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Bárbara Bäckström, Fátima de Sousa e Maria Helena Dias

DEMOGRAFIA

Universidade Aberta 2022


Palácio Ceia • Rua da Escola Politécnica, 147
1269-001 Lisboa
INDICE

Prefácio

Introdução

1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA


1.1. O QUE É A DEMOGRAFIA?
1.2. OS ASPETOS FUNDAMENTAIS E OBJETO DE ESTUDO DA DEMOGRAFIA
1.3. UNIDADE E DIVERSIDADE DA DEMOGRAFIA
1.4. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
2.1. PRIMEIROS ESCRITOS SOBRE A POPULAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DA
CIÊNCIA DEMOGRÁFICA
2.2. OS PRIMEIROS DEMÓGRAFOS
2.3. TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
2.4. O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO

3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À


QUALIDADE DOS DADOS

3.1. OS DADOS EM DEMOGRAFIA


3.2. OS RECENSEAMENTOS
3.3. AS ESTATÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE ESTADO CIVIL
3.4. OUTRAS FONTES DEMOGRÁFICAS
3.5. QUALIDADE DOS DADOS – TESTES FUNDAMENTAIS À QUALIDADE DOS
DADOS
3.5.1. A Relação de Masculinidade dos nascimentos
3.5.2. O Índice de Irregularidade das idades
3.5.3. O Índice de Whipple
3.5.4. O Índice Combinado das Nações Unidas (ICNU)

4. A DINÂMICA POPULACIONAL POR SEXO E IDADES


4.1. TIPOS, VOLUMES E RITMOS DE CRESCIMENTO DE UMA POPULAÇÃO
4.1.1. Tipos de População
4.1.2. As medidas do crescimento
4.2. ANALISE DAS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS: A REPARTIÇÃO POR SEXO E
IDADES
4.2.1. Pirâmide de idades
4.2.2. As relações de masculinidade
4.2.3. Os Grupos Funcionais
4.2.4. Índices Resumo
4.2.5. O Envelhecimento da População

5. A NATALIDADE, FECUNDIDADE, NUPCIALIDADE E DIVÓRCIO


5.1. A NATALIDADE E A FECUNDIDADE
5.1.1. A Taxa bruta de natalidade
5.1.2. A Taxa de fecundidade geral
5.1.3. O Índice sintético de fecundidade
5.1.4. A Taxa bruta de reprodução
5.1.5. Idade média das mães ao nascimento dos filhos
5.2. NUPCIALIDADE E DIVÓRCIO: MEDIDAS ELEMENTARES DE ANÁLISE
5.2.1. Taxa bruta de nupcialidade
5.2.2. Casamento e família
5.2.3. Contraceção e controlo da natalidade
6. A MORTALIDADE
6.1. A MORTALIDADE
6.2. MEDIR A MORTALIDADE
6.2.1. A Taxa Bruta de Mortalidade
6.2.2. A mortalidade por idades e por grupos de idades
6.3. A MORTALIDADE INFANTIL
6.3.1. A Taxa de Mortalidade Infantil clássica
6.3.2. As componentes da Mortalidade Infantil
6.3.3. A mortalidade materna
6.4. A MORTALIDADE DIFERENCIAL. CAUSAS DE MORTALIDADE
6.5. TÁBUA DE MORTALIDADE. A ESPERANÇA DE VIDA
6.5.1. O Princípio da Translação: a construção das tábuas de mortalidade

7. AS MIGRAÇÕES
7.1. O QUE É MIGRAÇÃO?
7.2. DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO
7.3. MIGRAÇÃO INTERNACIONAL
7.4. IMPACTOS DA MIGRAÇÃO
7.4.1. Impacto no tamanho, composição da população e nas taxas de
crescimento
7.4.2. Impacto na Força de Trabalho e na economia
7.4.3. Impacto na composição social
7.5. ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
7.6 PROBLEMAS E POLÍTICAS DE MIGRAÇÃO
8. DISTRIBUIÇÃO, MUDANÇA E POLITICAS DE POPULAÇÃO
8.1. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÂO NO MUNDO ATUAL
8.2. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO
8.2.1. Distribuição Residencial (geográfica) e urbanização
8.3. POLÍTICAS DE POPULAÇÃO
8.3.1. Como os governos afetam os processos demográficos
8.3.2. As conferências sobre população e desenvolvimento
8.3.3. Políticas que afetam a fecundidade, a mortalidade e a migração

Glossário
Referências bibliográficas
Anexos
PREFÁCIO

Este livro é um recurso ideal para alunos de graduação e pós-graduação em Demografia.


Explica de forma clara as questões demográficas e é orientado para as Ciências Sociais.
Destaca o impacto significativo da tomada de decisão no nível individual - especialmente
em relação à fecundidade, mas também à mortalidade e à migração - na mudança
populacional.

O texto permite envolver os estudantes, fornecendo inúmeros exemplos de aplicações


práticas da demografia nas suas vidas e demonstra a extensão da sua relevância
examinando uma ampla seleção de dados de vários países. Cobre os principais tópicos
da Demografia e dos estudos sobre a população e incentiva os estudantes a considerar
as amplas implicações do crescimento populacional e mudança para desafios globais,
como a degradação ambiental.

Em suma, o presente E-book tem como objetivo orientar e facilitar o trabalho do


estudante da Unidade Curricular de Demografia, enquanto instrumento didático, atual e
adequado às condições específicas de ensino a distância, os estudantes da Universidade
Aberta, mas não só.
INTRODUÇÃO

Os demógrafos têm as ferramentas e uma perspetiva global para melhorar a vida das
gerações atuais e futuras. Usando dados empíricos, baseados em evidências, os
demógrafos moldam a política governamental e contribuem com ideias para a melhoria
da sociedade. Na sua essência, a Demografia é um campo interdisciplinar extraído de
uma diversidade de disciplinas, incluindo ciências da saúde, epidemiologia, economia,
sociologia, antropologia, história, políticas públicas, matemática e estatística.

A Demografia está sempre em mudança. A população global já atingiu e ultrapassou a


marca de 7 mil milhões. Pela primeira vez na história da humanidade, mais pessoas
começaram a viver nas cidades do que nas áreas rurais. Ocorreu uma grande crise
financeira que teve reversões demográficas em todo o mundo. E as tendências de longo
prazo intensificaram-se nos dois grupos de processos demográficos inter-relacionados
de envelhecimento e declínio da fecundidade.

Por exemplo, a taxa de crescimento mundial continua a diminuir e, muito em breve, os


idosos ultrapassarão o número de crianças pequenas no mundo. Quase metade da
população global que vive em todas as regiões do mundo agora está abaixo da
fecundidade de substituição. Saúde, educação e ganhos de rendimentos aceleraram nos
últimos anos para muitos países em desenvolvimento. No entanto, a pobreza global e as
doenças permanecem questões urgentes e preocupações ambientais decorrentes do
aumento do consumo global continuam a aumentar. Como as tendências acima deixam
claro, a capacidade de compreender e moldar processos da população humana é crucial
para o futuro.

Pretende-se que este livro, sendo acessível ao público em geral que tenha interesse pelo
tema, forneça ao estudante um acompanhamento da matéria, por meio de síntese e
esquematização de conteúdos, conceitos e problemáticas que nele são abordados;
agregar as informações disponíveis, atuais e complementares que contribuam para a
continuidade lógica e epistemológica da sequência de aprendizagem proposta no
programa da disciplina; oferecer ao estudante pistas e instrumentos que lhe permitam
o exercício, a consolidação e o aprofundamento da aprendizagem.

No final, o estudante de Demografia ou o leitor em geral deve ser capaz de enquadrar


o papel da Demografia no contexto específico das ciências sociais e sua importância
numa articulação teórica com as Ciências Sociais, para o entendimento dos fenómenos,
tendências e práticas sociais; utilizar de forma sistemática os principais instrumentos de
recolha e tratamento de dados estatísticos respeitantes à população, assim como
proceder ao enquadramento desses dados através das principais variáveis.

Deve ainda saber interpretar os dados referidos, recorrendo à conciliação das


abordagens qualitativas e quantitativas, através da intersecção com as estruturas e
práticas sociais mais alargadas; assim como compreender e enquadrar a situação
demográfica mundial e europeia, possibilitando discernir vetores fundamentais de
análise para a compreensão de novos cenários de desenvolvimento, das relações
internacionais e das migrações, das estruturas familiares, dos fenómenos de exclusão
social, dos mundos rurais e urbanos e do Ambiente, articulando-os com o futuro e o
funcionamento dos ecossistemas.

Deve igualmente ser capaz de analisar as estruturas demográficas e as estruturas sociais


do cenário português, explorando as potencialidades da Demografia enquanto ciência
social para enquadrar os principais problemas e desafios da sociedade portuguesa do
presente século, em especial das últimas três décadas; compreender os principais
fenómenos sociodemográficos da realidade portuguesa das últimas décadas,
nomeadamente a imigração/a emigração, as disparidades regionais, a fragmentação
territorial, o crescimento natural e o desenvolvimento; e articular a situação demográfica
mundial e europeia com as questões sociais essenciais do mundo contemporâneo, como
a urbanização, educação, saúde, trabalho, feminização, ecologia e ambiente; descrever
a evolução demográfica recente da população.

Finalmente, pretende-se com este e-book, que o leitor tenha a capacidade de aplicar
técnicas adequadas de análise das variáveis do sistema demográfico, como sejam os
volumes populacionais, estruturas etárias, natalidade/ fecundidade, mortalidade e
mobilidade populacional; explicar a ligação entre os comportamentos demográficos e a
evolução do estado da população; e, por último, identificar alguns efeitos da dinâmica
do sistema demográfico sobre a organização e estruturação das sociedades
contemporâneas.
1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA

Objetivos

1.Identificar os aspetos fundamentais do objeto de estudo da Demografia;

2. Compreender a razão pela qual a Demografia atual é simultaneamente una e


diversa;

3. Compreender o fenómeno do crescimento demográfico e a distribuição da


População.

1.1 O QUE É A DEMOGRAFIA?

De acordo com Poston & Bouvier (2017, p.3-4), “A Demografia é a ciência das
populações e a ciência social que estuda e examina:

1. o tamanho e a composição das populações, a distribuição da população humana numa


determinada área e num ponto específico do tempo de acordo com diversos critérios,
tais como a idade, etnia, sexo, união (estado civil ou coabitação), nível de escolaridade,
distribuição espacial);

2. as mudanças no tamanho e composição da população, e os processos dinâmicos do


curso de vida que mudam essa composição, ou seja, os componentes dessas mudanças
(fecundidade, mortalidade e migração);

3. as relações entre a composição e a mudança populacional, e o ambiente social e físico


em que existem.

4. os fatores que afetam esses componentes e as consequências das mudanças em


tamanho da população, composição e distribuição, ou nos próprios componentes.”

A compreensão desses processos torna visível importantes aspetos sociais, económicos,


políticos, questões ambientais, e os impactos, tais como o crescimento da população, a
urbanização, a mudança das estruturas familiares, a imigração, a saúde humana e a
longevidade.

Um dos aspetos mais interessantes da Demografia é que quase todos os tópicos são
relevantes para algo que já se vivenciou ou ainda se irá vivenciar em algum momento
da vida.
Vejamos alguns exemplos, através das seguintes perguntas:

1. Quando e onde nasceu?

2. Qual é o seu género (sexo)?

3. Qual é a probabilidade de casar, divorciar-se, voltar a casar ou ainda poder ficar


viúvo/a?

4. Vai ter filhos? Quantos filhos irá ter? Vai ter netos? Irá estar vivo para ver os seus
netos? E os seus bisnetos?

5. Quantas vezes mudará de residência na vida? Vai mudar-se para o exterior do país?

6. Por quanto tempo terá saúde na sua vida? Quando vai morrer? Como vai morrer?

Cada uma destas questões remete para uma questão demográfica relevante (Lundquist,
Anderton, Yaukey, 2015, p.1-3).

Para Piché (2013), a Demografia é uma ciência social e partilha com as outras ciências
sociais o estudo de uma parte da vida em sociedade.

É o estudo sistemático e científico das populações humanas; estuda os mecanismos que


estão na base da renovação das populações; estuda o sistema de entradas e de saídas
que contribuem para o aumento (nascimentos, imigração) ou para a diminuição
(mortalidade, emigração) da população. Por exemplo, ao fim de um ano, a população
de um país (ou de outra região geográfica) terá aumentado graças aos novos
nascimentos e aos novos imigrantes, mas terá igualmente diminuído por causa das
mortes e da partida de emigrantes.

Uma parte do estudo da Demografia consiste em fazer o acompanhamento dos níveis


dos três fenómenos demográficos (fecundidade, mortalidade e migração) e
eventualmente propor hipóteses de projeções da população.

Pode ainda ser definida de forma mais ampla como o estudo científico do tamanho,
composição e distribuição das populações humanas e as suas mudanças resultantes da
fecundidade, mortalidade e migração.

Preocupa-se com a dimensão das populações; como as populações são compostas de


acordo com a idade, sexo, raça, estado civil e outras características; e como as
populações estão distribuídas fisicamente no espaço (por exemplo, se os meios são mais
urbanos ou mais rurais), nas mudanças ao longo do tempo no tamanho, composição e
distribuição das populações humanas e como estes resultam dos processos de
fecundidade, mortalidade e migração (Poston & Bouvier, 2017, p. 3).
A opinião pública parece limitar a Demografia a uma análise estritamente quantitativa,
uma “contabilidade de homens” (Sauvy, 1976, p. 16). Ora a Demografia envolve não só
elementos estatísticos, mas também tem em conta as realidades económicas,
sociológicas.

Vejamos algumas definições de Demografia que encontramos nos principais manuais e


dicionários especializados.

Segundo Henry, “A Demografia é a ciência que tem por objeto o estudo científico das
populações humanas no que diz respeito à sua dimensão, estrutura, evolução e
características gerais analisadas principalmente do ponto de vista quantitativo” (Henry,
1981, conforme citado em Nazareth, 2004, p 44).

No dicionário de Demografia de W. Petersen, “A Demografia pode ser definida em


sentido restrito e em sentido lato. A Demografia formal consiste na colheita da análise
estatística e na apresentação técnica dos dados da população; baseia-se no ponto de
vista de que o crescimento da população é um processo autoestruturado, com uma
interligação mais ou menos fixa entre fecundidade, mortalidade e estrutura por idades”.
(Petersen, 1986, conforme citado em Nazareth, 2004, p 44).

Para Ross, “A Demografia é o estudo quantitativo das populações humanas e das


mudanças nelas ocorridas devido à existência de nascimentos, óbitos e migrações.
Quando se consideram as determinantes biológicas, sociais, económicas ou legais, esta
disciplina toma o nome de estudos de população” (Ross, 1982, conforme citado em
Nazareth, 2004, p. 44).

Existe uma Demografia quantitativa cujo objeto essencial é o estudo dos movimentos
que se produzem numa população, acompanhado dos resultados desses movimentos;
mas também existe uma Demografia qualitativa que se ocupa das qualidades dos seres
humanos e que diz respeito aos aspetos qualitativos do fenómeno social das populações
e ainda à genética demográfica ou biologia das populações, à biometria (estatística
aplicada à investigação biológica).

Para Wunsch e Termote (1978) “Demografia é o estudo da população, do seu


aumento através dos nascimentos e imigrantes, da sua diminuição através dos óbitos e
dos emigrantes” (conforme citado em Nazareth, 2004, p 45).

Em Shryock e Siegel (1976) encontramos a seguinte definição: “como na maior


parte das ciências, a Demografia pode ser definida em sentido restrito e em sentido lato;
o sentido restrito é a Demografia Formal, que se preocupa com questões como a
dimensão, a distribuição, a estrutura e a mudança das populações; em sentido amplo,
inclui outras características tais como as étnicas, as sociais e as económicas” (conforme
citado em Nazareth, 2004, p 45).

Em Sauvy (1976b) existem igualmente duas definições de Demografia: a Demografia


pura ou análise demográfica, que é uma contabilidade de homens… e a Demografia
alargada, que estuda os homens nas suas atitudes e comportamentos, e que se preocupa
com as causas e as consequências dos fenómenos demográficos.

Em Population (1984) encontramos a definição: “a ciência da população estuda as


coletividades humanas enquanto tal; não considera apenas o aspeto estático e
mensurável (Demografia quantitativa) mas também o aspeto causal e relacional
(Demografia qualitativa)” (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 45).

Segundo Landry (1945) o termo demografia foi utilizado pela primeira vez por Achille
Guillard, em 1855 (Guillard, A. Éléments de statistique humaine ou demographie
comparée, 1855) inventando o nome de Demografia Comparada, dando destaque ao
seu aspeto quantitativo (estatístico).

Este autor dá a seguinte definição de Demografia: Em sentido amplo, abrange a


história natural e social da espécie humana; em sentido restrito, abrange o conhecimento
matemático das populações, dos seus movimentos gerais, do seu estado físico, intelectual
e moral” (Guillard, 1855, conforme citado em Nazareth, 2004, p. 43).

Do grego: DÊMOS δημος (demos) = para POPULAÇÃO e GRÁPHEIN γραφια (graphia)


para descrição ou escrita: isto é, Demografia, etimologicamente, significa “escritos
sobre população”.

SOMOS TODOS ATORES POPULACIONAIS

Todos nós somos atores populacionais, realizamos atos demográficos nas nossas vidas
diárias através da criação de um filho, mudança para um novo lugar, escolha de um
estilo de vida saudável ou obtenção de educação. A Demografia estuda estes eventos
da vida, como nascimentos, mortes, casamentos, divórcios e migrações (Poston &
Bouvier, 2017).

Todos somos atores populacionais e devemos refletir sobre isso. Já os nossos pais
realizaram um ato demográfico ao conceber-nos. Por sua vez, nós realizamos atos
demográficos semelhantes quando decidimos ter (ou não ter) filhos. Em algum momento
durante a vida podemos mudar-nos uma ou talvez várias vezes. Estes são todos atos
demográficos. E, por fim morreremos. A morte não será do mesmo tipo de ato como a
tomada de decisão dos seus pais quando foi concebido e porque não se decide durante
quanto tempo se vai viver e quando se vai morrer. No entanto, podemos ter muito a
dizer sobre quantos anos teremos quando morrermos, ou seja, temos muitas opções
que podem, ou não, aumentar a probabilidade de estender as nossas vidas. Estas
incluem comportamentos como parar ou nunca começar a fumar, limitar a ingestão de
álcool, manter uma dieta saudável e praticar exercício.

Outro comportamento muito importante que prolongará as nossas vidas é investir num
nível de educação elevado, como por exemplo, obter um diploma universitário. De
acordo com estudos já realizados, podemos verificar por exemplo, com a idade de 25
anos, espera-se que os indivíduos com diploma universitário vivam mais cinquenta e
sete anos em comparação com cinquenta e um anos para os que têm apenas o ensino
médio, ou seja, uma diferença de seis anos (Poston & Bouvier, 2017).

Em suma, somos todos atores da população e estamos muito envolvidos com a


Demografia no nosso dia-a-dia, embora nem sempre percebamos isso, sendo a
Demografia o estudo de alguns dos eventos mais importantes das nossas vidas.

Como o eminente demógrafo Samuel Preston afirmou: “O estudo da população


oferece algo para todos: o dia a dia, sexo e morte, política e guerra; o entrelaçamento
de indivíduos em todos os seus níveis e grupos e os confrontos da natureza e da
civilização” (Poston & Bouvier, 2017, p. 4-5).

1.2. OS ASPETOS FUNDAMENTAIS E OBJETO DE ESTUDO DA


DEMOGRAFIA

Definimos Demografia no início deste capítulo como o estudo sistemático e científico


das populações humanas, o estudo de três processos básicos - fecundidade,
migrações e mortalidade, chamados de processos demográficos. Quando a população
muda em tamanho, composição ou distribuição, as mudanças dependem unicamente de
um ou mais desses três processos.

Em sentido geral, uma população pode ser encarada como um conjunto de indivíduos
ou de unidades que podem ser de natureza muito diversa. Numa perspetiva demográfica,
as populações humanas são consideradas com características específicas, num espaço
limitado e com um certo significado social.
No que respeita às características, as unidades de observação que compõem a população
de referência (ou de observação) devem ser naturalmente, de seres humanos no seu
sentido lato (homens ou mulheres). Neste contexto, o termo genérico “população” será
utilizado designando uma “população humana”.

Relativamente à delimitação espacial, esta característica diz respeito ao território


claramente identificável, isto é, o conjunto de indivíduos que vivem num determinado
espaço delimitado e constituem a população considerada.

No que diz respeito ao significado social, a população considerada deverá ter um


elemento claro de coerência social.

Apesar da preocupação com os problemas da população remontar à Antiguidade, a


Demografia como ciência apenas aparece na segunda metade do século XVIII.

Com base em inúmeras definições, observamos que a Demografia tem por objeto o
estudo científico da população. Mas o que é exatamente o estudo científico da
população?

São cinco os aspetos fundamentais da demografia:

Em primeiro lugar, é a análise de conjuntos de pessoas delimitadas espacialmente e com


um certo significado social. Esta análise é feita observando, medindo e descrevendo a
dimensão, a estrutura e a distribuição desse conjunto de pessoas. A dimensão significa
o volume da população (x milhões de habitantes); a estrutura significa a sua repartição
por subconjuntos específicos (x solteiros, y casados, z viúvos e divorciados); a
distribuição diz respeito à sua repartição no espaço. Ao conjunto destes três elementos
chama-se o estado da população.

Em segundo lugar, este estudo científico preocupa-se em descrever o estado da


população num determinado momento no tempo (aspeto estático), mas também em
saber quais as mudanças ocorridas e qual será a intensidade e a direção dessas
mudanças.

Em terceiro lugar, analisa os fatores, ou as variáveis demográficas que são responsáveis


pelas variações ocorridas no estado da população: natalidade, mortalidade e migrações.
Esta última variável, micro demográfica, abrange três situações distintas – emigração,
imigração e migrações internas. A nupcialidade não é uma variável micro demográfica
autêntica porque a sua variação não contribui diretamente para a modificação do estado
da população, mas atua através da natalidade. Assim, o estado da população tem uma
determinada dimensão, estrutura e distribuição espacial porque nesse conjunto de
pessoas acontecem nascimentos, óbitos e migrações.
Em quarto lugar, a Demografia também se ocupa dos efeitos que cada uma das variáveis
micro demográficas tem nos aspetos globais e estruturais da população, bem como o
inverso (por exemplo, até que ponto um aumento da natalidade modifica
estruturalmente a população ou em que medida uma mudança estrutural da população
se reflete na modificação da evolução da natalidade).

Finalmente, a Demografia também se preocupa com questões relacionadas com os


determinantes dos comportamentos demográficos e com as consequências da evolução
do estado da população.

1.3. UNIDADE E DIVERSIDADE DA DEMOGRAFIA

A Demografia é uma Ciência Social, tal como a sociologia, a etnologia, a história. Faz
parte das Ciências que têm por objeto os diferentes aspetos das sociedades humanas.

O estudo da Demografia insere-se nesse contexto mais vasto das Ciências Sociais,
exigindo que à partida haja uma clarificação dos principais conceitos. No entanto,
sabemos que não é possível traçar fronteiras entre as diversas ciências sociais, tendo
todas o homem como objeto de estudo. Nesta ótica, a Demografia não difere das outras
ciências sociais. O seu objeto de estudo também é o comportamento do homem em
sociedade e também necessita das informações das outras ciências sociais.

A Demografia não é uma Ciência natural, e envolve dois aspetos: por um lado, tem como
fundamento realidades suscetíveis de ser facilmente quantificadas (os nascimentos, os
casamentos, as mortes, as ruturas de união, as deslocações de homens); por outro lado,
para compreender as causas e as consequências das evoluções quantitativas destes
eventos, a Demografia deve aceder a outros tipos de conhecimentos, chamados os
eventos demográficos elementares, tais como o estudo dos fatores determinantes
nesses eventos, dos efeitos derivados das quantidades e das evoluções dos eventos,
estudo dos comportamentos, e dos dados psicossociológicos (Dumont, 1993).

Numa primeira análise, a Demografia aparece-nos como uma resposta científica a um


conjunto de questões relacionadas com a descrição da população humana. Para além
disso, a Demografia estuda aspetos relacionados com o ordenamento espacial da
população, a alteração de estruturas familiares, as consequências do envelhecimento
demográfico no futuro da segurança social, a composição da população ativa, as
necessidades e a localização de equipamentos sociais. A Demografia contribui também
para a resolução de algumas questões importantes noutras áreas científicas. Temos, por
exemplo, o planeamento dos recursos humanos, a questão ambiental, a saúde pública
e as projeções demográficas.

A procura de um grande rigor na medição dos fenómenos demográficos desenvolveu um


vasto número de métodos e técnicas de análise, próprios da ciência demográfica, o que
veio reforçar ainda mais a construção do objeto de estudo da Demografia.

A Demografia enquanto estudo da população está associada a um conjunto de aspetos


relacionados com a população humana e, naturalmente, nos aspetos que dizem respeito
à sua saúde. Como qualquer fenómeno social, o estudo da Demografia é de grande
complexidade estando associado a múltiplos fenómenos que vão desde a saúde, à
política, à cultura, aos aspetos económicos, e à educação.

A Demografia, enquanto ciência que tem por objeto de estudo a população humana,
assume assim, naturalmente, um papel fundamental nas ciências sociais.

O fenómeno demográfico pode ser ilustrado da seguinte forma:

Figura 1. O fenómeno demográfico

Variáveis “comportamentais” Variáveis de “estado”

Evolução dos
Evolução dos
Mortalidade  Dinâmica Volumes populacionais
Volumes
(óbitos)
Natural
 populacionais
Natalidade/ fecundidade

(nados- vivos)

 Evolução da
Mobilidade Populacional Dinâmica Estrutura

(migrações)  Migratória Etária

Destas cinco variáveis demográficas, duas tratam do estado (volumes e estrutura etária)
e as outras três referem-se aos comportamentos que influem diretamente sobre as
alterações observadas no “estado” da população (mortalidade, natalidade/ fecundidade,
mobilidade populacional).

Embora a Demografia seja, classicamente, encarada como o estudo quantitativo da


população humana, esta ciência tem desenvolvido, ao longo do tempo, os seus métodos
de trabalho e de análise que atualmente ultrapassa o aspeto puramente descritivo.

Existe uma Demografia Formal ou Análise demográfica, onde se analisam apenas as


variáveis demográficas dependentes (macro demográficas) e independentes (micro
demográficas).

A Demografia formal é o estudo de populações humanas num determinado momento


em relação ao tamanho, a distribuição e a estrutura da população. A Demografia formal
também analisa as mudanças que ocorrem na população ao longo do tempo,
principalmente o crescimento populacional. A maior ou menor ocorrência de
nascimentos, óbitos e migrações são as causas básicas do crescimento populacional.
Assim, há interesse em estudar dois tipos de variáveis demográficas. Um grupo de
variáveis descreve algumas características de interesse da população, referem-se a um
determinado espaço geográfico e a um momento específico do tempo, por isso,
compõem a análise estática da população.

A Análise demográfica estuda os fenómenos demográficos observados em populações


concretas.

O tamanho da população é simplesmente o número total de pessoas na população. A


distribuição da população é o número de pessoas na população por unidade geográfica.
A estrutura ou composição da população é o número de pessoas na população por
género (masculino; feminino) e/ou por grupo de idade (em geral, de 5 em 5 anos).

As variáveis natalidade, mortalidade e migração referem-se a um determinado espaço


geográfico e a um determinado período de tempo e fazem parte da dinâmica
demográfica. Na análise demográfica formal, também é estudada a inter-relação entre
as variáveis da análise estática e da dinâmica demográfica. Por um lado, a natalidade, a
mortalidade e a migração são fatores que modificam a população. Por outro lado, esses
fatores modificadores dependem fortemente dos aspetos gerais da população.

Um ramo da Demografia que rapidamente ganhou autonomia a partir do fim da Segunda


Guerra Mundial foi a Demografia histórica e que é o estudo retrospetivo das
populações numa determinada época pertencente ao passado e particularmente daquela
em que não existem estatísticas do tipo moderno (estatísticas demográficas ou
recenseamentos), ou seja, cujos dados disponíveis não foram produzidos com fins
demográficos. Neste contexto, utilizam-se normalmente registos paroquiais, listas
nominativas, genealógicas, entre outros.

Landry publica em 1945 o seu Tratado de Demografia e Sauvy, e em 1946, lança a


revista Population. Mas o que verdadeiramente se passou de novo foi o aparecimento
do método científico baseado na reconstituição das famílias, inventado quase
simultaneamente por P. Goubert e L. Henry (1958) (conforme citado em Nazareth, 2004,
p. 51-52). Landry é dos primeiros a tomar consciência da questão da necessidade de um
rigor quantitativo, o que fez com que a Demografia rapidamente se afirmasse como
ciência. No confronto com o malthusianismo e a teoria da transição demográfica, Landry
ocupa uma posição charneira (Landry, 1945, conforme citado em Nazareth, 2004, p.
51).

A Demografia histórica, mais do que qualquer outra ciência social, tornou-se


particularmente atenta à qualidade dos dados. A Demografia histórica deixou de ser uma
ciência auxiliar, para passar a uma ciência autónoma com métodos e técnicas próprias,
diferentes das outras ciências, inclusive da própria Demografia.

Recentemente, os demógrafos desenvolveram métodos para inferir o comportamento


demográfico e a estrutura populacional de épocas anteriores a partir de outros dados
históricos. Esses dados e métodos passaram a ser conhecidos como Demografia
histórica. Uma fonte importante de dados para a Europa são registos paroquiais de
batismos, casamentos e enterros por católicos e protestantes clérigos. Esses registos
assinalam não apenas o evento e sua data, mas também informações dos nomes dos
participantes.

Um método fecundo de análise de tais registos paroquiais é a reconstituição familiar.


Ligando datas de nascimento, casamento e morte dentro das famílias, eventos vitais
podem ser narrados para criar muitas variáveis demográficas importantes. Isso inclui
intervalos de nascimento, tamanho da família, idade das pessoas no casamento, idade
da mãe em cada nascimento, mortalidade infantil, e fecundidade conjugal. A construção
de histórias de vida do indivíduo a partir de registos tão antigos, um tanto incompletos
e sempre difíceis de ler, é uma tarefa tediosa e demorada. Felizmente, as tecnologias
digitais estão a transformar esses recursos em bancos de dados abrangentes e
vinculados, levando a uso dados históricos inovadores de famílias anteriormente
inexplorados.

A Demografia histórica também aplica uma variedade de outros métodos a várias fontes
de dados tais como testamentos, genealogias, lares e enumerações familiares e registos
organizacionais, todos contendo valiosos dados demográficos sobre populações no
passado. Muito do que sabemos sobre o papel do casamento e da limitação da
fecundidade dentro do casamento durante o início do declínio da fecundidade europeia
vem desses estudos em demografia histórica (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.
220-221).

Quando se consideram as relações entre as variáveis demográficas e as outras variáveis


económicas, sociais, culturais, biológicas, num determinado momento do tempo surge a
Demografia social, que é o estudo das relações entre o estado das populações ou
movimento da população e a vivência das sociedades. A Demografia social faz uma
interpenetração disciplinar preocupando-se com as questões da população enquanto
causas ou consequências dos fenómenos da sociedade. Trata assim do sistema
demográfico de uma forma abrangente encarando as relações com os outros sistemas
(economia, política, saúde, educação, religião, etc.…).

Assim, sem pretendermos ser exaustivos, podemos dizer que as grandes preocupações
da Demografia Social nos dias de hoje são as seguintes:

• As causas e as consequências do declínio da natalidade

• Os efeitos das migrações no sistema demográfico e social

• As consequências demográficas e sociais da luta contra a morte

• A desigualdade sexual e social face à morte

• Os progressos científicos, bioéticos e equilíbrios demográficos

• A defesa, segurança e estratégia face às mutações demográficas

• As desigualdades regionais e ordenamento do território

• As consequências do envelhecimento demográfico

• As consequências sociais da mutação das estruturas familiares

• A Demografia escolar

• A Demografia face ao processo de urbanização

Para além destes dois principais ramos da Demografia (histórica e social) existem outros
dois domínios importantes nos quais a Demografia tem um papel fundamental: as
Políticas Demográficas e a Ecologia Humana.

O objetivo teórico das Políticas Demográficas consiste em atuar sobre os modelos (ou
sobre os efetivos) tendo em conta determinados objetivos económicos e sociais. A ideia
de atuar sobre o movimento demográfico a fim de que este se adapte a imperativos
económicos e sociais é uma preocupação de muitos países. Mas até que ponto esta
preocupação se traduziu na existência de autênticas políticas demográficas?

A Ecologia Humana parte do princípio que existem dois sistemas em interação constante:
o sistema-homem (que recebe e descodifica a informação) e o sistema-ambiente que
elabora uma ação de resposta. A população, na perspetiva da Ecologia Humana, é um
conjunto de indivíduos num sistema interdependente de atividades. Cada atividade
produz um output e os ingredientes utilizados na produção desses outputs são os inputs
de outra atividade. Esta rede complexa que assim se estabelece é um processo específico
da Ecologia em geral e da Ecologia Humana em particular: o ecossistema.

A Demografia caminhou de uma unidade inicial, onde a sua problemática era formulada
em termos simples, para uma crescente diversidade e complexidade.

Também as suas ligações com as outras ciências alargaram a sua problemática. A


Demografia tem a vantagem de ser simultaneamente uma das ciências sociais mais
exatas e de ser o ponto de encontro das ciências sociais e humanas com a Biologia, o
Direito, a Economia e as Ciências Políticas.

A Demografia utiliza métodos e técnicas de tratamento demográfico dos dados com o


objetivo de descrever e analisar de uma forma rigorosa o estado das populações, ou
seja, os seus efetivos e a sua composição segundo vários critérios (idade, sexo,
localização geográfica); os diversos fenómenos que influem diretamente sobre essa
composição e evolução da população (natalidade, fecundidade, mortalidade, migrações);
e as relações recíprocas que existem entre estado/evolução da população e os
fenómenos demográficos.

De acordo com Lundquist, Anderton, Yaukey, (2015, p.2-3) “os termos Demografia pura
e Demografia formal às vezes são usados para distinguir interesses mais restritos na
composição da população e dinâmica demográfica, lidando inteiramente com variáveis
demográficas. Uma abordagem mais ampla está implícita nos estudos populacionais,
onde se acrescenta o estudo das relações entre varáveis demográficas e não
demográficas”.

O alcance das variáveis demográficas noutras disciplinas geraram amplo interesse em


campos de estudo como a Demografia social, Demografia económica, Demografia
antropológica, Biodemografia e Demografia histórica.

Um dos pontos fortes da Demografia é que nos permite ver como o indivíduo e as suas
experiências se encaixam no quadro demográfico mais amplo do mundo. A Demografia
lida com populações, e as características das populações são medidas contando as
pessoas na população total, ou em segmentos dela (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

1.4. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

O tamanho da população tem três facetas: a primeira é o tamanho absoluto da


população, que é esperado atingir os 11 mil milhões de pessoas no próximo século.

Os dez países com as maiores populações do mundo são a China, Índia, Estados Unidos,
Indonésia, Brasil, Paquistão, Nigéria, Bangladesh, Rússia e Japão (Population Reference
Bureau, 2014) (ver figura 2). Estes dez países juntos contam mais de metade (4,3 mil
milhões) da população mundial. Tanto a China quanto a Índia têm mais de mil milhões
de pessoas, e em ambos os casos, o tamanho da população teve efeitos significativos
sobre a política, cultura e desenvolvimento económico dessas nações.

Uma segunda faceta do tamanho da população é a distribuição.

Se compararmos as populações, vemos que a China e a Índia juntas têm mais de um


terço de toda a população mundial. Embora os Estados Unidos sejam o terceiro maior
país em tamanho da população, representam apenas um quarto da população da Índia.

A terceira faceta do tamanho da população é a densidade.

Uma das principais consequências de grandes proporções e distribuição populacional


desigual é que pode levar a aglomeração ou populações densamente povoadas, ou seja,
a relação entre o tamanho da população e o espaço no qual está localizada. Para grandes
unidades geográficas, pode-se medir a densidade em pessoas por quilómetro quadrado
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.4-5).
Figura 2. Os dez países com as maiores populações do mundo

País (ou território


Posição População Data Fonte
dependente)

1 China 1 402 509 320 2020 Estimativa oficial

2 Índia 1 361 865 555 2020 Estimativa oficial

3 Estados Unidos 329 634 908 2020 Estimativa oficial

4 Indonésia 266 911 900 2019 Estimativa oficial

5 Paquistão 220 892 311 2020 Estimativa oficial

Estimativa oficial; IBGE


6 Brasil 211 755 692 2020
Brasil

7 Nigéria 206 139 587 2020 Estimativa oficial

8 Bangladesh 168 557 578 2020 Estimativa oficial

9 Rússia 146 745 098 2020 Estimativa oficial

10 Japão 125 950 000 2020 Estimativa oficial

Fonte : https://population.un.org/wpp/DataQuery/s do mundo

Três processos demográficos desempenham papéis importantes na contabilização do


tamanho, composição e distribuição de uma população: nascimentos, mortes e
migrações (isto é imigração, emigração e migrações internas). Deve ficar claro que o
tamanho de uma população só pode mudar através dos processos de fecundidade,
mortalidade e migração. Há apenas duas maneiras de alterar a população - nascer ou
morrer e/ou sair/entrar nela. Um dos fatos fundamentais sobre a mudança populacional
é que as populações só podem mudar por meio de um número limitado e contável de
eventos.

Países como México, China, Índia e as Filipinas são chamados de países remetentes.
Têm mais pessoas que saem dos seus países do que as que entram e, portanto, são
caracterizados pela migração internacional líquida negativa. As Filipinas enviam cerca de
1,5 milhão de pessoas para o exterior todos os anos, incluindo 300.000 que trabalham
em navios em todo o mundo. Cerca de 10 por cento da população do país vive no exterior
(Martin, 2013). Dentro dos países, no entanto, geralmente há muitas variações
significativas na equação demográfica. O fenómeno de diminuição natural é de
importância e de relevância crescente nos Estados Unidos e especialmente na Europa.
Para ilustrar, em 2008, mais da metade de todos os países da Europa tiveram mais
mortes do que nascimentos. Isso inclui quase todas as províncias da Alemanha, Hungria,
Croácia, Roménia e Bulgária, Estados Bálticos, Grécia e Itália.

“A longo prazo a continuação da diminuição natural resultará na diminuição contínua da


população, e eventualmente ao seu desaparecimento, a menos que o excesso de óbitos
sobre os nascimentos seja compensado pela migração líquida” (Poston & Bouvier,
2017, p. 7).

Destes exemplos podemos confirmar que os três processos demográficos têm um papel
determinante não só no tamanho, mas na composição de qualquer população humana.
Mudanças nas variáveis são o resultado do nosso comportamento enquanto atores
populacionais. O cerne da Demografia é compreender como estes diversos fatores
causam mudanças no comportamento demográfico e que as consequências destes
comportamentos estão todas interrelacionadas (Poston & Bouvier, 2017, p.5-8).
ATIVIDADE FORMATIVA

1. Uma definição aprofundada de Demografia, comporta cinco elementos fundamentais.


Quais são?

2. Por que todos nós somos atores da população?

3. Distinga os diferentes ramos da Demografia, entre estes, a análise demográfica, a


Demografia histórica, a Demografia social, a Ecologia Humana.
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

Objetivos

1. Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos;


2. Conhecer as principais características do pensamento malthusiano;
3. Identificar as principais fases e a importância da teoria da transição
demográfica;
4. Descrever os traços essenciais que caracterizam a evolução global da população
do continente europeu durante o Antigo Regime;
5. Identificar quais as etapas do arranque demográfico da Europa Ocidental
segundo o Modelo de Dupâquier.

Introdução

As teorias demográficas ou teorias da população são correntes de opinião que tentam


explicar ou prever a evolução dos fenómenos demográficos, as interações entre estes e
os fenómenos económicos, sociais, psicológicos, do ambiente e outros, tentando prever
as consequências que possam levar à elaboração de uma política demográfica.

Neste capítulo, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografia relativamente aos
seus aspetos quantitativos da dinâmica populacional, como se foi constituindo e emergiu
como ciência ao longo dos séculos XVII e XVIII. Iremos ver também quem foram e o
que disseram os homens que transformaram em ciência a Demografia, quais são as
grandes teorias e os grandes problemas da Demografia contemporânea.

2.1. PRIMEIROS ESCRITOS SOBRE A POPULAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO


DA CIÊNCIA DEMOGRÁFICA

Define-se uma população “como um conjunto humano situado no seio de um espaço


geográfico delimitado (…) Este conjunto humano corresponde geralmente aos habitantes
de um país ou de um conjunto de um país com determinados traços comuns de um ponto
de vista político ou socioeconómico. (…). Pode também corresponder à população de
uma parte do território de um país dotado de particularidades política, sociológica ou
económica (províncias, bairros, zonas rurais, regiões linguísticas, regiões geográficas,
etc.) “(Gérard & Wunsch, 1973).
“O próprio termo população refere-se ao número de pessoas residentes numa área
geográfica específica. Da mesma forma, a demografia descreve características de
populações, não de membros individuais dessas populações” (Lundquist, Anderton,
Yaukey, 2015, p.3).

Numa definição mais geral, a população é o conjunto de todos os habitantes de um


determinado local, definida em termos espaciais e temporais. Pode não ser
necessariamente um grupo. A análise da população humana é intrinsecamente dinâmica
porque a atenção é focada nas mudanças e alterações da mesma no tempo.

Alguns dos principais sinónimos de população são: residentes; indivíduos; moradores;


habitantes; cidadãos; público; povo; massa; multidão e amostra. O termo demografia
é aliás por vezes utilizado como sinónimo de população, no sentido de um conjunto de
indivíduos que coexistem num dado momento e delimitado segundo critérios variados
de pertença. Etimologicamente, a palavra população originou-se a partir do latim
medieval popŭlus, que significa literalmente povo.

Uma população caracteriza-se pelo seu tamanho (número de indivíduos) e a sua


composição e está em perpétua evolução, pelo facto das entradas (nascimentos e
imigrações) e das saídas (mortes, emigrações). É fácil perceber então que uma parte
essencial do trabalho dos demógrafos será tentar explicar o que motiva a evolução dos
comportamentos demográficos. Na base, fecundidade, mortalidade e migrações
dependem de processos que têm na origem uma mesma lógica: partindo de pré-
condições biológicas características da espécie humana, as propensões em procriar,
migrar, morrer, são largamente influenciadas por um conjunto extremamente complexo
de determinantes, próximos ou longínquos, de ordem ecológica, geográfica, económica,
sociológica, política, cultural, filosófica, e que variam no tempo e consoante as
sociedades.

Em terminologia estatística, a palavra população pode designar toda uma coleção de


unidades distintas: é então sinónimo de universo. É comum usar a palavra população
para designar o conjunto de habitantes de um certo território, por vezes, uma fração
apenas desse conjunto: por exemplo a população em idade escolar. Nesse caso, trata-
se de uma subpopulação. Repare-se que até ao XVIII século, a palavra população tinha
também um sentido ativo que foi perdendo, entretanto. Designava a ação de povoar, e
foi substituído pela palavra povoamento. Muitas vezes entende-se por população,
não a coletividade em si, mas em termos de efetivos, isto é, o número dos seus
habitantes.
A Demografia é o ramo de estudo que analisa as populações humanas, as suas
transformações. Neste contexto, a população costuma ser classificada em duas
categorias: população absoluta e relativa.

A população absoluta consiste no número total de habitantes de um lugar (país,


estado, região, etc). Atualmente a população absoluta mundial é de cerca de 7,8 mil
milhões de pessoas e prevê-se que chegue a 8 mil milhões de pessoas no início de 2023,
e 10 mil milhões em 2050.

A população relativa, por outro lado, corresponde ao número de habitantes por área.
Este tipo de população também é conhecido por densidade demográfica ou densidade
populacional. Para obter a população relativa é necessário dividir a população absoluta
de determinado local pela área, normalmente em quilómetros quadrados (km2).

O ano 2020 foi marcado pelo inicio da pandemia do Covid -19. Considera-se que terá a
médio e longo prazo um impacto demográfico significativo. Observa-se que as pessoas
falecidas são maioritariamente idosas, população que já não teria tido filhos, não
interferindo neste caso com o número de nascimentos nos próximos anos (Institut
Montaigne, 2021). No entanto há outros efeitos que ainda não conhecemos, mas já se
notam no imediato, como é o aumento da mortalidade, a diminuição da esperança média
de vida, entre outros.

Quando se procura as origens longínquas das doutrinas de população, a maioria das


obras de história do pensamento demográfico e manuais, depois da referência à Bíblia-
“Mas vós frutificai, e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra”1, dedicam à China antiga
(Confúcio, Lao-Tsu) e aos pensadores da Antiguidade grega algumas linhas ou páginas.

No caso de Platão (428-348 a.C.), foram as considerações sobre a demografia da cidade


ideal que legitimaram essa procura das origens. No fim do seu diálogo, Leis, Platão
idealiza uma população estacionária onde o número de fogos, por razões políticas e
sociais, seria de 5040. Platão acredita que é possível intervir no sentido de manter
constante o volume da população da sua cidade ideal, através da fixação de uma idade
mínima para o casamento (30 anos para os homens e 18 para as mulheres) e da
limitação da idade da procriação (apenas os 10 ou 14 anos de casamento); o risco da
população diminuir resolver-se-ia através de uma punição para os que não queriam ter

1
https://bible.knowing-jesus.com/Portuguese/G%C3%AAnesis/9/7
filhos, os celibatários e os casais estéreis. Estamos, pois, perante um precursor do
pensamento demográfico.

Por um lado, é efetivamente uma população de uma unidade territorial bem definida de
que se trata. A população é uma variável claramente identificada, cujas relações com o
ambiente não são ignoradas. Por outro lado, de maneira aparentemente bastante
moderna, Platão calcula com muita precisão algumas variáveis demográficas chaves, tais
como a idade no casamento ou a duração da vida fecunda. Ele parece introduzir uma
verdadeira política demográfica, através de medidas de incentivo ou de travão da
fecundidade, recurso à emigração ou imigração, com o objetivo de controlar o número
global da população (Charbit, 2002).

Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, ao pensar
sobretudo num número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica
um número fixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-se que a natalidade e a
mortalidade fazem variar o volume populacional, propõe uma “justa dimensão” da
população.

Na Idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604) defendem que o
casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linha de pensamento é dominada
pelo pensamento cristão, numa perspetiva teológica e moral, enquanto que as duas
anteriores formas (pertencentes à Antiguidade) foram analisadas numa perspetiva
política e social.

Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população separam-se das
questões morais e passam progressivamente a depender de preocupações políticas e
económicas. É nesta linha de ideias e de acontecimentos que se deve interpretar o culto
pelo ideal mercantilista da riqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto,
as doutrinas mercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente
populacionistas. Este populacionismo permitiu acelerar o processo que irá conduzir ao
aparecimento da Demografia como ciência.

No mercantilismo italiano dois pensadores merecem referência especial: Maquiavel


(1467-1527) e Botero (1540-1617). Maquiavel não defende todas as ideias
mercantilistas, nomeadamente no que diz respeito ao princípio de que o Estado só é
forte quando favorece o enriquecimento dos cidadãos, mas, ao defender que uma
população numerosa reforça o poder do Príncipe, adota uma atitude populacionista. Para
Botero, uma população numerosa deve ser a primeira preocupação do Estado.

No mercantilismo francês existem duas correntes diferenciadas: a que defende um


populacionismo intransigente (Bodin e Montchrestien) e a que defende um
populacionismo mais racional (Vauban). Jean Bodin (1530-1596) afirma que uma
população numerosa permite a valorização de um país. Ficou conhecido com a frase
“Não existe maior riqueza nem maior força do que os homens”. Montchrestien (1575-1621)
também defende o ponto de vista de que a grande riqueza da França é a inesgotável
abundância dos seus homens.

Vauban (1633-1707) é populacionista ao defender que a falta de população é a maior


desgraça que pode acontecer ao reino. Ficou conhecido na história do pensamento
demográfico pelas estimativas que faz e por chamar a atenção para a utilidade dos
recenseamentos da população.

Em Inglaterra, o mercantilismo é menos homogéneo do que em Itália e em França e


evolui ao longo do tempo. Consequentemente, a atitude face à problemática da
população também evolui.

Nesta evolução aparecem duas correntes de pensamento distintas: no princípio, a


população é considerada uma variável entre tantas outras do sistema social; depois, a
população aparece como interessante em si própria; são os primórdios da Demografia
científica.

Na primeira corrente encontramos autores que procuram refletir sobre o melhor


equilíbrio entre a população e os recursos. “Thomas More (1478-1535), ao estudar as
causas da miséria do seu país, pensa que esta deve-se a três fatores: o luxo da nobreza,
a existência de muitos criados improdutivos e a extensão da criação de carneiros.”
(Nazareth, 2004, p. 13). Se existem autores preocupados com esta questão do equilíbrio
população-recursos, no século XVII, em Inglaterra, a Demografia dá os seus primeiros
passos como ciência e pensadores como William Petty, John Graunt e Edmund Halley
começam a considerar que os problemas populacionais devem ser analisados e medidos
independentemente das relações que possam ter com quaisquer outros problemas
económicos, políticos e sociais.

A morte durante muito tempo foi estudada na Antiguidade e Idade Média na perspetiva
da longevidade, isto é, da idade mais elevada que o homem podia esperar atingir. O
termo mortalidade designava até ao século XVII as destruições causadas pelas guerras
e epidemias. Com Petty e John Graunt, que em 1661 publicam o primeiro livro de
Demografia, Natural and Political Observations Mentioned in a Following Index, and
Made Upon the Bills of Mortality na cidade de Londres, aparece a ideia moderna da
mortalidade, a de uma evolução regular dos riscos de morte com a idade. Os dois
homens imaginam as primeiras tábuas de mortalidade que indicam o número de mortes
observados a cada idade num grupo de pessoas seguidas desde o seu nascimento. O
número de sobreviventes numa determinada idade deduz-se por simples subtração das
mortes ocorridas entre essa idade e a anterior (Enciclopédia Universalis, 2021).

A invenção das primeiras tábuas de mortalidade constitui o certificado de nascimento


dessa nova ciência. Os conceitos estatísticos das tábuas de mortalidade são ainda hoje
elementos fundamentais dos métodos demográficos. Com as tábuas de mortalidade de
Graunt, a Demografia define-se como ciência que, a partir da observação de dados,
mede o risco dos fenómenos demográficos e que, a partir dos resultados dessas
medidas, aspira a conhecer não apenas o presente e o passado, mas também a
aventurar-se na projeção do futuro. É esta ambição prospetiva que vai acionar a
formulação de teorias universais da população, de que são principais expressões o
malthusianismo e a teoria da transição demográfica (Leston Bandeira, 1996c).

Os Dupâquier, em História da demografia (1985), assinalam o livro de Graunt de 1661


como sendo a obra que introduz pela primeira vez três elementos singulares: o primeiro
quadro estatístico por ano e por causa de morte em Londres, o primeiro enunciado de
uma lei demográfica, isto é, a proporção constante de homens e mulheres na população;
e a primeira tabela de mortalidade que mostra quantas pessoas sobrevivem em cada
idade a partir de 100 gravidezes (e não 100 nascimentos) iniciais. Os Dupâquier lembram
que Graunt é considerado como o “pai” da demografia por muitos historiadores da
disciplina (Dupâquier, 1985; Le Bras, 2013).

2.2. OS PRIMEIROS DEMÓGRAFOS

A partir do século XVII a Demografia elege o homem e a sociedade como objeto do


conhecimento científico. Os progressos da nova ciência influenciarão o debate entre
populacionistas e antipopulacionistas que se intensificará durante o século XVII.

A questão do crescimento demográfico aparecerá sempre, entre os antipopulacionistas,


associada ao problema das subsistências e, por arrastamento, das desordens sociais e
da miséria decorrentes do excesso de população. Entre os antipopulacionistas
predominava uma visão pessimista. Ao contrário dos seus adversários, defendiam que a
pobreza e a desordem social não eram devidas à má organização social, mas antes ao
desequilíbrio entre o crescimento dos homens e o crescimento dos meios de
subsistência. O que implicava a necessidade imperiosa de restrições e de controlo da
reprodução humana (Leston Bandeira, 1996a).

A publicação, em 1798, da 1ª edição do Ensaio de Malthus virá ampliar a repercussão


social e científica deste debate.
Malthus

“O século XVIII foi fértil em ideias e ideais (...) debates apaixonados, e nem sempre
muito bem fundamentados, relativos às questões da população, e sobre o sub ou sobre
povoamento do Mundo, da Europa ou de alguns países”, escreve Maria Luís Rocha
Pinto (2010, p. 48).

Deve-se também, segundo ela, ao aparecimento de várias teorias e ideologias pelo facto
de não haver verdadeiros recenseamentos.

É neste contexto que surge “uma obra que marcará quer o pensamento demográfico, quer a
demografia, quer ainda as políticas de população até aos dias de hoje”. Trata-se da obra de
Thomas Robert Malthus, An essay on the principle of on population as it affects the
future improvement of society with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and other writers – 1ª edição 1798. Esta obra foi seguida, ainda em vida de
Malthus, por mais cinco edições até 1826, tendo sido comentada, discutida, contestada
por muitos e apoiada por outros, traduzida em várias línguas, transformando o
malthusianismo numa doutrina.

Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834), professor de
História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grande observador de fenómenos
populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entre a multiplicação do homem e a sua
subsistência.

Em 1798, Malthus publica o Ensaio sobre o Princípio da População. O livro faz


escândalo devido a uma das suas teses: “a assistência aos pobres é inútil porque não
serve senão para os multiplicar sem os consolar” (conforme citado em Nazareth,
2004, p. 26).

Também faz escândalo devido a um parágrafo: “um homem que nasce num mundo
ocupado, se não lhe é possível obter dos seus pais os meios de subsistência… e se a
sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem direito a reclamar a mínima
parte da alimentação e está a mais…” (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26).

A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse
aumento ser mais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre o
tamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controlo do
crescimento da população.
Princípio de População de Thomas Malthus

O pensamento demográfico de Malthus pode ser sistematizado em torno de três eixos


fundamentais: 1) população e subsistências, 2) obstáculos e 3) remédios. Quanto ao
primeiro tema - população e subsistências – o autor distingue duas leis antagónicas: a
lei da população que cresce em progressão geométrica e a das subsistências, que cresce
em progressão aritmética. Para Malthus, quando uma população não é controlada,
duplica todos os 25 anos.

De acordo com Malthus, as populações tendem a crescer mais rapidamente do que os


meios de subsistência; isto é, as populações tendem a crescer numa progressão
geométrica (1, 2, 4, 8, 16 etc.). Por outro lado, não existe essa tendência para os meios
de subsistência se expandirem por progressão geométrica; em vez disso, eles
expandem–se por progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.).

A população é mantida dentro dos limites dos meios de subsistência principalmente por
meio de controlos positivos, operando através das taxas de mortalidade. Quando os
meios de subsistência não são adequados para cuidar de uma população de um
determinado tamanho, a taxa de mortalidade aumentará até que a população encolha a
um nível suportável.

Da mesma forma, sempre que surgir um excedente nos meios de subsistência, isso
tenderá a diminuir temporariamente a taxa de mortalidade (e aumentar a taxa de
crescimento natural) até que a população tenha crescido até os limites dos novos meios
de subsistência. Este é o “dilema malthusiano”.

Hipoteticamente, a saída do dilema é a aplicação de “controlos preventivos” ao


crescimento populacional, operando por meio da taxa de natalidade. Estes enquadram-
se em duas categorias: “restrição moral” e “vício”.

Chegamos ao segundo tema: os obstáculos ao crescimento da população. Para Malthus,


existem dois tipos de obstáculos: os positivos (ou regressivos), que serão todos os
obstáculos que podem de algum modo diminuir a vida humana (ex: pobreza, epidemias,
fomes) e os preventivos, que serão os acontecimentos que levam à diminuição da
fecundidade, isto é, casamentos adiados (criando condições para que os cônjuges casem
mais tarde), abstinência antes do casamento (limitações morais), casamentos tardios
dos pobres ou até apelo ao celibato “A miséria deriva do crescimento excessivamente
rápido da população” (conforme citado em Nazareth, 2004, p.33). Quanto ao terceiro
eixo - os remédios - Malthus não hesita em afirmar que o único obstáculo que não
prejudica nem a felicidade moral, nem a felicidade material é a obrigação moral.
“Restrição moral”, conforme defendida por Malthus, consiste em não se casar até que
se possa sustentar os filhos resultantes e em permanecer sexualmente casto fora desse
casamento. Além disso, se o casamento e a companhia sexual têm de ser conquistados,
as pessoas trabalharão mais arduamente para ganhar esse prémio, aumentando assim
os meios de subsistência agregados.

“Vício”, de acordo com Malthus, inclui promiscuidade, homossexualidade, adultério e


controlo de natalidade (incluindo o aborto). A sua objeção declarada foi em bases
morais. Envolver-se em qualquer um desses vícios representava uma indulgência nos
apetites sexuais sem a aceitação da responsabilidade pelas consequências de tal
indulgência. Foi uma rejeição da responsabilidade individual, e Malthus viu a aceitação
dessa responsabilidade como - no longo prazo - a única esperança da humanidade para
sair do dilema (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

Duas correntes alternativas surgem em paralelo – o neomalthusianismo e o


antimalthusianismo.

O malthusianismo dá rapidamente lugar aos movimentos neomalthusianos, iniciados no


Reino Unido logo em 1822 por Francis Place, que, ao contrário de Malthus, vai defender
o controlo dos nascimentos no seio do casamento, através da contraceção. Ser
malthusiano, antimalthusiano ou neomalthusiano vai depender muito mais das práticas
do que das teorias económicas e políticas. São movimentos que vão percorrer o resto
do século XIX e o século XX (Rocha Pinto, 2010).

A primeira corrente aposta na limitação dos nascimentos, enquanto a segunda relaciona


o número de habitantes com os “meios de subsistência” (produtos alimentares,
vestuário, habitação, entre outros). O pensamento liberal de tendência antimalthusiana
é representado fundamentalmente por A. Dumont (1849-1902) e Durkheim (1858-
1902). Dumont constata a existência de uma oposição entre o crescimento demográfico
e o desenvolvimento do indivíduo. Para Durkheim, um dos pilares da sociologia, a
expansão demográfica é acompanhada de uma mudança qualitativa da sociedade.

O pensamento demográfico do século XX é particularmente enriquecido com as


contribuições de A. Sauvy. Também é considerado um antimalthusiano e um natalista,
mas a riqueza do seu pensamento merece alguma atenção. Em primeiro lugar, devemos
a Sauvy a elaboração da teoria do “ótimo da população”, ou seja, qual deve ser o número
de habitantes de um dado território para que o nível de vida de cada um seja o mais
elevado possível?

Se para os neomalthusianos o único problema é o excesso da população, Sauvy


considera que, se existem países que têm “gente a mais”, outros têm gente a menos.
Mas o nome deste autor está sobretudo ligado à explicação do dilema com que todos os
países do mundo são confrontados – crescer ou envelhecer?

Nas últimas décadas, uma perspetiva neomalthusiana usou parte da teoria de Malthus
como justificação para programas de planeamento familiar em todo o mundo. As
perspetivas neomarxistas e a teoria do desenvolvimento económico, entretanto,
promoveram políticas de desenvolvimento como tecnologia agrícola mais evoluída,
oportunidades e acesso ao crédito para grupos sociais marginalizados e sistemas de
distribuição social eficientes dentro das regiões menos desenvolvidas. Não
surpreendentemente, essas duas perspetivas são complementares, refletindo o
numerador (ou seja, o tamanho da população) e o denominador (ou seja, meios de
subsistência) para a densidade populacional. Ambas têm claramente um papel nas
preocupações com o crescimento populacional. A contribuição de Malthus foi chamar a
atenção para a importância do crescimento populacional nesta equação.

Muitos países deram importância ao crescimento populacional. A China, por exemplo,


passou a reconhecer a sua enorme população e rápido crescimento como causa do
subdesenvolvimento contínuo e tomou medidas na forma de regulação da fecundidade
para neutralizá-lo (no entanto, as evidências mostram que o declínio da fecundidade
começou na China antes da regulamentação). Embora poucos países tenham adotado
uma abordagem tão extrema e controversa como a da China, as autoridades em muitos
países estão atentas às possíveis consequências negativas de um crescimento
populacional totalmente descontrolado.

Por outro lado, assiste-se a políticas de planeamento familiar que os países


implementaram para tratar das preocupações com o crescimento populacional. Essas
políticas são exemplos de neomalthusianismo, que defende abertamente o uso de
controlos preventivos para escapar do dilema malthusiano. Isso inclui, principalmente, o
controlo da natalidade (que Malthus chamou de "vício"), um produto da era vitoriana.
Malthus, em vez disso, defendeu “restrição moral” por meio da abstinência e do
adiamento do casamento. Apesar dessa diferença, os neomalthusianos e o movimento
de planeamento familiar moderno descendem diretamente de Malthus e baseiam-se no
“princípio de população”, neste caso apontando para programas de planeamento familiar
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.70).
2.3. TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

Receios de sobrepopulação ou falta de população subsistem ambos ainda nos dias de


hoje e emanam paradoxalmente de um mesmo fenómeno. O do um processo histórico
no meio do século VXIII nos países europeus nomeado de « revolução demográfica »,
depois pela transição demográfica. Duas expressões para descrever e explicar a
mudança do regime demográfico conhecido pela população durante os dois últimos
séculos (Clément, Brugeilles, 2020). É a primeira vez que a população mundial vive uma
« explosão demográfica », no sentido em que o último período é marcado pela rapidez
e amplitude do crescimento. Em 2 séculos passa-se de 1 milhar de milhão para 7 milhares
de milhões de pessoas. Outra particularidade é a intervenção do homem nos
acontecimentos demográficos, o controlo da fecundidade e de certo modo também da
mortalidade.

Toda a segunda metade do século XX é dominada pelo pensamento produzido pela


Teoria da Transição Demográfica, que surgiu antes da segunda Guerra Mundial. O termo
“revolução demográfica” foi primeiro introduzido em 1929 pelo demógrafo polaco Léon
Rabinowicz e adotado no mesmo ano pelo demógrafo americano Warren Thompson. Foi
mais tarde utilizado pelo francês Adolphe Landry (1934), na sua obra intitulada La
révolution démographique, Études et essais sur les problèmes de la population, que
desenvolve a teoria a uma escala mundial, chamando-lhe Transição Demográfica
(Rocha Pinto, 2010, p.54).

Outros autores vão desenvolver o conceito numa teoria explicativa da evolução da


população ao longo do século XX, nascendo assim um modelo com o objetivo de explicar
a evolução da população. Economicamente, os países da Europa Ocidental já tinham
progredido nas suas revoluções agrícolas antes do século XIX. Durante o período de
transição demográfica, estavam a passar por um complexo conjunto de mudanças
chamado de revolução industrial, com mudanças sociais associadas, tais como a
urbanização, alfabetização, e o crescente consumismo.

Na segunda metade do século XX pensava-se que as teorias da transição demográfica,


estabelecidas para tentar dar conta de mudanças e transformações demográficas eram
a chave, não só para a compreensão das evoluções passadas ou em curso, mas também
para a especulação sobre as perspetivas futuras.

Assim, se desde o fim dos anos 1950, os especialistas das Nações Unidas puderam prever
que o planeta estaria povoado por 6 mil milhões de homens no ano 2000, a teoria da
transição demográfica fornecia um corpo de hipóteses particularmente exato sobre a
evolução da dinâmica das populações de países em desenvolvimento, principal foco para
o futuro da população mundial da época (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

A primeira grande interpretação da transição demográfica provém diretamente da teoria


estruturo-funcionalista que monopoliza a sociologia anglo-saxónica (sobretudo
americana) nos anos 50-60. Nessa perspetiva, a transição demográfica inscreve-se num
conjunto de transformações estruturais ligadas à industrialização e à urbanização.

O essencial da teoria pode resumir-se do seguinte modo: a industrialização transforma


as estruturas económicas e sociais, as quais trazem mudanças na estrutura familiar que,
por sua vez, provocam uma diminuição da fecundidade.

Entre as transformações estruturais mais importantes, notam-se as seguintes: a


diminuição da mortalidade, a diminuição das atividades agrícolas a favor da
generalização de uma economia de mercado urbana-industrial, a mobilidade geográfica
e a urbanização, a melhoria do estatuto da mulher e o aumento da escolarização.

Perante essas transformações, a família conhece uma série de adaptações, o antigo


sistema familiar tornando-se disfuncional. No meio destas adaptações, os demógrafos
da transição realçaram sobretudo a diminuição da importância da parentalidade e a
nuclearização estrutural da família, o aparecimento de novos papéis familiares,
nomeadamente no que diz respeito ao valor económico e social dos filhos, uma maior
igualdade e comunicação entre os cônjuges e um novo tipo de casamento
essencialmente baseado na livre escolha. Os casais desse novo tipo de família desejam
menos filhos e, graças à contraceção moderna, planeiam famílias menos numerosas
(Piché e Poirier, 1990).

A teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira vez nos anos 40. Desde
então tem sido modificada, acrescentada e escrita de novo. A definição clássica desta
teoria foi descrita por Davis (1945), Notestein (1945), Blacker (1947) e outros autores e
define-se do seguinte modo: existem uma série de estádios durante os quais a população
se move de uma situação onde tanto a mortalidade como a natalidade são altas, para
uma posição onde tanto a mortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de
ambos os indicadores antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durante a
transição, o crescimento da população é muito rápido devido essencialmente ao declínio
da mortalidade ocorrer antes do declínio da fecundidade.

A teoria da transição demográfica clássica enfatiza o declínio da fecundidade como


consequência do declínio da mortalidade e devido às mudanças na vida social que
acompanham a industrialização e a urbanização (Thompson, 1930; Notestein, 1945).
Mason (1997, conforme citado em Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015), resume o que
os demógrafos estabeleceram sobre a transição demográfica:

1. O declínio da mortalidade é geralmente uma condição necessária, mas não suficiente,


para o declínio da fecundidade.

2. As transições de fecundidade ocorrem em diferentes circunstâncias, quando várias


combinações de condições são suficientes para motivar ou permitir que as populações
adotem o controlo da natalidade.

3. Uma transição causada por circunstâncias numa determinada população pode


influenciar ou difundir-se para outras regiões de circunstâncias diferentes.

4. Tais influências podem ocorrer em velocidades diferentes, dependendo de uma


variedade de circunstâncias.

5. O número de crianças que as famílias podem sustentar varia entre as populações


anteriores à transição.

6. Se as famílias excederem a sua capacidade de sustentar os filhos, os pais recorrerão


a alguma forma de controlo da fecundidade.

7. O controlo da fecundidade após a gravidez ou nascimento depende das formas


disponíveis e aceitáveis de tal controlo (por exemplo, aborto ou infanticídio).

8. Quando as condições limitarem esses controlos após a gravidez, os controlos pré-


natais, como anticoncetivos ou alargamento dos intervalos entre nascimentos, serão
incentivados (especialmente se apoiados por políticas ou programas estatais).

Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 55) resume as quatro fases por que todos os países já
passaram, estão a passar ou vão passar:

a) uma fase do “quase equilíbrio” antigo, (ou de pré-transição) entre uma mortalidade
elevada e uma fecundidade igualmente elevada, o que implica um crescimento natural
da população reduzido – característica de sociedades agrícolas e rurais. A esta primeira
fase, dá-se o nome de fase de pré-transição ou pré-industrialização. Durante milhares
de anos o mundo era caracterizado por altas taxas de natalidade e mortalidade e
crescimento populacional estável. Na maioria dos países, esta época está terminada. A
fase pré-transicional foi seguida pela fase de transição (Fase 2), caracterizada por uma
taxa de fecundidade elevada e o declínio da taxa de mortalidade.

b) A segunda fase, a fase do declínio da mortalidade, e da consequente aceleração do


crescimento natural da população, diz respeito à etapa em que a mortalidade diminui,
mas com grande aceleração do crescimento da população, em que a fecundidade se
mantém elevada: é uma fase de crescimento demográfico rápido. Vários países em
desenvolvimento estarão ainda nesta fase, o que suscita inúmeros debates sobre os
efeitos negativos do crescimento demográfico rápido no desenvolvimento económico.

A mortalidade começou a diminuir em muitos países do mundo com o início da


industrialização e modernização, e sob a ação de um aumento dos orçamentos da saúde
e medidas sanitárias.

A fecundidade permaneceu alta, a população continuou a aumentar, a taxa de


crescimento populacional foi alta (exemplos: Guatemala, Iraque, África subsaariana).

c) A fase do declínio da fecundidade; a mortalidade continua a declinar embora a um


ritmo mais moderado e o crescimento natural da população diminui de intensidade. Esta
terceira fase caracterizou durante muito tempo as sociedades industriais e urbanas,
quando a revolução demográfica produziu baixos níveis de fecundidade e de
mortalidade. Hoje, fala-se até de uma revolução mundial, na medida em que os níveis
de fecundidade estão baixos.

Esta fase foi caracterizada por um crescimento populacional negativo devido a menores
taxas de natalidade, recuo da fecundidade e da mortalidade seguida por uma contração
do crescimento natural;

d) uma última fase do “quase-equilíbrio” moderno entre uma mortalidade com baixos
níveis e uma fecundidade igualmente baixa, tendendo para um crescimento nulo, abaixo
do nível de substituição da população (menos de 2,1 filhos por mulher) e anuncia uma
possível diminuição da população em números absolutos. Nesta fase (chamada declínio
incipiente), a fecundidade e a mortalidade são muito baixas. Durante esta fase,
entretanto, frequentemente ocorrem pequenas flutuações na fecundidade.

Quase todos os países do mundo já passaram pela segunda fase (declínio da


mortalidade) e quase todos já chegaram à terceira fase (declínio da fecundidade). A
transição demográfica começou nos países mais avançados da Europa no século XVIII
quando a mortalidade começou a declinar de uma forma consistente e continuada.
Chegando ao século XX, o declínio da mortalidade expande-se a todos os países
europeus e aos outros continentes. O aumento da população acelera. A tendência
dominante da evolução da população mundial aponta atualmente para uma situação em
que, a partir de meados deste século, se admite o início de um processo que conduzirá
a um declínio progressivo da população mundial, através da diminuição do número total
de nascimentos.
A ideia central da teoria da transição demográfica, que é a de provar a existência dos
efeitos da modernização nos comportamentos demográficos, parece estar mais do que
demonstrada pelos factos. A revolução sanitária fez que no mundo, nos anos 90, não
existissem países com uma esperança de vida à nascença inferior a 50 anos. Os raros
países que se encontravam nessa situação pertencem todos à África subsaariana. A
revolução dos métodos anticoncetivos generalizou a ideia de que um baixo nível de
fecundidade é um símbolo de modernidade, seja à escala de um país seja à microescala
dos indivíduos e dos casais.

A esta transição demográfica no sentido restrito, Piché (2013) acrescenta outras


transições fundamentais. Relacionado com a fecundidade, menciona a transição familiar:
aparecimento de novos modelos familiares e de uniões, mudanças nos papéis dos
homens e das mulheres. Para além dos níveis de mortalidade, considera de modo mais
global uma transição em saúde, isto é, mudanças nas causas de morte (a transição
epidemiológica) e dos novos fatores de risco (novos vírus, poluição). Uma das transições
mais importantes pelas suas consequências sociais e económicas é a passagem de uma
sociedade jovem para uma sociedade envelhecida (transição da estrutura por idade).

Acrescenta, por fim, a transição migratória, caracterizada pelo fim do êxodo rural e a
importância crescente da migração internacional no crescimento demográfico.

Além de observar estas diversas transições, o importante, segundo Piché (2013) é


mostrar que estas transições estão todas ligadas, produzindo assim uma teoria global
da mudança social.

Maria Luís Rocha Pinto (2010) nota que para Landry existem apenas três fases ou
“regimes demográficos” que se sucedem no tempo:

- o regime primitivo no qual a fecundidade não sofre nenhuma restrição de ordem


económica. A população tende para um máximo que será alcançado quando a
mortalidade atingir o nível da natalidade;

- o regime intermédio no qual as preocupações de ordem económica provocam restrições


da nupcialidade com vista a manter para os indivíduos e suas famílias um certo grau de
bem-estar. A nupcialidade torna-se então o principal regulador da população;

- o regime contemporâneo caracterizado por um aumento da produtividade, a diminuição


da mortalidade e a limitação da procriação. O progresso técnico intervém como fator
regulador do crescimento da população.

Atualmente a transição demográfica encontra-se numa fase no mundo ocidental, e


particularmente na Europa em que os níveis de mortalidade e de fecundidade são baixos
e o crescimento é de praticamente « zero ». Este regime demográfico moderno resulta
num certo equilibrio em que os nascimentos iguais aos óbitos induzem a uma fraca
progressão e a uma estabilidade da população (Clément, Brugeilles, 2020).

Desde os anos 60 que existe uma critica à teoria clássica da transição demográfica e
passou-se a considerar uma pluralidade de transições. A sua transposição aos paises em
desenvolvimento, veicula uma visão muito europeista e não tem em conta a diversidade
de contextos. A visão linear e uniforme foi refutada. Para aém dos tempos diferentes,
dos momentos diferentes, existe uma énorme variedade de situações pré e pós
transição, ritmos, duração e intensidade de evolução.

Se esta diversidade de ritmos de evolução não põe em causa os postulados centrais da


teoria clássica da transição demográfica para muitos teóricos (Chesnais, 1986),
anterioridade do recuo da mortalidade, papel do arranque económico na baixa da
fecundidade, outros mostram que a transição demográfica não coïncide necessáriamente
com as importantes mutações económicas. Em vários países em situaçãod e crise
económica evidencia-se a quebra da fecundidade. A crise económica suscita mudanças
de comportamentos.

A teoria clássica da transição demográfica parece então como um modelo geral de


evolução da população mas no qual os mecanismos são variáveis e devem ser
contextualizados geograficamente historicamente e politicamente. Historicamente
observa-se uma relação entre a transição demográfica e o envelhecimento da população
(Clément, Brugeilles, 2020).

De acordo com Leston Bandeira (1996a) um dos aspectos da singularidade portuguesa


dizia respeito na década de 90 do século XX, à coexistência de dois processos de
transição distintos. Enquanto a evolução demográfica nas regiões do Sul se desenvolveu
com alguma proximidade do modelo dominante na Europa, foi entre as populações do
Norte que se exprimiu o modelo de modernização lenta e tardia.

Em Portugal, deu-se uma coincidência temporal entre a liberalização do casamento e o


início da queda da natalidade. Tudo começou a acontecer no início da década de 1960.
A partir da segunda metade da década seguinte, acelerou-se a passagem para um
regime de baixa natalidade. Todas estas rápidas acelerações exprimiam a urgência de
mudanças sociais que se impunham a uma sociedade que, durante demasiado tempo,
se manteve isolada e reticente aos ventos da modernidade (Leston Bandeira (coord),
2014).
Se a esperança de vida aumentou efetivamente na maior parte dos países, a situação
de pós transição em contexto nacional é de uma fecundidade abaixo do nível de
substituilção (2,1 por mulher) com uma forte diminuição dos nascimentos e de forma
duradoura. Esta segunda transição é fruto da alteração profunda das sociedades
ocidentais e traduz uma mudança de valores, atitudes, normas, associada à subida do
individualismo, a emancipação feminina, da liberalização sexual, da generalização da
secularização. Nesta segunda transição a conjugalidade e as novas formas familiares
interferem menos na procriação. Em paralelo mantem-se a subpopulação e o
envelhecimento acentuado da população.

No contexto Europeu, a modernização ou transição demográfica em Portugal é original


por ter sido muito tardia. Em comparação com a generalidade das populações europeias,
a queda da fecundidade iniciou-se com mais de oitenta anos de atraso. Também o
desfasamento temporal entre o recuo da mortalidade e o início da queda da natalidade
foi mais longo do na generalidade dos países europeus. A partir dos anos 60, a
progressiva afirmação da autonomia da nupcialidade em relação à natalidade confirma
que a demografia portuguesa começou finalmente a entrar na era moderna. A
liberalização do mercado matrimonial, com um substancial aumento da nupcialidade,
parece ter sido, em grande parte, resultado da vaga emigratória das décadas de
1960/70. No novo quadro social e familiar assim criado, as restrições no acesso ao
casamento perderam a sua função auto-reguladora, deixaram de fazer sentido. Em
consequência destas mudanças, até 1975, ao mesmo tempo que o número de
casamentos cresce em espiral, a natalidade vai baixando irreversivelmente (Leston
Bandeira (Coord., 2014).

2.4. O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO

As primeiras civilizações de que dispomos algumas informações escritas respeitantes à


população, revelam-nos a existência de uma dinâmica populacional pouco conhecida,
complexa e diversificada. Muito há a esperar ainda das investigações em curso. Porém,
apesar da sua diversidade, existem alguns elementos comuns: guerra, crises de
mortalidade motivadas pela fome, conhecimentos de sobre contraceção, a existência de
grandes migrações. É uma Demografia de povos migrantes cuja errância pauta a história,
misturando populações, costumes e civilizações.

Três traços essenciais caracterizam a evolução global da população do continente


europeu durante o Antigo Regime: o crescimento moderado da população de 70 milhões
no início do século XIV para 111 milhões em meados do século XVIII, as quebras de
crescimento populacional ocasionado pelas crises de mortalidade e as crises de
subsistência.

As crises de mortalidade têm duas fases: a fase da peste e a fase das epidemias sociais
que se estende até ao início da época contemporânea. A mortalidade era um fator
regulador e um fator destruidor das populações desta época. Alguns historiadores da
população têm uma visão mecanicista das sociedades humanas nesta época ao
pensarem que o verdadeiro elemento regulador é a morte. Esta visão mecanicista não
resistiu à vaga de investigações sobre o sistema demográfico do Antigo Regime que
caracteriza os nossos dias com o desenvolvimento da Demografia Histórica. Os
Dupâquier foram os grandes pioneiros no final dos anos 70 ao levantar a seguinte
questão: como é que 18 milhões de súbditos de Luís XIV mal alimentados, aumentaram
num século para 27 milhões vivendo numa relativa abundância e reagindo à oscilação
de preços? (Dupâquier, 1979).

Houve longos períodos de crescimento estacionário, até por volta da época de Cristo,
quando a população mundial era de aproximadamente 250 milhões. A população não
duplicou novamente até cerca do ano 1600. A taxa média anual de crescimento foi de
apenas 0,04 por cento nesse período. Essas condições estacionárias continuaram até
meados de 1650, quando a população mundial foi estimada em cerca de
aproximadamente 650 milhões. Durante muitos milhares de anos, a população mundial
foi mantida em tamanho pequeno pelos vários testes malthusianos. A população cresceu
de cerca de 650 milhões em 1650 para mil milhões em 1850. Levou menos de 80 anos
para duplicar novamente em 1927. Com a Revolução Industrial, as pessoas começaram
a deslocar-se do campo para as cidades para trabalhar em fábricas e moinhos, e o nível
de urbanização aumentou. Muito do crescimento deveu-se a taxas de mortalidade mais
baixas, enquanto as taxas de natalidade permaneceram altas. A melhoria do padrão de
vida resultante da industrialização ajuda a explicar o declínio das taxas de mortalidade.

Após milénios de crescimento lento, a população mundial evoluiu para uma taxa sem
precedentes, começando nos anos 1600 e atingindo o pico no final dos anos 1960. Os
padrões de consumo da população - mais do que o crescimento populacional - podem
desafiar a capacidade de suporte do planeta, embora a fecundidade tenha começado a
diminuir em todo o mundo. As preocupações com os padrões de consumo excessivo da
população incluem as emissões de carbono que levam à mudança climática, o
esgotamento dos recursos pesqueiros e de água doce e assim por diante.
O crescimento da população na segunda metade do século XVIII é um fenómeno
europeu que ultrapassa o quadro das regiões industrializadas e que não pode ser
explicado apenas pela revolução agrícola.

Os Dupâquier esquematizam o arranque demográfico da Europa Ocidental da seguinte


forma:

 1ª etapa (1650-1750): as populações submetidas a crises periódicas de


mortalidade põem a funcionar em pleno o mecanismo auto-regulador;
este mecanismo, ao fazer aumentar de intensidade a nupcialidade,
proporciona a existência de estruturas de idades muito jovens;
 2ª etapa (segunda metade do século XVIII): os acidentes sendo menos
frequentes, diminuem a mortalidade e a população aumenta; mas, o
mecanismo regulador, que tinha funcionado bem numa direção, revelou-
se ineficaz na direção inversa; mais ainda, este mecanismo tem um peso
oposto nos destinos individuais – os quocientes de nupcialidade
diminuem, a idade média do casamento aumenta, os jovens têm cada
vez mais dificuldades em estabelecer-se; a indústria nascente passa a
dispor de uma reserva de mão-de-obra abundante e a baixo preço; as
tensões sociais aumentam e aparecem conflitos de gerações;
 3ª etapa (primeira metade do século XIX): a industrialização, ao permitir
fazer baixar a idade no casamento, relança o crescimento demográfico; a
emigração para o outro lado do Atlântico vai-se tornando cada vez mais
importante;
 4ª etapa (segunda metade do século XIX): o recuo da mortalidade,
associado a um grande progresso da medicina e das condições de higiene
e saúde, acaba de vez com o mecanismo autorregulador; com o aumento
da duração de vida dos pais, as jovens gerações camponesas perdem a
esperança de se estabelecerem com uma idade razoável; não lhes resta
mais do que escolher entre o celibato definitivo ou o êxodo para sítios
mais ou menos longínquos (como operários, como funcionários, como
militares ou como colonos).

A grande mutação não resultou de um modelo simplista que apenas considera os efeitos
diretos e indiretos das condições de saúde (modelo simplificado), mas de um modelo
mais complexo que integra diversos componentes (Modelo de Dupâquier, conforme
citado em Nazareth, 2004, p. 90-93):
Modelo de Dupâquier

ALGUM PROGRESSO TÉCNICO


ESTRUTURAS DE POPULAÇÃO
CADA VEZ MAIS JOVENS
OUTROS FACTORES

ARRANQUE INDUSTRIAL

PROGRESSO TÉCNICO E SOCIAL


DECLÍNIO DA IDADE MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE
MÉDIA DO HIGIENE E SAÚDE
CASAMENTO

AUMENTO DOS NASCIMENTOS DIMINUIÇÃO DOS ÓBITOS

EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA
Fonte: adaptado de Nazareth, 2004, p. 93, figura 5
ATIVIDADE FORMATIVA

1. Descreva a Teoria da Transição Demográfica e as suas fases.

2. Explique o “Problema Malthusiano” e como os escritos de Malthus foram


interpretados e criticados.
3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS
TESTES À QUALIDADE DOS DADOS

Objetivos

1.Conhecer as características fundamentais e o conteúdo dos principais sistemas


de informação existentes;

2. Identificar as vantagens e os inconvenientes de cada um dos sistemas de


informação demográfica, tendo em consideração as necessidades de dados de
uma investigação em análise demográfica;

3. Conhecer as principais técnicas de análise da qualidade dos dados


demográficos, e aprender a escolher essas técnicas em função dos sistemas de
informação utilizados.

INTRODUÇÃO

Os dados em Demografia são principalmente gerados pelas atividades dos governos


centrais e suas agências ou por organizações internacionais. A quantidade e a qualidade
dos dados que se obtêm dependem, em parte, da existência de boas organizações e
ainda dos seus objetivos, embora também dependam das atitudes sociais em relação à
recolha desses mesmos dados.

À medida que as civilizações crescem e as nações se desenvolvem, os governos


constroem sistemas para reunir informações sobre o seu povo. No mínimo desejam saber
quantos somos, de que tipo somos e onde estamos. O atual sistema padrão de recolha
de dados, tem como base o recenseamento por décadas. No entanto, um recenseamento
(ou Censos) remete apenas para um determinado momento no tempo. Neste sistema,
os Censos são complementados pelo registo de outros eventos populacionais
(nascimentos, óbitos) e/ou por sondagens ou inquéritos por amostragem. Com o evoluir
da tecnologia nas sociedades modernas, há um enorme potencial inexplorado para medir
os dados digitais deixados pelos utilizadores da Internet e telemóveis, tornando-se este
um método emergente de recolha de dados num futuro próximo (Palmer et al., 2013;
Watts, 2007), usando fontes comummente chamadas de “big data”. No entanto, mesmo
com a mais sofisticada combinação desses elementos, ainda permanecerão lacunas que
devem ser preenchidas por estimativa.
Os elementos brutos da Demografia são os dados recolhidos nos Censos, em estudos,
nos registos dos vários sistemas. Estes dados podem ser apresentados de muitas
maneiras, mas sobretudo, de duas formas fundamentais.

Em primeiro lugar, os dados recolhidos dos Censos da população ou inquéritos


semelhantes aos Censos. Os Censos produzem o registo das pessoas num dado
momento, ou seja, produz uma informação “fotográfica” transversal da população
existente, o seu tamanho, a sua estrutura, como ela é observada no momento dos
Censos. As comparações internas ou entre Censos, envolvem em geral números
absolutos e o cálculo de proporções.

Segundo, existem dados normalmente recolhidos pelos registos dos diferentes sistemas.
Os dados produzidos são o registo dos acontecimentos durante um determinado
intervalo de tempo, em geral um ano. Os dados são essencialmente dinâmicos na sua
natureza, porque fornecem informação no decorrer do tempo.

O número de nascimentos, óbitos, movimentos da população, ou outros acontecimentos,


ocorrem durante um período e são afetados pelo número de pessoas “em risco”, de ser
“um nascimento”, um “óbito”, uma “migração”. Neste contexto é comum serem
calculadas taxas de ocorrências, permitindo comparações de níveis de mortalidade,
fecundidade ou mobilidade, em vez de somente o número de nascimentos, de óbitos ou
de migrações.

Tendo em conta que alguns desses dados podem conduzir a enviesamentos, a recolha
de dados demográficos tem de ser hierarquizada e explicitada, pois podem influenciar
os modos de análise restringindo as possibilidades de algumas análises.

Poucos são os dados que são recolhidos principalmente com fins demográficos. A maior
parte deles são produzidos para, ou como, produto de atividades administrativas levadas
a cabo ou controladas pelos governos ou agências internacionais e onde os demógrafos
têm pouco controlo do modo preciso como eles são recolhidos, agregados ou
apresentados. Contudo estes dados são utilizados por geralmente serem os que estão
disponíveis.

3.1. OS DADOS EM DEMOGRAFIA

As estatísticas usadas para manusear os dados são em geral taxas, razões e


proporções. Elas constituem os maiores instrumentos básicos da Demografia formal.
Permitem fundamentalmente comparações eliminando diferenças devido a tamanhos
diferentes de população.
As taxas são o instrumento de medida mais usado em análise demográfica. Por definição,
uma taxa mede a frequência de um fenómeno numa população durante um período de
tempo determinado. Qualquer que seja a duração do período, uma taxa tem sempre
uma dimensão anual.

Uma taxa é simplesmente qualquer número dividido por qualquer outro número.

Exemplo: a taxa de mulheres é a relação da população total de mulheres (numa dada


população) a dividir pelo total da população. Geralmente a fórmula é
mulheres/população total x 100. Outro exemplo: a taxa de mulheres em relação aos
homens será o número de mulheres a dividir pelo número de homens numa dada
população. Geralmente a fórmula é mulheres/homens x 100.

Na perspetiva do estabelecimento do balanço demográfico anual, o instrumento de


medida utilizado é a taxa bruta. A taxa bruta de mortalidade, por exemplo, mede a
frequência anual da mortalidade, a qual exprime também o risco médio anual de morte
para cada mil habitantes. Qualquer taxa bruta resulta do quociente entre o número de
acontecimentos (nascimentos, óbitos, migrações, casamentos) produzidos durante um
determinado período e a população média desse mesmo período. Como todas as taxas,
a taxa bruta tem uma dimensão anual, o que significa que os acontecimentos, mesmo
quando relativos a períodos inferiores ou superiores a um ano – devem sempre ser
reduzidos a essa unidade temporal.

Uma razão é usada livremente em Demografia, como em outras situações similares, e


pode causar alguma confusão. Em sentido estrito o numerador da razão é o número de
acontecimentos, tais como nascimentos ou óbitos, que ocorrem num determinado
período de tempo. Aqui o denominador é o número de “pessoas ano expostas ao
fenómeno considerado” durante o período em causa. O aspeto mais importante a
considerar é que o período de tempo tem que ser aqui especificado. As razões em
Demografia são usadas a maior parte das vezes por períodos de um ano. Isto significa
que o número de pessoas ano expostas ao fenómeno pode geralmente ser aproximado
à população existente a meio do ano.

Assim a média da população será normalmente aproximada à população total no meio


do ano. Isto explica porque é que as estatísticas que os serviços produzem anualmente
são calculadas em relação ao meio do ano em vez do início do ano.

Devemos ainda chamar a atenção que muitas medidas que são comummente designadas
como frações em Demografia são estritamente taxas, proporções ou outros índices. Ex:
uma “fração de literacia” será a proporção da população que é letrada enquanto a “taxa
bruta de nascimento” é realmente uma taxa porque inclui no seu denominador os idosos,
as crianças e homens, nenhum deles em risco de dar à luz uma criança.

Uma proporção será um tipo especial de taxa na qual o numerador está incluído no
denominador, isto é: Proporção = (x/ x + y). Por exemplo a proporção da população do
sexo feminino será o número de mulheres dividido pelo total de homens e mulheres em
conjunto. A proporção pode variar entre 0,0 e 1,0 e é, em geral, expressa em
percentagem que se obtém multiplicando o valor obtido por cem.

3.2. OS RECENSEAMENTOS

Um recenseamento é um conjunto de operações baseadas em registos individuais, que


permitem conhecer todo (universalidade) o efetivo populacional de um território numa
data precisa (simultaneidade), com detalhes sobre a repartição dessa população por
unidades administrativas e segundo um número mais ou menos vasto de características
(sexo, idade, residência, profissão).

Devem respeitar uma determinada periodicidade (de 10 em 10 anos no caso de


Portugal).

Os Censos existem fundamentalmente para apoiar o planeamento, especialmente o


aprovisionamento e regulamentação dos serviços básicos (água, vias de comunicação e
outros serviços, por exemplo). Na maior parte dos países democráticos a distribuição da
população, dada pelos Censos, também determina o nível de representação eleitoral e a
alocação de recursos do governo central. Muitas das intervenções do governo, no campo
da saúde e da segurança social, produzem dados demográficos, que em geral resultam
de dados do programa de avaliação dessas intervenções.

Determinados inquéritos, muitas vezes orientados com um objetivo bem definido,


também são fonte de dados demográficos mais ou menos independentes do sistema
convencional.

As principais características de um Censos, e que o diferencia de um inquérito, é que em


primeiro lugar ele é um registo global do total da população dentro de uma determinada
área geográfica definida. Em segundo lugar, como não envolve amostragem, cada
pessoa é enumerada separadamente. Em terceiro lugar, ele não é um exercício
voluntário e tem que ter uma base legal para o tornar obrigatório e nele ser incluída e
fornecida a informação pretendida. Finalmente, é obrigatório ser relacionado com um
dado momento no tempo e não num período.
Um Censos é uma recolha de dados sobre a população levada a cabo de uma só vez
num dado país e envolve: formulação de um questionário, planeamento e organização
de uma equipa, processamento e análise dos dados e divulgação dos resultados.

Censos: Sobre Censos, o que são, para que servem, Censos em Portugal, Censos no
mundo, ver Censos 2021 em
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_sobre_censos&xpid=CENSOS21&
xlang=pt

Ver Recenseamento (Censos) de 2011 em


https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=ine_censos_publicacao_det
&contexto=pu&PUBLICACOESpub_boui=73212469&PUBLICACOESmodo=2&selTab=ta
b1&pcensos=61969554, dados gerais do Censos – Resultados definitivos. Portugal –
2011 e outros resultados dos Censos 2011:
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao

Ver Censos 2021 em


https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_main&xpid=CENSOS21&xlang=pt
e em https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21&xpid=CENSOS21&xlang=pt

O quadro 1 (anexo 1) apresenta uma síntese das variáveis a observar nos Censos 2021
e as excluídas face aos Censos 20112. (ver o anexo 1 – Quadro 1. Síntese das variáveis
a observar nos Censos 2021 e excluídas face aos Censos 2011).

3.3. AS ESTATÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE ESTADO CIVIL

São o conjunto de informações sobre os nascimentos, óbitos, casamentos, divórcios e


separações judiciais, saídas ou entradas, ocorridas num território durante um
determinado período (normalmente um ano), baseadas nos boletins de registo civil
desses acontecimentos, com detalhes sobre a sua repartição por unidade administrativa
e segundo um número mais ou menos vasto de características (sexo, idade, etc.).

O sistema de registos vitais e os controlos de migração existem acima de tudo por


questões legais: a produção de certificados de nascimento e de óbito, passaportes,
cartões de identidade, certificados de autorização de trabalho, autorização de residência
e de cidadania.

2
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=censos_historia_portugal
Na maioria dos países desenvolvidos o sistema de registo dos acontecimentos vitais
fornece a maior parte da informação dos nascimentos, casamentos, óbitos e por vezes
os dados de migração. Nos países em desenvolvimento, estes sistemas de recolha de
informação são na maior parte das vezes incompletos e por vezes nem existem, nem
são explorados com fins demográficos. Isto explica porque os objetivos do registo desta
informação são essencialmente administrativos e legais e não demográficos3.

3.4. OUTRAS FONTES DEMOGRÁFICAS

Os inquéritos demográficos são inquéritos por amostragem baseando-se na recolha de


informações, com base numa amostra representativa do universo da população em
análise, visando aprofundar o estudo sobre uma questão demográfica particular (Ex:
inquérito português à fecundidade, que inclui variáveis como “o uso de métodos
contracetivos, o número de filhos desejado, local de residência na infância”, etc.).

Os inquéritos por amostragem usados em Demografia podem ter uma variedade de


aspetos, mas o aspeto essencial é que envolvem uma amostra da população. A
vantagem da amostra é que ela reduz o esforço referido e por consequência o custo,
quando comparado com um Censos. No entanto, podem surgir erros de medição. Se a
amostra tiver uma base adequada, este erro pode ser medido e assim minimizado.

Os inquéritos por amostragem são, contudo, fontes importantes de dados demográficos


atendendo aos problemas acima mencionados do Censos e do registo da informação -
por ex: a impossibilidade de fazer muitas perguntas ou perguntas complexas e,
especialmente nos países em desenvolvimento, a pobre qualidade dos dados que
produzem. A vantagem dos inquéritos por amostragem, para além de serem mais
económicos, é que podem ser organizados e executados de forma relativamente rápida
e podem recolher muito mais detalhes que um censo, incluindo informação de
comportamentos para os quais os entrevistadores podem ser treinados.

A sua principal desvantagem é a introdução de erros de amostragem. Isto significa que


são necessários grandes números para produzir resultados fiáveis. Do ponto de vista dos
inquéritos demográficos, a unidade de observação é o domicílio, não o indivíduo, e esta
ajuda a reduzir custos e especialmente complexidade administrativa.

3
Ver estatísticas demográficas em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107661&selTab=tab0&xlang=pt eas Estatisticas demográficas de 2019 em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=7
1882686&PUBLICACOESmodo=2
Existem vários tipos de inquéritos por amostragem em Demografia:

Primeiro, existem informações dos Censos tipo, o que talvez substitua um Censos
completo ou simplesmente o existente, fazendo uma ampla distribuição de questões
numa amostra da população envolvida. Os inquéritos designados para investigar alguns
tópicos particulares, como o uso de contracetivos, emprego das mulheres, ou causas e
consequências da migração também caem nesta categoria de exemplos.

Segundo, existem inquéritos retrospetivos, assim designados pois fazem perguntas


acerca de acontecimentos que ocorreram no passado, normalmente nos países em
desenvolvimento. Estes inquéritos são inicialmente utilizados para reunir informação que
os sistemas normas forneceriam.

As perguntas retrospetivas, normalmente usadas pelos demógrafos, são por ordem de


importância: número total de crianças que nasceram vivas, número de crianças que
vivem em casa, número de crianças que saíram e morreram (usado para conferir o
número e para fazer uma estimativa da mortalidade infantil), tempo decorrido desde o
último nascimento (usado principalmente para determinar os nascimentos no último
ano), se a mãe é viva, se o pai é vivo, se o primeiro marido é vivo.

Existe ainda uma larga gama de técnicas indiretas sofisticadas, que podem servir para a
recolha de dados sobre questões específicas que deverão ser formuladas e utilizadas de
acordo com o objetivo e o grau de precisão que se pretende obter.

Outras fontes a salientar são as estatísticas de saúde e os anuários estatísticos.

Em conclusão, poderemos dizer que existem três grandes fontes para a recolha de dados
em Demografia (informação dos censos tipo, inquéritos por amostragem, técnicas
indiretas de perguntas por questões específicas) que não são alternativas umas das
outras, embora uma possa, eventualmente, ser usada na ausência ou deficiência da
outra.

Um Censos é mais ou menos essencial para fornecer uma base de dados sem a qual o
sistema de registo ou um inquérito por amostra é menos útil. Nos países em
desenvolvimento, os inquéritos por amostragem podem investigar determinados aspetos
deficientes nos Censos e dar mais fiabilidade à informação disponibilizada pela má
qualidade fornecida por esses Censos.

Os Censos, ou inquéritos dos Censos tipo, geralmente produzem informação da


população existente num determinado momento no tempo; enquanto os sistemas de
registos vitais produzem informação em fluxos, números ou acontecimentos que
ocorrem ao longo do tempo. Estes últimos podem também ser obtidos indiretamente
através de perguntas retrospetivas em inquéritos e censos ou por inquéritos prospetivos.
Ambos os tipos de dados são largamente usados, frequentemente em combinação e em
análise demográfica4.

Outros sítios de informação demográfica


Eurostat

O Eurostat produz estatísticas europeias em parceria com os institutos nacionais de


estatística e outras autoridades nacionais dos Estados-Membros da UE. Esta parceria é
conhecida como Sistema Estatístico Europeu (ESS). Também inclui as autoridades
estatísticas dos países do Espaço Económico Europeu (EEE) e da Suíça.

O Eurostat, autoridade estatística da União Europeia, foi criado em 1953 e é atualmente


uma Direcção-Geral (DG) da Comissão Europeia que tem como papel fundamental
fornecer estatísticas à Comissão e às outras instituições europeias para que possam ser
definidas, implementadas e analisadas as políticas comunitárias5.

PORDATA

A PORDATA é uma abrangente e diversificada base de dados com estatísticas oficiais


certificadas sobre Portugal. Disponibiliza a todos os cidadãos informação rigorosa e
isenta que permite aprofundar o conhecimento e enriquecer o debate público sobre os
grandes temas nacionais. A PORDATA assume-se como uma base de dados portuguesa
abrangente em termos de diversidade de temas e de amplitude temporal, já que inclui
estatísticas, sempre que disponíveis, referentes ao período entre 1960 e a atualidade,
reunindo informação relevante e harmonizada relativa a doze temas distintos:
População, Saúde, Educação, Proteção Social, Emprego e Mercado de Trabalho,
Empresas e Pessoal, Rendimentos e Despesas Familiares, Habitação e Conforto, Justiça,
Cultura, Contas Nacionais e Contas do Estado6.

4
Ver exemplos de inquèritos em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_estudos&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107773&selTab=tab0&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=415
655178&DESTAQUESmodo=2;
http://www.ine.gov.mz/operacoes-estatisticas/inqueritos/inquerito-demografico-e-de-saude
(IDS de Moçambique).
5
https://ec.europa.eu/info/departments/eurostat-european-statistics_pt
6
PORDATA: www.pordata.pt
3.5. QUALIDADE DOS DADOS – TESTES FUNDAMENTAIS À QUALIDADE
DOS DADOS

Nenhum sistema estatístico é inteiramente livre de distorções. No caso dos Censos, os


erros mais comuns são os de subenumeração, sobreenumeração e classificação errónea.
O primeiro, que normalmente atrai mais atenção, surge quando uma parcela da
população não é contada, por omissões na organização do Censos ou por vontade
própria, por exemplo no caso de imigrantes clandestinos ou outros indivíduos com
motivos para evitar a enumeração. Normalmente, erros deste tipo podem ser detetados
através de um levantamento por amostra, executado logo depois do Censos, que serve
para avaliar a sua qualidade e definir fatores de correção.

Depois de termos analisado as principais fontes demográficas, vejamos agora a questão


da qualidade dos dados.

3.5.1. A Relação de Masculinidade dos nascimentos

A relação de masculinidade dos nascimentos permite testar a qualidade das estatísticas


de estado civil. Inicialmente concebido para avaliar a qualidade de registo dos
nascimentos, este teste revelou-se um bom indicador da qualidade global dos dados
estatísticos demográficos.

Este indicador relaciona o número de nascimentos masculinos por cada 100 nascimentos
femininos, ou seja

(nascimentos masculinos/ nascimentos femininos) x 100

É a relação dos nados-vivos masculinos com os nados-vivos femininos realizados num


determinado período. Permite ver se existem ou não erros ao nível dos registos dos
nascimentos (desequilíbrios ao nível dos registos dos sexos).

Como funciona este teste? Segundo informações recolhidas nas análises feitas em países
com boas estatísticas demográficas sabe-se que a relação de masculinidade dos
nascimentos anda em torno de 105 (ou seja, por cada 100 raparigas nascem 105
rapazes), desde que se excluam as variações aleatórias.

A existência de desvios acentuados em relação a este valor médio traduz a existência de


erros na recolha e registo dos dados em torno dos sexos dos nados-vivos.
Não podemos concluir logo que a qualidade dos dados é má. Existem as flutuações que
têm a ver com o número de ocorrências.

É necessário ver se se deve à dimensão da população ou à má qualidade dos dados.

Em função do número de nascimentos observados é, no entanto, possível precisar o


intervalo de variação deste erro, que é devido à existência de populações pouco
numerosas. Existe uma fórmula para se encontrar o intervalo de confiança dentro do
qual os nascimentos masculinos podem variar:

Para um total de 1000 nascimentos temos, em teoria, 512 nascimentos masculinos e


488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de 0,512.

Os limites do intervalo de confiança a 95% são determinados pela fórmula:

IC = 0,512 + - 1,96 √ ((0,512 x 0,488) / n), onde n é o número total de nascimentos

Depois calcula-se x / (1- x) × 100 e y / (1- y) × 100, para encontrar os limites do


intervalo de confiança. Se o valor encontrado no cálculo das relações de masculinidade
dos nascimentos estiver incluído no intervalo de confiança, podemos afirmar que a
qualidade de registo de nascimentos é boa. Se o valor encontrado no cálculo das relações
de masculinidade dos nascimentos não estiver incluído no intervalo de confiança pode
dever-se a:

• má qualidade dos dados;

• sobreregisto de nascimentos masculinos;

• subregisto de nascimentos femininos.

Exemplo: Ano 2000 Nados-Vivos H 62262 M 57809 HM 120071

RMN = Nados-Vivos Masculinos / Nados-Vivos Femininos *100

RMN = (62262 / 57809) × 100

RMN = 107,7 (superior a 105)

De modo a analisar a qualidade dos dados, necessitamos encontrar o intervalo de


confiança dentro do qual, em princípio, os nascimentos masculinos podem variar, sem
colocar em causa a qualidade dos dados.
Intervalo de confiança: para um total de 1000 nascimentos convencionou-se a existência
de 512 nascimentos masculinos e 488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção
de 0,512.

Intervalo de confiança (IC) = 0,512 ± 1,96 (0,512 × 0,488)/120071

0,512 ± 0,0028

- 0,512 é a probabilidade dos nascimentos masculinos;

- 0,488 é a probabilidade dos nascimentos femininos;

- 1,96 é uma constante do teste para uma margem de erro de 5%;

- 120071 é a totalidade dos nascimentos;

- 0,0028 é o intervalo de confiança calculado.

Limite estatístico x

0,512 + 0,0028 = 0,5148

Limite estatístico y

0,512 ̶ 0,0028= 0,5092

Limites de confiança

[0,5148 / (1 - 0,5148)] × 100 = 106,10

[0,5092 / (1 - 0,5092)] × 100 = 103,75

O valor da relação de masculinidade ao nascimento para o ano de 2000 (107,7) não está
contido no intervalo de confiança, logo a qualidade dos dados é duvidosa.

A preocupação de rigor que caracteriza a Demografia e o uso frequente de estatísticas


de qualidade muito duvidosa, faz com que o demógrafo sinta a obrigação constante,
antes de iniciar qualquer análise demográfica, de testar a qualidade dos dados que vai
trabalhar e se possível corrigi-los.

Os métodos para testar dados incompletos e incorretos são inúmeros, sendo os mais
importantes, divididos em duas categorias: Índice de Irregularidade das idades e o Índice
de Whipple.
3.5.2. Índice de Irregularidade das idades

Se o método anterior se destina a analisar a qualidade dos dados das estatísticas de


estado civil, este tem por fim analisar a qualidade dos dados dos recenseamentos.

Este teste serve para provar se existe ou não concentração em determinadas idades.

Trabalha-se com sexos separados.

A sua elaboração é bastante simples:

• Colocam-se os efetivos das idades cuja atração se pretende medir em numerador


(por exemplo, se pretendemos medir a atração pelo 6, os numeradores serão efetivos
com 6, 16, 26, 36, 46, 56, 66, 76, … anos);

• No denominador, colocam-se as médias aritméticas dos efetivos dos 5 anos que


enquadram essas idades. (por exemplo, no caso dos 6 anos, soma-se a população com
4, 5, 6, 7, 8 anos e divide-se por cinco, no caso dos 16 anos, soma-se a população com
14, 15, 16, 17, 18 e divide-se por cinco, e assim sucessivamente);

• Partindo do princípio que as idades centrais correspondem à média dos efetivos


de 5 anos que enquadram essas idades, divide-se o numerador pelo denominador em
cada caso e multiplica-se o resultado por 100;

• Obtêm-se assim diversos índices (no exemplo dado I6, I16, …) que são
representados graficamente; quando os índices obtidos têm um valor superior a 100
existe atração; quando os índices obtidos têm um valor inferior a 100 existe repulsa.

A relação entre o efetivo real e o efetivo teórico fornece-nos um índice, que à medida
que se afasta da unidade (ou de 100 se multiplicarmos por este número) demonstra a
força do arredondamento.

Exemplo: selecionar todas as idades terminadas em 6 e aplicar a fórmula:

⇒ Numerador- todos os indivíduos que declararam ter idades terminadas em 6 e de um


dos sexos.

⇒ Denominador para a idade 36 = vou buscar 2 idades antes (34, 35) e 2 depois (37,
38), vou adicionar todas e dividir por 5.

Resultados possíveis:

Atração máxima – se todos dizem que têm 36 (total de 500).

Repulsa máxima – se ninguém tem 36 (dá-nos um total de 0).

Se os valores andarem à volta de 100 podemos assumir que a qualidade é boa.


3.5.3. O Índice de Whipple

Existe o Índice de Whipple que também pode ser utilizado para testar a qualidade dos
recenseamentos. Os demógrafos usam dados de anos de idade para determinar se há
irregularidades ou inconsistências nos dados (Nazareth., 2004).

Procura demonstrar se uma população tende a relatar certas idades (digamos, aquelas
que terminam em 0 ou 5) em detrimento de outras idades.

Têm sido identificados diversos tipos de atrações pelo número 0 e 5 em detrimento de


outros números, ou pelos pares em detrimento dos ímpares, mas o índice de Whipple
mede a atração por 0 e 5.

O cálculo processa-se da seguinte forma:

- Somar o número de pessoas que têm entre 23 e 62 anos inclusive;

- Somam-se as pessoas que no intervalo considerado têm idades que terminam em 0 e


5;

- O índice é obtido fazendo a relação entre a segunda soma e 1/5 da primeira soma.

Este índice pode variar entre 100 (ausência total de concentração) e 500 (caso limite em
que todas as pessoas se declaram em idades terminadas em 0 e 5).

As Nações Unidas elaboraram uma tabela de base empírica que permite interpretar a
validade dos resultados obtidos:

Dados muito exatos < 105

Dados relativamente exatos 105-110

Dados aproximados 110-125

Dados grosseiros 125-175

Dados muito grosseiros > 175

3.5.4. O Índice Combinado das Nações Unidas (ICNU)

Este indicador, em vez de medir a atração por determinadas idades, mede a qualidade
global de um recenseamento. Trata-se de um instrumento muito cómodo de calcular e
que possibilita a realização de comparações interessantes no tempo e no espaço.

Em termos práticos, o ICNU calcula-se da seguinte forma:


1) Preparam-se os dados de modo a termos uma distribuição da população por
sexos e grupos de idades quinquenais (não convém ultrapassar os 80 anos de idade);

2) Calculam-se as relações de masculinidade em cada grupo etário dividindo os


efetivos masculinos pelos efetivos femininos e multiplicando o resultado por 100.
Exemplo 5-9 anos: RM = (275199 / 262322) × 100 = 104,91;

3) Fazem-se as diferenças sucessivas entre as diversas relações de masculinidade


obtidas, somam-se em módulo e calcula-se a diferença média para se obter o índice de
regularidade dos sexos.

Exemplo 5-9 anos: DS = 104,91-104,72 = 0,2 - calcular para todos os grupos. O primeiro
grupo 0-4 anos exclui-se por não ter informação anterior e o último, 75-79 anos, também
se excluí por não ter informação (posterior) para o cálculo do Índice de Regularidade
das Idades;

4) Soma-se todas as diferenças (DS) e divide-se pelo número de grupos etários (no
caso 14): Média = 28,7 / 14 = 2 (arredondado);

5) Para cada sexo calcula-se um índice de regularidade das idades; este índice
constrói-se calculando, em primeiro lugar, as relações de regularidade dividindo cada
grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos que o enquadram;
posteriormente fazem-se as diferenças a 100 e faz-se a média das diferenças absolutas;
Exemplo: IRI H e IRI M, dividindo cada grupo pela média dos dois que o "rodeiam" -
exemplo 5-9 anos (IRI H): 275199 / (( 275969 + 296385 ) / 2 ) = 0,96 × 100 = 96,2
arredondado às décimas;

6) A partir de IRI H e IRI M, fazer a diferença em cada grupo etário para 100 –
exemplo para 5-9 (IRI M): D100 = 100 – 96 = 4; somar estas diferenças para cada sexo
e calcular a média (dividir pelo número de grupos etários, neste caso 14);

7) Por fim, para o cálculo do valor do ICNU, multiplicar por 3 a média de DS e somar
a média de diferenças dos IRI(s) dos homens e a das mulheres.

O ICNU calcula-se dando um coeficiente 3 ao índice de regularidade dos sexos e um


coeficiente 1 aos dois índices de regularidade das idades.

De forma a facilitar a interpretação as Nações Unidas, sugerem uma grelha classificativa:

<20 – Bom

20-40 – Mau

> 40 – Muito Mau


ATIVIDADES FORMATIVAS

1.Veja os dados das estatísticas demográficas para 2001 (Nascimentos) e do


recenseamento de 20017 e quadros 2, 3 e 4 em anexo.

a). Aprecie a qualidade dos dados das estatísticas demográficas para 2001.

b). Calcule o Índice Combinado das Nações Unidas no ano de 2001.

Como considera estes dados?

7
ver em www.ine.pt
4. A DINÂMICA POPULACIONAL POR SEXO E IDADES

Objetivos

1.Descrever a evolução dos volumes populacionais de uma população, com base


no cálculo de medidas de variação desses volumes: taxas de variação, taxas de
crescimento anual médio e tempo de duplicação em anos;
2.Descrever a evolução da estrutura etária portuguesa;
3.Determinar a composição da população, segundo a idade e o sexo;
4. Perceber a metodologia de construção das pirâmides de idade e saber
identificar cada uma delas;
5. Saber calcular as Relações de masculinidade e o seu contributo na analise
demográfica;
6. Saber determinar e interpretar grupos funcionais e Índices Resumo;
7. Saber definir e analisar o envelhecimento demográfico.

4.1. TIPOS, VOLUMES E RITMOS DE CRESCIMENTO DE UMA


POPULAÇÃO

Como já vimos no capítulo 1, sobre o crescimento demográfico e a distribuição da


população, ao caracterizar uma população humana, pensamos inicialmente no seu
tamanho: quantas pessoas existem numa localidade, num determinado momento?

A distribuição geográfica pode ser avaliada pelo conhecimento da densidade da


população, isto é, a população por quilómetros quadrados (número de habitantes /
Km2).

Este valor, porém, considerado em relação ao total da área estudada, pode não traduzir
a verdadeira distribuição da população, pois esta encontra-se mais aglomerada em
certas zonas e mais dispersa noutras. Esta situação é traduzida pelo coeficiente de
localização.

Para estudar a densidade populacional é conveniente dividir o território em zonas mais


pequenas - no caso de um país, podem adotar-se as divisões administrativas, no caso
de uma cidade, podem considerar-se os bairros, etc.

A população pode ainda distribuir-se por aglomerados rurais e urbanos. A primeira reside
isolada no campo ou em pequenos núcleos. A segunda vive nas cidades ou em
povoações de certa importância populacional.
Sob o ponto de vista estatístico é necessário distinguir os aglomerados urbanos e rurais.
Um centro urbano designa uma localidade, qualquer que seja a categoria legal (cidade,
vila, aldeia) que, na sua área urbana seja demarcada pela respetiva Câmara Municipal e
que conta com 10 000 ou mais habitantes.

Pensamos também sobre a sua composição: quantas pessoas maiores de 50 anos


existem? quantas são do sexo feminino? quantas são economicamente ativas? quantas
estão casadas? Uma outra questão importante que surge é: como é que as mudanças
num ou mais destes componentes da população poderiam afetar os outros
componentes?

Como principais variáveis demográficas temos então: o tamanho da população;


distribuição por sexo, idade, estado civil; distribuição segundo a região geográfica de
residência atual, anterior e de nascimento; natalidade, fecundidade, mortalidade.

Como vimos anteriormente, a Demografia trata, pois, dos aspetos estáticos de uma
população num determinado momento - tamanho e composição -, assim como também
da sua evolução no tempo e da inter-relação dinâmica entre as várias variáveis
demográficas.

4.1.1. Tipos de População

Imaginemos a população de uma determinada área geográfica, num determinado


momento. Suponhamos também que, a partir de uma população inicial num passado
longínquo, não tenha havido entrada e saída de pessoas da área. Trata-se de uma
população fechada, isto é, sem movimentos migratórios. A trajetória entre aquela
população inicial e a população atual é totalmente explicada pelas mortes e nascimentos
ocorridos no período.

Estamos, assim, perante uma população fechada quando a sua estrutura é mantida ou
alterada apenas pelos nascimentos e óbitos, isto é, não afetada por migrações
exteriores. Neste caso existem três tipos de modificações anuais: aumento por meio da
natalidade, diminuição através da mortalidade e envelhecimento de um ano de todos os
sobreviventes (Leston Bandeira, 2004).

Se uma população fechada à migração sofre comportamentos constantes de taxas de


fecundidade e mortalidade específicas por idade, ela desenvolverá uma distribuição de
idade constante e crescerá a uma taxa constante, independentemente da distribuição
de idade inicial da mesma. Assim, os demógrafos às vezes afirmam que “populações
estáveis esquecem o seu passado.” A distribuição por idade da população estável
depende de dois itens, a saber, as taxas de mortalidade específicas por idade
subjacentes e a taxa de crescimento (Poston & Bouvier, 2017).

A estas modificações, acrescem, no caso de uma população aberta (quando está sujeita
a fenómenos migratórios): as entradas de indivíduos de diferentes idades e as saídas de
indivíduos de diferentes idades.

A população é assim de tipo Progressivo quando apresenta um número crescente de


nascimentos ano a ano. A população será de tipo Regressivo quando apresenta um
número decrescente de nascimentos ano a ano.

Finalmente, uma população estacionária diz respeito a uma população estável em que a
taxa de natalidade é igual à taxa de mortalidade, sem mudanças no tamanho da
população, logo com uma taxa de crescimento nulo (Nazareth, 2004).

4.1.2. As medidas do crescimento

Ao longo do tempo o número de habitantes de um determinado espaço modifica-se.

O número de pessoas que estão presentes num determinado espaço territorial define-
se como volume populacional. Uma população não tem sempre o mesmo número de
habitantes, evolui a um determinado ritmo (que pode ser diferente consoante os
períodos):

• Se o crescimento for positivo (crescimento positivo): a população está a aumentar

• Se o crescimento for negativo (crescimento negativo): a população está a diminuir

•Se o crescimento for nulo (crescimento zero): a população mantém-se igual.

“O jogo de entradas e saídas na população constitui o movimento de qualquer população


e o seu crescimento.” (Leston Bandeira, 2004, p 166)

A dinâmica da população está dependente de três acontecimentos relevantes:


nascimentos, óbitos e mobilidade da população. O crescimento da população tem duas
componentes: o crescimento natural e o crescimento migratório ou balança migratória.

A alteração do volume populacional é o resultado do efeito combinado destes dois


fatores: saldo natural (diferença entre nascimentos e mortes) e o saldo migratório
(diferença entre o número de pessoas que entraram e saíram do espaço territorial em
análise).
A equação demográfica seguinte significa populção no momento 1 é igual *à população
do momento 0 mais o saldo natural e o saldo migratório.

Pn=P0+(N0-O0)+(I0-E0) ou Px + n= Px+ N- O + I –E, ou seja seja Pn+1 ou Px+n =


P0 + Saldo natural + Saldo Migratório.

Suponhamos uma população que num momento 0 é P0, num momento 1 é P1, num
momento 2 é P2, num momento n é Pn e que cresce a uma taxa a.

Existem essencialmente três processos para medir o ritmo de crescimento de uma


população: o contínuo, o aritmético e o geométrico.

Para o ritmo de crescimento contínuo temos:

Pn = P0 e an (e = 2,718282)

Ln (Pn/P0) = an a = (ln (Pn/P0)) / n

No caso do ritmo de crescimento aritmético temos: a = (Pn - P0) / (P0 x n)

Para o ritmo de crescimento constante ou geométrico temos:

Pn = P0(1+a) n onde a = ritmo de crescimento que é o que quero conhecer: Log(1+a)


n nLog (1+a)

Pn = P0(1+a) n

Pn/P0 = (1+a) n

Log Pn/P0 = Log (1+a) n

Log Pn/P0 = nLog (1+a)

Nota: O Log pode ser facilmente calculado na máquina de calcular, bastando acionar a
função Log.

O resultado “a” lê-se “Em média por ano cresceu x”. Se multiplicarmos a por 100, a*100,
lê-se “Por ano, por cada 100 indivíduos aumentou (ou diminuiu ou manteve-se) x, em
média anual entre P0 e P1”.
Com base no cálculo do ritmo de crescimento geométrico podemos calcular a taxa de
variação e o tempo de duplicação em anos.

A taxa de variação tem a seguinte fórmula:

a = (Pn – P0 / P0) x 100

Exemplo: Cálculo da taxa de crescimento anual médio da população de Portugal entre


1960 e 1970, através do ritmo do crescimento aritmético e da taxa de variação.

População em Portugal

- 15/12/1960: 8 889

- 15/12/1970: 8 663

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2007

Ritmo de crescimento aritmético

a = (P1970 - P1960) / (P1960 x n)

a = (8 663 – 8 889) / (8 889 x 10)

a = - 226 / 88 890 = - 0,00254

a = - 0,25 %

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004

Taxa de variação:

a = (Pn – P0 / P0) x 100

a = (8 663 – 8 889 / 8 889) x 100

a = (- 226 / 8 889) x 100 = - 0,02542 x 100

a = - 2,54% A dividir por 10 anos é de – 0,25%

Em Portugal, no período de 1960/70, por ano e por cada 100 pessoas, a população
diminui 0,25.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004


Tempo de duplicação em anos

Com base na lógica do cálculo da taxa de crescimento geométrica podemos calcular o


tempo de duplicação em anos. Se a taxa a é uma taxa de crescimento constante, ao fim
de quantos anos n duplicará a população? Assim temos:

n = log 2/log (1+a)

Se uma população mantivesse as suas taxas atuais de natalidade e mortalidade ano após
ano, quanto tempo levaria para duplicar de tamanho? Os demógrafos às vezes usam a
Regra de 69,3 (logaritmo natural de 2 X 100) para perceber se a taxa de crescimento de
uma população é rápida ou lenta.

Ou seja, se dividirmos 69,3 pela taxa de crescimento positivo da população expressa em


percentagem, saberemos quantos anos levará a população a duplicar de tamanho
mantendo as suas taxas atuais de natalidade e mortalidade.

Exemplo:

Vamos comparar as taxas de crescimento populacional de dois países com


aproximadamente o mesmo tamanho em quilómetros, mas com taxas de crescimento
muito diferentes. A Nigéria tem uma população de 18 milhões com uma taxa bruta de
natalidade de 50 e uma taxa bruta de mortalidade de 11, o que equivale a uma taxa de
crescimento de 3,9 por cento. A Holanda tem uma população de pouco menos de 17
milhões de pessoas, com uma taxa bruta de natalidade de 10 e uma taxa bruta de
mortalidade de 8, resultando numa taxa de crescimento populacional de 0,2 por cento.

Qual é a diferença das duas taxas de crescimento de 3,9% e 0,2%?

A população da Nigéria duplicaria em menos de 18 anos e a população da Holanda


duplicaria em quase 347 anos!

Este é um cenário improvável do mundo real, uma vez que as taxas de natalidade e
mortalidade raramente são constantes, mas permite avaliar a importância de uma
determinada taxa percentual de mudança populacional (Nazareth, 1988b, 2004, 2016).

4.2. ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS: A REPARTIÇÃO POR


SEXO E IDADES

A idade e o sexo são as características mais importantes e relevantes das populações


para os demógrafos. Em primeiro lugar, os processos demográficos de fecundidade,
mortalidade e migração produzem a idade e a estrutura sexual da população, que por
sua vez influencia os processos demográficos.

Em segundo lugar, a divisão do trabalho nas sociedades tradicionais baseia-se quase


inteiramente na idade e no sexo.

Em terceiro, ao nível individual, idade e sexo são as duas primeiras características que
reconhecemos numa pessoa, principalmente com base nas aparências externas.

Em quarto, no estudo do curso de vida e do desenvolvimento humano, a idade e o sexo


permitem-nos comparar o momento dos eventos com nossas expectativas ou
cronogramas sociais.

Em quinto, ao nível social, as mudanças na distribuição de idade e sexo têm implicações


importantes para o desenvolvimento socioeconómico e demográfico, bem como para a
participação na força de trabalho e as relações de género.

A Demografia lida, deste modo, não apenas com o tamanho e crescimento da população,
mas também com a composição da população. As dimensões mais importantes da
composição, indiscutivelmente, são a idade e o sexo. A idade, em particular, está a
passar por um grande fluxo, à medida que as populações do mundo envelhecem. O
envelhecimento da população será o principal foco demográfico do século XXI.

Em 2050, pela primeira vez na história da humanidade, haverá mais idosos do que
crianças no mundo. Isso deve-se principalmente às reduções de fecundidade, mas
também reflete o fato de que a expectativa de vida aumentou.

Viver vidas mais longas é talvez a maior história de sucesso da história moderna, graças
às inovações na saúde pública, medicina e desenvolvimento económico. Ao mesmo
tempo, o envelhecimento da população pode trazer sérios desafios para a sociedade. A
dependência da velhice pode levar a uma produtividade económica reduzida e
sobrecarregar os sistemas de saúde e previdência. Mas se esses desafios forem
antecipados, podem ser compensados com as políticas sociais e económicas. Não
esquecendo que, a transição do envelhecimento precoce de uma população dependente
de jovens, para uma população em idade ativa, traz grandes oportunidades, fenómeno
conhecido como “dividendo demográfico” (Poston & Bouvier, 2017).

As sociedades constroem papéis e atribuem status com base na idade e sexo mais do
que em quaisquer outras características. Consequentemente, as nações incluem
questões sobre a idade e sexo nos questionários dos Censos. Tão importante é a
composição idade-sexo, que muitos demógrafos lhe dão um rótulo especial: a estrutura
populacional.
As mudanças em qualquer um dos processos demográficos fornecem informações,
igualmente importantes, de como as populações são compostas na sua estrutura.

Em relação à natalidade, nascem mais homens que mulheres (cerca de 105 homens para
100 mulheres).

A fecundidade, que é a possibilidade de gerar essas crianças, é possível nas mulheres


geralmente entre os 15 e os 49 anos e nos homens entre os 15 e os 79 anos.

Em relação à mortalidade, isto é, a frequência com que ocorre a morte numa população,
as mulheres têm taxas mais baixas de mortalidade do que os homens em qualquer idade.
Além disso, a mortalidade por causas específicas está geralmente também relacionada
com a idade. Justamente, no que concerne a relação entre a idade e o risco de morte,
a idade pode ser considerada a variável demográfica mais importante na análise de
mortalidade.

A migração também difere por idade e sexo. Tradicionalmente, os homens e as mulheres


não migraram para os mesmos lugares e ambientes da mesma forma e em igual número.
A migração de longa distância tende a ser maior entre os homens enquanto que as de
curta distância são predominantes no caso das mulheres, especialmente no caso nos
países em desenvolvimento. No entanto, com a maior equidade de género, a migração
feminina tende a aproximar-se da masculina. De fato, quase metade dos migrantes
internacionais agora são mulheres. A migração interna também é seletiva, com o maior
número de migrantes encontrados entre os jovens adultos.

A idade e sexo não são as únicas variáveis importantes na Demografia e outras variáveis
estão também intimamente relacionadas com o processo demográfico. O casamento e
o estado civil são importantes quando se estuda a fecundidade. A educação é uma
variável especialmente importante a considerar. Regra geral, quanto maior a educação,
menor é a fecundidade e menor é a mortalidade. De facto, todas estas variáveis são
tanto a causa quanto o efeito da mudança populacional.

A definição de idade é direta. É uma característica atribuída, embora mutável. Nos censos
da população, geralmente é definida em termos da idade de uma pessoa no seu último
aniversário.

As Nações Unidas definem idade como “o intervalo de tempo estimado ou calculado


entre a data de nascimento e a data do censo, expresso em anos solares completos”.

Na maioria dos Censos, pede-se ao entrevistado que forneça a sua idade atual, bem
como a data em que nasceu, permitindo assim que se corrija qualquer discrepância na
idade relatada do entrevistado. Este método ajuda a minimizar o efeito acumulado de
idade.

Quando os demógrafos identificam o sexo de uma pessoa ou a sua distribuição na


população, usam a definição social de auto-identificação e não considerações biológicas.

Os demógrafos, em particular, estão interessados na composição de idade e sexo das


populações, porque a estrutura de idade e sexo de uma população ajuda a compreender
a história demográfica de uma população.

Pessoas da mesma idade constituem um grupo ou coorte de pessoas que nasceram


durante o mesmo período e, portanto, foram expostas a fatos e condições históricas
semelhantes. Muitas vezes, essas experiências também variam de acordo com o sexo.

Resumindo, uma população é composta por um conjunto de pessoas, as quais não se


distribuem de forma idêntica pelas várias características. Isto significa que o número de
homens não é igual ao número de mulheres, que o número de pessoas cujo estado civil
é casado, ou solteiro, viúvo ou divorciado é diferente, que o número de pessoas nas
idades jovens, ativas ou idosas não é semelhante.

Em termos demográficos existe um traço particularmente importante desse perfil, que é


a composição da população segundo a idade ou também designado por estrutura etária.

Os efetivos de uma população são o número de indivíduos que compõem essa


população. Esses efetivos são identificados nos recenseamentos.

Os recenseamentos dão a conhecer o estado de uma população num determinado


momento do tempo. Conhecer o estado da população remete para a sua caracterização,
segundo diferentes critérios, como sejam o estado civil, a atividade económica, o grau
de instrução, o lugar de residência. A delimitação de qualquer um desses critérios conduz
à definição de diferentes subpopulações da população: população casada, população
ativa, população analfabeta, população urbana, etc.

Mas as categorias primordiais de qualquer população são como vimos rigorosamente


duas: a idade e o sexo. A bipolarização entre população masculina e população feminina
traduz diferenças de género essenciais do ponto de vista demográfico, que decorrem de
clivagens incontornáveis não apenas biológicas – em particular, no que concerne à
procriação – mas também sociais e culturais.

Quanto à importância da idade, ela decorre essencialmente de dois aspetos:

1) A ação permanente do tempo provoca mudanças das características dos indivíduos e


da população, que condicionam as suas aptidões e capacidades (efeito de idade).
2) Os comportamentos e o significado sociodemográfico de cada classe etária variam
consoante as épocas (efeito de geração) (Nazareth, 2004).

4.2.1. Pirâmide de idades

A pirâmide de idades ou pirâmide populacional é uma representação gráfica da estrutura


de idade/sexo da população. A pirâmide de idades sintetiza o estado da população num
dado momento.

Uma pirâmide populacional nada mais é do que dois histogramas comuns (gráficos de
barras), representando as populações masculina e feminina, geralmente agrupados em
categorias etárias de 1 ou 5 anos, posicionados lado a lado.

Trata-se, assim, de um duplo histograma, formado por uma ordenada comum (vertical)
- que representa as idades (aniversários) – e duas abcissas, que representam os efetivos,
respetivamente do sexo masculino (à esquerda) e do sexo feminino (à direita).

Em suma, a construção das pirâmides de idades tem como base os grupos de idades
consideradas e os sexos correspondendo aos retângulos dos histogramas.
Convencionou-se que os efetivos do sexo masculino figuram à esquerda do eixo e os
efetivos do sexo feminino à direita do eixo do gráfico.

Existem três grandes tipos de pirâmides de idade:

1. Em Acento Circunflexo – populações jovens

Figura 3. Pirâmide em acento circunflexo


Esta pirâmide tem uma base muito larga (elevadas proporções de jovens), que diminui
rapidamente conforme se evolui para as idades mais avançadas, pelo que apresenta um
topo com efetivos reduzidos (diminutas proporções de pessoas idosas). Justamente,
trata-se de uma pirâmide de países com elevados níveis de natalidade e mortalidade. A
pirâmide em acento circunflexo é típica de populações de países em vias de
desenvolvimento, das populações do Antigo Regime ou das sociedades tradicionais.

2. Em Urna – muita população a meio da pirâmide

A pirâmide em Urna remete para populações onde se assiste a uma progressiva quebra
da fecundidade e da mortalidade. Neste tipo de pirâmide, a base destaca-se como a
parte mais reduzida do gráfico (baixas proporções de jovens) e apresenta um topo mais
cheio (elevadas proporções de pessoas idosas). Nestes casos, a pirâmide toma o formato
de uma urna e é típica dos países desenvolvidos que se encontram na última fase da
transição demográfica.

Figura 4 - Pirâmide em urna


3. Em Às de Espadas - população envelhecida

Figura 5 - Pirâmide em Às de Espadas

Este gráfico assume a forma de um Às de Espadas ou maçã, pois a parte mais larga da
pirâmide corresponde às idades intermédias. Face à diminuição da fecundidade, a
natalidade acaba por cair para valores muito baixos e a base da pirâmide diminui – a
representatividade dos idosos na população torna-se superior à dos jovens. Nestes
casos, os níveis de natalidade já estão muito baixos e, por isso, a base da pirâmide é
alimentada com menos indivíduos, o que provoca o seu estreitamento – trata-se do
envelhecimento na base da pirâmide.

Por outro lado, a mortalidade também é baixa, o que provoca um aumento das classes
correspondentes aos idosos – trata-se do envelhecimento no topo da pirâmide.

A distribuição da população por sexo e idade é registada na altura dos recenseamentos


da população. Os efetivos da população masculina e feminina são dados por cada ano
de idade, constituindo uma informação exaustiva de base.

Como não é prático trabalhar a informação assim apresentada, convencionou-se agrupar


as idades em classes, para facilitar a leitura e a análise dos dados.
A OMS recomenda os seguintes agrupamentos para fins gerais:

<1 ano, de ano a ano até aos 4 anos inclusive, por grupos de cinco anos (desde os 5
anos aos 84 anos), de 85 e mais anos.

O efetivo de cada grupo de idades (absoluto ou relativo) é representado por um


retângulo cuja área é proporcional ao efetivo respetivo. Quando a distribuição por idades
é dada por classes de igual intervalo, a construção do gráfico não oferece dúvida, pois
as bases do retângulo correspondem à amplitude das classes e o comprimento aos
efetivos correspondentes.

Sempre que a distribuição por idades é feita em grupos etários de diferentes amplitudes,
torna-se necessário reduzir os efetivos a uma unidade comum.

Exemplo:

Idades Efetivos masculinos Efetivos femininos

0 X Y

1-4 X+1 Y +1

5-9 X+2 Y+2

10 - 14 X+3 Y+3

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004

Assim, temos:

A altura ou base do retângulo que corresponde ao número de anos ou do grupo de


idades considerado.

O comprimento do retângulo que corresponde ao efetivo E do grupo de idades


considerado dividido pelo intervalo de classe, isto é, E/N. A área do retângulo é igual ao
produto do comprimento pela altura.

Construção das Pirâmides de idade (estruturas relativas e grupos de idades


quinquenal)

1.º – Calcula-se a estrutura etária relativa – sexos separados:

Divide-se a população (sexos separados) de cada grupo de idades pelo total da


população (sexos reunidos) e multiplica-se cada resultado por 100.
Grupos de Idade Homens Mulheres Homens (%) Mulheres (%)

0–4 30 25 2,0 1,7

5–9 25 22 1,7 1,5

..

..

75 – 79 10 14 0,7 0,9

80 + 15 25 1,0 1,7

Total 1500 100 100

No caso do último grupo de idades (aberto), se os seus valores forem superiores aos do
grupo fechado anterior dividem-se esses valores por 2 até se obterem valores
dificilmente representáveis.

Objetivo: não deformar o topo da pirâmide.

Grupos de idades (Anos) Homens (%) Mulheres (%)

80 -84 0,5 0,9

85 - 89 0,3 0,4

90+ 0,2 0,4

2.º. Conta-se o número de G.I que se vão considerar

(no caso: do GI de 0 - 4 ao GI de 90 e mais anos existem 19 GI )

3.º. Verifica-se qual a percentagem (%) máxima obtida (por hipótese 6%)

4.º O eixo das abcissas (horizontal) é constituído por dois sub-eixos: à esquerda (sexo
masculino), à direita (sexo feminino) - (cada sub-eixo vai variar de 0% a 6%) - e fixa-
se uma medida a atribuir a cada variação de 1% (por exemplo 1 cm).

5.º. Traça-se a base, deixando um espaço para o corredor central (onde se irão colocar
os grupos de idades).
6.º A altura da pirâmide deve ser encontrada após a aplicação do seguinte princípio:
altura = 2/3 da base. (altura = 2/3 *12 cm ou seja = 8 cm)

7.º. Determina-se a escala a atribuir a cada grupo de idades dividindo-se a altura total
pelo número de grupos de idade considerados.

(8 cm/19 GI = 0,4 cm - Se se considerar 0,5 cm para cada GI a altura total da pirâmide


(9,5 cm) continuará menor que a largura da base).

8.º. Por fim, traça-se o eixo vertical e representa-se, para cada GI (sexos separados),
as % correspondentes, sendo o comprimento de cada retângulo proporcional a essas
percentagens.

Os Gráficos seguintes mostram as pirâmides de Portugal nos Recenseamentos de 2001


e 2011.

Figura 6 - Pirâmides de Portugal nos Recenseamentos de 2001 e 2011

Fonte: INE – Recenseamento geral da população


Como se pode observar através da largura da base das pirâmides, o Continente
apresenta em 2001 uma população mais jovem do que em 2011. A pirâmide de 2011
apresenta uma forma mais estreita na base, denotando uma população envelhecida na
base e no topo.

A diminuição das taxas de natalidade é evidente no afunilamento das pirâmides, em


2001 e em 2011, nas classes dos 0 aos 15 anos.

Finalmente, para se comparar 2 pirâmides de idades ou 2 populações devem-se


comparar no tempo assim como comparar no espaço.

4.2.2. As relações de masculinidade

Deve-se sempre complementar uma pirâmide de idades com o cálculo das relações de
masculinidade por grupos de idade.

De facto, as pirâmides de idades não são simétricas. Em primeiro lugar nascem mais
rapazes que raparigas o que faz com que a base de uma pirâmide seja sempre maior do
lado masculino do que do lado feminino.

Em segundo lugar, a mortalidade que é o fator decisivo na redução dos efetivos é sempre
mais precoce no sexo masculino. Assim, conforme avançamos na idade, a superioridade
dos efetivos masculinos vai diminuindo, geralmente entre os 20-30 anos de idade a
importância dos sexos é igual, e nos últimos grupos de idades o sexo feminino apresenta
sempre maior volume populacional do que o sexo masculino.

“Este modelo natural, que é formado apenas pela evolução e pelos níveis de mortalidade
e de natalidade, pode, no entanto, ser perturbado por outros fatores, tais como: as
migrações, por serem movimentos que normalmente incidem mais em determinados
grupos etários” (Nazareth, 2004, p. 113).

Em cada população ou em cada classe etária, torna se por estes motivos necessário
analisar a representação quantitativa dos efetivos masculinos e dos efetivos femininos.

Esta representação é medida relacionando os efetivos masculinos com os efetivos


femininos e designa-se por relação de masculinidade.

A relação de masculinidade exprime-se pelo quociente seguinte:

Rm = Pm / Pf x 100

Podemos, também, medir a relação de masculinidade nas diferentes classes etárias x:


Rm (x) = Pm (x) / Pf (x) x 100

A comparação entre efetivos masculinos e femininos deve ser calculada no momento do


nascimento.

Porém, neste caso, a relação de masculinidade é medida a partir de dados do movimento


da população, os nascimentos.

Rm (n) = N (m) / N (f) x 100

Em qualquer população, a relação de masculinidade no nascimento varia entre 105 e


107 nascimentos masculinos para 100 nascimentos femininos. Esta assimetria altera-se,
contudo, com o efeito da idade.

Exemplo:

Segundo o recenseamento de 1991, residiam em Portugal 9 862 540 pessoas, das quais
4 754 632 do sexo masculino e 5 107 908 do sexo feminino. Na classe etária dos 10 aos
15 anos tínhamos 398 442 rapazes e 383 142 raparigas. Nesse ano nasceram 116 383
crianças, dos quais 59 953 eram do sexo masculino e 56 430, do sexo feminino. Logo:

Rm 1991 = 4 754 632 / 5 107 908 x 100 = 93,08

Rm (10-15) 1991 = 398 442 / 383 142 = 104,0

Rm (n) 1991 = 59 953 / 56 430 = 106,24

Significa que no conjunto da população portuguesa, em 1991, por cada 100 pessoas do
sexo feminino havia 93,08 do sexo masculino e que por cada 100 raparigas dos 10 aos
15 anos havia 104,0 rapazes. Nesse ano, houve 106,24 nascimentos masculinos por cada
100 nascimentos femininos (Nazareth, 1988b, 2004, 2016).

4.2.3. Os Grupos Funcionais

Em análise demográfica, quando se quer ter uma visão rápida da evolução ou da


diversidade das estruturas, opta-se por compactar a informação segundo determinados
critérios. O mais importante é o da idade, ou seja, concentra-se num reduzido número
de grupos a totalidade da informação, tornando mais funcional a análise: são os grupos
funcionais.

A população passa a estar dividida em três grandes grupos etários, sexos separados ou
reunidos:
Jovens J 0 -19 anos ou 0 - 14 anos

Ativos A 20 - 59 anos ou 15 - 64 anos

Idosos I 60+ anos ou 65+ anos

Os grupos funcionais expressam, assim, essencialmente o peso relativo dos três grandes
grupos sociodemográficos presentes em qualquer população.

Geralmente, parte-se do princípio de que no grupo de menos de 15 anos, existe um


escasso potencial produtivo e grande consumo de bens.

No grupo dos 15 aos 64 anos, temos um grupo considerado economicamente ativo em


que geralmente a sua produção excede o consumo.

O grupo dos 65 e mais anos, traduz um grupo com uma produtividade reduzida, mas
ainda com um menor índice de consumo comparado com o grupo de população com
menos de 15 anos (Nazareth, 2004).

A importância relativa destes dois grupos mede o grau de envelhecimento da população.

Uma vez decomposta uma estrutura demográfica em grupos funcionais, torna-se


necessário proceder à sua manipulação no sentido de os transformar em indicadores
que resumam a informação existente numa repartição por sexos e idades: são os índices-
resumo (Nazareth, 1988b, 2004, 2016).

4.2.4. Índices Resumo

Na análise da estrutura etária das populações devem calcular-se certas relações entre
efetivos, não só para observar a sua evolução ao longo dos anos, mas também para
avaliar certas implicações socioeconómicas.

Temos assim:

• Percentagem de jovens: (pop. 0-14 Anos/ população total) x 100

Este indicador mede a importância da juventude na população, medindo de igual modo


o envelhecimento demográfico na base da pirâmide de idades.

• Percentagem de “potencialmente ativos”: (pop. 15-64 Anos/ população total) x 100

Este indicador mede o potencial demográfico dos ativos.

• Percentagem de idosos: (pop. 65 e + anos/ população total) x 100


Este indicador mede a importância dos idosos na sociedade, medindo igualmente o
envelhecimento demográfico no topo da pirâmide de idades.

O conjunto destes indicadores permite fazer a seguinte leitura: Por cada 100 pessoas
temos x jovens, y potencialmente ativos, e z idosos.

• Índice de Juventude: (pop. 0-14 anos/ população 65 e + anos) x 100

Este indicador mede igualmente o envelhecimento demográfico, e permite comparar


diretamente a população jovem com a população idosa.

• Índice de Envelhecimento: (pop. 65 e + anos/ pop. 0-14 anos) x 100.

Por sua vez, este indicador de medida do envelhecimento, compara diretamente a


população idosa com a população jovem.

Leitura dos indicadores: Por cada 100 idosos existem x jovens (Índice de Juventude) e
por cada 100 jovens existem x idosos (Índice de Envelhecimento).

A relação de dependência traduz o encargo que os grupos inativos representam para os


grupos ativos. Temos, assim:

• Índice de Dependência de Jovens : (pop. 0-14 anos/ população 15-64 anos) x 100

• Índice de Dependência de “Idosos”: (pop. 65 e + anos/ população 15-64 anos) x 100

• Índice de Dependência Total: (pop. 0-14 anos e 65 e + anos/população 15-64 anos) x


100

Leitura dos indicadores: Por cada 100 potencialmente ativos temos x jovens e y idosos.

4.2.5. O Envelhecimento da População

Em demografia existem dois tipos de envelhecimento, o envelhecimento de base,


quando o número de jovens começa a diminuir, e o envelhecimento de topo quando o
peso das pessoas de idade mais avançada aumenta.

As causas do envelheciemnto demográfico podem ser várias, a queda da fecundiade, a


melhoria das condições gerais de saúde, e os movimentos migratórios, que podem atuar
como travão ou acelaração do processo global de envelhecimento demográfico.
Uma população ou cresce ou envelhece. Em Portugal um fator que tem um lugar
importante na explicação da evolução das estruturas demográficas é a migração externa
e interna (Nazareth, 2009).

“(…) Na história das populações europeias, o envelhecimento demográfico é um fato


inteiramente novo que significa que, numa dada população, a proporção de idosos deixa
de ser estável (à volta de 5-6%) e começa a aumentar progressivamente, ultrapassando,
num dado momento, a fasquia dos 10%.” (Leston Bandeira, 2004, p. 183).

Pensou-se durante muito tempo que o envelhecimento demográfico teve a sua origem
na baixa da natalidade e da mortalidade. Atualmente, pensa-se ainda que o aumento da
esperança de vida e a baixa da mortalidade determinaram o envelhecimento
demográfico. Não obstante, verificou-se que nas populações onde esse fenómeno
predomina, foi provocado essencialmente pela quebra da natalidade e não pela baixa da
mortalidade. Constata-se, assim, que o envelhecimento acontece nas populações onde
tendencialmente a natalidade é baixa (Leston Bandeira, 2004).

Mas a verdade é que a população mundial está a envelhecer e todos os países do mundo
estão a assistir a um crescimento no número e na proporção de pessoas idosas da sua
população.

O envelhecimento populacional está prestes a tornar-se numa das transformações


sociais mais significativas do século XXI, com implicações transversais a todos os setores
da sociedade – no mercado laboral e financeiro; na procura de bens e serviços como a
habitação, nos transportes e na proteção social; e nas estruturas familiares e laços
intergeracionais.

Estima-se que o número de idosos, com 60 anos ou mais, duplique até 2050 e mais do
que triplique até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050
e 3,1 mil milhões em 2100.

Em todo o mundo, a população com 60 anos ou mais está a crescer mais rapidamente
do que todos os grupos etários mais jovens. A população com mais de 60 anos está a
crescer a uma taxa de cerca de 3% por ano. Em 2017 estimava-se que, em todo o
mundo, 962 milhões de pessoas tinham 60 anos ou mais – representando 13% da
população global. Atualmente, a Europa tem a maior percentagem da população com 60
anos ou mais (25%). O envelhecimento rápido também ocorrerá noutras partes do
mundo e até 2050 todas as regiões do mundo, exceto África, terão quase um quarto ou
mais das respetivas populações com mais de 60 anos.
Globalmente, o número de pessoas com 80 anos ou mais deverá triplicar até 2050
passando de 137 milhões, em 2017, para 425 milhões em 2050. As pessoas mais velhas
são cada vez mais vistas como contribuintes para o desenvolvimento, cujas
competências devem estar interligadas com políticas e programas transversais.

No entanto, nas próximas décadas, muitos países irão enfrentar pressões fiscais e
políticas na esfera dos sistemas públicos de saúde, providência e proteção social para a
população com a faixa etária mais avançada (Organização das Nações Unidas, 2021).

No contexto português vários são os autores e autoras que aprofundaram o tema do


envelhecimento demográfico, nas duas últimas décadas. No estudo coordenado por
Leston Bandeira (2014), é referido que o envelhecimento da população portuguesa
começou na década de 1960 – época em que a natalidade se mantinha ainda
relativamente elevada – sob o efeito de dois tipos de emigração: movimentos externos
para países europeus e movimentos internos para o litoral urbano. A emigração
portuguesa das décadas de 1960 e de 1970 foi a principal causa do início do processo
de envelhecimento da população, não apenas porque provocou um forte défice de
população adulta activa, mas também por que influenciou decisivamente o início da
revolução contraceptiva e da queda da natalidade, que serão os factores decisivos da
progressão do envelhecimento. No recenseamento de 2011, foi no grupo dos idosos,
dos maiores de 65 anos, que o acréscimo populacional foi mais intenso, rondando os
241 %. Quanto aos mais idosos, indivíduos com idade superior aos 75 anos, o aumento
foi de quase 40 %. Assim, de 1950 para 2011, a proporção de jovens na população
portuguesa diminui progressivamente dos quase 30 % para os 15 % (Leston Bandeira
(Coord., 2014). Houve um duplo processo de envelhecimento, que resultou num
aumento significativo do índice de envelhecimento, que passa dos cerca de 24 idosos
por cada 100 jovens, em 1950, para 128 em 2011. Progressivamente, o índice de
longevidade foi também apresentando ligeiros acréscimos, espelhando o aumento das
gerações mais idosas, isto é, o aumento crescente da população com mais de 75 anos
relativamente aos maiores de 65 anos (Leston Bandeira (Coord,, 2014).

Ana Alexandre Fernandes foi das autoras que mais se debruçou sobre esta temática do
envelhecimento demográfico. Analisou os problemas decorrentes do envelhecimento e
das soluções encartadas para lhe fazer face, as transformações respeitantes à velhice
integradas nas alterações observadas na sociedade portuguesa, especialmente, as
alterações na estrutura familiar bem como as transformações da política social do Estado
dirigida aos problemas da velhice. Segundo Fernandes (2001), o envelhecimento
demográfico das populações é um fenómeno irreversível das nossas sociedades
modernas. Os impactos que se têm vindo a fazer sentir, entre os quais sobressai a
sustentabilidade financeira dos sistemas de reformas, interferem nos equilíbrios
individuais e colectivos, relativos às idades da vida e ao ciclo de vida ternário. « Velhos »
e reformados » são agora duas categorias sociais, dois conceitos que tendem a
demarcar-se. A velhice surge então associada às dificuldades decorrentes da aquisição
gradual de incapacidades. A família, as solidariedades intergeracionais e as políticas
sociais debatem-se com este desafio, procurando encontrar as melhores soluções e as
respostas mais adequadas à diversidade dos problemas (Fernandes, 2001 ; 2007).

Também Maria João Valente Rosa tem inúmeras publicações na área do envelhecimento.
No ensaio sobre o envelhecimento da Sociedade Portuguesa (Valente Rosa, 2012)
começa por falar das razões que conduziram à situação demográfica em que nos
encontramos. Argumenta que a aflição com o envelhecimento da população é muito
explicada por um outro envelhecimento mais profundo: a incapacidade de a sociedade
adaptar as suas estruturas sociais e mentais à evolução dos factos. Propõe um rumo
alternativo de organização social sintonizado com as realidades sociodemográficas em
curso. Todos envelhecemos, por isso o envelhecimento individual (de cada um de nós)
faz parte do nosso quotidiano. Porém, começámos recentemente a ser confrontados com
um outro envelhecimento, de tipo coletivo: o envelhecimento da população em geral. A
população envelhece porque a Humanidade cresceu em conhecimento técnico-científico
e as condições de vida das populações melhoraram. Mas, apesar de o envelhecimento
populacional poder ser percebido como uma história de sucesso, é frequentemente
entendido como uma verdadeira ameaça ao futuro da sociedade em que vivemos
(Valente Rosa, 2012). Pode-se falar em longevidade em vez de envelhecimento.
ATIVIDADES FORMATIVAS

1. Com base nos dados apresentados no quadro seguinte (população portuguesa,


distribuída por grupos etários quinquenais, para 1991 – sexos separados e reunidos):

Figura 7 - População portuguesa, distribuída por grupos etários quinquenais, para


1991 – sexos separados e reunidos

Grupos etários Homens Mulheres HM

0-4 278679 544309

5-9 331337 646161

10-14 398620 781933

15-19 428240 845588

20-24 386651 765248

25-29 359556 726628

30-34 340986 694606

35-39 321775 661076

40-44 307655 634519

45-49 271665 569623

50-54 265623 559346

55-59 263265 562041

60-64 245150 533325

65-69 211990 470049

70-74 149226 344747

75-79 109813 271089

80 + 86544 256859

Total 4 756 775 9 867 147

Fonte INE, recenseamento da população 1991.


a) Preencha a coluna do efetivo de mulheres.

b) Calcule a percentagem de jovens, de pessoas em idade ativa e idosos (sexos


reunidos)

c) Calcule, para os sexos reunidos, o índice de envelhecimento, a relação de


dependência total, a relação de dependência de jovens. Interprete cada um dos
resultados obtidos.

d) Construa a pirâmide de idades e o gráfico das relações de masculinidade.


Comente as figuras obtidas.

2. Observe o seguinte quadro:

Figura 8– Índices 1981 e 1991

Índices 1981 1991

% de Jovens 25,5 20,0

% pop. Ativa 63,0 66,4

% de Idosos 11,4 13,6

Índice de Envelhecimento- IE (%) 44,9 68,1

Relação de Dependência dos Jovens – RDJ


40,5 30,1
(%)

Relação de Dependência dos Idosos – RDI


18,2 20,5
(%)

Relação de Dependência Total – RDT (%) 58,6 50,6

a) Comente a evolução dos índices apresentados de 1981 para 1991.


5. NATALIDADE, FECUNDIDADE, NUPCIALIDADE E
DIVÓRCIO

Objetivos

1. Conhecer a lógica do cálculo das taxas Brutas de Natalidade, enquanto


medidas elementares de análise;

2. Aplicar o conceito de taxa às Taxas de Fecundidade Geral;

3. Conhecer alguns tipos particulares de fecundidade;

4. Conhecer medidas elementares de análise da nupcialidade e divórcio.

5.1. A NATALIDADE E A FECUNDIDADE

A procriação, ou fecundidade, das populações tem recebido mais atenção dos


demógrafos do que qualquer outro tópico, e há várias razões para isso.

Primeiro, a fecundidade determina em grande parte a estrutura etária de uma população.


Uma alta fecundidade é responsável pela dependência de jovens em algumas regiões.
O declínio da fecundidade é responsável por um envelhecimento das populações noutras
regiões. A variável fecundidade também criou grandes flutuações em tamanho de coorte,
como os baby-boomers, em muitos países.

Uma segunda razão para o interesse na fecundidade é a sua contribuição para o


crescimento populacional. Uma fecundidade elevada, depois da mortalidade começar a
diminuir, produziu o episódio de crescimento populacional mais explosivo dos tempos
modernos. Uma das razões é que o potencial biológico para a procriação, ou seja, a
fertilidade, está cada vez mais sob controlo voluntário, desde o século passado. Como
resultado, as pessoas podem planear as suas gravidezes e os formuladores de políticas
podem razoavelmente tentar influenciar essas escolhas.

Embora a fecundidade continue a ser a força motriz do crescimento da população


mundial, a fecundidade mundial provavelmente nunca foi tão baixa como é hoje, e é
improvável que aumente muito no futuro próximo. Mais de um terço de todas as nações
e praticamente todas dos países mais desenvolvidos, têm níveis de fecundidade abaixo
daqueles que substituiriam as suas populações existentes. Além disso, o declínio da
fecundidade espalhou-se para muito menos países desenvolvidos (Nações Unidas,
2013). As causas, as consequências e o futuro curso provável desta transição da
fecundidade mundial estão entre as questões demográficas mais atraentes do nosso
tempo (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 219).

Tal como acontece com a mortalidade, a característica principal da natalidade no século


XX e XXI é o seu declínio, declínio esse que é em geral posterior ao da mortalidade. Em
muitos países não desenvolvidos esse declínio ainda não ocorreu ou está ainda no início
do processo.

Nos países não desenvolvidos, esse declínio, quando já ocorreu, é relativamente recente.
A África, no conjunto do continente, tem os níveis mais elevados, o que indica que na
maior parte dos países africanos o declínio da natalidade ainda não ocorreu. Ao
observarmos as diferenças entre as regiões, facilmente nos damos conta de que existe
uma grande diversidade de situações; nos restantes continentes, além de valores globais
bastante mais baixos, as diferenças deixam de ser tão acentuadas.

Como consequência, desenvolveram-se estudos para procurar as causas do declínio da


natalidade. Mas a procura dessas causas não é tão simples como no caso da mortalidade.
Se nesta última podemos encontrar uma variável global - as condições gerais de saúde
- com diferentes variáveis específicas, o mesmo não acontece com a natalidade, onde
existem vários fatores bastante diferenciados responsáveis pela sua evolução: fatores
biológicos, relações sexuais, leis e costumes, divórcio, viuvez e abstinência, contraceção
e aborto, fatores económicos, fatores sociais, fatores culturais, urbanismo e
escolaridade.

A fecundidade não é alheia ao meio. Existem determinantes diretos e indiretos que


influem na fecundidade. A educação/escolaridade é um determinante indireto da
fecundidade enquanto que os métodos contracetivos são determinantes diretos.

Os demógrafos estão interessados em saber onde e como, e que fatores sociais,


económicos, culturais e ambientais influenciam a probabilidade de uma mulher ter um
bebé, ou ficar grávida, ou qual o número de bebés que ela terá na sua vida.

Os demógrafos mostraram, por exemplo, que quanto mais anos de educação uma
mulher tem, menos filhos ela terá. Por que seria? Por que mais anos de educação
completa resultariam, ao contrário, numa mulher que tinha poucos filhos? Um dos
motivos é que as mulheres que ficam mais tempo na escola tendem a casar-se mais
tarde e adiar os filhos, em comparação com as mulheres que frequentaram a escola por
um menor período de tempo. Assim, a variável educacional tem uma influência na
fecundidade através das chamadas variáveis intermediárias que se encontram entre a
fecundidade e as variáveis sociais, económicas, culturais e ambientais.
Em 1956, dois demógrafos -Kingsley Davis e Judith Blake - escreveram um artigo sobre
as variáveis comportamentais e biológicas que são "intermediárias" e que influenciam
diretamente a fecundidade. Estes demógrafos elencaram os determinantes próximos da
fecundidade na ordem da sequência de tempo envolvida na produção de bebés em três
estágios: (1) relação sexual, (2) conceção e (3) gestação e parto.

Concluiu-se que os fatores que explicam a grande maioria da variação na fecundidade


entre grupos são os seguintes: proporção das uniões; uso de anticoncetivos; infertilidade
pós-parto e aborto (Bongaarts, 1982).

Se especificarmos os determinantes próximos da fecundidade de coorte muito alta ou


muito baixa para um grupo de pessoas, estamos numa posição melhor para direcionar
uma política para influenciar essa fecundidade. Se os pobres têm mais filhos porque têm
menos acesso a meios anticoncetivos modernos, podemos fornecer esses anticoncetivos
com mais facilidade do que podemos melhorar o padrão de vida, embora este seja
certamente um objetivo digno por si só. Na verdade, a maioria das políticas modernas
de redução da fecundidade nas regiões menos desenvolvidas tem sido baseada em
programas de planeamento familiar com base nesta explicação causal (Lundquist,
Anderton, Yaukey, 2015, pp 245- 247; Poston & Bouvier, 2017, pp 74-77).

5.1.1. A Taxa Bruta de Natalidade

A Taxa Bruta de Natalidade mede a frequência anual da natalidade por cada mil
habitantes. Este instrumento de medida refere-se à relação entre os nascimentos
ocorridos num determinado espaço geográfico e a respetiva população média8 durante
um determinado período de tempo, normalmente um ano civil (habitualmente expressa
em número de nados-vivos por 1000 (10^3) habitantes).

As taxas brutas de natalidade possibilitam a observação das tendências da natalidade ao


longo de períodos mais ou menos longos, apresentando-se como bons instrumentos de
comparação.

8
População calculada pela média aritmética dos efectivos em dois momentos de observação, habitualmente
em dois finais de anos consecutivos (INE-Metainformação).
Figura 9
Taxa bruta de natalidade
Que países têm mais e menos bebés por 1.000 residentes?
Grupos/Países Taxa bruta de natalidade

Anos 1960 2019


Pro 9,3
UE27 (2020) - União Europeia 27 (desde 2020) -
DE - Alemanha 17,4 Pro 9,4
AT - Áustria 17,9 9,6
BE - Bélgica 16,8 10,1
BG - Bulgária 17,8 8,8
CY - Chipre - Pro 10,9
HR - Croácia 18,4 8,9
DK - Dinamarca 16,6 10,5
SK - Eslováquia 21,7 10,5
SI - Eslovénia 17,6 9,3
ES - Espanha 21,7 Pro 7,6
EE - Estónia 16,7 10,6
FI - Finlândia 18,5 8,3
FR - França 17,9 Pro 11,2
GR - Grécia 18,9 Pro 7,8
HU - Hungria 14,7 9,5
IE - Irlanda 21,5 s 12,1
IT - Itália 18,1 Pro 7,0
LV - Letónia 16,7 9,8
LT - Lituânia 22,5 9,8
LU - Luxemburgo 16,0 10,0
MT - Malta 26,2 8,6
NL - Países Baixos 20,8 Pro 9,7
PL - Polónia 22,6 9,9
PT - Portugal 24,1 8,4
CZ - República Checa 13,4 10,5
RO - Roménia 19,1 Pro 9,6
SE - Suécia 13,7 11,1
UK - Reino Unido 17,5 Pro 10,7
IS - Islândia 28,0 12,3
NO - Noruega 17,3 10,2
CH - Suíça 17,7 10,0
Taxa bruta de natalidade
Fontes de Dados: Eurostat | NU | Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de
Dados Rapid, Joint, Nowcast
Fonte: PORDATA
Última actualização: 2020-11-09

A taxa bruta de natalidade obtém-se através do quociente entre o número dos


nascimentos (nados-vivos) ocorridos, durante um período em análise, e a população
média desse período.
TBN = Nascimentos /População Média *1000

Exemplo:

Total de Nados-vivos (1990): 116 383 População média total (1990): 9 862 540

TBN1990 = _116383_ *1000=11,8‰

9 862 540

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Apesar de ser um indicador muito utilizado, sobretudo como medida comparativa, deverá
ter-se em conta que a taxa bruta de natalidade, tal como todas as taxas brutas, é
enviesada pelos efeitos de estrutura das populações (quanto às diferenciações existentes
por idade e sexo).

5.1.2. A Taxa de Fecundidade Geral

A Taxa de Fecundidade Geral mede a frequência da fecundidade no conjunto da


população feminina em idade de procriar. Este instrumento de medida refere-se à
relação entre o número de nados-vivos observado durante um determinado período de
tempo, normalmente um ano civil, e o efetivo médio de mulheres em idade fértil (dos
15 aos 49 anos) desse período (habitualmente expressa em número de nados-vivos por
1000 (10^3) mulheres em idade fértil).

Figura 10
Taxa de fecundidade geral
Quantos filhos existem em cada 1.000 mulheres em idade fértil?
Anos Taxa de fecundidade geral
1961 95,7
1962 96,6
1963 93,0
1964 95,3
1965 93,0
1966 92,7
1967 91,7
1968 89,6
1969 88,3
1970 84,6
1971 84,6
1972 81,0
1973 79,1
1974 77,8
1975 80,0
1976 82,2
1977 79,0
1978 72,3
1979 68,5
1980 ┴ 66,9
1981 63,7
1982 62,7
1983 59,5
1984 58,5
1985 53,1
1986 51,4
1987 49,8
1988 49,2
1989 47,6
1990 46,5
1991 46,3
1992 45,5
1993 44,9
1994 42,8
1995 41,8
1996 42,8
1997 43,6
1998 43,7
1999 44,6
2000 45,9
2001 43,0
2002 43,6
2003 42,9
2004 41,8
2005 42,1
2006 40,7
2007 39,7
2008 40,8
2009 39,0
2010 40,0
2011 38,6
2012 36,3
2013 33,9
2014 34,3
2015 36,0
2016 37,1
2017 37,2
2018 37,9
2019 37,9

Taxa de fecundidade geral


Fontes de Dados: INE - Estatísticas de Nados-Vivos
INE - Estimativas Anuais da População Residente
Fonte: PORDATA
Última actualização: 2020-06-15

A taxa de fecundidade geral obtém-se através do quociente entre o número dos


nascimentos (nados-vivos) ocorridos numa população, durante um período em análise,
e a população média total feminina em idade fértil (dos 15 aos 49 anos) desse período.

TFG = Nascimentos/ População média feminina dos 15 aos 49 anos*1000

Exemplo:

Total de nados-vivos (1990): 116 383

População média total feminina dos 15-49 anos (1990): 2 479 494

TFG1990 = ___116 383___ * 1000= 46,9‰

2 479 494

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

A taxa de fecundidade geral, referida ao total da parcela de mulheres dos 15 aos 49


anos, anula em parte os efeitos perturbadores da estrutura. Todavia, tal como a taxa
bruta de natalidade, pode ser considerada uma medida de tipo global. Numa análise
mais fina do comportamento da fecundidade, são as taxas de fecundidade por idades
das mulheres que assumem maior pertinência.

As taxas de fecundidade geral por idades ou taxas específicas de fecundidade medem a


frequência da fecundidade que ocorre em grupos da população feminina determinados
em função da idade. As taxas obtêm-se através dos quocientes entre o número dos
nados-vivos por idades das mães ocorridos numa população, durante um período em
análise, e a população média feminina por idades, desse período.
Exemplo:

Para a classe etária dos 15 aos 19 anos

TFG (15-19) = Nados-Vivos por idades das mães (15-19)/População Média


Feminina (15-19)*1000

É a partir das taxas de fecundidade por idades que se podem calcular os indicadores
relativos à intensidade e ao calendário da fecundidade.

5.1.3. O Índice Sintético de Fecundidade

O Índice Sintético de Fecundidade (ISF) consiste numa estimativa do número médio de


filhos que uma mulher tem ao longo da vida. Nesse sentido, esse indicador relativo à
intensidade da fecundidade expressa a condição reprodutiva média das mulheres de um
determinado local, sendo um dado importantíssimo para a análise da dinâmica
demográfica.

O ISF define-se como o número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade
fértil, admitindo que as mulheres estariam submetidas às taxas de fecundidade
observadas no momento. É o valor resultante da soma das taxas de fecundidade por
idades, ano-a-ano ou grupos quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num
determinado período (habitualmente um ano civil). No caso de grupos quinquenais,
multiplica-se o valor da soma por 5 (amplitude de cada grupo etário).

ISF = (∑ taxas de fecundidade por idades/1000) *5

Exemplo:

∑ Taxas de Fecundidade Geral por idades * 5 anos = Índice Sintético de Fecundidade,


ou seja, ∑ T.F.G. * 5 = I.S.F.

1.º. Calcula-se as TFG em cada um dos grupos etários (nascimentos em cada um dos
grupos etários / população média feminina em cada um dos grupos etários), ou seja,
TFG (GE) = Nados-Vivos por idades das mães (GE)/População Média Feminina (GE)

2.º. Somam-se todas as TFG calculadas para os grupos etários


3.º. Multiplica-se o somatório das T.F.G. por grupos etários por 5, que corresponde à
amplitude de cada grupo etário.(*)

(*) Nota: No caso de já se ter multiplicado por 1000 as TFG por GE, é necessário dividir o seu somatório
por 1000 para calcular o valor do ISF = (somatório tx de fecundidade por grupos etários *5) /1000

Para que a reposição populacional seja assegurada, convencionou-se que o ISF não pode
ser inferior a 2,1 filhos por mulher, pois as duas crianças substituem os pais e a fração
0,1 é necessária para compensar os indivíduos que morrem antes de atingir a idade
reprodutiva.

Conforme dados do Relatório sobre a Situação da População Mundial 2010, do Fundo de


População das Nações Unidas (Fnuap), o ISF é de 2,52 filhos por mulher. Esse resultado
confirma uma tendência mundial de redução no número de filhos, contudo, a ritmos
diferenciados segundo as grandes áreas geográficas. Com efeito, a Organização das
Nações Unidas (ONU), baseada em dados de 2009, divulgou os seguintes resultados:
Europa (1,52), Canadá e Estados Unidos da América (2,02), América Latina (2,17), Ásia
(2,3), Oceânia (2,42), África (4,45). No Brasil, o ISF é de 1,94 filhos por mulher.

A queda do ISF é consequência de vários fatores, tais como projetos de educação sexual,
planeamento familiar, utilização de métodos contracetivos, maior participação da mulher
no mercado de trabalho, expansão da urbanização, entre outros. Fatores que evoluem
de forma diferenciada segundo as realidades culturais e socioeconómicas dos vários
países.

Maria Filomena Mendes coordenou o estudo dos Determinantes da Fecundidade em


Portugal (2016), que tinha como objetivo averiguar sobre as causas que estão por detrás
das tendências recentes do comportamento da fecundidade em Portugal. O nível de
fecundidade que caracteriza o país não é senão o resultado do somatório, da
combinação, de milhões de decisões (e indecisões) tomadas ao longo do curso de vida
de cada indivíduo ou, se entendermos a decisão como sendo tomada em conjunto, de
cada casal, na sua intimidade, mas nunca alheios às circunstâncias económicas e sociais
que os rodeiam.

Em 2014, Portugal foi o país da Europa com o nível de fecundidade mais baixo, avaliado
através do Índice Sintético de Fecundidade, cujo valor era de 1,28. No estudo
coordenado por Mendes (2016) procurou-se identificar quais as variáveis que
determinam a feundidade, e distinguiu-se vários tipos de fecundiades : a fecundidade
realizada, estudando -se os determinantes: para o filho único (distiguindo os residentes
com idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos e os com idades entre os 30 e os
39 anos) e para um dado número de filhos; a fecundidade desejada, os determinantes
para o número desejado de filhos; para a fecundidade final esperada, diferenciando
entre os determinantes para quem espera ter somente um filho, ou mais; para que a
fecundidade final esperada seja atingida; e, por último, para querer ter/ter mais filhos
(dos 18 aos 29 e dos 30 aos 39 anos).

5.1.4. A Taxa Bruta de Reprodução

A intensidade da fecundidade remete para a capacidade de auto-reprodução de uma


população. Neste sentido e tratando-se de fecundidade feminina, a taxa bruta de
reprodução permite medir essa capacidade incidindo sobre a proporção de nados-vivos
do sexo feminino.

A taxa bruta de reprodução resulta da multiplicação entre o ISF e um coeficiente


determinado para a proporção de nascimentos do sexo feminino ou taxa de feminilidade
ao nascimento. Este valor é universalmente estabelecido em 488 por mil nascimentos.

Taxa Bruta de Reprodução: R= ISF*0,488

O R é o número médio de filhas procriadas por cada mulher, na ausência de mortalidade.


Com um valor igual ou superior a 1 remete para uma substituição das gerações
assegurada. Todavia, este indicador deve ser lido com alguma prudência, pois não
integra a interferência da mortalidade9.

Figura 11
Índice sintético de fecundidade e taxa bruta de reprodução
Quantos filhos existem, em média, por mulher em idade fértil?
Quantas filhas tem, em média, cada mulher em idade fértil?
Índice Taxa Bruta
Anos Sintético de de
Fecundidade Reprodução
1960 3,20 1,56
1970 3,00 1,46
1971 2,99 1,46
1972 2,85 1,39
1973 2,76 1,35
1974 2,69 1,31
1975 2,75 1,34

9
Deste modo, implica, sempre que possível, a confirmação complementar através do cálculo da denominada
Taxa Líquida de Reprodução.
1976 2,81 1,37
1977 2,68 1,31
1978 2,45 1,20
1979 2,31 1,13
1980 2,25 1,10
1981 2,13 1,04
1982 2,08 1,02
1983 1,96 0,96
1984 1,91 0,93
1985 1,73 0,84
1986 1,67 0,81
1987 1,63 0,80
1988 1,62 0,79
1989 1,58 0,77
1990 1,57 0,77
1991 1,56 0,76
1992 1,54 0,75
1993 1,52 0,74
1994 1,45 0,71
1995 1,41 0,69
1996 1,45 0,71
1997 1,47 0,72
1998 1,48 0,72
1999 1,51 0,74
2000 1,55 0,76
2001 1,45 0,71
2002 1,47 0,72
2003 1,44 0,70
2004 1,41 0,69
2005 1,42 0,69
2006 1,38 0,67
2007 1,35 0,66
2008 1,40 0,68
2009 1,35 0,66
2010 1,39 0,68
2011 1,35 0,66
2012 1,28 0,62
2013 1,21 0,59
2014 1,23 0,60
2015 1,30 0,63
2016 1,36 0,66
2017 1,37 0,67
2018 1,41 0,69
2019 1,42 0,69
Fonte: PORDATA/ Indicadores de Fecundidade: Índice sintético de fecundidade e taxa bruta de reprodução
Fontes de Dados: INE - Indicadores Demográficos
Última actualização: 2020-06-16

5.1.5. Idade média das mães ao nascimento dos filhos


A idade média das mães ao nascimento dos filhos é um indicador do calendário da
fecundidade. Obtém-se através do quociente entre a soma total dos anos vividos pelas
mães até ao nascimento dos filhos (convencionando-se que, em média, os nascimentos
ocorreram no meio do intervalo entre dois aniversários) a multiplicar pelas taxas de
fecundidade por idades e a soma total de todas as taxas de fecundidade por idades. No
caso de grupos quinquenais, multiplica-se o valor de cada taxa por 5 (amplitude de cada
grupo etário).

I = ∑pontos médios*(taxas de fecundidade por idades*5)/ ∑taxas de fecundidade por


idades*5

Exemplo:

Grupos de idade: 15-19 ponto médio = 17,5 17.5 * Taxa*5

…. ….

45-49 ponto médio = 47.5 47,5 * Taxa*5

IMF= Σ (Pontos médios * tx *5)/ Σ tx*5

A idade média das mães ao nascimento dos filhos remete na atualidade para a
problemática do adiamento do momento de procriar. Nos países mais desenvolvidos a
tendência atual é para que as mulheres adiem o momento de procriar para idades, em
média, acima dos 30 anos. A idade média ao nascimento de um filho (seja um primeiro,
segundo, terceiro ou ainda de uma outra ordem de nascimento mais elevada) foi,
de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2014 igual a 31,5 anos,
enquanto a idade média ao nascimento do primeiro fillho subiu, pela primeira vez, aos
30,0 anos, quando em 1982 e em 1983 chegou a registar um valor médio de 23,5 anos
(Mendes, (Coord., 2016). Em Portugal, em 2020, a idade média das mulheres ao
nascimento de um filho situou-se nos 31,6 anos. A literatura mais recente é unânime em
considerar o adiamento na idade em que se têm filhos como uma das principais causas
do declínio da fecundidade nas últimas décadas (Mendes, (Coord., 2016). O nível de
instruçãoda mãe também é decisivo no adiamento. A existência de um relacionamento
conjugal, casamento ou coabitação é um elemento central para os planos reprodutivos
dos residentes em Portugal.

Figura 12 - Idade Média ao Nascimento de um filho, Portugal 2000-2020


Anos IMNF

2000 28,6
2001 28,8
2002 28,9
2003 29
2004 29,2
2005 29,3
2006 29,4
2007 29,5
2008 29,6
2009 29,7
2010 29,8
2011 30,1
2012 30,2
2013 30,4
2014 30,7
2015 30,9
2016 31,1
2017 31,2
2019 31,4
2018 31,4
2020 31,6

Fonte: INE – Indicadores demográficos

Ao tentar avaliar se a fecundidade é alta ou baixa, as pessoas não ficam satisfeitas


simplesmente a comparar populações. Em vez disso, procuram algum nível ou padrão
mais absoluto para comparar a fecundidade atual, que mostra as implicações desse nível
de fecundidade para o bem-estar da população. O padrão atual é a fecundidade ao nível
de reposição, que é o nível em que as mulheres, em média, têm filhas suficientes para
"substituir-se” a si próprias na população (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015; Poston &
Bouvier, 2017).

Para estar no nível de reposição, o ISF deve estar acima de 2,0, uma vez que, em pelo
menos um filho, nasce para cada filha, e algumas mães em potencial morrem antes de
terem os seus filhos, mesmo na coorte hipotética mais saudável. Como estimativa geral,
o ISF de reposição é considerado 2,1 filhos por mulher nas regiões mais desenvolvidas
e 2,3 filhos por mulher nas regiões menos desenvolvidas, onde as taxas de mortalidade
são mais altas. Países com o ISF abaixo desses níveis são considerados abaixo da
fecundidade de substituição. Os países que se encontram com fecundidade abaixo do
nível de reposição tendem a preocupar-se com os problemas do lento crescimento
populacional e declínio populacional. Existem atualmente onze países ou territórios que
começaram a experimentar níveis de fecundidade mais baixos sem precedentes, caindo
abaixo de 1,3 filhos por mulher.
No entanto, a fecundidade é apenas uma fonte de mudança no crescimento populacional
de um país. Seria um erro supor que a fecundidade abaixo da reposição sempre resultará
em tamanho da população em declínio. Entre os setenta e cinco países que agora têm
menos fecundidade de substituição (48% da população mundial), muitos continuarão a
experimentar um crescimento populacional devido quer à imigração, quer às estruturas
de idade mais jovem, com grandes coortes entrando na idade reprodutiva. Não são
apenas as regiões mais desenvolvidas que têm baixa fecundidade. Um terço dos países
menos desenvolvidos do mundo têm uma substituição abaixo dos níveis de fecundidade
(Nações Unidas, 2011). Incluem alguns dos mais populosos países em desenvolvimento,
como China, Brasil, Irão, Tailândia, Vietname e Coreia do Sul (Nações Unidas, 2013).

Figura 13. Número de filhos por mulher – Índice Sintético de Fecundidade

Regiões geográficas 2000-2005 2005-2010 2010-2015 2015-2020


Africa 5,08 4,90 4,73 4,44
Asia 2,45 2,33 2,21 2,15
Europa 1,43 1,56 1,60 1,61
América latina e caribe 2,49 2,26 2,14 2,04
América do Norte 1,99 2,01 1,85 1,75
Oceânia 2,46 2,54 2,44 2,36
Fonte: adaptado de https://www.statista.com/statistics/1034075/fertility-rate-world-continents-1950-2020/

5.2. NUPCIALIDADE E DIVÓRCIO: MEDIDAS ELEMENTARES DE


ANÁLISE

A melhor maneira de apresentar a nupcialidade é através da história conjugal imaginária


de uma coorte de nascimento (Cherlin, 2010b, 1981). Toda a gente começa a sua vida
sem ter casado ou melhor, estando solteiro. Uma vez que esta é uma história de um
casamento, vamos ignorar alternativas ao casamento, como coabitar. No entanto,
queremos mencionar que a coabitação está a tornar-se cada vez mais comum em muitas
nações industrializadas, especialmente para casais de 20 a 34 anos, que estão nos
primeiros anos de fecundidade.

A nupcialidade não é uma variável microdemográfica autêntica na medida em que o seu


aumento ou a sua diminuição não afetam diretamente a dinâmica populacional. Esta
variável intervém na dinâmica populacional indiretamente através da fecundidade, se
bem que, neste princípio de milénio, é cada vez mais forte a tendência para a separação
entre os comportamentos da nupcialidade e da fecundidade.
5.2.1. Taxa bruta de nupcialidade

O processo mais simples que existe para medirmos o nível da nupcialidade consiste em
dividir o total de casamentos observados pela população média.

TBNup = Casamentos/População média*1000

Exemplo:

Casamentos: 72330 População total média: 9 675 573

T.B.Nup. = 72330/9675573 * 1000 = 7,48‰

Outras taxas de nupcialidade:

• Taxa de Nupcialidade geral: casamentos/pop. média com + 15 anos * 1000

• Taxa de Primonupcialidade: casamentos de ordem 1 (primeiros casamentos) /


solteiros com + 15 anos * 1000

• Taxa de recasamentos: casamentos de ordem superior a 1/ viúvos e divorciados


* 1000

• Taxa de Nupcialidade por idades ou grupos de idades e sexos: exemplo:


casamentos H (25-29 anos) / população média H (25-29 anos) * 1000

• Taxa Bruta de Divórcio: Divórcios/ população média * 1000

• Taxa Bruta de Viuvez: Viúvos / população média * 1000

Fonte: Leston Bandeira, 2005

5.2.2. Casamento e família

Até ao século XVII, os casamentos eram usados principalmente para ganhar legitimidade
ancestral e estabelecer laços militares e comerciais. A poligamia foi proibida por volta do
século XVII, e o número de famílias extensas diminuiu. No final do século XVIII na
Europa Ocidental, a “união por amor” tornou-se normativa.

Houve poucas mudanças, entre 1995 e 2010, nas percentagens de mulheres com idades
entre 15 e os 44 anos que não estão numa união (28%), mas houve mudanças drásticas
nas percentagens de casamentos e coabitações. Na coabitação, de um terço das
mulheres, em 1995, passou-se para metade das mulheres em 2006-2010, nos Estados
Unidos. Quanto ao casamento, passou de 39% em 1995 para 23% em 2006-2010. Da
metade das mulheres que coabitam, 40% fizeram a transição para casar, 32%
permaneceram coabitantes e 27% terminaram uma relação.

De acordo com Wendy Manning (2013), apenas 11% das mulheres com idades entre os
19 e os 44 anos relataram coabitar, em 1965-74, antes de seu primeiro casamento,
percentagem que subiu para 46% em 1985-89, para 59% em 1995-99 e para 66% em
2005- 2009.

A coabitação é o “novo normal” nos dias de hoje, as taxas são diferentes dependendo
dos níveis de educação. Continuando com o exemplo dos Estados Unidos, em 2009-10,
74% das mulheres, com habilitações abaixo do ensino secundário, declararam coabitar
ou já ter coabitado.

Em relação ao número de bebés nascidos fora do casamento, em 2013, nos Estados


Unidos, quase 41% de todos os bebés nasceram de mães solteiras. Enquanto que no
final da década de 1950, apenas 5% dos nados-vivos eram filhos de mães solteiras,
estes valores passaram para 14% e 30% em meados da década de 70 e da década de
1980, respetivamente.

Houve grandes mudanças neste panorama: a legalização do aborto, a contraceção


amplamente disponível e eficaz, o aumento da percentagem de mães solteiras, a
mudança de atitudes sociais em relação à parentalidade solteira.

Quanto às idades das mães solteiras, em 2013, nas mulheres com menos de 15 anos,
praticamente todos os nascimentos foram de solteiras; nas mulheres dos 15 aos 19 anos,
a percentagem é de 89% de nascimentos referidos a solteiras; nas mulheres entre 20 e
24 anos, são mais de 65% dos nascimentos; nas mulheres dos 25 aos 29 anos são quase
36% e no grupo dos 30 aos 34 anos são mais de 32%. Quanto mais velha for a mulher,
maior a probabilidade de ela se casar e menos probabilidade de não estar casada ao dar
à luz (Poston & Bouvier, 2017, p. 95-110).

5.2.3. Contraceção e controlo da natalidade

Hoje, a maioria das mulheres e homens casados e solteiros, sexualmente ativos nos
países desenvolvidos estão a limitar o tamanho das suas famílias e/ou a controlar o
tempo e o intervalo dos nascimentos através do controlo da natalidade. Poucas pessoas
nos países em desenvolvimento usam métodos de prevenção dos nascimentos. Há uma
variedade de métodos disponíveis para mulheres e homens para prevenir partos, e os
mais populares em todo o mundo são a contraceção, a esterilização e o aborto. A eficácia
desses métodos difere uns dos outros e cada um tem as suas vantagens e desvantagens
(Poston & Bouvier, 2017, p. 123).

A noção de prevenção do nascimento apareceu no início da história humana. Os cinco


melhores livros que fornecem relatos abrangentes de contraceção são:

Medical History of Contraception de Norman Himes, publicado pela primeira vez em


1936, com uma edição em brochura em 1970. É uma investigação sobre a contraceção
que cobre muitas culturas em todo o mundo ao longo de três mil anos.

Contracepção: uma história de seu tratamento pelos teólogos católicos e canonistas de


John T. Noonan foi escrita em 1966. Traça a história da contraceção desde a era pré-
cristã até à década de 1960, com ênfase na interpretação e receção da contraceção na
Igreja Católica.

Contracepção: Uma História de Robert Jutte, escrito em 2008. A versão original foi
publicada em alemão alguns anos antes.

História da contracepção: da antiguidade aos dias atuais, escrito por McLaren em 1992,
um importante tratamento histórico.

Ervas de Eva: uma história de contraceção e aborto no Ocidente, escrito por West em
1999. Este livro é um relato histórico e também evoca o uso de plantas e produtos à
base de ervas para regular a fecundidade.

Além destes cinco livros, há também registos escritos de remédios anticoncecionais e


técnicas de aborto em papiros egípcios (1900–1100 aC), nas obras latinas de Plínio, o
Velho (23-79 dC) e Discórides (40-90 dC), nos escritos gregos de Sorano (ca. 100), e
em obras que tratam da medicina árabe no século X (Poston & Bouvier, 2017, p. 123-
124).

A maioria dos métodos de controlo de natalidade documentados nesses tratamentos


foram relativamente ineficazes, com exceção do aborto induzido e da abstinência.
Praticamente todos os métodos anticoncecionais, exceto os métodos baseados em
hormonas, estavam disponíveis e eram usados no final do século XIX (Poston & Bouvier,
2017, p. 125).

Os métodos anticoncecionais podem ser divididos em métodos modernos e tradicionais.


Os principais métodos modernos de planeamento familiar são o contracetivo oral (a
pílula), o dispositivo intrauterino (DIU), a injeção, o preservativo, e a esterilização
masculina e feminina.
Os métodos tradicionais de planeamento familiar incluem métodos “naturais” menos
eficazes, como o método do ritmo do calendário (isto é, a abstinência periódica), coito
interrompido, abstinência de longo prazo e amamentação prolongada.

Relativamente às diferenças no uso de anticoncetivos, embora as mulheres em


diferentes regiões do mundo usem métodos diferentes, os padrões do seu uso não
mudaram muito entre 1990 e 2012. A esterilização feminina é comum na Ásia, América
Latina, Caribe e América do Norte, e 18% das mulheres casadas em todo o mundo em
idade reprodutiva foram esterilizadas, sobretudo através da laqueação de trompas,
muitas vezes sem consentimento da própria. Os outros métodos mais populares são o
DIU (13%), o anticoncetivo oral e o preservativo masculino (ambos com 8%), injetáveis
(5%) e esterilização masculina (3%). O DIU continua a ser importante na Ásia e na
Europa, e a pílula tem a distribuição geográfica mais ampla de todos os métodos.

Interessante é que entre quase todos os países do mundo, um ou dois métodos


representam metade ou mais do uso total de anticoncetivos entre as mulheres casadas
ou em união de facto: a pílula é o método dominante na maioria dos países e os métodos
tradicionais são dominantes em grande parte dos países em desenvolvimento (Poston &
Bouvier, 2017, p. 125-162).

De acordo com dados de vários países recolhidos entre 2002 e 2012, 63% das mulheres
casadas em todo o mundo estavam a usar métodos de planeamento familiar: 72% das
mulheres de países desenvolvidos e 62% de países em desenvolvimento.

Embora o uso de anticoncetivos nos países em desenvolvimento já tenha quase atingido


o nível do mundo desenvolvido, o uso de métodos de planeamento familiar é bastante
desigual nos vários países. A percentagem de mulheres casadas que usam métodos
modernos varia do 1% no Sudão do Sul e Somália e 2% no Chade aos 84% no Reino
Unido e China. Os dois países com as maiores percentagens de mulheres casadas que
usam qualquer método de planeamento familiar são a Noruega com 88% e Portugal com
87%.
ATIVIDADE FORMATIVA

1. Temos duas taxas brutas de natalidade:

TBN (País A- desenvolvido) = 778 526/61 283 600 *1000= 12,70 por mil

TBN (País B- não desenvolvido) = 54 043/1 428 082 *1000= 37,84 por mil

Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois
países seria de 198 %.

Comente este resultado e explique porque o resultado foi este.

2. TFG (País A - desenvolvido) = 778 526/14 309 800 *1000 = 54,41 por mil

TFG (País B - não desenvolvido) = 54 043/319 084 *1000 = 169,37 por mil

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois
países seria de 211% em vez de 198%. Compare as diferenças de nível entre os dois
países e entre os dois tipos de taxas.

Se utilizarmos a TBN estamos a subestimar a diferença em 13%. A que se deve esta


diferença?

3. Defina os conceitos de Natalidade e de Fecundidade.

4. Com base nos dados do quadro seguinte relativos à população a meio do ano de 1991
e aos nados vivos de 1991, calcule:

Idade das mães População Feminina Nascimentos

15-19 12888 102

20-24 19392 1099

25-29 22465 2695

30-34 22367 2047

35-39 16802 654

40-44 10904 61

45-49 5954 3

Total 110772 6662


a) A Taxa de Fecundidade Geral. Interprete.

b) As taxas de fecundidade por grupos de idade. Interprete os dados.

c) O Índice Sintético de Fecundidade e a Taxa Bruta de Reprodução. Interprete


cada um dos resultados.

5. Observe os dados respeitantes à População Francesa em 1960:

Idade das mães População Feminina Nascimentos

15-19 1 700 913 37 366

20-24 1 339 837 225 183

25-29 1 492 444 268 780

30-34 1 633 472 175 269

35-39 1 636 435 87 394

40-44 1 421 557 26 719

45-49 1 132 994 1 344

Total 10 357 652 822 055

População total média: 46 997 703

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

a) Calcule a Taxa Bruta de Natalidade.

b) Calcule a Taxa de Fecundidade Geral.

c) Calcule as Taxas de Fecundidade Geral por Grupos de Idades.

d) Calcule o Índice Sintético de Fecundidade e a Taxa Bruta de Reprodução.


Interprete os resultados obtidos.

e) Calcule a Idade Média de Fecundidade.


6. A MORTALIDADE

Objetivos

1.Conhecer a lógica e o processo de cálculo das taxas Brutas de Mortalidade


enquanto medida elementar da mortalidade geral e compreender as razões das
suas limitações enquanto instrumento de análise;

2. Compreender, saber calcular e interpretar as medidas de mortalidade (por


idades), mortalidade infantil e mortalidade por causas;

3. Perceber a metodologia de construção das tábuas de mortalidade e o


contributo na análise da mortalidade;

4. Compreender a construção e interpretar o indicador Esperança de vida;

5. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemas


concretos;

6. Saber analisar a evolução global do fenómeno demográfico mortalidade e do


contributo das várias causas para esse valor total;

7. Ser capaz de relatar e interpretar a evolução dos vários componentes da


mortalidade estudados.

6.1. MORTALIDADE

A morte é o último evento demográfico da nossa vida.

Trata-se de um fenómeno demográfico que tal como a natalidade, fecundidade,


nupcialidade e divórcio carateriza-se por um evento (o óbito) que o demógrafo
contabiliza geralmente em períodos anuais.

A morte não ocorre da mesma forma para todas as pessoas; algumas morrem mais cedo
do que outras. O impacto da mortalidade varia significativamente de acordo com as
características sociais e demográficas dos indivíduos.

A principal característica da mortalidade durante o século XX foi o seu declínio. Mas esse
declínio não se fez observar em todos os países ao mesmo tempo, e nos países em que
isso aconteceu não declinou com a mesma velocidade nos diversos tipos de grupos que
integram as estruturas sociodemográficas.
Na realidade podemos afirmar que anteriormente à época contemporânea, a mortalidade
era bastante elevada por seis razões principais: fomes, subnutrição, guerras, epidemias,
pestes e ausência de condições sanitárias. (Nazareth, 2004, p. 188-189).

A identificação destes fatores permitiu uma imediata explicitação das principais causas
do declínio da mortalidade:

• Fatores educacionais (mais conhecimentos sobre alimentação, vestuário);

• Fatores sanitários (melhores condições sanitárias, de higiene e de habitação);

• Fatores médicos (mais prevenção, diagnóstico e cura de doenças);

• Fatores económicos (desenvolvimento das economias de mercado, redes de


comunicação, aumento dos níveis de bem-estar social e económico);

• Fatores sociais (melhores condições de habitação e no trabalho).

Estes fatores contribuíram para que a mortalidade declinasse de tal forma que a
esperança de vida mais do que duplicou. Mas esse declínio não foi igual em todo o
mundo. Daí a diversidade de situações que encontramos.

A razão dessa divergência deriva do facto de nos países desenvolvidos todos os fatores
enunciados anteriormente terem concorrido para o declínio da mortalidade, ao passo
que na maior parte dos países não desenvolvidos o declínio observado tem sido devido
a fatores médicos e sanitários (Nazareth, 2004, p. 189).

A mortalidade não é, assim, democrática. Existe uma enorme desigualdade perante a


morte. Mas a evolução tem sido muito positiva, sobretudo ao nível do declínio da
mortalidade infantil.

Em suma, para além das condições médico-sanitárias, a mortalidade varia em função de


vários fatores como o nível socioeconómico, as práticas alimentares, as condições de
habitação e no trabalho.

No contexto português, o estudo de Coelho e Catela Nunes (2015) mostra que desde
1950 assiste-se ao declínio global dos níveis de mortalidade em todas as idades, a uma
redução dramática da mortalidade infantil, ao aumento da sobrevivência até idades cada
vez mais avançadas, e a ganhos extraordinários na esperança de vida da população.
Portugal detém uma posição de relativa fragilidade comparativamente com os outros
países da Europa Ocidental, sobretudo na população masculina. A posição relativamente
desfavorável dos homens em algumas idades é um indicador de que ainda existe espaço
para melhorias na esperança de vida. A análise das taxas de declínio da mortalidade
sugere ainda que um grupo específico de indivíduos do sexo masculino não experienciou
melhorias na mortalidade e sofreu mesmo aumentos nos níveis de mortalidade ao longo
do tempo. Este comportamento específico pode ser devido a influências “específicas do
período” ou “específicas da geração” (Coelho e Catela Nunes, 2015).

6.2. MEDIR A MORTALIDADE

6.2.1. A Taxa Bruta de Mortalidade

A medição da mortalidade remonta a John Graunt (1620-1674) e as suas análises das


"Contas de Mortalidade".

A mortalidade refere-se à frequência relativa de morte numa população.

Os demógrafos usam dois conceitos diferentes quando se referem à mortalidade:

A Expectativa de vida, que é o "limite de idade da vida humana" numérico e a Esperança


de vida, que é o número médio esperado de anos de vida vividos por uma determinada
população num determinado momento.

Como primeira medida da análise da mortalidade calcula-se a Taxa Bruta de Mortalidade


(ou taxa de mortalidade).

As taxas Brutas são em geral utilizadas para caracterizar tendências conjunturais ou de


longo prazo. No caso da mortalidade, enquanto indicadores globais, servem para
sintetizar as condições sanitárias do momento (Leston Bandeira, 2004, p. 189).

Na prática consiste em dividir o total de óbitos num determinado período (um ano) pela
população existente nesse mesmo período.

Esta medida é conhecida como Taxa Bruta de Mortalidade e podemos representá-la por:
TBM.

Uma vez que a população total muda a cada instante no decorrer de um ano, surge a
dúvida sobre qual a população a considerar no denominador. Como a TBM é uma medida
de risco, teríamos que ter no denominador todas as pessoas submetidas a esse risco.

Se tomamos a população no início do ano, nela não estão incluídas as crianças que vão
nascer durante o ano. Por outro lado, aquelas pessoas que estão vivas no início do ano
e que vão falecer antes do fim do ano não poderão entrar com o mesmo peso do que
aquelas que vão sobreviver.

Se tomamos a população no final do ano, nela não estarão incluídas, por um lado,
aquelas pessoas que faleceram durante o ano e, por outro, estarão incluídas
integralmente as crianças que nasceram em diferentes momentos no decorrer do ano e
que não estiveram submetidas ao risco de morte durante todo o ano.

Idealmente, deveríamos contabilizar no denominador o número de pessoas/ano da


população em estudo. Isso significa que todo o indivíduo presente no início e no fim do
ano deveria ser contado como uma pessoa-ano; os indivíduos presentes no início e que
vierem a falecer nesse ano e todas as crianças nascidas durante o ano deveriam ser
contabilizados pela fração de ano vivido. Ainda que o conceito de pessoas/ano seja muito
simples, o seu cálculo exato é extremamente difícil.

Como uma aproximação para o total de pessoas/ano, adota-se a estimativa da população


total no meio do ano, na suposição de que os nascimentos e óbitos na população
ocorram uniformemente no decorrer do ano. Como se trata de um período curto (12
meses), tal suposição não introduz, de maneira geral, distorções significativas.

Ainda que o mais usual seja calcular a TBM referente ao ano calendário, ela também
pode ser obtida para qualquer conjunto de 12 meses consecutivos.

A Taxa Bruta de Mortalidade relaciona, assim, o número de óbitos durante um dado ano
com a população média desse ano.

A população média é a população no meio do ano que estimamos eventualmente como


média aritmética das populações nos dias 1 de janeiro que enquadram o ano. Trata-se,
de uma estimativa do número de pessoas que, durante um ano inteiro, correram o risco
de falecer (Rollet, 2007, p.60).

TBM = _____óbitos____ *1000

população total (média)

Usualmente esta taxa é representada pelo número de óbitos por mil habitantes, para
maior facilidade de interpretação.
Exemplo:

Em Portugal tivemos em 1990, 103 115 óbitos e a população média registada era de

9 883 400 habitantes. A taxa bruta de mortalidade em 1990 obtém-se do seguinte modo:

TBM (1990) = _103 115 _ *1000 = 10,43 por mil

9 883 400

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Então dizemos que a Taxa Bruta de Mortalidade de Portugal em 1990 era de 10,43 óbitos
por mil habitantes.

O nível da TBM dependerá de duas componentes básicas: a intensidade com que se


morre a cada idade (porque em diferentes idades as pessoas estão sujeitas a diferentes
riscos de morte) e a distribuição etária proporcional da população.

No que concerne a primeira componente, por exemplo, os recém-nascidos e os idosos


têm maior probabilidade de morrer do que os adolescentes. A segunda componente
decorre da primeira, pois se os riscos são diferenciados por idade, há de se levar em
conta o maior ou menor peso dos diversos grupos etários.

Assim, a Taxa Bruta de Mortalidade, na medida em que é influenciada pela estrutura


etária de cada população em cada momento, não mede efetivamente unicamente a
frequência da mortalidade podendo originar conclusões erradas quando se pretende
efetuar comparações (Leston Bandeira, 2004, p.189).

Por tratar-se, então, de um instrumento grosseiro que não tem em conta a estrutura
etária da população, devemos ter em conta algumas precauções: fazer coincidir a
população média com a população de um recenseamento.

Os dois fatores intervenientes nas taxas brutas são o modelo e as estruturas. A taxa
bruta é a soma dos produtos das estruturas relativas de cada idade pelas taxas nessas
mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idade se chama o modelo do fenómeno,
a taxa bruta pode ser redefinida como uma resultante da interação entre o modelo e a
estrutura (Nazareth, 2004, 190-191).

6.2.2. A mortalidade por idades e por grupos de idades

Um elemento evidente de diferenciação da mortalidade segundo os indivíduos é a idade.


Daí que se calculem as taxas por idade ou grupos de idades.
As taxas específicas enquanto instrumento de medida da análise demográfica são mais
fiáveis do que as taxas brutas.

O que diferencia estas taxas é o facto de que, enquanto as taxas brutas consideram
como população média de referência toda a população, as taxas específicas medem a
frequência dos fenómenos demográficos numa parte dessa população, definida pela
pertença ao mesmo grupo etário ou idade (Leston Bandeira, 2004).

Temos, deste modo, a Taxa Específica de Mortalidade (TEM), que se refere ao risco de
morte em cada idade ou em cada grupo etário. Corresponde ao quociente entre o total
de óbitos, num determinado ano, em cada idade ou grupo etário e a população
correspondente a esse grupo no meio do ano em análise (Pressat, 1980).

TEM por idade(s)

TEM = _____óbitos na_idade x___ *1000

população total idade x (média)

TEM por grupos etários

TEM = _____óbitos no grupo etário X-X+n___ *1000

população total no grupo etário X-X+n (média)

Onde x refere-se à idade limite inferior do grupo etário, n a amplitude do intervalo do


grupo.

A Taxa Bruta de Mortalidade é a média ponderada das taxas específicas de mortalidade,


cujos pesos são dados pela população em cada idade ou grupo etário. Demonstra-se,
assim, que a Taxa Bruta de Mortalidade depende da intensidade e da distribuição etária
proporcional (Pressat, 1980).

Do exposto, fica claro que duas populações com as mesmas Taxas Específicas de
Mortalidade podem gerar Taxas Brutas de Mortalidade distintas, por terem distribuições
etárias proporcionais diferentes.

Também outras situações podem ocorrer: imaginemos as populações A e B, onde em


qualquer idade, a TEM de A seja maior do que de B. Neste caso, podemos afirmar que
o nível de mortalidade de A é superior ao de B. No entanto, dependendo das distribuições
etárias proporcionais de cada um deles, a TBM de A pode ser menor do que de B.
Conclui-se que as Taxas Brutas de Mortalidade não são bons indicadores para se analisar
diferenciais de níveis de mortalidade entre populações diferentes, a não ser em casos
em que as populações tenham distribuições etárias proporcionais iguais (Nazareth,
2004).

O conceito de taxas específicas que usamos em relação à idade pode ser estendido para
outras variáveis que influenciam o risco de morrer. Assim, podemos definir taxas
específicas por sexo, por estado civil, causas de morte, por grupos socioeconómicos etc.

Do mesmo modo, calculam-se também as taxas por idade e por sexos separadamente.

A forma de cálculo deste tipo de taxas é a mesma que a da taxa bruta de mortalidade:
relacionam-se os óbitos de cada sexo ocorridos num dado ano na idade considerada,
com a população média desse mesmo sexo com essa idade durante esse ano (Leston
Bandeira, 2004).

6.3. A MORTALIDADE INFANTIL

A mortalidade infantil é objeto de atenção especial e de um modo de determinação


particular dado que diz respeito à mortalidade de crianças com menos de 1 ano.

Determina-se, geralmente, sem distinção de sexos pelo facto de que a diferença que
existe entre mortalidade masculina e feminina não é significativa, nessas idades.

O conceito de mortalidade infantil designa a relação entre o número de óbitos ocorridos


antes do primeiro aniversário e o número de nascimentos. Trata-se do risco que corre
um recém-nascido de morrer antes de completar o ano de idade (Rollet, 2007, p. 60).

A mortalidade infantil remete, assim, para o número de mortes de crianças com menos
de 1 ano, num dado ano X e numa dada população N, por cada 1.000 nascimentos nessa
população Y e nesse mesmo ano X.

Ela corresponde ao risco que um nado-vivo tem de vir a falecer antes de completar um
ano de idade. Está implícito neste conceito a ideia de probabilidade. Como as crianças
nascidas durante um ano, digamos A, só completarão um ano de idade no ano seguinte,
A + 1, a mortalidade infantil entre os nascidos num ano-calendário ocorrerá durante dois
anos consecutivos, A e A + 1.

No ano A ocorrerão óbitos infantis de nascidos em A - 1 e A, e em A + 1 ocorrerão óbitos


infantis de nascidos em A e A+ 1.

Seria necessário esperar dois anos para se poder calcular a Taxa de Mortalidade Infantil
(TMI) dos nascidos vivos num determinado ano, dada a dificuldade prática de separar-
se, em cada ano do calendário, do total de óbitos infantis aqueles referentes a crianças
nascidas no próprio ano e a crianças nascidas no ano anterior.

Este erro será normalmente pequeno, a não ser que haja entre dois anos consecutivos
grande diferença no número de nascimentos e/ou grande mudança na mortalidade de
crianças abaixo de um ano. Pode-se considerar, então, como uma boa medida de
mortalidade infantil e tomá-la como uma probabilidade. Deste modo, a mortalidade
infantil é usualmente medida pela taxa de mortalidade infantil (clássica) calculada a
partir de uma observação de acontecimentos produzidos durante um ano civil (Leston
Bandeira, 2004, p. 195).

Barreto e Correia (Coord., 2014) no estudo sobre a mortalidade infantil em Portugal,


analisaram a evolução dos indicadores e factores associados a esta entre 1988 e 2008.
Entre 1970 e 2008, Portugal registou uma diminuição de 94 (%) por cento na sua taxa
de mortalidade infantil. Não obstante a diminuição desta taxa constituir um fenómeno
generalizado em todo o mundo, Portugal foi um dos países que, em termos
comparativos, melhores resultados obteve. A excelente classificação que Portugal detém
neste indicador, criou um grande interesse pelo tema e procurou-se identificar as razões
e as boas práticas que ajudaram a este desempenho excepcional. Através da observação
da evolução dos indicadores da mortalidade infantil ao longo das últimas décadas, e da
análise dos fatores que poderão estar associados a essa redução. Ao longo dos tempos,
Portugal conseguiu atingir níveis de mortalidade infantil ao nível dos verificados na
generalidade dos seus congéneres europeus, tendo a partir do século xxi alcançado
níveis de mortalidade infantil inferiores aos da média da UE. Num espaço temporal de
quarenta anos, Portugal inverteu a sua posição, possui atualmente uma das taxas mais
baixas do mundo. Considerando o ranking da OCDE25, que inclui os trinta países
membros, Portugal apresentou uma subida notável, passando de vigésimo oitavo lugar
em 1960 para o oitavo lugar em 2006. Ao longo de três décadas consecutivas, Portugal
reduziu em 50 por cento a sua TMI, registando em 2008 uma taxa de 3,3 por mil,
colocando-se assim entre um dos países europeus com melhor desempenho neste
indicador (Barreto e Correia, (Coord., 2014).

Os factores associados a esta redução são os factores sociais, tais como o nascimento
fora do casamento sem coabitação, o nível de instrução da mãe, o emprego materno, a
idade da mãe, os factores de saúde (assistência ao parto, peso á nascença, recursos em
saúde (médicos por 100 mil habitantes; centros de saúde e hospitais por 100 mil
habitantes), os factores económicos. Portugal obteve uma redução de 74,66 por cento
da taxa de mortalidade infantil, passando de 13,06 por mil, em 1988, para 3,31 por mil,
em 2008. É provavelmente o indicador em que o país mais progrediu nesses 20 anos
(Barreto e Correia, (Coord., 2014).

6.3.1. A Taxa de Mortalidade Infantil Clássica

A taxa de mortalidade infantil é um dos principais e mais relevantes indicadores da


situação sanitária de uma população num dado momento, transmitindo assim o nível de
desenvolvimento global dessa população (Leston Bandeira, 2004, p. 196).

A taxa de mortalidade infantil clássica assume a configuração de uma taxa entre


aniversários. Tem a particularidade da população de referência, que figura no
denominador da taxa, não ser o efetivo médio da população com menos de 1 ano de
idade, mas o total de nados-vivos ocorridos durante o ano.

Agregando os resultados obtidos através desta taxa em sequência temporal, podemos


conhecer não só as condições de sobrevivência infantil do momento, mas também a sua
evolução ao longo do tempo, médio e longo prazo.

Fórmula TMI Clássica

TMI = __óbitos menos 1 ano no_ano x__ *1000

nados-vivos ano x

Exemplo: Portugal – mortalidade infantil em 1973

Nascimentos em 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 1 ano em 1973 – 7726

Taxa de Mortalidade Infantil Clássica: 7726/172 324 X 1000 = 44, 83 por mil

A Taxa de Mortalidade infantil Portugal em 1973 era de 44,84 óbitos de crianças com
menos de 1 ano por cada mil nascimentos.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016


6.3.2. As componentes da mortalidade infantil

“Na produção da vida humana intervém uma multiplicidade de fatores que antecedem e
acompanham o ato de nascer e condicionam as possibilidades de sobrevivência de um
novo ser. (...)

Na luta pela sobrevivência, o tempo para o recém-nascido tem um significado particular,


medindo-se em unidades de dimensão diminuta, contado a partir do instante do chegar
à vida em minutos e depois, à medida que vai sobrevivendo, em horas, dias, semanas,
meses e, enfim, 1 ano. E à medida que o tempo passa e o capital-saúde se afirma,
aumentam as probabilidades de sobrevivência e o risco de mortalidade vai se
amenizando.” (Leston Bandeira, 2004, p. 200).

Por este facto, a mortalidade infantil deve ser abordada e analisada tomando por
referência duas fronteiras temporais muito precisas: no início, a formação do feto; no
fim, o primeiro aniversário. Entre estas duas fronteiras, o risco de mortalidade vai
mudando de natureza e de intensidade.

Deste modo, elaboram-se um conjunto de conceitos e instrumentos de medida centrados


em todas as componentes da mortalidade infantil, bem como na mortalidade fetal.

Assim, consoante a duração em que ocorre, o risco de mortalidade infantil decompõe-


se em: mortinatalidade, mortalidade neonatal e mortalidade pós-neonatal (Rollet, 2007,
p.61).

A mortinatalidade

Um nado-morto, geralmente designado aborto ou morte fetal, é um feto que não nasceu
vivo; assim, não é registado como morte porque não nasceu.

Um feto pode morrer antes do início do trabalho de parto, ou seja, no útero, devido a
complicações na gravidez ou por várias doenças maternas. Ou um feto pode estar vivo
no início do trabalho de parto, mas morrer durante o processo e, assim, nascer morto.

A mortinatalidade designa, assim, a mortalidade intrauterina dos fetos com uma


gestação superior a um determinado valor temporal mínimo (Leston Bandeira, 2004, p.
202).

As principais causas deste tipo de mortalidade são complicações (evitáveis) durante o


processo de parto, infeções maternas e distúrbios maternos, especialmente diabetes e
hipertensão.
A taxa de mortinatalidade mede a relação entre nados-mortos e nados-vivos, que se
exprime da seguinte forma:

TMN = nados-mortos / nados-vivos + nados-mortos

Taxa de mortalidade neonatal

Na mortalidade neonatal, que ocorre durante os primeiros 28 dias, temos de considerar


também a mortalidade neonatal precoce, que é a que acontece entre o nascimento e o
7º dia exato.

A taxa de mortalidade neonatal mede a frequência da mortalidade infantil até às


primeiras 4 semanas (28 dias):

TMNN = Óbitos (0,28 dias) / Nados-vivos

Para o cálculo da mortalidade neonatal precoce são considerados apenas os óbitos dos
7 primeiros dias de vida.

TMNP = Óbitos (0,7 dias) / Nados-vivos

Mortalidade Perinatal

Da soma da mortinatalidade com a mortalidade neonatal precoce resulta a mortalidade


perinatal que se refere a gravidezes que não resultaram em nascidos vivos (foram mortes
fetais) ou resultaram em nascidos vivos de bebés que viveram apenas sete dias ou
menos.

A mortalidade perinatal designa os efeitos do risco sofrido durante o período crucial que
vai do momento em que se perfaz a formação no útero ao nascimento e se conclui a
primeira semana de vida.

Taxa de mortalidade Pós Neonatal

Para o cálculo da taxa de mortalidade pós-neonatal são considerados os óbitos ocorridos


após o 28º dia.

TMPN = Óbitos (28, 365 dias) / Nados-vivos

Exemplo: Portugal ano de 1973.

Nascimentos para 1973 – 172 324


Óbitos com menos de 1 ano para 1973 – 7726

Óbitos com menos de 7 dias para 1973 - 2502

Óbitos com menos de 28 dias para 1973 – 3647

Óbitos com 28-365 dias para 1973 – 4079

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal: 3647/172 324 X 1000 = 21,16 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal precoce: 2502/172 324 x 1000 = 14,52 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Pós Neonatal: 4079/172 324 X 1000 = 23, 67 por mil

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Apesar do numerador da TMI corresponder aos óbitos de crianças com idade abaixo de
um ano, a distribuição dos óbitos dentro deste intervalo não é uniforme e ocorre de
maneira desigual.

Para aquelas populações onde a taxa de mortalidade infantil é baixa, os óbitos


concentram-se nas primeiras semanas de vida das crianças, porque, neste caso, as
mortes são principalmente por causas genéticas e causas ligadas ao parto.

A mortalidade neonatal é, em suma, extremamente sensível às condições da gravidez e


do parto e às malformações (Rollet, p. 2007, p. 61).

Naquelas populações onde a TMI é alta, os óbitos são menos concentrados nas primeiras
semanas de vida, porque muitos dos óbitos infantis são devidos a fatores ligados ao
meio em que a criança vive, tais como as condições de saneamento, nutrição. A
mortalidade pós-neonatal mais sensível ao meio ambiente, aos comportamentos e às
doenças infeciosas, está intimamente associada às condições de vida (Rollet, 2007, p.
61).

Em populações com níveis de mortalidade infantil baixos, a mortalidade infantil neonatal


tem maior peso do que a mortalidade infantil pós-neonatal. Nessas populações, a
mortalidade infantil neonatal explica a quase totalidade da mortalidade infantil (do 1.º
ano de vida).

Podemos classificar as causas que originaram a mortalidade infantil em duas grandes


categorias: endógenas e exógenas.

As causas endógenas surgem devido a causas anteriores ao nascimento ou resultam do


próprio nascimento, sendo consequência de deformações congénitas (que nascem com
o indivíduo) de taras hereditárias ou de traumatismos causados pelo parto. Neste caso,
os óbitos ocorrem geralmente durante o primeiro mês de vida da criança, sobretudo nos
primeiros dias.

As causas exógenas por sua vez, estão associadas a causas exteriores (doenças
infeciosas, subalimentação, cuidados hospitalares insuficientes e acidentes diversos).
São deste modo resultado de condições sanitárias ou contextos sociais desfavoráveis à
sobrevivência da criança.

“O interesse principal desta distinção entre mortalidade infantil endógena e mortalidade infantil
exógena decorre dos ensinamentos quanto à melhoria das políticas sociais e de proteção à
infância e à maternidade, sendo adquirido que essa melhoria produzirá efeitos principalmente
sobre a redução dos fatores responsáveis pela mortalidade exógena”. (Leston Bandeira, 2004,
p. 204)

Para podermos separar os óbitos infantis por causas endógenas ou exógenas teremos
de ter acesso a estatísticas de óbitos por causas de morte.

No entanto, existe um método que permite obter essa separação sem termos a
informação dos óbitos por dias e idades. Trata-se, pois, de aumentar em 25% os óbitos
registados no intervalo 31-365 dias, ou aumentar em 22,8% os do intervalo 28-365 dias
e obtemos o total de óbitos exógenos.

Parte-se, então, do princípio de que os óbitos endógenos acontecem no primeiro mês


de vida e por sua vez, os exógenos ocorrem nos restantes meses. Dado que nem todos
os óbitos produzidos no primeiro mês de vida são endógenos, determina-se a
percentagem de óbitos exógenos por meio das regras anteriormente referidas.

Os óbitos exógenos obtêm-se calculando a diferença entre o total de óbitos infantis e os


óbitos endógenos.

A Taxa de Mortalidade Infantil Endógena calcula-se dividindo o total de óbitos endógenos


pelos nascimentos.

TMIend = __óbitos endógenos_ *1000

nados-vivos ano x
A Taxa de Mortalidade Infantil Exógena obtém-se dividindo o total de óbitos exógenos
pelos nascimentos.

TMIexo = __óbitos exógenos_ *1000

nados-vivos ano x

Por conseguinte, a Taxa de Mortalidade Infantil Clássica é igual à soma da Taxa de


Mortalidade Infantil Endógena com a Taxa de Mortalidade Infantil Exógena (Nazareth,
2004, p. 200).

Retomando o exemplo: Portugal ano de 1973.

Nascimentos para 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 28 dias para 1973 – 3647

Óbitos com 28-365 dias para 1973 – 4079

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Para obter os óbitos exógenos somamos aos óbitos com 28-365 dias (4079) os óbitos
exógenos com menos de 28 dias, isto é, 4079 x 0,228 (22,8%) = 930

Logo:

óbitos exógenos: 930 + 4079 = 5009

óbitos endógenos: 7726 - 5009 = 2717

Taxa de Mortalidade Infantil Endógena: 2717/172 324 X 1000 = 15,77 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Exógena: 5009/172 324 x 1000 = 29,07 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Clássica: 15,77 + 29,07 = 44,84 por mil.

6.3.3. A mortalidade materna

A OMS define uma morte materna como a morte de uma mulher durante a gravidez ou
no prazo de 42 dias após a interrupção da gravidez, independentemente da duração ou
local da gravidez, de qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou seu
tratamento, mas não de causas acidentais ou incidentais (Poston & Bouvier, 2017).
A taxa de mortalidade materna (TMMR) é o número de mortes num ano de mulheres
que morrem resultado de complicações na gravidez, parto e puerpério (ou seja, a
condição da mulher imediatamente após o parto, geralmente terminando quando a
ovulação começa novamente), por 100.000 nascimentos ocorridos nesse ano.

Às vezes, as mortes (o numerador) são designadas de mortes por causas puerperais. A


fórmula de cálculo é:

TMMR = óbitos mulheres (grávidas ou no puerpério) / 100 000 nascimentos

Os dois fatores mais importantes que levam à morte materna são a idade e a paridade
(o número de vezes que uma mulher deu à luz; também se refere à ordem de
nascimento, por exemplo, um segundo filho, que seria um filho de segunda paridade).

Os riscos de morte por maternidade (durante a gravidez) são maiores para mulheres
muito jovens e mulheres mais velhas do que para mulheres na casa dos vinte e trinta
anos.

Mulheres com alta paridade e mulheres com intervalos curtos entre partos também estão
em alto risco devido a doenças crónicas e desnutrição, pobreza, gravidez indesejada,
cuidados pré-natais e obstétricos inadequados e falta de acesso a um hospital (Poston
& Bouvier, 2017).

6.4. A MORTALIDADE DIFERENCIAL. CAUSAS DE MORTALIDADE

A mortalidade por meses

De modo a compreender-se as relações da variável mortalidade (geral e infantil) com o


meio envolvente, analisam-se as suas variações pelos meses do ano. Os métodos mais
utilizados são o método das proporções (ou percentagens), método das taxas mensais
e o método dos números proporcionais.

O método das proporções corresponde à divisão dos óbitos registados em cada mês pelo
total de óbitos anuais, multiplicando o resultado obtido por 100 de modo a termos o
resultado em percentagem.

Contudo, dado que cada mês tem uma diferente amplitude, este método acaba por
originar distorções na análise dos dados obtidos. Assim, recorre-se ao método das taxas
mensais.

Com o método das taxas mensais convertem-se as taxas aos efetivos anuais dado que
se multiplica o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do ano divididos
pela população média. Isto é:
(óbitos mensais / dias do mês) x (365 ou 366 / população média) x 1000

ou [(365 ou 366 / dias do mês) x óbitos mensais)] x população média x 1000

Finalmente, o método dos números proporcionais permite uma melhor comparação,


nomeadamente quando se representam os dados obtidos graficamente.

Este método assenta na mesma lógica que o anterior, no qual dividem-se os óbitos
mensais pelo número de dias do mês. Porém, os resultados obtidos são depois
substituídos por números proporcionais de modo a que o seu total seja igual a 1200.

Deste modo, cada mês fica representado por um número, independentemente da


duração do mês, de forma a que o seu desvio (positivo ou negativo) em relação a 100
identifique a particularidade de cada mês (Nazareth, 2004, p. 201-202).

“…a morte é provocada por uma ou uma combinação de uma grande variedade de
causas, ou doenças, e a compreensão da mortalidade requer uma compreensão das
tendências em cada uma das principais causas de morte” (Bogue, 1969, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017).

A maioria dos governos nacionais classifica as causas de mortes de acordo com a


Classificação Internacional de Doenças (CID), desenvolvida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Esta classificação passa por uma revisão periódica (Poston & Bouvier,
2017).

Na décima revisão da CID (adaptada em 1992), as causas de morte são classificadas em


vinte e duas categorias principais. Atualmente já está disponível o CID 11.10

A morte é um comportamento complexo. Existem milhares de maneiras diferentes de


morrer; algumas causas de morte ocorrem com mais frequência do que outras.

Nem todas as pessoas morrem pelas mesmas causas principais, e isso se deve em
grande parte aos níveis socioeconómicos dos países.

A mortalidade varia com a idade, mas as causas de morte também variam com a idade.

As principais causas estão associadas a doenças degenerativas e crónicas.

Os homens têm menos probabilidade de morrer de doenças degenerativas do que


mulheres em todas as idades, e essa diferença aumenta entre os mais velhos. As
mulheres vivem mais do que os homens e, portanto, têm maior probabilidade de morrer
de doenças crónicas e degenerativas (Poston & Bouvier, 2017).

10
https://www.who.int/classifications/classification-of-diseases
https://icd.who.int/browse11/l-m/en
Fomes

A fome foi considerada uma causa de morte. As populações dos tempos pré-industriais
tinham muito menos controlo sobre o suprimento de alimentos do que hoje em dia.
Houve declínios graves na população em grande parte da Europa durante os anos de
fome de 1315–1317. Na década de 1690, um sexto da população em algumas províncias
suecas morreu após graves quebras de produção de cereais (trigo, milho). A fome da
batata irlandesa de 1846-1851, conhecida na Irlanda como a Grande Fome, matou cerca
de um milhão de pessoas, embora algumas estimativas apontem para um número tão
alto quanto 1,5 milhão.

A última grande fome na Europa foi a fome finlandesa de 1868. Além disso, cerca de 19
milhões de pessoas provavelmente morreram na Índia entre 1891 e 1910 como resultado
da fome.

Uma das fomes mais destrutivas no registo demográfico ocorreu na China entre 1958 e
1961. Estima-se que entre 30 e 40 milhões de chineses morreram como resultado direto
da fome, com 12 milhões das mortes de pessoas menores de dez anos.

A principal causa da fome resultou do programa mal concebido e excessivamente


ambicioso do Grande Salto para a Frente, iniciado em 1958 por Mao Zedong e projetado
para "envolver uma luta revolucionária contra a natureza para realizar o grande potencial
da agricultura, maximizando as vantagens da economia coletiva” (Aird, 1972, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017, p.179).

Epidemias

Uma epidemia é um grande aumento ou aumento de uma doença infeciosa numa área
que resulta num grande número de mortes, seguido por um declínio. Muitas infeções e
doenças contagiosas se tornaram epidérmicas, incluindo escarlatina, sarampo, gripe e
cólera.

As epidemias geralmente começam a um nível local e, em seguida, espalham-se para


áreas próximas. Se uma epidemia atinge vários países ou continentes, é conhecida como
pandemia. As pandemias são muito mais perturbadoras demográfica, económica e
socialmente do que as epidemias.

As epidemias foram importantes para o desenvolvimento da demografia moderna,


especialmente no rastreamento das mortes de uma população. Por exemplo, a epidemia
de gripe espanhola resultou no estabelecimento do Sistema de Vigilância do Crescimento
pela Liga das Nações.
Uma das piores epidemias da Europa, a Peste Negra, resultou na morte de cerca de um
terço da população do continente. O número estimado de mortes causadas pela Peste
Negra varia de um mínimo de 25 milhões até um máximo de 60 a 75 milhões. Este é um
valor surpreendente, dado que toda a Europa no século 14 provavelmente contava com
cerca de 80 a 90 milhões de habitantes.

Uma epidemia recente foi a epidemia de gripe espanhola. Ela espalhou-se pela Europa
em 1918 e depois para o resto do mundo. Os epidemiologistas estimam que a epidemia
resultou na morte de cerca de 50 milhões de pessoas. A gripe espanhola pode muito
bem ter infetado quase mil milhões de pessoas, ou quase metade da população do
mundo naquela época (Poston & Bouvier, 2017).

O HIV Sida (síndrome da imunodeficiência adquirida) atinge o mundo há mais de trinta


e cinco anos. Poderá, em breve, ser responsável por mais mortes do que os 100 milhões
de vítimas da peste negra e das epidemias de gripe espanhola.

O vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Sida, foi isolado em 1983 no
Instituto Pasteur em Paris.

No final da década de 1980 e início da década de 1990, o HIV Sida foi identificado em
todas as regiões do mundo.

No início do ano de 2014, a Organização Mundial da Saúde estimou que 74 milhões de


pessoas em todo o mundo foram infetadas desde que o vírus foi reconhecido pela
primeira vez em 1981; 39 milhões morreram, e a maioria dos 35 milhões que vivem com
HIV provavelmente morrerá de causas relacionadas ao HIV (Poston & Bouvier, 2017).

Guerras

As consequências demográficas da guerra em relação à mortalidade não são fáceis de


determinar. Alguns historiadores e arqueólogos militares definem a guerra como todos
os tipos de conflitos envolvendo mais de dois combatentes. Além das mortes militares
registadas, há também a questão das perdas civis que ocorrem em consequência da
guerra, incluindo a infeção por doenças transportadas pelos soldados, assassínios
associados a roubos, fome após a destruição de terras agrícolas e sofrimentos que
ocorrem como resultado de desorganização económica e social. Os dados de mortalidade
da guerra são mais bem documentados para atividades no século XX em comparação
com eras anteriores.
“O tamanho plausível do número de mortos de militares e civis seria de cerca de 8,5
milhões na Primeira Guerra Mundial e 40 milhões na Segunda Guerra Mundial”
(Etherington, 2003, conforme citado em Poston & Bouvier, 2017, p.186).

Frequentemente, o número de mortes de civis excede o número de mortes de militares.


É provável que, durante a Segunda Guerra Mundial na Rússia, 60% das mortes tenham
sido civis (Poston & Bouvier, 2017, p.186).

Medidas das causas de mortalidade

“O conhecimento dos padrões comparativos de mortalidade inclui o estudo das doenças


ou outros fatores que constituem as causas determinantes da mortalidade” (Leston
Bandeira, 2004, p. 229).

Para analisar as causas de mortalidade utilizamos os indicadores de medida


anteriormente apresentados.

Assim, a Taxa Bruta de Mortalidade por Causa é o mais imediato instrumento de medida
de que dispomos.

Obtém-se por meio do quociente entre o número de óbitos pela causa C e a população
total média (Leston Bandeira, 2004, p. 229).

TBMC = ____óbitos pela causa C__ *1000

População Total média

As taxas obtidas desta forma permitem efetuar comparações, pois sintetizam o peso
relativo de uma dada doença na estrutura de uma população. No entanto, os resultados
obtidos com as mesmas não permitem saber quais os tempos de maior ou menor
incidência do risco na vida dos indivíduos. Deste modo, será conveniente recorrer-se ao
cálculo de taxas de mortalidade segundo a causa e a idade. Podem calcular-se estas
taxas para todas as causas permitindo conhecer o peso relativo de cada grupo de causas
de mortalidade nas diferentes idades (Leston Bandeira, 2004, p. 233-234).

6.5. TÁBUA DE MORTALIDADE. A ESPERANÇA DE VIDA

Como vimos anteriormente, a Taxa Bruta de Mortalidade não é uma boa medida para se
comparar duas populações com estruturas etárias diferentes. Uma alternativa seria
analisar o conjunto das Taxas Específicas de Mortalidade.
Entretanto, dado o elevado número de Taxas Específicas de Mortalidade e a diversidade
de estruturas de mortalidade, segundo a idade, em duas ou mais populações, a
comparação entre Taxas Específicas de Mortalidade pode dificultar a análise dos níveis
de mortalidade (Pressat, 1980).

Um dos indicadores que têm a característica de ser uma medida-resumo e que não sofre
a influência da estrutura etária da população é a esperança de vida.

Na realidade, a esperança de vida, ao contrário da Taxa Bruta de Mortalidade, não


depende da estrutura etária das populações, mas apenas dos seus níveis de mortalidade.
Para além disso, o cálculo da esperança de vida possibilita comparar níveis de
mortalidade entre populações diferentes.

A esperança de vida é, deste modo, um indicador importantíssimo de mortalidade que


se caracteriza por ser um índice de síntese ou um indicador sintético da mortalidade
(Leston Bandeira, 2004).

A esperança de vida numa determinada idade pode ser interpretada como o número
médio de anos que um indivíduo viverá a partir daquela idade, considerando o nível e a
estrutura de mortalidade por idade observados naquela população.

A esperança média de vida à nascença representa, assim, o número médio de anos


vividos por uma geração (Rollet, 2007).

Por exemplo, a esperança de vida à nascença de 70 anos é o número médio de anos


que um indivíduo nascido num determinado momento do tempo pode viver, se as
condições de saúde observadas nesse momento não se alterarem ao longo do tempo.
Isto é, se forem mantidos os níveis de mortalidade verificados nas diferentes idades.

Em suma, nessa população com uma esperança de vida ao nascer de 70 anos, uma
criança que nasce viverá em média 70 anos.

No início dos anos 1950, a esperança de vida no mundo era de apenas 46 anos, mas
chegou a 69 anos em 2010. A ONU projetou que em 2050, a esperança de vida para o
mundo chegará a 76 anos e a 82 anos em 2100.

No entanto, a esperança de vida no mundo desenvolvido em 1950 já era de 65 anos,


em 2010 era de 77 anos, e a projeção é de 83 anos em 2050 e 89 anos em 2100 (Poston
& Bouvier, 2017, p.173).

A vida média na idade x, ou esperança de vida, resume as expetativas de sobrevivência


dos indivíduos numa geração ou no momento.
Dado que representa o número médio de anos vividos por uma geração, calcula-se
adicionando o número de anos vividos pelo conjunto da geração (ou gerações) durante
um ou mais anos, dividindo o resultado obtido pelos respetivos efetivos iniciais (Leston
Bandeira, 2004).

“Devemos partir do princípio que as pessoas falecidas entre dois aniversários são
distribuídas linearmente no tempo: assim, entre 0 e 1 ano, o número de anos vividos em
média é de 0,5 ano, entre 1 e 2 anos, de 1,5 ano, etc.” (Rollet, 2007, p. 67).

A esperança de vida à nascença obtém-se a partir da construção da tábua de


mortalidade.

A descrição dos fenómenos demográficos, numa tábua, incide sobre um grupo cuja
identidade é determinada por um mesmo acontecimento (acontecimento – origem).

No que toca à mortalidade, o acontecimento-origem é o facto de um grupo de pessoas


que nasceram no mesmo ano, constituírem uma geração. Ao longo das idades, as
pessoas são submetidas aos riscos de casar, procriar, divorciar-se, morre. A amplitude
destes riscos varia em função da idade.

Para medir a probabilidade de um dado acontecimento ocorrer numa geração entre duas
idades, utiliza-se o quociente. Este instrumento de medida constitui a medida chave na
construção de uma tábua.

O quociente de mortalidade, que ao contrário das taxas não tem uma dimensão anual,
mede o risco de alguém de idade X, pertencente à geração G, morrer antes de atingir o
aniversário X+a.

A probabilidade complementar a este risco mede o seu contrário, sendo que o


complemento a 1 do risco de mortalidade é a probabilidade de sobrevivência (Leston
Bandeira, 2004).

A tábua de mortalidade é constituída por três séries de base:

- a série dos sobreviventes {Sx}, que mede a lei de sobrevivência da geração,

- a série dos óbitos entre a idade x e a idade x+a; {O (x,x+a)}

- a série dos quocientes {aqx}

Toma-se como efetivo inicial da tábua um múltiplo de 10 (1 000, 10 000 ou 100 000),
denominado por Raiz da Tábua (S0). Conhecidos ou já calculados os quocientes,
multiplica-se esse efetivo inicial pelo quociente de mortalidade entre 0 e 1 ano (1q0),
obtendo-se deste modo o número de óbitos da tábua {O (0,1)}, ocorridos entre dois
aniversários. Subtraindo estes óbitos ao efetivo inicial, obtém-se o número de
sobreviventes no primeiro aniversário (S1).

Efetuam-se estas operações de forma sucessivas pelas várias classes de idades até à
extinção da série dos sobreviventes.

A construção de uma tábua de mortalidade possibilita descrever de forma subtil o destino


de uma geração: de que modo uma determinada geração percorreu as várias idades da
vida até acabar por desaparecer completamente após 100 anos. Traduz, pois, a
frequência do fenómeno mortalidade numa coorte, ao longo do tempo, ou seja, das
idades percorridas pelos indivíduos que compõem essa coorte.

A tábua de mortalidade descreve como desapareceram progressivamente os indivíduos


de uma geração, assim como sobreviveram nas idades sucessivas. Reconstitui deste
modo, de forma sintética, a progressão dos acontecimentos (neste caso, a morte) numa
geração.

A tábua de mortalidade pode ser apresentada de forma completa, tratando-se neste


caso de uma descrição exaustiva, ano a ano, das leis de sobrevivência e de mortalidade
da geração. Ou pode apresentar-se de forma resumida, agrupando as idades por grupos
quinquenais, a partir dos 5 anos.

Por outro lado, podemos falar de uma tábua bruta quando a mesma mede o risco de
mortalidade na ausência de migrações, ou de uma tábua líquida se na mesma forem
tidos em consideração os efeitos das migrações (Leston Bandeira, 2004).

As tábuas de mortalidade de geração, na perspetiva de uma análise longitudinal, são na


realidade hoje pouco utilizadas. O recuo progressivo da mortalidade nas sociedades
modernas e o facto de os dados disponíveis não permitirem facilmente a sua construção
reduziu a sua utilização.

Na verdade, “na maioria dos casos, interessa-nos muito mais observar as condições de
mortalidade existentes num determinado momento do que seguir uma geração durante umas
largas dezenas de anos. Por outras palavras, mesmo que os dados estejam disponíveis, é sempre
aconselhável construir uma tábua de mortalidade do momento ou em transversal” (Nazareth,
2004, p. 204).

As tábuas de mortalidade do momento possibilitando o conhecimento da mortalidade


numa dada época (um ou mais anos) permitem avaliar as condições sanitárias do
momento, assim como permitem através da comparação com tábuas de épocas
anteriores, acompanhar a evolução das tendências da mortalidade ao longo do tempo
(Leston Bandeira, 2004).
6.5.1. O Princípio da Translação: a construção das tábuas de
mortalidade

O princípio em que assenta a tábua de mortalidade do momento é o princípio da geração


ou coorte fictícia.

A tábua vai transformar a informação na transversal para uma informação na


longitudinal, ou seja, a transformação do que se observa num determinado momento do
tempo para uma coorte fictícia.

Consiste em submeter um grupo fictício de recém-nascidos à experiência de mortalidade


em cada idade, que é na verdade o risco calculado para um ano em estudo. Ou seja,
atribui-se toda uma sucessão de riscos a uma geração fictícia que na verdade foram
observados em gerações diferentes (Leston Bandeira, 2004).

Apresentam-se seguidamente as diversas funções de uma tábua de mortalidade


tomando por exemplo a tábua de mortalidade de Portugal, sexos reunidos, no período
2014/2016, com a designação atual das séries de base (quocientes, sobreviventes e
óbitos) utilizadas pelo INE e a nível internacional e com a introdução das séries derivadas
mais recorrentes. (Anexo 5 Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016
(Ambos os sexos) e Anexo 6 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016
(Homens)).

1. A primeira coluna é a das idades: as idades são apresentadas não sob a forma de
grupos etários, mas nos terminais das idades exatas (0, 1, 5, 10, 20, 25…);

2. Na segunda coluna temos a função nqx (ou aqx); são os quocientes de mortalidade,
isto é, a probabilidade de morte, entre a idade exata x e a idade exata x + n, onde n é
a amplitude dos grupos de idade.

3. Na terceira coluna temos Ix (ou Sx): os sobreviventes em cada idade exata x. Para
tornar possível as comparações temporais e espaciais, aplica-se a um mesmo efetivo
(normalmente a raíz da tábua l0 =100.000) a lei da mortalidade definida pelos nqx ou
de sobrevivência definida pelos npx. Sendo que npx = 1 – nqx.

4. Na quarta coluna temos ndx (ou O (x, x+a)): é a distribuição dos óbitos (tendo em
conta o efetivo inicial de 100.000) por idades ou grupos de idades, entre um grupo etário
e outro, por idades exatas: ndx = Ix-Ix+n

5. Na quinta coluna temos nLx: é o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre
as idades exatas x e x + n, ou seja, entre duas idades ou sobreviventes em anos
completos. Obtém-se multiplicando os efetivos médios entre idades exatas pelo número
de anos.

6. Na coluna seis temos Tx: é uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim
da tábua, soma-se de baixo para cima. É o total de anos vividos pela coorte (fictícia)
depois da idade x. Como nLx é o número de anos vividos entre as idades exatas x e x +
n, para obter o total de anos vividos basta somar os nLx.

7. A coluna sete é a esperança de vida. ex: é a esperança de vida na idade x, ou seja,


o número médio de anos que resta viver às pessoas que atingiram a idade x. Quando x
= 0, temos a esperança de vida à nascença, ou seja, o número total de anos vividos
desde o nascimento, dividido pelo efetivo inicial.

Ex=Tx / Ix ou E0 = T0 / I0

Vamos agora construir uma tábua de mortalidade:

O ponto de partida de uma tábua de mortalidade é o cálculo das taxas de mortalidade


por grupos etários e sexos separados.

É necessária a informação sobre óbitos por grupos etários, efetivos por sexos separados.

1º : Calcula-se as taxas de mortalidade por grupos de idade (nTx), ou seja as Taxas


Especificas de Mortalidade (TEM), mantendo 5 casas decimais - é o ponto de partida da
tábua de mortalidade.

2º: nqx. Quocientes de mortalidade, isto é, a probabilidade de morte (nqx), entre a


idade exata x e a idade exata x+n; no seu cálculo utiliza-se a seguinte fórmula:

nqx=2n * nTx

2+n*nTx

onde n é a amplitude dos grupos de idade.

Exemplos:

1q0= T.M.I.C.= óbitos - 1 ano 90/91

nascimentos 90/91
O 1q0 é a verdadeira Taxa de Mortalidade Infantil.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

4q1= 2*4*0.00092

2+4*0.00092

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 1- 4 for 206(204+208/2)/223244


(população do censo de 91) = 0.00092.

5q5=2*5*0.00048 = 0.0048 = 0.0024

2+5*0.00048 2.0024

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 5 – 9 (5T5) for 0.00048

No caso do último grupo de idades, nqx é igual à unidade, uma vez que todas as pessoas
terão necessariamente que desaparecer.

3º lx

Sobreviventes em cada idade exata x. Para tornar possível as comparações temporais e


espaciais, aplica-se a um mesmo efetivo (normalmente a raiz da tábua l0 =100000) a
lei da mortalidade definida pelos nqx ou de sobrevivência definida pelos nPx.

Obtém-se assim os sobreviventes em cada idade exata x através da seguinte relação:

lx+n=1x*nPx

l0=100000

4l1= lx+n= lx*nPx

4º ndx

É a distribuição dos óbitos (tendo em conta o efetivo inicial de 100000) por idades ou
grupos de idades, entre um grupo etário e outro, por idades exatas: ndx=lx-lx+n
5º nLx

É o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre as idades exatas x e x+n, ou


seja entre duas idades ou sobreviventes em anos completos. Obtém-se multiplicando os
efetivos médios entre idades exatas pelo número de anos.

Exemplo:

Se tivermos 20 alunos no início do ano letivo e no final do ano, os mesmos 20 alunos,


viveram-se 20 anos: (20 (partida) + 20 (chegada)) *1=20

Se forem 5 anos, foram vividos 100 anos.

Se partirem 20 e chegarem 10, ao fim de um ano = 20+10/2=15*1=15

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Ao nível dos primeiros anos de vida não se verifica a linearidade da função de


sobrevivência, obtendo-se uma aproximação mais exata através das seguintes
expressões:

1L0=K’’ l0 + K’ l1

4L1=K’’ l1 + K’ l5 , onde K’’= 0.05 e K’= 0.95

Para as restantes idades, excetuando a 1ª e a 2ª (0-1 e 1-4), se eu tenho L5 e L10 e


se quero saber o nº médio de anos vividos calculo

nLx = (lx+lx+n) * n (amplitude)

Os diversos nLx, ao serem considerados como o número de anos vividos pelos


sobreviventes entre as idades x e x+n, podem também ser considerados como os
sobreviventes em anos completos.

Quanto ao último nLx (l80+) obtém-se através da seguinte expressão:

Lk+ = Tk, L80+ = l80/T80+

6º Tx
É uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim da tábua, soma-se de baixo
para cima.

É o total de anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x. Como nLx é o número
de anos vividos entre as idades exatas x e x+n, para obter o total de anos vividos basta
somar os nLx.

Assim temos:

𝑇𝑥 = ∑ 𝑛𝐿𝑥 O último Tx (ou Tk), que é igual a Lk+, obtém-se através da seguinte
expressão:

expressão:

𝑇𝑘 = onde mk+ é a taxa de mortalidade do último grupo de idades.

7º ex

É a esperança de vida na idade x, ou seja, o número médio de anos que resta viver às
pessoas que atingiram a idade x. Quando x=0, temos a esperança de vida à nascença,
ou seja, o número total de anos vividos desde o nascimento, dividido pelo efetivo inicial

e0= T0, ou seja, ex = Tx

l0 lx

Obtém-se assim o número médio de anos vividos desde o nascimento.


ATIVIDADES FORMATIVAS

Temos duas taxas brutas de mortalidade:

TBM (1950) = 102 915/8 441 315*1000 = 12,19 por mil

TBM (1990) = 103 115/9 883 400 *1000 = 10,43 por mil (Fonte : Nazareth, 1988b, 2004,
2016)

Segundo estes dois resultados, tivemos em 40 anos um declínio de apenas 14 %.


Comente este resultado e explique porque o resultado foi este.

1.Observe os seguintes dados para Portugal:

Óbitos Óbitos Grupos de População População


Grupos de idades
1949/52 1959/62 idades 1950 1960

1 19277 18106 1 174855 187739

1-4 9426 5956 1-4 714859 713671

5-9 1528 1012 5-9 798678 851145

10-14 928 599 10-14 799693 839400

15-19 1551 691 15-19 810964 747225

20-24 2279 920 20-24 761703 705209

25-29 2256 1102 25-29 681256 673194

30-34 1905 1324 30-34 541099 637452

35-39 2301 1593 35-39 567333 591184

40-44 2721 1734 40-44 524737 499411

45-49 3148 2585 45-49 460041 510724

50-54 3628 3584 50-54 390566 481429

55-59 4412 4649 55-59 331777 409026

60-64 5985 5984 60-64 294239 334019

65-69 7408 7949 65-69 229976 264150

70 + 34162 40056 70 + 359539 444419

Total 102915 97844 Total 8 441 315 8 889 397


Nota: 1949/52: Nascimentos 1949 =208712, Nascimentos 1952= 205163 1959/62:
Nascimentos 1959 =213062, Nascimentos 1962= 213895

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

a) Aprecie a evolução da mortalidade através das TBM no período 1950-1960.

b) Calcule a taxa de mortalidade infantil em 1950 e 1960.

2. Observe as tabelas dos anexo 5 Tábua Completa de Mortalidade para Portugal


2014-2016 (Ambos os sexos) e anexo 6 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal
2014-2016 (Homens)

a) Interprete a tábua de mortalidade

b) Descreva as seguintes colunas: nqx, lx, Tx.

c) Comente a esperança de vida ex


7. AS MIGRAÇÕES

Objetivos

1.Identificar a especificidade dos movimentos migratórios enquanto elemento


fundamental da dinâmica de crescimento das sociedades contemporâneas;

2.Conhecer e aplicar os métodos de análise dos movimentos migratórios;

3.Distinguir os diferentes tipos de migrações.

Introdução

Neste capítulo, apresentamos o componente restante do crescimento populacional, a


migração.

Começaremos por definir a migração. Em seguida, descreveremos os principais padrões


de migração interna e internacional e teorias sobre as causas ou determinantes da
migração. Finalmente, abordaremos as consequências e as preocupações políticas da
migração internacional, especialmente o fluxo populacional das regiões menos
desenvolvidas para as regiões mais desenvolvidas do mundo.

Além da fecundidade e da mortalidade, a terceira maneira pela qual as populações


mudam de tamanho é por meio da migração; o tamanho da população diminui na área
de origem e aumenta na área de destino. Ao contrário dos eventos anteriores, o evento
de migração pode ocorrer em várias ocasiões ou nunca ocorrer durante a nossa vida.

7.1. O QUE É MIGRAÇÃO?

A migração é mais difícil de definir do que outros processos de crescimento demográfico,


a mortalidade e fecundidade. Nem todos os movimentos através das fronteiras
geográficas são migrações, uma vez que nem todos envolvem mudança de residência.
Nem há tentativas consistentes de registar todos os movimentos através das fronteiras
geográficas à medida que ocorrem.

Enquanto todos os nascimentos contribuem para a fecundidade e todas as mortes


contribuem para a mortalidade, nem todos os movimentos contribuem para a migração.
Uma viagem de férias, uma mudança para um apartamento vizinho, uma tarefa para a
loja, uma viagem diária para o trabalho: essas mudanças não são migrações.
Quais movimentos os demógrafos consideram migrações?

As migrações são os movimentos populacionais que aumentam ou diminuem os


membros de uma população ou sociedade. Para os demógrafos, a pertença a uma
população está intimamente ligada à ideia de residência. Residência, neste contexto,
significa mais do que apenas estar fisicamente presente numa localização geográfica
num momento no tempo; implica estar socialmente “inserido” numa população.

A migração, ou mudança no número de membros da população, é então identificada


demograficamente como uma mudança na residência. Para ser mais preciso, os
demógrafos exigem uma mudança para satisfazer três condições para se qualificar como
uma migração: (1) Deve envolver uma mudança permanente ou semipermanente na
sua residência; (2) deve cruzar algum limite administrativo; e (3) deve ocorrer durante
um determinado momento ou período (Pressat, 1980). Esta é a definição mais simples
de migração, uma mudança na residência através de alguma fronteira geopolítica num
determinado período de tempo.

Nota-se que esta definição de migração não usa o critério de distância nem o de duração,
pelo menos não diretamente. Uma mudança de residência ao atravessar a rua pode ser
uma migração se cruzar as fronteiras administrativas, enquanto uma viagem de férias
ao redor do mundo pode não ser. Um cidadão de um país pode viver por anos noutro,
sem alterar a sua cidadania, enquanto um refugiado pode adotar imediatamente a sua
nova casa como país de residência. Os demógrafos podem usar a distância de
movimento e a duração da estadia - ou mesmo a duração pretendida - como um
indicador para a mudança de residência, mas a “reinserção” continua a ser o critério
subjacente.

Que tipo de movimento fica então de fora dessa definição demográfica de migração?
Uma exclusão seria a mudança de pessoas que não têm residência geograficamente
durável, antes ou depois da mudança, como populações nómadas ou sem-teto. Outra
exclusão seria os movimentos de curto prazo de tipo periódico, por exemplo, deslocações
para o trabalho ou viagens anuais de férias. Outra exclusão categórica seria uma
mudança de residência dentro de uma unidade geopolítica, como mudar de uma casa
atual para outra na mesma área administrativa.

Esta última exclusão levanta uma dificuldade na definição de migração. A determinação


de quais movimentos serão chamados de migrações depende da escala das unidades
geopolíticas que se considera, a área que define a migração (Pressat, 1980).

Os demógrafos devem ter o cuidado de especificar a que escala de migração se referem.


Por exemplo, distinguem universalmente entre migração internacional e interna.
Uma mudança residencial permanente, local ou jurisdicional, é geralmente definida como
uma mudança de residência, com duração de pelo menos um ano (Poston & Bouvier,
2017, p. 217).

A migração residencial de pessoas que se mudam para uma área de destino é chamada
de migração interna; a migração de pessoas que saem de uma área de origem é
conhecida como emigração. É possível que um migrante volte para a sua área de origem
durante o curso da sua vida, e esse regresso residencial é conhecido como migração de
retorno.

Quando subtraímos o número de migrantes externos do número de migrantes internos


de uma determinada área geográfica, obtemos a migração líquida. O saldo líquido pode
ser positivo, negativo ou zero.

Quando adicionamos a migração interna e externa de uma área, obtemos a migração


bruta.

Chamamos a um grupo de migrantes com uma área comum de origem e uma área
comum de destino durante um intervalo de migração especificado um fluxo de migração.

Um contra-fluxo de migração, geralmente menor em tamanho, move-se na direção


oposta do fluxo de migração durante o mesmo intervalo de tempo. Um intervalo de
migração é o tempo decorrido entre dois eventos, nomeadamente a hora de chegada à
área de destino e a hora de saída da área de origem.

A migração diferencial é o estudo das diferenças nas populações migrantes de acordo


com as suas características demográficas, sociais e económicas. Algumas pessoas têm
maior probabilidade de migrar do que outras, enquanto outras podem ter maior
probabilidade de permanecer devido aos seus atributos diferenciais. Chamamos de
seletividade da migração (Poston & Bouvier, 2017, p.219).

O vocabulário da migração é mais facilmente introduzido ao examinar o diagrama


esquemático de migração simplificado mostrado na Figura 14.
Figura 14-Diagrama da Migração entre duas áreas

Fonte: Lundquist, Anderton, Yaiukey, 2015, p. 327, figure 9-1.

Observamos duas áreas, A e B, cada uma com uma população residencial especificada
no início de um ano. Durante aquele ano, um conjunto de pessoas cruza da área A para
a área B e outro conjunto atravessa da área B para a área A. Suponhamos que essas
passagens de fronteira signifiquem mudanças de residência - que são migrações.

O foco de interesse está nos fluxos de migração. Um fluxo de migração consiste nas
pessoas que migram de uma área especificada para outra num determinado período de
tempo. As setas na Figura 14 mostram dois fluxos. Os números dentro das setas indicam
de quantas pessoas se trata e o tamanho da seta representa o tamanho do volume.

De uma perspetiva local, as prioridades são diferentes. Consideremos a posição da área


A, sendo as áreas A e B nações.

Dessa posição, os 100 que se movem da área B para a área A representam a imigração;
os 50 que se mudam da área A para a área B representam a emigração.

Se as áreas não fossem nações, mas subunidades (ou seja, se a migração fosse interna),
então os processos poderiam ser rotulados de migração externa em vez de emigração,
e migração interna em vez de imigração.

(Poston & Bouvier, 2017, p. 227; Lundquist, Anderton, Yaiukey, 2015, p. 326-328).

7.2. DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO

Por que razão as pessoas migram? O estudo teórico da migração começou com
observações de que (1) nem todas as pessoas têm a mesma probabilidade de se mover
- na verdade, a grande maioria no mundo não migra internacionalmente e (2) que
pessoas têm maior probabilidade de se mover pode ajudar a entender as forças
subjacentes à migração. A identificação dos grupos com maior probabilidade de migrar
fornece generalizações empíricas sobre a migração que podem então contribuir para as
explicações teóricas da migração (Pressat, 1980).

Sobre o volume de migração, Lee (1966) afirma:

1. O volume de migração dentro de um determinado território varia com o grau de


diversidade das áreas incluídas nesse território.

2. O volume de migração varia com a diversidade de pessoas.

3. O volume de migração está relacionado com a dificuldade de superar os obstáculos


intermediários.

4. O volume de migração varia com as flutuações da economia.

5. A menos que controlos severos sejam impostos, tanto o volume como a taxa de
migração tendem a aumentar com o tempo.

6. O volume e a taxa de migração variam com o estado de progresso de um país ou


área.

Acerca dos fluxos de migração e contra fluxos observa-se que:

1. A migração tende a ocorrer principalmente dentro de fluxos bem definidos.

2. Para cada fluxo de migração principal, um contra-fluxo se desenvolve.

3. A eficiência do fluxo (a razão entre o fluxo e o contra fluxo) é alta se os principais


fatores no desenvolvimento de um fluxo de migração forem fatores negativos na origem.

4. A eficiência de um fluxo migratório varia com as condições económicas, sendo alta


em tempos de prosperidade e baixa em tempos de depressão.

Lee continuou a observar que a migração não é apenas seletiva, mas o grau de
seletividade varia (1966, pp. 56-57).

Onde a migração é influenciada principalmente pelas atrações para a área de destino,


então os migrantes provavelmente serão selecionados positivamente. Ou seja, aqueles
que têm maior probabilidade de vencer na competição por essas qualidades atraentes
(por exemplo, empregos) têm maior probabilidade de migrar. Por outro lado, onde a
migração é impulsionada principalmente por forças negativas na área de origem (como
turbulência política ou calamidade natural), então a emigração tende a ser menos
seletiva.

Alguns obstáculos entre a área de origem e destino tais como a distância, barreiras
legais, ameaças à sobrevivência, tendem a tornar a migração mais seletiva. Com o
tempo, há uma tendência à erosão da seletividade num fluxo migratório, como nas
migrações pioneiras, nas quais jovens adultos aventureiros iniciam o fluxo e,
posteriormente, mandam buscar as suas famílias e amigos.

Lee (1966) também observou que a migração é especialmente provável nas transições
entre as fases da vida: casar, entrar no mercado de trabalho, quando os filhos saem de
casa, divorciar-se, aposentar-se, ficar viúvo. Como vimos, uma expressão disso é a
seletividade quase universal por idade da migração à medida que jovens adultos
ingressam na força de trabalho.

A migração também seleciona por sexo, mas a natureza dessa seleção varia,
dependendo de questões, como a definição dos papéis de género. Tradicionalmente, a
migração é selecionada para homens jovens em busca de trabalho ou dinheiro no
exterior. Mas a seletividade por género torna-se mais variada à medida que as barreiras
à participação das mulheres no mercado de trabalho são reduzidas e, particularmente,
devido à globalização da procura por profissionais de saúde (UNCTAD, 2012; Chant e
Radcliffe, 1992, conforme citado em Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

7.3. MIGRAÇÃO INTERNACIONAL

Acredita-se que a primeira migração internacional de humanos ocorreu há cerca de 60


000 anos atrás. A migração internacional é um movimento geográfico que envolve uma
mudança de residência que atravessa as fronteiras de dois ou mais países. A migração
internacional tem impactos positivos e negativos nas áreas de origem e nos países de
destino (Poston & Bouvier, 2017).

Muito da história da migração humana ocorreu antes dos demógrafos começarem a


recolher dados sobre a migração. Para colocar o estudo num contexto histórico, seria
útil rever esses padrões de migração pré-históricos e históricos até aos tempos
modernos.

A migração forçada em várias formas resulta, direta ou indiretamente, de expansões e


conflitos de estado. As nações em expansão frequentemente estabelecem postos
comerciais avançados, como fizeram os fenícios e os gregos ao redor do Mediterrâneo.

Os movimentos de refugiados cada vez mais importantes dos tempos modernos


testemunham a persistência das migrações forçadas.

Com fluxos contínuos e variáveis, escolhemos como ponto de partida para introduzir a
migração moderna o ano de 1965, embora a mudança dos padrões de migração pré-
modernos para os modernos na verdade tenha abrangido o período do final da Segunda
Guerra Mundial até então. Durante estas duas décadas, os padrões de migração
sofreram uma mudança fundamental de migrações amplamente influenciadas pela
expansão da população europeia e história política, para migrações cada vez mais
influenciadas pela globalização, a demografia dos países pós-transição soviética e
movimentos de refugiados de conflitos e guerra civil.

Migração voluntária

Nos Estados Unidos, quando as restrições à imigração foram amenizadas em meados da


década de 1960, deu-se uma onda de imigrantes, que é muito diferente do que
aconteceu antes ou durante as guerras mundiais. A imigração da Europa para os Estados
Unidos continuou, mas com níveis reduzidos. Na América, o fluxo dominante de migração
mudou de europeus para a América do Sul e do Norte, para latino-americanos para a
América do Norte, com a imigração a diminuir no período da Grande Recessão.

Na Europa, os realinhamentos políticos do pós-guerra, a reconstrução e a prosperidade


da Europa Ocidental atraíram imigrantes da Europa Oriental, que durou até à dissolução
da União Soviética. A prosperidade na Europa e o envelhecimento da força de trabalho
europeia atraíram imigrantes do norte da África e do Médio Oriente, embora esses fluxos
tenham estagnado temporariamente durante a recessão de 2007-2009 e as suas
consequências. Essas mudanças resultaram numa mudança, como na América, dos
fluxos de migração norte-sul para sul-norte.

Embora as causas sejam bem diferentes, uma reversão semelhante nos padrões de
migração ocorreu na Federação Russa e na Comunidade de Estados Independentes.

Os fluxos de migração pré Segunda Guerra Mundial que fluíam das regiões mais
desenvolvidas para as menos desenvolvidas mudaram de direção.

Os fluxos de migração interna entre os países europeus também aumentaram de forma


constante com o surgimento da União Europeia (UE) e a abertura das fronteiras dentro
da UE.

As migrações temporárias e os deslocados de refugiados superam as migrações


permanentes, nos tempos modernos.

Migração forçada

Uma segunda grande mudança no período de migração moderna é a mudança nos níveis
e padrões da migração forçada. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, o tamanho
da migração forçada aumentou. A população global de refugiados, por exemplo,
aumentou de menos de 2 milhões em 1965 para mais de 15 milhões de pessoas em
2013 (Nações Unidas, 2013b; ACNUR, 2005).

São indivíduos que têm de deixar as suas casas para a sua própria segurança ou
sobrevivência, muitas vezes devido a guerras ou desastres naturais. Ao incluir o número
de pessoas que também foram deslocadas internamente, o número de refugiados sobe
para cerca de 43 milhões em todo o mundo (Nações Unidas, 2013b).

As origens dos movimentos de refugiados também mudaram: nas décadas de 1940 e


1950, as migrações forçadas foram principalmente consequências das guerras europeias
e do declínio dos impérios europeus. As migrações forçadas hoje têm sido em grande
parte o resultado das guerras dos EUA no Médio Oriente e de conflitos entre alguns
países menos desenvolvidos. A mudança na origem global dos refugiados ao longo do
tempo reflete essa mudança: na década de 1950, os refugiados eram em grande parte
de países europeus; em 2012, mais da metade de todos os refugiados eram do
Afeganistão e do Iraque ou de países em guerra civil, como a Síria, Sudão e Somália.

Migrações forçadas durante e após a Segunda Guerra Mundial (por exemplo, milhões de
judeus provindos da Alemanha como refugiados políticos durante a ascensão de Hitler
ao poder nos anos 1930) prenunciaram a importância crescente dos movimentos de
refugiados no período moderno.

O fim da Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria que se seguiu resultaram em imensas
migrações forçadas. Cerca de 20 milhões de pessoas na Europa Central e Oriental
estiveram envolvidas em vários tipos de voos, trocas, expulsões e transferências. A
maioria dessas pessoas mudou-se para a Europa; alguns acabaram na América do Norte
ou em outros países fronteiriços. Na Ásia, 3 milhões de japoneses que se mudaram para
partes distantes do império foram devolvidos por decreto à pátria.

A emergência do sistema colonial no pós-guerra também resultou em migrações


forçadas. A divisão da Índia e do Paquistão em 1947, por exemplo, resultou na fuga de
cerca de 7 milhões de hindus para a Índia e igual número de muçulmanos para o
Paquistão. Em 1948, após o estabelecimento do Estado de Israel, cerca de 700 000
árabes palestinianos fugiram. A vitória comunista na China em 1949 causou a migração
de milhões para outras partes da Ásia, como Taiwan. A revolução cubana enviou uma
onda de migrantes através do Atlântico Sul para as costas da Flórida. A guerra indo-
paquistanesa em 1971 deu origem ao estado de Bangladesh e desencadeou a troca de
outros milhões entre aquele país, Índia e Paquistão.

O estabelecimento de estados africanos pós-coloniais, com fronteiras arbitrariamente


designadas por antigas potências coloniais, resultou em migrações maciças e preparou
o cenário para conflitos futuros na região. Conflitos e guerras civis dentro dos estados
africanos resultaram em migrações significativas de refugiados na Somália, Sudão,
República Democrática do Congo e Mali, entre outros. A invasão do Afeganistão e do
Iraque pelos EUA, o conflito árabe-israelita e o conflito na Síria geraram outros
movimentos de refugiados.

Os países asiáticos acolhem quase metade dos refugiados do mundo, muitos dos quais
são afegãos deslocados pela guerra EUA-Afeganistão. Os países africanos também
recebem uma proporção substancial, mais de 30%, dos refugiados.

Além da migração de refugiados, outro tipo de migração forçada é o tráfico humano


moderno. O tráfico de seres humanos é definido como recrutamento pela força ou
engano para fins de exploração sexual ou trabalho forçado.

Migração de trabalho voluntário temporário

A terceira grande mudança criando os padrões modernos de migração têm sido o


aumento da força de trabalho temporária em larga escala com deslocalizações das
economias menos desenvolvidas para as mais desenvolvidas. Isso é frequentemente
conhecido como migração "circular" realizada por "trabalhadores convidados". Os fluxos
internacionais deste tipo tornaram-se consideráveis no contexto moderno de
globalização e sistemas de transporte de alta velocidade.

As mesmas condições que atraíram a imigração voluntária para a Europa e América do


Norte (ou seja, uma força de trabalho em envelhecimento e prosperidade relativa),
quando combinadas com as restrições de imigração, incentivam a importação de
migrantes estrangeiros com estatuto não permanente, trabalhador convidado ou
indocumentado para atender às necessidades da força de trabalho.

Os fluxos de migração para esses países de regiões menos desenvolvidas incluem


migrações de mão-de-obra temporária substanciais. Nos países ricos em petróleo do
Golfo, grandes percentagens da população são compostas por imigrantes trabalhadores
convidados. Em alguns desses países, como Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos, os
imigrantes são uma maioria.

As primeiras ondas de imigrantes foram recrutadas principalmente de países mais pobres


do Médio Oriente, como a Palestina, Iêmen e Jordânia, mas a maioria dos trabalhadores
temporários nos estados do Golfo, hoje é recrutada na Ásia (Kapiszewski, 2006).

Duas correntes de migração da Ásia consistem substancialmente em migrações de mão-


de-obra temporária. O primeiro desses fluxos foi do Centro-Sul da Ásia (por exemplo,
Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka) para outros países asiáticos e no exterior para
o Médio Oriente e Oceânia. Outro grande fluxo de migração é o do sudeste asiático (por
exemplo, Indonésia, Filipinas e Tailândia) e leste da Ásia (por exemplo, China e Coreia)
para a Ásia ocidental e no exterior.

Nem todos os fluxos de migração da força de trabalho são migrações temporárias e


mesmo aquelas que começam como temporárias na intenção podem não permanecer
assim. Esses fluxos de migração são, no entanto, uma parte importante dos padrões
modernos de migração. Podem representar problemas tanto para os países de
acolhimento quer para os imigrantes devido à ambiguidade de seu estatuto temporário.

Migração irregular

Os migrantes internacionais são frequentemente classificados como legais ou ilegais,


autorizados ou não autorizados e sem documentos. Um imigrante não autorizado é um
migrante internacional que imigra para um país de acolhimento “através de canais
irregulares ou extralegais” e que não foi admitido pelo país de acolhimento para
residência permanente “e não está num conjunto de estatutos temporários autorizados
específicos que permitem residência de longo prazo e trabalhar.” (Poston & Bouvier,
2017, p. 260).

Um migrante internacional não é autorizado quando 1) a pessoa entra ilegalmente sem


inspeção; ou 2) o migrante ultrapassa o limite de tempo de um visto temporário de não-
imigrante obtido legalmente. Em relação ao volume de imigrantes não autorizados em
todo o mundo, a Organização Internacional para as Migrações estima o número entre
30 e 35 milhões de pessoas, constituindo cerca de 15 por cento (%) ou mais do número
total estimado de 232 milhões de migrantes internacionais. A maioria dos imigrantes não
autorizados vem de países em desenvolvimento e tende a ir para certos países que
servem como imãs para imigrantes não autorizados.

Na África, a África do Sul pós-apartheid tornou-se o principal destino de imigrantes não


autorizados de outros países africanos. Na Ásia, a maioria dos fluxos de imigrantes não
autorizados vai para o Japão, Coreia do Sul e Malásia. Na Europa, os principais países
de destino costumavam ser o Reino Unido, Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Suíça,
mas na década de 1990 esses países introduziram leis de imigração rígidas. Os fluxos de
imigrantes não autorizados deslocaram-se para o Sul, para a Itália, Espanha e Portugal
(Poston & Bouvier, 2017).
7.4. IMPACTOS DA MIGRAÇÃO

7.4.1. Impacto no tamanho, composição da população e nas taxas de


crescimento

Passemos do estudo da migração internacional como um processo populacional para o


estudo do impacto desse processo no tamanho e na composição da população. São esses
resultados líquidos, e não os movimentos em si, que causam mais preocupação,
especialmente nos países de destino.

Podemos ver que as regiões menos desenvolvidas perderam migrantes e que as regiões
mais desenvolvidas ganharam os mesmos migrantes. A Ásia teve a maior migração
líquida negativa, com a maioria das outras perdas líquidas de migração provenientes da
África, América Latina e Caribe. A Europa e a América do Norte (EUA e Canadá) foram
as regiões com maior ganho líquido de migrantes.

As regiões mais desenvolvidas têm uma proporção maior de estrangeiros nascidos do


que as menos desenvolvidas. O impacto da migração líquida num país ou região é
influenciado não apenas pelo número líquido de migrantes que ele recebe, mas também
pelo tamanho da população residente recetora. A Oceânia (dominada pela Austrália-
Nova Zelândia) dramatiza esse ponto.

A migração internacional aumenta o tamanho e a taxa de crescimento da população no


país de destino e diminui no país de origem. É óbvio que a migração líquida de uma
população para outra diminuiria a população de origem no mesmo número absoluto que
aumentaria a população de destino.

Menos óbvio, o grau de impacto na taxa de crescimento das duas populações não seria
o mesmo. Esse impacto depende do tamanho da população migrante líquida em relação
ao tamanho da população residente. A migração líquida de uma pequena para uma
grande população, por exemplo, causaria uma diminuição maior na taxa de crescimento
da pequena população de origem do que um aumento na taxa de crescimento da maior
população de destino.

Uma pequena cidade, por exemplo, pode ter a sua população devastada enviando a
maioria de seus ex-habitantes para uma cidade grande e mais desenvolvida, enquanto
os habitantes dessa cidade dificilmente sentirão o acréscimo. Inversamente, uma
determinada cidade de destino pode sentir-se oprimida pelo seu crescimento tornar-se
no destino exclusivo de um fluxo de migrantes (o que é frequentemente o caso).

Os efeitos indiretos da migração também podem alterar as taxas de crescimento.


Separações, custos de migração e especialmente a seleção por idades, podem alterar as
taxas de fecundidade, nupcialidade e mortalidade nas populações de origem e destino.
Níveis mais altos de fecundidade migrante também operam indiretamente para
aumentar as taxas de crescimento nos países de destino.

Uma vez que a estrutura etária de uma população também é influenciada pela entrada
e saída de pessoas, as migrações são um fator cada vez mais importante na
determinação da intensidade do envelhecimento das regiões europeias. O conceito de
migração de substituição surge, neste contexto, como forma de abordar o possível papel
da imigração para compensar os défices populacionais e o envelhecimento populacional
O conceito de migração de substituição surge no contexto do debate sobre o papel
das migrações no processo do envelhecimento populacional. O tema ganha particular
destaque na viragem para o século xxi, com a publicação do relatório da Organização
das Nações Unidas (ONU) (2000) intitulado Replacement Migration: Is It a Solution to
Declining and Ageing Populations? A publicação é considerada um marco fundamental
sobre o tópico. No entanto, desde o final dos anos 80 do século xx que é possível
identificar pesquisas baseadas no conceito de migração de substituição (Peixoto, et al.,
2017).

7.4.2. Impacto na Força de Trabalho e na economia

Teoricamente, a imigração de países menos desenvolvidos para países mais


desenvolvidos seleciona explicitamente os jovens adultos. Como os países mais
desenvolvidos têm populações residentes mais velhas, eles ganham o benefício de um
aumento necessário na sua força de trabalho jovem. Em contraste, os países menos
desenvolvidos têm populações muito jovens e a remoção de adultos em idade produtiva
tornaria ainda piores as taxas de dependência de idade já altas. Em geral, os países mais
desenvolvidos de destino beneficiam da seleção por idade da migração.

A imigração internacional também favorece os adultos em idade ativa que são


necessários nos países de destino. Dependendo do fluxo de migração, pode favorecer
mão de obra altamente qualificada ou mão-de-obra menos qualificada.

Teoricamente a migração internacional de trabalhadores beneficia as economias dos


países de destino, mas há um grande debate sobre como e em que medida as economias
de destino beneficiam dessa imigração.

A perda de indivíduos com maior escolaridade para a migração (chamada “fuga de


cérebros”) é motivo de preocupação para muitos países. O impacto seria maior nas
regiões que já enfrentam escassez de trabalhadores altamente qualificados e economias
estagnadas. No entanto, estudos mostraram que a emigração de mão-de-obra
qualificada pode trazer mais benefícios do que prejuízos, para as sociedades de origem
dos emigrantes (Clemens, 2009). A chave é desenvolver programas e infraestruturas
que facilitem a migração de retorno ou o investimento sustentado pelas comunidades
emigrantes da diáspora, de modo que possam usar as suas experiências de trabalho
como um “ganho intelectual” para os seus países de origem (UNCTAD, 2012).

Embora seja provável que a emigração selecione os mais empregáveis de um país de


origem, esses migrantes “selecionados positivamente” ainda podem sofrer em
comparação com a força de trabalho residente no país de destino. Na verdade, a teoria
das economias duais sugere que os imigrantes tendem a estar entre os trabalhadores
menos qualificados, menos educados e com salários mais baixos no país de destino. Os
salários dos trabalhadores migrantes, por exemplo, são apenas cerca de três quartos
dos da população nativa na Alemanha e nos Estados Unidos, e menos da metade dos da
população nativa que trabalha em muitas das mesmas indústrias na Coreia do Sul
(Duleep e Dowhan, 2008; Nações Unidas, 1998a).

A migração contribui para o desenvolvimento global. Por causa das estratégias de


migração familiar, muitos trabalhadores no exterior enviam remessas (rendimentos)
para as suas famílias, o que reduz a pobreza, tendo efeitos multiplicadores na economia
nacional, fornecendo uma importante fonte de divisas.

Os fluxos de remessas não são um simples caso de troca económica de países mais
desenvolvidos para países menos desenvolvidos. Como a maioria dos imigrantes
internacionais se muda para países vizinhos nas suas regiões, e não para os países mais
desenvolvidos, a maioria das remessas são de países menos desenvolvidos ligeiramente
mais ricos para outros países menos desenvolvidos. Os países que dependem fortemente
dessas remessas tornam-se vulneráveis a mudanças nas condições de emprego e/ou
políticas de imigração no país de destino. Além disso, a privação relativa e a desigualdade
social na comunidade de origem podem ser ampliadas pelo acesso desigual às remessas.
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

Os argumentos económicos sobre os custos e benefícios da migração internacional são


extensos, complexos e diversos.

Existem duas perspetivas básicas sobre a migração internacional: uma positiva e aberta
e outra negativa e fechada.

Organizações e organismos como a Igreja Católica e o Banco Mundial defendem uma


migração internacional mais ampla e mais livre porque “as pessoas não devem ser
confinadas aos seus países de origem por fronteiras nacionais, e mais migração
aceleraria o crescimento económico e o desenvolvimento tanto nos países emissores
como nos países recetores" (p.358).

Uma posição oposta é defendida por muitas organizações, defendendo a redução no


número de imigrantes internacionais. A maioria das análises na Europa Ocidental e nos
Estados Unidos mostra muito claramente que o impacto da imigração sobre empregos e
salários é fraco ou inexistente. Os imigrantes muitas vezes acabam nos “trabalhos sujos,
difíceis e perigosos, ou degradantes, evitados pelos trabalhadores locais”. As evidências
mostram pouca competição nestes tipos de emprego entre imigrantes e residentes
locais. Os imigrantes são frequentemente os primeiros a serem demitidos e também
“ganham menos do que os trabalhadores locais em empregos semelhantes” (Poston &
Bouvier, 2017).

7.4.3. Impacto na composição social

É difícil rever os debates populares passados e presentes dos países mais desenvolvidos
sobre as políticas de imigração sem suspeitar que eles são fortemente motivados pela
xenofobia. Esse medo de estrangeiros etnicamente distintos resultou em muitos grupos
de migrantes sendo vistos como “problemas” pelas populações nos países de destino, e
racionalizados com estereótipos étnicos negativos nos debates políticos. Na verdade,
quase todos os grupos de imigrantes com qualquer diferença identificável da população
anfitriã foram discriminados nas políticas de migração, diferindo principalmente em grau.
As políticas de imigração e os debates nacionais têm, por sua vez, perpetuado e
solidificado atitudes discriminatórias em relação aos imigrantes. Os migrantes são
caracterizados em várias ocasiões, por exemplo, como um perigo para a saúde pública,
uma ameaça à segurança do emprego, um esgotamento dos sistemas de previdência
social, como criminosos e terroristas e uma ameaça aos grupos ou culturas dominantes
do país de acolhimento. Esses sentimentos em relação aos migrantes têm maior
probabilidade de afetar a política de migração.

Em vários momentos da história, algumas preocupações discriminatórias com a


composição dos fluxos de migrantes eram claramente plausíveis. Um exemplo histórico
é a quarentena de migrantes. Quarentenas em países específicos com doenças
endémicas generalizadas, por exemplo, foram justificáveis, mesmo que discriminatórias,
em alguns casos. Se o surto de Ébola tivesse sido acompanhado por fluxos de migrantes
dos países afetados, as sociedades de acolhimento teriam estabelecido quarentenas ou
mesmo proibições temporárias de migração. No entanto, em outros casos, o mesmo
motivo foi usado para deter migrantes sem evidências plausíveis de uma ameaça à saúde
pública.

Também é importante reconhecer que a qualquer momento a visão dos migrantes como
um “problema social” pode ser genuína para alguns e uma desculpa para a discriminação
de outros. Por exemplo, o temor de que a importação de mão de obra estrangeira resulte
em queda de salários para ocupações de baixa qualificação no país anfitrião é uma
crença comum entre muitos - uma preocupação genuína para alguns e uma desculpa
para discriminar outros.

7.5. ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Analisámos em capítulos anteriores as duas variáveis microdemográficas responsáveis


pelo movimento natural da população. Os movimentos migratórios são de natureza
diferente. Em primeiro lugar, abrangem três situações distintas: a emigração, a
imigração e as migrações internas. Em segundo lugar, as suas variações no tempo e no
espaço dependem de fatores socioeconômicos complexos internos e externos.

A migração é a componente demográfica mais difícil de estimar. Para atender à evolução


desta componente demográfica, estimam-se habitualmente os saldos migratórios que
descrevem a diferença entre o número de entradas e saídas por migração do país ou da
região, num dado período. Os estudos recorrem a modelos estatísticos para considerar
as tendências observadas em anos anteriores na estimação deste indicador ou a outras
fontes de informação (Peixoto et al., 2017).

Os movimentos migratórios não respeitam tendências, é mais difícil de medir e mesmo


a fonte mais confiável de dados de imigração sofre muitos desafios.

Métodos de análise dos movimentos migratórios

O problema do estudo dos movimentos migratórios são os dados estatísticos que são
muito incompletos. A informação que existe ao nível das migrações internas é muito
pobre e há falta de registos oficiais. Por vezes recorre-se a métodos indiretos (por
exemplo através dos recenseamentos eleitorais). Ao nível interno, existem muitas
assimetrias num mesmo espaço, e dicotomias entre os meios (rural/urbano). As pessoas
não se deslocam ao acaso: procuram trabalho num espaço específico. Ao nível das
migrações externas, por exemplo na década de 80, 50 % dos emigrantes eram
clandestinos. Há falta de um maior controlo legal e muita gente escapa a esse controlo.
Se a população só evoluísse com os que nascem e os que morrem, a evolução seria mais
lenta.

O saldo natural ou dinâmica natural, é um indicador da taxa de crescimento que só entra


em consideração com estas duas variáveis.

A Dinâmica populacional: Considerando também os movimentos migratórios, temos


a dinâmica total (dinâmica natural + dinâmica migratória), e a taxa de crescimento anual
média total/global.

As taxas de crescimento: Taxa de Crescimento Anual Média = Taxa de crescimento


Anual Média Natural (saldo natural) + Taxa de crescimento Anual Média Migratória (saldo
migratório)

O saldo migratório é a diferença entre as saídas – emigração e as entradas – imigração.


Se a diferença for de 0, pode significar que saiu muita gente, mas também entrou muita
gente.

Taxa de crescimento anual média total = log Pn = n log (1+ a)

P0

Taxa de crescimento anual média natural = log P0 + N-O = n log (1+ a)

P0

Se for uma década, n = 10.

Multiplicamos “a” por 100, e lê-se “ Por ano a população, se apenas tivesse sido fruto
nessa década desta situação, teria aumentado ou diminuído x.”

• Taxa de crescimento migratória (Imigração - Emigração):

log P0 + I-E = nlog (1+ a)

P0

• Taxa de crescimento anual média total = Taxa de crescimento anual média


natural + Taxa de crescimento migratória

• Taxa de crescimento anual média total – Taxa de crescimento anual média


natural = Taxa de crescimento migratória
Os métodos diretos de análise dos movimentos migratórios

São os que utilizam diretamente os dados disponíveis. São as taxas brutas.

Taxa Bruta de Emigração = Emigrantes/ população * 1000

Taxa Bruta de Imigração = Imigrantes/ população * 1000

Taxa Bruta de Migração Total= [(Emigrantes + Imigrantes) / população] * 1000

Os métodos indiretos de análise dos movimentos migratórios

Os métodos indiretos servem para estimar a intensidade e a direção dos movimentos


migratórios que não se conseguem medir diretamente. O mais conhecido é o método da
equação de concordância.

A equação de concordância

Vejamos a lógica deste instrumento de análise:

Px + n= Px+ N- O + I –E

Px+n - Px= N-O+I-E

Px+n = Px + Crescimento Natural + Crescimento Migratório

Px+n- Px=N-O+I-E

Exemplo:

Px = 276 895

Px+n =205 197

Px+n- Px=71698

N 60/70= 41 053

O 60/70= 25 760

N 60/70 – O 60/70 = + 15 293

Saldos Migratórios = - 86 991

Emigrantes Oficiais = 9 009

Imigrantes Oficiais = 18
I-E Oficiais = - 8 991

PX+n = Px + (N-O) + (I-E), onde (N-O) é o saldo natural e (I-E) o saldo migratório.

205197=276895+15293+ (-8991)

(PX+n - Px) - (N-O) = (I-E) = Saldo migratório total

(205197-276895)-15293= -8991

-71698-15293= -8991

-86991=-8991…+(-78000) - diferença inexplicada que remete potencialmente para os


movimentos migratórios - partindo do princípio que os recenseamentos são de qualidade
razoável e que os dados sobre os nascimentos e os óbitos são fidedignos.

-86991+8991= -78000

O resultado desta equação remete para o caso de um país de emigração onde poderá
ter havido alguns milhares de emigrantes que saíram clandestinamente. Estamos
perante uma situação de mau registo dos emigrantes.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

7.6. PROBLEMAS E POLÍTICAS DE MIGRAÇÃO

As consequências da migração são sentidas tanto por migrantes individuais quanto pelas
coletividades sociais (por exemplo Estados-nação) de onde saem e entram. Ao nível
individual, a maioria das teorias de migração sugere que, em última análise,
esperaríamos um efeito positivo para os imigrantes e empregadores que os contratam.
Essa, supostamente, era a expetativa dos migrantes individuais, pelo menos na migração
livre. No entanto, os problemas populacionais e as políticas geralmente são definidos
num nível coletivo.

Quais são os efeitos coletivos da migração nas populações de origem e destino?

Obviamente, a movimentação do número de pessoas pode afetar diretamente o


tamanho e as taxas de crescimento das populações de origem e de destino. A migração
também pode alterar o tamanho e a composição da força de trabalho em ambos os
países. Uma troca de moradores entre as populações também altera a composição social
e cultural de cada uma.

Embora a migração internacional seja geralmente vista como algo positivo tanto para as
nações emissoras quanto para as recetoras, um número crescente de países vê pelo
menos algumas consequências da imigração e da emigração como problemas
significativos (Nações Unidas, 2013a). Isso é notável numa tendência crescente dos
países de intervir politicamente nos fluxos de imigração e emigração; ou seja, uma
disposição em declínio de deixar a migração sem controlo.

Em 1976, quando as Nações Unidas começaram a monitorizar as políticas dos governos


sobre o nível de imigração, os países desenvolvidos estavam mais aptos a ter políticas
para desencorajar a imigração, enquanto os países em desenvolvimento tinham políticas
em vigor para encorajar a imigração. Em 2011, esse padrão mudou.

Hoje, uma proporção maior de regiões mais desenvolvidas, em comparação com do que
de regiões menos desenvolvidas tem políticas de imigração destinadas a aumentar a
imigração, não diminuí-la. Por outro lado, mais as regiões menos desenvolvidas têm
políticas para diminuir a imigração. A reversão dessa tendência ao longo do período
reflete diferenças nas taxas de crescimento de ambas as regiões. Os paises mais
desenvolvidos reconhecem cada vez mais a imigração como uma forma de compensar
as taxas de crescimento lento, enquanto os menos desenvovlvidos podem ver menos
valor na imigração, desde que as suas próprias taxas de crescimento permaneçam altas.

A percentagem de países mais desenvolvidos com políticas intervencionistas de


emigração mudou pouco, diminuindo ligeiramente ao longo do período.

Nas regiões menos desenvolvidas, a percentagem com políticas de intervenção na


emigração mais do que duplicou, seja para aumentar ou diminuir a emigração. Alguns
paises menos desenvolvidos podem beneficiar de altas taxas de emigração,
especialmente se o crescimento populacional ultrapassa a sua infraestrutura ou se eles
têm um sistema de captura de remessas bem desenvolvido. Mas noutros países, um
número desproporcionalmente grande de profissionais altamente qualificados emigram
a cada ano, um fenómeno às vezes conhecido como “fuga de cérebros” (já referido
acima). Nesse caso, é mais provável que os governos vejam a emigração como um
problema que precisa de ser reduzido. Poder-se-ia pensar que os países mais
desenvolvidos também estariam preocupados com a emigração, especialmente porque
a perda de população pode agravar os problemas decorrentes de suas populações já
envelhecidas e taxas de crescimento lento. Mas os países mais desenvolvidos tendem a
preocupar-se menos do que os países menos desenvolvidos com a emigração, em parte
porque os seus fluxos de emigração são menores e têm um impacto insignificante.
ATIVIDADE FORMATIVA

1. Num determinado país desenvolvido, a população no período 60 /70 passou de


56 180 000 para 60 650 599 habitantes. Houve no período 1961-70, 8 936 332
nascimentos, 6 226 565 óbitos, 316 950 emigrantes e 2 043 882 imigrantes. Calcule a
Equação de Concordância.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

2. Propostas para debate e reflexão:

● Qual é a diferença entre um “imigrante” e um “refugiado”?

● Liste e discuta alguns dos efeitos económicos da migração internacional.

● A migração internacional promove [ou reduz] as desigualdades económicas entre


os países.

● Os fluxos de migração internacional provavelmente continuarão a aumentar,


mesmo que o crescimento populacional nos países menos desenvolvidos continue a
diminuir.

● Nas próximas décadas, os “problemas” populacionais serão definidos cada vez


mais em torno da migração e menos em torno da fecundidade.
8. DISTRIBUIÇÃO, MUDANÇA E POLÍTICAS DE
POPULAÇÃO

Objetivos

1.Descrever os traços gerais de evolução da população;

2. Fazer o ponto da situação demográfica contemporânea a nível mundial e


distinguir os países em desenvolvimento dos desenvolvidos;

3. Compreender como é que a população está distribuída no mundo;

4. Analisar as consequências da distribuição da população;

5. Conhecer algumas das políticas de população que influenciam a fecundidade,


a mortalidade e a migração.

8.1. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNDO ATUAL

O mundo contemporâneo conhece uma transformação demográfica considerável


composta por três componentes: crescimento populacional, evolução da fecundidade e
da mortalidade e mudanças correspondentes na pirâmide etária (Bloom, 2020).

O rápido crescimento populacional foi limitado principalmente à Europa


Ocidental. Noutros lugares, as taxas de natalidade e mortalidade permaneceram altas.
O declínio da mortalidade nas nações desenvolvidas foi seguido por um declínio na
fecundidade. Na década de 1930, as taxas de crescimento populacional estavam em
declínio. Ao contrário do declínio populacional anterior, desta vez o crescimento foi muito
lento devido à baixa fecundidade e baixa mortalidade. As taxas de mortalidade
permaneceram muito altas nas regiões menos desenvolvidas até depois da Segunda
Guerra Mundial, quando houve melhorias significativas na longevidade.

Demorou mais de 50 000 anos para que a população mundial atingisse mil milhões.
Desde 1960, milhares de milhões de habitantes foram adicionados a cada dez ou vinte
anos. A população mundial era de três mil milhões em 1960; atingiu seis mil milhões na
viragem do século e, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU),
ultrapassará nove mil milhões até 2037. Essa taxa de crescimento populacional
desacelerou, após atingir mais de 2% por ano no final da década de 1960, está agora
em torno de 1%, e deverá cair para a metade até 2050.

1
Embora o rendimento mundial por habitante tenha mais do que duplicado, a expetativa
de vida aumentou em 16 anos, a educação das crianças na educação primária tornou-
se praticamente universal entre 1960 e 2000, o rápido crescimento populacional
apresenta inúmeros desafios, tanto públicos quanto privados, incluindo: atender às
crescentes necessidades de alimentos, roupas, habitação, educação e infraestrutura;
integrar efetivos consideráveis em empregos produtivos; e proteger o meio ambiente
com mais rigor. Receios antigos de uma explosão demográfica mundial deram lugar a
outros receios de um rápido crescimento populacional, especialmente em alguns países
e regiões.

O crescimento demográfico global oculta algumas diferenças consideráveis na


distribuição da população do planeta dependendo do estado de desenvolvimento e da
região geográfica. Os países classificados pela ONU como menos desenvolvidos
contavam com 68% dos habitantes do planeta em 1950; hoje representam 84%. Esta
proporção continuará a aumentar pois aos 2 mil milhões de habitantes que deverão
juntar-se à população mundial nos próximos 30 anos, praticamente todos nascerão em
países menos desenvolvidos. Este é um grande desafio, uma vez que as regiões menos
desenvolvidas tendem a ser mais frágeis – a nível político, social, económico e ambiental
– do que as regiões mais desenvolvidas.

Já vimos que a China e a Índia representam os países mais povoados no mundo, com
respetivamente 1,44 mil milhões de habitantes para o primeiro e 1,39 mil milhões para
o segundo, ou seja, 19 e 18% da população mundial. Em 2027, a Índia deverá
ultrapassar a China nesta classificação, já que a população deverá diminuir em 31,4
milhões (cerca de 2,2%) entre 2019 e 2050, de acordo com as previsões.

Entre 2020 e 2050, prevê-se que a Nigéria (que deverá ultrapassar os Estados Unidos,
tornando-se o terceiro país com mais população do planeta) e o Paquistão (que já se
encontra entre os dez países com maior população) vão conhecer um salto elevado
(Bloom, 2020).

61% da população mundial vive na Ásia (4,7 mil milhões de indivíduos), 17% na África
(1,3 mil milhões de habitantes), 10% na Europa (750 milhões de pessoas), 8% na
América Latina e Caraíbas (650 milhões) e os restantes 4% encontram-se na América
do Norte (370 milhões) e na Oceânia (43 milhões) (United Nations, 2019).

As projeções populacionais sugerem que ocorrerá um equilíbrio na população.


Uma projeção populacional refere-se ao número de pessoas que formarão a população
de uma área em algum momento futuro, de acordo com suposições demográficas
claramente definidas sobre os processos demográficos de fecundidade, mortalidade e

2
migração. A população mundial está projetada para atingir 8,1 mil milhões em 2025, 9,6
mil milhões em 2050 e 10,9 mil milhões em 2100.

O cenário mediano indica que a população mundial continuará a crescer. Pode parecer
contraditório projetar aumentos tão importantes enquanto a própria taxa de crescimento
está em queda. Três fatores são responsáveis por isso: primeiro, a própria população
está expandindo-se; em segundo lugar, as taxas de mortalidade infantil caíram
rapidamente em muitos países em desenvolvimento; em terceiro, em qualquer
população jovem, há um impulso para o crescimento (impulso populacional).

As projeções baseiam-se em variações médias, que pressupõem uma queda na taxa de


fecundidade e um aumento na expetativa de vida em muitos países. Mais da metade do
crescimento da população mundial até 2050 irá ocorrer em África. Proporcionalmente,
esta é a região que experimentará a mudança demográfica mais forte. A população da
África subsaariana, por exemplo, deverá duplicar até esse ano. Apesar de várias
incertezas quanto às projeções relacionadas com a taxa de fecundidade, a perspetiva é
de um boom demográfico, principalmente porque um grande número de jovens atingirá
a idade adulta nos próximos anos e estará em idade fértil.

Ao invés, prevê-se que o crescimento populacional diminua na Europa. Populações de


55 países ou regiões do mundo diminuirão até 2050. Prevê-se ainda que vários países
tenham o seu declínio demográfico em cerca de 15% no mesmo período (Bósnia,
Bulgária, Croácia, Hungria, Japão, Letónia, Lituânia, República da Moldávia, Roménia,
Sérvia e Ucrânia).

A taxa de fecundidade em todos os países europeus é agora inferior à necessária para


atingir um limiar de renovação populacional a longo prazo (ou seja, uma média de 2,1
filhos por mulher).

Os fatores que influenciam o crescimento demográfico são como sabemos:

- A taxa de fecundidade: o crescimento da população mundial dependerá fortemente da


evolução da taxa de fecundidade global. Prevê-se que passe de 2,5 filhos por mulher em
2019 para 2,2 filhos por mulher em 2050.

- A esperança de vida à nascença. No geral, a expetativa de vida aumentou nos últimos


anos. De acordo com os números mais recentes, espera-se que a esperança de vida ao
nascer aumente de 72,6 anos em 2019 para 77,1 em 2050. Um progresso notável foi
feito na redução das desigualdades na expetativa de vida entre os países, mas ainda há
fortes disparidades a nível global. Em 2019, a esperança de vida ao nascer nos países
menos desenvolvidos estava 7,4 anos abaixo de média global, em grande parte devido

3
às altas taxas de mortalidade infantil e materna, violência e conflitos ou consequências
da HIV/SIDA.

- A Migração internacional: a migração internacional influencia as mudanças


demográficas, mas em grau muito menor do que o número de nascimentos e a taxa de
mortalidade. No entanto, em várias regiões de países do mundo, a migração tem
consequências para o tamanho da população, principalmente em países que recebem
grande número de emigrantes económicos ou dos quais grande número sai, bem como
em países afetados pelo aumento do fluxo de refugiados. (Fonte:
https://www.un.org/fr/sections/issues-depth/population/index.html).

Os dados sobre a população mundial são publicados com alguma regularidade através
das diversas organizações, nomeadamente: Nações Unidas11, Banco Mundial12, PRB
(Population Reference Bureau)13, União Europeia (Eurostat)14, Conselho da Europa,
Serviços Nacionais de Estatística, “Our World in Data15, entre outros. Os dados são
traduzidos por onze indicadores: a superfície, população no meio do ano civil, taxa de
natalidade, taxa de mortalidade, projeção, taxa de mortalidade infantil, índice sintético
de fecundidade, proporção de indivíduos com menos de 15 anos e mais de 65 anos,
esperança de vida dos homens e das mulheres, produto nacional bruto por habitante e
o produto interno bruto por habitante16.

A característica demográfica definidora dos tempos recentes é a explosão populacional


moderna. A população mundial continua a crescer hoje, mas agora a sua taxa de
crescimento começou a diminuir. À medida que muitas nações passam pelo outro lado
das suas transições demográficas, a principal preocupação demográfica do século XXI
acabará por se voltar para o “envelhecimento” da população (IIASA, 2012). Alguns
países já começaram a enfrentar esse processo. O envelhecimento da população global
num futuro próximo é um resultado direto das transições de mortalidade e fecundidade
que acompanharam a explosão populacional do século passado (Lundquist, Anderton,
Yaukey, 2015, p. 47)

Com uma população mundial que triplica de 2 mil milhões para 6 mil milhões ao longo
do século 20, e alcançando 7,2 mil milhões apenas 14 anos depois, não há tendência

11
https://www.un.org/development/desa/pd/
12
https://data.worldbank.org/
13
https://www.prb.org/
14
https://ec.europa.eu/eurostat/
15
https://ourworldindata.org/
16
Ver https://www.unfpa.org/data/world-population-dashboard

4
demográfica mais óbvia do que o crescimento populacional. A população está projetada
para continuar a crescer no futuro, embora mais lentamente, nivelando-se perto de 10,9
mil milhões de pessoas no século 22 (Nações Unidas, 2013).

A explosão populacional moderna não foi igualmente intensa em todo o mundo. Tudo
começou onde hoje são os países mais desenvolvidos. Eles experimentaram, com a sua
modernização, uma sequência de declínios nas taxas de mortalidade e natalidade
descrita como a transição demográfica. Alguns desses países, mesmo agora, têm uma
fecundidade abaixo do índice de reposição (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 84).

A preocupação com o “excessivo número de habitantes” não é um fenómeno exclusivo


da época contemporânea, nem tão pouco a explosão demográfica observada nos dias
de hoje é um fenómeno inteiramente novo. Em dois momentos anteriores à época
contemporânea, acreditou-se que o “mundo estava cheio” e que não havia lugar para
tanta gente à superfície da terra. Quais são as características diferentes que este
fenómeno apresenta nos dias de hoje?

A primeira grande diferença reside no facto de, globalmente, a humanidade nos aparecer
no século XXI dividida em dois blocos, o dos países em desenvolvimento onde se
concentra 80 % da população mundial, com um crescimento anual médio que chega
quase aos 2 %, uma mortalidade infantil elevada, elevadas percentagens de jovens,
baixas percentagens de idosos, e um PNB per capita que raramente ultrapassa os 1000
dólares.

No bloco dos países desenvolvidos, temos cerca de 20 % da população mundial, um


crescimento natural praticamente igual a zero, uma mortalidade infantil reduzida, baixas
percentagens de jovens, elevadas percentagens de idosos e um PNB per capita que é
quase vinte vezes superior.

Se a primeira grande característica deste novo « mundo cheio » é a divisão do mundo


em dois grandes blocos, a segunda é a unidade de contagem: no primeiro “mundo cheio”
era o milhão, no segundo as dezenas de milhão, no terceiro a unidade de contagem
passou a ser o milhar de milhão. A terceira característica consiste nas unidades de tempo
utilizadas na contagem: no início da nossa era, a população mundial é estimada em 252
milhões de habitantes e em 1600 é de 578 milhões, ou seja, foi preciso esperar dezassete
séculos para que a população mundial duplicasse; nos dias de hoje a população mundial
duplica a cada 40 a 50 anos. Finalmente, a quarta e última dimensão é a capacidade de
previsão. A ciência Demográfica, ao ter desenvolvido as técnicas de projeção, consegue
extrapolar tendências.

5
8.2. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

Os habitantes não estão distribuídos igualmente por todo o planeta. Algumas partes do
mundo são densamente povoadas, enquanto outras não. O “World Population Clock"
estimou que o tamanho da população do mundo em outubro de 2015 era de quase 7,3
mil milhões de pessoas. Mas esses mil milhões de habitantes não estão igualmente
distribuídos em todo o planeta. A distribuição da população reflete níveis de fecundidade,
mortalidade e migrações.

Seja olhando para o planeta Terra, para África ou para os Estados Unidos, é claro que a
população está longe de estar distribuída igualmente. A maioria sabe que a população
da China é de mais de 1,3 mil milhões e que a população dos Estados Unidos é de cerca
de 321 milhões. No entanto, muitos podem não estar cientes de que a China e os Estados
Unidos são muito próximos em tamanho geográfico. Em alguns países, é mais provável
que as pessoas sejam rurais do que urbanas. Geralmente, no entanto, há um movimento
de urbanização em todo o mundo:

“Sem dúvida, a característica dominante da distribuição espacial nos Estados Unidos e


em outros países desenvolvidos é a concentração da população em áreas urbanas
densamente povoadas” (Poston e Bouvier, 2017, p. 365).

Apenas cerca de um terço da superfície da Terra é habitada permanentemente. Áreas


como o Ártico e a Antártica, bem como os vastos desertos, por exemplo o Saara, têm
muito poucas pessoas. A situação é semelhante quando as montanhas escarpadas
tornam quase impossível a sobrevivência dos humanos. A distribuição geográfica da
população global concentra-se no Sul da Ásia (principalmente Índia) e no Leste Asiático
(principalmente China), sendo estas as regiões mais populosas do mundo, e a Oceânia
(principalmente a Austrália) a menos populosa. Hoje, quatro países têm populações que
ultrapassam 200 milhões e são liderados pela China e pela Índia. Em 1930, Grã-
Bretanha, França, Alemanha e Itália estavam entre as dez maiores nações do mundo.

As mudanças demográficas desde então refletem o rápido crescimento nas nações em


desenvolvimento e o crescimento lento e até em declínio em muitas das nações
desenvolvidas. Em 2050, a Índia provavelmente terá ultrapassado a China como a nação
mais populosa do mundo, e isso será principalmente o resultado da menor fecundidade
dos chineses e do fato de que a atual taxa de aumento natural da Índia é três vezes
maior que a da China, ou seja, 1,5 por cento contra 0,5 por cento. Os Estados Unidos e
a China são semelhantes em tamanho, mas não em população.

6
Densidade populacional

Outra forma de considerar isso é com o conceito de densidade populacional, ou seja, o


número de pessoas por quilómetro quadrado. A densidade populacional mundial em
2014 era de 53 pessoas por quilómetro quadrado. A densidade dos Estados Unidos era
de 33 e a da China, de 143. A Europa Ocidental é muito mais densamente povoada do
que a Ásia Ocidental, e o Leste Asiático é a mais densamente povoada e a mais populosa
de todas as regiões. Nos Estados Unidos, vastas porções dos estados montanhosos são
escassamente habitadas em comparação com o Nordeste e partes da Costa Oeste.

A medida de densidade populacional usada é uma medida rudimentar porque divide o


número de pessoas na população pelo número de quilómetros quadrados (ou milhas) de
território no país ou área. Uma alternativa e talvez uma medida mais significativa e
precisa usa a quantidade de área de terra arável como denominador. Uma dessas
medidas é a densidade fisiológica, que é calculada dividindo o número de pessoas no
país pela quantidade de terras aráveis do país (em quilómetros quadrados ou milhas).

Muitos fatores influenciam a distribuição da população, incluindo fatores geográficos


(clima, terreno e solos e recursos naturais), fatores económicos, sociais e políticos (o
tipo de atividade económica e a forma de organização social) e fatores demográficos
(principalmente as taxas de mudança populacional devido aos três processos de
fecundidade, mortalidade e migração). Esses fatores continuam a contribuir para a
distribuição da população mundial, alguns mais do que outros (Poston e Bouvier, 2017,
pp 366-369).

8.2.1. Distribuição residencial (geográfica) e urbanização

Ao observar a distribuição da população, é costume os demógrafos examinarem as


percentagens das populações que vivem em áreas rurais e urbanas. A economia das
áreas rurais tende a ser predominantemente agrícola em comparação com as áreas
urbanas, que são mais diversificadas e não agrícolas. Os sociólogos há muito apontam
que os estilos de vida tendem a ser diferentes em áreas rurais e urbanas. Normalmente,
existem diferenças demográficas acentuadas entre as áreas rurais e urbanas. A
fecundidade é geralmente mais alta nas áreas rurais do que nas urbanas. O nível de
escolaridade geralmente é menor nas áreas rurais. Nas nações industrializadas, muitas
das diferenças entre o rural e o urbano foram reduzidas devido à difusão dos media
modernos e à rápida comunicação. Mas as diferenças ainda são muito aparentes nas
nações menos desenvolvidas do mundo. Ao longo da maior parte da história, os
humanos foram moradores rurais. Depois da Revolução Agrícola, muitos ainda viviam

7
em quintas, mas não precisavam mais andar à procura de alimento e abrigo. A
verdadeira urbanização ocorreu após a Revolução Industrial na Europa Ocidental e nas
suas colónias (Poston e Bouvier, 2017, p 370).

Urbanização

A urbanização em grande escala (mudanças na proporção de pessoas que moram nas


cidades) é um desenvolvimento moderno. A urbanização é diferente do termo sociológico
“urbanismo” que reflete o estilo de vida. A China tem a tradição urbana mais longa de
qualquer país do mundo. As cidades surgiram pela primeira vez na China há mais de 2
mil anos. Três condições devem estar presentes para que a urbanização e as cidades se
desenvolvam. Deve haver um excedente de produtos agrícolas, um meio de transporte
desses produtos para as áreas urbanas, para serem processados em alimentos, roupas
e abrigo, uma tecnologia suficientemente desenvolvida nas áreas urbanas para usar os
produtos agrícolas e criar empregos para o habitante urbano.

Os Estados Unidos servem de exemplo de como os impactos da Revolução Industrial


contribuíram para o crescimento das cidades, principalmente do meio de transporte
disponível. No início do século XIX, a água era a principal fonte de transporte. Depois
veio a era da rede ferroviária no século XIX. Isso abriu mais áreas para o crescimento
urbano. O automóvel e a construção do sistema de autoestradas também contribuíram
para esse crescimento urbano. Em 1800, apenas 3% da população mundial era
classificada como urbana. Como as mudanças tecnológicas e económicas criaram
grandes excedentes agrícolas, as pessoas começaram a migrar para as cidades em busca
de empregos nas fábricas - a urbanização estava em andamento. Em 1950, 29% de
todos os residentes viviam em áreas urbanas. Em 2014, 54% de todos os habitantes do
mundo foram classificados como urbanos.

A urbanização refere-se à percentagem da população de uma região ou país que vive


numa área urbana. O crescimento urbano refere-se a um aumento no número de
pessoas que vivem nas áreas urbanas. A partir de 1900, a rápida urbanização começou
em muitas partes do mundo. As Nações Unidas definem aglomeração urbana como uma
área urbana de pelo menos 1 milhão de habitantes, incluindo todos os habitantes do
território circundante que vivam em níveis urbanos de densidade residencial (Poston &
Bouvier, 2017, p. 370-373).

Embora o mundo tenha-se virado em direção à urbanização ao longo da história, a


industrialização desencadeou uma explosão urbana. As atuais regiões mais
desenvolvidas industrializadas começaram as suas explosões urbanas primeiro, e no

8
momento são as mais urbanizadas. As regiões menos desenvolvidas têm o crescimento
mais rápido das suas populações urbanas e também o ritmo mais rápido de urbanização.
O crescimento da população urbana supera em muito o da população rural. Este ritmo
acelerado da urbanização deve continuar nas regiões menos desenvolvidas. Além disso,
podemos esperar maiores e mais megacidades e corredores urbanos no futuro próximo
que podem ser encontrados nas regiões menos desenvolvidas.

A migração foi sempre a principal causa demográfica da urbanização e continua a ser,


embora agora o aumento natural urbano também contribua para o crescimento urbano,
assim como faz para o crescimento rural, nas regiões menos desenvolvidas. Há uma
preocupação generalizada nos países menos desenvolvidos sobre as consequências da
migração massiva do meio rural para o urbano.

A pressão constante e imediata do rápido crescimento urbano pode mascarar outros


benefícios. As políticas de migração para controlar este fluxo de migração rural-urbana
têm tido pouco efeito. Uma razão para a ineficácia das políticas de migração é a forte
expetativa de muitos migrantes de que a cidade oferece um futuro mais promissor,
independentemente dos custos imediatos da migração. Outra razão pela qual as políticas
de migração têm pouco impacto é que muitas vezes entram em conflito com políticas de
desenvolvimento económico que encorajam o crescimento económico contínuo nas
áreas urbanas, o que por sua vez reduz a procura de mão-de-obra agrícola nas zonas
rurais. As políticas que enfatizam a sustentabilidade do crescimento nas cidades agora
estão moldando o planeamento urbano estratégico das regiões menos desenvolvidas.
Enquanto as regiões menos desenvolvidas estão preocupadas com a alta velocidade do
crescimento metropolitano, as regiões mais desenvolvidas experimentaram uma grande
desconcentração urbana. A tendência é para a suburbanização e mudanças regionais
nas atividades industriais e oportunidades de emprego. A suburbanização envolveu a
fuga de residentes mais abastados das cidades e em cidades e subúrbios metropolitanos,
onde as oportunidades económicas estão cada vez mais concentradas, distantes dos
problemas da vida urbana.

Enquanto isso, a segregação, discriminação e desvantagem social persistente têm


contribuído para uma concentração de bairros de alta pobreza e decadência urbana nas
cidades do interior. As cidades que não se podem expandir para incorporar o crescimento
económico nas suas franjas, veem as suas necessidades sociais crescerem à medida que
as suas receitas fiscais diminuem. No início do século XXI, houve sinais de um ligeiro
movimento de reurbanização de volta à vida na cidade. No entanto, a recessão global
de 2007-2009 levou à estagnação no crescimento e nos movimentos populacionais
regionais. A tendência global em direção à urbanização - tanto nas cidades centrais

9
quanto nos subúrbios - ao longo do século XXI é provável que continue a aumentar e
uma percentagem crescente da população mundial viverá a experiência urbana.

Existem várias questões relativas ao movimento geográfico de pessoas. As atividades


económicas foram realojadas para as partes circulares das áreas metropolitanas. A classe
média emigrante foi substituída nas áreas centrais por uma população relativamente
desfavorecida. A importância desta concentração de pessoas em desvantagem
económica e social nas cidades centrais é dupla: a crescente procura por serviços sociais
e a situação económica da população residente ser reduzida.

A gentrificação, ou seja, a migração da classe média e dos povos ricos para as áreas
antes mais pobres das cidades, ocorre em algumas cidades centrais mais antigas, por
exemplo, São Francisco. Os termos explosão populacional e implosão
populacional parecem contraditórios. No entanto, ambos ocorrem atualmente em todo
o mundo (Poston e Bouvier, 2017, pp 384-385).

Uma população também pode ser classificada de acordo com o seu nível de
desenvolvimento económico. Dois indicadores são o rendimento per capita e o consumo
de energia per capita. Cada medida produz resultados semelhantes em relação à
distribuição da população: menos de 20% da população mundial reside nas regiões mais
desenvolvidas economicamente. Espera-se que essa proporção diminua no futuro. Em
2050, pode estar abaixo de 15% porque as taxas de crescimento populacional são muito
maiores nas nações em desenvolvimento do que nas desenvolvidas. A migração em
massa das regiões em desenvolvimento para as regiões desenvolvidas é improvável
devido às barreiras políticas erguidas por estas últimas para impedir tais movimentos
internacionais. No entanto, apesar das muitas e variadas limitações, estima-se que um
grande número de pessoas, cerca de 30 a 35 milhões, esteja a mudar de um país para
outro sem documentos oficiais (Poston e Bouvier, 2017, p. 374).

8.3. POLÍTICAS DE POPULAÇÃO

Uma política populacional é um arranjo ou programa deliberadamente construído “por


meio do qual os governos influenciam, direta ou indiretamente, as mudanças
demográficas”. Estes programas no interesse da sobrevivência nacional são medidas
legislativas, programas administrativos e outras ações governamentais com o propósito
de alterar ou modificar algumas tendências populacionais e o bem-estar.

10
As políticas populacionais são geralmente entendidas como representativas de
estratégias para governos, ou às vezes, embora com menos frequência, organizações
não governamentais (ONGs), para atingir objetivos específicos.

Os países que apresentam condições demográficas de crescimento muito alto ou muito


baixo costumam desenvolver políticas cujos objetivos são tentar restaurar o equilíbrio
demográfico (Poston e Bouvier, 2017, p. 386).

8.3.1. Como os governos afetam os processos demográficos

Geralmente os governos influenciam indiretamente o comportamento demográfico. Mas,


muitas vezes, a mera legislação ou propaganda é insuficiente para atingir o objetivo
pretendido. Nestes casos, os governos irão agir diretamente para aumentar ou diminuir
os níveis de fecundidade ou para forçar as pessoas a mudarem-se ou não.

A tarefa de formular uma política populacional é complicada porque pode haver alguma
discordância quanto à magnitude do problema de crescimento ou declínio populacional.

A questão do crescimento da população humana como um problema ou questão


preocupante é realmente um fenómeno do século XX. Durante o século XVIII, Malthus
declarou que a sobrepopulação era limitada pela natureza. Mas foi somente na década
de 1960 e no início da década de 1970 que o público tomou consciência do problema. A
partir da década de 1970, houve um debate considerável nos círculos académicos, com
muitos defendendo o planeamento familiar voluntário.

Em 1965, o presidente Lyndon Johnson estabeleceu um Gabinete de População no


Departamento de Estado e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID). O objetivo da USAID era convencer os governos dos países em
desenvolvimento a promover o uso de anticoncetivos entre os seus cidadãos. E os
Estados Unidos trabalharam com as Nações Unidas para ajudar a criar, em 1969,
o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP). O FNUAP serviu como uma
importante fonte de recursos para iniciativas populacionais em países em
desenvolvimento.

Posteriormente, três conferências mundiais sobre a população foram realizadas em


1974, 1984 e 1994 e emolduraram a história do planeamento familiar internacional que
se desenvolveu desde os anos 1970.

11
8.3.2. As conferências sobre população e desenvolvimento

A primeira Conferência sobre População organizada pela ONU e com a presença de


delegações oficiais aconteceu em Bucareste, em 1974, seguida pela de 1984 no México
e a de 1994 no Cairo (Poston e Bouvier, 2017).

A Primeira Conferência Mundial da População foi realizada em Bucareste, Roménia


em 1974. Organizada por membros da ONU, foi uma tentativa de reunir funcionários do
governo de todo o mundo e demonstrar os fatos e consequências do rápido crescimento
populacional (problema populacional).

Em vez disso, a maioria das nações em desenvolvimento enfatizou a sua preocupação


com a importância do desenvolvimento socioeconómico. Clamavam por uma “Nova
Ordem Económica”, cuja posição estava resumida na expressão “O desenvolvimento é o
melhor anticoncetivo”.

A Conferência de 1974 em Bucareste ficou dividida entre os "controlistas" e os


"desenvolvimentistas". No contexto da Guerra Fria, os países capitalistas mais ricos,
capitaneados pelos Estados Unidos, defendiam a conceção neomalthusiana de reduzir a
fecundidade para promover o desenvolvimento e a erradicação da pobreza. Mas a União
Soviética e os países do Terceiro Mundo, liderados pela China e pela Índia, defendiam a
prioridade do fortalecimento das políticas de apoio ao desenvolvimento em
contraposição ao controlo da natalidade e ao planeamento familiar.

A Segunda Conferência Mundial de População foi realizada na Cidade do México


em 1984. Muitos países em desenvolvimento mudaram as suas opiniões sobre o
crescimento populacional e estavam interessados em assistência direcionada para os
seus programas de planeamento familiar incipientes.

Um programa de planeamento familiar é um esforço sistemático para promover o


controlo moderno da fecundidade. Nessa altura, a China comunista, que liderou o
combate ao neomalthusianismo em Bucareste, passou a adotar, a partir de 1979, a
política de filho único, ou seja, a política neomalthusiana mais draconiana da história. Os
Estados Unidos, por outro lado, sob a liderança do governo neoliberal de Ronald Reagan,
abandonaram a defesa do controlo da natalidade e passaram a defender o laissez-faire
populacional, ou seja, a não-intervenção estatal.

12
A Terceira Conferência Mundial de População, a Conferência Internacional sobre
População e Desenvolvimento (CIPD), ocorreu em 1994 no Cairo. O principal resultado
foi uma nova definição de política populacional, dando destaque à saúde reprodutiva e
minimizando o olhar estritamente demográfico para a política populacional.

De acordo com o demógrafo John May, a conferência do Cairo “enfatizou a importância


das escolhas individuais e a necessidade de dar poder ainda mais às mulheres”.

Também não houve uma posição "antipopulação" na Conferência de 1994. A CIPD do


Cairo ocorreu após o fim da Guerra Fria e foi a primeira a incorporar a palavra
desenvolvimento no seu título. Também incluiu os princípios da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio-92, apontando a
necessidade de os países adotarem políticas públicas no sentido de promover o
"crescimento econômico sustentado no contexto de um desenvolvimento sustentável".
Se o consenso do Cairo apontou a necessidade da estabilização do crescimento da
população mundial, deu-se por razões evidentes de que não é possível haver
crescimento infinito num mundo finito, mas a CIPD não marcou data nem criou os meios
para concretizar tal objetivo.

O ponto forte da CIPD do Cairo foi a defesa dos direitos humanos e dos direitos
reprodutivos. No capítulo II do Programa de Ação estão explicitados os 15 princípios
gerais da Conferência. O princípio 1 reafirma os compromissos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948. O princípio 2 diz que o ser humano é o elemento central
do desenvolvimento sustentável e tem o direito a uma vida sã e produtiva em harmonia
com a natureza, sendo que todos têm o direito a um nível de vida adequado para si e a
sua família. A CIPD definiu os direitos reprodutivos como sendo a liberdade de escolha
das pessoas para definir como, quando e quantos filhos querem ter (incluindo o direito
à fecundidade zero, evitando a maternidade forçada). A Conferência do Cairo defendeu
o direito à conceção e à anticonceção, ficando a cargo dos cidadãos e cidadãs decidir,
livremente, sobre as opções de escolha.

8.3.3. Políticas que afetam a fecundidade, a mortalidade e a migração

Antes do século XX, a maioria das políticas de fecundidade preocupava-se com o


aumento do crescimento populacional. Essas políticas geralmente eram de três tipos:
propaganda pró-natalista; medidas relacionadas à família, como programas de ajuda às
famílias e restrições à distribuição e uso de anticoncetivos e ao aborto.

13
No século XX, o movimento pró-natalista atingiu o seu auge na Alemanha, Itália e Japão
durante os anos entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. Países
como França e Roménia adotaram políticas pró-natalistas em vários momentos após a
Primeira Guerra Mundial. Essas políticas representaram uma reação à baixa fecundidade
que acompanhou a modernização. Às vezes, os países têm políticas que têm efeitos pró-
natalistas e antinatalistas (exemplo: França). Singapura é outro exemplo de país que
reverte as suas políticas de crescimento populacional.

A determinação de diminuir o crescimento por meio da fecundidade reduzida foi muito


bem-sucedida. Esses esforços incluíram medidas indiretas, como melhores instalações
para saúde e educação. Da mesma forma, a Coreia do Sul e Taiwan adotaram programas
de incentivo para aumentar o número de crianças por família. Até hoje, é pouco evidente
o sucesso no aumento da fecundidade e o Índice Sintético de Fecundidade (ISF)
permanece muito abaixo do nível de reposição. Em 2013, o ISF da Coreia do Sul era 1,2
e o de Taiwan 1,1. A China, sem dúvida, tem uma das políticas populacionais mais
rigorosas da história da humanidade. Na verdade, uma das razões pelas quais a China é
um país tão interessante e intrigante para os demógrafos analisarem é precisamente as
suas políticas de natalidade. Outra razão é que na China os líderes políticos são capazes
de controlar o número anual de nascimentos com considerável precisão.

A situação atual em praticamente todos os países do mundo desenvolvido é de taxas de


fecundidade bem abaixo do nível necessário para repor a população. Essas taxas baixas
durante um longo período têm muitas consequências, das quais um envelhecimento
dramático da população e, consequentemente uma redução no tamanho da população.
Assim, há a preocupação com a fecundidade abaixo da reposição nos países do mundo
desenvolvido e em alguns outros países, por exemplo, Coreia do Sul e Taiwan, para citar
apenas dois. A preocupação não é apenas com o declínio populacional, mas também
com o envelhecimento da população como resultado da baixíssima fecundidade.

O desenvolvimento de políticas pró-natalistas em tais países é difícil de promover. Hoje,


as políticas de planeamento familiar são baseadas numa lógica de igualdade de
oportunidades e visam ajudar as mulheres a combinar a criação dos filhos com o
emprego. Alguns países implementaram políticas de fecundidade envolvendo incentivos
financeiros para cada filho nascido, políticas liberais de licença parental e garantia de
cuidados infantis e escolaridade para as crianças. Em suma, as políticas de fecundidade
variam em todo o mundo, e isso acontece há décadas. Em algumas regiões, as taxas de
natalidade são altas; em outras, são baixas. As agências governamentais e não
governamentais têm tentado restaurar algum equilíbrio demográfico nas respetivas
sociedades.

14
Alguns demógrafos sustentam que as políticas relacionadas com a mortalidade não
devem ser consideradas políticas diretas de população. A redução da mortalidade deve
ser a meta de todos os governos, mesmo daqueles que desejam reduzir as suas taxas
de crescimento populacional. As políticas de combate à mortalidade que recebem mais
atenção são aquelas que apoiam o desenvolvimento do conhecimento médico com
potencial para expandir a expectativa de vida. As políticas governamentais podem
contribuir diretamente para reduzir a mortalidade. Todos os países desenvolvidos do
mundo, com exceção dos Estados Unidos, oferecem assistência médica gratuita ou
subsidiada a todos os seus cidadãos. Se aceitarmos o fato de que existem medidas ou
políticas governamentais que contribuem para o declínio da mortalidade, devemos
também aceitar o fato de que algumas políticas governamentais podem levar ao
aumento da mortalidade. Medidas que colocam em risco a saúde, embora não
intencionalmente, acabarão por aumentar a mortalidade (Poston e Bouvier, 2017, pp
392-401).

Ao longo da maior parte da história humana, as pessoas foram livres para se movimentar
em busca de uma vida melhor. Essa liberdade de movimento internacional foi
significativamente restringida desde o final do século XIX, em algumas regiões do
mundo. Muitos países introduziram leis que infringem a liberdade de circulação da
migração internacional. Ao mesmo tempo, alguns governos tomaram medidas para
incentivar o movimento para algumas áreas e para fora de outras. Alguns países
encorajam a imigração, a fim de aumentar o tamanho de sua população.

Hoje, no mundo desenvolvido, existem três tipos principais de regimes nacionais de


imigração. O primeiro regime é o denominado regime tradicional de imigração. Os
Estados Unidos, Canadá e Austrália são os três países tradicionais de imigração mais
importantes e consideráveis. O número de pessoas legalmente admitidas nesses três
países é classificado em termos de unificação familiar, necessidades económicas do país
e refugiados.

O segundo tipo de regime de imigração nacional é a categoria de países que permitem


principalmente a entrada de imigrantes como trabalhadores convidados. Estes são
principalmente “países europeus que recrutaram mão-de-obra temporária
(trabalhadores convidados) ou receberam migração colonial substancial durante as
expansões económicas pós-Segunda Guerra Mundial” (Freeman, 2003, 515, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017, p 405).

15
O terceiro tipo de regime de imigração são os países do sul e do leste europeu “que têm
mais probabilidade de receber do que de enviar imigrantes”. Os quatro países mais
proeminentes nesta categoria são Grécia, Espanha, Portugal e Itália.

A migração, talvez, pudesse ser usada como um meio de repor a população perdida com
a fecundidade. As projeções populacionais preparadas para a Coreia do Sul para as
próximas décadas indicam que os números absolutos e relativos das populações mais
velhas aumentarão muito. Uma solução seria a migração internacional, uma estratégia
que permitiria à Coreia do Sul trazer membros para a sua população direta e
imediatamente.

Em síntese, muitos governos aprovaram leis e regulamentos que lidam com seus níveis
de fecundidade, mortalidade e migração, especialmente a migração. Mas as políticas,
quaisquer que sejam as suas intenções e razões para a sua génese, nunca terão sucesso
a menos que levem em consideração o meio social, cultural e económico em que ocorre
o comportamento demográfico, e a menos que considerem os efeitos indiretos e diretos
(Poston e Bouvier, 2017, pp 404-406).

16
ATIVIDADES FORMATIVAS

1. Reflita acerca das quatro grandes dimensões que caracterizam as diferenças


entre a “antiga” e a “nova” explosão demográfica. Quais poderão ser as consequências
da situação atual num futuro próximo?

2. Quais são alguns dos problemas ambientais enfrentados pelo nosso planeta?

3. Quais são as três condições que devem estar presentes para o desenvolvimento
das cidades?

4. Explique as diferenças entre explosão populacional e implosão populacional e dê


exemplos de como esses dois processos estão a ocorrer simultaneamente ou como eles
são contraditórios.

5. Descreva cada uma das três Conferências da População Mundial realizadas em


1974, 1984 e 1994. Qual era o foco pretendido de cada conferência e o que cada
conferência alcançou?

17
GLOSSÁRIO
Acontecimento: Facto que se refere a um indivíduo e afetando diretamente a estrutura
das populações e a sua evolução. Os nascimentos, casamentos, divórcios, óbitos e
migrações são reconhecidos claramente como acontecimentos demográficos.

Acontecimentos não renováveis: Acontecimento que não é vivido mais do que uma
vez pelo mesmo indivíduo da coorte, como por exemplo, a morte, um primeiro
casamento.

Acontecimentos renováveis: Acontecimento suscetível de ser vivido mais do que uma


vez pelo mesmo indivíduo de uma coorte, como um nascimento para uma mulher, uma
migração para um membro de uma determinada geração.

Análise Longitudinal. Se tivermos uma coorte, acompanha-se durante um longo


período, apanhando vários momentos do tempo. Significa observar os acontecimentos
ao longo da vida dos indivíduos, o que envolve necessariamente vários anos de
calendário.

Análise Transversal: Análise aplicada a manifestações de um fenómeno durante um


dado período, geralmente o ano civil. Caracteriza-se um momento do tempo que contém
múltiplas coortes. A análise transversal permite transformar a informação de
acontecimentos em fenómenos. Por exemplo: taxa

“x” = acontecimentos/população média

(pop.1+pop.2/2)*100

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Anos completos: Uma criança que tem 3 anos e 6 meses tem 3 anos completos, o que
significa estar entre 3 e 4 anos exatos.

Categorias Endógenas e exógenas: Podemos classificar as causas que originaram a


mortalidade infantil em duas grandes categorias: Endógenas e Exógenas. De fatores

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exógenos, que são os meios exteriores e as condições gerais da população (doenças
infeciosas, alimentação insuficiente, cuidados hospitalares insuficientes, acidentes
diversos, etc) e de fatores endógenos, que têm a ver com as características dos próprios
indivíduos (deformações congénitas, traumatismos causados pelo parto, etc). Por vezes
é difícil distinguir se foi por um fator ou por outro. Existem métodos indiretos para saber
se se deveu mais a fatores exógenos ou endógenos: Mortalidade no 1º mês - fatores
endógenos; Mortalidade após o 1º mês - os fatores exógenos têm também uma
importância decisiva.

Coortes: Conjunto de indivíduos submetidos ao mesmo acontecimento de origem


durante um mesmo período de tempo. Uma geração é uma coorte de nascimentos,
conjunto de pessoas que nasceram no mesmo período. Uma coorte de casamentos é
uma “promoção”.

Crescimento demográfico : O crescimento demográfico ou crescimento populacional


é a mudança positiva do número de indivíduos de uma população.

Demografia : é o estudo científico do tamanho, composição e distribuição das


populações humanas e suas mudanças resultantes da fecundidade, mortalidade e
migração. Uma definição mais alargada, é a ciência social que estuda o tamanho, a
composição e a distribuição das populações humanas num ponto específico no tempo;
as mudanças no tamanho e composição da população; as componentes dessas
mudanças (isto é, fecundidade, mortalidade e migração); os fatores que afetam essas
componentes; as consequências das mudanças no tamanho, composição e distribuição
da população, ou as próprias componentes.

Densidade populacional: A distribuição geográfica pode ser avaliada pelo


conhecimento de densidade de população, isto é, o número de habitantes por Km2
(Hab/Km2). Este valor, porém, tomado em relação ao total da área estudada, pode não
traduzir a verdadeira distribuição da população, pois esta encontra-se mais aglomerada
em certas zonas e mais dispersa noutras. Esta situação é traduzida pelo coeficiente de
localização. A Densidade é a População por quilómetros quadrados (KM 2). Calcula-se:
nº de habitantes / Km2.

19
Dinâmica populacional: Considerando também os movimentos migratórios, temos a
dinâmica total (dinâmica natural + dinâmica migratória), e a taxa de crescimento anual
médio total/global.

Distribuição geográfica: delimitar a área em que determinada ocorrência se verifica.

Efetivos: Número de indivíduos que fazem parte de um mesmo acontecimento. Os


efetivos de uma população são o número de indivíduos que compõem essa população.
Esses efetivos são identificados nos recenseamentos.

Emigração: Significa a saída de uma pessoa de um território para o seu exterior.

Envelhecimento demográfico: O conceito de envelhecimento demográfico designa,


no essencial, a progressiva diminuição do peso das gerações mais jovens a favor das
gerações mais velhas. O início dessa mudança coincide em geral com a descida da
natalidade, que, porque substitui gerações mais plenas por gerações mais vazias,
provoca a redução da base masculina e feminina da pirâmide e o consequente
alargamento do peso das gerações mais velhas no topo.

Envelhecimento de base : redução progressiva dos efectivos mais jovens, da base


da pirâmide de idades.

Envelhecimento de topo : redução progressibva dos efectivos mais velhos, do topo


da pirâmide de idades.

Duplo envelhecimento : redução progressiva dos efetivos mais jovens e mais velhos,
quer da base,q uer do topo da pirãmide de idades.

Esperança de vida à nascença: A esperança de vida à nascença (idade 0) é um


indicador importantíssimo de mortalidade. Exemplo: Esperança de vida à nascença de
70 anos é o número médio de anos que um indivíduo nascido num determinado

20
momento do tempo pode viver se as condições de saúde observadas nesse momento
não se alterarem ao longo do tempo. Se as condições se alterarem, a esperança de vida
não coincide com a esperança de vida numa determinada idade ou mortalidade média.
Diz respeito a um determinado momento do tempo, mas em relação a um futuro. É um
indicador de mortalidade global – Índice de síntese. É a partir de uma tábua de
mortalidade que se encontra a esperança de vida.

Esperança de vida na idade x: Segundo a tábua de mortalidade é o número médio


de anos restantes de vida para uma pessoa que atinge a idade x.

Estado perturbado: Fenómeno que interfere nas manifestações de um outro


fenómeno, objeto principal de estudo. Combina as variáveis, mortalidade, migrações.

Estado puro: Só o acontecimento aliado do resto. Por exemplo, só a mortalidade,


isolada dos outros fenómenos.

Estatísticas demográficas de Estado Civil: São o conjunto de informações sobre os


nascimentos, óbitos, casamentos, divórcios e separações judiciais, saídas ou entradas,
ocorridas num território durante um determinado período (normalmente um ano),
baseadas nos boletins de registo civil desses acontecimentos, com detalhes sobre a sua
repartição por unidade administrativa e segundo um número mais ou menos vasto de
características (sexo, idade, etc.). O sistema de registos vitais e os controlo s de
migração existem acima de tudo por questões legais: a produção de certificados de
nascimento e de óbito, passaportes, cartões de identidade, certificados de autorização
de trabalho, autorização de residência e de cidadania, etc.

Estruturas: Os dois fatores intervenientes nas taxas brutas são o modelo e as


estruturas. A taxa bruta é a soma de produtos das estruturas relativas de cada idade
pelas taxas nessas mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idade se chama o
modelo do fenómeno, a taxa bruta pode ser redefinida como uma resultante da interação
entre o modelo e a estrutura. Em linguagem de análise demográfica temos:

TBM (1990) = SPx(1990) * tx (1990).

21
As diferenças em Portugal no período 1950-90 tanto podem provir dos tx (modelos)
como dos Px (estruturas). Variações entre modelos significa a existência de diferentes
riscos de mortalidade; diferenças entre estruturas (maior ou menos envelhecimento
demográfico) são alheias à análise da mortalidade.

Explosão demográfica: Preocupação com o “excessivo número de habitantes”. Em


dois momentos anteriores à época contemporânea, acreditou-se que o “mundo estava
cheio” e que não havia lugar para tanta gente à superfície da terra. Quais são as
características diferentes que este fenómeno apresenta nos dias de hoje ? A primeira
grande diferença reside no facto de, globalmente, a humanidade nos aparecer no século
XX dividida em dois blocos: o dos países em desenvolvimento onde se concentra 80 %
da população mundial, com um crescimento anual médio que chega quase aos 2 %,
uma mortalidade infantil elevada, elevadas percentagens de jovens, baixas percentagens
de idosos, e um PNB per capita que raramente ultrapassa os 1000 dólares. No bloco dos
países desenvolvidos temos 20 % da população mundial, um crescimento natural
praticamente igual a zero, uma mortalidade infantil reduzida, baixas percentagens de
jovens, elevadas percentagens de idosos e um PNB per capita que é quase vinte vezes
superior.

Fecundidade: Fenómeno relacionado com os nascimentos vivos considerados do ponto


de vista da mulher ou do casal. Refere-se aos comportamentos procriadores do ponto
de vista da mulher, do casal e, muito excecionalmente, do homem.

Fecundidade natural: Manifestação da fecundidade no casamento na ausência de


contraceção e de aborto provocado.

Fenómenos: Aparecimento de acontecimentos de uma dada categoria. Assim, ao


acontecimento óbitos, corresponde o fenómeno mortalidade, aos casamentos a
nupcialidade, aos nascimentos a natalidade e a fecundidade, às mudanças de residência
a migração.

Fertilidade: Aptidão para procriar. O seu contrário é a esterilidade. É incorreto utilizar


a palavra fertilidade em vez de fecundidade. A fertilidade refere-se à potencial

22
capacidade que um individuo tem para procriar e a fecundidade refere-se à concretização
dessa capacidade. Para serem fecundos, os indivíduos tem que ser férteis (não estéreis).
E ser fértil não implica necessariamente que se seja fecundo.

Nota: Em inglês, a palavra fertility significa fecundidade e não fertilidade.

Geração: Coorte particular constituída pelo conjunto das pessoas nascidas durante um
dado período, geralmente um ano civil.

Grupo Etário : Intervalo de idade, em anos, no qual o indivíduo se enquadra, de acordo


com o momento de referência.

Grupos funcionais : concentração num reduzido número de grupos a totalidade da


informação, tornando mais funcional a análise. A população passa a estar dividida em
três grandes grupos etários, sexos separados ou reunidos. Os grupos funcionais
expressam, assim, essencialmente o peso relativo dos três grandes grupos
sociodemográficos presentes em qualquer população. Geralmente, parte-se do princípio
de que no grupo de menos de 15 anos, existe um escasso potencial produtivo e grande
consumo de bens. No grupo dos 15 aos 64 anos, temos um grupo considerado
economicamente ativo em que geralmente a sua produção excede o consumo. O grupo
dos 65 e mais anos, traduz um grupo com uma produtividade reduzida, mas ainda com
um menor índice de consumo comparado com o grupo de população com menos de 15
anos (Nazareth, 2004).

Idade exata: Idade determinada calculando a diferença entre a data onde é calculada
e a data de nascimento do indivíduo. Um indivíduo nascido no dia 1 de Junho de 1923,
terá no dia 1 de Novembro de 1978, 55 anos e 5 meses.

Idade média de fecundidade: Idade média das mães aquando dos nascimentos vivos
segundo uma tábua de fecundidade geral, o que significa, na ausência de mortalidade.

IMF = Σ (Pontos médios * ntx)/ Σntx

23
Idade média ao nascimento dos filhos (Idade média das mulheres ao
nascimento de 1filho) : A Idade Média das Mulheres ao Nascimento dos Filhos é um
indicador sintético do calendário da fecundidade. Para um determinado ano civil, a idade
média das mulheres ao momento do nascimento dos filhos pode ser calculada utilizando
taxas de fecundidade por idades, ano a ano ou por grupos quinquenais, entre os 15 e
os 49 anos. O cálculo deste indicador sustenta-se na hipótese de linearidade dos
acontecimentos produzidos entre dois aniversários. Logo, para o cálculo do total de anos
vividos pelas mulheres até ao nascimento dos filhos, convencionase que, em média, os
nascimentos ocorreram no meio do intervalo entre dois aniversários. Deste modo, a
idade média ao nascimento é o valor resultante do quociente entre a soma total dos
anos vividos pelas mulheres até ao nascimento dos filhos (convencionando-se que, em
média, os nascimentos ocorreram no meio do intervalo entre dois aniversários), a
multiplicar pelas taxas de fecundidade por idades, e a soma de todas as taxas de
fecundidade por idades. No caso de grupos quinquenais, multiplica-se o valor de cada
taxa por 5 (amplitude de cada grupo etário).

IMMN1F (idade)

I= ∑ (Pontos médios *ntx) / ∑ntx

Ponto médio de cada classe etária no caso de grupos quinquenais: i.e, 17,5, 22,5, 27,5,
etc.

n = amplitude da classe etária, no caso de grupos quinquenais é igual a 5.

tx (fx) = taxas de fecundidade ano a ano ou por grupos de idade.

Índice : É o valor estimável que mais se aproxima de uma taxa (é a melhor estimativa
possível da taxa correspondente); É idêntico a uma taxa, mas no denominador não se
coloca a "população alvo" do fenómeno considerado no numerador; Na apresentação
do seu valor, o resultado pode ou não ser multiplicado por uma potência de 10 (10n).

Índice de Dependência de Idosos (idi) : É a relação entre a população idosa e a


população em idade activa. Habitualmente definido como o quociente entre o número
de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e o número de pessoas com idades
compreendidas entre os 15 e os 64 anos. Geralmente é expresso em percentagem (por
100 pessoas com 15-64 anos). Fórmula de cálculo: IDI = ( P1 ÷ P2 ) x 100; em que

P1: população com idade igual ou superior a 65 anos; e

24
P2: população com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.

Índice de Dependência de Jovens (idj) : É a relação entre a população jovem e a


população em idade activa. Habitualmente definido como o quociente entre o número
de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e o número de pessoas
com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos. Geralmente é expresso em
percentagem (por 100 pessoas com 15-64 anos). Fórmula de cálculo: IDJ = ( P1 ÷ P2 )
x 100; em que

P1: população com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos; e

P2: população com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.

Índice de Dependência Total (idt) : É a relação entre a população jovem e idosa, e


a população em idade activa. Habitualmente definido como o quociente entre o
somatório de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e as pessoas
com idade igual ou superior a 65 anos, e o número de pessoas com idades
compreendidas entre os 15 e os 64 anos. Geralmente é expresso em percentagem (por
100 pessoas com 15-64 anos). Fórmula de cálculo: IDT = [( P1 + P2 ) ÷ P3 ] x 100; em
que

P1: população com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos;

P2: população com idade igual ou superior a 65 anos; e

P3: população com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.

Índice de Envelhecimento (ie) : Também é designado "índice de vitalidade". É a


relação entre a população idosa e a população jovem. Habitualmente definido como o
quociente entre o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e o número
de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos. Geralmente é expresso
em percentagem (por 100 pessoas com idades entre os 0 aos 14 anos). Fórmula de
cálculo: IE = ( P1 ÷ P2 ) x 100; em que

P1: população com idade igual ou superior a 65 anos; e

P2: população com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos.

25
Índice de Juventude (ij) : É a relação entre a população jovem e a população idosa.
Habitualmente definido como o quociente entre o número de pessoas com idades
compreendidas entre os 0 e os 14 anos e o número de pessoas com idade igual ou
superior a 65 anos. Geralmente é expresso em percentagem (por 100 pessoas com idade
igual ou superior a 65 anos). Fórmula de cálculo: IJ = ( P1 ÷ P2 ) x 100; em que

P1: população com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos; e

P2: população com idade igual ou superior a 65 anos.

Índice de Juventude da População em Idade Activa (ijpa) : É a relação entre a


metade mais jovem e a metade mais idosa da população em idade activa. Habitualmente
definido como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre
os 15 e os 39 anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 40 e os
64 anos. Geralmente é expresso em percentagem (por 100 pessoas com idades entre os
40 e os 64 anos). Fórmula de cálculo: IJPA = ( P1 ÷ P2 ) x 100; em que

P1: população com idades compreendidas entre os 15 e os 39 anos; e

P2: população com idades compreendidas entre os 40 e os 64 anos.

Índice de Longevidade (il) : É a relação entre dois grupos de população idosa: um


com idade igual ou superior a 65 anos e outro com idade igual ou superior a 75 anos.
Habitualmente definido como o quociente entre o número de pessoas com idade igual
ou superior a 75 anos e o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos.
Geralmente é expresso em percentagem (por 100 pessoas com idade igual ou superior
a 65 anos). Fórmula de cálculo: IJ = ( P1 ÷ P2 ) x 100; em que

P1: população com idade igual ou superior a 75 anos; e

P2: população com idade igual ou superior a 65 anos.

Índice Sintético de Fecundidade (isf) : É o número médio de nados-vivos por


mulher em idade fértil (entre os 15 e os 49 anos de idade). Nos países desenvolvidos,
considera-se o número 2,1 como o nível mínimo para a efectiva substituição de gerações.
Cálculo: ISF = somatório das taxas de fecundidade por idades (grupos quinquenais ou
ano a ano), entre os 15 e os 49 anos, observado num determinado período de tempo
(geralmente um ano civil).

26
Soma das taxas de fecundidade geral por idade durante um período. Índice sintético de
fecundidade: T.F.G. *5 = I.S.F.

1.º Calcula-se a média dos nascimentos (t0+t1/2), em cada um dos grupos etários, 2.º
dividem-se pela população feminina em cada um dos grupos etários, 3.º multiplica-se o
somatório das T.F.G. por grupos de idades por 5 que corresponde à amplitude de cada
grupo etário. Se o I.S.F. for 3 significa que, se as mulheres que entrarem no período
fértil adotarem os comportamentos que existiam em t0/t1 terão 3 filhos.

Número médio de crianças vivas nascido por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos
de idade), admitindo que as mulheres estariam submetidas às taxas de fecundidade
observadas no momento.

Valor resultante da soma das taxas de fecundidade por idades, ano a ano ou grupos
quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num determinado período
(habitualmente um ano civil). O número de 2,1 filhos por mulher é considerado o nível
mínimo de substituição de gerações nos países mais desenvolvidos.

Nota: Desde 1982 (2,08) que Portugal apresenta um ISF abaixo do de 2,1 filhos por
mulher.

ISF (N.° filhos)

Somatório de taxas de fecundidade por grupos de idade quinquenais durante um ano


civil * 5/1000

TFgi(0,t) * 5

TFgi(0,t)= Taxas de fecundidade por grupos deidade entre os momentos 0 e t

Índices Resumo: Decomposição de uma estrutura demográfica em grupos funcionais,


tornando-se necessário proceder à sua manipulação no sentido de os transformar em
indicadores que resumam a informação existente numa repartição por sexos e idades.

Migrações: Significa a deslocação de pessoas e de mobilidade de indivíduos.

Migração de substituição : forma de abordar o possível papel da imigração para


compensar os défices populacionais e o envelhecimento populacional

27
Modelos: Construção que pretende representar os fenómenos demográficos. As tábuas
tipo de atração exercidos respetivamente pelas zonas de partida e de chegada do
migrante e a distância que separa estas duas zonas.

Mortalidade infantil: Mortalidade das crianças de menos de um ano.

Segundo o INE, a taxa de mortalidade infantil (TMI) corresponde ao «número de óbitos


de crianças com menos de um ano de vida, observado durante um determinado período
de tempo, normalmente um ano civil, referido ao número de nados vivos do mesmo
período». Esta taxa é habitualmente expressa em número de óbitos de crianças com
menos de um ano de idade por mil nados vivos. Esta taxa pode decompor-se ainda em
duas: a taxa de mortalidade neonatal e a taxa de mortalidade pós-neonatal, sendo que
a primeira diz respeito aos óbitos ocorridos com menos de 28 dias de vida por mil nados
vivos, e a segunda refere-se aos óbitos ocorridos entre o 28.º dia de vida e o 364.º dia
de vida.

Por sua vez, a taxa de mortalidade neonatal pode subdividir-se em taxa de mortalidade
neonatal precoce, quando o óbito ocorre entre os zero e os seis dias completos de vida,
e a taxa de mortalidade neonatal tardia quando se verifica o óbito entre o 7.º e o 27.º
dia de vida.

A taxa de mortalidade perinatal refere-se ao somatório da mortalidade neonatal precoce


com a mortalidade fetal tardia (óbitos entre 28 semanas de gestação e o parto).

Mortalidade no 1.º mês – Fatores endógenos: mortalidade que se deve a


circunstâncias do parto, defeitos de constituição interna e envelhecimento do organismo.
No caso da mortalidade exógena, esta deve-se sobretudo a fatores do meio exterior.

Mortalidade: Fenómeno relacionado com os óbitos (acontecimento). n = log 2/log


(1+a)

Nascimento: Acontecimento relacionado com a natalidade.

Natalidade: Fenómeno relacionado com os nascimentos. Refere-se ao resultado global


da procriação numa população durante um determinado período.

28
Nupcialidade: Fenómeno relacionado com os casamentos. A nupcialidade não é uma
variável microdemográfica autêntica na medida em que o seu aumento ou a sua
diminuição não afetam diretamente a dinâmica populacional. Esta variável intervém na
dinâmica populacional indiretamente através da fecundidade, se bem que, neste
princípio de milénio, é cada vez mais forte a tendência para a separação entre os
comportamentos da nupcialidade e da fecundidade. O processo mais simples que existe
para medirmos o nível da nupcialidade consiste em dividir o total de casamentos
observados pela população média.

Pirâmide de idades: Duplo histograma que dá uma representação da população pelo


sexo e as idades.

População : define-se como um conjunto de pessoas adscritas a um determinado


espaço, num dado tempo

População estacionária: População estável com taxa de crescimento nulo.

Princípio da Translação: A construção das tábuas de mortalidade. Este princípio serve


para designar os modelos e fórmulas permitindo estabelecer as relações entre medidas
longitudinais e medidas transversais dos fenómenos.

Projeção demográfica: Perspetiva demográfica onde a ideia de previsão está


geralmente ausente.

Proporção: Quando se tem duas razões e ambas estão sendo comparadas por uma
igualdade, então temos uma proporção. Caso a igualdade seja verdadeira, então os
números serão proporcionais, caso contrário, então eles não serão proporcionais.

Razão: relação existente entre dois valores de uma mesma grandeza. Quando
comparamos duas medidas, dois valores ou até duas grandezas, determinamos uma

29
relação entre dois números que os representam. Quando essa relação é determinada
por uma divisão, chamamos de razão.

Recenseamento (ou Censos) : Conjunto das operações que permitem conhecer o


efetivo da população de um território num determinado momento, com os detalhes sobre
a repartição dessa população por unidade administrativa e segundo uma gama mais ou
menos extensa de características.

Relações de Masculinidade: Relação, numa população, entre o efetivo masculino e o


efetivo feminino. Numa geração, sem trocas migratórias, devido à sobremortalidade
masculina, esta relação é sempre decrescente passando de 1,05 à nascença para um
valor na ordem de 0,30 aos 100 anos.

Relação de Masculinidade dos nascimentos: Relação entre os nascidos vivos


masculinos e os nascidos vivos femininos durante um período. Esta relação, o mais
frequentemente vizinha de 1,05 apresenta ligeiras variações consoante os grupos raciais.
A sua estabilidade no tempo e no espaço é no entanto suficiente para que as diferenças
importantes face aos valores normais possam ser atribuídas a falhas de registo dos
nascimentos e sugerir meios de correção.

Tábua de Mortalidade: Tábua que descreve, segundo uma escala de idades, o


surgimento dos óbitos numa geração.

Taxa : um número dividido por qualquer outro número.

Taxa Bruta de Mortalidade: Relação dos óbitos de um ano com a população média
desse ano e mais frequentemente, a relação entre os óbitos de um período e o número
correspondente de pessoas-ano durante o período.

Taxa Bruta de Natalidade: Relação dos nascidos vivos de um ano com a população
média desse ano e mais frequentemente, a relação entre os óbitos de um período e o
número correspondente de pessoas-ano durante o período.

30
Número de nados-vivos ocorrido durante um determinado período de tempo,
normalmente um ano civil, referido à população média desse período (habitualmente
expressa em número de nados-vivos por 1000 (10^3) habitantes).
Taxa (‰)

(Nados-vivos no ano civil / População média anual residente) * 1000

TBN =[NV(0,t) / [(P(0) + P(t)) / 2]] * 10^n

NV(0,t)= Nados vivos entre os momentos 0 e t;

P(0)= População no momento 0;

P(t)= População no momento t;

n= 3

Taxa Bruta de Reprodução: Descendência final, reduzida às raparigas, numa geração


feminina denotada R. É a relação entre os efetivos à nascença do sexo feminino saídos
de uma geração feminina. Taxa Bruta de reprodução: é o número médio de filhas: T.B.R.
= I.S.F. * 0.488

Número médio de filhas de mulheres submetidas às taxas de fecundidade observadas


no momento de referência, supondo-se que a mortalidade entre o nascimento e a idade
reprodutiva é igual a zero.

É equivalente ao índice sintético de fecundidade multiplicado pela proporção de nados-


vivos do sexo feminino ao nascimento (cerca de 48%).

Simbolizada por R cujo valor tem de ser igual ou superior a 1 para que teoricamente a
substituição das gerações esteja assegurada.

TBR (N.° filhas)

Índice Sintético de Fecundidade * 0,488

R = ISF * 0,488

Taxa de Crescimento Anual Média: Taxa de crescimento Anual Médio Natural (saldo
natural) +

Taxa de crescimento Anual Médio Migratória (saldo migratório): O saldo


migratório é a diferença entre as saídas - emigração e as entradas - imigração. Se a

31
diferença for de 0, pode significar que saiu muita gente, mas também entrou muita
gente.

Taxa de fecundidade geral: Relação entre os nascidos vivos durante um período e o


efetivo conveniente de mulheres ou de casamentos. Relaciona-se com a parcela da
população de mulheres dos 15 aos 49 anos: ou seja, T.F.G. = nascimentos / mulheres
15-49 * 1000. Podemos decompor a Taxa de fecundidade geral nos seus elementos
constitutivos. Podemos redefini-la como sendo uma soma dos produtos das estruturas
relativas, em cada idade (ou grupos de idades), do período fértil das mulheres, pelas
taxas nessas mesmas idades (ou grupos de idades). A T.F.G. pode ser assim redefinida
como resultante da interação entre estrutura e modelo.

Número de nados-vivos observado durante um determinado período de tempo,


normalmente um ano civil, referido ao efetivo médio de mulheres em idade fértil (entre
os 15 e os 49 anos) desse período (habitualmente expressa em número de nados vivos
por 1000 (10^3) mulheres em idade fértil).
Taxa (‰)

(Nados-vivos no ano civil / Efetivo médio de mulheres entre os 15 e os 49 anos no ano


civil) * 1000

TFG = [NV(0,t)/[(PF15,49(0)+PF15,49(t))/2]*10^n

NV(0,t))=Nados vivos entre os momentos 0 e t;

PF15,49(0) = População feminina entre os 15 e os 49 anos no momento 0;

PF15,49(t) = População feminina entre os 15 e os 49 anos no momento t;

n=3.

Taxa de fecundidade por idade ou grupos de idade: Relação entre os nascidos


vivos de mulheres de uma certa idade durante um ano e o efetivo médio da população
feminina com essa idade ou grupo de idade.

Número de nados-vivos de mulheres de um determinado grupo de idade, observado


durante um certo período de tempo, normalmente um ano civil, referido ao efetivo médio
de mulheres desse grupo de idade nesse período (habitualmente expressa em número
de nados-vivos por 1000 (10^3) mulheres).

Taxa (‰)

32
(Nados vivos por grupo etário das mães, no ano civil / Efetivo médio de mulheres por
grupo etário no ano civil) * 1000

TFGgi = [NVgi(0,t) / [(PFgi(0) + PFgi(t)) / 2]] * 10^n

NVgi(0,t)= Nados-vivos, de mulheres em determinado grupo de idades, entre os


momentos 0 e t;

PFgi(0)= População feminina desse grupo de idades no momento 0;

PFgi(t)= População feminina desse grupo de idades no momento t;

n= 3

Exemplo: Taxa de fecundidade do grupo etário (entre os 15 e os 19 anos).

TFG (15-19) = nados-vivos por idades das mães (15-19) / população média feminina
(15-19)*1000

Taxa de Migração Total: Relação entre a migração total de um ano e a população


média desse ano e mais frequentemente, a relação entre a migração total de um período
e o número correspondente de pessoas-ano durante esse período.

Taxa de Mortalidade Infantil Néo-Natal (com menos de 28 dias): Relação entre os


óbitos néo-natais (durante o primeiro mês ou as primeiras quatro semanas) durante um
ano civil e os nascidos vivos durante esse ano.

Taxa de Mortalidade Infantil Pós Néo-Natal (de 28 a 365 dias): Relação entre os
óbitos pós néo-natais (durante o primeiro ano de vida, exceto o primeiro mês ou as
primeiras quatro semanas) durante um ano civil e os nascidos vivos durante esse ano.

Taxa de mortalidade infantil: Relação entre os óbitos de crianças de menos de um


ano durante um ano civil e os nascidos vivos desse mesmo ano civil.

Taxa de mortalidade por idade ou grupos de idade: Relação entre os óbitos de


uma certa idade ou grupo de idades durante um ano e o efetivo médio da população
com essa idade ou grupo de idade.

33
Taxa de mortalidade: Quando não existem fatores perturbadores, é sinónimo de taxa
bruta de mortalidade.

Taxa de natalidade: Sinónimo de taxa bruta de natalidade.

Taxa líquida de reprodução: Entra em conta com a mortalidade, ou seja se


multiplicarmos as taxas de fecundidade geral pelas probabilidades de sobrevivência e
procedermos da mesma forma que procedemos para calcular a T.B.R., obtemos a Taxa
Líquida de Reprodução: T.L.R. = S (T.F.G * npx)* 5*0.488.

Taxa: Relação dos acontecimentos que surgem numa população durante um período,
com a população média durante esse período.

Taxas de crescimento: Relação entre o crescimento de uma população durante um


ano e a população média desse ano e mais frequentemente, a relação entre o
crescimento durante um período e o número correspondente de pessoas ano durante
esse período.

Tempo de duplicação em anos: Com base na lógica do cálculo da taxa de crescimento


geométrica podemos calcular o tempo de duplicação em anos. Se a taxa a é uma taxa
de crescimento constante, ao fim de quantos anos n duplicará a população?

Teoria da Transição demográfica: Diz-se da situação de uma população em que a


natalidade e a mortalidade, ou pelo menos um desses dois fenómenos, abandonaram
nos seus níveis tradicionais para se encaminharem para baixos níveis associados a uma
fecundidade mais controlada e à utilização de meios modernos de luta contra a
mortalidade.

Teorias Demográficas: São correntes de opinião que tentam explicar ou prever a


evolução dos fenómenos demográficos, as interações entre estes e os fenómenos

34
económicos, sociais, psicológicos, do ambiente e outros, tentando prever as
consequências que possam levar à elaboração de uma política demográfica.

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42
ANEXOS

43
Anexo 1-

Quadro 1 - Síntese das variáveis a observar nos Censos 2021 e excluídas face aos
Censos 2011

44
Anexo 2-

NADOS-VIVOS, POR GRUPO ETÁRIO DO PAI E SEXO, SEGUNDO O GRUPO ETÁRIO DA


MÃE

45
Anexo 3

6.01 - POPULAÇÃO RESIDENTE, SEGUNDO A DIMENSÃO DOS LUGARES, POPULAÇÃO


ISOLADA, EMBARCADA, CORPO DIPLOMÁTICO E SEXO, POR IDADE (ANO A ANO)

46
Anexo 4
6.02 - POPULAÇÃO RESIDENTE, SEGUNDO A DIMENSÃO DOS
LUGARES, POPULAÇÃO ISOLADA, EMBARCADA, CORPO DIPLOMÁTICO
E SEXO, POR GRUPO ETÁRIO

47
Anexo 5 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016
(Ambos os sexos)

48
Anexo 6 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016 (Homens)

49

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