Você está na página 1de 40

SAÚDE DO HOMEM E DA MULHER

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

2
Sumário
SAÚDE DO HOMEM E DA MULHER ...................................................... 1

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4

SAÚDE DA MULHER .............................................................................. 8

Enfoque de Gênero ............................................................................... 10

BREVE DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DA SAÚDE DA MULHER NO


BRASIL ............................................................................................................ 12

OBJETIVOS GERAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO


INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER................................................................. 15

OBJETIVOS ESPECÍFICOS E ESTRATÉGIAS DA POLÍTICA NACIONAL


DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER ........................................ 16

SAÚDE DO HOMEM ............................................................................. 21

INDICADORES DE MORTALIDADE ..................................................... 24

PRINCÍPIOS .......................................................................................... 27

DIRETRIZES ......................................................................................... 28

SAÚDE DO HOMEM: PRESERVE O SEU FUTURO! ........................... 32

CONCLUSÕES FINAIS ......................................................................... 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 39

3
INTRODUÇÃO

Na entrada do século XXI, o mundo moderno vive uma crise que se ca-
racteriza pelo não cumprimento da promessa de igualdade, liberdade, solidarie-
dade e paz. Nesta crise, a humanidade busca redirecionar o conhecimento e o
desenvolvimento para rediscutir valores e princípios que façam frente ao predo-
mínio da intolerância na convivência, ao aumento das guerras, ao acirramento
das desigualdades econômicas e sociais intra e interpaíses e ao desenvolvi-
mento desvinculado das reais necessidades dos povos.
No campo da saúde, é cada vez mais reconhecida a incapacidade do mo-
delo de atenção vigente - baseado hegemonicamente no conhecimento bioló-
gico, no parque tecnológico médico, no risco e atenção individual - de explicar e
responder aos processos de saúde e doença de uma população. A evolução
tecnológica e científica baseada no conhecimento biomédico deu grandes saltos
e contribuiu inegavelmente à atenção e ao controle dos riscos de doenças.
O desenvolvimento das vacinas e sua estratégia de utilização populacio-
nal é responsável pela erradicação de doenças como a varíola e a poliomielite.
Todo o arsenal terapêutico e de métodos diagnósticos permitiu abordagens pre-
coces e maior efetividade das intervenções. Vive-se a expectativa que se abre
no campo do conhecimento e instrumental genético para o controle das enfermi-
dades. Todas estas conquistas não apagam o debate que se dá no início do
novo milênio sob o imperativo ético do direito a viver com qualidade.
O aumento da morbimortalidade por causas externas que tem atingido,
principalmente, jovens e a população em idade produtiva - sejam nos acidentes
de trânsito, nos conflitos, nos homicídios ou suicídios, o predomínio das doenças
crônicas não transmissíveis como causa de morte, o recrudescimento de antigas
doenças com novas características - se configuram questões atuais de saúde da
população para as quais o instrumental científico-tecnológico, por si só, não é
suficiente para respondê-las, dada a sua complexidade. Questões significativas
e que desafiam a se pensar saúde sob a ótica do desenvolvimento e da condição
humana.

4
Mas ainda no Brasil onde as desigualdades sociais tão profundas se re-
fletem claramente na distribuição dos riscos. Evidências mostram que a saúde
está muito mais relacionada ao modo de viver das pessoas do que à ideia hege-
mônica da sua determinação genética e biológica. O sedentarismo e a alimenta-
ção não saudável, o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, o frenesi da
vida cotidiana, a competitividade, o isolamento do homem nas cidades são con-
dicionantes diretamente relacionados à produção das ditas doenças modernas.
Há que se destacar a desesperança que habita o cotidiano das populações mais
pobres e que também está relacionada com os riscos dessas enfermidades.
As últimas décadas, mostrou avanços em indicadores de saúde. A melho-
ria do saneamento das cidades, das condições de trabalho e de um maior acesso
aos serviços contribuíram para a queda significativa na mortalidade infantil e no
aumento da expectativa de vida.
No Brasil, no início do século passado, a esperança de vida ao nascer era
de 35 anos. Atualmente, esta expectativa alcança uma média de 68 anos, com
as mulheres atingindo os 72 anos de vida. São homens e mulheres a caminho
da longevidade. Porém, restam muitas barreiras a serem transpostas. O Brasil,
semelhante a outros países em desenvolvimento, vive a transição epidemioló-
gica, que marca a diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e o au-
mento da mortalidade proporcional por doenças crônicas não transmissíveis.
Morrem cerca de 255 mil brasileiros, anualmente, de doenças cardiovasculares
e os agravos relacionados às causas externas produzem cerca de 120 mil óbitos
ao ano e invalidam outros tantos milhares.
Convive-se, hoje, com a recrudescência de endemias como a dengue,
nos centros urbanos, com as dificuldades para controlar outras como a tubercu-
lose e malária e para erradicar a hanseníase. A sociedade moderna também se
caracteriza pela urbanização. No caso do Brasil, mais de 80 % de brasileiros
vivem nas cidades. E mais que isto, nas últimas décadas se verifica o seu esta-
belecimento em territórios cada vez mais concentrados, onde os grandes aglo-
merados urbanos, metropolitanos ou não metropolitanos, abrigam mais de 50%
da população. Convive-se com a persistência de desigualdades históricas intra
e interterritoriais, entre os gêneros e raciais com relação a renda, acesso à edu-
cação e a saúde.

5
Na década de 90, os 10% mais ricos no Brasil, tinham renda 22 vezes
maior do que os 40% mais pobres. Além disso, entre os 10% mais ricos, 80%
possuem domicílio com saneamento básico, enquanto só 32% dos 40% mais
pobres têm esse benefício. Se tomarmos a educação como base, entre os estu-
dantes de 20 a 24 anos, dos 10% mais ricos 21% são de nível superior, sendo
que nos 40% mais pobres somente 2,6% o são.
Todo este debate coloca a necessidade de se delinear estratégias e ações
no campo da saúde capazes de apontar para a construção de soluções dos pro-
blemas complexos que se vive. A promoção da saúde como campo conceitual,
metodológico e instrumental ainda em desenvolvimento, traz, em seus pilares e
estratégias, potenciais de abordagem dos problemas de saúde: assume a saúde
em seu conceito amplo, pauta a discussão sobre qualidade de vida, pressupõe
que a solução dos problemas está no potencial de contar com parceiros e a mo-
bilização da sociedade.
Trabalha com o princípio da autonomia dos indivíduos e das comunida-
des, reforça o planejamento e poder local. A política de saúde construída no
Brasil, a partir do esforço da sociedade em seu processo de redemocratização e
que culminou com a Constituição de 1988, tem em seu arcabouço elementos
para o desenvolvimento de ações e estratégias de promoção da saúde.
Os princípios de universalidade, integralidade e equidade e as diretrizes
de descentralização e organização hierarquizada podem ser potencializados a
partir do olhar e de ações de promoção da saúde, contribuindo para a qualifica-
ção do Sistema Único de Saúde e a partir deste para a construção de uma ampla
aliança nacional tendo como centro a qualidade de vida. Apesar do Estado Bra-
sileiro de cunho ainda muito autoritário, inserido no mercado global monopolista,
se apresentar setorializado e fragmentado em suas ações, ainda dicotomizar o
social do econômico, e só muito recentemente ter utilizado em sua história o
planejamento social, vivencia-se grandes avanços.
No setor saúde o incentivo de um controle social efetivo que se materializa
através dos conselhos municipais, estaduais e nacional, e das conferências de
saúde, em todos estes níveis, tem se mostrado como fundamental para a parti-
cipação da sociedade.

6
Os avanços na municipalização, descentralização da gestão do sistema e
financiamento do SUS registrando 99% dos municípios em gestão plena da aten-
ção básica ou plena do sistema municipal permitem que 70% dos recursos sejam
repassados fundo a fundo.
Há um consenso de que o Sistema Único de Saúde representa um grande
avanço no tocante às políticas públicas, sendo a saúde um setor com propostas
e práticas claras de controle social, transparência administrativa e gestão parti-
cipativa. Apesar de avançado em seus princípios orientadores, o Sistema Único
de Saúde ainda guarda, em seu modelo de atenção, uma perspectiva fortemente
pautada nos fundamentos da biomedicina, o que dificultará a longo prazo, sua
sustentabilidade, tanto do ponto de vista financeiro quanto do potencial de rever-
ter as tendências epidemiológicas dos graves problemas de saúde do país.
Neste sentido, a promoção da saúde se apresenta como uma possibili-
dade concreta de mudança na agenda da saúde tanto para fortalecer quanto
para fundamentar a sua consolidação. A estratégia de saúde da família, de
grande inserção social, já conta com 14 mil equipes e 180 mil agentes comuni-
tários. É orientada pela lógica da territorialização, da vinculação, responsabiliza-
ção e do olhar integral sobre o ambiente em suas dimensões sociais e culturais,
onde estão inseridos as famílias e os indivíduos.
Por essas características essa estratégia política tem o potencial de rup-
tura da lógica hegemônica do cuidado individual e desvinculado e é concreta-
mente um importante espaço para o desenvolvimento de ações de promoção da
saúde. Pelo seu potencial orientador do modelo de atenção vigente, necessita
incorporar em suas práticas o conceito positivo de saúde, a integralidade da
atenção à saúde e a perspectiva da troca de saberes e fazeres com a comuni-
dade a qual está vinculada.
A elaboração de uma política de Promoção da Saúde deve basear-se nas
especificidades da realidade brasileira, considerando-se as cartas e acordos in-
ternacionais que, desde Ottawa (1986), veem definindo a promoção da saúde,
cujos pilares e estratégias retomam, incorporam e refletem os grandes dilemas
da esfera social, que tem originado, no campo da saúde, novas agendas como

7
o estímulo à autonomia dos indivíduos, o reforço da ação comunitária, a desafi-
ante superação da especialização e fragmentação das políticas públicas e da
atenção à saúde, bem como a pactuação de propostas de gestões intersetoriais,
a construção de ambientes saudáveis e a formulação de políticas comprometi-
das com a qualidade de vida.
A promoção da saúde coloca desafios teóricos e estratégicos para o de-
senvolvimento da saúde pública como os compromissos firmados na V Confe-
rência Internacional de Promoção da Saúde, realizada no México, em 2000, na
qual os Ministros de Saúde dos países participantes se comprometeram a des-
tacar a promoção da saúde como política pública e a desenvolver estratégias
para melhorar os determinantes da saúde e reduzir iniquidades. Uma política de
promoção da saúde deve contribuir para o aprofundamento das promessas da
reforma sanitária brasileira.
Promessas que além da construção do SUS apontam para a transforma-
ção das práticas sanitárias com a superação da baixa cobertura em direção a
universalização, busca da equidade, a integralidade do cuidado e respeito a ci-
dadania. Promessas também que se comprometem com a democratização da
saúde, da sociedade, do Estado e das Instituições.

SAÚDE DA MULHER

As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as princi-


pais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Frequentam os serviços de
saúde para o seu próprio atendimento, mas, sobretudo, acompanhando crianças
e outros familiares, pessoas idosas, com deficiência, vizinhos, amigos. São tam-
bém cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da família, mas tam-
bém de pessoas da vizinhança e da comunidade.

8
A situação de saúde envolve diversos aspectos da vida, como a relação
com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, mora-
dia e renda. No caso das mulheres, os problemas são agravados pela discrimi-
nação nas relações de trabalho e a sobrecarga com as responsabilidades com
o trabalho doméstico.
Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza realçam ainda
mais as desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, porém ado-
ecem mais frequentemente. A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças
e causas de morte está mais relacionada com a situação de discriminação na
sociedade do que com fatores biológicos. Os indicadores epidemiológicos do
Brasil mostram uma realidade na qual convivem doenças dos países desenvol-
vidos (cardiovasculares e crônico-degenerativas) com aquelas típicas do mundo
subdesenvolvido (mortalidade materna e desnutrição).
Os padrões de morbimortalidade encontrados nas mulheres revelam tam-
bém essa mistura de doenças, que seguem as diferenças de desenvolvimento
regional e de classe social. Dentro da perspectiva de buscar compreender essa
imbricação de fatores que condicionam o padrão de saúde da mulher, este do-
cumento analisa, sob o enfoque de gênero, os dados epidemiológicos extraídos
dos sistemas de informação do Ministério da Saúde e de documentos elaborados
por instituições e pessoas que trabalham com esse tema.
Propõe diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento,
questões ainda pendentes na atenção à saúde das mulheres. Toma como base
os dados epidemiológicos e as reivindicações de diversos segmentos sociais
para apresentar os princípios e diretrizes da Política Nacional de Atenção Inte-
gral à Saúde da Mulher para o período de 2004 a 2007.

A Política de Atenção Integral à Saúde das Mulheres compreende a sa-


úde como um processo resultante de fatores biológicos, sociais, econômicos,
culturais e históricos. Isso implica em afirmar que o perfil de saúde e doença
varia no tempo e no espaço, de acordo com o grau de desenvolvimento econô-
mico, social e humano, incluindo a questão de gênero como condicionante/de-
terminante social. Salienta-se que igualdade de gênero é um dos Objetivos de

9
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)
para a Agenda 2030 (compromisso firmado pelo Brasil).
A incorporação da categoria gênero na avaliação de políticas de saúde
permite mostrar uma nova dimensão da desigualdade social, assim como, expli-
car situações e fenômenos que não teriam visibilidade sem este enfoque. A vul-
nerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte está, muitas
vezes, mais relacionada com a situação de desigualdade da mulher na socie-
dade do que com fatores biológicos. Entendendo a situação de desigualdade
social relacionada ao gênero, a atuação da Seção de Saúde da Mulher desen-
volve-se a partir dos seguintes eixos:
a) Saúde sexual, considerando a identidade de gênero, sexualidade, di-
versidade, prevenção e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis,
assim como, as doenças ginecológicas;
b) Saúde reprodutiva, com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no
planejamento reprodutivo e na atenção ao abortamento;
c) O enfrentamento à violência doméstica e violência sexual;
d) Atenção ao câncer de mama e colo do útero.

Enfoque de Gênero

Encontram-se na literatura vários conceitos sobre saúde da mulher. Há


concepções mais restritas que abordam apenas aspectos da biologia e anatomia
do corpo feminino e outras mais amplas que interagem com dimensões dos di-
reitos humanos e questões relacionadas à cidadania. Nas concepções mais res-
tritas, o corpo da mulher é visto apenas na sua função reprodutiva e a materni-
dade torna-se seu principal atributo. A saúde da mulher limita-se à saúde ma-
terna ou à ausência de enfermidade associada ao processo de reprodução bio-
lógica. Nesse caso estão excluídos os direitos sexuais e as questões de gênero
(COELHO, 2003).
Em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvi-
mento, a saúde reprodutiva foi definida como “um estado de completo bem-estar

10
físico, mental e social em todas as matérias concernentes ao sistema reprodu-
tivo, suas funções e processos, e não apenas mera ausência de doença ou en-
fermidade. A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa
ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a
liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo” (CIPD, 1994).
Nessa definição, toma-se como referência o conceito de saúde da Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS), e são incorporadas dimensões da sexuali-
dade e da reprodução humana numa perspectiva de direitos. No entanto, apesar
do avanço em relação a outras definições, o conceito da CIPD fica restrito à
saúde reprodutiva e não trata a saúde-doença como processo na perspectiva da
epidemiologia social, o que vem sendo bastante discutido desde o final dos anos
60. A saúde e a doença estão intimamente relacionadas e constituem um pro-
cesso cuja resultante está determinada pela atuação de fatores sociais, econô-
micos, culturais e históricos.
Isso implica em afirmar que o perfil de saúde e doença varia no tempo e
no espaço, de acordo com o grau de desenvolvimento econômico, social e hu-
mano de cada região (LAURELL, 1982). As desigualdades sociais, econômicas
e culturais se revelam no processo de adoecer e morrer das populações e de
cada pessoa em particular, de maneira diferenciada. De acordo com os indica-
dores de saúde, as populações expostas a precárias condições de vida estão
mais vulneráveis e vivem menos.
O relatório sobre a situação da População Mundial (2002) demonstra que
o número de mulheres que vivem em situação de pobreza é superior ao de ho-
mens, que as mulheres trabalham durante mais horas do que os homens e que,
pelo menos, metade do seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, o
que diminui o seu acesso aos bens sociais, inclusive aos serviços de saúde.
Levando em consideração que as históricas desigualdades de poder entre ho-
mens e mulheres implicam num forte impacto nas condições de saúde destas
últimas (ARAÚJO, 1998), as questões de gênero devem ser consideradas como
um dos determinantes da saúde na formulação das políticas públicas.
O gênero, como elemento constitutivo das relações sociais entre homens
e mulheres, é uma construção social e histórica. É construído e alimentado com
base em símbolos, normas e instituições que definem modelos de masculinidade

11
e feminilidade e padrões de comportamento aceitáveis ou não para homens e
mulheres. O gênero delimita campos de atuação para cada sexo, dá suporte à
elaboração de leis e suas formas de aplicação. Também está incluída no gênero
a subjetividade de cada sujeito, sendo única sua forma de reagir ao que lhe é
oferecido em sociedade. O gênero é uma construção social sobreposta a um
corpo sexuado. É uma forma primeira de significação de poder (SCOTT, 1989).
Gênero se refere ao conjunto de relações, atributos, papéis, crenças e atitudes
que definem o que significa ser homem ou ser mulher.
Na maioria das sociedades, as relações de gênero são desiguais. Os de-
sequilíbrios de gênero se refletem nas leis, políticas e práticas sociais, assim
como nas identidades, atitudes e comportamentos das pessoas. As desigualda-
des de gênero tendem a aprofundar outras desigualdades sociais e a discrimi-
nação de classe, raça, casta, idade, orientação sexual, etnia, deficiência, língua
ou religião, dentre outras (HERA, 1995). Da mesma maneira que diferentes po-
pulações estão expostas a variados tipos e graus de risco, mulheres e homens,
em função da organização social das relações de gênero, também estão expos-
tos a padrões distintos de sofrimento, adoecimento e morte.

Partindo-se desse pressuposto, é imprescindível a incorporação da pers-


pectiva de gênero na análise do perfil epidemiológico e no planejamento de
ações de saúde, que tenham como objetivo promover a melhoria das condições
de vida, a igualdade e os direitos de cidadania da mulher.

BREVE DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DA SAÚDE


DA MULHER NO BRASIL

Considerando a heterogeneidade que caracteriza o País, seja em relação


às condições socioeconômicas e culturais, seja em relação ao acesso às ações
e serviços de saúde, compreende-se que o perfil epidemiológico da população
feminina apresente diferenças importantes de uma região a outra do País. Essas
diferenças não serão abordadas em profundidade neste documento, porém sa-
lienta-se que, no processo de implantação e implementação da Política Nacional

12
para Atenção Integral à Saúde da Mulher, elas devem ser consideradas, possi-
bilitando uma atuação mais próxima da realidade local e, portanto, com melhores
resultados.
As estatísticas sobre mortalidade são bastante utilizadas para a análise
das condições de saúde das populações. É importante considerar o fato de que
determinados problemas afetam de maneira distinta homens e mulheres. Isso se
apresenta de maneira marcante no caso da violência. Enquanto a mortalidade
por violência afeta os homens em grandes proporções, a morbidade, especial-
mente provocada pela violência doméstica e sexual, atinge prioritariamente a
população feminina.

Também no caso dos problemas de saúde associados ao exercício da


sexualidade, as mulheres estão particularmente afetadas e, pela particularidade
biológica, têm como complicação a transmissão vertical de doenças como a sífi-
lis e o vírus HIV, a mortalidade materna e os problemas de morbidade ainda
pouco estudados.
No Brasil, as principais causas de morte da população feminina são as
doenças cardiovasculares, destacando-se o infarto agudo do miocárdio e o aci-
dente vascular cerebral; as neoplasias, principalmente o câncer de mama, de
pulmão e o de colo do útero; as doenças do aparelho respiratório, marcadamente
as pneumonias (que podem estar encobrindo casos de aids não diagnosticados);
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com destaque para o diabetes;
e as causas externas (BRASIL, 2000).

13
Segundo Laurenti (2002), em pesquisa realizada nas capitais brasileiras
e no Distrito Federal, analisando óbitos em mulheres de 10 a 49 anos (ou seja,
mulheres em idade fértil), as dez primeiras causas de morte encontradas foram
as seguintes, em ordem decrescente: acidente vascular cerebral, aids, homicí-
dios, câncer de mama, acidente de transporte, neoplasia de órgãos digestivos,
doença hipertensiva, doença isquêmica do coração, diabetes e câncer de colo
do útero.
A mortalidade associada ao ciclo gravídico-puerperal e ao aborto não apa-
rece entre as dez primeiras causas de óbito nessa faixa etária. No entanto, a
gravidade do problema é evidenciada quando se chama atenção para o fato de
que a gravidez é um evento relacionado à vivência da sexualidade, portanto não
é doença, e que, em 92% dos casos, as mortes maternas são evitáveis.

MORTALIDADE MATERNA

A mortalidade materna é um bom indicador para avaliar as condições de


saúde de uma população. A partir de análises das condições em que e como
morrem as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma deter-
minada sociedade. Razões de Mortalidade Materna (RMM) elevadas são indica-
tivas de precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e es-
colaridade, dinâmicos familiares em que a violência está presente e, sobretudo,
dificuldades de acesso a serviços de saúde de boa qualidade.

14
Definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na 10ª revisão da
Classificação Internacional de Doenças (CID-10), como: morte de uma mulher
durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gra-
videz, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devida a
qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou por medidas tomadas
em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais.

As causas da mortalidade materna, segundo definição da CID-10, divi-


dem-se em:

Causas obstétricas diretas: são resultantes de complicações da gra-


videz, parto ou puerpério devidas a intervenções, omissões, tratamento incorreto
ou à cadeia de eventos resultante de qualquer uma dessas causas menciona-
das. As causas mais frequentes são as doenças hipertensivas (incluindo
eclâmpsia, síndrome HELLP), hemorragias e infecção puerperal;
Causas obstétricas indiretas: são as que resultam de doença prévia
da mãe ou desenvolvida durante a gravidez, não devidas a causas obstétricas
diretas, mas agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. As causas mais
frequentes são: diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
É importante destacar que quase todas as causas diretas são passíveis
de prevenção. Quanto às causas indiretas, é importante observar que estão li-
gadas às mulheres já portadoras de doenças e devem, portanto, ser considera-
das, de início, como gestantes de risco e acompanhadas com mais cuidados.

OBJETIVOS GERAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE


ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER

- Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres bra-


sileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do
acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recupera-
ção da saúde em todo território brasileiro.

15
– Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Bra-
sil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diver-
sos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie.
– Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no
Sistema Único de Saúde.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS E ESTRATÉGIAS DA


POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SA-
ÚDE DA MULHER

Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive para as


portadoras da infecção pelo HIV e outras DST:
– Fortalecer a atenção básica no cuidado com a mulher;
– Ampliar o acesso e qualificar a atenção clínico- ginecológica na rede
SUS.
Estimular a implantação e implementação da assistência em plane-
jamento familiar, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âm-
bito da atenção integral à saúde:
– Ampliar e qualificar a atenção ao planejamento familiar, incluindo a as-
sistência à infertilidade;
– Garantir a oferta de métodos anticoncepcionais para a população em
idade reprodutiva;
– Ampliar o acesso das mulheres às informações sobre as opções de mé-
todos anticoncepcionais;
– Estimular a participação e inclusão de homens e adolescentes nas
ações de planejamento familiar.
Promover a atenção obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada,
incluindo a assistência ao abortamento em condições inseguras, para mu-
lheres e adolescentes:
– Construir, em parceria com outros atores, um Pacto Nacional pela Re-
dução da Mortalidade Materna e Neonatal;

16
– Qualificar a assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios;
– Organizar rede de serviços de atenção obstétrica e neonatal, garantindo
atendimento à gestante de alto risco e em situações de urgência/emergência,
incluindo mecanismos de referência e contra-referência;
– Fortalecer o sistema de formação/capacitação de pessoal na área de
assistência obstétrica e neonatal;
– Elaborar e/ou revisar, imprimir e distribuir material técnico e educativo;
– Qualificar e humanizar a atenção à mulher em situação de abortamento;
– Apoiar a expansão da rede laboratorial;
– Garantir a oferta de ácido fólico e sulfato ferroso para todas as gestan-
tes;
– Melhorar a informação sobre a magnitude e tendência da mortalidade
materna.
Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de vi-
olência doméstica e sexual:
– Organizar redes integradas de atenção às mulheres em situação de vi-
olência sexual e doméstica;
– Articular a atenção à mulher em situação de violência com ações de
prevenção de DST/aids;
– Promover ações preventivas em relação à violência doméstica e sexual.
Promover, conjuntamente com o PN-DST/AIDS, a prevenção e o con-
trole das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids
na população feminina:
– Prevenir as DST e a infecção pelo HIV/aids entre mulheres;
– Ampliar e qualificar a atenção à saúde das mulheres vivendo com HIV
e aids.

Reduzir a morbimortalidade por câncer na população feminina:

17
– Organizar em municípios pólos de microrregiões redes de referência e
contra-referência para o diagnóstico e o tratamento de câncer de colo uterino e
de mama;
– Garantir o cumprimento da Lei Federal que prevê a cirurgia de recons-
trução mamária nas mulheres que realizaram mastectomia;
– Oferecer o teste anti-HIV e de sífilis para as mulheres incluídas no Pro-
grama Viva Mulher, especialmente aquelas com diagnóstico de DST, HPV e/ou
lesões intra-epiteliais de alto grau/ câncer invasor.
Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob
o enfoque de gênero:
– Melhorar a informação sobre as mulheres portadoras de transtornos
mentais no SUS;
– Qualificar a atenção à saúde mental das mulheres;
– Incluir o enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres portado-
ras de transtornos mentais e promover a integração com setores não-governa-
mentais, fomentando sua participação nas definições da política de atenção às
mulheres portadoras de transtornos mentais.

18
Implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério:
– Ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no climatério na
rede SUS.
Promover a atenção à saúde da mulher na terceira idade:
– Incluir a abordagem às especificidades da atenção à saúde da mulher
na Política de Atenção à Saúde do Idoso no SUS;
– Incentivar a incorporação do enfoque de gênero na Atenção à Saúde
do Idoso no SUS.
Promover a atenção à saúde da mulher negra:
– Melhorar o registro e produção de dados;
– Capacitar profissionais de saúde;
– Implantar o Programa de Anemia Falciforme (PAF/MS), dando ênfase
às especificidades das mulheres em idade fértil e no ciclo gravídico-puerperal;
– Incluir e consolidar o recorte racial/étnico nas ações de saúde da mu-
lher, no âmbito do SUS;
– Estimular e fortalecer a interlocução das áreas de saúde da mulher das
SES e SMS com os movimentos e entidades relacionados à saúde da população
negra.

19
Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da ci-
dade:
– Implementar ações de vigilância e atenção à saúde da trabalhadora da
cidade e do campo, do setor formal e informal;
– Introduzir nas políticas de saúde e nos movimentos sociais a noção de
direitos das mulheres trabalhadoras relacionados à saúde.
Promover a atenção à saúde da mulher indígena:
– Ampliar e qualificar a atenção integral à saúde da mulher indígena.
Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de prisão,
incluindo a promoção das ações de prevenção e controle de doenças se-
xualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids nessa população:
– Ampliar o acesso e qualificar a atenção à saúde das presidiárias.
Fortalecer a participação e o controle social na definição e imple-
mentação das políticas de atenção integral à saúde das mulheres:
– Promover a integração com o movimento de mulheres feministas no
aperfeiçoamento da política de atenção integral à saúde da mulher.

20
SAÚDE DO HOMEM

A proposição da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem


visa qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cui-
dado que resguardem a integralidade da atenção. O reconhecimento de que os
homens adentram o sistema de saúde por meio da atenção especializada tem
como consequência o agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e
maior custo para o SUS. É necessário fortalecer e qualificar a atenção primária
garantindo, assim, a promoção da saúde e a prevenção aos agravos evitáveis.
Vários estudos comparativos, entre homens e mulheres, têm comprovado
o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfer-
midades graves e crônicas, e que morrem mais precocemente que as mulheres
(Nardi et all, 2007; Courtenay, 2007; IDB, 2006 Laurenti et all, 2005; Luck et all,
2000). A despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortali-
dade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção bá-
sica. (Figueiredo, 2005; Pinheiro et all, 2002). Muitos agravos poderiam ser evi-
tados caso os homens realizassem, com regularidade, as medidas de prevenção
primária.

21
A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a so-
brecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico
e emocional do paciente e de sua família, na luta pela conservação da saúde e
da qualidade de vida dessas pessoas. Tratamentos crônicos ou de longa dura-
ção têm, em geral, menor adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem
um grande empenho do paciente que, em algumas circunstâncias, necessita mo-
dificar seus hábitos de vida para cumprir seu tratamento.
Tal afirmação também é válida para ações de promoção e prevenção à
saúde que requer, na maioria das vezes, mudanças comportamentais. As pes-
quisas qualitativas apontam várias razões, mas, de um modo geral, podemos
agrupar as causas da baixa adesão em dois grupos principais de determinantes,
que se estruturam como barreiras entre o homem e os serviços e ações de saúde
(Gomes, 2003; Keijzer, 2003; Schraiber et all, 2000) a saber: barreiras sóciocul-
turais e barreiras institucionais.

Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral, por parte


do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereótipos de gênero, enraiza-
dos há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em
crenças e valores do que é ser masculino. A doença é considerada como um
sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua pró-
pria condição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por contri-
buir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de
risco (Keijzer, 2003; Schraiber et all, 2000; Sabo, 2002; Bozon, 2004).
A isto se acresce o fato de que o indivíduo tem medo que o médico des-
cubra que algo vai mal com a sua saúde, o que põe em risco sua crença de
invulnerabilidade. Os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessida-
des, cultivando o pensamento mágico que rejeita a possibilidade de adoecer.
Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações
de saúde para a criança, o adolescente, a mulher e o idoso. Uma questão apon-
tada pelos homens para a não procura pelos serviços de saúde está ligada à sua
posição de provedor.
Alegam que o horário do funcionamento dos serviços coincide com a
carga horária do trabalho. Não se pode negar que na preocupação masculina a

22
atividade laboral tem um lugar destacado, sobretudo em pessoas de baixa con-
dição social o que reforça o papel historicamente atribuído ao homem de ser
responsável pelo sustento da família.
Ainda que isso possa se constituir, em muitos casos, uma barreira impor-
tante, há de se destacar que grande parte das mulheres, de todas as categorias
sócio-econômicas, faz hoje parte da força produtiva, inseridas no mercado de
trabalho, e nem por isso deixam de procurar os serviços de saúde. Outro ponto
igualmente assinalado é a dificuldade de acesso aos serviços assistenciais, ale-
gando-se que, para marcação de consultas, há de se enfrentar filas intermináveis
que, muitas vezes, causam a “perda” de um dia inteiro de trabalho, sem que
necessariamente tenham suas demandas resolvidas em uma única consulta
(Gomes et all, 2007; Kalckmann et all, 2005; Schraiber, 2005).
Ainda que o conceito de masculinidade venha sendo atualmente contes-
tado e tenha perdido seu rigor original na dinâmica do processo cultural (Welzer-
Lang, 2001), a concepção ainda prevalente de uma masculinidade hegemônica
é o eixo estruturante pela não procura aos serviços de saúde. Em nossa socie-
dade, o “cuidado” é papel considerado como sendo feminino e as mulheres são
educadas, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por este
papel (WelzerLang, 2004; Lyra-da-Fonseca et all, 2003; Tellería, 2003; Hardy e
Jimenez, 2000; Medrado et all, 2005).
A compreensão das barreiras sócio-culturais e institucionais é importante
para a proposição estratégica de medidas que venham a promover o acesso dos
homens aos serviços de atenção primária, a fim de resguardar a prevenção e a
promoção como eixos necessários e fundamentais de intervenção. A Política de
Atenção Integral à Saúde do Homem deve considerar a heterogeneidade das
possibilidades de ser homem. As masculinidades são construídas historicamente
e sócio-culturalmente, sendo a significação da masculinidade um processo em
permanente construção e transformação.
O ser homem, assim como o ser mulher é constituído tanto a partir do
masculino como do feminino. Masculino e feminino são modelos culturais de gê-
nero que convivem no imaginário dos homens e das mulheres. Essa considera-
ção é fundamental para a promoção da equidade na atenção a essa população,

23
que deve ser considerada em suas diferenças por idade, condição socioeconô-
mica, étnico-racial, por local de moradia urbano ou rural, pela situação carcerá-
ria, pela deficiência física e/ou mental e pelas orientações sexuais e identidades
de gênero não hegemônicas.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, portanto,
além de evidenciar os principais fatores de morbimortalidade explicita o reconhe-
cimento de determinantes sociais que resultam na vulnerabilidade da população
masculina aos agravos à saúde, considerando que representações sociais sobre
a masculinidade vigente comprometem o acesso à atenção integral, bem como
repercutem de modo crítico na vulnerabilidade dessa população à situações de
violência e de risco para a saúde.

Mobilizar a população masculina brasileira pela luta e garantia de seu di-


reito social à saúde é um dos desafios dessa política. Ela pretende tornar os
homens protagonistas de suas demandas, consolidando seus direitos de cida-
dania.

INDICADORES DE MORTALIDADE

Ao se analisar, no ano de 2005, as causas de mortalidade na população


masculina dos 25-59 anos se observou que, em 75% dos casos, os óbitos inci-
dem em 5(cinco) grupos principais de entidades mórbidas.
A maior porcentagem de óbitos deve-se às Causas Externas (CID 10 -
Cap. XX); em segundo lugar, estão as Doenças do Aparelho Circulatório (CID
10 – Cap. IX), em terceiro, os Tumores (CID 10 – Cap. II); em quarto, as Doenças
do Aparelho Digestivo (CID 10 – Cap. XI) e, finalmente, em quinto lugar, as Do-
enças do Aparelho Respiratório (CID 10 – Cap. X).
Há de se chamar atenção que, as Causas Externas de mortalidade, em-
bora apresentem uma alta incidência nas faixas etárias mais jovens (dos 25 aos
40 anos), são quantitativamente superadas pelas Doenças do Aparelho Circula-
tório a partir dos 45 anos, e pelos Tumores a partir dos 50 anos.

24
Causas externas:
Sob esta denominação, a Classificação Estatística Internacional de Doen-
ças e Problemas Relacionados à Saúde, em sua Décima Revisão (OMS, 1996),
engloba uma série polimorfa de agravos, dos quais os mais importantes são os
Acidentes (V01-X59), notadamente os Acidentes de Transporte (V01-V99), as
Lesões Auto provocadas Voluntariamente (X60-X84) e as Agressões (X85-Y09).
Estes três tipos de agravos corresponderam, em 2005, à maioria dos óbitos
(78%), por causas externas.

Tumores:
Os tumores que incidem com maior freqüência na faixa etária dos 25 - 59
anos são oriundos dos aparelhos digestivo, respiratório e urinário. Cerca de
43,2% de todos os tumores assinalados na CID I0, Cap. II, tem origem no apa-
relho digestivo. A mortalidade por câncer do aparelho digestivo, no ano de 2005,
teve sua maior expressão numérica no câncer de estômago, ainda que imedia-
tamente seguida pelo câncer de boca e de esôfago. No ano de 2000, morreram
cerca de 6.266 homens por câncer do aparelho digestivo, enquanto no ano de
2005, o número de óbitos se elevou para 7.941, com tendência a aumentar.
As neoplasias malignas do aparelho respiratório determinaram o maior
número de mortalidade na faixa populacional dos 25-59 anos, tendo ocorrido um
total de 12.005 óbitos no ano de 2005. No contexto geral das 10 neoplasias ma-
lignas que mais frequentemente causaram a morte, logo após o câncer de pul-
mão, traqueia e brônquios, aparece o câncer de próstata.

25
O câncer da próstata é uma neoplasia que geralmente apresenta evolu-
ção muito lenta, de modo que a mortalidade poderá ser evitada quando o pro-
cesso é diagnosticado e tratado com precocidade.
Uma estimativa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o
aparecimento de novos casos de cânceres no ano de 2008, aponta o câncer de
próstata como sendo o mais frequente, só superado pelo câncer de pele nãome-
lanoma. Ao se falar de neoplasias malignas do aparelho urinário, não se pode
deixar de mencionar o câncer de pênis. Trata-se de um tumor raro, relacionado
com as baixas condições sócio-econômicas e a má higiene íntima.
No Brasil, este câncer representa cerca de 2% de todas as neoplasias que
atingem o homem, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste, existindo
Estados, como é o caso do Maranhão (Nardi et all, 2007), em que sua incidência
supera até a do câncer de próstata. Entre os tumores há de se assinalar a hiper-
trofia prostática benigna que atinge a maioria da população masculina após os
50 anos, produzindo diversos sintomas urinários com impacto bastante negativo
sobre a qualidade de vida das pessoas.
A propósito, vale assinalar que há de se cuidar da qualidade de vida dos
pacientes que sofreram prostatectomias, sobretudo as radicais, cujas lesões ner-
vosas podem determinar disfunções eréteis e incontinência urinária.

26
Outras causas de mortalidade:
Além das causas externas e dos tumores, há muitas outras causas de
mortalidade que podem ser assinaladas. Dentre as doenças do aparelho diges-
tivo, por exemplo, pode-se destacar as Doenças do Fígado que, em 2005, foram
responsáveis por 70% das causas de morte de homens de 25-59 anos. Destas,
46% deve-se a Doença Alcoólica, 36% a Fibrose e Cirrose e 18% a Outras Do-
enças do Fígado.

PRINCÍPIOS
A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem de Forma Integral
visa nortear as ações e serviços de saúde do homem com integralidade e equi-
dade, dando ênfase à humanização da enfermagem. A política atual enfatiza
que é necessário mudar o paradigma quanto à percepção da população mas-
culina no que se refere ao cuidado da saúde do homem e da saúde da família.
Acredita ser imprescindível que, além da educação, outros serviços públicos
de saúde se organizem para acolher e fazer com que o homem se sinta parte
orgânica dela.
A implementação da política deverá ocorrer de forma integrada às demais
políticas existentes, numa lógica hierarquizada de atenção à saúde, priorizando
a atenção primária como porta de entrada de um sistema de saúde universal,
integral e equânime. Essa política tem como princípios a humanização e a qua-
lidade, que implicam na promoção, reconhecimento e respeito à ética e aos di-
reitos do homem, obedecendo às suas peculiaridades sócio-culturais.
Para cumprir esses princípios de humanização e da qualidade da atenção
integral devem-se considerar os seguintes elementos:
1. Acesso da população masculina aos serviços de saúde hierarquizados
nos diferentes níveis de atenção e organizados em rede, possibilitando melhoria
do grau de resolutividade dos problemas e acompanhamento do usuário pela
equipe de saúde;
2. Articular-se com as diversas áreas do governo com o setor privado e a
sociedade, compondo redes de compromisso e co-responsabilidade quanto à
saúde e a qualidade de vida da população masculina;

27
3. Informações e orientação à população masculina, aos familiares e a
comunidade sobre a promoção, prevenção e tratamento dos agravos e das en-
fermidades do homem;
4. Captação precoce da população masculina nas atividades de preven-
ção primaria relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agra-
vos recorrentes;
5. Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimento do
homem;
6. Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos;
7. Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e avaliação conti-
nuada dos serviços e do desempenho dos profissionais de saúde, com partici-
pação dos usuários;
8. Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos gestores mo-
nitorar as ações e serviços e avaliar seu impacto, redefinindo as estratégias e/ou
atividades que se fizerem necessárias.

DIRETRIZES
Como uma declaração que indica o curso de ação que o setor da saúde
deve tomar, as seguintes diretrizes devem guiar a preparação de planos, pro-
gramas, projetos e atividades. O propósito de projetar essas ferramentas é al-
cançar a integralidade, viabilidade, continuidade e sobrevivência sob a orienta-
ção da humanidade e qualidade do atendimento (princípios que devem per-
mear todas as ações).
A integralidade pode ser compreendida a partir de uma dupla perspectiva:
a. Trânsito do usuário por todos os níveis da atenção, na pers-
pectiva de uma linha de cuidado que estabeleça uma dinâmica de re-
ferência e de contrareferência entre a atenção primária e as de média
e alta complexidade, assegurando a continuidade no processo de
atenção;

28
b. Compreensão sobre os agravos e a complexidade dos mo-
dos de vida e situação social do indivíduo, a fim de promover interven-
ções sistêmicas que abranjam inclusive as determinações sociais so-
bre a saúde e a doença.
Em relação à factibilidade foram consideradas a disponibilidade de recur-
sos, tecnologia, insumos técnico-científicos e estrutura administrativa e gerencial
de modo a permitir em todo o país, na prática, a implantação das ações delas
decorrentes. No que tange a coerência, as diretrizes que serão propostas estão
baseadas nos princípios anteriormente enunciados, estando compatível com os
princípios do SUS.
A viabilidade da implementação desta Política estará diretamente relaci-
onada aos três níveis de gestão e do controle social, a quem se condiciona o
comprometimento e a possibilidade da execução das diretrizes.
Diretrizes:
 Entender a Saúde do Homem como um conjunto de
ações de promoção, prevenção, assistência e recuperação da sa-
úde, executado nos diferentes níveis de atenção. Deve-se priorizar
a atenção básica, com foco na Estratégia de Saúde da Família,
porta de entrada do sistema de saúde integral, hierarquizado e re-
gionalizado;
 Reforçar a responsabilidade dos três níveis de ges-
tão e do controle social, de acordo com as competências de cada
um, garantindo condições para a execução do presente política;
 Nortear a prática de saúde pela humanização e a
qualidade da assistência a ser prestada, princípios que devem per-
mear todas as ações;
 Integrar a execução da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estra-
tégias e ações do Ministério da Saúde;
 Promover a articulação interinstitucional, em especial
com o setor Educação, como promotor de novas formas de pensar
e agir;

29
 Reorganizar as ações de saúde, através de uma pro-
posta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de sa-
úde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços
de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem
de cuidados;
 Integrar as entidades da sociedade organizada na
co-responsabilidade das ações governamentais pela convicção de
que a saúde não é só um dever do Estado, mas uma prerrogativa
da cidadania;
 Incluir na Educação Permanente dos trabalhadores
do SUS temas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem;
 Aperfeiçoar os sistemas de informação de maneira a
possibilitar um melhor monitoramento que permita tomadas racio-
nais de decisão; e
 Realizar estudos e pesquisas que contribuam para a
melhoria das ações da Política Nacional de Atenção Integral à Sa-
úde do Homem.

Objetivo Geral
Promover a melhoria do estado de saúde da população masculina bra-
sileira, combatendo de forma razoável os fatores de risco e promovendo o
acesso, realizando ações e prestando serviços de saúde, reduzindo efetiva-
mente a morbimortalidade da população.
Objetivos Específicos
Organizar, implantar, qualificar e humanizar, em todo território brasileiro,
à atenção integral a saúde do homem, dentro dos princípios que regem o Sis-
tema Único de Saúde:
 Implementar e / ou incentivar a rede em serviços de saúde
públicos e privados ter uma visão holística da saúde do homem que ga-
ranta o cuidado;
 Fortalecer os cuidados básicos para cuidar do homem, pro-
mover e garantir a qualidade do atendimento recebido e necessário
abordando os fatores de risco para doenças e problemas de saúde;

30
 Formar e qualificar os profissionais da rede básica para o
correto atendimento à saúde do homem; e
 Promover ações integradas com outras áreas de governo.

Incentivar a implementação e assistência à implementação a saúde se-


xual e reprodutiva está no escopo da atenção integral à saúde.
 Ampliar e qualificar a atenção ao planejamento reprodutivo
masculino, inclusive a assistência à infertilidade;
 Estimular a participação e inclusão do homem nas ações de
planejamento de sua vida sexual e reprodutiva, enfocando inclusive a pa-
ternidade responsável;
 Garantir a oferta da contracepção cirúrgica voluntária mas-
culina nos termos da legislação específica;
 Promover na população masculina, conjuntamente com o
Programa Nacional de DST/AIDS, a prevenção e o controle das doenças
sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV;
 Incentivar o uso de preservativo como medida de dupla pro-
teção da gravidez inoportuna e das DST/AIDS;
 Estimular, implantar, implementar e qualificar pessoal para
a atenção às disfunções sexuais masculinas;
 Garantir o acesso aos serviços especializados de atenção
secundária e terciária para os casos identificados como merecedores des-
tes cuidados;
 Promover a atenção integral à saúde do homem nas popu-
lações indígenas, negras, quilombolas, gays, bissexuais, travestis, tran-
sexuais, trabalhadores rurais, homens com deficiência, em situação de
risco, em situação carcerária, entre outros, desenvolvendo estratégias
voltadas para a promoção da equidade para distintos grupos sociais;
 Associar as ações governamentais com as da sociedade ci-
vil organizada para efetivar a atenção integral à saúde do homem com
protagonismo social na enunciação das reais condições de saúde da po-
pulação masculina.

31
Ampliar, através da educação, o acesso dos homens às informações so-
bre as medidas preventivas contra os agravos e enfermidades que atingem a
população masculina:
 Incluir o enfoque de gênero, orientação sexual, iden-
tidade de gênero e condição étnico-racial nas ações educativas;
 Estimular, na população masculina, através da infor-
mação, educação e comunicação, o auto-cuidado com sua própria
saúde;
 Promover a parceria com os movimentos sociais e
populares, e outras entidades organizadas para divulgação ampla
das medidas preventivas; e
 Manter atenção cuidadosa e permanente com as de-
mais áreas governamentais no sentido de efetuar, de preferência,
ações conjuntas, evitando a dispersão desnecessária de recursos.

SAÚDE DO HOMEM: PRESERVE O SEU FUTURO!

O Ministério da Saúde e o Governo Federal implementaram em conjunto


a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que visa
ampliar e conscientizar a população masculina sobre os serviços de saúde.

Quais são os principais benefícios da PNAISH?

A iniciativa se baseia em dados preocupantes de que duas em cada três


mortes de adultos são de homens. Sua expectativa de vida média é sete anos
menor do que a das mulheres e eles sofrem de mais doenças, como por exem-
plo:

 Doenças do coração;
 Diabetes;
 Pressão arterial alta;
 Câncer;

32
 Maior tendência a obesidade, entre outros problemas de saúde.

O propósito desta Política Nacional é conscientizar o sexo masculino a


procurar o serviço de saúde periodicamente uma vez ao ano. Alcançando, pelo
menos, cerca de 2,5 milhões de homens entre 20 e 59 anos.

Para atingir esse objetivo, a PNAISH é desenvolvida a partir de cinco


(05) eixos temáticos e 09 eixos de ação:

EIXOS TEMÁTICOS

1. Acesso e Acolhimento
Ações de saúde com proposta inclusiva, conscientizando os homens sobre a
importância de considerar os serviços da área de saúde como espaços masculinos.
Os serviços, por sua vez, devem reconhecer a classe masculina como pessoas que
precisam de cuidados.

2. Saúde Sexual e Reprodutiva


Ações com o objetivo de sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e
todo a sociedade para aceitar os direitos sexuais e reprodutivos dos homens.

3. Paternidade e Cuidado
Ações com o objetivo de sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e
todo a sociedade sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens em todas
as fases da gestação e nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as).

4. Doenças prevalentes na população masculina


Ações com o objetivo de fortalecer a assistência básica no cuidado à saúde
dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade do atendimento.

5. Prevenção de Violências e Acidentes


Ações com o objetivo de chamar atenção para a preocupante relação entre
a população masculina e as violências (em especial a violência urbana) e acidentes,
sensibilizando a população em geral e os profissionais de saúde sobre o tema.

EIXOS DE AÇÃO

33
 Implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem;

 Promoção de saúde com foco na elaboração de estratégias para


aumentar a demanda dos homens aos serviços de saúde;

 Informação e comunicação para sensibilizar os homens e suas fa-


mílias, estimulando o autocuidado e hábitos saudáveis, por meio de ações de
informação, educação e comunicação;

 Participação, relações institucionais e controle social, que buscam


associar as ações governamentais com a sociedade civil organizada, a fim de
potencializar ações voltadas para essa população;

 Implantação e expansão do sistema de atenção à saúde do ho-


mem, com o objetivo de fortalecer a atenção básica e melhorar o atendimento,
a qualidade e resolubilidade dos serviços de saúde;

 Qualificação de profissionais da saúde para o desenvolvimento de


estratégias em educação permanente para os trabalhadores do SUS;

 Avaliação dos insumos, equipamentos e recursos humanos que


garantam a adequada atenção à população masculina;

 Sistemas de Informação com o objetivo de melhorar e qualificar


as informações destinadas a essa população;

 Avaliação do projeto-piloto por meio de realização de estudos e


pesquisas que contribuam para a melhoria das ações por meio do monitora-
mento da Política.

O diagnóstico precoce de doenças, aumenta as chances de tratamentos


mais eficazes. Por isso a importância dos homens adotarem a realização de exa-
mes periódicos em suas rotinas.

34
São hábitos simples, como aferir pressão e acompanhar os níveis de co-
lesterol (para evitar doenças como diabetes e hipertensão), e a realização dos
testes para as doenças sexualmente transmissíveis, como o de HIV, hepatite B
(HBsAg) e do vírus da hepatite C (anti-HCV) que podem fazer uma enorme dife-
rença na saúde masculina.

35
CONCLUSÕES FINAIS

A promoção da saúde leva a refletir sobre o objeto saúde. Sem ter a pre-
tensão de finalizar esta discussão, propomos que saúde é um conceito em cons-
trução, em movimento, dependendo de valores sociais, culturais, subjetivos e
históricos. Podemos dizer que é a busca de uma relação harmoniosa que nos
permita viver com qualidade, que depende de um melhor conhecimento e acei-
tação de nós mesmos, de relações mais solidárias, tolerantes com os outros,
relações cidadãs com o Estado e relação de extremo respeito a natureza, em
uma atitude de responsabilidade ecológica com a vida sobre a terra e com o
futuro.
Estas relações significam construir saúde em seu sentido mais amplo, ra-
dicalizar na luta contra as desigualdades e participar na construção de cidadania
e da constituição de sujeitos. Sujeitos que amam, sofrem, adoecem, buscam
suas curas, necessitam de cuidados, lutam por seus direitos e desejos. Neste
contexto, promover saúde se impõe pela complexidade dos problemas que ca-
racterizam a realidade sanitária em que predominam as doenças crônicas não
transmissíveis, a violência e as novas endemias. Se impõe também pela poten-
cialidade de estratégias que superam a cultura da medicalização que predomina
no imaginário da sociedade e que não pode ser modificada por meio destes mes-
mos procedimentos médicos.
A promoção da saúde enfrenta esta realidade sanitária na medida em que
oferece condições e instrumentos para uma ação integrada e multidisciplinar que
inclui as diferentes dimensões da experiência humana a subjetiva, a social, a
política, a econômica e a cultural e coloca a serviço da saúde, os saberes e
ações produzidos nos diferentes campos do conhecimento e das atividades. Pro-
mover saúde também é aceitar o imenso desafio de desencadear um processo
amplo que inclui a articulação de parcerias, atuações intersetoriais e participação
popular, que otimize os recursos disponíveis e garanta sua aplicação em políti-
cas que respondam mais efetiva e integralmente às necessidades da sociedade.
É se responsabilizar no nível da legislação e execução com políticas que
favoreçam a vida em todas suas dimensões sem que isso implique, necessaria-

36
mente, no desenvolvimento de ações inéditas, mas no redirecionamento do en-
foque das políticas públicas. Ações inéditas, mas no redirecionamento do enfo-
que das políticas públicas. A promoção da saúde lida com estilos de vida. Com
as formas de viver constituídas nas sociedades modernas, onde a população
perde de vista o que é uma vida saudável e passa a adaptar-se a uma forma de
vida sedentária e estressante, com o predomínio de consumo de alimentos in-
dustrializados com altos teores de sal e ácidos graxos saturados, com o abuso
de drogas lícitas ou ilícitas, que são determinantes fundamentais na geração de
doenças.
Doenças determinadas também por problemas mais comuns nas popula-
ções menos favorecidas como o medo, a desesperança, a dificuldade de acesso
a bens e valores culturais e de cidadania. Promover saúde é educar para a au-
tonomia como construído por Paulo Freire, é tocar nas diferentes dimensões hu-
manas, é considerar a afetividade, a amorosidade e a capacidade criadora e a
busca da felicidade como igualmente relevantes e como indissociáveis das de-
mais dimensões. Por isso, a promoção da saúde é vivencial e é colada ao sentido
de viver e aos saberes acumulados tanto pela ciência quanto pelas tradições
culturais locais e universais.
A promoção da saúde trabalha a mobilização comunitária. Mobilização
que tenta romper o individualismo que se tornou uma das principais característi-
cas das sociedades modernas. Neste espaço atua no fortalecimento da ação
comunitária, compartilhando os saberes técnicos e saberes populares e criando
condições para a construção de estratégias que têm se mostrado eficazes na
abordagem dos problemas de saúde. Mobilização que se posiciona a favor da
vida e se conecta aos movimentos globais a favor do desenvolvimento humano.
A promoção da saúde busca construir espaços saudáveis. As noções prevalen-
tes de progresso vêm estimulando ataques permanentes ao meio ambiente: rios,
mares, terra, floresta, ar, mangues.
Além disso, os ambientes de trabalho muitas vezes não estão adequados
às condições mínimas de salubridade e convivência; nos ambientes escolares
há dificuldades de se conter a violência, persiste o desrespeito às diferenças e
há pouca integração entre a escola e comunidade. O estímulo à construção de

37
espaços saudáveis, pensando o espaço enquanto território vivo como na con-
cepção de Milton Santos, favorece suas potencialidades na implementação de
qualidade de vida. A promoção da saúde propõe o desafio de reorientar os ser-
viços de saúde a superar a fragmentação do assistir a doença, e irem em direção
a perspectiva da atenção integral às pessoas em suas necessidades, numa re-
lação dialógica do cuidar/ser cuidado, do ensinar/aprender.
Traz os serviços a reflexão de que necessitam participar ativamente das
soluções dos problemas de saúde levantados conjuntamente com as comunida-
des. Deve ficar claro que a promoção da saúde não deve ser mais um nível de
atenção, nem deve corresponder a ações que acontecem anteriormente à pre-
venção. Com esta compreensão não deve se constituir como mais um programa,
mais uma estrutura organizacional. Ao contrário, se compõe de estratégias que
se movem transversalmente em todas as políticas, programas e ações do setor
saúde, numa tentativa de trazer o olhar, a perspectiva da saúde e do desafio do
construir a integralidade em toda a sua complexidade e singularidade social e
individual. Significa ousar na busca de tecnologias (indicadores, planejamento,
processos avaliativos) que dêem conta do desafio da não fragmentação destas
mesmas políticas, programas e ações.
Mais do que isto, a definição de ações voltadas para a promoção da sa-
úde, embora tenha um componente regulatório, devem ser mais indutoras e es-
tar a serviço do desenvolvimento humano e do processo de emancipação da
nação.

38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LUCK M, BAMFORD M, WILLIAMSON P. Men's health: perspectives, di-


versity and paradox. London: Blackwell Sciences; 2000.

LYRA-DA-FONSECA JLC, LEÃO LS, LIMA DC, TARGINO P, CRISÓS-


TOMO A, SANTOS B. Homens e cuidado: uma outra família? In: Acosta AR,
Vitale MA, organizadores. Família: redes, laços e políticas públicas. São Paulo:
Instituto de Estudos Especiais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
2003. p. 79-91.

MEDRADO B, LYRA-DA-FONSECA JLC, LEÃO LS, LIMA DC, SANTOS


B. Homens jovens no contexto do cuidado: leituras a partir da paternidade na
adolescência. In: Adorno R, Alvarenga A, Vasconcelos MP, organizadores. Jo-
vens, trajetória, masculinidades e direitos. São Paulo: Edusp; 2005. p. 241-64.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Ações Programáticas Estratégicas - Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa. Brasília, 2006

LYRA J, MEDRADO B, LOPES F. Homens também cuidam. UNFPA e


Instituto Papai, 2007

ÁVILA, M. B. E.; BANDLER, R. A Contracepção no Brasil 1980-1990. Re-


cife: SOS Corpo, 1991. Mimeo.

BERQUÓ, E. Comportamento sexual da população brasileira e percep-


ções do HIV-Aids. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Planejamento familiar: ma-
nual para o gestor. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. (Série avaliação, n. 4).7

39
______. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em:
.

______. Ministério da Saúde. Política de morbimortalidade por acidentes


e violência. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

40

Você também pode gostar