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Luciana Pucci
psi.lucianapucci@gmail.com
APOSTILA 1
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Profa. Luciana Pucci
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2022
Sumário
1. Introdução 2
2. Paradigma adoecimento e intervenção e promoção de saúde e bem estar 5
2.1. Modelo Mágico Religioso ou Xamanístico 5
2.2. Modelo Holístico 5
2.3. Modelo Empírico-Racional (Hipocrático) 6
2.4. Modelo de Medicina Científica Ocidental: Biomédico 6
2.5. Modelo Sistêmico 8
2.6. Modelo da História Natural das Doenças: Processual 8
2.7. Determinação do Sistema Saúde-Doença 9
3. Histórico de desenvolvimento da psicologia: 5 gerações 12
3.1 Primórdios da Psicologia 13
3.2 1ª Fase da História de Desenvolvimento da Psicologia: emancipação da
psicologia como cátedra 24
no início do século XX 29
e eficácia da psicoterapia 60
Técnico 74
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1. INTRODUÇÃO:
No século XX, uma pessoa nascida em determinada parte do mundo, possivelmente,
passaria toda a sua vida seguindo uma mesma cultura. No final deste século, a
globalização e a revolução tecnológica e de comunicação possibilitou mobilidade para
conhecer, pessoalmente, novos lugares, costumes, crenças e obter novos conhecimentos.
Deste modo, disseminou-se informações sobre outras culturas. O apogeu no acesso a
informações aconteceu com o advento da internet e o início da era digital e virtual. Com
estes recursos a experiência passou a ir além do contato físico e conectou o ser humano
com tudo e com todos sem a necessidade de se sair do lugar.
Isso foi fantástico e permitiu novos acessos, novas vivências que se integraram ao estilo
de vida humano no século XXI. Nas duas últimas décadas, os aparelhos eletrônicos
digitais e inteligentes tornaram-se inerentes ao escopo de relações humanas e o ambiente
virtual passou a ser meio de comercialização de bens e serviços e de interações humanas.
Na atualidade as crianças nascem cercadas por tecnologia e desde o princípio interagem
com elas através de babás eletrônicas, celulares, computadores, tablets, diversos
aparelhos com inteligência artificial em seus lares, nos carros, em lojas, shoppings, nos
momentos de lazer e entretenimento através de televisões, equipamentos de som, home
theather, kits multimídias, gamers interativos, robôs, etc.
Hoje as relações humanas ocorrem em interface virtual e/ou física em toda sua
diversidade de contextos sociais em consequência a pandemia de Covid-19 nos últimos
dois anos. Esta exigiu que as pessoas transpusessem o paradigma de contato pessoal em
suas experiências sociais e elegeu o ambiente virtual como a interface segura de interação
social humana. O que antes era uma vivência complementar e auxiliar de interface, hoje
a interação virtual é o principal meio de comunicação para a maioria dos humanos.
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A visão mágico religiosa sobre saúde e a doença e como cuidar era predominante na
Antiguidade. Os povos da época concebiam as causas das doenças como derivadas tanto
de elementos naturais quanto de espíritos sobrenaturais. O adoecer era concebido como
resultante de transgressões de natureza individual e coletiva, sendo requerido, para reatar
os enlaces com as divindades, processos liderados por sacerdotes, feiticeiros ou xamãs
(Herzslich, 2004). As relações com o mundo natural se baseavam em uma cosmologia
que envolvia deuses e espíritos bons e maus, e a religião, nesse caso, era o ponto de partida
para a compreensão do mundo e de como organizar o cuidado.
A medicina holística teve grandes contribuições de Alcmenos (século V a.C), para quem
o equilíbrio implicava duas forças ou fatores na etiologia da doença. Esse filósofo
partilhava as ideias de Heráclito, para quem os opostos podiam existir em equilíbrio
dinâmico ou sucedendo-se uns aos outros (Herzslich, 2004). A causa do desequilíbrio
estava relacionada ao ambiente físico, tais como: os astros, o clima, os insetos, etc.
De acordo com tal visão, o cuidado deveria compreender o ajuste necessário para
obtenção do equilíbrio do corpo com o ambiente, corpo este entendido como totalidade.
Cuidado, em última instância, significa a busca pela saúde que, neste caso está
relacionada à busco do equilíbrio do corpo com os elementos internos e externos.
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Humores, teoria a qual defendia que os elementos água, fogo, terra e ar estavam
subjacentes à explicação sobre à saúde e a doença (Herzslich, 2004).
O modelo biomédico focou-se, cada vez mais, na explicação da doença e passou a tratar
o corpo em partes cada vez menores, reduzindo a saúde a um funcionamento mecânico
(Barros, 2002).
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Foi também no Renascimento que a explicação para doença começou a ser relacionada
às situações ambientais; a causa das doenças passava a externa num fator externo ao
organismo, e o homem era o receptáculo da doença. Destas elaborações teóricas sobre o
contágio firmou-se a teoria dos miasmas, que foi a primeira proposta de explicação,
dentro dos parâmetros da ciência, da associação entre o surgimento de epidemias e as
condições do ambiente.
O sistema, neste caso, é entendido como “um conjunto de elementos, de tal forma
relacionados, que uma mudança no estado de qualquer elemento provoca mudança no
estado de qualquer elemento provoca mudança no estado dos demais elementos”
(Roberts, 1978 apud Almeida Filho, Rouquayrol, 2002). Ou seja, essa noção de sistema
incorpora a ideia de todo, de contribuição de diferentes elementos do ecossistema no
processo saúde-doença, fazendo assim um contraponto a visão unidimensional e
fragmentária do modelo biomédico.
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O processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis
que envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas
estão interligadas e são consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito,
a determinação do estado de saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve
diversos fatores. Diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do
século XX, que considera como fator único de surgimento de doenças um agente
etiológico – vírus, bactérias, protozoários -, o conceito de saúde-doença estuda os fatores
biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles, pretende obter possíveis
motivações para o surgimento de alguma enfermidade.
O conceito de multicausalidade não exclui a presença de agentes etiológicos numa pessoa
como fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o
psicológico do paciente, seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de
instrução, entre outros. Esses fatores, inclusive, não são estáveis; podem variar com o
passar dos anos, de uma região para outra, de uma etnia para outra.
O processo saúde-doença se configura como um processo dinâmico, complexo e
multidimensional por englobar dimensões biológicas, psicológicas, socio culturais
econômicas, ambientais, políticas, enfim, pode-se identificar uma complexa interrelação
quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades.
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Pelo exposto, o conceito de saúde vem sofrendo mudanças, por ter sido como ”estado de
ausência de doenças”, foi redefinido em 1948, pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como “estado de completo bem estar físico, mental e social”, passando de uma
visão mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-
doença.
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Cabe destacar, que a concepção de promoção de saúde, como apresentado por Buss 2000,
requer uma m maior aproximação e apropriação dos temas relativos aos determinantes de
saúde, visto que ações de promoção visam interferir neles. Esse é um ponto crucial, já
que o planejamento e a implementação de ações de promoção devem ir ao encontro das
necessidades dos grupos sociais, o que vai implicar, muitas vezes, a organização de ações
intersetoriais, com métodos e enfoques apropriados.
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Espera-se que neste 2º capítulo, tenha sido possível compreender os diferentes modelos
explicativos do processo de saúde, doença e cuidado e a conexão destes com as formas
de organização das ações e serviços de saúde para uma dada população no território.
Toda ciência tem sua origem e sua história e é importante conhecê-la para compreender
melhor seu estudo. Este capítulo irá apresentar o histórico de desenvolvimento da
psicologia que é uma ciência muito nova, com a maioria dos avanços acontecendo nos
últimos 150 anos.
No entanto, suas origens remontam à Grécia antiga, entre 400 e 500 anos a.C. A ênfase
era filosófica, com grandes pensadores como Sócrates influenciando Platão, que por sua
vez influenciaram Aristóteles como um estudo acadêmico da mente e do comportamento.
Há também evidências de pensamento psicológico no Egito antigo.
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Os filósofos gregos antigos, de Tales, 550 a.C. até o período romano, desenvolveram uma
teoria elaborada do que chamavam de psuchẽ (psique) da qual a primeira metade de
"psicologia" é derivada, bem como outros termos psicológicos – nous, thumos, logistikon,
etc. Os mais influentes são os relatos de Platão, especialmente,
na República, Pitágoras e Aristóteles, especificamente Peri Psyches, mais conhecido sob
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Walter M. Freeman (2008) propõe que o tomismo é o sistema filosófico que explica a
cognição mais compatível com a neurodinâmica, em um artigo de 2008 na revista Mind
and Matter, intitulado "Dinâmica cerebral não-linear e intenção segundo Aquino".
Na Ásia, a China tinha uma longa história de administração de testes de habilidade como
parte de seu sistema educacional. No século VI d.C., Lin Xie realizou um experimento
inicial, no qual pediu às pessoas que desenhassem um quadrado com uma mão e, ao
mesmo tempo, desenhassem um círculo com a outra, ostensivamente para testar a
vulnerabilidade das pessoas à distração. Alguns afirmaram que esse é o primeiro
experimento psicológico e, portanto, o início da psicologia como ciência experimental.
A Índia também tinha uma teoria elaborada do "self" em seus escritos filosóficos
do Vedanta. As filosofias budistas desenvolveram diversas teorias psicológicas,
formulando interpretações da mente e conceitos como agregados – skandhas, vacuidade
– sunyata, nã-self – anatta, atenção plena e Natureza de Buda e são abordadas atualmente
por teóricos da psicologia humanista e transpessoal.
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Ahmed ibn Sahl al-Balkhi (850–934) foi um dos primeiros, nesta tradição, a discutir
distúrbios relacionados ao corpo e à mente, argumentando que "se a nafs [psique] fica
doente, o corpo também pode não encontrar alegria na vida e, eventualmente, desenvolver
uma doença física". Al-Balkhi reconheceu que o corpo e a alma podem estar saudáveis
ou doentes, ou "equilibrados ou desequilibrados". Ele escreveu que o desequilíbrio do
corpo pode resultar em febre, dores de cabeça e outras doenças corporais, enquanto o
desequilíbrio da alma pode resultar em raiva, ansiedade, tristeza e outros sintomas
relacionados ao nafs. Ele reconheceu dois tipos do que chamamos de depressão: um
causado por razões conhecidas como perda ou fracasso, que podem ser tratadas
psicologicamente; e o outro causado por razões desconhecidas, possivelmente causadas
por razões fisiológicas, que podem ser tratadas através de medicina física.
Ali ibn Sahl Rabban al-Tabari, que desenvolveu al-'ilaj al-nafs (às vezes
traduzido como "psicoterapia");
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Juan Luis Vives (1492-1540) foi chamado por Friedrich Albert Langer de "pai da nova
psicologia empírica" e proposto por Foster Watson como "pai da psicologia moderna",
devido à importância dada em seus escritos às funções mentais e das emoções e o seu
pioneirismo de promover o estudo delas como base da educação e da cura da
alma, mas Lorenzo Cazini critica essa atribuição historiográfica, expondo que a obra de
Vives na verdade estaria dando continuidade ao pensamento filosófico de sua época,
como o dos escolásticos, remetendo a noções de Platão e Aristóteles, assim como
fizeram Francis Bacon e Philip Melanchthon, e que sua contribuição o constituiria mais
justamente como um precursor moderno inicial de interpretações subjetivas da vida
interior, como as dos moralistas franceses, e não da psicologia empírica.
Muitos dos escritos dos antigos teriam sido perdidos se não fosse pelos esforços dos
tradutores cristãos, judeus e persas na Casa da Sabedoria, na Casa do Conhecimento e em
outras instituições da Era de Ouro Islâmica, cujas glosas e comentários foram
posteriormente traduzidos para o latim no século XII. No entanto, não está claro como
essas fontes foram usadas pela primeira vez durante o Renascimento, e sua influência
sobre o que mais tarde emergiria como a disciplina da psicologia é um tópico de debate
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O termo não entrou em uso popular até que o filósofo racionalista alemão, Christian
Wolff (1679-1754) o usou em seus trabalhos Psychologia empirica (1732) e Psychologia
racionalis (1734). Essa distinção entre psicologia empírica e racional foi identificada
na Enciclopédie (1751-1784) de Denis Diderot (1713-1780) e de Jean le Rond
d'Alembert (1717-1783), e popularizada na França por Maine de Biran (1766-1824). Na
Inglaterra, o termo "psicologia" ultrapassou a "filosofia mental" em meados do século
XIX, especialmente na obra de William Hamilton (1788-1856).
A Psicologia inicial era considerada como o estudo da alma (no sentido cristão do
termo). A forma filosófica moderna da psicologia foi fortemente influenciada pelas obras
de René Descartes (1596-1650) e pelos debates que ele gerou, dos quais os mais
relevantes foram as objeções às suas Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641),
publicadas com o texto. Também importantes para o desenvolvimento posterior da
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psicologia foram suas Paixões da Alma (1649) e Tratado sobre o Homem (concluídas em
1632, mas, juntamente com o restante de O Mundo, foram excluídas da publicação depois
que Descartes soube da condenação de Galileu pela Igreja Católica; foi finalmente
publicado postumamente, em 1664).
Embora não tenha sido educado como médico, Descartes fez extensos estudos
anatômicos do coração de touros e foi considerado importante o suficiente para
que William Harvey lhe respondesse. Descartes foi um dos primeiros a apoiar o modelo
de circulação de sangue de Harvey, mas discordou de sua estrutura metafísica para
explicá-lo. Descartes dissecou animais e cadáveres humanos e, como resultado, estava
familiarizado com a pesquisa sobre o fluxo de sangue, levando à conclusão de que o corpo
é um dispositivo complexo capaz de se mover sem a alma, contradizendo assim a
"Doutrina da Alma". O surgimento da psicologia como disciplina médica recebeu um
grande impulso de Thomas Willis, não apenas em sua referência à psicologia (a "Doutrina
da Alma") em termos de função cerebral, mas através de seu detalhado trabalho
anatômico de 1672 e seu tratado De anima brutorum quae hominis vitalis ac sentitive est:
exercitationes duae ("Dois Discursos sobre as Almas dos Brutos" - significando "bestas").
No entanto, Willis reconheceu a influência do rival de Descartes, Pierre Gassendi, como
inspiração para seu trabalho.
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Também foi uma contribuição importante o livro de Friedrich August Rauch (1806-
1841), Psychology: Or, A View of the Human Soul; Incluindo Anthropology (1840), a
primeira exposição inglesa da filosofia hegeliana para um público americano.
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Até meados do século XIX, a psicologia era amplamente considerada como um ramo
da filosofia. Se ela poderia tornar-se uma disciplina científica independente já tinha siso
questionado anteriormente: Immanuel Kant (1724–1804) declarou em seus Fundamentos
Metafísicos das Ciências Naturais (1786) que a psicologia talvez nunca se tornasse uma
ciência natural "adequada" porque seus fenômenos não podem ser quantificados, entre
outros motivos. Kant propôs uma concepção alternativa de uma investigação empírica do
pensamento, sentimento, desejo e ação humanos e lecionou esses tópicos por mais de
vinte anos (1772/73-1795/96). Sua Antropologia de um Ponto de Vista
Pragmático (1798), resultante dessas palestras, parece uma psicologia empírica em
muitos aspectos.
Enquanto isso, diferenças individuais no tempo de reação haviam se tornado uma questão
crítica no campo da astronomia, sob o nome de "equação pessoal". As primeiras pesquisas
de Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) em Königsberg e Adolf Hirsch levaram ao
desenvolvimento de um cronoscópio altamente preciso de Matthäus Hipp que, por sua
vez, foi baseado no design de Charles Wheatstone para um dispositivo que media a
velocidade de projéteis de artilharia (Edgell e Symes, 1906). Outros instrumentos
temporais foram emprestados da fisiologia (por exemplo, o quimógrafo de Carl Ludwig)
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Em 1864, Wundt assumiu o cargo de professor em Zurique, onde publicou seu livro de
referência, Grundzüge der Physiologischen Psychologie (Princípios da Psicologia
Fisiológica, 1874). Mudando para uma cátedra de maior prestígio em Leipzig em 1875,
Wundt fundou um laboratório especificamente dedicado à pesquisa original em
psicologia experimental em 1879, o primeiro laboratório do gênero no mundo.
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Dentre os importantes alunos norte americanos de Wundt, Stanley Hall abriu o primeiro
laboratório experimental de Psicologia nos EUA, na Universidade Johns Hopkins, em
1883. Em 1888, James Cattell tornou-se o primeiro a receber o título de "Professor de
Psicologia". Em 1887, Stanley Hall iniciou o American Journal of Psychology e, em
1892, fundou a Associação Americana de Psicologia, a primeira de seu género no mundo,
na qual ele serviu como seu primeiro Presidente. Seguiram-se a criação das escolas de
Psicologia.
As ideias do norte-americano Carl Rogers (1902-1987) para a educação são uma extensão
da teoria que desenvolveu como psicólogo. Nos dois campos sua contribuição foi muito
original, opondo-se às concepções e práticas dominantes nos consultórios e nas escolas.
A psicoterapia rogeriana se define como não-diretiva e centrada no cliente, palavra que
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Rogers preferia a paciente, porque cabe a ele a responsabilidade pela condução e pelo
sucesso do tratamento. Para Rogers, o psicoterapeuta apenas facilita o processo. Em seu
ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do psicoterapeuta e o do aluno ao
do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é facilitar o aprendizado, que o aluno
conduz a seu modo. A psicoterapia centrada no cliente é a perspectiva de Carl Rogers e é
um dos exemplos mais clássicos da abordagem humanista. Usa técnicas não diretivas
como a escuta ativa, empatia, congruência e aceitação incondicional. A empatia sincera é
necessária para as pessoas se sentirem aceitas e compreendidas e para permitir o
crescimento.
Em 1909, Freud e Jung visitam a Clark University, nos Estados Unidos, em um Simpósio
organizado por Stanley Hall, a única apresentação de Freud nos Estados Unidos. Em
1913, John Watson publica "Psychology like Behaviour", em que lança as bases do
behaviorismo, focalizando o comportamento observável e mensurável. Em 1917, testes
padronizados de Inteligência e Aptidão são aplicados a dois milhões de soldados durante
a Primeira Guerra Mundial.
Em 1920, Francis Cecil Sumner se torna o primeiro Afro-Americano a obter seu PhD em
Psicologia, orientado por Stanley Hall, na Clark University. Nesse mesmo ano, Jean
Piaget publica "O Conceito de Mundo da Criança", promovendo o estudo da cognição na
criança em desenvolvimento. E, ainda em 1920, Ivan Pavlov, na Rússia, publica seu
trabalho em condicionamento clássico e, em 1924, recebe o Prêmio Nobel de Fisiologia
ou Medicina. No entanto, Pavlov veio a ocupar importante posição na história da
Psicologia por seu trabalho sobre o reflexo condicionado na psicologia do
comportamento.
Em 1925, Charles Menninger e seus dois filhos fundam a Menninger Clinic, e em 1927
ganham o primeiro Prêmio Nobel para a pesquisa em Psicologia.
Pelo exposto acima, diversas abordagens psicológicas surgiram no fim do século XVIII
e início do século XX, definindo a 1ª fase histórica do desenvolvimento da psicologia que
perdura até a metade deste século, quando inicia-se a 2ª fase do desenvolvimento histórico
da psicologia.
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Na primeira metade do século XX, o projeto de uma psicologia científica era a questão
fundamental dos psicólogos emancipados quanto cátedra nas universidades da Europa,
Rússia e nos EUA. As discussões e embates metodológicos científicos recaiam sobre a
psicanálise tanto quanto sobre a psicologia fisiológica/experimental norte americana. E a
proposta de uma nova psicologia crescia.
De um lado, a psicanálise, que examina processos mentais que afetam o ego, permitindo,
teoricamente, ao indivíduo compreender-se com maior escolha e consciência e assim
obter um efeito curativo na neurose e, ocasionalmente, na psicose, que Richard von
Krafft-Ebing definiu como "doenças da personalidade".
A psicanálise freudiana foi reconhecida como notável pela ênfase que coloca no curso do
desenvolvimento sexual de um indivíduo na patogênese e seus conceitos tiveram uma
influência forte e duradoura na cultura ocidental, particularmente nas artes. Embora sua
contribuição científica ainda seja motivo de debate, a psicologia freudiana
e junguiana revelou a existência de pensamento compartimentalizado, no qual alguns
comportamentos e pensamentos estão ocultos da consciência - ainda operativo como parte
da personalidade completa. Agendas ocultas, uma má consciência ou um sentimento de
culpa são exemplos da existência de processos mentais nos quais o indivíduo não está
consciente, por escolha ou falta de entendimento, de alguns aspectos de sua personalidade
e comportamento subsequente.
distorcer a técnica terapêutica que ele praticava na França e plagiar o nome de sua teoria,
que ele já antes chamava de "análise psicológica" (analyse psychologique). Inicialmente
colaboradores ou apoiadores, Breuer, Eugen Bleuler e Auguste Forel e seus discípulos,
incluindo Oskar Vogt e Ludwig Frank, repudiaram o distanciamento de Freud das
práticas pioneiras de um método verificável não dogmático. Forel era chefe no
Hospital Burghölzli, que servia, inicialmente, de instituto psiquiátrico para a realização
de pesquisa psicanalítica autorizada e que foi dirigido posteriormente por Bleuler e Jung.
Forel, Vogt e Frank fundaram em 1909 a Sociedade de Psicologia Médica e Psicoterapia,
com intuito de coordenar a psicoterapia científica e ser aberta a todas as teorias:
convidando para ingressar na sociedade, todos os representantes das escolas de psicologia
da época, incluindo Jung e Freud. O primeiro presidente foi Fulgence Raymond. Em
1913, uma conferência de psiquiatria de Breslau, estabeleceu-se repúdio às explicações
de Freud, sendo declarado, em consenso entre psiquiatras e psicólogos alemães,
incluindo Emil Kraepelin e Wilhelm Stern, rejeitada a cientificidade das inovações
freudianas e alegado originalidade da análise psicoterapêutica, atribuindo a criação desta
a Janet.
Buscando um círculo fechado que o afastasse das críticas científicas e afirmasse sua
teoria, junto com a internacionalização de sua divulgação, Freud fundou, em 1910,
a Associação Psicanalítica Internacional , inspirado também por Ernest
Jones, Jung e Ferenczi. Destacam-se como sucessores teóricos Anna Freud (sua filha)
e Melane Klein, particularmente na psicanálise de crianças, ambas inaugurando conceitos
que competiam; além daqueles que vieram a se tornar dissidentes e desenvolveram
interpretações diferentes da psicanalítica freudiana, passando a ser chamados neo
freudianos; os principais sendo Alfred Adler (psicologia individual), Carl G. Jung
(psicologia analítica), Otto Rank, Karen Horney, Erik Erikson e Erich Fromm.
Jung era um associado de Freud que mais tarde rompeu com ele por causa da ênfase de
Freud na sexualidade. Trabalhando com conceitos do inconsciente observados pela
primeira vez durante o século XIX (por John Stuart Mill, Krafft-Ebing, Pierre
Janet, Théodore Flournoy e outros), Jung definiu quatro funções mentais que se
relacionam e definem o ego, o eu consciente:
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3. Intelecto, uma função analítica que compara o evento detectado com todos
os outros conhecidos e fornece classe e categoria, permitindo entender
uma situação dentro de um processo histórico, pessoal ou público;
Jung insistia em uma psicologia empírica na qual as teorias deviam se basear em fatos e
não nas projeções ou expectativas do psicólogo.
De outro lado, a psicologia fisiológica de Wundt também sofria fortes críticas por seus
dissidentes e pelo cientista William James, professor de fisiologia de Harvard.
Em 1878 James foi contratado por Henry Holt para escrever um livro sobre a "nova"
psicologia experimental. Se ele o tivesse escrito rapidamente, teria sido o primeiro livro
em inglês sobre o assunto. Passaram-se doze anos, no entanto, antes que seus dois
volumes, Os Princípios da Psicologia, fossem publicados. Enquanto isso, os livros
didáticos foram publicados por George Trumbull Ladd, de Yale (1887), e James Mark
Baldwin, então, do Lake Forest College (1889).
William James foi um dos fundadores da American Society for Psychical Research em
1885, que estudava fenômenos psíquicos parapsicológicos, antes da criação
da Associação Americana de Psicologia em 1892. James também foi presidente da
sociedade britânica que inspirou a dos Estados Unidos, a Society for Psychical Research,
fundada em 1882, investigando a psicologia e paranormalidade, em tópicos como
mediunidade, dissociação, telepatia e hipnose, que inovou a pesquisa em psicologia,
inventando inovações metodológicas como estudos randomizados e investigações acerca
da psicologia do testemunho ocular, além de estudos empíricos e conceituais com os
mecanismos de dissociação e hipnotismo; seus membros também iniciaram e
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Um dos que sentiram o impacto dos Princípios de James foi John Dewey, então professor
de filosofia da Universidade de Michigan. Com seus colegas juniores, James Hayden
Tufts, que fundou o laboratório de psicologia em Michigan, e George Herbert Mead, e
seu aluno James Rowland Angell, esse grupo começou a reformular a psicologia,
concentrando-se mais fortemente no ambiente social e na atividade da mente e do
comportamento do que a psicologia fisiológica de Wundt e seus seguidores, inspirada na
psicofísica, tinha feito até então. Tufts deixou Michigan para outro cargo júnior na recém-
fundada Universidade de Chicago em 1892. Um ano depois, o filósofo sênior em
Chicago, Charles Strong, renunciou e Tufts recomendou ao presidente da
universidade William Rainey Harper que o cargo fosse oferecido a Dewey. Após
relutância inicial, Dewey foi contratado em 1894. Dewey logo preencheu o departamento
com seus companheiros de Michigan, Mead e Angell. Esses quatro formaram o núcleo
da Escola de Psicologia de Chicago.
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americano e, talvez mais importante, era mais atraente para os curadores universitários
pragmáticos e agências de financiamento privadas.
De outra parte, no mesmo ano, 1874, em que Wilhelm Wundt publicava o segundo
volume da primeira edição de sua Psicologia Fisiológica, Franz Brentano trazia à luz, em
Leipzig, uma obra que marcaria a história da psicologia de modo igualmente crucial:
a Psicologia do ponto de vista empírico.
Para desempenhar tais tarefas, vale dizer, para realizar os estudos dos fenômenos
psíquicos, compreendidos como atos, o psicólogo deveria, na concepção de Brentano,
utilizar a introspecção. Todavia, longe de aceitar como observação interna, o que lhe
parece impossível, concebe-a como percepção interior, fonte primeira e indispensável da
psicologia.
Reconhece ser isto uma limitação da psicologia única ciência para a qual a observação
direta seria inaplicável. Entretanto, essa limitação pode ser até certo ponto compensada
pelo conhecimento indireto dos fenômenos psíquicos de outros indivíduos, uma vez que
os mesmos se manifestam externamente: os estados psíquicos podem, mesmo sem a
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Entende ainda Brentano que a observação de fatos físicos, atos, indicadores indiretos de
fenômenos psíquicos, possibilitaria inferir os estados de uma vida psíquica mais simples
(crianças, cegos de nascimento, animais), assim como de estados psíquicos mórbidos.
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Durante o século XX a questão seria reaberta, mesmo dentro dos limites da psicologia
acadêmica não apenas por intermédio de autores, como R. S. Woodworth (1968), cuja
psicologia dinâmica exprimia uma tendência funcionalista, quanto de behavioristas
libertos da ortodoxia de Watson, à maneira de Tolman (1951). E, em 1973 David Bakan
em seu brilhante estudo sobre a reconstrução da investigação psicológica.
Pelo exposto, os embates científicos entre os primeiros psicólogos abriram espaço para
novas discussões sobre a cientificidade metodológica em psicologia que foram sendo
ocupados por psicólogos insatisfeitos com as duas correntes.
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Os dois homens que serviram como sujeitos de Wertheimer no experimento phi foram
Köhler e Koffka. Köhler era um especialista em acústica física, tendo estudado com o
físico Max Planck (1858–1947), mas havia se formado em psicologia com Carl
Stumpf (1848–1936). Koffka também era aluno de Stumpf, tendo estudado fenômenos de
movimento e aspectos psicológicos do ritmo. Em 1917, Köhler (1917/1925) publicou os
resultados de quatro anos de pesquisa sobre aprendizado em chimpanzés. Köhler mostrou,
contrariamente às alegações da maioria dos outros teóricos da aprendizagem, que os
animais podem aprender por "súbita percepção" da "estrutura" de um problema, além da
maneira associativa e incremental de aprendizagem que Ivan Pavlov (1849–1936)
e Edward Lee Thorndike (1874–1949) havia demonstrado com cães e gatos,
respectivamente.
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Em 1933, o Nazismo inicia uma perseguição aos Psicólogos, e muitos dentre eles acabam
se mudando para a Inglaterra ou para os Estados Unidos. Em 1935, surgem os "Alcoólicos
Anônimos" e a Gestalt Terapia é fundada por Kurt Koffka; em 1936, a primeira lobotomia
é realizada, embora vista como controversa; em 1937, Karen Horney publica "A
Personalidade Neurótica do Nosso Tempo", questionando as teorias de Freud; e, em 1938,
Skinner publica "O Comportamento dos Organismos", introduzindo o conceito de
condicionamento operante, no mesmo ano em que Anna Freud publica "O Tratamento
Psicanalítico de Crianças".
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Diz-se frequentemente que o debate de pensamento sem imagem foi fundamental para
minar a legitimidade de todos os métodos introspectivos da psicologia experimental e,
finalmente, para provocar a revolução comportamental na psicologia americana. Não
ficou sem seu próprio legado atrasado, no entanto. Herbert A. Simon (1981) cita o
trabalho de um psicólogo de Würzburg em particular, Otto Selz (1881-1943), por tê-lo
inspirado a desenvolver seus famosos algoritmos de computador para solução de
problemas, como Logic Theorist e General Problem Solver, e seu método "pensar em voz
alta" para análise de protocolo. Além disso, Karl Popper estudou psicologia sob Bühler e
Selz e parece ter trazido parte de sua influência, não atribuída, à sua filosofia da ciência.
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chefe do departamento e editor dos diários de Baldwin. Ele decidiu usar essas ferramentas
poderosas para revolucionar a psicologia à imagem de sua própria pesquisa.
Em 1913, ele publicou na Psychological Review o artigo que costuma ser chamado de
"manifesto" do movimento behaviorista, "A psicologia como o behaviorista o vê". Nele,
ele argumentou que a psicologia "é um ramo experimental puramente objetivo da ciência
natural", "a introspecção não faz parte essencial de seus métodos ..." e "O behaviorista ...
não reconhece nenhuma linha divisória entre homem e bruto". No ano seguinte, 1914, seu
primeiro livro, Behavior, foi publicado. Embora o behaviorismo tenha demorado algum
tempo para ser aceito como uma abordagem abrangente, em grande parte por causa da
intervenção da Primeira Guerra Mundial, na década de 1920, a revolução de Watson já
estava em andamento. O princípio central do behaviorismo inicial era que a psicologia
deveria ser uma ciência do comportamento, não da mente, e rejeitar estados mentais
internos, como crenças, desejos ou objetivos. O próprio Watson, no entanto, foi forçado
a sair de Johns Hopkins por escândalo em 1920. Embora ele tenha continuado a publicar
durante a década de 1920, ele acabou se mudando para uma carreira em publicidade.
No fim dos anos 1940, Maslow era reconhecido como um talentoso psicólogo
experimental, mas que devido a seus objetos de pesquisa não convencionais começava a
ser marginalizado pela comunidade acadêmica, tendo por exemplo dificuldades de
publicar seus trabalhos no Journal of the American Psychological Association (APA).
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A partir de 1870, um interesse cada vez maior por abordagens positivistas, materialistas,
evolutivas e determinísticas da psicologia desenvolveu, influenciada, entre outros, pelo
trabalho de Hyppolyte Taine (1828-1893) e Théodule Ribot (1839-1916).
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Vale ressaltar, que em 1918, Jean Piaget (1896–1980) afastou-se de seu treinamento
inicial em história natural e começou o trabalho de pós-doutorado em psicanálise em
Zurique. Em 1919, ele se mudou para Paris para trabalhar no Laboratório Binet-Simon.
No entanto, Binet morreu em 1911 e Simon viveu e trabalhou em Rouen. Sua supervisão,
portanto, veio (indiretamente) de Pierre Janet, antigo rival de Binet e professor do Collège
de France.
O trabalho em Paris era relativamente simples: usar as técnicas estatísticas que aprendeu
como historiador natural, estudando moluscos, para padronizar o teste de inteligência
de Cyril Burt para uso em crianças francesas. No entanto, sem supervisão direta, ele logo
encontrou um remédio para esse trabalho tedioso: explorar por que as crianças cometiam
os erros que cometeram. Aplicando seu treinamento inicial em entrevistas psicanalíticas,
Piaget começou a intervir diretamente com as crianças: "Por que você fez isso?" (etc.)
Foi a partir disso que as ideias formalizadas em sua teoria de estágios posterior surgiram
pela primeira vez.
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Em 1936, Piaget recebeu seu primeiro doutorado honorário em Harvard. Em 1955, foi
fundado o Centro Internacional de Epistemologia Genética: uma colaboração
interdisciplinar de teóricos e cientistas, dedicada ao estudo de tópicos relacionados à
teoria de Piaget. Em 1969, Piaget recebeu o prêmio "contribuições científicas distintas"
da American Psychological Association.
O fim da primeira metade do século XX foi marcada pela 2ª Guerra Mundial na Europa
e a mudança para a América do Norte da grande maioria dos cientistas europeus
sobreviventes da guerra, dentre os quais psicólogos. A psicologia continuou a crescer e
florescer na América que era grande o suficiente para acomodar vários pontos de vista
sobre a natureza da mente e do comportamento.
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A psicologia da Gestalt, no entanto, formou uma parte importante, embora não grande,
do programa da UCL, refletida principalmente nas traduções de livros dos principais
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psicólogos da Gestalt, como Koffka (1935), Köhler (1925, 1940) e Wertheimer (1945). A
base fisiológica proposta em termos de campos elétricos na superfície do córtex foi
testada por Lashley, Chow e Semmes (1951), ao colocar tiras de folha de ouro altamente
condutora sobre o córtex visual de um macaco e não encontrar evidência de percepção
perturbada, resultado que teve poucas implicações para os princípios psicológicos
básicos, que permanecem válidos, mas que colocam em dúvida todo o empreendimento
da Gestalt que vinculava conceitos psicológicos à especulação fisiológica.
De longe, a região mais ativa na psicologia experimental nessa época era os EUA, onde
a influência do behaviorismo ainda era muito forte. Um dos principais focos na UCL eram
as teorias da aprendizagem, das quais havia vários candidatos proeminentes, resumidos
no livro de Hilgard (1948) texto clássico, e praticamente todos baseados em experimentos
realizados em ratos.
A mais influente teoria da aprendizagem foi a de Clark L. Hull, cuja teoria envolvia o
estabelecimento de associações estímulo-resposta com base na recompensa, e se
expressava em termos de postulados e equações explicitamente destinadas a imitar os
Principia de Newton. O principal oponente de Hull foi Edward C. Tolman, que
argumentou que os ratos aprendiam labirintos, não estabelecendo associações estímulo-
resposta, mas desenvolvendo mapas mentais. No início da década de 1950, a controvérsia
passou para a geração seguinte, com a posição de Hull sendo defendida por Spence (1956)
e desafiada, entre outros, por Bitterman (1957).
O esboço geral do modelo de Hull era fácil de aprender, e os experimentos críticos podiam
ser gerados facilmente imaginando-se na posição do rato e selecionando paradigmas
experimentais para os quais a própria resposta seriam inconsistentes com os princípios de
Hull.
Um dos efeitos foi chamar a atenção para a riqueza do ambiente do mundo real e a
importância de levar isso em consideração, uma visão fortemente defendida pelo
psicólogo alemão Egon Brunswik (1947). Infelizmente Brunswik morreu antes de levar
suas opiniões adiante, embora elas tenham continuado a ter influência na área de tomada
de decisões (Hammond 2007). Consideravelmente mais influente foi o trabalho de JJ
Gibson (1950). que continua a ser altamente influente através de seus discípulos
entusiasmados (Turvey et al. 1981).
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A questão da testabilidade das teorias era grande na época. Language, Truth and
Logic, de A.J. Ayer (1936), apresentou uma versão facilmente acessível da abordagem da
filosofia adotada pelo Círculo de Viena de positivistas lógicos, apresentando a visão de
que uma teoria que não fosse verificável não era significativa. O livro de Gilbert Ryle
(1949), The Concept of Mind, também foi influente na aplicação da abordagem da
filosofia baseada em uma análise cuidadosa da linguagem cotidiana que era dominante
em Oxford na época e por muitos anos depois. Embora essa não fosse, uma abordagem
muito construtiva da psicologia a longo prazo, na época proporcionou um treinamento
muito útil na necessidade de evitar armadilhas conceituais criadas pelo uso irrefletido da
linguagem.
Havia também um grande interesse pela filosofia da ciência na época e como ela se
relacionava com a psicologia. No departamento de psicologia da UCL, duas abordagens
contrastantes eram pesquisadas, uma de Braithwaite (1953), que tomou os Principia de
Newton como modelo e parecia avaliar uma ciência pela medida em que ela se ajustava
a esse padrão matemático-dedutivo. A outra abordagem, bem mais modesta, foi
apresentada por Stephen Toulmin (1953), que argumentou que as teorias eram
essencialmente como mapas – úteis como formas de capturar o que se sabe, para guiar
pelo mundo e ajudar a desenvolver mapas melhores, defendendo a cartografia.
Nos anos 1940 a psicologia da UCL era um departamento rejuvenescido que combinava
uma variedade de abordagens britânicas à psicologia com a de professores refugiados da
Europa, como Hans Eysenck, que estava desenvolvendo sua abordagem psicométrica da
personalidade. na época, e Karl Flugel, um encantador psicanalista que ensinara sobre a
psicologia europeia do pré-guerra. Entre outras coisas, ele escreveu um livro sobre a
psicologia das roupas, propondo que no futuro as pessoas usariam bem menos roupas. Em
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sua morte, ele foi homenageado na primeira página de um dos tablóides como 'Autor do
bravo mundo nu morre'. Também havia a influência de Roger Russell.
Importante enfatizar que a revisão de Noam Chomsky (1957) do livro de Skinner, Verbal
Behavior (que visava explicar a aquisição da linguagem em uma estrutura behaviorista)
é considerada um dos principais desafios teóricos ao tipo de behaviorismo radical (como
'raiz') ensinado por Skinner. Chomsky afirmou que a linguagem não poderia ser aprendida
apenas com o tipo de condicionamento operante que Skinner postulou. O argumento de
Chomsky era que as pessoas podiam produzir uma variedade infinita de sentenças únicas
em estrutura e significado e que elas não podiam ser geradas apenas através da
experiência da linguagem natural. Como alternativa, ele concluiu que deve haver
estruturas mentais internas - estados de espírito do tipo que o behaviorismo rejeitou como
ilusório. A questão não é se existem atividades mentais; é se eles podem ser as causas do
comportamento. Da mesma forma, o trabalho de Albert Bandura mostrou que as crianças
podiam aprender por observação social, sem nenhuma mudança de comportamento
manifesto, e assim, segundo ele deve ser explicado por representações internas.
Uma figura importante foi o primeiro diretor da APU, Kenneth Craik, tragicamente morto
em um acidente de bicicleta em 1944. Craik foi um cientista notável cujo livro The Nature
of Explanation (Craik 1943 ) introduziu o conceito do modelo como uma abordagem para
o desenvolvimento da teoria, e que vira o potencial do computador como forma de
desenvolver tais modelos. Computadores digitais estavam apenas sendo desenvolvidos,
mas computadores analógicos estavam disponíveis, e foram usados por Craik para
modelar dados empíricos de mira de armas no que foi provavelmente o primeiro modelo
computacional em psicologia experimental, publicado após sua morte (Craik e
Vince 1963).
que o diagrama inicial no livro de 1958 foi impresso de cabeça para baixo, transformando
o sistema p em um sistema d. É somente no resumo do capítulo final que tudo fica claro.
Embora o trabalho de Broadbent e da APU tenha sido influente, como Neisser (1967)
ilustra, ideias semelhantes estavam se desenvolvendo em outros lugares, tipicamente em
laboratórios com um link aplicado, notadamente Bell Labs, com o trabalho de Sperling
(1960) e Sternberg (1966) sendo muito influente.
Dentro do setor universitário dos EUA, o mais próximo em espírito da APU foi o grupo
liderado por Paul Fitts na Ohio State. Infelizmente, Fitts morreu em tenra idade, mas
felizmente a tradição foi continuada por seu jovem colega Michael Posner, que foi, claro,
instrumental, não apenas por causa de seu papel na promulgação da abordagem de
processamento de informação dentro da psicologia experimental convencional, mas
também por seu papel crucial no desenvolvimento da próxima grande revolução no
campo, a neurociência cognitiva. Mas isso é outra história. Felizmente, uma história que
é contada pelo próprio Mike Posner.
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foram desenvolvidos pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911). Seu objetivo era
desenvolver um teste que identificasse crianças em idade escolar com necessidade de
apoio educacional. Seu teste, que incluía tarefas de raciocínio e resolução de problemas,
foi introduzido nos Estados Unidos por Henry Goddard (1866-1957) e posteriormente
padronizado por Lewis Terman (1877-1956) na Universidade de Stanford. A avaliação e
o significado da inteligência alimentaram debates na psicologia e na sociedade
americanas por quase 100 anos. Muito disso é capturado no debate natureza-criação que
levanta questões sobre as contribuições relativas da hereditariedade e do ambiente na
determinação da inteligência (Fancher, 1987).
A psicologia clínica também foi uma das primeiras aplicações da psicologia experimental
na América. Lightner Witmer (1867–1956) recebeu seu Ph.D. em psicologia
experimental com Wilhelm Wundt e retornou à Universidade da Pensilvânia, onde abriu
uma clínica psicológica em 1896. Witmer acreditava que, como a psicologia lidava com
o estudo da sensação e da percepção, deveria ser útil no tratamento de crianças com
problemas de aprendizado e comportamento. Ele é creditado como o fundador da
psicologia clínica e escolar (Benjamin & Baker, 2004).
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Dado que a psicologia lida com a condição humana, não surpreende que os psicólogos se
envolvam em questões sociais. Por mais de um século, a psicologia e os psicólogos têm
sido agentes de ação e mudança social. Usando os métodos e ferramentas da ciência, os
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O período imediatamente após a guerra foi descrito por alguns como a “idade de ouro”
da psicologia social (House, 2008; Sewell, 1989), caracterizada por equipes
interdisciplinares de pesquisadores trabalhando em questões socialmente relevantes com
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apoio federal (House, 2008). Foi um período em que muitos estudos clássicos e bem
conhecidos foram feitos, incluindo o trabalho de Leon Festinger (1957) sobre dissonância
cognitiva, Solomon Asch (1951) pesquisa de conformidade e o trabalho de Stanley
Milgram (1963) na obediência à autoridade. Esses estudos clássicos pareciam demonstrar
as possibilidades da psicologia social na descoberta de efeitos significativos e repetitíveis
na abordagem significativa do mundo real.
E Hans Jürgen Eysenck, psicólogo alemão passou sua carreira profissional na Grã-
Bretanha e desenvolveu estudos sobre a inteligência e personalidade, embora tenha
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trabalhado numa ampla gama de áreas, ficou muito conhecido por seu estudo sobre os
efeitos da psicoterapia, publicado em 1952. A pesquisa realizou uma investigação sobre
a melhora de pacientes neuróticos após psicoterapia a partir de relatos e os resultados
foram comparados com as estimativas disponíveis sobre a melhora de pessoas não
submetidas a psicoterapia. Os números não suportaram a hipótese de que a psicoterapia
facilita a recuperação do transtorno neurótico e permitiu ao autor afirmar que o efeito dos
tratamentos psicoterapêuticos da época não eram melhores do que a passagem do tempo.
Ou seja, o passar do tempo foi considerado mais psicoterapêutico do que a psicoterapia.
Tendo em vista as muitas dificuldades inerentes a tais comparações estatísticas, nenhuma
outra conclusão pode ser extraída dos dados cuja deficiência destaca a necessidade de
estudos experimentais adequadamente planejados e executados neste importante campo.
Muitos pesquisadores duvidaram dos resultados de Eysenck e decidiram estudar o efeito
das psicoterapias através de métodos mais rigorosos de investigação.
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Imaginar que é possível estabelecer o ‘valor de uma coisa’ na ausência de qualquer tipo
apropriado de modelo, ou teoria, ou método apropriado de medição, é certamente uma
armadilha e uma ilusão; como se pode saber o que se está medindo, ou qual pode ser a
escala de efeitos, sem ter tal teoria ou modelo?
Tendo criticado outros escritores sobre o assunto por começarem com ideias
preconcebidas, Smith et al declararam seus próprios preconceitos de forma direta e justa.
Tendo assim, para sua própria satisfação, respondido ao problema dos benefícios da
psicoterapia antes mesmo de examinar qualquer dos dados, e tendo usado o argumeturn
ad hominem (se você não concorda comigo, você é cético obstinado), tão usual nestes
debates, Smith et al passaram a acusar aqueles que ainda duvidam, como Rachman (1971)
de “demissão arbitrária de estudo por motivos metodológicos após estudo dos resultados
da psicoterapia” (pág. 38).
Smith et al não pararam para perguntar se essas “demissões arbitrárias” poderiam não
terem sido justificadas; embora pobres, todos os dados são grãos para o seu moinho.
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Rachman e Wilson (1980) listam algumas das inclusões mais curiosas na lista de
“psicoterapia” estudada por Smith e Glass, contidos no livro Smith et al.
Smith et al. adotam a definição de psicoterapia dada por Meltzoff e Kornreich (1970):
Esta pode, ou não, ser uma definição boa e aceitável de psicoterapia; deve ser lembrado
quando se observa os resultados relatados para diferentes tipos de terapia por Smith et
al. Estes são dados numa tabela na página 89 de seu livro que pretende mostrar que, em
comparação com nenhum grupo de tratamento, todos os 18 métodos de tratamento
resumidos têm um resultado de efeito positivo. Assim, o tamanho do efeito (TE) da
terapia psicodinâmica é 0,69, o da hipnoterapia 1,82, o da modificação do comportamento
0,73 e o da terapia da realidade 0,14. A média é de 0,85, o que Smith et al sugerem ser
uma boa evidência para a realidade dos benefícios da psicoterapia.
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Um ponto bastante surpreendente trata de um tipo de terapia dado na tabela que eles
chamam de “tratamento placebo”. Este tem um TE de 0,56. Seguindo o normal, seria de
se esperar que os tratamentos adequados, conforme definido na cotação de Meltzoff e
Kornreich, deveriam ser contrastados, não tanto com uma condição sem tratamento, mas
sim com tratamento placebo, pois isso eliminaria os chamados fatores inespecíficos no
tratamento. Considerar o tratamento placebo como um 'tratamento' de acordo com a
definição de psicoterapia dada acima, parece completamente desconcertante. O
tratamento placebo, certamente, não deriva de princípios psicológicos estabelecidos, não
constitui a aplicação informada e planejada de técnicas derivadas de tais princípios, e não
é administrado por pessoas qualificadas por treinamento e experiência para entender esses
princípios e aplicar essas técnicas. Também não há qualquer intenção de ajudar os
indivíduos na forma como foi sugerida pela definição. Somente a determinação, a todo
custo, de provar a eficácia da psicoterapia pode ter levado os autores a incluir o tratamento
placebo como um exemplo de psicoterapia, em vez de contrastar os efeitos da psicoterapia
com tratamento placebo.
O que deve ser feito, é claro, é subtrair os efeitos do tratamento placebo (0,56) do tamanho
médio do efeito (TE). Quando isso é feito, a terapia psicodinâmica atinge uma pontuação
TE de 0,13. Mesmo com o grande número de estudos incluídos, isso é apenas um pouco
mais do que o dobro do erro padrão da média, e um efeito tão pequeno que é
completamente inútil. A falha de Smith et al., em seguir os ditames da própria definição
adotada, bem como sua falha em seguir os ditames de inclusão/exclusão de material
relevante, faz com que todo o seu esforço, se afaste da prática científica padrão tanto
quanto fazem alguém suspeitar de seus motivos, bem como de seus resultados.
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Talvez mais críveis sejam os resultados relatados em uma tabela na página 98, mostrando
que as terapias comportamentais são mais confiáveis e eficazes (TE = 0,98) do que
terapias verbais (TE = 0,85) ou terapias de desenvolvimento (TE = 0,42). As terapias
comportamentais foram particularmente mais eficazes do que outras para neuróticos,
fóbicos complexos e fóbicos simples (monossintomáticos); terapias verbais não foram
mais confiáveis e eficazes do que qualquer tipo de diagnóstico. As terapias
comportamentais revelam efeitos médios maiores para medidas de ajuste global.
“As terapias comportamentais usavam medidas que eram mais altamente reativas
(mais sob a influência do terapeuta e cliente) do que as terapias verbais. É concebível que
as diferenças na reatividade possam explicar algumas das diferenças no tamanho médio
do efeito observado entre os tipos de terapia, subclasses e classes” (pág. 105).
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abordagem comportamental, ou instrumentos que tenham uma relação direta e óbvia com
o tratamento, por exemplo, onde itens da hierarquia de dessensibilização são usados.
Apesar de sua pretensão de objetividade, esta é uma daquelas decisões subjetivas que
determinam o resultado da análise, mas para os quais não há boa ou adequada evidência
experimental. Podem ser apresentados bons argumentos de que métodos e testes usados
por behavioristas devem receber um valor de reatividade de 1, em vez de 5; os autores do
livro nunca observaram pacientes em situações como as que mencionam. No entanto, os
debates sobre este ponto específico; indicam que a decisão de Smith et al é essencialmente
arbitrária, que dúvidas e argumentações sobre sua correção são permitidas, e que,
consequentemente, sua noção de que a meta-análise é puramente objetiva é decisivamente
contrariada.
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“Os tamanhos de efeito mais baixos nas terapias de duração extremamente longa
devem ser vistos à luz do diagnóstico e gravidade do problema que os clientes de terapias
de longa duração, provavelmente, apresentam. Quanto menos são tratáveis os problemas,
as psicoterapias são associadas a efeitos menores, bem como maior tempo gasto. Portanto,
é uma simplificação excessiva dizer que terapias mais duradouras produzem efeitos
menores (ou nenhum efeito maior) do que terapias de curta duração” (pág. 116).
Este é um argumento que mais uma vez ilustra a subjetividade da abordagem de Smith et
al., e que não é facilmente aceitável. Os psicanalistas costumam apresentar terapias de
prazo muito longo, mas também selecionam pacientes cujos problemas são menos graves
do que os tratados por outros métodos (Rachman e Wilson, 1980). Assim, pode-se fazer
exatamente o argumento oposto ao apresentado por Smith et al. Novamente, não é o
propósito aqui discutir o caso, mas apenas indicar que a suposta objetividade da meta-
análise é completamente ilusória; não pode disfarçar a necessidade de estabelecer pontos
de diferença objetivamente específicos.
Os próprios autores admitem que esses critérios foram “claros e justos”, e não foram além
do necessário, ou seja, sutilezas de livros didáticos irrelevantes para controlar ameaças à
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validade interna. Eles não encontraram nenhuma relação geral entre design qualidade e
magnitude do efeito, e concluem que:
“A ausência de associação significa que não é base para descartar estudos de baixa
qualidade deste corpo de evidências."
Esta é uma descoberta intrigante. Pode-se argumentar que se deve abandonar os esforços
para melhorar os métodos de investigação, e concentrar-se mais no tipo de investigação
mais barato e mais pobre, visto que aparentemente não considera a diferença entre
métodos bons, ruins ou indiferentes. Isso, é claro, seria a negação do mais elementar
princípio da investigação científica, e o fato de que bons e maus estudos deram resultados
semelhantes indicou, a Smith et al., que provavelmente estavam lidando com algum tipo
de efeito que é bastante inespecífico e evanescente. e não tem nada a ver com as
reivindicações da psicoterapia como um método psicológico de tratamento. Que eles não
tirem essa conclusão de sua descoberta, e continuem a incluir trabalhos de má qualidade
em seus resumos, devem parecer indesculpáveis para qualquer um que tem no coração o
interesse da psicologia como uma disciplina científica. Sua abordagem segue diretamente
sua divisão de investigação em elucidativo e avaliativo, e sua adoção do último em vez
do primeiro. para o seu estudo. Isto, essencialmente, equivale a uma rejeição da ciência e
à adoção de procedimentos arbitrários e possivelmente irrelevantes.
As referências citadas (por exemplo, Rachman e Wilson, 1980) contêm muitas outras
críticas que poderiam ser feitas a este livro, consideram de modo geral que todo o
procedimento adotado por Smith et al. é, fundamentalmente, falho.
Isso fica igualmente claro quando Smith et al. usam em sua análise o grupo placebo não
como grupo de controle e sim como um grupo de tratamento e contrasta seus efeitos com
o grupo sem nenhum tratamento. Nesta questão específica, ou seja, os grupos placebo
pertencem aos grupos de tratamento ou devem ser tratados como controle. Cada leitor
deve se decidir; o que está claro é que as decisões subjetivas são abundantes em relação
a essa questão também. As alegações de objetividade são claramente bastante errôneas.
O conceito de grupo controle precisa ser discutido, pois toda a concepção de um “grupo
sem tratamento” tinha sido, decisivamente, alterada desde o artigo original de Eysenck
(1952). Naqueles dias, um grupo sem tratamento era essencialmente o que o termo
implícito, ou seja, um grupo que não recebe tratamento por um longo período e não tem
esperança de receber qualquer tratamento psiquiátrico, mesmo no final deste tempo.
Atualmente, os grupos sem tratamento são geralmente grupos que aguardam tratamento
por um curto período de tempo. Tempo. Isso altera completamente o significado de “sem
tratamento”. Um período de espera é bem diferente de ser negado o tratamento, e os
eventos usuais que constituem as intervenções que produzem remissão espontânea são
muito menos prováveis de ocorrer (Eysenck, 1963, 1980). Uma pessoa a quem é negado
o tratamento provavelmente levará seus problemas aos padres, membros de sua família,
amigos etc., uma pessoa em lista de espera tem menos probabilidade de fazê-lo porque
percebe que em breve estará recebendo tratamento. Em outras palavras, a probabilidade
é alta de que um período de espera produza muito menos remissão espontânea do que a
negação de tratamento. Este ponto nunca é discutido por Smith et al., mas torna ainda
mais urgente o uso de grupos de tratamento com placebo como um controle, em vez de
pacientes em período de espera.
No entanto, muitas críticas básicas ao trabalho de Smith et al. referem-se à sua completa
negligência das teorias científicas e seus testes, em favor de sua noção de “investigação
avaliativa” como um substituto para “investigação elucidativa”.
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“Talvez pode ser o destino da psicoterapia, mais do que outras profissões, ter suas
contribuições contrariadas e sofrer a hostilidade daqueles que lucram com sua morte”
(pág. 184).
Esta certamente não é uma reclamação nova; há dois mil anos Cícero já dizia:
“Por que é para o cuidado e manutenção do corpo foi concebida uma arte que, por de sua
utilidade, teve sua descoberta atribuída aos deuses imortais, e é considerada sagrada,
enquanto por outro lado, a necessidade de uma arte de cura para a alma não foi sentida
tão profundamente antes de sua descoberta, não foi estudada tão de perto depois de se
tornar conhecida, e não foi recebida com aprovação pela maioria; na verdade, tem sido
visto pela maioria com suspeita e ódio?”
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“atinge uma parte da vida que nada mais toca tão bem”? (pág. 184)
Já Smith et al. ouviram falar de religião, ou eles conhecem algum experimento para apoiar
a visão de que a religião é menos eficaz do que a psicoterapia? Declarações desse tipo
podem ser aceitáveis para os crédulos, mas não têm significado, e apenas alienam o
cientista que baseia suas opiniões em evidências.
Conclui-se que s estudos de meta análise de Smith et al. não forneceram nenhuma
evidência que seja cientificamente aceitável sobre o benefício da psicoterapia. Isso sugere
que pode haver certos efeitos bastante pequenos e evanescentes de muitos dos efeitos
usuais em psicoterapias, quando comparados com grupos controle placebo, mas a
natureza desses efeitos é bem diferente daqueles, normalmente, postulados pelos próprios
psicoterapeutas. Em particular, os efeitos são independentes da quantidade de treinamento
e experiência dos terapeutas, e são independentes da duração da terapia. Há evidências
nesses dados para a superioridade dos métodos comportamentais sobre os verbais, mas
devido à inépcia geral da análise, mesmo essa conclusão não pode ser aceita como está,
os leitores que abordam o livro com grandes esperanças de encontrar uma análise objetiva
e fundamentada dos dados da pesquisa sobre a eficácia da psicoterapia ao longo das linhas
estatísticas ficarão desapontados e terão que renunciar e confiar no único relato
propriamente crítico da literatura que apareceu até agora (Rachman e Wilson, 1980) ou
eles mesmos lerem a literatura relevante.
De fato, para lhes dar crédito, Smith et al. parecem compartilhar a opinião de que
fundamentalmente qualquer pessoa que deseje formar uma opinião sobre o tema deve ler
os originais. Como eles dizem:
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treinamento, e a experiência adquirida através dele e após ele, não têm influência
sobre o resultado do tratamento.
Os psicólogos devem almejar não apenas serem bons cientistas, mas também serem éticos
em seu comportamento; é antiético fazer reivindicações injustificadas, extrair dinheiro
sob falsos pretextos e ganhar a vida treinando outros em habilidades da realidade da qual
nunca foi provada, e é posto em dúvida até mesmo por defensores da eficácia
psicoterapêutica como Smith et al.
Pelo exposto neste sub capítulo, muitos esforços científicos foram dispendidos para
avaliação da eficiência e eficácia das abordagens psicológicas realizadas por
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Nos anos de 1985 a 2001 o ecletismo técnico foi o foco principal das reflexões nos estudos
em psicologia, que continuadamente voltavam-se ao debate sobre eficiência e eficácia
psicoterapêutica. Como exposto nos subcapítulos anteriores, a psicologia é uma ciência
relativamente jovem, com seu primeiro laboratório científico de psicologia criado até
1879, e evoluiu continuamente, surgindo diferentes escolas de pensamento dedicadas a
diferentes campos e conceituações da psique humana.
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Se esse efeito realmente existir, as implicações podem ser altamente relevantes para
a aplicação prática da psicologia clínica: o desenvolvimento de diferentes terapias
entre diferentes fluxos de pensamento se tornaria desnecessário e seria aconselhável
investigar e gerar estratégias focadas em explicar e aprimorar os elementos que eles
têm em comum, algo que na realidade geralmente é feito na prática, sendo o
ecletismo técnico bastante comum na profissão.
Dessa maneira, pode-se descobrir que existem principalmente dois lados na consideração
da existência de diferenças, estatisticamente, significativas em relação à eficácia das
diferentes terapias.
Por um lado, aqueles que defendem a existência do efeito Dodô afirmam que quase todas
as terapias têm eficácia semelhante entre si, não sendo as técnicas específicas de cada
corrente teórica, mas os elementos comuns subjacentes a todas elas que geram um efeito
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Alguns autores, como Lambert (1992), argumentam que a recuperação se deve a efeitos
inespecíficos: em parte devido a fatores da relação terapêutica, fatores pessoais do sujeito
fora da própria terapia, expectativa de recuperação e trabalho para melhoria e, apenas um
de maneira muito mais modesta, a elementos derivados do próprio modelo teórico ou
técnico.
A verdade é que, nesse sentido, surgiram diferentes investigações que apoiam a grande
importância desses aspectos, algumas das principais: sendo a relação terapêutica entre
profissional e paciente, algo que de todas as disciplinas tem sido de grande importância e
a atitude do terapeuta em relação ao paciente e seu problema, empatia, escuta ativa e
aceitação incondicional entre eles. Mas isso não exclui necessariamente a possibilidade
de que, como Lambert propõe em 1992, existirem diferenças entre os tratamentos quando
se trata de ser eficaz (Fernández, 2001).
Aqueles que argumentam que existem diferenças significativas entre as psicoterapias, por
outro lado, observam verdadeiras diferenças na eficácia dos tratamentos e avaliam que o
funcionamento básico das diferentes estratégias de intervenção psicoterapêuticas
utilizadas são o que gera a mudança comportamental e cognitiva no paciente, sendo
algumas estratégias mais eficazes que outras em certos distúrbios ou alterações.
Da mesma forma, observou-se que certas terapias podem até ser contraproducentes,
dependendo do distúrbio em que são aplicadas, algo que teve de ser controlado para que
os pacientes melhorassem e não exatamente o contrário. Algo assim não aconteceria se
todas as psicoterapias funcionassem da mesma maneira. No entanto, também é verdade
que isso não impede que o núcleo da mudança seja devido a fatores comuns entre as
diferentes psicoterapias. A verdade é que o debate ainda está em vigor hoje, e não há
um consenso claro sobre o assunto e a investigação se concentra sobre: se o efeito ou
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veredicto do Dodô está realmente lá ou não. Nos dois casos, diferentes aspectos
metodológicos foram criticados, o que pode colocar em dúvida os resultados obtidos
ou ter implicações além daquelas inicialmente consideradas (González-Blanch e
Carral-Fernández, 2017).
Provavelmente, pode-se considerar que nenhum dos lados está absolutamente certo,
existem procedimentos mais adequados do que outros em determinadas situações e
assuntos, afinal, cada sujeito e problema tem seus próprios modos de funcionamento
e sua modificação requer uma ação mais focada, em certas áreas, resultando nos
elementos compartilhados entre as diferentes psicoterapias, o principal mecanismo
que permite a geração de mudanças.
Pelo exposto neste sub capítulo, muitos esforços científicos continuam sendo dispendidos
e favorecendo o ecletismo técnico em psicologia, mas pouquíssimas conclusões puderam
ser evidenciadas.
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crescimento em incontáveis escolas psicológicas até a transição para o novo século sob a
perspectiva da eficácia clínica, sem desfechos e conclusões.
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A transformação desta condição não é possível sob a égide do pensamento linear que
oculta a complexidade do real e as relações intrínsecas entre ordem-desordem, razão-
emoção, corpo-mente, e tantas outras fragmentações produzidas na modernidade.
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Assim, o número crescente de abordagens psicoterapêuticas nos últimos anos, pode ser
tornar esta diversidade um campo de elementos incomunicáveis e competitivos entre si,
como ranço da modernidade. Tanto quanto, podem co existir independentemente,
passarem a inter dependentes entre si. No entanto, existe uma contradição no interior deste
campo, pois de um lado tem-se sociedades, institutos, centros e revistas relacionados à
uma abordagem psicoterapêutica particular, e de outro a maioria dos psicoterapeutas não
se identificam como aderindo a uma abordagem particular, mas referem-se a si mesmos
como ecléticos ou integrativos (Garfield & Kurtz; Norcross e Prochaska; conforme citado
por Arkowitz, 1997).
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Bibliografia:
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