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Demografia Social e
Politicas Demográficas
População,
recursos e
desenvolvimento
Sebenta
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ÍNDICE
Introdução………………………………………………….. ............................................................... 3
MÓDULO 1: Demografia: a Ciência da População .......................................................... 7
1.1 Definições e Campos de Especialidade ........................................................................................................ 7
1.2 As Populações humanas: das longas permanências às transições demográficas. .................................... 18
1.3 As Populações humanas: modelos e caraterísticas de comportamento ................................................... 20
1.4 O que é a Transição Demográfica.............................................................................................................. 27
MÓDULO 2: Demografia: da Teoria à Intervenção .................................................................................. 33
BIBLIOGRAFIA.. ...................................................................................................................175
Glossário ...................................................................................................................178
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INTRODUÇÃO
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Análise Demográfica
A Análise Demográfica (AD) fornece a base científica e de unidade da Demografia
e todos os outros ramos procuram interpretar fenómenos de comportamento
medidos numa primeira fase de investigação pela AD;
A AD analisa quantitativamente variáveis macro demográficas (volume,
estrutura, distribuição espacial) e micro demográficas (natalidade, mortalidade e
migrações);
A AD está unicamente interessada em descrever os fenómenos e não os procura
explicar. Utiliza uma abordagem descritiva, voltada para a medição rigorosa e a
elaboração e tratamento quantitativo dos fenómenos (tendências de evolução e
comportamentos).
Para a AD factos demográficos explicam outros factos demográficos;
Demografia Histórica
França é o berço da Demografia Histórica (DH), que ganha autonomia a partir
dos anos 50 graças ao historiador Pierre Goubert e à sua proposta de utilizar de
forma sistemática os registos paroquiais para caracterizar os comportamentos
coletivos de pessoas anónimas. Quase em simultâneo, Louis Henry e Michel
Fleury testavam o método de reconstituição de famílias, que impulsionou os
estudos demográficos, por permitir uma visão holística dos homens do passado
com base em metodologias quantificáveis e rigorosas até então desconhecidas. A
terceira linha de investigação em DH surge nos anos 60 em Cambridge e
distingue-se das anteriores porque considera demasiado moroso o método de
reconstituição e frágeis alguns dos seus resultados e propõe o uso de métodos
agregativos e anónimos (RODRIGUES 2009: 2-23).
A DH difere das restantes porque estuda populações do passado e criou
metodologias adaptadas à falta ou à má qualidade dos dados, o que levou ao
desenvolvimento de técnicas de análise próprias ou a adaptação das
tradicionalmente em uso nos estudos de AD ou de Demografia Social;
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Ecologia Humana
A Demografia precisou de ultrapassar as limitações do poder explicativo do
sistema social e passou gradualmente de uma perspetiva analítica para uma
sistémica. Dai a sua proximidade com o ponto de vista que caracteriza a
moderna Ecologia Humana (EH);
De criação recente, a EH analisa o conjunto de interações entre as populações
humanas nos seus diferentes ambientes e fornece uma nova forma de ver os
comportamentos coletivos, ao encarar o homem como um ser bio cultural
e atribuindo igual importância às componentes biológicas e de organização
social/cultural;
A EH tem uma área de estudo mais vasta que a Demografia, mas não pode
existir sem ela, uma vez que esta dá o pano de fundo para as suas
investigações: as dinâmicas das populações humanas. Mas acrescenta à AD
a análise dos fatores externos envolventes (a organização social, a
distribuição no espaço, a predisposição genética…). As migrações, o
envelhecimento, as alterações no modelo de fecundidade são exemplo das
formas diferentes como o Homem lida com o meio.
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E
Natural Environment
Land
– Surface structure
Human-made Other species
– Land cover environment
– Soil composition
….
P
Population
by age, gender, location,
education, and other socio-
economic characteristics
Air Water
– Composition – Streams
– Temperature Infrastructure, institutions, politics, culture, – Lakes
– Humidity information, and technology – Groundwater
…. – Sea and lagoons
….
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Caracterização
Ambiental
Tendência
Pesada
Demográfica
Variáveis Variáveis
Externas (ambiente
Internas (objectoDepartamento de Estudos Políticos – FCSH – UNL
de estudo)
de estudo) 2º Semestre – 2008/2009
FUTURO?
CENÁRIOS
PROSPECTIVOS
Doutrinas Demográficas
As Doutrinas Demográficas (DD) podem ser definidas como um movimento
que atravessa a história das populações desde a Antiguidade e que tem o
grande propósito de entender como será possível adequar as dinâmicas, os
volumes e as características das populações humanas com as conjunturas
históricas, económicas e sociais em que se encontram. Em termos simplistas,
estas teorias dividem-se entre populacionistas e anti populacionistas e
refletem as circunstâncias históricas dos seus autores;
As DD procuram analisar e sistematizar os fundamentos teóricos da
Demografia, numa atitude discursiva muito próxima da História das Ideias, da
Economia e da Ciência Política;
Apresentam-se como um conjunto de ideias corretamente explicitadas, que
defendem certas posições ou atitudes sobre diferentes problemas,
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Políticas Demográficas
As Politicas Demográficas (PD) apresentam objetivos de ordem prática e visam
criar medidas que garantam um equilíbrio sustentável entre população, ritmo
de crescimento e distribuição, que garantam a manutenção ou melhoria dos
níveis médios de Desenvolvimento Humano;
A sua atuação baseia-se na criação, implementação e avaliação de políticas
que de acordo com as características do universo populacional promovam a
redução ou aumento dos níveis de fecundidade, reduzam a mortalidade,
adaptem os volumes de emigração ou imigração. Para tanto apresentam
ligações a nível nacional ou internacional com vários setores políticos,
nomeadamente a nível governamental, de Organizações Internacionais,
ONGs… (CARMO 2001: 163-184) (Veja-se MÓDULO 2).
Demografia Política
Trata-se de uma nova área de estudo, que Kaufmann e Toft (2011) definem
como “the study of the size, composition, and distribution of population in
relation to both govern ment and politics”.
A DP é fruto de dois ramos, a geopolítica e a geodemografia: analisa as
mudanças observadas na relação entre espaço e população, com vista a
compreender os efeitos geopolíticos das mudanças observadas. Surge em
inícios do século XXI e fala-nos do modo como as alterações demográficas
afetam o contexto politico a diferentes escalas, estabelecendo uma
relação entre crescimento demográfico e recursos naturais e não naturais
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passagem está em curso, e é ela que, graças à diversidade cronológica do processo nas
várias regiões do Mundo, origina diferenças significativas nos ritmos de aumento
demográfico global. A que nos referimos em concreto?
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conseguida nas sociedades onde o processo de mudança fora mais precoce e onde os
maiores aumentos de população se registaram em finais do século XIX e inícios de XX.
A dinâmica da população, de novo num crescimento tornado gradualmente mais lento,
é agora devida a novas combinações dos mesmos vetores demográficos.
Em termos sintéticos podemos dizer que os modelos de comportamento das
populações humanas correspondem à passagem por vários estádios, que se iniciam e
terminam em situações de equilíbrio:
1° tipo de equilíbrio - o equilíbrio milenar
Altos níveis de natalidade e mortalidade.
Violentas e regulares crises de sobremortalidade.
Taxas de Mortalidade Infantil e juvenis muito elevadas.
Esperança média de vida baixa.
Descendências Médias elevadas, da ordem de 6 filhos por mulher.
2º tipo de equilíbrio - o equilíbrio moderno
Baixos níveis de natalidade a mortalidade (embora esta última tenda a
aumentar nas zonas onde o número de idosos é maior).
Taxas de Mortalidade Infantil e juvenis cada vez mais baixas.
Esperança média de vida elevada, entre 70 a 80 anos.
Descendências Médias baixas, que não garantem a substituição das gerações,
por serem inferiores a 2,1 filhos por mulher.
O crescimento populacional volta a ser muito lento, sem oscilações
significativas, e a estrutura etária da população modifica-se, reduzindo-se a
percentagem de jovens e aumentando a dos idosos. Produz-se um duplo
envelhecimento das estruturas etárias, conhecido por envelhecimento demográfico.
Na prática, a história das populações humanas parece pautar-se pela passagem de um
ciclo de vida curto e instável para um ciclo de vida longo e estável, que pressupõe:
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Os comportamentos
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afirmando que mesmo que o número de nascimentos se reduzisse por este fator, a
mortalidade iria diminuir. Outros autores provaram a existência de uma correlação
inversa entre fecundidade e nível socioeconómico, sublinhando três causas: 1) o nível
de vida; 2) o grupo social e 3) a residência urbana. A par da evolução da mudança dos
comportamentos face à fecundidade surgem novas conceptualizações sobre a futura
dinâmica da população. O economista inglês Edwin Cannan foi pioneiro nesta frente,
tendo realizado em 1895 as primeiras projeções da população de Inglaterra e Gales
com base nos recenseamentos gerais.
3ª Condição: Clima
1ª Condição: 2ª Condição:
Mentalidade
Socio- Económica
Relação Homem-Natureza
DECLÍNIO DA MORTALIDADE
Fecundidade inalterada
"EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA"
DECLÍNIO DA FECUNDIDADE
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que esta é apenas uma medida com efeitos de curto e médio prazo, e não se repercute
a nível estrutural. Foi no Reino Unido, França e Países Nórdicos que se iniciou no fim
de Oitocentos a mudança de comportamentos face à mortalidade e fecundidade. Ao
longo do século XX poucos foram os países que conseguiram adiar o inevitável
processo de mudança estrutural da sua mortalidade e fecundidade. Portugal junta-se a
este grupo de inovadores do processo demográfico já tardiamente. Mas no fim do
século XX essas diferenças já não existem.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
BANDEIRA, Mário Leston (2004), Demografia. Objeto. Teorias e Métodos, Lisboa: Escolar
Editora
HENRIQUES, F, RODRIGUES, T. (2009), “O século XX: a transição”, A População Portuguesa. Das
longas permanências à conquista da modernidade, Porto: Afrontamento, pp.417 - 567
RODRIGUES, Teresa (2014), “Demografia”; “Demografia (ramos)”. Enciclopédia das Relações
Internacionais (Nuno Canas Mendes e Francisco Pereira Coutinho eds.). Lisboa: Quid Juris,
pp.132-134 e 134-136
RODRIGUES, Teresa (2018) Demografia Politica e Politicas de Segurança, in MODELOS
PREDITIVOS E SEGURANÇA PÚBLICA (coord. Teresa Rodrigues, Marco Painho), Porto: Fronteira
do Caos, pp,57-81
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criar sanções sobre casais estéreis ou que não desejassem ter filhos; e 3) incentivar a
imigração e facilitar a naturalização de estrangeiros.
Em qualquer dos cenários, o direito à vida deveria ser assegurado apenas aos
belos e saudáveis. Platão defende a exposição ou mesmo a morte das crianças
deficientes, o mesmo acontecendo com outro dos nomes marcantes da teorização
demográfica, entre os quais ARISTÓTELES (384-322 a.C.). Nascido um pouco mais tarde
e também filósofo, Aristóteles defende o conceito da “justa dimensão”, que difere do
preconizado por Platão, na medida em que se preocupa mais com a estabilidade social
e a garantia de bem-estar e não tanto com o propósito de manter fixo o volume
populacional.
No entanto, embora pareçam ter tido sucesso durante um período, estas
propostas foram malsucedidas quando se tornou necessário aumentar a população
das cidades e explica em parte o declínio da civilização grega. Escrevia o historiador
POLÍBIO (201-120 a.C.), no século II a.C: “A Grécia sofre de uma descida de procriação,
de homens...; as pessoas gostam do fausto, dinheiro... que, ou não se casam, ou sendo
casadas não querem família; no máximo duas crianças a fim de as deixar ricas e de as
educar no luxo”. Ciente das dificuldades que resultam deste tipo de comportamentos,
o autor sublinhava mais uma vez a necessidade da intervenção do poder político, no
sentido de impor, se necessário pela força, o aumento da descendência média do povo
grego, para o que previa a necessidade de alterar certas práticas e modos de vida.
E em ROMA? Predominou uma política claramente populacionista,
consubstanciada em legislação pontual. As formulações de índole teórica foram mais
escassas e protagonizadas por militares e juristas, mais do que por teorizadores de
formação filosófica. A manutenção do poder político e administrativo e a gestão dos
territórios do Império Romano explicam o interesse em conhecer os volumes e
características de população, a fim de garantir força humana para os exércitos e a
regular perceção de impostos e as tentativas de contagem foram muitas. Mas a
realização dessas contagens por todo o Império contrastava com a falta de reflexão
teórica, mesmo quando se vivia uma situação de falta de gente, designadamente a
partir do século III.
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robustos”. Afirmava a sua perplexidade, ao não compreender como se podia ter tanto
cuidado na melhoria de tantas espécies animais e tanta negligência com a humana.
Em FRANÇA devemos considerar duas correntes. A primeira acérrima
defensora da via populacionista, a segunda mais moderada. BODIN (1530-1596) e
MONTCHRESTIEN (1575-1621) pertencem ao primeiro grupo. As suas doutrinas irão
ser aplicadas, pelo menos parcialmente, por Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV,
entre 1661 e 1683. Para Bodin “não existe maior riqueza que os homens”. Já para
Montchrestien, a questão do número é relativizada pelas competências ou grau de
especialização dos mesmos. Este último defendia que a abundância de homens devia
ser garantida sobretudo para o grupo dos artesãos, os quais na sua perspetiva eram o
motor da riqueza do Estado. Inspirado nestes autores, Colbert foi um dos primeiros
governantes com uma política demográfica consistente, a fim de garantir o aumento
da população necessário ao crescimento económico. Para tanto toma três grandes
medidas: 1) Apoio às famílias numerosas (isenção de impostos para casais jovens,
casais com mais de 12 filhos, pensões para nobres ou burgueses com mais de 10
descendentes); 2) Luta contra a mendicidade, mediante a criação de postos de
trabalho; 3) Criação de estímulos à imigração (facilitando a naturalização de
estrangeiros, concedendo vantagens fiscais para artesãos especializados, dificultando a
saída daqueles que desejavam sair do Reino de França).
VAUBAN (1633-1707) distingue-se na segunda linha de pensadores. Defendia
uma teoria mais racional e a inexistência de uma relação direta entre muita população
e riqueza do Estado. Segundo este autor, “não basta que haja muita gente, é preciso
que sejam felizes, porque gente feliz trabalha mais”. Vauban encontrava no sistema
fiscal o principal entrave à felicidade dos povos, chegando mesmo a propor um sistema
que atenuasse a injustiça. A sua doutrina será desenvolvida no século XVIII.
Durante os séculos da modernidade, a EUROPA CENTRAL estava a perder
população, na sequência de uma enorme instabilidade política e social. Não admira,
pois, que as doutrinas sobre população fossem de pendor populacionista. Quanto mais
gente melhor, para assegurar o desenvolvimento económico e a afirmação do poder
político. LUTERO (séc.XVI), Von SECKENDORFF (séc.XVII), Ernst CALL (sécs.XVII-XVIII) e
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principio da obrigação moral de limitação do número de filhos por parte dos casais; 4)
O casamento tardio e a abstinência até ao casamento.
Mais do que a originalidade das doutrinas e soluções apontadas, a riqueza do
pensamento deste teorizador reside na forma como soube sintetizar e articular um
conjunto de ideias dispersas, bem como a análise racional que efetuou sobre a
dinâmica das populações, no que anuncia a emergência da Demografia como ciência.
Malthus formulou doutrinas que serão polémicas na época e retomadas
durante os séculos XIX e XX: o neomalthusianismo e o anti malthusianismo.
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sentido, porque uma população abundante é uma população feliz. Os problemas a este
nível serão resolvidos graças ao progresso. Os marxistas rejeitam o malthusianismo,
sendo quase sempre populacionistas. Esta filosofia manteve-se no século XX (ex: a
Medalha da Maternidade, o Código Russo do Casamento e Família de 1969…).
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Deste modo, apesar dos diferentes níveis de certeza, é hoje possível traçar as
linhas de tendência do aumento de população no mundo e conhecer as grandes
questões e problemas sociais contemporâneos. Alguns Exemplos:
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Está aberto caminho para a Era das Conferências de População. Mas antes de
desenvolvermos esta temática, vejamos as origens do pensamento demográfico.
Tal como já verificámos no Módulo anterior, as dinâmicas populacionais têm
apresentado ritmos diferentes em termos cronológicos, bem como uma grande
diversidade geográfica, que se acentuaram a partir de meados do século XX. Enquanto
os PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS evidenciam a tendência para uma manutenção ou mesmo
descida dos seus efetivos populacionais, nos PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS verifica-se
uma situação oposta, ou seja, o seu quantitativo populacional terá um peso cada vez
maior no total da população mundial. São estas diferentes velocidades e dinâmicas de
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crescimento e seus respetivos impactos que explicam o destaque dado à questão das
políticas demográficas, uma entre muitas políticas passiveis de serem desenvolvidas na
esfera social.
Deste modo, os responsáveis políticos tentam desenvolver políticas
demográficas ou de população que melhor se ajustam às características dos seus
países. Atualmente, e se optarmos por uma visão simples, que divide os países em dois
grupos, de acordo com os seus indicadores de desenvolvimento humano, vemos que a
nível demográfico as maiores preocupações estão neste momento relacionadas com 6
grandes tópicos:
Dimensão e Crescimento
populacional;
Estrutura Etária da População;
Fecundidade e Planeamento familiar;
Saúde e Mortalidade;
Distribuição Espacial e Migrações
Internas;
Migrações Internacionais.
Estrutura etária
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PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS: aumentar a natalidade, o que poderá passar por subsídios às
famílias, empréstimos, reestruturação das licenças de maternidade e paternidade,
apoio preferencial a famílias com crianças e Incentivos fiscais. Promover a conciliação
do trabalho com a família e entre os géneros. Flexibilizar horários. Dificultar o acesso
aos métodos modernos de contraceção.
PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS: diminuir a natalidade. Providenciar o acesso a cuidados de
saúde reprodutiva e promover a responsabilização dos homens na mesma. Aumentar a
idade mínima do casamento e os níveis de escolaridade feminina. Promover o
emprego feminino. Desencorajar a preferência do filho único do sexo masculino e
financiar formas seguras de contraceção.
Saúde e Mortalidade
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Migrações Internacionais
Apresentam vantagens e desvantagens, sobretudo para os PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS:
Remessas; Networking; Acesso à informação; aumento da capacidade de consumo per
capita; Imigração: Trabalhadores altamente qualificados; Trabalhadores não
Qualificados; Trabalhadores temporários; Reagrupamento familiar. Emigração: facilitar
ou dificultar?
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São os governos dos países menos desenvolvidos, onde a taxa de fecundidade é mais
elevada, como África, que tomam medidas no sentido de reduzir o número de
nascimentos por mulher. Pelo contrário, existe por parte dos governos das regiões
mais desenvolvidas e com uma baixa taxa da fecundidade (a Europa, por ex.), que
adotam medidas no sentido de aumentar a fecundidade. Contudo, um número
considerável de países (47 no Mundo), 14 nas regiões mais desenvolvidas e 33 nas
menos desenvolvidas, não possuem quaisquer medidas concretas sobre esta matéria.
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muitos dos países afetados adotam medidas populacionistas, algumas das quais no
âmbito das políticas da imigração. O aumento dos contingentes migratórios influencia
o volume de população residente, faz aumentar a natalidade, promove o acréscimo da
população ativa e o rejuvenescimento etário, uma vez que os migrantes são
maioritariamente jovens e também por esse facto em média com boa saúde. Acresce a
este facto que muitos provêm de sociedades e culturas com níveis de fecundidade
muito superiores aos do país de acolhimento.
As migrações internacionais têm vindo a polarizar a atenção dos poderes
públicos, mais do que alguma vez o fizeram. Estamos numa fase de reavaliação, mas
prevê-se que no futuro próximo cresça drasticamente a pressão migratória dos países
pobres para os países ricos. Em 2002 (Nações Unidas) mais de 40% dos países possuía
já um conjunto de medidas destinadas a controlar as migrações. No entanto, não
podemos escamotear o efeito da democratização no acesso à informação sobre as
diferentes oportunidades económicas e de acesso a um conjunto de bens que definem
graus de bem-estar (desde a existência de água potável e bom ambiente, ao acesso à
saúde, à educação, a uma casa…), bem como a existência de redes internacionais de
tráfico e transporte de imigrantes.
Estes, entre outros fatores, irão inevitavelmente fazer aumentar o conjunto de
medidas restritivas, impostas pelos responsáveis políticos dos países mais
desenvolvidos e mesmo daqueles que, embora não muito desenvolvidos, sentem uma
forte pressão de outros vizinhos ainda mais pobres, como sucede no continente
asiático e em menor escala na América Latina e África. Fazem-no através de legislação,
que tenta regulamentar vários aspetos da relação Estrangeiros/Estado:
ENTRADA (quem pode entrar);
PERMANÊNCIA (quem pode permanecer?);
AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE (quem pode pertencer ao todo nacional?);
EXPULSÃO
Além destes aspetos, dois tipos de questões emergem em todas as políticas
migratórias: 1) quanto pode cada país receber; e 2) qual deve ser o seu perfil. As
hesitações decorrem da necessidade de atender à opinião pública. Os responsáveis
políticos debatem-se entre os receios da sua população residente face ao aumento do
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BUCARESTE, de 1974. Esta conferência foi precedida pela grande polémica que gerou a
difusão do estudo intitulado The Limits to Growth em 1972, elaborado no
Massachusetts Institute of Tecnology e encomendado pelo Clube de Roma. Este último
foi criado em 1968 em Roma e tinha como objetivo congregar espíritos interessados
nos problemas do mundo contemporâneo das mais diversas áreas (administradores,
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a) a satisfação das necessidades individuais das mulheres e dos homens (e não tanto o
alcance de objetivos demográficos);
b) uma maior autonomia às mulheres e mais oportunidades de escolhas (melhoria da
educação e serviços de saúde, desenvolvimento das suas capacidades de emprego,
completo envolvimento na política e nos processos de tomada de decisão a todos os
níveis);
c) um reconhecimento da necessidade de dar poder às mulheres;
d) tornar até 2015 o planeamento familiar disponível de forma universal, como parte
integrante do acesso alargado aos direitos e à saúde reprodutiva.
Assim, o Plano de ação estabeleceu estimativas sobre os níveis de recursos
nacionais e os montantes da assistência internacional necessários para conseguir
atingir os objetivos e delegou nos Estados a tarefa de incluir os fatores populacionais
nas estratégias de desenvolvimento e agir para eliminar a violência baseada no género
e em práticas tradicionais nocivas, incluindo a mutilação genital feminina. Principais
objetivos:
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Os 15 Princípios da Conferência:
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8) Todos têm direito a usufruir do mais alto nível de saúde física e mental
atingível
9) A família é a unidade base da sociedade e como tal deveria ser reforçada
10) Todos têm direito à educação, que deve ser orientada para o pleno
desenvolvimento dos recursos humanos, e da dignidade e potencial da pessoa
humana, com atenção particular às mulheres e às crianças do sexo feminino.
11) Todos os Estados e todas as famílias deveriam atribuir a mais alta
prioridade possível às crianças.
12) Os países que acolham migrantes em situação regular deveriam
proporcionar-lhes, bem como às suas famílias tratamento apropriado e serviços sociais
adequados e garantir a sua proteção física e segurança.
13) Todos têm direito a procurar e usufruir em outros países de asilo contra as
perseguições.
14) Ao considerarem as necessidades dos povos indígenas em matéria de
população e desenvolvimento, os Estados devem reconhecer e proteger a sua
identidade, cultura e interesses e habilitá-los a participar completamente na vida
económica, política e social do país, particularmente naquilo que afete a sua saúde,
educação e bem-estar.
15) O crescimento económico sustentado e o progresso social requerem que o
crescimento tenha uma base social ampla, oferecendo oportunidades iguais a todos.
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
CARMO, Hermano (Coord.) (2001), Problemas Sociais Contemporâneos, Lisboa: Universidade
Aberta, pp.163-184
PAQUY, Lucie (2004), European Social Protection. Systems in Perspetive, Compostela:
Compostela Group of Universities
RODRIGUES, Teresa (2018) Demografia Politica e Politicas de Segurança, in MODELOS
PREDITIVOS E SEGURANÇA PÚBLICA (coord. Teresa Rodrigues, Marco Painho), Porto: Fronteira
do Caos, pp,57-81
ROUSSEL, André (1979), Histoire des Doctrines Démographiques Illustrée par les Textes, Paris :
Nathan
VIDAL, Annie (1994), La Pensée Démographique, Grenoble : PUG
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Ritmos de Crescimento
Uma população no momento 0 (ou momento de inicio de análise) é P0, no
momento 1 é P1, no momento 2 é P2…, no momento n é Pn (ou momento de fim de
análise). Entre o momento de inicio e de fim de análise (de P0 a Pn) a população cresce
a uma taxa (identificada na fórmula como a). Para se medir o ritmo de crescimento de
uma população existem três processos: o contínuo, o aritmético e o geométrico.
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1º Problema: entre 1970 e 1980 a América do Norte passou de 228 para 247 milhões de
habitantes. Qual foi o ritmo de crescimento nesses 10 anos?
Contínuo Aritmético Geométrico
a = In (Pn / Po) / n a = P n - Po / P o x n log Pn / Po = n log (1 + a)
a = In (247 / 228)/10 a = 247 – 228 / 228 x 10 log 247/228 = 10 log (1+a)
a = In 1,08333 /10 a = 19 / 2280 log 1,08333 = 10 log (1+a)
a = 0,00800 = 0,80% a = 0,00833 = 0,83% 0,03476 = 10 log (1+a)
0,00348 = log (1+a)
1,00805 = 1 + a
a = 0,00805 = 0,81%
Resposta: No período considerado, por cada ano e por cada 100 pessoas, a população da América do
Norte aumentou 0,81.
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Taxa de Variação
É utilizada para medir crescimentos totais (positivos ou negativos) entre anos
limite. Trata-se de um cálculo adequado quando só queremos saber o aumento ou
redução observada entre 2 datas (2 recenseamentos ou contagem geral de
população). A leitura é também diferente das taxas de crescimento anual médio,
porque ficamos a saber o aumento total e não um valor anual médio de crescimento
ou redução entre os 2 anos de referência inicial e final.
a = (Pn - Po ) / Po x 100
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Por seu turno, uma análise de tipo prospetivo funciona por hipóteses (manutenção do
crescimento, redução ou aumento dos ritmos das variáveis mortalidade, fecundidade e
migrações). Tal como as anteriores, também estas não devem ser feitas num horizonte
demasiado alargado, o que se arrisca a aumentar a probabilidade de erro, e devem
basear-se num conhecimento razoável do objeto de estudo (20, 30 anos) em termos
de características de crescimento económico, estabilidade politica, nível de
desenvolvimento humano…
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Pirâmides de Idades
A melhor forma de sintetizar a informação por idade e sexo é construir uma
pirâmide de idades.
Regras de construção:
Efetivos masculinos à esquerda e femininos à direita
Ordenadas = Idades; Abcissas = População
Relação altura/largura (altura = 2/3 da largura)
Problema do grupo terminal
Colocar os anos de nascimento
Largura do retângulo = número de anos
Comprimento do retângulo = número de efetivos
Processo de construção:
Pirâmides de Idades ou pirâmides por grupos de idades?
Números absolutos ou números relativos?
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Pirâmide em urna
Pirâmide em às de espadas
Fonte: ONU 2007
Relações de Masculinidade
Este instrumento de análise permite verificar o modo como os efetivos de um
determinado grupo de idades se repartem entre os dois sexos. Quando representamos
uma população através das pirâmides de idades verificamos que os dois lados não são
simétricos por várias razões:
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Por cada 100 raparigas nascem 105 rapazes, mas a mortalidade infantil é maior
entre os homens, pelo que por volta dos 10 anos a relação está equilibrada,
Nas sociedades pré ou em processo de transição a probabilidade de morte
feminina sobe durante o período fértil e reduz o total de mulheres face ao de
homens, exceto se o país estiver em guerra (morrem mais os homens),
A partir dos 40-45 anos faz-se sentir a sobremortalidade masculina, pelo que
nos últimos grupos as mulheres podem ser o dobro dos homens
As migrações (são mais numerosas entre adultos jovens masculinos e reduzem
o total de efetivos nessas idades, mas cada vez menos existem diferenças
entre homens e mulheres).
Como se calculam as Relações de Masculinidade:
Processo de cálculo: dividir os homens pelas mulheres e multiplicar por 100
Representação gráfica: Efeito idade; Efeito geração
Leitura do gráfico: flutuações devidas a modelo de mortalidade em U e maior
longevidade feminina, bem como ao efeito da sobremasculinidade das migrações
99,8
95 96,6 94,9
89,7 92,1 92,5 92,5 92,4 92,3
93,2 91,5 91,7 91,6 91,5
90
87
85,5 87,7
84,4 87,1
85 84,4
84,2
85,9 82,7
84,4
81
80
75
70
65
60
0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74
Grupos Funcionais
Agrupa a informação por idade e sexo, para tornar mais fácil a leitura das
características de uma população ou a comparação de resultados entre várias
populações ou vários anos. Especialmente indicado quando queremos fazer
comparações no tempo e/ou no espaço e verificar alterações progressivas nos grandes
grupos em que se subdivide a população. A escolha do intervalo de idades depende
dos objetivos e da época em estudo e a análise separada H/M permite verificar
dinâmica económica, de fecundidade e envelhecimento.
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Processo de construção:
“Jovens” : 0 – 14 ou 0 – 19 anos
“Ativos” : 15 – 64 ou 20-59 anos
“Idosos” : 65 e + ou 60 e + anos
Índices Resumo
Uma vez decomposta a estrutura demográfica em grupos funcionais, torna-se
útil transformar essa informação em indicadores ou índices, que facilitam
interpretações económicas e sociais. Trata-se de um conjunto muito diverso, cuja
maior ou menor importância depende dos objetivos do estudo a que nos propomos.
Percentagem de «Jovens»
Fórmula: (População com 0-14 anos / População Total) x 100
Definição: Divide-se a população com menos de 14 anos pela população total e obtém-se
um indicador, que mede a importância da juventude na população. É também
um indicador de medida do “envelhecimento demográfico” da base da
pirâmide de idades.
Percentagem de «Idosos»
Fórmula: (População com 65 e + anos / População Total) x 100
Definição Divide-se a população idosa pela população total e obtém-se um indicador,
que mede a importância dos idosos na sociedade. É também um indicador de
medida do “envelhecimento demográfico” do topo da pirâmide de idades.
Índice de Juventude
Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 65 e + anos) x 100
Definição Compara diretamente a população com menos de 14 anos com a população
idosa. Por cada 100 idosos existem X jovens. É também um indicador utilizado
na medida do “envelhecimento demográfico”.
Índice de Longevidade
Fórmula: (População com 75 e + anos / População com 65 e + anos) x 100
Definição Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos menos jovens.
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Índice de Maternidade
Fórmula (População com 0-4 anos / População com 15-49 anos) x 100
Definição Relaciona a população que ainda não atingiu os 5 anos de idade com a
população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da
fecundidade, quando não dispomos de informações sobre os nascimentos.
Índice de Tendência
Fórmula: (População com 0-4 anos / População com 5-9 anos) x 100
Índice de Potencialidade
Fórmula (População com 20-34 anos / População com 35-49 anos) x 100
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Recenseamentos da População
A realização dos primeiros recenseamentos data do século XVIII (Suécia, 1749;
Dinamarca e Noruega, 1769). No século XIX vulgariza-se a sua realização (1801 em
Portugal, França, Inglaterra; 1810, Prússia; 1829, Países Baixos). São uma espécie de
fotografia do estado da população num determinado momento e têm 2 características
principais: a) a simultaneidade da recolha (devem ser realizados num determinado ano
e ter por referência determinado dia do mês); e b) a exaustividade da recolha
(procuram sempre conhecer e caracterizar toda a população residente em
determinado espaço).
O conteúdo dos recenseamentos varia de país para país, mas existe um
conjunto de informações indispensáveis: localização dos indivíduos (lugares, vilas e
cidade); idade, sexo, estado civil, composição das famílias; instrução, nacionalidade,
por vezes pertença a uma etnia/religião; atividade económica/profissão; condições de
habitação, tipo de alojamento e características internas, infraestruturas. Hoje
apresentam diferentes tipologias (ver tabela)
Em PORTUGAL vulgarizara-se a contagem regular da população na 1ª metade
do século XIX, mas de qualidade e regularidade variável. O 1º Recenseamento geral
moderno é de 1 de janeiro de 1864, tendo sido seguidas as orientações saídas dos
Congressos Internacionais de Estatística de Bruxelas (1853) e Paris (1855). O censo
adotou o método da recolha direta, nominativa e simultânea, baseada em boletins de
família. Os dados foram apresentados por distritos, concelhos e freguesias, sempre
com o mesmo tipo de informação: sexo, estado civil e idade dos efetivos, separados
por meses até um ano, de três em três meses até dois anos, ano a ano até aos dez e
por grupos quinquenais até cem, mais de cem e idade desconhecida. Contabilizava-se
a população de direito (transeuntes e ausentes temporários) e o número de fogos. À
escala distrital forneciam-se informações sobre categorias de fogos, peso relativo da
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Além dos registos, primeiro paroquiais e depois civis, existem dados publicados
com os totais de nascimentos, casamentos e óbitos: Mapas Estatísticos dos batismos,
casamentos e óbitos; Movimento da População. Estado Civil. Emigração; Tabelas do
Movimento Fisiológico da População de Portugal; Emigração Portuguesa; Estatística
Demográfica. Movimento da População; Estatística do Movimento Fisiológico da
População de Portugal; Anuário Demográfico; Estatísticas Demográficas.
A produção de estatísticas oficiais reflete as preocupações da época a que se
reportam. No início do século XX, por exemplo, a contagem dos nascimentos era feita
com menos rigor que os assentos de mortalidade e de migrantes, o que é
compreensível, se considerarmos que nessa época eram estas duas variáveis que mais
importavam aos governantes. Só muito lentamente as informações respeitantes aos
nascimentos, casamentos e divórcio começam a ganhar destaque, que se consolidou à
medida que se assistia ao declínio da natalidade e a profundas alterações nas
estruturas familiares.
A partir de 1988, devido ao Decreto-Lei de 15 de fevereiro, as Estatísticas
Demográficas passaram a utilizar a “Nomenclatura das Unidades Territoriais, NUT”
para fins estatísticos e os dados concelhios, em vez de se agruparem por distritos,
como acontecia desde o século XIX, passaram a ser agrupados em NUTS. Esta alteração
foi devida às novas regras decorrentes da adesão de Portugal à União Europeia,
regulamentada pelo Decreto-Lei nº46/89. A partir dessa data, a abolição do passaporte
de emigrante deixou de permitir recolher dados sobre o movimento emigratório. Para
ultrapassar essa lacuna, o INE realizou em 1993 um inquérito por amostragem aos
alojamentos familiares, para detetar casos de emigração, publicado em 1994 e os
recenseamentos passaram a incluir questões sobre mobilidade.
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Índice de Whipple
Teste indicativo da qualidade das informações censitárias. Mede em simultâneo a atração
que em sociedades menos instruídas os inquiridos têm por declarar idades aproximadas,
sobretudo terminadas em 0 e/ou 5 (30,35, 40, 45….).
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Índice de Irregularidade
Teste indicativo da qualidade dos dados das informações censitárias, que mede a atração
pela declaração de idades terminadas em números diversos do 0 ou do 5. Parte-se do
princípio que, num grupo de idades e numa população estável, o valor médio
corresponde à média do grupo quinquenal, devido a probabilidades de morte diferenciais
antes e depois dessa idade). Os desvios relativamente a 100 (efetivo teórico correto)
mostram a força do arredondamento, porque significam atração ou repulsão.
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apresentar distorcido devido à intensidade das migrações. A sua junção permite elaborar
um índice de qualidade geral de recenseamentos.
IRS (Índice regularidade dos sexos) = média das diferenças absolutas das relações de
masculinidade em grupos sucessivos.
IRI (Índice regularidade idades) = média das diferenças absolutas entre as relações de
regularidade e 100 para homens IRI(h) e mulheres IRI(m)
Equação de Concordância
Teste que mede em simultâneo a qualidade global dos dados de estado civil e de dois
recenseamentos. Nela se confrontam dois recenseamentos, aos quais são agregados
os resultados do saldo fisiológico e do saldo migratório do periodo que medeia entre
cada um deles.
A - Px + n = Px + N – O + I – E B - Px + n – Px = N – O + I – E
A – Dados completos
(bons registos de estado civil + recenseamentos recentes ou registo contínuo de população);
B – Dados Semicompletos
(bons registos de estado civil ou registo contínuo de população + recenseamento com menos de 15 anos ou
sondagens);
C – Dados incompletos
(recenseamento com menos de 15 anos ou inquérito com menos de 10 anos ou registos de estado civil por
sondagem);
D – Dados quase inexistentes
(sem recenseamentos com menos de 15 anos, sem inquéritos, sem registos de estado civil)
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No seu cálculo convém tomar algumas precauções: evitar taxas feitas com base
em dados de apenas um ano; fazer coincidir a população média com um
recenseamento. O mesmo raciocínio pode ser aplicado às idades ou grupos de idades.
O cálculo da TBM por idades e a sua subsequente representação gráfica permite-nos
visualizar o modelo de mortalidade da população, de que falámos no Módulo 1.
b) O Método da População-tipo
O cálculo simples de taxas brutas em anos sucessivos ou para populações diferentes é
pouco rigoroso, porque níveis de mortalidade distintos podem apresentar TBM iguais e
TBM distintas podem refletir níveis de mortalidade idênticos. Existe uma forma de
superar as limitações das Taxas Brutas quando comparamos duas ou mais populações,
que se baseia no princípio da estandardização (“normalização”). A lógica deste método é
separar os efeitos da estrutura dos efeitos do modelo:
TB(A) = ∑Px(A).tx(A)
TB(B) = ∑Px(B).tx(B)
Podemos fazê-lo de duas formas:
Estandardização direta ou método da população-tipo (permite saber qual seria o
nível de mortalidade da população B se tivesse uma estrutura etária igual à
população A?). Mantemos as estruturas constantes;
Estandardização indireta ou método da taxa-tipo (permite saber qual seria o
nível de mortalidade da população B se tivesse as taxas de mortalidade da
população A?). Mantemos as taxas por idades constantes;
Metodologia: escolhe-se uma das populações e comparam-se diretamente os resultados,
passando a haver uma base comum, que permite ver de facto em que caso existe uma
maior propensão para a mortalidade.
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EXEMPLO
País A – Panamá (n.desenv.) País B – Alemanha (desenv.)
Óbitos 9076 730670
População média 1428082 61283600
TBM 6,35 11,92
País B (desenvolvido)
G.Idades Óbitos P.Média Px(B) Tx(B) Px(B). Tx(B)
0 – 19 30406 18132000 0,2959 1,68 0,50
20 – 59 109687 31259600 0,5101 3,51 1,79
60 + anos 590577 11892000 0,1940 49,66 9,63
Total 730670 61283600 1 11,92 11,92
Método da População-tipo (Tipo A)
Px(A) Tx(B) Px(A). Tx(B)
0,5362 1,68 0,90
0,4073 3,51 1,43
0,0566 49,66 2,81
1 11,92 5,14
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Saúde; ii) lista resumida do EUROSTAT; iii) lista adotada em Portugal (INE- Estatísticas
da Saúde). O estudo da mortalidade por causas é, em geral, feito através de dois
métodos:
Método das percentagens - Consiste em dividir os óbitos de uma determinada causa
de morte pelo total dos óbitos e multiplicar o resultado por 100.
Método das taxas - Consiste em dividir os óbitos devidos a uma determinada causa de
morte pela população média e multiplicar o resultado por 1000.
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TFFC = (Nascimentos “fora do casamento” /Mulheres não casadas 15-49 anos) x1000
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a) Descendência Média
Número médio de filhos por mulher.
DM =∑Nascimentos / Mulheres 15-49 anos) x 5
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EXEMPLO
Nascimentos em Portugal no período 1980/81
Grupo de Idades Nascimentos80/81 Pop.Fem. Taxas Tx x PM*
15-19 16907 426087 0,03968 0,6944
20-24 51114 382511 0,13363 3,0067
25-29 43620 342787 0,12725 3,4994
30-34 24021 322267 0,07454 2,4226
35-39 10444 296464 0,03523 1,3211
40-44 4042 300886 0,01343 0,5708
45-49 514 308883 0,00166 0,0789
Total 150662 2379885 0,42542 11,5939
*O PM, Ponto Médio, corresponde ao ponto intermédio do grupo de Idades. Uma vez que lidamos com Grupos de Idades quinquenais
corresponde a acrescentar 2,5 anos à idade do limite inferior do grupo (neste caso: 17,5, 22,5, 27,5….
Análise da Nupcialidade
A nupcialidade não é uma variável micro demográfica, porque a sua variação não
interfere diretamente no volume da população. Trata-se sobretudo de uma variável
sociodemográfica, embora de extrema importância, na medida em que influencia,
entre outras, os modelos de fecundidade e a composição e características familiares.
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Método de Hajnal
Forma utilizada para medir a nupcialidade, quando não dispomos de dados sobre o
estado civil da população. O método permite calcular os valores do Celibato Definitivo, da
Intensidade do Casamento e da Idade Média ao Primeiro Casamento apenas com dados
dos censos:
EXEMPLO
G.I. Total Solteiros Proporções
15-19 15929 15725 0.98719
20-24 19053 16927 0.88842
25-29 17795 10667 0.59944
30-34 14823 5659 0.38177
35-39 13835 4407 0.31854
40-44 12258 3412 0.27835
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CONCEITOS BÁSICOS - Para uma correta apreensão das características das migrações torna-se
necessário precisar alguns conceitos:
MIGRAÇÃO: implica uma mudança de residência realizada por um indivíduo;
MIGRANTE: indivíduo que se desloca de uma área administrativa para outra, efetuando, portanto, uma
mudança de residência;
EMIGRAÇÃO: ato ou efeito de emigrar; saída voluntária do local de nascimento;
EMIGRANTE: indivíduo que sai de uma área de migração definida e cruza o limite estabelecido como
“fronteira”, em que a área espacial de referência é a área de origem. É aquele que vai procurar trabalho
ou fortuna noutro país;
IMIGRAÇÃO: ato ou efeito de imigrar; entrada de estrangeiros num país;
IMIGRANTE: indivíduo que chega a uma área espacial determinada, em que a área espacial de
referência é a área de destino;
ÁREA DE ORIGEM: área espacial administrativa donde se move o emigrante;
ÁREA DE DESTINO: área espacial para a qual se dirige o migrante;
FLUXO MIGRATÓRIO: quando se considera a migração na sua dupla perspetiva (a da área de origem e a
da área de chegada).
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a) Os métodos censitários
Consistem em explorar as informações constantes nos recenseamentos sobre o local
de residência anterior. Como é lógico, as soluções técnicas a adotar variam consoante
a natureza da informação disponível (é possível encontrar sobre Portugal informações
deste tipo desde 1890). Em geral toma a forma de um quadro, onde a população
residente numa determinada região (concelho ou distrito, NUT) é classificada pela
naturalidade, separando o total de naturais do concelho, os nascidos em outros
concelhos do distrito, os naturais de outros distritos e os estrangeiros. Outra hipótese
de análise baseia-se em informação pedida no momento do recenseamento sobre o
local de residência em anos específicos (Onde residia em 1995, 1999, 2005, 2009…?).
No entanto, esses valores não permitem captar as diferentes intensidades migratórias
intercensitárias e misturam migrações ocorridas em épocas que podem estar distantes
entre si. Do mesmo modo, escondem eventuais movimentos migratórios anteriores
que cada um desses efetivos possa ter efetuado.
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b) A Equação de Concordância
O mais conhecido dos métodos indiretos é o método da equação de concordância.
Nela se confrontam dois recenseamentos sucessivos, aos quais são agregados os
resultados do saldo fisiológico do período, o que permite obter um valor residual
correspondente ao saldo migratório. Se a qualidade dos dados for globalmente boa no
que se refere a recenseamentos e estatísticas de nascimentos e óbitos a equação de
concordância permite estimar o crescimento migratório. Para a população portuguesa
a partir de 1890 podemos calcular os saldos fisiológicos por distrito ou concelho, ou
seja, a diferença entre o total de nascimentos e óbitos, e utilizar este método de forma
sistemática, se bem que com algumas precauções nos anos mais recuados.
Px + n = Px + N – O + I – E
Px + n - Px = N – O + I – E
Crescimento entre Recenseamentos = Crescimento Natural + Crescimento Migratório
Crescimento Migratório = Crescimento entre Recenseamentos – Crescimento Natural
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Aplicação do Método da Média Aritmética: Como os dois métodos anteriores não dão o
mesmo resultado, costuma fazer-se a média aritmética de ambos, aplicando-se assim a
método da média aritmética dos dois.
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BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA
BANDEIRA, Mário Leston (2004), Demografia. Objeto. Teorias e Métodos, Lisboa: Escolar
Editora
CASELLI, Graziella, Vallin, Jacques, WUNSCH, Guillaume (2004), Démographie: analyse et
synthèse, Paris: INED, Vol.I
NAZARETH, J. Manuel (2004), Demografia: A Ciência da População, Lisboa: Presença
NAZARETH, J. Manuel (1988), Princípios e métodos de análise demográfica portuguesa. Lisboa:
Presença
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FONTE: www.germanwatch.org/en/cri
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observados a situação está longe de ser satisfatória, porque sobrevêm doenças que se
julgavam controladas e surgem novas doenças contagiosas (sida, tuberculose
pulmonar, herpes genital, males sexualmente transmissíveis são alguns deles). Há
ainda que acrescentar a esta realidade o custo associado ao aumento de casos de
doenças crónicas não transmissíveis nos países em desenvolvimento, ligadas ao
consumo de álcool e de tabaco.
FONTE: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)30841-4/fulltext
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paludismo, quando uma parte seria suficiente para o controlar. Acresce ainda que no
contexto económico internacional pouco favorável os donativos neste setor têm
registado retrocessos consideráveis.
3.A DISPONIBILIZAÇÃO DE ÁGUA - A diminuição dos recursos em água doce tem sido
rápida nos últimos cinquenta anos. Hoje mil milhões de indivíduos não têm acesso a
quantidade suficiente de água e dois mil milhões não têm água potável. O aumento de
consumo é acompanhado por uma diminuição da qualidade, com impactos diretos a
nível da segurança alimentar e do estado de saúde das populações. No futuro próximo
o aumento demográfico irá fazer aumentar as necessidades, exigindo novos
investimentos tecnológicos, mas sobretudo uma solidariedade internacional
concertada, para garantir o acesso a este bem indispensável. Várias conferências
internacionais, como a de 1997 em Nova Iorque, sublinham a necessidade de recorrer
ao investimento internacional, que permitirá reduzir para metade a escassez atual.
Financiar água será um problema de solidariedade internacional, mas os moldes e
tempos desse financiamento, tal como sucede na área da saúde, continuam uma
incógnita.
2019 - Água potável no Mundo
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FONTE: https://www.world-nuclear.org/information-library/current-and-future-generation/nuclear-
power-in-the-world-today.aspx
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A precariedade da vida nas grandes megalópoles não europeias – Hoje cerca de 52%
da população mundial é urbana, embora com grandes diferenças entre continentes e
regiões. Nos países mais desenvolvidos da Europa e América do Norte, na América
Latina e nas Caraíbas as percentagens de residentes urbanos ultrapassam os 70 pontos
percentuais, mas em África e na Ásia representam menos de 40%. No entanto, a
população urbana destes dois últimos continentes vai ultrapassar os 50% antes de
2030. As maiores cidades do Mundo estão a aumentar muito rapidamente e deixaram
de estar situadas em regiões consideradas desenvolvidas. Em 1950 as três maiores
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pertenciam aos EUA, Reino Unido e Japão, mas atualmente só Tóquio está entre as
primeiras. Altera-se também a escala humana dessas unidades administrativas: em
1950 Nova Iorque era a maior cidade do Mundo e possuía 12 milhões de habitantes.
Em 2015 a maior cidade do Mundo deverá ser Tóquio, com o triplo da população
(DURAND 2008).
Um mundo urbano desigual (2015-2030)
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muito populosos no conjunto dos beneficiados com o processo, mas nos que ficaram
para trás aumentaram as desigualdades internas. Com efeito, a percentagem de
população pobre no Mundo diminuiu, mas não o número de pobres. Pior ainda:
mesmo nas sociedades onde os rendimentos aumentaram em média, há que
contrapor os efeitos “colaterais” da globalização (internacionalização de conflitos,
transmissão de doenças, danos na qualidade do ambiente). Deste modo, a redução da
pobreza constitui um dos maiores desafios para a economia e sociedades globais.
FONTE: https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/WFP-0000132038.pdf
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2008). O planeta não tem falta de recursos naturais e a verdadeira questão reside na
desigualdade da sua distribuição. Daí a importância crescente dada ao Planeamento Ecológico.
A implementação dos princípios norteadores do Desenvolvimento Sustentável deve basear-se
num planeamento eficaz que: 1) viabilize o crescimento populacional na ótica de
sustentabilidade de recursos e reduza o uso de produtos prejudiciais à saúde nos processos de
produção alimentar; 2) garanta alimento para todos a longo prazo, através da adequação das
culturas e da estabilização dos solos aos recursos locais, a reflorestação e o recuo da
desertificação (GREBMER 2009); 3) preserve a biodiversidade e os ecossistemas, mesmo em
contextos de pressão humana; 4) reduza o consumo de energia não renovável e desenvolva
tecnologias que promovam o aproveitamento e consumo de fontes de energia renováveis; 5)
aumente a produção industrial baseada em tecnologias ecologicamente adaptadas; 6) controle
os moldes de ordenamento do território; 7) aposte na educação ambiental, fonte de novas
formas de cidadania e comportamentos (a reciclagem de materiais renováveis/aproveitáveis
ou o não desperdício de água e de alimentos são exemplos da importância da educação das
gerações futuras) (COGBURN 1998).
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anos o Homem estará (de novo) cada vez mais vulnerável face a fatores de tipo exógeno
(meio). Neste sentido, o futuro tem de ser visto numa perspetiva de sustentabilidade e a
procura de sustentabilidade só se consegue através de um diagnóstico global (THOMAS 2000;
WORLD ECONOMIC FORUM 2010). Encontramo-nos numa fase de reavaliação, em que se
procuram novos paradigmas e onde o ambiente funciona como o elemento estruturante.
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FONTE: UN, WPP, 2020; Rodrigues, 2019; WPR, 2020; PRB, 2019
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Os gigantes asiáticos – Na Ásia reside 59,5% da população (2020: 4,64 mil milhões),
prevendo-se que até 2050 essa percentagem possa descer a cerca de 55% (5,29
milhões). Cinco dos 10 maiores países do mundo são asiáticos, entre os quais a RPC e a
Índia, e estes dois gigantes demográficos representam 36,2% da população mundial
(18,5 e 17,7%, respetivamente), valor que se manterá até meados do século, embora
antes de 2027 a India ultrapasse a China, devido ao processo de envelhecimento aí em
curso. No maior continente do mundo, o domínio destes dois países tenderá, no
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Fonte: https://www.populationpyramid.net/
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Também em termos de sistema urbano, RPC e India não poderiam ser mais distintas,
com vantagem da primeira em número, dimensão demográfica média e projeção
internacional. Mesmo admitindo um subregisto que poderá ascender a 11 milhões no
caso indiano (ONDA, 2019), na RPC um total de 6 cidades têm hoje mais de 10 milhões
de residentes (Shangai tem 22,3, seguida de Beijing, Tianjin e Gangzhu com mais de 11
milhões e Sheuzhen e Wuhan com 10). Outras 55 têm entre 1 e 10 milhões e 369 de
100 mil a 1 milhão de habitantes). Maioritariamente falamos de cidades concentradas
a sul, junto ao litoral. Já a Índia, pontilhada de centros urbanos, tem apenas Bombaim,
com 12,7 milhões, Nova Deli com 11 e a terceira maior cidade é Bengalum, com 5,1
milhões. As diferenças de distribuição geográfica são evidentes. Acresce que a enorme
variedade de rankings que com objetivos distintos (maioritariamente de ordem
económica, mas também ambiental, de qualidade de vida e inovação tecnológica)
comparam as cidades globais (2019 Global Cities Index) falam sempre das grandes
cidades chinesas (Hong Kong, Shangai, Beijing, Taiwan, Guanzou…), mas poucos
referem cidades indianas (Mombai e Nova Deli são as únicas a figurar em alguns destes
índices numa base do Top 100, ocupando lugares pouco destacados).
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DESVANTAGENS/RISCOS VANTAGENS/OPORTUNIDADES
Alterações climáticas e pressão sobre alguns recursos Existe um potencial humano sem precedentes, capaz de
vitais (água, alimentos e infraestruturas, qualidade do influenciar positivamente o processo de crescimento
ar, poluição, subida do nível do mar), especialmente económico, baseado na industrialização e na
gravosas dado o ritmo de crescimento da população, urbanização (mais evidente e numa fase menos
sobretudo urbana e o aumento do consumo per capita avançada na Índia, quando comparado com a RPC)
Crescimento assimétrico da população (as regiões que O arranque económico cria condições de
mais crescem na Índia são as mais pobres) aumenta a empregabilidade, aumenta a capacidade de consumo, de
dificuldade em gerir o contexto migratório complexo e investimento e de poupança de uma classe média em
muito intenso aumento, maioritariamente urbana
Indicadores pouco favoráveis de desenvolvimento e A dinâmica económica e o ratio favorável entre
qualidade de vida, designadamente nos centros dependentes e ativos possibilita o esbater das
urbanos (sobretudo na India, onde se espera o aumento assimetrias internas de distribuição de bem-estar e
acelerado da rede urbana em resposta ao arranque qualidade de vida, sobretudo entre a população rural e
económico), que vão continuar a aumentar sem o os trabalhadores não qualificados
necessário suporte em termos de DH (saúde, educação,
habitabilidade).
Dificuldade em esbater as assimetrias e desigualdades Aumento do nível de instrução e formação, participação
sociais, num referencial cultural complexo (Índia da mulher no mercado de trabalho (pouco questionada
sobretudo), que explica níveis de emigração em ambos os países) e alteração do tipo de emprego
significativos para outros continentes. A falta de (mais qualificado) gera uma redução das desigualdades
qualificação dos jovens é um problema estrutural na sociais internas
Índia (53% dos jovens estão desempregados)
Incapacidade de ambos os países para oferecer Benefícios trazidos pela globalização da tecnologia e
condições de vida que retenham os mais qualificados avanço da ciência podem ser postos ao serviço da
no país de origem (manutenção de valores significativos população e resolver em parte a pressão sobre os
de brain drain) recursos)
A Índia tem uma população jovem num mundo onde as economias mais competitivas
estão a ficar envelhecidas. A sua vantagem aumentou desde 2018, ano em que a
população em idade ativa (15-64 anos) passou a aumentar mais rápido que a
população dependente (0-14 e 65 e + anos). Tal como fizeram outros países (Japão,
China, Coreia do Sul), o país poderá rentabilizar este “pulmão”, que se prevê durar 37
anos, ou seja, até 2055, para garantir as condições necessárias a um desenvolvimento
rápido. Reconhece-se que o dividendo demográfico teve um contributo estimado em
15% nas economias onde ocorreu e esta será a janela de oportunidade, potenciada
pelo facto de se estimar que esta situação de vantagem competitiva se possa manter
durante mais anos que em outros países (por ex., no Japão entre 1964 e 2004), devido
a diferenças de comportamento face à fecundidade (IAS, 2020). Na RPC esse período
decorreu entre 1994 e 2012, tendo sido estreitado, entre outras razões, pelos efeitos
em cascata da politica do filho único e outras medidas pouco favoráveis à fecundidade
implementadas pelos responsáveis políticos chineses. A China entrou nesta fase 16
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anos após o início das reformas económicas de Deng Xiaoping e embora os efeitos se
tenham começado a sentir desde final dos anos 1970, os anos de dividendo
demográfico ajudaram a sustentar essa taxa por um período longo. Entre 1978 e 1994
(pós-reforma, pré-dividendo) a China apresentou oito anos de crescimento superior a
10%. Após 1994 e até 2012 apenas por duas vezes não conseguiu ultrapassar a marca
de 8% de crescimento (Thakur, 2019). Falta à India, quando comparada com a China, a
certeza de conseguir rentabilizar do mesmo modo os anos de vantagem competitiva.
Falamos de duas realidades muito distintas em termos de referencial politico e
identitário e de composição humana. Cabe aos responsáveis políticos saber como
investir no capital humano, aprendendo com outros casos exemplares e adaptando-os
à realidade nacional. Educação, formação profissional, condições de acesso a cuidados
de saúde são vetores chave, tirando partido da situação de estabilidade politica e paz
social regional tão indispensável nestes processos e que não existe noutras partes do
mundo.
Duas realidades, dois futuros? A jovem África e a velha Europa – A Europa contará
cada vez menos, África cada vez mais. Os dois continentes configuram exemplos
paradigmáticos de comportamentos extremos, que explicam a sua profunda
diferenciação em termos de características de estrutura etária e dinamismo
demográfico e permitem antever futuros distintos. O que as separa? Desde logo as
dinâmicas de crescimento total, já que até 2050 se prevê uma mais de duplicação da
população africana, que aumentará o seu peso percentual face ao total mundial (dos
atuais 17,2% para 26% em 2050), enquanto a Europa, que hoje corresponde a 9,7% da
população, verá reduzir o seu peso percentual e também absoluto. Na velha Europa,
que vive as fases 4 ou 5 do ciclo de transição morre-se mais do que se nasce, apesar da
esperança média de vida ser a maior do mundo e o crescimento do total de residentes
tende a ser cada vez mais dependente dos volumes e variações dos saldos migratórios.
A idade média da população é 13 anos superior à média mundial e alguns países do Sul
têm valores ainda mais elevados. A substituição das gerações não é assegurada há
várias décadas, devido aos baixos níveis da fecundidade, e a relação entre os grupos
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A jovem África – Mais de metade da nova população do mundo até meados do século
irá nascer na África subsariana, por razões já aqui identificadas: os níveis de
fecundidade continuarão altos na maioria dos países africanos embora em redução;
África tem uma população muito jovem (20 anos), o que significa que muitos
continuam a entrar nos grupos de idade fértil; a população africana tem filhos cedo, o
que se traduzirá na coexistência de um número crescente de gerações por família, uma
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vez que o número médio de anos de vida da população está a aumentar. Deste modo,
os ritmos de crescimento natural no continente (N-O) continuarão intensos, embora a
morbilidade e mortalidade sejam elevadas em termos médios mundiais, com custos
em termos de competitividade global, por dificultarem a criação de condições
favoráveis ao arranque económico e a melhoria dos níveis de IDH. África manterá uma
estrutura etária jovem, garantida para as próximas décadas e a globalização do
envelhecimento não será um problema a médio/longo prazo. As migrações são
sobretudo de saída, permitindo reduzir tensões sociais nas zonas mais densas,
designadamente urbanas, que irão registar aumentos significativos. Os níveis de
urbanização, de emprego, de PIB e de DH continuarão inferiores à media mundial,
embora apresentem uma tendência positiva.
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Fonte: https://www.populationpyramid.net/
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DESVANTAGENS/RISCOS VANTAGENS/OPORTUNIDADES
A população residente deverá reduzir-se e o aumento Sociedades com indicadores muito favoráveis em termos
da fecundidade e dos saldos migratórios não conseguirá de governança, estabilidade politica e corrupção e de
inverter essa tendência Desenvolvimento Humano
O triplo envelhecimento das estruturas etárias tende a A população vive mais anos, mas também poderá ter
generalizar-se, reduzindo a competitividade e uma vida produtiva mais longa, porque viverá com maior
dinamismo económico e aumentando os encargos com saúde e será mais proativa
os mais velhos
Persistem diferenças regionais, que penalizam as zonas Teremos uma população em idade ativa mais reduzida
rurais e os países periféricos, quer em termos etários, em número, mas com maiores niveis de educação e
quer de qualidade de vida competencias e mais informada
As sociedades europeias têm dificuldade em gerir a Os próximos anos serão marcados pelo esbater das
dependência face à imigração, que não conseguem diferenças entre estados em termos de instrução e
substituir pela tecnología de ponta, capaz de reducir as formação, por um maior equilíbrio de género e pela
necessidades de uso de mão de obra intensiva por alteração do tipo de emprego ainda predominante
tecnologia
Tudo pode melhorar em termos de indicadores Benefícios trazidos pela globalização da tecnologia e
sociodemográficos possibilitando o esbater das avanço da ciência podem ser postos ao serviço da
assimetrias internas de distribuição de bem-estar e população e resolver em parte a pressão sobre os ativos
qualidade de vida económicos
2019 2035 2050 2018 Jovens Idosos TBN ISF TBM TMI e0 TBMig %Urb PIB ($)
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Fonte: https://www.populationpyramid.net/
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porém, de um tema consensual, porque a Europa precisa dos imigrantes, mas mantém
uma relação ambígua no que respeita à gestão dos fluxos migratórios, hesitando entre
uma abordagem multissetorial e a vontade de consolidar uma política comum,
estruturada em torno de quatro eixos principais: 1) o controlo dos fluxos (no sentido
de um progressivo endurecimento sobre condições de entrada e permanência); 2) a
luta contra a imigração clandestina (reforço das fronteiras territoriais; aposta em ações
concertadas de fiscalização dos locais de trabalho…); 3) a consolidação de políticas de
integração das comunidades (garantindo aos já instalados condições favoráveis de
estabilidade; recuperando os excluídos das redes regulares); e 4) o desenvolvimento
de políticas de cooperação internacional (com vista a uniformizar os procedimentos
dos países recetores). Muitos dos novos reptos da sociedade europeia terão no
envelhecimento demográfico e nas migrações o seu pano de fundo estruturante,
designadamente nos sectores da atividade económica, do mercado de trabalho e do
universo de contribuintes, o que exige respostas urgentes em termos de políticas
públicas sub setoriais.
A UE não escapa a esta descrição e embora existam padrões de
comportamento tendencialmente semelhantes entre si, continuam a existir diferenças
entre os Estados-membros sobretudo em termos migratórios. Em 2018 as migrações
foram responsáveis por mais de 86% do aumento dos residentes na UE27. A
diversidade de situações é significativa e reflete as histórias nacionais e sobretudo o
grau de desenvolvimento interno, que lhes garante desigual atratividade migratória e
permite colmatar saldos naturais em alguns casos muito negativos (Alemanha, por
ex.). A situação portuguesa, tal como a de vários países bálticos (Letónia e Lituânia), do
leste europeu (Roménia e Bulgária) e a Grécia é das mais preocupantes. As diferenças
são também explicadas por desigualdades face ao processo de envelhecimento. Nos
países do norte e ocidente, que envelheceram mais cedo (como França), o processo foi
mais lento, ao contrário dos países do Sul, que constituíram até aos anos 70 o que
alguns chamaram “berço da Europa” e hoje são dos mais envelhecidos. A UE irá
continuar a aumentar até 2025 graças à imigração, embora um terço das NUTS 3 já
estejam a perder residentes, e nem todos os grupos etários aumentem. Até 2030
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Morre-se menos, mas nasce-se ainda menos. Entre 2010 e 2018 quer o saldo
natural (Nascimentos-Óbitos) quer o migratório (Imigrantes-Emigrantes) foram
negativos, atingindo valores máximos entre 2011 e 2014. A tendência negativa dos
saldos natural e migratório, que se inverte apenas em 2019, coincide com o
agravamento do processo de envelhecimento da população na base (redução do total
de jovens) e no topo (aumento do total de idosos). Em 2020 cada português vive em
média mais 14 anos do que viveria se tivesse nascido em 1970, ou seja, o equivalente a
duas vidas dos seus avós. Somos o 9º país do Mundo com maior esperança média de
vida à nascença e um dos que apresenta menor mortalidade infantil (TMI de 3,2‰ em
2019, INE). O que é um fator especialmente positivo porque desde 1982 o número
médio de filhos por mulher é insuficiente para assegurar a renovação das gerações.
Portugal está entre os países do mundo com menores níveis de fecundidade (1,42
filhos por mulher, INE, 2020). As famílias têm metade dos filhos de há 30 anos atrás,
metade das quais nunca terá irmãos. Não existem sinais de recuperação passíveis de
alterar o envelhecimento da base da pirâmide etária, porque os níveis de fecundidade
continuam baixos, mesmo com o contributo dos imigrantes (Peixoto et al., 2017)
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Fonte: Anuário Estatístico, INE, 1940, 1940, 1950, 1979, 1980, 2011, 2016, 2019 (cálculos das autoras)
Porém, viver mais anos não significa que os mesmos sejam vividos com qualidade. O
grande desafio no futuro que se coloca neste âmbito é conseguir alinhar o aumento da
esperança média de vida com o aumento do período de vida saudável. Nas sociedades
europeias, envelhecer saudável tornou-se um objetivo prioritário e uma meta a alcançar1,
porque propicia condições favoráveis para manter a inclusão e a participação social, prolonga a
vida ativa, protela a institucionalização, adia a senescência. Todos queremos saber quantos
anos podemos esperar viver desde o momento do nascimento e sobretudo quantos anos
viveremos com boa saúde. As mulheres vivem em média 4 anos mais que os homens, mas
menos anos com saúde (EUROSTAT, 2020).
Portugal. Esperança de vida saudável à nascença e aos 65 anos e esperança média de vida
aos 65 anos (1995-2018)
e0 saudável e65 saudável e65 anos
H M H M H M
1995 59,6 63,1 8,3 9,9 14,7 18,1
2001 59,5 62,7 8,2 8,7 15,7 18,9
2005 58,6 57,1 6,5 5,2 16,1 19,7
2011 59,3 56,6 7,1 5,7 17,2 21,0
2018 59,8 57,5 7,8 6,9 18,2 22,0
Fonte: Eurostat, 31.08.2020, https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/tepsr_sp330/default/table?lang=en
1Desjardins e Legaré (1984) criaram o indicador da esperança de vida com saúde, que permite estimar qual é em dado momento o
número de anos de vida esperados sem limitações de longa duração (e que varia com as condições de desenvolvimento humano
da sociedade em causa).
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Fonte: https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2018.pdf
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Em 1970 era elevada a probabilidade de um trabalhador nunca chegar a “gozar a reforma”, porque a
esperança média de vida era inferior em 9 anos; mas em 1980 a esperança média de vida iguala a idade
de reforma. 2012 é o momento de maior divergência entre a idade de reforma (66,4 anos) e a esperança
média de vida (82,8 anos): 16,4 (mulheres) e 8,5 anos (homens).
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Para onde vamos. Como se desenha hoje o Portugal das próximas décadas - Para
tomar decisões racionais e sustentáveis, há que conhecer a realidade. A população
representa um vetor estratégico nacional e embora o futuro pareça quase certo,
reconhecer os “factos portadores de futuro”, projetar os futuros possíveis e tomar
iniciativas para que eles se concretizem, caso sejam desejáveis, passou a constituir um
objetivo a atingir. As projeções existentes são unânimes no que respeita à tendência
recessiva do total de residentes nas próximas décadas, embora com diferenças
regionais condicionadas pelo processo de envelhecimento e a dinâmica migratória.
Desde 1970 a população com menos de 15 anos reduziu-se a metade, os residentes
com mais de 65 duplicaram. A janela de oportunidade fechou-se: a partir de 2005 o
rácio ativos/inativos reduziu-se e em 2010 deixou de ser garantida a substituição da
população ativa contributiva. Desde 2010 o número em idade potencial de saída do
mercado de trabalho (55-65 anos) excede o número dos que estão em idade potencial
de entrada (20-34 anos). Espera-se uma redução da população, que será consistente a
partir de 2025 e poderá atingir 30% nas zonas rurais e do interior. Até 2040, 236
municípios irão reduzir o total de residentes, 141 dos quais mais de 15% e em apenas 8
se estima uma subida superior a 15%. Seremos então tantos quanto fomos em 1950
(Rodrigues, Ribeiro, 2018). Prevê-se até meados do século que a população muito
idosa (85 ou mais anos) triplique; os maiores de 65 anos dupliquem, os jovens sejam
menos 26% e a população ativa e contributiva menos 33%, a mesma de 1940, e até 7
anos mais velha que hoje (passe de 45 para 52 anos em média).
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Portugal. Dinâmicas regionais de envelhecimento total e por grandes grupos de idade (2011-
2040)
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Vivemos um ciclo que vai gerando menos filhos e menos futuras mães. Mesmo
assumindo no nosso exercício prospetivo um cenário de fecundidade mais otimista
que o atual, não é possível evitar a diminuição de nascimentos. O número de mulheres
em idade fértil vai decrescer qualquer que seja o cenário considerado e a única
possibilidade de atenuar este efeito é passarem a existir condições para que as
mulheres concretizem o seu número de filhos ideal (2 em média), o que permitiria
duplicar o total de nascimentos. Em simultâneo deveria apostar-se em atrair jovens
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Portugal. Níveis de escolaridade por sexo e idade. Cenário Constante (esquerda) e Cenário
Tendência (direita) (2011 e 2031)
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concluíram que a melhoria do estado de saúde coletiva nos próximos anos será
acompanhada pelo aumento da utilização dos serviços de saúde (consultas médicas e
uso de medicamentos prescritos). Considerando a influência conjunta que o sexo, a
idade e o nível de escolaridade exercem sobre a saúde (Denton, et al., 2004; Vintém,
2008; Barros, 2013), o estudo prospetivo da estrutura populacional por grau de
escolarização permite concluir que no futuro seremos menos, mas os portugueses
terão uma vantagem essencial em termos de saber e conseguir fazer melhores e mais
bem fundamentadas escolhas: serão cidadãos mais informados.
Seremos menos e diferentes em origens. Teremos cada vez menos residentes,
mas mais importante que a ordem de grandeza é a mudança de perfil desta população.
Espera-se um aumento do total de residentes estrangeiros e respetivos descendentes,
fomentado pela provável recuperação económica, que poderá trazer um novo alento
aos fluxos de entrada e também reduzir as saídas (quer por retorno aos países de
origem, quer pela redução da emigração de cidadãos nacionais e retorno). Até 2025 é
possível admitir a retoma dos saldos positivos que marcaram o período 1993-2010. As
comunidades migrantes traduzem-se em mais-valias para Portugal a nível económico e
cultural e mitigam o fenómeno do envelhecimento demográfico na base e no topo. A
aposta em atrair jovens imigrantes que possam concretizar em Portugal o desejo de
constituir família em segurança e em migrantes mais qualificados poderá ser
determinante no futuro próximo (Rodrigues et al, 2015).
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longo da vida e da sua valorização fiscal); melhorar a capacidade para reter pessoas de outras
nacionalidades assegurando a diversidade cultural; revalorizar áreas estratégicas em que a
sociedade portuguesa é manifestamente bem-sucedida (ciência, educação, turismo e saúde),
o que pode tornar Portugal um país de residência preferencial para outros cidadãos
europeus reformados.
2. Políticas de Natalidade e Família A solução para alterar a tendência negativa dos
nascimentos exige a efetivação de soluções integradas que permitam fazer coincidir
aspirações e realização familiar. Não se trata de uma questão estritamente financeira,
porque o nível de poder de compra e de rendimento tem vindo a subir, mas de falta de
expectativa sobre o futuro e de confiança nas instituições. Maior justiça fiscal (cada filho
conta); leis flexíveis de articulação família-trabalho (licenças parentais, trabalho parcial),
consolidar os sistemas de apoio à educação e acesso à saúde (maior apoio e menos custos);
compromisso social com famílias mais carenciadas. Trata-se de remover obstáculos à
qualidade do tempo da família: efetivar uma política de natalidade integrada de todos os
intervenientes para todos os cidadãos; valorizar a família como unidade base da sociedade;
promulgar medidas que, mais que criar benefícios, reduzam obstáculos a quem quer ter mais
filhos e assumir uma atitude estratégica e prospetiva: as mudanças de comportamento
inscrevem-se em tempos longos (Azevedo, 2014).
3. Políticas de Emprego e Educação Nomeadamente em três grandes setores de
intervenção: 1. medidas dirigidas à entrada de jovens no mercado de trabalho, desde a
prevenção do abandono escolar, ao desenvolvimento de programas de formação que façam a
ponte entre o sistema de ensino e o emprego, subsídios à contratação de jovens e benefícios
fiscais que estimulem a procura ativa de emprego, para que os jovens não se sintam tentados
a substituir emprego por subsídios. 2. Medidas que evitem a saída precoce de trabalhadores
mais velhos, o que passa por reformas da Segurança Social (encorajar mais trabalhadores a
trabalhar até mais tarde e conceder subsídios temporários aos desempregados mais velhos,
dando tempo para procurar atividades mais adequadas às suas competências e experiência de
vida); Reformas e incentivos fiscais (novas formas de indexação pode debelar ou mitigar riscos
de saída antecipada. Diminuir impostos em idades mais avançadas pode incentivar
trabalhadores a permanecer no mercado de trabalho até mais tarde); Reformas no Mercado
de Trabalho (bónus financeiros a trabalhadores entre 61 e 65 anos. 3. Medidas que promovam
ambos os grupos, assentes nos pressupostos de intergeracionalidade (pontes de partilha de
conhecimento entre os mais velhos, que passam o seu conhecimento intrínseco e os mais
novos os seus conhecimentos em novas tecnologias), formação ao longo da vida, maior
proporcionalidade na distribuição fiscal entre trabalhadores, não trabalha-dores e
pensionistas, aumento da taxa de atividade da população.
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Portugal teve que se ajustar rapidamente a uma sociedade envelhecida, não apenas pelo
aumento da esperança de vida, mas sobretudo pela falta de nascimentos. Como se sustenta
uma sociedade arquitetada no sistema pay-as-you-go, fortemente dependente das estruturas
ativas, ou melhor, contribuintes líquidos que suportem um Estado Social? Em termos
prospetivos a redução demográfica pode constituir uma ameaça, já que a perda de efetivos
pode repercutir-se negativamente na economia, com consequências na empregabilidade e no
tecido produtivo. Este efeito negativo é potenciado pelo facto pela pressão que o grupo mais
idoso exerce a nível contributivo e no que respeita às opções de investimento das políticas
públicas, sobre a população mais jovem (por exemplo, apostar em saúde infantil ou geriátrica;
em creches ou em lares de dia), que será a próxima população ativa.
A natalidade tem centralizado a maioria das políticas de população, secundadas pelas
questões migratórias. Em Portugal tornou-se nos últimos anos evidente a urgência em
estabelecer uma agenda que permita inverter a tendência decrescente da natalidade, criando
condições favoráveis ao aumento dos níveis de fecundidade e de apoio às famílias, que apesar
de diferentes continuam a ser a unidade de base da sociedade. O mesmo se aplica à gestão
das migrações, desta feita numa perspetiva que vá para além da visão estritamente
económica. O entendimento expresso no Programa do Horizonte 2020 da UE é o de que lidar
com o envelhecimento da população exige um investimento social em ambos os vetores
(natalidade e migrações). O Relatório The Evolution of the Family in Europe 2008 compara as
políticas de família nos Estados membros, identifica as boas e más práticas e olha a imigração
como principal fonte do crescimento demográfico europeu, embora consciente de que se trata
de uma estratégia política limitada no tempo, difícil de implementar e manter e insuficiente
para resolver o problema do envelhecimento da população europeia. Na Abordagem Global
para a Migração e a Mobilidade, a UE elaborou uma política externa equilibrada e completa
em matéria de migração, sendo a relação entre migração e desenvolvimento uma das quatro
prioridades operacionais identificadas. A migração é também uma prioridade específica do
plano estratégico de desenvolvimento da Comissão para reorientar a sua ação para os países e
setores que mais necessitem de apoio (Agenda da UE para a Mudança).
Inverter o saldo negativo da população residente em Portugal é quase impossível no
curto ou médio prazo. Partindo desta premissa existem 2 possibilidades para tentar gerir a
situação: alterar a dinâmica do saldo migratório ou alterar a dinâmica do saldo natural: criar
condições de atração de imigrantes e, simultaneamente, estancar a saída dos emigrantes e
potenciar o seu retorno (falamos de indivíduos na sua maioria jovens, por vezes muito
qualificados e em idade de casar e de ter filhos) e aumentar a imigração de forma a compensar
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parte das perdas devidas à emigração e à quebra da natalidade (neste caso, colmatando o
défice entre nascimentos e óbitos);inverter a tendência decrescente da natalidade e aumentar
o número de nascimentos.
3Portugal enfrenta 5 desafios particularmente decisivos que convocam as migrações Plano Estratégico para as
Migrações (2015-2020), PCM, 2015): 1) combate transversal ao défice demográfico e equilíbrio do saldo migratório;
2) consolidação da integração e capacitação das comunidades imigrantes residentes; 3) inclusão dos novos
nacionais, por via da aquisição de nacionalidade ou da descendência de imigrantes; 4) reforço da capacidade de
captação de migrantes, valorização das suas competências e talentos em contexto económico global; 5) reforço do
vínculo das comunidades de emigrantes e reforço de condições para incentivar o retorno e reintegração. A procura
de respostas a estes 5 desafios levou à identificação de outros tantos eixos prioritários e à proposta de adoção de
106 medidas.
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4 Sublinha a título de exemplo o dualismo das condições de trabalho entre o que designa por trabalhadores
nacionais protegidos e estrangeiros em emprego precário.
5 Um maior reconhecimento e valorização das suas competências, a facilitação de criação de novos empregos e
projetos económicos, a alteração no regime jurídico do estatuto do imigrante, a promoção da legalidade migratória
podem garantir a segurança necessária e a paz e estabilidade da sociedade portuguesa, onde novos e velhos
migrantes (emigrantes portugueses e seus descendentes, imigrantes de segunda e terceira geração e recém-
chegados) possam coexistir e criar sinergias proactivas.
6 A reposição do saldo positivo seria feita por 3 vias: a não saída de cidadãos portugueses, o retorno de portugueses
emigrados, a manutenção dos imigrantes residentes no país e alguma entrada de novos imigrantes. Num quadro
legislativo que parece não ser urgente alterar se atendermos aos resultados muito positivos da avaliação de
Portugal em sede de políticas migratórias, este processo seria gradual, diríamos mesmo natural, mesmo não sendo
acompanhado pela alteração do perfil de imigrantes e emigrantes ou dos destinos de fixação atual de cada
nacionalidade.
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improvável o regresso aos valores dos anos 1990 (uns 30 mil efetivos por quinquénio), seria
possível recuperar até 2030 mais de 1,2 milhões de novos residentes, ainda assim um total
insuficiente para inverter a tendência recessiva de crescimento populacional. Caso a diferença
entre o número de imigrantes e emigrantes se mantivesse em torno dos 40 mil efetivos/ano os
ganhos de 2020 a 2050 poderiam ultrapassar 1,2 milhões de novos efetivos, valor insuficiente
para evitar a descida do total de residentes no país.
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eficácia das medidas que permitam articular vida profissional e familiar (horários creche-
escola-emprego, solidariedade necessária para com os pais e avós idosos). A própria
constituição de família pode ser influenciada pelo risco inerente à constituição de uma família
autónoma (em particular o acesso e condição perante o emprego, o acesso à habitação e a
capacidade para suportar as despesas inerentes a uma família). Estes são os fatores mais
determinantes que a insegurança em relação ao crime, desastres ou outros fenómenos
imprevisíveis, porque é no plano pessoal que as pessoas avaliam o risco a que ficam expostas,
caso necessitem de recorrer aos sistemas de saúde, educação, justiça e segurança social.
Será de admitir para sempre a não renovação das gerações ou conseguir mudar
comportamentos e transformar gradualmente o país num espaço amigo das famílias7?.
Falamos de um desejo relativamente ao qual existe uma coincidência de vontade de todos os
setores de decisão, o que indicia que elas tenderão a ser efetivadas. Joaquim Azevedo
(2014:127) adianta quatro propostas para promover a natalidade em Portugal, que nos devem
fazer pensar: 1) a efetivação de uma política de natalidade integrada de todos os
intervenientes para todos os cidadãos; 2) a valorização da família como unidade base da
sociedade; 3) mais que criar benefícios a promulgação de medidas deve preocupar-se em
reduzir obstáculos a quem quer ter mais filhos; 4) assumir uma atitude estratégica e
prospetiva, porque as mudanças de comportamento demográficas se inscrevem em tempos
médios e longos.
Caso fosse possível assegurar que nas próximas décadas todas as mulheres pudessem
ter 2 filhos, um número próximo que parecem desejar ter, os ganhos seriam substanciais e
crescentes, à medida que cada vez mais mulheres atingissem a idade fértil e fossem elas
próprias mães de mais filhos. Falamos de um ganho que ainda poderia ser acrescido com as
mães não portuguesas. Mas só o cenário mais otimista, resultante da revisão em alta dos
nascimentos e das migrações poderia evitar a anunciada redução da população (Fig.4). A
alteração da tendência do número médio dos nascimentos é insuficiente para evitar a descida
do número de residentes em Portugal, mesmo que posse possível alterar a partir de hoje os
níveis de fecundidade.
Mesmo no cenário mais otimista, o impacto conjugado de subida dos níveis de
fecundidade até à quase renovação das gerações, apoiado em saldos migratórios constituídos
maioritariamente por adultos jovens permitiria até 2050 aumentar em 47% a percentagem de
jovens (de 11,5 para 16,9%) e reduzir e 22% a percentagem de população com 65 e mais anos
(de 34,0 para 26,5%). Menos significativos seriam os ganhos e perdas em termos de população
residente adulta e potencialmente ativa, sendo esperado que só a partir de 2040 se observasse
um aumento do peso relativo deste grande grupo. Qual o impacto destes resultados no setor
económico e educativo?
7 Alguns pontos a reter: maior justiça fiscal (cada filho conta individualmente); leis flexíveis e
articuladas de enquadramento à articulação família-trabalho (legislação sobre licenças parentais,
trabalho parcial), o redesenhar do sistema de apoio à educação e de solidariedade social (custos e
horários), de acesso à saúde (maior apoio e menos custos), e assumir, para as famílias mais
carenciadas um compromisso social (estabelecendo tarifários para despesas domésticas com água, luz,
ATL, passes).
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população ativa e que parte da população está economicamente ativa torna-se crucial para
que seja possível debelar pressões sobre o sistema social. Poderão estas determinantes ser
mitigadas pela recuperação de grupos que se encontram inativos ou desempregados? Do
ponto de vista estritamente demográfico o rácio de dependência total é bastante confortável,
dado que em 2018 por cada 100 ativos existem 55 dependentes (PORDATA, 2018). No entanto,
se analisarmos os grupos verdadeiramente produtivos e contribuintes líquidos verificamos que
apenas 78,8% da população em idade ativa está empregada. Se contabilizarmos apenas esta,
percebemos que só 48% da população residente contribui economicamente para o sistema
(4913,1 mil).
Recuperar os jovens desempregados poderia representar uma mais-valia económica. O
aumento da escolaridade obrigatória faz com que a generalidade dos jovens entre os 15 e 24
anos ainda estude, mas 18,3% dos que se encontram disponíveis para trabalhar estão
desempregados, muitos dos quais NEET (PORDATA, 2018). Uma percentagem elevada,
sobretudo porque ao falar de jovens não se trata apenas do seu contributo económico-
financeiro atual, mas de renovação geracional. Recuperar idosos inativos é também possível.
Em 2018 21,7% da população residente tem 65 + anos, mas apenas uma percentagem residual
(5,3%) continua a trabalhar, mesmo após o aumento da idade da reforma oficial, o que
significa que nos remanescentes 16,4% poderíamos encontrar gente disponível para prolongar
a atividade. Até hoje, as reformas políticas nos sistemas de pay-as-you-go têm sido discutidas
ao nível de avançar a idade de reforma para que haja mais trabalhadores no ativo e menos
pensionistas. Mas esta medida só será positiva caso o mercado de trabalho o justifique, pois,
aumentar a idade de reforma sem um aumento de emprego efetivo pode gerar mais
desemprego, quer em idades mais avançadas quer nas restantes. As medidas de aumento de
idade de reforma devem ser acompanhadas de estímulo à economia e ao investimento, para
que haja necessidade efetiva de contratar trabalhadores.
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só o garante de uma democracia mais forte, como um eixo imprescindível de todo o sistema
económico português.
2. Será que devemos assumir que as migrações irão conseguir amortecer este declínio?
Durante anos, as migrações para a Europa travaram o declínio populacional (Wilson, 2013;
Billari, 2011). Mas quanto tempo mais irão conseguir mitigar este declínio (in)evitável? Assumir
que a “renovação das migrações” pode resolver o problema do declínio populacional europeu
pode parecer teoricamente aprazível, mas coloca à Europa uma pressão e tensão social,
cultural e de segurança muito atual e politicamente ambivalente. Como vimos atrás, e Bloom
et all (2002) reforçam, seria necessária uma importação massiva de migrantes para conseguir
anular os efeitos do envelhecimento da população. Para estes autores esta solução é perfeita
na teoria, mas não concretizável em termos práticos.
Vários investigadores (Canning, Fink, Finlay, Mansfield, Moore, Prettner) têm refletido
sobre a interligação entre envelhecimento populacional e crescimento económico e as suas
implicações nas políticas públicas. Assumem que os mais idosos têm necessidades e
comportamentos diferentes das gerações mais jovens. Tendem a trabalhar e poupar menos,
podendo significar que no futuro haverá menos capital e menos mão-de-obra disponível,
necessitam de mais cuidados de saúde e familiares e na generalidade dos países contam com
as suas pensões de reforma como rendimento disponível. Assim, será difícil os governos optar
por cortes nas pensões ou nos cuidados de saúde, por se tratar de um grupo politicamente
mais ativo que os mais jovens, fazendo prevalecer as suas prioridades em detrimento das
necessidades de outros grupos etários. Agir perante esta inevitabilidade passaria por:
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Outros, como Bloom (2007, 2011) afirmam que as alterações na estrutura etária de
uma população não impactam negativamente no crescimento económico, por diferentes
razões: 1) longevidade e PIB per capita correlacionam-se positivamente (o aumento na
longevidade parece fortemente associado ao rendimento per capita, pelo que quem vive mais
anos poderia continuar produtivo até mais tarde (Preston, 1975); 2) a diminuição futura da
mão-de-obra disponível não significa que a existente seja menos produtiva (essa diminuição
pode originar pressões para aumentos salariais, aumentando o rendimento disponível e a
capacidade de consumo.); 3) mau grado a diminuição da população em idade ativa é possível
recuperar essa população através da introdução no mercado de trabalho de franjas
populacionais que estavam fora (reduzir o desemprego jovem, recuperar pessoas mais velhas
aptas a trabalhar, aumentar a participação da mulher no mercado de trabalho); 4)
longevidade, bem-estar e consumo correlacionam-se positivamente (Nordhaus, 2003).
O rendimento diminui durante a reforma, mas o consumo mantém-se elevado e o
facto de deduzirmos que o envelhecimento conduz à diminuição do rendimento per capita,
não significa que corresponda a uma diminuição de bem-estar, porque o bem-estar depende
do consumo e não do rendimento. Assim, o impacto do envelhecimento deve ser medido em
termos de bem-estar futuro e não em taxas de crescimento de PIB. Isto porque cada individuo
ao longo do seu ciclo de vida adapta de duas formas os seus comportamentos para aumentar o
seu bem-estar. Sabendo que viverá mais anos e que há compressão da morbilidade, pode
optar por trabalhar mais tempo, garantindo um nível de consumo que lhe assegure bem-estar,
mesmo na reforma. Ou reforma-se mais cedo, e se a reforma não for compatível com o bem-
estar que deseja, começa a poupar mais cedo. A suposta dependência nas idades mais
avançadas pode não ser bem real e embora nas sociedades europeias as principais
transferências estatais sejam para o grupo dos mais velhos, alguns estudos provam que os
mais velhos realizam avultadas transferências para as gerações mais novas (Manson, 2006;
Bloom, 2011).
Com o envelhecimento as populações alteram os comportamentos face ao trabalho, à
produtividade e às poupanças (Cingano, 2014). Teoricamente, em sociedades mais jovens com
mais população ativa, o crescimento económico acelera e vice-versa; por seu turno, em
sociedades mais envelhecidas, com menos mão-de-obra disponível, o crescimento económico
tende a desacelerar. Esta assunção leva a que autores como Peterson (1999) ou Greenspan
(2003) assegurem que o envelhecimento da população irá desencadear uma crise que irá
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engolir a economia mundial comprometendo os estados democráticos. Mas o futuro não deve
ser traçado apenas tendo em conta os efeitos contabilísticos (Bloom 2007, 2011), há que
considerar a mudança individual de comportamento e expectativas no ciclo de vida (por ex. a
decisão de aumentar a sua vida ativa ou alterar o perfil das poupanças face a ganhos na
esperança média de vida).
Enquanto não for entendido que o envelhecimento não é apenas um problema
demográfico, mas uma questão de adequação de politicas económica, social e das instituições,
continuaremos a deixar que a demografia marque o compasso da economia e da sociedade.
Para que o problema do envelhecimento deixe de o ser, é necessário focar esforços no
desenvolvimento de políticas que incentivem os indivíduos a ajustar e adequar os seus
comportamentos (Bloom, 2011). Falamos de, nomeadamente:
Liberalizar a idade de reforma, para que quem queira trabalhar até mais tarde tenha
incentivo par o fazer;
Flexibilizar as reformas (conjugação de soluções públicas e privadas);
Gerir expectativas sobre o rendimento disponível na idade de reforma;
Promover mudanças legais e culturais que permitam o diálogo e respeito, evitando
potenciais focos de conflito intergeracional;
Proteger legalmente os trabalhadores mais velhos para evitar a sua discriminação laboral;
Garantir formação ao longo da vida para que os indivíduos ajustem o seu conhecimento à
economia em mudança;
Investir na promoção da saúde, desenvolver a medicina preventiva para que a população
idosa seja efetivamente mais saudável, evitando a sobrecarga nos sistemas de saúde e na
segurança social e permitindo a compressão da morbilidade, possibilitando que as pessoas
trabalhem até mais tarde e os mais velhos continuem a passar o seu conhecimento e know-
how entre gerações;
Estimular a igualdade de género no acesso ao mercado de trabalho e promulgar medidas
de que permitam conciliar a vida familiar com vida ativa;
Políticas de migração que garantam a total integração dos imigrantes numa sociedade
intercultural em mosaico e promovam a reunificação familiar;
Ajustar políticas de financiamento de pensões. Encontrar equilíbrio entre as transferências
intergeracionais promovidas pelos sistemas pay-as-you-go e sistemas de financiamento de
fundos de pensões;
Assegurar que existe estabilidade e maturidade do sistema bancário para gerar confiança
nos depósitos que são realizados.
Garantir que existe um equilíbrio entre consumo e poupança para que por um lado
indivíduos que tem a sua pensão integralmente assegurada pelos governos não pressionem
as coortes mais jovens e mais pequenas, com impostos. Esta subversão pode gerar conflitos
intergeracionais que devem ser evitados.
Como poderá ser o futuro? Como vimos, nem o aumento dos níveis de
fecundidade, nem uma extraordinária retoma económica e condições excecionais de
atratividade migratória poderão evitar a redução do número de residentes. A
concretização do cenário mais otimista baseado na conjugação das tendências mais
positivas de natalidade e migrações é improvável. Devemos assumir o declínio
populacional como natural. E ao assumir devemos mitigar os efeitos menos desejados
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
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BIBLIOGRAFIA
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GLOSSÁRIO
A
Acontecimentos Não Renováveis: Acontecimentos que só podem ocorrer uma vez a cada
indivíduo. Por exemplo, a mortalidade, o primeiro filho ou o primeiro casamento.
Acontecimentos Renováveis: acontecimentos que podem ocorrer mais de uma vez na vida de
cada indivíduo (a natalidade, a nupcialidade, o divórcio, as migrações). É possível transformar
acontecimentos renováveis em não renováveis, quando se introduz a ordem.
Análise Demográfica: fornece a base científica e de unidade da ciência demográfica. Fica-se
pela descrição dos fenómenos e caracteriza-se pela abordagem mais descritiva, voltada para
a medição rigorosa dos fenómenos. Os factos demográficos explicam outros factos
demográficos.
Análise Prospetiva: fornece um panorama dos futuros possíveis ou cenários de evolução não
improváveis de uma determinada população, tendo em conta os determinismos do passado e o
que se entende como plausível em termos de desenvolvimento económico, social e político num
horizonte temporal determinado. Funciona por hipóteses (manutenção do crescimento, redução
ou aumento dos ritmos das variáveis mortalidade, fecundidade e migrações). O objetivo é estimar
volumes de população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores, numa visão
global, qualitativa e múltipla.
Análise Regressiva: Estudo de uma determinada população, que procura conhecer as suas
probabilidades de evolução num determinado horizonte temporal passado. Funciona por
hipóteses (manutenção do crescimento, redução ou aumento dos ritmos das variáveis
mortalidade, fecundidade e migrações) e, de acordo com as opções prováveis, estima volumes de
população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores.
Antigo Regime Demográfico: Mecanismo de comportamento coletivo, caracterizado pelo
crescimento lento da população, devido à conjugação de fatores adversos (fome, peste,
guerra), que alteram o sentido positivo dos saldos fisiológicos e migratórios .
C
Celibato Definitivo: refere-se à percentagem daqueles que nunca casarão (45 e mais anos).
Cenários Prospetivos: consiste em conhecer as probabilidades de evolução de determinado
conjunto de indivíduos num horizonte temporal pré-estabelecido. Baseia-se em hipóteses
prováveis de evolução das dinâmicas de crescimento demográfico (crescimento natural e
crescimento migratório) e, confrontando-as com as características do tecido social e económico,
estima volumes de população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores.
Para assegurar uma menor margem de erro, estabelecem-se sempre vários cenários possíveis.
Coorte: em termos de Análise Demográfica consiste no conjunto de pessoas que são submetidas a
um mesmo acontecimento de origem, durante um mesmo período de tempo.
Crescimento Migratório: Diferença observada entre o número total de emigrantes e imigrantes A
diferença entre o valor do crescimento natural e o crescimento total da população, observado por
comparação com os volumes obtidos através do recenseamento, permite estimar o ritmo de
crescimento migratório.
Crescimento Natural: Diferença observada entre o número total de nascimentos e óbitos. Mede o
aumento da população, se baseado apenas no saldo entre o total de nascimentos e óbitos.
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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues
D
Demografia Histórica: distingue-se pelo período temporal (estuda sobretudo as populações do
passado) e/ou as metodologias utilizadas (lida com dados de má qualidade, por vezes lacunares, o
que exige o desenvolvimento de técnicas de análise próprias ou a adaptação das tradicionalmente
em uso nos estudos de Análise Demográfica ou Demografia Social). Presta grandes contributos
metodológicos e de análise em países que se confrontam com dados estatísticos deficientes.
Demografia Social: ou Estudos de População. Desenvolve a sua ação em três tempos: constatação,
razões, implicações. Preocupa-se com a compreensão dos fenómenos e as consequências dos
mesmos, para o que utiliza indicadores nem sempre demográficos e apela à interdisciplinaridade
com outras ciências.
Densidade: Relação entre o número de população num determinado espaço.
Descendência Média: Número médio de filhos por mulher.
Diagrama de Lexis: Trata-se de uma representação gráfica criada pelo estatístico alemão do século
XIX com o mesmo nome. Permite repartir os acontecimentos demográficos por anos de
observação e gerações.
Dinâmica Demográfica: Resultado que, do ponto de vista dos volumes e ritmos de crescimento, é
obtido a partir dos contributos do saldo fisiológico ou natural (nascimentos - óbitos e do saldo
migratório
Dinâmica Populacional – vd. Dinâmica Demográfica
Doenças Civilizacionais: Doenças que afetam as sociedades mais desenvolvidas, devido à
alteração de determinados comportamentos (ex: cardiovasculares). O stress, o sedentarismo, uma
dieta alimentar pouco variada e comportamentos de risco, vêm juntar-se a outro tipo de males
decorrentes das alterações ambientais (cancros e tumores, paludismo, HIV/SIDA…).
Doutrinas Demográficas: O seu grande objeto de estudo são as teorias do pensamento
demográfico, vistas numa perspetiva cronológica abrangente. Propõe-se sistematizar os
fundamentos teóricos da ciência da população.
E
Ecologia Humana: dedica-se ao estudo das interações entre as populações humanas, nos seus
diferentes ambientes. De criação recente, fornece-nos uma nova forma de ver os
comportamentos coletivos, ao encarar o homem como um ser bio cultural, dando igual
importância às componentes biológicas e de organização social/cultural.
Emigração: ato ou efeito de emigrar; saída voluntária do local de nascimento.
Emigrante: Indivíduo que sai de uma área de migração definida e cruza o limite estabelecido como
“fronteira”, em que a área espacial de referência é a área de origem. É aquele que vai procurar
trabalho ou fortuna noutro país.
Envelhecimento: como fenómeno demográfico surge na sequência do aumento do número de
idosos e/ou da diminuição do número de jovens em determinado universo populacional.
Fenómeno que se tende a generalizar no Mundo.
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Equação de Concordância: Teste indicativo da qualidade global dos dados de estado civil e dos
recenseamentos. Confronta os totais obtidos em dois recenseamentos sucessivos, aos quais são
agregados os resultados do saldo fisiológico e do saldo migratório do período.
Esperança de Vida: número médio de anos que cada indivíduo pode esperar viver, de acordo com
o grau de bem-estar da sociedade em que ocorre o seu nascimento
Estado Perturbado: análise que tenta eliminar as influências exógenas ao fenómeno em análise,
de modo a transformar este tipo de dados no estado puro
Estado Puro: análise que tem em conta cada fenómeno isoladamente.
Estandardização Direta: vide População-tipo
Estandardização Indireta: vide Taxa-tipo
Estatísticas Demográficas: publicação que permite seguir anualmente a evolução da natalidade,
da mortalidade e dos outros acontecimentos demográficos.
Estrutura Etária: refere-se às características da distribuição dos volumes de população segundo o
sexo e nas diferentes idades.
Explosão Demográfica: reporta-se às novas dinâmicas, muito intensas, de crescimento
demográfico em certas regiões do Mundo.
F
Fecundidade: Forma como os nascimentos se distribuem segundo as idades das mães.
Fluxo Migratório: sempre que se considera a migração na sua dupla perspetiva (a da área de
origem e a da área de chegada).
G
Geração: conjunto de pessoas que são submetidas a um mesmo acontecimento de origem, o
nascimento;
Grupos Funcionais: consiste em agrupar a informação por idades e sexo, reduzindo-a a três
grupos, jovens, ativos/adultos, idosos
I
Idade Média ao Primeiro Casamento: calcula para os que casam, com que idades o fazem em
média, numa primeira vez.
Idade Média de Fecundidade: estima com que idades, em média, as mulheres de dada população
têm os seus filhos.
Imigração: ato ou efeito de imigrar; entrada de estrangeiros num país.
Imigrante: Indivíduo que chega a uma área espacial determinada, em que a área espacial de
referência é a área de destino.
Índice Combinado das Nações Unidas: Teste que associa dois indicadores, que podem ser
utilizados em separado, sendo qualquer deles indicativos da qualidade das informações: o índice
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de regularidade das idades e o índice de regularidade dos sexos. A sua junção permite elaborar
um índice de qualidade geral.
Índice de Dependência dos Idosos: mede o peso dos idosos na população potencialmente ativa.
Índice de Dependência dos Jovens: mede o peso dos jovens na população potencialmente ativa.
Índice de Dependência Total: mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos, ou seja, da
população à partida inativa, face à população potencialmente ativa.
Índice de Envelhecimento: mede o número de idosos por cada 100 jovens. É um indicador
utilizado na medida do “envelhecimento demográfico”.
Índice de Irregularidade: Teste indicativo da qualidade dos dados das informações censitárias,
mas desta feita medindo a atração por números vários.
Índice de Juventude: compara diretamente a população com menos de 14 anos com a população
idosa. Por cada 100 idosos existem X jovens. É também um indicador utilizado na medida do
“envelhecimento demográfico”.
Índice de Juventude da População Ativa: mede o grau de envelhecimento da população
potencialmente ativa. Relaciona a metade mais jovem da população potencialmente ativa com a
metade mais velha.
Índice de Longevidade: compara o peso dos idosos mais jovens em relação aos com 75 e mais
anos. É também um indicador utilizado na medida do “envelhecimento demográfico”.
Índice de Maternidade: relaciona a população que ainda não atingiu os 5 anos de idade com a
população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da fecundidade,
quando não dispomos de informações sobre os nascimentos.
Índice de Potencialidade: indicador que relaciona as duas metades da população feminina
teoricamente mais fecundas. Permite ver o envelhecimento do modelo de fecundidade da
população.
Índice de Regularidade das Idades: facilmente distorcido por alterações nos níveis de fecundidade
e mortalidade, baseia-se na evolução dos volumes de efetivos nas diferentes idades, que em
teoria deveriam decrescer sempre com o avanço das mesmas.
Índice de Regularidade dos Sexos: baseado na evolução das relações de masculinidade, que em
teoria deveriam decrescer sempre com o avanço das idades
Índice de Renovação da População Ativa: relaciona o volume potencial da população em
atividade com o volume potencial da população que se está prestes a reformar.
Índice de Tendência: é um indicador da dinâmica demográfica. Quando apresenta valores
inferiores a 100 significa que está em curso um processo de declínio da natalidade e de
envelhecimento.
Índice de Vitalidade: tem a lógica inversa do Índice de Envelhecimento. Mede o número de
jovens por cada 100 idosos. É um indicador utilizado na medida do “envelhecimento
demográfico”.
Índice de Whipple: Teste indicativo da qualidade das informações censitárias. Mede em
simultâneo a atração pelo 0 e pelo 5.
Índice Sintético de Fecundidade: número médio de filhos por mulher
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M
Método da Média Aritmética: Como os Métodos Forward e Reverse não dão o mesmo resultado,
costuma fazer-se a média aritmética de ambos, aplicando-se assim a média aritmética entre
ambos.
Método das Proporções: (ou percentagens) mensais. Método empregue para medir a
sazonalidade dos fenómenos demográficos. Produz importantes distorções na análise, por não ter
em conta as diferentes durações de cada mês.
Método das Taxas Mensais: Método empregue para medir a sazonalidade dos fenómenos
demográficos. Consiste em multiplicar o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do
ano, divididos pela população média ou em multiplicar o número médio de óbitos mensais pelo
ratio existente entre o número de dias do ano e o número de dias do mês em análise; o resultado
é dividido pela população média.
Método de Hajnal: permite medir a nupcialidade, calculando os valores do Celibato Definitivo, da
Intensidade do Casamento e da Idade Média ao Primeiro Casamento, quando dispomos apenas
de indicações censitárias.
Método dos Números Proporcionais: Método empregue para medir a sazonalidade dos
fenómenos demográficos. Consiste em dividir os óbitos observados em cada mês pelo número de
dias que possui. Esses números médios de acontecimentos por dia são substituídos por números
proporcionais, de modo a que o seu total seja igual a 1200. Cada mês fica representado por um
número. O seu desvio em relação a 100 indica se este está ou não acima da média.
Método Forward: Um dos Métodos da população esperada. Compara os grupos de idade dos
efetivos recenseados em dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo
em conta as suas diferentes probabilidades de morte
Método Reverse: Um dos Métodos da população esperada. Compara os grupos de idade dos
efetivos recenseados em dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo
em conta as suas diferentes probabilidades de sobrevivência.
Métodos Censitários: Método indireto, que permite estimar a intensidade dos saldos migratórios.
Consiste em explorar as informações constantes nos recenseamentos sobre o local de residência
anterior.
Métodos da População Esperada: comparam os grupos de idade dos efetivos recenseados em
dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo em conta as suas
diferentes probabilidades de sobrevivência ou morte. Divide-se em Método Forward, Método
Reverse e Método da Média Aritmética
Migração: Mudança de residência realizada por um indivíduo.
Migrações Externas: Vide Migrações Internacionais
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N
Natalidade: Número de nascimentos ocorridos em determinada população.
Nupcialidade: Trata-se de uma variável de extrema importância, que condiciona os modelos de
fecundidade, a composição e características familiares. Porém, não é uma variável micro
demográfica no sentido estrito do termo, já que o seu aumento ou diminuição não interfere
diretamente no volume da população.
NUTS: Nomenclatura da Unidades Administrativas. A partir de 1988, com base no Decreto-Lei de
15 de fevereiro, as Estatísticas Demográficas passaram a utilizar a “Nomenclatura das Unidades
Territoriais” para fins estatísticos. Esta interrupção das séries temporais resultou do cumprimento,
por parte do INE, de normas decorrentes da adesão de Portugal à Comunidade Económica
Europeia, regulamentada inicialmente pelo Decreto-Lei nº46/89.
O
Ótimo de População: Valor considerado ideal para garantir uma boa qualidade de vida. A teoria
subjacente a este conceito tem sido defendida por muitos teorizadores, em épocas distintas.
P
Percentagem de «Idosos»: indicador, que mede a importância dos idosos na sociedade. É também
um indicador de medida do “envelhecimento demográfico” do topo da pirâmide de idades.
Percentagem de «Jovens»: mede a importância da juventude na população. É também um
indicador de medida do “envelhecimento demográfico” da base da pirâmide de idades.
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R
Recenseamento: conjunto de operações que consiste em recolher, agrupar o publicar dados
respeitantes ao estado da população, num determinado momento.
Refugiados: indivíduos forçados a saírem das suas terras de residência ou naturalidade, por
motivos de ordem diversa.
Registo Civil: posterior aos registos paroquiais e com objetivos mais práticos, surge em finais do
século XIX e consiste no registo de nascimentos, casamentos e óbitos.
Registo Contínuo de População: adotado por alguns Estados, funciona como uma base de dados
sobre cada indivíduo, onde são registadas todas as ocorrências da sua vida, sejam ou não de
caráter demográfico.
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Registo Paroquial: forma de registo, que se generaliza nos países católicos após o Concílio de
Trento. Efetuados pela Igreja Católica dividiam-se em registo de batismo, casamento e óbito.
Relação de Masculinidade dos Nascimentos: Teste indicativo da qualidade dos dados de estado
civil.
Relações de Masculinidade: Instrumento de análise que permite verificar o modo como os
efetivos existentes num determinado grupo de idades são partilhados entre os dois sexos.
Ritmo de Crescimento: resultado anual médio sobre a dinâmica de crescimento (positiva ou
negativa) de uma população, que torna possível comparar períodos de diferente amplitude. Para
se medir o ritmo de crescimento de uma população existem três processos: o contínuo, o
aritmético e o geométrico.
S
Saldo Fisiológico: Diferença observada entre o número total de nascimentos e óbitos.
Saldo Migratório: Diferença observada entre o número total de emigrantes e imigrantes
Sobrepovoamento: Falamos de sobrepovoamento sempre que as densidades de ocupação do
espaço físico parecem pôr em causa a qualidade de vida e níveis de bem-estar das populações.
Substituição das Gerações: em termos demográficos refere-se ao número de filhos por mulher e à
existência (ou não) do valor médio de 2,1, o qual é o mínimo indispensável para garantir a
renovação das gerações.
T
Taxa Bruta de Divórcio: relaciona o número de divórcios com o total da população.
Taxa Bruta de Emigração: medida elementar de controlo dos níveis de emigração legal de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Imigração: medida elementar de controlo dos níveis de imigração legal de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Migração Total: medida elementar de controlo dos níveis de saldo migratório legal
de uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Mortalidade: medida elementar de controlo dos níveis de mortalidade geral de
uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Natalidade: medida elementar de controlo dos níveis de natalidade geral de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Nupcialidade: medida elementar de controlo dos níveis de nupcialidade geral de
uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Reprodução: Número médio de filhas por mulher.
Taxa Bruta de Viuvez: relaciona o número de viúvos com o total da população.
Taxa de Fecundidade “Dentro do Casamento”: Antiga taxa de fecundidade legítima, relaciona os
nascimentos dentro do casamento com as mulheres casadas no período fértil.
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Transição Epidemiológica: De acordo com esta teoria, uma vez assegurada a vitória sobre as
doenças infeciosas todos os estados passam da "idade da pestilência à da fome" à "idade das
doenças de degenerescência e doenças sociais", qualquer que seja o seu grau de desenvolvimento
económico.
Transição Reprodutiva: forma como se efetuou o processo de passagem de altos níveis de
fecundidade, para valores inferiores à substituição das gerações.
U
Urbanização: vide População Urbana
V
Variáveis Micro demográficas: vide Natalidade, mortalidade, movimentos migratórios
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