicerina líquida
por toda superfície de cada peça antes de devolvê-la ao freezer, visando um
amaciamento do material.
O processo de congelamento por 12h e, consequente descongelamento,
deve ser repetido até que os órgãos percam de 60 a 70% do seu peso inicial.
Para um melhor acompanhamento do processo, é indicado a realização da
pesagem diária dos órgãos. É considerado que a técnica foi eficaz e que os
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 31

ciclos de congelamento e descongelamento podem ser cessados quando a


variação total de peso for constante por diversos dias consecutivos, com uma
variação de peso de até 5%.
Depois da peça criodesidratada, esta deve ser revestida por uma camada
de verniz líquido, utilizando pincel de cerdas macias e conservadas em caixas
plásticas com tampa.

Resultados e discussão
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As peças preparadas por criodesidratação podem apresentar percentagem


variável de perda de peso em comparação com o peso inicial, mas mesmo
nas espécimes de menor redução, a depender do órgão, redução ou secção a
ser criopreservada, a peça final apresenta aspecto morfológico muito seme-
lhante à peça fresca, tornando-se, obviamente, mais leve, e mais rígida. Uma
grande vantagem é a ausência quase completa de odor nas peças finalizadas.
Por dispensar necessidade de imersão em formol, já que as peças finais são
mantidas a seco, há eliminação do emprego de formol como conservante e,
com isso, redução de exposição de profissionais e acadêmicos ao agente, bem
como redução nos riscos ambientais vinculados ao seu descarte [1, 15]. Como
consequência, os vapores de ar em um laboratório de anatomia que empregue
uso de peças criodesidratadas é drasticamente reduzido, e o incômodo em
decorrência da exposição e inalação de formol, observado por grande irritação
nos olhos, lacrimejação e queimação nas mucosas orais e nasais é ausente [16].
Como as peças são mantidas a seco, há, ainda, a economia em conservan-
tes para armazenamento, além da redução de peso, o que facilita o transporte
[15]. Mesmo após finalizadas, as peças podem ser dissecadas e exploradas,
aumentando o âmbito de ensino e pesquisa proporcionado. As peças se apre-
sentam, assim, como excelente recurso didático, tanto em ensino superior
como em utilização em exposições e feiras, sem exposição a formol e com
preservação morfológica significativa (Figura 3).
32

Figura 3 – Comparação entre órgão fresco e órgão criodesidratado. A)


coração de equino fixado em formol por 20 dias, antes do início do processo de
criodesidratacao. B) mesmo coração de equino, após finalização do processo de
criodesidratacao, com aplicação final de camada de verniz líquido (Fonte: acervo
pessoal). C) encéfalo de suíno fixado em formol por 20 dias, antes do início do
processo de criodesidratação. D) mesmo encéfalo de suíno, após finalização do
processo de criodesidratação, com aplicação final de camada de verniz líquido

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Outra grande vantagem da técnica é que ela pode ser aplicada a uma
grande variedade de peças anatômicas. Apesar de as vísceras serem o material
mais utilizado para criodesidratação, é possível preparar secções compostas de
diferentes tecidos e órgãos, como realizado recentemente por Teixeira Filho
e colaboradores [12], com secções coronais de cao (Figura 4A), bem como
reduções inteiras, como membros (Figura 4B). Ainda, as vísceras podem ser
seccionadas antes da criopreservação, resultando em órgãos finais abertos
(Figura 4C).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 33

Figura 4 – Possibilidades de peças que podem ser criopreservadas. A) secção de


cabeça de canídeo sendo preparada. B) membros torácicos de canídeo e pélvico
de ovino. C) coração de equino inteiro. D) coração de equino seccionado
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Como ponto negativo, os ciclos de congelamento e descongelamento necessá-


rios para a obtenção da peça final podem levar de semanas a meses [17]. Este tempo
pode ser reduzido com o preparo de peças seccionadas, inclusive vísceras, como
relatado por Do Carmo [15], com diminuição de tempo total de até 25% comparado
ao processo com vísceras inteiras. Um dos motivos por trás desta diferença se refere
à maior superfície para perda de água das peças seccionadas. Uma das formas de
driblar esta delonga para obtenção final das peças seria o emprego de estufas de ar
forçado, afim de acelerar o processo de perda de líquidos, ao mesmo tempo em que
elimina o fator de clima ambiental e sua influência sobre o processo de secagem. O
emprego das estufas não prejudica em nada o processo. Apesar de não ser um fator
obrigatório, caso haja disponibilidade, o laboratório de Anatomia pode fazer uso, sem
ocasionar quaisquer influências sobre a morfologia final do espécime [15, 18, 19].
Referente à perda de peso, o valor médio padrão, de 60 a 70% de redução,
comparado ao peso da peça fresca, se dá por levantamento de trabalhos de conser-
vação de alimentos, incluindo carnes, em que a percentagem estimada de líquidos
é de 60 a 70 g para cada 100 g de produto [15, 20]. Assim, a expectativa de perda
total de até 70% no volume inicial se baseia no fundamento da porcentagem esti-
mada de líquidos na peça, mantendo-se somente a parte sólida.
34

De forma geral, as peças preparadas pelo processo de criodesidratação


apresentam morfologia preservada, sendo possível a identificacao das estru-
turas morfológicas tanto internas quanto externas, listadas em livros referên-
cia de anatomia, como Dyce, Sack e Wensing [21], e König e Liebich [22].
Ainda, sendo desenvolvida da forma descrita, há a inibição da ação de microor-
ganismos ou até contaminantes.
As peças finalizadas e mantidas a seco no laboratório apresentam dureza
(rigidez) e durabilidade, havendo relatos de peças de mais de 20 anos que
ainda apresentam todas as características anatômicas esperadas, e em uso

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didático com excelência, como alguns espécimes no laboratório de Anatomia
Animal da Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Jaboticabal.
Por eliminar o emprego de formol, a criopreservacao ainda oferece a vanta-
gem da redução de exposição a um composto carcinogênico. Há, também,
diversos grupos de pesquisa vinculados a laboratórios de anatomia, visando
busca por fixadores eficazes e com menor risco à saúde, como álcool etílico
em diferentes concentrações, solução hipersaturada de cloreto de sódio, entre
outros [10, 18, 19, 23, 24].
Assim, a criopreservação é uma técnica simples, barata, fácil de ser repli-
cada, e que proporciona o preparo de peças anatomicamente relevantes, e com
redução significativa de formol, o que oferece melhores condições de trabalho
bem como de saúde para as pessoas vinculadas ao laboratório de anatomia,
tornando o estudo e pesquisa em anatomia ainda mais eficiente e fascinante.

Conclusão

A criodesidratação é uma técnica para preservação de peças anatômicas


que permite a conservação da arquitetura morfologica das peças, e que pode
ser empregada para uma grande variedade de estruturas, incluindo órgãos,
cavitários ou parenquimatosos, secções inteiras ou reduções, como membros.
É uma técnica de fácil reprodução uma vez que não demanda procedimentos
elaborados ou requerer químicos caros ou de difícil obtenção, além de ser de
baixo custo. A técnica permite, ainda, a eliminação do formol para conserva-
ção, tornando o ambiente laboratorial muito mais confortável para acadêmicos
e profissionais, facilitando o estudo, ensino e pesquisa em anatomia.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer à Universidade Estaduais de Londrina


(UEL) e Universidade Estadual de Maringá (UEM), em especial, os labora-
tórios de anatomia animal.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 35

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corações, estômagos, rins, fígados e baços desidratados de suíno. In: XIV
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rins desidratados de bovinos. In: XIV Semana Acadêmica de Medicina
Veterinária e X Jornada Acadêmica de Medicina Veterinária. 2018. p. 31.

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Artmed; 2005. 121 p.

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Rio de Janeiro: Elsevier; 2019. 872 p.

[22] König H, Liebich H. Anatomia dos animais domésticos. 6th ed. Porto
Alegre: Artmed; 2019. 804 p.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 37

[23] Arruda AF, Christianini N, Martins LL, Mazzucatto BC. Montagem de cora-
ção criodesidratados de ovinos. In: XIV Semana Acadêmica de Medicina
Veterinária e X Jornada Acadêmica de Medicina Veterinária. 2018. p. 28.

[24] Batistior BS, Ramos NF, Martins LL, Mazzucatto BC. Montagem de
laringe,traquéia, brônquios e pulmões criodesidratados de ovinos. In:
XIV Semana Acadêmica de Medicina Veterinária e X Jornada Acadêmica
de Medicina Veterinária. 2018. p. 30.
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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

A importância da presença feminina nas ciências anatômicas.


Nesta obra em desenho, trago duas mulheres trabalhando no processo de
osteomontagem de um touro. Fiz esta obra em homenagem a todas as mulheres
que se dedicam à área científica, trabalhando com a anatomia e suas técnicas

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Autora: Karina Vanessa Lobo Matos


DESCRIÇÃO ANATÔMICA DOS
GRUPOS VERTEBRAIS DO MORCEGO
Phyllostomus hastatus (PALLAS,
1767) (Chiroptera, Phyllostomidae)
Amanda Cristiny da Silva Lima1
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Tatiara Barbosa Dias Lima2


Breno Campelo Lima3
Maria Claudene Barros4
Diego Carvalho Viana5

Introdução

A anatomia é um ramo do conhecimento que estuda a disposição,


a forma e a estrutura dos órgãos e tecidos que compõem os seres vivos
[1]. Já a anatomia animal tem como base o estudo macro e microscópico
do corpo, que irá auxiliar as análises descritivas de uma espécie ou para
comparação entre espécies que apresentem semelhanças morfológicas
[2]. Por meio do estudo da anatomia animal, é possível, por exemplo, a
observação do esqueleto de um ser vivo e assim identificar vários aspectos
de sua vida e hábitos [1].
As diferenças nas estruturas ósseas ocorrem para atender ao modo de
vida e hábitat aos quais os diversos animais precisam estar adaptados. Isso
significa que a estrutura óssea de um animal serve de apoio à musculatura,
relaciona-se aos movimentos (funções). Assim, modificações de conformação
na caixa torácica, no crânio, no comprimento do corpo e altura dos mem-
bros estão relacionadas a graus de potência para andar, correr, voar, nadar,
se defender, entre outros aspectos [1]. Da mesma maneira, os morcegos

1 Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (PPGCA), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),


CEP: 65.055-970, São Luís, MA.
2 Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (PPGCA), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),
CEP: 65.055-970, São Luís, MA.
3 Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (PPGCA), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),
CEP: 65.055-970, São Luís, MA.
4 Professora de Pós-Graduação do Programa em Ciencia Animal Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),
CEP: 65.055-970, São Luís, MA e do Programa de Mestrado em Biodiversidade, Ambiente e Saúde –
PPGBAS, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), CEP: 65.604-380, Caxias-MA.
5 Professor de Pós-Graduação do Programa em Ciencia Animal Universidade Estadual do Maranhão, CEP:
65.055-970, São Luís, MA. Autor correspondente: diego_carvalho_@hotmail.com
40

apresentam adaptações em seu sistema locomotor que os tornam um dos


grupos mais diversos dentre os mamíferos [3].
Os morcegos pertencem a ordem Chiroptera e constituem a segunda
maior ordem entre os mamíferos, atrás apenas do grupo dos roedores, com
um total de com 18 famílias, 202 gêneros e mais de 1.300 espécies descritas
[4]. Os morcegos são os únicos mamíferos com capacidade de voo verda-
deiro, que possuem especializações anatômicas que auxiliam na capacidade
de manobras durante o voo e para empoleirar-se nas árvores e demais subs-
tratos [5,6]. Como exemplo, os joelhos são voltados para trás possibilitando

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levantarem voo de cabeça para baixo, as falanges são extremamente longas, e
sustentam membranas finas e elásticas que permite o voo por longas distâncias.
Em contra partida, é devido à grande superfície das asas, que a desidratação
em morcegos é mais rápida do que outros animais de mesmo peso, sendo a
necessidade de água maior [7, 3].
Em suma, a história evolutiva dos morcegos é marcada por uma grande
radiação adaptativa, com implicações co-evolutivas surpreendentes entre
estratégias de voo e de forrageamento [8]. Assim, os morcegos apresentam
uma importância em comunidades neotropicais por ocuparem uma variedade
de nichos tróficos e apresentarem, muitas vezes, a maior riqueza e abundân-
cia de espécies de uma determinada área [9, 10]. Tal fato, qualifica o grupo
como um excelente modelo para estudos da evolução de estruturas complexas
associados as diferentes adaptações morfológicas [8].
Vários estudos já foram conduzidos na tentativa de compreender melhor
esse grupo tão diverso. Os estudos anatômicos em morcegos estão voltados,
principalmente, para identificação de espécies, por meio de medições de crâ-
nios, morfometria e morfologia [5, 3, 6, 11, 12, 13, 14]. Já os estudos mole-
culares em morcegos ganharam destaque nas últimas décadas na resolução
de conflitos taxonômicos, análise populacional e/ ou identificação de espécies
crípticas [15, 16, 17, 18, 19, 20, 21]. Muitas pesquisas também ganharam
destaque pela comprovação de doenças relacionadas a esses mamíferos. Entre
algumas doenças relacionadas ao morcegos, destaca-se até o momento: a
raiva [22], a síndrome respiratória aguda grave (SARS) [23, 24], a henipa-
virose [25, 26], a hantavirose [27], o ebola [28], as tripanossomíases [29,30]
e, mais recentemente, a síndrome respiratória aguda grave de coronavírus 2
(SARS-CoV-2) [31, 32].
Contudo, estudos anatômicos descritivos em morcegos ainda são bas-
tante escassos, e pouco se tem conhecimento de sua importância [33, 6, 3,
34]. Os estudos descritivos tornam-se uns dos primeiros passos para com-
preender como ocorre a evolução de diferentes estruturas morfológicas e
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 41

assim relacioná-las a comportamentos e a possíveis surgimentos de doenças


que acometem os morcegos. Desta forma, o objetivo desse trabalho foi rea-
lizar a descrição anatômica dos grupos vertebrais da espécie Phyllostomus
hastatus (Pallas, 1767) da família Phyllostomidae, para assim propiciar o
enriquecimento de estudos anatômicos descritivos em morcegos, os quais são
negligenciados quanto as principais diferenças anatômicas.

Material e métodos
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A coleta da espécie trabalhada neste estudo foi licenciada pelo ICM-


BIO/SISBIO sob protocolo nº 45398-1 e cedido para fins desta pesquisa.
Para análise dos grupos vertebrais, foi utilizada a técnica de preparação
osteológica de acordo com Rodrigues [35]. A nomenclatura dada nos resul-
tados foi retirada de Romer e Parson [36] e Gardner [6]. Antes do procedi-
mento, a espécie foi imersa em água corrente por três dias para relaxamento
dos músculos, uma vez que a mesma encontrava-se anteriormente em álcool
absoluto e já formalizado. O procedimento osteológico consiste basicamente
na retirada dos músculos, ligamentos, vasos e nervos, sendo conhecido
popularmente como escarnação do animal (Figura 1).
Com utilização de pinças e bisturis de 24 mm, o animal foi escarnado,
com bastante cuidado, para não tocar com o bisturi nas superfícies ósseas e
para não o desarticular (Figura 1-A). Devido a fragilidade da peça, o tempo de
escarnação foi de dois dias seguidos. Após a completa escarnação, realizou-se
a maceração, que tem por finalidade, a retirada dos tecidos que permaneceram
nos ossos. Esta maceração foi realizada com utilização de água corrente fria e
bisturi de 15mm (Figura 1-B,C). Posteriormente, foi realizado o clareamento
dos ossos, utilizando-se água oxigenada (peróxido de hidrogênio – H2O2) a
10 e 20 volumes, em solução concentrada (Figura 1-D). O tempo de imersão
foi de 2 horas. Ao término da exposição à solução, lavou-se bem a peça em
água corrente e a expôs ao sol por duas horas. Por fim, a peça foi montada para
exposição didática (Figura 1-E, F).
42

Figura 1 – Etapas da técnica de preparação osteológica na espécie


Phyllostomus hastatus. (A) Etapa de escarnação, (B) Início da etapa
de maceração, (C) Finalização da etapa de maceração, (D) Etapa de
clareamento dos ossos, (E) Peça pronta para exposição didática em vista
lateral, (F) Peça pronta para exposição didática em vista dorsal

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Resultados

Na espécie Phyllostomus hastatus, pôde-se observar que a coluna vertebral


articulava-se cranialmente ao osso occipital por meio das primeiras vértebras
cervicais (na região do pescoço). Ao total, foram contabilizadas sete vértebras
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 43

cervicais. Foi observado ainda, um processo espinhoso dorsal em todas as vérte-


bras cervicais, assim como um processo transverso denominado asas laterais. A
sétima vértebra cervical estava fundida a primeira vértebra torácica (Figura 2).

Figura 2 – Vértebras cervicais. (A) Vista dorsal evidenciando as sete vértebras


cervicais e processos espinhosos, (B) Vista ventral evidenciando as asas laterais
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As vértebras torácicas mostraram relativa inflexibilidade, sendo curtas


e arredondadas. Seu número estava de acordo com a quantidade de costelas,
consistindo assim 12 vértebras torácicas e 12 costelas em cada lado, sendo
sete pares de costelas verdadeiras, ligadas diretamente pelo processo xifoide,
três costelas falsas- pois se articulam indiretamente com esterno-, e dois pares
flutuantes, que são os dois últimos pares de costelas. Além disso, como ele-
mento esternais, pode-se observar a presença de um processo espinhoso entre
duas clavículas bem resistentes e fixas, denominado quilha (Figura 3).

Figura 3 – Vértebras torácicas. (A) Vista dorsal evidenciando as 12 vértebras


torácicas e processo espinhoso dorsal, (B) Vista lateral evidenciando costelas e quilha
localizada no esterno. O círculo no par de costelas XII destaca a ausência de uma das
mesmas que foi perdida de forma não intencional durante o processo de maceração
44

Posterior às vértebras torácicas, encontravam-se as vértebras lombares,


caracterizadas por formas robustas e bem desenvolvidas, processos transversos
e com um total de cinco vértebras. Em tais vértebras, pode-se observar ainda
um processo espinhoso dorsal que, comparado ao processo espinhoso das
vértebras torácicas, apresentara-se mais protuberante. As vértebras tóraco-
-lombares apresentavam-se curvadas, diferente do que é observado em outros
mamíferos. Após as lombares, observou-se uma junção ílio-sacral, onde as
vértebras sacrais totalizavam cinco vértebras fundidas, formando o sacro. A
espécie em estudo, apresenta cauda e notou-se a presença de cinco vértebras

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caudais, sendo as duas primeiras menores e arredondadas e as três últimas
mais alongadas e cilíndricas.

Discussão

Sob estudo comparativo, as vértebras apresentam características diag-


nósticas específicas para cada uma das classes dos vertebrados, sendo que os
mamíferos possuem vértebras com relativo achatamento, sendo denominadas
platicélicas [36]. A coluna vertebral da espécie em estudo foi representada
por regiões cervical, torácica, lombar, sacral e caudal, assim como para os
demais mamíferos como destacados pelos autores Romer e Parson [36]. De
acordo com esses, as vértebras torácicas estão ligadas as costelas, que chegam
a estabelecer contato com o esterno. As vértebras lombares, que situam-se
entre as torácicas e as sacrais, possuem relativa flexibilidade e as vértebras
caudais que podem apresentar uma grande variação em relação ao seu número,
o que estará relacionado ao tamanho da cauda [36].
Algumas adaptações morfológicas e anatômicas nos morcegos estão
diretamente relacionadas ao voo e são possíveis, principalmente, devido ao
esqueleto. Assim, Gardner [6] lista algumas adaptações para este grupo que
possibilita o voo, como a presença de asas suportadas principalmente por
um raio alongado e por metacarpos alongados e falanges de dígitos de II a
V. Outras adaptações incluem: o clareamento (delgada espessura) do crânio e
do esqueleto pós-cranial; redução da ulna; modificações da cintura escapular;
espessamento ou fusão de vértebras torácicas, costelas e elementos esternais;
desenvolvimento de uma quilha no esterno; e, em alguns táxons, fusão de
vértebras lombares anteriores e fusão da sétima vértebra cervical com a pri-
meira torácica [6].
Reis [3] destaca características anatômicas de forma generalista para os
morcegos da subordem Microchiroptera (grupo com maior número de famílias
de morcegos). Entre essas características, o autor destaca a importância das
vértebras tóraco-lombares da coluna, que curvaram-se para ampliar a caixa
torácica, esterno com crista para inserção de fortes músculos peitorais, costelas
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 45

ligadas parcialmente para tornar o tórax mais resistente, clavícula grossa e


bem fixada, vértebras cervicais torcidas, possibilitando a cabeça permanecer
levantada durante o voo e durante o repouso e pelve torcida.
Tais modificações foram possíveis identificar na espécie em estudo, sendo
que ao se referir aos grupos vertebrais, pode-se destacar as seguintes caracte-
rísticas: espessamento das vertebras torácicas, presença de quilha no esterno,
vértebras lombares bem definidas, fusão da sétima vértebra cervical com a
primeira torácica, vértebras cervicais torcidas, vértebras tóraco-lombares
curvadas para frente, cinco vértebras caudais.
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Segundo Ferrera et al. [37], vários aspectos da ecologia de animais sil-


vestres são encontrados na literatura, mas a maioria das características ana-
tômicas são descritas de forma generalista ou permanecem desconhecidas.
Da mesma forma, estudos descritivos quanto as diferenciações anatômicas
intraespecíficas para morcegos ainda são bastante escassas e a anatomia dos
mesmos é descrita de forma generalizada. Neste sentido, os dados obtidos
por meio de abordagens anatômicas, macro ou microscópicas, podem auxiliar
no conhecimento e na determinação de características espécie-específicas, ou
mesmo de subgrupos [38, 37].

Conclusão

Por meio deste estudo, foi possível averiguar o número de vértebras em


cada grupo da coluna vertebral da espécie Phyllostomus hastatus e assim
acrescentar informações a literatura. Diferentes estudos descritivos tornam-se
importantes na medida em que propiciam uma compreensão mais ampla da
estrutura corporal de um organismo, para assim entender sua funcionalidade e
como se relaciona com demais sistemas do corpo. Desta forma, essa descrição
contribui para uma abrangência no estudo anatômico em morcegos possibi-
litando futuras pesquisas entre diferentes sistemas de espécies de morcegos.
Contudo, mais estudos deste tipo são necessários para enriquecimento dos
estudos anatômicos em morcegos e assim compreender como ocorre evolu-
ções e adaptações de diferentes estruturas como no esqueleto desses animais.

Agradecimentos

Agradecemos pelo apoio financeiro e científico prestados pelas insti-


tuições: Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
46

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mar; 27: 291-296, doi: 10.4025/actascibiolsci.v27i3.1338.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Vista Profunda Posterior da Articulação do Joelho. A imagem representa a visão


profunda de um joelho direito, expondo, parcialmente, fêmur, tíbia e fíbula,
juntamente com algumas de suas cartilagens. Além disso, é possível observar os
meniscos lateral e medial, o tendão do músculo poplíteo seccionado e os ligamentos

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cruzado anterior, cruzado posterior, meniscofemoral posterior, colateral tibial e
colateral fibular. O desenho em lápis grafite, ressalta, ainda, os acidentes ósseos
femorais: face poplítea, fossa intercondilar, côndilos medial e lateral, epicôndilos
medial e lateral e tubérculo do adutor

Autor: Higor Sajnovisch Gouveia de Andrade


COLHEI TA DE MEDULA ÓSSEA
EM CÃES E GATOS:
a importância da anatomia
nesta aplicação prática
Adriano de Alvarenga Junior1
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Dilayla Abreu2
Caio Cavalcanti Balençuela3
Tatiana Epiphanio4
Renata Avancini Fernandes5
Maria Angélica Meglino6

Introdução à anatomia dos ossos

Os ossos que compõem o esqueleto de pequenos animais sustentam o


corpo, protegem vísceras e componentes do organismo (ex.: ossos do crânio,
vértebras, costelas) e, atuam de forma direta, na locomoção dos indivíduos
através da organização de um complexo sistema de alavancas em associação
com músculos, tendões e componentes articulares [1, 2, 4]. Cabe ainda aos
ossos, um papel importante na manutenção da homeostase de alguns minerais,
exercendo função de reserva de íons como o cálcio e o fosfato, os quais são
liberados de maneira controlada, quando necessário [1, 4].
De acordo com o critério topográfico, o esqueleto pode ser dividido
em esqueleto apendicular (membros) e o esqueleto axial que, por sua vez, é
definido em esqueleto cranial, que compreende as estruturas ósseas presen-
tes na cabeça e, pós-cranial, que engloba as estruturas da coluna vertebral,
esterno e costelas [1, 2]. Além de aspectos topográficos, os ossos podem ainda
ser classificados segundo o processo de ossificação que os origina (ossifica-
ção intramembranosa ou endocondral) e, em relação ao desenvolvimento

1 Graduando, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil; Autor
correspondente:dealvarenga.adriano@gmail.com.
2 Faculdade Alvorada da Saúde (Centro Educacional Anclivepa) / Diretoria e Coordenação da Medicina
Veterinária/ 03077000 São Paulo SP Brasil;
3 Graduando, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil;
4 Doutoranda, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade do Porto, 4050-313,
Porto, Portugal;
5 Professora de Morfologia, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil;
6 Department of Surgery, School of Veterinary Medicine and Animal Science (FMVZ-USP), University of São
Paulo-SP, 05508-270, São Paulo – SP, Brazil.
52

(ontogenia) em esqueleto visceral (originados a partir dos arcos faríngeos) e


somático (formados nas paredes corpóreas) [1].
Apesar da existência de diversos critérios de classificação óssea, um
dos mais conhecidos e comumente aplicados a fim de compreender a ciência
anatômica, refere-se à morfologia dos componentes ósseos [2, 3]. É possível
afirmar que existem quatro tipos básicos de classificação morfológica dos
ossos: ossos longos (possuem comprimento maior e costumam ser cilíndricos),
curtos (possuem dimensões relativamente regulares e geralmente organizam-se
em grupos), planos (são menos espessos e expandidos em duas direções) e

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irregulares (a forma desses ossos é pouco definida) [1].

Estrutura dos Ossos Longos

Na superfície externa de um osso longo, desenvolve-se o córtex, o qual


é composto por osso compacto e torna-se menos espesso na direção das epí-
fises ósseas. Essa superfície costuma apresentar aspecto liso, com exceção
das porções nas quais músculos e ligamentos se inserem [1].
Os ossos longos desenvolvem-se a partir de três centros principais
de ossificação, ao contrário dos ossos curtos (um único centro), planos e
irregulares (desenvolvimento irregular) [1]. As extremidades ósseas são
denominadas epífises e são compostas por osso esponjoso, enquanto a por-
ção central de cada osso é denominada diáfise, que abriga o canal medular.
Tanto o canal medular, quanto os espaços do osso esponjoso são preenchidos
pela medula óssea [1, 2, 3].
A medula óssea pode ser encontradas em duas formas distintas, jus-
tificando a classificação em medula óssea vermelha e amarela. Um tecido
bastante vascularizado de consistência gelatinosa e com função relacionada
à hematopoese compõe a medula óssea vermelha, amplamente encontrada
em animais jovens, que representa a totalidade da medula destes animais.
Ao longo da vida de um animal, a medula óssea vermelha é gradualmente
substituída pela medula óssea amarela, através de um processo de infiltração
de tecido adiposo, o qual torna a função hematopoiética reduzida [1, 2, 4].
Assim, esse órgão de importância ímpar é composto por tecido hematopoiético
rodeado de acúmulos de tecido adiposo, distribuídos por uma matriz de osso
esponjoso circundado por capilares e sinusoides [20].
As superfícies ósseas que se articulam com outros componentes são
revestidas pela cartilagem articular de natureza hialina, que se fixa ao córtex
do osso através da calcificação de suas porções mais próximas a este [1,
4]. Fundido à cartilagem articular, em torno da superfície externa de um
osso, encontra-se o periósteo, o qual consiste em uma membrana fibrosa com
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 53

potencial osteogênico, ou seja, atua na formação dos componentes ósseos e na


cicatrização de fraturas. A superfície interna também possui um revestimento,
denominado endósteo [1, 4].

Histologia e Fisiologia do Tecido Ósseo

Em relação aos aspectos histológicos, o tecido ósseo é considerado um


tipo especializado de tecido conjuntivo, composto por células e uma matriz
extracelular calcificada, denominada matriz óssea [4, 5, 6, 7]. A matriz extra-
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celular característica do tecido ósseo é impermeável, devido à deposição de


cálcio, fato este que impede a difusão de substâncias. Os componentes celula-
res desse tecido se dividem em dois grupos, os osteoblásticos e osteoclásticos,
de ação parcialmente antagônica e complementar [4, 5].
Cabe aos osteoblastos e osteócitos (linhagem osteoblástica), originados
a partir de células mesenquimais, a manutenção e síntese dos componentes
orgânicos da matriz da matriz óssea (ex.: proteoglicanos, glicoproteínas e
colágeno tipo I), respectivamente [1, 4, 5, 7]. Além das diferenças funcionais,
essas células situam-se em porções distintas: enquanto os osteócitos locali-
zam-se individualmente no interior de pequenas lacunas na matriz óssea, os
osteoblastos ocupam uma posição mais superficial, semelhante a disposição
ao endotélio de vasos sanguíneos. É importante reforçar que os osteoblastos
tornam-se osteócitos após sintetizar a matriz óssea, e são envolvidos pela
mesma dentro das lacunas. Entre os osteócitos, são identificados canalículos,
que permitem a comunicação entre células adjacentes, a fim de promover a
troca de íons e moléculas [4, 5].
Diferentemente dos osteoblastos e osteócitos, os osteoclastos relacionam-
-se ao processo de reabsorção óssea. Essas células são móveis, multinucleadas
e apresentam um tamanho consideravelmente grande, surgindo a partir da
fusão de monócitos. Essas células podem ser encontradas na superfície óssea,
e também em canais no interior do osso [4, 6, 7].
Conforme mencionado, os componentes ósseos de cães e gatos exercem
uma ação importante na homeostase de alguns íons. O principal íon associado
aos ossos, é o cálcio, haja vista que quase a totalidade das reservas de cálcio
estão presentes nessas estruturas. Assim, a manutenção da calcemia (níveis de
íons Ca2+ presentes no sangue) tem sua constância mantida através do fluxo
entre o plasma e os ossos, ou seja, ocorre a deposição de cálcio nos ossos
após a alimentação e liberação quando há redução da calcemia, seja por ação
do paratormônio ou por difusão. A porção mineral dos ossos atua ainda como
um mecanismo de tampão do pH sanguíneo [4, 6, 7].
54

Sistema Vascular

Introdução à Anatomia dos Vasos Sanguíneos

Compreende-se por vasos sanguíneos o conjunto de estruturas tubulares


dentro do qual o sangue circula em um organismo, composto por artérias,
veias e capilares [1, 2]. A distinção entre cada um dos tipos de vasos sanguí-
neos pode ser realizada através de uma análise morfológica e topográfica. As
artérias apresentam paredes mais espessas e rígidas, se localizando em locais

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menos expostos (ex.: face medial de um membro), enquanto as veias apresen-
tam paredes mais delgadas e válvulas endoteliais, a fim de evitar alterações
no fluxo sanguíneo [1, 2, 3]. Os capilares são os vasos sanguíneos de menor
calibre, os quais possibilitam a ocorrência de trocas de substâncias sendo a
porção final de artérias e inicial de veias [1].
Em cães e gatos, o sangue circulante passa no interior de vasos sanguí-
neos de calibres distintos, a fim de garantir a distribuição de nutrientes [1, 7].
De maneira geral, o sangue sai do coração em direção aos órgãos através de
artérias, que originam arteríolas e capilares, retornando ao coração através
de veias derivadas de vasos de calibre menor (capilares e vênulas). O per-
curso percorrido pelo sangue envolve um circuito duplo, que é dividido em
pequena e grande circulação, atuantes na oxigenação e distribuição do sangue,
respectivamente [1, 2].
O sangue venoso (com baixo teor de oxigênio) chega ao átrio direito
através das veias cavas cranial e caudal, fluindo para o ventrículo direito, de
onde parte em direção aos pulmões pela artéria pulmonar para sofrer hematose
(oxigenação), completando a pequena circulação [1]. O retorno do sangue ao
átrio esquerdo ocorre através das veias pulmonares, fluindo para o ventrículo
esquerdo, de onde atinge os demais órgãos a partir da aorta, a qual se ramifica
para suprir todos os tecidos irrigados. As ramificações da aorta atingem todos
os tecidos em níveis distintos, seja através de artérias, arteríolas ou capilares,
garantindo o suprimento adequado [1, 2, 3].
O pleno entendimento da topografia dos vasos sanguíneos, bem como
de suas relações é de fundamental importância para a compreensão do pro-
cedimento de coleta de medula óssea em cães e gatos, tendo em conta que os
vasos que irrigam um osso, consequentemente originando sua medula óssea,
partem de um mesmo local que diversos outros vasos e compartilham com
estes funções e percursos. Assim, o conhecimento anatômico possibilita enten-
der de maneira mais completa o procedimento executado, além de permitir a
previsão de eventuais desdobramentos da execução do mesmo, aumentando
potencialmente a acuidade da técnica e a segurança do paciente.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 55

Vascularização dos Ossos

Estima-se que 5 a 10% do débito cardíaco total seja direcionado para os


ossos [1]. Essas estruturas recebem uma ampla gama de vasos sanguíneos, que
realizam a nutrição e drenagem, dando origem à medula óssea e estabelecendo
uma relação com o processo de hematopoese [1, 4].
Em ossos longos, através de um forame, um pequeno orifício que atra-
vessa o córtex e a medula, chegando ao canal medular, as artérias nutrícias
penetram o cortéx de maneira oblíqua, juntamente com uma ou duas veias [1,
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20]. Os ossos planos são vascularizados por vasos de calibres variados que
penetram o osso através de forames de diferentes diâmetros [20].
A artéria nutrícia se ramifica em dois ramos que seguem trajetos opos-
tos de aspecto tortuoso, assim como as ramificações seguintes, em torno da
veia central do canal medular [1, 20]. A partir dos ramos da artéria nutrícia,
surgem ramos menores responsáveis que originam arteríolas e capilares [1].
As arteríolas sofrem anastomoses com sinusóides, que são responsáveis pela
drenagem através da conexão com vênulas, que por sua vez terminam na veia
central e esta nas veias nutrícias [20].

Hemocitopoese

Entende-se por hemocitopoese o processo que envolve a produção de


células sanguíneas, através de diversos estágios que englobam desde a reno-
vação até a maturação. A partir de determinada fase do desenvolvimento
embrionário, surge a medula óssea vermelha no interior dos ossos, iniciando a
ação hematopoiética desse componente [4, 20]. Dessa forma, ao longo de seu
período em atividade, a medula óssea vermelha origina eritrócitos, linfócitos,
plaquetas, granulócitos e monócitos a partir de células-tronco [4].
As células produzidas na medula óssea vermelha passam por diferentes
fases antes de migrar para a circulação sistêmica através do endotélio [4].
Assim, uma célula possui quatro estágios básicos de formação: renovação
(surgimento por divisão mitótica de outra célula), proliferação (divisão da
célula-filha), diferenciação (especialização da função) e maturação [4, 20].
A medula óssea vermelha, responsável pela produção das células san-
guíneas, é constituída por fibras colágenas tipo III e células reticulares, que
se dispõe em um arranjo de rede no qual passam os capilares oriundos do
endósteo, ocorrendo nesse espaço a formação das células sanguíneas [4, 20].
Os capilares que partem do endósteo originam uma veia central no canal
medular, através da qual o sangue passa à circulação sistêmica. São encontra-
das artérias na região da medula óssea nas porções mais próximas ao córtex
e ao endósteo [1, 4].
56

A atividade hematopoiética depende da proliferação de células-tronco


pluripotentes em células progenitoras multipotentes, que originam as célu-
las precursoras. As células precursoras possuem potencial de diferenciação
expressivamente inferior ao das células originais, uma vez que algumas
características morfofuncionais das células que serão originadas já podem
ser notadas [4]. Todo o processo de produção de novas células sanguíneas
não depende apenas da estabilidade do meio, mas também de fatores de cres-
cimento específicos (interleucinas, citocinas, entre outros), os quais regulam
o desenvolvimento de células imaturas e a atividade de células maduras, de

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modo a mediar a necessidade de renovação celular [4, 20].
É importante observar que o processo de hemocitopoese pode sofrer
influência de fatores externos ao microambiente e às substâncias envolvidas
na sua promoção e controle, existindo descrições de alterações associadas à
má nutrição, inflamações crônicas, agentes tóxicos, doenças neoplásicas e
restrição de alimentação [20].

Semiologia

Anatomia Topográfica dos Ossos Longos

Os ossos longos estão localizados nos membros pélvicos e torácicos


do cão e do gato. Para identificação dos mesmos, se faz necessário o estudo
topográfico dessas estruturas.
No membro torácico, o osso longo mais proximal é o úmero, que está
ligado à escápula pela articulação escápulo-umeral, na região do ombro,
podendo ser palpado na vista lateral do membro. De acordo com Konig [2] o
úmero compõe o braço, podendo ser localizado nesta região [2].
Após à articulação úmero-rádio-ulnar (cotovelo), ainda no membro torá-
cico, é possível localizar o osso rádio, considerado um osso longo, que junta-
mente com a ulna, constituem o antebraço. Nesta região, se encontra uma das
veias utilizadas para a coleta de sangue para análises laboratoriais, a cefálica.
Em suma, antebraço termina na região da articulação dos ossos do carpo [1, 2].
No membro pélvico, se encontra o maior osso do corpo, o fêmur, que
se inicia na articulação coxofemoral e se estende até a articulação do joelho
(femoro-tibio-patelar). Essa região pode ser localizada nas vistas cranial, cau-
dal, lateral e medial. Os principais vasos, como a artéria femoral, se localiza
na região medial [1, 2].
O osso longo mais distal do membro pélvico é a tíbia, que se inicia após a
articulação do joelho. Em pequenos animais, esse osso está localizado medial
à fíbula, terminando na região de ossos do tarso [1, 2].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 57

Figura 1 – Representação esquemática dos principais sítios de colheita de


medula óssea, sendo úmero (A), esterno (B), tíbia (C), fêmur (D) e ílio (E)
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Aplicações do Procedimento

Terapias em hematologia veterinária não se baseiam somente em tera-


pêuticas medicamentosas uma vez que as próprias células sanguíneas também
são utilizadas para o tratamento [9, 10].
Diversos procedimentos podem ser realizados através da colheita de san-
gue periférico oriundo da veia jugular, por exemplo. Em geral, estes métodos
possuem a finalidade de realizar a estratificação das células sanguíneas ou apli-
cação do sangue total em outro paciente, como na transfusão sanguínea [9, 10].
No tocante a medula óssea, caso haja necessidade, pode-se realizar o
transplante de medula óssea contendo células progenitoras, ou seja, ainda indi-
ferenciadas em hemáceas, leucócitos ou outros componentes sanguíneos [11].
Em humanos, terapias com células pluripotentes já são utilizadas para
tratar doenças como Parkinson, alterações da medula espinhal, diabetes e
cardiopatias [12, 13].
Na medicina veterinária, diversas áreas utilizam células-tronco (colhidas
na medula) para tratamentos, tais como: oftalmologia, cardiologia, neurologia,
nefrologia, ortopedia e outras [11]. Visto que essas células podem se diferen-
ciar em diversos tecidos, como tendões, pele, ossos, tecido hepático, renal e
outros, sua utilização se mostra eficaz [12].
Em resumo, esse tipo de colheita é indicado para análises laboratoriais,
principalmente, para alterações não aparentes no hemograma em que, de
acordo com Honse [14] e Diebold et al. [15], é especialmente em casos de
problemas persistentes em células ou componentes sanguíneos, hemoparasi-
toses, intoxicações, ou alterações proliferativas [14, 15].
58

Preparo e Contenção

Para a realização de procedimentos em medicina veterinária, se faz


necessária a utilização de contenção, podendo ser física ou química. A con-
tenção física, dependeno do caso, é realizada pelo veterinário, auxiliar ou
tutor. A técnica consiste na imobilização do paciente com diversos proto-
colos, sem utilização de nenhum fármaco. Mediante isso, o animal ficará
consciente e imóvel [19].
Em casos de procedimentos mais invasivos, se faz necessário à reali-

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zação de contenção química, que se baseia na aplicação de fármacos espe-
cíficos para que assim o animal se mantenha inconsciente. Para isso, é
necessário o emprego de anestésicos de grandes valia. Como requerimento
de anestesia, é preciso realizar jejum do paciente, de acordo com os proto-
colos anestésicos [16, 19].

Técnicas de Colheita

Deve ser realizado, preferencialmente, em decúbito lateral, deixando o


membro do osso escolhido de forma livre para a realização da coleta [17].
Inicialmente, é necessário apoiar a agulha na palma da mão de eleição, com o
dedo indicador a cerca de 4 cm do bisel. Já com a outra mão, deve-se segurar
e delimitar o local de introdução [17]. No local correto, deve-se introduzir,
de forma rotativa, a agulha no local escolhido, com o cotovelo imóvel, a fim
de evitar erros [17].
Ao atingir a medula, de acordo com Müller et al. [17], deve-se retirar o
mandril e acoplar um agulha de 10 ml com anticoagulante e puxar o êmbolo
de forma calma e lenta, colhendo, assim, o material desejado [17].
Ao término do procedimento, deve-se retirar a agulha na direção em
que a mesma foi introduzida e, por conseguinte, enviar o material colhido
para o laboratório para as análises desejadas [17].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 59

Figura 2 – Representação ilustrativa de coleta de medula óssea em fêmur, com


inserção inicial da agulha com mandril e subsequente acoplamento da seringa
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Figura 3 – Representação ilustrativa de coleta de medula óssea


em esterno, com inserção da agulha em esternebra

Material e métodos

Levando em consideração o papel fundamental desempenhado pela ana-


tomia no procedimento de colheita de medula óssea, desenvolveu-se um traba-
lho de levantamento bibliográfico a respeito dessa técnica, para que a aplicação
da ciência anatômica fosse comprovada. Assim, foram acessados trabalhos
científicos de diversas áreas com relação direta ou indireta ao procedimento
60

em questão, a fim de se obter informações a respeito da medula óssea em si,


das estruturas anatômicas envolvidas na técnica de obtenção das amostras
bem como dos aspectos relacionados à execução da coleta.
Portanto, a produção da presente revisão de literatura teve como objetivo
a correlação de técnicas de execução de um procedimento com os conheci-
mentos anatômicos, a fim de comprovar o impacto do entendimento da ana-
tomia na performance deste exame, utilizando como base artigos científicos
e produções literárias que versam sobre o tópico.

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Resultados e discussão

A presença da medula óssea em alguns ossos do esqueleto de cães e


gatos possui não só funções fisiológicas ligadas à hematopoese, mas também
à aplicações terapêuticas e diagnósticas, as quais se tornam possíveis através
da técnica de colheita da medula óssea. Dentro deste contexto, é evidente a
importância do conhecimento anatômico na realização da técnica de colheita
mencionada, a fim de promover a segurança do paciente durante a execução
do procedimento, evitar quaisquer complicações e garantir a obtenção de
análises fidedignas.
A distribuição da medula óssea pelo esqueleto não é uniforme além
de não se fazer presente em todos os ossos. Conforme descrito por Travlos
[20], a medula óssea se concentra em ossos longos, como o fêmur e o úmero,
contudo também pode ser encontrada em ossos irregulares e em alguns ossos
planos. Dessa forma, a compreensão dos ossos presentes em cada espécie
animal são determinantes na execução correta da técnica de coleta de medula
óssea, uma vez que previamente à realização do procedimento, a estrutura
óssea de interesse deve ser devidamente localizada através de referenciais
anatômicos, seja por meio de técnicas de inspeção ou de palpação, seguindo,
assim, o procedimento descrito por Raskin e Messick [21] e por Müller [17].
Além do entendimento da anatomia topográfica dos componentes ósseos
de um organismo, o procedimento em questão exige o domínio da morfologia
dos ossos com potencial de acesso. Deve-se haver o entendimento da região
onde a medula óssea se encontra em cada osso, observando variações entre
cada estrutura óssea, como no caso dos ossos longos em comparação com
alguns componentes do esqueleto axial, devido à conhecida presença do canal
medular nos primeiros [1, 2]. Conhecer a localização da medula em cada osso,
em associação com as estruturas que permeiam a medula em cada região de
acesso (ex.: nervos, vasos sanguíneos) permitirá o acesso com maior precisão,
evitando a ocorrência de complicações como lesões ao nervo isquiático em
coletas de amostras femorais que, apesar de raras, podem ocorrer, segundo
Raskin e Messick [21], apesar da exclusividade de relatos em seres humanos.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 61

Outra fundamental contribuição do conhecimento anatômico na reali-


zação da coleta de amostras de medula óssea está diretamente relacionada à
idade do paciente em questão. Conforme estabelecido por Travlos [20], os
sítios de coleta em animais adultos e jovens podem variar, sendo preferível a
coleta na crista ilíaca, esterno, úmero proximal, costela e fossa trocantérica
em animais adultos, haja vista o grau de substituição da medula óssea ver-
melha por medula óssea amarela uma vez que em animais mais velhos, tal
substituição é bastante avançada no canal medular do fêmur, por exemplo,
fato este que fica em acordo com o descrito por Dyce et al. [1] e Junqueira
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e Carneiro [4]. Logo, o entendimento do processo de infiltração de tecido


adiposo é inevitavelmente associado ao conhecimento anatômico, uma vez
que é imprescindível a correlação entre a progressão da transição, as regiões
de manutenção da medula óssea vermelha e suas respectivas referências ana-
tômicas para localização, viabilizando o acesso correto.
Sendo assim, torna-se evidente a necessidade de consolidação do conhe-
cimento relacionado à ciência anatômica para que a realização da coleta da
medula óssea seja realizada com maior segurança e exatidão, garantindo,
assim, a eleição da estrutura óssea correta bem como da região de acesso e
dos mecanismos envolvidos na técnica propriamente dita.

Conclusão

Em síntese, através do levantamento das principais técnicas empregadas


nos procedimentos de coleta de medula óssea, torna-se evidente a aplicação da
ciência anatômica na execução destes mediante a necessidade de compreensão
da estrutura dos ossos envolvidos e dos componentes adjacentes para que a
devida localização do sítio seja realizada. Além disso, a anatomia permeia
o desenvolvimento da coleta de medula óssea em aspectos relacionados à
avaliação do paciente, do planejamento do procedimento e da interpretação
de possíveis desdobramentos.
62

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indications, technique, and evaluation. Vet Clin North Am Small Anim
Pract. 2012; 42(1):23-42.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Torso humano dissecado e plastinado. Torso humano dissecado em diferentes planos:


superficial e profundo, evidenciando estruturas musculares, viscerais, ósseas e
encefálica, conservado pela técnica de plastinação com silicone. Espécime plastinado no
Laboratório de Plastinação da Ufes em exposição no Museu de Ciências da Vida (MCV)

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Autor: Yuri Favalessa Monteiro e Athelson Stefanon Bittencourt.


ANESTESIA LOCAL
EM PEQUENOS ANIMAIS:
a importância da anatomia
nesta aplicação prática
Adriano de Alvarenga Junior1
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Dilayla Abreu2
Caio Cavalcanti Balençuela3
Tatiana Epiphanio4
Renata Avancini Fernandes5
Maria Angélica Meglino6

Introdução

Contexto da Anestesia Local: Histórico

Os anestésicos locais são conhecidos há muitas décadas. O primeiro foi


isolado em 1860, através de folhas de Eurythroxylon coca, conhecida como
cocaína. Desde a descoberta, diversos estudos foram desenvolvidos para verifi-
cação de possíveis novos locais de utilização e novos fármacos, sendo os estudos
mais conhecidos os realizados no ano de 1884, por Sigmund Freud, que analisou
a funcionalidade da cocaína no sistema nervoso central (SNC) e por Karl Koller,
que introduziu a mesma na oftalmologia. Os estudos clínicos eram realizados
em animais para aplicação em humanos, porém, em medicina veterinária, não
eram comum até que em 1941, John George Wright realizou a publicação de
um livro exclusivamente dedicado à anestesia veterinária, que serviu de base
para os avanços da mesma. Após esse feito, diversos pesquisadores iniciaram
novos estudos com diferentes fármacos e espécies, avançando até os dias atuais
nos quais se realiza corriqueiramente a anestesia local como auxílio para pro-
cedimentos clínicos e cirúrgicos em medicina veterinária [1, 2, 3].
1 Graduando, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil; Autor correspondente:
dealvarenga.adriano@gmail.com.
2 Faculdade Alvorada da Saúde (Centro Educacional Anclivepa) / Diretoria e Coordenação da
MedicinaVeterinária/ 03077000 São Paulo – SP, Brasil;
3 Graduando, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil;
4 Doutoranda, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade do Porto, 4050-313,
Porto, Portugal;
5 Professora de Morfologia, Universidade São Judas Tadeu, 03166-000, São Paulo – SP, Brasil;
6 Department of Surgery, School of Veterinary Medicine and Animal Science (FMVZ-USP), University of São
Paulo-SP, 05508-270, São Paulo – SP, Brazil.
66

Dentro do presente contexto, o conhecimento anatômico possui papel


fundamental, haja vista as diversas aplicações deste no desenvolvimento de
técnicas anestésicas e aplicação correta das técnicas já conhecidas. A partir
do conhecimento de pontos anatômicos de referência, torna-se possível a
localização de estruturas alvo dos anestésicos locais e, além disso, os con-
ceitos relacionados à anatomia do sistema nervoso permitem não só a com-
preensão dos mecanismos de ação propriamente ditos que envolvem esses
fármacos, mas também uma informação de importância ímpar na interpretação
das repercussões sistêmicas de um protocolo, através do entendimento das

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relações entre as estruturas, em especial, as associadas aos nervos e demais
componentes nervosos.

Farmacologia dos Anestésicos Locais

Características Gerais: estrutura e propriedades físico-químicas

A capacidade de realizar um bloqueio da atividade nervosa de aspecto


reversível, apenas no local de aplicação mediante uso de concentração ideal,
é a principal característica dos anestésicos locais [1, 3]. É importante ressaltar
que esses fármacos não provocam alterações da consciência, promovendo
como efeito desejável a inibição da sensibilidade dolorosa de uma determinada
região, com implicações sistêmicas bastante reduzidas [3, 4].
A maior parte dos anestésicos locais utilizados em Medicina Veterinária
são substâncias quimicamente classificadas como bases fracas, justificando
a dificuldade de aplicação das mesmas em locais com pH mais ácido, como
nos casos de processos inflamatórios e infecciosos. Além dessa característica,
existem outras que determinam os efeitos anestésicos de cada fármaco, seja
em aspectos farmacocinéticos ou farmacodinâmicos [3, 9].
Para fins de classificação, os anestésicos locais podem ser subdivididos
em amidas (ex.: lidocaína, mepivacaína, bupivacaína, ropivacaína) ou ésteres
(ex.: procaína, tetracaína, cloroprocaína), de acordo com a composição de suas
cadeias intermediárias, que conectam os outros dois componentes básicos de
um anestésico local: um grupo aromático com propriedades lipofílicas e um
grupo amina hidrofílico [4, 5].
Segundo Spinosa et al. [1], um anestésico local desejável deve, teoricamente,
apresentar solubilidade em água, pH aproximadamente neutro, estrutura está-
vel, além de latência curta (porém suficiente para cirurgia), capacidade de
reversão rápida, ausência de propriedades irritantes ou tóxicas, eficiência
independente do tecido, compatibilidade com a epinefrina e não deve produzir
efeitos hiperalgésicos. Assim, de maneira geral, é possível entender que três
propriedades básicas de um anestésico local são levadas em consideração
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 67

durante a escolha do protocolo: potência (quanto mais lipossolúvel a droga,


mais potente é sua ação), velocidade de ação (quanto maior o grau de ioniza-
ção, menor a velocidade de ação) e duração da ação (quanto maior a afinidade
por proteínas, maior a duração da ação).

Farmacocinética e Mecanismo de Ação

Uma vez aplicado, o anestésico sofre uma ação tamponante desempe-


nhada pelos sistemas tampão teciduais, aumentando a concentração da forma
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não ionizada dessas substâncias a fim de viabilizar a penetração nos tecidos [1].


A absorção dessa classe de fármacos depende diretamente da irrigação san-
guínea da região de aplicação, uma vez que a partir da circulação, ocorre a
distribuição deste, existindo um mecanismo farmacológico limitante baseado
na aplicação de vasoconstritores [4].
Após aplicados, esses fármacos distribuem-se para os tecidos adiposo,
vascular, linfático e nervoso, ficando o último com uma porcentagem reduzida
do volume inicial [9]. Em decorrência do processo de absorção, os anesté-
sicos locais são então distribuídos para os tecidos e ligam-se às proteínas
plasmáticas [9]. Ao atingir as membranas dos nervos, esses fármacos sofrem
difusão mediante um gradiente de concentração, encontrando um ambiente
intracelular mais ácido, que provoca a ionização e consequente interação com
regiões dos canais de Na+, caracterizando o início da ação [1].
Uma observação importante refere-se à distribuição destas substâncias,
que tem início em órgãos com perfusão mais abundante e, depende do volume
aplicado [1,6]. Dessa forma, o conhecimento anatômico da região em que se
realiza o uso de um anestésico local é de importância fundamental para deter-
minar o grau de absorção e, portanto, os processos associados à ação do fár-
maco escolhido, haja vista que o entendimento da vascularização e inervação
de uma região, bem como dos componentes presentes nesta, culmina no pleno
entendimento dos desdobramentos da administração de um anestésico [9].
A velocidade da biotransformação de anestésicos locais está relacionada
a propriedades como lipossolubilidade e capacidade de ligação às proteínas
plasmáticas, dependendo, na maior parte dos fármacos, da ação enzimática
para realização da hidrólise, que ocorre em locais distintos de acordo com o
tipo de anestésico local empregado, sendo o fígado (amidas) e plasma (ésteres)
os locais mais recorrentes [1, 4, 5, 6].
A ação dessa classe de substâncias anestésicas se establece a partir da
ligação entre o fármaco ionizado e seus respectivos receptores em canais de
Na+ (sódio), resultando na interrupção no fluxo de íons de (Na+) através do
bloqueio da ação condutora dos canais. Uma vez que existem variações na
presença de receptores em cada fibra nervosa, bem como na sensibilidade
68

destas, é possível que um mesmo anestésico possua efeitos distintos em regiões


diferentes do corpo, existindo ainda uma relação entre a conformação do
canal e a ligação de cada substância anestésica. Com a alteração na atividade
dos canais iônicos, a frequência das ondas de despolarização é retardada a
fim de bloquear o desenvolvimento de potenciais de ação, levando ao efeito
anestésico por bloqueio da condução nervosa [6, 7, 9].
Os anestésicos locais costumam provocar um processo de aumento local
do fluxo sanguíneo através de uma paralisia vasomotora, que culmina na
ampliação na distribuição do fármaco pelo sistema circulatório, em associação

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com o fator lipossolubilidade [1].

Função da Anestesia Local e Principais Procedimentos

A anestesia local é empregada em diversas situações clínicas ou de emer-


gência em medicina veterinária. A mesma é utilizada em procedimentos em que
se faz necessário a intervenção que causaria dor ou desconforto no paciente.
Dentre esses, os mais recorrentes, de acordo com Massone et al. [3], são para
procedimentos realizados na pele: suturas e remoção de corpos estranhos,
excisões de pequenas e superficiais formações tumorais ou cistos, biópsias com
comprometimento subcutâneo. Além disso, pode ter indicação em algumas
situações de fraturas ou traumas; em procedimentos cirúrgicos dolorosos, pode
ter indicação para uso local no pós operatório, e também, em procedimentos
ambulatoriais como em sondagem uretral e cistocentese [12, 13, 28, 33].

Anatomia

Sistema Nervoso

Os cães e gatos possuem duas subdivisões anatômicas em seu sistema


nervoso: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico
(SNP). Essas divisões diferem em aspectos morfofuncionais e em relação
aos seus componentes, de modo que enquanto o cérebro, cerebelo, tronco
encefálico (ponte, mesencéfalo e bulbo) e medula espinhal compõe o SNC, os
nervos, gânglios e terminações nervosas compreendem o SNP [11, 12, 13]. É
importante ressaltar que, a comunicação entre o sistema nervoso e os demais
sistemas de um organismo, de maneira geral, ocorre através da conexão entre
o SNC e uma víscera pela ação do SNP [11].
O SNC possui estruturas ósseas com função protetora ao seu redor,
reduzindo, consideravelmente, os riscos de ocorrência de lesões mecânicas
[11]. No caso das estruturas componentes do encéfalo (cérebro, cerebelo
e tronco encefálico), os ossos que compõe o crânio são responsáveis pela
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 69

função protetora, enquanto a medula espinhal fica protegida pelas vértebras


ao longo de toda a sua extensão, até chegar à sua porção final denominada
cauda equina [11, 12].
Da mesma forma que o sistema nervoso possui divisões que facilitam seu
entendimento, o conjunto que inclui todos os nervos também possui subgrupos
determinados de acordo com a origem de cada nervo. Assim, são identificados
dois grandes grupos de nervos: os cranianos e os espinhais [12].
Os nervos cranianos são assim denominados devido a sua origem a partir
das estruturas encefálicas. Existem ao todo doze pares de nervos cranianos,
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que são numerados no sentido rostrocaudal de ocorrência, exercendo funções


ligadas aos componentes do arco faríngeo, órgãos dos sentidos e músculos
de origem somática [11]. Cada um desses nervos possuem ramificações que
inervam regiões específicas e, podem sofrer os efeitos de um anestésico local
de acordo com o protocolo anestésico adotado, evidenciando a importância
do profundo conhecimento anatômico da região onde será realizado o proce-
dimento, haja vista a proximidade das ramificações e as diferenças no efeito
final obtido no bloqueio de cada nervo [11, 12].
A origem de cada nervo espinhal segue um padrão ordenado, que é
determinado pela fórmula vertebral de cada espécie. A quantidade de nervos
espinhais supera a de nervos cranianos de maneira expressiva. A partir da
união de duas raízes que partem da medula (raízes dorsal e ventral), surgem os
nervos espinhais em uma região periférica ao gânglio da raiz dorsal, que deixa
a medula espinhal através dos forames vertebrais [11, 12, 13]. Esse padrão de
formação dos nervos espinhais conferem uma característica mista a estes, uma
vez que as fibras da raiz dorsal são aferentes (direcionam estímulos sensitivos
captados a partir de receptores periféricos em direção ao sistema nervoso
central) em praticamente sua totalidade. Já as fibras componentes da raiz
ventral apresentam apenas função eferente (encaminham impulsos motores
que partem do sistema nervoso central em direção aos órgãos efetores) [11].
Os nervos espinhais não permanecem na condição de mistos, divi-
dindo-se em um ramo dorsal e um ramo ventral. Os músculos inseridos na
região dorsal aos processos transversos das vértebras (epaxiais), bem como
a pele que recobre a região do dorso, são inervados pelo ramo dorsal ao
passo que os músculos dos membros torácico e pélvico, as porções da pele
não inervadas pelo ramo dorsal e os músculos localizados em posição ven-
tral aos processos transversos das vértebras (hipoaxiais) têm sua inervação
associada ao ramo ventral [11, 12].
Formam-se a partir dos nervos espinhais os plexos, que consistem em
complexos oriundos da ligação entre ramos adjacentes. A partir dos plexos
ventrais cujos componentes são responsáveis pela inervação dos membros,
surgem os plexos braquial e lombossacral. Os plexos braquial e lombossacral
70

inervam, respectivamente, os membros torácico e pélvico em que sua origem


forma duas intumescências (cervical e lombar) na medula espinhal [12, 13].
De forma análoga à aplicação do conhecimento anatômico relativo aos ner-
vos cranianos, a compreensão da morfologia e topografia dos nervos espinhais
permite um maior controle dos efeitos de anestésicos locais, de modo a viabi-
lizar a determinação das regiões que terão bloqueio da sensibilidade e função.
Ainda no contexto das técnicas de anestesia local, merecem destaque as
meninges. Estas estruturas são caracterizadas como três membranas conjunti-
vas que revestem o cérebro e a medula espinhal, possuindo características par-

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ticulares relacionadas às respectivas funções e topografia. A membrana mais
externa aparece fundida ao periósteo dos ossos e é denominada dura-máter,
que é seguida por um espaço denominado epidural, separando-a da aracnóide.
Após a aracnóide, localiza-se o espaço subaracnóide onde as projeções desta
meninge se localizam e atingem a pia-máter, a membrana mais interna e que
permanece em íntima relação com os órgãos. Algumas técnicas utilizam os
espaços entre as meninges para realizar a aplicação dos fármacos.

Sistema Vascular Sanguíneo

O sistema vascular sanguíneo compreende as artérias, veias e capilares,


ou seja, os vasos pelos quais o sangue circula no caso dos carnívoros domés-
ticos [11, 12]. Esse sistema de vasos possuem origem embrionária comum
com os demais componentes do sistema cardiovascular, porém as principais
veias e artérias possuem um desenvolvimento independente, de acordo com
a demanda funcional do organismo, que está relacionada ao crescimento ao
longo dos primeiros anos de vida [11].
A partir da atividade cardíaca, o sangue circula no interior dos vasos san-
guíneos, a fim de garantir a nutrição adequada de todos os tecidos irrigados,
bem como a remoção de metabólitos. Nesse sentido, é possível identificar
duas classes de sangue em pequenos animais: o sangue arterial, que possui
maiores concentrações de oxigênio e o sangue venoso, que costuma ser mais
rico em dióxido de carbono [12].
As artérias são compostas pelas túnicas interna (endotélio), média
(camada muscular bastante desenvolvida) e adventícia (tecido conjuntivo),
partindo de seu interior em direção à região periférica. Esses vasos possuem
uma camada de tecido conjuntivo elástico em sua túnica interna, que garante
maior elasticidade ao vaso. São identificadas ainda duas características mar-
cantes das artérias: a ausência de válvulas endoteliais e a maior pressão com
que o sangue circula no interior desses vasos, em comparação às veias [11,
12, 13]. É possível perceber que quase a totalidade das artérias originam-se a
partir do arco aórtico, que se forma após partir da saída da aorta do ventrículo
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 71

esquerdo em direção aos demais órgãos, ramificando-se em outras artérias,


arteríolas e capilares. Cabe às artérias, a distribuição de sangue arterial para
os tecidos, após o processo de hematose pulmonar [11, 12, 13].
Os capilares sanguíneos possuem uma estrutura bastante delgada, sendo
sua parede composta apenas pelo endotélio e uma camada conjuntiva externa.
Dessa forma, os capilares viabilizam as trocas de substâncias entre os tecidos
irrigados e o sangue circulante. Através do fluxo estabelecido nos capilares, a
nutrição tecidual adequada é viabilizada, bem como o processo de drenagem
venosa [9, 11, 12].
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Em comparação com as artérias, as veias apresentam uma parede mais


delgada, devido à reduzida presença de túnica média (camada muscular),
apesar de apresentarem estrutura histológica semelhante à identificada nas
artérias, excetuando-se pela presença de fibras elásticas no endotélio. Além
disso, os leitos venosos apresentam a formação de válvulas endoteliais, cuja
função está diretamente ligada à manutenção do fluxo sanguíneo, devido a
pressão sanguínea reduzida no interior desses vasos. O sangue circulante na
maior parte das veias é do tipo venoso, caracterizado pelas altas concentra-
ções de dióxido de carbono, de modo que esses vasos são responsáveis por
direcionar o sangue recebido pelos tecidos através das artérias para as veias
cavas cranial e caudal. Dessa forma, a partir dos capilares venosos, surgem
as vênulas (veias de menor calibre) e por fim, as diversas tributações de veias
que chegam de maneira direta ou indireta às veias cavas [11, 12].
As veias cavas encaminham o sangue pobre em oxigênio (devido ao
aproveitamento metabólico do oxigênio pelos tecidos) até o átrio direito,
iniciando o processo que culminará na oxigenação desse sangue, reiniciando
a circulação [11, 12].
A compreensão da comunicação estabelecida entre o sistema vascular
sanguíneo e as vísceras é de suma importância no contexto de aplicação de
anestésicos locais, em especial em protocolos intravenosos. O entendimento
dessa dinâmica associado a conhecimentos farmacológicos permite a previsão
da distribuição de uma determinada substância, bem como a dimensão de seu
impacto no organismo, a limitação de seus efeitos e a escolha assertiva do
local de administração, de acordo com os efeitos desejados e riscos.

Músculos

Os músculos descritos em cães e gatos, assim como em muitas outras


espécies animais, são responsáveis pela viabilização de movimentos, geração
de calor, estabilização de articulações e garantem a preservação da estrutura
visceral, além de estarem ligados ao peristaltismo e de mais atividades mus-
culares ligadas às vísceras [11, 12, 13].
72

De maneira geral, os músculos são constituídos por fibras revestidas por


tecido conjuntivo (endomísio) organizadas em um fascículo, que também é
recoberto por uma camada conjuntiva (perimísio). Em conjunto, os fascículos
originam os feixes musculares revestidos por tecido conjuntivo (epimísio),
formando cada um dos músculos. Apesar da semelhança na constituição, é pos-
sível reconhecer três tipos musculares, que variam em relação às suas funções
e morfologia das fibras [11, 12]. São eles: o tecido muscular estriado esquelé-
tico, o tecido muscular estriado cardíaco e o tecido muscular liso [9, 10, 11].
Existe uma série de possíveis variações na morfologia dos músculos,

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que determinam as principais características destes, como por exemplo: a
capacidade de encurtamento, a força exercida, o grau de deslocamento entre
outros. As diferentes arquiteturas musculares estão distribuídas pelo corpo
animal, respeitando as demandas funcionais de cada região [11, 12].
Cada região anatômica do corpo animal possui conjuntos específicos de
músculos. Assim, podemos entender que os músculos se organizam em quatro
regiões: tronco (músculo cutâneo do tronco, músculos da coluna vertebral,
músculos da parede torácica, músculos da parede abdominal e músculos da
pelve), cabeça e colo (musculatura trigêmea, musculatura facial, músculos
da faringe, palato mole, laringe, língua, da parte ventral do pescoço e extrín-
secos bulbo do olho), membro torácico (músculos do cíngulo e intrínsecos
do membro torácico) e membro pélvico (músculos do cíngulo e intrínsecos
do membro pélvico) [11].
No âmbito do uso de anestésicos locais, todos os componentes muscula-
res apresentam grande importância, porém os músculos esqueléticos possuem
grande importância prática, devido à sua topografia e vias de administração
utilizadas. Dessa forma, deve-se entender a distribuição dos diversos gru-
pos musculares, visando a realização de um protocolo anestésico seguro e
devidamente delimitado. Além disso, o conhecimento da anatomia muscular
permite a localização de componentes vasculares e nervosos associados aos
diversos conjuntos musculares, permitindo a realização de outras técnicas
anestésicas, mas também fornecendo informações acerca das especificidades
de cada região em relação ao efeito anestésico, suas proporções e aplicações.

Introdução à Neurofisiologia

Como mencionado, o sistema nervoso possui duas subdivisões: o sistema


nervoso central e o sistema nervoso periférico. Em vias gerais, enquanto o
primeiro atua no processamento de estímulos, o segundo está associado à
recepção, condução e transmissão destes. Assim, o sistema completo é res-
ponsável pelo controle da atividade de todas as funções corpóreas, através
das interações entre as células nervosas [9, 10, 11, 12].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 73

As células do sistema nervoso compreendem dois grupos: os neurônios e


as células da glia (células de Schwann, oligodendrócitos, células ependimárias,
micróglia e astrócitos). Existem diferenças funcionais entre estas células uma
vez que os neurônios atuam na geração de potenciais de ação e processamento
de estímulos e, as células da glia, na sustentação tecidual. Além da variação
funcional, existem distinções morfológicas entre esses dois tipos celulares,
sendo os neurônios compostos pelos corpos celulares, dendritos, axônios e
terminações nervosas [9, 10].
Existem regiões especializadas de contato interneuronal denominadas
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sinapses. Nesses pontos de conexão, ocorre a transmissão de sinais entre as


terminações de neurônios, seja pela via elétrica (sem o intermédio de neuro-
transmissores), ou química (com ação de neurotransmissores) [9]. No caso das
sinapses elétricas, ocorre uma conexão entre as membranas pré e pós-sinápticas
através de canais iônicos, ao passo que as sinapses químicas dependem da
liberação de neurotransmissores pelo neurônio pré-sináptico na fenda sináptica
(espaço entre dois neurônios comunicantes) com consequente interação com os
receptores específicos da membrana pós-sináptica. No caso dos neurotransmis-
sores envolvidos na sinapse química, após a interação e transmissão do impulso,
ocorre reaproveitamento pelas células nervosas ou ação enzimática [9, 10].
Assim, a partir de um estímulo captado por uma terminação nervosa,
ocorre a condução deste através de uma onda de despolarização, desde que o
potencial limiar seja atingido. A onda de despolarização consiste na inversão
temporária das cargas dos ambientes intra e extracelular ao longo dos axônios,
que ocorre através da abertura dos canais iônicos, permitindo o influxo de íons
e, consequente, a aproximação da polaridade intracelular a valores positivos
[10]. A condução dos estímulos ocorre de maneira mais ágil em axônios que
são envolvidos pela bainha de mielina, produzida pelas células de Schwann
(SNP) e oligodendrócitos (SNC). Essa propagação é denominada saltatória,
e depende da presença dos nós de Ranvier, que consistem em intervalos entre
a bainha de mielina originada por cada célula da glia [9].

Fisiopatologia da Dor

Por definição, dor, segundo o Dicionário Aurélio, é “sensação corporal


penosa, sendo classificada pelo seu tipo, intensidade, caráter e ocorrência”.
Traumas, procedimentos cirúrgicos e doenças causam dor, que consequen-
temente acarretam na diminuição da qualidade e expectativa de vida do
animal. Para o bloqueio correto da dor, se faz necessário a compreensão da
fisiopatologia da mesma [14].
A sensação de algia ocorre por detecção de estímulos pelo sistema ner-
voso periférico (SNP) que envia a informação ao SNC para o processamento
74

da mesma. Os componentes da dor, segundo Jericó et al. (2015) são: receptores


periféricos; mediadores químicos da dor; vias ascendentes; centros supraes-
pinais e vias descendentes [15].
A informação recebida pelas fibras nervosas é passada através de um
potencial gerado nos nociceptores. Dentro desse mecanismo, ocorre uma
ligação entre os estímulos presentes no ambiente e os canais iônicos. Esses
estímulos alteram a propriedade das membranas dos nervos realizando, assim,
a deflagração dos potenciais de ação [16].

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Anatomia Topográfica dos Principais Pontos de Aplicação dos
Anestésicos Locais

Em cada região anatômica, existem estruturas de particular interesse


na realização de protocolos de anestesia local. Para que o acesso seja feito
de maneira assertiva, existe uma necessidade de entendimento da anatomia
topográfica do local em questão a fim de viabilizar a localização de nervos,
vasos e estruturas adjacentes bem como a previsão dos efeitos de cada apli-
cação (Figura 1).
Dessa forma, para o bloqueio de lábio superior, nariz e cavidade nasal,
é necessário realizar a anestesia do nervo infraorbital, continuação do nervo
maxilar. No procedimento, a aplicação deve ser feita no canal infraorbital,
localizado aproximadamente na lateral entre o olho e a narina do animal [33].
Já no bloqueio da maxila e dentes superiores, o anestésico deve ser depositado
na região do nervo maxilar. A agulha deve ser introduzida na região ventral
do processo zigomático.
Para anestesiar a mandíbula e dentes inferiores, deve-se impedir a ação
do nervo mandibular localizado ventralmente ao globo ocular, com a aplicação
do fármaco na região rostral ao processo angular [33].
Nas extremidades dos membros, o anestésico tem que ser introduzido
na lateral do dígito, para o bloqueio do nervo digital [33]. Quando o intuito
for o bloqueio do cotovelo até a parte mais distal do membro torácico, se
faz necessário agir no plexo braquial. Para isso, a aplicação deve ser medial
ao ombro [33].
Para bloqueio do membro pélvico, pode-se utilizar técnicas de bloqueios
periféricos. A anestesia do nervo femoral irá impedir o impulso nervoso do
meio da diáfise do fêmur até as estruturas distais do membro. Esse nervo
é localizado na porção medial da coxa do cão e do gato. No caso do nervo
isquiático, o bloqueio deve ser realizado entre o trocânter maior e a tube-
rosidade isquiática, produzindo efeitos sobre estruturas da extremidade do
membro ao joelho [34].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 75

Para o bloqueio da região torácica, o nervo correspondente é o intercostal,


a aplicação deve ser feita na margem caudal da costela desejada, aproxima-
damente ao forame intervertebral [33].
Na técnica epidural, é necessário o conhecimento topográfico do osso
ílio, pois, é necessário encontrar a asa do ílio, localizada no dorso do animal,
entre o sacro, e realizar a palpação bilateral da mesma com o dedo polegar
e dedo médio em que na região de aplicação, estará o dedo indicador [33].

Figura 1 – Representação ilustrativa da anatomia topográfica


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relacionado com as principais regiões de técnicas

Material e métodos

Semiologia

Preparo e Contenção

Para a aplicação do anestésico local, é necessário a utilização de meios


de combate à microrganismos, para a segurança do paciente e do profissional.
O preparo do paciente com diversas técnicas é imprescindível a fim
de evitar possíveis infecções de patógenos. Entre essas, podemos ressaltar:
desinfecção dos materiais utilizados e, se possível, à esterilização dos mes-
mos; antissepsia, que se classifica como à remoção de microrganismos em
tecidos vivos, ou seja, no local de aplicação do fármaco; e a escolha da via
de administração, que dependerá de qual técnica será utilizada [17].
76

Com o intuito de evitar quaisquer erros ou acidentes, é estritamente


necessário a realização da contenção mecânica, com finalidade de restringir
os movimentos e, assim, realizar o procedimento desejado sem que haja riscos
de danos para o animal, o tutor e o médico veterinário. Para isso, é importante
conter o animal de forma calma e segura, visto que o mesmo pode entrar em
estado de estresse e atrapalhar o procedimento [18].

Vias de Administração

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Cada anestésico possui sua própria farmacocinética e, com isso, é neces-
sário compreender e ter o domínio das principais vias de administração. Na
via parenteral, a aplicação será através de vias intradérmica, subcutânea, intra-
muscular, intra-articular, intravenosa e intraperitoneal, principalmente. Já na
via enteral, a absorção será realizada pelo trato gastrointestinal do animal, e
os fármacos podem ser administrados através da via oral ou retal. Por fim, a
via tópica, cuja absorção será através dos tecidos da pele [19].

Anestesia Local: Tópica

A anestesia tópica, geralmente, é utilizada em situações onde há necessidade


de realização de procedimentos, porém, não se pode ou não é necessário a sedação
total do paciente. Os usos comuns são procedimentos exploratórios em olhos e
mucosas (nasais e bucais), e normalmente, o fármaco de eleição é a lidocaína em
concentrações de 4 a 10% ou em spray, porém outros fármacos como benzocaína,
tetracaína e procaína, por exemplo, também podem ser empregados [20, 21].
Existem alguns produtos que possuem anestésico tópico, porém sua fun-
ção principal não é promover a anestesia completa do local, e sim, reduzir
algum tipo de dor ao animal, como é o caso de alguns produtos tópicos para
orelhas, aplicados em casos de otites externas [20, 21].

Anestesia Local: Infiltrativa

Intradérmica

Essa técnica é utilizada na clínica médica humana e, atualmente, é inserida


na medicina veterinária, principalmente, na dermatologia veterinária, pois é
aplicada para retirada de nódulos, para incisões cutâneas de pequenos tamanhos
e para coleta de fragmentos cutâneos para realização de exames laboratoriais
[3, 22, 24] (Figura 2). Esse procedimento requer cuidados em sua aplicação,
pois em caso de análises laboratoriais, o anestésico não deve ser aplicado
diretamente no local da lesão, e sim ao redor do local a ser analisado [3, 22].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 77

Subcutânea

Entre as infiltrativas, esse tipo de anestesia local é o mais utilizado, pois


não há grandes dificuldades em sua realização [3, 24].
As principais indicações para realização desse procedimento são: exci-
sões tumorais, retirada de fragmentos cutâneos para estudos laboratoriais e
suturas gerais de pele [3, 22].
A técnica consiste na aplicação do fármaco no tecido subcutâneo através
de agulha estéril, sendo após a antissepsia do paciente, podendo ter seu método
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realizado de acordo com procedimento desejado, por exemplo, a realização


pode ser feita em formas geométricas (triângulos, quadrados ou retângulos)
para um bloqueio maior de uma região pretendida [3, 22, 23] (Figura 2).

Figura 2 – Representação ilustrativa em nível histológico da realização


da técnica anestésica infiltrativa subcutânea (A) e intradérmica (B)

Profunda

Existe pouca diferença entre essa técnica e a anterior. Basicamente, o que


as difere é que nessa a aplicação deve ser realizada de forma tridimensional,
ou seja, a introdução da agulha deve fazer um formato de “cone” [3, 22].
As principais indicações são em casos de excisão de linfonodos ou tumores
profundos, retirada de corpos estranhos em fístulas ou biópsias que necessitam
uma amostra do tecido conjuntivo [54].
78

Anestesia Local: Segmentar

Perineural

Ao redor do nervo, existe a região perineural, onde pode se realizar técnicas


anestésicas a fim de bloquear o impulso nervoso do nervo escolhido. A técnica
é conhecida como bloqueio perineural, e consiste na aplicação do fármaco no
perineuro. Esse procedimento costuma ser utilizado em membros (pélvicos e
torácicos) e em regiões de forames. As principais indicações são em casos de

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intervenção em membros em geral, suturas e excisões tumorais [3] (Figura 3).

Figura 3 – Representação ilustrativa em nível histológico da


realização da técnica anestésica segmentar perineural

Espinhal

Peridural

Esse procedimento se destaca quando comparado à anestesia geral, pois


reduz os riscos e complicações, além de poder ser empregado com maior
segurança em pacientes em estado graves e idosos. A técnica consiste na
aplicação do anestésico no canal espinhal, ao redor da meninge dura-máter,
realizando o bloqueio das raízes sensitivas e motoras. O pH do anestésico
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 79

deve ser neutro com o objetivo de evitar irritações locais, segundo Howell
et al. [26]. As principais indicações são em cirurgias obstétricas, intervenções
em reto ou em procedimentos ortopédicos, quando necessário [27] (Figura 4).

Subaracnóidea

Diferentemente da peridural, onde o anestésico é depositado ao redor da


meninge mais externa, nessa técnica o mesmo é depositado abaixo da meninge
aracnóide, entrando em contato com o líquor (líquido cefalorraquidiano) e
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bloqueando a ação das raízes sensitivas e motoras. Deve ser aplicado na região
entre as vértebras L1, L2, L3 e L4, para evitar bloqueios altos e comprome-
timento respiratório [3, 25] (Figura 4). Esse tipo de procedimento é reco-
mendado, principalmente, em casos de animais que precisam de intervenção
cirúrgica em alguma parte do corpo, porém, necessitam estar acordados ou
pacientes de alto risco anestésico. Não é recomendado em casos de choques,
alterações da coluna por anomalias congênitas ou alterações por idade, em
meningites, anemias ou hipovolemia [25, 58].

Figura 4 – Representação ilustrativa da realização da técnica


anestésica espinhal subaracnóidea (A) e peridural (B)

Anestesia Local: Intravenosa

A administração da anestesia intravenosa também é utilizada em peque-


nos animais e, realizando-a com segurança, se torna uma escolha eficaz,
80

principalmente, em membros pélvicos e torácicos [3]. Para a utilização dessa


técnica, é necessário o conhecimento da anatomia da região de aplicação.
A técnica consiste no garroteamento proximal do local de aplicaçã. Após
isso, deve-se realizar a administração do anestésico por via intravenosa, o
mesmo irá alcançar os tecidos proximais por via retrógrada, e atingirá toda
a área desejada por embebição, do garrote até a extremidade do membro [3].
É recomendado a permanência máxima do garrote no membro em até
uma hora a fim de evitar a necrose celular da região. Ao término do procedi-
mento, deve-se retirar o garrote lentamente para a não intoxicação do animal

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com o anestésico [3].

Anestesia Local: Intra-articular

A anestesia intra-articular é realizada através da aplicação do fármaco


na cápsula articular e, principalmente, tem intuito diagnóstico em grandes
animais [3].

Resultados e discussão

A realização de procedimentos cirúrgicos com o uso de anestésicos


locais possui importância expressiva na rotina médico-veterinária devido
aos reduzidos impactos sistêmicos acarretados pelos fármacos envolvidos
nos protocolos, dependendo diretamente da aplicação correta, seja em termos
farmacológicos ou anatômicos.
Uma ampla gama de técnicas cirúrgicas podem ser realizadas com o
uso de anestésicos locais, em especial, aquelas que envolvem o sistema tegu-
mentar ou até mesmo as que apresentam menor grau de invasividade. Atra-
vés do emprego dessa classe de anestésicos, é possível conferir ao paciente
maior conforto e analgesia durante o trans e pós-operatório, além do efeito
anestésico almejado, minimizando os riscos dos procedimentos associados
à anestesia geral e seus impactos sistêmicos.
É essencial que a técnica de aplicação de um protocolo utilizando os
anestésicos locais seja executada de maneira exata, haja vista as alterações
substanciais nos efeitos por estes provocados, em caso de alterações na con-
centração dos fármacos, volume utilizado, local de aplicação incorreto, entre
outros. Dessa forma, em associação com os conhecimentos farmacológicos
acerca dos anestésicos locais utilizados na rotina profissional, cabe aos profis-
sionais, a compreensão completa das estruturas anatômicas presentes na região
que será acessada cirurgicamente, de modo a permitir o bloqueio da condução
de impulsos nervosos nas estruturas corretas bem como a dessensibilização
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 81

apenas das estruturas e regiões necessárias, evitando, assim, efeitos adversos


e eventuais comprometimentos da função de componentes do organismo.
A importância do conhecimento anatômico aplicado à anestesia local é
evidenciada por uma série de trabalhos que apresentam as diferenças mar-
cantes no resultado obtido ao longo de um protocolo anestésico, devido à
aplicação dos fármacos em regiões distintas. Segundo Lopes e Gioso [29],
uma das técnicas utilizadas na odontologia veterinária é o bloqueio do nervo
infraorbitário em associação com o bloqueio do nervo alveolar superior a fim
de obter efeito anestésico da polpa dos dentes maxilares incisivos, canino,
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primeiro e segundo pré-molares, osso e tecidos moles adjacentes ipsilate-


rais, pálpebra inferior, lábio superior, porção lateral da narina. A aplicação
da respectiva técnica anestésica evidencia de maneira clara a importância
do entendimento da anatomia, haja vista que segundo Budras et al. [13], a
topografia dos nervos supracitados dispõe estes em íntima relação com a
artéria infraorbital, aumentando assim os riscos de aplicação intravascular
do anestésico, que pode culminar em distúrbios do ritmo cardíaco [29].
Além dos efeitos adversos já descritos, diretamente associados à inje-
ção intravenosa acidental, existem também outras complicações ligadas
a toxicidade dos anestésicos locais que possuem relação com o estudo
anatômico. Em casos de administração em regiões incorretas, a difusão e
ação dos fármacos podem ficar comprometidas, exigindo o uso de doses
superiores para obtenção do efeito almejado e, causando efeitos graves
[29, 30]. Conforme descrito por Teixeira et al. [31] e Mota et al. [32], o
uso de anestésicos locais na cirurgia oftálmica através das técnicas de blo-
queio retro e peribulbar provoca protrusão do globo ocular, que não ocorre
em caso de aplicação do anestésico na bainha do nervo óptico, que pode
desencadear um quadro de parada cardiorrespiratória ao invés do efeito
anestésico pretendido.
É essencial, ainda, garantir a eficácia de dessensibilização do compo-
nente nervoso correto através de testes específicos bem como a previsão
de possíveis efeitos conjuntas. Dessa forma, nota-se novamente a aplica-
ção da ciência anatômica no entendimento e execução de protocolos com
anestésicos locais, haja vista que o conhecimento da topografia dos nervos
e das respectivas estruturas que estão sob sua influência é determinante
no reconhecimento da ação de um anestésico e seus desdobramentos [29].
Através do bloqueio do nervo alveolar inferior, descrito por Lopes e Gioso
(2007), esse desdobramento é confirmado visto que já existe uma descrição
de traumatismo em lábios e língua por mordedura, devido ao bloqueio por
proximidade do nervo lingual.
82

Conclusão

O conhecimento anatômico é imprescindível para a prática da anestesia


local. Entender a correlação anatômica possibilita uma maior facilidade de
realização da técnica anestésica desejada, diminuindo a possibilidade de erros,
que podem ocorrer visto que a anestesia local é um procedimento corriqueiro
na clínica médica e cirúrgica de pequenos animais. Com isso, conclui-se que
o conhecimento anatômico das estruturas ósseas, musculares, articulares, vas-
culares e nervosas do organismo animal são imprescindíveis para a realização

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de procedimentos anestésicos locais, pois sua aplicabilidade é essencial para
um bom procedimento.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 83

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Janeiro: Editora Roca, 2017.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

As intervenções cirúrgicas e a importância do conhecimento anatômico regional.


Exemplo da importância do estudo anatômico. A imagem sugere uma compressão
da artéria maxilar entre o processo angular da mandíbula (ponto verde) e a bula
timpânica (ponto azul), que pode ocorrer no momento de intubação. O recorte da

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região em quadrado, logo abaixo, mostra a conformação anatômica quando a boca
do gato encontra-se fechada

Autora: Ana Carolina Pereira Pena.


Fonte de pesquisa: The Veterinary Journal – Volume 196, edição 3,
junho de 2013, Páginas 325-331: Evaluation of maxillary arterial blood
flow in anesthetized cats with the mouth closed and open.
ANGIOTÉCNICAS:
ampliando as possibilidades de
ensino e aprendizagem
Gustavo Marquezi Borges1
Lucas Victoy Guimarães Zengo2
Giulia Mohara Figueira Sampaio3
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Thaís Silva Peleteiro4


Rejane Nunes Lopes de Oliveira5

Introdução

Em tempos pretéritos, as técnicas anatômicas para conservação de peças


cadavéricas deixaram suas marcas históricas, acompanhando fatos relevantes
na interface com a humanidade nos campos da religião, da arte, da ciên-
cia, entre outros. Há mais de cinco mil anos até a época contemporânea, os
métodos de conservação tiveram objetivos diversos. Nesta linha temporal,
destacou-se o estudo anatômico com a utilização de conservação de cadáve-
res se tornando indispensável para o aprendizado significativo, contribuindo
para a melhora de habilidades aplicativas, assimilativas e compreensivas do
componente curricular de anatomia e seus desdobramentos.
As estruturas anatômicas podem ser evidenciadas através de diversas
técnicas, entre elas: angiotécnicas, osteotécnicas, neurotécnicas, esplanc-
notécnicas, modelagem, fixação, estesiotécnicas, diafanização, plastinação,
preservação e embalsamento. As Angiotécnicas, por sua vez, permitem a
injeção de substâncias no interior dos vasos (artérias, veias e linfáticos) para
fixação e evidenciação dos seus trajetos [1, 2].
As técnicas anatômicas buscavam conservar os cadáveres a partir
do emprego de diversas substâncias como gelatina, amido, cera, sebo de
boi as quais permitiam o preenchimento dos vasos e, consequentemente,

1 Discente de Medicina no Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz, 85806-095, Cascavel-Paraná, Brasil;
Autor correspondente: gmborges2@minha.fag.edu.br
2 Discente de Medicina no Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz, 85806-095, Cascavel-Paraná, Brasil;
3 Discente de Medicina na Universidade Estadual de Feira de Santana, 44036-900, Feira de Santana-
Bahia, Brasil;
4 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas, Instituto de
Ciências da Saúde, Universidade Federal da Bahia, 40.110.902, Salvador-Bahia, Brasil;
5 Docente de Anatomia Humana, Departamento de Biologia / Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ensino
de Ciências e Biologia (NUPEECBio), Universidade Estadual de Feira de Santana, 44036-900, Feira de
Santana-Bahia, Brasil.
88

aperfeiçoaram a sua visualização, evidenciando seus trajetos, além de faci-


litar a dissecção destas estruturas [1]. Com o passar do tempo, houveram
modificações nas técnicas de injeção e de corrosão, surgindo diversos proto-
colos para os variados passos. A relevância da utilização das angiotécnicas
permeia o campo do ensino, da pesquisa e da clínica das mais diversas áreas
do conhecimento [3]. A utilização desta técnica como metodologia ativa de
aprendizagem desperta nos estudantes, monitores, técnicos e professores uma
participação protagonista, aguçando habilidades e competências diversas. A
teoria cognitiva do Aprendizado Significativo de David Ausubel dialoga com

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a construção de mapas conceituais, cunhados por Joseph Novak, para facili-
tar a memorização de conteúdos amplos como o campo do saber anatômico.
Neste sentido, desenvolveu-se além da descrição da técnica, a demonstração
em mapas conceituais/mentais, desenhos ilustrativos e fotos destes conheci-
mentos, visando a multimodalidade de ferramentas de aprendizagem [4, 5, 6].
Neste capítulo, será apresentado um protocolo de angiotécnicas aplicados ao
estudo de rins, baseado na literatura e em experiências pessoais dos autores.

Material e métodos

A Angiotécnica realizada foi padronizada em forma de roteiro, baseado


na descrição realizada por Rueda-Esteban, López-Mccormick, Martínez, Her-
nánedz [3], complementada e aplicada em rins suínos, para facilitar o enten-
dimento da sequência dos procedimentos e como realizá-los. Os sete passos
básicos para a técnica, utilizando vinilite, foram: 1. Preparação; 2. Dissecção e
Identificação; 3. Isolamento e Canulação; 4. Injeção; 5. Solidificação; 6. Cor-
rosão; 7. Limpeza e Armazenamento.

Preparação

A preparação do espécime é essencial. Ao receber os rins suínos frescos,


observou-se que haviam cortes extensos em parte do órgão, além da secção
extensa dos componentes do hilo renal, que poderiam comprometer a técnica.
Em um primeiro momento, lavou-se os rins para retirar restos orgânicos e
sangue, tendo uma melhor visualização de suas estruturas. A utilização da peça
fresca é determinante para bons resultados, pois métodos de conservação e
fixação poderiam dificultar a aplicação da técnica.
Já a preparação do vinilite foi feita uma semana antes da injeção para
observar como ocorreria a sua diluição em acetona propanona (PA). Inicial-
mente, utilizando o mesmo recipiente da Acetona PA (1L), deixou-se somente
500mL no frasco e diluiu-se 500ml de vinilite por intermédio de um funil, em
uma proporção de aproximadamente 1:1. Os outros 500mL foram retirados e
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 89

guardados em outro recipiente, para posterior utilização. A homogeneização


da solução foi auxiliada por meio da agitação do recipiente, aliado ao uso de
um bastão de vidro para misturar a amostra.
Ao observar a diluição, foi analisada a consistência e a textura do vini-
lite. Com a diluição inicial de 1:1, notou-se um endurecimento significativo
da solução com uma textura incolor e presença de precipitados da substân-
cia, denotando uma diluição incompleta, que impediria completamente seu
manejo. Desse modo, acrescentou-se aproximadamente 500mL de Acetona
PA, previamente armazenada, para alcançar uma maior diluição, na propor-
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ção aproximada de 1:2 de Acetona PA. A coloração foi feita com tinta spray
automotiva nas cores vermelha e verde, sendo vermelha para a artéria renal
e verde para o ureter. Esta coloração da solução foi realizada imediatamente
antes da etapa de injeção.

Dissecção e Identificação

Após preparada a peça anatômica e a substância de injeção, seguiu-se


com a dissecção do rim suíno para a identificação das estruturas necessárias
para a técnica, que incluem a Artéria Renal, Veia Renal e Ureter. Para a dis-
secção, utilizaram-se as tesouras de Mayo, pinças anatômicas e bisturis, com
lâmina número 11. Inicialmente, retirou-se toda a gordura perirrenal e a fáscia
renal com auxílio das pinças anatômicas, tesouras e bisturi, para visualizar o
tecido renal. Imediatamente após esse procedimento, foi dissecado, cuidado-
samente, o hilo renal, com o uso da tesoura de Mayo e das pinças anatômicas,
separando a artéria, veia renal e ureter de anexos e dos tecidos gordurosos
adjacentes possibilitando, desse modo, a identificação das estruturas neces-
sárias para a execução da Angiotécnica. Neste processo, verificou-se que a
veia renal estava comprometida para uma boa aplicação devido aos cortes
observados anteriormente, não sendo viáveis neste caso.

Isolamento e Canulação

A visualização clara das estruturas de interesse, possibilitada no passo


anterior, é fundamental para executar a etapa de isolamento e canulação.
A canulação consiste em fixar um tubo em um vaso a fim de gerar uma via
seletiva de injeção, isolando-a. Para este fim, foram utilizadas sondas naso-
gástricas, cortadas proximalmente, inseridas em cada estrutura de interesse:
uma para a artéria renal e uma para o ureter. Após inserir o tubo, verificou-se
sua posição com a palpação digital, seguida de fixação destas com nós firmes,
utilizando barbante.
90

Injeção

Após a canulação, acoplou-se uma seringa plástica de 10mL na extremi-


dade externa de cada sonda, possibilitando a etapa de injeção da substância.
Porém, antes da injeção propriamente dita, realizou-se uma lavagem do interior
dos vasos e do interior da pelve renal com água, por meio da seringa, seguido de
esvaziamento do conteúdo pela mesma via, com a seringa já desacoplada. Para
facilitar o esvaziamento, aplicou-se uma pequena pressão na parte periférica do
rim em direção ao tubo, retirando resíduos que poderiam obstruir a passagem

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do vinilite. Nesta lavagem, foi possível observar a presença de extravasamen-
tos significativos, ocasionados pelos cortes citados na inspeção e preparação
da peça, sendo amenizada com tampões de papel aplicados contra estas áreas.
A injeção, propriamente dita, requer que a peça e a solução de injeção
estejam preparadas. Primeiramente, utilizou-se a tinta spray automotiva na cor
vermelha e verde, como citado anteriormente, em béqueres separados com vini-
lite, e misturou-se com um bastão de vidro promovendo a homogeneização do
vinilite na cor almejada. Em seguida, utilizamos as seringas para aplicar em cada
via, sendo o verde para a via do ureter e o vermelho para a via da artéria renal.
A pressão de injeção foi mantida constante, até o momento em que se sentiu
uma maior resistência contra o êmbolo da seringa. Neste ponto, aumentou-se,
levemente, a pressão de aplicação por alguns instantes, podendo-se notar peque-
nos sítios de cor avermelhada no córtex renal, indicando uma possível repleção
dos pequenos vasos e capilares. Após esta visualização, cessou-se a aplicação de
força na seringa, posteriormente desacoplando-a, e mantendo as sondas na artéria
renal e no ureter a fim de não interferir na forma e preenchimento do vinilite.

Solidificação

A solidificação ocorre com a consolidação e polimerização do vinilite,


tomando a forma do vaso e da cavidade onde houve a repleção. Para isso,
aguardou-se quarenta e oito horas, em refrigeração, para a total segurança da
conclusão deste processo.

Corrosão

Neste penúltimo passo, findada a solidificação, pode-se proceder com a


etapa de corrosão. Este processo permite a retirada da matéria orgânica, res-
tando somente o molde das vias preenchidas. Para a sua execução, utilizamos
uma solução de 500mL de ácido clorídrico (HCl) diluído em 1L de água, em
uma proporção de 1:2, onde ficaram imersos os rins suínos por quarenta e
oito horas, em recipiente devidamente fechado.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 91

Limpeza e Armazenamento

Por fim, concluída a corrosão, as peças foram limpas em água corrente,


permitindo a retirada total de detritos residuais. Nesta etapa, o molde pôde
ser finalmente visualizado, observando também a presença de irregularidades
resultantes do extravasamento da substância, que logo foram aparadas com o
uso de tesouras. Em seguida, o molde foi armazenado, possibilitando estudos
e análises em laboratório.
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Resultados e discussão

As Angiotécnicas são definidas como um conjunto de procedimentos que


consistem no preenchimento de substâncias no interior dos vasos (artérias, veias
e linfáticos) para a fixação e evidenciação de seus trajetos, como sistematizado
na Figura 1. Tais técnicas, além de possibilitarem uma compreensão aprofundada
acerca da morfologia das estruturas vasculares dos órgãos e tecidos, também são
responsáveis por garantir a conservação das peças anatômicas de forma eficaz
[7]. Foi possível perceber que, na revisão de literatura deste tema, a maior parte
dos artigos sobre Angiotécnicas foram encontrados através das denominações
dos passos técnicos. Diante disto, neste capítulo também sugerimos a utilização
das seguintes palavras-chave para pesquisa: “anatomia vascular”, “técnicas de
injeção e corrosão”, “corrosion casts”, “injection and corrosion”, “vascular
study”, através das plataformas de busca PubMed, Medline, entre outros.

Figura 1 – Mapa conceitual sobre Angiotécnicas


92

A variabilidade de métodos e técnicas para a visualização e o estudo


da vascularização é bastante ampla [3]. Seu uso pode ser rastreado nos anos
1600, quando Swammerdam, Boyle, Pecquet e Ruysch realizaram a técnica
generalizada pela primeira vez, com Swammerdam tendo a adoção geral da
técnica atribuída a ele [3].
No início, o processo de injeção e corrosão precisou ser realizado com
animais vivos (in vivo) para obter bons resultados, após a lavagem da amostra
com Ringer lactato, anticoagulação pre mortem do espécime ou a fixação da
amostra em formaldeído durante um certo período de tempo. Hoje, estas etapas

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são consideradas desnecessárias ou não éticas [3], pois a maior disponibilidade
de materiais e métodos permite a realização de Angiotécnicas, com resultados
excelentes, sem necessitar expor o espécime a estes processos in vivo, sendo a
injeção e corrosão utilizadas somente em espécimes post mortem, ou em órgãos
expelidos/retirados, como a placenta, com sua devida permissão para utilização.
As substâncias para a injeção, idealmente, necessitam de sete proprie-
dades, são elas: 1. Não tóxico; 2. Fisiologicamente inerte; 3. Polimerização
em período de tempo ajustável; 4. Não deve causar retração ou alterações
morfológicas aos tecidos durante a polimerização; 5. Não deve penetrar os
espaços intersticiais dos tecidos; 6. Viscosidade adequada para preencher
pequenos vasos e 7. Resistência à corrosão [8]. Entretanto, nenhum material
comercializado apresenta todas estas características simultaneamente, como
ressalta o mesmo autor. Além destas características, é necessário considerar
se a substância é de fácil aquisição, ter baixo custo e aplicabilidade acessível.
Neste sentido, utilizou-se neste capítulo descrições do látex e do vinilite, como
substâncias preferenciais para injeção.
Naturalmente, o látex é um material claro, semelhante ao leite e com
consistência cremosa, que consiste em proteínas, alcalóides, amidos, açúca-
res, óleos, taninos e resinas que coagulam com a exposição ao ar [9, 10]. Sua
diluição pode ser realizada em amônia para alcançar a consistência ideal, caso
necessário [1]. Contudo, estudos propõem a não diluição para não haver risco
de perda do poder de solidificação do látex [2]. Pode ser utilizada a frio e sua
solidificação se caracteriza por ser flexível, sendo extremamente adequada
para estudos do sistema circulatório [9]. Antes de realizar a injeção do látex,
deve-se agitá-lo para obter uma homogeneização completa da massa, seguido
de coloração com pigmentos, se desejado. Em caso de extravasamento do
látex na etapa de injeção, aconselha-se irrigar a área com ácido acético 5% ou
vinagre, possibilitando a coagulação do material, cessando o vazamento [1].
Já o vinilite, acetato de vinila, ou resina vinílica, é uma resina polimerizá-
vel de aspecto semelhante ao açúcar refinado [1]. Sua fórmula é CH3COOCH
= CH2, caracterizando um composto orgânico de aspecto incolor, que pode
ser polimerizado [10]. A diluição é realizada em acetona propanona (PA),
pelo menos vinte e quatro horas antes da repleção vascular. Esta substância
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 93

pode ser corada utilizando-se tinta spray automotiva de diversas cores [1].
Dos dois materiais de injeção citados acima, somente o vinilite é resistente
ao processo de corrosão, sendo, portanto, o látex apenas para a repleção
do sistema vascular, seguido de fixação (formol ou glicerina, por exemplo),
facilitando a dissecção. Neste contexto, optou-se pela utilização do vinilite
para a execução da angiotécnica uma vez que o estudo detalhado e isolado
da angioarquitetura é facilitado pelo processo de corrosão.
Para a realização da técnica apresentada, foram sistematizados sete
passos básicos, baseados na descrição realizada por Rueda-Esteban, Lópe-
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z-Mccormick, Martínez, Hernánedz [3], complementada e aplicada em rins


suínos, sendo eles: 1. Preparação; 2. Dissecção e Identificação; 3. Isolamento
e Canulação; 4. Injeção; 5. Solidificação; 6. Corrosão e 7. Limpeza e Arma-
zenamento. É relevante, do início ao final dos passos técnicos, a utilização
dos equipamentos de proteção individuais (EPI’s), seguindo as normas de
biossegurança do laboratório.

Figura 2 – Ilustração da angiotécnica em rim. A. Etapa de


Dissecção e Identificação do hilo renal. B. Etapa de Canulação e
Isolamento dos componentes do hilo renal. C. Etapa de Limpeza,
pós-corrosão. D. Angioarquitetura em técnica finalizada
94

A preparação da peça anatômica é essencial, sendo o primeiro passo a


ser realizado. As injeções em espécimes frescos se mostraram com um melhor
resultado uma vez que qualquer processo de fixação, como a fixação em forma-
lina, implica em um endurecimento e retração em tecidos vasculares que, por
sua vez, podem dificultar a execução dos procedimentos. É aconselhável uma
lavagem completa em água corrente, possibilitando a remoção de coágulos
e outros detritos, melhorando a visualização das estruturas de interesse [3].
Neste âmbito, os rins suínos frescos foram manuseados, sucedidos por sua
inspeção, na qual observou-se a presença de cortes extensos em partes dos

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órgãos, além da secção extensa dos componentes do hilo renal, que poderiam
comprometer a técnica. Em um primeiro momento, lavou-se os rins para a
retirada de restos orgânicos e sangue, permitindo uma melhor visualização
de suas estruturas.
Quanto à preparação da substância de injeção, o vinilite deve ser prepa-
rado com antecedência, pois necessita de ao menos vinte e quatro horas para
diluir em acetona PA [1], sendo a concentração recomendada de 12-13% de
vinilite em acetona [11]. Para a preparação da substância injetada em rins suí-
nos, procedeu-se com uma diluição de, aproximadamente, 500mL de vinilite
em 1L de acetona PA, em uma proporção equivalente a 1:2. A homogenei-
zação da solução foi realizada por meio da agitação do recipiente e mistura
da amostra. Notou-se que a diluição apresentava-se com uma viscosidade
levemente elevada, incolor e com rápida solidificação, quando exposta ao ar.
Em seguida, deve-se proceder com uma dissecção cuidadosa expondo,
identificando e isolando as estruturas vasculares de interesse das partes moles
adjacentes, mesmo que a técnica seja finalizada com a corrosão, que irá remo-
ver o material orgânico. É ideal, que nesta fase, os vasos sejam identificados,
cada artéria e veia uma vez que o material injetado irá percorrer este tecido
em sua extensão e direção. Para facilitar a identificação, pode-se lançar mão
da coloração seletiva das estruturas, sendo vermelho para artérias e azul para
veias, por exemplo. Neste intuito, realizou-se a dissecção de modo a identifi-
car, de forma clara, a artéria renal, veia renal e ureter. Observou-se que a veia
renal estava extensamente comprometida em ambos os rins, impossibilitando o
estabelecimento de sua via de injeção através do hilo renal. Isto posto, apenas
as artérias renais e ureter foram manipulados.
Sendo o espécime, adequadamente, preparado e dissecado, é recomen-
dado que se isole a estrutura vascular de interesse em que, para este fim,
pode-se utilizar a canulação. A canulação permite cateterizar o vaso indivi-
dualmente, e inclusive seus próprios ramos de maneira específica. Para este
intuito, dispõe-se de variadas estruturas tubulares, incluindo cânulas, tubos
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 95

intravenosos, cateteres, tubos torácicos, sondas nasogástricas e cateter urinário


de Foley [12, 13]. O cateter de Foley apresenta vantagens por estarem dispo-
níveis em diversos tamanhos, variando de 8F a 32F, sendo o cateter pediátrico
(8F) ideal para pequenos vasos; além disso, apresenta um balão que pode ser
útil na prevenção de retorno do material durante a injeção [13]. Optou-se pelo
uso de sondas nasogástricas para a canulação da artéria renal e ureter, devido
a sua fácil aquisição no local onde foi realizada a técnica, além de apresentar
um calibre adequado para a sua inserção no interior das estruturas citadas.
Antes da aplicação da Angiotécnica, indica-se considerar, primeiramente, o
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diâmetro do vaso que será cateterizado, auxiliando, posteriormente, na escolha


correta e adequada do tipo e tamanho do instrumental de canulação.
Após a inserção do tubo, é recomendado sua fixação, de modo a impe-
dir sua movimentação e deslocamento, que poderia comprometer a técnica.
A fixação pode ser realizada por meio de nós firmes com barbante ou sutura,
no local de inserção do tubo, indicando-se verificar a posição do mesmo
com a palpação digital, quando possível. Para fixar as estruturas tubulares
em suas vias, empregou-se o uso de barbantes, pois são de fácil obtenção,
assim como permitem uma estabilidade adequada, impedindo alterações
em sua posição. Rueda-Esteban, López-Mccormick, Martínez, Hernánedz
[3] descrevem um “corte em cunha” para adaptar tubos com diâmetros
maiores do que o vaso a ser injetado, além de sugestões de um padrão de
sutura para a fixação da cânula.
O processo de injeção requer tanto que a peça anatômica esteja prepa-
rada e isolada, quanto à substância de injeção pronta para uso. Para a injeção,
utilizam-se seringas, preferencialmente de plástico, que possam comportar
uma quantidade adequada para a estrutura de escolha. Neste contexto, foram
utilizadas, para a angiotécnica descrita, seringas plásticas de 10mL, conforme
demonstrado pela Figura 2.
Antes da injeção propriamente dita, é realizada uma lavagem do interior
dos vasos. A lavagem permite a limpeza de possíveis obstáculos, como coágu-
los, que podem ocluir e impedir o fluxo da substância a ser injetada [14]. Pode
ser feita aplicando água, solução salina ou Ringer, por exemplo, no interior
dos vasos. Em seguida, caso a estrutura orgânica seja de pequenas dimensões
e facilmente manipulável, faz-se uma leve massagem na periferia do órgão
em direção à cânula, eliminando estes possíveis obstáculos [1]. Além disso,
é importante observar a presença de vazamentos já neste processo e, caso
ocorram ligam-se, pinçando, amarrando ou tamponando, os vasos rompidos.
Verificada a ausência de vazamentos significativos, pode-se realizar a injeção
do vinilite ou látex. Na limpeza das vias da artéria renal e ureter, utilizou-se
96

água para este procedimento, que permitiu a eliminação de coágulos e detri-


tos, além da presença de vazamentos significativos, ocasionados pelos cortes
citados na inspeção e preparação da peça, sendo amenizada com tampões de
papel aplicados contra estas áreas.
A solidificação da substância deve ser aguardada para que seja possí-
vel a dissecção e/ou corrosão, sendo imperativo o devido armazenamento
do material orgânico. Pode-se manter o espécime imerso em água e/ou em
refrigeração durante o processo. Para o látex, é recomendado um período
de vinte e quatro horas para garantir total segurança de sua solidificação e

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possibilidade de finalizar e seguir com a dissecação da peça [2]. Quanto ao
vinilite utilizado na técnica, aguardou-se quarenta e oito horas para a sua
solidificação completa e segura, possibilitando seguir para a corrosão.
O processo de corrosão permite retirar a matéria orgânica, evidenciando
a arquitetura formada pela substância solidificada previamente, como pode
ser visualizado na Figura 2. A substância mais viável e utilizada para este
fim, é o ácido clorídrico [1]. Desse modo, foi utilizada uma solução de ácido
clorídrico (HCl 50%), cuja a peça anatômica ficou imersa por vinte e quatro
horas. Deve-se ressaltar que, neste processo, é necessário o uso correto dos
EPI’s para proteção de membros superiores, tronco, membros inferiores e vias
aéreas, devido ao risco de lesões pela solução ácida e seus gases.
Por fim, terminado o processo de corrosão, pôde-se observar a matéria
orgânica se desmanchando, permanecendo somente o molde sólido da arqui-
tetura vascular. A peça foi, então, lavada em água corrente por três horas
para a total retirada de matéria remanescente. Notou-se a presença de peque-
nas irregularidades no molde, formadas pelo extravasamento da substância
injetada, que foram aparadas com a utilização de tesouras. Feito a limpeza,
o molde estava pronto para ser secado e armazenado em laboratório, como
demonstrado na Figura 4.
O embasamento teórico sobre as estruturas anatômicas que serão elucida-
das pelas angiotécnicas são de grande relevância, estabelecendo um feedback
positivo entre as variadas formas de aprendizagem. O conteúdo anatômico é
essencial para o desenvolvimento das etapas de realização da técnica, assim
como, agrega-se conhecimento neste campo do saber ao se confeccionar as
peças. Para exemplificar a relação do conteúdo teórico e a execução da angio-
técnica, descreve-se a seguir alguns aspectos anatômicos envolvidos na téc-
nica selecionada, sintetizado em um mapa conceitual, seguido de fotografias.
Cabe ressaltar, que a descrição feita a seguir é pertinente a anatomia humana,
apesar de a angiotécnica ter sido realizada em rins suínos, considerando as
semelhanças morfométricas de ambos os espécimes.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 97

Figura 3 – Mapa conceitual sobre anatomia renal


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Os rins são estruturas com peso médio aproximado de 150g e dimen-


sões de 11cm de comprimento, 6cm de largura e 3cm de dimensão ante-
roposterior, localizados posteriormente ao peritônio parietal posterior, no
nível da 12ª vértebra torácica à 3ª vértebra lombar. Na margem medial
côncava renal, se encontra o hilo, estrutura que conduz ao seio renal e é
preenchido pela pelve renal, vasos sanguíneos e gordura adjacente, como
ilustrado na Figura 2. A ordem das estruturas no hilo da mais anterior para
a posterior é veia renal, artéria renal e pelve renal. As artérias renais são
ramos da aorta abdominal, sendo a artéria renal direita maior em compri-
mento que a esquerda e realiza um trajeto posterior à veia cava inferior.
Essas artérias recebem uma importante parcela do débito cardíaco e, pró-
ximo ao hilo renal, se dividem em um ramo anterior e outro posterior. Sendo
que o ramo anterior emite as artérias segmentares: apical, superior, média e
inferior; e o ramo posterior, a artéria do segmento posterior. É importante
ressaltar que uma parcela considerável da população pode apresentar uma
artéria renal acessória, ramo da aorta [16, 17].
As artérias segmentares dão origem a ramos lobares e estes a artéria
interlobares localizadas na proximidade das pirâmides renais. As artérias
arqueadas são geradas pelas interlobares e se dicotomizam em ramos inter-
lobulares, sendo estas responsáveis por realizar um percurso ascendente em
98

direção ao córtex renal. As arteríolas glomerulares aferentes e eferentes se


originaram dos ramos laterais das artérias interlobulares [16, 17].
Os plexos peritubulares convergem para as veias interlobulares que reali-
zam seu percurso para as zonas mais superficiais recebendo vasos retos ascen-
dentes, passando a serem denominadas veias arqueadas. Estas acompanham as
artérias de mesmo nome e drenam para as veias interlobares, que se anastomo-
sam e dão origem às veias renais, como sintetizado na Figura 3. As veias renais
drenam diretamente para a veia cava inferior, destacando-se que a veia renal
esquerda possui um comprimento maior que a direita, e realiza um percurso

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anterior à aorta, além de receber a drenagem da veia gonadal esquerda [16, 17].

Figura 4 – Angioarquitetura de rins suínos. A. Visualização da artéria renal e


seus ramos (em vermelho), após a corrosão. B. Distribuição dos vasos renais,
relacionados à pelve renal (em verde), em peça finalizada. C. Molde contendo
artéria renal e pelve renal, após a corrosão. Fotos cedidas por G. M, Borges

As angiotécnicas extrapolam o contexto de ensino e pesquisa em anato-


mia, tornando possível a sua aplicação clínica através da injeção de substân-
cias radiopacas nos vasos sanguíneos, para posterior estudo radiográfico de
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 99

diversas patologias bem como o entendimento dos seus mecanismos fisiopa-


tológicos. Sob essa ótica, a angiografia consiste em um método radiológico
caracterizado por possibilitar a visualização e estudo dos vasos. Nesse sentido,
um contraste radiopaco é injetado no lúmen de artérias, ou veias, através da
realização de uma punção e inserção de cateter, que será direcionado para o
vaso a ser estudado [18].
Desse modo, a aplicação e prática das angiotécnicas podem auxiliar, além
do estudo anatômico, o entendimento e treinamento em exames vasculares,
posteriormente praticados por profissionais da área da saúde. Além disso,
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aliado a mapas mentais, desenhos e roteiros, a fixação dos conceitos teóricos


e práticos adquirem maior relevância no ensino e aprendizado.

Conclusão

As Angiotécnicas agregam diversas possibilidades de ampliação do


conhecimento anatômico, aguçando as percepções sensoriais, auxiliando a
sedimentação de conhecimentos prévios, além de possibilitar a observação
facilitada das estruturas vasculares. A utilização destas técnicas extrapolam
as grandes contribuições no ensino e aprendizagem de Anatomia e disciplinas
correlatas nos cursos de Saúde nas Instituições de Ensino Superior, favore-
cendo também as oportunidades de ensinagem na interface com a comunidade,
quer seja em escolas ou museus. Desse modo, as angiotécnicas se configuram
como uma grande aliada para estudos detalhados da anatomia vascular, pois
permite a visualização do sistema circulatório de uma maneira clara e singular,
explorando a anatomia dos vasos sanguíneos de diversos tamanhos e calibres,
incluindo capilares. A execução e a organização da técnica, utilizando o vini-
lite seguido de corrosão, em sete passos, facilitou de maneira significativa, a
compreensão do processo de modo que cada etapa foi planejada e realizada
de forma sequencial. Aliado a isto, a montagem de mapas conceituais e a
confecção de ilustrações permitiram sistematizar a vascularização renal e
consolidar a compreensão da aplicação prática das angiotécnicas.
100

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de angiografia: Série manuais da UNICAMP. 2. ed. Campinas: [publisher
unknown]; 2011. 36 p.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Mão translúcida. Modelo anatômico confeccionado em resina acrílica transparente.


Os ossos foram moldados em silicone de artesanato e preenchidos com resina acrílica
cristal e montado osso a osso

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Autor(a): Ubiratan Contreira Padilha.


RECEBI UM CADÁVER, E AGORA?
Mary Anne Pasta de Amorim1
Ana Lupe Motta Studzinski2
Thainá Sarah Dematé3
Bruna Tamara Suzane Paganelli4

Introdução
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A anatomia humana é a ciência que estuda o corpo humano a fim de


entender sua morfologia e suas funções. Nas aulas práticas de anatomia
humana, as instituições contam com cadáveres e peças anatômicas bem como
modelos artificiais para promover o ensino aos alunos de modo que se torne
mais fácil assimilar as diversas estruturas anatômicas e possíveis alterações
que podem ser encontradas [1, 2].
Para que as práticas de anatomia sejam realizadas, o cadáver do Labo-
ratório de Anatomia Humana precisa passar por uma série de procedimentos
até poder ser disponibilizado para o ensino uma vez que muitos alunos e pro-
fessores, quando chegam para as aulas, já se deparam com peças e cadáveres
previamente preparados, dissecados e desmembrados, com vísceras isoladas.
Contudo, ambos os públicos desconhecem todos os processos que estes já
passaram para chegar ao estudo.
Objetivamos com este trabalho descrever os procedimentos a serem
adotados para realizar a fixação de cadáver recebido em laboratório de ana-
tomia humana, procurando elencar as etapas e necessidades para a realização
destes. O presente trabalho caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva de
natureza qualitativa com procedimento de relato de experiência de vivência
em laboratório de anatomia.

1 Licenciada em Ciências Biológicas, Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática, Departamento de


Ciências Naturais/ Laboratório de Anatomia, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 89030-903,
Blumenau-Santa Catarina, Brasil; Autor correspondente: amorim@furb.br
2 Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas, Doutora em Ciências Fisiológicas. Curso de Medicina,
Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA Campus Uruguaiana, 97500-970, Uruguaiana- Rio Grande
do Sul, Brasil;
3 Graduanda em Biomedicina, Departamento de Ciências Naturais/ Laboratório de Anatomia, Universidade
Regional de Blumenau – FURB, 89030-903, Blumenau-Santa Catarina, Brasil;
4 Graduanda em Medicina, Graduada em Farmácia, Departamento de Ciências Naturais/ Laboratório de
Anatomia, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 89030-903, Blumenau-Santa Catarina, Brasil.
104

Material e métodos

Para a preparação do cadáver a ser fixado é necessário dispor dos seguin-


tes materiais:
- Para higienização: regadores com água, esponja, sabão líquido ou
em barra, hipoclorito de sódio, panos de gaze, papel toalha e saco de lixo
representados na Figura 1.

Figura 1 – Materiais para higienização

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- Para tricotomia: navalha, cortador elétrico ou lâmina de barbear. Na
ausência destes componentes, pode ser utilizada lâmina de bisturi acoplada
ao cabo de bisturi, conforme Figura 2.

Figura 2 – Materiais para tricotomia

- Para fixação: tambor suspenso graduado ou bomba de injeção, para


quem tiver, equipo de soro, regador com água, formol comercial, proveta gra-
duada, agulhas de injeção de 40x1,20 mm (diâmetro x comprimento), agulhas
40x1,60 mm, seringas de 5 ml e 10 ml para injeção no sistema nervoso, panos
ou gaze, conforme demonstrado na Figura 3.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 105

Figura 3 – Materiais para fixação


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- Instrumentais: tesouras Íris de ponta curva-romba, tesoura Metzen-


baum curva-romba, pinça anatômica dente de rato, pinça anatômica serrilhada,
porta agulha Mayo Hegar. Cabo de bisturi número 4 e lâminas para cabo de
bisturi número 4 e fio corrente para sutura (Figura 4).

Figura 4 – Instrumentais

Resultados e discussão

Preparando o cadáver

A preparação de um cadáver recebido deve iniciar com a higienização


deste, seguido da tricotomia e posicionamento do corpo na posição anatômica.
São necessários para o processo: regadores com água, esponja, sabão líquido
ou em barra, hipoclorito de sódio, panos de gaze, papel toalha e saco de lixo.
Primeiro, retirar vestimentas e descartá-las. Lavar todo o cadáver com
água, esponja para limpeza e sabão líquido ou em barra, conforme Figura
5, lavando bem entre as dobras cutâneas como axila, região inguinal, fenda
interglútea e prega interdigital. Caso julgar necessário, banhar com hipoclorito
de sódio para desinfecção.
106

Figura 5 – Higienização do cadáver

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Depois de lavado, passar uma fina camada de detergente líquido ou
água com sabão no local onde este apresenta pelos distribuídos para facilitar
o processo de tricotomia. Para realizar a tricotomia, pode ser usado navalha,
cortador elétrico ou lâmina de barbear. Na ausência destes componentes, pode
ser utilizada lâmina de bisturi acoplada ao cabo de bisturi (Figura 6).

Figura 6 – Montagem da navalha

Iniciar passando a navalha ou material escolhido para raspar os pelos;


limpar os pelos retirados em papel toalha ou toalha, descartando estes em
saco de lixo hospitalar (Figura 7).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 107

Figura 7 – Tricotomia
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Após terminar a retirada de todos os pelos da região anterior, colocar o


cadáver em decúbito ventral e realizar este processo na parte posterior. Ao
término, regar com água para lavar os pelos que sobraram e verificar se todos
foram retirados.
Este procedimento visa facilitar a fixação do cadáver nas vias de acesso,
diminuir o impacto causado pelo cadáver nos alunos, deixando-o menos
característico e diminuir a possibilidade destes pelos se desprenderem, per-
manecendo nas soluções fixadoras e conservadoras, aumentando a higiene e
reduzindo a proliferação de fungos.
Regar o cadáver com água para retirar os pelos soltos e secar a maca e o
cadáver com retalho de gaze, descartando-o, posteriormente, em saco de lixo
hospitalar, terminando por deixar o campo de trabalho higienizado.
Caso o cadáver tenha vindo congelado do Instituto Médico Legal – IML
ou Instituto Geral de Perícia – IGP, esperar descongelar para poder colocá-lo
em posição anatômica.
Depois de descongelado, movimentar cuidadosamente as articulações
dos membros superiores e inferiores, relaxando e estendendo estas para poder
relaxar as articulações e poder, assim, colocar o cadáver em posição anatômica.
Nos membros inferiores, em caso destes estarem em rotação lateral, pode
ser necessário utilizar barbante ou elásticos para unir os hálux a fim destes fica-
rem paralelos. Membros superiores, se os dedos não permanecerem estendidos,
estender as articulações bem como a palma da mão e posicionar um papelão
ou madeira superior e inferiormente envolvendo estes e fixando a maca.

Preparação dos equipamentos

Antes de iniciar o procedimento de fixação, deve-se ter separado todos


os equipamentos necessários para este, assim, será preciso separar tambor
108

suspenso graduado ou bomba de injeção, para quem tiver, regador com água,
formol comercial, pipeta graduada de 1 litro, equipo de soro, agulhas de
injeção de 40,x1,20mm (diâmetro x comprimento) para injeção na artéria
femoral ou artéria carótida comum e agulhas 40x1,60mm, seringas de 5ml e
10ml para injeção no sistema nervoso, panos ou gaze.
Os instrumentais utilizados serão tesouras Íris ponta curva-romba, tesoura
Metzenbaum curva-romba, pinça anatômica dente de rato, pinça anatômica
serrilhada, cabo de bisturi número 4 e lâminas para cabo de bisturi número
4, fio corrente para sutura e porta agulha Mayo Hegar.

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Mensurar o peso do cadáver para poder preparar a solução fixadora, esta
solução deve ser formada por 10% do peso do cadáver. Por exemplo, se o
cadáver tiver 70 quilos, preparar 7 litros de solução.
Preparar a solução fixadora em tambor suspenso, contendo 9 partes de
água para 1 parte de formol comercial a 37,5% (técnicas de fixação relatam
que a solução deve ser preparada com formol a 10%, estes 10% se refere ao
formol comercial e não ao PA. Assim, para cada 1 litro de solução preparada
utilizar 900ml de água e 100ml de formol comercial a 37,5%).
Conectar o equipo de soro na torneira do tambor suspenso e na outra
extremidade conectar a agulha a ser utilizada para injeção (Figura 8).

Figura 8 – Montagem equipo de soro – barrilete

Recomenda-se sempre testar o equipo de soro para verificar em qual


posição está, deixe a solução preparada em forma de gotejamento como
soro, pois a fixação deverá ser deixada nesta posição, não em fluxo cons-
tante nem em gotejamento muito lento, para que ocorra uma boa perfusão
e fixação e para verificar se não há vazamentos nos encaixes com a agulha.
Caso houver, secar os encaixes e isolar estes com fitas, conforme demons-
trado na Figura 9.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 109

Separar o instrumental cirúrgico a ser utilizado na fixação em uma ban-


deja, deixando o cabo de bisturi com sua lâmina.

Figura 9 – Equipos de soro preparados para injeção


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Procedimentos para a fixação

Fixação pela Artéria Femoral

Para a injeção na artéria femoral, observar a região anterior da coxa


identificando a posição do músculo sartório e o ligamento inguinal, apalpar
o trígono femoral a fim de identificar a posição da artéria femoral represen-
tado na Figura 10.

Figura 10 – Identificação do m. sartório


110

Caso o cadáver seja magro, você conseguirá apalpar a borda medial do


músculo sartório e posteriormente, continue apalpando até sentir a artéria femo-
ral por ela deslizar entre os dedos. Se o cadáver possuir maior quantidade de
tecido adiposo nesta região, procure identificar a posição do músculo sartório.
Com ela apalpada, realizar uma secção longitudinal na pele, sob a loca-
lização da artéria femoral, de mais ou menos 5 centímetros até a tela sub-
cutânea, nesta apalpar novamente para confirmar a localização da artéria
femoral (Figura 11).

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Figura 11 – Secção da pele

Seccionar a tela subcutânea cuidadosamente até a fáscia muscular, sec-


cionando posteriormente a esta até localizar a bainha femoral (Figura 12).

Figura 12 – Secção da fáscia

Seccione, cuidadosamente, as partes utilizando o bisturi e a pinça ana-


tômica serrilhada e apalpe procurando sentir a localização da artéria femoral.
Quando a perceber, introduza a tesoura íris reta-romba na bainha femoral e
divulsione com o auxílio da pinça anatômica serrilhada até localizar a artéria
femoral (Figura 13).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 111

Figura 13 – Divulsão das estruturas para localização da artéria femoral


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Sempre que estiver em dúvida, apalpe novamente a região a fim de sentir


a artéria femoral, lembrando que a artéria femoral se encontra mais lateral
a veia femoral. Se a abertura feita for pequena, aumente a incisão anterior
para proximal. Quando achar a artéria femoral, individualize-a (Figura 14).

Figura 14 – Identificação da artéria femoral

Introduza uma tesoura íris curva medialmente e profundamente a arté-


ria e divulsione até esta passar para a lateral, deixando essa apoiada sobre a
tesoura (Figura 15).

Figura 15 – Individualização e exposição da artéria femoral

Com o auxílio do bisturi, realize uma pequena incisão na artéria femoral


a fim de apenas introduzir a agulha para injeção da solução fixadora. Intro-
duza a agulha na secção feita na artéria femoral em direção a região proximal
desta e amarre o fio de sutura a fim de fixar a agulha na artéria impedindo o
deslocamento desta (Figura 16).
112

Figura 16 – Introdução da agulha na artéria femoral

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Corte um pedaço de fio corrente e, com o auxílio de uma pinça anatômica
serrilhada, passe um pedaço de fio de sutura profundamente a artéria femoral,
junto com a tesoura anteriormente citada, deixando uma parte de cada lado
para poder amarrar e fixar a agulha dentro da artéria femoral (Figura 17).

Figura 17 – Fixação da agulha na artéria femoral

Com esta etapa concluída, pode-se iniciar a injeção da solução fixadora.

Fixação pela Artéria Carótida Comum

Neste processo, lembre de deixar o cadáver em posição anatômica, pois


se você estiver realizando o procedimento no lado direito, por exemplo, e
ele estiver rotacionado para a esquerda, a veia jugular interna irá sobrepor a
artéria, dificultando a identificação da artéria. Sempre que estiver em dúvida,
apalpe novamente a região a fim de sentir a artéria.
Para a injeção na artéria carótida comum, observar a região anterior do
pescoço e identifique a borda medial do músculo esternocleidomastóideo. Ao
final deste processo, rotacione o pescoço para o lado oposto e identifique na
borda medial do músculo esternocleidomastóideo o trígono carótico, volte o
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 113

pescoço a posição anatômica e apalpe esta região procurando sentir a artéria


carótida comum (Figura 18).

Figura 18 – Identificação do músculo esternocleidomastóideo


e da artéria carótida comum
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Com o bisturi, faça uma incisão longitudinal da pele de cerca de 3cm e,


com uma tesoura íris ponta romba, divulsione o tecido até identifica a artéria
(Figura 19).

Figura 19 – Divulsão das estruturas para identificar a artéria carótida comum

Se a abertura feita for pequena, aumente a incisão de anterior para pro-


ximal. Quando achar a artéria carótida comum, individualize-a das demais
estruturas (Figura 20).

Figura 20 – Identificação da artéria carótida comum


114

Quando achar a artéria carótida comum, introduza uma tesoura íris curva,
medialmente e profundamente a artéria e divulsione até esta passar para a
lateral (Figura 21).

Figura 21 – Individualização e exposição da artéria carótida comum

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Faça uma pequena incisão na artéria apenas para agulha poder entrar no
vaso. Introduza a agulha voltada para inferior (Figura 22).

Figura 22 – Introdução da agulha na artéria carótida comum

Corte um pedaço de fio corrente e, com a ajuda de um porta-agulha Mayo


Hegar, passe o fio sobre a tesoura de um lado a outro profundamente a artéria
femoral, deixando uma parte de cada lado e amarre o fio corrente unindo a
artéria e a agulha firmemente (Figura 23).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 115

Figura 23 – Fixação da agulha na artéria carótida comum


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Com esta etapa concluída, pode-se iniciar a injeção da solução fixadora.

Fixação

Recomenda-se lavar o leito vascular com injeção de solução de heparina


com o intuito de retirar possíveis coágulos que dificultam a fixação. Realizar
a injeção da solução fixadora escolhida através das agulhas, mas lembre-se
de realizar uma secção da veia paralela para os coágulos saírem.
Quando for realizar a fixação, acople o equipo na agulha e abra este
até verificar a passagem do formol de forma que este esteja em gotejamento
lento, mas constante.
O fluxo de formol não deve ser rápido e em forma de jato constante,
pois, se perfundir muito rapidamente, poderá romper vasos mais delgados,
impedindo a continuação do fluxo da solução comprometendo a fixação. Já
se for muito lento, a solução pode demorar chegar as extremidades do corpo
comprometendo também a fixação.

Procedimentos para a fixação do sistema nervoso

A solução injetada pela artéria carótida comum ou femoral não chegará


a fixar o sistema nervoso central devido a barreira hemato-encefálica, assim,
é importante introduzir a solução diretamente na cavidade craniana. Caso
não se realize este procedimento, corre-se o risco de o sistema nervoso não
fixar e, ao abrir a cavidade craniana para retirada do encéfalo, este esteja
gelatinoso ou liquefeito.
Para a fixação do encéfalo, preparar uma solução a 20% e, com auxílio
de uma seringa e agulha de 40x1,60mm, introduzir no centro da prega supra-
-palpebral (Figura 24).
116

Figura 24 – Injeção pela prega supra-palpebral

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Outra opção é pela injeção na carúncula lacrimal e com cuidado perceber
quando este passar pelo canal óptico ou fissura orbital superior (Figura 25).

Figura 25 – Injeção pela carúncula lacrimal

Se optar pela carúncula lacrimal, a agulha deve percorrer para lateral,


lembrando que o canal óptico encontra-se no centro da órbita (Figura 26).

Figura 26 – Movimentação na posição da agulha


TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 117

Deve-se injetar solução fixadora calmamente, pois se for muito rápido,


quando você retirar a agulha, a pressão interna fará a solução retornar a órbita.
Recomenda-se introduzir toda a solução da seringa e deixá-la na posição por
alguns minutos para a solução não retornar e perfundir pela cavidade craniana.
Quando se introduz a solução e o olho começar a inchar, é devido a
extremidade da agulha não ter passado pelo canal óptico e ainda se encontrar
na órbita, sendo necessário identificar o local correto e continuar o processo.
Isto se observa na Figura 27 através da comparação de quando fica na órbita
a solução (imagem à esquerda) e quando injeta-se corretamente a solução
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(imagem à direita).

Figura 27 – Detalhe nas pálpebras quando a agulha não entra pelo


canal óptico. Imagem à esquerda representa a solução retida na
órbita e imagem à direita representa que a agulha passou o canal
óptico e a solução perfundiu até o sistema nervoso central

Repita este procedimento em média a cada três ou quatro horas, por


quatro vezes.

Acompanhando a fixação

Procure acompanhar o processo de fixação para perceber se a solução


está perfundindo a ritmo contínuo, pois caso a solução parar de perfundir, será
necessário girar a agulha na incisão, pois esta pode estar com o bisel encostado
na parede do vaso o que dificulta a passagem da solução.
Após a injeção da solução, você perceberá que o cadáver irá inchar e a
coloração irá mudar, escurecendo um pouco. Já onde a solução fixadora não
chegou, ficará com coloração avermelhada e com consistência mais amolecida.
Quando as extremidades das falanges distais das mãos e dos pés e o genital
não apresentarem pontos de vermelhidão, e sim apresentarem-se opacos, sig-
nifica que a solução perfundiu até estes, e a fixação foi realizada com sucesso.
Caso apresentem-se muito avermelhados e brilhosos, lustrosos, deve-se preparar
mais solução e continuar a injeção e acompanhar até estes se tornarem opacos.
118

Acompanhar locais que permanecem avermelhados e nestes realizar a


injeção de solução fixadora com uma seringa com agulha mais fina, assim
como nas articulações, cavidade abdominal e torácica, e monitorar por um
período de pelo menos doze horas. Se ainda houver pontos avermelhados,
realizar nova injeção nestes e acompanhar, caso necessário repetir o processo.

Término do processo

Ao término da fixação, retirar as agulhas e suturar os locais de acesso. Regar

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o cadáver com água e passar um pano ou gaze nos locais onde possa ter escorrido
secreções. Levar o cadáver a cuba de conservação até sua dissecção. Higienizar,
com esponja e sabão e álcool 70%, a maca onde o cadáver estava. Quanto a
solução restante no balde da maca, descartar em algum recipiente para posterior
descarte pela empresa responsável por este tipo de resíduo. Identifique o cadáver
com plaqueta numerada nos lóbulos das orelhas, nos hálux e nos polegares.

Conclusão

A utilização de cadáveres em aulas de anatomia humana tem grande rele-


vância para o ensino da medicina assim como os demais cursos da área da
saúde, pois proporcionam aos alunos a integração de conhecimentos básicos
aos clínicos, desenvolvem a capacidade de observação das relações entre as
estruturas além de elucidar variações da morfologia, que não são encontradas
em modelos anatômicos.
Desta forma, muitos laboratórios necessitam do conhecimento dos pro-
cedimentos a serem adotados para a fixação de um cadáver pelos profissionais
responsáveis, permitindo a dissecção e preparação de peças corretamente e
de boa qualidade além do bom andamento do laboratório, pois cadáveres
mal fixados resultam em dissecções e preparações de peças comprometidas,
dificultando, assim, o ensino fidedigno da anatomia humana.
Professores e técnicos, quando se deparam com sua primeira recepção de um
cadáver para realizar a fixação deste dentro de seu laboratório de anatomia, podem
sentir insegurança em realizar este processo. Isto se deve a não ter um manual de
como proceder, quais os passos seguir, necessitando, a partir desta dificuldade,
realizar contato com outras pessoas já aposentadas ou de outras instituições.
Mediante o exposto, ter um tutorial de como proceder gera uma segurança
e, por consequência, uma melhor fixação do cadáver para posterior dissecção
e realização de diferentes técnicas futuras.
Este trabalho é uma contribuição aos futuros novos técnicos e professores
que entram na vivência de um laboratório de anatomia humana e muitas vezes
são os únicos que se encontram no laboratório para esta função.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 119

REFERÊNCIAS
[1] Melo EN; Pinheiro JT. Procedimentos Legais e Protocolos para Uti-
lização de Cadáveres no Ensino de Anatomia em Pernambuco. Rev.
Bras. Educ. Med. 2010 Abril/Maio; 34 (2): 315-323, doi.org/10.1590/
S0100-55022010000200018.

[2] Costa LF; Feijós AG. Doação de corpos: estudo comparativo luso-bra-
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sileiro sobre a utilização do corpo humano para ensino e pesquisa. [Rio


Grande do Sul]: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
X Salão de Iniciação Científica – PUCRS. 2009. 40-42.
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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Taxidermia em bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)


Descrição: A ilustração representa etapas do processo de taxidermia em um exemplar
de Pitangus sulphuratus, conhecido popularmente como bem-te-vi, sendo representado
desde o início, com a incisão, retirada das partes moles, colocação da estrutura de
suporte interno e, por fim, o posicionamento do espécime

Autor: Daniel Medeiros Nunes


RECEBIMENTO E IDENTIFICAÇÃO
DE CADÁVERES EM LABORATÓRIO
DE ANATOMIA HUMANA
Mary Anne Pasta de Amorim1
Ana Lupe Motta Studzinski2
Thainá Sarah Dematé3
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Bruna Tamara Suzane Paganelli4

Introdução

A utilização de cadáveres para estudo da anatomia humana é uma prática


comum nas instituições de ensino superior, sendo o início de sua aplicação
em pesquisas científicas datado em 500 anos antes de Cristo [1]. Apesar dos
avanços nas metodologias de ensino com o advento da tecnologia e surgimento
de materiais sintéticos que mimetizam o corpo humano, a observação de peças
anatômicas reais se faz necessária, pois é um meio pelo qual o aluno pode ter
uma visão tridimensional das estruturas do corpo, conhecer a morfologia e
topografia e conseguir comparar o normal com o anormal [1].
É nesse contexto que se destaca importância da utilização de peças reais e
cadáveres para o ensino de alunos da área da saúde visto que as peças artificiais
não projetam as possíveis variações anatômicas que podem ser encontradas
em cadáveres. Tal fato pode afetar diretamente na aplicação do conhecimento
clínico e também no processo de desenvolvimento da humanização dos futuros
profissionais da saúde [2].
Em vista de sua relevância para o aprofundamento do estudo anatômico,
faz-se necessária a obtenção de cadáveres para que ocorra o seguimento das
aulas. Os cadáveres devem ser previamente submetidos aos processos de
catalogação. Os profissionais que trabalham em Laboratório de Anatomia
Humana (LAH) que apresentam cadáveres, necessitam ter conhecimentos

1 Licenciada em Ciências Biológicas, Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática, Departamento de


Ciências Naturais/Laboratório de Anatomia, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 89030-903,
Blumenau-Santa Catarina, Brasil; Autor correspondente: amorim@furb.br
2 Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas, Doutora em Ciências Fisiológicas. Curso de Medicina,
Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA Campus Uruguaiana, 97500-970, Uruguaiana- Rio Grande
do Sul, Brasil;
3 Graduanda em Biomedicina, Departamento de Ciências Naturais/Laboratório de Anatomia, Universidade
Regional de Blumenau – FURB, 89030-903, Blumenau-Santa Catarina, Brasil;
4 Graduanda em Medicina, Graduada em Farmácia, Departamento de Ciências Naturais/Laboratório de
Anatomia, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 89030-903, Blumenau-Santa Catarina, Brasil.
122

sobre os procedimentos a serem tomados ao receberem um cadáver, desde a


recepção, registro e fixação.
Esse trabalho tem por objetivo descrever as possibilidades de recebimen-
tos de cadáveres e os procedimentos a serem adotados para a identificação
destes no LAH. O presente trabalho caracteriza-se por ser uma pesquisa des-
critiva de natureza qualitativa com procedimento de relato de caso.

Material e métodos

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Para o cadastro dos cadáveres recebidos, será necessário juntar todos os
documentos possíveis deste.
FCaptura das digitais: será necessário almofada e tinta para carimbo
(Figura 1).

Figura 1 – Almofada e tinta para carimbo para captura das digitais

Identificação do cadáver: placas numeradas, de metal. Se não for pos-


sível, de plástico ou de fita rotuladora (Figura 2).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 123

Figura 2 – Modelo de placas de identificação


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Arquivamento: será necessário pasta de arquivo suspensa e um arquivo


(Figura 3).

Figura 3 – Pasta e arquivos para os documentos

Resultados e discussão

Possibilidades para o recebimento de cadáveres

O Laboratório de Anatomia Humana pode ter convênio firmado com IML


– Instituto Médico Legal, Hospitais e SVO – Serviço de Verificação de Óbito
com o intuito de recebimento de cadáveres humanos para fins didáticos, assim
como pode receber cadáveres por doação em vida, firmados na Procuradoria
Geral da Instituição de Ensino ou doação pós-morte por familiares.
124

Cadáveres provenientes do IML

O recebimento de cadáveres por Laboratórios de Anatomia para fins de


ensino é permitido através da Lei 8.501/92 [3], que dispõe sobre a utilização
de cadáver não reclamado, para fins de estudo ou pesquisas científicas e dá
outras providências, conforme segue:
Art. 1º Esta lei visa disciplinar a destinação de cadáver não reclamado
junto às autoridades públicas, para fins de ensino e pesquisa.
Art. 2º O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo

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de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino
e de pesquisa de caráter científico.
Art. 3º Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:
I – Sem qualquer documentação;
II – Identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a ende-
reços de parentes ou responsáveis legais.
§ 1º Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará
publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo
menos dez dias, a notícia do falecimento.
§ 2º Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será, obrigatoria-
mente, submetido à necropsia no órgão competente.
§ 3º É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver
indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
§ 4º Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável
manterá, sobre o falecido:
a) os dados relativos às características gerais;
b) a identificação;
c) as fotos do corpo;
d) a ficha dactiloscópica;
e) o resultado da necrópsia, se efetuada;
f) outros dados e documentos julgados pertinentes.
Art. 4º Cumpridas as exigências estabelecidas nos artigos anteriores, o
cadáver poderá ser liberado para fins de estudo.
Art. 5ºA qualquer tempo, os familiares ou representantes legais terão
acesso aos elementos de que trata o §4º do art. 3º desta Lei,
Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7º Revoga-se as disposições em contrário.
Ao contato do IML com o Laboratório informando da existência de
cadáver a ser doado, os técnicos ou o coordenador do Laboratório devem
se dirigir ao mesmo para ver a condição em que o cadáver se encontra para
verificar a possibilidade de doação.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 125

Em caso positivo, será agendado data e horário em que o IML fará o


transporte para o Laboratório de Anatomia.
No momento de recebimento do cadáver no Laboratório, o mesmo deverá
vir com os termos de doação de cadáver do IML para o Laboratório, Cópia
da Declaração de Óbito, assim como outros documentos possíveis, sendo
entregue ao IML um termo de recebimento de cadáver.

Cadáveres provenientes do hospital ou SVO


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O Laboratório de Anatomia pode ter convênio com hospitais para fins


de doação de cadáveres identificados ou não identificados que não são recla-
mados e o hospital não encontre os familiares, conforme a lei já descrita. A
doação de fetos, natimortos e recém-nascidos também podem ser realizados
em caso de doação dos mesmos pelos seus familiares se esses a desejarem.
Ao contato do hospital ou familiar com o laboratório informando a exis-
tência de cadáver a ser doado, os responsáveis pelo laboratório deverão instruir
os mesmos sobre a documentação necessária junto com o cadáver, cópia da
declaração de óbito ou certidão de óbito ou de natimorto, declaração de doação
em vida ou termo de doação de cadáver do hospital, cópia dos documentos
pertencentes ao cadáver (se este possuir) e do familiar que o destina a doação.
Os técnicos ou coordenador do laboratório deverão entrar em contato
com a funerária responsável pelo transporte do corpo para o laboratório infor-
mando a necessidade de trazer a documentação indicada anteriormente, sendo
entregue a funerária um termo de recebimento de cadáver.

Cadáveres provenientes de doação

A utilização de cadáveres para fins de estudo e aprendizagem da ana-


tomia humana por muito tempo ocorreu através da obtenção de corpos não
reclamados, entretanto é notável a diminuição destes números ao longo
dos anos. Desta forma, observa-se a importância da doação de corpos de
maneira voluntária. Diante disto, as instituições de ensino buscam apre-
sentar programas de doação de corpos para que as pessoas possam, em
vida, realizar a doação [4]. Os familiares também podem realizar a doação
de seus familiares pós-morte.
Em meados de 1970, começou um movimento nos Estados Unidos em
relação ao ato de doar o corpo para fins de estudo onde estados americanos
garantiam o direito dos cidadãos doarem para escolas de medicina. Inclusive,
um dos mais sucedidos programas de doação de corpos é de uma instituição
americana, a Universidade de Massachussetts [5, 6].
126

Além dos Estados Unidos, vários países como China, Japão, África do
Sul, Irlanda, Portugal, França, Alemanha dentre outros utilizam cadáveres
para aulas práticas de anatomia humana [7, 8, 9, 10], demonstrando a impor-
tância da doação de corpos. No Brasil, um programa de doação voluntária de
sucesso que é referência no país, é o da Universidade Federal de Ciências da
Saúde de Porto Alegre [11].
Ao se ter interesse em realizar a doação do seu corpo, a pessoa pode
realizar um termo de doação em vida em que esta deve procurar o jurídico da
instituição, o setor de procuradoria, e firmar junto a este o termo de doação

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em vida, sendo reconhecido em cartório.
Ao ocorrer o óbito de um familiar que tenha termo de doação em vida,
ou ao familiar que queira doar seu ente querido, este deve entrar em contato
com o laboratório para informar sobre o falecimento e os dados para retirada
do corpo e transporte do mesmo ao laboratório, que deve ser acompanhado
do termo de doação em vida ou pós-morte além de cópia dos documentos do
doador e do doado e cópia da certidão de óbito.

Após o recebimento do cadáver

Ao se receber um cadáver, este deve sempre vir acompanhado de seus


documentos de encaminhamento, como o termo de doação do cadáver por
parte do doador (hospital, instituto médico legal ou serviço de verificação
de óbito ou cópia do termo de doação em vida ou familiar), documentos
de identificação do cadáver (se houver) e declaração ou certidão de óbito,
ou de natimorto.
Os responsáveis, após o recebimento do cadáver, deverão reunir os docu-
mentos para posterior confecção da Ficha Individual de Cadáver (FIC), e
publicação legal em caso de cadáver não identificado.
Com estes, deve-se preencher uma FIC, onde consta todos os dados de
identificação civil do cadáver, fotos de recebimento, descrição de caracterís-
ticas corporais passíveis de identificação e documentação, assim construímos
uma FIC padrão.

Ficha individual de cadáver

Ao se receber um cadáver, a primeira etapa a ser feita é tirar fotos do


cadáver com as vestimentas que este foi recebido e juntar os documentos
recebidos com este para a preparação de uma Ficha Individual de Cadáver –
FIC ou de Natimorto – FIN.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 127

A FIC deve ser numerada em ordem crescente e o cadáver ser afixado


utilizando etiquetas plásticas e/ou metálicas, aos polegares, hálux e lóbulos das
orelhas do cadáver, pois todo cadáver recebido deve receber uma numeração
para identificação, conforme modelo de placa de identificação da Figura 1.
A primeira página da FIC ou da FIN contém as informações civis do
cadáver, como: nome, data de nascimento, filiação, documentos como CPF
e RG, residência e naturalidade, apresenta campos específicos para as fotos
das vestimentas com as quais o cadáver foi recebido e fotos deste (sem ves-
timentas), da face e do corpo inteiro.
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A segunda página apresenta campos para características físicas passíveis


de reconhecimento, como campo para fotos de marcas de cirurgias, contusões
e tatuagens além de falta de alguma parte corporal, como amputações de
membros ou dedos, e um campo para ficha dactiloscópica.
O campo destinado para a ficha dactiloscópica deve ser preenchido utili-
zando almofada para carimbo nas digitais do cadáver e colhendo sua impressão
no campo específico de cada dedo.
A terceira página apresenta dados sobre a morte do cadáver, como causa
da morte, local e horário, da procedência do cadáver, se por convênio ou
doação, dados provenientes dos documentos recebidos.
A todo cadáver recebido por doação, que não por familiar, deve ser rea-
lizado por Lei, dez (10) publicações legais em jornal de grande circulação
estadual distribuídos no período de um mês, a fim de localizar os familiares.
Deve conter um campo para cadastro das informações referentes as publi-
cações realizadas, com datas e o nome do jornal, conforme Lei 8501. Deve
haver, ainda, campo para cadastro de possível recolhimento do mesmo, para
sepultamento.
O modelo de Ficha Individual de Cadáver – FIC proposta (Figura 4) e a
o modelo de Ficha Individual de Natimorto – FIN (Figura 5).
128

Figura 4 – Ficha Individual de Cadáver – FIC


NOME DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
LOGO DA INSTITUIÇÃO NOME DO CENTRO VINCULADO 1
NOME DO DEPARTAMENTO VINCULADO
NOME DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA
FICHA INDIVIDUAL DE IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER
Cadáver identificado com o número xxx ANO xxxx
IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER
Nome do
Xxxx – caso não possua escrever desconhecido
Cadáver

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CPF nº Xxxx RG nº xxxxx
Data de Nascimento xx / Xx / xxxx Idade xxx Anos xx Meses
Natural de Xxxxxx UF xx Profissão xx
Grupo Étnico Xxxx Altura Xxx,xx m Peso xxx Kg
Gênero x Feminino x Masculino Estado Civil x Solteiro x Casado x Outro
Nome da Mãe Xxxx
Nome do Pai Xxxx
Endereço Residencial Xxxxx
Características do Cadáver Descrever as características externas observáveis do cadáver

Características das Vestimentas Descrever as características das vestimentas utilizadas ao


Recebimento

Documentos recebidos Xxxx


juntamente com o cadáver

Fotografias como foi recebido (anexar imagem)

Fotografias sem vestimentas (anexar imagem)

NOME DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO


LOGO DA INSTITUIÇÃO NOME DO CENTRO VINCULADO 2
NOME DO DEPARTAMENTO VINCULADO
NOME DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA
continua...
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 129
continuação
FICHA INDIVIDUAL DE IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER
Cadáver identificado com o número xxx ANO xxxx
FOTOS DE CICATRIZES, TATUAGENS, OUTROS
Fotos de características distintas do cadáver que facilitem a identificação.
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FICHA DACTILOSCÓPICA
Polegar Indicador Direito Médio Anelar Direito Mínimo Direito
Direito Direito
Passar tinta de carbono Recomenda-se fazer
nos dedos do cadáver ao recebimento, antes
e carimbar no local da formalização.
destinado a cada dedo.

Polegar Indicador Esquerdo Médio Anelar Esquerdo Mínimo Esquerdo


Esquerdo Esquerdo

continua...
130
continuação
NOME DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
NOME DO CENTRO VINCULADO
LOGO DA INSTITUIÇÃO
NOME DO DEPARTAMENTO VINCULADO 3
NOME DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA
FICHA INDIVIDUAL DE IDENTIFICAÇÃO DO CADÁVER
Cadáver identificado com o número xxx ANO xxxx
IDENTIFICAÇÃO DO ÓBITO
Data do Óbito xx / xx / xxxx Hora xx : xx Origem IML, SVO, doação
Local onde o corpo foi encontrado
Causa da Morte

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IDENTIFICAÇÃO DO RECEBIMENTO
Data Quem recebeu
xx / xx / xxxx Hora xx : xx Responsável
Chegada o corpo
Funerária Responsável
DOCUMENTAÇÃO
Declaração de Óbito xxxxx Data emissão xx / xx / xxxx
Médico Responsável xxxxx CRM
Certidão de Óbito xxxx Data emissão xx / xx / xxxx
Cartório de Registro xxxx Livro xxx Folha xxx
Declarante xxxxx
PUBLICAÇÕES
Nome do Jornal xxxxx
Data Data
1 Xx / Xx / Xxxx 6 Xx / Xx / Xxxx
2 Xx / Xx / Xxxx 7 Xx / Xx / Xxxx
3 Xx / Xx / Xxxx 8 Xx / Xx / Xxxx
4 Xx / Xx / Xxxx 9 Xx / Xx / Xxxx
5 Xx / xx / xxxx 10 Xx / xx / xxxx
EM CASO DE RECLAMAÇÃO
Reclamante Xxxx Data retirada xx / xx / xxxx
Documento Xxx Parentesco xxx
Local do Sepultamento Data xx / xx / xxxx
RESPONSÁVEIS

Assinatura Assinatura
Responsável pelo Laboratório Chefe de Departamento
Responsáveis rubricar as páginas 1 e 2 e assinar na 3
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 131

Figura 5 – Ficha Individual de Natimorto – FIN


LOGO DA NOME DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
INSTITUIÇÃO NOME DO CENTRO VINCULADO 1
NOME DO DEPARTAMENTO VINCULADO
NOME DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA
FICHA INDIVIDUAL DE IDENTIFICAÇÃO DO NATIMORTO
Natimorto identificado com o número xxx ANO xxxx
IDENTIFICAÇÃO DO NATIMORTO
Gênero x Feminino x Masculino Semanas de Gestação x
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Nome da Mãe Xxxx


Nome do Pai Xxxx
Grupo Étnico Xxxx Altura Xxx,xx m Peso xxx Kg
IDENTIFICAÇÃO DO DOADOR
Nome do Doador Xxxx –
Parentesco do natimorto xxxx
CPF nº Xxxx RG nº xxxxx
Data de Nascimento xx / Xx / xxxx Idade xxx Anos xx Meses
Endereço Residencial Xxxxx
IDENTIFICAÇÃO DO ÓBITO
Data do Óbito xx / Xx / xxxx Hora xx : xx Origem IML, SVO, doação
Causa da Morte
IDENTIFICAÇÃO DO RECEBIMENTO
Data Chegada xx / xx / xxxx Hora xx : Xx Responsável Quem recebeu
o corpo
Funerária Responsável
DOCUMENTAÇÃO
Declaração de Óbito Xxxxx Data emissão xx / xx / xxxx
Médico Responsável Xxxxx CRM
Certidão de Natimorto Xxxx Data emissão xx / xx / xxxx
Cartório de Registro Xxxx Livro xxx Folha xxx
Declarante Xxxxx
EM CASO DE RECLAMAÇÃO

Reclamante Xxxx Data retirada xx / xx / xxxx


Documento Xxx Parentesco xxx
Local do Sepultamento Data xx / xx / xxxx
RESPONSÁVEIS

Assinatura Assinatura
Responsável pelo Laboratório Chefe de Departamento

Responsáveis rubricar as páginas 1 e 2 e assinar na 3


132

Documentação do cadáver

Recomenda-se a junção de toda a documentação de cada cadáver em


uma pasta individual, podendo ser pasta brasil, sacos plásticos perfurados
para arquivo ou pasta de arquivo suspenso ou outro, esta, deve receber uma
identificação do número do cadáver e o ano do recebimento, por questão de
organização e para facilitar a busca futura sobre dados de algum cadáver
em específico.
Recomenda-se também manter junto a este arquivo cópias dos convê-

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nios com hospitais, serviço de verificação de óbito (SVO) e instituto geral
de perícias (IGP), para realizar o acompanhamento do vencimento destes e
manutenção dos convênios.

Publicação legal

Para o recebimento de cadáveres não identificados, é necessário a rea-


lização de publicação legal a ser feita conforme Lei Federal 8501/92 [3].
Nisso deve conter o nome da instituição, o endereço destas, que encontra-se
um cadáver, se não identificado, informar local e data de óbito e suas carac-
terísticas externas, como gênero, grupo étnico, característica própria ou se
for identificado o nome, local e data de óbito, fazendo menção a Lei e que se
este não for reclamado, permanecerá na instituição para estudo e pesquisa. A
Figura 6 demonstra um exemplo de publicação legal a ser realizada:

Figura 6 – Exemplo de Publicação Legal


UTILIDADE PÚBLICA

A (nome da instituição), (endereço), (cidade)-(estado) em cumprimento da


Lei 8501/92, declara que se encontra em seu Laboratório de Anatomia, um
corpo que veio a óbito na cidade de (nome da cidade) no dia xx/xx/xxxx. Este
é de gênero (masculino/feminino), identificado por (nome ou de identidade
ignorada), (descrever cor de pele, cor dos cabelos, cor dos olhos, estatura
e peso aproximado), trajando (descrever vestimentas). Esclarece ainda que,
decorrido o prazo legal, não sendo o corpo reclamado, poderá permanecer
nesta instituição para ensino e pesquisa.

Conclusão

Todos os cadáveres recebidos em LAH devem ser identificados e docu-


mentados para possíveis conferências e reclamações posteriores.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 133

Manter um padrão destes documentos e informações é essencial para uma


boa manutenção de um Laboratório de Anatomia Humana, assim como para a
identificação de possíveis alterações e patologias encontradas em dissecções
futuras com associação do conhecimento da causa da morte.
Por vezes, quem inicia como responsável por um laboratório de anatomia,
não tem conhecimento de onde pode provir os cadáveres para os estudos, do
mesmo modo quando inicia o recebimento destes, não saber como organizar e
documentar o recebimento destes. Desta forma, o intuito do trabalho é auxiliar
os responsáveis, trazendo modelos efetivos e de fácil organização.
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134

REFERÊNCIAS
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trução de conhecimento a partir de uma visão bioética. [Goiânia, Brasil]:
Universidade Católica de Goiás; 2005.

[2] Melo EN, Pinheiro JT. Procedimentos Legais e Protocolos para Uti-
lização de Cadáveres no Ensino de Anatomia em Pernambuco. Rev.

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S0100-55022010000200018

[3] Brasil. Lei nº 8.501 de 30 de novembro de 1992. Dispõe sobre a utilização


de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científicas
e dá outras providências. Diário Oficial da União 01 nov 1992.

[4] Costa LF, Feijós AG. Doação de corpos: estudo comparativo luso-bra-
sileiro sobre a utilização do corpo humano para ensino e pesquisa. [Rio
Grande do Sul]: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
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TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 135

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monte P, Teofilovski-Parapid G, Moxham BJ. The legal and ethical frame-
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donation program at the Federal University of health sciences of Porto


Alegre: a successful experience in Brazil. Anat. Sci. Educ. 2013; 6:199-
204. DOI: 10.1002/ase.1335.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Joelho equino. Dissecação anatômica (carpo de equino)

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Autor: Daniela Góes Turchenski


MODELO ANATÔMICO DA ÁRVORE
BRÔNQUICA DE EQUINOS, BOVINOS,
OVINOS, SUÍNOS E CANINOS PELA
TÉCNICA DE INJEÇÃO E CORROSÃO
Cristiane Elise Teichmann1
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Bruna Carolina Ulsenheimer2


Orestes Moraes Cabeleira3
Gabriele Maria Callegaro Serafini4

Introdução

Anatomia é a ciência que estuda a forma, a disposição e a estrutura dos


tecidos e órgãos que compõem o organismo. O estudo da anatomia dos animais
de produção e domésticos é importante para a compreensão das relações entre
as estruturas e funções do organismo, como também para a identificação de
anormalidades e realização de diagnósticos clínicos [1].
Nesse sentido, é importante destacar que cada espécie animal possui refe-
rências anatômicas particulares, que estão associadas às suas características
anatomofisiológicas específicas. Por isso, a anatomia comparada permite iden-
tificar as diferenças e semelhanças das estruturas e características anatômicas
dos organismos. Além do mais, esse estudo comparativo permite compreender a
evolução das espécies e suas adaptações às variações do meio em que vivem [2].
O sistema respiratório é responsável por garantir as trocas gasosas entre
o organismo e o meio externo, e participa de outras funções como a olfação, a
fonação, a excreção e a termorregulação corporal. As trocas gasosas ocorrem
nos alvéolos pulmonares, no que resulta a oxigenação do sangue e eliminação
do gás carbônico. Desta forma, este sistema assegura a disponibilidade de
oxigênio para as células, para que ocorra a produção de energia através da
respiração celular [2, 3].
Os pulmões são um par de órgãos, direito e esquerdo, que ocupam a
maior parte da cavidade torácica. São órgãos muito leves e têm consistência

1 Professor, Faculdade Santo Ângelo, 98807-296, Santo Ângelo- RS, Brasil; Autor correspondente: cristeich@
yahoo.com.br
2 Mestrando, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-
900, Santa Maria- RS, Brasil;
3 Médico Veterinário autônomo, CEP, Santiago- RS, Brasil;
4 Professor, Departamento de Estudos Agrários, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul – Unijui, 98700000, Ijui- RS, Brasil.
138

esponjosa. Os pulmões fixam-se ao coração e à traquéia por meio de estrutu-


ras que englobam as raízes dos pulmões. A raiz do pulmão é formada pelos
brônquios e vasos sanguíneos, que entram e emergem do pulmão no seu
hilo. As fissuras horizontais e oblíquas dividem os pulmões em lobos, que
são configurados a partir da ramificação da árvore brônquica, ou seja, cada
brônquio coincide com seu lobo. Para o ar chegar até os pulmões, ele adentra
pela traquéia que se bifurca em dois brônquios principais, estes se dividem
em brônquios lobares que dão entrada nos lobos, os quais emitem um grande
número de brônquios segmentares, originando bronquíolos que neles contém

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os alvéolos cercados por capilares, que é onde ocorre a hematose [4].
Devido a importância do sistema respiratório, torna-se fundamental o
conhecimento da anatomia da árvore brônquica, bem como das suas diferen-
ças entre as espécies. As vias aéreas condutoras iniciam nas narinas, faringe,
laringe, traqueia, brônquios principais, lobares e segmentares, e várias gera-
ções de bronquíolos até que se formem os bronquíolos respiratórios, que se
conectam aos alvéolos por ductos alveolares [3].
A conservação de peças anatômicas existe desde tempos remotos. No
entanto, na grande maioria dos cursos de Medicina Veterinária, o aprendi-
zado das estruturas anatômicas decorre da utilização de peças anatômicas
provenientes de animais [5, 6]. Peças que necessitam de condições especiais
para armazenamento já que muitas das soluções utilizadas para conservação
apresentam elevados riscos ao meio ambiente e saúde [7].
Métodos alternativos são procedimentos capazes de aprimorar meto-
dologias educacionais [8]. Diante disso, há grande aceitação por parte dos
anatomistas a utilização da técnica de injeção com substâncias de elevado peso
molecular [9]. Portanto, é importante que se desenvolvam técnicas alterna-
tivas que permitam a identificação destas estruturas para o estudo do trajeto
do ar no interior dos pulmões, bem como suas divisões regionais (lobares e
segmentares) e a formação dos sacos alveolares [10].
O presente trabalho objetivou o desenvolvimento da técnica anatômica de
injeção e corrosão realizada em pulmões de equino, bovino, suíno, ovino e canino
com o propósito de disponibilizar materiais didáticos alternativos para contribuir
com a relação ensino aprendizagem dos alunos de anatomia veterinária, buscando
evidenciar as peculiaridades anatômicas das microestruturas pulmonares.

Material e métodos

O trabalho foi executado no laboratório de anatomia animal do curso de


Medicina Veterinária, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande
do Sul (UNIJUÍ), por integrantes do Grupo de Estudo em Anatomia Veteri-
nária (GEAVet).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 139

Para a realização da técnica, foram utilizados os conjuntos de pulmões


e árvores brônquicas de cinco espécies animais diferentes: equino, bovino,
ovino, suíno e canino. O órgão de equino utilizado para a confecção da peça,
é proveniente da doação de um proprietário. O animal veio a óbito por cau-
sas naturais, no município de Ijuí. As peças de bovino, ovino e suíno foram
provenientes de um abatedouro conveniado junto à instituição. O órgão do
canino foi doado pelo tutor, após óbito do animal por causas não respiratórias
no Hospital Veterinário da Unijuí
Todas as peças foram devidamente inspecionadas para verificação de
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lesões que poderiam comprometer a realização da técnica e/ou causar o extra-


vasamento da solução injetada. Após avaliação, os órgãos foram mantidos
congelados em freezer convencional, no laboratório de anatomia animal, até
a realização da técnica.
No dia anterior ao início da execução da técnica, o órgão foi retirado
do freezer para o seu descongelamento e colocado em uma caixa plástica
com água a temperatura ambiente, permanecendo submerso até ocorrer o
completo descongelamento.
A peça anatômica foi preparada para o início da execução da técnica. O
procedimento começou pela injeção do acrílico na forma líquida, onde foi
introduzida uma sonda plástica do tipo nasogástrica em proporção adequada
com o tamanho do órgão de cada espécie, para que não ocorresse seu extra-
vasamento. A solução de JET®1 foi preparada pouco antes da sua injeção,
sendo a diluição utilizada de 2:1, ou seja, duas partes de líquido (monômero
de metil metacrilato) para 1 parte de pó (polímero de metil-metacrilato).
Junto à solução, adicionou-se corante salicil química Ltda com diferentes
cores com o objetivo de identificar as estruturas da árvore brônquica a ser
estudada e diferenciá-las entre as espécies animai, sendo utilizado a cor lilás
para o exemplar de equino, vermelha para canino, laranja para bovino, verde
para ovino e azul para suíno.
A solução foi aplicada imediatamente após preparada e homogeneizada
com auxílio de uma seringa de 60 ml até a completa utilização do conteúdo
preparado. A quantidade de solução injetada foi de aproximadamente um litro
e meio para a peça de equino e bovino, um litro para a de suíno e ovino e em
torno de meio litro para o preparo da peça de canino. Foi tomado o devido
cuidado para que a peça permanecesse suspensa, mantendo-a em sua posição
anatômica, para que o peso da solução pela ação da gravidade pudesse preen-
cher inteiramente todos os segmentos da árvore brônquica. Após este proce-
dimento, a peça, contendo a solução, foi alocada em uma cuba de plástico,
contendo água, e posicionados anatomicamente separados. Para a solidificação
completa da peça, aguardou-se em torno de duas horas.
140

Após a completa solidificação da solução, o órgão foi depositado em um


recipiente plástico com a solução de NaOH (hidróxido de sódio em escamas)
98% na quantidade de um kg diluído em trinta litros de água, permanecendo
submerso por 7 dias, até que ocorresse a corrosão completa do órgão. Por
fim, a árvore brônquica de acrílico obtida após a corrosão, foi lavada em água
corrente para a retirada de resíduos da solução e fixada em uma estrutura base
de madeira com a finalidade de facilitar o manuseio. Com a peça fixa, foi
possível a análise descritiva da formação da árvore brônquica e a comparação
entre os exemplares das diferentes espécies.

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Resultados e discussão

A utilização da técnica de injeção de acrílico mostrou-se bastante eficiente,


pois permitiu evidenciar estruturas que não são passíveis de se constatar na
avaliação do pulmão sem esta técnica, mostrando também eficiência quanto
ao fácil acesso e aplicação do material, resistência e durabilidade, além de um
baixo custo de produção. O acrílico por ser um material maleável consegue
interpor-se em quase todo o percurso dos gases inspiratórios e expiratórios [11].
De acordo com Cury et al. [9], para realização da técnica de injeção,
podem ser utilizados látex natural, borracha siliconada e alguns polímeros.
Diante disso, o monômero de metil metacrilato é um produto composto de ace-
tona, ácido cianídrico e álcool metílico [12]. As características organolépticas
do acrílico possibilitam adicionar coloração e a realizar a técnica de corrosão
por meio de sustâncias básicas ou ácidas com potencial corrosivo [9, 13]. Os
moldes anatômicos formados pela injeção e corrosão, foram realizadas através
de NaOH em escamas. O produto mostrou-se eficaz e de baixo custo [14].
Através de técnicas convencionais de dissecção, com pinças, tesouras
e bisturi, permite que se identifiquem traqueia, brônquios principais e as
ramificações dos brônquios principais em brônquios lobares. A partir destes
brônquios lobares, não é possível individualizar pela dissecação e verificar
com clareza o grande número de ramificações dos brônquios e bronquíolos no
interior do parênquima pulmonar [9]. No entanto, estas estruturas de pequeno
calibre foram evidenciadas após a corrosão de todo o parênquima pulmonar
que circunda o órgão, permitindo, assim, a visualização e identificação do
espaço que seria preenchido pelo ar durante a ventilação pulmonar de equino,
canino, bovino, ovino e suíno. Facilitando além do manuseio da peça por ser
um material resistente, também a visualização de toda a árvore brônquica
permitindo a sua descrição detalhada.
Com a utilização dessas técnicas alternativas, o estudo da anatomia se
torna mais seguro e agradável uma vez que não há necessidade de utilização
de soluções conservantes, como formol a 10%, que seria necessário para
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 141

manter peças de pulmões dissecadas. O fato de não ser utilizado formol no


ambiente de estudo, permite que o estudo da anatomia possa ser realizado fora
do ambiente laboratorial, sem necessidade de equipamentos de proteção indi-
vidual (EPIs), como luvas, jaleco, máscaras e óculos de proteção. Isso também
proporciona maior resistência das peças ao manuseio e maior durabilidade
das mesmas. Essas características permitem a evidenciação das estruturas
internas e externas dos materiais de estudo de forma perfeita e segura [8, 15].

Modelo anatômico árvore brônquica equino


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Segundo Dyce et al. [1], o equino possui no pulmão direito lobos cranial,
caudal e acessório e, no pulmão esquerdo, os lobos cranial e caudal formados
pela observação externa do parênquima a presença de uma fissura interlobar
entre o lobo cranial e caudal tanto do lado esquerdo quanto direito.
Depois da carina, a traquéia se ramifica em dois brônquios: brônquio
principal direito e brônquio principal esquerdo. Esses brônquios entram na raiz
do respectivo pulmão através do hilo chegando ao interior do órgão [16]. Na
árvore confeccionada, visualizada na Figura 1, percebe-se essa mesma forma-
ção e que o brônquio principal direito é um pouco mais largo que o esquerdo.

Figura 1 – Árvore brônquica do equino confeccionada


com a técnica de injeção e corrosão

Após a formação do brônquio principal direito e esquerdo, verificou-se a


formação de ramificações bronquiais que seguiram obedecendo quatro posi-
ções: dorsal (D), lateral (L), ventral (V) e medial (M).
142

Tabela 1 – Sistema bronquial e respectivas subdivisões da árvore


brônquica do eqüino baseado na visualização da arvore brônquica
confeccionada com a técnica de injeção e corrosão. A nomenclatura
utilizada segue a descrita por Nakakuki (1993) [17]
Lado Direito (LD) Lado Esquerdo (LE)
Dorsal Lateral Ventral Medial Dorsal Lateral Ventral Medial
D1 a, b L1 a, b V1 D1 a, b L1 a, b
D2 L2 D2 L2 M2
D3 V3 M3 D3 V3 M3

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D4 L4 V4 D4 L4 V4 M4
D5 L5 M5 D5 L5 M5
D6 D6

O brônquio lobar cranial, que origina externamente o lobo cranial do


pulmão direito, é formado pelo primeiro brônquio dorsal (D1), este, por sua
vez, segue seu trajeto no sentido dorsolateral e se divide em brônquio segmen-
tar cranial (a) e caudal (b) este último, com calibre maior. Na seqüência, se
forma um brônquio lobar no sentido lateral, o primeiro brônquio lateral (L1)
que, no sentido ventrolateral, também se divide em um brônquio segmentar
cranial (a) e caudal (b) bastante desenvolvido. Este brônquio lobar entra na
formação do lobo pulmonar médio nas outras espécies domésticas, que não
os equinos [16]. No equino, corresponde ao brônquio segmentar médio que
faz parte do brônquio lobar caudal. Formam-se ainda na sequência e sentido
dorsal, os brônquios segmentares D2, D3, D4, D5, D6; no sentido lateral, a
formação de L2, L4, L5; no sentido ventral, V3, V4 e, no sentido medial, M3,
M5. Todos esses brônquios segmentares pela posição e localização fazem parte
da formação do lobo caudal direito. Observou-se também a formação de um
brônquio lobar ventral, que pela posição, foi considerado (V1) que forma o
lobo acessório do pulmão direito.
Na descrição do brônquio principal esquerdo, observou-se a mesma
sequência de formação dos brônquios segmentares descritos no brônquio
principal direito, somente com a presença de um rudimentar brônquio ven-
tral o brônquio segmentar ventral (V1) portando somente considera-se lobo
acessório no pulmão direito.

Modelo anatômico árvore brônquica canino

A árvore brônquica é formada a partir da traqueia, que nos cães sofre uma
bifurcação na altura da base do coração (5ª ou 6ª vértebra), se dividindo em
dois brônquios principais: um esquerdo e outro direito, que se penetram nos
pulmões e se ramificam em bronquíolos [1]. Também estão presentes músculos
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 143

respiratórios pertencentes à cavidade torácica, estes são fundamentais para


que ocorram os movimentos de inspiração e expiração, sendo o diafragma o
músculo mais importante [3]
O modelo anatômico demonstra o interior da traqueia, dos brônquios
principais, dos brônquios lobares, dos brônquios segmentares, dos bronquíolos
e dos sacos alveolares. Para a injeção da solução de acrílico, um dos pulmões
foi mantido em posição mais próxima da anatômica, ao ser pendurado sus-
penso por fio de nylon transfixando a traqueia (pulmão vertical) e o outro
pulmão foi mantido apoiado em posição horizontal sobre superfície plana
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(pulmão horizontal).
Em ambos os pulmões (vertical e horizontal), a posição da traqueia
em relação aos brônquios principais ficou similar à posição anatômica. No
pulmão mantido suspenso, a distribuição e a posição dos brônquios lobares,
segmentares, dos bronquíolos e dos sacos alveolares ficou muito próxima
da posição anatômica normal. Isso permite a visualização dessas estruturas
como as mesmas ocorrem no organismo do animal vivo ou do cadáver. Por
um lado, este posicionamento, em razão da maior proximidade e sobreposição
das estruturas, não permite visualizar grande parte dos bronquíolos e sacos
alveolares, os quais acabam ficando encobertos. Por outro lado, o pulmão
mantido em posição horizontal sobre uma superfície plana fez com que os
sacos alveolares e os bronquíolos permanecessem distribuídos por uma área
maior. Assim, neste modelo (pulmão horizontal), a distribuição de todos os
brônquios segmentares, bronquíolos e de grande parte dos sacos alveolares
conectados a esses bronquíolos pode ser visualizada e individualizada.
Em virtude de dividir espaço com o coração à esquerda do medias-
tino, o pulmão esquerdo de cão, assim como de diversas outras espécies de
mamíferos, é menor que o pulmão direito [18]. Levando-se isso em conta, o
pulmão vertical permite evidenciar mais claramente a diferença proporcional
de tamanho que existe entre pulmão direito e o pulmão esquerdo do cão.
No cão, o pulmão direito está dividido em: lobos cranial, médio, caudal
e acessório. Já o pulmão esquerdo possui o lobo cranial dividido em duas
porções: uma cranial e outra caudal e, um lobo caudal único [3]. A divisão
lobar dos pulmões do cão pode ser evidenciada em ambos os posicionamentos
(vertical e horizontal) das peças anatômicas.
Os pulmões encontram-se fixados apenas em suas raízes. É possível a
identificação de um ápice com sentido à entrada do tórax, uma base côncava
extensa, que se relaciona com a porção anterior do diafragma; uma superfície
costal convexa, acomodada na parede torácica lateral; uma superfície medial
irregular modelada sobre o conteúdo do mediastino; uma borda dorsal espessa
ocupando a canaleta entre as vértebras e as costelas; e uma borda fina, que
abrange uma parte ventral limitando o recesso costomediastínico e uma parte
144

basal (caudoventral) limitando o recesso costodiafragmático. A parte ventral


está acomodada sobre o coração (incisura cardíaca) [18].
Das variações da técnica avaliadas, o pulmão mantido em posição vertical
resultou em um molde bem aproximado da posição e distribuição anatômica de
brônquios lobares, segmentares, bronquíolos e sacos alveolares do pulmão do cão.
Contudo, o posicionamento dos pulmões horizontalmente durante a injeção do
acrílico facilitou a visualização de quase todas as estruturas, mesmo as posicio-
nadas mais medialmente nos pulmões. Porém, algumas características do órgão
não são possíveis de se manter, como a coloração e a elasticidade das árvores

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brônquicas já que é adicionada a cor desejada ao exemplar e no final do processo
o material adquire consistência rígida devido ao endurecimento do acrílico. A
árvore brônquica do canino confeccionada pode ser observada na Figura 2.

Figura 2 – Árvore brônquica do canino confeccionada


com a técnica de injeção e corrosão

Modelo anatômico árvore brônquica bovino, suíno e ovino

Foi possível executar a técnica proposta nos pulmões de bovino, suíno e


ovino, apesar das suas diferenças morfológicas e de tamanho das vias aéreas.
Os moldes evidenciam o interior da traqueia, dos brônquios principais, dos
brônquios lobares, dos brônquios segmentares, dos bronquíolos e dos sacos
alveolares, possibilitando identificar toda a distribuição característica da árvore
brônquica desses animais [2].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 145

Embora os moldes não permitem individualizar os ductos e sacos alveo-


lares devido ao seu tamanho diminuto, a peça demonstra, claramente, a orga-
nização dessas estruturas saculares ao longo dos bronquíolos respiratórios
e na extremidade terminal da árvore brônquica nas três espécies animais
avaliadas [19]. A comparação entre as espécies descritas podem ver visua-
lizadas nas Figuras 3, 4 e 5.
Os pulmões são órgãos pares, direito e esquerdo, sendo que o pulmão
direito em todas as espécies é relativamente maior pela maior quantidade de
lobos, apresentando os lobos cranial, médio e caudal e um lobo adicional, o lobo
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acessório, e também não disputar espaço com o coração. Este ainda tem o lobo
cranial subdividido em porções cranial e caudal nas três espécies estudadas. A
formação dos brônquios lobares, em função dessa distribuição lobar do pulmão,
pode ser observada em todos os moldes realizados. Além disso, ficou evidente
o brônquio traqueal, que emerge antes da bifurcação da traquéia, para ventilar a
porção cranial do lobo cranial do pulmão direito (característica das três espécies
estudadas). Já no lado esquerdo, a subdivisão pulmonar das espécies estudadas
apresenta lobo cranial com porções cranial e caudal nos ruminantes (bovinos
e ovinos) e o lobo cranial sem subdivisão no suíno, além do lobo caudal sem
subdivisão nas três espécies[18, 3]. Essa distribuição dos brônquios lobares ficou
demonstrada e pode ser facilmente comparada nos moldes anatômicos obtidos.
Os órgãos respiratórios do bovino são, em comparação aos de ovinos,
mais curtos de comprimento, entretanto, maiores em relação a largura. Essas
diferenças são claramente perceptíveis comparando-se pulmões de animais
na fase adulta [3, 18]. Essa relação também ficou evidenciada na formatação
da árvore brônquica desses animais.

Figura 3 – Árvore brônquica do bovino confeccionada


com a técnica de injeção e corrosão
146

Figura 4 – Árvore brônquica do ovino confeccionada


com a técnica de injeção e corrosão

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Figura 5 – Árvore brônquica do suíno confeccionada
com a técnica de injeção e corrosão

Os modelos foram incorporados aos materiais das aulas práticas da dis-


ciplina de Anatomia dos Animais Domésticos II da Unijui, sendo utilizados
por alunos do segundo semestre da medicina veterinária e, tendo em vista sua
durabilidade, ainda poderá ser utilizada com muitas turmas. O uso permitiu
aos estudantes a visualização da árvore brônquica, possibilitando que possam
ser identificadas, macroscopicamente, na pratica e não apenas teoricamente,
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 147

a divisão e a classificação dos brônquios, melhorando o aprendizado durante


as aulas sobre o sistema respiratório, tendo, desta forma, o objetivo proposto
para o presente trabalho sido obtido com sucesso.

Conclusão

Ressaltamos que a aquisição de um conhecimento anatômico é de


extrema importância dentro da medicina veterinária. O entendimento da cone-
xão entre estrutura e função do corpo animal é primordial para aprofundar
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o conhecimento de outras ciências básicas e indispensável para que ocorra


interdisciplinaridade, como exemplo, anatomia e fisiologia.
O uso das técnicas anatômicas expostas, oferece uma opção interessante
como didática de ensino e de trabalho para professores de anatomia animal e
estudantes de medicina veterinária. O método desenvolvido demonstrou per-
feitamente a estrutura extra e intrapulmonar da árvore brônquica, sendo uma
forma eficaz de estudo da anatomia interna dos animais. O modelo alternativo
de pulmão apresentado através do presente trabalho, possibilitou verificar
estruturas que correspondem à realidade anatômica (bronquíolos e brônquios
segmentares), que muitas vezes são de difícil verificação através do uso de
técnicas convencionais. Assim, foi possível realizar uma clara identificação
das estruturas da árvore brônquica, além da visualização do trajeto a ser
percorrido pelo ar na árvore brônquica, durante a ventilação pulmonar nas
diferentes espécies de animais domésticos e de produção.
148

REFERÊNCIAS
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ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010. 856 p.

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TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 149

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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

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Corte coronal de encéfalo bovino plastinado com epóxi. Secção em plano coronal de
encéfalo bovino de espessura de 2 mm conservado pela técnica de plastinação com
epóxi. Espécime plastinado no Laboratório de Plastinação da Ufes e pertencente ao
acervo do Museu de Ciências da Vida, ambos coordenados pelo Prof. Dr. Athelson
Stefanon Bittencourt

Autor: Yuri Favalessa Monteiro


PLASTINAÇ ÃO DE ANIMAIS
SILVESTRES COMO FERRAMENTA DE
PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO
Yuri Favalessa Monteiro1
Marcos Vinícius Freitas Silva2
Renan Pavesi Miranda3
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Ana Paula Santana de Vasconcellos Bittencourt4


Aureo Banhos5
Athelson Stefanon Bittencourt6

Introdução

O Brasil é um dos 17 países megadiversos e possui a maior biodiversidade,


sendo o segundo em relação a número de espécies endêmicas no mundo [1].
O país abriga mais de 120.000 espécies conhecidas de animais, sendo que
8.900 espécies vertebrados, das quais 1.173 estão listadas como ameaçadas de
extinção [2]. Esses dados revelam a importância dos estudos que produzam
conhecimento acerca da biodiversidade presente no Brasil.
A perda da biodiversidade tem se tornado crescente e vem sendo causada
por diversos fatores, tais como desmatamento, fragmentação de habitat, caça
predatória, atropelamento de fauna silvestre, introdução de espécies exóticas,
introdução de zoonoses, dentre outros [3, 4]. Devido a importância da fauna
silvestre no contexto do meio ambiente e a grande biodiversidade presente
no Brasil, muitos estudos são desenvolvidos no país tendo como objeto de
pesquisas espécies de animais, sua interação com o ambiente e os impactos
causados pelo homem sobre suas populações naturais.

1 Departamento de Morfologia/Museu de Ciências da Vida, 29047-105, Universidade Federal do Espírito


Santo, Vitória – ES, Brasil. Autor correspondente: yuri_favalessa@hotmail.com.
2 Departamento de Morfologia/Museu de Ciências da Vida, 29047-105, Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória – ES, Brasil.
3 Departamento de Morfologia/Museu de Ciências da Vida, 29047-105, Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória – ES, Brasil.
4 Departamento de Ciências Fisiológicas/ Centro de Ciências da Saúde – CCS, Universidade Federal do
Espírito Santo, 29047-105, Vitória – ES, Brasil.
5 Departamento de Biologia, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde – CCENS, Universidade Federal
do Espírito Santo, 29500-000, Alegre – ES, Brasil.
6 Departamento de Morfologia/Museu de Ciências da Vida, 29047-105, Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória – ES, Brasil.
152

No estudo anatômico, por exemplo, os métodos de conservação de teci-


dos biológicos são fundamentais para se evitar a decomposição tecidual,
prolongando o tempo de aproveitamento e uso desses tecidos. As técnicas de
preservação de material biológico foram criadas e vem sendo aperfeiçoadas
e aplicadas desde os primórdios da civilização, sendo variados fins, como:
religioso, ornamental, pesquisas científicas e histórico [5]. Diversas técnicas
anatômicas podem ser aplicadas para o estudo de animais, incluindo os sil-
vestres, tais como a fixação química, dissecação, taxidermia, osteotécnicas,
mumificação, técnicas de injeção e corrosão e plastinação. Atualmente, o

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que há de mais moderno para conservação de tecidos biológicos e espécimes
anatômicos é a plastinação, sendo chamada por alguns autores como a técnica
anatômica do século [6].
A plastinação é uma técnica de conservação de tecidos biológicos desen-
volvida por Gunther von Hagens na década de 70, que tem como princípio
básico a substituição de água e lipídios por um polímero curável. A técnica
é dividida basicamente em quatro etapas: fixação do material, desidratação,
impregnação forçada e a cura [7]. Como resultado, a técnica de plastinação
produz espécimes com a boa coloração, atóxicos, inodoros, secos, resistentes,
e de fácil manutenção e transporte [8]. Devido a estas características, são durá-
veis, de fácil manipulação, mobilidade e podem permanecer em qualquer lugar.
Essas características tem feito com que a técnica se popularize e seja
almejada por inúmeras instituições de ensino como universidades, colégios
e museus por todo o mundo [9]. Adicionalmente, a técnica proporciona uma
ampla utilização em diferentes tecidos ou espécimes humanos e animais, per-
mitindo as mais diversas preparações que apresentam um número ilimitado de
possibilidades de dissecções, posições, situações, cortes, etc. Grande parte da
versatilidade da técnica se deve à aplicação de diferentes polímeros com suas
propriedades distintas, que podem ser empregados para produzir espécimes
com propostas e objetivos bem peculiares.
Na plastinação, os principais polímeros curáveis utilizados são o sili-
cone, epóxi ou poliéster. O silicone é ideal para conservar órgãos e peças
inteiras, já o epóxi e o poliéster são mais indicados para cortes seriados de
tecidos biológicos (3-5 mm de espessura), sendo úteis para histologia, ensino
de anatomia seccional e de diagnóstico por imagem. Destes dois, o poliéster
é mais utilizado para cortes de sistema nervoso central, pois permite maior
diferenciação de substância branca e cinzenta [10, 11]. Devido à sua versati-
lidade e maior possibilidades de usos, o silicone é o polímero mais utilizado,
no geral, pelos laboratórios de plastinação no mundo. Já o epóxi, pelas suas
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 153

características, oferece preparações com grande nitidez e tem sido utilizado


como ferramenta de pesquisa na área de anatomia, fisiopatologia e correlatas.
De todas as etapas da plastinação, a impregnação forçada é a mais impor-
tante e é decisiva para uma boa qualidade do espécime. Essa etapa foi des-
crita por Gunther von Hagens em 1977, que apresentou a mistura reativa para
impregnação à frio, constituída do silicone e seu catalisador, como meio para a
impregnação forçada. Em 1998, Daniel Corcoran introduziu a ideia da impreg-
nação à temperatura ambiente em que propôs outra sequência para combinação
dos componentes para a mistura de impregnação. A mistura reativa seria com-
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posta pelo silicone e o reticulante [12]. Apesar da plastinação à temperatura


ambiente ser mais fácil, barata e, normalmente, ser a primeira opção de quem
começa a técnica, Starchik [13], mostrou que apenas 20% dos laboratórios de
plastinação no mundo utilizavam o método de temperatura ambiente.
Tendo em vista as inúmeras vantagens desta técnica na preservação de
tecidos biológicos e a ausência de um acervo de animais silvestres da fauna
brasileira plastinados no Brasil e no mundo, o objetivo deste trabalho foi com-
por um acervo de animais silvestres plastinados para fins de ampla aplicação
na pesquisa, no ensino e na extensão universitária.

Material e métodos

Primeira etapa: coletando e armazenando os espécimes

As carcaças dos animais silvestres utilizados neste trabalho foram obti-


dos dentro de uma parceria com o projeto de pesquisa intitulado “Coleção de
amostras biológicas de vertebrados silvestres encontrados atropelados, caçados
e mortos na Reserva Biológica de Sooretama e Reserva Natural Vale, Linhares
– ES”, com a autorização da licença SISBIO/ICMBIO 31762-6, coordenado
e executado no âmbito da Universidade Federal do Espírito Santo, no qual os
animais coletados foram vítimas de atropelamento na rodovia federal BR-101,
trecho que corta a Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale,
no estado do Espírito Santo. As carcaças foram coletadas por pesquisadores
durante as atividades de monitoramento de animais atropelados, funcionários
das reservas e por funcionários da concessionária que administra a via. Os
animais vertebrados, vítimas de atropelamento, foram fotografados, coletados,
etiquetados, tiveram amostras coletadas de diferentes tecidos para armaze-
namento e posteriores análises ou estudos específicos. Os animais em bom
estado de conservação foram armazenados em freezers nas sedes das reservas
e, posteriormente, encaminhados para o Laboratório de Plastinação da Ufes.
154

Dentro deste estudo, foram registrados os seguintes dados: data, hora,


coordenadas, quilômetro, o sentido em relação à rodovia, o nome do coletor e
um código único para aquele espécime. Ao chegarem ao Laboratório de Plas-
tinação, foram catalogados, novamente fotografados para controle interno, e
acomodados em freezers até o início de seu processamento para a plastinação.

Segunda etapa: Plastinação dos espécimes

Para a plastinação, foram selecionados animais de diferentes espécies

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e em ótimo estado de conservação, totalizando dez espécimes. Os animais
utilizados neste projeto e suas quantidades foram, respectivamente: cachorro-
-do-mato (Cerdocyon thous) (1), cabeça e filhote de anta (Tapirus terrestris)
(2), gato-maracajá (Leopardus wiedii) (1), mão-pelada (Procyon cancrivorus)
(1), preguiça-comum (Bradypus variegatus) (1), quati (Nasua nasua) (1), paca
(Cuniculus paca) (1), pica-pau-anão-barrado (Picmnus cirratus) (1) e pena
de harpia (Harpia harpyja) (1). A pena de harpia foi testada para avaliação
do comportamento de plumagem no processo de plastinação e, posterior pla-
nejamento de plastinação de uma harpia adulta inteira.
Para a plastinação dos espécimes animais, foram seguidos os protocolos
básicos propostos por von Hagens, Tiedemann e Kriz [7] e Raoof, Henry e
Reed [14], o qual consiste de quatro etapas fundamentais: fixação, desidra-
tação, impregnação forçada e cura. Inicialmente, os animais foram descon-
gelados por 48 horas à temperatura ambiente e, após isso, seguiram para a
fixação química. Essa etapa é fundamental para a estabilização dos tecidos
biológicos, evitando a decomposição tecidual. Os animais foram posicionados
conforme um projeto expositivo pré-definido para cada exemplar. A posição
escolhida sempre buscou reproduzir uma situação natural, e para isso, foram
utilizados diversos materiais como madeira, arame, parafusos, gaze e bar-
bante, e diferentes recursos para manter os animais nas posições de escolha
durante todo o processo. Após o posicionamento, os animais foram injetados
com uma solução de formalina 5% diretamente por meio de seringa e agulha
diretamente na musculatura e, em seguida, imersos em formalina de mesma
concentração por pelo menos três meses. A perfusão arteriovenosa de solução
fixadora não foi utilizada nestes espécimes, pois devido impacto do atropela-
mento, o sistema vascular dos animais foi seriamente danificado, o que impe-
dia a adequada circulação do fluido injetado. Após esse tempo, conforme um
planejamento prévio, o cachorro-do-mato e o mão-pelada foram dissecados
por estudantes de diversos cursos de graduação, membros da equipe do Labo-
ratório de Plastinação. A pena de harpia seguiu diretamente para a próxima
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 155

etapa. Em seguida, os animais passaram para a etapa de desidratação, que se


baseia na substituição da água tecidual por um solvente intermediário. Foram
realizados quatro banhos de imersão sucessivos de acetona com as seguintes
concentrações: 95%, 95%, 99% e 100%. Cada banho durou, no mínimo, uma
semana e, ao final do último banho, obteve-se uma concentração de acetona
igual ou superior a 99%.
Finalizada a desidratação, os espécimes seguiram para a etapa de impreg-
nação forçada, com aplicação de vácuo numa câmara apropriada para substitui-
ção da acetona pelo polímero silicone. Alguns espécimes foram impregnados
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no método à temperatura ambiente (TA) de 25±2 ºC e outros à temperatura


fria (TF) de -18±2 ºC (Tabela 1). Para escolha do método, foram considera-
dos os tamanhos dos espécimes e a disponibilidade da câmara de vácuo. Os
espécimes impregnados em TF foram imersos em uma mistura de silicone
com seu catalisador dibutil estanho laureato (DBTL) na proporção de 100:1
(m/m), respectivamente, e os de TA foram imersos em uma mistura de sili-
cone e o reticulante Tetraetila Silicato (TES) na proporção de 100:8 (m/m),
respectivamente. O vácuo foi aplicado na câmara de forma lenta e progressiva,
num período que, dependendo do espécime e da temperatura de impregna-
ção, variou de 10 e 25 dias. Então, os espécimes foram retirados da mistura
e colocados para drenar o excesso de silicone. Após a drenagem inicial, foi
realizada a drenagem mecânica com papel absortivo por pelo menos 10 dias.
Após a drenagem, procedeu-se a etapa de cura, cujo objetivo é o endu-
recimento do silicone. Para isso, nos espécimes impregnados em TA, o cata-
lisador DBTL foi aplicado com o auxílio de um pincel ou borrifador, e para
aqueles impregnados em TF, os espécimes foram submetidos à vaporização
do reticulante TES em uma câmara plástica fechada. O processo de cura durou
cerca de três dias.
Todo o trabalho com os animais foi aprovado pelo Comitê de Ética no
Uso de Animais da Ufes, registrado sob o número 31/2019.

Resultados e discussão

Ao final deste trabalho, obtiveram-se dez espécimes animais plastinados


com diferentes estratégias de preparação e montagem (Tabela 1 e Figuras 1
e 2). O processo se mostrou altamente eficaz na preparação e preservação de
espécimes animais, inclusive, com manutenção das diferentes características
naturais, mantendo um aspecto muito real.
156

Tabela 1 – Lista de animais e respectivos métodos de plastinação


aplicados. TA = temperatura ambiente; TF = temperatura fria
Animal Silvestre Nome Científico Método de Impregnação Dissecção/Preparação
Cachorro-do-mato Cerdocyon thous TF Hemicorpo dissecado no plano da
musculatura superficial com uma janela
toracoabdominal evidenciando vísceras
Cabeça de Tapirus terrestris TA Dissecção da parte posterior da cabeça,
anta fêmea evidenciando forame ósseos do crânio,
magno, e músculos adjacentes
Feto de anta Tapirus terrestris TF Sem dissecção

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Gato-maracajá Leopardus wiedii TA Sem dissecção e em posição
de repouso/dormindo
Mão-pelada Procyon TA Hemidissecção do corpo no
cancrivorus plano muscular superficial, e
em posição ereta típica
Preguiça-comum Bradypus TA Sem dissecção e em posição natural de
variegatus deambulação em galhos de árvores
Quati Nasua nasua TA Sem dissecção e em posição
natural de ambulação
Paca Cuniculus paca TF Sem dissecção e em posição
natural de ambulação
Pica-pau-anão- Picmnus cirratus TA Sem dissecção e em posição
barrado de asas abertas
Pena de harpia Harpia harpyja TA Seguiu diretamente para a
etapa de desidratação

Figura 1 – Animais silvestres da Mata Atlântica vítimas de atropelamento


no trecho da rodovia BR-101, que corta a Reserva Biológica de
Sooretama e Reserva Natural Vale, e plastinados com silicone pelo
Laboratório de Plastinação da Ufes. Da esquerda para a direita:
quati, mão-pelada, cabeça de anta, paca e cachorro-do-mato
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 157

Figura 2 – Animais silvestres da Mata Atlântica plastinados com silicone, vítimas


de atropelamento no trecho da rodovia BR-101, que corta a Reserva Biológica
de Sooretama e Reserva Natural Vale. Da esquerda para direita, de cima para
baixo: gato-Maracajá, bicho-preguiça, feto de anta retirado do corpo da mãe
logo após ter sido atropelada, pica-pau-anão-barrado e pena de harpia
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Os animais plastinados à temperatura ambiente e à baixa temperatura


tiveram resultados bem semelhantes. O tempo de impregnação em TA foi
menor, durando em média 12 dias e já em TF a média foi de 25 dias. A vis-
cosidade do silicone é um fator importante para o tempo de impregnação,
sendo que a TF a viscosidade do silicone é drasticamente aumentada [15],
dificultando a sua troca pela acetona e impregnação nos tecidos biológicos.
Nos animais impregnados em TF, com uma mistura que já contém o cata-
lisador, tende a aumentar gradativamente a viscosidade assim que é retirado
da baixa temperatura, o que não ocorre quando a impregnação é feita com a
mistura para TA, que não contém o catalisador. Esta diferença permite uma
drenagem do silicone excedente mais rápida nos animais de TA, deixando
um aspecto mais natural no espécime como um todo, inclusive, na pelagem
ou plumagem desses animais (Figura 3). Além disso, a plastinação à TA não
requer o uso de freezer a prova de explosão, barateando o seu custo.
158

Figura 3 – Bicho-preguiça plastinado em TA com aspecto


final bem natural, sendo manipulado pelo Dr. Athelson S.
Bittencourt, coordenador do Laboratório de Plastinação

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Embora no método a TA a impregnação tenha sido facilitada em relação
ao tempo, assim como a drenagem, é mais simples e efetiva. Já a cura, por
sua vez, é dificultada uma vez que o catalisador deve ser aplicado em toda a
extensão do animal de forma manual, e com o tempo, a chance de extrava-
samento de mais excesso de silicone é maior, mesmo com aplicação da cura.
Ao contrário de outras técnicas de conservação de tecidos biológicos
utilizados para espécimes animais, a plastinação requer pouca ou quase
nenhuma manutenção ao longo do tempo, desde que os devidos cuidados
de armazenamento e proteção contra danos físicos sejam tomados. Alguns
espécimes podem ficar quebradiços em regiões mais delicadas e rígidas,
mas em geral, as peças apresentam certa flexibilidade, ausência de odores
desagradáveis, toxidez, manutenção da forma e aspecto natural e permane-
cem secos após a cura [7].
No que se refere à segurança de todos que lidam com espécimes biológi-
cos preservados, a plastinação nos oferece a solução de um grande número de
problemas. O formol, um dos fixadores e conservantes de tecidos biológicos
mais utilizados no Brasil e no mundo, é cancerígeno, teratogênico, de odor
irritante e pungente e traz problemáticas quanto ao seu descarte adequado [16,
17]. Por outro lado, o etanol ou álcool etílico, um produto muito utilizado para
conservação de tecidos biológicos, apresenta um elevado risco de incêndio,
como o ocorrido no Instituto Butantan em 2010, que destruiu mais de 70 mil
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 159

espécimes das coleções biológicas do instituto. Ademais, o álcool promove


a perda de coloração do espécime, torna os tecidos mais quebradiços e causa
uma certa retração tecidual [17, 18].
Ao contrário de outros métodos de conservação em soluções líquidas
que, por exemplo, necessitam periodicamente de manutenção e substituição
de químicos, o que demanda mais trabalho e custo financeiro [19], a plasti-
nação apresenta uma manipulação extremamente simples, sem necessidade
de equipamentos de proteção individual, e sem risco química e biológica.
A plastinação também possui algumas vantagens em relação a outras téc-
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nicas, tais como a taxidermia e as osteotécnicas já que mais estruturas podem


ser preservadas, tais como músculos, vasos sanguíneos, nervos e órgãos, pre-
servando estruturas macro e microscópicas. Essa técnica produz espécimes
muito duradouros uma vez que estes permanecem inertes indefinidamente e
não há relatos de ataque de insetos a essas peças. Entretanto, devido à sua
estabilidade, o único meio de descarte destes espécimes é por incineração e
após a plastinação, esses espécimes não mais se decompõem.
Apesar do seu custo inicial elevado e a necessidade de equipamentos
específicos, a plastinação a longo prazo torna-se uma técnica mais barata
quando comparadas à outras técnicas convencionais [20], uma vez que requer
manutenções e cuidados mínimos ao longo dos anos e décadas [21].
Tendo em vista todas essas características já citadas e outras mais, a
plastinação se torna uma excelente ferramenta de pesquisa, ensino e extensão.
No campo da pesquisa, diversos estudos foram e estão sendo desenvolvidos
tendo a plastinação como meio ou como fim, tais como estudos com polímeros
convencionais e alternativos, preparações histológicas, extração e amplifica-
ção de material genético, estudos de exames de imagens, uso de corantes e
pigmentos em peças plastinadas e métodos de ensino [22]. Essas pesquisas
têm como objetivo, principalmente, a melhoria da técnica ou a aplicação dela
nas mais diversas áreas do conhecimento [23].
Adicionalmente, a plastinação permite a realização de outras análises,
mesmo com o material já processado, como o conteúdo intestinal, extração
de parasitas internos e externos, possibilidade de extração de DNA em teci-
dos plastinados não fixados em formol [24], estudo de anomalias e variações
anatômicas [25] e patológicas, estudos da anatomia e as suas respectivas
adaptações por meio da análise da anatomia comparada e morfometria entre
esses animais, dentre outras aplicações [26].
Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado nas pesquisas sobre
plastinação, sendo um dos nove países que mais publicaram estudos no
Journal of Plastination, o jornal oficial da Sociedade Internacional de
Plastinação. O Laboratório de Plastinação da Universidade Federal do
Espírito Santo (Ufes) desenvolve pesquisas em diversas áreas, tais como
160

a química, reologia, histologia, anatomia comparada, anatomia humana e


animal, e coloração de espécimes. O laboratório tem uma equipe formada
por alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado) e graduação dos mais
diversos cursos, com vínculos de iniciação científica, bolsas de programas
de ensino, de extensão e voluntários. Todos os integrantes dessa equipe
atuam em linhas de pesquisa e extensão voltadas à técnica de plastinação
ou com a aplicação dela.
Além de atuar na pesquisa, atualmente, o Laboratório de Plastinação da
Ufes, juntamente com o Museu de Ciências da Vida contam com um diverso

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acervo biológico. Os acervos ou coleções biológicas apresentam grande impor-
tância para o conhecimento da biodiversidade, representando um registro
material e documental da fauna fora de seu habitat natural, permitindo consti-
tuir uma fonte de conhecimento, facilmente acessada após a coleta de material.
Isso permite extrair inúmeras informações, inclusive, de espécies ameaçadas
de extinção (como é o caso da anta), ou já extintas e até mesmo a descrição
de novas espécies tombadas com identificações duvidosas [27].
Atualmente, os métodos de conservação mais utilizados para construção
de acervos biológicos são as soluções de imersão, tais como solução alcóolica
e de formol. Porém, como já mencionado, esses métodos possuem muitos
inconvenientes. Com isso, a plastinação mostrou-se uma ótima tecnologia
para a produção de acervos biológicos, garantido preservação de coleções
por tempo indeterminado e com ótimo custo benefício, como já extensamente
discutido neste trabalho.
Outra grande área de aplicação da plastinação que merece destaque é para
o ensino e a educação e difusão científica. O uso de espécimes plastinados
no ensino vem ganhando popularidade nos últimos anos, principalmente, nas
áreas da anatomia, patologia, zoologia e medicina forense, e já vêm sendo
amplamente utilizados nos grandes centros de ensino [28], que tem demons-
trado importante ganho metodológico de aprendizagem nas mais diversas
áreas. Espécimes plastinados são materiais excelentes para estudos minuciosos
e detalhados, permitindo abordagens variadas [29]. Porém, Latorre et al. [30],
ressalta que, apesar da avaliação positiva desses espécimes em sala de aula,
os plastinados não substituem os métodos tradicionais, sendo que o uso de
diferentes técnicas permite diferentes abordagens e a combinação de várias
técnicas atua como um facilitador no aprendizado.
A plastinação também se mostra uma ferramenta preciosa e facilitadora
para a divulgação científica em museus, exposições, feiras científicas, e outros
eventos de extensão universitária, em especial, das áreas da ciência, inclusive
itinerantes. Os espécimes animais plastinados nesse trabalho já participaram
de exposições realizadas no Espírito Santo e fora dele, pelo Museu de Ciências
da Vida, que é um Programa de Extensão de interesse institucional ao qual
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 161

o Laboratório de Plastinação está vinculado onde se demonstrou na prática


grande aplicabilidade e vantagens desta tecnologia na difusão científica e
interação com todos os públicos (Figura 4). O fato de o acervo ser plastinado,
sem sombra de dúvidas, proporcionou melhor logística, segurança, transporte
e montagem para a realização das ações extensionistas, sem falar do grande
diferencial que é a provocação da curiosidade de todas as idades. A pena de
harpia adulta plastinada se encontra em exposição na sede da Reserva Bio-
lógica de Sooretama.
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Figura 4 – Espécimes animais plastinados em exposição itinerante na


II Feira do Conhecimento, em Venda Nova do Imigrante – ES

Por fim, os espécimes plastinados proporcionam aos visitantes das expo-


sições algo muitas vezes impensável, que é a possibilidade de manipulação e
interação com a coleção, o que ganha uma dimensão sublime no que se refere
a atender a demanda de pessoas com deficiência visual, que depende do tato
para enxergar. Assim, a plastinação, além tudo que já foi dito, nos mostra a
possibilidade da inclusão e da acessibilidade, democratizando o conhecimento
científico, nos permite garantir a cidadania cultural e científica a todos.

Conclusão

Neste estudo, concluímos que a plastinação é uma ferramenta valio-


síssima para a preservação de coleções de animais silvestres para diferentes
finalidades, mantendo as características naturais, criando inúmeras possibi-
lidades de preparações e aplicações no ensino, na pesquisa e na extensão de
162

forma indissociada, atingindo os mais variados públicos, democratizando o


conhecimento e sendo ambientalmente responsável.
Com os resultados deste trabalho, foi possível perceber que de uma
tragédia (que é o atropelamento de animais silvestres, muitos dos quais em
vias de extinção), pôde-se encontrar alternativas para ressignificar este fato e
criar um instrumento transformador de nosso cotidiano, tendo a plastinação
como uma moderna e versátil ferramenta promotora deste processo servindo,
inclusive, como instrumento de educação e sensibilização ambiental quanto
à problemática dos atropelamentos da fauna silvestre.

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Concluímos também com este estudo que os métodos de impregnação
forçada à temperatura fria e temperatura ambiente apresentaram resultados
satisfatórios e equivalentes.

Agradecimentos

À Pró-Reitoria de Extensão da UFES, pelo apoio com bolsa (M. V. F.


SILVA), formação de pessoal, equipamentos, insumos e realização de even-
tos (Ações Registros Nº 100 e 102); À Empresa VALE S.A. (Convênio
nº 33/2019); À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo
(Processo nº 527/2016).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 163

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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Reconstrução de estruturas da face em massa de modelar. O direcionamento das fibras


dos músculos faciais foi realizado com o auxílio de palitinhos para churrasco. Esses
modelos anatômicos foram desenvolvidos pelos alunos do curso de Especialização
em Harmonização Orofacial, promovido pela ABO-PI. O laboratório utilizado foi

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gentilmente cedido pelo Departamento de Morfologia da Universidade Federal do
Piauí – UFPI. Onde os alunos puderam comparar as peças anatômicas em formol,
com as artificias e com os seus modelos anatômicos construídos em massa de modelar

Autor(a): Christianne Mª Tinoco Veras.


CONSTRUÇÃO DE MODELOS
ANATÔMICOS ATRAVÉS DE
TÉCNICAS DE MODELAGEM
Daniel Medeiros Nunes1
Natalie Emanuelle Ribeiro Rodrigues2
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Introdução

O corpo humano desperta curiosidades há séculos devido à comple-


xidade fisiológica e anatômica que possui. Na tentativa de se compreender
melhor o corpo humano, surge a anatomia, uma ciência que estuda estruturas
macroscópicas e microscópicas em busca de compreender a localização e
estabelecer nomenclaturas de estruturas, correlacionando-as com suas funções
[1]. A anatomia é um componente curricular básico introdutório nos cursos de
saúde que busca estabelecer uma base de conhecimento que será necessária
na construção de outros saberes e durante práticas clínicas [2, 1].
Atualmente, o método tradicional de estudo da anatomia humana nos
cursos de saúde ainda é bastante arcaico, consistindo em aulas teóricas expo-
sitivas, seguidas por aulas práticas em laboratório nas quais se buscam a
visualização e identificação de estruturas em peças anatômicas [3, 4, 5]. As
aulas práticas com peças anatômicas cadavéricas possibilitam uma maior
interação do aluno com o conteúdo apresentado através da percepção da tex-
tura, da tridimensionalidade, da forma e da relação entre diversas estruturas
[3], além da visualização de variações anatômicas e situações patológicas
[6]. Entretanto, a escassez de cadáveres nas diversas Instituições de Ensino
Superior tem dificultado o estudo da anatomia [3]. Isso se deve, em parte, à
burocracia necessária [3], regulamentada pela Lei n° 8.501, de 30 de novem-
bro de 1992, que dispõe sobre a utilização de cadáveres não reclamados para
fins de estudos ou pesquisas científicas [7] e pela falta de conhecimento do
Artigo 14 da Lei 10.406/2002 do Código Civil Brasileiro por grande parte da
população, o qual valida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição
gratuita do próprio corpo no todo ou em parte para depois da morte [8].

1 Graduando em Medicina, Departamento de Medicina, Universidade de Pernambuco, Campus Garanhuns,


55294902, Garanhuns-PE, Brasil.
2 Licenciada em Ciências Biológicas, Doutora em Inovação Terapêutica, Departamento de Medicina,
Universidade de Pernambuco, Campus Garanhuns, 55294902, Garanhuns-PE, Brasil. Autor correspondente:
natalie.rodrigues@upe.br.
168

Em busca de melhorar o processo de ensino aprendizagem na disciplina e


contornar as adversidades, professores são desafiados, constantemente, a buscarem
novos métodos de ensino. Atividades que incorporam aspectos visuais, auditivos,
de leitura, de escrita e de modalidades cinestésicas vêm tomando espaço nas
propostas didáticas em Universidades [9]. Métodos alternativos no processo de
ensino-aprendizagem são recursos facilitadores na compreensão e fixação das
funções e nomenclaturas de estruturas anatômicas, e a tendência é que os laborató-
rios cada vez mais se tornem espaços lúdicos, interativos e interdisciplinares [10].
Uma alternativa promissora para se aliar à dissecação durante as aulas

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práticas é a modelagem anatômica, uma técnica de baixo custo e fácil imple-
mentação nos diversos graus de ensino, que tem demonstrado bons resultados
na efetividade da compreensão tridimensional de estruturas anatômicas [11]. A
modelagem anatômica é capaz de produzir peças artificiais com grande seme-
lhança a estruturas naturais, mesmo sem que o modelador tenha treinamento
formal em artes plásticas [6]. Além disso, ela aproxima o aluno da disciplina,
promove uma melhoria no processo de ensino aprendizagem [12, 13] e repre-
senta um campo propício para futuras pesquisas na educação científica [14].
O uso de modelos sintéticos, assim como o de peças cadavéricas, são
ferramentas essenciais para a construção do conhecimento anatômico [15].
Quando comparado a outros métodos educacionais, como uso de imagens 3D
e de desenhos bidimensionais, a utilização de modelos físicos tem apresentado
resultados melhores em relação à aquisição de conhecimento geral e espacial
[16]. Atividades lúdicas, como a modelagem, possibilitam um aprendizado
mais dinâmico e efetivo, contribuindo para o estímulo e envolvimento do estu-
dante, por meio da quebra do paradigma das aulas meramente expositivas [17].
Sendo assim, o presente trabalho busca, por meio de um estudo teórico-
-prático, demonstrar técnicas de modelagem anatômica em biscuit e em gesso
a partir de molde em alginato, em busca de testar a viabilidade da implantação
de um futuro projeto de extensão na Universidade de Pernambuco (UPE),
Campus Garanhuns, em busca do aperfeiçoamento no aprendizado da ana-
tomia por extensionistas.

Material e método

As técnicas descritas nesse artigo foram desenvolvidas com o propósito


de criar um projeto de extensão na UPE, Campus Garanhuns, em busca do
aperfeiçoamento no aprendizado da anatomia por extensionistas dos cursos
de Medicina, Ciências Biológicas e demais cursos interessados.
Duas técnicas de modelagem foram utilizadas para confecção dos mode-
los anatômicos: a modelagem em biscuit e a modelagem em gesso a partir
de moldes em alginato.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 169

Para a confecção de modelos anatômicos através de modelagem em bis-


cuit, foram utilizados os seguintes materiais: massa de biscuit adquirida pronta,
rolo para abrir massa, isopor, estilete, tintas guache de diversas cores, pincéis,
folhas A4, palito de churrasco e hidrocor. O biscuit foi o material escolhido
devido às características de resistência, durabilidade, não toxicidade, boa mode-
lagem, fácil tingimento e baixo custo [18, 19, 20]. A massa pode ser adquirida
pronta ou pode ser feita de forma caseira com o uso de amido de milho, cola
branca para porcelana fria, limão ou vinagre e creme para porcelana fria [20].
Inicialmente, foi realizada uma ampla pesquisa em livros e atlas de anato-
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mia com a finalidade de identificar todas as estruturas a serem representadas no


modelo anatômico. Após a identificação, foi feito um esboço com um hidrocor
em uma folha de papel A4 para representar todas as estruturas a serem modeladas
(Figura 1-A). Posteriormente, foram reproduzidas as principais estruturas do
desenho em um pedaço de isopor com 40mm de espessura (Figura 1-B). Com o
auxílio de um estilete, foi iniciado o processo de esculpir, na tentativa de deixar as
estruturas tridimensionais através de arredondamentos (Figura 1-C). Em seguida,
foi aberta a massa de biscuit com o auxílio de um rolo, para que a mesma ficasse
com cerca de 3mm de espessura (Figura 2-A). Após aberta, recobriu-se o isopor,
e se iniciou a modelagem dos detalhes com a mão e com o auxílio de um palito
de churrasco, sendo representadas as texturas, modeladas estruturas delicadas e
realizados os acabamentos (Figura 2-B). Depois de realizada a etapa de mode-
lagem, a peça passou pelo período de secagem e, na sequência, foi realizada a
pintura com tinta guache (Figura 2-C). Por fim, para um melhor acabamento,
foi passado uma camada de verniz na peça modelada (Figura 3).

Figura 1 – Representação das etapas iniciais, demonstrando


o projeto da modelagem e o isopor após ser esculpido
170

Figura 2 – Representação das etapas finais, demonstrando


a modelagem e o início da pintura

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Figura 3 – Modelo do sistema urinário pronto após
as etapas de modelagem e pintura

Para a modelagem em gesso através de moldes de alginato, foi utilizada uma


adaptação dos métodos de Possenon et al. [21] e Cabral et al. [22]. O alginato
e o gesso foram os materiais escolhidos por serem baratos, facilmente adquiri-
dos e manipulados e por permitirem bons resultados [22-24]. Para exemplificar
essa técnica de modelagem, foi utilizado um fêmur de peru adquirido na seção
frigorífica de um supermercado da Região Metropolitana do Recife. Os mate-
riais utilizados para confecção do molde foram: alginato, gesso comum, isopor,
estilete, arames metálicos finos, cola branca, recipiente plástico, colher e o osso.
A princípio, foi confeccionada uma caixa de isopor com tamanho sufi-
ciente para colocar o osso dentro. Foram introduzidos arames a cerca de 1,5
cm do fundo de isopor, através de uma das paredes laterais da caixa, sendo
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 171

transpassado até sair pela parede oposta. Os arames são necessários para
que o osso não encoste nas laterais nem no fundo da caixa (Figura 4-A).
Posteriormente, o osso foi posicionado com cautela, para não encostar no
isopor (Figura 4-B). Com o auxílio de uma colher, o alginato foi preparado
através da mistura de 45g do pó com 120ml de água gelada dentro de um
recipiente plástico. Em seguida, foi despejado nos espaços entre o isopor e
o osso, até cobri-lo pela metade (Figura 4- C). Após 10 minutos, tempo do
endurecimento completo do alginato, foi despejado mais alginato até cobertura
total do osso (Figura 5-A). Após o endurecimento da segunda camada, foi
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realizada a retirada dos arames, a separação das paredes de isopor através de


tração manual e a separação dos dois blocos (Figura 5-B). Em seguida, foi
preparado o gesso comum através da mistura de 200g de gesso com 60ml de
água, o qual foi despejado nos dois moldes de alginato. (Figura 5-C). Com
cuidado e rapidez, as duas partes foram encaixadas, de modo que as laterais
coincidissem umas com as outras. Após unir os dois moldes, foi realizada uma
leve pressão com as mãos sobre eles e deixados descansando por 5 horas, para
que o gesso secasse completamente. Após esse período, o modelo de gesso
foi desenformado e, com o auxílio de um estilete, realizado o acabamento,
retirando-se os excessos cuidadosamente, com o intuito de deixar o osso de
gesso o mais parecido possível com o original (Figura 6).

Figura 4 – Representação das etapas iniciais, demonstrando caixa de isopor,


uso dos fios metálicos e preparação da primeira camada do alginato
172

Figura 5 – Representação das etapas finais, demonstrando a segunda camada


do alginato, o processo da separação dos moldes e a aplicação do gesso

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Figura 6 – Resultado da modelagem em gesso de um
fêmur de peru após serem dados os acabamentos

Resultados e discussão
Os modelos didáticos anatômicos são um método alternativo que faci-
litam o processo de ensino-aprendizagem. Eles consistem em um sistema
figurativo tridimensional, geralmente colorido, que permite a manipulação
e visualização através de vários ângulos [6, 13, 25]. O uso dos modelos
anatômicos proporciona uma melhora na capacidade de adquirir e guardar
informações quando comparado com métodos tradicionais de ensino, como
as aulas teóricas expositivas [17, 25].
Algumas instituições de ensino são adeptas aos métodos ativos de
confecção de modelos anatômicos didáticos através de biscuit, massa de
modelar, silicone, argila e gesso [21]. Os modelos anatômicos servem de
complemento às peças anatômicas cadavéricas e proporcionam um melhor
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 173

desempenho acadêmico em decorrência do aumento da disponibilidade de


materiais didáticos nos laboratórios.
O osso de peru confeccionado em gesso e os seis modelos anatômicos
humanos confeccionados através da modelagem em biscuit farão parte do acervo
de peças anatômicas do Laboratório de Anatomia Humana (LAH) da UPE,
Campus Garanhuns, sendo contemplado os seguintes sistemas: Sistema Urinário
(Figura 3), Nervoso (Figura 7), Circulatório (Figura 8), Reprodutor Feminino
(Figura 9), Músculo-esquelético (Figura 10) e Respiratório (Figura 11).
Além de compor o acervo do LAH, os modelos anatômicos foram produ-
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zidos com o intuito de integrar um projeto de extensão a ser desenvolvido na


mesma IES; o projeto de extensão atuará no aprofundamento do conhecimento
anatômico pelos extensionistas através do estudo da anatomia e da modelagem
de modelos didáticos anatômicos, os quais serão doados para Instituições de
Ensino Fundamental e Médio da região, uma vez que grande maioria delas
não possuem laboratórios de ciências e biologia.

Figura 7 – Modelo anatômico em biscuit representando um encéfalo

Figura 8 – Modelo anatômico em biscuit representando um coração


174

Figura 9 – Modelo anatômico em biscuit representando


o sistema reprodutor feminino

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Figura 10 – Modelo anatômico em biscuit construído sobre um
esqueleto de plástico representando o sistema músculo-esquelético
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 175

Figura 11 – Modelo anatômico em biscuit demonstrando


uma secção sagital da cabeça
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Os modelos anatômicos produzidos apresentaram diferentes graus de


dificuldade em sua confecção uma vez que dependendo do sistema a ser
modelado, haviam estruturas mais trabalhosas a serem modeladas. A espessura
do isopor, que serve de base para o biscuit, também diferiu de acordo com o
sistema representado, pois alguns modelos necessitaram de uma espessura
maior para serem esculpidos, como os modelos do encéfalo, do coração e
do músculo-esquelético.
Técnicas de modelagem com biscuit apresentam grande praticidade e
bons resultados. A massa de biscuit aceita uma boa modelagem tanto manual
quanto através de instrumentos [20]. É uma massa relativamente barata [26],
possui alta resistência e durabilidade após seca [6, 18, 19, 27], praticamente
não suja o local em que se realiza a modelagem e não é tóxica. Além disso, o
biscuit pode ser facilmente corado e aceita uma grande variedade de tinturas
[20], como as tintas de tecido, guache, óleo e látex. Os modelos de biscuit,
após secos, podem ser facilmente armazenados e manipulados [6, 19].
Além do biscuit, outros materiais podem ser utilizados para a modelagem.
A cera, que é obtida de fontes animais, vegetais ou minerais, apresenta malea-
bilidade, boa resistência e facilidade de coloração [28]. Uma outra alternativa,
é a massa de modelar, um material de fácil aquisição, boa modelagem e que
pode ser obtida colorida [11, 29], entretanto, não apresenta boa durabilidade
e deforma-se facilmente, o que dificulta sua manipulação e transporte [6]. A
massa epóxi [18], a argila e a plastilina são outras opções de materiais que
podem ser utilizados para modelagem de peças anatômicas [21, 30].
Outro tipo de modelagem é a produção de estruturas em gesso a partir de
moldes em alginato. A técnica pode ser utilizada na modelagem de órgãos, fetos,
176

ossos, dentre outros [31]. O alginato serve como um modelo negativo (molde)
do material desejado, e o gesso uma reprodução positiva (cópia do material dese-
jado). O alginato é um material de fácil aquisição e manipulação, de baixo custo
e que possibilita a realização de moldagens com boa precisão de detalhes [23].
Nesse trabalho, foi produzido um osso de peru em gesso a partir do
molde em alginato (Figura 12). Algumas considerações sobre o alginato são
importantes, uma delas é o fato de que após o pó ser misturado com água, a
massa gelifica rapidamente [31]. Além disso, o molde feito com o alginato
pode ser utilizado poucas vezes, pois é frágil e desidrata facilmente [22, 31].

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De acordo com Cabral et al. [22], o período necessário para endurecimento
do alginato é ampliado com o uso da água fria, diminuindo a inconveniência
do rápido endurecimento/gelificação. Além do alginato, o modelo negativo
pode ser feito de látex, gesso ou silicone e o modelo positivo pode ser feito
de diversos materiais, como gesso, borracha de silicone e resinas [31].

Figura 12 – Osso real à esquerda e modelo positivo em gesso à


direita, representando a boa precisão da forma e de detalhes obtidos
através da modelagem em gesso com molde de alginato

No presente trabalho, a escolha do gesso para confeccionar o modelo posi-


tivo foi devido às suas características. Ele possui um baixo custo, o que permite
a reprodução de vários modelos de diversos tamanhos, é de fácil manipulação
e permite uma reprodução rica em detalhes a partir de um molde [22, 24]. Os
modelos produzidos através da técnica de alginato e gesso podem ser amplamente
utilizados por alunos uma vez que apresentam uma riqueza de detalhes suficientes
para serem estudados como método auxiliar ao uso de peças naturais, sendo pos-
sível a manipulação, o estudo e a identificação dos acidentes ósseos [21, 24, 31].
Diversos estudos têm mostrado benefícios do uso da modelagem de
estruturas anatômicas no ensino superior nos cursos de saúde e em escolas
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 177

durante aulas de ciências e biologia. O uso de modelos anatômicos didáticos


e da modelagem têm sido utilizados como uma forma de driblar as limitações
das aulas expositivas e promover um melhor processo de ensino aprendizagem.
A utilização de materiais alternativos, demonstrativos e interativos estimula a
busca do saber e proporciona uma melhor assimilação do conteúdo, além de
tornar o aprendizado mais interessante [13, 18]. Ademais, o uso de materiais
recicláveis e de baixo custo vêm demonstrando ser uma alternativa viável para
construção de diversos modelos didáticos nas instituições de ensino que não
possuem laboratórios sofisticados [14].
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Um estudo realizado por Naug et al. [4] com estudantes de medicina,


fisioterapia, odontologia, farmácia e ciências biomédicas, mostrou que a mode-
lagem foi capaz de promover uma melhoria no processo metacognitivo, o que
levou a um melhor aproveitamento acadêmico.
Um residente em cardiologia, que não possuía habilidades prévias em
modelagem, foi estimulado por preceptores a modelar corações normais e
patológicos a fim de aprender a anatomia macroscópica do órgão. O trabalho
proporcionou um melhor entendimento e familiaridade com estruturas cardía-
cas e seu arranjo tridimensional, o que auxiliou numa melhor compreensão e
interpretação de ecocardiogramas, tomografias computadorizadas e ressonân-
cias magnéticas. Também houve uma maior aproximação do residente com as
artes plásticas, além da possibilidade da utilização dos modelos anatômicos
produzidos em aulas e exposições [6].
A confecção de modelos anatômicos foi proposta a estudantes de Medi-
cina da Universidade Federal de Campina Grande. Foram produzidos diver-
sos modelos anatômicos, como olhos, vias da medula espinhal, ossículos da
orelha e locais de origem e inserções de músculos. A criação dos modelos
com materiais de baixo custo, como massa de modelar e materiais recicláveis,
promoveu uma participação ativa, maior motivação no processo de aprendi-
zagem, despertou a criatividade e habilidade nos alunos, promoveu o trabalho
em equipe, desenvolveu sentimentos de liderança, planejamento e comprome-
timento, além de integrar diferentes aspectos na formação da aprendizagem,
o que corroborou para uma melhora da memória a longo prazo [3].
Uma pesquisa realizada com 100 alunos do curso de Medicina e Cirurgia
na Índia avaliou o impacto do uso do modelo tradicional de ensino aliado à
metodologia ativa, através da modelagem de tratos e fibras nervosas com
massinha de modelar em comparação ao uso apenas do modelo tradicional de
ensino. Segundo os autores, os alunos apresentaram grande receptividade pela
atividade de modelagem e os métodos cinestésicos impactaram positivamente
no aprendizado de longo e curto prazo [32].
No ensino fundamental e médio, a falta de infraestrutura e de recursos
didáticos em grande parte das escolas têm sido um dos principais fatores que
178

dificultam o processo ensino-aprendizagem [33]. Além disso, na maioria das


escolas públicas brasileiras utiliza-se apenas o método tradicional de aulas expo-
sitivas, não havendo em seu projeto pedagógico atividades práticas [14, 17].
Em um estudo realizado por Silva Junior [17] com alunos do ensino
fundamental de uma escola no interior de Pernambuco, foi comparado o
desempenho de alunos quando expostos apenas a aulas teóricas e quando
havia a inclusão de outros meios de ensino alternativos. Os meios de ensino
alterativos e lúdicos consistiam em, além da aula expositiva convencional, a
ida a um laboratório de anatomia, a modelagem de estruturas anatômicas e a

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realização de desenhos anatômicos. Os dados do estudo indicam que os alunos
que experimentaram o método alternativo aliado às aulas teóricas obtiveram
melhor desempenho na compreensão e aprendizado da anatomia humana.
Estudantes do Ensino Fundamental de duas instituições de rede pública
de Goiás passaram pela experiência de realizar trabalhos manuais após a
aplicação de aulas expositivas e discussões em grupo. Os trabalhos manuais
consistiram na modelagem de modelos didáticos que representassem a teoria
endossimbiótica celular. O método pedagógico possibilitou o dinamismo,
reflexão, trabalho em grupo e melhor aproveitamento do tema proposto, refle-
tindo numa melhor assimilação do conteúdo [26].
Duso et al. [14], relatou a busca da superação da forma tradicional de
apresentação dos sistemas humanos em livros didáticos, os quais se apresentam
planificados, desproporcionais com os tamanhos reais e isolados para estudo
individual de cada sistema. Sendo assim, foi proposto para alunos do ensino
médio a modelagem de um corpo humano em tamanho real que representasse a
integração dos diversos sistemas. Durante todo o processo, estudantes demons-
traram curiosidade e entusiasmo. A atividade obteve excelentes resultados com
a construção de um modelo anatômico feito a partir de materiais recicláveis e
alternativos. Foi observado que a atividade proporcionou o planejamento, a pes-
quisa e a atitude científica. Além disso, a construção do modelo anatômico possi-
bilitou um melhor entendimento da integração anatomo-fisiológica dos diversos
sistemas, o que potencializou a efetividade do processo ensino-aprendizagem.
Portanto, verifica-se que materiais didáticos, como os modelos sintéti-
cos, facilitam a representação do conteúdo e promovem uma aprendizagem
ativa, sem a necessidade de laboratórios ou de equipamentos sofisticados
[10, 14, 33]. Com base nisso, todos os modelos anatômicos desenvolvidos
nesse trabalho podem servir de complemento às peças cadavéricas no estudo
da anatomia no ensino superior uma vez que apresentam um alto grau de
semelhança com estruturas anatômicas. Além disso, também podem ser uti-
lizados em escolas de Ensino Fundamental e Médio, devido à sua resistência
e facilidade de manipulação. Dessa forma, constiui-se uma alternativa viável
para a melhoria do ensino-apredizagem.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 179

Conclusão

A procura por meios de melhorar o processo de ensino-aprendizagem da


anatomia vem sendo uma questão recorrente nos diversos graus de ensino.
Metodologias ativas, que fogem ao padrão arcaico de aulas meramente expo-
sitivas e que integram diversas formas de aprendizagem, vêm demonstrando
ser uma boa alternativa aos modelos convencionais de ensino. A modelagem,
uma metodologia ativa cinestésica, é uma técnica que tem ganhado espaço
nas instituições de ensino devido aos benefícios acadêmicos que pode trazer.
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A modelagem anatômica em biscuit mostrou-se ser uma técnica de baixo


custo, de fácil realização, capaz de produzir modelos anatômicos de boa
qualidade e com grande resistência. O uso do gesso com moldes de alginato
também demonstrou ser uma técnica eficiente, uma vez que foi capaz de
reproduzir várias peças a baixo custo e com riqueza de detalhes. Com isso,
pode-se concluir que a modelagem anatômica é uma técnica promissora para
implementação nos diversos graus de ensino.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Andrea Rodrigues de Medeiros Correia pelo


apoio e fornecimento do biscuit, gesso, alginato e de mais materiais utilizados
nesse trabalho. Além disso, agradecem à Priscilla Barbosa Sales de Albuquer-
que pela suas recomendações.
180

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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Ossos do membro superior, colorido. Imagens desenvolvidas durante a realização do


curso de extensão “Arte como Ferramenta da Anatomia”, ministrado pelo professor
Eulâmpio Neto – UFPB

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Autora: Sarah Girão Alves


METODOLOGIAS ATIVAS NO PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
DA ANATOMIA HUMANA
Christianne Maria Tinoco Veras1
Ludmila Tolstenko Nogueira2
Yone Caroline Silva3
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Introdução

A disciplina de Anatomia Humana estuda as estruturas do corpo, cor-


relacionando-as com suas funções [1, 2], e se configura como importante
componente curricular dos cursos de ciências biológicas e da saúde [3]. Em
geral, ela é apresentada aos discentes ainda no primeiro ano de vida acadêmica
e se constitui como elemento fundamental para a compreensão de disciplinas
subsequentes ao longo de toda trajetória universitária e profissional [4].
O ensino tradicional de Anatomia Humana é realizado a partir da expo-
sição oral dos sistemas orgânicos pelo docente, seguido de aula prática em
laboratório com peças cadavéricas e artificiais, podendo se caracterizar como
uma relação unidirecional e trazendo consigo algumas limitações, como passi-
vidade dos ouvintes e feedback reduzido [5], podendo comprometer o apren-
dizado dos estudantes. Além disso, conforme Mourthé Filho [4], o processo
de ensino aprendizagem de anatomia é bastante complexo, em virtude da
ampla gama de conceitos e estruturas a serem assimiladas pelos universitários.
Outro obstáculo relativo ao ensino dessa importante disciplina, é o acesso
aos livros e atlas anatômicos, que possuem alto valor aquisitivo e número redu-
zido de exemplares disponíveis na maioria das bibliotecas de instituições de
ensino superior [4]. Além disso, a terminologia anatômica (nomina anatômica)
não é comumente utilizada no cotidiano dos discentes [6], dificultando a fixação
dos termos e conceitos, e podendo tornar seu estudo cansativo e monótono.
Um outro fator de suma importância, que contribui para aumentar essa difi-
culdade, é a escassez de cadáveres não reclamados, para manuseio e dissecação
pelos estudantes, esse obstáculo tem aumentado ao longo dos últimos anos, e se
tornado cada vez maior nos laboratórios de anatomia das instituições de ensino
públicas e privadas, ainda que haja amparo legal nesse sentido conferido pela

1 Profª. Dra. do Departamento de Morfologia, Universidade Federal do Piauí, CEP 64049-550, Teresina-PI,
Brasil; Autor correspondente: chris.tveras@hotmail.com.
2 Profª. Dra. do Departamento de Morfologia, Universidade Federal do Piauí, CEP 64049-550, Teresina-PI, Brasil.
3 Discente do curso de Farmácia da Universidade Federal do Piauí, CEP 64049-550, Teresina-PI, Brasil.
186

Lei nº 8.501, de 30 de novembro de 1992 [7]. A preparação das peças anatômi-


cas é um processo delicado, que demanda tempo, dedicação e conhecimento,
para que as estruturas sejam expostas de maneira didática, possibilitando fácil
visualização [4]. A situação é agravada ainda pelo alto valor monetário das peças
anatômicas artificiais vendidas comercialmente e à complexidade burocrática
para aquisição das mesmas pelas Universidades Federais [8].
Todos esses motivos representam empecilhos para o processo de aprendi-
zagem das inúmeras estruturas corporais por parte dos discentes e, além disso,
essa dificuldade também pode ter relação direta com fatores individuais, como

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motivação e atenção, uma vez que é inegável o papel destes componentes no
processo de memorização [1].
Diante desse cenário, diversos autores têm proposto alternativas metodo-
lógicas complementares ao ensino tradicional da Anatomia Humana, desde o
ensino básico até o superior, visando maximizar o aprendizado dos discentes,
de maneira lúdica e interativa, por meio da confecção de modelos anatômicos
(a partir de resina, biscuit, órgãos de animais), maquetes, jogos didáticos,
roteiros de aulas práticas, entre outros [7, 8, 9, 10, 11, 12].
Tais estratégias são denominadas como Metodologias Ativas de ensino,
e se caracterizam como técnicas pedagógicas muito utilizadas nas ciências
da saúde capazes de ampliar e facilitar o ambiente para o processo de ensino-
-aprendizagem [13]. Essas alternativas metodológicas propõem uma apren-
dizagem significativa a fim de desenvolver nos alunos habilidades não só
técnicas e instrumentais, mas também humanas e sociais, para que saibam
aplicar os conhecimentos adquiridos durante sua trajetória acadêmica na reso-
lução de problemas cotidianos da profissão [14, 15].
Diante do exposto, o presente trabalho buscou introduzir as Metodolo-
gias Ativas no ensino da Anatomia Humana em alguns cursos de graduação e
pós-graduação na área de saúde da Universidade Federal do Piauí – UFPI, e
Associação Brasileira de Odontologia – ABO, respectivamente. Os discentes
realizaram a construção de materiais didáticos, visando promover sua partici-
pação ativa no processo ensino-aprendizagem, além de complementar o acervo
anatômico do Laboratório de Anatomia da UFPI com as peças produzidas.

Material e metódos

Estudo experimental desenvolvido nos anos letivos de 2018 e 2019


nos cursos de graduação e pós graduação da Universidade Federal do Piauí,
e Associação Brasileira de Odontologia – ABO, durante as disciplinas de
Anatomia Geral e Anatomia da Cabeça e Pescoço, respectivamente, com a
participação dos discentes na elaboração materiais didáticos (jogos, placas
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 187

e reconstrução facial em massa de modelar) representando os sistemas


orgânicos do corpo humano.

a) Confecção de placas anatômicas e jogos didáticos

A disciplina de Anatomia Geral para os cursos de Odontologia e Far-


mácia da Universidade Federal do Piauí é composta por ministrações, com
duração de três horas/aula, divididas em teóricas e práticas. As aulas teóricas
são ministradas pelos docentes através da exposição de slides e apresentação
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oral do conteúdo, e as aulas práticas ocorrem nos Laboratórios especializados


de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia da instituição, durante
as quais ocorre a exposição de peças anatômicas naturais e sintéticas acerca
da temática estudada. Além disso, os alunos utilizam roteiro elaborado pelos
docentes, atlas e livros didáticos.
O componente curricular possui carga horária de 90h e é dividido em qua-
tro unidades, cujas avaliações ocorrem, em geral, por meio de provas teóricas
e práticas (denominadas de gincanas). Nesse contexto, a última unidade foi
reservada para elaboração de um seminário temático com a apresentação de
placas anatômicas, em acrílico ou MDF, elaboradas em impressora 3D, e/ou
jogos didáticos, relacionados ao ensino-aprendizagem da Anatomia Humana
e os sistemas que constituem o corpo humano.
Para o desenvolvimento das atividades, as turmas foram divididas em
pequenos grupos de 5 ou 6 alunos e os temas dos seminários foram sorteados.
Os discentes ficaram a vontade para a escolha do assunto a ser explorado
nas placas ou jogos, desde que se relacionassem com as temáticas aborda-
das durante o período letivo. A equipe docente, composta por professores
e monitores, ficou responsável pela orientação e facilitação do processo de
construção dos materiais didáticos.
188

Figura 1 – A. Dominó do sistema esquelético, elaborado com


plásticos e adesivos impressos; B. Caça palavras sobre a visão
humana, confeccionado em papel com impressão colorida

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A B

Figura 2 – A. Quebra-cabeças da Glândula Tireoide, confeccionado


em papel cartão; B. Jogo de tabuleiro do Sistema Genital Feminino,
confeccionado em MDF, EVA (Espuma vinílica acetinada) e pinos em metal
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 189

Figura 3 – Placa em MDF representando a anatomia do


coração. Notar as artérias coronárias em destaque
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Figura 4 – A. Placa em acrílico representando os músculos da face em duas


dimensões; B. placa representando Sistema Urinário em duas dimensões, em
acrílico; C. Placa em acrílico representando o n. Trigêmeo em duas dimensões;
D. Figura esquemática representando a região de Scalp, no crânio, em acrílico
190

b) Reconstrução facial em massa de modelar

A especialidade de Harmonização Orofacial reúne técnicas inovadoras


voltadas à promoção de uma estética agradável e funcional da face. Nesse
sentido, um estudo aprofundado da anatomia dessa região é imprescindível.
Durante a disciplina de Anatomia da Cabeça e Pescoço de uma especialização
em Harmonização Orofacial realizada pela Associação Brasileira de Odonto-
logia – ABO/PI, os alunos realizaram a reconstrução de estruturas da face em
massa de modelar; tal material foi selecionado por ter de baixo custo e fácil

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manuseio, podendo ser modelado, para assemelhar-se às estruturas do corpo
humano. Além disso, a massa de modelar pode ser removida facilmente das
peças anatômicas artificiais para um posterior reaproveitamento.
Inicialmente, foi ministrada aula expositiva sobre anatomia da face e
do pescoço. Em seguida, realizou-se aula prática em laboratório apropriado
utilizando peças cadavéricas e sintéticas sobre o mesmo tema. Propôs-se
aos alunos, então, um desafio: a realização da reconstrução dos músculos
faciais bem como vasos, nervos e glândulas relacionados, preservando suas
dimensões reais, que seriam elaborados sobre peças ósseas sintéticas do
crânio e em faces de silicone, utilizando massas de modelar de diferentes
cores, sendo cada cor para uma determinada estrutura a fim de facilitar a
memorização da região em que ela estava inserida bem como sua função e
nomenclatura. Durante a execução das atividades, os estudantes utilizaram
para consulta peças sintéticas e reais, livros e atlas anatômicos, contribuindo
para a localização e memorização das estruturas. O apoio de toda a equipe
docente foi primordial, pois estes atuaram como facilitadores do processo
de ensino-aprendizagem.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 191

Figura 5 – A. Identificação dos músculos da face com lápis de cor; B.


Reconstrução dos m.m da face com massa de modelar em crânio artificial; C.
Reconstrução de m.m e nervos com massa de modelar sobre peça óssea artificial
*Notar o direcionamento das fibras musculares (seta da esquerda) realizado
com palitos de madeira para churrasco e ramos do n. facial em amarelo (seta
da direita); D. Vascularização e inervação da face sobre peça de silicone com
massa de modelar colorida (vermelho, artérias; azul, veias e amarelo, nervos)
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Resultados e discussão
Ao final da elaboração dos materiais didáticos, em ambas as modalidades
de ensino, os grupos apresentaram seus trabalhos à turma em um momento
de socialização, aprendizado e descontração entre professores e alunos. É
importante ressaltar, que todos os materiais didáticos (jogos e modelos anatô-
micos) foram construídos com baixo custo, facilitando a adesão e o interesse
dos discentes pela atividade.
Nesse sentido, a maioria dos jogos didáticos foi elaborada com papel,
plástico, adesivos coloridos, E.V.A, papelão, entre outros. Durante a apre-
sentação, os discentes da turma puderam participar dos jogos construídos
pelos colegas, além de revisar conceitos em Anatomia Humana. As equipes
elaboraram jogos de tabuleiro, dominó, caça-palavras, roleta e quebra-cabeças
192

sobre os mais diversos sistemas do corpo humano (Figuras 1 e 2), alguns deles
com premiação para os vencedores, promovendo assim uma disputa saudável
entre todos os alunos.
As placas anatômicas foram construídas em acrílico ou MDF, represen-
tando os sistemas tegumentar, urinário, nervoso, genital, muscular e circu-
latório, além de algumas estruturas da face (Figuras 3 e 4). Na ocasião, os
alunos tiveram a autonomia de escolher as imagens a serem reproduzidas e
acompanharam todo o processo de confecção. Eles apresentaram seus modelos
anatômicos durante a aula prática no Laboratório de Anatomia Humana da

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UFPI e da ABO-PI onde descreveram as principais estruturas e funções de
suas peças aos colegas de turma e a equipe docente.
Para a reconstrução facial, inicialmente, os discentes coloriram em papel
impresso as estruturas (Figura 5A) e, em seguida, as reproduziram em massa
de modelar sobre as peças ósseas artificiais e de silicone (Figura 5B, 5C e
5D). A fim de facilitar o processo, foram utilizadas diferentes cores para cada
tipo de estrutura: nervos, músculos e vasos.
Para a elaboração dos materiais didáticos, as equipes tiveram que se apro-
fundar na temática a qual se propuseram a discorrer a fim de incluir a maior
quantidade de informações possíveis no material e para que no momento da
apresentação dos seus trabalhos pudessem esclarecer eventuais dúvidas da
turma e da equipe docente.
Em todas as experiências os alunos participaram ativamente do processo
ensino aprendizagem, havendo, assim, uma interação mutua entre o indivíduo e
o objeto de estudo na qual a construção do conhecimento não ocorreu apenas de
forma passiva, corroborando para a formação de uma memória a longo prazo [8].
Conforme Aversi-Ferreira [16], um problema que afeta as atuais práticas
de sala de aula deve-se ao fato de que os estudantes raramente realizam tarefas
que fornecem interesse imediato durante o processo de ensino aprendizagem.
Assim, ao confeccionar seu próprio material didático e observar semelhança
em relação à peça real ou a que está representada no livro, ele adquire uma
satisfação, que tende a se transformar em um comprometimento com sua
formação. Este compromisso pode e deve tornar o estudante mais exigente
em relação ao docente uma vez que o professor deixa de ser a única fonte de
conhecimento do aluno, que passa a adotar uma postura crítica.
Durante a aplicação dos jogos, os discentes que participaram enquanto
competidores puderam perceber se os conteúdos presentes foram realmente
assimilados, se sua aprendizagem obteve o êxito pretendido ou se foi neces-
sário um reestudo sobre determinado conteúdo, podendo representar assim
um instrumento auto avaliativo [17]. Além disso, os jogos contribuíram para
o desenvolvimento de aspectos cognitivos que, consequentemente, facilitaram
a aprendizagem [13].
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 193

Dessa forma, em conformidade com Da Silva [13], entende-se que, ao


construir sua própria peça (modelo) anatômica, o aluno desenvolve habilidades
motoras com fixação e memorização mais eficientes acerca da localização,
forma e função das estruturas. Além disso, segundo Araújo Junior [8], o pro-
cesso de manufatura auxilia na organização dos conceitos para a apresentação
oral do conteúdo produzido.
Assim, as atividades propostas reuniram diferentes técnicas de ensino-
-aprendizagem, como as aulas teóricas e práticas com peças cadavéricas e sinté-
ticas, com uso de atlas e livros, seguidos da confecção dos materiais (modelos)
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didáticos. Da Silva et al. [11], avalia como positiva essa nova abordagem de
ensino uma vez que essa correlação entre diferentes formas de ensino aprendi-
zagem torna mais fácil e rápida a fixação dos conteúdos pelos discentes.
Segundo Collipal e Silva [18], recursos didáticos como vídeos, textos,
exames de imagem, programas de computador e modelos anatômicos são utili-
zados para complementar o ensino de Anatomia Humana, não substituindo o uso
do cadáver, o que está em conformidade com os outros autores uma vez que o
manuseio dessas peças fortalece a humanização dos profissionais de saúde [19].
A princípio, especialmente nas disciplinas de Anatomia Geral para Far-
mácia e Odontologia, percebeu-se certa resistência dos alunos em confec-
cionar os materiais didáticos, por acreditarem que não possuíam criatividade
e capacidade de elaborar projetos manuais. Outro ponto que os levou a essa
postura, foi a grande quantidade de disciplinas e carga horária que esses
cursos da Universidade Federal do Piauí, apresentam, levando-os a acreditar
que essa atividade os sobrecarregaria. Contudo, após explicação detalhada da
tarefa, um prazo relativamente longo para elaboração dos trabalhos (cerca de
30 dias) e demonstração dos projetos já desenvolvidos por outras turmas, os
discentes sentiram-se empolgados diante da atividade proposta, tornando-se
um desafio para eles. Ademais, o fator lúdico exerceu influencia na aceitação
dessas metodologias, pois transformaram a sala de aula um ambiente descon-
traído, estimulando a participação de todos os estudantes [13].
O material didático elaborado pelos discentes foi útil ainda para ampliar
os acervos do museu de Anatomia e do laboratório de Anatomia Humana da
UFPI, auxiliando no estudo da disciplina para futuros acadêmicos, em um
momento de contingencia financeira das Universidades Federais e em que se
torna cada mais vez mais difícil adquirir peças anatômicas sintéticas, devido
ao alto custo de mercado e a extensa burocracia para essa aquisição.

Conclusão

A confecção de modelos anatômicos e materiais didáticos representando


os sistemas do corpo humano pelos próprios alunos apresentaram-se como
194

uma metodologia ativa eficaz no processo de ensino aprendizagem da disci-


plina de Anatomia Humana, complementando as técnicas de ensino tradicio-
nais, conforme comprovado neste relato.
A criação de tais peças, segundo a percepção dos estudantes e da equipe
docente, foi positiva uma vez que auxiliou na fixação das estruturas e conceitos
anatômicos, além de estimular a criatividade e a participação ativa dos dis-
centes no processo ensino-aprendizagem, durante as disciplinas de Anatomia
Geral para Farmácia e Odontologia e Anatomia da Cabeça e do Pescoço, para
a turma de Especialização em Harmonização Orofacial. Esta experiência per-

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mitiu ainda, que os alunos desenvolvessem competências como: trabalho em
equipe, responsabilidade e respeito, promovendo também uma relação mais
próxima entre docentes e discentes. As placas, jogos e modelos elaborados
pelos alunos foram destinados ao acervo do museu e laboratórios de Anatomia
da UFPI, os quais serão objetos de estudo de futuros estudantes de anatomia
dessa instituição e contribuirão para o ensino aprendizagem destes.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 195

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s0100-55022012000500011.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Diafanização em feto felino (ou feto bovino). A diafanização é uma técnica difundida
no meio científico, utilizada em diferentes espécimes para delimitar tecidos ósseos e
cartilaginosos em desenvolvimento a partir de contrastes de cores, o que é possível por
meio de reações químicas e em especial com os corantes: alcian blue e alizarina red

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S, identificar macroscopicamente o processo de ossificação dos fetos e a maturidade
esquelética. Os dois espécimes fotografados são: feto felino (felipepratalli.tif) e feto
bovino (felipepratalli2.tif). Ambos realizados pelo autor da foto no Laboratório de
Anatomia Animal da Universidade Federal do Pampa, campus Uruguaiana

Autor: Felipe Pratalli Martins.


TÉCNICA DE LATÉX NO ESTUDO DO
SISTEMA VASCULAR DO CORAÇÃO
DE TUBARÃO-AZUL (Prionace glauca) E
TUBARÃO-MAKO (Isurus oxyrhinchus)
Estela Silva Antoniassi1
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Maiara Gonçalves Rodrigues2


Marcos Vinícius Mendes Silva3
Daniela de Alcatara Leite dos Reis4
Carlos Eduardo Malavasi Bruno5

Introdução

A anatomia é estudada desde antes de Cristo, com maior investimento


no período Renascentista, após a liberação da igreja. Mesmo com limitações,
desde então os estudos científicos sofreram diversos avanços, dentre eles,
novas tecnologias e métodos [1]. As técnicas anatômicas possuem finalidade
em conservar, preservar formas, cor, aparência, relações entre os órgãos e
estruturas. Contudo, o mais comum na conservação de peças anatômicas, é
o uso de formaldeído 10%, glicerinação, criodesidratação, injeção de látex,
injeção de vinilite, dentre outros [23].
O látex é uma matéria-prima obtida através da árvore seringueira (Hevea
brasiliensis), entre a casca e o câmbio tem sua extração através da sangria,
sendo cortados os vasos latícíferos, resultando no escoamento em forma
líquida, de cor esbranquiçada. Porém, ao entrar em contato com oxigênio e
pH ácido ou neutro, o material tende-se a solidificar [19].
A injeção de látex é uma técnica de preenchimento utilizada em vasos
venosos e arteriais, linfáticos, biliares, urinários, brônquicos e reprodutores,
devido ao seu potencial de repleção evidenciando até capilares, sendo de fácil
aplicabilidade, acesso e baixo custo [8].
Com a finalidade de melhorar o uso dessas peças, a técnica anatômica
de injeção de látex é interessante, principalmente, para estudar o sistema

1 Discente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
2 Discente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
3 Médico Veterinário, Docente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
4 Médica Veterinária, Docente Universidade São Judas Tadeu, CEP:03166-000, Mooca, São Paulo- SP, Brasil;
5 Biólogo, Docente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil. Autor
correspondente: sharkeduardo@gmail.com.
200

vascular de cadáveres frescos ou formolizadas, sendo possível corar o látex


com a cor desejada. Desta maneira, opta-se pelas seguintes cores, o sangue
arterial rico em oxigênio (O2) cora de vermelho e o sangue venoso rico em
dióxido de carbono (CO2), cora em azul, além de observar variações anatô-
micas e topográficas em relação aos vasos, anastomoses, volume e dimensão
[22]. Ao utilizar a técnica de injeção do látex, é imprescindível observar a
necessidade de solidificação do material, evitando que extravase pelos vasos
e manche as superfícies dos órgãos [20].
Os tubarões fazem parte da classe Chondrichthyes, subclasse Elasmo-

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branchii e as ordens Carcharhiniformes; Squaliforme; Orectolobiformes;
Lamniformes; Hexanchiformes; Pristiophoriformes; Squatiniformes e Hete-
rodontiformes. São peixes cartilaginosos, com corpo fusiforme, possuem
cinco a sete pares de fendas branquiais, não apresentam pulmão ou vesícula
natatória, sendo que o fígado controla a hidroestática, possuem nadadeiras
peitorais, pélvicas e uma nadadeira caudal [18].
O tubarão-azul (Prionace glauca) pode ser encontrado em águas tropi-
cais, subtropicais e temperadas. Esta espécie é popularmente conhecida como
„cação-azul“, tubarão-de-focinho, mole-mole e focinhudo [8].
O tubarão-mako (Isurus oxyrhinchus) vive em águas tropicais e tem-
peradas. Popularmente conhecido como tubarão anequim, é o tubarão mais
rápido do mundo. Possui corpo fusiforme, um longo focinho cônico, região
ventral é branca, curtas nadadeiras peitorais e nadadeira caudal em forma de
meia-lua. Há uma quilha distinta na base caudal, não apresentando quilhas
secundárias na base da nadadeira caudal [7].
Segundo [24], anatomicamente o coração dos peixes é formado por um
átrio e um ventrículo precedido por uma dilatação pós-ventrículo conhecida
como cone arterioso, que é caracterizada por uma camada muscular proveniente
do miocárdio e comparativamente similar ao ramo aórtico dos mamíferos.
O coração dos peixes é um órgão muscular que se contrai ritmicamente,
enquanto bombeia o sangue pelo sistema circulatório. Suas partes são cons-
tituídas de três túnicas: endocárdio, miocárdio e pericárdio. A região central
fibrosa do coração, comumente chamada de esqueleto fibroso, serve de ponto
de apoio para as valvas, além de ser também o local de origem e inserção das
células musculares cardíacas [4].
Segundo [21] nos peixes cartilaginosos marinhos o ventrículo apresenta
uma fina divisória, externamente, por onde corre a artéria coronária. Cau-
dalmente ao bulbo, à direita, estes peixes apresentam um lúmen cuja parede
interna possui trabeculações anteriores, o que lembra a trabécula septo marginal
observada no ventrículo direito do coração de mamífero. O lado esquerdo do
ventrículo é esponjoso sem lúmen e se comunica com o lado direito por um
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 201

septo ventricular defeituoso posicionado cranialmente à esquerda do orifício


atrioventricular. Nos teleósteos marinhos, não há trabeculações tão pouco septo.
O endocárdio é composto pelo endotélio que está em contato frequente
com o sangue e por uma camada subendotelial de tecido conjuntivo frouxo.
O miocárdio é constituído por fibras musculares cardíacas de modo espira-
lado e de disposição variável. O epicárdio constituído por tecido conjuntivo
denso e tecido conjuntivo frouxo recoberto por epitélio simples pavimentoso,
o mesotélio (pericárdio visceral). No tecido conjuntivo frouxo, contêm vasos
sanguíneos e linfáticos, fibras elásticas, nervos e gânglios nervosos. Tanto o
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pericárdio parietal e visceral delimita a cavidade pericárdica que é repleta de


um fluido seroso que previne o atrito entre as contrações [21].
O objetivo do trabalho foi de injetar o látex em corações de tubarão-
-azul (Prionace glauca) e tubarão-mako (Isurus oxyrhinchus) para observar
a morfologia dos vasos existentes no miocárdio, desta maneira observando a
diferença taxonômica entre eles.

Metodologia

A metodologia aplicada neste artigo seguiu o protocolo aplicado por [13]


referido. Para este trabalho, utilizou-se vinte corações, dez de tubarão-azul e
dez de tubarão-mako. Os corações foram coletados in situ e, posteriormente,
congelados. Ao chegar ao laboratório, foram isolados, retirados do pericárdio,
lavados em água corrente e realizou-se massagem cardíaca manual a fim de
esvaziar as câmaras cardíacas e seus respectivos vasos.
Seringas de 10 ml e cânulas metálicas com menor calibre foram utilizadas
para injetar a solução de Neopreme látex corado em cor branca, homogenei-
zado e peneirado em meia-calça fina o acesso do cone arterioso. Dentro de
cada injeção, continha cerca de 0,5 ml de látex. Após a injeção do látex, o
coração foi deixado sob-refrigeração por 24 horas para evidenciar a solidifi-
cação do látex, impedindo o extravasamento do material injetado.
Os corações foram mantidos sob-refrigeração durante 3 horas e depois
fixados a formol 10%, posteriormente as artérias coronárias foram dissecadas
com auxílio de lupa Wild que, após o procedimento, passou novamente por
fixação com formol 10%.

Resultados

Após a injeção de Neopreme látex corado em cor branca feita pela veia
do tronco coronário esquerdo, o produto percorreu todos os vasos e ramifica-
ções da artéria coronária e demais vasos, evidenciando o percurso do tronco
coronário (TC), ramo dorso-ventral (RDV), ramo ventricular esquerdo (RVE),
202

tronco coronário direito (TCD), tronco coronário esquerdo (TCE), ramo ven-
tricular direito (RVD) e ramo ventricular ventral (RVV).
O coração do tubarão-mako, apresentou musculatura vermelha escura
e ápice em formato arredondado (Figura 1 A). O coração do tubarão-azul
apresenta coloração vermelha com estrias mais claras e ápice em formato
mais triangular (Figura 1 B).
Quanto as coronárias, no tubarão-mako e no tubarão-azul, foram possí-
veis evidenciar o tronco coronário (TC) localizado no cone arterioso, alguns
centímetros da base do coração ocorrem uma ramificação formando o tronco

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coronário direto (TCD) e tronco coronário esquerdo (TCE). Com a coloração,
foi possível observar também o ramo dorso-ventral (RDV) e o ramo ventri-
cular ventral (RVV) (Figura 1 A e B).
Devido ao fato da técnica ser recorrente nos laboratórios de anatomia,
foi desenvolvido um fluxograma resumido sobre o látex e esta específica
aplicação, mencionando desde a produção até aplicação (Figura 2).

Figura 1 – Vista ventral do coração de tubarão-mako (A) e tubarão-


azul (B) evidenciado as coronárias, tronco coronário (TC), tronco
coronário direito (TCD), tronco coronário esquerdo (TCE), ramo
dorso-ventrral (RDV) e ramo ventricular ventral (RVV)
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 203

Figura 2 – Fluxograma de produção do látex até a utilização da técnica


anatômica pautada. Fonte: autoria própria. A – Extração do latex. B-
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D
204

O fluxograma demonstra a importância da matéria prima proveniente da


natureza para os estudos acadêmicos na área da saúde e a acessibilidade ao
mesmo, de maneira resumida até a utilização do produto final.

Discussão

O coração do tubarão-azul apresenta coloração vermelha com estrias


mais claras evidenciando que esses animais apresentam velocidade de contra-
ção rápida e metabolismo com baixa concentração de mioglobina. As fibras

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musculares brancas são utilizadas durante os movimentos de nado bruscos
como na captura de alimento e fuga de predadores. Essa constituição faz com
que eles nadem rapidamente de forma contínua com pouco esforço, propor-
cionando longas migrações destes animais bem como rápidas voltas durante
a predação [11, 12, 17, 18].
O coração do tubarão-mako apresentou musculatura vermelha escura indi-
cando que esta espécie possui nado rápido [14]. Apresentam endotermia, mantendo
a temperatura mais elevada do corpo em comparação com a água permitindo,
assim, um elevado nivel na sua velocidade. O aumento de temperatura auxilia no
aumento de velocidade e capacidade de perseguir presas em água fria e de altas
profundidades. Todos esses recursos proporcionanm uma natação eficiente, além
de reposição de velocidade, potência e resistência ao nadar [9, 2, 14].
De acordo com [16], o látex é mais efetivo para a visualização de estru-
turas de calibres maiores e, além disso, o material não retrai e nem altera as
paredes dos vasos sendo moderadamente resistente e elástico quando solidi-
ficado. Por esses motivos, o látex foi o material escolhido para o desenvolvi-
mento do trabalho, facilitando, assim, a visualização das estruturas analisadas.
Após a injeção de Neopreme látex, corado em cor branca, feita pela veia
do tronco coronário esquerdo, o produto percorreu todos os vasos e ramifica-
ções da artéria coronária e de mais vasos, evidenciando o percurso do tronco
coronário (TC), ramo dorso-ventral (RDV), ramo ventricular esquerdo (RVE),
tronco coronário direito (TCD), tronco coronário esquerdo (TCE), ramo ven-
tricular direito (RVD) e ramo ventricular ventral (RVV).
Segundo [10] existe alto grau de uniformidade quanto aos padrões coro-
nários na maioria dos tubarões e evidenciando o calibre dos vasos, sendo pos-
sível notar que as ramificações coronarianas do tubarão-azul se apresentaram
em maior quantidade, porém os vasos possuem menor calibre.
No coração do tubarão-mako, é possível observar que as ramificações
não são tão evidentes, porém o calibre dos vasos são maiores, evidenciando
a diferença entre essas duas espécies quanto ao hábito de vida uma vez que o
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 205

tubarão-mako é um animal de nado rápido e águas frias diferente do tubarão


azul, que é um animal de nado mais lento e águas quentes [6].
O coração é um órgão que bombeia sangue para todo o corpo, em pei-
xes, é considerado órgão primitivo, pois é tubular e possui formato de “S”.
É composto por quatro cavidades de contração sequencial, sendo elas, seio
venoso, átrio, ventrículo e cone arterioso. Nos elasmobrânquios, o miocár-
dio ventricular é esponjoso por dentro e, compacto por fora. Devido ao fato
da diferença de velocidade de natação, as coronárias se apresentam mais
calibrosas no tubarão-mako (Isurus oxyrhinchus) já que por ser mais rápido,
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necessita de maior irrigação sanguínea e oxigenação, sendo assim, o tuba-


rão-azul (Prionace glauca) por ser mais lento, as artérias com menor calibre
já satisfaz suas necessidades fisiológicas [16].
A circulação é composta pela chegada do sangue rico em CO2 pelas veias,
desembocando no Canal de Cuvier até chegar à primeira cavidade (átrio), logo
após ocorre o bombeamento do sangue para a segunda cavidade (ventrículo),
o sangue se direciona ao cone arterioso, devido ao fato dos tubarões possuí-
ram respiração branquial, o arco aórtico tem como função conduzir o sangue
rico em CO2 do bulbo arterial para as brânquias com a finalidade de realizar a
hematose e, por fim, para a aorta caudal para se distribuir para o corpo [3, 5, 15].

Conclusão

A técnica de injeção de Neoprene látex é factível, possui baixo custo, per-


mitindo excelente visualização e diferenciação das coronárias entre espécies.
Além disso, é de fácil manuseio e acondicionamento, além da conservação
das peças anatômicas.
Ao realizar a técnica, é necessário ficar atento ao tempo de exposição
do látex, tendo em vista que ele pode endurecer e dificultar o percurso do
material, além de, escolher o vaso com cautela e assegurar-se que o látex
percorreu o caminho correto. A desvantagem desta técnica consiste em: as
peças que sofreram a injeção do látex não podem passar por diafanização,
usar preferencialmente animais magros, deve-se utilizar amônia, o armaze-
namento deve ser em baixas temperaturas, longe da exposição a luz e ácidos
a fim de evitar a polimerização do produto e utilizar seringas de plástico, já
que o látex adere facilmente a parede de vidro.
206

REFERÊNCIAS
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DISSECAÇÃO DO FETO E DO RECÉM-
NASCIDO HUMANO:
uma proposta visando a esqueletização
Denis Guilherme Guedert1
Paola de Lima2
Julio Cesar Gruebel3
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Introdução

A anatomia humana compreende desde da formação do feto até a fase


adulta, porém o período fetal parece cair no esquecimento quando é concebida
a disciplina de anatomia humana. Nos primeiros momentos do desenvolvi-
mento fetal, as bases dos sistemas anatômicos já estão presentes, porém certas
diferenças estruturais, assim como funcionais, são notadas,,uma vez que tal
desenvolvimento ocorre na fase intrauterina. Entretanto, não deve ser atribuído
o encargo do ensino destes primórdios estruturais somente à embriologia,
cabe à anatomia humana descrever e correlacionar o período pós-embrionário
e neonatal, com os demais momentos do desenvolvimento humano. Essas
correlações, porém, exigem maior destreza e capacitação do docente [1].
Em sua obra (Tratado de anatomia sistêmica aplicada – Volume 1), o
saudoso anatomista brasileiro, professor Liberato J. A. Di Dio, cita que: “Um
recém-nascido não é simplesmente uma miniatura do indivíduo adulto, há
diferenças notáveis além das dimensões”[2]. Desta forma, podemos inferir
que a anatomia no recém-nascido pode ser vista como um objeto de estudo a
parte da anatomia, tradicionalmente estudada no indivíduo adulto.
A curiosidade há respeito dos espécimes fetais e recém-nascidos não é de
agora. O médico e anatomista holandês Frederik Ruysch (1638-1731), já em
seu tempo, praticava dissecções de cadáveres fetais e de recém-nascidos. Suas
práticas foram imortalizadas pelo pintor, também holandês, Jan Van Necks,
sendo uma das mais famosas a “Lição de anatomia do Dr. Ruisch”, mostrada
na figura 1, tal pintura mostra o doutor Ruisch dissecando um recém-nascido
ainda ligado a placenta.

1 Departamento de Medicina / Centro universitário de Brusque – UNIFEBE, 88352-400, Brusque, Santa


Catarina, Brasil; Autor correspondente: denisguedert@gmail.com.
2 Departamento de Medicina / Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI,
89160-932, Rio do Sul, Santa Catarina, Brasil;
3 Departamento de Ciências naturais / Universidade Regional de Blumenau – FURB, 89030-903, Blumenau,
Santa Catarina, Brasil.
210

Figura 1 – Obra lição de anatomia do Dr. Frederick


Ruisch, pintada por Jan Van Necks

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Há razões pelas quais é necessário defender a apreciação da anatomia
fetal e neonatal no meio acadêmico. Os currículos não contemplam os aspec-
tos da anatomia fetal e neonatal, os laboratórios de anatomia que possuem o
material fetal, muitas vezes não o utilizam no contexto formal da educação,
o feto ou recém-nascido é por vezes “esquecido’’ no receptáculo ao qual fica
armazenado. Assim, a introdução do feto e recém-nascido nos conteúdos de
anatomia humana deve ser gradativa, de modo estratégico e inteligente [3, 4].
Sabendo que há muitas vezes a escassez de material fetal e neonato em
anatomia, e até mesmo literatura apropriada sobre o tema, o objetivo deste
capítulo é apresentar uma metodologia para a dissecção de cadáveres de fetos
e recém-nascidos, visando à preparação futura do esqueleto do espécime, para
que possa ser usado em aulas de anatomia e exposições em museus.

Material e métodos

Para atender aos objetivos propostos, utilizou-se cadáveres de fetos e


recém-nascidos, previamente fixados em solução de formoldeído a 10%. Estes
foram cuidadosamente dissecados com vistas ao resultado final da técnica
de esqueletização.
É importante salientar alguns pontos da dissecção neonatal, principal-
mente, quanto a posição anatômica peculiar observada uma vez que mesmo
fora do útero e após realizada a fixação, esta posição característica persiste e,
diferentemente do cadáver adulto, cuja posição anatômica padronizada pode
ser alcançada manualmente pelo posicionamento correto das articulações, as
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 211

junturas fetais não podem ser manipuladas bruscamente, pois há o risco de


desarticulação e/ou rompimento dos ossos longos no local das linhas epifi-
sárias. Essas limitações foram observadas na dissecção e esqueletização dos
espécimes. As principais diferenças entre a posição anatômica do adulto e do
cadáver fetal e neonato (Tabela 1).

Tabela 1 – Posição anatômica convencional do adulto


comparada a posição anatômica fetal
Estrutura Posição anatômica convencional Posição anatômica fetal
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Estendida, com o olhar Flexionada, com a região mentual


Cabeça
voltado ao horizonte voltada à parede torácica
Estendido, sem obstrução Flexionado, com evidente arqueamento
Pescoço
de sua face anterior em sua face posterior
Ereta, com suas cifoses e Flexionada, apresentando-se com uma
Coluna vertebral
lordoses evidentes curvatura única em toda sua extensão
Posicionados paralelos ao tronco,
Flexão de cotovelo com uma semi-pronação
Membros superiores com antebraços supinados e palmas
do antebraço e posicionado junto ao tórax
das mãos voltadas anteriormente
Eretos com joelhos estendidos Forte flexão de coxas e joelhos,
Membros inferiores
e pés voltados anteriormente com pés invertidos

Quanto aos instrumentais utilizados na dissecção, é necessário que sejam


adequados. O rebatimento da pele do recém-nascido já é por si só um desafio.
Uma lâmina de bisturi pontiaguda perfura facilmente a fina pele, adicional-
mente, o tamanho da lâmina também é importante, lâminas grandes dificultam
a dissecção [5].
É interessante utilizar a lâmina de bisturi de número 15 acoplado ao cabo
de bisturi número 3, pois esta é mais delicada, possuindo uma extremidade
romba que minimiza os riscos de causar danos durante a dissecção [5]. A figura
2 mostra os principais instrumentais a serem utilizados em uma dissecção do
cadáver fetal e neonatal.
As pinças do tipo Adson também são ideais pois apresentam a ponta mais
fina que as demais. Particularmente, os autores preferem a utilização destas
pinças com ponta serrilhada ao invés das de dente de rato.
Além disso, uma boa tesoura Íris será, por vezes, utilizada para cortar
os elementos que o bisturi não consegue retirar.
Para mais detalhes sobre o manuseio correto do instrumental, consultar
obras especializadas [5].
212

Figura 2 – Instrumentais adequados para uma boa prática de dissecção do


cadáver fetal e neonatal. A,B: pinças Adson, sem e c/ dente de rato; C: Cabo
de bisturi acoplado a lâmina de no 15; D: Porta agulhas; E: Tesoura íris

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As etapas de dissecção do espécime se assemelham as do cadáver adulto
[5], desde a demarcação das linhas de incisão e rebatimento de pele e tela
subcutânea. Aqui, é necessário ter em mente que uma boa dissecção, execu-
tada com habilidade e paciência, irá contribuir para um bom resultado final.
É importante ressaltar que em cadáveres fetais e de recém-nascidos,
torna-se praticamente impossível separar a pele da tela subcutânea em certas
regiões anatômicas, nestes casos, ambas devem ser rebatidas junto, com exce-
ção da face, onde músculos da mímica estão intrincados à gordura.
A demarcação das linhas de incisão na região do tórax, abdome e dorso
(Figura 5).

Figura 3 – Demarcação das linhas de incisão do tórax,


abdome e dorso em um recém-nascido. A: Linhas de incisão
no tórax e abdome; B: Linhas de incisão no dorso
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 213

Como o objetivo da técnica é preservar o esqueleto do recém-nascido, a


pele, tela subcutânea e musculatura devem ser retiradas com o auxílio de bisturi e
tesoura. No tórax e abdome, é importante retirar os órgãos cuidadosamente, pois
estes podem ser armazenados para estudos posteriores. O diafragma, coração e
pulmões bem como o resto do conteúdo da cavidade torácica deve ser retirado
pela abertura inferior do tórax, cuidadosamente, com auxílio da tesoura íris.
Recomenda-se manter a musculatura intercostal intacta, pois esta irá
auxiliar na manutenção do formato do tórax (figura 4). Na figura 5 pode-se
observar um exemplo onde as costelas não mantiveram sua posição habitual,
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isso se deu devido a retirada da musculatura intercostal.

Figura 4 – Detalhe da região lateral direita da caixa torácica do recém-


nascido, a musculatura intercostal deve ser preservada pois irá auxiliar
na manutenção do formato do tórax durante a etapa de secagem

Figura 5 – Caixa torácica sem a musculatura intercostal, notar


a deformação sofrida pelas costelas após a secagem
214

Após a retirada do conteúdo torácico, é importante inserir neste espaço


um elemento preenchedor, recomenda-se o uso de retalhos de gaze de procedi-
mento cirúrgico e de preferência umedecidos com água ou solução de formol,
isso irá evitar a retração excessiva das costelas durante a etapa de secagem.
Na remoção da parede abdominal anterolateral, é importante rebater os
músculos oblíquos externos e oblíquos internos a fim de observar o transverso
do abdome ainda intacto. A remoção deste último deve seguir cuidadosamente
o contorno da porção lateral da abertura inferior do tórax e na sua parte poste-
rior deve-se procurar a localização das costelas flutuantes, muito delicadas no

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feto e recém-nascido, assim evita-se a remoção não intencional das mesmas.
A pelve menor do feto e recém-nascido abriga apenas uma delicada
musculatura, estruturas vasculonervosas, porém na questão de vísceras apenas
o reto e canal anal são encontrados, assim como parte esponjosa da uretra e
canal vaginal. Uma secção do reto é feita com o propósito de preservação,
juntamente com o restante do canal digestório. Bexiga urinária com a próstata,
no caso masculino e útero, no caso feminino, estão localizados na porção infe-
rior da parede abdominal, acima da linha suprapúbica. Um corte na região do
colo da bexiga é realizada e, caso haja preservação in situ dos rins e ureteres,
separe-se o conjunto urinário.
Para a cabeça e pescoço, um ponto importante é a região temporal, pois
o arco zigomático é extremamente frágil e pode ser removido com facili-
dade, portanto, a dissecção nesta área requer cautela, a remoção do músculo
temporal, quando este perpassa o arco zigomático, é realizada apenas com
pinça Adson, de maneira cuidadosa. A musculatura da face passa facilmente
despercebida uma vez que a face fetal e neonatal é relativamente menor, com
exceção da fronte. Estes músculos estão embebidos em traços de gordura
e ambos devem ser retirados com auxílio de tesoura íris, desaconselha-se
puxar a musculatura neste local, pois o ossos do esplancnocrânio estão em
desenvolvimento e possuem uma camada muito fina que é facilmente desco-
lada. O corpo adiposo da bochecha (corpo de Bichat) é, relativamente, bem
desenvolvido e pode ser removido com facilidade com ajuda de pinça.
Para a limpeza da cavidade craniana, deve-se realizar uma incisão onde
posteriormente irá se formar a sutura lambdóidea (Figura 6), por este espaço,
é possível remover o tecido nervoso com o auxílio da pinça. Da mesma forma
que a cavidade torácica, a cavidade craniana também deve ser preenchida
(utilizar retalhos umedecidos de gaze de procedimento cirúrgico). O encé-
falo de um espécime fetal muitas vezes possui um aspecto gelatinoso, que
desmancha ao toque da pinça, injeções de formol através dos fontículos são
aconselhadas no momento da fixação. Os globos oculares podem ser facil-
mente removidos com o auxílio da tesoura Íris, os demais tecidos podem ser
retirados com a pinça Adson.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 215

No pescoço, após remoção da pele, observa-se facilmente os múscu-


los esternocleidomastóideo e o grupo infra-hióideo, cujos quais devem ser
removidos por cortes em seus pontos de fixação. A traqueia e o esôfago
devem ser mantidos por hora. Já vasos e pequenos nervos devem ser remo-
vidos cuidadosamente.
A língua deve ser removida pela parte inferior da cavidade oral, atra-
vés de uma incisão que respeita o contorno interno da base da mandíbula e
remove os músculos que compõe o assoalho da boca, um corte então é feito na
região da orofaringe. Este método é interessante, pois evita a movimentação
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excessiva da mandíbula, que pode desarticular-se facilmente de seu encaixe


no osso temporal, devido a natureza frágil da cápsula articular. Uma vez que
mantivemos intactos traqueia e esôfago, um posterior bloco respiratório e
canal digestório são garantidos.

Figura 6 – Representação da vista posterior do crânio fetal e neonatal.


Observar as linhas pontilhadas em vermelho, pontos onde deve ser feita a
incisão a fim de limpar a cavidade craniana e inserir o elemento preenchedor

Quanto a dissecção dos membros, uma boa estratégia é iniciar a retirada


dos tecidos da parte distal para a proximal, se for feito de maneira inversa
ao se dissecar as mãos e pés, a chance de deslocar a articulação do ombro e
quadril é maior, durante o procedimento.
A dissecção de mãos e pés deve ser feita vagarosamente, para que não
haja nenhuma luxação. A pinça Adson em associação com a tesoura Íris é
ideal para a limpeza entre os metacarpos e metatarsos bem como limpeza das
falanges. A região dos ossos do carpo não está bem definida, uma vez que os
ossos carpais ainda não sofreram ossificação completa, nota-se apenas um
molde cartilaginoso do futuro conjunto carpal, o mesmo é verdadeiro para
216

a região tarsal [6], no final da preparação, observa-se pontos escuros nestes


locais, devido à natureza cartilaginosa do tecido. A remoção dos longos ten-
dões no antebraço, perna, mãos e pés deve ser realizada com cortes em seus
locais de inserção, deve-se evitar puxar com pinça estas estruturas, pois assim
provocar-se-á uma contração indesejada dos dedos, punhos e tornozelos.
No dorso a musculatura paravertebral, deve-se ser retirada com cuidado,
pois há a tendência de tracionar as lâminas vertebrais o que pode acabar
por arrancando-as.
Ao retirar-se os músculos rombóides e outros que auxiliam na fixação

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do cíngulo do membro superior ao tronco, a fixação se dará apenas pela
articulação esternoclavicular, fragilizando a fixação do membro superior ao
tronco. Recomenda-se utilizar um fio de sutura (o mais fino possível) e atra-
vés de um pequeno ponto unir as margens mediais das duas escápulas, como
demonstrado na figura 7, esta fixação deve permanecer até que o material
esteja completamente seco.

Figura 7 – Foto mostrando o detalhe de um ponto de sutura


unindo as margens mediais das escápulas, em peça já seca

Uma vez que todos os tecidos moles foram removidos, a etapa de seca-
gem deve ser feita em temperatura ambiente. Em regiões muito úmidas,
pode-se colocar o material por algumas horas no sol. O tempo de secagem
irá variar dependendo do tamanho do espécime escolhido. Há diversos pro-
tocolos que podem auxiliar na desidratação dos tecidos, aqui optamos pelo
meio mais natural possível.
A coluna vertebral do feto ou recém-nascido requer uma atenção especial
durante este processo. Com o tempo, a secagem e desidratação dos diminu-
tos discos intervertebrais leva a coluna vertebral a retrair-se e se deformar.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 217

Buscando minimizar os efeitos desta retração, durante todo o processo, uma


haste metálica deve ser fixada na coluna vertebral do espécime, as amarras
devem ser colocadas no crânio e pelve, isto irá evitar que o esqueleto, agora
maleável, retorne à posição fetal.
Com o esqueleto totalmente seco, é interessante aplicar uma camada de
verniz spray transparente.
Em algumas ocasiões, a etapa de secagem pode fazer com que o material
se torne demasiadamente escurecido, neste caso, opta-se pelo clareamento da
peça através da imersão em água oxigenada por algumas horas.
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Resultados e discussão

Um exemplo de esqueleto de recém-nascido, após passar por todas as


etapas da técnica descrita neste trabalho (Figura 8).
Como já citado anteriormente, o material fetal e neonato esqueletizado,
além de muito atrativo para exposições em museus de anatomia, propicia
ao estudo as diferenças do esqueleto desta faixa etária em comparação ao
do adulto. Podemos citar como alguns elementos de importância a serem
abordados em aulas, o estudo dos fontículos, sindesmoses temporárias que
serão posteriormente substituídas por suturas; a presença dos dois ossos fron-
tais divididos em seu primórdio pela sutura metópica; a presença da sínfise
mentual; e de uma maneira mais geral, a diferenciada relação neurocrânio\
esplancnocrânio, com órbitas relativamente maiores a fim de comportar o
globo ocular de ligeiro desenvolvimento no humano. a conformação horizonta-
lizada das costelas, o que irá acarretar em diferenças na mecânica ventilatória
destes indivíduos, bem como fornece bases anatômicas para a compreensão
de manobras como RCP (Ressuscitação cárdio-pulmonar) em recém-nasci-
dos, uma vez que apneias e mortes súbitas de recém-nascidos são frequentes
causas de óbitos em menores de um ano [7].
Nos membros, podemos notar a fragilidade dos ossos longos nos pontos
em que se concentram as linhas epifisárias, importantes para o crescimento
ósseo. Os epicôndilos umerais e femorais apresentam-se quase indistintos
e normalmente escurecidos após a secagem do material, devido a presença
marcante de cartilagem nestes locais ainda em desenvolvimento. Este fato
é também notado nos carpos e tarsos, onde é difícil a distinção dos ossos
individuais devido a natureza cartilaginosa do local. Metacarpos, metatarsos
e falanges possuem essa denotação de cartilagem em suas bases e cabeças.
Esses detalhes aparentes, ao final do processo de esqueletização, conferem
uma importância substancial para o estudo da formação do esqueleto e por
consequência a necessidade de criação e exposição de espécimes fetais ósseos.
218

Por fim no dorso fetal, a coluna vertebral apresenta-se como uma grande


cifose única que ganha suas curvaturas adicionais com a aquisição da postura
ereta e início da marcha bípede. A grande cabeça fetal e neonatal é sustentada
por essa coluna que ainda se demonstra frágil, assim como a musculatura
nucal, esses detalhes anatômicos refletem na necessidade do cuidado no manu-
seio de recém-nascidos, uma vez que não conseguem equilibrar a cabeça com
acuidade. Os processos transversos são muitas vezes indiscerníveis devido a
quantidade de músculos que os envolvem, e que devem ser extraídos com cui-
dado bem como são providos de uma carga cartilaginosa nesse período fetal.

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Figura 8 – Recém-nascido esqueletizado acoplado
em placa de acrílico para exposição

Conclusão

Este trabalho teve como objetivo descrever uma metodologia simples,


direta e de baixo custo, para a dissecção do cadáver fetal e neonatal, visando
à preparação de um espécime esqueletizado. A experiência enriquece o pra-
ticante quanto as habilidades em dissecção fina, delicada. O resultado final
proporciona uma peça anatômica seca, ideal para o uso em aulas e exposições.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 219

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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

Relações topográficas das estruturas do crânio. No estudo da Anatomia Topográfica,


é possível estabelecer conexões e relações anatômicas entre diversas estruturas. Ainda
assim, por meio da dissecação, é possível visualizar além de estruturas ditas superficiais
até estruturas mais profundas, devido à construção corporal de forma estratificada

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Autora: Morgana Oliveira Lira.


A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM
RADIOGRÁFICA EM ESTUDOS
ANATÔMICOS COM ELASMOBRÂNQUIOS
Maiara Gonçalves Rodrigues1
Estela Silva Antoniassi2
Carlos Eduardo Malavasi Bruno3
Daniela de Alcatara Leite dos Reis4
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Marcos Vinícius Mendes Silva5

Introdução

Estudos de imagem datam desde 1895 com a descoberta da radiologia,


razão do prêmio Nobel de Física em 1901 a Wilhelm Conrad Roentgen.
Esta descoberta se mantém até a atualidade como uma das principais
formas de diagnóstico utilizadas pela Saúde Única [1]. As técnicas radio-
lógicas vem sendo amplamente utilizadas para a interpretação de patolo-
gias ósseas, por exemplo. Deve-se considerar que a qualidade da imagem
radiográfica está relacionada à capacidade do profissional em posicionar
estruturas tridimensionais para que não ocorram sobreposições nas pro-
jeções bidimensionais [4]. Adicionalmente, a técnica radiográfica possui
resposta adequada com peças cadavéricas conservadas, indo além do pres-
suposto da necessidade in vivo.

1 Discente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
2 Discente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
3 Biólogo, Docente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil;
4 Médica Veterinária, Docente Universidade São Judas Tadeu, CEP:03166-000, Mooca, São Paulo- SP, Brasil;
5 Médico Veterinário, Docente Faculdade Alvorada Saúde, CEP: 03077-000, Tatuapé, São Paulo – SP, Brasil.
Autor correspondente: prof.marcosvet1@gmail.com.
222

Figura 1 – Linha do tempo

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Fonte [2, 3] – Conteúdo adaptado

A compreensão anatômica precisa do objeto de estudo, garante ao obser-


vador parametros de normalidades, compreendendo melhor as estruturas exis-
tentes em cada espécie. Sob esta perspectiva, os pesquisadores encontram
desafios ao estudar animais de dificil acesso, como tubarão-azul (Prionace
glauca) e outros animais não convencionais. Muitas vezes raros de serem
encontrados, dificulta as informações científicas sobres estas espécies e tam-
bém com relação a sua sanidade [5]. Portanto, para compreeder o exame
radiográfico, é necessário saber a anatomia da espéceie animal estudada. Além
disso, o exame radiográfico, quando submetido à alterações técnicas, sofre,
impreterivelmente, alterações em seus resultados finais [6; 7], sendo padro-
nizado inclusive os termos de posicionamento [8].

Figura 2 – Termos de incidência radigráfica humana

Fonte [8] – Conteúdo adaptado


TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 223

A nomenclatura entre Medicina Humana e Veterinária só entrou em


consenso a partir de 1895, sendo que anteriormente, as estruturas possúiam
definições diferentes conforme localidade, por exemplo. Pesquisas atuais tem
elucidado a importância da comparação dos termos mediante perspectiva
da saúde única [9]. Adicionalmente, as nomenclaturas de posicionamento
possuem abreviações.

Figura 3 – Termos de incidência radigráfica veterinária – Conteúdo adaptado


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As propriedades básicas das radiografias surgem do conceito de radiação


eletromagnética mediante interação de elétrons fora do núcleo, cuja energia
depende da interação entre átomo e elétron, processo distinto dos raios gama.
Já na radiação eletromagnética, ocorre a junção dos campos elétricos e mag-
néticos. As aplicações em radiografia, como proposta diagnóstica, implicam
na obtenção de informações mediante diferentes posicionamentos [1].
224

Figura 4 – Posicionamentos radiográficos humanos gerais – Conteúdo adaptado

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Esta prática visa o mínimo de exposição dos indivíduos envolvidos no
processo, por conta da exposição e absorção de radiação pelo organismo. Outra
consideração pertinente, diz respeito à fatores que influenciam na qualidade
da imagem, como por exemplo, a movimentação [1]. Para além, o posiciona-
mento radiográfico veterinário também parte do pressuposto de bem-estar do
paciente durante o procedimento, sendo necessário técnicas de imobilização
ou até mesmo utilização de anestesia geral, considerando à face do animal e
emergência a radiação [9].
A aplicação prática em locais de reabilitação de fauna silvestre também
podem ser observados, formando um budget completo quando em conjunto
com outras avaliações. Complementa-se ainda que o uso de imagem vem
sendo bem recebido pela Biologia Marinha, tendo respostas favoráveis quanto
ao estudo de corpos estranhos. Este método permitiu observar alterações na
radiopacidade em diferentes sistemas de tartarugas marinhas em processo de
reabilitação, bem como fraturas [10].
A concepção do uso dessas técnicas com estudos anatômicos, permite
compreender como diferentes posicionamentos ou execução de metodolo-
gias podem evidenciar características morfológicas e suas especificidades.
Em espécies pouco estudadas, como Elasmobrânquios, a junção destas áreas
em Medicina Veterinária permite a aprendizagem de mecanismos ainda não
observados e inclusive, descrever dimensões, relação de sintopia, formato e
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 225

posição anatômica [7]. Outro fator relevante é o fato de ser possível utilizar
técnicas radiográficas com este fim, a avaliação de densitometria óssea, ou
seja, o conteúdo mineral ósseo, pode ser foco de diversos estudos [11].
O objetivo do trabalho é discutir a importância do uso de técnicas de
imagem em estudos anatômicos com Elasmobrânquios. A Radiografia, como
método para discussão, foi selecionada pelo seu caráter não-invasivo, bem
como resposta eficiente com animais raros como holótipos de museu, além
de implicações favoráveis em taxonomia e pesquisa científica.
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Metodologia
A técnica radiográfica corresponde a uma metodologia diagnóstica que
complementa estudos anatômicos. Os equipamentos e materiais para a radio-
grafia convencional ou digital não excedem em quantidade, fator que não torna
a utilização da técnica onerosa, dentre os itens estão: 1) aparelho de raio X;
2) filme radiográfico; 3) material para processamento e 4) cartelas ou enve-
lopes para armazenamento dos filmes. Em aparelhos digitais identificam-se:
1) aparelho de raio X; 2) sensores digitais e 3) computador e software [12].
A técnica radiológica não necessita de um animal vivo para sua execução,
possuindo bons resultados com peças cadavéricas conservadas, fator impres-
cindível na sua contribuição para estudos anatômicos.

Figura 5 – Fluxograma do Procedimento Radiográfico – Conteúdo adaptado

Resultados

Existem achados interessantes proporcionados pelo uso do recurso de


imagem radiográfica em estudos anatômicos não invasivos com elasmobrân-
quios, como a localização de características anatomicas específicas da espécie,
226

podendo ser utilizados em estudos taxonomicos. Através da técnica radio-


gráfica, foi possivel observar diversas estruturas em estudo, como a cabeça
de um tubarão-galha-preta, Carcharhinus limbatus (Figura 6) em projeção
dorsoventral, evidenciando o rostro, roseta olfativa, olhos e bulha timpanica
(Figura 6A), palatoquadrado e cartilagem de Meckel (Figura 6B).

Figura 6 – Imagem radiográfica na projeção dorsoventral


demonstrando o Rostro, Olhos, Roseta Olfativa e Bulha Timpanica
(A); palatoquadrado e cartilagem de Meckel (B)

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Na projeção Laterolateral, o estudo radiográfico em tubarão-galha-preta,
Carcharhinus limbatus (Figura 7) demonstrou a presença de bulha timpânica
(B.T.) com sobreposição de imagem, roseta olfativa (R.O.) e Dentição (D).

Figura 7 – Análise radiográfica na projeção Laterolateral de


tubarão-galha-preta, Carcharhinus limbatus, apresentando a Bulha
timpânica (B.T.), Roseta olfativa (R.O.) e dentição (D)
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 227

Em imagem macroscópica apresentada pela figura 3, em projeção


dorsoventral, foram analisados um espécime a termo de raia-borboleta,
Gymnura altavela e raia-ticonha, Rhinoptera bonasus respectivamente,
demonstrando que é possível identificar características básicas como cintura
pélvica e escapular, e a morfologia da cartilagem. No estudo radiográfico
com fetos a termo de raia-borboleta, Gymnura altavela e raia-ticonha,
Rhinoptera bonasus, em vista dorsal foi possível observar a formação da
cintura escapular (C.E.), cintura pélvica (C.P.), Arco branquial (A.B.),
coluna (COL) e olhos (O) (Figura 8 B).
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Figura 8 – A: Feto a termo de raia-borboleta, Gymnura altavela e raia-ticonha,


Rhinoptera bonasus Gymnura altavela respectivamente. B: Radiografia na
projeção dorsoventral foi possível observar a formação da cintura escapular
(C.E.), cintura pélvica (C.P.), arco branquial (A.B.), coluna (COL) e olhos (O)

Discussão

A Medicina Veterinária de peixes vem ganhando visibilidade conforme


a evolução em piscicultura. Criadores e especialistas estão tendo mais aten-
ção para características do manejo e sanidade de animais em cultivo [13] e
a prática radiológica, vem se tornando padrão-ouro em complementação à
prática anatômica.
Aspectos específicos encontrados nesta subclasse de peixes cartilagino-
sos e suas constante transformações atrelados ao estudo radiológico, permi-
tem identificar possíveis alterações ao longo do amadurecimento, como por
exemplo, o desenvolvimento do timo, aglomerado de células que se tornarão
órgãos, desenvolvimento de regiões corticais e medulares, e até mesmo a
calcificação da cartilagem hialina [5]. Outra possibilidade, está em analisar a
arcada dentária que possui substituição constante.
228

Variações em técnicas anatômicas são amplamente descritas em lite-


ratura [7, 13]. É imperativo compreender que mínimas alterações podem
gerar incoerência diagnóstica, portanto, a execução do procedimento precisa
ser protocolado e padronizado, até para que outros pesquisadores possam
replicar e obter resultados com qualidade. As etapas metodológicas tem a
capacidade de maximizar ou minimizar determinadas características mor-
fológicas podendo evidenciar disfunções inexistentes. Quando se trata de
radiologia, a quantidade de projeções radiográficas admite melhor com-
preensão do animal estudado enquanto totalidade, tal medida propiciará

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um procedimento com excelência, principalmente, quando se fala em ani-
mais infrequentes.
Estudos anatômicos utilizam o procedimento de fixação com o obje-
tivo de integridade estrututural e, nas práticas anatômicas mais frequen-
tes, o fixador deve estar em contato com todas as superfícies, sendo que
este líquido deve exceder em volume. Os principais fixadores utilizados
em estudos anatômicos são: 1) formol; 2) álcool etílico; 3) fenol líquido;
4) glicerina, entretanto, cabe considerar que a utilização de substâncias
químicas possuem benefícios e malefícios às peças, de forma que a esco-
lha do líquido deve ser selecionado conforme objetivo de conservação e
preservação de estruturas anatômicas [14].
Considerando a possibilidade de deteriorização de peças cadavéricas
por erros de conservação, técnicas alternativas, como a radiografia, passaram
a ser testadas, uma vez que deve-se atentar apenas ao fato de que alterações
patológicas serão apresentadas em conjunto à anatomia normal, fazendo
com que o profissional fique atento à interpretação [4]. Para uma avaliação
adequada, o posicionamento correto é imprescindível [2], facilitando assim
a visualização da estrutura desejada. A técnica radiográfica complementar a
estudos anatômicos, permite compreender como diferentes posicionamentos
ou execução de metodologias podem maximizar ou minimizar caracterís-
ticas morfológicas de peças cadavéricas e até mesmo evidenciar variações
anatômicas entre espécies [14].
Neste estudo, a técnica radiográfica permitiu realizar o estudo anatômico
da cabeça de um tubarão-galha-preta, Carcharhinus limbatus em projeção
dorsoventral e laterolateral, bem como de fetos a termo de raia-borboleta,
Gymnura altavela e raia-ticonha, Rhinoptera bonasus Gymnura altavela em
projeção dorsoventral, permitindo discutir variações anatômicas adicionais.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 229

Figura 9 – Características anatômicas gerais – Conteúdo adaptado


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A classe dos Elasmobrânquios é considerada predadora e importante,


com alta capacidade de sobrevivência e especializações fisiológicas [16].
Adicionalmente às características anatômicas gerais supracitadas de forma
complementar, existe uma relação de principais termos morfológicos em
pesquisa com elasmobrânquios.

Figura 10 – Principais termos morfológicos – Conteúdo adaptado


230

São animais ameaçados de extinção por conta da alta incidência da pesca


e baixa fecundidade. A conservação desta subclasse de peixes cartilagino-
sos é imperativa. Portanto, a união entre os estudos anatômicos e a prática
radiográfica permite ampliar o conhecimento científico e, ao mesmo tempo,
promover educação ambiental à população [17].

Conclusão

Práticas anatômicas enquanto ferramentas de Educação Médica utilizam

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estruturas sintéticas ou cadavéricas durante o processo de ensino-aprendiza-
gem. O processo de conservação passou por uma evolução em decorrência de
problemáticas resultantes da destruição pelo uso de substâncias abrasivas. A
partir de então, métodos alternativos que atingissem resultados semelhantes
ou superiores passaram a ser investigados.
Paralelamente, pode-se observar um enriquecimento em técnicas radio-
gráficas desde 1895, com uma crescente preocupação na qualidade da imagem
resultante. Posicionamentos, termos e instrumentos foram atualizado conco-
mitante a era digital, bem como os profissionais também passaram a ser alvo
de estudos de saúde e bem-estar pós exposição.
Esta ampliação científica também foi observada na área da Medicina
Veterinária, ampliando a visibilidade para além de animais domésticos. Diante
o exposto, foram surgindo diversas áreas de atuação, desde animais incomuns
à sanidade e manejo de peixes.
O amadurecimento observado nestas áreas caracterizou o processo evo-
lutivo que consequenciou neste estudo. Esta pesquisa discuti a importância
do uso de imagens radiográficas em estudos anatômicos com Elasmobrân-
quios e permite considerar que a preocupação da Educação Médica com o
processo de ensino aprendizagem é pertinente e imperativo quando relacio-
nado à conservação de peças. Portanto, verifica-se que a prática anatômica
é complementar à radiográfica.
A técnica radiográfica propicia uma alternativa quanto à conservação
estrutural e, quando feita adequadamente, permite compreender com preci-
são a morfologia estudada e se apresenta de maneira integrante à Medicina
Veterinária com Elasmobrânquios.
Conservação de animais ameaçados e educação ambiental à população,
além da comunidade científica, pode ser realizada por meio do conjunto de
ambas as práticas, ampliando inclusive, conhecimentos pré-concebidos do
funcionamento da espécie e até mesmo, fatores taxonômicos. Desta forma,
conclui-se que esta união pode promover benefícios imprescindíveis em cará-
ter de saúde única.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 231

REFERÊNCIAS
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diagnóstica. In: THRALL, D.E. Diagnóstico de radiologia veterinária.
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Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

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[3] Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. História


da radiologia. Disponível em: https://www.spr.org.br/a-spr/historia-da-
-radiologia. Acesso em: Jul/2020.

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de anatomia radiográfica para a interpretação de patologias ósseas. RGO.
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de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Cirurgia. 2016.

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em aparelhos panoramicos, que se utilizam dos principios ortopantomo-
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Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, 1992.

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prática de anatomia animal. Pesq. Vet. Bras. 2013; 33(5).

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clatura anatômica humana e a veterinária. PUBVET. 2011; 5(22).

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de Curso, Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, 2019.
232

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[12] Gorrel C. Odontologia em pequenos animais. Rio de Janeiro: Else-


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tratamento e profilaxia. Simpósio de TCC e Seminário de IC. Disponível

Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização


em: http://nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arqui-
vos_up/documentos/artigos/604b55338e0416855a43e95fee755661.pdf.
Acesso em: Jun/2020.

[14] Santos AA, Silva MGV, Santos JL, Melo PGB. Principais métodos de
fixação de peças para estudo anatômico: uma revisão de literatura. Arqui-
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[15] Gadig OBF. Tubarões da costa brasileira. Tese de Doutorado, Univer-


sidade Estadual Paulista: Instituto de Biociências de Rio Claro, 2001.

[16] Niella YV. Ocorrência, biologia e movimentação d tubarão cabeça-chata,


Carcharhinus leucas, no litoral do nordeste do Brasil. Dissertação de
Mestrado: Oceanografia – Repositório Digital da UFPE, 2016.

[17] Soares LE. A coleção biológica de Elasmobrânquios “Danilo Wilhein


Filho”: Um incentivo a conservação e pesquisa. Trabalho de Conclusão
de Curso, Universidade Federal de Santa Catarina – Biologia, 2019.
APLICAÇÃO DE OSTEOTÉCNICA
ANATÔMICA NA ESPÉCIE
ANFÍBIA Rhinella marina
Dennisiane de Jesus Saraiva1
Francielma Chaves Sousa2
Ana Paula Rodrigues dos Santos3
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Ellainy Maria Conceição Silva4


Ingrid Carolinne Lopes Marques5
João Carlos Lopes Costa6
Cleonilde da Conceição Silva Queiroz7
Diego Carvalho Viana8

Introdução

Atualmente, são muitas as ferramentas incrementadas no ensino


visando facilitar o aprendizado. E, é por meio da construção de biomodelos
anatômicos, que os ambientes de ensino vêm se tornando cada vez mais
interativos e interessantes. Segundo Gonçalves e Boldrini [9], a coleção
osteológica demonstra ser uma ferramenta de ensino que contribui no
processo de aprendizagem sobre a anatomia dos vertebrados, tanto para
os estudos científicos, como para fins didáticos, auxiliando na construção
de sua história, vida e evolução.
As coleções dessas peças anatômicas ainda poderão ser utilizadas em fei-
ras científicas, exposições e até museus, que possibilitam o acesso do acervo ao
público em geral, as aproximando da diversidade osteológica dos vertebrados.
Desde a antiguidade, há relatos da presença de estudos osteológicos por
meio da extração do esqueleto de vertebrados em busca da compreensão de
suas estruturas anatômicas. Ingenito et al. [10] citam que na Europa, durante
o Renascimento, foram realizadas grandes expedições da coroa em que os

1 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
2 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
3 Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
4 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
5 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
6 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
7 Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL);
8 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís-Ma, Brasil;
Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL). Autor correspondente: diego_
carvalho_viana@hotmail.com.
234

naturalistas coletaram inúmeros exemplares de espécies de vertebrados, para


a construção de salas denominadas “gabinetes de curiosidade”, nas quais as
espécies capturadas serviam de entretenimento para a classe mais rica, como
forma de status, surgindo, assim, a cultura do colecionismo.
Já no Brasil, foi no ano de 1818, que o país ganhou seu primeiro gabinete
de estudos de história natural, fundada por Dom João VI, batizada de “A Casa
dos Pássaros”, abrigando inúmeras espécies brasileiras. Posteriormente, passou
a se chamar Museu Nacional do Rio de Janeiro, sendo uma referência para
muitos pesquisadores, por conter os maiores acervos de coleções científicas

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e ter as maiores coleções osteológicas da fauna tropical [14].
A osteotécnica é direcionada ao preparo e melhora de peças anatômicas
selecionadas ao ensino e à exposição. Na prática, a realização da técnica
também faz com que haja uma ligação entre os conhecimentos teóricos e
práticos. A mesma pode ser realizada com o esqueleto articulado (inteiro) ou
desarticulado, lembrando que o crânio sempre é desarticulado para retirada
do encéfalo. Os ossículos também podem ser retirados. Para a desarticulação
de ossos cranianos, pode-se utilizar o preenchimento por sementes através do
forame magno, com posterior fechamento do forame. A peça então é submer-
gida em água, para que as sementes cresçam e dilatem o crânio. A separação
completa é feita com o auxílio de ferramentas. O processo, em sua totalidade,
é dividido em etapas, entre elas: o descarne, a maceração, o desengordura-
mento, o clareamento, a montagem e realização da diafanização em casos
específicos. São utilizadas ferramentas de apoio como faca, bisturi, tesoura,
pinça, algodão, cola, alfinetes, arames, alicate, superfície para apoio da peça
etc. A montagem na superfície normalmente é feita utilizando cola e algodão,
porém pode-se substituir o algodão por bicarbonato de sódio [7].
Já o descarne pode ser feito de maneira aleatória, tirando toda a muscu-
latura, mas é essencial preservar os ligamentos e cápsulas articulares. A pre-
servação pode ser feita com “mergulhos rápidos” no peróxido de hidrogênio
(20V). Amarrar com um barbante as vértebras durante o descarne, garante que
as mesmas já fiquem posicionadas corretamente. A utilização de insetos também
pode ser empregada e ainda há quem enterre o corpo antes do descarne, repre-
sentando os diferentes protocolos que podem ser exercidos. A maceração pode
ser realizada em água, em cloro, em xilol ou até cozinhando em água fervente,
realizando a maceração e desengorduramento ao mesmo tempo das peças. É
importante que as peças contenham pequenos furos nas extremidades para a
saída da medula óssea. No desengorduramento, também pode se utilizar o xilol
ou éter (casos em que se perceba muita presença de gordura). O clareamento
das peças é realizado na luz solar, podendo potencializar o branco ósseo com
uma pincelada de peróxido. As peças podem ser envernizadas posteriormente
(spray). Por fim, a montagem das peças é feita por meio de furos nas superfícies
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 235

articulares, onde são amarradas e os espaços entre os ossos podem ser susten-
tados por molas improvisadas de arames, sob a superfície proposta [8].
A diafanização consiste na conservação de fetos e pequenas espécies em
que o resultado final se assemelha a um corpo translúcido. Normalmente, os
corpos já estão fixados com formaldeído (5 a 10%) e o encéfalo e as vísceras
são retirados por meio de pequenas aberturas. Posteriormente, as peças vão
para uma solução de peróxido de potássio (1%), para que ocorresse o processo
de translucidez dos tecidos moles. Ocorre então a troca dessa solução por
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outra solução básica de alizarina 0,1% (a solução ficará em uma tonalidade


avermelhada/arroxeada para a pigmentação dos ossos). A permanência na
solução de alizarina é feita até obter o resultado esperado [18]. No geral, há
uma variedade de técnicas anatômicas, as quais podem possuir múltiplos pro-
tocolos, dando a liberdade ao proponente alterar etapas, fazer substituições e
mudar os intervalos para que a peça anatômica alcance o objetivo esperado.
Em complemento a realização das técnicas anatômicas, há a utilização
de plataformas digitais que servem de apoio aos processos de descarnação e
montagem do esqueleto. Na Anatomia Veterinária, muitos são os aplicativos
oferecidos para dinamizar os estudos. Dentre eles, o aplicativo “Vet Anatomy”,
que oferece um verdadeiro atlas de anatomia veterinária, contendo descrição
e imagens de cortes anatômicos em variados ângulos, mostrando anatomi-
camente ossos e musculatura de diferentes animais. E também o software
“Esqueleto de sapo 3D”, uma versão gratuita que permite visualizar detalhes
do tegumento e do esqueleto do animal [3].
Os anfíbios e répteis desempenham papéis fundamentais na ecologia,
sendo controladores de pragas, contribuem na cadeia alimentar, são bioin-
dicadores de equilíbrio de seus ecossistemas, úteis na produção de banhos e
óleos medicinais, símbolos culturais e na economia são fontes de alimentos
de carne exótica [16].
Os anfíbios, mais especificamente a Ordem dos anuros (sapos, rãs e
pererecas), também são citados na literatura como representantes do folclore
brasileiro, principalmente, como ferramentas de previsão dos períodos chuvo-
sos. Foi com base na tradição de muitos sertanejos, que Nogueira e Silva [13],
elencaram as espécies descritas pelos moradores do município de Cuité, na
Paraíba. Dentre os anfíbios prenunciadores de chuva, foram destacados o sapo-
-cururu (Bufo marinus ou Rhinella marina) e a perereca (Hyla albopunctata).
A espécie Rhinella marina (sapo-cururu), também denominada Bufo
marinus, nativa das Américas Central e do Sul e de tamanho em média de
15 centímetros, foi amplamente introduzida no passado como um meio de
controle biológico de pragas nas plantações de cana-de-açúcar e, por esse
fator, também é conhecida como Cane Toad.
236

Outro fator relevante sobre a espécie, é frequente intoxicação de cães que


mordem estes animais, e que contém em sua anatomia as famosas “bolsas de
veneno”. Dentre os sinais de intoxicação, estão a salivação excessiva, movi-
mentos de balanço com a cabeça, convulsões e até a morte do cão. Segundo
Castilhos et al. [5], a espécie Rhinella marina possui uma glândula responsá-
vel pela síntese de uma grande diversidade de compostos químicos, os quais
conferem proteção contra predadores e infecções por bactérias e fungos e que,
segundo o estudo realizado com um hamster chinês, o veneno induz quebras
significativas no DNA, revelando o caráter genotóxico do veneno.

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Portanto, levando em consideração toda a contribuição histórica das téc-
nicas anatômicas no passado, que se visou acrescentar o trabalho (realizado
durante uma aula prática) no acervo científico disponível sobre osteotécnicas.
A espécie escolhida também tem relevância já que além de ser representante
da classe dos anfíbios, possui um valor cultural e serve de alerta para evitar
possíveis intoxicações.

Materiais e métodos

Para a realização da osteotécnica, foi utilizado a espécie anfíbia Rhinella


marina, popularmente conhecida como sapo-cururu ou sapo-boi. A mesma,
após o parecer do comitê de ética, foi preparada no prédio do LAMP (sala
de lavagem), na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em forma de
aula prática em agosto de 2019.
O primeiro passo, foi a organização e checagem de todos os produtos
químicos e ferramentas de auxílio necessários para o devido cumprimento
da técnica. Dentre as ferramentas, estão os bisturis, pinças, tesouras, bas-
quetas plásticas, vidros para submersão em soluções, espátula para mistura
das substâncias químicas, suporte para montagem, arames, alicates, colas de
adesão, etc. Também foi importante a utilização de equipamentos de proteção
individual, como a utilização de jaleco, luvas e máscara.
Inicialmente, o animal foi fixado em formol durante vinte e quatro horas,
com posterior retirada das vísceras. Então, foi colocado em um recipiente con-
tendo solução de bicarbonato de sódio (80g para 500ml de água), permanecendo
por mais três semanas, a solução foi trocada a cada 24hs. Após a retirada da
solução, o animal estava preparado para a etapa de descarne, sendo retirados
todos os músculos do mesmo. Posteriormente, a peça retornou para a solução,
para a etapa de maceração que possibilita a futura retirada de resquícios de
músculos. A limpeza da peça é então finalizada pelo clareamento que utilizou
o peróxido de hidrogênio (40V), sendo realizado também a secagem, processo
em que o animal é posto para secar em exposição a luz solar (Figura 1).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 237

Figura 1 – Processo de retirada da pele e vísceras após o formol


(A e B) e etapa de clareamento em peróxido de hidrogênio

A B C
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Para a montagem do esqueleto, foi utilizado uma superfície de vidro


espelhado como base de apoio. Já para a aderência e fixação das peças, foram
utilizadas a cola de silicone, a cola quente e wurth bonder plus. Também foram
necessários arames de 0,9mm para a sustentação da coluna vertebral do sapo.
O verniz incolor em spray foi utilizado para acabamento e conservação da
peça anatômica recém-construída.
Durante a montagem, também foi utilizado um material bibliográfico de
apoio, que auxiliou no encaixe de cada peça do anfíbio.
Os resíduos produzidos durante a fixação e submersão da peça nas subs-
tâncias químicas descritas, receberam a devida destinação de fim, seguindo
todas as recomendações ambientais regidas pelas leis ambientes de descarte
de resíduos produzidos em laboratórios (Lei nº 12.305/10).

Resultados e discussão

Um dos passos imprescindíveis à realização da técnica, é a segurança


viabilizada pelos equipamentos de proteção individuais (EPIs), proporcio-
nando biossegurança a todos os envolvidos. É partindo do princípio que a
experimentação é importante para facilitar a aprendizagem dos conceitos
contidos nas ciências, que Côrrea et al. [6] cita que os EPIs permitem a rea-
lização de operações sob condições mínimas de risco, resguardando a saúde
dos envolvidos nas atividades funcionais.
Durante a realização de algumas etapas da osteotécnica, como a retirada
das vísceras, o descarne e a montagem da peça completa, foi exigido dos
238

participantes alguns conhecimentos prévios básicos de anatomia veterinária,


evidenciando que a técnica também põe em prática os conhecimentos teóricos
já assimilados. Segundo Aversi-Ferreira et al. [2], devido a sua característica
visual, as aulas práticas em laboratório aproximam e familiarizam o estudante
com as estruturas estudadas nas aulas teóricas, auxiliando na construção do
raciocínio e na consolidação do aprendizado.
Ao decorrer da realização de tais etapas, ainda se pode observar alguns
conceitos da anatomia clínica uma vez que a estrutura anatômica dos animais
pode apresentar alterações, caracterizadas como patológicas ou não. Como

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citado em Costa et al. [7], conhecer e compreender o nosso corpo é um fator
essencial para que possamos entender e, até detectar algum tipo de patologia
por meio de alterações anatômicas.
Padrões de mudança do estado da peça puderam ser observados em cada
etapa, sendo assimilados com a eficiência do protocolo aplicado. Dentre os
padrões, está o enrijecimento da peça pelo formol (evitado a putrefação), o
rompimento da estrutura muscular na maceração, o clareamento das partes
ósseas pelo peróxido e o brilho e conservação da peça anatômica pronta após
a aplicação do spray de verniz. Portanto, todas as transformações do estado
da peça consistem nos padrões de transformação/manutenção da osteotécnica.
Kimura e Carvalho [12] descreveram em seus trabalhos que após o processo
de glicerinação, as peças apresentaram retração tecidual, se apresentavam mais
leves do que os mantidos em formaldeído, sem odor forte e com um aspecto
semelhante a um “emborrachado”.
Outro fator relevante a ser considerado, é o custo-benefício de cada
protocolo, pois muitos se apresentam onerosos e servem de empecilho para
a realização de osteotécnicas por parte das instituições de ensino e pesquisa.
Silva et al. [19], cita que o formaldeído é uma substância química com efeito
desinfetante, antisséptico e germicida, de baixo custo e pouca necessidade
de manutenção, e que vem ganhando destaque na fixação e conservação de
peças anatômicas.
A realização da osteotécnica permitiu que os alunos assimilassem con-
teúdos administrados em sala de aula e tivessem uma vivência prática da
mesma. Também foram conhecidos um dos protocolos da técnica e observados
os tempos necessários na espécie anfíbia. An et al. [1], citam que além da
formolização, outras técnicas vêm sendo desenvolvidas para conservação de
peças anatômicas, objetivando redução de custo e toxicidade. Dentre estas
técnicas, destacam-se a glicerinação, a manutenção em ácido acético 70% e
em solução salina hipertônica (NaCl 30%).
A utilização de livros e aplicativos de osteologia contribuíram na etapa de
montagem da arcada ósseo semi-pronta. Capobianco [4], afirma que as mídias
digitais de informação e comunicação, como os softwares disponibilizados por
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 239

meio de aplicativos, oferecem recursos para potencializar os processos na área


de educação abrindo novas possibilidades para complementar o ensino formal.
O trabalho realizado em conjunto com os alunos simboliza também a
importância do trabalho em equipe e a soma de ações que visavam um obje-
tivo maior: o aprendizado de uma das várias técnicas anatômicas. É válido
citar que, uma vez aprendida, a mesma terá mais chances de ser disseminada,
aumentando o acervo científico sobre osteotécnicas. Conforme descreve Pilleti
[15], quando o aluno faz uma pesquisa, o mesmo aprende a formular hipó-
teses, a experimentar, a observar, a trabalhar em grupo e a tirar conclusões,
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consequentemente, contribuindo em maior escala para o aprendizado.


A peça pronta foi disponibilizada a um dos laboratórios, podendo servir
de base para estudos e trabalhos na área como biomodelo anatômico. O uso
destes modelos demonstrativos que permitam a manipulação é uma ferramenta
importante no ensino, interligando os conteúdos, despertando assim um maior
interesse do aluno para uma metodologia nova e explorando suas habilidades
e competências [11] (Figura 2).

Figura 2 – Esqueleto montado de sapo da espécie Rhinella marina

Tanto quanto os répteis, os anfíbios apresentam características morfoló-


gicas próprias que, com observação atenta e cuidadosa, revelam importantes
aspectos a respeito de suas biologias [17]. A exposição da peça permite, por
exemplo, que seja observado detalhes anatômicos dos ossos, como a coluna
vertebral especializada. A espécie possui apenas nove vértebras individuais
presentes, com o uróstilo alongado continuando a coluna vertebral posterior-
mente. Esse formato funciona como uma adaptação esquelética para a fixação
da musculatura para o salto, nado e o ato de cavar.
240

Considerações finais

Na preparação dos participantes para a realização da osteotécnica, pode-


-se perceber a importância da utilização de equipamentos de proteção indivi-
dual, pela presença de substâncias químicas nocivas. Durante algumas etapas,
as que envolviam descarne e a retirada de vísceras, foi possível colocar em
prática os conhecimentos anatômicos que dizem respeito das posições, fazendo
uma revisão de conteúdos já administrados.
Também foi possível o aprendizado sobre os padrões de mudanças da

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peça, já que durante a osteotécnica, é possível observar alguns aspectos carac-
terizáveis, mediados pela ação das substâncias químicas. A avaliação do custo-
-benefício do protocolo foi avaliada pela facilidade de obtenção das substâncias,
pelo seus valores e nocividade das mesmas perante os integrantes do grupo.
A realização da osteotécnica proporcionou uma vivência que aliou conhe-
cimentos práticos e teóricos, e ocasionou a união dos envolvidos em prol
de um interesse comum: o aprendizado. O acervo bibliográfico anatômico
contribuiu para a montagem da peça, ocorrendo uma espécie de anatomia
comparada. Por fim, a osteotécnica possibilitou a construção de um biomodelo
exposto no laboratório e que servirá de base para estudos e pesquisas.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 241

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Digital Acessa SP – PONLINE). 2010. 174f. Dissertação (mestrado) –
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Comunicação e Arte, USP, São Paulo, 2010, doi: 10.11606/D.27.2010.
tde-16062010-110410.

[5] Castilhos B, Sperotto ARM, Moura DJ, Stábeli RG, Calderon LA, Henri-
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sileira de Educação Médica. 2012; 36(3): 369-373, doi: 10.1590/
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242

[9] Gonçalves A, Boldrini SC. Eixos temáticos: uma nova abordagem para o
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ATLÂNTICA. 2014 Minicurso: Curadoria de Coleções Zoológicas. 2014
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[11] Krasilchick M. Prática de ensino de biologia. Livro. Editora da Univer-

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sidade de São Paulo (EDUSP), 2003, 200p, ISBN: 13: 9788531407772.

[12] Kimura AK, Carvalho WL. Estudo da relação custo x benefício no


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[13] Nogueira MMT, Silva DP. Prenúncio de chuvas por animais na visão
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Congresso Nordestino de Biólogos – Congrebio. 2015; 5: 27-30, ISSN
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Comparada do Unileste-MG. Revista On-line Unileste. 2003; 02.

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[16] Pough FH, Janis CM, Heiser JB. A vida dos vertebrados. Atheneu Editora
de São Paulo. 4. ed. 2008; 718p, ISBN: 978-85-7454-095-5.

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anatomia de anfíbios e répteis. Herpetologia no Brasil. 2007; 2:311-325.

[18] Silva LKB, Bilibio BLE, Brunig GG, Zambon AF, Passos FR, Fiorin
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logia do desenvolvimento fetal humano. XXV Seminário de Iniciação
Científica. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul – Unijuí. 2017; doi: 93587443c5e2e8a1b3f41307a7fd79ee4867.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 243

[19] Silva GR, Cortez POBC, Lopes ISL, Teixeira BACB, Leal NMS. Méto-
dos de conservação de cadáveres humanos utilizados nas faculdades
de medicina do Brasil. Revista de Medicina. 2016; 95(4): 156-16, doi:
10.11606/issn. 1679-9836.v95i4p156-161.
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I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

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Coração do Kinosternon scorpioides. O sistema circulatório dos répteis inclui o coração,
artérias, veias e vasos linfáticos. O coração das tartarugas é constituído por três
câmaras: dois átrios e um grande ventrículo. Devido às suas diversas particularidades
anatômicas, faz-se necessário pesquisas profundas acerca da morfologia das espécies
que possa contribuir para a clínica de animais silvestres e consequentemente a
conservação na natureza. A presente fotografia é o coração da espécie Kinosternon
scorpioides, obtida por Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV)

Autor(a): Luana Cristina Correia Gonçalves.


CRÂNIO EXPANDIDO:
uma explosão de detalhes
Erick Candiota Souza1
Paulo de Souza Junior2

Introdução
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Crânios talvez sejam, para muitos, os ossos mais fascinantes do esqueleto.


As variedades e nuances das formas dos ossos da cabeça de diferentes espécies
revelam o quanto a vida é diversa e complexa. Estes ossos estão presentes
com destaque em coleções de museus, universidades, feiras de ciências, mas
também no cotidiano social como representações artísticas antigas ou moder-
nas e com as mais diversas conotações e simbolismos [1].
O estudo do esqueleto da cabeça dos animais é fundamental para a com-
preensão de variados aspectos funcionais e clínicos das espécies domésticas e
silvestres. Os ossos da cabeça correspondem à parte mais informativa do esque-
leto, no que tange os hábitos de vida [2, 3]. A observação atenta aos aspectos
anatômicos destes ossos abre caminhos para desvendar funções neurológicas,
digestórias, respiratórias, mastigatórias e estesiológicas diversas [4]. Em outras
palavras, os ossos da cabeça são receptáculos e protetores de tudo o que é vital [1].
Além disso, a morfologia comparada da cabeça possibilita ricas inferên-
cias filogenéticas evolutivas e, portanto, desperta interesse nas áreas da zoo-
logia, taxonomia, paleontologia entre outras [5, 6]. Em medicina veterinária,
o conhecimento anatômico do esqueleto da cabeça fornece o embasamento
para a exploração semiológica, interpretação diagnóstica, tratamentos clínicos,
intervenções cirúrgicas e realização de necropsias [7].
O ensino aprendizado da anatomia do esqueleto da cabeça inicia com o
reconhecimento dos ossos, usualmente articulados por firmes suturas e sin-
condroses. Esta abordagem revela o contorno superficial do “crânio como um
todo”. O reconhecimento preciso dos limites de um complexo mosaico, for-
mado por dezenas de ossos, depende da visualização das linhas de sutura [7],
as quais muitas das vezes estão inaparentes nas peças dos acervos de ensino.
A meticulosa observação do “crânio como um todo” revela também uma
superfície acidentada por projeções e depressões ósseas para a fixação de mús-
culos, bem como dos forames e canais para passagem de vasos e nervos, da

1 Laboratório de Anatomia Animal da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), CEP 97501-970,


Uruguaiana-RS, Brasil.
2 Laboratório de Anatomia Animal da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), CEP 97501-970,
Uruguaiana-RS, Brasil. Autor correspondente: paulosouza@unipampa.edu.br.
246

proporção entre neurocrânio e viscerocrânio e da quantidade e formato da den-


tição. Estes elementos são suficientes para concluir, por exemplo, qual o tipo
de alimento consumido, características taxonômicas, idade e sexo do indivíduo
[1, 2]. Os estudantes de medicina veterinária também podem reconhecer refe-
renciais anatômicos essenciais para procedimentos clínicos diversos com este
tipo de material [8].
Embora o início do aprendizado possa ser realizado com o esqueleto da
cabeça inteiro ou seccionado em planos, o detalhamento das características
anatômicas é adquirido pelo estudo em ossos do crânio e face desarticulados

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(ou expandidos, explodidos). O estudo neste tipo de material permite ampliar
o entendimento sobre o formato individualizado dos cerca de 50 ossos (planos
ou irregulares), tanto quanto das relações dos ossos entre si e com as estru-
turas de tecidos moles, especialmente daquelas relacionadas à conformação
interna. Historicamente, o desenvolvimento desta técnica é atribuído ao anato-
mista Edme´ François Chauvot de Beauchêne, durante o início do século XIX
na França [9]. Por esta razão, frequentemente encontra-se o termo epônimo
“Beauchêne skull” para este tipo de preparação.
Apesar da suma importância, as descrições de osteotécnicas para esque-
letos da cabeça desarticulados são exíguas, pouco detalhadas e praticamente
restritas à espécie humana [10-12]. Em face da relevância para o estudo e da
escassez de descrições, objetiva-se descrever uma técnica facilmente realizável
para o preparo de crânios desarticulados de animais domésticos.

Material e métodos

A confecção de peças de crânios desarticulados é dividida em cinco


etapas: seleção da amostra; maceração; clareamento com secagem; desarti-
culação; e montagem. O material necessário está listado na Tabela 1.

Tabela 1 – Material para o preparo de esqueletos


da cabeça desarticulados de animais
Etapa Material
Cabo de bisturi (no. 4)
Lâminas de bisturi (no. 22 ou 24)
Tesoura cirúrgica
Pinça anatômica dente-de-rato
Maceração Recipientes com tampa
Escovas
Peneira
Esponja áspera
Detergente
continua...
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 247

continuação
Etapa Material
Peróxido de hidrogênio 35% (130 vol.)
Clareamento
Recipiente transparente com tampa
Base de madeira
Verniz
Pincel
Arames lisos, bitolas de 10 a 18 (diâmetro 1,24 a 3,40mm).
Montagem Brocas (0,5 a 3,5mm)
Furadeira
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Cola instantânea (cianocrilato)


Bicarbonato de sódio (em pó)
Raio de bicicleta com niple

a) Seleção da amostra

A escolha do espécime deve considerar o tempo de vida em que as suturas


e sincondroses ossificam, o que varia entre espécies ou mesmo raças. Portanto,
o cadáver escolhido precisa ser de um animal novo (semanas ou poucos meses)
o suficiente para que as junções não estejam ossificadas. Atendido este crité-
rio, é preferível a seleção de um exemplar com a maior dimensão de cabeça
disponível. Isto facilitará a montagem e, posteriormente, a visualização dos
detalhes ósseos durante o estudo. O cadáver deve ser fresco ou descongelado,
evitando-se espécimes fixados em formol ou outras soluções. A obtenção dos
cadáveres para produção das peças ilustradas neste capítulo está de acordo
com o protocolo 042/2017 da CEUA/UNIPAMPA.

b) Maceração

Inicialmente, remove-se a cabeça do cadáver por secção transversal no


terço cranial do pescoço ou por desarticulação atlanto-occipital. Após, retira-se
o máximo de tecidos moles da cabeça (pele, fáscias, ligamentos, músculos,
tendões, bulbos oculares, conchas auriculares, língua etc.). Nos cadáveres em
estágio inicial de autólise, esta retirada é ainda mais fácil (Figura 1/A, B).
Os tecidos devem ser cortados o mais rente possível do osso, mas sem
movimentos de raspagem. Também evita-se direcionar o fio cortante da lâmina
de bisturi para a superfície do osso a fim de não o danificar (Figura 1/C, D).
A mandíbula deve ser desarticulada do osso temporal. Caso desejável, com
habilidade pode-se também desarticular o aparato hioideo inteiro, cujos ossos
são muito frágeis (Figura 1/E). Em alguns casos, consegue-se soltar e remover
também o delicado pericrânio (periósteo do crânio), o que é desejável, pois
fragiliza a união dos ossos. Quanto mais completa e cuidadosa a remoção
destes tecidos, mais rapidamente o processo de maceração será concluído.
248

Em seguida, a peça é completamente imersa em água, dentro de um reci-


piente com tampa (Figura 1/F). A decomposição dos tecidos moles ocorrerá
por ação dos microrganismos em um processo que pode levar desde muitos
dias até alguns meses para se completar. Durante as estações climáticas mais
quentes, o tempo de maceração é definitivamente menor.
A necessidade da substituição da água do recipiente precisa ser consi-
derada. A troca semanal diminui o escurecimento dos ossos e abranda o odor
liberado pela decomposição dos tecidos moles. Por outro lado, trocas menos
frequentes aceleram a decomposição. Durante a renovação da água, indica-

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-se o uso de uma peneira (para evitar a perda de ossos pequenos ou dentes)
e escovam-se as superfícies onde restam tecidos mais aderidos (pontos de
fixação de tendões, por exemplo). Ao final da maceração, os ossos estarão
parcialmente desarticulados e precisarão ser lavados em água corrente.

Figura 1 – Etapa de maceração de esqueleto da cabeça de espécime


canino. Aspecto da peça após limpeza dos tecidos moles (A e B);
posição incorreta da lâmina de bisturi (C); posição correta da lâmina
de bisturi para fazer a remoção dos tecidos moles (D); aparato hioideo,
isolado após limpeza (E);colocação do material imerso em água para
a maceração, dentro de frasco transparente, com tampa (F)
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 249

c) Clareamento e secagem

Livres de tecidos moles, os ossos são submetidos ao clareamento, o qual


é seguido por secagem. O clareamento garante um aspecto branco e uniforme
aos ossos. Para isto, imergem-se os ossos em solução de peróxido de hidrogê-
nio a 35% (130 vols.) até que seja obtido o clareamento desejado. Esta solução
também age como desengordurante, bactericida e fungicida sobre os ossos,
o que favorece a conservação e reduz o odor e o risco de contaminação. O
manuseio do peróxido de hidrogênio precisa ser em área ventilada ou com
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exaustão e com equipamento de proteção individual adequado, visto que é


nocivo ao contato com a pele ou olhos e pode causar irritação às vias aéreas
(ler Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos – FISPQ) [13].
Para ossos de animais pequenos (por exemplo, cães ou gatos) ou ossos
frágeis de espécies maiores, 30 minutos de imersão no peróxido podem ser
suficientes. Contudo, ossos grandes de espécies maiores (potros ou bezerros)
podem precisar de alguns dias imersos na solução para obter o clareamento
completo. Frascos de vidro transparentes são desejáveis para essa etapa, pois
possibilitam acompanhar a tonalidade e as modificações da peça. A solução
de peróxido pode ser reaproveitada para o clareamento de vários ossos, caso
mantida adequadamente tampada, abrigada do sol, à temperatura máxima
de 35°C. O descarte precisa ser feito por empresa especializada em resíduos
químicos. Após o clareamento, os ossos são lavados em água corrente para
remover resíduos do peróxido de hidrogênio e secados sob a luz solar direta.

d) Desarticulação

Os ossos que ainda remanescerem articulados ao término da maceração


e secagem deverão ser separados por tração manual (Figura 2/A-D). Esta
etapa deve ser realizada com cautela, evitando-se empregar instrumental ou
ferramentas, sob risco de danificar os frágeis ossos. Quando for encontrada
maior resistência, aplica-se mais força para afastar os ossos.
250

Figura 2 – Extremidade rostral do esqueleto de canino após


maceração, clareamento e secagem, em vistas lateral e ventral,
revelando os ossos incisivos articulados aos ossos maxilares
(A e B) e desarticulados após tração manual (C e D)

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e) Montagem

A montagem é a etapa final da confecção do crânio e face expandidos. A


base, preferencialmente em madeira, deve ter largura e comprimento de cerca
do dobro das medidas do esqueleto da cabeça originalmente articulado. Para
conservação e acabamento, recomenda-se aplicar verniz. Tons escuros são
preferíveis, pois produzem o melhor contraste de fundo com os ossos brancos,
o que melhora a pronta observação do contorno ósseo.
Os ossos são organizados sobre uma mesa para reconhecimento daqueles
pares (laterais) ou ímpares (mediais) e dos dentes (Figura 3/A-C). Costuma
ser necessário o apoio de livros textos de anatomia veterinária nesta etapa. Os
dentes devem ser colados nos alvéolos correspondentes. Os pequenos fragmen-
tos de ossos que, por ventura, estejam quebrados também são colados. Para a
colagem, utiliza-se cola instantânea (cianocrilato). A colocação de bicarbonato
de sódio em pó na superfície a ser colada acelera e melhora a adesão das
superfícies. Os ossos do aparato hioideo devem ser colados e, a depender da
espessura, pode-se fazer um orifício no basi-hioideo para a passagem de um
arame capaz de manter o aparato suspenso sobre a base de madeira. Depen-
dendo do tamanho, pode-se passar um arame dentro do cerato-hioideo para
prendê-lo ao basi-hioideo e ao epi-hióideo ipsilateral (Figura 4/D).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 251

Figura 3 – Organização para reconhecimento dos ossos da cabeça e dentes


desarticulados de um espécime canino para posterior montagem (A, B e C).
Início da montagem com a colocação de arames entre os ossos (D, E e F)
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252

Figura 4 – Detalhamento da perfuração e colocação de arames entre os ossos para


montagem do esqueleto desarticulado da cabeça de um canino (A a F). Os furos
no osso devem ser preenchidos com cola instantânea de cianocrilato e bicarbonato
de sódio para que o arame permaneça firmemente inserido durante a montagem

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Uma estrutura de arames é montada para manter os ossos suspensos e


afastados entre si sobre a base de madeira. Para isso, precisa ser feito um furo
no osso (com broca acoplada à furadeira) que permita inserir o arame. O ideal
é escolher o arame mais fino possível capaz suportar o osso sem se deformar
(Figura 4/A-F). Nos ossos muito pequenos ou frágeis, em que a broca causaria
fragmentação, o arame é apenas colado em algum sulco da face ventral/interna
do osso, de modo a ficar escondido. Os arames devem ser fixados também na
base de madeira por meio de furos (Figura 5/A-D). Recomenda-se aplicação
de cola com bicarbonato nos arames e nos furos, tanto dos ossos quanto da
base. Alternativamente, pode-se empregar raios de bicicleta conectados por
niples (em lugar dos arames), para possibilitar uma movimentação dos ossos
e, assim, melhorar a visualização (Figura 5/E, F).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 253

Figura 5 – Sequência de montagem do esqueleto desarticulado da


cabeça de um canino sobre a base de madeira (A a F). Observar
a possibilidade de afastamento (E) e reposicionamento dos ossos
parietal e frontal (F) com a colocação de arame com niple
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Terminada a montagem, a peça precisa ser guardada abrigada do pó e


separada de outras peças para não danificar (Figura 6/A-D). Um armário do
tipo expositor ou vitrine cumpre este fim. Outra opção, é a confecção de uma
caixa de acrílico transparente sem fundo, sob medida, para colocar como
tampa sobre a peça.
254

Figura 6 – Resultado final da montagem de esqueleto da cabeça desarticulado


de suíno (A), caninos (B e C) e bovino (D) para exposição em base de madeira

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Resultados e discussão

A partir da técnica supra descrita, foi possível confeccionar e conservar


esqueletos desarticulados da cabeça de espécies de animais domésticos com
a finalidade de ensino e de exibição em projetos de extensão [14]. Este tipo
de peça anatômica possibilita o entendimento da complexidade numérica e de
forma na constituição dos ossos da cabeça dos animais. A incorporação deste
recurso no acervo didático permite que sejam desvendadas todas as faces,
margens ósseas e estruturas até então ocultas ao exame dos ossos cranianos
e faciais “como um todo”.
Suturas são tiras estreitas e sinuosas de tecido conjuntivo que unem e
delimitam as margens de ossos do crânio e da face [8]. A observação destes
ossos desarticulados torna compreensível as funções das suturas em permitir o
crescimento ósseo da cabeça, absorver impactos e possibilitar um certo grau de
acomodação óssea passiva durante o trabalho de parto. Tanto as suturas quanto
as sincondroses (uniões cartilaginosas dos ossos na parte ventral do crânio)
passam por processo de ossificação ao longo do crescimento e, portanto, costu-
mam desaparecer lenta e progressivamente ao longo da vida dos animais [15].
A cronologia de fechamento das suturas é um parâmetro que pode auxi-
liar a inferir a idade de morte tomando como base a avaliação do crânio
de um cadáver. Contudo, esta estimativa não é plenamente confiável como
método isolado [8]. Por exemplo, em equinos, a sutura interparietal pode
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 255

estar obliterada desde 15 até 36 meses de idade [15], intervalo demasiado


longo e que torna o método fundamentado na dentição mais preciso. As raças
braquicéfalas de cães têm o fechamento das suturas em idade mais precoce
do que as demais [16]. A mesma discrepância intraespecífica foi relatada em
bovinos [17]. Algumas junções permanecem unidas por tecido fibroso ou
cartilaginoso mesmo em animais adultos e mais velhos [1, 8]. Outras podem
sequer ossificar, como é o caso da articulação entre as partes petrosa e esca-
mosa do occipital em equinos [15].
A escolha do espécime é um dos pontos críticos para essa técnica. Quanto
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mais jovem, mais ossos/centros de ossificação poderão ser visualizados e


mais fácil será a desarticulação das suturas e sincondroses. No entanto, fetos
ou animais muito pequenos podem representar dificuldade para a montagem
e visualização. Em equinos, as suturas se ossificam já nos primeiros meses
de vida, em um processo que se estende desde os dois meses (partes petrosa
e timpânica do osso temporal) e finaliza por volta dos cinco ou até sete anos
(sutura interfrontal) [15, 18]. Em bovinos, ocorre entre dois meses (partes
petrosa e escamosa do osso temporal) até quatro anos (basisfenoide com
pré-esfenoide); em pequenos ruminantes a sutura interparietal ossifica ainda
no primeiro mês de vida, enquanto a interfrontal pode demorar até os sete
anos. Em suínos, a união entre as partes petrosa e timpânica do osso temporal
acontece ao redor dos seis meses e as suturas efenobasilar e interfrontal se
obliteram somente aos dois anos. Em cães, a ossificação das partes do osso
occipital ocorre a partir dos três meses e, no extremo mais tardio, a sutura
interfrontal pode levar até quatro anos para ser fechada [15].
A maceração pode ser realizada por procedimentos diferentes do des-
crito na presente metodologia, com o emprego de cocção em água, produtos
químicos (hipoclorito de sódio, hidróxido de potássio), digestão enzimática
ou coleópteros dermestídeos [11, 19]. Entretanto, estes métodos ora oferecem
maior risco de danificar ossos frágeis (cocção), ora oneram o custo do processo
(aquisição e descarte de produtos químicos). Assim, o método de maceração
apresentado nesta metodologia parece o mais simples, menos oneroso e asse-
gura a integridade dos ossos. As desvantagens são o tempo mais prolongado
de maceração e o forte odor liberado durante a abertura dos recipientes para
substituição da água ou para limpeza e recolhimento dos ossos. O odor pode
ser amenizado pela troca mais frequente da água, embora isso retarde a fina-
lização da maceração.
Embora o clareamento ósseo também seja descrito com a solução de
peróxido de hidrogênio a 10 ou 20 volumes [1, 11, 20], nesta técnica usou-se
uma concentração mais elevada, 130 volumes (35%) com resultado satisfa-
tório. Outros produtos indicados para o clareamento são amônia comercial,
hidróxido de sódio ou clareamento pela exposição solar [1, 11].
256

A desarticulação dos ossos de espécimes natimortos ou com poucas


semanas/meses de vida é facilmente obtida após a maceração descrita nesta
metodologia. Alternativamente, são descritas técnicas que adotam o preen-
chimento da cavidade craniana com sementes, seguida de oclusão do forame
magno e imersão da peça em água. A germinação das sementes dentro da
cavidade gera um aumento da pressão intracraniana que promove a desarticu-
lação [10-12]. Embora possa acelerar o procedimento, esta técnica apresenta
limitações como a desarticulação limitada ao neurocrânio ou a alguns trechos
assimétricos da peça, além da eventual quebra de ossos mais frágeis [11]. Em

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uma outra adaptação, realiza-se o preenchimento das cavidades do crânio por
imersão em ágar, seguida de congelamento e descongelamento em água morna,
com resultados satisfatórios em espécimes caninos e felinos [21].
A montagem é a etapa que demanda criatividade, habilidade no manuseio
de ferramentas e, principalmente, entendimento das relações anatômicas entre
os ossos. Esqueletos da cabeça inteiros e livros textos com imagens separadas
de cada osso são preferíveis para este reconhecimento [15, 22, 23]. Esta etapa
oportuniza um aprofundamento substancial do conhecimento anatômico do
esqueleto da cabeça, pois requer o agrupamento e posicionamento inter-re-
lacionado entre dezenas de ossos. Tal entendimento é limitado quando se
examinam apenas esqueletos inteiros.

Conclusão

A montagem de peças com ossos desarticulados da cabeça de espécies


domésticas é uma ferramenta importante para o ensino detalhado da anatomia
animal. A execução da técnica é simples e demanda material de fácil aquisição.
A seleção do espécime, a maceração cuidadosa, a criatividade na montagem
e o entendimento da posição anatômica dos ossos são os pontos críticos para
um resultado satisfatório.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul


(FAPERGS) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior (CAPES).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 257

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of the Dog. 5th ed. St. Louis: Elsevier; 2020. 2119 p.
I CONCURSO FOTOGRÁFICO DE
TÉCNICAS ANATÔMICAS NA PRÁTICA

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Fotografía que fue tomada en el laboratorio de anatomía de la Universidad Nacional
de San Antonio Abad del Cusco, Cusco, Perú. Con camara Canon 70 D, lente de
74 mm f/10; 1/160 s; ISO 400, CON TRIPODE Y FLASH Y DIFUMINADORES.
Registra feto de 28 semanas de gestación con su envolturas, Cordón umbilical y
placenta, conservada por técnica de plastinación, (proceso de plastinación adaptado
a la realidad del laboratorio por no contar con acetona en Perú)

Autor: Franklin Miranda-Solis.


THE POLYETHYLENE GLYCOL
IMPREGNATION METHOD
FOR PRODUCTION OF
ANATOMICAL SPECIMENS
Horst Erich König1
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Mircea-Constantin Sora2

Anatomy remains one of the core courses of medical school and it is the
science where students learn the basic language of medicine, learn to develop
understanding through experimentation, and develop skills in solving prob-
lems in a three-dimensional space. Anatomy is a visual science. The nature
of anatomy education has changed substantially over the past decade due to
both a new generation of students who learn differently from those of past
years and the enormity of advances in anatomical imaging and viewing. Many
authors seek to replace the plastination method in the production of anatomical
educational material, mainly due to the cost [1, 2, 3, 4].
Polyethylenglykol (PEG) is an alternative for conservation of anatomical
specimens, because it is easier and cheaper (Uhlmann, 1991). In brief, for
this method specimens are placed in a solution of 2 – 5 % formaldehyde for
several days or weeks depending on the size of the specimen. After fixation
the specimen were moved into a stainless-steel wire basket, which was hooked
inside a vacuum tank and submerged into PEG solution (Polyethylenglycol
400, Merck company, Germany) (Figure 1).

1 Veterinärmedizinische Universität1 Wien, Veterinärplatz 1, A-1210 Wien/Austria


2 Sigmund Freud PrivatUniversität, Center for anatomy and molecular medicine, Freudplatz 3, A-1020
Wien/Austria
262

Figure 1 – Equipment for PEG impregnation

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When hollow organs were processed, the fixation fluid and air inside
the cavities were removed before placing into the PEG solution. The tank
remained in a low-pressure of 15 millibar and a temperature of 50° Celsius
until the impregnation solution is completely dehumidified, which indicated
that no more water flow marks exhausted. The PEG solution was changed
several times during impregnation. After completely saturating, specimen is
taken out of the tank and dabbed off carefully with pulp to remove excessive
PEG solution.
After completing the impregnation, the pieces were removed from the
vacuum chamber and dried for a few days, placing them on filter paper in a
room protected from direct ultraviolet light. The PEG impregnated specimens
are soft, life-like and suitable to be used in the educational process. The appea-
rance of anatomical parts is similar to their natural condition and is excellent
for teaching anatomy (Figure 2, 3 and 4).
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 263

Figure 2 – Specimen for teaching


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Figure 3 – Guttural pouch


264

Figure 4 – Ellbow joint extension and Ellbow joit flexion

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PEG impregnated specimens offer some advantages comparing them
with the plastinated once, such as greater flexibility. Joint specimen show
nice white ligaments and movements are possible without damaging the
specimen (Figure 5, 6 and 7). This is one of the reasons why PEG impreg-
nation is the best for specimen of the locomotor system, especially joints.
Once processed, PEG specimens can be stored for a long time and use for
teaching, without needing any additional service. When handled properly,
PEG parts can be used for long periods, including being resistant to fungi
and bacteria. Furthermore, the method guarantees a short processing time, so
that a specimen can be processed in two weeks, a period that is not possible
for plastination. The PEG is, however, hygroscopically, the specimens are
never completely dry.
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 265

Figure 5 – Stiftle joint extension


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Figure 6 – Stiftle joint flexion


266

Figure 7 – Stiftle joint injection with metacrylate

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TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 267

REFERENCES
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tentfeuchtung bei Normaldruck. Der Präparator. 1991; 37:19-22.
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ÍNDICE REMISSIVO

A
Alginato 168, 169, 170, 171, 172, 176, 179
Anatomia 4, 7, 8, 9, 13, 14, 15, 16, 19, 22, 23, 24, 25, 27, 28, 31, 33, 34, 35,
36, 38, 39, 45, 46, 49, 51, 54, 56, 59, 60, 61, 62, 65, 66, 68, 72, 74, 75, 80,
81, 83, 84, 87, 91, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 103, 118, 119, 121, 123, 124, 125,
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126, 128, 130, 131, 132, 133, 134, 137, 138, 139, 140, 141, 146, 147, 148,
149, 152, 153, 159, 160, 164, 165, 167, 168, 169, 173, 177, 178, 179, 180,
181, 182, 185, 186, 187, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198,
199, 202, 207, 208, 209, 210, 217, 219, 220, 222, 228, 231, 233, 235, 236,
238, 240, 241, 242, 245, 250, 256, 257, 258, 259
Anatomia animal 25, 34, 35, 39, 49, 100, 138, 139, 147, 148, 149, 198, 207,
231, 245, 256, 258
Anatomia humana 8, 9, 46, 87, 96, 100, 103, 118, 121, 123, 125, 126, 133,
148, 160, 167, 173, 178, 180, 181, 182, 185, 186, 187, 191, 192, 193, 194,
195, 196, 197, 209, 210, 219, 241, 257, 258
Anatomia topográfica 14, 15, 16, 23, 56, 60, 74, 75, 220
Anestésicos 58, 65, 66, 67, 68, 70, 71, 72, 74, 80, 81, 82, 83, 85
Animais domésticos 14, 17, 19, 36, 62, 63, 83, 84, 146, 148, 149, 164, 230,
246, 254, 259
Animais silvestres 8, 45, 49, 151, 153, 156, 157, 161, 162, 244
Artéria femoral 56, 108, 109, 110, 111, 112, 114
Árvore brônquica 8, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 144, 145, 146, 147

C
Cadáver 8, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 112, 117, 118, 122, 124, 125,
126, 127, 128, 129, 130, 132, 134, 143, 180, 193, 197, 210, 211, 212, 218,
241, 247, 254
Cães 7, 23, 51, 53, 54, 60, 62, 63, 68, 71, 85, 142, 148, 182, 236, 249, 255
Clareamento 41, 42, 44, 217, 234, 237, 238, 246, 247, 249, 250, 255, 256
Conhecimento anatômico 14, 54, 60, 61, 66, 67, 69, 70, 81, 82, 86, 99, 147,
168, 173, 245, 256
Conservação 27, 28, 33, 34, 35, 87, 88, 91, 118, 138, 152, 153, 154, 158,
159, 160, 163, 164, 199, 205, 208, 228, 230, 232, 235, 237, 238, 239, 242,
243, 244, 249, 250
270

Corpo 14, 27, 39, 45, 46, 51, 56, 68, 72, 79, 103, 105, 115, 119, 121, 124,
125, 126, 127, 130, 131, 132, 134, 147, 156, 157, 167, 168, 178, 180, 181,
185, 187, 190, 192, 194, 200, 204, 205, 206, 214, 234, 235, 238
Corrosão 8, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 96, 98, 99, 100, 137, 138, 140, 141, 142,
144, 146, 149, 152
Crânio 9, 39, 44, 51, 68, 156, 190, 191, 215, 217, 220, 234, 245, 246, 247,
250, 254, 256, 258

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D
Dissecção 22, 88, 89, 93, 94, 96, 118, 140, 156, 210, 211, 212, 214, 215,
218, 219
Doação de corpos 119, 125, 126, 134

E
Educação 22, 25, 100, 160, 162, 164, 168, 181, 182, 196, 210, 230, 239, 241
Ensino-aprendizagem 9, 100, 168, 172, 178, 179, 181, 185, 186, 187, 191,
193, 194, 196, 197, 230, 242
Equino 17, 32, 33, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 182
Espécimes 28, 31, 34, 92, 94, 96, 152, 153, 154, 155, 158, 159, 160, 161,
198, 209, 211, 218, 247, 256
Esqueleto 11, 39, 44, 45, 51, 52, 60, 175, 200, 210, 213, 217, 218, 233, 234,
235, 237, 239, 241, 245, 246, 248, 250, 252, 253, 254, 256
Estruturas anatômicas 14, 23, 60, 80, 87, 96, 103, 138, 168, 177, 178, 208,
228, 233

F
Formaldeído 27, 28, 29, 30, 35, 92, 148, 164, 199, 235, 238

H
Humano 9, 11, 46, 64, 103, 119, 121, 134, 167, 178, 181, 187, 190, 192,
194, 209, 217, 242

I
Identificação 8, 23, 40, 47, 56, 88, 89, 93, 94, 109, 111, 112, 113, 121, 122,
123, 124, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 137, 138, 140, 143, 147,
167, 169, 176, 191
TÉCNICAS ANATÔMICAS: na prática 271

Injeção 8, 29, 81, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 98, 104, 108, 109, 111,
112, 115, 116, 117, 118, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 146, 152,
199, 200, 201, 204, 205

L
Látex 92, 93, 95, 96, 140, 175, 176, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205,
206, 208

M
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Maceração 41, 42, 43, 234, 236, 238, 246, 247, 248, 249, 250, 255, 256
Massa de modelar 166, 167, 172, 175, 177, 187, 190, 191, 192
Medula óssea 7, 51, 52, 54, 55, 57, 59, 60, 61, 62, 63, 234
Modelagem 8, 87, 167, 168, 169, 170, 172, 173, 175, 176, 177, 178, 179,
182, 183
Modelos anatômicos 8, 118, 166, 167, 169, 172, 173, 175, 177, 178, 179,
181, 186, 191, 192, 193
Morcegos 40, 41, 44, 45, 46, 47
Morfologia 4, 33, 34, 40, 51, 52, 60, 65, 70, 72, 91, 103, 118, 121, 151, 166,
185, 187, 195, 201, 227, 230, 244, 245
Músculos 11, 16, 28, 36, 41, 44, 51, 52, 69, 71, 72, 143, 156, 159, 166, 177,
189, 190, 191, 192, 212, 214, 215, 216, 218, 236, 246, 247

N
Nervos 41, 49, 60, 66, 67, 68, 69, 70, 74, 81, 159, 190, 191, 192, 201, 215, 246

O
Óbito 14, 123, 125, 126, 130, 131, 132, 139
Ossos 41, 42, 51, 52, 53, 55, 56, 57, 60, 61, 63, 68, 70, 102, 176, 184, 211,
214, 215, 217, 234, 235, 240, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253,
254, 255, 256, 258
Osteotécnica 9, 233, 234, 236, 238, 240

P
Peças anatômicas 7, 15, 27, 32, 34, 35, 36, 91, 103, 121, 138, 143, 166, 167,
173, 175, 186, 187, 190, 193, 199, 205, 206, 233, 234, 238, 239, 258
Pele 15, 16, 57, 68, 69, 76, 77, 110, 113, 132, 211, 212, 213, 215, 237,
247, 249
272

Peróxido de hidrogênio 41, 234, 237, 247, 249, 255, 258


Plastinação 8, 64, 87, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 158, 159, 160,
161, 162
Posição anatômica 105, 107, 112, 113, 139, 143, 210, 211, 225, 256
Preparação 41, 42, 88, 90, 93, 94, 96, 104, 105, 107, 118, 126, 149, 155, 156,
163, 172, 186, 210, 216, 218, 240, 246
Procedimentos 18, 34, 57, 58, 61, 65, 68, 73, 76, 79, 80, 82, 85, 88, 91, 94,
103, 109, 115, 118, 119, 122, 134, 138, 246, 255

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Pulmão 138, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 147, 148, 200

R
Recém-nascido 9, 209, 210, 211, 213, 214, 216, 217, 218, 219

S
Sangue 53, 54, 55, 56, 57, 70, 71, 88, 94, 137, 200, 201, 205
Saúde 14, 25, 27, 28, 34, 39, 51, 65, 87, 99, 118, 121, 126, 138, 148, 151,
164, 167, 177, 181, 185, 186, 193, 196, 199, 204, 219, 221, 223, 230, 231, 238
Sistema nervoso 65, 66, 68, 69, 72, 73, 104, 108, 115, 117, 152, 196

T
Tecido 28, 52, 53, 57, 61, 62, 66, 70, 72, 77, 89, 94, 110, 113, 175, 201, 214,
216, 254, 255
Tecidos biológicos 152, 153, 154, 157, 158
Técnicas anatômicas 3, 4, 35, 38, 49, 50, 64, 86, 87, 100, 102, 120, 136, 147,
148, 149, 150, 152, 166, 183, 184, 198, 199, 207, 220, 228, 231, 235, 236,
239, 241, 244, 258, 260
Tubarão 9, 199, 200, 201, 202, 204, 205, 207, 222, 226, 228, 231, 232

V
Vasos sanguíneos 53, 54, 55, 60, 70, 97, 98, 99, 138, 159, 201
Veterinária 4, 14, 15, 16, 19, 22, 23, 25, 36, 37, 51, 57, 58, 62, 63, 65, 66, 68,
76, 80, 81, 83, 84, 85, 100, 137, 138, 139, 146, 147, 148, 149, 150, 199, 207,
208, 221, 223, 224, 227, 230, 231, 233, 235, 238, 245, 246, 250
Vinilite 88, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 99, 199
Vísceras 19, 20, 22, 32, 33, 35, 51, 71, 103, 156, 214, 235, 236, 237, 238, 240
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: Não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)

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