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Manual de Suporte à

Unidade Curricular
Demografia Social e
Politicas Demográficas

NOVA FCSH - UNL

População,
recursos e
desenvolvimento

Sebenta

TERESA FERREIRA RODRIGUES

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Lista de abreviaturas e acrónimos

ACIDI Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural


ACIME Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas
AD Análise Demográfica
AML Área Metropolitana de Lisboa
BM Banco Mundial
CE Comissão Europeia
CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CPRI Ciência Política e Relações Internacionais
DH Demografia Histórica
DS Demografia Social
EH Ecologia Humana
ESPON European Spatial Planning Observation Network
EU European Union (ver UE)
EUROSTAT European Statistics Comission
FCSH Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
FNUAP Fundo das Nações Unidas para a População
INE Instituto Nacional de Estatística
IOM International Organization for Migrations
MAI Ministério da Administração Interna
NGO Non-Government Organization (ver ONG)
NIC National Intelligence Council
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento económico (ver OECD)
OECD Organisation for Economic Cooperation and Development (ver OCDE)
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não Governamental (ver NGO)
ONU Organização das Nações Unidas (ver UN)
OSCOT Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo
PER Programa Especial de Realojamento
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ver UNPD)
PP Políticas Demográficas
PRB Population Reference Bureau
SEF Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
SSR Security Setor Reform
UE União Europeia (ver EU)
UN United Nations (ver ONU)
UNDP United Nations Development Program (ver PNUD)
UNL Universidade Nova de Lisboa
UNPD United Nations Population Fund

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

ÍNDICE
Introdução………………………………………………….. ............................................................... 3
MÓDULO 1: Demografia: a Ciência da População .......................................................... 7
1.1 Definições e Campos de Especialidade ........................................................................................................ 7
1.2 As Populações humanas: das longas permanências às transições demográficas. .................................... 18
1.3 As Populações humanas: modelos e caraterísticas de comportamento ................................................... 20
1.4 O que é a Transição Demográfica.............................................................................................................. 27
MÓDULO 2: Demografia: da Teoria à Intervenção .................................................................................. 33

2.1 Teorias sobre a importância do fator humano.......................................................................................... 33


2.2 As Políticas Demográficas .............................................................................................. 45
2.3 As Conferências Mundiais sobre População ........................................................................ 56
MÓDULO 3: Teoria e Prática: a Dinâmica Populacional................................................ 66
3.1 Volumes e Ritmos de Crescimento ................................................................................... 67
3.2 Análise das Estruturas Etárias e por Sexo ........................................................................... 71
3.3 Os Sistemas de Informação Demográfica ........................................................................... 77
3.4 Análise da Qualidade dos Sistemas de Informação ............................................................... 83
3.5 Princípios e Métodos de Análise da Mortalidade e Condições Gerais de Saúde ............................. 87
3.6 Princípios e Métodos de Análise da Natalidade, Fecundidade e Nupcialidade ............................... 92
3.7 Princípios e Métodos de Análise dos Movimentos Migratórios ................................................. 97
3.8 Análise Prospetiva e Planeamento ..................................................................................102

MÓDULO 4: As Dinâmicas Demográficas no Mundo, na Europa e em Portugal ............ 104


4.1 Globalização, população e sociedade de risco ......................................................................... 104
4.2 Evolução da População no Mundo e por continentes ..................................................................... 119
4.3 Para onde vamos: tendências de futuro, certezas e incertezas…….……………………………….……………………122
4.4 Portugal. Permanências e Mudanças…………………………………………………………………………….…………………..144

BIBLIOGRAFIA.. ...................................................................................................................175
Glossário ...................................................................................................................178

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INTRODUÇÃO

Este e-book serve de apoio à Unidade Curricular (UC) de Demografia Social e


Políticas Demográficas (DSPD), que integra com caráter de obrigatoriedade o 1º Ciclo
(Licenciatura) em Ciência Politica e Relações Internacionais e à componente teórica da
UC Análise Prospetiva e Planeamento, Opção Condicional da mesma Licenciatura da
NOVA FCSH, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Consideramos que a nível da formação pós-graduada, as matérias contidas no
presente Manual são úteis para as UC de Globalização e Segurança e Estudos de
Globalização, respetivamente do Mestrado em Ciência Política e Relações
Internacionais (CPRI) e das Pós-graduações em Estudos Estratégicos e de Segurança
(Parceria UNL-IDN) e em Globalização, Diplomacia e Segurança (parceria UNL-IUM-
MNE).
O objetivo principal do Manual é proporcionar uma visão geral sobre os aspetos
mais relevantes da ligação entre a ciência demográfica e as Relações Internacionais,
designadamente na sua interface com alguns dos principais problemas sociais
contemporâneos, em relação aos quais as dinâmicas de população são
simultaneamente causa e consequência. A vantagem do Manual é resolver a
dificuldade de conseguir numa só publicação uma síntese geral sobre o interesse e
implicações das dinâmicas populacionais, considerando a quantidade e variedade de
informação disponível e o facto da maioria dessa informação não estar direcionada ou
analisada na ótica das Relações Internacionais e da Ciência Politica.
Em termos de estrutura interna, o e-book apresenta-se estruturado em cinco
módulos, nos quais se abordam: (1) algumas definições conceptuais, nomeadamente
da Demografia como ciência e nos seus vários ramos de especialidade, com especial
destaque para a Demografia Social ou Estudos de População e as Políticas
Demográficas; (2) os modelos e características de comportamento das populações
humanas, de ontem e de hoje, sublinhando o acentuar das diferenças inter-regionais
que marcam a atualidade e as previsões quanto à sua futura evolução e/ou potencial
convergência; (3) as dinâmicas passadas, atuais e de futuro da população mundial e as

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assimetrias que caracterizam a atual crescimento das populações humanas, explicadas


a partir dos modelos de comportamento e das diferentes varáveis explicativas, sejam
estas ou não de índole exclusivamente demográfica. Neste terceiro ponto é
aprofundada a realidade europeia e sublinhadas algumas das suas especificidades,
destacando o caso de Portugal e o modo como a história da população portuguesa é
pautada por uma cronologia e características específicas, embora marcada nos últimos
anos pela aproximação às características das suas congéneres europeias; (4) na ótica
da passagem da teoria demográfica à intervenção e ao desenhar de políticas
especificas, apresentam-se as teorias que desde a Antiguidade clássica têm tentado
analisar e avaliar a relação entre população, recursos e desenvolvimento numa ótica
de sustentabilidade. Caracterizam-se as linhas orientadoras das políticas demográficas
ou de população para conseguir equilíbrios sustentáveis entre homem e meio e
destaca-se o papel das Conferências Mundiais de População; e (5) apresenta-se a
metodologia da Ciência demográfica e um conjunto de técnicas de análise que lhe são
específicas. Neste último módulo discutem-se os modelos teóricos de comportamento
e efetua-se a avaliação de características macrodemográficas, dos sistemas de
informação demográfica e respetiva qualidade, da mortalidade e condições gerais de
saúde, da natalidade, fecundidade e família, dos movimentos migratórios,
selecionando em cada caso indicadores, cuja forma de cálculo se explica, acrescidos da
apresentação de exemplos resolvidos. No fim de cada Módulo apresentam-se
sugestões de bibliografia específica, no máximo de cinco títulos. O Manual inclui uma
Bibliografia geral mais alargada, embora sem caráter de exaustividade, e ainda um
Glossário, com uma síntese dos conceitos demográficos considerados relevantes.
A estrutura de conhecimentos a transmitir não pressupõe quaisquer pré-
requisitos (para além das resultantes da formação prévia inerente ao facto da UC
Demografia Social e Politicas Demográficas – a quem se destina em primeiro lugar - ser
lecionada no 2º ano da Licenciatura em CPRI). Em termos de resultados esperados, ao
terminar o ciclo de aprendizagem proporcionado pela UC pretende-se que o estudante
tenha adquirido competências que lhe permitam:

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1) Reconhecer as características e objetivos da Demografia nos seus vários ramos,


com especial destaque para os estudos de população e as políticas
demográficas;
2) Conhecer os volumes e dinâmicas recentes e futuras das populações humanas
destacando, neste contexto, a Europa e Portugal;
3) Identificar os principais sítios com informação relevante sobre sistemas de
informação demográfica, com ênfase nos casos europeus e nacional.
4) Identificar os principais indicadores que permitem caracterizar as variáveis
macro e micro demográficas e entender o seu significado e limitações
específicas;
5) Adquirir competências técnicas básicas de Análise Demográfica.

Dada a natureza e os objetivos inevitavelmente muito amplos que subjazem à


realização deste texto, ele está longe de ter pretensões de exaustividade e, como não
poderia deixar de ser, tem implícitas opções de partida, nomeadamente no que
respeita à seleção de autores, de temas e dos indicadores demográficos considerados
em detrimento de outros. Somos inteiramente responsáveis por estas escolhas.

Lisboa, setembro de 2023

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MÓDULO 1: DEMOGRAFIA: A CIÊNCIA DA POPULAÇÃO

A Demografia evoluiu de uma problemática inicial simples para uma crescente


complexidade de temas e problemáticas, suportadas por técnicas e métodos rigorosos
e específicos. O seu objeto inicialmente focado na descrição das populações humanas
e respetivos comportamentos passa a incluir, sobretudo a partir da segunda metade
do século XX, novas componentes e a responder a outras inquietações das sociedades
contemporâneas. O objetivo deste módulo visa dar uma explicação às seguintes duas
interrogações:
a) “Qual a importância de um conhecimento rigoroso e científico acerca das
dinâmicas próprias das populações humanas e de que modo elas podem ser
relevantes para explicar o atual sistema internacional, o nosso Mundo global?”
b) “Qual é de facto o objeto de estudo da Demografia e quais as grandes
características que marcam a sua unidade, sem diluírem a diversidade das suas
perspetivas e metodologias autónomas?”

1.1. Definições e Campos de Especialidade


Comecemos pelo significado do termo:
DEMOGRAFIA = DEMOS (povo) + GRAPHEIN (descrever)
Esta definição muito simples (“descrever um povo”) não deixa, no entanto, de tocar os
pontos essenciais da questão. Com efeito, embora a preocupação com os problemas
populacionais remonte à Antiguidade, a Demografia como ciência só surge bastante
tarde, já no século XVIII.
Para muitos autores o primeiro tratado de Demografia científica foi escrito em
1788. Da autoria de MOHEAU, intitulava-se Investigações e Considerações sobre a
População de França. O autor partia dos factos para as reflexões teóricas e defendia
que o aumento da população, assente no progresso tecnológico e na divisão do
trabalho, podia ser superior ao permitido pela produtividade do solo, desde que na
indústria se encontrassem os meios para suprir essas necessidades humanas. Moheau

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condena os costumes, o luxo e a desigualdade económica, que considera serem


fatores que penalizam a relação entre aumento populacional e pressão sobre os
recursos, mas sanciona igualmente o controlo da fecundidade, sobretudo entre os
grupos sociais mais abastados. Em suma, na sua perspetiva, o desenvolvimento
tecnológico podia satisfazer as necessidades alimentares num cenário de crescimento
da população, sem o risco de as sociedades humanas sofrerem uma rutura de tipo
malthusiano.
Porém, o grande salto em termos de evolução da ciência demográfica será
dado em 1855, ano em que Achille GUILLARD publicou os Élements de statistique
humaine ou démographie comparée – où sont expos és les primncipes de la science
nouvelle, et confrontés, d’ap`res les documents les plus authentiques, l’état, les
mouvements généraux et les progrès de la population dans les pays civilisés. No
prefácio o autor clarifica os objetivos do seu estudo, que coincidem com as
especificidades que virão a constituir alguns dos ramos de especialidade da futura
ciência demográfica e que colocamos entre parêntesis. Escrevia então: “Demografia
abrange a história natural e social da espécie humana [Demografia Histórica e Ecologia
Humana]; o conhecimento matemático das populações, seus movimentos gerais e
estado físico [Análise Demográfica]; e também o estado intelectual e moral da
população [Demografia Social ou Estudos de População]”.
A consolidação da nova ciência passa nas décadas seguintes por grandes
mudanças, que globalmente sobrevalorizavam o pendor quantitativo e o rigor dos
métodos, em detrimento de outros interesses ou preocupações de conteúdo ou
interpretação qualitativa.
Em 1938, L. HUBER, no seu Curso de demografia e de estatística sanitária,
afirmava que a “Demografia era a aplicação dos métodos estatísticos ao estudo das
populações, ou, mais genericamente, ao estudo das coletividades humanas”. A obra
insere-se num período em que o tratamento quantitativo continua a ser
sobrevalorizado e o que importa verdadeiramente é assegurar o rigor dos métodos.
Essa preocupação, que marca as primeiras décadas do século XX, facilitou a afirmação
da Demografia como ciência, embora restringisse a riqueza da sua problemática.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

O Tratado de Demografia, datado de 1945 e da autoria de A. LANDRY,


constituiu a este propósito um compromisso interessante. Como afirmava o autor,
“estamos de acordo em pedir à Demografia que considere em primeiro lugar os
aspetos quantitativos; existe assim uma demografia quantitativa, cujo objetivo
essencial é o estudo dos movimentos que se produzem numa população, acompanhado
do estudo sobre as causas dos movimentos; mas também existe uma demografia
qualitativa que se ocupa das qualidades dos seres humanos… esforçando-se por os
submeter à medida.” Desta forma, enquanto a primeira acompanha o volume e as
tendências de evolução dos nascimentos, óbitos, casamentos e migrações, a segunda
estuda o porquê, as razões dos comportamentos humanos coletivos e os seus
respetivos impactos. Esta última vertente torna-se tanto mais importante quanto se
recue no tempo e / ou quanto mais reduzidos forem os dados estatísticos disponíveis,
aplicando-se nos dias de hoje a algumas regiões do mundo com sistemas de
informação mais deficitários.
É esta dimensão qualitativa que vai permitir o aparecimento de diferentes
ramos dentro da Demografia. Assim, não existe apenas uma, antes várias demografias,
ligadas por preocupações e metodologias próximas, mas não iguais.
Outro aspeto a reter é o de que devemos evitar a tentação de confundir
Demografia com População, porque não se trata de um sinónimo. Assim, a Demografia
corresponde à descrição e estudo cientifico da População e fá-lo de três formas
distintas:

1. a primeira consiste na abordagem dos valores globais: a) observa e mede o


volume e ritmo de crescimento dos efetivos; b) estuda o modo como estes
se estruturam no espaço (distribuição e densidade de povoamento); e c)
analisa a sua composição, em termos de idade e sexo;

2. a segunda acompanha e explica a evolução de cada uma das três variáveis


micro demográficas: a) natalidade e fecundidade, b) mortalidade e c)
movimentos migratórios (emigração, imigração e migrações internas);

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3. a terceira via privilegia a ótica interpretativa, procurando entender as


causas e consequências das mudanças observadas em termos do modelo
demográfico vigente em cada universo populacional e em cada momento.

Visto de outro modo:

1.VISÃO ESTÁTICA: estuda as características e valores globais de uma população:


 Observa e mede os seus efetivos (volume, ritmos de crescimento);
 Analisa o modo como estes se estruturam no espaço (distribuição
populacional, densidades);
 Analisa a sua composição, em termos de idade e sexo (subgrupos, grupos
funcionais, índices-resumo)

2.VISÃO DINÂMICA: analisa as variáveis micro demográficas dessa população:

 A natalidade e fecundidade (nupcialidade)


 A mortalidade
 Os movimentos migratórios.
3. ANÁLISE INTERPRETATIVA: Apercebe-se das tendências e características que apresenta e
das eventuais alterações verificadas nos comportamentos do universo em estudo.
Estes objetivos são concretizados em 7 ramos distintos, que foram ganhando
autonomia em termos de problemática e de metodologias de abordagem:
a. Análise Demográfica
b. Demografia Histórica
c. Demografia Social ou Estudos de População
d. Ecologia Humana
e. Projeções Demográficas e Prospetiva
f. Doutrinas Demográficas
g. Políticas Demográficas.

A Demografia é hoje uma ciência instrumental, de reflexão e de ação. No entanto


existe uma linha condutora única que garante a preservação da sua unidade inicial:
todos os ramos perdem sentido sem referência a um núcleo de base, que é a ANÁLISE
DEMOGRÁFICA. Deste modo:

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 Análise Demográfica
 A Análise Demográfica (AD) fornece a base científica e de unidade da Demografia
e todos os outros ramos procuram interpretar fenómenos de comportamento
medidos numa primeira fase de investigação pela AD;
 A AD analisa quantitativamente variáveis macro demográficas (volume,
estrutura, distribuição espacial) e micro demográficas (natalidade, mortalidade e
migrações);
 A AD está unicamente interessada em descrever os fenómenos e não os procura
explicar. Utiliza uma abordagem descritiva, voltada para a medição rigorosa e a
elaboração e tratamento quantitativo dos fenómenos (tendências de evolução e
comportamentos).
 Para a AD factos demográficos explicam outros factos demográficos;

 Demografia Histórica
 França é o berço da Demografia Histórica (DH), que ganha autonomia a partir
dos anos 50 graças ao historiador Pierre Goubert e à sua proposta de utilizar de
forma sistemática os registos paroquiais para caracterizar os comportamentos
coletivos de pessoas anónimas. Quase em simultâneo, Louis Henry e Michel
Fleury testavam o método de reconstituição de famílias, que impulsionou os
estudos demográficos, por permitir uma visão holística dos homens do passado
com base em metodologias quantificáveis e rigorosas até então desconhecidas. A
terceira linha de investigação em DH surge nos anos 60 em Cambridge e
distingue-se das anteriores porque considera demasiado moroso o método de
reconstituição e frágeis alguns dos seus resultados e propõe o uso de métodos
agregativos e anónimos (RODRIGUES 2009: 2-23).
 A DH difere das restantes porque estuda populações do passado e criou
metodologias adaptadas à falta ou à má qualidade dos dados, o que levou ao
desenvolvimento de técnicas de análise próprias ou a adaptação das
tradicionalmente em uso nos estudos de AD ou de Demografia Social;

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 Em rápido desenvolvimento desde os anos 80 do século XX, presta grandes


contributos metodológicos e de leitura de resultados aos países que hoje se
confrontam com dados estatísticos de má qualidade;
 A DH beneficiou do desenvolvimento no campo da estatística e da informática,
que permitiu a realização de síntese na dupla vertente espácio-temporal e a
aplicação de novas metodologias (amostragens, modelos).

 Demografia Social ou Estudos de População


 A Demografia Social (DS) está a meio caminho entre a AD e a DH no que respeita
à definição do campo e ao objeto de estudo, embora tenha maiores afinidades
com a AD, pela possibilidade de utilização das suas técnicas de análise, uma vez
que lida com dados abundantes e de melhor qualidade;
 Devemos distinguir dois níveis no tipo de interesses da DS: 1) um campo que se
serve de metodologias sofisticadas e tem uma problemática e objeto claramente
definidos; e 2) um alargamento dessa problemática, devido ao confronto com
outras ciências sociais e humanas, o que por vezes introduz algumas hesitações
sobre aquilo que lhe é específico;
 A DS usa indicadores nem sempre demográficos e apela à interdisciplinaridade
com outras ciências (geografia, medicina, economia, sociologia, antropologia,
ciência política…);
 A DS desenvolve a sua ação em três tempos e só o primeiro é comum à AD. São
eles: a constatação, as razões, as implicações. Neste sentido, a) passa de uma
posição estática, que pressupõe medir determinados fenómenos; a b) empenha-
se em levantar hipóteses sobre os determinantes que possam ter influenciado
essas mudanças; e c) avalia as possíveis implicações dessas mudanças;
 na DS predomina uma abordagem largamente interpretativa. Não lhe interessa o
quê e o como, mas também o porquê e o seu significado. A preocupação em
compreender os fenómenos, as causas que lhe deram origem, a sua influência e
as consequências dos mesmos, inclusive a nível não demográfico (ambiental,
social, político, económico) é permanente e o garante da sua originalidade.

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Análise Demográfica e Demografia Social. Exemplos das diferenças a nível de objetivos


e opções metodológicas
TIPO DE
Variáveis Independentes Variáveis Dependentes
ESTUDO
Variáveis demográficas Variáveis demográficas
Estrutura por idades Taxa Bruta de Mortalidade
Análise Demográfica Taxa Bruta de Natalidade Taxa Bruta de Natalidade
Estrutura etária dos Estrutura por idades
Emigrantes
Variáveis não demográficas Variáveis demográficas
Classe social Descendência média
Estudos de
Nível de Educação Esperança média de vida
População I
Atitude face à fecundidade Taxa Bruta de Natalidade
Demografia
Mercado de trabalho Emigração
Social
Variáveis demográficas Variáveis não demográficas
Estudos de Estrutura por idades Votação partidária
População I Imigração Conjuntura económica
Taxa Bruta de Natalidade Instabilidade política
FONTE: NAZARETH 1988

 Ecologia Humana
 A Demografia precisou de ultrapassar as limitações do poder explicativo do
sistema social e passou gradualmente de uma perspetiva analítica para uma
sistémica. Dai a sua proximidade com o ponto de vista que caracteriza a
moderna Ecologia Humana (EH);
 De criação recente, a EH analisa o conjunto de interações entre as populações
humanas nos seus diferentes ambientes e fornece uma nova forma de ver os
comportamentos coletivos, ao encarar o homem como um ser bio cultural
e atribuindo igual importância às componentes biológicas e de organização
social/cultural;
 A EH tem uma área de estudo mais vasta que a Demografia, mas não pode
existir sem ela, uma vez que esta dá o pano de fundo para as suas
investigações: as dinâmicas das populações humanas. Mas acrescenta à AD
a análise dos fatores externos envolventes (a organização social, a
distribuição no espaço, a predisposição genética…). As migrações, o
envelhecimento, as alterações no modelo de fecundidade são exemplo das
formas diferentes como o Homem lida com o meio.

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 A contribuição da EH para o conhecimento dos comportamentos humanos


baseia-se em três pilares: 1) usa os índices demográficos como reflexo do
ajustamento da população ao seu ambiente; 2) estuda esses índices como
resultado das transformações de uma dada sociedade; 3) utiliza os
indicadores demográficos como índices da estrutura comunitária ou do
processo ecológico.

How to Slice it? Population and


Environment Approaches Analyze Dynamics

E
Natural Environment

Land
– Surface structure
Human-made Other species
– Land cover environment
– Soil composition
….

P
Population
by age, gender, location,
education, and other socio-
economic characteristics

Air Water
– Composition – Streams
– Temperature Infrastructure, institutions, politics, culture, – Lakes
– Humidity information, and technology – Groundwater
…. – Sea and lagoons
….

Possible focus on one slice,


e.g. Population and Water

FONTE: PRB, 2006

 Projeções Demográficas e Prospetiva


 As primeiras estimativas sobre o futuro das populações foram feitas após a
Segunda Guerra Mundial. Baseavam-se em projeções (prolongamento de
tendências estatisticamente observáveis, a partir de séries temporais do
passado recente, às quais se aplicou um conjunto de hipóteses de extrapolação
de base matemática). Quando no início dos anos 70 os resultados obtidos
foram confrontados com a realidade, eles revelaram uma grande margem de
erro, causada por não ter sido dada a devida atenção aos enquadramentos de
conjuntura;

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 Os exercícios que procuravam encontrar tendências aplicadas a previsões de


futuro foram evoluindo em termos metodológicos e hoje fala-se antes de
Análise Prospetiva (AP). Mais rica em termos de conteúdo, a AP fornece um
panorama dos futuros possíveis ou cenários de evolução não improváveis de
um determinado universo populacional, tendo em conta os determinismos do
passado e o que se entende como plausível, considerando as mudanças de
caráter económico, social e político de um dado espaço num horizonte
temporal determinado;
 A AP baseia-se em cenários alternativos ou jogos de hipóteses coerentes,
que permitem obter uma visão global, qualitativa e múltipla sobre o
futuro. Para tanto divide-se em três momentos: 1. Identificação
(reconhecer os “factos portadores de futuro”); 2. Plausibilidade (imaginar
os futuros possíveis); e 3. Ação (tomar iniciativas para a sua concretização
ou não, consoante sejam ou não desejados);
 O exercício prospetivo tem fortes ligações com o Planeamento, o qual
tenta conciliar uma atitude prospetiva, destituída das incertezas do senso
comum, interrogatória e radicalmente oposta a determinismos
mecanicistas, com os mecanismos correntes da decisão política (áreas de
aplicação privilegiada: gestão do território, planeamento urbano, políticas
públicas). O esquema seguinte resume de forma objetiva todo o processo:

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais


Dinâmica das
Populações
Humanas

Caracterização
Ambiental

Tendência
Pesada
Demográfica
Variáveis Variáveis
Externas (ambiente
Internas (objectoDepartamento de Estudos Políticos – FCSH – UNL
de estudo)
de estudo) 2º Semestre – 2008/2009

Impacto nos grandes problemas


sociais
Contemporâneos

FUTURO?
CENÁRIOS
PROSPECTIVOS

Planeamento Planeamento Programação


Estratégico Ecológico Equipamentos
Teresa Rodrigues
Departamento de Estudos Políticos – FCSH – UNL
2º Semestre – 2008/2009
FONTE: Elaboração própria.

 Doutrinas Demográficas
 As Doutrinas Demográficas (DD) podem ser definidas como um movimento
que atravessa a história das populações desde a Antiguidade e que tem o
grande propósito de entender como será possível adequar as dinâmicas, os
volumes e as características das populações humanas com as conjunturas
históricas, económicas e sociais em que se encontram. Em termos simplistas,
estas teorias dividem-se entre populacionistas e anti populacionistas e
refletem as circunstâncias históricas dos seus autores;
 As DD procuram analisar e sistematizar os fundamentos teóricos da
Demografia, numa atitude discursiva muito próxima da História das Ideias, da
Economia e da Ciência Política;
 Apresentam-se como um conjunto de ideias corretamente explicitadas, que
defendem certas posições ou atitudes sobre diferentes problemas,

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

esforçando-se por garantir coerência à realidade em que se inserem (Alfred


Sauvy in VIDAL 1994: 8). O seu grande objeto de estudo são as teorias do
pensamento demográfico, vistas numa perspetiva cronológica abrangente,
sugerindo modos de garantir sustentabilidade entre as condições do meio e
os níveis ou volumes de população.

 Políticas Demográficas
 As Politicas Demográficas (PD) apresentam objetivos de ordem prática e visam
criar medidas que garantam um equilíbrio sustentável entre população, ritmo
de crescimento e distribuição, que garantam a manutenção ou melhoria dos
níveis médios de Desenvolvimento Humano;
 A sua atuação baseia-se na criação, implementação e avaliação de políticas
que de acordo com as características do universo populacional promovam a
redução ou aumento dos níveis de fecundidade, reduzam a mortalidade,
adaptem os volumes de emigração ou imigração. Para tanto apresentam
ligações a nível nacional ou internacional com vários setores políticos,
nomeadamente a nível governamental, de Organizações Internacionais,
ONGs… (CARMO 2001: 163-184) (Veja-se MÓDULO 2).

 Demografia Política
 Trata-se de uma nova área de estudo, que Kaufmann e Toft (2011) definem
como “the study of the size, composition, and distribution of population in
relation to both govern ment and politics”.
 A DP é fruto de dois ramos, a geopolítica e a geodemografia: analisa as
mudanças observadas na relação entre espaço e população, com vista a
compreender os efeitos geopolíticos das mudanças observadas. Surge em
inícios do século XXI e fala-nos do modo como as alterações demográficas
afetam o contexto politico a diferentes escalas, estabelecendo uma
relação entre crescimento demográfico e recursos naturais e não naturais

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

e analisando o modo como os diferentes atores têm tentado gerir as


assimetrias que enquadram esse binómio (PoliticalDemography.org).
 Avalia, entre outros, os efeitos que podem advir das mudanças sociais e
perfis de certos subgrupos, ou o impacto do aumento da idade média das
populações em ter mos de perceção de segurança, níveis de democracia e
tendências de voto. Nesse sentido, introduz um novo nível de análise à
Demografia, porque lhe adiciona variáveis não demográficas pouco ou não
consideradas até hoje e com propostas também distintas. Quando aplicada
ao futuro, a DP traduz-se em conhecimento de caráter geopolítico (ordens
de poder) (Cincota, 2017).
 A DP utiliza o método experimental para observar as interações entre
realidades demográficas e geopolíticas, o que permite compreender
melhor a situação e evolução geopolítica e também enunciar leis que
constituem referenciais precisos para o conhecimento e compreen são do
mundo (Dumont, 2010: 30). Em termos simples recorre à procura de
“regularidades” para obter um entendimento geopolítico de determinada
realidade.
 Jack Goldstone é considerado o pai desta nova área científica, cujo objeto
de estudo chamou desde logo a atenção de decisores políticos e
jornalistas, mas pouco interesse tem gerado na academia internacional
(Null, 2015).
 A DP agrega na sua génese quatro grandes propósitos (Weiner e Russell,
2011; Leuprecht e Goldstone, 2013): a) avaliar as consequências políticas
das alterações populacionais (pressão sobre os governos, controle da sua
atuação, distribuição do poder politico); b) identificar os determinantes
políticos das dinâmicas da população (especialmente as causas políticas da
circulação de pessoas, os efeitos das estruturas etárias nas funções do
Estado e no tipo e formulação de políticas públicas adequadas e mais
urgentes face ao volume, composição e distribuição demográfica); c)
utilizar indicadores demográficos para identificar as grandes preocupações

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

das sociedades em termos de população versus recursos no quadro de


segurança humana; d) avaliar o modo e intensidade como alterações na
distribuição dos recursos e do poder político podem surgir das alterações
absolutas e relativas na dimensão de vários subgrupos (populações
urbanas/rurais, grupos religiosos, fações partidárias, etnias, grandes
grupos etários).
 Embora ainda pouco estudada no âmbito da Ciência Politica e pouco
considerada pelas Relações Internacionais, a DP ajuda a compreender e
prevenir certos riscos de segurança. Na era da turbulência demográfica a
que assistimos, a DP pode ser vista como um instrumento analítico com
um potencial ainda por descobrir, sobre tudo na parte da formulação de
politicas que visem o médio e longo prazo, podendo representar um papel
de importância incontornável para os policymakers e constituir uma
ferramenta analítica e preditiva essencial para o apoio à análise política e à
tomada de decisão (UNPD, 2017; NIC, 2017).

1.2. As populações humanas: das longas permanências à transição


Embora a Demografia como ciência tenha menos de dois séculos de existência, a
consciência quanto à influência dos comportamentos da população no
desenvolvimento e estabilidade política, social e económica das sociedades, obriga-nos
a recuar no tempo. Sabemos muito pouco sobre a história longa das populações
humanas até ao século XIX (Fig.1). Sabemos, porém, que 1) existem diferenças
significativas no crescimento das diferentes regiões; 2) são grandes as disparidades
cronológicas regionais em termos de momentos de maior e menor ritmo de
crescimento; 3) é significativa a concentração populacional em pontos específicos (a
China, a India, a Europa e o Mediterrâneo correspondem a dois terços ou três quartos
do total mundial, em todas as épocas da História da Humanidade; e 4) as fases de
maior expansão populacional correspondem a momentos de viragem cultural e
civilizacional (nomeadamente o Neolítico e a Revolução Industrial) (BIRABEN, 2004:9).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Evolução da população mundial

Com efeito, será no período do Neolítico que o conhecimento sobre o número


de residentes no Mundo ganha os primeiros contornos suscetíveis de avaliação
quantitativa, embora, como esperado, mais em termos de grandeza que de avaliação
rigorosa. Florescem nesse período as primeiras civilizações dotadas de formas
relativamente elaboradas de organização social e política. À medida que se
complexificam essas sociedades surgem também as primeiras reflexões sobre aspetos
relativos à população, considerada em termos genéricos e como objeto de interesse e
preocupação. Em simultâneo, surgem os primeiros dados quantitativos sobre o volume
de habitantes em certos momentos e regiões. Aquele que poderá ser considerado o
primeiro recenseamento da população data aproximadamente de 3000 a.C. e efetuou-
se no atual Egito.
Ou seja, desde que o Homem inventou a escrita existem informações sobre as
populações residentes nas diversas partes do Mundo. Verifica-se também uma
atenção crescente com a questão populacional, embora inicialmente mais direcionada
para uma perspetiva filosófica e doutrinal e só mais tarde com propósitos científicos. O
grande salto qualitativo só será dado nos séculos XIX e XX. Assim, que periodização se
deve utilizar sobre as questões da população e as suas dinâmicas específicas?

Das longas permanências às transições demográficas - Comecemos por lembrar que


em termos de modelo todas as populações obedecem a um esquema de
comportamento, onde intervêm fatores de ordem macrodemográfica (os volumes,
estruturas etárias e por sexo e a intensidade e formas distribuição no espaço) e
microdemográfica (natalidade, fecundidade, mortalidade e movimentos migratórios de

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

emigração, imigração e migrações internas). Tal acontece qualquer que seja a


circunstância geopolítica, a conjuntura económica ou o nível médio de
desenvolvimento humano e bem-estar.
As Populações Humanas: os Modelos

FONTE: Elaboração própria

O que varia entre cada universo populacional e se vai alterando ao longo da


história de cada população são os níveis que caracterizam cada uma das variáveis
intervenientes e os equilíbrios que se estabelecem entre as variáveis que fazem
aumentar o total de habitantes (natalidade e imigração) e as que reduzem esse total
(mortalidade e emigração). As migrações internas não alteram o volume da população,
mas sim a sua distribuição no território.
Uma segunda ideia a reter é a de que o estudo das populações pode ser
considerado um fim em si mesmo, quando as olhamos como sistema fechado, com
dinâmica endógena, ou observadas como sistemas dinâmicos e abertos, onde cada
variável é causa e consequência da envolvente política, económica, cultural e
identitária, numa teia de relações societais e numa visão holística do sistema
internacional, que se procura entender.
Vamos olhar mais de perto o modelo e principais características da dinâmica de
comportamento das populações: esta questão é indissociável da influência dos fatores
que em cada momento histórico explicam as originalidades com que esses modelos
globais se sucedem nas diferentes partes do Mundo. Neste início do século XXI estão
criadas as condições para que a população passe a um novo estádio de equilíbrio. Essa

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

passagem está em curso, e é ela que, graças à diversidade cronológica do processo nas
várias regiões do Mundo, origina diferenças significativas nos ritmos de aumento
demográfico global. A que nos referimos em concreto?

1.3. As Populações Humanas: modelos e características de


comportamento
As sociedades humanas anteriores à entrada no processo de transição demográfica
para a modernidade, de que falaremos de seguida, eram caracterizadas, ao nível das
dinâmicas de comportamento demográfico coletivo, por ritmos de crescimento
populacional positivo mas moderado, periodicamente interrompido por crises agudas
de mortalidade, que podiam diminuir ou até aniquilar populações inteiras, como
sucedeu com os residentes de várias aldeias europeia durante a Peste Negra ou por
ocasião de outros surtos pestíferos, de tifo e cólera até ao século XVIII. Falamos de um
equilíbrio de duração “milenar”, quebrado por “crises demográficas”:

FONTE: Elaboração própria.

Neste contexto, o ritmo de aumento populacional era muito lento. Mas a


situação começa a alterar-se a partir da segunda metade do século XVIII, momento em
que se inicia a primeira fase da transição demográfica na Europa ocidental, secundada
por outra, na segunda metade do século XX.
Com efeito, o século XIX e sobretudo o século XX registaram grandes
transformações neste campo. Nas últimas décadas, uma nova situação de equilíbrio é

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

conseguida nas sociedades onde o processo de mudança fora mais precoce e onde os
maiores aumentos de população se registaram em finais do século XIX e inícios de XX.
A dinâmica da população, de novo num crescimento tornado gradualmente mais lento,
é agora devida a novas combinações dos mesmos vetores demográficos.
Em termos sintéticos podemos dizer que os modelos de comportamento das
populações humanas correspondem à passagem por vários estádios, que se iniciam e
terminam em situações de equilíbrio:
1° tipo de equilíbrio - o equilíbrio milenar
 Altos níveis de natalidade e mortalidade.
 Violentas e regulares crises de sobremortalidade.
 Taxas de Mortalidade Infantil e juvenis muito elevadas.
 Esperança média de vida baixa.
 Descendências Médias elevadas, da ordem de 6 filhos por mulher.
2º tipo de equilíbrio - o equilíbrio moderno
 Baixos níveis de natalidade a mortalidade (embora esta última tenda a
aumentar nas zonas onde o número de idosos é maior).
 Taxas de Mortalidade Infantil e juvenis cada vez mais baixas.
 Esperança média de vida elevada, entre 70 a 80 anos.
 Descendências Médias baixas, que não garantem a substituição das gerações,
por serem inferiores a 2,1 filhos por mulher.
O crescimento populacional volta a ser muito lento, sem oscilações
significativas, e a estrutura etária da população modifica-se, reduzindo-se a
percentagem de jovens e aumentando a dos idosos. Produz-se um duplo
envelhecimento das estruturas etárias, conhecido por envelhecimento demográfico.
Na prática, a história das populações humanas parece pautar-se pela passagem de um
ciclo de vida curto e instável para um ciclo de vida longo e estável, que pressupõe:

 estruturas etárias envelhecidas;


 esperança de sobrevivência longa e concentração da morte nas idades
avançadas
 redução progressiva das diferenças sociais, no que respeita a saúde,
morbilidade e mortalidade.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

A investigação na área da ciência demográfica permitiu identificar com grande


rigor as características de comportamento que se mantiveram ao longo da vigência do
ciclo de vida curto, de duração milenar:

FONTE: Elaboração própria.

O fenómeno demográfico de Antigo Regime explica-se pela capacidade que as


populações manifestavam para rapidamente reporem os efetivos perdidos, após uma
crise de mortalidade. O facto de morrerem muitas mulheres jovens faz descer o
número de conceções e nove meses mais tarde também o número de nascimentos
diminui. Mas logo que a mortalidade deixa de subir, registam-se em média menos
mortes que antes da crise. O que se passa de facto é que parte dos óbitos ocorridos
durante a crise foram “mortes antecipadas”, que não seriam evitáveis de qualquer
forma a breve prazo. No novo contexto pós-crise aumentam as conceções e meses
mais tarde faz-se sentir um babyboom, que se estende por alguns anos devido ao
efeito “bola de neve”, o qual faz mais que repor os efetivos anteriores.
Ou seja, APÓS UMA CRISE, A POPULAÇÃO CRESCE E REJUVENESCE. Tal significa
que o fator determinante do aumento populacional nas populações do passado não
era a mortalidade, mas sim a nupcialidade. Porquê? 1) porque após uma crise ou
mesmo durante ela aumentam os segundos casamentos (casamentos entre viúvos, ou
em que pelo menos um é viúvo); 2) porque se recuperam celibatários (que nunca
chegariam a casar por falta de recursos materiais de subsistência e devido ao sistema
de transmissão de património em vigor); e 3) porque a idade média ao 1º casamento

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das mulheres desce em momentos de crise e posteriores à crise (o que aumenta o


período fértil de cada uma delas e logo também o número médio de nascimentos por
mulher). Em anos pós-crise a idade média ao 1º casamento das mulheres chegou em
certos casos a reduzir-se para os 15 ou 16 anos, ao invés dos habituais 23 a 25 anos,
um ganho de dez anos de período de fecundidade feminino. No entanto, a importância
da nupcialidade só existe em sociedades essencialmente agrárias. Nas cidades e vilas o
panorama é diferente, mesmo no passado, porque existe maior autonomia de
rendimento face aos ciclos agrários.
Em traços gerais este modelo de ciclo de vida curto e instável é aquele que
conhecemos como ANTIGO REGIME DEMOGRÁFICO. Até ao início do processo de
alteração de comportamentos decorreram séculos de uma enorme imutabilidade no
que se refere aos níveis e características das variáveis mortalidade, natalidade e
movimentos migratórios. De certa forma, alguns deles aproximam-se do que hoje
encontramos em certas regiões do mundo com indicadores de desenvolvimento baixo.

MORTALIDADE – o modelo de mortalidade é sempre o mesmo em todas as sociedades


e épocas cronológicas e baseia-se em aspetos essenciais:
A) Diferenças segundo o sexo e a idade:
Modelo em forma de U; Taxa Bruta de Mortalidade (TBM)=30-
35‰, dependendo da estrutura etária da população; Mortalidade
infantil (TMI) entre 200-250‰, com descida acentuada a partir do
1º ano de vida até um mínimo entre os 10-19 anos; Mortalidade
juvenil (de bastante elevada a mínima); Esperança média de vida à
nascença = 30-35 anos; A probabilidade de morte aumenta a partir
dos 20 anos, primeiro de forma lenta e depois muito rapidamente,
embora com diferenças de 20-30 anos, consoante as condições do
meio (grupo social e económico de pertença, meio rural ou urbano)
(NAZARETH,2004).

B) Diferenças segundo os locais de residência e condições de vida


A mortalidade torna-se cada vez mais seletiva ao longo dos séculos, designadamente
em três vetores:
1. Nível socioeconómico: os grupos sociais mais abastados vivem cerca de 2 anos mais
que os restantes (pelo menos desde o século XV, segundo estudos efetuados em várias
cidades italianas);

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2. Local de Residência: os residentes nas cidades do passado morriam mais e mais


cedo, sobretudo nos bairros populares, onde era maior a densidade populacional e a
probabilidade de contágio, num contexto de total fata de higiene e saneamento;
3. O género: as mulheres sobreviviam com maior frequência quando crianças e quando
idosas independentemente das condições de vida, embora essa vantagem seja mais
visível à medida que aumenta a esperança média de vida.

C) Forte dependência de fatores exógenos e das estações do ano


A mortalidade obedece a um esquema que
se repete anualmente, embora seja menos
marcado nas cidades, devido à densidade
de povoamento, à precariedade das
condições de existência e à mobilidade dos

habitantes, fatores que aumentam a


probabilidade de contágio e introduzem
uma enorme instabilidade nos valores
anuais de óbitos. Registam-se dois picos
de maior intensidade:
Pico Invernal provocado maioritariamente por infeções de tipo pulmonar, que entre
novembro e março, atingem sobretudo os adultos e os mais velhos;
Pico Estival de julho a setembro, que afeta sobretudo as crianças e é causado
maioritariamente por doenças de índole epidémica e gastrointestinal.

NATALIDADE e FECUNDIDADE – Também apresenta um modelo único, qualquer que


seja a sociedade ou época.
Os níveis globais
1. Sempre elevados e superiores aos da mortalidade (TBN= 40 ‰);
2. Descendência Média (DM) de 3 a 5 filhos por mulher;
3. Taxas de fecundidade elevada em todas as idades, dos 15 aos 49 anos.
As Idades da Maternidade
Modelo em chapéu, com valores quase nulos até 15 aos anos, a atingirem um valor
máximo entre os 20-35 anos. Até aos 50 anos, a tendência de descida é mais ou menos
acentuada, consoante o grau de utilização de métodos de controlo da fecundidade.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Os comportamentos

1. A ilegitimidade é reduzida e não ultrapassa 4-5% do total de nascimentos;


2. É frequente o casamento de mulheres grávidas (na Europa protestante e de
Leste era uma etapa comum e prova de fertilidade e reconhecimento de
maturidade para o casamento);
3. Em termos de nupcialidade a idade média ao primeiro casamento era tardia
(hs=26-28 anos; ms=23-25 anos);
4. O celibato definitivo era elevado (10-12%), exceto na Europa de Leste e no
Mediterrâneo. Nas cidades registavam-se valores máximos (podiam atingir
30%), causados pela concentração de determinados grupos socioprofissionais
(criados, aprendizes, eclesiásticos e militares).

O que se vai alterar, em termos destas dinâmicas com vários séculos?


Na Europa surgem as primeiras mudanças, embora com cronologias muito diversas. A
partir de 1750 verificam-se alterações climáticas e mudam as características de certas
doenças. Pequenos progressos da medicina e sobretudo da higiene pública e privada
(como os decorrentes do uso do sabão e de roupa de algodão), permitiram o
espaçamento das crises de mortalidade e a diminuição dos seus níveis gerais. A
população cresce e aumenta a estabilidade anual dos valores de nascimentos e óbitos.
De inicio o mecanismo autorregulador não conseguiu responder, porque não foi
possível pô-lo a funcionar ao contrário. Não estavam previstas formas de reduzir o
ritmo de crescimento, mas apenas formas de resposta perante uma crise de
sobremortalidade. O número de indivíduos aumentou tanto que se agravaram as
condições de existência, desceu o nível de vida e avolumaram-se as tensões sociais.
Mas as atividades industriais continuaram a desenvolver-se, dada a crescente
abundância de mão-de-obra a baixo preço.
Será o desenvolvimento da indústria que vai permitir e sustentar o aumento
populacional a partir da 1ª metade do século XIX. Após 1800 o desenvolvimento
industrial levou ao início de uma nova fase de crescimento demográfico. A
independência económica dos jovens possibilitava casamentos mais precoces e mais
filhos (que começaram por ter valor económico, porque se empregavam desde muito

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

cedo). Mas em breve se desenvolvem sistemas de controlo dos nascimentos e cresce o


número de abandonos e o infanticídio.
Entre 1870 e 1914 a mortalidade recua, verificam-se progressos na medicina e
higiene e o mecanismo autorregulador é destruído. Nos campos a maior duração de
vida dos progenitores faz com que os jovens percam a esperança de virem a herdar as
terras da família com uma idade razoável, o que os leva a ter de optar entre o celibato
e a emigração para zonas mais ou menos longínquas, empregando-se como operários,
criados, funcionários, militares ou colonos. O aumento dos volumes de emigração para
fora do continente europeu (além Atlântico) constituiu uma forma de reencaminhar os
eventuais excedentes demográficos que se começavam a sentir em alguns países
europeus. Teve então início a segunda fase da transição, marcada pela descida
gradual dos níveis de fecundidade das populações.
Hoje muitos dos países onde mais cedo se iniciou o processo de transição já
concluíram a sequência prevista das 5 fases representadas na Figura seguinte:

2.3. O que é a transição demográfica

No século XX surge a teoria da “transição demográfica”, cuja concretização


ocorre na maior parte do Mundo na segunda metade do século (LÉON 1982). É na
análise das origens, nos avanços dos impactos das doenças, sobretudo as epidémicas,
no conhecimento do contexto social de referência, bem como das mudanças que
ocorreram ao longo do tempo nos organismos da doença, nos seus hóspedes e nas

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

características do(s) ecossistema(s) em que sobreviveram, que compreenderemos o


que de facto mudou nas populações humanas, sujeitas a profundas mutações
económicas, sociais, culturais e políticas. A investigação realizada permitiu inferir com
precisão os fatores motivadores das mudanças observáveis nas curvas demográficas e
respetiva periodização (HENRIQUES, RODRIGUES 2009: 417 – 567).
Sabemos que as probabilidades de morte de cada indivíduo dependem das
suas características biológicas, como a idade e o género, e das condições do meio em
que decorre a sua existência e que constituem fatores de tipo exógeno. Estes últimos
remetem para aspetos tão variados como o grau de nutrição, o nível de higiene, o tipo
de atividade, o clima, a capacidade de defesa em relação ao meio físico. Nos países e
épocas em que ainda ocorrem subidas regulares de mortalidade, devidas a causas de
morte infeciosas e parasitárias, contam mais os fatores deste tipo, mas esta realidade
já não é europeia. No nosso continente outros fatores têm o seu papel determinante.
Referimo-nos, nomeadamente, a:
 condições climáticas - A existência de boas condições climatéricas pode induzir a
um ligeiro aumento da esperança de vida nos últimos grupos etários;
 atividade profissional - Profissões com maior esforço físico têm menor
esperança de vida;
 níveis de instrução - Melhores hábitos alimentares e melhor prevenção sanitária
favorecem em termos reais os grupos mais instruídos;
 níveis de rendimento - Importante, quando lidamos com indivíduos
pertencentes aos escalões de rendimento mais baixos;
 ao grau de envelhecimento das estruturas etárias, aos custos sociais e
individuais da solidão - Que constituem um problema mais feminino que
masculino (embora num primeiro momento tenham um cariz mais de ordem
biológica que social).
Esta multiplicidade de fatores permite levantar três conjuntos de agentes
potenciadores da transição para a modernidade demográfica (LÉON, 1982), que
convergem no objetivo de caracterizar globalmente a saúde, doença e morte:
a) a correlação entre fenómenos demográficos, económicos e sociais, refletida numa
lenta e gradual melhoria das condições de vida e visível pelo no aumento da produção
agrícola e melhor alimentação e maior preocupação com a higiene;
b) a consciencialização da existência humana e da ação da razão sobre a natureza
dotaram o homem de poderes sobre a vida e morte, até então desconhecidos e

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

atribuídos à intervenção Divina. O homem moderno torna-se um homem científico,


racional e conhecedor dos movimentos cíclicos da terrível trilogia fome, peste e
guerra. É através deste despertar que se torna mais poderoso, sábio e atuante
perante a morte, doença e epidemias. Fundam-se academias de medicina, surgem
tratados de medicina popular e científica, acentua-se o apoio e intervenção dos
responsáveis estatais, no sentido de garantir o progresso e planos de vacinação,
promovem-se no meio urbano e rural de ações de divulgação de princípios de higiene
simples e eficaz.
c) por último, junta-se às causas humanas uma terceira, a climática. O século XVIII foi
um período com condições climatéricas favoráveis à produção agrícola, mas também
à travagem da propagação de doenças epidémicas, como a peste, o tifo e a varíola,
dificultando o contágio ao contacto necessário para a transmissão do mal. O homem
sempre viveu em nichos ecológicos, definidos por determinadas características em
termos de espaço, tempo e ambiente.
De início a mortalidade geral e infantil desceram muito, mas a fecundidade
permanecia alta, dando origem às teorias malthusianas de incapacidade de os
recursos naturais existentes acompanharem o crescimento demográfico. No entanto,
esta realidade não foi duradoura e progressivamente cresceu a consciência de que o
declínio observado na fecundidade, ocorrida na maioria dos países ocidentais, era
fruto de uma mudança estrutural e carecia de uma interpretação socioeconómica. A
investigação desenvolvida por americanos e franceses na última década do século XIX
evidenciou o modo como este tipo de fatores eram indutores de práticas
contracetivas e controle do número de filhos (DUMONT 1890: 130). Os fatores
apontados passavam por preservar o estatuto social, através do controlo das despesas
inerentes à educação dos filhos; melhorar a qualidade de vida dos mesmos,
aumentando os encargos com cada filho; o desejo das mulheres pela independência e
a discriminação da mulher no serviço doméstico (HODGSON 1983).
Como muitas outras teorias, esta demorou a ser aceite. Um dos resistentes foi
o economista holandês Pierson (1890/1913: 175), que recusava a ideia de que um
aumento da prosperidade na sociedade provocasse um decréscimo populacional,

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

afirmando que mesmo que o número de nascimentos se reduzisse por este fator, a
mortalidade iria diminuir. Outros autores provaram a existência de uma correlação
inversa entre fecundidade e nível socioeconómico, sublinhando três causas: 1) o nível
de vida; 2) o grupo social e 3) a residência urbana. A par da evolução da mudança dos
comportamentos face à fecundidade surgem novas conceptualizações sobre a futura
dinâmica da população. O economista inglês Edwin Cannan foi pioneiro nesta frente,
tendo realizado em 1895 as primeiras projeções da população de Inglaterra e Gales
com base nos recenseamentos gerais.

1ª FASE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

3ª Condição: Clima

1ª Condição: 2ª Condição:
Mentalidade
Socio- Económica
Relação Homem-Natureza

DECLÍNIO DA MORTALIDADE

Fecundidade inalterada

"EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA"

2ª FASE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

DECLÍNIO DA FECUNDIDADE

Intensificação do declínio da Mortalidade

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO MODERADO

3ª FASE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

BAIXA MORTALIDADE BAIXA FECUNDIDADE

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO PRÓXIMO DE ZERO

FONTE: HENRIQUES, RODRIGUES 2009: 423

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Novos conceitos introduzidos por Cannan, Fahlbeck (1905) e Westergaard


(1882) vieram refutar as teorias malthusianas, tendo-se conseguido dar plausibilidade
à teoria de que o fim do crescimento da população seria alcançado pela via pacífica;
que o período do rápido crescimento da população era transitório e no futuro se iria
assistir a uma transição demográfica com consequências ainda imprevisíveis.
Acreditava-se que não existiam estudos correlacionando fecundidade e níveis
socioeconómicos anteriores a Warren S. Thompson (1929), apontado como pioneiro
na teorização desta nova era de crescimento demográfico. Realidade contrariada e
comprovada por Gans, ao enumerar os vários estudos e autores aqui resumidos em
anteriores parágrafos. Certo é que a investigação de Thompson não foi amplamente
divulgada, e em 1934 Landry desenvolveu na La Révolution Démographique as mesmas
ideias orientadoras, sem ter conhecimento da existência de estudos prévios. Ambos
defendiam que o crescimento populacional estava dividido em três estágios: primitivo,
intermédio e contemporâneo.
Mais tarde, em 1945, Frank Notestein e Kingsley Davis denominaram este
processo Transição Demográfica. Reconheciam-lhe três fases: 1) após um longo
período marcado pelo crescimento lento da população, com níveis de natalidade
relativamente estáveis e mortalidade oscilante em momentos de crise, dera-se início à
primeira fase do processo de transição. Os níveis de mortalidade diminuíram enquanto
os da fecundidade se mantiveram estáveis, o que gerou a intensificação no ritmo de
crescimento do universo populacional; 2) a segunda fase inicia-se quando os níveis de
natalidade mudam a sua tendência e também decrescem, enquanto a mortalidade
reforça a sua queda; 3) por último, natalidade e mortalidade encontram-se em níveis
mais baixos que nunca. A mortalidade mantém-se relativamente estável, enquanto a
fecundidade vai marcando o ritmo de crescimento populacional, que se aproxima de
zero.
Neste modelo não são referidas as influências dos movimentos migratórios
para o crescimento da população ou eventuais impactos na mudança ou retardar do
processo de declínio da fecundidade. Os movimentos migratórios foram vistos como
retardadores do processo de envelhecimento demográfico, mas hoje reconhece-se

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

que esta é apenas uma medida com efeitos de curto e médio prazo, e não se repercute
a nível estrutural. Foi no Reino Unido, França e Países Nórdicos que se iniciou no fim
de Oitocentos a mudança de comportamentos face à mortalidade e fecundidade. Ao
longo do século XX poucos foram os países que conseguiram adiar o inevitável
processo de mudança estrutural da sua mortalidade e fecundidade. Portugal junta-se a
este grupo de inovadores do processo demográfico já tardiamente. Mas no fim do
século XX essas diferenças já não existem.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
BANDEIRA, Mário Leston (2004), Demografia. Objeto. Teorias e Métodos, Lisboa: Escolar
Editora
HENRIQUES, F, RODRIGUES, T. (2009), “O século XX: a transição”, A População Portuguesa. Das
longas permanências à conquista da modernidade, Porto: Afrontamento, pp.417 - 567
RODRIGUES, Teresa (2014), “Demografia”; “Demografia (ramos)”. Enciclopédia das Relações
Internacionais (Nuno Canas Mendes e Francisco Pereira Coutinho eds.). Lisboa: Quid Juris,
pp.132-134 e 134-136
RODRIGUES, Teresa (2018) Demografia Politica e Politicas de Segurança, in MODELOS
PREDITIVOS E SEGURANÇA PÚBLICA (coord. Teresa Rodrigues, Marco Painho), Porto: Fronteira
do Caos, pp,57-81

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

MÓDULO 2: DEMOGRAFIA: DA TEORIA À INTERVENÇÃO

2.1. Teorias sobre a importância do fator humano


O movimento de ideias que percorre a história das populações é diverso na sua
expressão, mas próximo nas suas interrogações essenciais, que giram em torno da
adequação entre volumes de população e recursos naturais e coincidem no
reconhecimento da impossibilidade de encontrar um ótimo de população, mesmo
admitindo que este pode variar de acordo com o estádio de desenvolvimento
económico e social. Com efeito, considera-se impossível definir o ótimo de
povoamento, exceto em regimes de pensamento autoritário (VIDAL 2004). Ao
desenvolvimento dos estudos sobre a forma como os volumes e comportamentos
populacionais condicionavam o desenvolvimento e sucesso das diferentes civilizações
foi dada a designação de história do pensamento demográfico.
Seguem-se, em resumo, as principais fases em que as doutrinas nesta esfera
podem ser vistas. Quem foram e o que defendiam alguns desses pensadores?

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

ANTIGUIDADE CLÁSSICA - PERSPETIVA POLÍTICA E SOCIAL


Na Antiguidade Clássica surgem os primeiros exemplos de formulação teórica
coerente sobre as questões populacionais. Nessas civilizações, e em conformidade
com as teorias então surgidas, o Estado era o decisor em termos de comportamentos
demográficos, intervindo, se necessário, no foro íntimo das famílias. A este propósito
os gregos foram mais originais e elaborados nas suas reflexões que os teorizadores e
responsáveis políticos do Império Romano. Os primeiros sublinham a importância da
estabilidade da cidade, os segundos destacam o contributo do homem para a grandeza
do Império.
Na Grécia antiga a teoria mais interessante baseava-se na defesa das vantagens
de manter os volumes de uma população estacionária, ou seja, um universo onde o
volume total de nascimentos e óbitos fosse constante e idêntico, com ritmos de
crescimento nulos e um número fixo de agregados familiares. O facto da população
final se manter num montante constante e inalterável era por si só um garante de
equilíbrio social, político, económico, bem como de qualidade de vida e bem-estar
coletivo. De acordo com esta teoria, a população ideal das cidades fixava-se em torno
dos 60 mil habitantes, escravos excluídos.
Uma vez definido o volume quantitativo tido como ideal, que é proposto por
PLATÃO (428-347 a.C.), o Estado seria responsável por aumentar ou reduzir os ritmos
de crescimento demográfico, de forma a ajustar a realidade ao modelo teórico e ao
volume de habitantes proposto. Teriam assim de ser considerados dois cenários:
Cenário 1: Necessidade de reduzir o ritmo de crescimento da população, que
poderia ser conseguido de três modos: 1) Atuar sobre os casamentos (definir idades
mínimas de 30 anos para os homens e 18 para as mulheres); 2) Atuar sobre os
nascimentos (restringindo nos primeiros 10 a 14 anos de casamento o período de
procriação dos casais, aceitando a exposição de crianças, o aborto e a cedência dos
descendentes excedentários a famílias sem filhos); e 3) Forçar a emigração dos grupos
considerados em excesso.
Cenário 2: Necessidade de acelerar o ritmo de crescimento: 1) estabelecer
sanções de vária ordem para os celibatários (por exemplo, a capacidade de herdar); 2)

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

criar sanções sobre casais estéreis ou que não desejassem ter filhos; e 3) incentivar a
imigração e facilitar a naturalização de estrangeiros.
Em qualquer dos cenários, o direito à vida deveria ser assegurado apenas aos
belos e saudáveis. Platão defende a exposição ou mesmo a morte das crianças
deficientes, o mesmo acontecendo com outro dos nomes marcantes da teorização
demográfica, entre os quais ARISTÓTELES (384-322 a.C.). Nascido um pouco mais tarde
e também filósofo, Aristóteles defende o conceito da “justa dimensão”, que difere do
preconizado por Platão, na medida em que se preocupa mais com a estabilidade social
e a garantia de bem-estar e não tanto com o propósito de manter fixo o volume
populacional.
No entanto, embora pareçam ter tido sucesso durante um período, estas
propostas foram malsucedidas quando se tornou necessário aumentar a população
das cidades e explica em parte o declínio da civilização grega. Escrevia o historiador
POLÍBIO (201-120 a.C.), no século II a.C: “A Grécia sofre de uma descida de procriação,
de homens...; as pessoas gostam do fausto, dinheiro... que, ou não se casam, ou sendo
casadas não querem família; no máximo duas crianças a fim de as deixar ricas e de as
educar no luxo”. Ciente das dificuldades que resultam deste tipo de comportamentos,
o autor sublinhava mais uma vez a necessidade da intervenção do poder político, no
sentido de impor, se necessário pela força, o aumento da descendência média do povo
grego, para o que previa a necessidade de alterar certas práticas e modos de vida.
E em ROMA? Predominou uma política claramente populacionista,
consubstanciada em legislação pontual. As formulações de índole teórica foram mais
escassas e protagonizadas por militares e juristas, mais do que por teorizadores de
formação filosófica. A manutenção do poder político e administrativo e a gestão dos
territórios do Império Romano explicam o interesse em conhecer os volumes e
características de população, a fim de garantir força humana para os exércitos e a
regular perceção de impostos e as tentativas de contagem foram muitas. Mas a
realização dessas contagens por todo o Império contrastava com a falta de reflexão
teórica, mesmo quando se vivia uma situação de falta de gente, designadamente a
partir do século III.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

A mudança de conjuntura económica e política influenciava o carater mais ou


menos favorável ao aumento da população. O IMPERADOR AUGUSTO terá sido o único
governante a adotar uma política coerente para tentar travar o declínio da população
romana. Adotou para o efeito uma política francamente natalista. Puniu o adultério,
dificultou a capacidade de herdar dos homens com mais de 60 e mulheres com mais
de 50 anos solteiros e dos casais sem filhos. Ao invés, estabeleceu benefícios fiscais
para os casais com mais de três descendentes. Mas essa legislação teve escassos
resultados, num Imperio fustigado pela subida dos níveis de mortalidade e a vitória da
fome, peste e guerra. O aumento dos impostos afetou a qualidade de vida da
população, desencorajando ainda mais a natalidade, num período em que era fácil
comprar escravos adultos, em que se generalizou a limitação voluntária de
nascimentos (práticas contracetivas), e em que o aborto, o infanticídio e o abandono
de crianças permaneceram como práticas sociais aceites e comuns. A consolidação e
agravamento destas formas de comportamento coletivo terão contribuído para a
desarticulação progressiva e a posterior queda do Império Romano.

IDADE MÉDIA - PERSPETIVA MORAL E TEOLÓGICA


A Idade Média encarou as questões da população do ponto de vista teológico e
moral e não do político ou social, como acontecera com os Antigos. A doutrina cristã
repousa em três valores essenciais: 1) O respeito pela vida; 2) O casamento como local
único para a procriação; e 3) A virgindade como valor supremo, embora só para uma
elite, tal como o celibato. Trata-se de um modelo favorável ao crescimento
populacional, embora ninguém se pareça importar com os volumes ou dinâmicas da
população como um todo, mas apenas com o indivíduo, cuja vida é um direito
supremo. A confiança na ordem providencial afastou os Pais da Igreja das
preocupações de tipo económico ou social, mesmo quando fomes imensas e guerras
dizimavam a população.
Neste período histórico destacam-se três pensadores. O mais antigo é SANTO
AGOSTINHO (345-430), que sublinhava a importância dos seguintes aspetos: a)
Respeito pela vida humana individual, em qualquer circunstância; b) Condenação total

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do infanticídio, aborto ou qualquer ação limitativa dos nascimentos; c) Casamento


como último recurso para os mais fracos e que não seria pecado em si, desde que
tivesse como único objetivo a procriação; d) Exaltação da virgindade e da castidade
(“os mais próximos da perfeição não deviam casar”).
Por seu turno, SÃO GREGÓRIO (540-604) apresenta uma teoria muito
semelhante, também ela oposta aos Antigos: nada se pode fazer para aumentar ou
tornar melhor a raça humana. De destacar um certo otimismo demográfico, que nem
os vários cataclismos que assolam as populações fazem alterar: “O futuro do Homem
não lhe pertence, mas a Deus”. Não compete ao homem intervir neste campo.
Nascido num período histórico muito diferente, SÃO TOMÁS DE AQUINO (1235-
1274) defendia uma doutrina mais precisa e menos contraditória, tentando conciliar
Aristóteles com os princípios morais cristãos. Defende três aspetos essenciais: 1)
Casamento como instituição defensável, por ter um caráter sagrado; 2) Condenação do
infanticídio e do aborto; 3) Reconhecimento do valor do celibato apenas religioso. Este
autor defende pela primeira vez a relação entre moral, justiça social e recursos
económicos, sublinhando a forma como estes fatores influenciavam o aumento da
população. O seu pensamento será retomado e desenvolvido pelos escolásticos, que
procuram subordinar a vida económica e social à doutrina cristã, optando, no entanto,
por uma perspetiva algo populacionista: os homens têm direitos e deveres, o trabalho
é um valor digno, o aumento da população um favor divino, o casamento sagrado e o
celibato condenável, à exceção do religioso. Surge deste modo referenciada a ligação,
que no futuro se tornará recorrente, entre população e recursos.

IDADE MODERNA - PERSPETIVA ECONÓMICA E POLÍTICA: MERCANTILISMO E


ARITMÉTICA POLÍTICA. O REGRESSO AO HOMEM COMO MEIO PARA O ESTADO
A Época Moderna é caracterizada pela progressiva emancipação dos
pensadores da população relativamente às doutrinas da Igreja. Os valores económicos
a as decisões políticas sobrepõem-se às religiosas e o objetivo encontrar a maior
harmonia possível entre ordem social e qualidade de vida, numa perspetiva material,
de ordem prática. Globalmente predomina uma atitude populacionista. O Homem é

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

um meio para reforçar o poder do Estado. A sua reprodução e global aumento em


termos quantitativos são encarados como uma forma de riqueza.
A doutrina dominante sobre a população vai confundir-se com um movimento
de ideias políticas e económicas: o mercantilismo. Cultiva-se o ideal de riqueza,
associado à valorização do Estado. No entanto, não existe apenas uma, mas várias
doutrinas, com linhas de força próximas entre si. As doutrinas vivem da apologia da
riqueza do Estado. Um Estado forte será aquele que dispõe de uma população ativa
abundante. Só assim o Estado será rico, em homens e em poder estratégico (muitos
homens eram sinónimo de muitos braços, de muitos impostos e de grandes exércitos
poderosos).
Esta atitude favorável ao maior crescimento possível do número de súbditos é
defendida por pensadores com diversas origens e formações, cujas reflexões serão
retomadas posteriormente e que irão estar na génese do aparecimento da Demografia
como ciência. Não obstante, a grande maioria dos escritos coevos mantêm-se num
plano estritamente teórico e poucos apresentam medidas de índole prática, que
permitam atuar sobre o comportamento das populações.
Em Itália devemos destacar os contributos de três pensadores. Em termos
cronológicos o primeiro é MAQUIAVEL (1467-1527), que discordava de algumas das
ideias defendidas pelo mercantilismo, nomeadamente o princípio de que o Estado é
forte quando favorece o enriquecimento dos cidadãos. Para ele, os homens devem ser
pobres e o Estado rico, embora quanto mais gente existir, melhor.
Por seu turno, BOTERO (1540-1617) considerava que uma população numerosa
deve ser a primeira preocupação do Estado. O aspeto mais inovador da sua doutrina
baseava-se no facto de questionar a relação entre população e recursos. Defendia um
crescimento moderado da primeira, por considerar que só desse modo os recursos
alimentares estariam assegurados e encarava a possibilidade de recorrer à colonização
para garantir esse equilíbrio.
CAMPANELA (1568-1639) retomou a questão da qualidade dos homens,
desenvolvendo ideias que o aproximavam de Platão: “só devem existir relações sexuais
quando se une uma mulher notável pelo seu tamanho e beleza, a homens grandes e

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robustos”. Afirmava a sua perplexidade, ao não compreender como se podia ter tanto
cuidado na melhoria de tantas espécies animais e tanta negligência com a humana.
Em FRANÇA devemos considerar duas correntes. A primeira acérrima
defensora da via populacionista, a segunda mais moderada. BODIN (1530-1596) e
MONTCHRESTIEN (1575-1621) pertencem ao primeiro grupo. As suas doutrinas irão
ser aplicadas, pelo menos parcialmente, por Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV,
entre 1661 e 1683. Para Bodin “não existe maior riqueza que os homens”. Já para
Montchrestien, a questão do número é relativizada pelas competências ou grau de
especialização dos mesmos. Este último defendia que a abundância de homens devia
ser garantida sobretudo para o grupo dos artesãos, os quais na sua perspetiva eram o
motor da riqueza do Estado. Inspirado nestes autores, Colbert foi um dos primeiros
governantes com uma política demográfica consistente, a fim de garantir o aumento
da população necessário ao crescimento económico. Para tanto toma três grandes
medidas: 1) Apoio às famílias numerosas (isenção de impostos para casais jovens,
casais com mais de 12 filhos, pensões para nobres ou burgueses com mais de 10
descendentes); 2) Luta contra a mendicidade, mediante a criação de postos de
trabalho; 3) Criação de estímulos à imigração (facilitando a naturalização de
estrangeiros, concedendo vantagens fiscais para artesãos especializados, dificultando a
saída daqueles que desejavam sair do Reino de França).
VAUBAN (1633-1707) distingue-se na segunda linha de pensadores. Defendia
uma teoria mais racional e a inexistência de uma relação direta entre muita população
e riqueza do Estado. Segundo este autor, “não basta que haja muita gente, é preciso
que sejam felizes, porque gente feliz trabalha mais”. Vauban encontrava no sistema
fiscal o principal entrave à felicidade dos povos, chegando mesmo a propor um sistema
que atenuasse a injustiça. A sua doutrina será desenvolvida no século XVIII.
Durante os séculos da modernidade, a EUROPA CENTRAL estava a perder
população, na sequência de uma enorme instabilidade política e social. Não admira,
pois, que as doutrinas sobre população fossem de pendor populacionista. Quanto mais
gente melhor, para assegurar o desenvolvimento económico e a afirmação do poder
político. LUTERO (séc.XVI), Von SECKENDORFF (séc.XVII), Ernst CALL (sécs.XVII-XVIII) e

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

SONNENFELDS (séc. XVIII) distinguem-se pelas suas reflexões. O primeiro é contra o


celibato e defende o casamento mesmo de eclesiásticos. O segundo é o único a
relacionar população e recursos: “a população só deve crescer até ao possível em
termos dos recursos alimentares de cada região”.
Em INGLATERRA a riqueza de perspetivas conflui num populacionismo
moderado, no qual encontramos duas correntes. A primeira considerava a população
como uma entre outras variáveis da sociedade; a segunda encarava as questões
populacionais como um objeto de estudo em si mesmo, o que a tornava inteiramente
inovadora.
A primeira corrente baseava as suas teorias na necessidade de garantir um
equilíbrio entre aumento populacional e recursos. Nela devemos distinguir as reflexões
de Thomas MORE (1478-1535), que retomou o ideal de uma população estacionária
como garante de harmonia social; de Francis BACON (1561-1626) e de Thomas
HOBBES (1588-1679). Estes pensadores serviram de inspiração a Malthus.
Os nomes que mais se destacam na segunda corrente podem ser vistos como
os fundadores da Demografia, com caráter científico. Referimo-nos aos médicos
William PETTY (1623-1687) e John GRAUNT (1620-1674), bem como ao astrónomo e
matemático Edmund HALLEY (1656-1742). Homens de formação diferente dos que até
então haviam refletido sobre o tema populacional, preocupavam-se com questões
novas. Estudaram as idades e causas de morte nas cidades e nos campos, estimaram a
duração média de vida da população. Petty foi o primeiro a criar uma metodologia que
permitia conhecer o movimento da população. Afirmava a esse respeito, no prefácio
da sua Aritméthica Política: “o método que emprego…consiste em exprimir em termos
numéricos pesos e medidas, em servir-me unicamente dos argumentos dados pelos
sentidos, em considerar exclusivamente as causas que têm bases visíveis na natureza”.

O SÉCULO XVIII. DO POPULACIONISMO AO RECEIO DE SOBREPOVOAMENTO. A


EMERGÊNCIA DAS TEORIAS ECONÓMICO-DEMOGRÁFICAS
O século XVIII nas suas primeiras décadas é marcado pela diminuição
populacional em quase toda a Europa, o que explica o predomínio das teorias

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defensoras do populacionismo. MONTESQUIEU (1689-1755), em França, e WALLACE


(1694-1771), em Inglaterra, são frutos dessa época. O primeiro chegou mesmo a
afirmar que o Universo tendia a despovoar-se desde a Antiguidade. O segundo
defendeu a reforma das instituições como solução para melhorar o destino dos
homens e, assim, criar as condições necessárias ao seu aumento.
Porém, o crescimento populacional progressivamente acelerado que por essa
época se começava a sentir em algumas partes da Europa mudou a forma de olhar a
população. Do otimismo despreocupado, passou-se a uma fase de preocupação.
Thomas MALTHUS (1766-1823), inglês, surge neste período de rápidas transformações.
Inspiram-no as reflexões doutrinárias de QUESNAY (1694-1774); CANTILLON (1680-
1734); MIRABEAU (1715-1789); TOWNSEND (1739-1816) e NECKER (1732-1804), entre
outros. Que pontos fortes devemos destacar na teoria malthusiana a nível doutrinário?
 O número de habitantes tende para um máximo, que é determinado pela
quantidade de alimentos (Townsend);
 Para além dos alimentos, outros fatores (“o modo de vida e os hábitos sociais”)
condicionam o número máximo de habitantes de dada região (Cantillon);
 “O maior bem são os homens e, em seguida, a terra” (linha fisiocrática);
 A teoria de Malthus baseava-se em alguns aspetos globais, de que se destacam:
a sensação de Mundo cheio a curto prazo; a necessidade de travar o crescimento
demográfico; a noção da ineficácia dos remédios adotados (sistemas igualitários,
emigração, lei dos pobres, aumento da produção alimentar);
 Para Malthus “a população cresce em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32...) e
as subsistências crescem em progressão aritmética (1,2,3,4,5,6...)”. Daí decorria um
desfasamento catastrófico entre população e recursos e o colapso das sociedades:
uma população não controlada tenderia a duplicar cada 25 anos (exemplo real da sua
teoria: a população americana). Cabe ao Estado um papel determinante, para impedir
que tal aconteça. Propõe-se um controle coercivo, efetuado em 4 vertentes distintas:
1) A miséria, ou seja, os obstáculos naturais (fazem com que muitos morram
precocemente); 2) O vício, que leva à separação entre sexualidade e procriação; 3) O

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

principio da obrigação moral de limitação do número de filhos por parte dos casais; 4)
O casamento tardio e a abstinência até ao casamento.
Mais do que a originalidade das doutrinas e soluções apontadas, a riqueza do
pensamento deste teorizador reside na forma como soube sintetizar e articular um
conjunto de ideias dispersas, bem como a análise racional que efetuou sobre a
dinâmica das populações, no que anuncia a emergência da Demografia como ciência.
Malthus formulou doutrinas que serão polémicas na época e retomadas
durante os séculos XIX e XX: o neomalthusianismo e o anti malthusianismo.

SÉCULO XIX - A MULTIPLICIDADE DE PERSPETIVAS. A REVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA NA


EUROPA OCIDENTAL. A FAVOR E CONTRA MALTHUS
Os séculos XIX e XX são definidos pelo domínio de teorias científicas muito
diversas entre si.
No decurso de Oitocentos predominam quatro correntes, que se mantêm
ativas no século seguinte e se baseiam nas teorias malthusianas, defendendo-as ou
opondo-se-lhes.

A) Corrente Liberal (sobretudo anglo-saxónica), fortemente inspirada em Malthus,


é pouco otimista e aponta como solução ideal a estabilidade do número de homens e
retoma a noção de ótimo populacional.
CANNAN (1888, Economia Politica Elementar) afirma: “quando a população cresce
crescem os rendimentos, mas quando ela se torna muito grande começam a
decrescer”; “o máximo de produtividade atinge-se mais depressa em populações
agrícolas que nas industriais”; “existe um máximo possível de produção, dependendo
de cada caso e das atividades económicas de dada sociedade”. Ou seja, um ótimo
populacional variável em cada caso, pelo que as políticas a adotar devem ajustar-se às
diferentes realidades.

B) Corrente Socialista, defende que o desequilíbrio entre população e recursos é


uma consequência direta do sistema capitalista e a desigualdade na repartição da
riqueza. Numa sociedade socialista a questão do sobrepovoamento deixa de fazer

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

sentido, porque uma população abundante é uma população feliz. Os problemas a este
nível serão resolvidos graças ao progresso. Os marxistas rejeitam o malthusianismo,
sendo quase sempre populacionistas. Esta filosofia manteve-se no século XX (ex: a
Medalha da Maternidade, o Código Russo do Casamento e Família de 1969…).

C) Corrente Nacionalista ou Religiosa, que compreende duas grandes tendências.


A Católica, que sustenta a atitude populacionista preconizada pela Igreja, baseada nos
valores da família e da propriedade. E a Protestante, mais ligada ao individualismo e
mais liberal, embora também otimista perante as vantagens da existência de uma
população forte.

D) Corrente Científica - Perspetiva diferente, já não doutrinal, mas que procura


causas objetivas para os fenómenos da população.
Herbert SPENCER (1820-1883) considerava que, a longo prazo, o aumento
excessivo de atividade intelectual levaria os homens a não conseguirem reproduzir-se.
Afirmava o seguinte: “As populações crescem segundo duas forças opostas: o
individualismo leva à descida da fecundidade; mudanças de tipo cultural influenciam
também a descida da natalidade. Os homens que trabalham com o intelecto têm
menos filhos”. Outra formulação muito atual é apresentada por Arsène Dumont, ao
defender que o desejo de “capilaridade social” se opunha à fecundidade, sobretudo na
classe burguesa francesa, onde as crianças eram vistas como um entrave ao sucesso
económico e profissional.

SÉCULO XX, REVOLUÇÕES DEMOGRÁFICAS E REFLEXÃO TEÓRICA: UMA LEITURA


RENOVADA E EXTRAEUROPEIA
Novas e rápidas mutações caracterizaram o século XX e passamos da reflexão
sobre os diferentes casos nacionais maioritariamente de matriz europeia para uma
abordagem global. Em matéria de pensamento demográfico, o século XX vive
praticamente da herança do anterior. A nível das ideias encontramos duas grandes
correntes: uma pessimista, que se apoiava nas análises elaboradas por Malthus e que,
em ligação com a teoria da transição demográfica, vai encontrar um novo vigor,

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

considerando a explosão populacional a verificar-se nos países menos desenvolvidos;


outra, mais otimista, que acreditava nas vantagens de uma população numerosa. Entre
ambos, neomalthusianos e anti malthusianos, instaura-se uma querela, onde se
entrecruzam argumentos de ordem económica, demográfica, sociológica e política.
Vejam-se três exemplos de aplicação prática destas diferentes conceções:

1) Regimes totalitários (Alemanha e Itália) defendem o ultra populacionismo, de


forma a preservar e fazer crescer a raça;
2) Códigos de Família são publicados um pouco por toda a Europa, a fim de
defender a sua existência enquanto base estruturante da sociedade (sobretudo nos
países católicos);
3) Os partidários do controle de nascimentos conseguem vitórias em diversas
frentes (nos anos 40 surgem em vários países centros de planeamento familiar).

As grandes mudanças verificam-se a partir de meados do século, no momento


em que o centro de gravidade das doutrinas e políticas demográficas se desloca da
Europa para os continentes onde a população crescia a ritmos cada vez mais intensos e
nunca vistos até à data. Ao mito do mundo vasto, com possibilidades infinitas,
sobrepõe-se, gradualmente, a imagem de um planeta sobrepovoado, cujo futuro se
encontrava ameaçado. As primeiras políticas demográficas sérias surgem em 1948 no
Japão e em 1951 na Índia.
Com efeito, os problemas demográficos tornam-se alvo de novo interesse,
como patenteiam os congressos internacionais dedicados ao estudo da população, os
quais se tornam decenais após 1954. No quadro da ONU, a investigação demográfica
organiza-se sistematicamente desde finais de 1940. Promove-se o intercâmbio com
outros indicadores económicos e sociais; a existência de informação regular sobre cada
país; a criação de centros de estudo em pontos-chave, como Bombaim e Santiago
Chile. O ano de 1948 assinala o início da publicação de um anuário demográfico e de
estatísticas mensais com o movimento da população sobre a maioria da população do
Mundo e aumentava o interesse e os esforços dos vários Estados para conhecerem as
suas populações (através da realização periódica e simultânea de recenseamentos,
inquéritos e estatísticas de movimento fisiológico).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Deste modo, apesar dos diferentes níveis de certeza, é hoje possível traçar as
linhas de tendência do aumento de população no mundo e conhecer as grandes
questões e problemas sociais contemporâneos. Alguns Exemplos:

GRANDES QUESTÕES DEMOGRÁFICAS PROBLEMAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS


Repartição da população no mundo Saúde, velhas e novas doenças
Estrutura da população Crescimento urbano acelerado
Transição demográfica Correntes migratórias internacionais
Envelhecimento População ativa, emprego e formação
Família Nova economia mundial
Equilíbrio ecológico

Na segunda metade do século XX estão criadas as condições para que a


população passe de um estádio de equilíbrio a um outro e essa é a essência dos
problemas e inseguranças, dadas as diferentes cronologias e intensidades com que o
processo decorre nas diferentes partes do Mundo.

2.2. As Políticas Demográficas


A Demografia não é só uma ciência instrumental ou de reflexão e as Políticas
Demográficas representam a sua vertente de intervenção. Elas constituem o campo
mais vasto e inovador ligado à dinâmica das populações e surgem da necessidade dos
responsáveis de resolver determinados problemas sociais. Com efeito, todas as
sociedades têm implícita ou explicitamente uma política demográfica. Só que ela
muitas vezes não obedece a um conjunto de medidas consistentes acompanhadas pela
existência de organismos responsáveis pela coordenação de politicas de família,
planeamento familiar, política de abonos e reformas, construção de estradas, escolas e
hospitais, medidas destinadas a minorias, imigração ou emigração).
Normalmente só quando algum aspeto do crescimento populacional começa a
gerar alguma preocupação (abandono dos campos, envelhecimento das estruturas
etárias, falta de dinheiro para os pensionistas, falta de trabalhadores) é que surge
alguma iniciativa concreta neste campo, vulgarmente associada à promulgação de
determinadas políticas públicas.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Políticas de População e Políticas Sociais confundem-se por vezes. Muitas estão


imbuídas de carga ideológica (religião, racismo, xenofobia, pressupostos morais e
filosóficos), o que dificulta a atuação coerente face às necessidades da população. Pesa
ainda o facto de serem pontuais e setoriais, muito dependentes da conjuntura e nem
sempre com uma visão de médio e longo prazo. Este aspeto é tanto mais importante
quanto se sabe que lidamos com comportamentos que mudam de forma lenta, à
exceção do vetor migratório.
A história das Políticas Demográficas remonta aos anos de 1940, quando alguns
investigadores americanos e escandinavos defenderam que os mecanismos de
transição demográfica em estado puro eram insuficientes para desencadear, em
tempo desejável, a baixa da fecundidade, à época o maior problema à escala mundial.
Tornava-se, portanto, necessário intervir.
Nos EUA a tomada de consciência sobre os problemas decorrentes do aumento
populacional intensifica-se entre até à década de 1960, em torno de duas ordens de
preocupações:
 De ordem geopolítica – o crescimento demasiado rápido da população em
duas regiões essenciais no seu horizonte estratégico (América Latina e Ásia) e
eventual instabilidade política;
 De ordem humanitária – como promover o bem-estar social e o acesso ao
planeamento familiar, considerado como um valor universal (CARMO 2004).

Está aberto caminho para a Era das Conferências de População. Mas antes de
desenvolvermos esta temática, vejamos as origens do pensamento demográfico.
Tal como já verificámos no Módulo anterior, as dinâmicas populacionais têm
apresentado ritmos diferentes em termos cronológicos, bem como uma grande
diversidade geográfica, que se acentuaram a partir de meados do século XX. Enquanto
os PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS evidenciam a tendência para uma manutenção ou mesmo
descida dos seus efetivos populacionais, nos PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS verifica-se
uma situação oposta, ou seja, o seu quantitativo populacional terá um peso cada vez
maior no total da população mundial. São estas diferentes velocidades e dinâmicas de

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

crescimento e seus respetivos impactos que explicam o destaque dado à questão das
políticas demográficas, uma entre muitas políticas passiveis de serem desenvolvidas na
esfera social.
Deste modo, os responsáveis políticos tentam desenvolver políticas
demográficas ou de população que melhor se ajustam às características dos seus
países. Atualmente, e se optarmos por uma visão simples, que divide os países em dois
grupos, de acordo com os seus indicadores de desenvolvimento humano, vemos que a
nível demográfico as maiores preocupações estão neste momento relacionadas com 6
grandes tópicos:

 Dimensão e Crescimento
populacional;
 Estrutura Etária da População;
 Fecundidade e Planeamento familiar;
 Saúde e Mortalidade;
 Distribuição Espacial e Migrações
Internas;
 Migrações Internacionais.

 Dimensão e Crescimento populacional

PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS: Preocupação com o baixo crescimento populacional,


sobretudo porque acompanhado pelo envelhecimento das estruturas etárias.
PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS: Preocupação com o crescimento populacional, com o
mercado de trabalho e com a satisfação das necessidades básicas, designadamente de
alimentos, educação e saúde.

 Estrutura etária

PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS: discutir a necessidade de aumentar a idade da reforma ou


necessidade de eliminar incentivos à reforma antecipada, reduzindo benefícios para os
que optam pela mesma. Encorajar a entrada da mulher no mercado de trabalho e
facilitar a conjugação da vida familiar com a profissional. Adotar políticas de imigração
temporária, como forma de colmatar a falta de população ativa em setores de
atividade económica.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS: fomentar o desenvolvimento, de modo a garantir emprego


e trabalho para todos. Garantir a satisfação das necessidades mais básicas, sem reduzir
os níveis de bem-estar existentes. Providenciar escolas e empregos para os jovens.

 Fecundidade e Planeamento Familiar

PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS: aumentar a natalidade, o que poderá passar por subsídios às
famílias, empréstimos, reestruturação das licenças de maternidade e paternidade,
apoio preferencial a famílias com crianças e Incentivos fiscais. Promover a conciliação
do trabalho com a família e entre os géneros. Flexibilizar horários. Dificultar o acesso
aos métodos modernos de contraceção.
PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS: diminuir a natalidade. Providenciar o acesso a cuidados de
saúde reprodutiva e promover a responsabilização dos homens na mesma. Aumentar a
idade mínima do casamento e os níveis de escolaridade feminina. Promover o
emprego feminino. Desencorajar a preferência do filho único do sexo masculino e
financiar formas seguras de contraceção.

 Saúde e Mortalidade

PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS: aumentar a esperança de vida à nascença e aos 65 anos,


embora no futuro se espere um abrandar no aumento a que este indicador tem sido
sujeito. As maiores preocupações residem na prevenção e tratamento de doenças
cardiovasculares, cancros, infeções respiratórias, Alzheimer, estilos de vida pouco
saudáveis (droga, tabaco, obesidade). Promover o aumento da eficiência do apoio
hospitalar, dada a espectável prevalência de incapacidades e de custos com serviços
para os idosos.
PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS: evitar o abrandamento ou recuo da esperança média de
vida, causada por conflitos políticos, crises económicas e comportamentos pouco
saudáveis. Controlar o ressurgimento de certas doenças infetocontagiosas (malária,
tuberculose, cólera). Atuar preventivamente no âmbito da mortalidade de menores de
5 anos e mortalidade materna, que continua elevada devido a um baixo investimento
no acesso aos cuidados de saúde e falta de profissionais. Combate focalizando na
prevenção e tratamento dos infetados com HIV/Sida.

 Distribuição espacial e migrações internas


Em 1950, 1 em cada 3 pessoas vivia em áreas urbanas, mas hoje mais de metade da
população mundial vive em zonas urbanas. Consequências: Aceleração do
envelhecimento e saída dos mais jovens das zonas rurais. Medidas: Controlo das
migrações internas; Redistribuição das terras e apoio ao desenvolvimento das áreas

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rurais. Nas cidades: criação de infraestruturas e postos de trabalho (preocupação com


a qualidade de vida das populações urbanas).

 Migrações Internacionais
Apresentam vantagens e desvantagens, sobretudo para os PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS:
Remessas; Networking; Acesso à informação; aumento da capacidade de consumo per
capita; Imigração: Trabalhadores altamente qualificados; Trabalhadores não
Qualificados; Trabalhadores temporários; Reagrupamento familiar. Emigração: facilitar
ou dificultar?

IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS DA POPULAÇÃO. Há que garantir uma


monitorização contínua dos efeitos das diferentes medidas tomadas no âmbito das
chamadas políticas da população. Aspetos a ter em conta:
 Adequação dos programas à realidade;
 Compromisso Político de médio-longo prazo;
 Adequados recursos financeiros.
 Respeito pelos valores culturais;
 Associação com Organizações não-governamentais e com a Sociedade Civil;
 Associação com a Comunidade Governamental e com os Doadores;
 Boa governação e a manutenção da Paz e da Segurança.

Podemos definir políticas demográficas ou da população como o conjunto de medidas


tomadas pelas entidades governamentais, de forma direta ou indireta, com o objetivo
de alterar o movimento da população. A alteração do movimento da população pode
ser feita com base nas áreas do processo populacional, ou seja: atuando na natalidade,
na mortalidade e nas migrações (internas ou internacionais). É na área da natalidade
que as políticas da população mais têm incidido, sendo aí que é maior a intervenção
dos responsáveis políticos, secundada pelas questões migratórias.

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Quadro Síntese das Políticas Demográficas ou da População (Diretas)

FONTE: ANTÓNIO, Stella in Problemas Sociais Contemporâneos, 2001, pp.163-184

Políticas demográficas na esfera da Natalidade e Família


As políticas na área da natalidade têm como principal objetivo alterar o
comportamento dos nascimentos, de modo a aumentar, manter ou baixar o seu
número. Assim temos dois tipos de políticas: Políticas Natalistas: visam o aumento da
taxa da natalidade; Políticas Anti natalistas: visam a diminuição da taxa da natalidade.
A tabela esquematiza as atitudes das entidades governamentais face às políticas que
influenciam a fecundidade. Na análise geral dos dados constata-se que a nível mundial
predominam as políticas no sentido de alterar o comportamento da fecundidade para
a baixar, ainda que as regiões mais e menos desenvolvidas tenham comportamentos
diferentes.
Promulgam-se políticas para aumentar a fecundidade nas regiões mais
desenvolvidas como resposta ao facto do Índice Sintético de Fecundidade (ISF, número
médio de filhos por mulher) ser baixo, não permitindo a renovação das gerações e
acentuando assim o envelhecimento demográfico. Situação inversa se regista nos
países menos desenvolvidos, onde os níveis de fecundidade são altos e onde se verifica
uma situação de forte crescimento populacional, com inúmeras consequências a nível
económico e social.

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Alguns exemplos de políticas de família e natalidade

Fonte: Adaptado de WEEKS 1996

São os governos dos países menos desenvolvidos, onde a taxa de fecundidade é mais
elevada, como África, que tomam medidas no sentido de reduzir o número de
nascimentos por mulher. Pelo contrário, existe por parte dos governos das regiões
mais desenvolvidas e com uma baixa taxa da fecundidade (a Europa, por ex.), que
adotam medidas no sentido de aumentar a fecundidade. Contudo, um número
considerável de países (47 no Mundo), 14 nas regiões mais desenvolvidas e 33 nas
menos desenvolvidas, não possuem quaisquer medidas concretas sobre esta matéria.

Adoção de Medidas Natalistas - As medidas adotadas para aumentar os níveis de


natalidade podem ser diretas ou indiretas, designadamente: a) na esfera dos
benefícios fiscais (redução dos impostos às famílias numerosas); b) no setor das
infraestruturas sociais (como a criação de creches, infantários, jardins-escola, escolas,
parques de diversão); c) na área do apoio à maternidade (serviço gratuito de
assistência médica pré e pós parto; consultas gratuitas na especialidade materna e

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infantil, abonos de aleitamento e de abonos de família); d) em termos de legislação


(proibição do aborto, da esterilização masculina e feminina e de campanhas anti
natalistas); e e) no setor laboral (facilitação de horários e atividades às mulheres
grávidas ou com filhos).
França foi o primeiro país europeu a evidenciar uma tendência para a baixa da
natalidade já a partir do século XIX. Em 1868 nasceram 1.034 milhões de crianças, mas
em 1924 apenas 750 milhões, o que resultou numa redução da sua importância
política no contexto regional. Em 1888, a França tinha 30 milhões de habitantes
enquanto a Prússia, o mais poderoso dos estados alemães, tinha 9 milhões; em 1914,
França contava com apenas 39 milhões de habitantes contra os 67 milhões da
Alemanha. Para alguns esta terá sido uma causa que justifica a invasão de França em
1914.
A partir dos anos 20 tomam-se medidas no sentido de promover a natalidade e
adotam-se medidas natalistas. Uma delas foi a lei de 1920, que se manteve em vigor
até 1967 e reprimia o aborto e toda a propaganda anticoncecional; ou ainda o decreto-
lei promulgado em 1939, conhecido como o Código de Família. A partir de 1978, e com
o objetivo de aumentar o número de filhos por casal, surgiu a política do terceiro filho.
Esta política consubstancia-se em regalias, que incluíam benefícios fiscais, aumento de
abonos e facilidades para as famílias com mais de três filhos. Com a sua promulgação
verificou-se que 20% das mulheres tiveram o terceiro filho6. Contrariamente às
expectativas, em que se previa que o índice sintético de fecundidade fosse de apenas
2,01 em 2050, o índice é hoje de 2,1, o que já assegura a substituição das gerações.

Adoção de Políticas Anti Natalistas (ou neomalthusianas)


As medidas adotadas para induzir a diminuição dos valores da natalidade
também podem ser diretas ou indiretas. Veja-se o caso chinês. Em 1949, quando Mao
Tse Tung sobe ao poder, a esperança média de vida dos chineses era de 40 anos, sendo
hoje de 77 anos, o que representa uma quase duplicação. A França precisou de 120
anos para alcançar um resultado idêntico. O aumento da esperança média de vida,
consequência da baixa dos níveis de mortalidade, resultou num acréscimo dos efetivos
populacionais. Em 1956, e face ao acelerado aumento demográfico, as autoridades

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chinesas prepararam um programa de limitação dos nascimentos, essencialmente


baseado no adiamento da idade média à data do casamento, que passou a ser fixada
por lei em 18 anos para as mulheres e em 20 para os homens. Contudo, Mao Tsé-Tung
com a revolução cultural iniciada em 1966 alterou a política de contenção de
nascimentos, com que não concordava, conseguindo desta forma o aumento da
fecundidade e da taxa anual de crescimento. Em 1976, quando morre, a taxa de
crescimento anual da população chinesa era de 2,6%, o que significava uma duplicação
da população cada 27 anos. A partir de 1971 foram tomadas medidas draconianas, no
sentido de alterar estes valores, sendo radicalizada a partir de 1979, com a política do
filho único.
Esta política do filho único consubstanciava-se num certificado que dava acesso
a várias regalias: uma mensalidade correspondente a um décimo do salário, prioridade
nas creches, nas escolas e universidades, acesso a cuidados de saúde e emprego. Em
caso de nascimento de mais um filho a família teria que reembolsar as mensalidades e
perderia todas as regalias. Por seu turno, as famílias com três ou mais filhos eram
penalizadas, sendo retirado um décimo do salário do casal, negado o acesso a
educação gratuita e podendo ser preteridos nas promoções no emprego. A adoção
destas políticas permitiu uma espetacular quebra do número médio de filhos por
mulher, que passou de 5,8 em 1970, para 1,8 em 1999, sendo em 2011 de 1,5. Face ao
esforço desenvolvido para reduzir o crescimento do efetivo populacional, estima-se
que a China deixe de ser em breve o país mais populoso do Mundo, posição que
mantém desde 1950, para ser ultrapassada pela Índia. Neste momento, apesar da
revisão da política do filho único, a China enfrenta já os problemas associados ao
envelhecimento das estruturas etárias

Outros exemplos de políticas: a questão das migrações


Referimo-nos a todas as que alteram o crescimento demográfico sem incidirem
na natalidade. Como vimos em módulos anteriores, o recuo dos níveis de fecundidade
e a descida dos valores de natalidade, a par do aumento da duração média de vida,
conduzem um número crescente de países a uma situação de duplo envelhecimento
das estruturas etárias da população residente. Para minorar os efeitos desse processo

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muitos dos países afetados adotam medidas populacionistas, algumas das quais no
âmbito das políticas da imigração. O aumento dos contingentes migratórios influencia
o volume de população residente, faz aumentar a natalidade, promove o acréscimo da
população ativa e o rejuvenescimento etário, uma vez que os migrantes são
maioritariamente jovens e também por esse facto em média com boa saúde. Acresce a
este facto que muitos provêm de sociedades e culturas com níveis de fecundidade
muito superiores aos do país de acolhimento.
As migrações internacionais têm vindo a polarizar a atenção dos poderes
públicos, mais do que alguma vez o fizeram. Estamos numa fase de reavaliação, mas
prevê-se que no futuro próximo cresça drasticamente a pressão migratória dos países
pobres para os países ricos. Em 2002 (Nações Unidas) mais de 40% dos países possuía
já um conjunto de medidas destinadas a controlar as migrações. No entanto, não
podemos escamotear o efeito da democratização no acesso à informação sobre as
diferentes oportunidades económicas e de acesso a um conjunto de bens que definem
graus de bem-estar (desde a existência de água potável e bom ambiente, ao acesso à
saúde, à educação, a uma casa…), bem como a existência de redes internacionais de
tráfico e transporte de imigrantes.
Estes, entre outros fatores, irão inevitavelmente fazer aumentar o conjunto de
medidas restritivas, impostas pelos responsáveis políticos dos países mais
desenvolvidos e mesmo daqueles que, embora não muito desenvolvidos, sentem uma
forte pressão de outros vizinhos ainda mais pobres, como sucede no continente
asiático e em menor escala na América Latina e África. Fazem-no através de legislação,
que tenta regulamentar vários aspetos da relação Estrangeiros/Estado:
 ENTRADA (quem pode entrar);
 PERMANÊNCIA (quem pode permanecer?);
 AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE (quem pode pertencer ao todo nacional?);
 EXPULSÃO
Além destes aspetos, dois tipos de questões emergem em todas as políticas
migratórias: 1) quanto pode cada país receber; e 2) qual deve ser o seu perfil. As
hesitações decorrem da necessidade de atender à opinião pública. Os responsáveis
políticos debatem-se entre os receios da sua população residente face ao aumento do

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desemprego e à concorrência do recém-chegado e com a pressão inevitável quando se


der a retoma económica mundial e surgirem problemas de falta de mão-de-obra,
agravadas pelo acentuar do envelhecimento demográfico.
A este respeito, vários são os posicionamentos:
1° Os países criados por imigrantes (EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia), adotaram políticas
favoráveis à imigração, tendo em vista a construção da nação e o respetivo desenvolvimento
económico e humano.
2° Na Europa as questões migratórias foram encaradas de forma mais restritiva: a) as nações
europeias consideravam-se acabadas e com um número ótimo de população residente; b) a
imigração não tinha lugar na perceção da identidade nacional; c) a uma imigração em grande
escala era preferida a livre circulação de trabalhadores no espaço europeu, partindo do
princípio que estes indivíduos provinham de países de comparável desenvolvimento; e d) a
opinião pública mostrava-se avessa à continuação dos fluxos imigratórios dos países menos
desenvolvidos, agravados pelo número crescente de pedidos de asilo e de clandestinos.
3° Durante um longo período, o Japão foi o único país industrializado que se opôs a qualquer
tipo de movimento migratório, tendo conseguido manter com alguma dificuldade uma política
de forte controle fronteiriço.
Não obstante, quase todos se tornaram zonas de imigração. O Departamento
da População das Nações Unidas realizou um estudo prospetivo para vários países da
UE (ONU 2001), no sentido de apurar quais os quantitativos de imigrantes necessários,
no horizonte dos próximos cinquenta anos, para garantir a manutenção dos volumes
demográficos, da população ativa e dos ratios entre jovens e idosos. Embora o estudo
se baseie nos valores de 1995, os resultados são curiosos, embora preocupantes e algo
controversos. De acordo com aquele organismo internacional, para que fosse possível
encarar com algum otimismo o futuro da população europeia, os volumes imigratórios
teriam de aumentar de forma significativa. Em alguns casos seriam necessários níveis
três vezes superiores aos do final do século XX.

Imigração necessária para evitar a diminuição da população da UE (2000-2050)


Imigrantes Imigrantes/ano necessários para manter:
Países 1995 População 1995 Pop.Ativa 1995 Ratio act/inativos
(milh) Total Múltiplo Total Múltiplo Total Múltiplo
União Europeia 270 949 4 1588 6 13480 50
- 4 maiores: 237 677 3 1093 5 8884 37
Alemanha 204 344 2 487 2 3630 18
França 7 29 4 109 16 1792 256
Itália 6 251 42 372 62 2.268 378
Reino Unido 20 53 3 125 6 1.194 60
- 11 outros países 33 272 8 495 15 4.596 139
Estados Unidos 760 128 0 359 0 11.851 16
Fonte: ONU 2001

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2.3. As Conferências Mundiais sobre população


À medida que avança o século XX, a reflexão sobre políticas de população deixa
de ser feita nos quadros nacionais. As Nações Unidas tomaram a liderança deste
processo, promovendo encontros mundiais, que se tornam periódicos e forçosamente
politizados após 1974. No centro das preocupações, a tomada de medidas para
estabelecer políticas de regulação do aumento da população no Mundo.
A divisão bipolar do Mundo (capitalista/marxista) travou essa tomada de
posição, mesmo quando se fazia já sentir o afluxo demasiado intenso de crianças nos
sistemas escolares e de saúde dos países pobres. Com o tempo amadureceu também a
discussão sobre estas temáticas. Hoje, o aumento da população e o afluxo das maiores
gerações de sempre a diferentes patamares do aparelho institucional (sistema escolar,
mercado de trabalho, habitação, rede de transportes, etc) são vistos como um desafio
e um obstáculo difícil de solucionar, sobretudo em contextos de Desenvolvimento
Humano baixo e recursos financeiros escassos.
A imensa maioria dos governos percebeu que a regulação dos nascimentos é
necessária ao desenvolvimento. Mas o seu empenhamento não seria suficiente sem a
existência de um suporte ou estímulo da opinião pública mundial, fortemente
mobilizada em torno desta questão, como em relação a outras (ambiente, condição
feminina, direitos do homem…), que nos surgem por intermédio das ONG’s, dos media
e das organizações internacionais.
Se todas estas questões têm vindo a ser analisadas desde meados de 1950, só
na década de 1970 se iniciaram as Conferências sobre a população, onde foi possível
colocar à mesma mesa representantes dos estados, membros da ONU e alguns
convidados. Do reconhecimento das diferentes situações demográficas a nível
mundial, surgiu a preocupação de se discutirem as questões relacionadas com o
crescimento demográfico, a mortalidade, as migrações e a tomada de medidas, no
sentido de melhor se solucionarem vários problemas à escala global. Com esse
propósito foram organizadas, até hoje, três conferências oficiais sobre a população: 1)
Conferência Mundial de Bucareste, 1974 (Plano de Ação Mundial da População); 2)
Conferência Internacional sobre a População no México, 1984 (Conferência

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Internacional sobre a População); e 3) Conferência Internacional sobre a População e


Desenvolvimento do Cairo, 1994 (Conferência Internacional sobre a População e
Desenvolvimento).
Estas conferências foram antecedidas pela realização de uma conferência em
Roma em 1954 e outra em Belgrado em 1965. As três conferências mundiais partem
da premissa de que o crescimento da população é um potencial obstáculo ao
desenvolvimento económico e que o bem-estar das populações passa por uma
estratégia de limitação do crescimento demográfico. Nem todos os países estão de
acordo com esta estratégia, existindo mesmo duas posições contrárias. Uma que
integra os países mais desenvolvidos, a qual defende o crescimento da população
como um fator de bloqueio, e outra, onde se incluem os países menos desenvolvidos,
que consideram o crescimento da população como um motor para o desenvolvimento.
Nas três conferências foi sempre defendida, por CONSENSO, a prioridade a dar à
redução da mortalidade, ainda que o seu decréscimo provoque uma maior pressão
demográfica. No que diz respeito às migrações, defende-se que deverão ser
controladas, embora sejam escassas as medidas específicas neste domínio.
Comparativamente com as outras duas conferências, a CONFERÊNCIA DO CAIRO
introduziu uma nova ênfase no programa de ação mundial: a importância social
atribuída às mulheres e aos direitos da saúde reprodutiva. Reconheceu que satisfazer
as necessidades em matéria de saúde reprodutiva implicar fornecer uma grande
diversidade de serviços, nomeadamente o planeamento familiar, e ao mesmo tempo
tomar medidas para garantir os direitos, informar e dar capacidade de agir às mulheres
em todos os aspetos da sua vida, promovendo também a participação dos homens
como parceiros capazes de dar apoio.
O problema do crescimento demográfico foi suscitado na CONFERÊNCIA DE

BUCARESTE, de 1974. Esta conferência foi precedida pela grande polémica que gerou a
difusão do estudo intitulado The Limits to Growth em 1972, elaborado no
Massachusetts Institute of Tecnology e encomendado pelo Clube de Roma. Este último
foi criado em 1968 em Roma e tinha como objetivo congregar espíritos interessados
nos problemas do mundo contemporâneo das mais diversas áreas (administradores,

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engenheiros, economistas, cientistas, e outras pessoas de formação diversa e de


diferentes nacionalidades). O estudo que em 1972 encomendou ao MIT, The Limits to
Growth, analisa as relações de interdependência entre a explosão demográfica e a
ameaça do esgotamento dos recursos naturais; a poluição derivada do crescimento da
indústria, etc. Partiu do pressuposto de que os fenómenos (crescimento económico,
populacional e resíduos) estavam determinados por leis de crescimento exponencial
que por se desenvolverem num espaço finito tarde ou cedo encontrariam resistências
intransponíveis, o que poderia vir a desembocar numa catástrofe. O estudo assenta
em dados numéricos, na análise dos modelos de produção e consumo e em
estimativas das reservas globais de recursos naturais não renováveis (alumínio, carvão,
gás natural, petróleo, etc.).

A CONFERÊNCIA DE BUCARESTE, 1974


As Conferências de Roma (1954) e de Belgrado (1965) representam, no âmbito
das Nações Unidas, a continuação de congressos internacionais de especialistas em
Demografia realizados antes da II Grande Guerra Mundial. Por seu turno, a
Conferência de Bucareste realizada em 1974 distingue-se das anteriores porque as
intervenções foram feitas por governantes ou pelos seus representantes e não por
especialistas a título individual. A conferência foi marcada por 3 correntes de
pensamento:
1. A explosão demográfica dos países subdesenvolvidos exigia a contenção
imediata do número de nascimentos (EUA, Escandinávia, RU, Paquistão, Irão, Filipinas,
Japão);
2. A necessidade de proteção da família, uma vez que a ênfase anterior pode
conduzir a abusos condenáveis. Alguns países podiam conter maiores populações do
que as atuais (Argentina, Brasil, América do Sul, África e Ásia.);
3. A posição da República Popular da China e de alguns países
subdesenvolvidos, que enfatizaram o facto da contenção de nascimentos ser uma
expressão do imperialismo das economias industriais.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

O Plano de Ação Mundial apresentado não foi vinculativo, considerando que os


países permaneceriam soberanos na aplicação das suas políticas, de acordo com os
objetivos nacionais. Mas o Plano representou a visão internacional sobre as políticas
demográficas que os governos poderiam adotar como guia nas suas deliberações. A
redação do plano regeu-se por dois conjuntos de ideias: 1) posição do bloco soviético,
segundo a qual deveriam ser modificadas as estruturas económicas e sociais, de modo
a permitir um maior equilíbrio entre o crescimento demográfico e as possibilidades das
economias; 2) posição da Europa, América do Sul, África e Ásia, para quem o
planeamento familiar deveria ser acompanhado de um esforço de desenvolvimento
económico e de promoção social, fator que conduziria por si mesmo à redução da
natalidade. As recomendações do Plano foram:

a) O fim principal do desenvolvimento social, económico e cultural, de que os objetivos


e políticas demográficas são parte integrante, era a melhoria do nível de vida e da qualidade
das pessoas;
b) Não poderia ter-se um verdadeiro desenvolvimento sem a independência e a
libertação nacionais;
c) Os fenómenos demográficos e o desenvolvimento estavam interligados: as variáveis
demográficas influenciam os fatores do desenvolvimento e também são influenciadas por eles;
d) As políticas demográficas eram elementos constitutivos das políticas de
desenvolvimento social e económico, não um meio de as substituir;
e) Independentemente da realização dos objetivos económicos e sociais, o respeito
pela vida humana constitui um valor fundamental de toda a sociedade humana;
f) Todos os casais e indivíduos têm o direito fundamental de decidir livremente e com
toda a responsabilidade do número dos seus filhos e do escalonamento dos nascimentos, de
estarem suficientemente informados e instruídos sobre essas questões e de beneficiarem de
serviços adequados a tal respeito;
g) A família era a unidade fundamental da sociedade e como tal deveria ser protegida
por leis e políticas apropriadas;
h) As mulheres tinham direito à completa integração no processo de desenvolvimento,
em particular por via de uma igual participação na vida educacional, social, económica, cultural
e política;
i) As recomendações enunciadas neste Plano de Ação a respeito das políticas relativas
aos problemas demográficos deveriam ter em conta a diversidade das condições existentes no
seio dos diversos países, e de um país para o outro;
j) Os objetivos e políticas demográficas de cada país devem ser elaborados tendo em
conta, entre outros fatores económicos e sociais, as disponibilidades e características dos
recursos naturais e a qualidade do meio ambiente e, em particular, todos os aspetos do
abastecimento alimentar, incluindo a produtividade das áreas rurais;

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

k) A crescente interdependência entre os vários países tornava cada vez mais


necessário adotar medidas de nível internacional para a solução dos problemas de
desenvolvimento e dos problemas demográficos;
l) O Plano de Ação deveria ser suficientemente flexível para se adaptar às
consequências de rápidas mudanças demográficas, sociais e evolução dos comportamentos
humanos, das atitudes e dos valores;
m) Os objetivos do Plano de Ação deveriam ser conformes com os fins e os princípios
da Carta das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos do homem e com os
objetivos da segunda Década das Nações Unidas para o desenvolvimento.

A CONFERÊNCIA DO MÉXICO, 1984


A Conferência do México decorreu num contexto internacional em
transformação, em que se destacava a diminuição ligeira da taxa de crescimento, a
redução da mortalidade e o aumento da esperança média de vida, a baixa gradual da
fecundidade e o reconhecimento da necessidade de contenção dos nascimentos.
Quanto às correntes predominantes foi possível rever algumas das teses sobre a
população, nomeadamente:

 A menor recetividade às afirmações extremistas sobre os malefícios do


crescimento demográfico;
 A redução drástica do financiamento a programas de planeamento
familiar (nos EUA, sob a administração Reagan) que se socorram do aborto e
esterilização;
 A moderação e defesa da liberdade de escolha no planeamento familiar;
 A interligação entre desenvolvimento socioeconómico, população e
ambiente;
 O processo de afirmação da tese que o controlo do crescimento é
condição de desenvolvimento económico.
O Plano de Ação resultante da Conferência visou:

1. A condição da mulher - Assunção de maior responsabilidade pelas suas vidas


reprodutivas; Convenção Relativa à Eliminação de todas as formas de discriminação.
2. As recomendações sobre migrações - Respeito pelos direitos fundamentais dos
migrantes. Os governos deveriam ter em conta “o bem-estar dos migrantes e das suas famílias
e as implicações demográficas da migração, designadamente as junções de famílias”; respeito
pela identidade cultural dos migrantes.
3. Envelhecimento Populacional - Quantitativo cada vez maior dos indivíduos com 65 e
mais anos nos países mais desenvolvidos tornava necessário pensar-se em questões como: i)
Preservação dos sistemas de apoio na doença e na velhice; ii) Acompanhamento dos mais
velhos, para os que não têm família ou tendo-a não poderão dar o apoio necessário. Para os

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indivíduos entre os 65 e os 75 anos de idade, dever-se-á: i) encontrar forma de os manter


ativos, preservando a sua integração na comunidade a que pertencem; ii). Permitindo-lhes, ao
mesmo tempo, contribuir com a sua experiência e esforço para o funcionamento normal da
economia e da sociedade.
4. Aumento da população urbana - Originava problemas que se colocam à
multiplicidade das cidades com milhões de habitantes, na sua grande maioria em países pouco
desenvolvidos (Ásia, África e América Latina) sem capacidade para acomodar todos os que ali
chegam. Daí: i) Adoção de políticas relativas à redistribuição da população; ii) Ações de
esclarecimento aos migrantes internos, para evitar o excesso de afluência aos centros urbanos;
iii) Adoção de políticas para auxiliarem as mulheres migrantes e, para os que ficam nas zonas
rurais, mulheres, criança se velhos.

A CONFERÊNCIA DO CAIRO, 1994


Traduziu-se na maior conferência jamais realizada, com a participação de 180
países e 11.000 representantes (Governos; Agências especializadas das Nações Unidas
Organizações intergovernamentais; Organizações não governamentais). O Plano de
Ação apresentado visava a sua implementação ao longo dos 20 anos seguintes, daí que
seja possível encontrar, posteriormente, relatórios intercalares de avaliação. O Plano
foi ainda formulado com uma nova estratégia, que visava estreitar a relação entre
população e desenvolvimento. Do mesmo modo contemplava:

a) a satisfação das necessidades individuais das mulheres e dos homens (e não tanto o
alcance de objetivos demográficos);
b) uma maior autonomia às mulheres e mais oportunidades de escolhas (melhoria da
educação e serviços de saúde, desenvolvimento das suas capacidades de emprego,
completo envolvimento na política e nos processos de tomada de decisão a todos os
níveis);
c) um reconhecimento da necessidade de dar poder às mulheres;
d) tornar até 2015 o planeamento familiar disponível de forma universal, como parte
integrante do acesso alargado aos direitos e à saúde reprodutiva.
Assim, o Plano de ação estabeleceu estimativas sobre os níveis de recursos
nacionais e os montantes da assistência internacional necessários para conseguir
atingir os objetivos e delegou nos Estados a tarefa de incluir os fatores populacionais
nas estratégias de desenvolvimento e agir para eliminar a violência baseada no género
e em práticas tradicionais nocivas, incluindo a mutilação genital feminina. Principais
objetivos:

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1. Acesso universal à educação: garantir a educação primária em todos os


países em 2015 e assegurar o acesso mais amplo e mais rápido possível às raparigas e
mulheres);
2. Redução da mortalidade infantil: até 2015 todos os países devem atingir
taxas de mortalidade inferiores a 35‰. Países que tenham atingido estes níveis devem
esforçar-se por prosseguir a sua diminuição;
3. Redução da mortalidade materna: os países com maiores níveis de
morbilidade devem atingir até 2015 uma taxa de morbilidade materna de 75 por
100.000 nados-vivos;
4. Acesso a serviços de saúde sexual reprodutiva, incluindo planeamento
familiar: os países devem esforçar-se para disponibilizar antes de 2015 serviços
primários de cuidados de saúde e saúde reprodutiva a todos os indivíduos.

Os 15 Princípios da Conferência:

1) Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.


2) Os seres humanos estão no centro das preocupações relativas ao
desenvolvimento duradouro.
3) O direito ao desenvolvimento é um direito universal e inalienável que é parte
integrante dos direitos fundamentais do homem, e a pessoa humana é o sujeito
central do desenvolvimento.
4) Promover a igualdade e equidade entre os sexos e a autonomização
(empowerment) das mulheres e a eliminação de todas as formas de violência contra as
mulheres, e velar porque as mulheres tenham os meios de controlarem a sua própria
fecundidade são elementos capitais dos programas relativos à população e ao
desenvolvimento.
5) Os objetivos e as políticas relativas à população são parte integrante do
desenvolvimento cultural, económico e social, com vista a melhorar a qualidade de
vida coletiva.
6) O desenvolvimento duradouro, como meio de garantir o bem-estar humano,
equitativamente repartido entre todos hoje e no futuro, requer que as interligações
entre a população, os recursos, o ambiente e o desenvolvimento, sejam plenamente
reconhecidos, corretamente geridos e equilibrados de modo harmonioso e dinâmico.
7) Todos os estados e todos os povos devem cooperar na tarefa essencial de
eliminação da pobreza como requisito indispensável para o desenvolvimento
duradouro, a fim de reduzir as diferenças de nível de vida e melhor corresponder às
necessidades da maioria da população mundial.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

8) Todos têm direito a usufruir do mais alto nível de saúde física e mental
atingível
9) A família é a unidade base da sociedade e como tal deveria ser reforçada
10) Todos têm direito à educação, que deve ser orientada para o pleno
desenvolvimento dos recursos humanos, e da dignidade e potencial da pessoa
humana, com atenção particular às mulheres e às crianças do sexo feminino.
11) Todos os Estados e todas as famílias deveriam atribuir a mais alta
prioridade possível às crianças.
12) Os países que acolham migrantes em situação regular deveriam
proporcionar-lhes, bem como às suas famílias tratamento apropriado e serviços sociais
adequados e garantir a sua proteção física e segurança.
13) Todos têm direito a procurar e usufruir em outros países de asilo contra as
perseguições.
14) Ao considerarem as necessidades dos povos indígenas em matéria de
população e desenvolvimento, os Estados devem reconhecer e proteger a sua
identidade, cultura e interesses e habilitá-los a participar completamente na vida
económica, política e social do país, particularmente naquilo que afete a sua saúde,
educação e bem-estar.
15) O crescimento económico sustentado e o progresso social requerem que o
crescimento tenha uma base social ampla, oferecendo oportunidades iguais a todos.

A periodicidade mantém-se nestes três eventos e o mesmo sucede com a


questão central: Será necessário atuar primeiro sobre a população ou sobre as formas
de desenvolvimento? Só em 1994 se chegou a um consenso: é necessário controlar o
crescimento demográfico, seja qual for o nível de desenvolvimento económico e social.
No entanto, a repetição dos temas em debate nas várias conferências testemunha até
certo ponto a ineficácia ou desfasamento entre os propósitos teóricos e a prática. As
atenções concentram-se em 5 temas básicos, repetidos sucessivamente:
 papel da educação
 lugar da mulher na sociedade e mercado de trabalho
 condições gerais de saúde
 hesitações migratórias
 problemas da urbanização.
Para muitos a Conferência do Cairo foi politicamente correta e pouco ousada.
Em 1999 as Nações Unidas adotam 91 novas recomendações, em torno da educação

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feminina, mortalidade materna e contraceção. Em 2002 a Cimeira de Joanesburgo


recentra a questão demográfica em torno da mundialização do fenómeno do
envelhecimento e dos desafios do Desenvolvimento Sustentável. Em 2005 os
Millenium Development Goals estabelecem um plano de ação prospetivo (2005-2015):
“que o crescimento económico suporte o progresso social no respeito pelo ambiente”.
Outras conferências setoriais, mas com os mesmos propósitos, foram realizadas
sob o chapéu da UNPFA. Caso da Cimeira Mundial sobre a Criança (Nova Iorque 1990),
da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro
1992), da Conferência Mundial sobre Nutrição (Roma 1992), da Conferência Mundial
sobre Direitos Humanos (Viena 1993).
Em novembro de 2019 celebraram-se em Nairobi os 25 anos da realização da
Conferência do Cairo. Dois meses antes, no dia Mundial da População, António
Guterres dizia: “A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é o modelo
mundial para um futuro melhor para todos, num planeta saudável. Conseguir esse
futuro está estreitamente relacionada com as tendências demográficas, incluindo o
crescimento populacional, o envelhecimento, a migração e a urbanização. Enquanto a
população mundial, em geral, continua a aumentar, o seu crescimento é desigual. Para
muitas pessoas dos países menos desenvolvidos, os desafios para o desenvolvimento
sustentável são agravados pelo rápido crescimento populacional e pela vulnerabilidade
às alterações climáticas. Outros países enfrentam o desafio do envelhecimento da sua
população, bem como a necessidade de promover um envelhecimento ativo e saudável
e fornecer proteção social adequada. À medida que o mundo continua a urbanizar-se,
estima-se que 68% da população mundial viva em áreas urbanas até 2050, o
desenvolvimento sustentável e as alterações climáticas dependerão cada vez mais da
boa gestão do crescimento urbano.
Ao gerir essas tendências populacionais, devemos também reconhecer a relação
entre população, desenvolvimento e bem-estar individual. Há vinte e cinco anos, na
Conferência Internacional do Cairo sobre População e Desenvolvimento (ICPD), os
líderes mundiais explicaram os vínculos entre a população, o desenvolvimento e os
direitos humanos, incluindo os direitos reprodutivos. Eles também reconheceram que

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promover a igualdade de género é o caminho a seguir e um dos mais adequados para o


desenvolvimento sustentável e para a melhoria do bem-estar de todos.”
De 12 a 14 de novembro realizou-se a Conferência Internacional de População
e Desenvolvimento (CIPD25), em Nairobi, no Quénia, uma conferência de Alto Nível
que visou mobilizar a vontade política e os compromissos financeiros necessários para
implementar o Programa de Ação da ICPD. Mais de 160 países estiveram
representados. O mote da conferência foi o de acelerar a Igualdade no mundo. Os
principais temas abordados foram:

 Acesso universal à saúde e aos direitos sexuais e reprodutivos, como parte da


cobertura universal de saúde.
 Financiamento necessário para concluir o Programa de Ação da ICPD e para
sustentar os ganhos obtidos.
 A diversidade demográfica para impulsionar o crescimento económico e
alcançar o desenvolvimento sustentável.
 Erradicar a violência de género.
 Defender o direito à saúde sexual e reprodutiva, sobretudo em contextos
humanitários e frágeis.

Foi ainda sublinhado que a Igualdade de Género, a liderança juvenil, a liderança


política e comunitária, a inovação e as parcerias constituem o motor para que tenha
lugar um efetivo progresso. Nairobi representa a visão renovada dos compromissos
assumidos em 1994.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
CARMO, Hermano (Coord.) (2001), Problemas Sociais Contemporâneos, Lisboa: Universidade
Aberta, pp.163-184
PAQUY, Lucie (2004), European Social Protection. Systems in Perspetive, Compostela:
Compostela Group of Universities
RODRIGUES, Teresa (2018) Demografia Politica e Politicas de Segurança, in MODELOS
PREDITIVOS E SEGURANÇA PÚBLICA (coord. Teresa Rodrigues, Marco Painho), Porto: Fronteira
do Caos, pp,57-81
ROUSSEL, André (1979), Histoire des Doctrines Démographiques Illustrée par les Textes, Paris :
Nathan
VIDAL, Annie (1994), La Pensée Démographique, Grenoble : PUG

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MÓDULO 3: TEORIA E PRÁTICA: A DINÂMICA POPULACIONAL


Como se constrói a investigação nestas áreas? A Demografia tem como objeto
o estudo científico da população tendo em conta vários parâmetros de análise:
a. Estuda conjuntos de pessoas e não pessoas isoladas;
b. Preocupa-se com aspetos estáticos, mas também com os dinâmicos;
c. Analisa os fatores responsáveis pelas mudanças ocorridas no estado da
população;
d. Estuda as ligações existentes entre as diferentes variáveis demográficas;
e. Preocupa-se com as causas e as consequências da evolução do sistema
demográfico (NAZARETH 2004: 66-69).
Os quatro primeiros aspetos permitem analisar os modelos de funcionamento
das populações humanas (Análise Demográfica), e o último abre para as lógicas de
conhecimento não exclusivamente demográficas.

A METODOLOGIA DA ANÁLISE DEMOGRÁFICA

FONTE: Elaboração própria.

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1. Existe uma primeira fase de análise macro, que compreende a formulação da


questão de partida, feita com base na análise dos aspetos globais da população:
quantos são, qual o seu ritmo de crescimento, quais as formas de distribuição
no território, como são em termos de estruturas por sexo e idade.
2. A etapa seguinte inclui a exploração das fontes e a análise da sua qualidade,
sem a qual será impossível validar futuras conclusões.
3. Terminado este ponto de situação entramos na terceira etapa, que consiste na
“forma de ver” as populações. Pressupõe algum conhecimento dos princípios
de análise demográfica (geração, longitudinal, horizontal…).
4. A partir deste ponto pode haver uma especialização no que respeita às
variáveis micro demográficas mortalidade, fecundidade e movimentos
migratórios. Ao nosso estudo pode apenas interessar uma dessas variáveis,
duas ou todas.
5. Na última etapa regressamos à ótica macro e de novo a uma perspetiva global e
com interrogações. É chegado o momento de incluir fatores não
exclusivamente demográficos.

3.1. Volumes e Ritmos de Crescimento


Quando dispomos de informações sobre o volume total de uma mesma população em
diferentes datas ao longo do tempo, a primeira análise que por norma se efetua
consiste no cálculo do ritmo de crescimento. Esse ritmo de crescimento deve
proporcionar um resultado anual médio, de modo a ser possível comparar períodos de
diferente amplitude.

Ritmos de Crescimento
Uma população no momento 0 (ou momento de inicio de análise) é P0, no
momento 1 é P1, no momento 2 é P2…, no momento n é Pn (ou momento de fim de
análise). Entre o momento de inicio e de fim de análise (de P0 a Pn) a população cresce
a uma taxa (identificada na fórmula como a). Para se medir o ritmo de crescimento de
uma população existem três processos: o contínuo, o aritmético e o geométrico.

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Ritmo de Crescimento Contínuo


P n = Po e an (e = 2,718282)
In . Pn / Po = an
a = In . (Pn / Po)/ n

Ritmo de Crescimento Aritmético


a = P n - Po / P o x n

Ritmo de Crescimento Geométrico


P n = Po (1 + a )n
log Pn / Po = n log (1 + a)

1º Problema: entre 1970 e 1980 a América do Norte passou de 228 para 247 milhões de
habitantes. Qual foi o ritmo de crescimento nesses 10 anos?
Contínuo Aritmético Geométrico
a = In (Pn / Po) / n a = P n - Po / P o x n log Pn / Po = n log (1 + a)
a = In (247 / 228)/10 a = 247 – 228 / 228 x 10 log 247/228 = 10 log (1+a)
a = In 1,08333 /10 a = 19 / 2280 log 1,08333 = 10 log (1+a)
a = 0,00800 = 0,80% a = 0,00833 = 0,83% 0,03476 = 10 log (1+a)
0,00348 = log (1+a)
1,00805 = 1 + a
a = 0,00805 = 0,81%
Resposta: No período considerado, por cada ano e por cada 100 pessoas, a população da América do
Norte aumentou 0,81.

2º Problema: A população portuguesa era em 1821 de 3276203 indivíduos e em 1835 possuía


3371704. Qual o ritmo de crescimento nesses 14 anos?
Contínuo Aritmético Geométrico
a = In (Pn / Po) / n a = P n - Po / P o x n log Pn / Po = n log (1 + a)
a = In (3371704/3276203)/14 a = 3371704 – 3276203 / log 3371704/3276203 = 14 log
a = In 1,02915 /14 3276203 x 14 (1+a)
a = 0,02873 /14 a = 95501 / 45866842 log 1,02915 = 14 log (1+a)
a = 0,00205 = 0,21% a = 0,0020821 = 0,21% 0,01248 = 14 log (1+a)
0,00089 = log (1+a)
1,00205 = 1 + a
a = 0,00205 = 0,21%
Resposta: No período considerado, por cada ano e por cada 100 pessoas, a população portuguesa
aumentou 0,21.

Nesta disciplina adotamos somente o cálculo do ritmo de crescimento geométrico,


porque só ele nos permite fazer alguns cálculos adicionais importantes, como sejam:

 Calcular o tempo de duplicação em anos;

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 Calcular a taxa de variação;


 Fazer análises regressivas sumárias;
 Fazer análises prospetivas sumárias.

Tempo de Duplicação em Anos


Partindo do pressuposto que a é uma taxa de crescimento constante, pretende-
se saber ao fim de quantos anos (n) duplicará a população?
2 Po = Po (1 + a )n
2 = (1 + a )n ou log = n log (1 + a)
n = log 2 / log (1 + a)
Relativo ao 1º Problema Relativo ao 2º Problema
n = log 2 / log (1 + a ) n = log 2 / log (1 + a )
n = 0,30103 / log (1 + 0,00805) n = 0,30103 / log (1 + 0,0020545)
n = 0,30103 / 0,0034821 n = 0,30103 / 0,0008894
n = 86,450705 n = 338,46413
n = 87 anos n = 339 anos

R: A população da América do Norte duplicaria ao R: A população portuguesa duplicaria ao fim de


fim de 87 anos, caso se tivesse mantido o ritmo de 339 anos, caso se tivesse mantido o ritmo de
crescimento verificado entre 1970 e 1980. crescimento verificado entre 1821 e 1835.

Taxa de Variação
É utilizada para medir crescimentos totais (positivos ou negativos) entre anos
limite. Trata-se de um cálculo adequado quando só queremos saber o aumento ou
redução observada entre 2 datas (2 recenseamentos ou contagem geral de
população). A leitura é também diferente das taxas de crescimento anual médio,
porque ficamos a saber o aumento total e não um valor anual médio de crescimento
ou redução entre os 2 anos de referência inicial e final.
a = (Pn - Po ) / Po x 100

Relativo ao 1º Problema Relativo ao 2º Problema


a = (247-228 / 228) x 100 a = (3371704- 3276203 / 3276203) x 100
a = (19 / 228) x 100 a = (95501 / 3276203) x 100
a = 8,3% a = 2,9%
R: Em 10 anos a população da América do Norte R: Em 14 anos a população portuguesa aumentou
aumentou 8,3% 2,9%

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Análises Regressivas e Prospetivas


Em Demografia é essencial estudar as características da população de um
ponto de vista estático, mas também dinâmico, sendo, por isso, necessário localizar no
tempo cada uma das variáveis a analisar. Usa-se para tanto os ritmos de crescimento
anual médio real observadas num determinado período, fazendo uma estimativa para
alguns anos do passado (análise regressiva) ou do futuro (análise prospetiva).
Muitas vezes é útil ter uma imagem retrospetiva sobre as tendências passadas
do universo populacional em estudo. As análises regressivas devem recuar pelo menos
20 anos no tempo. Em Portugal, faz sentido recuar até aos anos de 1970, já que as
grandes mudanças operadas na sociedade portuguesa surgem a partir daí:

 a diminuição do número de dígitos da taxa de mortalidade infantil;


 a quebra acentuada do índice sintético de fecundidade (i. é, a progressiva redução do
número médio de filhos por mulher, descendo abaixo dos 2,1, o que significa que a
substituição das gerações deixou de estar assegurada;
 a modificação do perfil etário da população portuguesa, traduzida na alteração da
configuração geral da pirâmide de idades, com a substituição da forma triangular, pela
silhueta tipo urna.

Por seu turno, uma análise de tipo prospetivo funciona por hipóteses (manutenção do
crescimento, redução ou aumento dos ritmos das variáveis mortalidade, fecundidade e
migrações). Tal como as anteriores, também estas não devem ser feitas num horizonte
demasiado alargado, o que se arrisca a aumentar a probabilidade de erro, e devem
basear-se num conhecimento razoável do objeto de estudo (20, 30 anos) em termos
de características de crescimento económico, estabilidade politica, nível de
desenvolvimento humano…

Relativo ao 1º Problema: Se admitirmos que o ritmo de crescimento na América do Norte se


manteve constante desde 1950, qual seria a sua população em 1970?
log 228 / Po = 20 log (1+0,00805) 1970 – 1950 = 20 anos
log 228 / Po = 0,06964
228 / Po = 1,17392 BASE: crescimento anual médio de 1970-80
228 = 1,17392 x Po
Po = 228 / 1,17392
Po = 194 milhões de habitantes

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Relativo ao 2º Problema: Se admitirmos que o ritmo de crescimento em Portugal foi idêntico


durante toda a 1ª metade do século XIX, qual seria a sua população em 1801?
log 3276203 / Po = 20 log (1+0,00205) 1821 – 1801 = 20 anos
log 3276203 / Po = 0,01779
3276203 / Po = 1,04181 BASE: crescimento anual médio de 1821-35
3276203 = 1,04181 x Po
Po = 3276203 / 1,04181
Po = 3144722 habitantes

3º Problema: A 15.12.70 o Alentejo possuía 583635 habitantes, em 16.03.81, 578430 e em


15.04.91, 543442. Calcule a taxa de crescimento anual médio na região no período 1981-
1991. Interprete os resultados.
log 543442 / 578430= 10,08 log (1+ a) Resposta: Entre 81 e 91 a população do Alentejo
log 0,93951= 10,08 log (1 + a) decresceu anualmente por cada 100 pessoas 0,62.
- 0,026683 = 10,08 log (1 + a)
- 0,0026883 = log (1 + a)
0,99292 = 1 + a
a = - 0,0061708
a = - 0,62%

4º Problema: Se o ritmo de crescimento observado no Alentejo no período 1981-1991 se


reduzisse a metade, qual seria a sua população em 15 de dezembro de 2000?
log Pn / 543442 = 9,667 log (1-0,00309) a/2 = - 0,00311
log Pn / 543442 = 9,667 log 0,99691 n = 9 anos e oito meses = 9,667
log Pn / 543442 = 9,667 (-0,001344)
log Pn / 543442 = - 0,0129924 Resposta: A população desta NUT será de 527425
Pn / 543442 = 0,970527 habitantes a 15.12.2000
Pn = 543442 x 0,970527
Pn = 527425 habitantes

3.2. Análise das Estruturas Etárias e por Sexo


Uma população conhece-se pelos seus aspetos globais (volume, ritmo de
crescimento, densidade) e pela sua estrutura, em termos de sexo, idade estado civil,
atividade económica, nível de instrução… O que interessa quando estudamos uma
população são as características conjuntas de grupos de pessoas, mas cada uma delas
participa na estrutura populacional por duas vias: o efeito de idade e o de geração:

 A repartição por sexos justifica-se pelos diferentes papéis desempenhados


pelos dois sexos na sociedade onde residem, em termos económicos, culturais, sociais
e biológicos.
 A repartição por idades justifica-se pela necessidade de analisar os efeitos
específicos de cada idade (ao longo da vida muitos comportamentos e capacidades se
alteram) e de comparar e seguir diferentes gerações (certos acontecimentos que são
referência para uns, já não o são para outros. Quem viveu a juventude em 1910 ou
quem a viveu em 1974 tem referências diferentes de quem a vive hoje).

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Trata-se de um passo metodológico indispensável, que permite e facilita esse


conhecimento quando pretendemos efetuar análises ao longo do tempo e observar as
alterações sofridas por uma dada população ou sempre que desejamos avaliar
diferenças existentes entre várias populações num mesmo horizonte temporal.
Podemos fazê-lo através de 3 instrumentos de análise:
 PIRÂMIDES DE IDADES
 RELAÇÕES DE MASCULINIDADE
 GRUPOS FUNCIONAIS E ÍNDICES-RESUMO

Pirâmides de Idades
A melhor forma de sintetizar a informação por idade e sexo é construir uma
pirâmide de idades.
Regras de construção:
 Efetivos masculinos à esquerda e femininos à direita
 Ordenadas = Idades; Abcissas = População
 Relação altura/largura (altura = 2/3 da largura)
 Problema do grupo terminal
 Colocar os anos de nascimento
 Largura do retângulo = número de anos
 Comprimento do retângulo = número de efetivos
 Processo de construção:
 Pirâmides de Idades ou pirâmides por grupos de idades?
 Números absolutos ou números relativos?

Existem três tipos de pirâmides:


1. Pirâmides em acento circunflexo – Típica de países não desenvolvidos.
Correspondem à representação de populações onde se verificam níveis elevados
de natalidade e de mortalidade, com alta mortalidade infantil e juvenil e baixa
esperança média de vida. Pressupõe a existência de muitos jovens e poucos
idosos.
2. Pirâmides em urna – Típica de países desenvolvidos na última fase de transição.
Corresponde à representação de populações com baixa natalidade e baixa
mortalidade e elevada esperança média de vida. Pressupõe a existência de poucos
jovens e muitos idosos.

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3. Pirâmides em às de espadas - Típica de países desenvolvidos, mas que


conseguem manter níveis de natalidade um pouco superiores, fruto da sua ainda
relativa juventude (fases 3 e 4 do modelo de transição demográfica). Corresponde
à representação de populações com natalidade média e baixa mortalidade e
esperanças médias de vida já consideráveis.

Exemplos de representação gráfica de pirâmides etárias

Pirâmide em acento circunflexo

Pirâmide em urna

Pirâmide em às de espadas
Fonte: ONU 2007

Relações de Masculinidade
Este instrumento de análise permite verificar o modo como os efetivos de um
determinado grupo de idades se repartem entre os dois sexos. Quando representamos
uma população através das pirâmides de idades verificamos que os dois lados não são
simétricos por várias razões:

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

 Por cada 100 raparigas nascem 105 rapazes, mas a mortalidade infantil é maior
entre os homens, pelo que por volta dos 10 anos a relação está equilibrada,
 Nas sociedades pré ou em processo de transição a probabilidade de morte
feminina sobe durante o período fértil e reduz o total de mulheres face ao de
homens, exceto se o país estiver em guerra (morrem mais os homens),
 A partir dos 40-45 anos faz-se sentir a sobremortalidade masculina, pelo que
nos últimos grupos as mulheres podem ser o dobro dos homens
 As migrações (são mais numerosas entre adultos jovens masculinos e reduzem
o total de efetivos nessas idades, mas cada vez menos existem diferenças
entre homens e mulheres).
Como se calculam as Relações de Masculinidade:
 Processo de cálculo: dividir os homens pelas mulheres e multiplicar por 100
 Representação gráfica: Efeito idade; Efeito geração
 Leitura do gráfico: flutuações devidas a modelo de mortalidade em U e maior
longevidade feminina, bem como ao efeito da sobremasculinidade das migrações

Relações de Masculinidade (Exemplo de representação gráfica)

Relações de Masculinidade da população portuguesa


no século XIX
110
105,5
104,5
105 103,7
103,7
103,1
100
Relações Masculinidade

99,8

95 96,6 94,9
89,7 92,1 92,5 92,5 92,4 92,3
93,2 91,5 91,7 91,6 91,5
90
87
85,5 87,7
84,4 87,1
85 84,4
84,2
85,9 82,7
84,4
81
80

75

70

65

60
0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74

Idades 1801 1864


1900

Grupos Funcionais
Agrupa a informação por idade e sexo, para tornar mais fácil a leitura das
características de uma população ou a comparação de resultados entre várias
populações ou vários anos. Especialmente indicado quando queremos fazer
comparações no tempo e/ou no espaço e verificar alterações progressivas nos grandes
grupos em que se subdivide a população. A escolha do intervalo de idades depende
dos objetivos e da época em estudo e a análise separada H/M permite verificar
dinâmica económica, de fecundidade e envelhecimento.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Processo de construção:
“Jovens” : 0 – 14 ou 0 – 19 anos
“Ativos” : 15 – 64 ou 20-59 anos
“Idosos” : 65 e + ou 60 e + anos
Índices Resumo
Uma vez decomposta a estrutura demográfica em grupos funcionais, torna-se
útil transformar essa informação em indicadores ou índices, que facilitam
interpretações económicas e sociais. Trata-se de um conjunto muito diverso, cuja
maior ou menor importância depende dos objetivos do estudo a que nos propomos.
Percentagem de «Jovens»
Fórmula: (População com 0-14 anos / População Total) x 100
Definição: Divide-se a população com menos de 14 anos pela população total e obtém-se
um indicador, que mede a importância da juventude na população. É também
um indicador de medida do “envelhecimento demográfico” da base da
pirâmide de idades.

Percentagem de «Potencialmente Ativos»


Fórmula: (População com 15-64 anos / População Total) x 100
Definição: Divide-se a população que se situa entre o fim da escolaridade obrigatória e o
início da “velhice” pela população total e obtém-se um indicador de potencial
demográfico dos ativos.

Percentagem de «Idosos»
Fórmula: (População com 65 e + anos / População Total) x 100
Definição Divide-se a população idosa pela população total e obtém-se um indicador,
que mede a importância dos idosos na sociedade. É também um indicador de
medida do “envelhecimento demográfico” do topo da pirâmide de idades.

Índice de Juventude
Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 65 e + anos) x 100
Definição Compara diretamente a população com menos de 14 anos com a população
idosa. Por cada 100 idosos existem X jovens. É também um indicador utilizado
na medida do “envelhecimento demográfico”.

Índice de Envelhecimento ou Índice de Vitalidade


Fórmula: (População com 65 e + anos / População com 0-14 anos) x 100
Definição Tem a lógica inversa do índice anterior. Por cada 100 jovens existem X idosos. É
também um indicador utilizado na medida do “envelhecimento demográfico”.

Índice de Longevidade
Fórmula: (População com 75 e + anos / População com 65 e + anos) x 100
Definição Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos menos jovens.

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É também um indicador utilizado na medida do “envelhecimento


demográfico”.

Índice de Dependência dos Jovens


Fórmula (População com 0-14 anos / População com 15-64 anos) x 100
Definição Mede o peso dos jovens na população potencialmente ativa. Por cada 100
potencialmente ativos existem x jovens.

Índice de Dependência dos Idosos


Fórmula (População com 65 e + anos / População 15-64 anos) x 100
Definição Mede o peso dos idosos na população potencialmente ativa. Por cada 100
potencialmente ativos existem x idosos.

Índice de Dependência Total


Fórmula (População com 0-14 anos e 65 e + anos / População com 15-64 anos) x 100
Definição Mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos na população potencialmente
ativa. Por cada 100 potencialmente ativos existem x jovens e idosos. Se
ultrapassar 100 significa que a zona está desequilibrada, no sentido em que
existem mais dependentes que ativos.

Índice de Juventude da População Ativa


Fórmula (População com 15-39 anos / População com 40-64 anos) x 100
Definição Mede o grau de envelhecimento da população potencialmente ativa. Relaciona
a metade mais jovem da população potencialmente ativa com a metade mais
velha.

Índice de Renovação da População Ativa


Fórmula: (População com 20-29 anos / População com 55-64 anos) x 100
Definição Relaciona o volume potencial da população em atividade com o volume
potencial da população que se está prestes a reformar.

Índice de Maternidade
Fórmula (População com 0-4 anos / População com 15-49 anos) x 100
Definição Relaciona a população que ainda não atingiu os 5 anos de idade com a
população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da
fecundidade, quando não dispomos de informações sobre os nascimentos.

Índice de Tendência
Fórmula: (População com 0-4 anos / População com 5-9 anos) x 100

Definição É um indicador da dinâmica demográfica. Quando apresenta valores inferiores


a 100 significa que está em curso um processo de declínio da natalidade e de
envelhecimento.

Índice de Potencialidade
Fórmula (População com 20-34 anos / População com 35-49 anos) x 100

Definição É um indicador que relaciona as duas metades da população feminina

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teoricamente mais fecundas. Permite ver o envelhecimento do modelo de


fecundidade da população.

3.3.Os Sistemas de Informação Demográfica

 Recenseamentos da População
A realização dos primeiros recenseamentos data do século XVIII (Suécia, 1749;
Dinamarca e Noruega, 1769). No século XIX vulgariza-se a sua realização (1801 em
Portugal, França, Inglaterra; 1810, Prússia; 1829, Países Baixos). São uma espécie de
fotografia do estado da população num determinado momento e têm 2 características
principais: a) a simultaneidade da recolha (devem ser realizados num determinado ano
e ter por referência determinado dia do mês); e b) a exaustividade da recolha
(procuram sempre conhecer e caracterizar toda a população residente em
determinado espaço).
O conteúdo dos recenseamentos varia de país para país, mas existe um
conjunto de informações indispensáveis: localização dos indivíduos (lugares, vilas e
cidade); idade, sexo, estado civil, composição das famílias; instrução, nacionalidade,
por vezes pertença a uma etnia/religião; atividade económica/profissão; condições de
habitação, tipo de alojamento e características internas, infraestruturas. Hoje
apresentam diferentes tipologias (ver tabela)
Em PORTUGAL vulgarizara-se a contagem regular da população na 1ª metade
do século XIX, mas de qualidade e regularidade variável. O 1º Recenseamento geral
moderno é de 1 de janeiro de 1864, tendo sido seguidas as orientações saídas dos
Congressos Internacionais de Estatística de Bruxelas (1853) e Paris (1855). O censo
adotou o método da recolha direta, nominativa e simultânea, baseada em boletins de
família. Os dados foram apresentados por distritos, concelhos e freguesias, sempre
com o mesmo tipo de informação: sexo, estado civil e idade dos efetivos, separados
por meses até um ano, de três em três meses até dois anos, ano a ano até aos dez e
por grupos quinquenais até cem, mais de cem e idade desconhecida. Contabilizava-se
a população de direito (transeuntes e ausentes temporários) e o número de fogos. À
escala distrital forneciam-se informações sobre categorias de fogos, peso relativo da

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população urbana e rural, instrução elementar e número de eleitores. As principais


dificuldades relacionaram-se com a identificação dos fogos, por ser ainda pouco
frequente a existência de números de polícia; com a imprecisão nas respostas sobre
profissão; e com a dificuldade em separar população urbana e rural. Por esse facto, só
os items mais diretos (sexo, idade, estado civil) apresentaram credibilidade suficiente
para justificar o seu tratamento estatístico e posterior divulgação.

FONTE: AAVV 2011: 99

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O 2º Recenseamento da População foi efetuado a 1 de janeiro de 1878, sendo


publicado em 1881. Tem praticamente as mesmas características do anterior, com
ligeiras alterações formais na disposição das colunas. Pela primeira vez aparece
informação respeitante ao grau de instrução e ao apuramento das idades em grupos
quinquenais (com exceção das idades 21 a 25 anos, discriminadas ano a ano). Os dados
publicados são apresentados por distritos, concelhos e freguesias. As profissões
continuaram a não ser apuradas, tal como continuaram imprecisas as distinções entre
população urbana e rural. No fim do volume foram introduzidos quatro mapas que
facilitam a visualização espacial dos resultados.
3º Recenseamento da População teve lugar em 1 de dezembro de 1890.
4º Recenseamento da População teve lugar em 1 de dezembro de 1900.
5º Recenseamento da População teve lugar em 1 de dezembro de 1911.
6º Recenseamento da População teve lugar em 1 de dezembro de 1920.
7º Recenseamento da População teve lugar em 1 de dezembro de 1930.
8º Recenseamento da População teve lugar a 12 de dezembro de 1940.
9º Recenseamento da População teve lugar a 15 de dezembro de 1950.
10º Recenseamento da População teve lugar a 15 de dezembro de 1960.
11º Recenseamento da População teve lugar a 15 de dezembro de 1970.
12º Recenseamento da População teve lugar a 16 de março de 1981.
13º Recenseamento da População teve lugar em 15 de abril de 1991. Tal como
os anteriores, ocorreu em simultâneo com o Recenseamento Geral da Habitação e foi
realizado em colaboração com as autarquias. A disponibilidade dos dados foi efetuada
em quatro fases: dados preliminares, provisórios, pré-definitivos e definitivos. Os
resultados finais foram apresentados em 8 publicações, uma para cada uma das 7
NUTS II e uma para todo o país. Os Censos 91 foram realizados com base na utilização
de 6 questionários: Edifício, Alojamento, Família Clássica, Família Institucional,
Indivíduo, Coletivo. Todos eles foram objeto de um inquérito de qualidade, realizado
com base em uma amostra areolar, a seguir à conclusão dos respetivos trabalhos de
campo.

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O 14º Recenseamento da População teve lugar em 11 de março de 2001, sendo


muito semelhante ao anterior, apesar de uma forte aposta no controle da qualidade
da recolha e dos resultados apurados. Esta operação contou com o suporte científico
de docentes da NOVA IMS e envolveu globalmente a soma de 8,8 milhões de euros.
Também ocorreu em simultâneo com o Recenseamento Geral da Habitação e foi
realizado em colaboração com as autarquias. Os mesmos critérios de recolha
(população e habitação) se aplicam aos 15º e 16º Recenseamento da População (2011
e 2021).

 As Estatísticas Demográficas de Estado Civil


O termo “estado civil” é bastante ambíguo, porque identifica simultaneamente
a situação de uma pessoa em relação ao seu nascimento, aos laços familiares e de
parentesco, à existência de um casamento ou óbito. Indica também o serviço público
encarregue de constatar e atestar esses factos. O tratamento estatístico dos registos
de estado civil permite seguir anualmente a evolução da natalidade, da mortalidade e
dos outros acontecimentos demográficos.
Tal como os recenseamentos, as Estatísticas Demográficas de Estado Civil
baseiam-se no princípio da declaração e têm o mesmo caráter exaustivo, obrigatório e
de localização espacial. A qualidade dos dados depende do grau de eficiência dos
serviços encarregues da recolha e da veracidade das informações prestadas.
Nos países católicos existia outra forma de registo antes do aparecimento do
registo civil, efetuado pela Igreja Católica. Referimo-nos aos registos paroquiais de
batismo, casamento e óbito. Em Portugal o registo paroquial perdurou sem grandes
alterações até 1 de janeiro de 1860, data a partir da qual, por Decreto-Lei de 19 de
agosto de 1859, o governo uniformizou os formulários utilizados nos diferentes
bispados, tornando-os idênticos por todo o país. Em 1867, o Código Civil confirmou a
instituição do registo civil, conferindo-lhe validade semelhante ao paroquial e
passando este a poder ser usado em opção, por católicos e não católicos. A passagem
total de poderes das autoridades eclesiásticas para a autoridade civil deu-se em
fevereiro de 1911, data em que o registo civil se tornou o único com validade oficial.

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Além dos registos, primeiro paroquiais e depois civis, existem dados publicados
com os totais de nascimentos, casamentos e óbitos: Mapas Estatísticos dos batismos,
casamentos e óbitos; Movimento da População. Estado Civil. Emigração; Tabelas do
Movimento Fisiológico da População de Portugal; Emigração Portuguesa; Estatística
Demográfica. Movimento da População; Estatística do Movimento Fisiológico da
População de Portugal; Anuário Demográfico; Estatísticas Demográficas.
A produção de estatísticas oficiais reflete as preocupações da época a que se
reportam. No início do século XX, por exemplo, a contagem dos nascimentos era feita
com menos rigor que os assentos de mortalidade e de migrantes, o que é
compreensível, se considerarmos que nessa época eram estas duas variáveis que mais
importavam aos governantes. Só muito lentamente as informações respeitantes aos
nascimentos, casamentos e divórcio começam a ganhar destaque, que se consolidou à
medida que se assistia ao declínio da natalidade e a profundas alterações nas
estruturas familiares.
A partir de 1988, devido ao Decreto-Lei de 15 de fevereiro, as Estatísticas
Demográficas passaram a utilizar a “Nomenclatura das Unidades Territoriais, NUT”
para fins estatísticos e os dados concelhios, em vez de se agruparem por distritos,
como acontecia desde o século XIX, passaram a ser agrupados em NUTS. Esta alteração
foi devida às novas regras decorrentes da adesão de Portugal à União Europeia,
regulamentada pelo Decreto-Lei nº46/89. A partir dessa data, a abolição do passaporte
de emigrante deixou de permitir recolher dados sobre o movimento emigratório. Para
ultrapassar essa lacuna, o INE realizou em 1993 um inquérito por amostragem aos
alojamentos familiares, para detetar casos de emigração, publicado em 1994 e os
recenseamentos passaram a incluir questões sobre mobilidade.

 Outras Fontes Demográficas Nacionais

 PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS E NÃO PERIÓDICAS DO INE


- Estatísticas da Saúde: pelas informações complementares sobre a mortalidade
e sobre as circunstâncias económicas e sociais em que ocorrem os nascimentos;
- Anuário Estatístico: pela rapidez da informação;

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- Estatísticas de Proteção Social, Associações Sindicais e Patronais: para a


análise das questões relacionadas com o envelhecimento das populações;
- Estatísticas do Emprego: para completar a informação sobre a população
ativa;
- Estatísticas do Ambiente: devido à crescente importância da componente
ecológica nos estudos demográficos;
- Estatísticas da Educação: pela importância que o nível de instrução tem em
todos os comportamentos demográficos;
- Anuários Estatísticos Regionais: pelo tratamento regional dado a algumas das
variáveis micro demográficas;
- Publicações do Gabinete de Estudos Demográficos: pela análise aprofundada
que é feita a diversas questões teóricas e metodológicas e ainda pela realização
sistemática de análises de conjuntura demográfica e de projeção populacional.

 INQUÉRITOS FEITOS POR ORGANISMOS PÚBLICOS E PRIVADOS direta e


indiretamente ligados à Demografia
- Recenseamentos Eleitorais: ao apurarem a população com mais de 18 anos;
- Anuário Estatístico: pela rapidez da informação;
- Inquéritos Socioeconómicos: realizados pelas autarquias, permitem precisar
as estimativas intercensitárias.

 ALGUMAS PUBLICAÇÕES INTERNACIONAIS permitem integrar a dinâmica


populacional portuguesa no contexto europeu e mundial
- World Population Data Sheet: publicado pelo Population Reference Bureau,
apresenta anualmente, e numa única folha, os principais indicadores demográficos
para todos os países do mundo;
- Relatórios anuais do United Nations Development Programme (Ex: UNICEF,
PNUD): publicações anuais, que apresentam os principais indicadores demográficos,
bem como dezenas de indicadores de natureza económica e social de todos os países
do mundo;

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- Conjunturas Demográficas anuais do Conselho da Europa: publicado com


relativa rapidez, contém uma análise comparativa de todos os países que integram
esse organismo, a que se seguem quadros e mapas com informação estatística;
- Estatísticas Demográficas do Eurostat: publicação de informação comparada
para todos os países da União Europeia. Permite todo o tipo de análises e
comparações, incluindo não só os indicadores mais utilizados em qualquer estudo de
dinâmica populacional, os dados brutos que serviram de suporte aos cálculos e
quadros e mapas de grande qualidade;
- Relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS): reúne informação de
todos os países membros, relativas a morbilidade e mortalidade, às ligações entre
saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável.
Principais sítios de informação demográfica:
http://www.prb.org
http://www.undp.org
http://www.europa.eu.int
http://www.jhuccp.org/popline/index.stm
http://www.popnet.org
http://infoseek.go.com
http://www.euroseek.net/uk
http://clubedesaude.no.sapo.pt
http://www.ine.pt
http://www.onsa.pt
http://www.femalife.com
http://www.ined.fr
http://www.develmentgoals.org
http://www.worldbank.org
http://www.WhoAfro.org
http://www.aidscongress.net
http://www.unicef.org
http://www.unpopulation.org
http://www.un.org

3.4. Análise da qualidade dos sistemas de informação


A avaliação da qualidade dos dados demográficos é um passo indispensável
para validar as conclusões que podem ser obtidas com base nos resultados dos
cálculos. De tal forma se desenvolveu esta área da Demografia, que em algumas
universidades se lecionam cursos específicos sobre qualidade dos dados e criados
métodos, que variam consoante se trate de avaliar a qualidade das estatísticas de

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movimento da população, os recenseamentos ou ambos. Alguns podem também ser


usados em séries de dados não demográficas, outros são de cálculo fácil e permitem
uma análise temporal e comparativa de tipo longo: pelo menos desde a segunda
metade do século XIX no caso dos recenseamentos; desde sempre no caso das listas
nominativas e registos de estado religioso e civil (registos paroquiais e de estado civil).
Vejamos alguns exemplos:

 Relação de Masculinidade dos Nascimentos


Teste indicativo da qualidade dos dados de estado civil. Mede a relação entre
nascimentos do sexo masculino e do sexo feminino. Permite observar se as
declarações de nascimentos acusam algum desequilíbrio no que respeita ao sexo, uma
vez que sabemos que nos países onde os nascimentos são corretamente registados a
relação de masculinidade ronda os 105 nascimentos masculinos por cada 100
femininos. Por outro lado, também se tem constatado que sempre que existe uma má
qualidade no registo dos nascimentos, também existe no de óbitos, o que transforma
este índice de masculinidade em um indicador geral da qualidade do estado civil. No
entanto, sempre que lidamos com poucos registos é frequente que o resultado da
divisão não seja igual a 105. Nesse caso é necessário efetuar um cálculo adicional que
permite comprovar se os resultados obtidos estão dentro de um valor possível em
termos estatísticos. São os limites de confiança. Para se conhecer os limites de
confiança das relações de masculinidade dividem-se os limites calculados pela fórmula
pela diferença à unidade desses mesmos limites e multiplicam-se os resultados por
100.
RM = (Nascimentos Masculinos/Nascimentos Femininos) x 100
Intervalo de Confiança = 0,512± 1,96 √(0,512 x 0,488) /n

 Índice de Whipple
Teste indicativo da qualidade das informações censitárias. Mede em simultâneo a atração
que em sociedades menos instruídas os inquiridos têm por declarar idades aproximadas,
sobretudo terminadas em 0 e/ou 5 (30,35, 40, 45….).

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IW = B / (A/5) x 100 ou IW = (B x 5) / A x 100


A - Somam-se as pessoas entre 23 e 62 anos (inclusive)
B - Somam-se os que no intervalo considerado têm idades terminadas em 0 e 5
Grelha de Leitura (Nações Unidas):
105 = dados exatos
105 – 110 = relativamente exatos
110 – 125 = aproximados
125 – 175 = grosseiros
+ 175 = muito grosseiros

Quanto mais o resultado do calculo se afasta de 105 (ausência de concentração) pior a


sua qualidade (ou seja, maior a atração e o erro na declaração das idades).

 Índice de Irregularidade
Teste indicativo da qualidade dos dados das informações censitárias, que mede a atração
pela declaração de idades terminadas em números diversos do 0 ou do 5. Parte-se do
princípio que, num grupo de idades e numa população estável, o valor médio
corresponde à média do grupo quinquenal, devido a probabilidades de morte diferenciais
antes e depois dessa idade). Os desvios relativamente a 100 (efetivo teórico correto)
mostram a força do arredondamento, porque significam atração ou repulsão.

Índice de Regularidade = A / (B/5) x 100


A – Numerador = efetivos com idades cuja atração se pretende medir
B – Denominador = média aritmética (a dividir por 5) dos 5 anos que enquadram que enquadram
A

Grelha de Leitura (Nações Unidas):


100 – 110 = relativamente exatos
110 – 125 = aproximados
125 + = grosseiros

 Índice Combinado das Nações Unidas


Teste que associa dois indicadores, que podem ser utilizados em separado, sendo
qualquer deles indicativo da qualidade das informações: o índice de regularidade das
idades (facilmente distorcido por alterações nos níveis de fecundidade e mortalidade) e o
índice de regularidade dos sexos (baseado na evolução das relações de masculinidade,
que em teoria deveriam decrescer sempre com o avanço das idades, embora se possa

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apresentar distorcido devido à intensidade das migrações. A sua junção permite elaborar
um índice de qualidade geral de recenseamentos.

IRS (Índice regularidade dos sexos) = média das diferenças absolutas das relações de
masculinidade em grupos sucessivos.
IRI (Índice regularidade idades) = média das diferenças absolutas entre as relações de
regularidade e 100 para homens IRI(h) e mulheres IRI(m)

ICNU = (3) IRS + IRI(h) + IRI(m)

Consultar Tabela (Nações Unidas):


Menos de 20 = Bom
Entre 20 e 40 = Mau
Mais de 40 = Muito Mau

 Equação de Concordância
Teste que mede em simultâneo a qualidade global dos dados de estado civil e de dois
recenseamentos. Nela se confrontam dois recenseamentos, aos quais são agregados
os resultados do saldo fisiológico e do saldo migratório do periodo que medeia entre
cada um deles.

A - Px + n = Px + N – O + I – E B - Px + n – Px = N – O + I – E

Cresc. entre Rec. = Cresc. Natural (N-O) + Cresc.Migrat.(E-I)

QUALIDADE DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO - TODOS OS PAÍSES DO MUNDO Critérios de Classificação

A – Dados completos
(bons registos de estado civil + recenseamentos recentes ou registo contínuo de população);
B – Dados Semicompletos
(bons registos de estado civil ou registo contínuo de população + recenseamento com menos de 15 anos ou
sondagens);
C – Dados incompletos
(recenseamento com menos de 15 anos ou inquérito com menos de 10 anos ou registos de estado civil por
sondagem);
D – Dados quase inexistentes
(sem recenseamentos com menos de 15 anos, sem inquéritos, sem registos de estado civil)

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CONTINENTES Avaliação de Qualidade dos Dados Estatísticos


ÁFRICA A – 1 (Ilhas Maurícias)
B – 21 (Moçambique, Cabo Verde…)
C – 25 (Nigéria, Guiné-Bissau, São Tomé…)
D – 9 (Angola)
AMÉRICA A – 9 (EUA, Canadá)
B – 17 (Brasil, Peru, México…)
C – 12 (Panamá, Haiti…)
D – 2 (Guiana Francesa, Suriname)
ÁSIA A – 5 (Japão, Singapura, Hong Kong, Taiwan, Israel)
B – 30 (China, Índia, ex-URSS…)
C – 12 (Chipre, Arábia Saudita, Nepal…)
D – 4 (Iraque, Afeganistão, Butão, Birmânia)
EUROPA A – 27
B – 9 (Rússia, Bulgária, Letónia, Albânia…)
C – 4 (Roménia, Sérvia, Montenegro, Andorra)
D – 2 (Mónaco, Bósnia)
OCEÂNIA A – 3 (Austrália, Nova Zelândia, Guam)
B – 3 (Nova Caledónia, I.Marshall, Papua Nova Guiné)
C – 7 (várias ilhas: Samoa, Salomão…)
FONTE : INED 2004

3.5. Princípios e Métodos de Análise da Mortalidade e Condições Gerais de Saúde

a) Taxas Brutas de Mortalidade


As Taxas Brutas são medidas elementares de controlo dos níveis de
mortalidade geral de uma dada população com vantagens e inconvenientes.
Vantagens: facilidade de cálculo; acessibilidade de dados, já que muitas vezes são o
único indicador comparável ou calculável. Desvantagens: a maior ou menor
percentagem de determinado grupo (sobretudo os primeiros e últimos grupos) faz
variar os resultados. As Taxas Brutas (neste caso Taxa Bruta de Mortalidade, TBM) são
instrumentos de análise grosseiros, porque os seus resultados refletem a estrutura da
população que estamos a tentar analisar (por exemplo uma população com muitos
idosos terá sempre muitos óbitos, mesmo que as condições de acesso a cuidados de
saúde e o nível de qualidade de vida sejam bons). Temos, pois, de ser prudentes
quando nos servimos das TBM para efetuar comparações no tempo e no espaço. Elas
só terão sentido se as estruturas populacionais não sofrerem grandes alterações no
período em que as estamos a calcular.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

No seu cálculo convém tomar algumas precauções: evitar taxas feitas com base
em dados de apenas um ano; fazer coincidir a população média com um
recenseamento. O mesmo raciocínio pode ser aplicado às idades ou grupos de idades.
O cálculo da TBM por idades e a sua subsequente representação gráfica permite-nos
visualizar o modelo de mortalidade da população, de que falámos no Módulo 1.

Taxa Bruta de Mortalidade Geral


(Total de Óbitos / População média) x 1000

Taxas Brutas de Mortalidade por idade ou grupo de idades


(Total de Óbitos na Idade X / População média na Idade X) x 1000

b) O Método da População-tipo
O cálculo simples de taxas brutas em anos sucessivos ou para populações diferentes é
pouco rigoroso, porque níveis de mortalidade distintos podem apresentar TBM iguais e
TBM distintas podem refletir níveis de mortalidade idênticos. Existe uma forma de
superar as limitações das Taxas Brutas quando comparamos duas ou mais populações,
que se baseia no princípio da estandardização (“normalização”). A lógica deste método é
separar os efeitos da estrutura dos efeitos do modelo:
TB(A) = ∑Px(A).tx(A)
TB(B) = ∑Px(B).tx(B)
Podemos fazê-lo de duas formas:
 Estandardização direta ou método da população-tipo (permite saber qual seria o
nível de mortalidade da população B se tivesse uma estrutura etária igual à
população A?). Mantemos as estruturas constantes;
 Estandardização indireta ou método da taxa-tipo (permite saber qual seria o
nível de mortalidade da população B se tivesse as taxas de mortalidade da
população A?). Mantemos as taxas por idades constantes;
Metodologia: escolhe-se uma das populações e comparam-se diretamente os resultados,
passando a haver uma base comum, que permite ver de facto em que caso existe uma
maior propensão para a mortalidade.

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EXEMPLO
País A – Panamá (n.desenv.) País B – Alemanha (desenv.)
Óbitos 9076 730670
População média 1428082 61283600
TBM 6,35 11,92

País A (não desenvolvido)


G.Idades Óbitos P.Média Px(A) Tx(A) Px(A). Tx(A)
0 – 19 3622 765681 0,5362 4,73 2,54
20 – 59 2006 581613 0,4073 3,45 1,41
60 + anos 3448 80788 0,0566 42,68 2,42
Total 9076 1428082 1 6,36 6,37

País B (desenvolvido)
G.Idades Óbitos P.Média Px(B) Tx(B) Px(B). Tx(B)
0 – 19 30406 18132000 0,2959 1,68 0,50
20 – 59 109687 31259600 0,5101 3,51 1,79
60 + anos 590577 11892000 0,1940 49,66 9,63
Total 730670 61283600 1 11,92 11,92
Método da População-tipo (Tipo A)
Px(A) Tx(B) Px(A). Tx(B)
0,5362 1,68 0,90
0,4073 3,51 1,43
0,0566 49,66 2,81
1 11,92 5,14

TBM (A) = ∑Px(A).tx(A) = 6,37 por mil


TBM (B) = ∑Px(B).tx(B) = 11,92 por mil
TBM (B’) = ∑Px(A).tx(B) = 5,14 por mil (e não 11,92 por mil)

Se aplicássemos ao País A a estrutura do país B o valor da mortalidade subiria até 13‰.


OU SEJA: qualquer que fosse a nossa escolha, o país não desenvolvido apresentaria
sempre valores superiores de mortalidade.
TBM (A) = ∑Px(A).tx(A) = 6,37 por mil
TBM (B) = ∑Px(B).tx(B) = 11,92 por mil
TBM (A’) = ∑Px(B).tx(A) = 13 por mil (e não 6,37 por mil)

c) Tipos particulares de Mortalidade


Falamos de instrumentos de análise que procuram aprofundar determinados
aspetos da mortalidade, com destaque para os que a seguir se apresentam:

 Taxa de Mortalidade Infantil - Mede a importância dos óbitos no primeiro ano


de vida.

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1ª versão: (Total de Óbitos – 1 ano / População média) x 1000


2ª versão: (Total de Óbitos – 1 ano / Nascimentos) x 1000
3ª versão: (Total de Óbitos – 1 ano / K’’.N0 + K’.N1) x 1000
TAXAS K’ K’’
200 0,60 0,40
150 0,67 0,33
100 0,75 0,25
50 0,80 0,20
25 0,85 0,15
15 0,95 0,05

Taxa de Mortalidade Infantil Exógena e Endógena - A mortalidade infantil pode ser


decomposta em mortalidade endógena e exógena.

TMI Exógena = Óbitos exógenos/ Nascimentos) x 1000


A mortalidade infantil exógena está ligada a causas externas, tais como doenças
infeciosas, alimentação e cuidados hospitalares insuficientes, acidentes diversos. Estes
óbitos ocorrem normalmente depois do primeiro mês de vida. No entanto, existe a
possibilidade de morte por causas exógenas, mesmo nas primeiras semanas de vida.
Por esse facto, o cálculo das mortes exógenas é feito do seguinte modo:
Total de óbitos exógenos no primeiro ano de vida = aumentar em 25% os
óbitos observados no intervalo 31-365 dias ou aumentar em 22,8% os
óbitos observados no intervalo 28-365 dias

TMI Endógena = Óbitos endógenos/ Nascimentos) x 1000


A mortalidade infantil endógena é consequência de deformações congénitas, de taras
hereditárias ou de traumatismos causados pelo parto. Estes óbitos ocorrem em
particular nos primeiros 28 dias de vida.
O cálculo das mortes exógenas é feito do seguinte modo:
Diferença entre o total de óbitos infantis e o cálculo dos óbitos exógeno

Outras taxas relativas à Mortalidade Infantil


 TM Neonatal = (Óbitos – 28 dias /Nascimentos) x 1000
 TM Neonatal Precoce = (Óbitos – 7 dias /Nascimentos) x 1000
 TM Neonatal Tardia = (Óbitos entre 7 – 28 dias /Nascimentos) x 1000
 TM Pós Neonatal = (Óbitos entre 28-365 dias /Nascimentos) x 1000

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 TM Fetal Tardia = (Fetos mortos 28+ semanas /Nascimentos) x 1000


 TM Perinatal = TM Fetal Tardia + TM Neonatal Precoce
 TM Feto-Infantil = TM Fetal Tardia + TM Infantil Clássica.

Mortalidade por Meses


As flutuações do número de óbitos por mês ao longo do ano ajudam-nos a entender os
comportamentos das populações face à mortalidade. De destacar 2 métodos, o das
percentagens e o dos números proporcionais.

 Método das proporções (ou percentagens) mensais - Consiste em


dividir os óbitos observados em cada mês pelo total anual e multiplicar o resultado por
100. Método vulgarmente empregue pelos organismos utilizadores e produtores de
estatísticas demográficas. Produz, no entanto, importantes distorções na análise, dado
que não tem em conta as diferentes durações de cada mês em termos de dias: Nº
Óbitos mensal / Total óbitos anual x 100

 Método dos números proporcionais - Divide-se os óbitos observados


em cada mês pelo número de dias que possui (fevereiro = 28,25 dias, por causa dos
anos bissextos). Esses números médios de acontecimentos por dia são substituídos por
números proporcionais, de modo a que o seu total seja igual a 1200 (= 12 meses x 100.
Se a mortalidade fosse igual em todos os meses todos seriam iguais a 100). Cada mês
fica representado por um número e o seu desvio (positivo ou negativo) em relação a
100 indica se é um mês de mortalidade acima ou abaixo da média.

Mortalidade por Causas


Para analisar a mortalidade por causas de morte é necessário conhecer a divisão dos
óbitos anuais por causas e que essa divisão possa ser comparável no tempo e no
espaço. A falta de informação a esse respeito é significativa, pelo que só é possível com
elevado grau de certeza nas sociedades com maior grau de desenvolvimento a nível do
sistema sanitário e de produção de estatísticas da saúde. Para o efeito existem listas
standard a nível internacional: i) classificação proposta pela Organização Mundial de

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Saúde; ii) lista resumida do EUROSTAT; iii) lista adotada em Portugal (INE- Estatísticas
da Saúde). O estudo da mortalidade por causas é, em geral, feito através de dois
métodos:
 Método das percentagens - Consiste em dividir os óbitos de uma determinada causa
de morte pelo total dos óbitos e multiplicar o resultado por 100.
 Método das taxas - Consiste em dividir os óbitos devidos a uma determinada causa de
morte pela população média e multiplicar o resultado por 1000.

3.6. Princípios e Métodos de Análise da Natalidade, Fecundidade e Nupcialidade

 Taxas Brutas de Natalidade e Taxa de Fecundidade Geral


Tal como as Taxas Brutas de Mortalidade, também estas são instrumentos de
análise grosseiros, cujos resultados são influenciados pelas características estruturais
da população. Temos de ser prudentes quando nos servimos das TBN para efetuar
comparações no tempo e no espaço, uma vez que elas só terão sentido se as
estruturas populacionais não forem demasiado diferentes.
Neste caso as vantagens das Taxas Brutas são a sua facilidade de cálculo e a
acessibilidade de dados, já que muitas vezes são o único indicador comparável ou
calculável. No caso da natalidade e fecundidade as desvantagens decorrem do facto da
maior ou menor percentagem de mulheres em idade fértil em determinada população
fazer variar os resultados. Tal como sucede com as TBM, no seu cálculo convém tomar
algumas precauções (evitar taxas feitas com dados de apenas um ano, fazer coincidir a
população média com um recenseamento).
Porém, no caso concreto desta variável podemos sofisticar um pouco a análise,
utilizando apenas o conceito de taxa. Para tal elimina-se do denominador a parte da
população onde não ocorrem nascimentos (ou seja, retiram-se dos cálculos todos os
homens e as mulheres antes da puberdade e depois da menopausa). Obtém-se assim a
taxa de fecundidade geral, cujo resultado fica parcialmente liberto dos efeitos de
estrutura, embora a variação do número de mulheres entre os 15 e os 49 anos possa
introduzir alguns erros nas comparações.

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Taxa Bruta de Natalidade = Total de Nascimentos / População média) x 1000


Taxa de Fecundidade Geral = Total de Nascimentos / Pop. Feminina 15-49 anos) x 1000

Tipos particulares de Natalidade e Fecundidade


Trata-se de instrumentos de análise que procuram aprofundar determinados aspetos
desta variável, dos quais destacamos os seguintes:

a) Taxa de Fecundidade “dentro do casamento”:


Relaciona os nascimentos dentro do casamento com as mulheres casadas no período
fértil.

TFNC = (Nascimentos “no casamento” / Mulheres casadas 15-49 anos) x 1000

b) Taxa de Fecundidade “fora do casamento”:


Relaciona os nascimentos fora do casamento com as mulheres não casadas no período
fértil.

TFFC = (Nascimentos “fora do casamento” /Mulheres não casadas 15-49 anos) x1000

c) Natalidade por Meses


Para o cálculo da natalidade por meses aplicam-se os métodos da percentagem, das
taxas mensais e dos números proporcionais. Existe apenas uma diferença no método
dos números proporcionais, onde se analisam as flutuações em termos de conceções e
não de nascimentos (ou seja, se recuam 9 meses no número total de nascimentos por
mês):
o Método das proporções (ou percentagens) mensais em relação ao total -
Consiste em dividir os nascimentos observados em cada mês pelo total anual e
multiplicar por 100. Método vulgarmente empregue pelos organismos utilizadores e
produtores de estatísticas demográficas. Produz algumas distorções na análise, dado
que não tem em conta as diferentes durações de cada mês;
o Método dos números proporcionais - Estima a atração ou repulsão das
conceções por determinados meses. Assim, temos de proceder a uma reconversão

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segundo uma escala e faz recuar 9 meses os nascimentos registados (Nascimentos de


janeiro = Conceções de abril; Nascimentos de fevereiro = Conceções de maio).
Dividem-se depois as conceções estimadas em cada mês pelo número de dias que
possui (fevereiro = 28,25 dias). Esses números médios de acontecimentos por dia são
substituídos por números proporcionais, de modo a que o seu total seja igual a 1200 (=
12 meses x 100. Cada mês fica representado por um número, independentemente da
duração do mês em dias, para que o seu desvio positivo ou negativo em relação a 100
indique se este está ou não acima da média).

 Formas de Superação das limitações das Taxas


Tal como no caso da mortalidade, podemos recorrer a métodos que aplicam o princípio
da estandardização (“normalização”) e encontrar índices comparativos libertos dos
efeitos da estrutura, ou ainda estimar a intensidade e o calendário através do princípio da
translação. É a natureza dos dados existentes sobre a população em análise que
determina o método a seguir. Se dispomos de nascimentos por idades ou grupos de
idades das mães calculamos a Descendência Média, a Taxa Bruta de Reprodução e a Taxa
Líquida de Reprodução (indicadores de intensidade) e o calendário.

a) Descendência Média
Número médio de filhos por mulher.
DM =∑Nascimentos / Mulheres 15-49 anos) x 5

b) Taxa Bruta de Reprodução


Número médio de filhas por mulher. Lida com a probabilidade que as mulheres em dada
população têm de terem filhas (em cada 1000 nascimentos, 488 mulheres, 512 homens).
TBR = DM x 0,488

c) Idade média de Fecundidade


Com que idade, em média, as mulheres de dada população têm os seus filhos.
IMF = ∑(Nasc. / Mulheres 15-49 anos) x Id.Médias)/ (Nasc. / Mulheres 15-49 anos)

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EXEMPLO
Nascimentos em Portugal no período 1980/81
Grupo de Idades Nascimentos80/81 Pop.Fem. Taxas Tx x PM*
15-19 16907 426087 0,03968 0,6944
20-24 51114 382511 0,13363 3,0067
25-29 43620 342787 0,12725 3,4994
30-34 24021 322267 0,07454 2,4226
35-39 10444 296464 0,03523 1,3211
40-44 4042 300886 0,01343 0,5708
45-49 514 308883 0,00166 0,0789
Total 150662 2379885 0,42542 11,5939
*O PM, Ponto Médio, corresponde ao ponto intermédio do grupo de Idades. Uma vez que lidamos com Grupos de Idades quinquenais
corresponde a acrescentar 2,5 anos à idade do limite inferior do grupo (neste caso: 17,5, 22,5, 27,5….

TBN = (150662 / 9833014) x 1000 = 15,32‰


TFG = (150662 / 2379885) x 1000 = 63,31‰
DM = 0,42542 x 5 = 2,13 filhos por mulher
TBR = 2,13 x 0,488 = 1,04 filhas por mulher
Id. Média de Fec. = 11,5939 / 0,42542 = 27,3 anos

 Análise da Nupcialidade
A nupcialidade não é uma variável micro demográfica, porque a sua variação não
interfere diretamente no volume da população. Trata-se sobretudo de uma variável
sociodemográfica, embora de extrema importância, na medida em que influencia,
entre outras, os modelos de fecundidade e a composição e características familiares.

 Taxas Brutas de Nupcialidade e Taxa de Nupcialidade Geral


Representa a forma mais simples de medir a nupcialidade, com todas as vantagens e
desvantagens já mencionadas em relação à mortalidade, natalidade e fecundidade.
Excluindo a primeira, todas as outras podem ser efetuadas por idades, grupos de
idades ou sexos.

Taxa Bruta de Nupcialidade


TBNup. = (Total de Casamentos / População média) x 1000
Taxa de Nupcialidade por idades ou grupos de idades
TBNup. X = (Total de Casamentos na Idade X / Pop. Na Idade X) x 1000
Taxa de Nupcialidade Geral - Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”.
TBNG = (Total de Casamentos / Pop. com + 15 anos) x 1000

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Taxa de Nupcialidade Geral de Solteiros - Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”,


excluindo viúvos e divorciados.
TBNGS = (Total de Casamentos / Pop. Solt.com + 15 anos) x 1000
Taxa de Nupcialidade Geral dos Viúvos - Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”,
excluindo solteiros e divorciados.
TBNGV = (Total de Casamentos / Pop. Viúva com + 15 anos) x 1000
Taxa de Nupcialidade Geral de Divorciados - Relaciona os casamentos com as pessoas
“casáveis”, excluindo solteiros e viúvos.
TBNGD = (Total de Casamentos / Pop. Div. com + 15 anos) x 1000
Taxa Bruta de Divórcio - Relaciona o número de divórcios com o total da população.
TBDiv. = (Total de Divórcios / População média) x 1000
Taxa Bruta de Viuvez - Relaciona o número de viúvos com o total da população
TBViuvez = (Total de Viúvos / População média) x 1000

Método de Hajnal
Forma utilizada para medir a nupcialidade, quando não dispomos de dados sobre o
estado civil da população. O método permite calcular os valores do Celibato Definitivo, da
Intensidade do Casamento e da Idade Média ao Primeiro Casamento apenas com dados
dos censos:

1. Celibato Definitivo - Estima a percentagem daqueles que nunca casarão


T50 = (5T45 + 5T50) / 2 x 100
2. Intensidade do Casamento - Probabilidade de casar verificada na população de referência.
I = 1 – T50
3. Idade Média ao Primeiro Casamento – Estima os que casam pela primeira vez e com que idade
o fazem em média
IMC = 15 + (5. ∑5Tx (menos Tx) – 35.T50) / 1 – T5

EXEMPLO
G.I. Total Solteiros Proporções
15-19 15929 15725 0.98719
20-24 19053 16927 0.88842
25-29 17795 10667 0.59944
30-34 14823 5659 0.38177
35-39 13835 4407 0.31854
40-44 12258 3412 0.27835

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45-49 9224 2284 0.24761


50-54 8827 2032 0.23020

T50 = (0.24761 + 0.23020) / 2 = 0.23891 = 23,9%


1 = 1 – 0.23891 = 0.76109 = 76.1%
IMC = 15 + (5. 3.70132 – 35. 0.23891) / 0.76109 = 28.33 anos

3.7. Princípios e Métodos de Análise dos Movimentos Migratórios


Alterou-se o volume e sentido dos grandes movimentos migratórios, uma vez
que todas as regiões são hoje locais de emigração, imigração e migrações internas, à
escala global. Os ritmos de crescimento demográfico pressupõem migrações
originárias de zonas de maior crescimento, embora a emigração continue a ser a
resposta às desigualdades entre nações.

CONCEITOS BÁSICOS - Para uma correta apreensão das características das migrações torna-se
necessário precisar alguns conceitos:
MIGRAÇÃO: implica uma mudança de residência realizada por um indivíduo;
MIGRANTE: indivíduo que se desloca de uma área administrativa para outra, efetuando, portanto, uma
mudança de residência;
EMIGRAÇÃO: ato ou efeito de emigrar; saída voluntária do local de nascimento;
EMIGRANTE: indivíduo que sai de uma área de migração definida e cruza o limite estabelecido como
“fronteira”, em que a área espacial de referência é a área de origem. É aquele que vai procurar trabalho
ou fortuna noutro país;
IMIGRAÇÃO: ato ou efeito de imigrar; entrada de estrangeiros num país;
IMIGRANTE: indivíduo que chega a uma área espacial determinada, em que a área espacial de
referência é a área de destino;
ÁREA DE ORIGEM: área espacial administrativa donde se move o emigrante;
ÁREA DE DESTINO: área espacial para a qual se dirige o migrante;
FLUXO MIGRATÓRIO: quando se considera a migração na sua dupla perspetiva (a da área de origem e a
da área de chegada).

Apesar do crescente interesse pelas técnicas de medição das migrações (sobretudo a


partir da década de 1970) e da bibliografia sobre o tema ter aumentado
substancialmente, a análise dos movimentos migratórios continua a encontrar
dificuldades decorrentes da sua complexidade e do facto de não poder ser
diretamente identificada pelas estatísticas oficiais.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

A interdependência existente entre os diversos tipos de mobilidade espacial,


tanto definitivas como temporárias, bem como a existência de migrações pendulares,
que por vezes se confundem com migrações internas introduzem dificuldades
adicionais na sua medição. Acresce ainda problemas de ordem conceptual inexistentes
nas outras variáveis demográficas.
Alguns autores adotam uma atitude normativa, ao definirem migrações como
“o conjunto de deslocações de indivíduos no espaço físico, seja qual for a duração ou
distância entre as deslocações.” Trata-se de uma definição ampla, que abrange todos
os tipos de mobilidade espacial. Mas em análise demográfica não é a mobilidade
espacial o objeto de estudo, mas sim as migrações. Não estamos perante palavras
sinónimas, mas perante conceitos com conteúdos diferentes. A mobilidade espacial é a
capacidade das pessoas se deslocarem no espaço; as migrações implicam a mudança
do local de residência, que pode ocorrer dentro do país ou para fora dele.
A escassez de dados estatísticos de “boa” qualidade: não existem séries oficiais
que permitam efetuar uma contabilização rigorosa do número total de migrantes. Este
facto é mais evidente no que respeita às migrações internas (movimento com as ex-
colónias, movimentos temporários ou sazonais…), embora também a emigração e a
imigração tenham os seus próprios problemas (supressão do registo direto de
emigrantes e a adesão ao espaço Schengen no primeiro caso; clandestinidade no
segundo).
Limitações de base: falta de séries estatísticas efetuadas em moldes
comparáveis entre si; má qualidade (subregisto) das informações disponíveis; falta de
inquéritos estatísticos ou demográficos suportados em sondagens.
Metodologias utilizáveis: até meados da década de 70, toda a análise tem de se
basear em metodologias indiretas. A este nível, um passo em frente foi dado pela
inclusão no recenseamento de 1981 de questões que remetem para os locais de
residência em 31 de dezembro de 1973 e 1979, permitindo extrair informações sobre
migrações internas entre concelhos do mesmo distrito e entre distritos. Os mesmos
tipos de dados foram conseguidos relativamente aos anos de 1985,1989, 1995 e 1999.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Métodos Diretos de análise


Estes métodos, como o nome indica, utilizam diretamente os dados estatísticos
existentes. Na prática resumem-se ao cálculo das taxas brutas. De cálculo fácil, são
bastante grosseiros por serem influenciados pela estrutura etária da população em
análise e os seus resultados devem ser lidos com precaução, porque nada dizem sobre
fluxos migratórios internos ou migrações clandestinas.
Taxa Bruta de Emigração = (Emigrantes / População) x 1000
Taxa Bruta de Imigração = (Imigrantes / População) x 1000
Taxa Bruta de Migração Total = (Emigrantes + Imigrantes / População) x 1000

Métodos Indiretos de análise


Os métodos indiretos servem para estimar a intensidade e direção das migrações, na
falta de possibilidade de utilizar medidas diretas. São 2 os mais utilizados:

a) Os métodos censitários
Consistem em explorar as informações constantes nos recenseamentos sobre o local
de residência anterior. Como é lógico, as soluções técnicas a adotar variam consoante
a natureza da informação disponível (é possível encontrar sobre Portugal informações
deste tipo desde 1890). Em geral toma a forma de um quadro, onde a população
residente numa determinada região (concelho ou distrito, NUT) é classificada pela
naturalidade, separando o total de naturais do concelho, os nascidos em outros
concelhos do distrito, os naturais de outros distritos e os estrangeiros. Outra hipótese
de análise baseia-se em informação pedida no momento do recenseamento sobre o
local de residência em anos específicos (Onde residia em 1995, 1999, 2005, 2009…?).
No entanto, esses valores não permitem captar as diferentes intensidades migratórias
intercensitárias e misturam migrações ocorridas em épocas que podem estar distantes
entre si. Do mesmo modo, escondem eventuais movimentos migratórios anteriores
que cada um desses efetivos possa ter efetuado.

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b) A Equação de Concordância
O mais conhecido dos métodos indiretos é o método da equação de concordância.
Nela se confrontam dois recenseamentos sucessivos, aos quais são agregados os
resultados do saldo fisiológico do período, o que permite obter um valor residual
correspondente ao saldo migratório. Se a qualidade dos dados for globalmente boa no
que se refere a recenseamentos e estatísticas de nascimentos e óbitos a equação de
concordância permite estimar o crescimento migratório. Para a população portuguesa
a partir de 1890 podemos calcular os saldos fisiológicos por distrito ou concelho, ou
seja, a diferença entre o total de nascimentos e óbitos, e utilizar este método de forma
sistemática, se bem que com algumas precauções nos anos mais recuados.
Px + n = Px + N – O + I – E
Px + n - Px = N – O + I – E
Crescimento entre Recenseamentos = Crescimento Natural + Crescimento Migratório
Crescimento Migratório = Crescimento entre Recenseamentos – Crescimento Natural

A Taxa Migratória Total


Baseados nos pressupostos da Equação de Concordância obtemos uma primeira
estimativa grosseira sobre a influência dos movimentos migratórios em determinado
período no espaço de referência, que corresponderá ao valor dos saldos migratórios. Mas
se relacionarmos os saldos migratórios médios anuais obtidos através da Equação de
Concordância com a população média no mesmo período obtemos outro indicador, que é
a Taxa Migratória Total. Continuamos a saber apenas qual o valor residual dos diferentes
movimentos, após as compensações que possam ter existido entre entradas de
imigrantes e saídas de emigrantes dessa unidade, sem distinguir os fluxos internos dos
efetuados com o exterior. Não obstante a Taxa Migratória Total permite uma primeira
aproximação às formas de mobilidade interna, porque distingue regiões atrativas e
regiões repulsivas. A sua leitura é: por cada 1000 residentes na região X, o saldo
migratório foi (des) favorável em Y indivíduos.
Tx.Migr.Total (x, x+n)= Saldo Migr. Total Médio/ Pop. Média x 1000

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

As Taxas de Crescimento Migratório


Obtidas como as anteriores, a partir do crescimento residual não explicado após o cálculo
das Taxas de Crescimento Anual Médio e das Taxas de Crescimento Natural Anual Médio.
Taxa Cresc. Anual Médio Total = log (Px + n/Px) = n log (1+a)
Taxa Cresc. Anual Médio Natural= log (Px+N-O/Px) = n log (1 + a)

Os Métodos da População Esperada


Os métodos da população esperada comparam os grupos de idade dos efetivos
recenseados em dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos (em t e
t + n). Para estimar o saldo migratório no período intercensitário multiplica-se o efetivo
da população no momento t pela probabilidade que essa população tem de sobreviver à
morte no intervalo n considerado. Assim, em t + n obtemos o efetivo populacional que
“seria de esperar”, caso a população apenas estivesse sujeita ao fenómeno da
mortalidade. Quando comparamos este “efetivo esperado” com o efetivo recenseado
obtido no momento t + n, verificamos existir uma diferença que só pode ser explicada
pelos movimentos migratórios. A diferença entre efetivos reais e esperados permite
avaliar o sentido atrativo ou repulsivo das migrações, desta feita distinguindo os
diferentes escalões etários e os sexos. Relativamente aos nascimentos ocorridos entre t e
t + n aplica-se a probabilidade que estes têm de sobreviver até ao próximo
recenseamento e compara-se o esperado com o recenseado.

Aplicação do Método Forward : quando a estimativa é feita no sentido de t para t + n:


Saldo Migratório = População observada – População esperada

Aplicação do Método Reverse: quando a estimativa parte da população recenseada em t + n para


estimar a população no momento t, utilizando o inverso das probabilidades de sobrevivência:
Saldo Migratório = População esperada – População observada

Aplicação do Método da Média Aritmética: Como os dois métodos anteriores não dão o
mesmo resultado, costuma fazer-se a média aritmética de ambos, aplicando-se assim a
método da média aritmética dos dois.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

3.8. Análise Prospetiva e Planeamento


A Análise Prospetiva fornece um panorama dos futuros possíveis ou cenários de
evolução não improváveis de uma determinada população, tendo em conta os
determinismos do passado e o que se entende como plausível em termos de
desenvolvimento económico, social e político, num horizonte temporal determinado.
Funciona por hipóteses (manutenção do crescimento, redução ou aumento dos ritmos
das variáveis mortalidade, fecundidade e migrações). O objetivo é estimar volumes de
população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores, numa visão
global, qualitativa e múltipla.
A Análise Prospetiva ou método dos cenários, um dos métodos mais utilizados
neste âmbito, não pretende antever comportamentos nem panoramas futuros, mas
sim auxiliar a criar condições que permitam responder atempadamente aos sinais de
mudança. Contextualmente a análise prospetiva assume uma posição de destaque no
processo de tomada de decisão estratégica e em sede de politicas publicas, uma vez
que os seus resultados surgem num tempo anterior às possíveis alterações, permitindo
atuar em conformidade relativamente à avaliação das opções estratégicas possíveis.

Prospetiva versus Planeamento


O que está em causa neste binómio são as relações entre o conhecimento
científico e o poder. Cabe à atividade prospetiva o papel de aproximação entre o
conhecimento científico e o poder, por via da importância que os planificadores têm
atribuído a esta possibilidade de antecipar os cenários demográficos mais prováveis.

1. Planeamento Estratégico - Permitir uma reflexão estratégica que indique


formas de solucionar problemas internos de determinado espaço (seja este
uma empresa, uma cidade, um município ou uma região: CCR, região
demarcada…). As suas áreas de aplicação privilegiada são a gestão do território
e o planeamento urbano.
2. Planeamento Ecológico - Planear para uma conservação e preservação das
áreas naturais, reservas, proteção de ecossistemas e das paisagens, tendo em
conta a influência do Homem no meio. Associar preocupações ecológicas ao

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

planeamento em fase de tomada de decisão potencia a concretização dos


objetivos económicos num enquadramento mais sustentável e saudável para o
meio ecológico e meio social.
3. Planeamento de Equipamentos - O processo de planeamento de
equipamentos coletivos consiste na atividade desenvolvida no sentido de
estabelecer as orientações, disposições e ações a implementar e desse modo
assegurar o desenvolvimento de uma rede de equipamentos coletivos de forma
racional e participada.

BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA

BANDEIRA, Mário Leston (2004), Demografia. Objeto. Teorias e Métodos, Lisboa: Escolar
Editora
CASELLI, Graziella, Vallin, Jacques, WUNSCH, Guillaume (2004), Démographie: analyse et
synthèse, Paris: INED, Vol.I
NAZARETH, J. Manuel (2004), Demografia: A Ciência da População, Lisboa: Presença
NAZARETH, J. Manuel (1988), Princípios e métodos de análise demográfica portuguesa. Lisboa:
Presença

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

MÓDULO 4: AS DINÂMICAS DEMOGRÁFICAS NO MUNDO, NA EUROPA E


EM PORTUGAL

1 Globalização, População e Sociedade de Risco

Conhecemos com relativo rigor os volumes de população mundial e a sua


repartição, dinâmicas e características, embora com graus de fiabilidade diferenciada.
Como vimos, até épocas recentes o ritmo de crescimento foi moderado. O arranque
inicia-se nos países europeus ou com povoamento europeu e no Japão, onde atinge o
seu valor máximo em finais do século XIX e inícios de XX. Seguem-se os restantes,
sobretudo a partir dos anos 20 do século passado, com ritmos muito elevados e que
ainda hoje se mantêm, embora com algum abrandamento.
As diferenças principais entre os dois conjuntos decorrem do facto dos países
do primeiro grupo nunca crescerem de forma tão intensa como os segundos
(acréscimos de 1-1,5% e 2,5% ou mais por ano, respetivamente). O continente
africano é o que aumenta mais rapidamente, com alguns Estados a duplicarem cada
20 anos nas décadas de 70 e 80. Na América do Sul o contraste entre a parte central e
norte e a parte sul é clara, bem como a dicotomia entre regiões pobres e ricas, as
primeiras a crescerem bastante mais que as outras. Na Ásia impera a diversidade. As
variações anuais são moderadas na parte ocidental, sobretudo na China, e intensas
mais a sul, no Bangladesh, e também no Médio-Oriente, entre outros.
Nesta realidade marcada pela globalização como assegurar o desenvolvimento
humano, em contextos diferenciados de crescimento populacional e de pressão sobre
os recursos? No Mundo pautado pelo acentuar da interdependência dos poderes,
cabe ao Estado o papel difícil de moderador entre os compromissos assumidos
externamente e a sua aceitação pela sociedade civil e pelos organismos não-
governamentais. Se nos países com melhores indicadores socioeconómicos o grau de
estruturação política e social permite gerir, mesmo que com graus diferenciado de
sucesso, a ofensiva neoliberal, nos casos de Estados mal consolidados, o processo
abre caminho a situações de tensão e rutura, consubstanciadas num agravamento das
desigualdades internas. Transforma-se a ideia de espaço e o modo como as

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populações humanas, também elas novas populações, o percecionam e utilizam. A


nova realidade mundial em construção não esbate as diferenças entre povos, antes
parece potenciar a distância entre ricos e pobres, associada a processos de exclusão,
passíveis de tradução espacial, os quais podem vir a constituir focos de risco de
segurança humana à escala internacional (Beck, 1998). A trilogia População-Recursos-
Desenvolvimento regressa à ordem do dia, numa sociedade de risco global (Rodrigues
2010b: 56). No século XXI o Mundo não está a ficar mais unido politicamente, mais
interdependente no campo económico ou culturalmente mais homogéneo.
A sociedade atual caracteriza-se pela globalização do risco, em termos de
Intensidade, de generalização, da existência ou imponderabilidade de certos riscos e
da criação de outros novos, da ambivalência de decisão relativamente aos riscos e da
necessidade de cooperação internacional para a sua regulação e neutralização. Alguns
dos principais focos de tensão têm origem em esferas tão diversas quanto as
decorrentes das dinâmicas variáveis de crescimento demográfico, da degradação
ecológica e da alteração dos ecossistemas atuais, do alargamento do hiato entre ricos
e pobres, da persistência da violação dos direitos humanos ou da discordância face às
estratégias de mudança.
Com efeito, um número crescente de acontecimentos toca em simultâneo
todos ou quase todos os homens (o caso do impacto do aumento do preço do petróleo
é um exemplo desse processo). A sua intensidade global transcende as fronteiras,
afeta ricos e pobres e esbate as diferenças sociais e económicas, embora continue a
penalizar preferencialmente os grupos mais frágeis ou com menor acesso a
determinados bens e cuidados. Acresce ainda que continua a ser impossível, mau
grado os avanços tecnológicos e científicos, estimar ou medir a probabilidade da sua
ocorrência e consequências, em termos de perda de vidas, danos materiais,
desestruturação económica e social. Vejam-se as catástrofes causadas pelo efeito das
alterações climáticas, o aquecimento global ou a desertificação dos solos.

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Evolução da população mundial (em milhões)


Taxa crescimento Tempo duplicação
ANOS População
anual médio (anos)
12000 a.c. 1 - -
9/8000 a.c. 3 0.01 1893
3000 a.c. 30 0.08 301
0 252 0.07 981
600 238 -0.01 -
1000 253 0.02 4536
1500 461 0.12 577
1600 578 0.23 306
1650 553 -0.09 -
1700 680 0.41 300
1750 726 0.13 529
1800 954 0.55 127
1850 1325 0.66 106
1900 1663 0.46 153
1920 1809 0.42 165
1930 2015 1.08 64
1940 2249 1.10 63
1950 2509 1.10 63
1960 3009 1.83 38
1970 3635 1.91 37
1980 4414 1.96 36
1990 5134 1.52 46
2000 5864 1.34 52
2011 7000 1.40 49
2021 7930 1,26 65
FONTE: UNPF, 2014; PRB, 2022

Um mundo a duas velocidades (1950-2100)

FONTE: Elaboração própria a partir de UNPFA, 2017

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Os volumes demográficos, a sua distribuição no espaço e estrutura etária são


algumas das questões essenciais para compreender o presente e o futuro das
sociedades humanas. Embora na reta final do século XX se tenha iniciado uma ténue
redução dos ritmos de crescimento demográfico, ele é ainda pautado por grandes
assimetrias geográficas, que se manterão. A primeira das grandes certezas sobre o
futuro é que na primeira metade do século XXI, a população continuará a crescer
diferentemente nas várias partes do Mundo, até estabilizar num crescimento
moderado por volta da década de 30.
As projeções efetuadas para a evolução dos quantitativos humanos no futuro
próximo apontam para a desaceleração das dinâmicas globais, mas o fator de inércia
demográfica torna impossível evitar esse acréscimo, estimado entre um e três milhares
de milhões de indivíduos, essencialmente urbanos e de origem asiática e africana.
Sabemos ainda que os volumes obtidos nos próximos anos vão influenciar de forma
desigual o futuro das grandes regiões geográficas.
Esta inevitabilidade gera outras tantas incertezas: 1) como será possível
garantir a melhoria da qualidade de vida e dos indicadores de bem-estar, avanço que
se torna urgente nos países menos desenvolvidos, num cenário de acentuado aumento
demográfico; 2) como garantir o desenvolvimento económico global num contexto de
generalização de envelhecimento das estruturas etárias, processo que na maioria dos
países será muito mais rápido e diferente do que ocorreu na Europa; 3) qual o papel
que os responsáveis políticos nos seus diferentes campos de intervenção serão
chamados a desempenhar.
Coloca-se assim de novo na história da Humanidade a questão de assegurar o
equilíbrio entre população e recursos, sem que este ponha em causa o necessário e
desejado desenvolvimento económico, social e cultural e permita a aproximação
gradual entre populações. É possível agir sobre os modos de vida, a fim de os tornar
mais respeitadores do ambiente, natural e construído, e mais sustentáveis em recursos
(PISON 2009).

A verdadeira questão da qual depende o futuro da espécie humana é menos a


do número e mais a do modo de vida (RODRIGUES 2010a: 56-57). Entre as certezas

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sobre o volume de efetivos em 2050, no Mundo globalizado de amanhã, as sociedades


económica e socialmente mais desenvolvidas estarão totalmente dependentes das
migrações, esperando-se uma redução de cerca de 25% do seu peso demográfico
relativo, acompanhado pela promoção em termos de indicadores de desenvolvimento
do poder económico a alguns países em desenvolvimento. Por seu turno, o processo
de envelhecimento demográfico, reduzirá a população em idade ativa nos países hoje
considerados social e economicamente desenvolvidos. Pela primeira vez na história da
Humanidade a maioria da população mundial é hoje urbana, pertencendo os maiores
centros a Estados pobres, onde faltam as condições mínimas para uma vida com
dignidade. Com efeito, o grosso do aumento demográfico esperado estará
concentrado em zonas geográficas hoje mais pobres, jovens e islâmicas, coexistindo
com fracos níveis médios de educação, oportunidades de emprego e capacidade de
investimento e consumo (GOLDSTONE 2010).
No novo perfil de risco, que decorre da mudança em curso, a população é o
fator constante. Os contingentes populacionais e as suas dinâmicas estão presentes
como pano de fundo incontornável nos grandes sinais premonitórios de mudança de
época histórica, apesar das desigualdades no ritmo e nas características decorrentes
de diferentes ecossistemas.
Com efeito, a relação do Homem com os ecossistemas surge na atualidade
acompanhada de novas dúvidas e inquietações, suscitadas pelas mudanças exigidas
pela globalização das Relações Internacionais, com impactos visíveis no tempo (maior
velocidade nos processos de transformação), na escala geográfica (do local ao global),
na intensidade (o que reduz a sua capacidade de adaptação), no crescimento
populacional e sobretudo nos padrões de consumo. Trata-se de um processo aberto e
contraditório, de que resultam diferentes formas de risco, só resolúveis com base em
novas formas de governação.
Como reagir num Mundo marcado por espaços contrastados? Os processos de
globalização tendem a homogeneizar os espaços sociais a acentuar das diferenças em
populações crescentemente urbanas. Certos comportamentos coletivos
homogeneizam-se, mas os vários tempos do processo originam realidades diversas.

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Aumenta a mobilidade humana, complexificam-se as relações entre grupos, crescem


as tensões sociais. Níveis de vida e consumo tendem a uniformizar-se, mas aprofunda-
se a fratura entre os que podem ou não aceder aos mesmos, sendo certo que estes
grupos nem sempre coincidem com as fronteiras políticas.
Alguns problemas atuais residem no facto do ritmo de exploração, degradação
e destruição de certos recursos naturais se ter tornado mais rápido que a capacidade
da Natureza para os repor. Mas residem sobretudo nos moldes de consumo e nos
valores que subjazem à ideia de qualidade de vida. A relação do Homem com o planeta
Terra passa hoje por algo a que poderíamos designar como “crise de reajustamento”, a
qual se apresenta de duração imprevisível em ritmo e intensidade e que poderá vir a
adquirir uma gravidade crescente na segunda metade do século XXI, traduzindo-se,
entre outros, no aumento da pegada ecológica.
Aquecimento global, subida do nível médio das águas, desertificação, fome,
migrações, catástrofes naturais concorrem para fundamentar os cenários mais
pessimistas sobre os efeitos da «sobrepopulação» de alguns territórios. O ambiente
não se preocupa com as condições necessárias à sobrevivência humana, mas oferece
recursos potencialmente úteis para a sua vida. São as populações que o modificam de
forma mais ou menos elaborada, consoante o seu grau de estruturação. Sucede,
porém, que hoje já não se trata, como no passado próximo, de utilizar a natureza e
moldá-la em função dos interesses humanos, como denota o investimento empregue
na gestão e resolução dos problemas resultantes do processo de desenvolvimento
tecnológico e económico.

Principais focos de incerteza e tensão: alguns problemas


Alguma controvérsia e muitas hesitações rodeiam as tentativas de
hierarquização dos grandes riscos atuais e futuros, embora possamos lembrar cinco
focos de tensão principais: 1) as assimetrias do crescimento demográfico; 2) a
degradação ecológica; 3) o alargamento do hiato entre ricos e pobres; 4) a persistência
da violação dos direitos humanos; e 5) as hesitações quanto aos modelos estratégicos
de desenvolvimento com vista à sustentabilidade. Destes focos emergem os principais
problemas das sociedades humanas, pese embora a sua importância relativa e

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absoluta seja variável, consoante as regiões geográficas e as conjunturas a que nos


reportamos.
A comunidade científica internacional tem considerado mais relevantes os
efeitos das alterações climáticas, a questão da saúde pública, os conflitos e a corrida
ao armamento, a instabilidade financeira, a má governação e a corrupção, a má
nutrição e fome, as migrações, a garantia de acesso a água potável e a estruturas de
saneamento, as barreiras comerciais (Durand, 2008; Lomborg, 2014). Esta listagem,
longe de esgotar as inquietações emergentes pode ser ainda simplificada em função
dos 4 problemas que reúnem consenso e que passamos a analisar.

1. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AQUECIMENTO GLOBAL – A diminuição da calota


glaciar, o aumento do nível das águas e a inundação de zonas costeiras, as secas, a
desertificação e o risco de fome, bem como o aumento da ocorrência de ciclones e
outros acidentes climáticos, indiciam grandes alterações nos ecossistemas e levantam
muitas incertezas (MOL, 2003; DAUVERGNE, 2007). Estas reportam-se às
consequências económicas e de saúde coletiva, ao timing e ainda ao modo de atuação
a privilegiar (preventivo ou profilático, reativo ou de adaptação):

FONTE: www.germanwatch.org/en/cri

2. SAÚDE PÚBLICA: DOENÇAS CONTAGIOSAS E “EVITÁVEIS” - O estado de saúde das


populações tem melhorado (LEE, COLLIN 2005). Mas apesar dos progressos

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observados a situação está longe de ser satisfatória, porque sobrevêm doenças que se
julgavam controladas e surgem novas doenças contagiosas (sida, tuberculose
pulmonar, herpes genital, males sexualmente transmissíveis são alguns deles). Há
ainda que acrescentar a esta realidade o custo associado ao aumento de casos de
doenças crónicas não transmissíveis nos países em desenvolvimento, ligadas ao
consumo de álcool e de tabaco.

Fonte: OMS, Global Health Observatory Map Gallery, http://www.who.int

2016 - Despesas com saúde, per capita

FONTE: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)30841-4/fulltext

No Mundo de hoje existe um número crescente de indivíduos sem acesso a cuidados


de saúde e os medicamentos continuam a não ser acessíveis a todos, com fortes
desequilíbrios norte/sul. Segundo a OMS 90% dos meios estão adstritos a um décimo
da população mundial. Só em África perdem-se 12 milhões de dólares/ano devido ao

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paludismo, quando uma parte seria suficiente para o controlar. Acresce ainda que no
contexto económico internacional pouco favorável os donativos neste setor têm
registado retrocessos consideráveis.

3.A DISPONIBILIZAÇÃO DE ÁGUA - A diminuição dos recursos em água doce tem sido
rápida nos últimos cinquenta anos. Hoje mil milhões de indivíduos não têm acesso a
quantidade suficiente de água e dois mil milhões não têm água potável. O aumento de
consumo é acompanhado por uma diminuição da qualidade, com impactos diretos a
nível da segurança alimentar e do estado de saúde das populações. No futuro próximo
o aumento demográfico irá fazer aumentar as necessidades, exigindo novos
investimentos tecnológicos, mas sobretudo uma solidariedade internacional
concertada, para garantir o acesso a este bem indispensável. Várias conferências
internacionais, como a de 1997 em Nova Iorque, sublinham a necessidade de recorrer
ao investimento internacional, que permitirá reduzir para metade a escassez atual.
Financiar água será um problema de solidariedade internacional, mas os moldes e
tempos desse financiamento, tal como sucede na área da saúde, continuam uma
incógnita.
2019 - Água potável no Mundo

FONTE: ERCC, 2019

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4.OS RISCOS TECNOLÓGICOS – A energia nuclear constitui o exemplo mais acabado de


risco tecnológico, hoje de novo na agenda política internacional. A eletricidade com
origem nuclear contribui para reduzir o impacto do aquecimento global na produção
energética (17% do total, 31% na UE). Porém, a sua utilização está associada a
acidentes devidos à libertação de gases radioativos e ainda à possibilidade de uso
deste tipo de recurso para fins militares ou terroristas, como os recentes
acontecimentos vieram demonstrar. Outra área muito sensível é a da pesquisa
genética, biologia molecular, clonagem e produção de organismos geneticamente
modificados. Estes são dois exemplos de riscos que colocam a questão da avaliação do
risco numa vertente científica e (ou talvez sobretudo) numa perspetiva ética e política.

A Energia Nuclear no Mundo (1970-2018)

FONTE: https://www.world-nuclear.org/information-library/current-and-future-generation/nuclear-
power-in-the-world-today.aspx

A comunidade científica internacional tem considerado mais relevantes os


efeitos das alterações climáticas, a questão da saúde pública, os conflitos e a corrida
ao armamento, a instabilidade financeira, a má governação e a corrupção, a má
nutrição e fome, as migrações, a garantia de acesso a água potável e a estruturas de
saneamento, as barreiras comerciais (DURAND 2008). Esta listagem, longe de esgotar
as inquietações emergentes pode ser ainda simplificada, em função dos problemas
que reúnem consenso e que passamos a analisar.

OUTRAS QUESTÕES ou DESAFIOS….

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Os impactos do envelhecimento demográfico - Em 2025, um décimo da população


mundial terá 65 ou mais anos, podendo atingir 20 pontos percentuais nas regiões com
melhores indicadores de desenvolvimento humano. Entre 2000 e 2025 anos a
percentagem de idosos na Ásia passará de 6 para 10%, o que corresponde a uma
subida de 216 para 480 milhões de
pessoas. Na realidade, a
globalização do envelhecimento das
estruturas demográficas representa uma
vitória do Homem sobre a morte, uma
vez que até hoje o fenómeno só surge
em sociedades com níveis de bem- estar
significativo. O que gera alguma
inquietude quanto ao futuro deste processo é a forte dinâmica de generalização do
fenómeno em contextos de menor sustentabilidade e proteção social. Na atualidade
todas as sociedades apresentam uma tendência de envelhecimento na base, causado
pela descida dos níveis médios de fecundidade) e no topo (causada pela redução dos
níveis de mortalidade e pelo aumento da esperança média de vida). Este processo está
a observar-se em contextos urbanos, sem apoio familiar, comunitário ou de um Estado
social, facto que potencia situações de risco e de exclusão, sobretudo entre os mais
idosos, que são também os mais vulneráveis, doentes e com menores recursos
financeiros (NAZARETH 2009).

A precariedade da vida nas grandes megalópoles não europeias – Hoje cerca de 52%
da população mundial é urbana, embora com grandes diferenças entre continentes e
regiões. Nos países mais desenvolvidos da Europa e América do Norte, na América
Latina e nas Caraíbas as percentagens de residentes urbanos ultrapassam os 70 pontos
percentuais, mas em África e na Ásia representam menos de 40%. No entanto, a
população urbana destes dois últimos continentes vai ultrapassar os 50% antes de
2030. As maiores cidades do Mundo estão a aumentar muito rapidamente e deixaram
de estar situadas em regiões consideradas desenvolvidas. Em 1950 as três maiores

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pertenciam aos EUA, Reino Unido e Japão, mas atualmente só Tóquio está entre as
primeiras. Altera-se também a escala humana dessas unidades administrativas: em
1950 Nova Iorque era a maior cidade do Mundo e possuía 12 milhões de habitantes.
Em 2015 a maior cidade do Mundo deverá ser Tóquio, com o triplo da população
(DURAND 2008).
Um mundo urbano desigual (2015-2030)

FONTE: UN, 2014

A instabilidade gerada pelas migrações internacionais - Os movimentos migratórios


representam uma das manifestações mais evidentes do estreitamento do planeta. Na
última década, as regiões com melhores indicadores de bem-estar e oportunidades
tornaram-se, na sua quase totalidade, espaços de imigração, independentemente do
grau de permissividade das políticas oficiais vigentes em matéria migratória (NAÇÕES
UNIDAS 2006).
Ao iniciar-se o século XXI, a comunidade internacional encontra-se numa fase
de reavaliação. No entanto, todas as previsões apontam numa mesma linha. A
globalização, os avanços das comunicações e dos transportes aumenta o número
daqueles que desejam e podem migrar. Na sociedade de conhecimento, a difusão de
informações sobre as oportunidades económicas e acesso a determinados bens que
definem graus confortáveis de qualidade de vida irão inevitavelmente fazer aumentar

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os volumes de migrantes, pelo que as próximas décadas serão de desafio e de


oportunidade. Para a generalidade dos países recetores, e em particular para a Europa
envelhecida, com percentagens cada vez mais elevadas de residentes não europeus, o
impacto dos fluxos migratórios torna-se difícil de prever a médio e longo prazo (UNDP
2009).

Um mundo em movimento. Dinâmicas regionais (1990-2019)

FONTE: UN, 2020; IDMC, 2017; RLS, 2019

A gestão da riqueza e das oportunidades – A globalização teve um papel


determinante no crescimento económico e na redução dos níveis de pobreza nos
países em desenvolvimento, mas o seu impacto em termos geográficos é mais
complexo. A desigualdade à escala global reduziu-se com a inclusão de alguns países

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muito populosos no conjunto dos beneficiados com o processo, mas nos que ficaram
para trás aumentaram as desigualdades internas. Com efeito, a percentagem de
população pobre no Mundo diminuiu, mas não o número de pobres. Pior ainda:
mesmo nas sociedades onde os rendimentos aumentaram em média, há que
contrapor os efeitos “colaterais” da globalização (internacionalização de conflitos,
transmissão de doenças, danos na qualidade do ambiente). Deste modo, a redução da
pobreza constitui um dos maiores desafios para a economia e sociedades globais.

FONTE: https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/WFP-0000132038.pdf

O equilíbrio ecológico: população, recursos, ambiente e desenvolvimento - O crescimento da


população no século XXI traz consigo um verdadeiro desafio ecológico (VEYRET, ARNOULD,

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2008). O planeta não tem falta de recursos naturais e a verdadeira questão reside na
desigualdade da sua distribuição. Daí a importância crescente dada ao Planeamento Ecológico.
A implementação dos princípios norteadores do Desenvolvimento Sustentável deve basear-se
num planeamento eficaz que: 1) viabilize o crescimento populacional na ótica de
sustentabilidade de recursos e reduza o uso de produtos prejudiciais à saúde nos processos de
produção alimentar; 2) garanta alimento para todos a longo prazo, através da adequação das
culturas e da estabilização dos solos aos recursos locais, a reflorestação e o recuo da
desertificação (GREBMER 2009); 3) preserve a biodiversidade e os ecossistemas, mesmo em
contextos de pressão humana; 4) reduza o consumo de energia não renovável e desenvolva
tecnologias que promovam o aproveitamento e consumo de fontes de energia renováveis; 5)
aumente a produção industrial baseada em tecnologias ecologicamente adaptadas; 6) controle
os moldes de ordenamento do território; 7) aposte na educação ambiental, fonte de novas
formas de cidadania e comportamentos (a reciclagem de materiais renováveis/aproveitáveis
ou o não desperdício de água e de alimentos são exemplos da importância da educação das
gerações futuras) (COGBURN 1998).

Crescimento da produção agrícola/população


1967-77 1977-87 1987-97
África Norte, Produção Agrícola 2.8 3.5 2.7
Próximo Oriente População 2.7 3.0 2.4
Produção Agrícola 1.2 2.4 3.0
África sub-saariana
População 2.6 3.1 2.7
América Latina Produção Agrícola 3.6 2.3 2.5
e Caraíbas População 2.5 2.0 1.8
Produção Agrícola 3.5 4.4 5.0
Ásia Oriental
População 2.1 1.7 1.3
Produção Agrícola 2.4 3.3 3.3
Ásia do Sul
População 2.2 2.4 2.0
Produção Agrícola 3.0 3.4 3.8
Países em Desenvolvimento
População 2.3 2.2 1.8
Produção Agrícola 2.4 2.3 1.9
Mundo
População 1.9 1.7 1.5
FONTE: FAO 2002

A construção de um futuro sustentado exige que se reorientem os esforços


tecnológicos, de forma a assegurar que nunca se atinjam situações limite. Serão mortais as
civilizações, como defendia Paul Valéry, e estará em risco o Mundo que conhecemos?
Preferimos concordar com Gilles Pison, quando defende que o problema não reside no
aumento populacional, na subida das taxas de urbanização ou nos limites de bio capacidade,
mas tão só nos modos de vida das populações humanas do futuro (PISON, 2009). Nos próximos

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anos o Homem estará (de novo) cada vez mais vulnerável face a fatores de tipo exógeno
(meio). Neste sentido, o futuro tem de ser visto numa perspetiva de sustentabilidade e a
procura de sustentabilidade só se consegue através de um diagnóstico global (THOMAS 2000;
WORLD ECONOMIC FORUM 2010). Encontramo-nos numa fase de reavaliação, em que se
procuram novos paradigmas e onde o ambiente funciona como o elemento estruturante.

4.2. Evolução da População no Mundo e por Continentes


Os desafios e incertezas que se colocam no dealbar do século XXI resultam, em
larga medida, das novas dinâmicas de comportamento das populações humanas. A
população mundial quadruplicou durante o século XX, passando de 1,7 para 5,9 mil
milhões. A tomada de consciência relativamente às assimetrias geográficas com que
esse acréscimo decorreu veio alterar as atitudes institucionais face aos problemas da
população, sobretudo a partir dos anos 50. Ao mito do mundo vasto, com
possibilidades infinitas, sucede a imagem de um mundo onde emergem problemas
globais preocupantes. Para mais porque inevitavelmente o volume total da população
voltará a duplicar antes de final do século XXI.
São grandes as desigualdades no que toca à distribuição e intensidade de
povoamento. Cerca de metade da população vive nos seis países mais populosos do
Mundo: China, Índia, Estados Unidos da América, Indonésia, Brasil e Paquistão.
Algumas coincidências existem nessa distribuição: falamos de países situados na sua
maioria em zonas quentes e na sua grande maioria asiáticos.
Com efeito, uma das questões mais preocupantes reporta-se às assimetrias
verificadas nos ritmos de crescimento dos vários continentes. A população cresce
demasiado depressa em zonas com menor capacidade de garantir níveis satisfatórios
de bem-estar social aos seus naturais, enquanto estabiliza ou diminui noutras regiões,
manifestamente mais aptas para o fazer. O continente africano e europeu são
exemplos paradigmáticos de situações extremas. O primeiro atinge o seu momento de
crescimento máximo nas décadas de 70 e 80. Tratam-se dos valores mais altos
verificados na história da humanidade, superiores a 3% ao ano. Mesmo assim, por
serem valores médios, são inferiores aos verificados em várias partes do continente,
sobretudo da África Austral. A Europa nunca registou valores aproximados. O

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crescimento anual médio de 1%, ocorrido no período pós-Guerra e na década de 60


constitui a fase mais positiva desse aumento, que a partir de 1973 regride de forma
rápida, até atingir a estabilidade hoje verificada. Não obstante, a importância em
termos absolutos destes ritmos de crescimento deve ter em conta a importância
relativa de cada continente no que respeita à população total do Mundo.

O mundo desigual. População (2019) e projeção de crescimento (2015-2050)

FONTE: UN, WPP, 2020; Rodrigues, 2019; WPR, 2020; PRB, 2019

Ranking dos 10 maiores países do Mundo (1990-2100)

FONTE: WPR, 2020

Durante o século XX, o continente asiático manteve o lugar cimeiro e, a


confirmarem-se as projeções médias das Nações Unidas, continuará a representar

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cerca de 60% da população mundial. O continente africano viu duplicar a sua


importância demográfica percentual e tudo indica que continuará a aumentar de
forma constante nas próximas décadas. Por seu turno, a Europa foi perdendo dinâmica
de modo sistemático. Em 1900, um em cada quatro indivíduos era europeu, mas a
terminar a centúria apenas um em cada dez o era. A situação torna-se ainda mais
complexa, se tivermos em conta que, sem migrações extraeuropeias, a velha Europa já
teria começado a ver diminuir o número de habitantes. No entanto, esta será uma
situação inevitável nos próximos anos.
As razões que explicam as desiguais formas e ritmos de crescimento dinâmico
das populações são conhecidas e baseadas nos diferentes comportamentos regionais
face à mortalidade e à fecundidade. Com efeito, à questão migratória apenas deve ser
atribuída uma importância secundária, uma vez que em termos quantitativos não
envolve mais de 3,6% da população do Mundo.

FONTE: UNDP, World Poulation 2017 Wallshart


https://esa.un.org/unpd/wpp/Publications/Files/World_Population_2017_Wallchart.pdf

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

4.3. Para onde vamos: tendências de futuro, certezas e incertezas


A ciência demográfica permite conhecer, medir, prever e estimar onde e que
tipo de perfis demográficos poderão constituir riscos e oportunidades potenciais,
embora a quantificação inicial não dispense a contextualização geográfica e histórica e
a introdução de fatores qualitativos. Porém, há que ser capaz de ver para além dos
resultados obtidos com base na aplicação dos cálculos de análise. Sabemos qual será,
como será, onde estará e quais as características da população mundial hoje e nas
próximas décadas (v. Tabela). A gestão da mudança apresenta contornos distintos,
consoante os casos em linha com a Agenda 2030 para o DS: os países de fecundidade
alta devem preparar-se para enfrentar as necessidades do número crescente de
crianças e jovens; aqueles onde a fecundidade está a descer e está a criar uma
oportunidade para o dividendo demográfico devem investir no capital humano (acesso
a saúde e educação, oportunidades de emprego); os que envelhecem têm de adaptar
os apoios aos mais velhos; e todos devem criar medidas para facilitar as migrações
seguras e regulares, benéficas para todos, independentemente das suas características
(UNDP, 2018).

O que sabemos sobre o futuro da população mundial até 2050

A população continuará a aumentar, embora O aumento previsto representa desafios de sustentabilidade


mais lentamente, devido à descida dos níveis de económica (47 países com piores indicadores de DH estão entre
fecundidade em todo o mundo os que mais crescem, o que pressiona os já escassos recursos,
num contexto de alterações climáticas)
Dois terços do aumento populacional é causado As reduções recentes da fecundidade em certas zonas (África
pelas diferenças de estrutura etária entre Subsariana, partes da Ásia, América Latina e Caraíbas) farão com
regiões (inércia demográfica) que a população em idade ativa cresça mais que outros grupos
de idade, o que constitui uma oportunidade para acelerar o
crescimento económico (dividendo demográfico)
Mais de 50% do total de crescimento vai estar Em 2018 o total de 65+ no mundo ultrapassou o de crianças 0-4
concentrado em 9 países, a maioria da África anos; até 2050 esta relação vai duplicar e em 2050 os 65+ serão
Subsariana mais que os adultos jovens com 15-24 anos
As restantes populações atingem os seus picos A esperança de vida à nascença vai aumentar (1990=64;
de crescimento e várias começam a perder 2019=72,6; 2050=77,1 anos), mas persistem as diferenças
população (55 países vão perder entre 2020 e regionais (e0 7 anos inferior à média nos países menos
2050 pelo menos 1%/ano) desenvueltos, causadas pelos niveis de mortalidade infantil,
materna e juvenil, VIH, conflitos e violencia)
Crescimentos desiguais entre os maiores países Fecundidade e mortalidade descem em todo o mundo. A
vão provocar um reordenamento dos rankings migração torna-se a variável determinante do futuro, sobretudo
(India ultrapassa China até 2027) as migrações internacionais, a atingirem valores elevados de
entrada, saida e trânsito
Fonte: UNDP, 2018

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A Figura seguinte dá informação adicional sobre as ordens de grandeza entre países,


assimetrias de crescimento sub-regionais e tendências de evolução da população
jovem e em idade ativa. Queremos saber até que ponto estas alterações inevitáveis
poderão representar uma mais-valia ou um constrangimento, tomando como exemplo
quatro realidades paradigmáticas que passaremos a olhar com maior detalhe: os
gigantes asiáticos China e Índia, a Europa e África.

Tendências regionais de crescimento total, de jovens e em idade ativa (1990-2100)

Fonte: UNDP, 2018

Os gigantes asiáticos – Na Ásia reside 59,5% da população (2020: 4,64 mil milhões),
prevendo-se que até 2050 essa percentagem possa descer a cerca de 55% (5,29
milhões). Cinco dos 10 maiores países do mundo são asiáticos, entre os quais a RPC e a
Índia, e estes dois gigantes demográficos representam 36,2% da população mundial
(18,5 e 17,7%, respetivamente), valor que se manterá até meados do século, embora
antes de 2027 a India ultrapasse a China, devido ao processo de envelhecimento aí em
curso. No maior continente do mundo, o domínio destes dois países tenderá, no

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entanto, a reduzir-se ao longo da 1ª metade do século, devido ao forte crescimento


experimentado por outros países populosos, como o Paquistão, a Indonésia e o
Bangladesh, que apresentam ritmos de aumento anual bastante significativos (por se
encontrarem nas fases 2 e 3 de transição demográfica). As assimetrias observadas em
termos de DH e produtividade económica são também significativas e explicam a razão
pela qual o continente asiático lidera os fluxos de migração internacional desde 2017.
Essas assimetrias em termos de desenvolvimento económico e bem-estar estão
igualmente em consonância com o processo de alteração das dinâmicas e estruturas
etárias da população, visível na Tabela.
A idade média da população asiática, estimada em 32 anos em 2019, está
próxima da média mundial, mas as variações intracontinentais são enormes quando
comparamos a Ásia Oriental (onde se encontra o país mais envelhecido do mundo, o
Japão, mas também a Coreia do Sul e, muito significativo, a RPC) com as restantes
regiões. Esta Ásia é tendencialmente a mais velha, mais urbana e mais rica, apesar dos
resultados da China serem um pouco inferiores em termos sociodemográficos gerais.
Existe, porém, um aspeto que claramente indicia uma vantagem futura e não se
encontra nesta região com melhores indicadores: a Ásia tem agora a sua janela de
oportunidade. Três sub-regiões (Ásia Central, ocidental e do Sul) apresentam uma
população residente com a média etária de 28 anos, idade considerada como ideal em
termos de potencialidade económica e social. Este facto encontra na teoria do
dividendo demográfico a sua explicação, teoria a cujas características já aludimos
anteriormente. E é por este facto que a Índia tem neste momento e nos próximos anos
uma vantagem face à China: a juventude da sua mão de obra muito abundante, com
alguma escolaridade e formação (embora concentradas em determinados grupos
sociais e cidades, mas que poderá evoluir favoravelmente nos próximos anos), que
coexiste com alta qualificação em determinados setores económicos de ponta. O
futuro será da Índia.
Os dois gigantes demográficos são muito diferentes. A RPC perderá peso
relativo no continente a que pertence. Hoje vivem na China 30,5% dos habitantes do
continente, mas ela representará pouco mais de 25% em meados do século, enquanto

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a India manterá a sua percentagem em torno dos 30 pontos percentuais. A explicação


é simples e as causas são evidenciadas na Figura que compara as dinâmicas atuais e
futuras do continente asiático, da RPC e da Índia, bem como na Figura com a
repartição dos residentes por sexo e idade em 2020 e 2050. De destacar os diferentes
equilíbrios entre os níveis médios reais e projetados de nascimentos e óbitos das 3
entidades e da relação entre os grandes grupos etários, em especial as percentagens
de população ativa jovem (15-24 anos), que reflete as diferenças de idade média da
população (37 anos na RPC, menos 9 na Índia).

Ranking dos 10 maiores países do Mundo (1990-2100)

Fonte: WPR, 2020

Ásia. População e alguns indicadores sociodemográficos (2019-2050)


IDADE
POPULAÇÃO (milhões) ESTRUTURA ETÁRIA FECUNDIDADE MORTALIDADE INDICADORES SOCIODEM.
MÉDIA
2019 2035 2050 2018 Jovens Idosos TBN ISF TBM TMI e0 TBMig %Urb PIB ($)
Mundo 30 26 9 19 2,4 7 31 70/75 54 16,1
Ásia 4586,9 5112,4 5344,1 32 24 9 17 2,1 7 26 71/75 49 14,5
Ásia Central 73,6 86,4 103,5 28 29 5 23 2,8 6 16 70/76 48 11,7
Ásia Oriental 1636,8 1662,7 1585,8 39 17 13 11 1,5 7 9 75/80 63 21,3
Rep. Popular China 1398,0 1424,6 1367,4 37 17 12 11 1,6 7 10 75/79 -0,4 60 18,1
Japão 126,2 123,6 109,9 47 12 28 7 1,4 11 2 81/87 0,0 92 45,0
Coreia do Sul 51,8 51,6 47,7 42 13 15 6 1,0 6 3 80/86 2,5 82 40,5
Ásia do Sul 1945,9 2274,5 2473,1 28 28 6 21 2,3 6 36 68/71 34 7,7
Índia 1391,9 1582,7 1669,7 28 27 6 20 2,2 6 33 67/70 0,0 31 7,7
Paquistão 216.,6 293,9 368,9 24 36 4 29 3,6 7 62 66/68 -1,3 37 5,8
Sudeste Asiático 656,5 743,9 789,1 30 26 6 17 2,2 7 22 69/75 49 13,0
Ásia Ocidental 274,2 345,0 392,7 28 28 6 20 2,6 5 19 72/77 71 29.,4

Fonte: Elaboração própria com base em UN,2019; PRB,2019; CIA, 2020

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Ásia, China e Índia. Dinâmicas comparadas (2019-2050)

Fonte: UN, 2019

Dinâmicas comparadas 2020-2050: População por sexo e idade em alguns países

Fonte: https://www.populationpyramid.net/

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Também em termos de sistema urbano, RPC e India não poderiam ser mais distintas,
com vantagem da primeira em número, dimensão demográfica média e projeção
internacional. Mesmo admitindo um subregisto que poderá ascender a 11 milhões no
caso indiano (ONDA, 2019), na RPC um total de 6 cidades têm hoje mais de 10 milhões
de residentes (Shangai tem 22,3, seguida de Beijing, Tianjin e Gangzhu com mais de 11
milhões e Sheuzhen e Wuhan com 10). Outras 55 têm entre 1 e 10 milhões e 369 de
100 mil a 1 milhão de habitantes). Maioritariamente falamos de cidades concentradas
a sul, junto ao litoral. Já a Índia, pontilhada de centros urbanos, tem apenas Bombaim,
com 12,7 milhões, Nova Deli com 11 e a terceira maior cidade é Bengalum, com 5,1
milhões. As diferenças de distribuição geográfica são evidentes. Acresce que a enorme
variedade de rankings que com objetivos distintos (maioritariamente de ordem
económica, mas também ambiental, de qualidade de vida e inovação tecnológica)
comparam as cidades globais (2019 Global Cities Index) falam sempre das grandes
cidades chinesas (Hong Kong, Shangai, Beijing, Taiwan, Guanzou…), mas poucos
referem cidades indianas (Mombai e Nova Deli são as únicas a figurar em alguns destes
índices numa base do Top 100, ocupando lugares pouco destacados).

Rede Urbana da RPC e da Índia (2020)

Fonte: WPR, 2020

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Que vantagens e desvantagens se perfilam aos dois gigantes demográficos nos


próximos anos?

DESVANTAGENS/RISCOS VANTAGENS/OPORTUNIDADES
Alterações climáticas e pressão sobre alguns recursos Existe um potencial humano sem precedentes, capaz de
vitais (água, alimentos e infraestruturas, qualidade do influenciar positivamente o processo de crescimento
ar, poluição, subida do nível do mar), especialmente económico, baseado na industrialização e na
gravosas dado o ritmo de crescimento da população, urbanização (mais evidente e numa fase menos
sobretudo urbana e o aumento do consumo per capita avançada na Índia, quando comparado com a RPC)
Crescimento assimétrico da população (as regiões que O arranque económico cria condições de
mais crescem na Índia são as mais pobres) aumenta a empregabilidade, aumenta a capacidade de consumo, de
dificuldade em gerir o contexto migratório complexo e investimento e de poupança de uma classe média em
muito intenso aumento, maioritariamente urbana
Indicadores pouco favoráveis de desenvolvimento e A dinâmica económica e o ratio favorável entre
qualidade de vida, designadamente nos centros dependentes e ativos possibilita o esbater das
urbanos (sobretudo na India, onde se espera o aumento assimetrias internas de distribuição de bem-estar e
acelerado da rede urbana em resposta ao arranque qualidade de vida, sobretudo entre a população rural e
económico), que vão continuar a aumentar sem o os trabalhadores não qualificados
necessário suporte em termos de DH (saúde, educação,
habitabilidade).
Dificuldade em esbater as assimetrias e desigualdades Aumento do nível de instrução e formação, participação
sociais, num referencial cultural complexo (Índia da mulher no mercado de trabalho (pouco questionada
sobretudo), que explica níveis de emigração em ambos os países) e alteração do tipo de emprego
significativos para outros continentes. A falta de (mais qualificado) gera uma redução das desigualdades
qualificação dos jovens é um problema estrutural na sociais internas
Índia (53% dos jovens estão desempregados)
Incapacidade de ambos os países para oferecer Benefícios trazidos pela globalização da tecnologia e
condições de vida que retenham os mais qualificados avanço da ciência podem ser postos ao serviço da
no país de origem (manutenção de valores significativos população e resolver em parte a pressão sobre os
de brain drain) recursos)

A Índia tem uma população jovem num mundo onde as economias mais competitivas
estão a ficar envelhecidas. A sua vantagem aumentou desde 2018, ano em que a
população em idade ativa (15-64 anos) passou a aumentar mais rápido que a
população dependente (0-14 e 65 e + anos). Tal como fizeram outros países (Japão,
China, Coreia do Sul), o país poderá rentabilizar este “pulmão”, que se prevê durar 37
anos, ou seja, até 2055, para garantir as condições necessárias a um desenvolvimento
rápido. Reconhece-se que o dividendo demográfico teve um contributo estimado em
15% nas economias onde ocorreu e esta será a janela de oportunidade, potenciada
pelo facto de se estimar que esta situação de vantagem competitiva se possa manter
durante mais anos que em outros países (por ex., no Japão entre 1964 e 2004), devido
a diferenças de comportamento face à fecundidade (IAS, 2020). Na RPC esse período
decorreu entre 1994 e 2012, tendo sido estreitado, entre outras razões, pelos efeitos
em cascata da politica do filho único e outras medidas pouco favoráveis à fecundidade
implementadas pelos responsáveis políticos chineses. A China entrou nesta fase 16

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anos após o início das reformas económicas de Deng Xiaoping e embora os efeitos se
tenham começado a sentir desde final dos anos 1970, os anos de dividendo
demográfico ajudaram a sustentar essa taxa por um período longo. Entre 1978 e 1994
(pós-reforma, pré-dividendo) a China apresentou oito anos de crescimento superior a
10%. Após 1994 e até 2012 apenas por duas vezes não conseguiu ultrapassar a marca
de 8% de crescimento (Thakur, 2019). Falta à India, quando comparada com a China, a
certeza de conseguir rentabilizar do mesmo modo os anos de vantagem competitiva.
Falamos de duas realidades muito distintas em termos de referencial politico e
identitário e de composição humana. Cabe aos responsáveis políticos saber como
investir no capital humano, aprendendo com outros casos exemplares e adaptando-os
à realidade nacional. Educação, formação profissional, condições de acesso a cuidados
de saúde são vetores chave, tirando partido da situação de estabilidade politica e paz
social regional tão indispensável nestes processos e que não existe noutras partes do
mundo.

Duas realidades, dois futuros? A jovem África e a velha Europa – A Europa contará
cada vez menos, África cada vez mais. Os dois continentes configuram exemplos
paradigmáticos de comportamentos extremos, que explicam a sua profunda
diferenciação em termos de características de estrutura etária e dinamismo
demográfico e permitem antever futuros distintos. O que as separa? Desde logo as
dinâmicas de crescimento total, já que até 2050 se prevê uma mais de duplicação da
população africana, que aumentará o seu peso percentual face ao total mundial (dos
atuais 17,2% para 26% em 2050), enquanto a Europa, que hoje corresponde a 9,7% da
população, verá reduzir o seu peso percentual e também absoluto. Na velha Europa,
que vive as fases 4 ou 5 do ciclo de transição morre-se mais do que se nasce, apesar da
esperança média de vida ser a maior do mundo e o crescimento do total de residentes
tende a ser cada vez mais dependente dos volumes e variações dos saldos migratórios.
A idade média da população é 13 anos superior à média mundial e alguns países do Sul
têm valores ainda mais elevados. A substituição das gerações não é assegurada há
várias décadas, devido aos baixos níveis da fecundidade, e a relação entre os grupos

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

mais jovens e mais idosos inverteu-se face ao desejável em termos de dinamismo e


sustentabilidade económica, porque também a população adulta em idade ativa está a
envelhecer e a reduzir-se (UNDP, 2019).

África e Europa. Dinâmicas comparadas (2019-2050)

Fonte: UN, 2019

A jovem África – Mais de metade da nova população do mundo até meados do século
irá nascer na África subsariana, por razões já aqui identificadas: os níveis de
fecundidade continuarão altos na maioria dos países africanos embora em redução;
África tem uma população muito jovem (20 anos), o que significa que muitos
continuam a entrar nos grupos de idade fértil; a população africana tem filhos cedo, o
que se traduzirá na coexistência de um número crescente de gerações por família, uma

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

vez que o número médio de anos de vida da população está a aumentar. Deste modo,
os ritmos de crescimento natural no continente (N-O) continuarão intensos, embora a
morbilidade e mortalidade sejam elevadas em termos médios mundiais, com custos
em termos de competitividade global, por dificultarem a criação de condições
favoráveis ao arranque económico e a melhoria dos níveis de IDH. África manterá uma
estrutura etária jovem, garantida para as próximas décadas e a globalização do
envelhecimento não será um problema a médio/longo prazo. As migrações são
sobretudo de saída, permitindo reduzir tensões sociais nas zonas mais densas,
designadamente urbanas, que irão registar aumentos significativos. Os níveis de
urbanização, de emprego, de PIB e de DH continuarão inferiores à media mundial,
embora apresentem uma tendência positiva.

África. População e alguns indicadores sociodemográficos (2019-2050)


IDADE
POPULAÇÃO (milhões) ESTRUTURA ETÁRIA FECUNDIDADE MORTALIDADE INDICADORES SOCIODEM.
MÉDIA
2019 2035 2050 2020 Jovens Idosos TBN ISF TBM TMI e0 TBMig %Urb PIB ($)
Mundo 30 26 9 19 2,4 7 31 70/75 54 16,1
África 1305,2 1885,3 2514,5 20 41 3 34 4,5 8 49 61/65 43 5,2
Norte de África 239,9 305,4 366,1 26 33 5 25 3,2 6 23 71/74 52 11,0
Argélia 43,4 56,5 61,4 28 30 6 25 3,1 5 21 77/78 -0,9 73 15,4
África Ocidental 390,5 583,1 805,2 18 44 3 38 5,3 10 60 56/58 46 4,3
Nigéria 201,0 295,0 401,3 18 44 3 38 5,3 12 67 53/55 -0,2 50 5,7
África Oriental 433,9 640,0 855,0 18 43 3 35 4,5 7 44 62/66 28 2,4
África Meridional 174,3 275,9 395,3 17 46 3 41 5,7 10 64 58/61 49 2,8
Angola 31,4 53,3 82,2 16 48 2 44 6,2 9 68 58/62 0,2 63 6,1
África do Sul 66,6 80,8 92,9 27 29 6 21 2,4 9 25 61/67 64 13,0
África do Sul 58,6 73,1 81,8 27 29 6 20 2,3 9 22 62/68 -0,9 66 13,2

Fonte: Elaboração própria com base em UN,2019; PRB,2020; CIA, 2020

Podemos, no entanto, falar de uma África a várias velocidades demográficas,


marcada por realidades comuns, mas com diferenças de perfil decorrentes de
histórias, culturas e características geoeconómicas particulares. O retrato geral (v.
Tabela) é consistente com a ideia de que as partes norte e sul do continente
apresentam perfis sociodemográficos semelhantes entre si, que as distinguem das
restantes. Falamos desde logo da vantagem socioeconómica em termos de PIB e níveis
de urbanização e também de estruturas etárias jovens, mas com um aumento
populacional mais lento, o que pode criar oportunidades de desenvolvimento humano

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

e melhoria dos níveis de bem-estar e de segurança. O ratio de dependência total e da


relação entre jovens e idosos reflete oportunidades e desafios, que permitem olhar o
futuro de modo mais positivo. Acresce o contexto de segurança económica e politica,
que tornam alguns países, sobretudo aqueles que dispõem de recursos naturais
(energia, minérios, solo arável e água), atrativos para a imigração extracontinental
(qualificada) e sobretudo intracontinental.
Que vantagens e desvantagens se perfilam no horizonte africano nos próximos
anos?
DESVANTAGENS/RISCOS VANTAGENS/OPORTUNIDADES
Alterações climáticas e pressão sobre alguns recursos Existe um potencial humano sem precedentes (janela de
vitais, especialmente gravosas dado o ritmo de oportunidades), capaz de influenciar positivamente todos os
crescimento da população residente e o aumento do indicadores de DH
consumo per capita
Migrações complexas, explicadas por fatores O esbater das assimetrias internas de distribuição de bem-
ambientais, instabilidade politica e conflito. Nem todos estar e qualidade de vida terão impactos positivos (saúde,
migram de forma voluntária, mesmo porque migrar é infraestruturas)
perigoso
Indicadores pouco favoráveis a nível de governança, Tudo pode melhorar em termos de indicadores
estabilidade politica e corrupção sociodemográficos possibilitando o esbater das assimetrias
internas de distribuição de bem-estar e qualidade de vida
Indicadores pouco favoráveis de desenvolvimento e Aumento do nível de instrução e formação e maior equilíbrio
qualidade de vida, designadamente nos centros de género e alteração do tipo de emprego (mais qualificado)
urbanos, que vão continuar a aumentar e colocam e redução da percentagem de jovens com baixas
problemas vários de gestão qualificações que não estudam e não estão empregados
Indicadores pouco favoráveis de desenvolvimento Benefícios trazidos pela globalização da tecnologia e avanço
económico e escassa flexibilidade do mercado de da ciência podem ser postos ao serviço da população e
trabalho continuarão a fomentar a emigração dos mais resolver em parte a pressão sobre os recursos)
jovens, nomeadamente em direção à Europa

Dinâmicas comparadas 2020-2050: População por sexo e idade em alguns países

Fonte: https://www.populationpyramid.net/

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

A população e as suas dinâmicas variáveis em África podem gerar insegurança,


tensões sociais ou instabilidade politica, mas também permitem encontrar as
respostas que melhor servem o seu futuro. A postura para enfrentar os desafios e tirar
vantagens das oportunidades geradas pelo vetor demográfico exige uma abordagem
compreensiva e também respostas políticas de largo espectro, num tempo de média
duração. Existe um dividendo demográfico a ter em conta! A probabilidade de um país
conquistar a sua janela de oportunidade em termos de DH resulta da forma como
apostou em setores estratégicos nas décadas anteriores: saúde (redução da
mortalidade infantil e juvenil), educação, desenvolvimento económico (emprego dos
mais jovens) e estabilidade politica. Para 2017 a União Africana (2017) estabeleceu
como objetivo garantir o dividendo demográfico através da aposta na juventude
(saúde reprodutiva, direitos dos muito jovens, bem-estar e acesso a educação). Em
África está (quase) tudo por fazer e as oportunidades são inúmeras!

E a velha Europa? - A Europa tem os melhores indicadores do mundo no que se refere


a mortalidade geral e infantil, bem como uma esperança de vida longa (Tab.5). A
maioria da população vive em zonas urbanas e possui níveis de bem-estar e
rendimento elevados, facto que explica a atratividade migratória que historicamente a
caracteriza. A atual originalidade da Europa no mundo resulta da dificuldade em
manter o volume de população, o que é visto como uma debilidade a diferentes níveis,
nomeadamente geopolítico e económico. Em mais de dois terços do território o
número de óbitos excede ou está prestes a exceder o de nascimentos e a dependência
face às migrações continua a aumentar. O quadro demográfico europeu desenha-se a
partir de quatro vetores: triplo envelhecimento etário da população residente, níveis
de fecundidade insuficientes para garantir a substituição das gerações, equilíbrio
populacional dependente das migrações internas e o facto de ser historicamente o
principal destino da imigração internacional (desde 2017 ultrapassada pela Ásia).
Que vantagens e desvantagens se perfilam no horizonte europeu nos próximos
anos?

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

DESVANTAGENS/RISCOS VANTAGENS/OPORTUNIDADES
A população residente deverá reduzir-se e o aumento Sociedades com indicadores muito favoráveis em termos
da fecundidade e dos saldos migratórios não conseguirá de governança, estabilidade politica e corrupção e de
inverter essa tendência Desenvolvimento Humano
O triplo envelhecimento das estruturas etárias tende a A população vive mais anos, mas também poderá ter
generalizar-se, reduzindo a competitividade e uma vida produtiva mais longa, porque viverá com maior
dinamismo económico e aumentando os encargos com saúde e será mais proativa
os mais velhos
Persistem diferenças regionais, que penalizam as zonas Teremos uma população em idade ativa mais reduzida
rurais e os países periféricos, quer em termos etários, em número, mas com maiores niveis de educação e
quer de qualidade de vida competencias e mais informada
As sociedades europeias têm dificuldade em gerir a Os próximos anos serão marcados pelo esbater das
dependência face à imigração, que não conseguem diferenças entre estados em termos de instrução e
substituir pela tecnología de ponta, capaz de reducir as formação, por um maior equilíbrio de género e pela
necessidades de uso de mão de obra intensiva por alteração do tipo de emprego ainda predominante
tecnologia
Tudo pode melhorar em termos de indicadores Benefícios trazidos pela globalização da tecnologia e
sociodemográficos possibilitando o esbater das avanço da ciência podem ser postos ao serviço da
assimetrias internas de distribuição de bem-estar e população e resolver em parte a pressão sobre os ativos
qualidade de vida económicos

Europa. População e alguns indicadores sociodemográficos (2019-2050)


IDADE
POPULAÇÃO (milhões) ESTRUTURA ETÁRIA FECUNDIDADE MORTALIDADE INDICADORES SOCIODEM.
MÉDIA

2019 2035 2050 2018 Jovens Idosos TBN ISF TBM TMI e0 TBMig %Urb PIB ($)

Mundo 30 26 9 19 2,4 7 31 70/75 54 16,1


Europa 745,6 745,4 731,2 43 16 18 10 1,5 11 4 75/82 74 38,0
Europa de Leste 292,4 279,9 264,2 41 17 16 10 1,5 12 5 69/79 69 24,6
Russia 146,7 144,1 138,7 40 18 15 11 1,6 13 5 68/78 1,7 74 26,5
Europa do Norte 105,4 111 116,5 41 18 19 11 1,7 9 3 79/83 81 48,5
Reino Unido 66,8 70,4 74,7 41 18 18 11 1,7 9 4 79/83 2,5 83 47,7
Europa do Sul 153 152 147,1 46 14 21 8 1,3 10 3 79/84 72 36,7
Espanha 47,1 49,2 49,6 43 15 19 8 1,3 9 3 80/86 7,8 80 40,8
Itália 60,3 60,1 58,1 46 13 23 7 1,3 11 3 81/85 3,7 70 42,5
Portugal 10,3 9,9 9,4 42 14 22 9 1,4 11 3 78/83 2,5 73 33,2
Europa Ocidental 194,9 202,4 203,4 44 15 20 10 1,7 10 3 79/84 80 53,4
França 64,8 69,8 72,3 41 18 20 11 1,8 9 4 80/85 1,1 80 46,9
Alemanha 83,1 82,2 79,2 47 13 21 10 1,6 12 3 78/83 1,5 77 55,8

Fonte: Elaboração própria com base em UN,2019; PRB,2020; CIA, 2020

A Europa será um continente com uma população altamente envelhecida e


esse é um processo difícil de reverter. O incontornável envelhecimento das estruturas
etárias que irá continuar nos próximos anos tem efeitos nos modelos de fecundidade,
reafirmando a urgência de medidas adequadas de apoio à família. Mas tem ainda
outras consequências imediatas, provocando a alteração dos volumes de ativos, a
necessidade de criação de serviços de apoio à terceira idade, a reformulação do
sistema de pensões e o repensar dos cuidados de saúde, direcionados para novos tipos
de população, numa sociedade onde as famílias são reduzidas e instáveis e onde as
redes familiares e comunitárias de solidariedade, que substituíam no passado recente

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os cuidados formais, deixaram de funcionar em termos de apoio de proximidade


(Rodrigues, Henriques, 2017). As respostas a este previsível cenário, sob a forma de
políticas públicas, terão de ser aplicadas o quanto antes, pois os seus resultados e
impacto só serão sentidos a médio ou longo prazo. Os desafios de amanhã necessitam
de respostas hoje, para que possam garantir o tão desejado rejuvenescimento,
sobretudo ao nível da natalidade e fecundidade, uma vez que o aumento do número
de idosos é, em última análise um fator positivo, porque reflete as conquistas obtidas
em termos de acesso a cuidados de saúde e consequente aumento do número de anos
de vida.

Dinâmicas comparadas 2020-2050: População por sexo e idade em alguns países

Fonte: https://www.populationpyramid.net/

O Demographic Scenarios for the EU - Migration, Population and Education 2019


(EU,2019) lembra a importância das migrações na mitigação do envelhecimento e da
redução populacional, não obstante as suas limitações em termos de estrutura etária,
uma vez que os imigrantes também envelhecem. Em 2000 foi efetuada a primeira
estimativa sobre a proporção de migrantes necessários para contrariar o declínio
populacional associado à quebra de nascimentos e da população ativa (UNDP, 2000).
Novas estimativas têm surgido sobre os desafios gerados pelas chamadas migrações
de substituição e respetiva influência no futuro da Europa e da UE. Não se trata,

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

porém, de um tema consensual, porque a Europa precisa dos imigrantes, mas mantém
uma relação ambígua no que respeita à gestão dos fluxos migratórios, hesitando entre
uma abordagem multissetorial e a vontade de consolidar uma política comum,
estruturada em torno de quatro eixos principais: 1) o controlo dos fluxos (no sentido
de um progressivo endurecimento sobre condições de entrada e permanência); 2) a
luta contra a imigração clandestina (reforço das fronteiras territoriais; aposta em ações
concertadas de fiscalização dos locais de trabalho…); 3) a consolidação de políticas de
integração das comunidades (garantindo aos já instalados condições favoráveis de
estabilidade; recuperando os excluídos das redes regulares); e 4) o desenvolvimento
de políticas de cooperação internacional (com vista a uniformizar os procedimentos
dos países recetores). Muitos dos novos reptos da sociedade europeia terão no
envelhecimento demográfico e nas migrações o seu pano de fundo estruturante,
designadamente nos sectores da atividade económica, do mercado de trabalho e do
universo de contribuintes, o que exige respostas urgentes em termos de políticas
públicas sub setoriais.
A UE não escapa a esta descrição e embora existam padrões de
comportamento tendencialmente semelhantes entre si, continuam a existir diferenças
entre os Estados-membros sobretudo em termos migratórios. Em 2018 as migrações
foram responsáveis por mais de 86% do aumento dos residentes na UE27. A
diversidade de situações é significativa e reflete as histórias nacionais e sobretudo o
grau de desenvolvimento interno, que lhes garante desigual atratividade migratória e
permite colmatar saldos naturais em alguns casos muito negativos (Alemanha, por
ex.). A situação portuguesa, tal como a de vários países bálticos (Letónia e Lituânia), do
leste europeu (Roménia e Bulgária) e a Grécia é das mais preocupantes. As diferenças
são também explicadas por desigualdades face ao processo de envelhecimento. Nos
países do norte e ocidente, que envelheceram mais cedo (como França), o processo foi
mais lento, ao contrário dos países do Sul, que constituíram até aos anos 70 o que
alguns chamaram “berço da Europa” e hoje são dos mais envelhecidos. A UE irá
continuar a aumentar até 2025 graças à imigração, embora um terço das NUTS 3 já
estejam a perder residentes, e nem todos os grupos etários aumentem. Até 2030

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prevê-se que os ativos (15-64 anos) diminuam 21 milhões e o seu envelhecimento


provoque uma descida no PIB estimada entre 1.25 e 2.25% ao ano. A idade média da
população continuará a subir (era de 35,2 anos em 1990, hoje é 42,8, em 2030 será até
4 anos mais. O número de idosos ultrapassa há várias décadas o de jovens e o número
de ativos atingiu o seu pico em 2010. Em 2020 existem menos 12 milhões de
indivíduos com 20 a 64 anos e serão menos 50 milhões até 2035 (menos que em
2010). Os cenários prospetivos são pouco animadores, prevendo até meados do século
XXI uma redução constante do peso relativo dos adultos jovens em toda a UE27
(Eurostat,2020).
O retrato dos continentes africano e europeu deixou claro as muitas diferenças
entre ambos. Porém, se tentarmos identificar as vantagens e oportunidades que
caracterizam cada um deles, podemos concluir que falamos de vizinhos que terão
vantagem num futuro partilhado, o qual se deve basear num principio estruturante: o
da complementaridade. Ambos enfrentam desafios aparentemente antagónicos para
se reposicionarem no mundo em transição, que devem ser encarados em uma lógica
win-win, mas esta só será viável se for possível o diálogo sobre temas nem sempre
fáceis, como o das migrações, da segurança ou da complementaridade económica.
A aposta na qualificação e na igualdade de género é determinante para o futuro
do continente africano e depende da capacidade de integração deste jovem
continente no processo de integração global, onde a velha Europa também terá de
lutar para não perder a sua posição, nomeadamente em termos de competitividade. A
situação económica global torna-se mais difícil para esta última, à medida que as
empresas europeias enfrentam uma concorrência mais dura do Oriente Médio e da
Ásia. As contas públicas da maioria dos países europeus confrontam-se com deficits e
níveis de desemprego elevados. Quesado (2019) sugere a necessidade de criar um
novo contrato de confiança entre África e Europa, baseado em propostas estratégicas
num quadro operacional. À Europa exige-se que saiba integrar, de forma positiva, a
maioria das pessoas que vêm desenvolver novos negócios, o que só poderá ser bem-
sucedido se existir vontade dos agentes económicos de ambos os continentes.
Paralelamente, a inovação e a tecnologia devem ser os "facilitadores" para a

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competitividade na Europa e também em África. A base para a futura implementação


efetiva da Estratégia UE-2030, que também deve ser seguida por África, passa pela
congregação de objetivos comuns entre universidades e empresas privadas, que
permita o desenvolvimento de projetos estratégicos (polos de competitividade,
clusters de inovações, smart cities).

Europa. Cenários prospetivos e a importância das migrações (2015-2060)

Fonte: EC, 2019

Uma política de integração positiva é um sinal de que a Europa e a África têm


um caminho comum a seguir no futuro. Os dois continentes têm identidades únicas,
criadas por heranças culturais fortes e especificas dos países que as compõem, mas
ambos devem esforçar-se por aceitar e incorporar de forma tolerante os princípios que
norteiam outros parceiros globais com os quais são forçados a conviver e competir.
Neste sentido, a cultura é um vetor de desenvolvimento a não negligenciar. A sua
reinvenção representa uma forma muito inovadora de envolver mais atores europeus

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e africanos em um projeto de futuro. A Europa e África têm uma oportunidade única


de se auto reinventarem nas próximas décadas, razão pela qual uma parceria entre a
Europa e a África, mais do que uma possibilidade, é uma necessidade individual e
coletiva para europeus e africanos, a que se junta a já referida complementaridade,
proporcionada pelos efetivos humanos (Quesado, 2019).

Um mundo diferente… mas previsível - A interligação entre demografia e o nosso


mundo VUCA exige um processo contínuo de ajustamento, porque falamos de
realidades dinâmicas. Dai o interesse que pode resultar da monitorização do modelo
de transição demográfica. O futuro implica o redesenhar da sociedade global,
garantindo a gestão sustentável entre comunidades mais envelhecidas, complexas e
distintas, fluxos migratórios fáceis, rápidos e com novos perfis, necessidades em
termos de progresso económico a escalas local, nacional e global e direitos e garantias.
O novo conceito de segurança humana assente na dignidade do indivíduo implica uma
preocupação com o nosso espaço e com o que nos rodeia. A segurança resulta
sobretudo de atitudes e comportamentos proactivos e preventivos. O papel
geopolítico que o vetor demográfico pode assumir revela-se incontornável. O conceito
de segurança humana assente na dignidade do indivíduo implica uma preocupação
com o nosso espaço e com o que nos rodeia.
O futuro implica redesenhar a sociedade global, garantindo a gestão
sustentável entre comunidades mais envelhecidas, complexas e distintas, fluxos
migratórios fáceis, rápidos e com novos perfis, necessidades em termos de progresso
económico à escala local, nacional e global e direitos e garantias. A segurança resulta
sobretudo de atitudes e comportamentos proactivos e preventivos. Os estudos
demográficos podem e devem ser usados como uma ferramenta para monitorizar
características de conjuntura, identificar elementos de mudança e transformações
sociais e ajudar a antecipar modelos económicos, políticos e também de segurança.
Vivemos tempos excecionais, cuja análise nos confronta com a existência de novos
padrões e tendências e nos conduz a novas formas de olhar o mundo. Utilizar para
esse efeito as dinâmicas e comportamentos coletivos dos cidadãos faz parte dessa

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nova forma de ver (Rodrigues, 2019: 35-36). Os estudos demográficos são um


instrumento com potencialidades ainda por descobrir.

4.4. Portugal: Permanências e Mudanças


No conjunto da União Europeia Portugal é um país de dimensão intermédia (9
têm mais população, 4 valores semelhantes e 14 são menores). Trata-se também de
um país equilibrado na relação entre população (2,3%) e superfície (2,6%). Acresce
ainda que a sua importância demográfica relativa não se alterou nos últimos 40 anos,
se considerarmos os atuais 27 Estados-membros. Mas o alargamento da UE a Leste
tornou o nosso país geograficamente mais periférico.
Um dos desafios estruturais com os quais a sociedade portuguesa se confronta
na atualidade reside na insegurança relacionada com a evolução dos principais
indicadores demográficos e o seu impacto em termos de desenvolvimento económico
e níveis de bem-estar social. Como principais incertezas destacam-se as geradas, direta
ou indiretamente, pelo rápido e acentuado envelhecimento da estrutura etária dos
residentes, pela manutenção de níveis baixos de fecundidade e pela reduzida
atratividade migratória. Portugal é o 4º país mais envelhecido da Europa e o 5º do
Mundo, existem (2020) mais de 161 idosos por cada 100 jovens, o número médio de
filhos por mulher (1,42), está muito aquém do necessário para garantir a renovação
das gerações (2,1) e cerca de 5,7% do total de residentes são estrangeiros (PORDATA).
Este texto procura contribuir para uma discussão informada sobre a relação
entre dinâmicas populacionais, crescimento económico e qualidade de vida em
Portugal. Para tanto identifica os aspetos e transformações de carácter
comportamental coletivo e de mentalidades que explicam a situação atual. Segue-se a
descrição das tendências pesadas que caracterizam as dinâmicas demográficas
portuguesas mais recentes e os desafios, riscos e oportunidades que resultam da
evolução esperada do volume e novos perfis dos residentes no país. Como somos e
onde estamos? Para onde vamos e o que fazer para mitigar ou encontrar soluções para
os efeitos menos desejados das mudanças populacionais que parecem inevitáveis?

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Como aproveitar possíveis oportunidades abertas pelos vetores de mudança que


possamos identificar, em que setores se manifestam, como agir?
Os pontos 1 e 2 descrevem a população que temos e explicam como chegámos
aqui. O primeiro destaca as longas permanências do balanço entre saldos naturais e
migratórios e respetivas causas. O segundo identifica os momentos e vetores de
mudança e a ligação dinâmica entre o processo de envelhecimento etário e os níveis
médios de bem-estar regional, destacando os pontos de articulação entre
comportamentos demográficos, sociais e económicos e salientando as vantagens e
inconvenientes da atual dependência face às migrações. Os pontos 3 e 4 apresentam a
população residente que teremos até 2050. O primeiro de ambos diz quantos e como
seremos: quantos jovens e idosos, que população ativa. Até que ponto o que
poderemos perder em volume absoluto poderá ser contrabalançado pelo
desenvolvimento endógeno gerado pelas novas características desses “portugueses do
futuro”, mais informados, exigentes, saudáveis e com novos modelos e capacidade de
consumo. Por fim, o ponto 4 discute os vetores que podem alterar a perceção negativa
que rodeia a quase certa inevitabilidade de redução e mudança do perfil da população
residente, que será menor que a atual e cada vez menos nascida em Portugal e discute
duas possíveis opções de intervenção estratégica. Devemos tentar contrariar o declínio
demográfico que parece incontornável, investindo na redução do grau de
envelhecimento das estruturas etárias, ou apostar na reestruturação das atividades
económicas, de forma a que possam atuar como dinamizadores da demografia
nacional, na dupla aceção de atratividade migratória e da redução dos obstáculos que
continuam a penalizar as famílias? O que mais importa? Inverter o saldo negativo da
população partindo da certeza de que as dinâmicas populacionais condicionam o
desenvolvimento económico e influenciam os níveis de bem-estar social, pelo que a
incapacidade de renovação demográfica e o envelhecimento das estruturas etárias
representam uma vulnerabilidade nacional? Ou gerir a nova realidade sem demasiado
pessimismo, assumindo que o declínio da população é um percurso natural de
sociedade portuguesa pós transição e que estamos perante um novo paradigma, que
pode ser rentabilizado numa melhoria da qualidade de vida dos residentes?

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Onde estamos. As tendências pesadas - As estimativas de 31 de dezembro de 2019


falam em 10 295 909 residentes, mais 19 292 que em data igual no ano anterior (INE,
2020). Desde 2010 perdemos quase 331 mil residentes, mais de um terço explicado
pela ocorrência de menos nascimentos que óbitos e quase dois terços porque o total
de emigrantes nacionais e a saída de imigrantes residentes em Portugal supera o total
de entradas. Mas embora as migrações mitiguem alguns efeitos entendidos como
negativos da realidade nacional, eles não serão suficientes para resolver os desafios
acumulados de uma sociedade pós-transição triplamente envelhecida, na qual faltam
jovens (0-14 anos,1,4 milhões) e o número de idosos (65 + anos, 2,3 milhões) não cessa
de aumentar. Desde 1970 o grupo dos maiores de 65 anos duplicou e o grupo dos
jovens reduziu-se a metade. A população adulta tem em média mais de 45 anos de
idade e o número de pessoas em idade potencial de saída do mercado de trabalho
(entre os 55 e 65 anos) não é compensado há mais de uma década pelo número de
pessoas em idade potencial de entrada no mercado de trabalho (20 a 34 anos) (INE,
2020). Tal significa que desde 2010 deixou também de estar assegurada a substituição
da população ativa e contributiva.
A pálida recuperação da natalidade e da imigração e a redução da emigração
verificada desde 2015 não foi suficiente para inverter a tendência recessiva. Vivemos
uma fase negativa igualável à observada nos anos 1960, mas hoje a situação é ainda
mais complexa, porque não se limita a refletir o efeito dos saldos muito negativos da
emigração, que marcaram a realidade nacional ao longo de todo o séc. XX e explicam
historicamente a lentidão de crescimento populacional português, embora os níveis de
fecundidade fossem elevados. Tudo mudou na segunda metade dos anos 1970, com a
célere modernização social e melhoria das condições de vida, acompanhadas por
alterações de comportamento da população. Estas alterações, causadas pelo processo
de transição demográfica e sanitária (Rodrigues e Moreira, 2010: 30), estão na base do
rápido envelhecimento das estruturas etárias, explicadas pela redução desde então
ininterrupta dos níveis da fecundidade e da mortalidade e pelo gradual aumento do
número médio de anos de vida da população (PORDATA).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Morre-se menos, mas nasce-se ainda menos. Entre 2010 e 2018 quer o saldo
natural (Nascimentos-Óbitos) quer o migratório (Imigrantes-Emigrantes) foram
negativos, atingindo valores máximos entre 2011 e 2014. A tendência negativa dos
saldos natural e migratório, que se inverte apenas em 2019, coincide com o
agravamento do processo de envelhecimento da população na base (redução do total
de jovens) e no topo (aumento do total de idosos). Em 2020 cada português vive em
média mais 14 anos do que viveria se tivesse nascido em 1970, ou seja, o equivalente a
duas vidas dos seus avós. Somos o 9º país do Mundo com maior esperança média de
vida à nascença e um dos que apresenta menor mortalidade infantil (TMI de 3,2‰ em
2019, INE). O que é um fator especialmente positivo porque desde 1982 o número
médio de filhos por mulher é insuficiente para assegurar a renovação das gerações.
Portugal está entre os países do mundo com menores níveis de fecundidade (1,42
filhos por mulher, INE, 2020). As famílias têm metade dos filhos de há 30 anos atrás,
metade das quais nunca terá irmãos. Não existem sinais de recuperação passíveis de
alterar o envelhecimento da base da pirâmide etária, porque os níveis de fecundidade
continuam baixos, mesmo com o contributo dos imigrantes (Peixoto et al., 2017)

Portugal, um país triplamente envelhecido. Saldo natural, saldo migratório (1960-2019) e


alteração das estruturas etárias (1900-2019)

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Fonte: Rodrigues, Henriques, 2017; INE, 2022

Somos diferentes do que eramos há algumas décadas, também porque a


morbilidade e a mortalidade se alteraram de forma intensa e positiva desde os anos
1970. Portugal apresenta uma das mais baixas mortalidades infantis e juvenis do
Mundo. Até aos anos 1980 os ganhos em termos de duração em anos de vida são
explicados pela descida dos níveis de mortalidade infantil e juvenil e posteriormente
pelas vitórias obtidas no prolongamento da sobrevivência dos mais velhos (Oliveira,
Mendes, 2010). Este facto explica a razão pela qual 1 em cada 5 residentes tem mais
de 65 anos (15,7%) e destes uma parte cada vez maior tem 75 ou mais. Mais de 85%
da população (90% no caso feminino) vive até aos 65 anos e os maiores de 80 anos
quase quadruplicaram nas últimas quatro décadas (em 2019 representam 6,5%). A
maior sobrevivência das mulheres reflete a feminização do processo de
envelhecimento: por cada 100 mulheres com mais de 65 anos existem 75 homens, mas
com 80 e mais anos existem apenas 46 homens por cada 100 mulheres (PORDATA,
2020). Dado o novo perfil da população (poucos jovens, muitos idosos e muitos idosos
muito idosos), as atuais causas principais de morbilidade e mortalidade são devidas a
doenças crónicas e degenerativas, neoplasias e doenças do aparelho circulatório. Estas
últimas têm regredido desde meados dos anos 1990 (Moreira, Henriques, 2014) e
explicam grande parte do aumento recente da esperança média de vida. O inverso
sucede com as doenças do aparelho respiratório, as quais têm aumentado, sobretudo
entre os maiores de 80 anos, o grupo etário que mais tem crescido nos últimos anos.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Portugal. Evolução de algumas causas de morte (1930-2018) (%)

Fonte: Anuário Estatístico, INE, 1940, 1940, 1950, 1979, 1980, 2011, 2016, 2019 (cálculos das autoras)
Porém, viver mais anos não significa que os mesmos sejam vividos com qualidade. O
grande desafio no futuro que se coloca neste âmbito é conseguir alinhar o aumento da
esperança média de vida com o aumento do período de vida saudável. Nas sociedades
europeias, envelhecer saudável tornou-se um objetivo prioritário e uma meta a alcançar1,
porque propicia condições favoráveis para manter a inclusão e a participação social, prolonga a
vida ativa, protela a institucionalização, adia a senescência. Todos queremos saber quantos
anos podemos esperar viver desde o momento do nascimento e sobretudo quantos anos
viveremos com boa saúde. As mulheres vivem em média 4 anos mais que os homens, mas
menos anos com saúde (EUROSTAT, 2020).

Portugal. Esperança de vida saudável à nascença e aos 65 anos e esperança média de vida
aos 65 anos (1995-2018)
e0 saudável e65 saudável e65 anos
H M H M H M
1995 59,6 63,1 8,3 9,9 14,7 18,1
2001 59,5 62,7 8,2 8,7 15,7 18,9
2005 58,6 57,1 6,5 5,2 16,1 19,7
2011 59,3 56,6 7,1 5,7 17,2 21,0
2018 59,8 57,5 7,8 6,9 18,2 22,0
Fonte: Eurostat, 31.08.2020, https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/tepsr_sp330/default/table?lang=en

O envelhecimento da sociedade portuguesa e a garantia de que este fenómeno


não virá comprometer os níveis de bem-estar social coletivo já alcançado é outro
grande desafio atual e futuro. No presente contexto de saldos naturais e migratórios

1Desjardins e Legaré (1984) criaram o indicador da esperança de vida com saúde, que permite estimar qual é em dado momento o
número de anos de vida esperados sem limitações de longa duração (e que varia com as condições de desenvolvimento humano
da sociedade em causa).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

nulos ou negativos, e num quadro de declínio populacional assumido sem alarmismo,


as consequências não têm necessariamente de ser negativas em termos económicos
ou sociais, mas exigem planeamento sustentado e uma mudança de paradigma (Rosa,
2012, Rodrigues, 2018). Em 1979 Manuel Nazareth (2009), num estudo pioneiro sobre
as fases e os fatores que desencadearam esse processo, referia que «quando
observamos os diferentes tipos de estruturas, quer a nível distrital quer a nível
concelhio, somos surpreendidos pelos profundos contrastes entre elas: de duplamente
muito jovens, passamos em algumas dezenas de quilómetros a estruturas duplamente
envelhecidas». Embora o alastramento do fenómeno tenda a esbater a diversidade
regional, a verdade é que o processo de envelhecimento não foi uniforme na
cronologia e em intensidade (INE, 2016). A redução das assimetrias explica-se pelas
diferenças observadas nos ritmos, direções e volumes dos movimentos migratórios
desde a segunda metade do século XX, em resposta às estratégias de desenvolvimento
interno adotadas em diferentes setores (Rodrigues, Leão, 2016).
Na viragem do século as migrações tornaram-se decisivas para garantir o
aumento da população residente a nível regional e, desde então, cerca de 94% do
aumento populacional ocorrido é devido aos saldos migratórios (Rodrigues, Moreira,
2011). Continuamos a ser um país de emigrantes, já que um quinto dos portugueses (2
266 735, Nações Unidas, 2017) vivem fora do país, mas o total de estrangeiros
aumentou 75% desde 2001 e representa em 2019 5,7% do total de residentes (590
348, Sefstat, 2020). Entre 1993 e 2010 o saldo migratório foi positivo, mas a partir de
2010 aumentaram não só as saídas de cidadãos portugueses como o retorno aos
países de origem de muitos imigrantes e só em 2015 se voltou a registar alguma
tendência de recuperação. As motivações económicas continuam a ser o principal, mas
não o único fator explicativo na decisão de vir residir em Portugal e, à semelhança do
que sucede em todo o Mundo, aumentou a variedade de perfis, origens e motivações.
O país apostou nas migrações familiares, a principal razão da entrada desde 2010 (38
204 em 2019), enfatizando a figura do reagrupamento familiar nas suas leis de
imigração, facto reconhecido a nível internacional e que nos coloca em lugares de topo
no ranking do MIPEX III (SEF, 2019:13-15).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Podemos identificar três grupos distintos de imigrantes: 1) os oriundos de


países desenvolvidos (UE, EUA, Canadá, Norte da Europa), com qualificações médias
ou altas, que ocupam cargos em setores como a educação, a saúde e administração; 2)
os originários de outros países europeus e da América do Sul, com qualificações
médias (ensino secundário), que desempenham funções no setor dos serviços
(comércio a retalho, restauração, turismo) ou esporadicamente em postos de direção;
3) os procedentes de África e da Ásia, com qualificações baixas (ensino básico), que
trabalham sobretudo no setor dos serviços (limpeza, pequeno comércio, construção
civil, agricultura).Os migrantes escolhem os grandes centros urbanos e as zonas mais
dinâmicas em termos de oferta de emprego menos qualificado, indústria e/ou turismo.
Mais de 68,6% está registada nos distritos de Lisboa, Faro e Setúbal. São 8 anos mais
jovens (2011: 34,2/42,1 anos), em média com mais um filho que os nacionais,
maioritariamente mulheres (51% do total) e em idade ativa (81%), 9% são crianças ou
estudantes e 10% reformados. O bom clima, o custo de vida e a segurança explica o
aumento do grupo sénior, maioritariamente constituído por britânicos e alemães (SEF,
2020).
Portugal. Imigração, principais nacionalidades (2022)

Fonte: https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2018.pdf

Onde estamos. A realidade nacional e as tendências de mudança - Múltiplos fatores


contribuem para a reconfiguração da sociedade portuguesa, que regista um processo de
modernização e mudança social acentuado e rápido a partir de 1974. Essas mudanças são

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

consequência direta de novos moldes de articulação entre comportamentos demográficos e


sociais e o sucesso das opções politicas em setores estruturantes essenciais, que permitiram a
melhoria das condições de vida da população, induzida pelo desenvolvimento do Estado Social,
a criação do Serviço Nacional de Saúde e a generalização do sistema de ensino e consequente
aumento gradual do nível médio de formação dos portugueses. O desafio do bem-estar tem
sido o mote estruturante das medidas equacionadas pelos governantes políticos desde os anos
1970, embora não tenha anulado as desigualdades sociais, que continuam a obedecer a uma
geografia específica, que dita diferentes realidades regionais. A par dos movimentos de
emigração, a mobilidade interna a que assistimos desde 1960 contribuiu para a redistribuição
da população no território, em função da capacidade de atração económica das regiões. O
modelo de desenvolvimento que o país foi adotando ancorou-se numa organização territorial
que vinha do passado e que privilegiou o litoral, onde se concentra a maioria dos núcleos
urbanos, as atividades económicas com grande intensidade de mão-de-obra (obras públicas,
indústria pesada, atividades portuárias) e os centros de decisão política, fomentando o
abandono progressivo dos ativos jovens do interior rural.
O retrato traçado no início deste século por Ferrão (2003) mantém-se atual. O autor
definia o país como um «território-arquipélago», construído com base no reordenamento do
espaço urbano em torno das Áreas Metropolitanas e da faixa litoral (onde já então residia
quase metade da população) e em alguns centros médios do interior, que continuavam a atrair
residentes e investimento e cujo afastamento dos grandes eixos de dinamismo tradicional lhes
parecia trazer alguma mais-valia. O Portugal rural e periférico às duas maiores cidades (Lisboa
e Porto) debatia-se com dificuldades de desenvolvimento e registava uma deterioração
relativa de níveis médios de bem-estar demográfico, económico e social, agravados por algum
desinvestimento público e privado, em termos de oferta de equipamentos coletivos. Também
aí eram mais visíveis os impactos negativos do envelhecimento demográfico. A dicotomia
entre “concelhos pobres”, que representam a imensa maioria do país, e “concelhos ricos”
prevalece até hoje (Rodrigues, 2012: 212). Com efeito, existe uma coincidência entre
vitalidade demográfica e qualidade de vida à escala regional desde a segunda metade do
século XX (Pereira e Chorão, 2009: 136-145), sendo possível identificar no continente três
grupos distintos de concelhos (Tabela): 1) os mais dinâmicos (3% do total), maioritariamente
situados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto; 2) os moderadamente dinâmicos
(11%), que juntam concelhos da Grande Lisboa, do Grande Porto e do Algarve litoral; e 3) o

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Portugal adormecido, correspondendo a 86% do total, com tendências recessivas e de


emigração interna e externa (Moreira, Rodrigues, 2010).
Não obstante as conquistas alcançadas nas últimas décadas, Portugal continua
a ser regionalmente pouco homogéneo do ponto de vista social e económico e
continua a prevalecer a correlação positiva entre vitalidade demográfica e qualidade
de vida. Os locais com maior percentagem de jovens, migratoriamente mais atrativos
para nacionais e estrangeiros e que mais crescem, são aqueles onde existe melhor
oferta de equipamentos e de serviços especializados em setores estruturantes, como
os da educação, do emprego, do lazer e da saúde, o que pode vir a constituir uma
vulnerabilidade nacional (Rodrigues, 2018). Mas apesar das diferenças regionais, o
envelhecimento é transversal e está consolidado em todo o país. A Figura permite
visualizar as diferenças concelhias em termos do grau de envelhecimento em 2011 e
concluir que apenas 45 concelhos (16%) à volta de Lisboa e do Porto, nas regiões
autónomas e no Algarve (Albufeira) possuem mais jovens (0-14 anos) que idosos (65 e
mais anos). É no interior que se localizam os concelhos mais envelhecidos, alguns com
mais de 40% dos residentes acima dos 65 anos (Moreira et al., 2010). A vantagem
numérica dos mais idosos tenderá a acentuar-se no futuro próximo e os cenários
prospetivos são unânimes ao considerá-la irreversível, pelo menos a médio prazo, com
impactos inevitáveis em termos da população ativa e dinâmica local.

Portugal. Índice de Bem-estar (2004) e Índice de Envelhecimento (2021)

Fonte: Rodrigues, 2009; INE, Recenseamentos Gerais da População, 2011

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Tendências de mudança: educação, saúde e mercado de trabalho – A evolução do


sistema de ensino reflete as mudanças extraordinárias que foram reconfigurando a
sociedade portuguesa nas últimas décadas, produzindo novas lógicas e condições
sociais, bem como lançando as bases para novos futuros possíveis (Henriques et al.,
2014). A democratização do ensino marca as últimas décadas do século XX, sobretudo
no caso das mulheres, que em 2019 constituem 54,1% dos alunos do ensino superior.
Entre 1970 e 2018 a taxa de analfabetismo passou de 26 a 5% e o número de
portugueses com formação superior mais que triplicou (sobe 18,7%, de 49 para 1245
mil, PORDATA). A taxa real de escolarização (percentagem de alunos matriculados em
cada ciclo de estudos) aumentou em todos os níveis de ensino desde finais dos anos
1960, tal como a escolarização dos adultos (25-64 anos) e a formação ao longo da vida.
A taxa de abandono precoce de educação e de formação dos jovens adultos que não
concluíram o ensino secundário e não estão inseridos em qualquer programa de
educação ou formação (NEET) (16-29 anos) reduziu-se para menos de metade desde o
ano 2000 (INE Estatísticas da Educação e Ciência). Existem ainda, no entanto, alguns
problemas estruturais. Um deles reside no abandono escolar precoce, que
compromete a inserção no mercado de trabalho dos pouco ou não qualificados, e
pode constituir um fator potenciador de risco de exclusão social. Em termos
comparativos europeus o nível de escolarização continua baixo (40% dos residentes
não possui mais de 6 anos de escolaridade) e percentagem da população com 15 e
mais anos que não concluiu qualquer grau de ensino (7,6%) é elevada (INE Inquérito ao
Emprego, 2019).
A educação é um indicador portador de futuro porque influencia os
comportamentos demográficos e produz mais-valias no estado de saúde individual e
coletivo. A garantia de acesso à saúde como um direito de cidadania teve o seu
momento alto com a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Desde então as
mudanças foram consecutivas e rápidas, melhorando a quantidade e qualidade das
respostas e a prestação de cuidados de saúde primários e hospitalares. Estas melhorias
são confirmadas pela evolução positiva dos indicadores demográficos, pese embora o
facto de estes também refletirem a melhoria material das condições de vida das

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

famílias, em termos de rede de cobertura de saneamento, eletrificação e condições de


habitabilidade dos agregados. O SNS procurou esbater as diferenças regionais e os
desafios inerentes ao aumento da esperança de vida e à concentração da morte nos
escalões etários mais velhos, garantindo o acesso igualitário a cuidados médicos, o
aumento da eficácia do sistema de saúde e o acesso a informação por parte dos
utentes, processo de médio prazo em curso (Rodrigues, 2018). Henriques (2005),
Henriques, Rodrigues (2010) e Rodrigues et al. (2016) provaram que existe em Portugal
uma relação positiva entre aumento do nível de instrução da população e estado de
saúde. Assim, um dos desafios que se coloca aos responsáveis pelo setor da saúde no
futuro passa por dar respostas em tempo e qualidade perante o aumento das
necessidades de cuidados por parte de cidadãos mais velhos, mais afetados por
doenças crónicas e incapacitantes, mas também mais informados e capazes de manter
modos de vida mais saudáveis e atitudes preventivas mais ativas, facilitando o
diagnóstico precoce e reduzindo a carga orçamental com saúde.
A educação é um indicador portador de futuro também em termos de
estruturação familiar e mercado de trabalho (Rodrigues, Henriques, 2017). O sucesso
dos jovens na entrada na vida ativa influencia a saída de casa dos pais, a decisão de
constituir família e o momento em que escolhem ter filhos e quantos. O tipo de
emprego, a estabilidade do contrato e a remuneração a obter afetam cada indivíduo e
também a sociedade como um todo (o mercado imobiliário, ou consumo de
determinados bens). É ao concluir a escolaridade obrigatória que se toma a decisão de
continuar os estudos ou enveredar pelo mercado de trabalho e é nesse momento que
o investimento na promoção da educação como “elevador social” deve ter maior
proatividade, porque condiciona o futuro das gerações mais jovens (futuros ativos). O
abandono precoce e o baixo nível de instrução fazem com que mesmo empregados
muitos jovens portugueses mantenham baixos salários ao longo de toda a vida ativa
(OCDE, 2015). As condições do mercado de trabalho estão a melhorar em Portugal. As
taxas de desemprego continuam inferiores à média da UE27 e da OCDE, mas a oferta
de emprego alterou-se, tornando-se menor em setores tradicionais e absorventes de
muita mão-de-obra, como a indústria e a construção e também mais precária e

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

temporária (OCDE, 2018). O novo perfil do mercado de trabalho dificulta a


recuperação do emprego por parte de uma população empregada que também
mudou, dado o aumento dos níveis de escolaridade das coortes mais jovens. Em 2014
por cada 100 potenciais trabalhadores estavam desempregados 14 sem escolaridade,
15 com nível de ensino básico ou secundário e 10 licenciados. Ter um curso superior
parece reduzir o risco de desemprego, talvez porque a terciarização do tecido
económico crie oportunidades em áreas de atividade diferentes do passado recente
(serviços públicos ligados ao ensino, saúde e segurança social, quadros técnicos das
empresas e serviços da administração central e regional). A população NEET foi
particularmente afetada pela crise económica e financeira recente, porque nesse
período os empregadores puderam contar com oferta de trabalhadores mais
instruídos a melhor preço e na hora de contratar preferiram os mais instruídos
(Henriques et al., 2014).
Num contexto em que cada individuo pode esperar viver mais, há que preparar
a sociedade para lidar com os desafios suscitados pelas mudanças na estrutura
populacional. O número de pensionistas cresceu 2,5% ano desde 2000, mas a
probabilidade de gerações mais idosas serem mais saudáveis, poderá justificar que
contribuam com uma vida ativa mais longa. A partir de 2011 a componente
demográfica é incluída no cálculo da idade de reforma, mas persiste a ideia que esta é
hoje a mais alta de sempre, o que é falso2. Muitos acreditam também que a alta taxa
de desemprego jovem é provocada pela permanência de adultos seniores no mercado
de trabalho e sentem que a idade de reforma não deve aumentar para que mais cedo
sejam libertados empregos. Porém, ao aumentar a proporção de pensionistas aumenta
também a pressão sobre quem trabalha e é contribuinte ativo. Se aplicarmos à
estrutura populacional a evolução do desemprego jovem e do grupo de 55-64 anos
concluímos que o desemprego jovem sofreu mais com a volatilidade do mercado de
trabalho devido à sua rigidez e à elevada proteção de que gozavam os trabalhadores
mais velhos. Na atualidade, os decisores políticos veem-se a braços com uma realidade

2
Em 1970 era elevada a probabilidade de um trabalhador nunca chegar a “gozar a reforma”, porque a
esperança média de vida era inferior em 9 anos; mas em 1980 a esperança média de vida iguala a idade
de reforma. 2012 é o momento de maior divergência entre a idade de reforma (66,4 anos) e a esperança
média de vida (82,8 anos): 16,4 (mulheres) e 8,5 anos (homens).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

que provoca taxas de desemprego elevadas sobretudo dos jovens, mas


estruturalmente defrontam-se com o impacto da pressão das gerações mais idosas e
das suas expectativas face a um plano de reforma, com a imigração do capital humano
altamente qualificado e com a redução do número de crianças, o que pode criar
tensões intergeracionais.
Sobretudo num contexto de aumento das desigualdades na distribuição do
rendimento, que hoje em Portugal superam os valores da década de 1980 (Rodrigues,
Henriques, 2017). A desigualdade do rendimento é usada pela OCDE para medir o
impacto negativo no crescimento económico, porque afeta a performance da
economia, a educação de segmentos mais pobres, diminui o capital humano e reduz as
oportunidades e disponibilidades de investimento e até a estabilidade social. As
políticas de emprego devem ser desenhadas não apenas com o foco na melhoria das
condições sociais, mas com vista a garantir um crescimento economicamente
sustentado. A redistribuição de rendimentos (via impostos e transferências) é a chave
para combater a desigualdade, mas não deve impedir esse crescimento. Importa
incentivar políticas promotoras do acesso a uma educação de qualidade, o que implica
uma atenção especial às famílias jovens com filhos, pois é na fase que as decisões
relativas à educação futura são feitas que se criam os grupos com desvantagem
competitiva no mercado de trabalho (OCDE, 2014). E há que intervir no relativo aos
imigrantes residentes cuja, porque à semelhança do que sucede noutros países, a sua
taxa de desemprego é superior à média nacional em 3 pontos percentuais (PORDATA).
Em 2020 vivemos mais e melhor, temos melhor apoio na escola e na saúde face
ao desemprego, mas continuamos a ser na UE o terceiro país com maior grau de
desigualdade interna, tal como continuamos a apresentar indicadores de qualidade de
vida inferiores à média comunitária, que afetam com particular intensidade os muito
idosos (OCDE, 2015a). O envelhecimento demográfico está instalado e persiste,
acentuando-se. O que não é mau, porque indicia que somos uma sociedade onde os
sistemas básicos de apoio existem, mesmo que não sejam satisfatórios. Resta saber
que constrangimentos e/ou oportunidades suscita a questão do envelhecimento das
estruturas etárias para a sociedade portuguesa e para onde vamos.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Para onde vamos. Como se desenha hoje o Portugal das próximas décadas - Para
tomar decisões racionais e sustentáveis, há que conhecer a realidade. A população
representa um vetor estratégico nacional e embora o futuro pareça quase certo,
reconhecer os “factos portadores de futuro”, projetar os futuros possíveis e tomar
iniciativas para que eles se concretizem, caso sejam desejáveis, passou a constituir um
objetivo a atingir. As projeções existentes são unânimes no que respeita à tendência
recessiva do total de residentes nas próximas décadas, embora com diferenças
regionais condicionadas pelo processo de envelhecimento e a dinâmica migratória.
Desde 1970 a população com menos de 15 anos reduziu-se a metade, os residentes
com mais de 65 duplicaram. A janela de oportunidade fechou-se: a partir de 2005 o
rácio ativos/inativos reduziu-se e em 2010 deixou de ser garantida a substituição da
população ativa contributiva. Desde 2010 o número em idade potencial de saída do
mercado de trabalho (55-65 anos) excede o número dos que estão em idade potencial
de entrada (20-34 anos). Espera-se uma redução da população, que será consistente a
partir de 2025 e poderá atingir 30% nas zonas rurais e do interior. Até 2040, 236
municípios irão reduzir o total de residentes, 141 dos quais mais de 15% e em apenas 8
se estima uma subida superior a 15%. Seremos então tantos quanto fomos em 1950
(Rodrigues, Ribeiro, 2018). Prevê-se até meados do século que a população muito
idosa (85 ou mais anos) triplique; os maiores de 65 anos dupliquem, os jovens sejam
menos 26% e a população ativa e contributiva menos 33%, a mesma de 1940, e até 7
anos mais velha que hoje (passe de 45 para 52 anos em média).

Portugal. Evolução e cenários prospetivos (1900-2051)

Fonte: Rodrigues, Henriques, 2017 (M = milhões)

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Seremos menos, menos jovens e mais velhos. A realidade parece superar as


estimativas mais pessimistas, porque perdemos residentes, embora existam vários
fatores de incerteza sobre a intensidade dessa perda, designadamente no âmbito das
migrações, que embora negativas desde 2010 podem ser alteradas pela recuperação
económica e por eventos internacionais ou retorno de cidadãos portugueses. Nos
próximos anos teremos que nos adaptar a uma população mais reduzida, mais
envelhecida, menos dinâmica, mais dependente. A sociedade será mais igualitária no
que se refere aos sobreviventes por sexo (49% de homens e 51% de mulheres) e a
pirâmide de idades estará formalmente invertida. Em 2050 apenas 1 em cada 8
residentes terá menos de 15 anos, existirão 3 vezes mais idosos que jovens (perto de 3
milhões) e a população em idade ativa diminuirá de 5,2 (2011) para 4,6 milhões. O
grupo de idades 25-64 anos representa atualmente 55% da população total, mas será
então 46%. O ratio entre ativos e inativos irá sofrer grandes mudanças, mesmo que a
idade da reforma continue indexada ao aumento do número médio de anos de vida.
Caso se mantenham os atuais padrões de ciclo de vida profissional, tal significa que
54% da população portuguesa (inativa) dependeria dos restantes 46% (ativos). Mas a
realidade não é tão simples: existem ativos com mais de 65 anos e 2 em cada 3 jovens
com 15-24 anos está inativo, a grande maioria a estudar (INE, Inquérito ao
Emprego,2018).

Portugal. Dinâmicas regionais de envelhecimento total e por grandes grupos de idade (2011-
2040)

Fonte: Rodrigues et al, 2018:190-91

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Portugal. Estrutura e variação dos grupos de idade (2011-2050)

Fonte: Rodrigues, Henriques, 2017

Portugal. Percentagens de Jovens, Idosos e População em Idade Ativa (2011-2050)

Fonte: Rodrigues, Henriques, 2017

Vivemos um ciclo que vai gerando menos filhos e menos futuras mães. Mesmo
assumindo no nosso exercício prospetivo um cenário de fecundidade mais otimista
que o atual, não é possível evitar a diminuição de nascimentos. O número de mulheres
em idade fértil vai decrescer qualquer que seja o cenário considerado e a única
possibilidade de atenuar este efeito é passarem a existir condições para que as
mulheres concretizem o seu número de filhos ideal (2 em média), o que permitiria
duplicar o total de nascimentos. Em simultâneo deveria apostar-se em atrair jovens

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

imigrantes que possam concretizar em Portugal o desejo de constituir família em


segurança. Muitos dos novos reptos da sociedade portuguesa terão no
envelhecimento demográfico o seu pano de fundo estruturante, designadamente nos
setores de atividade económica, do mercado de trabalho e do universo de
contribuintes, o que exige um esforço de reestruturação do modo como a pensamos.
Exige sobretudo medidas setoriais urgentes e sustentáveis. É neste contexto que o
conhecimento das dinâmicas populacionais deve ser olhado como um instrumento de
apoio à decisão política e estratégica, já que a sua compreensão é a base para uma
reflexão informada e um roadmap para o debate coletivo (Rodrigues, Henriques,
2017). De acordo com um exercício prospetivo realizado em 2017 (Rodrigues,
Henriques), até 2050 Portugal poderia inverter a recessão populacional e ganhar 1,2
milhões de novos residentes, caso se conjugassem dois cenários: a) se os saldos
migratórios se mantivessem em torno dos 40 mil efetivos/ano) e b) se o número de
filhos por mulher se aproximasse do número desejado, o que levaria a uma quase
duplicação do total anual de nascimentos face a 2015. Mas nenhum dos cenários
considerados poderá em separado evitar a redução anunciada do total de residentes.
Seremos menos, mas mais instruídos e mais saudáveis. O que perdemos em
número ganhamos em qualidade, informação e competências (Henriques, 2017). A
educação e a formação continuarão a ser no século XXI vetores de mudança e
preditores do futuro. Todos seremos mais escolarizados, sobretudo os mais velhos. A
ligação entre escolaridade e processo de envelhecimento está estudada (Martins et al,
2014). A proporção de indivíduos que completam níveis de escolaridade mais elevados
deverá aumentar em todos os grupos etários e sexos, embora também no futuro a
escolarização feminina seja superior, sobretudo entre os mais jovens. Mesmo
admitindo a pouco provável manutenção dos níveis de escolaridade atual de cada
grupo etário, os níveis de escolarização vão subir, à medida que gerações mais jovens e
mais escolarizadas substituem as mais velhas e assistiremos em termos de formação à
valorização do capital humano no grupo ativo adulto (15-64 anos), com inevitáveis
impactos no desenvolvimento desejado da sociedade portuguesa. Até 2030 a
proporção dos que não completaram o Ensino Básico irá reduzir-se para 25% (era

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

39,4% em 2011) e a percentagem de diplomados com um curso superior deverá atingir


valores próximos dos 25% em 2031 (era 16,4% em 2011). Mais de metade da
população terá concluído o Ensino Básico (56 a 59%). Os idosos do futuro serão muito
diferentes dos atuais, já que mais de 40% terá completado pelo menos o 3.º Ciclo do
Ensino Básico (um aumento de 27% relativamente a 2011) e a percentagem dos
detentores de um curso superior passará de 4,6% para 13% (23,4% das mulheres,
15,5% dos homens).

Portugal. Níveis de escolaridade por sexo e idade. Cenário Constante (esquerda) e Cenário
Tendência (direita) (2011 e 2031)

Fonte: Martins, Rodrigues, Rodrigues, 2014

O aumento de esperança de vida e dos riscos de maior incidência de certas


doenças crónicas e incapacitantes pode ser contrabalançado pelo aumento do nível
educacional da população (Rodrigues, Henriques, 2015). Existem teorias divergentes
sobre a relação entre aumento da esperança média de vida e prevalência de níveis de
incapacidade e de mau estado de saúde. Para alguns, o envelhecimento incontornável
das estruturas da população irá fazer subir os níveis de morbilidade e da incapacidade.
Defendem outros que a incapacidade e o mau estado de saúde serão adiados para o
fim da vida, pelo que no futuro viveremos mais tempo e com melhor estado de saúde.
Martins et al. (2014) estudaram o efeito das alterações em termos de perfil
demográfico e graus de escolaridade na saúde futura dos portugueses até 2030 e

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

concluíram que a melhoria do estado de saúde coletiva nos próximos anos será
acompanhada pelo aumento da utilização dos serviços de saúde (consultas médicas e
uso de medicamentos prescritos). Considerando a influência conjunta que o sexo, a
idade e o nível de escolaridade exercem sobre a saúde (Denton, et al., 2004; Vintém,
2008; Barros, 2013), o estudo prospetivo da estrutura populacional por grau de
escolarização permite concluir que no futuro seremos menos, mas os portugueses
terão uma vantagem essencial em termos de saber e conseguir fazer melhores e mais
bem fundamentadas escolhas: serão cidadãos mais informados.
Seremos menos e diferentes em origens. Teremos cada vez menos residentes,
mas mais importante que a ordem de grandeza é a mudança de perfil desta população.
Espera-se um aumento do total de residentes estrangeiros e respetivos descendentes,
fomentado pela provável recuperação económica, que poderá trazer um novo alento
aos fluxos de entrada e também reduzir as saídas (quer por retorno aos países de
origem, quer pela redução da emigração de cidadãos nacionais e retorno). Até 2025 é
possível admitir a retoma dos saldos positivos que marcaram o período 1993-2010. As
comunidades migrantes traduzem-se em mais-valias para Portugal a nível económico e
cultural e mitigam o fenómeno do envelhecimento demográfico na base e no topo. A
aposta em atrair jovens imigrantes que possam concretizar em Portugal o desejo de
constituir família em segurança e em migrantes mais qualificados poderá ser
determinante no futuro próximo (Rodrigues et al, 2015).

Para onde vamos. O que fazer. A aposta em vetores estratégicos - A população e as


suas dinâmicas passaram a integrar a agenda política. A preocupação com o modo
como podem influenciar o futuro de Portugal, positiva ou negativamente, tem ganho
espaço no âmbito dos programas de governo e também nos projetos eleitorais
partidários de todas as tendências. No Conceito Estratégico de Defesa Nacional de
2013, o envelhecimento demográfico é pela primeira vez reconhecido como uma
vulnerabilidade nacional na agenda da segurança e defesa dos Estados, a par da
segurança financeira, energética, alimentar, científica e tecnológica. O documento
assume como um dos vetores e linhas de ação estratégica (ponto 2.3) “Incentivar a

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

renovação demográfica e gerir o envelhecimento da população”. Defende para tanto


três linhas de ação, que vão ao encontro do que entendemos estar em jogo na
articulação entre Demografia e Economia: “Promover novas políticas de incentivo à
natalidade e de fixação das populações, bem como, a consolidação das políticas de
integração dos imigrantes; Desenvolver politicas publicas de gestão do envelhecimento
da população, por forma a garantir a coesão nacional; Manter uma política de
imigração integradora e humanista que reforce a coesão social e promova uma cultura
de cidadania. Do mesmo modo, atuar ao nível das perceções das populações, de modo
a prevenir a radicalização e a xenofobia.”
Quais são os interesses principais e prementes da sociedade portuguesa, num
contexto de profundas mudanças que não vai conseguir evitar, mas que tem a
obrigação de procurar gerir, por forma a assegurar a desejável melhoria da qualidade
de vida e bem-estar das populações residentes, hoje e amanhã?
O conhecimento das dinâmicas populacionais permitiu identificar algumas
caraterísticas que podem constituir fatores de risco no futuro. Falamos dos riscos
potenciais decorrentes do triplo envelhecimento das estruturas etárias, causado pela
redução progressiva do peso da população com idade inferior a 19 anos, o aumento da
percentagem de adultos com 55 ou mais anos e sobretudo o aumento da idade média
dos adultos em idade ativa (20-65 anos). Este triplo envelhecimento tem uma relação
próxima com outros dois fatores determinantes: Portugal é um país de filhos únicos
com pais idosos e as potenciais melhorias introduzidas pelo recente aumento dos
níveis de fecundidade não irão inverter o cenário de muito baixa fecundidade prevista
para os próximos anos. Existem cada vez menos mulheres em idade fértil e o número
potencial dos que saem do mercado de trabalho é superior aos dos que entram, e
destes uma parte não nasceu em Portugal. Iremos viver à custa dos imigrantes, que
são mais jovens, têm mais filhos e por vezes optam por habitar em zonas menos
procuradas pelos nacionais? A dependência face aos imigrantes económicos acentua-
se, e a estes se juntam os que encontram em Portugal um local com boas condições
para viver a sua reforma. (Rodrigues et al., 2015).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Há que mitigar o indesejado, aproveitar as oportunidades e remover


obstáculos. O desafio do envelhecimento não é uma simples questão demográfica,
mas sim uma questão de adequação da política económica, social e das instituições.
Para que deixe de existir o problema do envelhecimento é necessário desenvolver
políticas que incentivem naturalmente os indivíduos a ajustar e adequar os seus
comportamentos a um ciclo de vida mais longo e com novas etapas biológicas, sociais
e produtivas. O impacto do envelhecimento demográfico deve ser medido enquanto
bem-estar futuro e não crescimento do PIB, e o facto de deduzirmos que o o mesmo
implica a redução do rendimento per capita não é sinónimo de redução de bem-estar
(Bloom et al., 2011).

Portugal. Sugestões de atuação

Fonte: Elaboração própria

Num contexto onde continuarão a existir assimetrias regionais na distribuição


humana e no bem-estar, que favorecem o litoral e os centros urbanos e assumindo
como inevitável o futuro previsto, elegemos 3 vetores privilegiados de intervenção
para gerir a mudança (Rodrigues, Henriques, 2017a):
1. Políticas Migratórias e de Acolhimento Todos sabemos que políticas de acolhimento
bem-sucedidas colocam Portugal entre os melhores em termos de práticas de integração.
Não obstante, os volumes de entrada persistem em ser moderados, porque faltam
oportunidades de emprego e os nossos imigrantes têm um perfil maioritário de imigrante
económico pouco qualificado. O Plano Estratégico para as Migrações (2015-2020) define
eixos e medidas para alterar esta situação: melhorar a capacidade para captar imigrantes e
não apenas mão-de-obra; criar condições estruturais favorecedoras de estabilidade do
mercado de trabalho (por via fiscal) e de promoção do emprego (por via da formação ao

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

longo da vida e da sua valorização fiscal); melhorar a capacidade para reter pessoas de outras
nacionalidades assegurando a diversidade cultural; revalorizar áreas estratégicas em que a
sociedade portuguesa é manifestamente bem-sucedida (ciência, educação, turismo e saúde),
o que pode tornar Portugal um país de residência preferencial para outros cidadãos
europeus reformados.
2. Políticas de Natalidade e Família A solução para alterar a tendência negativa dos
nascimentos exige a efetivação de soluções integradas que permitam fazer coincidir
aspirações e realização familiar. Não se trata de uma questão estritamente financeira,
porque o nível de poder de compra e de rendimento tem vindo a subir, mas de falta de
expectativa sobre o futuro e de confiança nas instituições. Maior justiça fiscal (cada filho
conta); leis flexíveis de articulação família-trabalho (licenças parentais, trabalho parcial),
consolidar os sistemas de apoio à educação e acesso à saúde (maior apoio e menos custos);
compromisso social com famílias mais carenciadas. Trata-se de remover obstáculos à
qualidade do tempo da família: efetivar uma política de natalidade integrada de todos os
intervenientes para todos os cidadãos; valorizar a família como unidade base da sociedade;
promulgar medidas que, mais que criar benefícios, reduzam obstáculos a quem quer ter mais
filhos e assumir uma atitude estratégica e prospetiva: as mudanças de comportamento
inscrevem-se em tempos longos (Azevedo, 2014).
3. Políticas de Emprego e Educação Nomeadamente em três grandes setores de
intervenção: 1. medidas dirigidas à entrada de jovens no mercado de trabalho, desde a
prevenção do abandono escolar, ao desenvolvimento de programas de formação que façam a
ponte entre o sistema de ensino e o emprego, subsídios à contratação de jovens e benefícios
fiscais que estimulem a procura ativa de emprego, para que os jovens não se sintam tentados
a substituir emprego por subsídios. 2. Medidas que evitem a saída precoce de trabalhadores
mais velhos, o que passa por reformas da Segurança Social (encorajar mais trabalhadores a
trabalhar até mais tarde e conceder subsídios temporários aos desempregados mais velhos,
dando tempo para procurar atividades mais adequadas às suas competências e experiência de
vida); Reformas e incentivos fiscais (novas formas de indexação pode debelar ou mitigar riscos
de saída antecipada. Diminuir impostos em idades mais avançadas pode incentivar
trabalhadores a permanecer no mercado de trabalho até mais tarde); Reformas no Mercado
de Trabalho (bónus financeiros a trabalhadores entre 61 e 65 anos. 3. Medidas que promovam
ambos os grupos, assentes nos pressupostos de intergeracionalidade (pontes de partilha de
conhecimento entre os mais velhos, que passam o seu conhecimento intrínseco e os mais
novos os seus conhecimentos em novas tecnologias), formação ao longo da vida, maior
proporcionalidade na distribuição fiscal entre trabalhadores, não trabalha-dores e
pensionistas, aumento da taxa de atividade da população.

É possível mudar o que parece inevitável, mas não se mudam comportamentos


sem mudar mentalidades. O envelhecimento demográfico é um dos maiores desafios
da sociedade portuguesa, com consequências que não têm necessariamente de ser
negativas, mas que exigem planeamento e uma mudança de paradigma. O discurso
que predomina na sociedade portuguesa continua a delegar a tomada de decisão nos
responsáveis políticos, mas esta passividade deve ser substituída por atitudes
proactivas. A responsabilidade da adaptação e mitigação não compete apenas aos

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

decisores políticos, mas deve ser estendida a diferentes atores (empregadores,


stakeholders, líderes de opinião e religiosos). E também aos cidadãos. Nenhuma
mudança será possível sem que exista uma coincidência entre enquadramento
legislativo e escolhas individuais. É preciso que a sociedade portuguesa encare a
mudança em curso e repense todos os grupos etários (idade de reforma precoce,
reforma tardia e velhice), de forma a criar uma política global da idade que articule os
critérios de análise à nova realidade.

Portugal. Demografia ou Economia?

Fonte: Elaboração própria

Será preferível continuar a tentar mudar perfis demográficos não desejados ou


mais vantajoso recriar estratégias que permitam transformar em janelas de
oportunidade as vulnerabilidades potenciais de uma população portuguesa que será
necessariamente diferente num mundo também diferente? Uma nova população? Há
que olhar o futuro sabendo que seremos menos e diferentes e devemos assumir a
transformação da sociedade portuguesa e a redução populacional como natural e
quase inevitável. Poderá a alteração do perfil dos futuros residentes mitigar o tão
temido cenário de insustentabilidade do sistema de proteção social ao reduzir a

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

pressão sobre os serviços? Quais as prioridades e o que podemos e devemos fazer


para garantir o melhor equilíbrio possível entre qualidade e satisfação em
equipamentos e no acesso a cuidados de saúde, educação, emprego, lazer e cultura,
num contexto em que seremos menos e diferentes? Será a demografia um driver da
economia ou o inverso? Apresentamos de seguida um exercício de reflexão e algumas
propostas de futuros compromissos para gerir a nova realidade.

Hipótese 1: a demografia como driver da economia


O racional é que as dinâmicas demográficas condicionam o desenvolvimento económico e influenciam os
níveis de bem-estar social. A incapacidade de renovação demográfica, aliada ao envelhecimento das
estruturas etárias, figuram entre as vulnerabilidades nacionais. O objetivo nesta abordagem é inverter o
saldo negativo da população.

Portugal teve que se ajustar rapidamente a uma sociedade envelhecida, não apenas pelo
aumento da esperança de vida, mas sobretudo pela falta de nascimentos. Como se sustenta
uma sociedade arquitetada no sistema pay-as-you-go, fortemente dependente das estruturas
ativas, ou melhor, contribuintes líquidos que suportem um Estado Social? Em termos
prospetivos a redução demográfica pode constituir uma ameaça, já que a perda de efetivos
pode repercutir-se negativamente na economia, com consequências na empregabilidade e no
tecido produtivo. Este efeito negativo é potenciado pelo facto pela pressão que o grupo mais
idoso exerce a nível contributivo e no que respeita às opções de investimento das políticas
públicas, sobre a população mais jovem (por exemplo, apostar em saúde infantil ou geriátrica;
em creches ou em lares de dia), que será a próxima população ativa.
A natalidade tem centralizado a maioria das políticas de população, secundadas pelas
questões migratórias. Em Portugal tornou-se nos últimos anos evidente a urgência em
estabelecer uma agenda que permita inverter a tendência decrescente da natalidade, criando
condições favoráveis ao aumento dos níveis de fecundidade e de apoio às famílias, que apesar
de diferentes continuam a ser a unidade de base da sociedade. O mesmo se aplica à gestão
das migrações, desta feita numa perspetiva que vá para além da visão estritamente
económica. O entendimento expresso no Programa do Horizonte 2020 da UE é o de que lidar
com o envelhecimento da população exige um investimento social em ambos os vetores
(natalidade e migrações). O Relatório The Evolution of the Family in Europe 2008 compara as
políticas de família nos Estados membros, identifica as boas e más práticas e olha a imigração
como principal fonte do crescimento demográfico europeu, embora consciente de que se trata
de uma estratégia política limitada no tempo, difícil de implementar e manter e insuficiente
para resolver o problema do envelhecimento da população europeia. Na Abordagem Global
para a Migração e a Mobilidade, a UE elaborou uma política externa equilibrada e completa
em matéria de migração, sendo a relação entre migração e desenvolvimento uma das quatro
prioridades operacionais identificadas. A migração é também uma prioridade específica do
plano estratégico de desenvolvimento da Comissão para reorientar a sua ação para os países e
setores que mais necessitem de apoio (Agenda da UE para a Mudança).
Inverter o saldo negativo da população residente em Portugal é quase impossível no
curto ou médio prazo. Partindo desta premissa existem 2 possibilidades para tentar gerir a
situação: alterar a dinâmica do saldo migratório ou alterar a dinâmica do saldo natural: criar
condições de atração de imigrantes e, simultaneamente, estancar a saída dos emigrantes e
potenciar o seu retorno (falamos de indivíduos na sua maioria jovens, por vezes muito
qualificados e em idade de casar e de ter filhos) e aumentar a imigração de forma a compensar

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

parte das perdas devidas à emigração e à quebra da natalidade (neste caso, colmatando o
défice entre nascimentos e óbitos);inverter a tendência decrescente da natalidade e aumentar
o número de nascimentos.

1. Importar para travar o declínio demográfico: políticas migratórias e de acolhimento -


O aumento dos contingentes imigratórios influencia o volume de residentes de forma direta e
indireta: pelo acréscimo da população ativa, o rejuvenescimento etário e o aumento do
número de nascimentos, porque os migrantes são maioritariamente jovens, em idade fértil e
de constituir família. O recuo dos níveis de fecundidade, a descida da natalidade e o aumento
da duração média de vida fazem com que um número crescente de países procure minorar os
efeitos da falta de adultos em idade ativa. Muitos dos novos reptos destas sociedades terão no
envelhecimento demográfico e nas migrações o seu pano de fundo estruturante,
designadamente nos setores da atividade económica, do mercado de trabalho e do universo
de contribuintes, o que exige novas respostas em termos de políticas públicas setoriais.3. O
sucesso de um conjunto de medidas legislativas que incentivem a imigração e por essa via
façam subir o total de residentes parece à primeira vista uma hipótese viável e pouco arriscada
para solucionar alguns dos problemas de crescimento e sobretudo de rejuvenescimento da
população.
Importar para travar o declínio demográfico parece uma excelente medida
conjuntural, mas em termos estruturais é insustentável. Portugal sempre foi um país de
migrantes e as últimas décadas demonstraram o sucesso das políticas de acolhimento e boas
práticas de integração. Os volumes de entrada só persistem em ser moderados porque falta
oferta de oportunidades de emprego. Os modelos clássicos de análise olham a imigração como
um elemento de renovação da população, em particular em idade ativa, mas importa
considerar que condições de atratividade conseguimos criar e que políticas de incentivo à
imigração podem ser desenvolvidas ou melhoradas, com vista à obtenção dos resultados
desejados (em termos de volume e de perfil etário, socioeconómico e formativo dos novos
residentes. Que politicas de incentivo, acolhimento e integração são necessárias para efetivar
o desejável desenvolvimento da economia portuguesa?

Tab.4. Portugal. Fita do tempo. Migrações. Onde estamos? Como estaremos?


ANOS
1993-2010 Saldos migratórios (I-E) positivos entre 1993 e 2010, embora gradualmente descendentes
2000-2008 Emigração anual constante
2008-2015 Aumento dos volumes de emigração, sobretudo com caráter temporário
2000-2010 Aumento gradual do total de residentes estrangeiros, sobretudo trabalhadores dependentes e para
reagrupamento familiar
2008-2015 Redução gradual do total de residentes estrangeiros, com exceção para alguns perfis como o de estudantes
do ensino superior
2015-2020 Implementação do Plano Estratégico para as Migrações
2020-2025 Inversão da tendência negativa dos saldos migratórios, por via da redução de saídas e aumento de entradas
2025-2050 Manutenção de saldos migratórios positivos, embora moderados (5 mil/ano), embora com as tradicionais
assimetrias regionais de fixação (litoral urbano/interior rural)
Fonte: Governo de Portugal, 2015, pp.1654 (24); INE, 2015

3Portugal enfrenta 5 desafios particularmente decisivos que convocam as migrações Plano Estratégico para as
Migrações (2015-2020), PCM, 2015): 1) combate transversal ao défice demográfico e equilíbrio do saldo migratório;
2) consolidação da integração e capacitação das comunidades imigrantes residentes; 3) inclusão dos novos
nacionais, por via da aquisição de nacionalidade ou da descendência de imigrantes; 4) reforço da capacidade de
captação de migrantes, valorização das suas competências e talentos em contexto económico global; 5) reforço do
vínculo das comunidades de emigrantes e reforço de condições para incentivar o retorno e reintegração. A procura
de respostas a estes 5 desafios levou à identificação de outros tantos eixos prioritários e à proposta de adoção de
106 medidas.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Os fluxos migratórios tradicionais estão a ser substituídos por fluxos de mão-de-obra


mais qualificada, com permanência temporária noutros locais, por vezes intermitente e
tendencialmente associada a oportunidades de desenvolvimento pessoal e de progressão
profissional. Este novo tipo de migração obriga-nos a reanalisar os fatores de motivação para
imigrar, os modos de constituir e manter família, as opções de residência, o regime fiscal e as
regras de acesso a serviços de proteção no setor da educação, saúde, velhice e outras. Ficam
algumas sugestões: melhorar a capacidade para captar imigrantes e não apenas mão-de-obra;
criando condições estruturais favorecedoras de estabilidade do mercado de trabalho (por via
fiscal) e de promoção do emprego (por via da formação ao longo da vida e da sua valorização
fiscal); melhorar a capacidade para reter pessoas de outras nacionalidades assegurando a
diversidade cultural; e revalorizar áreas estratégicas em que a sociedade portuguesa é
manifestamente bem-sucedida, como a ciência e educação, ou a saúde e bem-estar, fator que
pode tornar Portugal um país de residência preferencial para cidadãos europeus em benefício
de reforma. Há ainda a considerar a questão da repartição dos imigrantes no território, que
reflete as oportunidades e flexibilidade dos setores de atividade económica local
predominante. A relação entre estas duas variáveis implica repensar a importância de fatores
como as condições de habitabilidade, a existência de serviços e o acesso a bens em
determinados locais para a capacidade de atração e fixação de população. Desigualdade de
rendimentos, de consumo, de escolaridade e exigências e informação condicionam o grau de
capacidade atrativa local. David Justino (2016) reconhece na dinâmica migratória um driver da
economia e defende que o envelhecimento não seria um problema se o nosso mercado de
trabalho conseguisse atrair trabalhadores. Considera que as políticas existentes privilegiam a
atração de investimento e talento estrangeiro, quando deveriam ser direcionadas para a
reforma do mercado de trabalho4, para a internacionalização da investigação científica e
redução da saída dos portugueses mais qualificados. Só o crescimento económico poderá criar
as necessárias oportunidades para as gerações futuras de trabalhadores, que os desincentivem
a emigrar, os façam regressar e tragam mais imigrantes. O autor refere ainda a falta de
medidas que rentabilizem as oportunidades criadas pela diáspora.
O futuro das migrações em Portugal depende do sucesso das políticas de integração e
do investimento em setores chave, designadamente a aposta na educação e na formação
profissional e o combate às atividades económicas informais associadas à imigração ilegal ou
irregular. Depende também da capacidade endógena da economia (uma vez que a
esmagadora maioria dos imigrantes e dos nossos emigrantes têm motivações económicas)
para criar condições para reter os emigrantes potenciais, fomentar o retorno dos já emigrados
e atrair e manter os imigrantes5.
Mas como vimos a imigração nunca fará mais que mitigar o envelhecimento
demográfico e não vai impedir a redução do total de residentes, mesmo num cenário otimista.
Admitindo a possibilidade de retoma dos saldos migratórios a partir de 20206, embora pareça

4 Sublinha a título de exemplo o dualismo das condições de trabalho entre o que designa por trabalhadores
nacionais protegidos e estrangeiros em emprego precário.
5 Um maior reconhecimento e valorização das suas competências, a facilitação de criação de novos empregos e

projetos económicos, a alteração no regime jurídico do estatuto do imigrante, a promoção da legalidade migratória
podem garantir a segurança necessária e a paz e estabilidade da sociedade portuguesa, onde novos e velhos
migrantes (emigrantes portugueses e seus descendentes, imigrantes de segunda e terceira geração e recém-
chegados) possam coexistir e criar sinergias proactivas.
6 A reposição do saldo positivo seria feita por 3 vias: a não saída de cidadãos portugueses, o retorno de portugueses

emigrados, a manutenção dos imigrantes residentes no país e alguma entrada de novos imigrantes. Num quadro
legislativo que parece não ser urgente alterar se atendermos aos resultados muito positivos da avaliação de
Portugal em sede de políticas migratórias, este processo seria gradual, diríamos mesmo natural, mesmo não sendo
acompanhado pela alteração do perfil de imigrantes e emigrantes ou dos destinos de fixação atual de cada
nacionalidade.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

improvável o regresso aos valores dos anos 1990 (uns 30 mil efetivos por quinquénio), seria
possível recuperar até 2030 mais de 1,2 milhões de novos residentes, ainda assim um total
insuficiente para inverter a tendência recessiva de crescimento populacional. Caso a diferença
entre o número de imigrantes e emigrantes se mantivesse em torno dos 40 mil efetivos/ano os
ganhos de 2020 a 2050 poderiam ultrapassar 1,2 milhões de novos efetivos, valor insuficiente
para evitar a descida do total de residentes no país.

2. Recuperar para travar o declínio: políticas de natalidade e família - As sociedades têm


valorizado a juventude em detrimento da velhice, associando a juventude à renovação,
energia criativa e capacidade de expansão e crescimento. Esta perceção faz com que a
natalidade e os comportamentos de fecundidade se tenham tornado um tema recorrente e
prioritário. Como fazer para recuperar nascimentos que podíamos ter e não temos? A resposta
mais imediata para assegurar a renovação demográfica tem destacado a urgência de inverter a
tendência negativa dos totais de nascimentos. As lições aprendidas com casos bem-sucedidos
devem ser adaptadas à nossa realidade. O problema é que os diagnósticos já realizados não
foram secundados por medidas efetivas de caráter prático e holístico. A solução para alterar a
tendência negativa dos nascimentos não pode ser encontrada na efetivação de soluções
soltas, e apenas a adoção de políticas amigas da família poderá ser eficaz e fomentar o tão
desejado aumento da taxa de natalidade.

Portugal. Fita do tempo. Natalidade e Fecundidade. Onde estamos? Como estaremos?


ANOS
1978-1995 Inicia-se a redução sustentada do volume anual médio de nascimentos até 1995
1982-2007 O número médio de filhos por mulher desce abaixo do mínimo indispensável para garantir a renovação das
gerações e reduz-se ao longo de todo o período
1977-1995 O índice sintético de fecundidade decresce de forma acentuada, acompanhando a descida do total de
nascimentos
1996-2000 O total anual de nascimentos e os níveis médios de fecundidade aumentam ligeiramente, devido ao
contributo dos filhos de mães estrangeiras
2001-2010 Década de oscilações anuais no total de nascimentos e nos níveis de fecundidade
2009 O número de nascimentos passa a ser inferior ao de óbitos
2011-2016 O total anual de nascimentos reduz-se e os valores da fecundidade apresentam oscilações em torno de 1,3
filhos, com valores mínimos em 2016
2016-2051 Redução continuada do total de nascimentos, mesmo admitindo a possível subida gradual dos níveis de
fecundidade.
Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 1900 a 2020

Trata-se de remover obstáculos à qualidade do tempo da família, que é cada vez


menor, mas de composição mais complexa, nomeadamente pelo aumento rápido das taxas de
divórcio e as recomposições familiares. Caso nada mude em termos de sucesso de políticas
setoriais, existirão menos mães no futuro, as quais terão o seu 1º filho cada vez mais tarde e só
excecionalmente mais de 1, a maioria nascidos fora do casamento (57% em 2018). Não
obstante, a discrepância entre o número de filhos desejados (2 a 3) e o real (1,4 em 2018) deve
ser olhada como uma janela de oportunidade. Mesmo com a hipotética redução do número de
mães, se o número de filhos tidos se aproximar do número desejado, em 2050 poderão nascer
duas vezes mais crianças em Portugal do que hoje.
Quando se procura identificar políticas amigas da família, a resposta tem de ser
procurada fora do vetor demográfico, em respostas integradas que permitam melhorar as
condições de vivência quotidiana, promover a conciliação da vida familiar com a profissional e
estimular a imigração de população em idade ativa assente na reunificação familiar. Não se
trata de uma questão meramente financeira, porque o nível de poder de compra e de
rendimento tem aumentado, mas de falta de espectativa e de confiança nas instituições e na

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

eficácia das medidas que permitam articular vida profissional e familiar (horários creche-
escola-emprego, solidariedade necessária para com os pais e avós idosos). A própria
constituição de família pode ser influenciada pelo risco inerente à constituição de uma família
autónoma (em particular o acesso e condição perante o emprego, o acesso à habitação e a
capacidade para suportar as despesas inerentes a uma família). Estes são os fatores mais
determinantes que a insegurança em relação ao crime, desastres ou outros fenómenos
imprevisíveis, porque é no plano pessoal que as pessoas avaliam o risco a que ficam expostas,
caso necessitem de recorrer aos sistemas de saúde, educação, justiça e segurança social.
Será de admitir para sempre a não renovação das gerações ou conseguir mudar
comportamentos e transformar gradualmente o país num espaço amigo das famílias7?.
Falamos de um desejo relativamente ao qual existe uma coincidência de vontade de todos os
setores de decisão, o que indicia que elas tenderão a ser efetivadas. Joaquim Azevedo
(2014:127) adianta quatro propostas para promover a natalidade em Portugal, que nos devem
fazer pensar: 1) a efetivação de uma política de natalidade integrada de todos os
intervenientes para todos os cidadãos; 2) a valorização da família como unidade base da
sociedade; 3) mais que criar benefícios a promulgação de medidas deve preocupar-se em
reduzir obstáculos a quem quer ter mais filhos; 4) assumir uma atitude estratégica e
prospetiva, porque as mudanças de comportamento demográficas se inscrevem em tempos
médios e longos.
Caso fosse possível assegurar que nas próximas décadas todas as mulheres pudessem
ter 2 filhos, um número próximo que parecem desejar ter, os ganhos seriam substanciais e
crescentes, à medida que cada vez mais mulheres atingissem a idade fértil e fossem elas
próprias mães de mais filhos. Falamos de um ganho que ainda poderia ser acrescido com as
mães não portuguesas. Mas só o cenário mais otimista, resultante da revisão em alta dos
nascimentos e das migrações poderia evitar a anunciada redução da população (Fig.4). A
alteração da tendência do número médio dos nascimentos é insuficiente para evitar a descida
do número de residentes em Portugal, mesmo que posse possível alterar a partir de hoje os
níveis de fecundidade.
Mesmo no cenário mais otimista, o impacto conjugado de subida dos níveis de
fecundidade até à quase renovação das gerações, apoiado em saldos migratórios constituídos
maioritariamente por adultos jovens permitiria até 2050 aumentar em 47% a percentagem de
jovens (de 11,5 para 16,9%) e reduzir e 22% a percentagem de população com 65 e mais anos
(de 34,0 para 26,5%). Menos significativos seriam os ganhos e perdas em termos de população
residente adulta e potencialmente ativa, sendo esperado que só a partir de 2040 se observasse
um aumento do peso relativo deste grande grupo. Qual o impacto destes resultados no setor
económico e educativo?

3. Recuperar para travar o declínio demográfico: políticas de emprego e


educação - A nível comunitário, o ajustamento do mercado de trabalho perante as mudanças
em termos de esperança de vida, fecundidade e migrações foi feito à custa dos mais jovens,
uma vez que a taxa de participação dos mais velhos, com exceção de poucos países incluindo
Portugal, aumentou. Não obstante, em Portugal os trabalhadores seniores têm estado menos
expostos ao risco de desemprego que os jovens, que foram particularmente afetados pelo
desemprego e a redução de oferta de emprego durante a crise passada. Discutir o futuro da

7 Alguns pontos a reter: maior justiça fiscal (cada filho conta individualmente); leis flexíveis e
articuladas de enquadramento à articulação família-trabalho (legislação sobre licenças parentais,
trabalho parcial), o redesenhar do sistema de apoio à educação e de solidariedade social (custos e
horários), de acesso à saúde (maior apoio e menos custos), e assumir, para as famílias mais
carenciadas um compromisso social (estabelecendo tarifários para despesas domésticas com água, luz,
ATL, passes).

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

população ativa e que parte da população está economicamente ativa torna-se crucial para
que seja possível debelar pressões sobre o sistema social. Poderão estas determinantes ser
mitigadas pela recuperação de grupos que se encontram inativos ou desempregados? Do
ponto de vista estritamente demográfico o rácio de dependência total é bastante confortável,
dado que em 2018 por cada 100 ativos existem 55 dependentes (PORDATA, 2018). No entanto,
se analisarmos os grupos verdadeiramente produtivos e contribuintes líquidos verificamos que
apenas 78,8% da população em idade ativa está empregada. Se contabilizarmos apenas esta,
percebemos que só 48% da população residente contribui economicamente para o sistema
(4913,1 mil).
Recuperar os jovens desempregados poderia representar uma mais-valia económica. O
aumento da escolaridade obrigatória faz com que a generalidade dos jovens entre os 15 e 24
anos ainda estude, mas 18,3% dos que se encontram disponíveis para trabalhar estão
desempregados, muitos dos quais NEET (PORDATA, 2018). Uma percentagem elevada,
sobretudo porque ao falar de jovens não se trata apenas do seu contributo económico-
financeiro atual, mas de renovação geracional. Recuperar idosos inativos é também possível.
Em 2018 21,7% da população residente tem 65 + anos, mas apenas uma percentagem residual
(5,3%) continua a trabalhar, mesmo após o aumento da idade da reforma oficial, o que
significa que nos remanescentes 16,4% poderíamos encontrar gente disponível para prolongar
a atividade. Até hoje, as reformas políticas nos sistemas de pay-as-you-go têm sido discutidas
ao nível de avançar a idade de reforma para que haja mais trabalhadores no ativo e menos
pensionistas. Mas esta medida só será positiva caso o mercado de trabalho o justifique, pois,
aumentar a idade de reforma sem um aumento de emprego efetivo pode gerar mais
desemprego, quer em idades mais avançadas quer nas restantes. As medidas de aumento de
idade de reforma devem ser acompanhadas de estímulo à economia e ao investimento, para
que haja necessidade efetiva de contratar trabalhadores.

Portugal. População por grupos de idade “a recuperar” em 2051

Fonte: Rodrigues, Henriques, 2017a

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Um estudo da Comissão Europeia (2015) defende a promoção de políticas de emprego


que combinem o emprego jovem com a retenção dos mais idosos, em vez de medidas
direcionadas apenas a um dos grupos e desmistifica a ideia sobre as vantagens potenciais de
enviar os trabalhadores mais velhos para a reforma para dar lugar aos jovens, sublinhando que
essa decisão não é de per si um estímulo à entrada destes últimos no mercado de trabalho,
porque os dois grupos não competem entre si. O estudo apresenta três conjuntos de medidas,
que visam articular as mudanças demográficas com reformas nos sistemas de pensões e
reestruturação e flexibilização do mercado de trabalho direcionadas para os diferentes grupos
etários. A aplicação a Portugal dessas medidas está sintetizada na Fig.11. Dividimos as nossas
propostas segundo os grupos etários que, em nosso entender, deverão ser objeto de medidas
diferenciadas, mantendo uma correspondência entre as cores escolhidas.
Para que seja possível aumentar no futuro próximo a população ativa há que combinar
medidas preventivas para evitar desperdício de jovens no desemprego, que requer medidas de
intervenção direta para evitar que sejam futuros NEET’s. O ensino deve estar orientado para
manter os jovens no sistema escolar e evitar o abandono precoce. Se o ensino clássico não
motiva alguns deles, devem encontrar-se alternativas. O sistema educativo continua a não
estimular o empreendedorismo ou o desenvolvimento de competências para além das
tradicionais disciplinas e saberes, mas numa realidade em mudança há que apostar no
desenvolvimento de áreas que dotem os jovens de competências menos tradicionais. Até 2050
será possível ganhar até 1,3 milhões de trabalhadores menores de 19 anos.
No grupo dos 20 aos 24 anos (cinza) sugerimos medidas preventivas, que incluam o
desenvolvimento de programas de formação de aproximação à vida ativa com aprendizagem
on-the-job, promovendo o aumento dos níveis de qualificação. Este investimento evita o
desemprego e evita a dificuldade de entrada no mercado de trabalho. Deve ainda ser
acautelada a desadequação entre a formação superior e a disponibilidade de absorção do
mercado de trabalho. Neste grupo será possível ganhar até um máximo de 385 mil
trabalhadores.
No que respeita ao grupo alargado dos 25 aos 64 anos devem ser promovidas políticas
ativas de emprego (como o autoemprego e o empreendedorismo), bem como planos de
formação ajustados às necessidades do mercado de trabalho e à evolução e progressão de
carreira individual, promovendo a transição interprofissões e carreiras. Com trajetos
contributivos mais longos, há que motivar e promover a mudança de funções ao longo da
mesma. A proteção laboral portuguesa parece promover a desigualdade entre trabalhadores.
Se por um lado existem trabalhadores com contratos praticamente vedados ao despedimento
(tradicionalmente mais velhos), existem outros com proteção laboral quase inexistente
(tradicionalmente mais jovens). O esbater das diferenças entre ambas contribuiria para a
existência de um mercado mais flexível e estimulante face ao investimento. Neste grupo será
possível ganhar até um máximo de 3,8 milhões de trabalhadores.
No grupo com idades entre os 65 e os 69 anos (azul), as medidas deverão ser de
estímulo para aumentar a permanência no mercado de trabalho, mediante incentivos fiscais e
profissionais e da prevenção de doenças físicas e mentais. Neste grupo será possível ganhar
até um máximo de 500 mil trabalhadores. Por fim, no referente ao grupo mais velho de 70 e
mais anos propomos que haja uma maior proporcionalidade entre a vida contributiva e a vida
inativa.
Para garantir o futuro será importante desenvolver novos mecanismos de
solidariedade entre gerações, promover uma melhor integração dos mais jovens na sociedade
e apostar na redefinição dos ciclos de vida ativa, eliminando o seu carácter rígido e estanque e
criando enquadramentos flexíveis que possam ser compatíveis com a vontade dos cidadãos,
pois é impossível fazer reformas sem ter o seu apoio. A criação de uma segunda vida ativa para
os novos idosos parece ser um aspeto central, bem como a preservação da classe média, não

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

só o garante de uma democracia mais forte, como um eixo imprescindível de todo o sistema
económico português.

Hipótese 2: economia como driver da demografia


O racional é assumir o declínio como percurso natural de sociedade portuguesa pós transição (5ª fase da
Teoria da Transição demográfica). O desenvolvimento económico, a subida do Índice de
Desenvolvimento Humano e a igualdade de género são vetores de uma mudança de paradigma. O
objetivo nesta abordagem é gerir a realidade e inverter o saldo negativo da população não é a
preocupação dominante.

Assumir o declínio como percurso natural da população é outra hipótese.

1. Devemos assumir o declínio da fecundidade, estabilizando a níveis inferiores à


renovação da geração? As propostas dos futuros possíveis (futuríveis) encontram-se ligadas
com o desenvolvimento económico, humano e de igualdade de género. Myrskyla et all (2009)
e Wilson (2013) correlacionam positivamente o desenvolvimento económico e humano à
fecundidade. Dão como exemplo os países mais desenvolvidos do norte da Europa, que
atualmente apresentam os maiores níveis de desenvolvimento humano e de igualdade de
género e apresentam uma curva do Índice Sintético de Fecundidade (ISF) em forma de “J”,
recuperando após décadas de declínio. Concluem que países como Portugal podem evoluir
para níveis mais elevados quando progredirem no estádio de desenvolvimento humano e de
igualdade de género, à medida que conquistam bem-estar económico, igualdade de género
(Kabeer, 1996).

2. Será que devemos assumir que as migrações irão conseguir amortecer este declínio?
Durante anos, as migrações para a Europa travaram o declínio populacional (Wilson, 2013;
Billari, 2011). Mas quanto tempo mais irão conseguir mitigar este declínio (in)evitável? Assumir
que a “renovação das migrações” pode resolver o problema do declínio populacional europeu
pode parecer teoricamente aprazível, mas coloca à Europa uma pressão e tensão social,
cultural e de segurança muito atual e politicamente ambivalente. Como vimos atrás, e Bloom
et all (2002) reforçam, seria necessária uma importação massiva de migrantes para conseguir
anular os efeitos do envelhecimento da população. Para estes autores esta solução é perfeita
na teoria, mas não concretizável em termos práticos.
Vários investigadores (Canning, Fink, Finlay, Mansfield, Moore, Prettner) têm refletido
sobre a interligação entre envelhecimento populacional e crescimento económico e as suas
implicações nas políticas públicas. Assumem que os mais idosos têm necessidades e
comportamentos diferentes das gerações mais jovens. Tendem a trabalhar e poupar menos,
podendo significar que no futuro haverá menos capital e menos mão-de-obra disponível,
necessitam de mais cuidados de saúde e familiares e na generalidade dos países contam com
as suas pensões de reforma como rendimento disponível. Assim, será difícil os governos optar
por cortes nas pensões ou nos cuidados de saúde, por se tratar de um grupo politicamente
mais ativo que os mais jovens, fazendo prevalecer as suas prioridades em detrimento das
necessidades de outros grupos etários. Agir perante esta inevitabilidade passaria por:

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Outros, como Bloom (2007, 2011) afirmam que as alterações na estrutura etária de
uma população não impactam negativamente no crescimento económico, por diferentes
razões: 1) longevidade e PIB per capita correlacionam-se positivamente (o aumento na
longevidade parece fortemente associado ao rendimento per capita, pelo que quem vive mais
anos poderia continuar produtivo até mais tarde (Preston, 1975); 2) a diminuição futura da
mão-de-obra disponível não significa que a existente seja menos produtiva (essa diminuição
pode originar pressões para aumentos salariais, aumentando o rendimento disponível e a
capacidade de consumo.); 3) mau grado a diminuição da população em idade ativa é possível
recuperar essa população através da introdução no mercado de trabalho de franjas
populacionais que estavam fora (reduzir o desemprego jovem, recuperar pessoas mais velhas
aptas a trabalhar, aumentar a participação da mulher no mercado de trabalho); 4)
longevidade, bem-estar e consumo correlacionam-se positivamente (Nordhaus, 2003).
O rendimento diminui durante a reforma, mas o consumo mantém-se elevado e o
facto de deduzirmos que o envelhecimento conduz à diminuição do rendimento per capita,
não significa que corresponda a uma diminuição de bem-estar, porque o bem-estar depende
do consumo e não do rendimento. Assim, o impacto do envelhecimento deve ser medido em
termos de bem-estar futuro e não em taxas de crescimento de PIB. Isto porque cada individuo
ao longo do seu ciclo de vida adapta de duas formas os seus comportamentos para aumentar o
seu bem-estar. Sabendo que viverá mais anos e que há compressão da morbilidade, pode
optar por trabalhar mais tempo, garantindo um nível de consumo que lhe assegure bem-estar,
mesmo na reforma. Ou reforma-se mais cedo, e se a reforma não for compatível com o bem-
estar que deseja, começa a poupar mais cedo. A suposta dependência nas idades mais
avançadas pode não ser bem real e embora nas sociedades europeias as principais
transferências estatais sejam para o grupo dos mais velhos, alguns estudos provam que os
mais velhos realizam avultadas transferências para as gerações mais novas (Manson, 2006;
Bloom, 2011).
Com o envelhecimento as populações alteram os comportamentos face ao trabalho, à
produtividade e às poupanças (Cingano, 2014). Teoricamente, em sociedades mais jovens com
mais população ativa, o crescimento económico acelera e vice-versa; por seu turno, em
sociedades mais envelhecidas, com menos mão-de-obra disponível, o crescimento económico
tende a desacelerar. Esta assunção leva a que autores como Peterson (1999) ou Greenspan
(2003) assegurem que o envelhecimento da população irá desencadear uma crise que irá

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

engolir a economia mundial comprometendo os estados democráticos. Mas o futuro não deve
ser traçado apenas tendo em conta os efeitos contabilísticos (Bloom 2007, 2011), há que
considerar a mudança individual de comportamento e expectativas no ciclo de vida (por ex. a
decisão de aumentar a sua vida ativa ou alterar o perfil das poupanças face a ganhos na
esperança média de vida).
Enquanto não for entendido que o envelhecimento não é apenas um problema
demográfico, mas uma questão de adequação de politicas económica, social e das instituições,
continuaremos a deixar que a demografia marque o compasso da economia e da sociedade.
Para que o problema do envelhecimento deixe de o ser, é necessário focar esforços no
desenvolvimento de políticas que incentivem os indivíduos a ajustar e adequar os seus
comportamentos (Bloom, 2011). Falamos de, nomeadamente:
 Liberalizar a idade de reforma, para que quem queira trabalhar até mais tarde tenha
incentivo par o fazer;
 Flexibilizar as reformas (conjugação de soluções públicas e privadas);
 Gerir expectativas sobre o rendimento disponível na idade de reforma;
 Promover mudanças legais e culturais que permitam o diálogo e respeito, evitando
potenciais focos de conflito intergeracional;
 Proteger legalmente os trabalhadores mais velhos para evitar a sua discriminação laboral;
 Garantir formação ao longo da vida para que os indivíduos ajustem o seu conhecimento à
economia em mudança;
 Investir na promoção da saúde, desenvolver a medicina preventiva para que a população
idosa seja efetivamente mais saudável, evitando a sobrecarga nos sistemas de saúde e na
segurança social e permitindo a compressão da morbilidade, possibilitando que as pessoas
trabalhem até mais tarde e os mais velhos continuem a passar o seu conhecimento e know-
how entre gerações;
 Estimular a igualdade de género no acesso ao mercado de trabalho e promulgar medidas
de que permitam conciliar a vida familiar com vida ativa;
 Políticas de migração que garantam a total integração dos imigrantes numa sociedade
intercultural em mosaico e promovam a reunificação familiar;
 Ajustar políticas de financiamento de pensões. Encontrar equilíbrio entre as transferências
intergeracionais promovidas pelos sistemas pay-as-you-go e sistemas de financiamento de
fundos de pensões;
 Assegurar que existe estabilidade e maturidade do sistema bancário para gerar confiança
nos depósitos que são realizados.
 Garantir que existe um equilíbrio entre consumo e poupança para que por um lado
indivíduos que tem a sua pensão integralmente assegurada pelos governos não pressionem
as coortes mais jovens e mais pequenas, com impostos. Esta subversão pode gerar conflitos
intergeracionais que devem ser evitados.

Como poderá ser o futuro? Como vimos, nem o aumento dos níveis de
fecundidade, nem uma extraordinária retoma económica e condições excecionais de
atratividade migratória poderão evitar a redução do número de residentes. A
concretização do cenário mais otimista baseado na conjugação das tendências mais
positivas de natalidade e migrações é improvável. Devemos assumir o declínio
populacional como natural. E ao assumir devemos mitigar os efeitos menos desejados

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

desta realidade e gerir de forma sustentável a nova realidade em construção. Planear


de avanço é o grande desafio e a grande oportunidade. Demography is not only
destiny, ao contrário do que Comte dizia. E as decisões politicas, a inovação e as
alterações nos comportamentos coletivos são os drivers de mudança no Portugal do
futuro.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

GLOSSÁRIO
A
Acontecimentos Não Renováveis: Acontecimentos que só podem ocorrer uma vez a cada
indivíduo. Por exemplo, a mortalidade, o primeiro filho ou o primeiro casamento.
Acontecimentos Renováveis: acontecimentos que podem ocorrer mais de uma vez na vida de
cada indivíduo (a natalidade, a nupcialidade, o divórcio, as migrações). É possível transformar
acontecimentos renováveis em não renováveis, quando se introduz a ordem.
Análise Demográfica: fornece a base científica e de unidade da ciência demográfica. Fica-se
pela descrição dos fenómenos e caracteriza-se pela abordagem mais descritiva, voltada para
a medição rigorosa dos fenómenos. Os factos demográficos explicam outros factos
demográficos.
Análise Prospetiva: fornece um panorama dos futuros possíveis ou cenários de evolução não
improváveis de uma determinada população, tendo em conta os determinismos do passado e o
que se entende como plausível em termos de desenvolvimento económico, social e político num
horizonte temporal determinado. Funciona por hipóteses (manutenção do crescimento, redução
ou aumento dos ritmos das variáveis mortalidade, fecundidade e migrações). O objetivo é estimar
volumes de população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores, numa visão
global, qualitativa e múltipla.
Análise Regressiva: Estudo de uma determinada população, que procura conhecer as suas
probabilidades de evolução num determinado horizonte temporal passado. Funciona por
hipóteses (manutenção do crescimento, redução ou aumento dos ritmos das variáveis
mortalidade, fecundidade e migrações) e, de acordo com as opções prováveis, estima volumes de
população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores.
Antigo Regime Demográfico: Mecanismo de comportamento coletivo, caracterizado pelo
crescimento lento da população, devido à conjugação de fatores adversos (fome, peste,
guerra), que alteram o sentido positivo dos saldos fisiológicos e migratórios .

C
Celibato Definitivo: refere-se à percentagem daqueles que nunca casarão (45 e mais anos).
Cenários Prospetivos: consiste em conhecer as probabilidades de evolução de determinado
conjunto de indivíduos num horizonte temporal pré-estabelecido. Baseia-se em hipóteses
prováveis de evolução das dinâmicas de crescimento demográfico (crescimento natural e
crescimento migratório) e, confrontando-as com as características do tecido social e económico,
estima volumes de população ou grupos de população, por idade, sexo ou outros indicadores.
Para assegurar uma menor margem de erro, estabelecem-se sempre vários cenários possíveis.
Coorte: em termos de Análise Demográfica consiste no conjunto de pessoas que são submetidas a
um mesmo acontecimento de origem, durante um mesmo período de tempo.
Crescimento Migratório: Diferença observada entre o número total de emigrantes e imigrantes A
diferença entre o valor do crescimento natural e o crescimento total da população, observado por
comparação com os volumes obtidos através do recenseamento, permite estimar o ritmo de
crescimento migratório.
Crescimento Natural: Diferença observada entre o número total de nascimentos e óbitos. Mede o
aumento da população, se baseado apenas no saldo entre o total de nascimentos e óbitos.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Crises Demográficas: periódicas durante a vigência do Antigo Regime Demográfico, eram


caracterizadas pela alteração do sentido positivo normal dos saldos fisiológicos.

D
Demografia Histórica: distingue-se pelo período temporal (estuda sobretudo as populações do
passado) e/ou as metodologias utilizadas (lida com dados de má qualidade, por vezes lacunares, o
que exige o desenvolvimento de técnicas de análise próprias ou a adaptação das tradicionalmente
em uso nos estudos de Análise Demográfica ou Demografia Social). Presta grandes contributos
metodológicos e de análise em países que se confrontam com dados estatísticos deficientes.
Demografia Social: ou Estudos de População. Desenvolve a sua ação em três tempos: constatação,
razões, implicações. Preocupa-se com a compreensão dos fenómenos e as consequências dos
mesmos, para o que utiliza indicadores nem sempre demográficos e apela à interdisciplinaridade
com outras ciências.
Densidade: Relação entre o número de população num determinado espaço.
Descendência Média: Número médio de filhos por mulher.
Diagrama de Lexis: Trata-se de uma representação gráfica criada pelo estatístico alemão do século
XIX com o mesmo nome. Permite repartir os acontecimentos demográficos por anos de
observação e gerações.
Dinâmica Demográfica: Resultado que, do ponto de vista dos volumes e ritmos de crescimento, é
obtido a partir dos contributos do saldo fisiológico ou natural (nascimentos - óbitos e do saldo
migratório
Dinâmica Populacional – vd. Dinâmica Demográfica
Doenças Civilizacionais: Doenças que afetam as sociedades mais desenvolvidas, devido à
alteração de determinados comportamentos (ex: cardiovasculares). O stress, o sedentarismo, uma
dieta alimentar pouco variada e comportamentos de risco, vêm juntar-se a outro tipo de males
decorrentes das alterações ambientais (cancros e tumores, paludismo, HIV/SIDA…).
Doutrinas Demográficas: O seu grande objeto de estudo são as teorias do pensamento
demográfico, vistas numa perspetiva cronológica abrangente. Propõe-se sistematizar os
fundamentos teóricos da ciência da população.

E
Ecologia Humana: dedica-se ao estudo das interações entre as populações humanas, nos seus
diferentes ambientes. De criação recente, fornece-nos uma nova forma de ver os
comportamentos coletivos, ao encarar o homem como um ser bio cultural, dando igual
importância às componentes biológicas e de organização social/cultural.
Emigração: ato ou efeito de emigrar; saída voluntária do local de nascimento.
Emigrante: Indivíduo que sai de uma área de migração definida e cruza o limite estabelecido como
“fronteira”, em que a área espacial de referência é a área de origem. É aquele que vai procurar
trabalho ou fortuna noutro país.
Envelhecimento: como fenómeno demográfico surge na sequência do aumento do número de
idosos e/ou da diminuição do número de jovens em determinado universo populacional.
Fenómeno que se tende a generalizar no Mundo.

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Equação de Concordância: Teste indicativo da qualidade global dos dados de estado civil e dos
recenseamentos. Confronta os totais obtidos em dois recenseamentos sucessivos, aos quais são
agregados os resultados do saldo fisiológico e do saldo migratório do período.
Esperança de Vida: número médio de anos que cada indivíduo pode esperar viver, de acordo com
o grau de bem-estar da sociedade em que ocorre o seu nascimento
Estado Perturbado: análise que tenta eliminar as influências exógenas ao fenómeno em análise,
de modo a transformar este tipo de dados no estado puro
Estado Puro: análise que tem em conta cada fenómeno isoladamente.
Estandardização Direta: vide População-tipo
Estandardização Indireta: vide Taxa-tipo
Estatísticas Demográficas: publicação que permite seguir anualmente a evolução da natalidade,
da mortalidade e dos outros acontecimentos demográficos.
Estrutura Etária: refere-se às características da distribuição dos volumes de população segundo o
sexo e nas diferentes idades.
Explosão Demográfica: reporta-se às novas dinâmicas, muito intensas, de crescimento
demográfico em certas regiões do Mundo.

F
Fecundidade: Forma como os nascimentos se distribuem segundo as idades das mães.
Fluxo Migratório: sempre que se considera a migração na sua dupla perspetiva (a da área de
origem e a da área de chegada).

G
Geração: conjunto de pessoas que são submetidas a um mesmo acontecimento de origem, o
nascimento;
Grupos Funcionais: consiste em agrupar a informação por idades e sexo, reduzindo-a a três
grupos, jovens, ativos/adultos, idosos

I
Idade Média ao Primeiro Casamento: calcula para os que casam, com que idades o fazem em
média, numa primeira vez.
Idade Média de Fecundidade: estima com que idades, em média, as mulheres de dada população
têm os seus filhos.
Imigração: ato ou efeito de imigrar; entrada de estrangeiros num país.
Imigrante: Indivíduo que chega a uma área espacial determinada, em que a área espacial de
referência é a área de destino.
Índice Combinado das Nações Unidas: Teste que associa dois indicadores, que podem ser
utilizados em separado, sendo qualquer deles indicativos da qualidade das informações: o índice

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

de regularidade das idades e o índice de regularidade dos sexos. A sua junção permite elaborar
um índice de qualidade geral.
Índice de Dependência dos Idosos: mede o peso dos idosos na população potencialmente ativa.
Índice de Dependência dos Jovens: mede o peso dos jovens na população potencialmente ativa.
Índice de Dependência Total: mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos, ou seja, da
população à partida inativa, face à população potencialmente ativa.
Índice de Envelhecimento: mede o número de idosos por cada 100 jovens. É um indicador
utilizado na medida do “envelhecimento demográfico”.
Índice de Irregularidade: Teste indicativo da qualidade dos dados das informações censitárias,
mas desta feita medindo a atração por números vários.
Índice de Juventude: compara diretamente a população com menos de 14 anos com a população
idosa. Por cada 100 idosos existem X jovens. É também um indicador utilizado na medida do
“envelhecimento demográfico”.
Índice de Juventude da População Ativa: mede o grau de envelhecimento da população
potencialmente ativa. Relaciona a metade mais jovem da população potencialmente ativa com a
metade mais velha.
Índice de Longevidade: compara o peso dos idosos mais jovens em relação aos com 75 e mais
anos. É também um indicador utilizado na medida do “envelhecimento demográfico”.
Índice de Maternidade: relaciona a população que ainda não atingiu os 5 anos de idade com a
população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da fecundidade,
quando não dispomos de informações sobre os nascimentos.
Índice de Potencialidade: indicador que relaciona as duas metades da população feminina
teoricamente mais fecundas. Permite ver o envelhecimento do modelo de fecundidade da
população.
Índice de Regularidade das Idades: facilmente distorcido por alterações nos níveis de fecundidade
e mortalidade, baseia-se na evolução dos volumes de efetivos nas diferentes idades, que em
teoria deveriam decrescer sempre com o avanço das mesmas.
Índice de Regularidade dos Sexos: baseado na evolução das relações de masculinidade, que em
teoria deveriam decrescer sempre com o avanço das idades
Índice de Renovação da População Ativa: relaciona o volume potencial da população em
atividade com o volume potencial da população que se está prestes a reformar.
Índice de Tendência: é um indicador da dinâmica demográfica. Quando apresenta valores
inferiores a 100 significa que está em curso um processo de declínio da natalidade e de
envelhecimento.
Índice de Vitalidade: tem a lógica inversa do Índice de Envelhecimento. Mede o número de
jovens por cada 100 idosos. É um indicador utilizado na medida do “envelhecimento
demográfico”.
Índice de Whipple: Teste indicativo da qualidade das informações censitárias. Mede em
simultâneo a atração pelo 0 e pelo 5.
Índice Sintético de Fecundidade: número médio de filhos por mulher

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DEMOGRAFIA SOCIAL E POLITICAS DEMOGRÁFICAS – Teresa Ferreira Rodrigues

Índices-Resumo: permitem uma ampla variedade de interpretações económicas e sociais,


baseando-se na informação agregada por idades e sexo, transformando-os em indicadores que
resumem a abundância de informação existente, numa repartição por sexos e idades.
Intensidade do Casamento: Probabilidade de casar verificada na população de referência.
Juventude: Vide Índice de Vitalidade e Índice de Juventude

M
Método da Média Aritmética: Como os Métodos Forward e Reverse não dão o mesmo resultado,
costuma fazer-se a média aritmética de ambos, aplicando-se assim a média aritmética entre
ambos.
Método das Proporções: (ou percentagens) mensais. Método empregue para medir a
sazonalidade dos fenómenos demográficos. Produz importantes distorções na análise, por não ter
em conta as diferentes durações de cada mês.
Método das Taxas Mensais: Método empregue para medir a sazonalidade dos fenómenos
demográficos. Consiste em multiplicar o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do
ano, divididos pela população média ou em multiplicar o número médio de óbitos mensais pelo
ratio existente entre o número de dias do ano e o número de dias do mês em análise; o resultado
é dividido pela população média.
Método de Hajnal: permite medir a nupcialidade, calculando os valores do Celibato Definitivo, da
Intensidade do Casamento e da Idade Média ao Primeiro Casamento, quando dispomos apenas
de indicações censitárias.
Método dos Números Proporcionais: Método empregue para medir a sazonalidade dos
fenómenos demográficos. Consiste em dividir os óbitos observados em cada mês pelo número de
dias que possui. Esses números médios de acontecimentos por dia são substituídos por números
proporcionais, de modo a que o seu total seja igual a 1200. Cada mês fica representado por um
número. O seu desvio em relação a 100 indica se este está ou não acima da média.
Método Forward: Um dos Métodos da população esperada. Compara os grupos de idade dos
efetivos recenseados em dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo
em conta as suas diferentes probabilidades de morte
Método Reverse: Um dos Métodos da população esperada. Compara os grupos de idade dos
efetivos recenseados em dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo
em conta as suas diferentes probabilidades de sobrevivência.
Métodos Censitários: Método indireto, que permite estimar a intensidade dos saldos migratórios.
Consiste em explorar as informações constantes nos recenseamentos sobre o local de residência
anterior.
Métodos da População Esperada: comparam os grupos de idade dos efetivos recenseados em
dois momentos do tempo, por norma entre dois recenseamentos, tendo em conta as suas
diferentes probabilidades de sobrevivência ou morte. Divide-se em Método Forward, Método
Reverse e Método da Média Aritmética
Migração: Mudança de residência realizada por um indivíduo.
Migrações Externas: Vide Migrações Internacionais

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Migrações Internas: Sazonais, temporárias ou definitivas, promoveram e/ou acentuaram algumas


diversidades regionais, inclusive em termos de dinâmica económica. As mais frequentes na
atualidade em Portugal processam-se do campo para centros urbanos e do interior para o litoral.
Migrante: Indivíduo que se desloca de uma área administrativa para outra, efetuando, portanto,
uma mudança de residência.
Mobilidade: capacidade das pessoas para se deslocarem no espaço.
Morbilidade: Número de pessoas atingidas por determinada doença num dado momento e
população.
Mortalidade: Número de mortes ocorridas em determinada população.
Mortalidade Infantil Endógena: Consequência de deformações congénitas, de taras hereditárias
ou de traumatismos causados pelo parto. Os óbitos ocorrem normalmente durante o primeiro
mês de vida, em particular nos primeiros dias.
Mortalidade Infantil Exógena: ligada a causas externas, tais como doenças infeciosas, alimentação
e cuidados hospitalares insuficientes, acidentes diversos. Os óbitos ocorrem normalmente depois
do primeiro mês de vida.
Movimento da População: conjuga o resultado do Movimento Fisiológico e do Migratório
Movimento Fisiológico: Alteração do volume demográfico, com base no total de nascimentos e
óbitos ocorridos em determinada população.
Movimentos Migratórios: vide Emigração, Imigração e Migrações Internas

N
Natalidade: Número de nascimentos ocorridos em determinada população.
Nupcialidade: Trata-se de uma variável de extrema importância, que condiciona os modelos de
fecundidade, a composição e características familiares. Porém, não é uma variável micro
demográfica no sentido estrito do termo, já que o seu aumento ou diminuição não interfere
diretamente no volume da população.
NUTS: Nomenclatura da Unidades Administrativas. A partir de 1988, com base no Decreto-Lei de
15 de fevereiro, as Estatísticas Demográficas passaram a utilizar a “Nomenclatura das Unidades
Territoriais” para fins estatísticos. Esta interrupção das séries temporais resultou do cumprimento,
por parte do INE, de normas decorrentes da adesão de Portugal à Comunidade Económica
Europeia, regulamentada inicialmente pelo Decreto-Lei nº46/89.

O
Ótimo de População: Valor considerado ideal para garantir uma boa qualidade de vida. A teoria
subjacente a este conceito tem sido defendida por muitos teorizadores, em épocas distintas.

P
Percentagem de «Idosos»: indicador, que mede a importância dos idosos na sociedade. É também
um indicador de medida do “envelhecimento demográfico” do topo da pirâmide de idades.
Percentagem de «Jovens»: mede a importância da juventude na população. É também um
indicador de medida do “envelhecimento demográfico” da base da pirâmide de idades.

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Percentagem de «Potencialmente Ativos»: população que se situa entre o fim da escolaridade


obrigatória e o início da “velhice” pela população total e obtém-se um indicador de potencial
demográfico dos ativos.
Pirâmides de Idades: A melhor forma de sintetizar a informação por idade e sexo é através de
uma pirâmide de idades. Existem três tipos de pirâmides, Pirâmides em acento circunflexo,
Pirâmides em urna, Pirâmides em às de espadas.
Pirâmides em Acento Circunflexo: alta natalidade e alta mortalidade, com esperanças médias de
vida baixas. Típica de países não desenvolvidos. Pressupõe a existência de muitos jovens e poucos
idosos.
Pirâmides em Às de Espadas: natalidade média e baixa mortalidade, com esperanças médias de
vida altas. Típica de países desenvolvidos, mas que conseguem manter níveis de natalidade um
pouco superiores, fruto da sua ainda relativa juventude.
Pirâmides em Urna: baixa natalidade e baixa mortalidade, com esperanças médias de vida
elevadas. Típica de países desenvolvidos na última fase de transição. Pressupõe a existência de
poucos jovens e muitos idosos.
Política Demográfica: Procura atuar sobre os modelos de comportamento das populações
humanas, orientando-os com vista a melhorar a qualidade de vida e padrões de bem-estar
coletivo. Propõe medidas consideradas necessárias, para permitir um equilíbrio entre volumes
demográficos, tendências de crescimento global, distribuição no espaço. A sua atuação visa
reduzir ou aumentar os níveis das variáveis micro demográficas.
População Ativa: em termos estatísticos demográficos referimo-nos aos indivíduos com idades
compreendidas entre 15 e 64 anos.
População Urbana: população a residir em centros urbanos. Os critérios que definem este tipo de
população variam, de acordo com as épocas e determinados campos de estudo.
População-Tipo: também conhecido como método da Estandardização direta, permite superar as
limitações das Taxas Brutas, baseando-se no princípio da estandardização (“normalização”). O
objetivo é o de separar os efeitos da estrutura dos efeitos do modelo.
Projeções: consistem no prolongamento de tendências estatisticamente observáveis, a partir de
séries temporais determinadas e que se referem ao passado recente, segundo um conjunto de
hipóteses de extrapolação.
Promoção: conjunto de pessoas que são submetidas a um mesmo acontecimento, o casamento.

R
Recenseamento: conjunto de operações que consiste em recolher, agrupar o publicar dados
respeitantes ao estado da população, num determinado momento.
Refugiados: indivíduos forçados a saírem das suas terras de residência ou naturalidade, por
motivos de ordem diversa.
Registo Civil: posterior aos registos paroquiais e com objetivos mais práticos, surge em finais do
século XIX e consiste no registo de nascimentos, casamentos e óbitos.
Registo Contínuo de População: adotado por alguns Estados, funciona como uma base de dados
sobre cada indivíduo, onde são registadas todas as ocorrências da sua vida, sejam ou não de
caráter demográfico.

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Registo Paroquial: forma de registo, que se generaliza nos países católicos após o Concílio de
Trento. Efetuados pela Igreja Católica dividiam-se em registo de batismo, casamento e óbito.
Relação de Masculinidade dos Nascimentos: Teste indicativo da qualidade dos dados de estado
civil.
Relações de Masculinidade: Instrumento de análise que permite verificar o modo como os
efetivos existentes num determinado grupo de idades são partilhados entre os dois sexos.
Ritmo de Crescimento: resultado anual médio sobre a dinâmica de crescimento (positiva ou
negativa) de uma população, que torna possível comparar períodos de diferente amplitude. Para
se medir o ritmo de crescimento de uma população existem três processos: o contínuo, o
aritmético e o geométrico.

S
Saldo Fisiológico: Diferença observada entre o número total de nascimentos e óbitos.
Saldo Migratório: Diferença observada entre o número total de emigrantes e imigrantes
Sobrepovoamento: Falamos de sobrepovoamento sempre que as densidades de ocupação do
espaço físico parecem pôr em causa a qualidade de vida e níveis de bem-estar das populações.
Substituição das Gerações: em termos demográficos refere-se ao número de filhos por mulher e à
existência (ou não) do valor médio de 2,1, o qual é o mínimo indispensável para garantir a
renovação das gerações.

T
Taxa Bruta de Divórcio: relaciona o número de divórcios com o total da população.
Taxa Bruta de Emigração: medida elementar de controlo dos níveis de emigração legal de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Imigração: medida elementar de controlo dos níveis de imigração legal de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Migração Total: medida elementar de controlo dos níveis de saldo migratório legal
de uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro.
Taxa Bruta de Mortalidade: medida elementar de controlo dos níveis de mortalidade geral de
uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Natalidade: medida elementar de controlo dos níveis de natalidade geral de uma
dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Nupcialidade: medida elementar de controlo dos níveis de nupcialidade geral de
uma dada população. É um instrumento de análise bastante grosseiro, cujos resultados são
influenciados pelas características da estrutura da população.
Taxa Bruta de Reprodução: Número médio de filhas por mulher.
Taxa Bruta de Viuvez: relaciona o número de viúvos com o total da população.
Taxa de Fecundidade “Dentro do Casamento”: Antiga taxa de fecundidade legítima, relaciona os
nascimentos dentro do casamento com as mulheres casadas no período fértil.

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Taxa de Fecundidade “Fora do Casamento”: Antiga taxa de fecundidade ilegítima, relaciona os


nascimentos fora do casamento com as mulheres não casadas no período fértil.
Taxa de Fecundidade Geral: medida um pouco menos elementar que a Taxa Bruta de Natalidade,
porque elimina do denominador parte da população onde não ocorrem nascimentos. Obtém-se
assim um resultado parcialmente liberto dos efeitos de estrutura.
Taxa de Mortalidade Fetal Tardia: (Fetos mortos 28+ semanas /Nascimentos) x 1000
Taxa de Mortalidade Feto-Infantil: TM Fetal Tardia + TM Infantil Clássica.
Taxa de Mortalidade Infantil: mede a importância dos óbitos no primeiro ano de vida, de acordo
com diferentes métodos.
Taxa de Mortalidade neonatal: (Óbitos – 28 dias /Nascimentos) x 1000
Taxa de Mortalidade neonatal Precoce: (Óbitos – 7 dias /Nascimentos) x 1000
Taxa de Mortalidade neonatal tardia: (Óbitos entre 7 – 28 dias /Nascimentos) x 1000
Taxa de Mortalidade Perinatal: TM Fetal Tardia + TM Neo-Natal Precoce
Taxa de Mortalidade Pós neonatal: (Óbitos entre 28-365 dias /Nascimentos) x 1000
Taxa de Nupcialidade Geral: Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis” (com 15 ou mais
anos).
Taxa de Nupcialidade Geral de Divorciados: Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”,
excluindo solteiros e viúvos.
Taxa de Nupcialidade Geral de Solteiros: Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”,
excluindo viúvos e divorciados.
Taxa de Nupcialidade Geral dos Viúvos: Relaciona os casamentos com as pessoas “casáveis”,
excluindo solteiros e divorciados.
Taxa de Variação: estima entre duas datas os crescimentos totais (positivos ou negativos)
verificados na população.
Taxa Migratória Total: Método indireto que permite estimar a intensidade dos saldos
migratórios, que permite saber qual o valor residual dos diferentes movimentos, após as
compensações que possam ter existido entre entradas de imigrantes e saídas de emigrantes dessa
unidade. Permite uma primeira aproximação às formas de mobilidade interna, ao distinguir
regiões atrativas e regiões repulsivas.
Taxas de Crescimento Migratório: obtidas como a Taxa Bruta de Migração Total, a partir do
crescimento residual não explicado após o cálculo das Taxas de Crescimento Anual Médio e das
Taxas de Crescimento Natural Anual Médio.
Taxas por Idades ou Grupos de Idades: medida elementar de controlo dos níveis de mortalidade
em cada grupo de idade. Permite verificar, numa dada população, as probabilidades de morte,
nupcialidade ou outras ao longo da vida. São também instrumentos de análise bastante grosseiros
Taxa-Tipo: também conhecido como método da Estandardização indireta, permite superar as
limitações das Taxas Brutas, baseando-se no princípio da (“normalização”). O objetivo é saber qual
seria o nível de mortalidade da população B se tivesse as taxas de mortalidade da população A.
Tempo de Duplicação em Anos: mede o número de anos necessários para que determinada
população duplique o seu volume total, caso se mantenha uma taxa de crescimento constante

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Transição Epidemiológica: De acordo com esta teoria, uma vez assegurada a vitória sobre as
doenças infeciosas todos os estados passam da "idade da pestilência à da fome" à "idade das
doenças de degenerescência e doenças sociais", qualquer que seja o seu grau de desenvolvimento
económico.
Transição Reprodutiva: forma como se efetuou o processo de passagem de altos níveis de
fecundidade, para valores inferiores à substituição das gerações.

U
Urbanização: vide População Urbana

V
Variáveis Micro demográficas: vide Natalidade, mortalidade, movimentos migratórios

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