Você está na página 1de 92

Profa.

Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

APOSTILA 1

CURSO: INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA INTEGRATIVA

Profa. Luciana Pucci Santos

1
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

2022
Sumário
1. Introdução 2
2. Paradigma adoecimento e intervenção e promoção de saúde e bem estar 5
2.1. Modelo Mágico Religioso ou Xamanístico 5
2.2. Modelo Holístico 5
2.3. Modelo Empírico-Racional (Hipocrático) 6
2.4. Modelo de Medicina Científica Ocidental: Biomédico 6
2.5. Modelo Sistêmico 8
2.6. Modelo da História Natural das Doenças: Processual 8
2.7. Determinação do Sistema Saúde-Doença 9
3. Histórico de desenvolvimento da psicologia: 5 gerações 12
3.1 Primórdios da Psicologia 13
3.2 1ª Fase da História de Desenvolvimento da Psicologia: emancipação da
psicologia como cátedra 24

3.3 2ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: as psicologias

no início do século XX 29

3.4 2ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: efeitos e

resultados das psicoterapias na década de 1950 47

3.5 3ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: eficiência

e eficácia da psicoterapia 60

3.6 4ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: ecletismo

Técnico 74

3.7 5ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: integração no


século XXI 78
4. Bibliografia 85

2
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

1. INTRODUÇÃO:
No século XX, uma pessoa nascida em determinada parte do mundo, possivelmente,
passaria toda a sua vida seguindo uma mesma cultura. No final deste século, a
globalização e a revolução tecnológica e de comunicação possibilitou mobilidade para
conhecer, pessoalmente, novos lugares, costumes, crenças e obter novos conhecimentos.
Deste modo, disseminou-se informações sobre outras culturas. O apogeu no acesso a
informações aconteceu com o advento da internet e o início da era digital e virtual. Com
estes recursos a experiência passou a ir além do contato físico e conectou o ser humano
com tudo e com todos sem a necessidade de se sair do lugar.

Isso foi fantástico e permitiu novos acessos, novas vivências que se integraram ao estilo
de vida humano no século XXI. Nas duas últimas décadas, os aparelhos eletrônicos
digitais e inteligentes tornaram-se inerentes ao escopo de relações humanas e o ambiente
virtual passou a ser meio de comercialização de bens e serviços e de interações humanas.
Na atualidade as crianças nascem cercadas por tecnologia e desde o princípio interagem
com elas através de babás eletrônicas, celulares, computadores, tablets, diversos
aparelhos com inteligência artificial em seus lares, nos carros, em lojas, shoppings, nos
momentos de lazer e entretenimento através de televisões, equipamentos de som, home
theather, kits multimídias, gamers interativos, robôs, etc.

Hoje as relações humanas ocorrem em interface virtual e/ou física em toda sua
diversidade de contextos sociais em consequência a pandemia de Covid-19 nos últimos
dois anos. Esta exigiu que as pessoas transpusessem o paradigma de contato pessoal em
suas experiências sociais e elegeu o ambiente virtual como a interface segura de interação
social humana. O que antes era uma vivência complementar e auxiliar de interface, hoje
a interação virtual é o principal meio de comunicação para a maioria dos humanos.

3
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Deste modo, teleconferências, reuniões virtuais, aulas em plataforma on line de ensino à


distância, chamadas em vídeo por computadores e celulares, cirurgias guiadas por robôs,
exames teleguiados por equipamentos inteligentes, interfaces de controle e comando para
indústrias, casas, carros, aviões, entre outros, constituem o cotidiano do ser humano.
Assim, todo o universo de interações humanas entrelaçou-se aos equipamentos
eletrônicos, digitais e virtuais, possibilitando que o conhecimento humano pode ser
armazenado, utilizado e compartilhado, em tempo real, independentemente das fronteiras
físicas.

Um novo paradigma existencial surgiu: a virtualidade e sua hiper conectividade


requerendo uma rápida adaptabilidade e potencializando novos modos de ser, se expressar
e fazer. Neste sentido, surgiram inúmeras oportunidades de uso da interação virtual em
benefício da disseminação de novos conhecimentos, de auto conhecimento e,
consequentemente, de facilitação no desenvolvimento social, pessoal e psicológico.

O acesso humana a informações ampliou-se e tornou-se múltiplo, integrando desde a


sabedoria de povos antigos até chegar no âmbito da ciência. Consequentemente, um
desafio surgiu como utilizar tão ampla gama de conhecimentos? Nesta via de
entendimento, surgem muitos debates acerca de um caminho integrativo.

E é exatamente esse o desafio atual da Psicologia: como fundamentar-se de modo


integrativo em bases multi diversas de saberes para abordar cada pessoa e o seu universo
de relações macro, micro e multi dimensional?

Como parte de um amplo território de saberes contidos em abordagens psicológicas


específicas com objetos de estudos determinados, a psicologia transitou, clinicou e
descobriu limitações em seu escopo de atuação, pois o ser humano continua
desenvolvendo sofrimentos, angústias e adoecendo. Na contemporaneidade, diagnostica-
se psicopatologias em índices alarmantes, o que indica que as psicoterapias
especializadas, não detém a compreensão total do ser e suas questões para instrumentar
as pessoas a lidarem melhor consigo mesmas e com as interações que necessitam
vivenciar.

4
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Num movimento inverso ao de criação de mais uma nova abordagem psicológica,


objetivando um novo prisma de contato e estudo do sujeito psicológico, a psicologia
integrativa propõe a utilização integral das diversas abordagens psicoterapêuticas
existentes embasando-se no mapeamento da necessidade do paciente. Assim, a psicologia
integrativa propõe um processo ativo e vivencial que integra as dimensões do indivíduo
através da integração de diversas abordagens psicológicas existentes em conformidade
com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, sobre estratégias para
medicina tradicional de 2014-2023, que preconiza a mudança do modelo convencional
focado na doença, na intervenção, medicalização e procedimentos de alta complexidade
para um modelo de promoção da saúde concentrado na melhoria da qualidade de vida, no
empoderamento das pessoas em práticas de mudança de estilo de vida e, ampliação das
ofertas psicoterapêuticas para realizar o cuidado.

Neste sentido, o curso de Introdução a Psicologia Integrativa realiza uma introdução à


Psicologia Integrativa acompanhando a recomendação da OMS e atendendo à Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) - Portaria no. 971 de 03 de
maio de 2006, a Portaria Nº 849, de 27 de março de 2017, sobre as Práticas Integrativas
e Complementares (PIC’s) reconhecidas e ofertadas pelo SUS, e à Política Nacional de
Promoção de Saúde (PNPS) - Portaria no. 2442 de 11 de novembro de 2014 do Ministério
da Saúde e do SUS., que objetiva valorizar as práticas integrativas e complementares de
saúde, os saberes populares e tradicionais, incluindo a formação e educação permanente
desses temas.

2.PARADIGMA ADOECIMENTO E INTERVENÇÃO E PROMOÇÃO DE


SAÚDE E BEM ESTAR

Neste capítulo será abordado, brevemente, os diferentes modelos explicativos do processo


saúde-doença e do cuidado para compreender que estes modelos apresentam diferenças
que se complementam e indicam os avanços e limitações explicativas referentes a cada
um deles, a fim de compreender a atual recomendação de mudança paradigmática
recomendada pela OMS.

5
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

2.1 Modelo Mágico Religioso ou Xamanístico

A visão mágico religiosa sobre saúde e a doença e como cuidar era predominante na
Antiguidade. Os povos da época concebiam as causas das doenças como derivadas tanto
de elementos naturais quanto de espíritos sobrenaturais. O adoecer era concebido como
resultante de transgressões de natureza individual e coletiva, sendo requerido, para reatar
os enlaces com as divindades, processos liderados por sacerdotes, feiticeiros ou xamãs
(Herzslich, 2004). As relações com o mundo natural se baseavam em uma cosmologia
que envolvia deuses e espíritos bons e maus, e a religião, nesse caso, era o ponto de partida
para a compreensão do mundo e de como organizar o cuidado.

2.2 Modelo Holístico

As medicinas indu e chinesa, também na antiguidade, traziam uma nova compreensão da


doença. A noção de equilíbrio é que vai dar origem à medicina holística. Esta noção
associa a ideia de “proporção justa e adequada” com a saúde e a doença. A saúde era
entendida como equilíbrio entre os elementos e humores que compõem o organismo
humano. Um desequilíbrio desses elementos permitiria o aparecimento da doença.

A medicina holística teve grandes contribuições de Alcmenos (século V a.C), para quem
o equilíbrio implicava duas forças ou fatores na etiologia da doença. Esse filósofo
partilhava as ideias de Heráclito, para quem os opostos podiam existir em equilíbrio
dinâmico ou sucedendo-se uns aos outros (Herzslich, 2004). A causa do desequilíbrio
estava relacionada ao ambiente físico, tais como: os astros, o clima, os insetos, etc.

De acordo com tal visão, o cuidado deveria compreender o ajuste necessário para
obtenção do equilíbrio do corpo com o ambiente, corpo este entendido como totalidade.
Cuidado, em última instância, significa a busca pela saúde que, neste caso está
relacionada à busco do equilíbrio do corpo com os elementos internos e externos.

2.3 Modelo Empírico-Racional (Hipocrático)

A explicação empírico-racional tem seus primórdios no Egito (3000 a.C). A primeira


tentativa dos filósofos (século VI a.C) era encontrar explicações não sobrenaturais para
as origens do universo e da vida bem como para saúde e a doença. Hipócrates (século VI
a.C) estabeleceu a relação homem/meio com o desenvolvimento de sua Teoria dos

6
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Humores, teoria a qual defendia que os elementos água, fogo, terra e ar estavam
subjacentes à explicação sobre à saúde e a doença (Herzslich, 2004).

Saúde, na concepção hipocrática, é fruto do equilíbrio dos humores e a doença é resultante


do desequilíbrio deles. E o cuidado depende de uma compreensão desses desequilíbrios
para buscar atingir o equilíbrio.

2.4 Modelo de Medicina Científica Ocidental: Biomédico

O modelo de medicina científica ocidental, também denominado biomédico,


predominante na atualidade, tem suas raízes vinculadas ao contexto do Renascimento e
de toda a Revolução Artístico Cultural, que ocorreram a partir do século XVI. O Método
de Descartes (Séculos XVI e XVII) definiu as regras que constituem os fundamentos de
seu enfoque sobre o conhecimento: não se deve aceitar como verdade nada que não possa
ser identificado como tal; separar cada dificuldade a ser examinada em tantas partes
quanto sejam possíveis e que sejam requeridas para solucioná-las; condução do
pensamento de forma ordenada, partindo do simples ao mais complexo; necessidade de
efetuar uma revisão exaustiva dos diversos componentes de um argumento.

O conceito biomédico de doença é definido como:

“desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação do organismo ou ausência de


reação aos estímulos a cuja ação está exposto [...], processo que conduz a uma
perturbação da estrutura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o
organismo ou de suas funções vitais” (Jenicek, Cléourx, 1982 apud Herzslich,
2004).

O modelo biomédico focou-se, cada vez mais, na explicação da doença e passou a tratar
o corpo em partes cada vez menores, reduzindo a saúde a um funcionamento mecânico
(Barros, 2002).

Numa perspectiva crítica, Fritijof Capra (1982) destaca a concepção fragmentária do


modelo biomédico ao defender que este consiste num tipo de modelo da teoria
mecanicista, em que o homem é visto como corpo-máquina, o médico como mecânico e
a doença como o defeito na máquina. A percepção do homem como máquina é datada,
historicamente, com o advento do capitalismo.

7
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Foi também no Renascimento que a explicação para doença começou a ser relacionada
às situações ambientais; a causa das doenças passava a externa num fator externo ao
organismo, e o homem era o receptáculo da doença. Destas elaborações teóricas sobre o
contágio firmou-se a teoria dos miasmas, que foi a primeira proposta de explicação,
dentro dos parâmetros da ciência, da associação entre o surgimento de epidemias e as
condições do ambiente.

Os miasmas seriam gases decorrentes da putrefação da matéria orgânica que produziam


doenças quando absorvidos pelos seres vivos. Com a descoberta dos microrganismos
(Teoria Microbiana) como causa das doenças, a teoria dos miasmas perdeu força e abriu
espaço para a primeira revolução sanitária, com o início das pesquisas sobre a relação
entre organização social, pobreza e a frequência de doenças. A teoria microbiana
propunha que cada doença teria por agente causal um organismo específico, que poderia
ser identificado, isolado e ter suas características estudadas.

A intervenção de cuidado é baseada numa visão reducionista e mecanicista, em que o


médico especialista é o mecânico que tratará da parte do corpo-máquina defeituosa ou do
ambiente para o controle das possíveis causas de epidemias. O cuidado, na concepção
biomédica, está focado, segundo Foucault (1979), no controle do espaço social, no
controle dos corpos.

2.5 Modelo Sistêmico

Para uma compreensão mais abrangente do processo saúde-doença, no final da década de


1970, começou a ganhar força a concepção deste como um processo sistêmico que parte
do conceito de sistema.

O sistema, neste caso, é entendido como “um conjunto de elementos, de tal forma
relacionados, que uma mudança no estado de qualquer elemento provoca mudança no
estado de qualquer elemento provoca mudança no estado dos demais elementos”
(Roberts, 1978 apud Almeida Filho, Rouquayrol, 2002). Ou seja, essa noção de sistema
incorpora a ideia de todo, de contribuição de diferentes elementos do ecossistema no
processo saúde-doença, fazendo assim um contraponto a visão unidimensional e
fragmentária do modelo biomédico.

8
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Segundo, esta concepção, a estrutura geral de um problema de saúde é entendida como


uma função sistêmica, na qual um sistema epidemiológico, se constitui num equilíbrio
dinâmico. Ou seja, cada vez que um dos seus componentes sofre alguma alteração, esta
repercute e atinge as demais partes, num processo em que o sistema busca novo equilíbrio.

É importante enfatizar que por sistema epidemiológico entende-se:

“o conjunto formado por agente suscetível e pelo ambiente, dotado de uma


organização interna que regula as interações determinantes da produção da
doença, juntamente com os fatores vinculados a cada um dos elementos do
sistema” (Almeida Filho, Rouquayrol, 2002).

Essa definição de sistema epidemiológico aproxima-se da ideia de um sistema de saúde


complexo, que contemple um conjunto de ações e serviços capaz de identificar as
interações dos determinantes da produção e reprodução das doenças e de atuar de forma
efetiva no enfrentamento destes.

2.6 Modelo da História Natural das Doenças: Processual

A busca por explicações causais do processo saúde-doença resultou na configuração da


História Natural das Doenças (HND), conhecido como modelo processual dos fenômenos
patológicos. Os principais sistematizadores deste modelo foram Leavell e Clark, em 1976,
quando definiram história natural da doença como o conjunto de processos interativos
que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando
da resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez,
recuperação ou morte (Leavell e Clark, 1976 apud Almeida Filho, Rouquayrol, 2002).

O modelo da HND visa ao acompanhamento do processo saúde-doença em sua


regularidade, compreendendo as interrelações do agente causador da doença, do
hospedeiro da doença e do meio ambiento e o processo de desenvolvimento da doença.
Esta forma de sistematização ajuda a compreender os diferentes métodos de prevenção e
controle das doenças.

O sistema de história natural das doenças apresenta uma dimensão basicamente


qualitativa de todo o ciclo, dividindo em dois momentos sequenciais o desenvolvimento
do processo saúde-doença: o pré patogênico e o patogênico. O primeiro, também

9
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

considerado período epidemiológico, diz respeito à interação entre os fatores do agente,


do hospedeiro e do meio ambiente. O segundo corresponde ao momento quando o homem
interage com um estímulo externo, apresenta sinais e sintomas e submete-se a um
tratamento. O período pré patogênico permite ações de promoção da saúde e a proteção
especifica, enquanto o período patogênico envolve a prevenção secundária e a prevenção
terciária.

A sistematização sugerida no modelo de história natural das doenças orientou a


organização do cuidado por diferentes níveis de complexidade, em termos de recursos e
ações. Ao considerar a possibilidade de evitar a morte, são trazidas com este modelo
diferentes possibilidades de prevenção e promoção da saúde, como interromper a
transmissão, evitar o caos e promover vida com qualidade.

2.7 Determinação do Sistema Saúde-Doença

O processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis
que envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas
estão interligadas e são consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito,
a determinação do estado de saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve
diversos fatores. Diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do
século XX, que considera como fator único de surgimento de doenças um agente
etiológico – vírus, bactérias, protozoários -, o conceito de saúde-doença estuda os fatores
biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles, pretende obter possíveis
motivações para o surgimento de alguma enfermidade.
O conceito de multicausalidade não exclui a presença de agentes etiológicos numa pessoa
como fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o
psicológico do paciente, seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de
instrução, entre outros. Esses fatores, inclusive, não são estáveis; podem variar com o
passar dos anos, de uma região para outra, de uma etnia para outra.
O processo saúde-doença se configura como um processo dinâmico, complexo e
multidimensional por englobar dimensões biológicas, psicológicas, socio culturais
econômicas, ambientais, políticas, enfim, pode-se identificar uma complexa interrelação
quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades.

10
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

A abordagem de Castellanos (1990) se coloca como esforço de operacionalização, do


ponto de vista analítico, do processo saúde-doença, tendo em vista os diferentes níveis de
organização da vida.

O processo saúde-doença é um conceito central da proposta de epidemiologia social, que


procurar caracterizar a saúde e a doença como componentes integrados de modo dinâmico
nas condições concretas de vidas de pessoas e dos diversos grupos sociais; cada situação
de saúde específica, individual ou coletiva, é o resultado, em dado momento de um
conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. A
ênfase, neste caso, está no estudo da estrutura socioeconômica, a fim de explicar o
processo de saúde-doença de maneira histórica, mais abrangente, tornando a
epidemiologia um dos instrumentos de transformação social (Rouquayrol, 1993).

Pelo exposto, o conceito de saúde vem sofrendo mudanças, por ter sido como ”estado de
ausência de doenças”, foi redefinido em 1948, pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como “estado de completo bem estar físico, mental e social”, passando de uma
visão mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-
doença.

A definição de saúde presente na Lei Orgânica de Saúde (LOS), n. 8080, de 19 de


setembro de 1990, procura ir além da apresentada pela OMS, ao se mostrar mais ampla,
pela explicitação dos fatores determinantes e condicionantes do processo de saúde-
doença. Esta Lei regulamento o Sistema Único de Saúde (SUS) e é complementada pela
Lei n. 8.142, de dezembro de 1992. O que consta na LOS é:

“a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a


alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a
renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso a bens e serviços essenciais; os
níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do
país” (Brasil, 1990, Art.3).

Importante prestar atenção para a seguinte questão: a compreensão das diferentes


concepções referentes ao processo saúde-doença está intimamente relacionada às

11
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

dinâmicas de cuidado existentes, presentes na organização das ações e serviços de saúde


e de redes sociais de apoio.

Conforme o exposto neste capítulo 1, a saúde, a doença e o cuidado são determinados


socialmente, variando conforme os tempos, os lugares e as culturas, o que implica dizer
que a organização das ações e serviços de saúde e das redes de apoio social precisa ser
planejada e gerida de acordo com as necessidades da população de um dado território.

Na atualidade, o conceito de saúde da OMS vem sofrendo mudanças e aperfeiçoamento.


Na 1ª Conferência Internacional de Promoção de Saúde, realizada em 1986, o conceito
passou a estar relacionado a promoção de saúde, que significa capacitar a comunidade
para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação
social no controle do processo de saúde e doença (Organização Pan Americana de Saúde,
1991).

Na perspectiva de promoção de saúde, muda a concepção de saúde, em que esta é referida


a um recuso aplicado à vida e não um objeto da vida, o que permite aos sujeitos maior
controle sobre a própria saúde e sua possiblidade de melhorá-la. A noção de promoção de
saúde no conceito da OMS significa incluir indivíduos e grupos no processo saúde-
doença, de modo que possam identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente, o que significa compreender os indivíduos e grupos
como agentes na promoção de saúde.

Cabe destacar, que a concepção de promoção de saúde, como apresentado por Buss 2000,
requer uma m maior aproximação e apropriação dos temas relativos aos determinantes de
saúde, visto que ações de promoção visam interferir neles. Esse é um ponto crucial, já
que o planejamento e a implementação de ações de promoção devem ir ao encontro das
necessidades dos grupos sociais, o que vai implicar, muitas vezes, a organização de ações
intersetoriais, com métodos e enfoques apropriados.

Promover saúde é, em última instância, promover a vida de boa qualidade, para as


pessoas, individualmente, e para as suas comunidades no território. A estratégia de
promoção de saúde foi orientada para a modificação dos estilos de vida, para a adoção de
hábitos saudáveis.

12
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

A atuação na perspectivada promoção de saúde visa:

- acesso equitativo à saúde como direito de todos;

- desenvolvimento de um entorno facilitador da saúde;

- ampliação e potencialização das redes de apoio social;

- promoção de atitudes afirmativas para a saúde acompanhadas de estratégias de


enfrentamento adequadas;

- ampliação da noção de construção compartilhada do conhecimento e de difusão de


informações relacionadas à saúde;

- fortalecimento da noção de responsabilidade social e civil de gestores de forma


compartilhada com a sociedade organizada.

Espera-se que neste 2º capítulo, tenha sido possível compreender os diferentes modelos
explicativos do processo de saúde, doença e cuidado e a conexão destes com as formas
de organização das ações e serviços de saúde para uma dada população no território.

3.HISTÓRICO DE DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA: 5 GERAÇÕES

Toda ciência tem sua origem e sua história e é importante conhecê-la para compreender
melhor seu estudo. Este capítulo irá apresentar o histórico de desenvolvimento da
psicologia que é uma ciência muito nova, com a maioria dos avanços acontecendo nos
últimos 150 anos.

No entanto, suas origens remontam à Grécia antiga, entre 400 e 500 anos a.C. A ênfase
era filosófica, com grandes pensadores como Sócrates influenciando Platão, que por sua
vez influenciaram Aristóteles como um estudo acadêmico da mente e do comportamento.
Há também evidências de pensamento psicológico no Egito antigo.

A psicologia foi um ramo do domínio da filosofia até a década de 1870, quando na


Alemanha se desenvolveu como uma disciplina científica independente e se inicia a 1ª
fase da história do desenvolvimento da psicologia.

13
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

3.1 Primórdios da Psicologia


Muitas culturas ao longo da história especularam sobre a natureza da mente, coração,
alma, espírito, cérebro, etc. Por exemplo, no Egito Antigo, o Papiro de Edwin
Smith contém uma descrição inicial do cérebro e algumas especulações sobre suas
funções descritas num contexto médico/cirúrgico. Embora outros documentos médicos
dos tempos antigos estivessem cheios de encantamentos e aplicações destinadas a afastar
demônios causadores de doenças e outras superstições, o Papiro de Edwin Smith fornece
remédios para quase 50 condições e apenas dois contêm encantamentos para afastar o
mal.

Os filósofos gregos antigos, de Tales, 550 a.C. até o período romano, desenvolveram uma
teoria elaborada do que chamavam de psuchẽ (psique) da qual a primeira metade de
"psicologia" é derivada, bem como outros termos psicológicos – nous, thumos, logistikon,
etc. Os mais influentes são os relatos de Platão, especialmente,
na República, Pitágoras e Aristóteles, especificamente Peri Psyches, mais conhecido sob

Abordagens de Platão como a teoria tripartite da alma, a Alegoria da Carruagem e


conceitos como eros definiram as visões subsequentes da filosofia ocidental sobre a
psique e anteciparam propostas psicológicas modernas, como os conceitos
de id, ego e superego e de libido de Freud; a tal ponto que "em 1920, Freud decidiu
apresentar Platão como precursor de sua própria teoria, como parte de uma estratégia
direcionada para definir a colocação científica e cultural da psicanálise".

Os filósofos helenísticos, os estoicos e os epicuristas, divergiram da tradição grega


clássica de várias maneiras importantes, especialmente em sua preocupação com questões
da base fisiológica da mente. O médico romano Galeno abordou essas questões de
maneira mais elaborada e influente de todas. A tradição grega influenciou algum
pensamento cristão e islâmico sobre o assunto.

Na tradição judaico-cristã, o Manual de Disciplina, dos Manuscritos do Mar Morto, c. 21


a.C.-61 d.C., observa a divisão da natureza humana em dois temperamentos ou espíritos
opostos de veracidade ou perversidade.

14
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Walter M. Freeman (2008) propõe que o tomismo é o sistema filosófico que explica a
cognição mais compatível com a neurodinâmica, em um artigo de 2008 na revista Mind
and Matter, intitulado "Dinâmica cerebral não-linear e intenção segundo Aquino".

Na Ásia, a China tinha uma longa história de administração de testes de habilidade como
parte de seu sistema educacional. No século VI d.C., Lin Xie realizou um experimento
inicial, no qual pediu às pessoas que desenhassem um quadrado com uma mão e, ao
mesmo tempo, desenhassem um círculo com a outra, ostensivamente para testar a
vulnerabilidade das pessoas à distração. Alguns afirmaram que esse é o primeiro
experimento psicológico e, portanto, o início da psicologia como ciência experimental.

A Índia também tinha uma teoria elaborada do "self" em seus escritos filosóficos
do Vedanta. As filosofias budistas desenvolveram diversas teorias psicológicas,
formulando interpretações da mente e conceitos como agregados – skandhas, vacuidade
– sunyata, nã-self – anatta, atenção plena e Natureza de Buda e são abordadas atualmente
por teóricos da psicologia humanista e transpessoal.

Diversas linhagens budistas desenvolveram noções análogas às da psicologia ocidental


moderna, como o inconsciente e o desenvolvimento pessoal e melhoramento de caráter,
este último sendo parte do Nobre Caminho Óctuplo e expresso, por exemplo,
no Tathagatagarbha Sutra.

As tradições Hinaiana, como o Teravada, concentram-se mais na meditação individual,


enquanto as tradições Maaiana enfatizam também o alcance de uma natureza búdica
de sabedoria - prajna - e compaixão - karuna - na realização do ideal Boddhisattva,
afirmando uma metafísica em que é fundamental a caridade e a ajuda aos seres
sencientes.

O monge e estudioso budista D. T. Suzuki descreve a importância da iluminação interna


do indivíduo e da autorrealização da mente. O pesquisador David Germano, em sua tese
sobre Longchenpa, mostra também a importância da autoatualização na linhagem de
ensino dzogchen.

Médicos muçulmanos medievais também desenvolveram práticas para tratar pacientes


que sofrem de uma variedade de "doenças da mente".

15
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Ahmed ibn Sahl al-Balkhi (850–934) foi um dos primeiros, nesta tradição, a discutir
distúrbios relacionados ao corpo e à mente, argumentando que "se a nafs [psique] fica
doente, o corpo também pode não encontrar alegria na vida e, eventualmente, desenvolver
uma doença física". Al-Balkhi reconheceu que o corpo e a alma podem estar saudáveis
ou doentes, ou "equilibrados ou desequilibrados". Ele escreveu que o desequilíbrio do
corpo pode resultar em febre, dores de cabeça e outras doenças corporais, enquanto o
desequilíbrio da alma pode resultar em raiva, ansiedade, tristeza e outros sintomas
relacionados ao nafs. Ele reconheceu dois tipos do que chamamos de depressão: um
causado por razões conhecidas como perda ou fracasso, que podem ser tratadas
psicologicamente; e o outro causado por razões desconhecidas, possivelmente causadas
por razões fisiológicas, que podem ser tratadas através de medicina física.

O cientista Ibn al-Haytham (Alhazen) realizou experimentos em percepção visual e


outros sentidos, incluindo variações na sensibilidade, sensação de toque, percepção de
cores, percepção de escuridão, explicação psicológica da ilusão da lua e visão
binocular. Al-Biruni também empregou esses métodos experimentais no exame do tempo
de reação.

Avicena, da mesma forma, fez um trabalho inicial no tratamento de doenças relacionadas


à nafs e desenvolveu um sistema para associar alterações na taxa de pulso a sentimentos
internos. Avicena também descreveu fenômenos que agora reconhecemos como
condições neuropsiquiátricas, incluindo alucinação, insônia, mania, melancolia,
demência, epilepsia, paralisia, acidente vascular cerebral, vertigem e tremor.

Outros pensadores medievais que discutiram questões relacionadas à psicologia incluem:

 Ibn Sirin, que escreveu um livro sobre sonhos e interpretação de sonhos;

 Al-Kindi (Alcindo), que desenvolveu formas de musicoterapia;

 Ali ibn Sahl Rabban al-Tabari, que desenvolveu al-'ilaj al-nafs (às vezes
traduzido como "psicoterapia");

 Al-Farabi (Alfarábi), que discutiu assuntos relacionados à psicologia social e


estudos da consciência;

16
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

 Ali ibn Abbas al-Majusi (Haly Abbas) descreveu neuroanatomia e


neurofisiologia.

 Abu al-Qasim al-Zahrawi (Abulcasis), descreveu neurocirurgia;

 Abū Rayhān al-Bīrūnī, que descreveu o tempo de reação;

 Ibn Tufail, que antecipou o argumento da tabula rasa e o debate natureza


versus criação.

Ibn Zuhr (Avenzoar) descreveu distúrbios semelhantes à meningite, tromboflebite


intracraniana e tumores de células germinativas mediastinais; Averróis atribuiu
propriedades fotorreceptoras à retina; e Maimônides descreveu a raiva e a intoxicação por
beladona.

Witelo é considerado um precursor da psicologia da percepção. Sua Perspectiva contém


muito material em psicologia, delineando visões próximas das noções modernas sobre
a associação de ideias e o subconsciente.

Juan Luis Vives (1492-1540) foi chamado por Friedrich Albert Langer de "pai da nova
psicologia empírica" e proposto por Foster Watson como "pai da psicologia moderna",
devido à importância dada em seus escritos às funções mentais e das emoções e o seu
pioneirismo de promover o estudo delas como base da educação e da cura da
alma, mas Lorenzo Cazini critica essa atribuição historiográfica, expondo que a obra de
Vives na verdade estaria dando continuidade ao pensamento filosófico de sua época,
como o dos escolásticos, remetendo a noções de Platão e Aristóteles, assim como
fizeram Francis Bacon e Philip Melanchthon, e que sua contribuição o constituiria mais
justamente como um precursor moderno inicial de interpretações subjetivas da vida
interior, como as dos moralistas franceses, e não da psicologia empírica.

Muitos dos escritos dos antigos teriam sido perdidos se não fosse pelos esforços dos
tradutores cristãos, judeus e persas na Casa da Sabedoria, na Casa do Conhecimento e em
outras instituições da Era de Ouro Islâmica, cujas glosas e comentários foram
posteriormente traduzidos para o latim no século XII. No entanto, não está claro como
essas fontes foram usadas pela primeira vez durante o Renascimento, e sua influência
sobre o que mais tarde emergiria como a disciplina da psicologia é um tópico de debate

17
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

acadêmico. Porém, é indubitável que inúmeras contribuições para o surgimento da


psicologia foram dadas por pensadores de muitas civilizações em locais e em tempos
distintos até o séc. XVIII.

O primeiro uso do termo "psicologia" é frequentemente atribuído


ao filósofo escolástico alemão Rudolf Göckel (1547-1628), conhecido sob a forma
latina Rodolphus Goclenius), que publicou a Psychologia hoc est: de hominis perfectione,
animo et imprimis ortu hujus... em Marburg, em 1590. No entanto, o termo parece ter
sido usado mais de seis décadas antes pelo humanista croata Marko Marulić (1450-1524)
no título de seu tratado latino, Psichiologia de ratione animae humanae. Embora o tratado
em si não tenha sido preservado, seu título aparece em uma lista das obras de Marulic
compiladas por seu contemporâneo mais jovem, Franjo Bozicevic-Natalis, em sua "Vita
Marci Maruli Spalatensis" (Krstić, 1964). A palavra "psychologia" aparece também como
nome de um capítulo do livro Quaestionaes physicae de Johann Thomas Freigius em
1579, e foi posteriormente aceita em títulos de obras por um discípulo de Göckel, Otto
Cassmann, além de Hawenreuther e Fabian Hippe.

O termo não entrou em uso popular até que o filósofo racionalista alemão, Christian
Wolff (1679-1754) o usou em seus trabalhos Psychologia empirica (1732) e Psychologia
racionalis (1734). Essa distinção entre psicologia empírica e racional foi identificada
na Enciclopédie (1751-1784) de Denis Diderot (1713-1780) e de Jean le Rond
d'Alembert (1717-1783), e popularizada na França por Maine de Biran (1766-1824). Na
Inglaterra, o termo "psicologia" ultrapassou a "filosofia mental" em meados do século
XIX, especialmente na obra de William Hamilton (1788-1856).

No Brasil, o médico baiano Eduardo Ferreira França publica em 1854 o livro


"Investigações de Psychologia", inspirado pela análise filosófica dos fenômenos e
funções mentais por Maine de Biran.

A Psicologia inicial era considerada como o estudo da alma (no sentido cristão do
termo). A forma filosófica moderna da psicologia foi fortemente influenciada pelas obras
de René Descartes (1596-1650) e pelos debates que ele gerou, dos quais os mais
relevantes foram as objeções às suas Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641),
publicadas com o texto. Também importantes para o desenvolvimento posterior da
18
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

psicologia foram suas Paixões da Alma (1649) e Tratado sobre o Homem (concluídas em
1632, mas, juntamente com o restante de O Mundo, foram excluídas da publicação depois
que Descartes soube da condenação de Galileu pela Igreja Católica; foi finalmente
publicado postumamente, em 1664).

Embora não tenha sido educado como médico, Descartes fez extensos estudos
anatômicos do coração de touros e foi considerado importante o suficiente para
que William Harvey lhe respondesse. Descartes foi um dos primeiros a apoiar o modelo
de circulação de sangue de Harvey, mas discordou de sua estrutura metafísica para
explicá-lo. Descartes dissecou animais e cadáveres humanos e, como resultado, estava
familiarizado com a pesquisa sobre o fluxo de sangue, levando à conclusão de que o corpo
é um dispositivo complexo capaz de se mover sem a alma, contradizendo assim a
"Doutrina da Alma". O surgimento da psicologia como disciplina médica recebeu um
grande impulso de Thomas Willis, não apenas em sua referência à psicologia (a "Doutrina
da Alma") em termos de função cerebral, mas através de seu detalhado trabalho
anatômico de 1672 e seu tratado De anima brutorum quae hominis vitalis ac sentitive est:
exercitationes duae ("Dois Discursos sobre as Almas dos Brutos" - significando "bestas").
No entanto, Willis reconheceu a influência do rival de Descartes, Pierre Gassendi, como
inspiração para seu trabalho.

Os filósofos das escolas empiristas e associativas britânicas tiveram um profundo


impacto no curso posterior da psicologia experimental. O Ensaio acerca do Entendimento
Humano (1689) de John Locke, o Tratado sobre os Princípios do Conhecimento
Humano (1710) de George Berkeley, e o Tratado da Natureza Humana (1739-1740),
de David Hume, foram particularmente influentes, assim como Observações sobre o
homem (1749) de David Hartley e Um Sistema de Lógica (1843) de John Stuart Mill.
Também digno de nota foi o trabalho de alguns filósofos racionalistas continentais,
especialmente de Baruch Spinoza (1632-1677), sobre a melhoria do
entendimento (1662), e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), em Novos Ensaios
sobre o Entendimento Humano (concluído em 1705, publicado em 1765).

19
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Também foi uma contribuição importante o livro de Friedrich August Rauch (1806-
1841), Psychology: Or, A View of the Human Soul; Incluindo Anthropology (1840), a
primeira exposição inglesa da filosofia hegeliana para um público americano.

O idealismo alemão foi pioneiro na proposição do inconsciente, considerado


por Jung como tendo sido descrito psicologicamente pela primeira vez pelo médico e
filósofo Carl Gustav Carus, que publicou em 1846 o livro Psyche.

O historiador Henri Ellenberger resgatou como a presença do conceito foi fortemente


difundida nos escritos de Schopenhauer e Nietzsche, que influenciaram toda a psicologia
dinâmica. Também foi notável seu uso por Friedrich Wilhelm Joseph von
Schelling (1775-1835), e por Eduard von Hartmann em Filosofia do Inconsciente (1869);
o psicólogo Hans Eysenck escreve em Decline and Fall of the Freudian Empire (1985)
que a versão do inconsciente de Hartmann é muito semelhante à de Freud.

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard também influenciou as escolas psicológicas


humanísticas, existenciais e modernas com suas obras O Conceito de Angústia (1844)
e O Desespero Humano (1849).

Também influenciaram a emergente disciplina da psicologia os debates em torno da


eficácia do mesmerismo (um precursor da hipnose) e do valor da frenologia. O primeiro
foi desenvolvido na década de 1770 pelo médico austríaco Franz Mesmer (1734-1815),
que afirmou usar o poder da gravidade e, posteriormente, do "magnetismo animal", para
curar vários males físicos e mentais. À medida que Mesmer e seu tratamento se tornaram
cada vez mais na moda em Viena e Paris, também começou a ficar sob o escrutínio de
oficiais que suspeitavam dele. Em 1784, uma investigação foi encomendada em Paris
pelo rei Luís XVI, que incluía o embaixador americano Benjamin Franklin, o
químico Antoine Lavoisier e o médico Joseph-Ignace Guillotin (mais tarde o
popularizador da guilhotina). Eles concluíram que o método de Mesmer era inútil.
O Abade Faria, sacerdote indo-português, reavivou a atenção do público no magnetismo
animal. Ao contrário de Mesmer, Faria alegou que o efeito foi "gerado de dentro da
mente" pelo poder da expectativa e da cooperação do paciente. Embora contestada, a
tradição "magnética" continuou entre os estudantes de Mesmer e outros, ressurgindo na
Inglaterra no século XIX na obra do médico John Elliotson (1791-1868), e dos
20
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

cirurgiões James Esdaile (1808-1859) e James Braid (1795-1860) (que o


reconceptualizou como propriedade da mente do sujeito e não como "poder" do
mesmerista, e o rotulou como "hipnotismo"). O mesmerismo também continuou a ter um
forte número de seguidores sociais (se não médicos) na Inglaterra até o século XIX (ver
Winter, 1998). A abordagem de Faria foi significativamente ampliada pelo trabalho
clínico e teórico de Ambroise-Auguste Liébeault e Hippolyte Bernheim da Escola de
Nancy. A posição teórica de Faria e as experiências subsequentes daqueles da Escola de
Nancy fizeram contribuições significativas para as técnicas posteriores
de autossugestão de Émile Coué. Foi adotado para o tratamento da histeria pelo diretor
do Hospital Salpêtrière de Paris, Jean-Martin Charcot (1825-1893).

A frenologia começou como "organologia", uma teoria da estrutura cerebral


desenvolvida pelo médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828). Gall argumentou que
o cérebro é dividido em um grande número de "órgãos" funcionais, cada um responsável
por determinadas habilidades e disposições mentais humanas - esperança, amor,
espiritualidade, ganância, linguagem, habilidades para detectar o tamanho, a forma e a
cor dos objetos, etc. Ele argumentou que quanto maiores são cada um desses órgãos,
maior o poder do traço mental correspondente. Além disso, ele argumentou que era
possível detectar os tamanhos dos órgãos em um determinado indivíduo, sentindo a
superfície do crânio dessa pessoa. A posição ultra localizacionista de Gall em relação ao
cérebro foi logo atacada, principalmente pelo anatomista francês Pierre Flourens (1794-
1867), que conduziu estudos de ablação (em galinhas) que pretendiam demonstrar pouca
ou nenhuma localização cerebral da função. Embora Gall tivesse sido um pesquisador
sério (apesar de mal orientado), sua teoria foi adotada por seu assistente, Johann Gaspar
Spurzheim (1776-1832), e se desenvolveu no lucrativo e popular empreendimento
de frenologia, que logo gerou, especialmente na Grã-Bretanha, uma próspera indústria de
profissionais independentes. Nas mãos do líder religioso escocês George Combe (1788-
1858), cujo livro A Constituição do Homem foi um dos mais vendidos do século, a
frenologia tornou-se fortemente associada a movimentos de reforma política e princípios
igualitários. A frenologia logo se espalhou também para os Estados Unidos, onde os
frenologistas práticos itinerantes avaliaram o bem-estar mental de clientes.

21
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

O desenvolvimento da psicologia moderna esteve intimamente ligado à psiquiatria nos


séculos XVIII e XIX quando foi revolucionado o tratamento do doente mental
em hospícios, após os europeus considerarem pela primeira vez as suas condições
patológicas. De fato, não havia distinção entre as duas áreas na prática psicoterapêutica,
numa não havia ainda tratamento medicamentoso para as doenças mentais (da
chamada revolução psicofarmacológica a partir de 1950), e seus primeiros teóricos e os
psicólogos clínicos pioneiros tinham em geral formação médica. Os primeiros a
implantarem um tratamento da saúde mental de forma humanitária e científica, baseados
em ideias iluministas, foram os alienistas franceses, que desenvolveram a observação
empírica da psicopatologia, descrevendo as condições clínicas, suas relações fisiológicas
e classificando-as. Foi chamada de escola racionalista-empírica e nela destacam-
se Pinel, Esquirol, Falret, Morel e Magnan. No final do século XIX, a corrente francesa
foi gradualmente superada pelo campo de estudos alemão. De início, a escola germânica
era influenciada pelos ideais românticos e deu origem a uma linha de teóricos
especuladores dos processos mentais, baseada mais na empatia do que na razão. Eles
ficaram conhecidos como Psychiker, mentalistas ou psicologistas, destacando-se
correntes diferentes, criadora da palavra "psiquiatria", Heinroth, primeiro a usar o termo
"psicossomático". Na metade do século, formou-se uma "reação somaticista" (somatiker)
contra as doutrinas especulativas do mentalismo, a qual se baseou na neuroanatomia e
neuropatologia. Nela, destacam-se com importantes contribuições à classificação
psicopatológica Giesinger, Westphal, Krafft-Ebbing e Kahlbaum, que influenciariam
Wernicke e Meynert, Kraepelin revolucionou como o primeiro a definir os aspectos
diagnósticos dos transtornos mentais em síndromes, e seguiu-se o trabalho de
classificação psicológica com as contribuições de Schneider, Krestschmer, Leonhard e
Jaspers.

Na Grã-Bretanha, destacam-se no século XIX Alexander Bain (fundador da primeira


revista de psicologia, Mind, e escritor de livros de referência para o tema na época,
como Mental Science: A Compendium of Psychology, and the History of Philosophy, de
1868); Herbert Spencer, que publicou Principles of Psychology em 1855, que visava
estabelecer leis naturais à mente humana com base na biologia, propondo reconciliar uma

22
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

psicologia associacionista com a frenologia da época, o que teve um papel na influência


da visão behaviorista; e Henry Maudsley. Na Suíça, Bleuler criou os termos "psicologia
profunda", "esquizofrenia", "esquizoide" e "autismo". Nos Estados Unidos, o psiquiatra
suíço Adolf Meyer sustentava que o doente deveria ser visto como um todo
"psicobiológico" integrado, enfatizando os fatores psicossociais, conceitos que
propiciaram a chamada medicina psicossomática.

Até meados do século XIX, a psicologia era amplamente considerada como um ramo
da filosofia. Se ela poderia tornar-se uma disciplina científica independente já tinha siso
questionado anteriormente: Immanuel Kant (1724–1804) declarou em seus Fundamentos
Metafísicos das Ciências Naturais (1786) que a psicologia talvez nunca se tornasse uma
ciência natural "adequada" porque seus fenômenos não podem ser quantificados, entre
outros motivos. Kant propôs uma concepção alternativa de uma investigação empírica do
pensamento, sentimento, desejo e ação humanos e lecionou esses tópicos por mais de
vinte anos (1772/73-1795/96). Sua Antropologia de um Ponto de Vista
Pragmático (1798), resultante dessas palestras, parece uma psicologia empírica em
muitos aspectos.

Johann Friedrich Herbart (1776-1841) discordou do que considerava a conclusão de Kant


e tentou desenvolver uma base matemática para uma psicologia científica. Embora ele
não tenha conseguido entender empiricamente os termos de sua teoria psicológica, seus
esforços levaram cientistas como Ernst Heinrich Weber (1795-1878) e Gustav Theodor
Fechner (1801-1887) a tentar medir as relações matemáticas entre as magnitudes físicas
dos estímulos externos e as intensidades psicológicas das sensações resultantes. Fechner
(1860) é o criador do termo psicofísica.

Enquanto isso, diferenças individuais no tempo de reação haviam se tornado uma questão
crítica no campo da astronomia, sob o nome de "equação pessoal". As primeiras pesquisas
de Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) em Königsberg e Adolf Hirsch levaram ao
desenvolvimento de um cronoscópio altamente preciso de Matthäus Hipp que, por sua
vez, foi baseado no design de Charles Wheatstone para um dispositivo que media a
velocidade de projéteis de artilharia (Edgell e Symes, 1906). Outros instrumentos
temporais foram emprestados da fisiologia (por exemplo, o quimógrafo de Carl Ludwig)

23
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

e adaptado para uso pelo oftalmologista de Utrecht Franciscus Donders (1818-1899) e


seu aluno Johan Jacob de Jaager na medição da duração das decisões mentais simples.

O século XIX foi também o período em que a fisiologia, incluindo a neurofisiologia, se


profissionalizou e viu algumas de suas descobertas mais significativas. Entre seus líderes
estavam Charles Bell (1774-1843) e François Magendie (1783-1855), que descobriram
independentemente a distinção entre nervos sensoriais e motores na coluna
vertebral, Johannes Müller (1801-1855) que propôs a doutrina de energias nervosas
específicas, Emil du Bois-Reymond (1818 a 1896), que estudou as bases elétricas da
contração muscular, Pierre Paul Broca (1824 a 1880) e Carl Wernicke (1848 a 1905), que
também identificaram áreas do cérebro responsáveis por diferentes aspectos da
linguagem, bem como Gustav Fritsch (1837–1927), Eduard Hitzig (1839–1907) e David
Ferrier (1843–1924) que localizaram áreas sensoriais e motoras do cérebro. Um dos
principais fundadores da fisiologia experimental, Hermann Helmholtz (1821-1894),
conduziu estudos de uma ampla gama de tópicos que mais tarde seriam de interesse dos
psicólogos - a velocidade da transmissão neural, as naturezas do som e da cor e de nossas
percepções sobre eles etc. Na década de 1860, enquanto ele ocupava uma posição
em Heidelberg, Helmholtz contratou como assistente um jovem médico
chamado Wilhelm Wundt. Wundt empregou o equipamento do laboratório de fisiologia
- cronoscópio, quimógrafo e vários dispositivos periféricos - para abordar questões
psicológicas mais complicadas do que, até então, haviam sido investigadas
experimentalmente. Em particular, ele estava interessado na natureza da apercepção - o
ponto em que uma percepção ocupa o foco central da percepção consciente.

Em 1864, Wundt assumiu o cargo de professor em Zurique, onde publicou seu livro de
referência, Grundzüge der Physiologischen Psychologie (Princípios da Psicologia
Fisiológica, 1874). Mudando para uma cátedra de maior prestígio em Leipzig em 1875,
Wundt fundou um laboratório especificamente dedicado à pesquisa original em
psicologia experimental em 1879, o primeiro laboratório do gênero no mundo.

24
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

3.2 1ª Fase da História de Desenvolvimento da Psicologia: emancipação da psicologia


como cátedra

A psicologia como um campo autoconsciente de estudo experimental começou em 1879,


em Leipzig, Alemanha, quando Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório dedicado,
exclusivamente. a pesquisa psicológica na Alemanha, estabelecendo a Psicologia como
uma disciplina académica. Importantes fatores convergiram para o surgimento da
Psicologia no Século XIX.

Wundt também foi a primeira pessoa a se referir como um psicólogo. Um precursor


notável de Wundt foi Ferdinand Ueberwasser (1752-1812) que se designou Professor de
Psicologia Empírica e Lógica em 1783 e deu palestras sobre psicologia científica na
Universidade Velha de Münster, Alemanha. Outros importantes colaboradores iniciais da
área incluem Hermann Ebbinghaus, pioneiro no estudo da memória, William James, o pai
americano do pragmatismo e Ivan Pavlov, que desenvolveu os procedimentos associados
ao condicionamento clássico.

Em 1883, Wundt lançou um diário no qual publicaria os resultados de suas pesquisas, e


de seus alunos, Philosophische Studien (Estudos Filosóficos). Wundt atraiu um grande
número de estudantes não apenas da Alemanha, mas também do exterior. Entre seus
estudantes americanos mais influentes estavam G. Stanley Hall, que já havia obtido um
PhD em Harvard sob a supervisão de William James, James McKeen Cattell, que foi o
primeiro assistente de Wundt e Frank Angell, que fundou laboratórios
em Cornell e Stanford. O estudante britânico mais influente foi Edward Bradford
Titchener, que mais tarde se tornou professor em Cornell.

Também foram brevemente estabelecidos laboratórios de psicologia experimental em


Berlim por Carl Stumpf (1848-1936) e em Göttingen por Georg Elias Müller (1850-
1934). Outro psicólogo experimental alemão importante da época, embora ele não
dirigisse seu próprio instituto de pesquisa, foi Hermann Ebbinghaus (1850–1909).

Na mesma época, em alternância ao método experimental de Wundt, iniciou-se uma


sistematização de psicologia empírica por Franz Brentano, que anteciparia o método
fenomenológico de descrição dos atos psíquicos, através da introspecção e consideração

25
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

pelas vivências e intenções experienciadas pelo sujeito no momento. Brentano publica


em 1874 a obra A Psicologia do Ponto de Vista Empírico, e seu trabalho é seguido
por Edmund Husserl, influenciando posteriormente a gestalt, a psicologia humanista e a
terminologia mental das psicopatologias por Karl Jaspers.

Dentre os importantes alunos norte americanos de Wundt, Stanley Hall abriu o primeiro
laboratório experimental de Psicologia nos EUA, na Universidade Johns Hopkins, em
1883. Em 1888, James Cattell tornou-se o primeiro a receber o título de "Professor de
Psicologia". Em 1887, Stanley Hall iniciou o American Journal of Psychology e, em
1892, fundou a Associação Americana de Psicologia, a primeira de seu género no mundo,
na qual ele serviu como seu primeiro Presidente. Seguiram-se a criação das escolas de
Psicologia.

Logo após o desenvolvimento da psicologia experimental, vários tipos de psicologia


aplicada apareceram. G. Stanley Hall trouxe da Alemanha a pedagogia científica para os
Estados Unidos no início da década de 1880. A teoria educacional de John Dewey da
década de 1890 foi outro exemplo. Também na década de 1890, Hugo
Münsterberg começou a escrever sobre a aplicação da psicologia na indústria, direito e
outros campos. Lightner Witmer estabeleceu a primeira clínica psicológica na década de
1890, ele foi o criador do termo "psicologia clínica". James McKeen Cattell adaptou os
métodos antropométricos de Francis Galton para gerar o primeiro programa de testes
mentais na década de 1890.

A Associação Americana de Psicologia (APA), a primeira organização científica e


profissional de psicólogos, foi fundada em 1892. Depois de estabelecida, a nova
disciplina desenvolveu-se e expandiu-se rapidamente, em especial nos EUA, onde ainda
hoje detém um lugar de destaque na psicologia.

No início do século XX, assistiu-se uma reação à crítica de Edward Titchener ao


empirismo de Wundt. Isso contribuiu para a formulação do behaviorismo por John B.
Watson, que foi popularizado por B. F. Skinner. O behaviorismo propôs enfatizar o
estudo do comportamento manifesto, porque ele poderia ser quantificado e facilmente
medido. Os behavioristas iniciais consideravam o estudo da "mente" muito vago para um
estudo científico produtivo. No entanto, Skinner e seus colegas estudaram o pensamento
26
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

como uma forma de comportamento secreto, ao qual poderiam aplicar os mesmos


princípios que o comportamento manifesto, publicamente observável.

Enquanto isso, em Viena, Sigmund Freud desenvolveu uma abordagem independente


para o estudo da mente chamada psicanálise e funda, em 1910, a Associação Internacional
de Psicanálise. A psicanálise tem sido amplamente influente com os conceitos
de id, ego e superego e de libido de Freud, debatidos, em 1920.

Em 1896, observou-se o surgimento do Funcionalismo, que focalizava os atos e funções


da mente, ao invés de em seu conteúdo interno; o surgimento da Psicanálise, termo
primeiramente usado por Sigmund Freud em um artigo académico, escola que afirmava
que as pessoas são motivadas por impulsos e conflitos inconscientes; o surgimento do
Estruturalismo, abordagem que focalizava os conteúdos da mente, em contraposição ao
Funcionalismo; e o surgimento da primeira Clínica Psicológica no mundo, criada por
Lightner Wilmer, na Universidade da Pennsylvania, voltando-se para a aplicação prática
de seus dados experimentais.

Seguiram-se importantes publicações, a partir de 1900. Nesse ano, Freud publicou o


primeiro de seus 24 livros, a "Interpretação dos Sonhos", em que apresenta sua Teoria da
Psicanálise; em 1901, Tichener publicou o "Manual de Psicologia Experimental", em que
busca identificar os elementos básicos da consciência; em 1904, a American
Psychological Association elege sua primeira mulher Presidente, Mary Calkins, estudante
de William James na Universidade de Harvard, mas Harvard lhe nega o título de Doutora,
ou PhD, devido a seu gênero. Ela se tornaria Professora e Pesquisadora no ainda famoso
Wellesley College. Em 1905, Alfred Binet e Theodore Simon desenvolvem a primeira
escala para medir o QI - Coeficiente de Inteligência, utilizando testes padronizados. Em
1908, uma publicação importante, de Clifford Beers, "The Mind finded itself - Uma mente
que encontrou a si mesma", advogando por um tratamento mais humano no atendimento
a doentes mentais, inspirando o movimento de Higiene Mental nos Estados Unidos.

As ideias do norte-americano Carl Rogers (1902-1987) para a educação são uma extensão
da teoria que desenvolveu como psicólogo. Nos dois campos sua contribuição foi muito
original, opondo-se às concepções e práticas dominantes nos consultórios e nas escolas.
A psicoterapia rogeriana se define como não-diretiva e centrada no cliente, palavra que
27
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Rogers preferia a paciente, porque cabe a ele a responsabilidade pela condução e pelo
sucesso do tratamento. Para Rogers, o psicoterapeuta apenas facilita o processo. Em seu
ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do psicoterapeuta e o do aluno ao
do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é facilitar o aprendizado, que o aluno
conduz a seu modo. A psicoterapia centrada no cliente é a perspectiva de Carl Rogers e é
um dos exemplos mais clássicos da abordagem humanista. Usa técnicas não diretivas
como a escuta ativa, empatia, congruência e aceitação incondicional. A empatia sincera é
necessária para as pessoas se sentirem aceitas e compreendidas e para permitir o
crescimento.

Em 1909, Freud e Jung visitam a Clark University, nos Estados Unidos, em um Simpósio
organizado por Stanley Hall, a única apresentação de Freud nos Estados Unidos. Em
1913, John Watson publica "Psychology like Behaviour", em que lança as bases do
behaviorismo, focalizando o comportamento observável e mensurável. Em 1917, testes
padronizados de Inteligência e Aptidão são aplicados a dois milhões de soldados durante
a Primeira Guerra Mundial.

Em 1920, Francis Cecil Sumner se torna o primeiro Afro-Americano a obter seu PhD em
Psicologia, orientado por Stanley Hall, na Clark University. Nesse mesmo ano, Jean
Piaget publica "O Conceito de Mundo da Criança", promovendo o estudo da cognição na
criança em desenvolvimento. E, ainda em 1920, Ivan Pavlov, na Rússia, publica seu
trabalho em condicionamento clássico e, em 1924, recebe o Prêmio Nobel de Fisiologia
ou Medicina. No entanto, Pavlov veio a ocupar importante posição na história da
Psicologia por seu trabalho sobre o reflexo condicionado na psicologia do
comportamento.

Em 1925, Charles Menninger e seus dois filhos fundam a Menninger Clinic, e em 1927
ganham o primeiro Prêmio Nobel para a pesquisa em Psicologia.

Pelo exposto acima, diversas abordagens psicológicas surgiram no fim do século XVIII
e início do século XX, definindo a 1ª fase histórica do desenvolvimento da psicologia que
perdura até a metade deste século, quando inicia-se a 2ª fase do desenvolvimento histórico
da psicologia.

28
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

3.3 2ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: as psicologias no início do


século XX

Na primeira metade do século XX, o projeto de uma psicologia científica era a questão
fundamental dos psicólogos emancipados quanto cátedra nas universidades da Europa,
Rússia e nos EUA. As discussões e embates metodológicos científicos recaiam sobre a
psicanálise tanto quanto sobre a psicologia fisiológica/experimental norte americana. E a
proposta de uma nova psicologia crescia.

De um lado, a psicanálise, que examina processos mentais que afetam o ego, permitindo,
teoricamente, ao indivíduo compreender-se com maior escolha e consciência e assim
obter um efeito curativo na neurose e, ocasionalmente, na psicose, que Richard von
Krafft-Ebing definiu como "doenças da personalidade".

A psicanálise freudiana foi reconhecida como notável pela ênfase que coloca no curso do
desenvolvimento sexual de um indivíduo na patogênese e seus conceitos tiveram uma
influência forte e duradoura na cultura ocidental, particularmente nas artes. Embora sua
contribuição científica ainda seja motivo de debate, a psicologia freudiana
e junguiana revelou a existência de pensamento compartimentalizado, no qual alguns
comportamentos e pensamentos estão ocultos da consciência - ainda operativo como parte
da personalidade completa. Agendas ocultas, uma má consciência ou um sentimento de
culpa são exemplos da existência de processos mentais nos quais o indivíduo não está
consciente, por escolha ou falta de entendimento, de alguns aspectos de sua personalidade
e comportamento subsequente.

Com o abandono do método catártico de Breuer-Freud, proposto em 1895 na


obra Estudos sobre a Histeria, a doutrina freudiana posterior foi criticada na primeira
década do século XX como não sendo validada na prática científica. Membros da
comunidade médica não conseguiram replicar as novas propostas da psicanálise, que
superestimavam complexos sexuais, e acusaram Freud de sectarismo e autoritarismo,
criticando sua negligência aos efeitos da hipnose e que a nova técnica induzia
interpretações sexualizantes a pacientes por sugestão, mesmo quando não havia no
transtorno causa sexual. Ataques entre psicanalistas freudianos e grupos outros ocorreram
como diversas "guerras" em congressos e periódicos. Pierre Janet acusou Freud de
29
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

distorcer a técnica terapêutica que ele praticava na França e plagiar o nome de sua teoria,
que ele já antes chamava de "análise psicológica" (analyse psychologique). Inicialmente
colaboradores ou apoiadores, Breuer, Eugen Bleuler e Auguste Forel e seus discípulos,
incluindo Oskar Vogt e Ludwig Frank, repudiaram o distanciamento de Freud das
práticas pioneiras de um método verificável não dogmático. Forel era chefe no
Hospital Burghölzli, que servia, inicialmente, de instituto psiquiátrico para a realização
de pesquisa psicanalítica autorizada e que foi dirigido posteriormente por Bleuler e Jung.
Forel, Vogt e Frank fundaram em 1909 a Sociedade de Psicologia Médica e Psicoterapia,
com intuito de coordenar a psicoterapia científica e ser aberta a todas as teorias:
convidando para ingressar na sociedade, todos os representantes das escolas de psicologia
da época, incluindo Jung e Freud. O primeiro presidente foi Fulgence Raymond. Em
1913, uma conferência de psiquiatria de Breslau, estabeleceu-se repúdio às explicações
de Freud, sendo declarado, em consenso entre psiquiatras e psicólogos alemães,
incluindo Emil Kraepelin e Wilhelm Stern, rejeitada a cientificidade das inovações
freudianas e alegado originalidade da análise psicoterapêutica, atribuindo a criação desta
a Janet.

Buscando um círculo fechado que o afastasse das críticas científicas e afirmasse sua
teoria, junto com a internacionalização de sua divulgação, Freud fundou, em 1910,
a Associação Psicanalítica Internacional , inspirado também por Ernest
Jones, Jung e Ferenczi. Destacam-se como sucessores teóricos Anna Freud (sua filha)
e Melane Klein, particularmente na psicanálise de crianças, ambas inaugurando conceitos
que competiam; além daqueles que vieram a se tornar dissidentes e desenvolveram
interpretações diferentes da psicanalítica freudiana, passando a ser chamados neo
freudianos; os principais sendo Alfred Adler (psicologia individual), Carl G. Jung
(psicologia analítica), Otto Rank, Karen Horney, Erik Erikson e Erich Fromm.

Jung era um associado de Freud que mais tarde rompeu com ele por causa da ênfase de
Freud na sexualidade. Trabalhando com conceitos do inconsciente observados pela
primeira vez durante o século XIX (por John Stuart Mill, Krafft-Ebing, Pierre
Janet, Théodore Flournoy e outros), Jung definiu quatro funções mentais que se
relacionam e definem o ego, o eu consciente:

30
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

1. Sensação, que diz à consciência que algo está lá;

2. Sentimento, que consiste em julgamentos de valor, e motivam a reação ao


que é percebido sensorialmente;

3. Intelecto, uma função analítica que compara o evento detectado com todos
os outros conhecidos e fornece classe e categoria, permitindo entender
uma situação dentro de um processo histórico, pessoal ou público;

4. E a intuição, uma função mental com acesso a padrões comportamentais


profundos, capaz de sugerir soluções inesperadas ou prever consequências
imprevisíveis "como se estivesse vendo atrás dos cantos", como disse
Jung.

Jung insistia em uma psicologia empírica na qual as teorias deviam se basear em fatos e
não nas projeções ou expectativas do psicólogo.

De outro lado, a psicologia fisiológica de Wundt também sofria fortes críticas por seus
dissidentes e pelo cientista William James, professor de fisiologia de Harvard.

Em 1878 James foi contratado por Henry Holt para escrever um livro sobre a "nova"
psicologia experimental. Se ele o tivesse escrito rapidamente, teria sido o primeiro livro
em inglês sobre o assunto. Passaram-se doze anos, no entanto, antes que seus dois
volumes, Os Princípios da Psicologia, fossem publicados. Enquanto isso, os livros
didáticos foram publicados por George Trumbull Ladd, de Yale (1887), e James Mark
Baldwin, então, do Lake Forest College (1889).

William James foi um dos fundadores da American Society for Psychical Research em
1885, que estudava fenômenos psíquicos parapsicológicos, antes da criação
da Associação Americana de Psicologia em 1892. James também foi presidente da
sociedade britânica que inspirou a dos Estados Unidos, a Society for Psychical Research,
fundada em 1882, investigando a psicologia e paranormalidade, em tópicos como
mediunidade, dissociação, telepatia e hipnose, que inovou a pesquisa em psicologia,
inventando inovações metodológicas como estudos randomizados e investigações acerca
da psicologia do testemunho ocular, além de estudos empíricos e conceituais com os
mecanismos de dissociação e hipnotismo; seus membros também iniciaram e

31
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

organizaram os primeiros Congressos Internacionais de Psicologia


Fisiológica/Experimental.

O cientista William James foi fundamental para a consolidação da psicologia, deixando


um legado importante para os funcionalistas, o que fica evidente pela sua compreensão
da consciência. O estudioso estava interessado em compreender a sua função e saber
como ela teria permitido a adaptação do ser humano ao meio ambiente. Entendia, ainda,
que a redução da mente a seus elementos básicos ou a importância dada à estrutura era
um exercício irrelevante e artificial, numa crítica à proposta do psicólogo alemão Wilhelm
Wundt. Para James, a consciência seria um conjunto de unidades conectadas, marcada
pelo fluxo de pensamento, tanto que o pesquisador lança mão das palavras “rio” e
“torrente” como metáforas que naturalmente a descreveriam.

Em 1879, Charles Sanders Peirce foi contratado como professor de filosofia


na Universidade Johns Hopkins. Embora mais conhecido por seu trabalho astronômico e
filosófico, Peirce também conduziu o que talvez sejam os primeiros experimentos de
psicologia americana, sobre o tema da visão de cores, publicados em 1877 no American
Journal of Science. Peirce e seu aluno Joseph Jastrow publicaram "Sobre Pequenas
Diferenças de Sensação" nas Memórias da Academia Nacional de Ciências, em 1884. Em
1882, Peirce juntou-se à Johns Hopkins através de G. Stanley Hall, que abriu o primeiro
laboratório de pesquisa americano dedicado à psicologia experimental em 1883. Peirce
foi forçado a sair de sua posição por escândalo e Hall foi premiado como o único professor
de filosofia na Johns Hopkins. Em 1887, Hall fundou o American Journal of Psychology,
que publicou trabalhos que emanavam principalmente de seu próprio laboratório. Em
1888, Hall deixou seu cargo de professor da Johns Hopkins para a presidência da recém-
fundada Universidade Clark, onde permaneceu pelo resto de sua carreira.

Logo, laboratórios de psicologia experimental foram abertos na Universidade da


Pensilvânia (em 1887, por James McKeen Cattell), Universidade de
Indiana (1888, William Lowe Bryan), Universidade de Wisconsin (1888, Joseph
Jastrow), Universidade Clark (1889, Edmund Sanford) ), o McLean Asylum (1889,
William Noyes) e a Universidade de Nebraska (1889, Harry Kirke Wolfe). No entanto,
foi o Eno Hall da Universidade de Princeton, construído em 1924, que se tornou o

32
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

primeiro edifício universitário nos Estados Unidos a ser inteiramente dedicado à


psicologia experimental quando se tornou o lar do Departamento de Psicologia da
universidade.

Em 1890, The Principles of Psychology, de William James, finalmente apareceu, e


rapidamente se tornou o livro mais influente da história da psicologia americana. Ele
lançou muitas das bases para os tipos de perguntas em que os psicólogos americanos se
concentrariam nos próximos anos. Os capítulos do livro sobre consciência, emoção e
hábito foram particularmente marcantes.

Um dos que sentiram o impacto dos Princípios de James foi John Dewey, então professor
de filosofia da Universidade de Michigan. Com seus colegas juniores, James Hayden
Tufts, que fundou o laboratório de psicologia em Michigan, e George Herbert Mead, e
seu aluno James Rowland Angell, esse grupo começou a reformular a psicologia,
concentrando-se mais fortemente no ambiente social e na atividade da mente e do
comportamento do que a psicologia fisiológica de Wundt e seus seguidores, inspirada na
psicofísica, tinha feito até então. Tufts deixou Michigan para outro cargo júnior na recém-
fundada Universidade de Chicago em 1892. Um ano depois, o filósofo sênior em
Chicago, Charles Strong, renunciou e Tufts recomendou ao presidente da
universidade William Rainey Harper que o cargo fosse oferecido a Dewey. Após
relutância inicial, Dewey foi contratado em 1894. Dewey logo preencheu o departamento
com seus companheiros de Michigan, Mead e Angell. Esses quatro formaram o núcleo
da Escola de Psicologia de Chicago.

Em 1892, G. Stanley Hall convidou 30 psicólogos e filósofos para uma reunião


em Clark com o objetivo de fundar uma nova Associação Americana de
Psicologia (APA). A primeira reunião anual da APA foi realizada no final daquele ano,
organizada por George Stuart Fullerton na Universidade da Pensilvânia. Quase
imediatamente surgiu tensão entre os membros experimental e filosoficamente inclinados
da APA. Edward Bradford Titchener e Lightner Witmer lançaram uma tentativa de
estabelecer uma "Seção" separada para apresentações filosóficas ou de expulsar
completamente os filósofos. Estes fundaram sua própria associação.

33
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Em 1894, vários psicólogos, descontentes com as políticas editoriais paroquiais


do American Journal of Psychology, abordaram Hall sobre a nomeação de um conselho
editorial e a abertura da revista a mais psicólogos fora do círculo imediato de Hall. Hall
recusou, assim James McKeen Cattell, então de Columbia e James Mark Baldwin, então
de Princeton, cofundaram uma nova revista, a Psychological Review, que rapidamente se
tornou uma grande saída para os pesquisadores psicológicos americanos.

A partir de 1895, James Mark Baldwin (Princeton, Hopkins) e Edward Bradford


Titchener (Cornell) entraram em uma disputa cada vez mais amarga sobre a interpretação
correta de algumas descobertas anômalas no tempo de reação que vieram do laboratório
de Wundt (originalmente relatadas por Ludwig Lange e James McKeen Cattell). Em
1896, James Rowland Angell e Addison W. Moore (Chicago) publicaram uma série de
experimentos na Psychological Review, parecendo mostrar que Baldwin era o mais
correto dos dois. No entanto, eles interpretaram suas descobertas à luz da nova abordagem
de John Dewey à psicologia, que rejeitou o entendimento tradicional de resposta a
estímulos do arco reflexo em favor de uma explicação "circular" na qual o que serve como
"estímulo" e o que de "resposta" depende de como se vê a situação. A posição completa
foi apresentada no artigo de referência de Dewey, "O conceito do arco reflexo na
psicologia", que também apareceu na Psychological Review em 1896.

Titchener respondeu na Philosophical Review (1898, 1899) ao distinguir sua austera


abordagem "estrutural" da psicologia do que chamou de abordagem "funcional" mais
aplicada do grupo de Chicago e, assim, iniciou a primeira grande ruptura teórica na
psicologia americana entre estruturalismo e funcionalismo. O grupo de Columbia,
liderado por James McKeen Cattell, Edward L. Thorndike e Robert S. Woodworth, era
frequentemente considerado como uma segunda (depois de Chicago) "escola" de
Funcionalismo Americano (ver, por exemplo, Heidbredder, 1933), embora nunca
utilizaram esse termo por conta própria, porque suas pesquisas se concentraram nas áreas
aplicadas de teste mental, aprendizado e educação. Dewey foi eleito presidente da APA
em 1899, enquanto Titchener deixou de ser membro da associação. (Em 1904, Titchener
formou seu próprio grupo, conhecido como Sociedade de Psicólogos
Experimentais.) Jastrow promoveu a abordagem funcionalista em seu discurso

34
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

presidencial da APA em 1900, e Angell adotou o rótulo de Titchener explicitamente em


seu influente livro didático de 1904 e em seu discurso presidencial da APA de 1906. Na
realidade, o estruturalismo estava mais ou menos confinado a Titchener e seus alunos.

Titchener, principal intérprete do pensamento de Wundt nos Estados Unidos da América,


na verdade construtor de um estruturalismo à imagem de Wundt, mantinha como
principal meta da psicologia o estudo da experiência imediata através da análise de seus
elementos mais simples, da descoberta de suas combinações e da conexão com suas
condições fisiológicas. A experiência imediata de um indivíduo em um momento dado
compreende o que ele entende por consciência. A rigor, admite com evidente sabor
heraclitiano, não se pode observar duas vezes a mesma consciência: a corrente do espírito
corre sempre e jamais retorna... Embora a maré alta de ontem jamais volte, como não
voltará nossa consciência de ontem, a ciência psicológica é possível porque se pode
observar a consciência particular e os processos mentais se agruparem da mesma maneira,
mostrarem o mesmo tipo de arranjo, sempre que o organismo é colocado nas mesmas
circunstâncias.

O método da psicologia, pensa Titchener, é o mesmo método das demais ciências a


observação. Entretanto, enquanto a observação nas ciências físicas é extrospecção, pois é
voltada para fora, a observação psicológica é introspecção, pois é voltada para dentro.
Titchener dá exemplos de situações diversas, mais ou menos complexas, em que a
introspecção é o método utilizado para a coleta das informações.

Embora aceite que a decomposição da consciência possa dificultar a compreensão de


certas ligações intermediárias, supõe que tal obstáculo será insignificante, desde que se
aplique a retrospecção e se compare os resultados atuais, parciais, com a lembrança da
experiência global. A psicologia para Titchener é uma ciência pura, não comportando
qualquer tipo de aplicação, seja clínica, seja psicométrica ou outra qualquer.

Foi o ex-aluno de Titchener, E. G. Boring, escrevendo A History of Experimental


Psychology, 1929–1950, o livro mais influente do século 20 sobre a disciplina, que lançou
a ideia comum de que o debate estruturalismo/funcionalismo era o principal falha na
psicologia americana na virada do século 20. O funcionalismo, de um modo geral, com
sua ênfase mais prática na ação e na aplicação, melhor se adequava ao "estilo" cultural
35
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

americano e, talvez mais importante, era mais atraente para os curadores universitários
pragmáticos e agências de financiamento privadas.

De outra parte, no mesmo ano, 1874, em que Wilhelm Wundt publicava o segundo
volume da primeira edição de sua Psicologia Fisiológica, Franz Brentano trazia à luz, em
Leipzig, uma obra que marcaria a história da psicologia de modo igualmente crucial:
a Psicologia do ponto de vista empírico.

Brentano (1944) contraditava o elementarismo de Wundt, propondo um modelo


fenomenológico para a psicologia a psicologia do ato. Nega a hipótese da psicologia como
ciência natural e, em particular a clássica distinção cartesiana: nem a ciência da natureza
pode ser definida como a ciência dos corpos, nem a psicologia, como a ciência da alma;
simplesmente será preciso considerar a primeira como a ciência dos fenômenos físicos e
a segunda, como a ciência dos fenômenos psíquicos. Prossegue citando F. A. Lange
(História do Materialismo), cujo pensamento endossa, sobre a necessidade de se construir
uma psicologia sem alma.

A primeira tarefa do psicólogo, pensa Brentano, consiste em determinar de maneira certa


as características comuns a todos os fenômenos psíquicos. E, a partir daí, reunir os
fenômenos psíquicos em classes fundamentais, conforme as exigências de suas afinidades
naturais, tarefa que ele próprio tentaria cumprir, abordando-as não apenas na Psicologia
de 1874 mas, sobretudo, em apêndice àquele ensaio, Sobre a Classificação dos
Fenômenos Psíquicos, publicado em Leipzig em 1911.

Para desempenhar tais tarefas, vale dizer, para realizar os estudos dos fenômenos
psíquicos, compreendidos como atos, o psicólogo deveria, na concepção de Brentano,
utilizar a introspecção. Todavia, longe de aceitar como observação interna, o que lhe
parece impossível, concebe-a como percepção interior, fonte primeira e indispensável da
psicologia.

Reconhece ser isto uma limitação da psicologia única ciência para a qual a observação
direta seria inaplicável. Entretanto, essa limitação pode ser até certo ponto compensada
pelo conhecimento indireto dos fenômenos psíquicos de outros indivíduos, uma vez que
os mesmos se manifestam externamente: os estados psíquicos podem, mesmo sem a

36
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

intervenção da palavra, se manifestar externamente, de modo menos perfeito, é verdade,


mas não raro com suficiente clareza. Mencionando Feuchtersleben, sugere ser preciso
prender-se menos ao que as pessoas dizem do que ao que deixam involuntariamente
entrever. E, partindo do exemplo apresentado por Darwin (em A Expressão das Emoções
no Homem e no Animal, obra publicada em 1872), defende que o fenômeno físico
observado, isto é, o ato, pode servir de indicador em relação ao fenômeno psíquico
invisível (não cita, mas poderia ter citado Anaxágoras, século V a. C, para quem o visível
abre os olhos para o invisível). Parece-lhe, não obstante, ser evidente que tais sinais não
são a coisa e, por conseguinte, seria tão ingênuo falar-se de observação interna subjetiva
quanto pretensioso, de observação externa objetiva.

Entende ainda Brentano que a observação de fatos físicos, atos, indicadores indiretos de
fenômenos psíquicos, possibilitaria inferir os estados de uma vida psíquica mais simples
(crianças, cegos de nascimento, animais), assim como de estados psíquicos mórbidos.

Apesar de representarem diferentes modelos, um elementarista, o de Wundt e Titchener,


outro, fenomenológico, o de Bretano, legaram ambos à nova psicologia nascente a
herança de uma metodologia subjetiva, inevitavelmente subjetiva, incômoda herança
havia séculos repassada e que punha em questão todo o projeto científico da psicologia.
Pois, à luz do positivismo dominante no início do século XX, pelo menos no tocante à
concepção de ciência, pouco importaria a engenhosidade dos experimentalistas, se as
informações disponíveis não tivessem a chancela do objetivo.

Aceita por ambas as correntes originais do pensamento psicológico, a estruturalista e a


fenomenológica, a introspecção se generalizou como o método oficial da psicologia
acadêmica do século XIX, apesar das muitas divergências registradas entre as diversas
correntes de pensamento.

Se assim acontecia com a psicologia de orientação germânica, igualmente acontecia com


a psicologia norte-americana dos primeiros tempos.

Em 1891 William James publicava a primeira edição de seus Princípios de


Psicologia, onde contestava as posições de Wundt e Bretano quanto à natureza da
psicologia para ele a psicologia deveria ser classificada como uma ciência natural.

37
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Aproxima-se, no entanto, de ambos, enquanto define a psicologia como o estudo da vida


mental, tanto de seus fenômenos quanto de suas condições. Aproxima-se, ainda, enquanto
sustenta que a introspecção é tudo o que pode-se contar, antes de tudo e sempre. Mas
reconhece suas limitações científicas, entre outras fontes de erro em psicologia, quais
sejam a influência corruptora da linguagem e a falácia do psicólogo.

Na realidade, a insuficiência da introspecção é sentida pela maioria dos psicólogos que a


aplicam. Apesar disso, até o advento do Behaviorismo é geralmente aceita e defendida
nos manuais clássicos, como o de Hoffding, publicado pela primeira vez em 1882. E será
ainda mantida, mesmo após o Behaviorismo, presente em manuais de tendência
conservadora, como o de Frobes que data de 1917 a 1920 e o de G. Dwelshauvers, 1929.
Estes, no entanto, e outros de que são exemplos, defendem a introspecção como método
psicológico válido, o que não significa necessariamente que o apresentem como o método
da psicologia.

No início do século XX, os experimentos de comportamento e condicionamento de Ivan


Pavlov se tornaram a contribuição russa mais reconhecida internacionalmente. Com a
criação da União Soviética, a ideologia estatal promoveu uma tendência da psicologia
para o reducionismo reflexologista de Bekhterev e para o materialismo histórico,
suprimindo filósofos e psicólogos idealistas. Destacou-se também Sergei Rubinstein,
e Alexei Leontiev, Lev Vygostky e Alexander Luria formaram um grupo que adotava um
paradigma socio-histórico determinista; devido à censura soviética, muitas obras
de Vygotsky não foram publicadas cronologicamente. O lysenkoismo afetou a ciência
russa, que sofria expurgo a partir de 1930.

Durante o século XX a questão seria reaberta, mesmo dentro dos limites da psicologia
acadêmica não apenas por intermédio de autores, como R. S. Woodworth (1968), cuja
psicologia dinâmica exprimia uma tendência funcionalista, quanto de behavioristas
libertos da ortodoxia de Watson, à maneira de Tolman (1951). E, em 1973 David Bakan
em seu brilhante estudo sobre a reconstrução da investigação psicológica.

Pelo exposto, os embates científicos entre os primeiros psicólogos abriram espaço para
novas discussões sobre a cientificidade metodológica em psicologia que foram sendo
ocupados por psicólogos insatisfeitos com as duas correntes.
38
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Na Alemanha, no início do século XX, a Gestalt-Teoria foi oficialmente iniciada em 1912


em um artigo de Wertheimer sobre o fenómeno phi; uma ilusão perceptiva na qual duas
luzes estacionárias, mas piscando alternadamente, parecem ser uma única luz movendo-
se de um local para outro. Ao contrário da opinião popular, seu principal objetivo não era
o behaviorismo, pois ainda não era uma força na psicologia. O objetivo de suas críticas
eram, antes, as psicologias atomísticas de Hermann von Helmholtz (1821-1894), Wilhelm
Wundt (1832-1920) e outros psicólogos europeus da época.

Os dois homens que serviram como sujeitos de Wertheimer no experimento phi foram
Köhler e Koffka. Köhler era um especialista em acústica física, tendo estudado com o
físico Max Planck (1858–1947), mas havia se formado em psicologia com Carl
Stumpf (1848–1936). Koffka também era aluno de Stumpf, tendo estudado fenômenos de
movimento e aspectos psicológicos do ritmo. Em 1917, Köhler (1917/1925) publicou os
resultados de quatro anos de pesquisa sobre aprendizado em chimpanzés. Köhler mostrou,
contrariamente às alegações da maioria dos outros teóricos da aprendizagem, que os
animais podem aprender por "súbita percepção" da "estrutura" de um problema, além da
maneira associativa e incremental de aprendizagem que Ivan Pavlov (1849–1936)
e Edward Lee Thorndike (1874–1949) havia demonstrado com cães e gatos,
respectivamente.

Os termos "estrutura" e "organização" eram focais para os psicólogos da Gestalt. Dizia-


se que os estímulos tinham uma certa estrutura, eram organizados de uma certa maneira,
e que é para essa organização estrutural, e não para os elementos sensoriais individuais,
que o organismo responde. Quando um animal é condicionado, ele não responde
simplesmente às propriedades absolutas de um estímulo, mas a suas propriedades em
relação ao ambiente. Para usar um exemplo favorito de Köhler, se condicionado a
responder de certa maneira à mais clara de duas cartas cinzas, o animal generaliza a
relação entre os dois estímulos, em vez das propriedades absolutas do estímulo
condicionado: ele responderá à mais clara das duas cartas nos ensaios subsequentes,
mesmo que o cartão mais escuro do teste seja da mesma intensidade que o mais leve dos
testes de treinamento originais.

39
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Em 1921, Koffka publicou um texto voltado para a Gestalt sobre psicologia do


desenvolvimento, Growth of the Mind. Com a ajuda do psicólogo americano Robert
Ogden, Koffka apresentou o ponto de vista da Gestalt a um público americano em 1922
por meio de um artigo no Psychological Bulletin. O artigo continha críticas às explicações
de vários problemas de percepção e as alternativas oferecidas pela escola da Gestalt.
Koffka mudou-se para os Estados Unidos em 1924, estabelecendo-se no Smith
College em 1927. Em 1935, Koffka publicou seus Princípios da Psicologia Gestalt. Este
livro expôs a visão da Gestalt do empreendimento científico como um todo. A ciência,
disse ele, não é o simples acúmulo de fatos. O que torna a pesquisa científica é a
incorporação de fatos em uma estrutura teórica. O objetivo dos Gestaltistas era integrar
os fatos de natureza inanimada, vida e mente em uma única estrutura científica. Isso
significava que a ciência teria que engolir não apenas o que Koffka chamou de fatos
quantitativos da ciência física, mas os fatos de duas outras "categorias científicas":
questões de ordem e questões de Sinn, uma palavra alemã que foi traduzida de várias
maneiras como significância, valor e significado. Sem incorporar o significado da
experiência e do comportamento, Koffka acreditava que a ciência se condenaria a
trivialidades em sua investigação dos seres humanos.

Em 1933, o Nazismo inicia uma perseguição aos Psicólogos, e muitos dentre eles acabam
se mudando para a Inglaterra ou para os Estados Unidos. Em 1935, surgem os "Alcoólicos
Anônimos" e a Gestalt Terapia é fundada por Kurt Koffka; em 1936, a primeira lobotomia
é realizada, embora vista como controversa; em 1937, Karen Horney publica "A
Personalidade Neurótica do Nosso Tempo", questionando as teorias de Freud; e, em 1938,
Skinner publica "O Comportamento dos Organismos", introduzindo o conceito de
condicionamento operante, no mesmo ano em que Anna Freud publica "O Tratamento
Psicanalítico de Crianças".

Em 1940, Köhler publicou Dynamics in Psychology, mas depois o movimento Gestalt


sofreu uma série de contratempos. Koffka morreu em 1941 e Wertheimer em 1943. O tão
esperado livro de Wertheimer sobre resolução de problemas matemáticos, Productive
Thinking, foi publicado postumamente em 1945, mas agora Köhler foi deixado para guiar
o movimento sem seus dois colegas de longa data.

40
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Diz-se frequentemente que o debate de pensamento sem imagem foi fundamental para
minar a legitimidade de todos os métodos introspectivos da psicologia experimental e,
finalmente, para provocar a revolução comportamental na psicologia americana. Não
ficou sem seu próprio legado atrasado, no entanto. Herbert A. Simon (1981) cita o
trabalho de um psicólogo de Würzburg em particular, Otto Selz (1881-1943), por tê-lo
inspirado a desenvolver seus famosos algoritmos de computador para solução de
problemas, como Logic Theorist e General Problem Solver, e seu método "pensar em voz
alta" para análise de protocolo. Além disso, Karl Popper estudou psicologia sob Bühler e
Selz e parece ter trazido parte de sua influência, não atribuída, à sua filosofia da ciência.

Ademais, o aumento gradual de uma rigorosa psicologia animal, além do trabalho


de Edward Lee Thorndike com gatos em caixas de quebra-cabeças em 1898, Willard
Small (1900, 1901 no American Journal of Psychology) iniciou os estudos em que ratos
aprendem a navegar por labirintos. O artigo de Robert M. Yerkes no Journal of
Philosophy de 1905. "Animal Psychology and the Criteria of the Psychic" levantou a
questão geral de quando alguém tem o direito de atribuir a consciência a um organismo.
Os anos seguintes viram o surgimento de John Broadus Watson (1878–1959) como ator
importante, publicando sua dissertação sobre a relação entre desenvolvimento
neurológico e aprendizado no rato branco (1907, Psychological Review Monograph
Supplement; Carr & Watson, 1908, J. Comparative Neurology & Psychology). Outro
estudo importante em ratos foi publicado por Henry H. Donaldson (1908, J. Comparative
Neurology and Psychology). O ano de 1909 viu o primeiro relato em inglês dos estudos
de condicionamento de Ivan Pavlov em cães (Yerkes & Morgulis, 1909, Psychological
Bulletin).

É preciso mencionar que a ascensão de Watson a uma posição de poder significativo


dentro da comunidade psicológica. Em 1908, Watson recebeu uma posição júnior na
Johns Hopkins por James Mark Baldwin. Além de chefiar o departamento Johns Hopkins,
Baldwin foi o editor dos periódicos influentes, Psychological Review and Psychological
Bulletin. Apenas alguns meses após a chegada de Watson, Baldwin foi forçado a
renunciar ao cargo de professor devido a escândalo. De repente, Watson foi nomeado

41
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

chefe do departamento e editor dos diários de Baldwin. Ele decidiu usar essas ferramentas
poderosas para revolucionar a psicologia à imagem de sua própria pesquisa.

Em 1913, ele publicou na Psychological Review o artigo que costuma ser chamado de
"manifesto" do movimento behaviorista, "A psicologia como o behaviorista o vê". Nele,
ele argumentou que a psicologia "é um ramo experimental puramente objetivo da ciência
natural", "a introspecção não faz parte essencial de seus métodos ..." e "O behaviorista ...
não reconhece nenhuma linha divisória entre homem e bruto". No ano seguinte, 1914, seu
primeiro livro, Behavior, foi publicado. Embora o behaviorismo tenha demorado algum
tempo para ser aceito como uma abordagem abrangente, em grande parte por causa da
intervenção da Primeira Guerra Mundial, na década de 1920, a revolução de Watson já
estava em andamento. O princípio central do behaviorismo inicial era que a psicologia
deveria ser uma ciência do comportamento, não da mente, e rejeitar estados mentais
internos, como crenças, desejos ou objetivos. O próprio Watson, no entanto, foi forçado
a sair de Johns Hopkins por escândalo em 1920. Embora ele tenha continuado a publicar
durante a década de 1920, ele acabou se mudando para uma carreira em publicidade.

No fim dos anos 1940, Maslow era reconhecido como um talentoso psicólogo
experimental, mas que devido a seus objetos de pesquisa não convencionais começava a
ser marginalizado pela comunidade acadêmica, tendo por exemplo dificuldades de
publicar seus trabalhos no Journal of the American Psychological Association (APA).

Entre os behavioristas que continuaram, houve várias divergências sobre a melhor


maneira de proceder. Neo comportamentalistas como Edward C. Tolman, Edwin
Guthrie, Clark L. Hull e B. F. Skinner debateram questões como (1) se reformular o
vocabulário psicológico tradicional em termos comportamentais ou descartá-lo em favor
de um esquema totalmente novo, (2) se a aprendizagem ocorre de uma só vez ou
gradualmente, (3) se os impulsos biológicos devem ser incluídos na nova ciência para
fornecer uma "motivação" para o comportamento, e (4) até que ponto qualquer estrutura
teórica é necessária acima dos efeitos medidos de reforço e punição na aprendizagem. No
final da década de 1950, a formulação de Skinner havia se tornado dominante e continua
sendo parte da disciplina moderna sob a rubrica de Análise do Comportamento. Sua

42
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

aplicação, Análise Aplicada do Comportamento tornou-se um dos campos mais úteis da


psicologia.

O behaviorismo foi o modelo experimental ascendente para pesquisas em psicologia


durante grande parte do século XX, em grande parte devido à criação e aplicação bem-
sucedida (principalmente das propagandas) de teorias condicionantes como modelos
científicos do comportamento humano. O behaviorismo gradualmente emergiu como a
escola dominante na psicologia americana. A primeira delas foi o crescente ceticismo
com o qual muitos encaravam o conceito de consciência: embora ainda considerado o
elemento essencial que separa a psicologia da fisiologia, sua natureza subjetiva e o
método introspectivo não confiável que parecia requerer incomodavam muitos. O artigo
de 1904 do Journal of Philosophy, de William James... "A consciência existe?", expôs as
preocupações explicitamente.

Na França, em grande parte por causa do conservadorismo do reinado de Louis


Napoléon (presidente, 1848-1852; imperador como "Napoléon III", 1852-1870), a
filosofia acadêmica na França em meados do século XIX que era controlada por membros
das escolas ecléticas e espiritualistas foi duramente combatida com a ascensão deste que
voltou a dar plenos poderes para a Igreja em termos educacionais. Assim o legado e a
construção de uma psicologia espiritualista por figuras como Victor Cousin (1792-
1867), Thédodore Jouffroy (1796-1842) e Paul Janet (1823-1899) caiu no ostracismo.
Paul Janet, o último deles foi um filósofo que lançou um tratado filosófico de psicologia
e era tio de Pierre Janet, tendo proposto o problema da sugestão pós-hipnótica e criticado
a dupla consciência (dédoublement) defendida por Pierre nas dissociações. Essas eram
escolas metafísicas tradicionais, em oposição a considerar a psicologia como uma ciência
natural. Com a expulsão de Napoleão III, após o desastre da guerra franco-prussiana,
novos caminhos, políticos e intelectuais, tornaram-se possíveis.

A partir de 1870, um interesse cada vez maior por abordagens positivistas, materialistas,
evolutivas e determinísticas da psicologia desenvolveu, influenciada, entre outros, pelo
trabalho de Hyppolyte Taine (1828-1893) e Théodule Ribot (1839-1916).

Outra força psicológica francesa primária residia no campo da psicopatologia. O


neurologista chefe do Hospital Salpêtrière em Paris, Jean-Martin Charcot (1825-1893),
43
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

usava a prática de hipnose recentemente revivida e renomeada para "experimentalmente"


produzir sintomas histéricos em alguns de seus pacientes. Dois de seus alunos, Alfred
Binet (1857-1911) e Pierre Janet (1859-1947), adotaram e expandiram essa prática em
seu próprio trabalho.

Em 1889, Binet e seu colega Henri Beaunis (1830-1921) co-fundaram, na Sorbonne, o


primeiro laboratório de psicologia experimental da França. Apenas cinco anos depois, em
1894, Beaunis, Binet e um terceiro colega, Victor Henri (1872–1940), co-fundaram a
primeira revista francesa dedicada à psicologia experimental, L'Année Psychologique.
Nos primeiros anos do século XX, o governo francês solicitou a Binet o desenvolvimento
de um método para o recém criado sistema de ensino público universal, para identificar
estudantes que precisariam de assistência extra para dominar o currículo padronizado. Em
resposta, com seu colaborador Théodore Simon (1873–1961), ele desenvolveu o Teste de
Inteligência Binet-Simon, publicado pela primeira vez em 1905. Embora o teste tenha
sido utilizado na França, ele teria seu maior sucesso e controvérsia nos Estados Unidos,
onde foi traduzido para o inglês por Henry H. Goddard (1866–1957), diretor da Escola
de Treinamento para Mentes Fracas em Vineland, Nova Jersey, e sua assistente, Elizabeth
Kite. O teste traduzido foi usado por Goddard para avançar sua agenda de eugenia em
relação àqueles que ele considerava congenitamente fracos, especialmente imigrantes de
países da Europa não ocidental. O teste de Binet foi revisado pelo professor
de Stanford Lewis M. Terman (1877–1956) no teste de QI Stanford-Binet em 1916. Com
a morte de Binet em 1911, o laboratório Sorbonne e o L'Année Psychologique passaram
para Henri Piéron (1881–1964). A orientação de Piéron era mais fisiológica que a de
Binet.

Pierre Janet tornou-se o psiquiatra líder na França, sendo nomeado


para Salpêtrière (1890-1894), Sorbonne (1895-1920) e Collège de France (1902-1936).
Em 1904, ele co-fundou o Journale de Psychologie Normale et Pathologique com o
colega professor de Sorbonne Georges Dumas (1866-1946), um estudante e seguidor fiel
de Ribot. Enquanto o professor de Janet, Charcot, havia se concentrado nas bases
neurológicas da histeria, Janet estava preocupado em desenvolver uma abordagem
científica da psicopatologia como um distúrbio mental. Sua teoria de que a patologia

44
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

mental resulta do conflito entre partes inconscientes e conscientes da mente e que o


conteúdo mental inconsciente pode emergir como sintomas com significados simbólicos
levaram a uma disputa pública prioritária com Sigmund Freud. Janet cunhou o termo
"dissociação", e o historiador Henri F. Ellenberger em seu livro: “A descoberta do
inconsciente” aponta ele como prioritário a Freud e Breuer na descrição
do inconsciente em processos e ideias "subconscientes" como base da chamada histeria.

Na psicologia há divisões conceituais, também chamadas de "forças" ou "ondas",


baseadas nas escolas e tendências históricas dela. Esse termo é popularizado entre
psicólogos para distinguir um crescente humanismo na prática terapêutica a partir de
1930, chamado de "terceira força", em resposta às tendências deterministas do
behaviorismo de Watson e da psicanálise de Freud, compreendidas respectivamente,
como 1ª e 2ª ondas.

A psicologia humanista teve como importantes propositores Carl Rogers, Abraham


Maslow, Gordon Allport, Erich Fromm e Rollo May. Contrária a uma visão determinista
do homem, seja pela questão dos condicionamentos comportamentais ou pelo
determinismo do inconsciente, o humanismo valoriza a experiência consciente e trabalha
com tópicos como: livre arbítrio; autorrealização; criatividade; esperança; potencial;
sentido; contato; decisão; congruência; responsabilidade; entre outros…

Seu fundador é considerado A. Maslow (1908-1970), famoso por desenvolver a


“pirâmide hierárquica das necessidades básicas” e quem primeiro cunhou o termo
“psicologia positiva“, em uma contraposição à chamada “psicologia negativa” –
tradicional e focada na doença, no transtorno, no sofrimento e em seu tratamento/cura.
Dessa forma, a Psicologia Humanista incorporou a visão de homem e mundo referente
aos movimentos intelectuais do humanismo, do existencialismo e da fenomenologia.
Dentro dela, será encontrado abordagens distintas como a Gestalt-Terapia, a Abordagem
Centrada na Pessoa, ou a Logoterapia, por exemplo, onde cada uma tem suas
particularidades clínicas e acabam por se aproximar mais do humanismo ou do
existencialismo, a depender da linha téorico-prática, mas todas fazem parte da 3ª força
que, segundo Schultz & Schultz (2008), integra os seguintes pontos essenciais:

1. uma ênfase na experiência consciente;


45
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

2. uma crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano;

3. a concentração no livre-arbítrio, na espontaneidade e no poder de criação do


indivíduo;

4. o estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana.

Dentre as abordagens clínicas dessa corrente psicológica, a Gestalt-Terapia, não


confundir com Psicologia da Gestalt, é sempre uma terapia do contato e seu manejo é
pautado no aqui-agora, sendo que a relação terapeuta-paciente funciona do ponto de vista
dialógico, onde o terapeuta confronta e frustra o paciente que tenta se esquivar ou fugir
do seu contato e experiência com o presente. A fenomenologia pauta o setting clínico e,
desta forma, a interpretação não é adequada, mas sim a descrição. A farsa, as atuações e
as incongruências não se sustentam na Gestalt-Terapia, uma vez que são valorizadas e
validadas as experiências mais espontâneas e verdadeiras de alguém.

Vale ressaltar, que em 1918, Jean Piaget (1896–1980) afastou-se de seu treinamento
inicial em história natural e começou o trabalho de pós-doutorado em psicanálise em
Zurique. Em 1919, ele se mudou para Paris para trabalhar no Laboratório Binet-Simon.
No entanto, Binet morreu em 1911 e Simon viveu e trabalhou em Rouen. Sua supervisão,
portanto, veio (indiretamente) de Pierre Janet, antigo rival de Binet e professor do Collège
de France.

O trabalho em Paris era relativamente simples: usar as técnicas estatísticas que aprendeu
como historiador natural, estudando moluscos, para padronizar o teste de inteligência
de Cyril Burt para uso em crianças francesas. No entanto, sem supervisão direta, ele logo
encontrou um remédio para esse trabalho tedioso: explorar por que as crianças cometiam
os erros que cometeram. Aplicando seu treinamento inicial em entrevistas psicanalíticas,
Piaget começou a intervir diretamente com as crianças: "Por que você fez isso?" (etc.)
Foi a partir disso que as ideias formalizadas em sua teoria de estágios posterior surgiram
pela primeira vez.

Em 1921, Piaget mudou-se para Genebra para trabalhar com Édouard


Claparède no Instituto Rousseau. Eles formaram o que hoje é conhecido como a Escola
de Genebra.

46
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Em 1936, Piaget recebeu seu primeiro doutorado honorário em Harvard. Em 1955, foi
fundado o Centro Internacional de Epistemologia Genética: uma colaboração
interdisciplinar de teóricos e cientistas, dedicada ao estudo de tópicos relacionados à
teoria de Piaget. Em 1969, Piaget recebeu o prêmio "contribuições científicas distintas"
da American Psychological Association.

Em síntese do exposto neste capítulo sobre a 2ª fase da história do desenvolvimento da


psicologia envolvendo as diversas abordagens psicológicas do início do século XX,
apresentam o estruturalismo que busca estudar a “estrutura da consciência”, a partir de
um determinado estímulo induzido no indivíduo e analisando e descrevendo o seu estado.
O funcionalismo, por sua vez, tende a observar processos mentais, utilizando-se de
análises fisiológicas e do comportamento. O associacionismo, muito utilizado nos estudos
de psicologia dos animais, leva em conta as respostas, conexões e ações feitas a partir de
um estímulo inicial. O behaviorismo está diretamente ligado ao estudo do
comportamental. A palavra behavior, do inglês, significa justamente comportamento.
A gestalt, termo alemão de difícil tradução para o português, mas que em linhas gerais
significa algo como forma, tenta analisar o todo, a totalidade dos indivíduos a partir de
suas percepções do mundo que o cerca. Por fim, a psicanálise tenta compreender os
distúrbios psicológicos a partir do inconsciente e o humanismo valoriza a experiência
consciente. Não se esquecendo das contribuições importantes de Jean Piaget.

3.4 2ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: efeitos e resultados das


psicoterapias nas décadas de 1950 e 1960

O fim da primeira metade do século XX foi marcada pela 2ª Guerra Mundial na Europa
e a mudança para a América do Norte da grande maioria dos cientistas europeus
sobreviventes da guerra, dentre os quais psicólogos. A psicologia continuou a crescer e
florescer na América que era grande o suficiente para acomodar vários pontos de vista
sobre a natureza da mente e do comportamento.

Isto, tornou os EUA a referência mundial no desenvolvimento da psicologia ao lado do


Reino Unido. Assim, para compreensão do desenvolvimento da psicologia neste período

47
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

é necessário concentrar a atenção nos estudos executados nas universidades norte


americanas e inglesas.

No sentido de compreender numa visão geral da psicologia na década de 1950, serão


descritos os movimentos acadêmicos e científicos de cinco diferentes centros de pesquisa
universitários em psicologia: University College London (UCL), Princeton, University of
Southern California, Burden Neurological Institute em Bristol e Medical Research
Council. (MRC) Unidade de Psicologia Aplicada (APU) em Cambridge apresentam o
cenário da psicologia na metade do século XX.

Em 1953 as "escolas de psicologia" estavam sendo superadas por novos


desenvolvimentos, tanto empíricos quanto teóricos, como em Woodworth's Experimental
Psychologys, publicado em 1938 e composto de 889 páginas que cobriam uma enorme
gama de trabalhos experimentais, muitos deles usando metodologia que não era mais
considerada aceitável. As coisas mudaram com a publicação em 1953, de Method and
Theory in Experimental Psychology, de Osgood, uma mistura imparcial, do antigo e do
novo.

Entre 1938 e 1953, ocorreu o desaparecimento da psicologia da Gestalt, uma abordagem


distinta da psicologia experimental, fortemente influenciada pelos princípios da Gestalt
de percepção, como continuidade e proximidade, e suas extensões para abranger o
comportamento animal, (Köhler 1925), o raciocínio (Wertheimer 1945), a psicologia
social (Lewin 1951) e memória (Katona 1940).

Teoricamente, a psicologia da Gestalt foi fortemente influenciada pelo desenvolvimento


da física, adotando uma teoria de 'campo' dentro da qual os estímulos tendiam a formar
totalidades estruturadas, o princípio da Gestalt. No entanto, com a ascensão dos nazistas,
a maioria dos influentes alemães psicólogos, muitos dos quais eram judeus, foram
forçados a fugir do país, principalmente para a América do Norte. Embora os EUA
fossem um refúgio acolhedor, a psicologia da Gestalt se fragmentou e não floresceu na
atmosfera neo comportamental que caracterizava os EUA naquela época.

A psicologia da Gestalt, no entanto, formou uma parte importante, embora não grande,
do programa da UCL, refletida principalmente nas traduções de livros dos principais

48
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

psicólogos da Gestalt, como Koffka (1935), Köhler (1925, 1940) e Wertheimer (1945). A
base fisiológica proposta em termos de campos elétricos na superfície do córtex foi
testada por Lashley, Chow e Semmes (1951), ao colocar tiras de folha de ouro altamente
condutora sobre o córtex visual de um macaco e não encontrar evidência de percepção
perturbada, resultado que teve poucas implicações para os princípios psicológicos
básicos, que permanecem válidos, mas que colocam em dúvida todo o empreendimento
da Gestalt que vinculava conceitos psicológicos à especulação fisiológica.

De longe, a região mais ativa na psicologia experimental nessa época era os EUA, onde
a influência do behaviorismo ainda era muito forte. Um dos principais focos na UCL eram
as teorias da aprendizagem, das quais havia vários candidatos proeminentes, resumidos
no livro de Hilgard (1948) texto clássico, e praticamente todos baseados em experimentos
realizados em ratos.

A mais influente teoria da aprendizagem foi a de Clark L. Hull, cuja teoria envolvia o
estabelecimento de associações estímulo-resposta com base na recompensa, e se
expressava em termos de postulados e equações explicitamente destinadas a imitar os
Principia de Newton. O principal oponente de Hull foi Edward C. Tolman, que
argumentou que os ratos aprendiam labirintos, não estabelecendo associações estímulo-
resposta, mas desenvolvendo mapas mentais. No início da década de 1950, a controvérsia
passou para a geração seguinte, com a posição de Hull sendo defendida por Spence (1956)
e desafiada, entre outros, por Bitterman (1957).

O esboço geral do modelo de Hull era fácil de aprender, e os experimentos críticos podiam
ser gerados facilmente imaginando-se na posição do rato e selecionando paradigmas
experimentais para os quais a própria resposta seriam inconsistentes com os princípios de
Hull.

Os tolmanianos tendiam a usar ratos encapuzados que eram consideravelmente mais


orientados visualmente, e talvez menos intelectualmente desafiados, do que os ratos
albinos preferidos pelos hullianos. Num experimento hulliano, usando ratos encapuzados,
os ratos tiveram que aprender a escolher uma das duas portas para uma recompensa de
comida. Na condição crucial, sempre que cometessem um erro, podiam ver a comida
sendo entregue no lado correto, mas não podiam alcançá-la. A visão da comida agiria
49
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

como um reforço secundário para a resposta, como a teoria de Hull predizia, e


simplesmente tornaria os ratos ainda mais propensos a dar a resposta errada no futuro? Ou
eles se comportariam como tolmanianos sensatos? Fiel à forma, os ratos encapuzados
estudados se mostraram mais espertos do que deveriam (Baddeley 1960). A essa altura,
toda a controvérsia parecia ter sido abandonada como um empate nulo. Os mapas
tolmanianos implicavam alguma forma de representação interna invisível, enquanto a
alternativa de Spence também envolvia estímulos e respostas internalizados
invisíveis. Nenhum tipo de representação interna foi considerado respeitável dentro do
cânone neo comportamental, então, em vez de concordar em investigar a natureza de tais
representações, os teóricos abandonaram o campo.

As abordagens teóricas discutidas até aqui já eram bastante ativas na década de


1930. Houve, no entanto, algumas ideias novas muito interessantes que se desenvolveram
durante os anos de guerra, quando os psicólogos foram obrigados a se afastar de suas
torres de marfim e enfrentar problemas práticos, como treinar um piloto, por que os
operadores de radar mostraram um declínio ao longo do tempo em taxa de detecção e
como os estressores fisiológicos influenciaram o desempenho humano.

Um dos efeitos foi chamar a atenção para a riqueza do ambiente do mundo real e a
importância de levar isso em consideração, uma visão fortemente defendida pelo
psicólogo alemão Egon Brunswik (1947). Infelizmente Brunswik morreu antes de levar
suas opiniões adiante, embora elas tenham continuado a ter influência na área de tomada
de decisões (Hammond 2007). Consideravelmente mais influente foi o trabalho de JJ
Gibson (1950). que continua a ser altamente influente através de seus discípulos
entusiasmados (Turvey et al. 1981).

Um dos novos desenvolvimentos mais influentes veio através da abordagem de


processamento de informação para o estudo da cognição humana. Isso refletiu uma série
de fontes separadas, mas relacionadas. Uma delas foi através da teoria da comunicação e
a tentativa de Claude Shannon (Shannon e Weaver 1949) de medir o fluxo de informação
através de um canal de comunicação eletrônico em termos da capacidade de uma
mensagem para reduzir a incerteza, que por sua vez foi medida em termos de escolhas
binárias ou bits.

50
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Isso levou ao conceito do humano como um dispositivo de processamento de informação


de capacidade limitada, uma abordagem que levou ao clássico experimento de tempo de
reação de múltipla escolha de Hick (1952), no qual ele mostrou que o tempo para
responder era uma função logarítmica do número de alternativas de resposta. Essa
descoberta, rotulada como 'Lei de Hick', sugeria que a percepção envolvia o fluxo de
informação através de um canal de capacidade limitada, enquanto Paul Fitts (1954)
mostrou uma função comparável para o comportamento motor, a 'Lei de Fitt'. A tentativa
de medir a capacidade do canal também foi aplicada a uma ampla gama de outros tópicos,
como julgamentos perceptivos (Miller 1956) e memória imediata (Davis et al. 1961;
Miller 1956).

Uma fonte relacionada de excitação durante o início da década de 1950 foi o


desenvolvimento da cibernética, estimulada por tentativas de otimizar o controle
automático de armas. Na América do Norte, seu defensor mais influente foi Norbert
Wiener (1950), cujo livro The Human Use of Human Beings especulou sobre a possível
implicação social de tais desenvolvimentos.

Na Grã-Bretanha, o ciberneticista mais influente foi provavelmente W. Gray Walter, um


fisiologista muito criativo e persuasivo, cujas invenções variaram desde o
desenvolvimento de métodos de uso de eletroencefalografia (EEG) para localizar focos
epilépticos por triangulação, até a invenção de uma máquina chamada 'a tartaruga' que
era capaz de vasculhar uma sala para encontrar uma fonte de eletricidade para recarregar
suas baterias (Walter 1953). Uma vantagem desse engenhoso brinquedo era que permitia
refutar a objeção ao conceito de propósito, feita por muitos filósofos da época. Se uma
máquina simples pode mostrar um comportamento intencional, por que não pessoas e
animais?

Em Cambridge, cresciam as ideias de Kenneth Craik (1943) sobre o desenvolvimento de


modelos de comportamento humano baseados em computação. e a metáfora do
processamento da informação.

Em 1938 à UCL, ela estava em processo de transição, de um departamento de psicologia


presidido por Sir Cyril Burt, com ênfase no estudo psicométrico da inteligência, para um
presidido por Roger Russell, um psicólogo experimental americano que havia trabalhado
51
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

em Londres durante a guerra e estudava o conceito de esquema de Barlett, que foi


respeitosamente, mas tristemente descartado como provavelmente não testável, embora
Carolus Oldfield em Oxford, posteriormente sugeriu que os computadores poderiam ser
programados para simular esquemas, uma visão também proposta por George Miller e,
claro, posteriormente desenvolvida por Schank e Abelson (1977).

A questão da testabilidade das teorias era grande na época. Language, Truth and
Logic, de A.J. Ayer (1936), apresentou uma versão facilmente acessível da abordagem da
filosofia adotada pelo Círculo de Viena de positivistas lógicos, apresentando a visão de
que uma teoria que não fosse verificável não era significativa. O livro de Gilbert Ryle
(1949), The Concept of Mind, também foi influente na aplicação da abordagem da
filosofia baseada em uma análise cuidadosa da linguagem cotidiana que era dominante
em Oxford na época e por muitos anos depois. Embora essa não fosse, uma abordagem
muito construtiva da psicologia a longo prazo, na época proporcionou um treinamento
muito útil na necessidade de evitar armadilhas conceituais criadas pelo uso irrefletido da
linguagem.

Havia também um grande interesse pela filosofia da ciência na época e como ela se
relacionava com a psicologia. No departamento de psicologia da UCL, duas abordagens
contrastantes eram pesquisadas, uma de Braithwaite (1953), que tomou os Principia de
Newton como modelo e parecia avaliar uma ciência pela medida em que ela se ajustava
a esse padrão matemático-dedutivo. A outra abordagem, bem mais modesta, foi
apresentada por Stephen Toulmin (1953), que argumentou que as teorias eram
essencialmente como mapas – úteis como formas de capturar o que se sabe, para guiar
pelo mundo e ajudar a desenvolver mapas melhores, defendendo a cartografia.

Nos anos 1940 a psicologia da UCL era um departamento rejuvenescido que combinava
uma variedade de abordagens britânicas à psicologia com a de professores refugiados da
Europa, como Hans Eysenck, que estava desenvolvendo sua abordagem psicométrica da
personalidade. na época, e Karl Flugel, um encantador psicanalista que ensinara sobre a
psicologia europeia do pré-guerra. Entre outras coisas, ele escreveu um livro sobre a
psicologia das roupas, propondo que no futuro as pessoas usariam bem menos roupas. Em

52
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

sua morte, ele foi homenageado na primeira página de um dos tablóides como 'Autor do
bravo mundo nu morre'. Também havia a influência de Roger Russell.

Embora o termo 'revolução cognitiva' seja amplamente utilizado, as opiniões divergem


sobre onde e quando começou. Na América do Norte, os eventos iniciadores da revolução
cognitiva são vistos como a resenha de Chomsky (1959) do livro de Skinner
(1957) Verbal Behavior e o livro de Neisser (1967) Cognitive Psychology. No Reino
Unido, os pontos de vista de Skinner sobre a linguagem nunca foram levados muito a
sério, e o trabalho de Chomsky como uma distração infeliz, mas temporária, do estudo
científico da linguagem.

Importante enfatizar que a revisão de Noam Chomsky (1957) do livro de Skinner, Verbal
Behavior (que visava explicar a aquisição da linguagem em uma estrutura behaviorista)
é considerada um dos principais desafios teóricos ao tipo de behaviorismo radical (como
'raiz') ensinado por Skinner. Chomsky afirmou que a linguagem não poderia ser aprendida
apenas com o tipo de condicionamento operante que Skinner postulou. O argumento de
Chomsky era que as pessoas podiam produzir uma variedade infinita de sentenças únicas
em estrutura e significado e que elas não podiam ser geradas apenas através da
experiência da linguagem natural. Como alternativa, ele concluiu que deve haver
estruturas mentais internas - estados de espírito do tipo que o behaviorismo rejeitou como
ilusório. A questão não é se existem atividades mentais; é se eles podem ser as causas do
comportamento. Da mesma forma, o trabalho de Albert Bandura mostrou que as crianças
podiam aprender por observação social, sem nenhuma mudança de comportamento
manifesto, e assim, segundo ele deve ser explicado por representações internas.

O surgimento da tecnologia de computador também promoveu a metáfora da função


mental como processamento de informações. Isso, combinado com uma abordagem
científica para estudar a mente, bem como uma crença em estados mentais internos, levou
ao surgimento do cognitivismo como modelo dominante da mente.

Os vínculos entre as funções do cérebro e do sistema nervoso também estavam se


tornando comuns, em parte devido ao trabalho experimental de pessoas como Charles
Sherrington e Donald Hebb, e em parte devido a estudos de pessoas com lesão cerebral
pela neuropsicologia cognitiva. Com o desenvolvimento de tecnologias para medir com
53
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

precisão a função cerebral, a neuropsicologia e a neurociência cognitiva tornaram-se


algumas das áreas mais ativas da psicologia contemporânea.

Com o crescente envolvimento de outras disciplinas, como filosofia, ciência da


computação e neurociência, na busca pela compreensão da mente, a disciplina abrangente
da ciência cognitiva foi criada como um meio de concentrar esses esforços de maneira
construtiva.

O livro de Neisser unificou uma ampla gama de novos desenvolvimentos em psicologia


sob o termo "psicologia cognitiva", transmitindo brilhantemente o entusiasmo do novo
campo. No entanto, como o próprio Neisser deixa claro, ele foi capaz de fazê-lo porque
tais desenvolvimentos já estavam ocorrendo. Eles tiveram suas raízes nas décadas de
1940 e 1950, e um lugar onde tais raízes se desenvolveram foi em Cambridge, na MRC
APU.

Uma figura importante foi o primeiro diretor da APU, Kenneth Craik, tragicamente morto
em um acidente de bicicleta em 1944. Craik foi um cientista notável cujo livro The Nature
of Explanation (Craik 1943 ) introduziu o conceito do modelo como uma abordagem para
o desenvolvimento da teoria, e que vira o potencial do computador como forma de
desenvolver tais modelos. Computadores digitais estavam apenas sendo desenvolvidos,
mas computadores analógicos estavam disponíveis, e foram usados por Craik para
modelar dados empíricos de mira de armas no que foi provavelmente o primeiro modelo
computacional em psicologia experimental, publicado após sua morte (Craik e
Vince 1963).

As ideias de Craik e afins estavam no livro Perception and Communication de Donald


Broadbent, publicado em 1958, do mesmo modo que foi enunciado o modelo de memória
de curto prazo de Donald. O livro reflete argumentos detalhados que tentam dar sentido
a uma gama complexa de dados sobre atenção e memória, usando uma estrutura
conceitual que ainda estava em desenvolvimento. Seu modelo inclui dois componentes,
o sistema p e o sistema s. Um tanto confuso, o sistema p envolve processamento serial e
o sistema s paralelo.. Eu suspeito que os rótulos confusos refletem o fato de que o termo
processamento serial e paralelo não eram comuns na época, e que p provavelmente se
refere à percepção e s. para armazenamento. Uma complicação adicional veio do fato de
54
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

que o diagrama inicial no livro de 1958 foi impresso de cabeça para baixo, transformando
o sistema p em um sistema d. É somente no resumo do capítulo final que tudo fica claro.

“As informações são mantidas em um armazenamento de curto prazo com um


período de tempo muito limitado. A partir desta loja pode ser passada seletivamente por
filtro, através de algum mecanismo de capacidade limitada a partir do qual é devolvida
à loja…Apenas as informações que passam pelo filtro podem ser armazenadas por longos
períodos” (Broadbent 1958 , p. 242).

Neisser (1967) explica o modelo de Broadbent, então desenvolvido, muito mais


claramente - um modelo que continua a influenciar o campo, como elaborado por
Atkinson e Shiffrin (1968), e no trabalho de Baddeley (2007); Baddeley e Hitch (1974) .

Embora o trabalho de Broadbent e da APU tenha sido influente, como Neisser (1967)
ilustra, ideias semelhantes estavam se desenvolvendo em outros lugares, tipicamente em
laboratórios com um link aplicado, notadamente Bell Labs, com o trabalho de Sperling
(1960) e Sternberg (1966) sendo muito influente.

Na Europa, a ligação entre a teoria do processamento da informação e sua aplicação


prática foi muito bem representada pelo Laboratório TNO em Soesterberg, na Holanda,
conforme descrito por Andries Sanders.

Dentro do setor universitário dos EUA, o mais próximo em espírito da APU foi o grupo
liderado por Paul Fitts na Ohio State. Infelizmente, Fitts morreu em tenra idade, mas
felizmente a tradição foi continuada por seu jovem colega Michael Posner, que foi, claro,
instrumental, não apenas por causa de seu papel na promulgação da abordagem de
processamento de informação dentro da psicologia experimental convencional, mas
também por seu papel crucial no desenvolvimento da próxima grande revolução no
campo, a neurociência cognitiva. Mas isso é outra história. Felizmente, uma história que
é contada pelo próprio Mike Posner.

Pelo exposto, de um lado, entende-se que o cenário da psicologia na metade do século


XX caracterizou-se pelos estudos eficiência e eficácia das abordagens teóricas. Por outro
lado, nos Estados Unidos, sempre houve interesse na aplicação da psicologia à vida
cotidiana. O teste mental é um exemplo importante. Os testes de inteligência modernos

55
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

foram desenvolvidos pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911). Seu objetivo era
desenvolver um teste que identificasse crianças em idade escolar com necessidade de
apoio educacional. Seu teste, que incluía tarefas de raciocínio e resolução de problemas,
foi introduzido nos Estados Unidos por Henry Goddard (1866-1957) e posteriormente
padronizado por Lewis Terman (1877-1956) na Universidade de Stanford. A avaliação e
o significado da inteligência alimentaram debates na psicologia e na sociedade
americanas por quase 100 anos. Muito disso é capturado no debate natureza-criação que
levanta questões sobre as contribuições relativas da hereditariedade e do ambiente na
determinação da inteligência (Fancher, 1987).

A psicologia aplicada não se limitou a testes mentais. O que os psicólogos estavam


aprendendo em seus laboratórios foi aplicado em muitos ambientes, incluindo militares,
negócios, indústria e educação. O início do século XX foi testemunha de rápidos avanços
na psicologia aplicada. Hugo Munsterberg (1863-1916) da Universidade de Harvard fez
contribuições para áreas como seleção de funcionários, depoimento de testemunhas
oculares e psicoterapia. Walter D. Scott (1869–1955) e Harry Hollingworth (1880–1956)
produziram trabalhos originais sobre a psicologia da publicidade e do marketing. Lillian
Gilbreth (1878-1972) foi uma pioneira em psicologia industrial e psicologia de
engenharia. Trabalhando com seu marido, Frank, eles promoveram o uso de estudos de
tempo e movimento para melhorar a eficiência na indústria. Lillian também trouxe o
movimento da eficiência para o lar, projetar cozinhas e eletrodomésticos, incluindo a
lixeira pop-up e as prateleiras da porta da geladeira. Sua psicologia da eficiência também
encontrou muitas aplicações em casa com seus 12 filhos. A experiência serviu de
inspiração para o filme: “Cheaper by the Dozen” (Benjamin, 2007).

A psicologia clínica também foi uma das primeiras aplicações da psicologia experimental
na América. Lightner Witmer (1867–1956) recebeu seu Ph.D. em psicologia
experimental com Wilhelm Wundt e retornou à Universidade da Pensilvânia, onde abriu
uma clínica psicológica em 1896. Witmer acreditava que, como a psicologia lidava com
o estudo da sensação e da percepção, deveria ser útil no tratamento de crianças com
problemas de aprendizado e comportamento. Ele é creditado como o fundador da
psicologia clínica e escolar (Benjamin & Baker, 2004).

56
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

À medida que os papéis dos psicólogos e as necessidades do público continuavam a


mudar, era necessário que a psicologia começasse a se definir como profissão. Sem
padrões de formação e prática, qualquer pessoa poderia usar o título de psicólogo e
oferecer serviços ao público. Já em 1917, psicólogos aplicados se organizaram para criar
padrões para educação, treinamento e licenciamento. Na década de 1930, esses esforços
levaram à criação da American Association for Applied Psychology (AAAP). Enquanto a
American Psychological Association (APA) representava os interesses dos psicólogos
acadêmicos, a AAAP atendia aqueles na educação, indústria, consultoria e trabalho
clínico.

O advento da Segunda Guerra Mundial mudou tudo. As baixas psiquiátricas da guerra


eram impressionantes e simplesmente não havia profissionais de saúde mental suficientes
para atender à necessidade. Reconhecendo a escassez, o governo federal instou a AAAP
e a APA a trabalharem juntas para atender às necessidades de saúde mental do país. O
resultado foi a fusão da AAAP e da APA e o foco na formação de psicólogos
profissionais. Através das disposições da Lei Nacional de Saúde Mental de 1946, foi
disponibilizado financiamento que permitiu que a APA, a Administração de Veteranos e
o Serviço de Saúde Pública trabalhassem juntos para desenvolver programas de
treinamento que produzissem psicólogos clínicos. Esses esforços levaram à convocação
da Boulder Conference on Graduate Education in Clinical Psychology, em 1949 em
Boulder, Colorado. Reuniões semelhantes também ajudaram a lançar programas de
doutorado em psicologia que desenvolveram o modelo de treinamento cientista-
praticante. Outras reuniões similares lançaram os programas de doutorado em
aconselhamento e psicologia escolar.

Ao longo da segunda metade do século XX, em 1973, a Conferência de Vail sobre


Formação Profissional em Psicologia propôs o modelo de acadêmico-praticante e o grau
de Doutor em Psicologia), enfatizando o treinamento clínico e a prática que se tornou
mais comum (Cautin and Baker, 2022).

Dado que a psicologia lida com a condição humana, não surpreende que os psicólogos se
envolvam em questões sociais. Por mais de um século, a psicologia e os psicólogos têm
sido agentes de ação e mudança social. Usando os métodos e ferramentas da ciência, os

57
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

psicólogos desafiaram suposições, estereótipos e estigmas. Fundada em 1936, a


Psychological Study of Social Issues (SPSSI) tem apoiado pesquisas e ações em uma
ampla gama de questões sociais. Individualmente, houve muitos psicólogos cujos
esforços promoveram mudanças sociais.

Helen Thompson Woolley (1874–1947) e Leta S. Hollingworth (1886–1939) foram


pioneiras na pesquisa sobre a psicologia das diferenças sexuais. Trabalhando no início do
século XX, quando os direitos das mulheres eram marginalizados, Thompson examinou
a suposição de que as mulheres eram super emocionais em comparação com os homens
e descobriu que a emoção não influenciava as decisões das mulheres mais do que
influenciava as dos homens. Hollingworth descobriu que a menstruação não afetava
negativamente as habilidades cognitivas ou motoras das mulheres. Tal trabalho combateu
estereótipos prejudiciais e mostrou que a pesquisa psicológica pode contribuir para a
mudança social (Scarborough and Furumoto, 1987).

Entre a primeira geração de psicólogos afro-americanos, Mamie Phipps Clark (1917-


1983) e seu marido Kenneth Clark (1914-2005) estudaram a psicologia da raça e
demonstraram as maneiras pelas quais a segregação escolar impactou negativamente a
auto-estima das crianças afro-americanas. Sua pesquisa foi influente na decisão da
Suprema Corte de 1954 no caso Brown v. Board of Education, que acabou com a
segregação escolar (Guthrie, 2003). Na psicologia, uma maior defesa de questões que
impactam a comunidade afro-americana foi avançada pela criação da Association of
Black Psychologists (ABPsi) em 1968.

Em 1957, a psicóloga Evelyn Hooker (1907-1996) publicou o artigo “The Adjustment of


the Male Overt Homosexual”, relatando sua pesquisa que não mostrou diferenças
significativas no ajuste psicológico entre homens homossexuais e heterossexuais. Sua
pesquisa ajudou a despatologizar a homossexualidade e contribuiu para a decisão, em
1973, da Associação Psiquiátrica Americana de remover a homossexualidade do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Garnets and Kimmel, 2003).

O período imediatamente após a guerra foi descrito por alguns como a “idade de ouro”
da psicologia social (House, 2008; Sewell, 1989), caracterizada por equipes
interdisciplinares de pesquisadores trabalhando em questões socialmente relevantes com
58
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

apoio federal (House, 2008). Foi um período em que muitos estudos clássicos e bem
conhecidos foram feitos, incluindo o trabalho de Leon Festinger (1957) sobre dissonância
cognitiva, Solomon Asch (1951) pesquisa de conformidade e o trabalho de Stanley
Milgram (1963) na obediência à autoridade. Esses estudos clássicos pareciam demonstrar
as possibilidades da psicologia social na descoberta de efeitos significativos e repetitíveis
na abordagem significativa do mundo real.

Fenômenos que vão do comportamento de culto aparentemente irracional ao papel da


obediência no Holocausto. Além disso, esses anos foram notavelmente produtivos para a
psicologia social, como pelo grande número de estudos realizados, o crescimento das
abordagens metodológicas e a quantidade de dados coletados (Cartwright, 1979). O
campo também começou a adquirir as marcas de uma disciplina estabelecida no pós-
guerra, incluindo a fundação das duas sociedades: a Sociedade de Psicologia
Experimental, em 1965 e da Sociedade de Personalidade e Psicologia Social, em 1974.
Diversos periódicos também foram estabelecidos, incluindo o Journal of Personality and
Social Psychology e o Journal of Experimental Social Psychology, ambos fundados em
1965.

Pelo exposto, neste sub capítulo, a 2ª fase do desenvolvimento histórico da psicologia,


marcadamente nos anos 1950 e 1960, teve por característica principal os estudos sobre
efeitos e resultados das psicoterapias acadêmicas e clínicas desenvolvidas na primeira
metade do século XX. Inicialmente, este movimento de questionamentos e avaliações de
efeitos e eficácia ocorreu nos EUA e espalhou-se pelo mundo.

Neste sentido, E. G. Boring, escrevendo A History of Experimental Psychology (1929–


1950), o livro mais influente do século XX sobre a disciplina, que lançou a ideia comum
de que o debate estruturalismo/funcionalismo era o principal falha na psicologia
americana na virada do século. O funcionalismo, de um modo geral, com sua ênfase mais
prática na ação e na aplicação, melhor se adequava ao "estilo" cultural americano e, talvez
mais importante, era mais atraente para os curadores universitários pragmáticos e
agências de financiamento privadas.

E Hans Jürgen Eysenck, psicólogo alemão passou sua carreira profissional na Grã-
Bretanha e desenvolveu estudos sobre a inteligência e personalidade, embora tenha
59
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

trabalhado numa ampla gama de áreas, ficou muito conhecido por seu estudo sobre os
efeitos da psicoterapia, publicado em 1952. A pesquisa realizou uma investigação sobre
a melhora de pacientes neuróticos após psicoterapia a partir de relatos e os resultados
foram comparados com as estimativas disponíveis sobre a melhora de pessoas não
submetidas a psicoterapia. Os números não suportaram a hipótese de que a psicoterapia
facilita a recuperação do transtorno neurótico e permitiu ao autor afirmar que o efeito dos
tratamentos psicoterapêuticos da época não eram melhores do que a passagem do tempo.
Ou seja, o passar do tempo foi considerado mais psicoterapêutico do que a psicoterapia.
Tendo em vista as muitas dificuldades inerentes a tais comparações estatísticas, nenhuma
outra conclusão pode ser extraída dos dados cuja deficiência destaca a necessidade de
estudos experimentais adequadamente planejados e executados neste importante campo.
Muitos pesquisadores duvidaram dos resultados de Eysenck e decidiram estudar o efeito
das psicoterapias através de métodos mais rigorosos de investigação.

A influência desta 2ª fase do desenvolvimento histórico da psicologia irá ser retomado no


final do século XX.

3.5 3ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: eficiência e eficácia da


psicoterapia nas décadas de 1970 e 1980

A publicação do livro The Benefits of Psychotherapy, de Smith, Glass e Miller em 1980,


abriu a questão da eficácia da psicoterapia, e uma crítica discussão sobre seus métodos e
resultados puderam não estar errados. A tônica das décadas de 1970 e 1980 foi o debate
acerca da eficiência e eficácia das inúmeras abordagens psicológicas desenvolvidas até
então.

Como é bem conhecido, as descobertas negativas originais de Eysenck (1952) foram


apoiadas por Rachman e Wilson (1980) e contrariadas por Bergin e Lambert (1978) e
Luborsky, Singer e Luborsky (1975). Tais conclusões contraditórias, muitas vezes
baseadas no mesmo conjunto de evidências, sugeriu aos autores do livro, aqui em
discussão que métodos mais objetivos de análise deveriam ser empregados e, portanto,
eles desenvolveram o que eles chamaram de método de meta-análise.

60
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

A unidade de análise em seus estudos é o tamanho do efeito (TE), que é um índice


numérico de magnitude do efeito de um tratamento em relação à falta de tratamento. Isso
é calculado subtraindo a média do grupo de controle da média do grupo de tratamento e
dividindo essa diferença pelo desvio padrão do grupo de controle. Este método tem sido
aplicado por eles em relatórios de pesquisa publicados sobre os resultados obtidos em
psicoterapia. O índice TE é, na verdade, uma pontuação padrão, informando nas amostras
quantas unidades de desvio padrão uma média de grupo se desvia da média de outro
grupo, com o tamanho do efeito positivo indicando que o grupo de tratamento melhorou
mais do que o grupo não tratado.

A publicação original, de Smith e Glass (1977), de seu método e resultado sobre os


benefícios da psicoterapia, recebeu críticas (Eysenck, 1978; Frank, 1979; Gallo, 1978;
Mansfield e Busse, 1977; Wertheimer, 1978), bem como apoio (Landman e Dawes,
1982). Isso sugere que a suposta objetividade do método introduzido por Smith et al. não
deve ser tão objetiva quanto parece, e que debates semelhantes aos das revisões
tradicionais não podem ser evitados pelo emprego de meta-análise. Smith et al (1980)
contestam o fato de que alguns revisores omitiram certos estudos justificados por má
qualidade e falta de rigor. Eles disseram isso:

“Onde qualquer revisor trace uma linha, atribuindo a um estudo o status de


aceitável ou inaceitável, é puramente um exercício de julgamento profissional. Qualquer
estratégia de julgamento permite a introdução de viés na conclusão” (pág. 19).

Eles afirmam incluir todos os estudos publicados, independentemente da qualidade,


excluindo assim, o julgamento profissional. Para muitos cientistas, isso parecerá uma
maneira estranha de lidar com o problema. Os autores comentaram sobre a existência de
julgamento profissional, neste campo, muitas vezes tendencioso e determinado por ideias
preconcebidas e assim pouco profissional. Quer seja a rejeição de todo julgamento uma
postura sábia torna-se um ponto totalmente discutível. De qualquer forma, Rachman e
Wilson (1980) demonstraram que a sistematização para inclusão de estudos de Smith e
Glass (1977) é na realidade uma máscara para inclusão e exclusão tendenciosas.

Smith et al (1980), em Metanalysis of psychotherapy outcome studies, iniciam


fazendo uma distinção fundamental entre avaliação e pesquisa científica.
61
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

“Avaliação e pesquisa diferem em suas técnicas e seus objetivos” (pág. 24).

Glass (1972) faz uma distinção entre investigação “avaliativa” e “elucidatória”. A


investigação elucidativa, é um processo de obtenção de conhecimento generalizável a
partir da invenção e testagem de supostas relações entre variáveis ou fenômenos
generalizáveis. Esse conhecimento resulta em relações funcionais ou modelos
estatísticos, e, em última análise, em teorias.

“Quando os resultados da investigação elucidativa são combinados com o


conhecimento de uma circunstância particular, obtém-se explicações” (pág. 25).

O inquérito avaliativo, por outro lado,

“é uma determinação do valor de uma coisa. Envolve a obtenção de informações


para julgar o valor de um programa, produto ou procedimento” (Smith et al., 1980, p. 25).

Imaginar que é possível estabelecer o ‘valor de uma coisa’ na ausência de qualquer tipo
apropriado de modelo, ou teoria, ou método apropriado de medição, é certamente uma
armadilha e uma ilusão; como se pode saber o que se está medindo, ou qual pode ser a
escala de efeitos, sem ter tal teoria ou modelo?

Tendo criticado outros escritores sobre o assunto por começarem com ideias
preconcebidas, Smith et al declararam seus próprios preconceitos de forma direta e justa.

“A pergunta geral ‘A psicoterapia funciona? foi respondida para a satisfação de


todos, exceto aos mais céticos obstinados” (pág. 33).

Tendo assim, para sua própria satisfação, respondido ao problema dos benefícios da
psicoterapia antes mesmo de examinar qualquer dos dados, e tendo usado o argumeturn
ad hominem (se você não concorda comigo, você é cético obstinado), tão usual nestes
debates, Smith et al passaram a acusar aqueles que ainda duvidam, como Rachman (1971)
de “demissão arbitrária de estudo por motivos metodológicos após estudo dos resultados
da psicoterapia” (pág. 38).

Smith et al não pararam para perguntar se essas “demissões arbitrárias” poderiam não
terem sido justificadas; embora pobres, todos os dados são grãos para o seu moinho.

62
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Rachman e Wilson (1980) listam algumas das inclusões mais curiosas na lista de
“psicoterapia” estudada por Smith e Glass, contidos no livro Smith et al.

Há, por exemplo, o relatório de Sheldon (1964) descrevendo os efeitos da serviços


comunitários de pós-atendimento a ex-pacientes psiquiátricos. A palavra psicoterapia não
aparece em qualquer parte do relatório e nem o termo aconselhamento. É igualmente
difícil entender por que foi incluído um artigo sobre a análise transacional como meio de
ensinar alunos do ensino médio a escrever (Beckstrand, 1973). Da mesma forma não
parece verdadeiro, as reivindicações de que não houve seleção dos artigos incluídos.
Assim, o relatório mal elaborado de Cooper (1963) é incluído, mas um estudo
cuidadosamente planejado e executado por Gelder, Bancroft, Gath, Johnston, Mathews e
Shaw (1973) sobre o mesmo tópico é omitido. Tal parcialidade em uma revisão
acadêmica é inaceitável, e Rachman e Wilson deveriam ter sido analisado como muitos
outros exemplos.

Smith et al. adotam a definição de psicoterapia dada por Meltzoff e Kornreich (1970):

“A psicoterapia é entendida como a aplicação informada e planejada de técnicas


derivadas de princípios psicológicos estabelecidos, por pessoas qualificadas por meio de
treinamento e experiência para entender esses princípios e aplicar essas técnicas com a
intenção de ajudar os indivíduos a modificar tais características como sentimentos,
valores, atitudes e comportamentos que são julgados pelo terapeuta como sendo mal
adaptativo ou desajustado” (pág. 6).

Esta pode, ou não, ser uma definição boa e aceitável de psicoterapia; deve ser lembrado
quando se observa os resultados relatados para diferentes tipos de terapia por Smith et
al. Estes são dados numa tabela na página 89 de seu livro que pretende mostrar que, em
comparação com nenhum grupo de tratamento, todos os 18 métodos de tratamento
resumidos têm um resultado de efeito positivo. Assim, o tamanho do efeito (TE) da
terapia psicodinâmica é 0,69, o da hipnoterapia 1,82, o da modificação do comportamento
0,73 e o da terapia da realidade 0,14. A média é de 0,85, o que Smith et al sugerem ser
uma boa evidência para a realidade dos benefícios da psicoterapia.

63
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Um ponto bastante surpreendente trata de um tipo de terapia dado na tabela que eles
chamam de “tratamento placebo”. Este tem um TE de 0,56. Seguindo o normal, seria de
se esperar que os tratamentos adequados, conforme definido na cotação de Meltzoff e
Kornreich, deveriam ser contrastados, não tanto com uma condição sem tratamento, mas
sim com tratamento placebo, pois isso eliminaria os chamados fatores inespecíficos no
tratamento. Considerar o tratamento placebo como um 'tratamento' de acordo com a
definição de psicoterapia dada acima, parece completamente desconcertante. O
tratamento placebo, certamente, não deriva de princípios psicológicos estabelecidos, não
constitui a aplicação informada e planejada de técnicas derivadas de tais princípios, e não
é administrado por pessoas qualificadas por treinamento e experiência para entender esses
princípios e aplicar essas técnicas. Também não há qualquer intenção de ajudar os
indivíduos na forma como foi sugerida pela definição. Somente a determinação, a todo
custo, de provar a eficácia da psicoterapia pode ter levado os autores a incluir o tratamento
placebo como um exemplo de psicoterapia, em vez de contrastar os efeitos da psicoterapia
com tratamento placebo.

O que deve ser feito, é claro, é subtrair os efeitos do tratamento placebo (0,56) do tamanho
médio do efeito (TE). Quando isso é feito, a terapia psicodinâmica atinge uma pontuação
TE de 0,13. Mesmo com o grande número de estudos incluídos, isso é apenas um pouco
mais do que o dobro do erro padrão da média, e um efeito tão pequeno que é
completamente inútil. A falha de Smith et al., em seguir os ditames da própria definição
adotada, bem como sua falha em seguir os ditames de inclusão/exclusão de material
relevante, faz com que todo o seu esforço, se afaste da prática científica padrão tanto
quanto fazem alguém suspeitar de seus motivos, bem como de seus resultados.

Há muitas outras características interessantes da tabela que convidam a comentários.


Assim, a hipnoterapia surge como quase duas vezes mais tão bem sucedida quanto a
terapia psicodinâmica, terapia centrada no cliente, terapia adleriana, terapia gestalt,
terapia racional-emocional, terapia de análise transacional, modificação de
comportamento, etc. Este resultado incrível destaca o grau de ceticismo que deve ser
aplicado em todas as "descobertas" estatísticas relatadas neste livro; para qualquer pessoa

64
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

familiarizada com características transitórias e insatisfatórias da hipnoterapia tal resultado


é simplesmente incrível.

Talvez mais críveis sejam os resultados relatados em uma tabela na página 98, mostrando
que as terapias comportamentais são mais confiáveis e eficazes (TE = 0,98) do que
terapias verbais (TE = 0,85) ou terapias de desenvolvimento (TE = 0,42). As terapias
comportamentais foram particularmente mais eficazes do que outras para neuróticos,
fóbicos complexos e fóbicos simples (monossintomáticos); terapias verbais não foram
mais confiáveis e eficazes do que qualquer tipo de diagnóstico. As terapias
comportamentais revelam efeitos médios maiores para medidas de ajuste global.

Smith et al tentaram argumentar contra essa descoberta bastante inconveniente, dizendo


que:

“As terapias comportamentais usavam medidas que eram mais altamente reativas
(mais sob a influência do terapeuta e cliente) do que as terapias verbais. É concebível que
as diferenças na reatividade possam explicar algumas das diferenças no tamanho médio
do efeito observado entre os tipos de terapia, subclasses e classes” (pág. 105).

O que se entende por “reatividade”?

Como destaca o autor:

“Instrumentos altamente reativos são aqueles que revelam se aproximarem dos


objetivos óbvios ou dos resultados avaliados pelo terapeuta ou experimentador; que estão
sob o controle do terapeuta, que tem um interesse reconhecido no alcance de metas
predeterminadas, ou que estejam sujeitas à necessidade e capacidade do cliente de alterar
suas pontuações para mostrar maior ou menor mudança, do que o que realmente
aconteceu” (pág. 67).

Testes e classificações recebem um valor de reatividade de 1 (mais baixo) a 5 (mais alto),


com medidas fisiológicas mostrando o valor de reatividade mais baixo e abrangem a
classificação do terapeuta de melhora ou mostrando o sintoma mais agudo. Obviamente,
esta é uma distinção importante, mas pode-se questionar a decisão de Smith et al. em
atribuir um valor de 5 aos comportamentos, habitualmente estudados por terapeutas
comportamentais, que constituem a essência dos sintomas do paciente, como testes de

65
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

abordagem comportamental, ou instrumentos que tenham uma relação direta e óbvia com
o tratamento, por exemplo, onde itens da hierarquia de dessensibilização são usados.
Apesar de sua pretensão de objetividade, esta é uma daquelas decisões subjetivas que
determinam o resultado da análise, mas para os quais não há boa ou adequada evidência
experimental. Podem ser apresentados bons argumentos de que métodos e testes usados
por behavioristas devem receber um valor de reatividade de 1, em vez de 5; os autores do
livro nunca observaram pacientes em situações como as que mencionam. No entanto, os
debates sobre este ponto específico; indicam que a decisão de Smith et al é essencialmente
arbitrária, que dúvidas e argumentações sobre sua correção são permitidas, e que,
consequentemente, sua noção de que a meta-análise é puramente objetiva é decisivamente
contrariada.

O efeito médio de todas as psicoterapias, em comparação com o tratamento com placebo,


é de 0,29 (0,85 - 0,56). Isso equivale a menos de um terço de um desvio padrão. Mesmo
esse pequeno efeito, no entanto, provavelmente desaparecerá muito rapidamente, a julgar
pelo declínio na eficácia da psicoterapia ao longo do tempo mostrado na Fig. 5-2 (p. I II
I) do livro de Smith et al. Na verdade seu número subestima muito o declínio dos efeitos
da psicoterapia porque não leva em conta a melhora prevista por remissão espontânea.
Assim, para alguns autores se fossem o Smith et al. levar a análise a sério, os efeitos
observados, na melhor das hipóteses, são pequenos e evanescentes. Eles certamente não
permitem que sejam aceitas as grandiosas afirmações feitas por muitos psicoterapeutas, e
ecoadas por Smith et al.

No entanto, a situação é muito pior do que esses números sugerem. A definição de


psicoterapia, e qualquer compreensão do que está implícito na psicoterapia, levaria a
sugerir que os efeitos serão proporcionais a formação e experiência dos terapeutas, e ao
tempo de tratamento. Smith et al não encontra correlação com nenhum dos dois,
experiência do terapeuta ou com a duração da terapia (p. 101). Isto é verdadeiramente
extraordinário e contradiz completamente todas as alegações que já foram feitas para a
psicoterapia. Aparentemente, tratamento realizados por pessoas muito inexperientes, e
tomando muito pouco tempo, é tão eficaz quanto o tratamento feito pelo psicoterapeuta
mais experiente, após muitos anos de treinamento, análise, etc., e levando anos para

66
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

realizar. Parece improvável que os psicoterapeutas, mesmo aqueles satisfeitos com o


resultado geral da meta-análise realizada por Smith et al. aceitariam tal conclusão. No
entanto, não se pode rejeitar uma conclusão, enquanto aceitar outra; o método de meta-
análise é ou não aceitável. Se for aceitável que os resultados mostraram a psicoterapia
como eficaz, então não se pode rejeitar arbitrariamente os dados relativos à experiência
do terapeuta ou duração do tratamento. Smith et al. declararam que:

“Os tamanhos de efeito mais baixos nas terapias de duração extremamente longa
devem ser vistos à luz do diagnóstico e gravidade do problema que os clientes de terapias
de longa duração, provavelmente, apresentam. Quanto menos são tratáveis os problemas,
as psicoterapias são associadas a efeitos menores, bem como maior tempo gasto. Portanto,
é uma simplificação excessiva dizer que terapias mais duradouras produzem efeitos
menores (ou nenhum efeito maior) do que terapias de curta duração” (pág. 116).

Este é um argumento que mais uma vez ilustra a subjetividade da abordagem de Smith et
al., e que não é facilmente aceitável. Os psicanalistas costumam apresentar terapias de
prazo muito longo, mas também selecionam pacientes cujos problemas são menos graves
do que os tratados por outros métodos (Rachman e Wilson, 1980). Assim, pode-se fazer
exatamente o argumento oposto ao apresentado por Smith et al. Novamente, não é o
propósito aqui discutir o caso, mas apenas indicar que a suposta objetividade da meta-
análise é completamente ilusória; não pode disfarçar a necessidade de estabelecer pontos
de diferença objetivamente específicos.

Smith et al. ataca diretamente a questão da qualidade do trabalho relatado.

“Cada estudo foi codificado pelo método de atribuição de clientes a grupos e a


extensão da mortalidade por cada grupo. Houve também uma classificação geral de
validade interna dada a cada estudo. Essa classificação foi baseada no método de
atribuição e extensão da mortalidade, além de qualquer outro método experimental que
interagiu com designação e mortalidade” (pág. 122).

Os próprios autores admitem que esses critérios foram “claros e justos”, e não foram além
do necessário, ou seja, sutilezas de livros didáticos irrelevantes para controlar ameaças à

67
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

validade interna. Eles não encontraram nenhuma relação geral entre design qualidade e
magnitude do efeito, e concluem que:

“A ausência de associação significa que não é base para descartar estudos de baixa
qualidade deste corpo de evidências."

Esta é uma descoberta intrigante. Pode-se argumentar que se deve abandonar os esforços
para melhorar os métodos de investigação, e concentrar-se mais no tipo de investigação
mais barato e mais pobre, visto que aparentemente não considera a diferença entre
métodos bons, ruins ou indiferentes. Isso, é claro, seria a negação do mais elementar
princípio da investigação científica, e o fato de que bons e maus estudos deram resultados
semelhantes indicou, a Smith et al., que provavelmente estavam lidando com algum tipo
de efeito que é bastante inespecífico e evanescente. e não tem nada a ver com as
reivindicações da psicoterapia como um método psicológico de tratamento. Que eles não
tirem essa conclusão de sua descoberta, e continuem a incluir trabalhos de má qualidade
em seus resumos, devem parecer indesculpáveis para qualquer um que tem no coração o
interesse da psicologia como uma disciplina científica. Sua abordagem segue diretamente
sua divisão de investigação em elucidativo e avaliativo, e sua adoção do último em vez
do primeiro. para o seu estudo. Isto, essencialmente, equivale a uma rejeição da ciência e
à adoção de procedimentos arbitrários e possivelmente irrelevantes.

As referências citadas (por exemplo, Rachman e Wilson, 1980) contêm muitas outras
críticas que poderiam ser feitas a este livro, consideram de modo geral que todo o
procedimento adotado por Smith et al. é, fundamentalmente, falho.

Neste ponto, o estudo de Smith et al, convenientemente, privilegia o julgamento


individual e, impulsionou um procedimento estatístico muito simples, aplicado por
computador para amostras supostamente totais da população de relatórios neste campo.
Será óbvio que as premissas em que este argumento está baseado são defeituosas. Em
primeiro lugar, não existe uma seleção total de casos, e Rachman e Wilson apontaram o
que parecem ser omissões deliberadas, bem como muito curiosas e essencialmente
inclusões irrelevantes, na primeira apresentação de sua tese por Smith e Glass (1977).
Alguns julgamentos pretendem que a objetividade total reine neste campo, o que é
claramente inadmissível.
68
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Isso fica igualmente claro quando Smith et al. usam em sua análise o grupo placebo não
como grupo de controle e sim como um grupo de tratamento e contrasta seus efeitos com
o grupo sem nenhum tratamento. Nesta questão específica, ou seja, os grupos placebo
pertencem aos grupos de tratamento ou devem ser tratados como controle. Cada leitor
deve se decidir; o que está claro é que as decisões subjetivas são abundantes em relação
a essa questão também. As alegações de objetividade são claramente bastante errôneas.

O conceito de grupo controle precisa ser discutido, pois toda a concepção de um “grupo
sem tratamento” tinha sido, decisivamente, alterada desde o artigo original de Eysenck
(1952). Naqueles dias, um grupo sem tratamento era essencialmente o que o termo
implícito, ou seja, um grupo que não recebe tratamento por um longo período e não tem
esperança de receber qualquer tratamento psiquiátrico, mesmo no final deste tempo.
Atualmente, os grupos sem tratamento são geralmente grupos que aguardam tratamento
por um curto período de tempo. Tempo. Isso altera completamente o significado de “sem
tratamento”. Um período de espera é bem diferente de ser negado o tratamento, e os
eventos usuais que constituem as intervenções que produzem remissão espontânea são
muito menos prováveis de ocorrer (Eysenck, 1963, 1980). Uma pessoa a quem é negado
o tratamento provavelmente levará seus problemas aos padres, membros de sua família,
amigos etc., uma pessoa em lista de espera tem menos probabilidade de fazê-lo porque
percebe que em breve estará recebendo tratamento. Em outras palavras, a probabilidade
é alta de que um período de espera produza muito menos remissão espontânea do que a
negação de tratamento. Este ponto nunca é discutido por Smith et al., mas torna ainda
mais urgente o uso de grupos de tratamento com placebo como um controle, em vez de
pacientes em período de espera.

No entanto, muitas críticas básicas ao trabalho de Smith et al. referem-se à sua completa
negligência das teorias científicas e seus testes, em favor de sua noção de “investigação
avaliativa” como um substituto para “investigação elucidativa”.

Os procedimentos utilizados por Smith et al. confundem completamente a questão. Eles


afirmam ter provado que a psicoterapia é eficaz, mas o tipo de psicoterapia que eles estão
lidando não se assemelha a nenhum tipo de psicoterapia já defendida na literatura. Sem o
psicoterapeuta estar familiarizado afirmaria que a duração do tratamento ou a quantidade

69
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

de experiência e treinamento do terapeuta não tiveram nenhum papel no sucesso do


tratamento; se essas descobertas forem aceitas, elas demonstram, conclusivamente que a
'psicoterapia’ que Smith el al estão falando não é a psicoterapia que é formulada por
praticantes da arte. Portanto, os resultados relatados neste livro não têm relevância para
teorias e visões realmente mantidas pela vida de psicoterapeutas praticantes. Smith e
Glass (1977) têm o hábito de atribuir os piores motivos e traços de caráter àqueles com
quem discordam. Assim, eles se referem à tese de Eysenck (1952) como uma “diatribe
tendenciosa”, remetem o leitor para “A crítica de Bergin” (1971) desmantelamento astuto
do mito Eysenck ”sem averiguar o valor do alegado desmantelamento, enquanto Smith et
all (1980) falam da “arrogância e interesse próprio” da contribuição de Bandura (1978).
Da mesma forma dizem que:

“As racionalizações post hoc de críticos acadêmicos da literatura sobre resultados de


psicoterapia (que alegam que os estudos, todos eles. não são adequadamente controlados
ou monitorados) estão quase esgotadas. Eles, dificilmente, podem apresentar novas
desculpas sem se sentir constrangidos, ou sem levantar suspeitas sobre seu motivo” (pág.
183).

Seria fácil acompanhar essas incursões na argumentação ad hominem, mas pouco se


ganharia com isso. Os argumentos contra seu trabalho são fortes o suficiente sem imputar
motivos aos autores. Smith et al. apontaram que:

“Talvez pode ser o destino da psicoterapia, mais do que outras profissões, ter suas
contribuições contrariadas e sofrer a hostilidade daqueles que lucram com sua morte”
(pág. 184).

Esta certamente não é uma reclamação nova; há dois mil anos Cícero já dizia:

“Por que é para o cuidado e manutenção do corpo foi concebida uma arte que, por de sua
utilidade, teve sua descoberta atribuída aos deuses imortais, e é considerada sagrada,
enquanto por outro lado, a necessidade de uma arte de cura para a alma não foi sentida
tão profundamente antes de sua descoberta, não foi estudada tão de perto depois de se
tornar conhecida, e não foi recebida com aprovação pela maioria; na verdade, tem sido
visto pela maioria com suspeita e ódio?”

70
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

A resposta em ambos os casos é talvez que reivindicações exageradas e injustificadas


tenham sido feitas para os benefícios a serem derivados da psicoterapia, sem o benefício
da comprovação científica, e essa inevitável decepção alienou os sofredores e cientistas
de toda a disciplina. Que pessoa sensata levaria a sério os escritores que falam do estado
da psicoterapia

“atinge uma parte da vida que nada mais toca tão bem”? (pág. 184)

Já Smith et al. ouviram falar de religião, ou eles conhecem algum experimento para apoiar
a visão de que a religião é menos eficaz do que a psicoterapia? Declarações desse tipo
podem ser aceitáveis para os crédulos, mas não têm significado, e apenas alienam o
cientista que baseia suas opiniões em evidências.

Conclui-se que s estudos de meta análise de Smith et al. não forneceram nenhuma
evidência que seja cientificamente aceitável sobre o benefício da psicoterapia. Isso sugere
que pode haver certos efeitos bastante pequenos e evanescentes de muitos dos efeitos
usuais em psicoterapias, quando comparados com grupos controle placebo, mas a
natureza desses efeitos é bem diferente daqueles, normalmente, postulados pelos próprios
psicoterapeutas. Em particular, os efeitos são independentes da quantidade de treinamento
e experiência dos terapeutas, e são independentes da duração da terapia. Há evidências
nesses dados para a superioridade dos métodos comportamentais sobre os verbais, mas
devido à inépcia geral da análise, mesmo essa conclusão não pode ser aceita como está,
os leitores que abordam o livro com grandes esperanças de encontrar uma análise objetiva
e fundamentada dos dados da pesquisa sobre a eficácia da psicoterapia ao longo das linhas
estatísticas ficarão desapontados e terão que renunciar e confiar no único relato
propriamente crítico da literatura que apareceu até agora (Rachman e Wilson, 1980) ou
eles mesmos lerem a literatura relevante.

De fato, para lhes dar crédito, Smith et al. parecem compartilhar a opinião de que
fundamentalmente qualquer pessoa que deseje formar uma opinião sobre o tema deve ler
os originais. Como eles dizem:

“Determinar a validade externa da pesquisa é uma responsabilidade compartilhada


pelo pesquisador e pelo leitor. O leitor deve estudar o contexto em que a pesquisa ocorreu,

71
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

os assuntos envolvidos, a descrição do tratamento, ambientação e. terapeutas. Essas


características da pesquisa devem então ser comparadas com as mesmas características
na configuração aplicada. O leitor faz uma inferência sobre o grau de similaridade, os
pontos importantes de diferença e, em seguida, a aplicabilidade dos resultados da
pesquisa” (pág. 87).

Há muita confiança em relatórios de resultados de segunda mão, e os leitores tendem a


aceitar os resumos que concordam com seus preconceitos. È válido sugerir que os
cientistas devem julgar por si mesmos, sempre que houver uma discrepância nos resumos
dos resultados. Se eles fizerem a tarefa com consciência, concordarão com Rachman e
Wilson que a evidência para a eficácia da psicoterapia é inútil. Mesmo os resultados
globais da análise de Smith et al vão, dificilmente, alterar este julgamento; os pequenos e
evanescentes efeitos que alegam ter demonstrado estão muito distantes do grau de eficácia
reivindicado, no passado, por psicoterapeutas e oferece pouca esperança ao paciente.
Parece que não se tem progredido muito apesar de se estar longe dos dias de Cícero!

Para muitas pessoas, particularmente psicólogos experimentais, todo o debate pode


parecer bastante ridículo, e de pouca importância. Contudo, a imagem popular da
psicologia está inextricavelmente misturada com suas funções, com psicanalistas e
credos semelhantes. Como psicólogos, inevitavelmente serão julgados em termos de
sua integridade e honestidade, no que diz respeito às alegações de sucesso dos
métodos de psicoterapia. Toda ciência tem que passar através de sua provação pelo
charlatanismo, e do resultado deste debate específico dependerá o julgamento se os
psicólogos são cientistas ou charlatães. Esta é uma questão de vital importância para
o futuro da psicologia, para a avaliação dela nos olhos de cientistas “duros” e de
administradores, funcionários, políticos e do público em geral.

Ainda mais importante, do ponto de vista ético, é a questão de saber se os psicólogos


tem o direito de fazer grandes reivindicações para práticas como a psicoterapia,
exigir honorários exorbitantes para a realização de um serviço cada vez mais
duvidoso, e treinar aspirantes a psicólogos nos ritos misteriosos desta profissão -
embora, se Smith et al. devem ser acreditados, a duração e extensão de tal

72
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

treinamento, e a experiência adquirida através dele e após ele, não têm influência
sobre o resultado do tratamento.

Os psicólogos devem almejar não apenas serem bons cientistas, mas também serem éticos
em seu comportamento; é antiético fazer reivindicações injustificadas, extrair dinheiro
sob falsos pretextos e ganhar a vida treinando outros em habilidades da realidade da qual
nunca foi provada, e é posto em dúvida até mesmo por defensores da eficácia
psicoterapêutica como Smith et al.

Os sucessos imaginários e as afirmações exageradas dos psicoterapeutas devem ser


contrastados com a modéstia de tais afirmações. Como são feitas para a terapia
comportamental por Kazdin e Wilson (1978), por exemplo. A terapia comportamental,
apesar de consideráveis sucessos (por exemplo, Rachman e Hodgson, 1980) evitou
alegações estranhas e tentou, muito mais do que qualquer outro tipo da terapia
psicológica, fornecer evidências empíricas de sua eficácia. Existem agora bases sólidas
para afirmar a eficácia da terapia comportamental em muitos campos, e mesmo os
números fornecidos por Smith et al apontam nessa direção. O debate é importante, apesar
de todos os esforços para desvalorizá-lo, e a futura predição dos psicólogos como
cientistas ou charlatães pode depender do seu resultado. É isso que torna estudos como
de Smith et al tão perigosos, e necessita de uma ampla revisão. Sobre esta questão, acima
de tudo, tem-se de chegar a uma conclusão consensual, e este acordo só pode ser
alcançado com base numa análise completa de todos os dados disponíveis, incluindo
julgamentos de valor sobre a qualidade do trabalho realizado. Nenhum método de
análise estatística ou alquimia computacional resolverá o problema para os
psicólogos. Estes devem resistir à cristalização prematura da ortodoxia espúria e aplicar
os métodos da crítica científica a este, complexo, mas importante campo. Talvez, como
Eysenck (1980) sugeriu, haja uma linha geral percorrendo efeitos de remissão,
psicoterapia, psicanálise, terapia cognitiva e terapia comportamental; se sim, o melhor
caminho a seguir pelos psicólogos seria submeter a teoria subjacente a um teste
experimental.

Pelo exposto neste sub capítulo, muitos esforços científicos foram dispendidos para
avaliação da eficiência e eficácia das abordagens psicológicas realizadas por

73
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

psicólogos em sua atuação psicoterapêutica, mas pouco ou quase nada descobriu-se


especificamente, pois a grande fundamentação dos estudos concentrou-se na eleição
de critérios subjetivos de inclusão/exclusão dos estudos analisados do mesmo modo
que na definição dos parâmetros de análise estatística distorcidos. Contudo, este foi
um importante movimento que eclodiu a crise multifacetada nas questões de
metodologia, relevância social, de orientação disciplinar, clínica e teórica que se
tornaram as principais áreas de preocupação dos psicólogos. Tendo em vista que
essas questões têm se destacado ao longo da história da psicologia, torna-se
necessário olhar para o contexto imediato da crise dos anos 1970 e 1980 para
entender como e por que uma crise disciplinar veio a ser diagnosticada. A presente
análise sugeriu que a crise refletiu a crise maior na sociedade americana e também
se baseou na linguagem de crise predominante na época. Empregar essa linguagem
pode ter oferecido ao campo um método de dar sentido, de reenquadrar,

3.6 4ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: ecletismo Técnico

Nos anos de 1985 a 2001 o ecletismo técnico foi o foco principal das reflexões nos estudos
em psicologia, que continuadamente voltavam-se ao debate sobre eficiência e eficácia
psicoterapêutica. Como exposto nos subcapítulos anteriores, a psicologia é uma ciência
relativamente jovem, com seu primeiro laboratório científico de psicologia criado até
1879, e evoluiu continuamente, surgindo diferentes escolas de pensamento dedicadas a
diferentes campos e conceituações da psique humana.

Dentre as áreas da psicologia encontra-se a psicologia clínica e a psicoterapia em que as


teorias psicológicas são aplicadas na vida das pessoas por meio de contato, constante e
regular, entre o psicólogo e o sujeito num ambiente seguro de atuação profissional,
adequadamente planejado e montado em conformidade a regulamentações das
associações em psicologia para prática psicoterapêutica. Deste modo a psicoterapia vêm
intervindo e se propondo a ajudar a melhorar a vida das pessoas que buscam este serviço,
estando estes com diferentes doenças, dificuldades e distúrbios. Denomina-se paciente as
pessoas que procuram tratamento psicológico ou psicoterapêutico.

74
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Segundo muitos estudos e diversas abordagens psicológicas para tratamento de paciente,


tratar de uma pessoa requer preparação e treinamento técnico em psicologia. As
discussões científicas e acadêmicas em psicologia sempre versaram sobre a eficiência e
eficácia das abordagens. Porém, inicialmente envolviam as premissas teóricas e
conceituais. À medida que a psicologia começou a ser requisitada como instrumento de
intervenção e desenvolvimento humano em diversos contextos sociais, os estudos sobre
resultados eficazes passou a envolver as práticas psicoterapêuticas.

E desde o pós guerra, muitos estudos concentraram-se em avaliar e identificar as práticas


clínicas psicoterapêuticas promotoras de resultados mensuráveis de melhora relatada
pelos pacientes tratados por psicólogos. Assim, o uso de diferentes técnicas
psicoterapêuticos são avaliadas e demonstraram ter eficácia real e significativa. Porém,
muitas ressalvas foram indicadas pois, avaliar a eficácia de uma técnica requer avaliar
não apenas a possível melhora de um paciente, mas também compará-la com a ausência
de terapia e outros tratamentos e tendências.

Pesquisas nesse sentido têm gerado grandes repercussões e formas de entender a


psicoterapia e seus efeitos. No fim do século XX, este era o enfoque principal dos debates:
se os diferentes tipos de psicoterapia apresentam diferenças significativas em termos de
eficácia, discutindo algo com um nome curioso: “O Efeito Dodô”, relacionado a um
assunto conhecido como “Veredicto do Dodô” (González-Blanch e Carral-Fernández,
2017).

O "Veredicto do Pássaro Dodô", surgiu na década de 1930, através do psicólogo


americano Saul Rosenzweig, que propôs, em 1936, que as muitas e diversas formas de
terapia psicológica são igualmente eficazes (González-Blanch e Carral-Fernández, 2017).

Já o “Efeito Dodô”, hipoteticamente defende que a eficácia de todas as técnicas de


psicoterapia mantém-se quase equivalentes, não havendo diferenças significativas entre
as múltiplas tendências teóricas e metodológicas disponíveis. O veredicto de Dodô é
objeto de debate em torno da existência ou não-existência desse efeito. As psicoterapias
funcionam por causa de sua eficácia na ativação de mecanismos psicológicos
precisos, de acordo com o modelo teórico a partir do qual se iniciam, ou
simplesmente funcionam devido a outras coisas que todos os terapeutas aplicam sem
75
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

perceber? Estes questionamentos favoreceram o surgimento de um ecletismo técnico na


psicologia.

A denominação como “Veredito de Dodô” é uma metáfora introduzida por


Rosenzweig em referência ao livro de Lewis Carrol, “Alice no país das maravilhas”,
segundo González-Blanch e Carral-Fernández (2017). Um dos personagens da história é
o pássaro Dodô, que considerou no final da corrida sem fim, o fato de que “todos
venceram e todos deveriam receber prêmios”. O efeito em questão foi sugerido por este
autor numa publicação em 1936, considerando, após a realização de uma pesquisa, que
são os fatores compartilhados entre as diferentes perspectivas e o funcionamento da
psicoterapia que realmente geram uma mudança e permitem a recuperação do paciente.

Se esse efeito realmente existir, as implicações podem ser altamente relevantes para
a aplicação prática da psicologia clínica: o desenvolvimento de diferentes terapias
entre diferentes fluxos de pensamento se tornaria desnecessário e seria aconselhável
investigar e gerar estratégias focadas em explicar e aprimorar os elementos que eles
têm em comum, algo que na realidade geralmente é feito na prática, sendo o
ecletismo técnico bastante comum na profissão.

No entanto, diferentes investigações questionaram e negaram sua existência, observando


que certas abordagens funcionam melhor em certos tipos de desordem e população.

As investigações iniciais que pareciam refletir a existência do efeito Dodô encontraram


na época uma forte oposição de vários profissionais, que conduziram suas próprias
investigações e descobriram que realmente existem diferenças significativas. No entanto,
essas investigações foram posteriormente refutadas por outros autores, ainda
encontrando-se com diferentes investigações que sugerem conclusões diferentes.

Dessa maneira, pode-se descobrir que existem principalmente dois lados na consideração
da existência de diferenças, estatisticamente, significativas em relação à eficácia das
diferentes terapias.

Por um lado, aqueles que defendem a existência do efeito Dodô afirmam que quase todas
as terapias têm eficácia semelhante entre si, não sendo as técnicas específicas de cada
corrente teórica, mas os elementos comuns subjacentes a todas elas que geram um efeito

76
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

real sobre os pacientes Estes defendem a necessidade de investigar e reforçar esses


elementos comuns.

Alguns autores, como Lambert (1992), argumentam que a recuperação se deve a efeitos
inespecíficos: em parte devido a fatores da relação terapêutica, fatores pessoais do sujeito
fora da própria terapia, expectativa de recuperação e trabalho para melhoria e, apenas um
de maneira muito mais modesta, a elementos derivados do próprio modelo teórico ou
técnico.

A verdade é que, nesse sentido, surgiram diferentes investigações que apoiam a grande
importância desses aspectos, algumas das principais: sendo a relação terapêutica entre
profissional e paciente, algo que de todas as disciplinas tem sido de grande importância e
a atitude do terapeuta em relação ao paciente e seu problema, empatia, escuta ativa e
aceitação incondicional entre eles. Mas isso não exclui necessariamente a possibilidade
de que, como Lambert propõe em 1992, existirem diferenças entre os tratamentos quando
se trata de ser eficaz (Fernández, 2001).

Aqueles que argumentam que existem diferenças significativas entre as psicoterapias, por
outro lado, observam verdadeiras diferenças na eficácia dos tratamentos e avaliam que o
funcionamento básico das diferentes estratégias de intervenção psicoterapêuticas
utilizadas são o que gera a mudança comportamental e cognitiva no paciente, sendo
algumas estratégias mais eficazes que outras em certos distúrbios ou alterações.

As diferentes investigações realizadas comparando tratamentos demonstraram diferentes


níveis de eficácia, dependendo do problema a ser tratado e das circunstâncias que o
cercam.

Da mesma forma, observou-se que certas terapias podem até ser contraproducentes,
dependendo do distúrbio em que são aplicadas, algo que teve de ser controlado para que
os pacientes melhorassem e não exatamente o contrário. Algo assim não aconteceria se
todas as psicoterapias funcionassem da mesma maneira. No entanto, também é verdade
que isso não impede que o núcleo da mudança seja devido a fatores comuns entre as
diferentes psicoterapias. A verdade é que o debate ainda está em vigor hoje, e não há
um consenso claro sobre o assunto e a investigação se concentra sobre: se o efeito ou

77
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

veredicto do Dodô está realmente lá ou não. Nos dois casos, diferentes aspectos
metodológicos foram criticados, o que pode colocar em dúvida os resultados obtidos
ou ter implicações além daquelas inicialmente consideradas (González-Blanch e
Carral-Fernández, 2017).

Provavelmente, pode-se considerar que nenhum dos lados está absolutamente certo,
existem procedimentos mais adequados do que outros em determinadas situações e
assuntos, afinal, cada sujeito e problema tem seus próprios modos de funcionamento
e sua modificação requer uma ação mais focada, em certas áreas, resultando nos
elementos compartilhados entre as diferentes psicoterapias, o principal mecanismo
que permite a geração de mudanças.

De qualquer forma, não se deve esquecer que a prática clínica da psicoterapia é


realizada, ou deve sempre ser realizada em benefício do paciente, que procura ajuda
profissional de um psicólogo preparado para desempenha-la. Isso implica conhecer
as técnicas psicológicas específicas capazes de se mostrarem eficazes, além de
desenvolver e otimizar as habilidades psicoterapêuticas básicas, para que um
contexto adequado em conformidade com as regulamentações das associações
regulamentadoras do exercício profissional em psicologia, seja, por si só, benéfico
para o paciente.

Pelo exposto neste sub capítulo, muitos esforços científicos continuam sendo dispendidos
e favorecendo o ecletismo técnico em psicologia, mas pouquíssimas conclusões puderam
ser evidenciadas.

3.7 5ª Fase da História do Desenvolvimento da Psicologia: integração no século XXI

Como apresentado nos subcapítulos anteriores, em tantos embates filosóficos,


psicológicos e científicos sobre o recorte ideal para a psicologia quanto cátedra
emancipada, ciência em construção e desenho metodológico promotores de inúmeros
debates, estudos, pesquisas e análises sobre sua eficiência e eficácia no século XX desde
de seu nascimento no início deste século quanto durante seu desenvolvimento e

78
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

crescimento em incontáveis escolas psicológicas até a transição para o novo século sob a
perspectiva da eficácia clínica, sem desfechos e conclusões.

Contudo, interessante apontar o fato de em todos os movimentos analíticos envolvendo a


psicologia ou as psicologias, os ideais da modernidade estão refletidos nas formas de
produção do conhecimento, na relação do homem com a natureza e com os semelhantes,
em seus valores éticos e morais, nos regimes de governo, enfim, em todas as esferas da
existência humana.

No caso da Psicologia, a marca da modernidade se insere em sua compreensão


fragmentada do homem, ou seja, nos recortes que reduziram dimensões como corpo,
mente, emoção, razão, aprendizagem, memória, percepção, a ilhas isoladas, sem o
estabelecimento das conexões que as articulam.

A Psicologia ainda lida com o humano a partir destas ordens classificatórias,


categoricamente estabelecidas. Outro aspecto importante que também constituiu
um reflexo da modernidade na Psicologia foi o predomínio de visões essencialistas
da natureza humana e a ideia de que a busca pela verdade é o veículo para a cura.

Posteriormente a adoção do modelo das ciências naturais e de forma crescente,


questionamentos revelavam a inquietação de lidar com o humano sem considerar um
aspecto fundamental que o constitui: a subjetividade.

Neste sentido, a Psicanálise exerceu um papel decisivo no rumo da Psicologia, ao


reconhecer a história do sujeito na expressão do seu sofrimento como elemento chave
para a compreensão dos sintomas. A partir daí, também surgiu uma série de indagações
dentro das ciências humanas em geral, pela percepção da inadequação dos modelos
utilizados para estudar os fenômenos humanos.

Parece que no caso da Psicologia, adotou-se um referencial externo e estranho à


proposição desta ciência. A percepção deste estranhamento, fortemente presente na
área clínica, contribuiu para o aparecimento de novos movimentos e escolas,
originando uma multiplicidade de abordagens. Entretanto, esta polifonia de ideias
manteve uma visão fragmentada do humano, pois era ainda pautada por uma visão

79
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

dicotômica, produtora de exclusões, parcial. A diversidade implicou no isolamento de


dimensões importantes do humano.

A transformação desta condição não é possível sob a égide do pensamento linear que
oculta a complexidade do real e as relações intrínsecas entre ordem-desordem, razão-
emoção, corpo-mente, e tantas outras fragmentações produzidas na modernidade.

A pós-modernidade diz respeito ao contexto contemporâneo presente nas artes, ciências,


literatura, economia, religiosidade, enfim, nas manifestações humanas de um modo geral.
Não há consenso quanto ao significado da pós-modernidade em relação à modernidade.
A pós-modernidade pode ser compreendida como uma ruptura radical com a cultura
moderna ou apenas o reflexo de seu declínio, uma espécie de manifestação no interior
mesmo da modernidade (Harvey, 1989/1993).

Independente de se tomar ou não um posicionamento definido, o fato é que o mundo está


vivendo novos processos: a globalização, o avanço tecnológico, a comunicação à
distância, os desenvolvimentos da engenharia genética e a bioética, a virtualização das
relações, a destruição crescente do ecossistema e em consequência as alterações
climáticas, são apenas alguns exemplos da lista interminável de mudanças, cuja
velocidade é acelerada.

Neste contexto, em que as constantes novidades e transformações demandam do sujeito


uma rápida assimilação, as experiências parecem ser naturalmente transitórias, a
fugacidade das sensações separa presente e passado, o sujeito e sua história; não há espaço
para a apropriação e significação do vivido, as demandas do mundo passam a ser
simplesmente acolhidas, sem espaço para reflexão e produção de sentido.

A fragmentação e a virtualização das experiências são aspectos de um mundo em que a


dimensão espaço-tempo é relativa e mutável. Neste mundo mutante, provisório, parece
não haver espaço para a continência e elaboração dos desejos. As relações são afetadas
tanto no domínio eu-outro quanto na dimensão do corpo. A intolerância é um traço que
se acentua nas relações contemporâneas e revela uma indisposição para a convivência
com a diferença, uma tendência para juntar-se com aqueles considerados iguais, segundo

80
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

preferências, status social e/ou financeiro, enfim, características mantenedoras da


identidade do grupo. Esta rejeição ao outro reforça atitudes bairristas e preconceituosas.

A preocupação com o corpo extrapola as motivações de um estado saudável em direção


a uma busca incessante de perfeição, pois, exibir um corpo esculpido significa ser aceito,
desejado e invejado pelos outros. A meta de corresponder ao modelo idealizado é fonte
de stress e depressão e, sobretudo, esconde uma recusa de si mesmo, da condição humana
de imperfeição, impermanência e finitude. As exigências e mutações que desenham o
atual habitat humano implicam na produção de novas e diversas formas de ser-agir. A
subjetividade compreendida como as particularidades do sujeito tecidas em sua relação
com o mundo, está permeada pelo contexto bio-sócio-político-econômico-cultural-
tecnológico. Na forma de um fluxo em contínuo devir, a subjetividade desenha diferentes
e criativas paisagens que já não correspondem a imagem do sujeito moderno, portador de
uma essência naturalmente estática (Najmanovich, 1998; Rolnik, 1997).

A multiplicidade de interações, retroações e reorganizações que constituem o humano e


sua subjetividade não podem ser abordadas dentro de um referencial linear. O pensamento
complexo é o exercício de uma razão que dialoga com a multidimensionalidade do
humano, enquanto ser bio-antropo-psico-social e com as relações que compõem o real,
incluindo o continuum ordem-desordem (Morin, 1982/1996).

A complexidade, ao favorecer o trânsito entre diversos discursos e racionalidades,


possibilita uma visão mais flexível e abrangente sobre o universo humano e sua psiquê.
A ideia de complexidade anuncia uma noção de sujeito diversa da representação clássica,
pois em lugar de uma essência cristalizada afirma o caráter dinâmico, relacional,
dialógico que funda o ser vivo em sua dimensão ontológica.

Adotar o pensamento complexo no exercício da prática psicológica não reflete


apenas a redimensão das ferramentas clínicas, mas traduz sobretudo um
reposicionamento filosófico e existencial. Lidar com o real a partir deste outro olhar
requer modificações nos operadores cognitivos humanos que auxiliem a pensar o mundo
em termos de conexões e não de eventos isolados.

81
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

O princípio hologramático de que o todo está as partes e vice-versa, implica na diluição


de dicotomias como, por exemplo, a separação homem versus sociedade, já que o homem
está na sociedade que, por sua vez, está no homem através da linguagem e da cultura, em
estreita relação. O mesmo pode ser aplicado a distinções como corpo x mente, entre
outras. Neste caso a compreensão de qualquer evento passa por um movimento circular
das partes para o todo e vice-versa, rompendo com a lógica linear de causalidade (Morin,
1982/1996).

O princípio dialógico refere-se à relação entre elementos discordantes, considerando seu


aspecto complementar; “quer dizer que duas lógicas, dois princípios, estão unidos sem
que a dualidade se perca nessa unidade” (Morin, 1982/1996, p. 189). Assim, se for
substituído o mecanismo de exclusão do ou-ou pela inclusão e diálogo, sem eliminar as
diferenças:

“A partir daí, podemos assumir, mas com plena consciência, o destino


antropológico do homo sapiens-demens, que implica nunca cessar de fazer dialogar em
nós mesmos sabedoria e loucura, ousadia e prudência, economia e gasto, temperança e
“consumação”, desprendimento e apego” (Morin, 1997/1998, p.11).

A compreensão do ser vivo como um sistema traz um dado curioso. Os humanos se


constituem enquanto sistemas abertos ao meio, vivem uma relação de dependência para
sobreviver, pois precisam de energia, de alimento, de relações humanas, ao mesmo tempo
se comportam como sistemas fechados, autônomos, pela necessidade de manterem sua
individualidade, organização interna. Assim, existem simultaneamente como seres
autonômos/dependentes, o que aparentemente soa como um paradoxo, é a condição
natural da existência humana (Morin, 1982/1996).

Percebe-se, portanto, que na natureza as relações incluem uma espécie de dança


harmoniosa entre a ordem e a desordem, padrões e imprevisibilidade; a incerteza e o acaso
são elementos constituintes da organização natural. O pensamento complexo propõe uma
forma de lidar com os fenômenos sem excluir estes aspectos, exercendo uma razão que
opere em termos sistêmicos e dialógicos.

82
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Outra noção fundamental é a de auto-organização. A auto-organização é considerada


como característica dos fenômenos vivos, processo de desorganização e de permanente
reorganização, nos quais a presença da desordem é aceita, impulsionando uma nova
ordem, uma nova organização, mantenedora da vida:

“A reorganização permanente e a autopoiese constituem categorias aplicáveis a


toda ordem biológica e, a fortiori, à ordem sociológica humana. Uma célula está em
autoprodução permanente por meio da morte de suas moléculas. Um organismo está em
autoprodução permanente por meio da morte de suas células; uma sociedade está em
autoprodução permanente por meio da morte seus indivíduos; ela se reorganiza
incessantemente por meio de desordens, antagonismos, conflitos, que minam sua
existência e, ao mesmo tempo, mantêm sua vitalidade (Morin, 1982/1996, p.300).

A auto-organização inclui a dependência em relação ao meio externo, o que implica numa


relação íntima entre o homem e o ecossistema, gerando uma auto-eco-organização. Pode-
se então, estender o alcance das atitudes humanas para o ecossistema e vice-versa, bem
como vislumbrar a complexidade como aspecto constituinte do ser humano.

Dentro da perspectiva da pós-modernidade, o mundo é menos ordenado e previsível do


que aquele retratado pela modernidade. O ideal da verdade, dos princípios gerais e leis
sobre a natureza humana é rejeitado em nome da legitimidade do pluralismo. Isto
significa que diferentes teorias podem ser consideradas verdadeiras e respeitadas
em seu convívio (Messer & Wachtel, 1999).

Assim, o número crescente de abordagens psicoterapêuticas nos últimos anos, pode ser
tornar esta diversidade um campo de elementos incomunicáveis e competitivos entre si,
como ranço da modernidade. Tanto quanto, podem co existir independentemente,
passarem a inter dependentes entre si. No entanto, existe uma contradição no interior deste
campo, pois de um lado tem-se sociedades, institutos, centros e revistas relacionados à
uma abordagem psicoterapêutica particular, e de outro a maioria dos psicoterapeutas não
se identificam como aderindo a uma abordagem particular, mas referem-se a si mesmos
como ecléticos ou integrativos (Garfield & Kurtz; Norcross e Prochaska; conforme citado
por Arkowitz, 1997).

83
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

A integração em psicoterapia significa um esforço para olhar além das fronteiras


que demarcam as diferentes abordagens na tentativa de observar o que pode ser
aprendido de outras perspectivas. Diferente do ecletismo que pode ser usado para
denotar uma abordagem essencialmente pragmática, na qual o terapeuta utiliza qualquer
técnica que acredita ser eficaz, com pouca ou nenhuma compreensão teórica que guia sua
escolha (Arkowitz, 1997).

Se conduzida apenas por um raciocínio linear e causal, a integração das abordagens


psicológicas corre o risco de produzir sínteses reducionistas que ao invés de favorecerem
o enriquecimento teórico e o permanente diálogo, concorrerão para a construção de meta
discursos. Pensa-se que esta tentativa de integrar diferentes abordagens pode ser
fecunda desde que apoiada numa racionalidade complexa, guiada pelo
reconhecimento da complementariedade existente nestas diferenças, mas também
pelo reconhecimento dos limites de cada proposta.

Em termos de psicoterapias, o primeiro esforço para integração de abordagens


ocorreu em 1932, no encontro da American Psychiatric Association, em que French
traçou paralelos entre a psicanálise e o condicionamento Pavloviano, ressaltando
similaridades entre a repressão e a extinção (Goldfried & Newman, 1992).

O desenvolvimento da integração em psicoterapia caracteriza-se como um fenômeno


crescente e de fundamental importância no debate contemporâneo da psicologia clínica.
De acordo com Arkowitz (1997), em 1988, London e Palmer sugerem que o
desenvolvimento da integração em psicoterapia pode estar relacionado à crescente
interação entre profissionais de diferentes orientações em clínicas especializadas para o
tratamento de desordens específicas.

O desenvolvimento de uma rede profissional chamada Society for the Exploration of


Psychotherapy Integration (SEPI) tem sido consequência e causa de interesse no
fenômeno da integração. As perspectivas integrativas têm aberto novos caminhos para
teoria, prática e pesquisa em psicoterapia, porém ainda estão longe de constituir uma
teoria. Atualmente existem três direções que compõem o campo da abordagem
integrativa: a integração teórica, os fatores comuns e o ecletismo técnico.

84
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Bibliografia:

Aich, T. (2013). Buddha philosophy and western psychology. Indian Journal of


Psychiatry. V. 55, N 6. 165 páginas.
Almeida Filho, N.; Rouquayrol, M.Z. (2002) Modelos de saúde-doença: introdução à
epidemiologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Medsi Ed. 2002, p. 27-64.
Arkowitz, H. (1997). Integrative theories of therapy. In: Watchel, P. L. & Messer, S.B.
(Orgs.), Theories of Psychotherapy: Origins and evolution (pp.227-288). Washington,
DC : American Psychological Association.
Atkinson, R. C. and Shiffrin, R. M. (1968). Human memory: a proposed system and its
control processes. In: K. W. Spence and J.T. Spence (ed.) The psychology of learning and
motivation: advances in research and theory, vol. 2, pp. 89–195. New York: Academic
Press.
Ayer, A. J. (1936). Language, truth and logic. London: Gollacz.
Baddeley, A. D. (1960). Enhanced learning of a position habit with secondary
reinforcement for the wrong response. American Journal of Psychology v.73, pp: 454–7.
Baddeley, A. D. (2007). Working memory: thought and action. Oxford: Oxford
University Press.
Baddeley, A. D. and Hitch, G. J. (1974). Working memory. In: G. A. Bower (ed.) Recent
advances in learning and motivation, vol. 8, pp. 47–89. New York: Academic Press.
Baddeley, A. D. and Hitch, G. J. (2007). Working memory: past, present…and future?
In: N. Osaka, R. Logie & M. D'Esposito (ed.) Working memory – behavioural & neural
correlates (the cognitive neuroscience of working memory) pp. 1–20. Oxford: Oxford
University Press.
Baker, D. B. (2012). The Oxford Handbook of the History of Psychology: Global
Perspectives (em inglês). Oxford University Press, USA.
Baker, D. B., Sperry, H. (2022). History of psychology. In: Biswas-Diener, R., Diener,
E. (Eds), Noba textbook series: Psychology. Champaign, IL: DEF publishers.
Bandura A. (1978) Modelling approaches to the modification of phobic disorders. In The
Role qf‘learning in Psychotherapy (Edited by Porter D.). Churchill, London.
Barros, J.A.C. (2002) Pensando o processo saúde doença: a que corresponde o modelo
biomédico? Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v.11 n.1, p. 1-11, jan-julh.
Beckstrand, P. E. (1973) T.A. as a means of teaching writing in high school. Transact.
Analysis J. 3, 161-163.
Benjamin, L. T. (2000). The psychology laboratory at the turn of the 20th
century. American Psychologist, 55, 318–321.
Benjamin, L. T.; Baker, D. B. (2004). From séance to science: A history of the profession
of psychology in America. Belmont, CA: Wadsworth/Thomson Learning.

85
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Benjamin, L. T. (2007). A brief history of modern psychology. Malden, MA: Blackwell


Publishing.
Bergin A. E. and Lambert M. J. (1978) The evaluation of therapeutic outcomes. In
Handbook of Psychotherapy and Behavior Change: An Empirical Analysis (Edited by
Garfield S. L. and Bergin A. E.). Wiley, New York.
Bitterman, M. E. (1957). Review of K. W. Spence's behavior theory and
conditioning. American Journal of Psychology v.70, pp: 141–5.
Burman, J. T. (2018-01). What Is History of Psychology? Network Analysis of Journal
Citation Reports, 2009-2015. SAGE Open. V. 8 n. 1.
Buss, P. (2000) Promoção de saúde e qualidade de vida. Revista Ciência e Saúde
Coletiva. V.5, n.1, p163-177.
Braithwaite, R. B. (1953). Scientific explanation. Cambridge: Cambridge University
Press.
Brasil, Constituição de 1998 (1998) Constituição da República Federativa do Brasil de
1998. Brasília: Congresso Nacional, 1998. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7aoao.htmAcesso em
julho, 2022.
Bringmann, W. G.; Tweney, R. D. (Eds.) (1980). Wundt studies. Toronto: Hogrefe.
Broadbent, D. E. (1958). Perception and communication. London: Pergamon Press.
Brunswik, E. (1947). Perception and the representative design of psychological
experiments. Berkeley: University of California Press.
Capra, F. (1982) O ponto de mutação. São Paulo: Cultura.
Casini, L. (2017). Zalta, Edward N., Ed. Juan Luis Vives [Joannes Ludovicus Vives]».
Metaphy sics Research Lab, Stanford University.
Casini, L. (2012). Juan Luis Vives and Early Modern Psychology: A Critical
Reappraisal. In Bakker, Paul J. J. M.; Boer, Sander W. de; Leijenhorst, Cees
(2012). Psychology and the Other Disciplines: A Case of Cross-Disciplinary Interaction
(1250-1750).
Castellanos, P.L. (1990) Sobre o conceito de saúde-doença: descrição e explicação da
situação da saúde. Boletim epidemiológico da Organização Pan Americana de Saúde,
v.10, n.4, p. 25-32.
Cautin, R., Baker, D. B. (2022). A history of education and training in professional
psychology. In B. Johnson & N. Kaslow (Eds.), Oxford handbook of education and
training in professional psychology. New York, NY: Oxford University Press.
Chomsky, N. (1959). Review of B F Skinner's ‘Verbal Behavior’. Language v. 35, pp:
26–58.
Cooper J. E. (1963) A study of behaviour therapy in thirty psychiatric patients. Lancet
v.1, pp: 411-415.

86
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Craik, K. J. W. (1943). The nature of explanation. Cambridge: Cambridge University


Press.
Craik, K. J. W. and Vince, M. A. (1963). Psychological and physiological aspects of
control mechanisms. Ergonomics v.6, pp: 419–40.
Davis, R., Sutherland, N. S., and Judd, B. R. (1961). Information content in recognition
and recall. Journal of Experimental Psychology v. 61, pp: 422–9.
Ellenberger, H. (1970). The Discovery of the Unconscious: The History and Evolution
of Dynamic Psychiatry. New York: Basic Books.
Eysenck, H. (1986). Decline and Fall of the Freudian Empire. Harmondsworth: Penguin
Books. p. 33.
Eysenck, H. J. (1952). The Effects of Psychotherapy: An Evaluation. Journal of
Consulting Psychology. V. 16, N. 5, pp: 319-324.
Eysenck H. J. (1963) Behaviour therapy, spontaneous remission and transference in
neurotics. Am. J. Psychiat. 119, 867-871.
Eysenck, H.J.; Arnold, W.; Meilli, R. (1972). Encyclopedia of Psychology (in 3 vols.).
Nova York, Herder.
Eysenck H. J. (1978) An exercise in meta-silliness. Am. Psychol. 33, 517.
Eysenck H. J. (1980) A unified theory of psychotherapy, behaviour therapy and
spontaneous remission, Z. Psychol. 188, 43-56. (Reprinted in H. J. Eysenck (1982)
Personality, Genetics and Behavior. Praeger, New York.)
Fancher, R. E. (1987). The intelligence men: Makers of the IQ controversy. New York,
NY: W.W. Norton & Company.
Fancher, R. E., & Rutherford, A. (2011). Pioneers of psychology: A history (4th ed.). New
York, NY: W.W. Norton & Company.
Frank J. (1979) The present status of outcome studies. J. consult. clin. Psychol. V.47,
pp:310-316.
Fernández, JR e Pérez, M. (2001). Separando a palha da palha em tratamentos
psicológicos. Psicothema Vol. 13 (3), 337-344.
Fitts, P. M. (1954). The information capacity of the human motor system in controlling
the amplitude of movement. Journal of Experimental Psychology v. 47, pp: 381–91.
França, E. F. (1973) [1854]. Investigações de Psicologia (PDF) 2ª ed. ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo. Editorial Grijalbo Ltda.
Foucault, M, (1979) A microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal.
Freeman, W. (2008) Nonlinear brain dynamics and intention according to Aquinas. Mind
and Matter, v. 6, n.2, p: 207-234.
Gallo P. S. (1978) Meta-analysis-A mixed meta-phor? Am. Psychol. 33, 515-517
(Comment).

87
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Garnets, L., & Kimmel, D. C. (2003). What a light it shed: The life of Evelyn Hooker. In
L. Garnets & D. C. Kimmel (Eds.), Psychological perspectives on gay, lesbian, and
bisexual experiences (2nd ed., pp. 31–49). New York, NY: Columbia University Press.
Gelder M. G., Bancroft J., Gath D., Johnston D. W. Mathews A, M. and Shaw P. M.
(1973) Specific and non-specific factors in behaviour therapy. Br. J. Psychiat. 123,
445462.
Germano, D. F.; Waldron, W. S. A Comparison of Alaya-Vijñana. In: Yogacara and
Dzogchen Nauriyal, (2006) D. K. Drummond, Michael S. Lal, Y. B. Buddhist Thought
and Applied Psychological Research: Transcending the Boundaries. London and New
York: Routledge. 2006, pp. 36–68.
Germano, D. F. (1992). Poetic thought, the intelligent Universe, and the mystery of self:
The Tantric synthesis of rDzogs Chen in fourteenth century Tibet. Madison: The
University of Wisconsin.
Gibson, J. J. (1950). The perception of the visual world. Boston, MA: Houghton Mifflin.
Glass G. V. (1972) The wisdom of scientific inquiry on education. J. Res. Sci. Teach. V.
9, pp: 3-18.
Goldfried, M.R.; Newman, C.F. (1992). A history of psychotherapy integration. In:
Norcross, J.C. & Goldfried, M.R. (Orgs.), Handbook of psychotherapy integration
(pp.46-93). New York, NY: Basic Books.
Goodwin, C. J. (1985). On the origins of Titchener’s experimentalists. Journal of the
History of the Behavioral Sciences, v. 21, pp: 383–389.
Goodwin, C. J. (2010). História da Psicologia moderna. São Paulo: Cultrix. p. pág 194
González-Blanch, C.; Carral-Fernández, L. (2017). Gaiola Dodô, por favor! A história
de que todas as psicoterapias são igualmente eficazes. Papéis do psicólogo, V. 38, N. 2,
pp: 94-106.
Guthrie, R. V. (2003). Even the rat was white: A historical view of psychology (2nd ed.).
Boston, MA: Allyn & Bacon
Hammond, K. R. (2007). Beyond rationality. Oxford: Oxford University Press.
Haque, A. (2004) Psychology from Islamic Perspective: Contributions of Early Muslim
Scholars and Challenges to Contemporary Muslim Psychologists. Journal of Religion and
Health.
Hays, J. (2019). Mahayana Buddhism versus Theravada Buddhism | Facts and
Details. Disponível em: https://factsanddetails.com/asian/cat64/sub416/entry-5587.html
(em inglês). Consultado em julho de 2022.
Heidbreder, E. (1933). Seven psicologies. New York: Century
Herzslich, C., (2004) Saúde e doença no início do século XXI: entre a experiência privada
e a esfera pública. Physis: revista de saúde coletiva. Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 383-
394.

88
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Hick, W. E. (1952). On the rate of gain of information. Quarterly Journal of Experimental


Psychology v.4, pp: 11–26.
Hilgard, E. R. (1948). Theories of learning. New York: Appleton-Century-Crofts.
Higgins, L. T.; Zheng, Mo (2014) An Introduction to Chinese Psychology--Its Historical
Roots until the Present Day. The Journal of Psychology, V. 136, N. 2, March 2002, pp.
225-39.
Hothersall, D. (1990). History of psychology. New York: McGraw-Hill
Jacó-Vilela, A. M. F., Leal, A. A., Portugal, F. (2005) História da Psicologia: rumos e
percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora.
Hull, C. L. (1943). The principles of behaviour. New York: Appleton-Century.
Jung, C.G. ([1959] 1969). The Archetypes and the Collective Unconscious, Collected
Works, Volume 9, Part 1, Princeton, N.J.: Princeton University Press.
Kazdin A. E. and Wilson G. T. (1978) Evaluation of Behaviour Therapy: Issues, Evidence
and Research Strategies. Ballinger, Cambridge, Massachusetts.
Khaleefa, O. (Summer 1999). Who Is the Founder of Psychophysics and Experimental
Psychology?, American Journal of Islamic Social Sciences, v. 16, n. 2.
Katona, G. (1940). Organizing and memorizing: studies in the psychology of learning
and teaching. New York: Hafner.
Koffka, K. (1935). Principles of Gestalt psychology. New York: Harcourt, Brace &
World.
Köhler, W. (1925). Mentality of apes (trans. E. Winter). London: Routledge & Kegan
Paul.
Köhler, W. (1940). Dynamics in psychology. New York: Liveright.
Lambert, M.J. (1992). Implicações da pesquisa de resultados para a integração da
psicoterapia. Em Norcross J.C.; Goldfried, M.C. (Eds.). Manual de integração da
psicoterapia (pp. 94-129). N,ova York: Livros Básicos.
Landman, J. T.; Dawes, R. M. (1982) Psychotherapy outcome. Am. Psychol. V. 37, pp:
504-516.
Lashley, K. S., Chow, K. L., and Semmes, J. (1951). An examination of the electrical
field theory of cerebral integration. Psychological Review v. 58, pp: 123–36.
Lewin, K. (1951). Field theory in social science. New York: Harper.
Luborsky, L.; Singer, B.; Luborsky, L. (1975) Comparative studies of psychotherapies:
is it true that “everyone has won and all must have prizes”? Archs Gen. Psychiaf. 32,
995-1008.
McGrath, S. J. (2010). Schelling on the Unconscious». Research in Phenomenology. V.
40.
Manfield, R. S.; Busse, T. V. (1977) Meta-analysis of research: a rejoinder to Glass.
Educ. Res. 6, 3
89
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Meltzoff, J.; Kornreich M. (1970) Research in Psychotherapy. Atherton, New York.


Messer, S.B.; Watchel, P.L. (1999). The contemporary psychotherapeutic landscape:
Issues and prospects (pp.1-38). In: Messer, S.B.; Watchel, P. L. (Orgs.) Theories of
psychotherapy: Evolution and current status, Washington, DC: APA Books.
Miller, G. A. (1956). The magical number seven, plus or minus two: some limits on our
capacity for processing information. Psychological Review v. 63, pp: 81–97.
Miranda, R. L. (2013) Resenha: História da Psicologia: (re)pensando objetos, métodos e
discursos. Rio de Janeiro: Estudos e Pesquisas em Psicologia, vol. 13, nº 2, 2013.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812013000200019, acesso em julho. 2022.
Morin, E. (1996). Ciência com consciência. (M.D. Alexandre & M.A.S. Dória, Trads.)
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil (Trabalho original publicado em 1982).
Morin, E. (1998). Amor, poesia, sabedoria. (E. de A Carvalho, Trad.) Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil (Trabalho original publicado em 1997).
Muhammad, Iqbal. The Reconstruction of Religious Thought in Islam, "The Spirit of
Muslim Culture" (2022) Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Muhammad_Iqbal
Acessado em julho/2022.
Najmanovich, D. (1998). Novos sofrimentos psíquicos? Cadernos de Subjetividade v. 4,
pp: 67-82.
Neisser, U. (1967). Cognitive psychology. New York: Appleton-Century Crofts.
Nicholls, A.; Liebscher, M. (2010). Thinking the Unconscious: Nineteenth-Century
German Thought [S.l.]: Cambridge University PressOrganização Pan Americana de
Saúde, (1991) Carta de Ottawa 1986. In: Brasil. Ministério da Saúde. Promoção de Saúde:
Cartas de Otawa, Adelaide, Sunswall e Santa Fé de Bogotá, Brasília.
Norcross, J.C.; Goldfried, M.R. (Orgs.) Handbook of psychotherapy integration. New
York, NY: Basic Books.
Osgood, C. E. (1953). Method and theory in experimental psychology. New York: Oxford
University Press.
Paladin, A. V. (1998). Ethics and neurology in the Islamic world: Continuity and
change, Italian Journal of Neurological Science v. 19, n. 257 Springer-Verlag, pp: 255-
258.
Paludo, S. (2022). Construção histórica da Psicologia como ciência. Disponível
em: http://sabercom.furg.br/bitstream/123456789/134/3/M_dulo_2_Constru_o_hist_rica
_da_Psicologia_como_ci_ncia.pdf, acesso em 02 fev. 2022.
Penna, A. G. (1992). História da psicologia no Rio de Janeiro. RJ.: Imagno
Rachman, S. (1971) The Effects of Psychology. Pergamon Press. Oxford.
Rachman, S. J., Hodgson R. J. (1980) Obssessions and Compulsions. Prentice-Hall,
Englewood Cliffs, New Jersey.

90
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Rachman, S. Wilson, G. T. (1980) The Effects of Psycholical Therapy. Pergamon Press,


New York.
Ribeiro, J.P. (1985). Gestalt terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus.
Rolnik, S. (1997). Psicologia: subjetividade, ética e cultura. In: Lancetti, A. (Org.),
Saúde loucura - subjetividade (pp.13-21), São Paulo: Editora Hucitec.
Rouquayrol, M.Z. (1993) Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi.
Ryle, G. (1959). The concept of mind. London: Hutchison.
Safavi-Abbasi, S. LBC Brasiliense, RK Workman (2007), The fate of medical knowledge
and the neurosciences during the time of Genghis Khan and the Mongolian
Empire. Neurosurgical Focus, V. 23, n. 1, E13, p. 3.
Schank, R. C.; Abelson, R. (1977). Scripts, plans, goals and understanding. Hillsdale,
NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
Shannon, C. E.; Weaver, W. (1949). The mathematical theory of communication. Urbana,
IL: University of Illinois Press.
Sheldon A. (1964) An evaluation of psychiatric after-care. Br. J. P.ychicrt. 110, 662-667.
SIIII~~ ‘Ll 1. and Glass G. V. (1977) Metanalysis of psychotherapy outcome studies.
Am. Psychol. 32, 752-760. M’cr-ihu~mc~- M. (1978) llumanistic psychology and the
humane but tough-minded psychologist. Am. Psychol. 33, 739-745
Sheldon A. (lYh4) An evaluation of psychiatric after-care. Br. J. P.ychicrt. 110, 662-667.
Smith, M.L.; Glass, G. V. (1977) Metanalysis of psychotherapy outcome studies. Am.
Psychol. 32, 752-760.
Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts. Spence, K.
W. (1956). Behavior theory and conditioning. New Haven: Yale University Press.
Sperling, G. (1960).The information available in brief visual
presentations. Psychological Monographs: General and Applied v.74, pp: 1–29.
Sternberg, S. (1966). High-speed scanning in human memory. Science v. 153, pp: 652–
4.
Tolman, E. C. (1932). Purposive behavior in animals and men. New York: Century.
Toulmin, S. (1953). An introduction to the philosophy of science. London: Longmans,
Green.
Turvey, M. T., Shaw, R. E., Reed, E. S., and Mace, W. M. (1981). Ecological laws of
perceiving and acting: in reply to Fodor and Pylyshyn. Cognition v.9, pp: 237–304.
Scarborough, E., Furumoto, L. (1987). The untold lives: The first generation of American
women psychologists. New York, NY: Columbia University Press.
Schwarz, K. A., Pfister, R.: Scientific psychology in the 18th century: a historical
rediscovery. In: Perspectives on Psychological Science, Nr. 11, p. 399-407.

91
Profa. Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com

Segall, S. R. (2003). Encountering Buddhism: Western Psychology and Buddhist


Teachings (SUNY series In:Ttranspersonal and humanistic psychology). [S.l.]: State
University of New York Press.
Shapin, S (1975). Phrenological knowledge and the social structure of early nineteenth-
century Edinburgh. Annals of Science. 32 (3): 219–243
Shiah, Y. (2016). From Self to Nonself: The Nonself Theory. Frontiers in
Psychology. V.7.p. 124.
Sokal, M. M. (2001). Practical phrenology as psychological counseling in the 19th-
century United States. In C. D. Green, M. Shore, & T. Teo (Eds.), The transformation of
psychology: Influences of 19th-century philosophy, technology, and natural
science (pp. 21–44). Washington, D.C.: American Psychological Association.
Sutra do Tathagatagarbha em Roda da Lei, traduzido para o português por Rev. Sandro
Vasconcelos (2019).
Suzuki, D. T., 1870-1966. (2000). Studies in the Lankavatara sutra. [S.l.]: Kegan Paul
International.
Van Wyhe, J. (2004). Phrenology and the origins of scientific naturalism. UK: Aldershot,
Hants.
Viney, W.; Wertheimer, M.; Wertheimer, M. L. (1979) History of Psychology: A guide
to information sources. Detroit, Michigan: Gale Research Co., 502 pp.
Walter, W. G. (1953). The living brain . London: Norton.
Watson, F. (1915). The father of modern psychology. Psychological Review. V. 22, N. 5,
pp: 333–353.
Webster, R. Why Freud Was Wrong: Sin, Science and Psychoanalysis.
Weiner, N. (1950). The human use of human beings. Boston: Houghton Mifflin.
Wertheimer, M. (1945). Productive thinking. London: Tavistock.
Wertheimer, M. (1978). Humanistic Psychology and Humane but thought-minded
psychologist. Amercian Psychol. V 33, pp:739-745

92

Você também pode gostar