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APONTAMENTO N.

° 1

Disciplina: Filosofia 2020/2021

Conteúdos de 10.° ANO

Título: A origem e especificidade da Filosofia

Professor: Tiago Lemos

Introdução:

Atendendo à sua etimologia (isto é, à sua origem), a palavra Filosofia deriva dos
seguintes termos gregos:

- philos ou philia, que querem respetivamente dizer amor ou amizade; e


- sophia, que significa sabedoria.

Ou seja, literalmente, filosofia significa amor ou amizade pela sabedoria. De onde se


depreende, então, que o filósofo é, por natureza, todo aquele indivíduo que dedica a sua
vida e atividade à aquisição do conhecimento, isto é, de um conhecimento seguro e
inabalável que permita ao ser humano dar resposta às principais questões da existência:
De onde venho? Para onde vou? Quem sou? O que me é permitido esperar?

Assim, a Filosofia representa o estudo das inquietações e problemas da


existência humana (quem somos?), dos valores morais (o que é o bem e o mal?),
estéticos (o que é o belo e o horrível?), do conhecimento nas suas diversas
manifestações e conceitos, visando sempre a verdade; porém, sem nunca se considerar
como uma verdade absoluta, dogmática.

A Origem

A Filosofia surgiu por volta do século VI a.C, na Grécia Antiga, a qual é


apelidada de "berço da Filosofia ocidental". Desde a sua origem ela é vista como uma
arte de procurar o conhecimento verdadeiro, ou mesmo como forma de estudo das
inquietações humanas. De entre os primeiros pensadores apelidados de filósofos
encontram-se nomes como os de Tales, Pitágoras, Heráclito e Xenófanes, os quais, na
época, concentraram os seus esforços para tentar responder racionalmente às questões
da realidade humana.
Numa época ern que praticamente tudo era explicado através da mitologia e da
ação dos deuses, esses primeiros filósofos procuraram explicar todos os fenómenos da
realidade (quer os fenómenos da natureza, quer os sociais) através de um pensamento
lógico e racional. Quer dizer, procuraram substituir o divino pelo humano, o irracional
pelo racional, o caos pelo cosmos (ordem).
Mas por que razão foi na Grécia Antiga que surgiram estes pensadores
inovadores, e com eles a Filosofia? Na realidade não existiu apenas uma razão, ou um
fator, para que tal tenha ocorrido. Foi antes todo um contexto cultural e civilizacional
que contribui para essa origem. Ora vejamos: a Grécia Antiga não era propriamente um
país; aquilo a que chamamos Grécia Antiga era antes um conjunto de cidades-Estado
(Pólis) independentes, cada uma com um governo próprio, com leis e regras próprias, e
com rituais particulares. No entanto estas cidades tinham muitos pontos em comum e
possuíam acordos de interajuda militar e comercial.
De entre esses pontos em comum, e que foram cruciais para a origem da
Filosofia, contam-se a Poesia, a Religião, a Política e o Comércio. Um longo processo,
determinado por esses fatores, promoveu uma mudança na mentalidade grega.

a) A Religião grega, tanto a pública, como aquela referida como "a religião dos
mistérios", era não dogmática e permitia que os filósofos expressassem as
suas ideias sem medo de represálias. Vivia-se, portanto, num período de
liberdade de culto e os filósofos eram livres de questionar a veracidade dos
deuses e das explicações mitológicas.

b) A Poesia, por outro lado, tanto ajudava a conhecer a história, e as ideias dos
antepassados (note-se que na altura todas as obras eram escritas em verso);
para além disso, o facto de estar escrita em verso ajudava à sua memorização
e difusão da mensagem.

c) A Política com uma forma de governo democrática (a Grécia Antiga


apresentou o primeiro sistema democrático da história), obrigava os
indivíduos a melhorar as suas aptidões para realizarem discursos racionais e
bem fundamentados, os quais teriam de ser proferidos e defendidos em
assembleias públicas, onde seriam sujeitos a votação e aprovação.

d) Por fim, o Comércio, cujo desenvolvimento permitia o contato com outras


civilizações e, por isso mesmo, com outras formas de cultura e de
pensamento, demonstrava aos gregos a relatividade dos princípios
orientadores de cada cultura (outros povos apresentavam outras ideias,
outros deuses, outros rituais, etc.). Tudo isto fazia com que os gregos se
questionassem de modo a perceber: que cultura é a cultura certa?, que
conhecimento é verdadeiro?

Se é verdade que até ao final do século VII a.C., as sociedades existentes


pareciam orientar-se segundo uma matriz religiosa, a verdade é que a partir desta data
Conceitos Importantes:

Democracia: do grego demokratía, significa o governo do povo, ou governo dos


cidadãos livres.

Pólis: Cidade independente cujo governo era exercido por cidadãos livres, na
Antiguidade grega. Sinónimo de cidade-Estado.

Agora: Principal praça pública das cidades-Estado, era o local por excelência onde se
discutiam todos os assuntos relativos à vida pública da cidade.

Mito: do latim mythos, significa fábula, do grego mílthus, significa conto, história,
narrativa, ficção. Diz-se de coisas ou pessoas que não existem, mas se supõem reais.

Logos: palavra grega que significa discurso, linguagem, estudo, teoria. Em filosofia
assume essencialmente o significado de Razão, no sentido de discurso/estudo racional e
justificado.

Dogma: ponto fundamental e indiscutível de uma religião ou ideologia.

Maiêutica: do grego maieutike, significa "dar à luz", "parir" ou a "arte de parejar" o


conhecimento. Sócrates conduzia este parto em duas etapas: (1) Na primeira levava o
interlocutor a duvidar das suas próprias crenças/conhecimentos «Só sei que nada sei»;
(2) Na segunda ajudava a encontrar novos conceitos e novas crenças/conhecimentos
mais verdadeiros. Assim, a maiêutica primeiro destrói, e depois ajuda a reconstruir,
alcançando noções cada vez mais claras, complexas, justificadas e verdadeiras.
alguns indivíduos já não se satisfaziam com uma simples explicação mítica da
realidade. O processo de transformação que os fatores, que apontámos atrás, incutiram
na sociedade grega uma verdadeira revolução civilizacional. É em Mileto, situado na
atual Turquia, que no século VI a.C. nasce Tales, o qual, segundo Aristóteles, é o
iniciador do pensamento filosófico.
Mas se Tales é considerado o pai da Filosofia, a verdade é que vários outros
pensadores, deste período histórico, lhe seguiram os passos. De entre todas as
curiosidades e mistérios, a verdade é que o grande problema filosófico que ocupou a
mente destes primeiros pensadores teve a ver com a origem das coisas, a origem do
universo. Daí dizermos que o primeiro grande problema filosófico foi o problema
Cosmológico (o problema de saber qual a origem do Cosmos).
Assim, durante este período, podemos dizer que o grande objeto de estudo destes
filósofos era a Physis. Este conceito é comummente traduzido por «natureza», mas a
verdade é que o seu significado é mais amplo. Não se trata apenas das coisas, mas
essencialmente do seu movimento, o qual, apesar de ininterrupto (todas as coisas estão
em mudança contínua), nunca conduz à perda da forma, da ordem e da estabilidade.
Digamos que era essa ordem das coisas, da natureza, que se pretendia descobrir.
Voltando os olhos para a Physis, os primeiros filósofos procuravam descobrir a
sua Arché, ou Arqué, isto é, o elemento primordial que deveria estar presente em todas
as coisas (na Physis); a arché é o princípio único, o motor e a estrutura de todas as
coisas. Segundo o filósofo Demócrito, este elemento primordial eram os átomos
(unidades indivisíveis).
Ora, estes primeiros filósofos ficaram conhecidos como filósofos pré-socráticos.,
No entanto, este «pré», mais do que significar uma anterioridade temporal, remete-nos
para uma anterioridade epistemológica (para uma anterioridade em que o problema
central da filosofia era o problema das origens (Qual a origem das coisas? Qual a
origem do universo?).
Ser um autor, ou pensador pré-socrático não é necessariamente ser-se um
pensador que viveu antes de Sócrates. Muitos pensadores denominados pré-socráticos
viveram depois de Sócrates e continuaram a ser assim chamados, pela única razão de
que o principal problema a que se dedicavam era o mesmo daqueles primeiros
pensadores, a saber, o problema das origens.
Com Sócrates, a Filosofia sofreu a sua primeira revolução epistemológica, a qual
viria a marcar e definir todo o trajeto futuro da Filosofia. O problema central já não é
tanto Cosmológico, digamos assim, mas Antropológico. O homem passa a estar no
centro das investigações filosóficas (Conhece-te a ti mesmo — Nosce te ipsum). É que
segundo Sócrates não faz sentido o homem querer conhecer todas as outras coisas antes
de se conhecer a si próprio; pois se não for capaz de se conhecer a si próprio como
poderá ser capaz de conhecer tudo o resto?
A Especificidade da Filosofia

Já vimos que com Sócra-ies a Filosofia vai sofrer a sua primeira revolução
epistemológica, o que significa que ela vai mudar completamente a sua forma de
abordar a investigação, ao mesmo tempo que muda o seu objeto de estudo central: a
partir de Sócrates já não é tant-o- o Cosmos (ordem do Universo), mas sim o Homem
(Antropologia) que passa a estar no cerne das problemáticas filosóficas.
Na sua atividade, a Filosofia surge então como uma reflexão crítica que se
distingue de todas as outras esferas do saber. Não possuindo um objeto de estudo
particular, mas estando atenta a todo o real, a Filosofia tem como categorias específicas
as seguintes quatro dimensões:

a) A Radicalidade: pela radicalidade sabemos que a filosofia vai à raiz dos


. , problemas, procurando a sua justificação e fundamentação racional. Se os
outros saberes procuram resposta para a questão do Como?, a Filosofia
I) ( ( sobre o Porquê dos Porquês?
,

b) A Autonomia: ao contrário da maior parte dos outros saberes disciplinares, a


Filosofia, desde a sua génese, procurou sempre manter-se fiel à sua
Autonomia, isto é, buscou sempre ser capaz de desenvolver os seus próprios
4,013-x5-, métodos de investigaçao e análise, não tomando nunca nenhum desses
gic..sCue métodos como definitivo ou inquestionável. Ao ser capaz de criar e recriar os
seus próprios métodos, a Filosofia garantia assim a sua independência face
aos outros saberes, permitindo que cada filósofo pensasse por si próprio.
t Ao wxxvvxd,,,, 1%
Nota: Autonomia, do grego auto nomos, significa dar lei a si mesmo.

c) Historicidade: apesar da sua radicalidade e autonomia, a Filosofia não é


independente da sua História nem dos seus contextos culturais. Certamente
que ela investiga não apenas os grandes problemas que atravessam todos os
tempos, e para os quais o ser humano ainda não possui uma resposta
definitiva, como também investiga e analisa os problemas particulares de um
determinado tempo e espaço, tendo em atenção todo o conhecimento
disponível desse período.

d) Universalidade: uma vez que as questões da Filosofia são gerais e


fundamentais, e se debruçam sobre toda a realidade e existência humanas,
então podemos dizer que a atividade filosófica é universal, no sentido de
abarcar todos os tempos, lugares e seres.

Mas o que distingue, enfim, a Filosofia dos outros saberes?


Por um lado, a Filosofia distingue-se do senso comum, ou conhecimento vulgar.
O senso comum é o tipo de conhecimento mais elementar, caraterizando-se por ser não
sistemático, acrítico e subjetivo, nele prevalecendo a opinião e a crença. Trata-se de um
tipo de conhecimento orientado para a prática, bem como para a resolução dos
problemas imediatos do dia a dia, não exigindo por isso grande reflexão nem
conhecimento científico. Note-se que a filosofia não nega a importância deste tipo de
conhecimento, considerado vulgar. Simplesmente procura enriquecê-lo e superá-lo,
colocando-o à prova e criticando-o.
Por outro lado, a Filosofia também se distingue do saber científico, pois, apesar
de este saber ser metódico e sistemático, caraterísticas que agradam à Filosofia, a
verdade é que cada ciência possui um objeto de estudo específico, particular, enquanto a
Filosofia se dedica ao estudo do Todo, procurando as respostas fundamentais que
expliquem a própria existência. Ela distingue-se de outras vertentes de conhecimento,
como a mitologia e a religião, visto que tenta explicar os fenómenos e as questões
humanas através do pensamento racional e justificado. Contudo, ela também não pode
ser equiparada, ou confundida, em termos de métodos, às ciências que têm a pesquisa
empírica como fundamento, uma vez que a Filosofia não se circunscreve (não sendo
descartada essa hipótese) à experiência sensível. Os métodos de estudo filosóficos estão,
essencialmente, fundamentados na análise do pensamento, em experiências práticas e
mentais, na lógica e na análise conceptual.

E qualquer pessoa pode desenvolver a atividade Filosófica?


No domínio da Filosofia, é comum distinguir-se entre Filosofia Espontânea e
Sistemática.

(1) — A Filosofia Espontânea representa o filosofar natural a cada indivíduo, na


medida em que todos os seres humanos, pelo menos uma vez na vida, se deparam com
as grandes inquietações humanas e se perguntam sobre o Porquê de as coisas serem
exatamente como são. Apesar de tudo, este tipo de exercício filo.sófico é esporádico e
pouco aprofundado.

(2) — A Filosofia Sistemática, por sua vez, é própria dos Filósofos, pensadores
que não apenas conhecem a história da Filosofia, as suas diferentes correntes de
pensamento, mas que também procuram aprofundar o conhecimento existente,
submetendo-o a todas as espécies de críticas, de modo a eliminar todo o tipo de
preconceitos infundados e dogmáticos. Na sua atividade, o filósofo sistemático procura
analisar e compreender a complexa relação entre o Homem e o Mundo.
APONTAMENTO N.° 2

Disciplina: Filosofia 2020/2021


Conteúdos de 10.0 ANO

Titulo: Lógica - o que é a Lógica e quais os seus instrumentos?

Professor: Tiago Lemos

Introdução

A Filosofia é uma atividade conceptual e argumentativa; neste sentido, ela é,


essencialmente, uma atividade teórica. Isto significa que para encontrar resposta para os
problemas que pretende resolver, a filosofia recorre, sobretudo, à discussão, à reflexão, à
crítica e argumentação de ideias. Claro que ela também tem em conta a observação e a
experiência sensorial, como o fazem as ciências experimentais; mas isso não basta para a
filosofia. Se queremos garantir o rigor e a exatidão, então é necessário que as nossas teorias
sejam inquestionáveis; e por isso, a primeira coisa que devemos garantir é que as nossas
teorias se encontram devidamente justificadas.

Estas teorias, e a sua fundamentação, resultam, em último caso, de um trabalho de


reflexão, onde o pensamento e a linguagem se revelam fundamentais. E se usamos a
linguagem e o pensamento para produzir essas teorias (esse conhecimento que apresenta uma
solução para os problemas investigados), então devemos estudar essas duas áreas. Assim,
estudaremos de seguida um ramo específico da Filosofia, a saber, a Lógica.

Lógica

A Lógica é a disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (ou
válidos) e incorretos (ou inválidos). Ela dedica-se, por isso, ao estudo das leis, princípios e
regras a que devem obedecer o pensamento e o discurso para serem válidos. Neste sentido,
ela ajuda-nos a desenvolver a nossa autonomia, o espírito crítico e a nossa capacidade para
argumentar corretamente.

Mas se a Lógica estuda a correção dos nossos argumentos, então a primeira coisa a
fazer é vermos em que consiste um "argumento".
O Argumento

Chamamos argumento a um conjunto de proposições devidamente articuladas, no


qual algumas dessas proposições (a que chamaremos premissas) procuram defender, justificar
ou sustentar uma outra proposição (a que damos o nome de conclusão, ou tese). Claro que
para o conjunto de proposições estar devidamente articulado é necessário que se verifiquem
duas coisas: (1) que as proposições revelem alguma relação entre si (ao nível do seu conteúdo,
isto, ao nível do que nelas é dito); e (2) que exista um nexo lógico (relação de causalidade)
entre as premissas e a conclusão.

Vejamos o seguinte exemplo:

/ Todos os portugueses são europeus.


Os alentejanos são portugueses. eV), o O cto COiTi eti.gc)
' Logo, os alentejanos são europeus.
dr,y)

O exemplo anterior é revelador daquilo que é um argumento, pois cumpre os


requisitos enunciados em (1) e (2). Já o mesmo não poderemos dizer do conjunto seguinte de
proposições:

✓ Os canários são bonitos. ,


`(•€ (), ç C;- O
As cerejas fazem bem à saúde.
Logo, as férias devem continuar.

Como veremos mais adiante, os argumentos dividem-se em dois grandes grupos: os


argumentos dedutivos e os não dedutivos. E a Lógica vai dividir-se em dois ramos: a Lógica
Formal estudará os argumentos dedutivos e a Lógica Informal os não dedutivos. No entanto,
deixemos isso para depois e concentremo-nos noutra coisa: as Proposições. Se os argumentos
são um conjunto de proposições, então temos de saber o que é uma proposição.

A Proposição

A Proposição é o pensamento, ou conteúdo, expresso por uma frase declarativa, o qual


pode ser verdadeiro ou falso. Assim, a mesma proposição pode ser expressa por diferentes
frases declarativas. Por exemplo, as frases "A Terra é contemplada pelo astronauta a partir da
Lua" e "0 astronauta contempla a Terra a partir da Lua" expressam a mesma Proposição.

Note-se que só as frases declarativas expressam Proposições. De tal modo que frases
exclamativas, imperativas, interrogativas, ou que expressem promessas e pedidos não podem
ser tidas como proposições, pois nenhuma destas frases possui um valor de verdade, isto é,
não são verdadeiras nem falsas.

No que diz respeito às proposições, elas podem ser classificadas como Simples ou
Complexas:

✓ Simples: as proposições simples, ou categóricas, são aquelas que afirmam ou


negam sem restrições nem condições, (por exemplo, Todos os rios correm).
s( Complexas: as proposições complexas, ou compostas, podem ser Condicionais
• •••
ou Disjuntivas.
As Condicionais são aquelas que afirmam ou negam sob determinadas
cnndições (por exemplo, Se viajo, então aprendo).
As Disjuntivas são aquelas que afirmam ou negam em forma de alternativas
que se excluem - (disjunão
. . .... • • •exclusiva,
• . ou uma coisa ou a outra, sendo
impossível que ocorram as duas alternativas em simultâneo) .ou que não se
eaLaw(disjunção inclusiva t uma coisa ou outra, sendo que nada impede que
ocorram em simultâneo).

O Conceito

Para formar proposições, ou juízos, é necessário estabelecermos relações entre


conceitos. Assim, o conceito constitui o elemento básico do pensamento. Trata-se da
representação intelectual/mental de determinada realidade, e ela tanto pode envolver uma
classe de objetos (como por exemplo, o conceito de ponte), como uma realidade singular (por
exemplo, Ponte Vasco da Gama, António...).

Os conceitos expressam-se através de termos. O termo é normalmente entendido


como a expressão verbal do conceito. Neste sentido, o mesmo conceito pode ser expresso por
diferentes termos (por exemplo, «domicílio» e «residência» são dois termos diferentes, mas
referem-se à mesma ideia, isto é, ao mesmo conceito), e, por vezes, acontece que um mesmo
termo pode exprimir diferentes conceitos (por exemplo o termo «banco» tanto pode remeter-
nos para o conceito de banco enquanto objeto utilitário de que nos servimos para nos
sentarmos, como pode remeter-nos para o conceito de banco enquanto instituição
económico-financeira).

Por estas razões, uma das principais tarefas do trabalho filosófico é tentar clarificar os
conceitos. E essa clarificação resulta de uma boa definição. Contudo, para que uma definição
seja boa, ela terá de ser explícita, isto é, ela terá de ser feita com base em condições
necessárias e suficientes. Por exemplo, o conceito de "Macieira". Podemos definir a Macieira
dizendo que ela é uma árvore. No entanto, ser árvore é uma condição necessária para ser
macieira, mas não é suficiente. Pois existem árvores que não são macieiras. Porém, se
dissermos que a Macieira é uma árvore que tem como fruto a maçã, temos então as condições
necessárias e suficientes para se ser uma macieira.

Assim, a definição correta de um conceito:

deve convir apenas ao conceito a definir; ca12


m- ,' 40
não pode ser demasiado ampla (para não abranger elementos que não
pertencem à extensão do conceito), nem demasiado restrita (para não excluir
nenhum dos elementos abrangidos por essa extensão;
tem de ser mais clara do que o conceito a definir.
Os conceitos podem ser ainda avaliados sobre a sua extensão ou compreensão.
Existem conceitos mais gerais, amplos, e outros mais restritos, ou singulares. Assim, dizemos
que os mais gerais são aqueles que têm maior extensão, pois aplicam-se ou abrangem um
maior número de elementos, ou indivíduos, e os mais restritos têm menor extensão.

Quanto mais geral for um conceito, menos caraterísticas individualizadoras possui;


logo, menos compreensivo ele é'. Assim, dizemos que os conceitos mais gerais são aqueles que
têm menor compreensão, enquanto que os conceitos mais específicos, ou restritos, têm maior
compreensão. Por exemplo, o conceito de "animal" tem maior extensão que o conceito de
"cão", pois animal abrange mais elementos que cão; no entanto, o conceito de cão tem maior
compreensão que o conceito de animal, uma vez que é mais específico e individualizador.

Sobre este assunto podemos afirmar que a extensão e a compreensão são


caraterísticas inversamente proporcionais, uma vez que quanto maior for uma menor será a
outra.

Conclusão

Até ao momento vimos em que consiste o trabalho da Lógica, a saber, na identificação


das condições essenciais para distinguir os argumentos corretos (ou válidos) dos argumentos
incorretos (ou inválidos). É verdade que ainda não sabemos o que é um argumento correto ou
incorreto; antes disso, era importante verificar o que é um argumento. E para entendermos os
argumentos, tivemos ainda de ver o que eram proposições e conceitos.

Antes de avançarmos para a correção ou incorreção dos argumentos é importante


lembrar uma coisa: no nosso dia a dia não formamo_5, em geral, argumentos que obedeçam a
uma estrutura canónica (modelo), de tal modo que nem sempre se torna claro quais as
proposições que assumem o papel de premissas e qual a proposição que elas procuram
justificar ou sustentar, isto é,_q_
ual a proposição que_
representas papel Ieconclusão ou tese.

Por esta razão, existem expressões linguísticas que, tipicamente, servem para indicar
essa pretensão: os indicadores de premissas e conclusão. Quando alguém afirma que "Deus
não existe, porque há mal no mundo" está a usar o "porque" para indicar qual é a razão que o
leva a pensar que Deus não existe, ou seja, está a usá-lo como um indicador de premissas. Por
outro lado, quando alguém afirma que "Há mal no mundo. Logo, Deus não existe" está a
utilizar o "logo" para indicar que a ideia de que "Há mal no mundo" suporta (ou tem como
consequência) a ideia de que "Deus não existe", ou seja, está a utilizá-lo como um indicador de
conclusão. Na tabela que se segue apresentam-se alguns indicadores de premissas e conclusão
comuns.
Indicadores de premissas Indicadores de Conclusão

• Pois... • Portanto...
• Supondo, admitindo, • Logo...
assumindo, sabendo que... • Por conseguinte...
• Sendo que... • Daí...
• Porque... • Donde...
• O que, como se mostra por... "Assim...
• Tal como resulta, decorre, se • Por essa razão...
conclui de... • Por isso...
• Em consequência, como • Consequentemente...
resulta(do) de... • Desse modo...
«Do que se conclui / segue / infere / deduz que...
. Conclui-se / segue-se / infere-se / deduz-se que...
• O que acarreta que...
• O que tem por / como consequência que...
• Tem-se que...
• Vem que...
• O que prova /justifica / permite defender que...
• Do que resulta / decorre que...
• De modo que...
• O que mostra que...

A argumentação assume-se como um dos aspetos mais importantes da atividade


filosófica, pois, como acabámos de ver, não basta avançar teorias para responder aos
problemas, é preciso fundamentar essas teorias com bons argumentos. Para isso, os filósofos
têm de ser capazes de formular argumentos, avaliar argumentos e contra-argumentar.

Para formular explicitamente um argumento (ou para reconstruir um argumento que


nos foi apresentado por outrem de uma forma confusa e desordenada) devemos seguir os
passos que se seguem:

1. Identificar a conclusão do argumento.


2. Identificar as premissas do argumento.
3. Completar o argumento. fr -j v • j-r., 1,,kr;" ,Í) -9 V 1 v,"

4. Formular explicitamente o argumento. Ç(

Para ver como é que isto funciona na prática, vamos imaginar um exemplo de
argumento apresentado de forma confusa e desorganizada e tentar reformulá-lo de forma
explícita.

"É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse mal no mundo, por isso, t\P (0,0(

Deus não existe." ci4 (ov)

A ---> aQ,(,.(j) (o
O ponto 1. diz-nos que a primeira coisa a fazer é identificar a conclusão do argumento.
Para isso temos de procurar responder à seguinte pergunta "Qual é a ideia que o autor do
argumento quer defender?" ou, dito de outra forma, "Quem apresenta este argumento quer
convencer-nos a acreditar em quê?". Neste caso, parece ser claro que o autor do argumento
quer convencer-nos a acreditar que "Deus não existe". Em alguns casos podemos facilmente
detetar a conclusão do argumento se encontrarmos um dos indicadores de conclusão
apresentados acima. Neste exemplo, a expressão "por isso" indica que aquilo que surge em
seguida é a conclusão do argumento.

No ponto 2., por sua vez, estabelece-se que, em seguida, devemos identificar as
premissas do argumento. Para isso temos de responder à seguinte questão "Que razões
apresenta o autor do argumento para defender a sua conclusão?". No exemplo apresentado
afirma-se que a existência de Deus não é compatível com a existência de mal no mundo, ou
seja, afirma-se que a existência de Deus é uma condição suficiente para que não haja mal no
mundo. Podemos expressar esta ideia através da seguinte condicional:

"Se Deus existe, então não há mal no mundo."

No ponto 3. recomenda-se que se procure detetar se há alguma premissa implícita,


isto é, alguma premissa que o autor do argumento não chegou a formular explicitamente, mas
que é legítimo presumir que é uma das ideias que este precisa de assumir para poder chegar à
conclusão. Embora não ocorra sempre, não é raro ver situações em que o autor não explicita
todas as razões, pois considera-as implícitas na informação que dá. No exemplo apresentado,
podemos presumir (pois ele não o diz explicitamente, mas dá a entender que o assume) que o
autor do argumento acredita que

"Existe mal no mundo."

Por fim, no ponto 4. é-nos sugerido que escrevamos cada premissa (incluindo a(s)
premissa(s) omissa(s), caso existam), numa linha diferente, seguidas pela conclusão, que surge
na última linha, antecedida pela palavra "logo" (para ser mais fácil identificar os diferentes
passos do argumento). Neste caso, o argumento apresentado no exemplo ficaria qualquer
coisa como:

(1) Se Deus existe, então não há mal no mundo.


(2) Existe mal no mundo.
(3) Logo, Deus não existe.
Leis Fundamentais do Pensamento Lógico

Uma vez definidos corretamente os elementos lógicos que estruturam o pensamento


conceptual (argumentos, proposições e conceitos), importa dizer que eles devem obedecer
sempre às leis fundamentais que estruturam todo o pensamento. E essas leis são: o Princípio
da Identidade, o Princípio da Não Contradição e o Princípio do Terceiro Excluído.

Princípio da Identidade: é a primeira das três leis clássicas do pensamento e


foi formulada por Parménides (filósofo grego do séc. VI/V a.C) nos seus
estudos lógicos. De acordo com esta lei todas as coisas possuem caracteres
próprios da sua identidade, de tal modo que também todas elas se podem
diferenciar das restantes.
Assim, cada coisa é o que é. A forma lógica deste princípio é "P, se e só se P".

V Princípio da Não contradição: é a segunda das três leis clássicas do


pensamento e foi formulada por Aristóteles na sua obra Da Interpretação. Aí,
afirma Aristóteles que duas afirmações contraditórias não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo. Por exemplo: As afirmações «P é P» e «P não é
P» não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.
Assim, nada pode ser uma coisa e não ser essa mesma coisa ao mesmo tempo.
A forma lógica deste princípio é IP A ).

Princípio do Terceiro Excluído: é a terceira e última lei clássica do pensamento


e também ela foi formulada por Aristóteles. De acordo com esta lei, qualquer
afirmação ou é verdadeira ou é falsa, não existindo assim qualquer valor
intermédio. Por exemplo, a afirmação «P é P» ou é considerada verdadeira ou
é considerada falsa. Seja como for ela só pode ter um destes valores.
Assim, uma coisa ou é ou não é, não existindo meio termo. A forma lógica
deste princípio é "v P V P".

Olhando para estas três leis, vemos facilmente que elas se complementam. Na
verdade, as leis da Não Contradição e do Terceiro Excluído não são senão um complemento à
lei primeira da Identidade.

As Leis do Pensamento, Princípios Regulativos do Pensamento, ou Postulados do


Conhecimento, são aquelas leis fundamentais, necessárias, formais ea priori de acordo com as
,
quais todo o pensamento válido/correto deve ser conduzido. Elas são a priori, isto é, elas
resultam diretamente dos processos da razão exercidos sobre fatos do mundo real (a priori
diz-se de tudo aquilo que ocorre antes da experiência sensorial). Elas são necessárias, pois
ninguém concebe ou pode concebê-las ao contrário, ou realmente violá-las, pois ninguém
aceita uma contradição quando esta se apresenta perante a sua mente como tal.
A evy, C>c .,uYyko, \re(r)y;b
o
0") D,r 4/3 ?ref° 3 rtja•Q

Exercícios

1. Esclareça em que consiste um argumento.


VY\ r u rfiN vim ,A4e kA ttAknk0(t»
2. Considere ictseguinte conjunto de afirmações:

Todos os livros são uteis.


Alguns caracóis são idiotas. kljo '&71-Ck vrD \(' e QIÇ6 4&O
Logo, todos os portugueses são sábios. ,evzY,--v-,, • öw INeNA kA, %Ara -Pt -
ey-..Qp00.7. WITCS •4( W1/ 40 ccy\ c(t( )•
- justifique em que medida se pode afirmar que não estamos perante um argumento. a.

3. Indique quais das seguintes frases expressam proposições. Justifique.


vev-16,3
w,NorNYtõ> ct `juz dou. k.
Quantos dias há num mês?
-e7)-\ cv }-vrc;°-" uo‘lov ck4
2. Balzac foi um romancista francês.
) c41) csj\ (,)ct
3. A minha madrinha deu-me um cornputador.r
\1,Q11cLnipt Q 'Ay) 0,
reN\
/ 0( Ajuda-me a resolver o exercício.

4. Indique quantas proposições se encontram a seguir. Justifique.


OVJ
A --)ev) at) \-1‘e,‘ 1.~(1.41 \ o,c-evoNçj30
1.; A neve cobriu toda a montanha.
•xr(; e x ere5,>o,v-y ~vyxa.-
2. Toda a montanha ficou coberta pela neve. ,
3. A neve cobriu a montanha por completo.
(---.7..
( .f.) áoss Op v-Kekko
'/5. Ordene por ordévi decrescente de compreensão os seguintes conceitos. Depois ordene-os
('' / 9 Llet l• JO :, .4
weyo ou.k,wev)", por ordem Crescente de extensão. Cli.iê conclusões pode retirar a partir do exercício.
-5 ‘•(‘,/,€A ,/,(,.(v.(-- `_. c‘‘(\.)0\e'e si 1/4),e_14/'\-e..\ ss2. 1).( 1/4“ 0 ,k7
N '
(-tin ‘-‹-t X-VQ1R.1531/4
-
1. Árvore, ser vivo, bananeira, vegetal.
covv ,e(Q•e‘n Ca)
Cov0V-1()Pvi 5 h o %), ;‘; 0)0 \‘' ,P --)4'91;"\c'‘\ • I,:1/41 o %•••••' Zsel1/4)sev'srk (L)
6. Tendo em conta os seguintes argumentos, identifique as proposições que expressam a
,. c 47,
CI S '
conclusão e as proposições que expressam as premissas.
'ex i')4 •C)
T\/
? 1. Há conflitos internacionais'.\rikssirn)ia paz individual encontra-se ameaçada. A paz (.%.) '"°‘ •
c,‘ /
Co \r o'‘ ' individual encontra-se ameaçada no caso de haver conflitos internacionais.
V); .4"/ \i-I.atct.
2. 0 egoísmo é perverso.,DaUque não seja moralmente correto. Parte-se do princípio que
(:_v,( O
de que nada do que_é.perverso é moralmente correto. ,
-
3. A alma não é material. Admitindo que o corpo é material, prova-se que a alma não é
corpo. \,\I-c(,11 —

Para finalizar, verifique e identifique quantas proposições complexas se encontram em


todos os exercícios que acabou de realizar.
c»e\c —
Q",.) ,•¡ c..ov\
")V\.\\1( cuioo.1,-net,0 ,
.LLS¡vy\ c.) \ eN? \-


•(/ y•OV 1/4)-Pkr -
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APONTAME.NTO 3

Filosofia

Título: Lógica Formal


Conteúdos de 10.0 ANO
Lógica aristotélica.

AssinatuN3 Professor: Tiago Lemos

6- „,ot,
Lógica Formal
1) Tod„ 0., g sa.e,
?) (..Nraitse") Neste momento já sabemos o que é a Lógica Formal e que o seu objeto de estudo é a
análise da validade dos argumentos dedutivos. Por sua vez, os argumentos dedutivos são um
.d.v011
•tipo de argumento muito específico, os quais se caraterizam pela sua forma constringente, isto
é, a partir de uma ou mais premissas gerais, permitem que se extraia daí uma conclusão
menos geral, a qual, de algum modo, já se encontrava implícita nas premissas. Por se
encontrar implícita nas premissas, a conclusão dos argumentos dedutivos não é ampliativa, no
sentido que não amplia o nosso conhecimento, limitando-se a tornar explícito o que já
sabíamos implicitamente.

Os argumentos dedutivos dizem-se válidos, ou corretos, quando a conclusão é o


resultado lógico e necessário das premissas de que partimos, isto é, quando é impossível que a
conclusão seja falsa e as premissas verdadeiras. Se a conclusão já está implícita nas premissas,
então ela nunca poderia ser verdadeira e as premissas falsas. A validade garante isto: a única
coisa que não pode acontecer é a conclusão ser falsa quando partimos de premissas
verdadeiras. E um argumento válido com premissas e conclusão verdadeiras chama-se
argumento sólido.

Por outro lado, quando o nosso argumento não é válido, isto é, é inválido ou incorreto,
isso significa que a conclusão não é o resultado lógico nem necessário das premissas de que
partimos. Nestes casos, a eventual verdade das premissas não garante a verdade da conclusão.
Os argumentos inválidos dizem-se falaciosos. Daí que uma falácia seja sempre um erro de
raciocínio.

A partir deste momento, vamos estudar duas formas de aplicar a Lógica Formal: por
um lado, estudaremos o sistema Lógico desenvolvido por Aristóteles, e ao qual damos o nome
de Lógica aristotélica, e, de seguida, estudaremos a Lógica Proposicional, a qual, na realidade,
representa uma espécie de aperfeiçoamento face à Lógica aristotélica.

Lógica clássica, aristotélica ou silogística


.s•‘
Gdoii cláss ;

Entre outros tantos temas, Aristóteles é um autor fundamental no campo da Lógica,


uma vez que foi ele o primeiro a conceber um sistema Lógico que nos permite analisar a
validade dos argumentos dedutivos. Repare-se que saber construir argumentos válidos é
essencial no desenvolvimento de qualquer estudo/teoria e/ou investigação. Argumentar
validamente significa que as razões que damos para justificar/suportar as nossas teses são
formalmente corretas e, uma vez que sejam aceites, então também a nossa tese/conclusão
terá de ser aceite, pois esta é apenas o resultado lógico e necessário que podemos extrair
daquelas.

No entanto, antes de passarmos à análise dos argumentos, é importante entendermos


o seguinte: segundo Aristóteles todas as proposições (frases declarativas com um valor de
verdade) podem ser reduzidas a quatro tipos de proposições simples ou categóricas. Veja-se:
uma proposição pode ser Universal ou Particular e Afirmativa ou Negativa. Da combinação
destes quatro elementos, resultam quatro tipos distintos de proposições:

Proposições de Tipo A: São proposições universais e afirmativas.

Exemplo: Todos os alunos são estudiosos.

Forma Lógica: Todo o S é P.

Proposições de Tipo E: São proposições universais e negativas.

Exemplo: Nenhum aluno é estudioso.

Forma Lógica: Nenhum S é P.

Proposições de Tipo I: São proposições particulares e afirmativas.

Exemplo: Alguns alunos são estudiosos.

Forma Lógica: Alguns S são P.

Proposições de Tipo 0: São proposições particulares e negativas.

Exemplo: Alguns alunos não são estudiosos.

Forma Lógica: Alguns S não são P.

A partir destes quatro tipos de proposições simples, ou categóricas, podemos estabelecer um


conjunto de relações entre elas, do qual resulta um Quadrado de Oposição:
ovo.;
u,5LckvoLc(-0 "
-
/V

tJQ billtkVvt,
P'rek° •
-rife) E

O
(\i) (\i ') .1/ :..(<>11. SW° Co
Âilpt„n<, 4 o-
-9

j v" s-(-tbc,\-k-evyNo do 1Theo A , To O t•kbo, V v‘o ct_o E.

Regras do Quadrado de Oposição

a) Regra das Contrárias: duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras ao
mesmo tempo. Mas da falsidade de uma não se pode concluir a falsidade ou veracidade da
outra.

b) Regra das subalternas: da verdade da universal infere-se a verdade da particular que lhe
está subordinada; mas da verdade da particular nada podemos inferir quanto à universal. Por
sua vez, da falsidade da universal nada se pode concluir quanto à veracidade ou falsidade da
particular; mas se a particular for falsa, então podemos estar seguros da falsidade da universal.

c) Regra das contraditórias: duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras nem
falsas ao mesmo tempo. ,

d) Regra das subcontrárias: duas proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas ao
evvl skr-
mesmo tempo; mas ambas sejam verdadeiras.

Silogismo
o VYLo

O silogismo é uma forma particular de argumento dedutivo, composto por três


proposições. Segundo Aristóteles, o silogismo representa a forma perfeita do argumento, a
qual pode ser facilmente analisada quanto à sua validade.

Existem três tipos de silogismos: os categóricos, ou regulares, que trabalham apenas


e< 4
com proposições simples; os condicionais, em que uma das três proposições é complexa e
a 4°
condicional; e os disjuntivos, em que -Jáfaia das proposições é complexa e disjuntiva. Nós
estudaremos aqui apenas os silogismos condicionais e os disjuntivos.

Silogismo Condicional

O silogismo condicional é aquele silogismo cuja premissa maior nos oferece uma
condição, e a qual se encontra dividida em antecedente e consequente. A partir desta
premissa maior, podemos construir quatro modos de argumentos condicionais, sendo que
apenas dois deles representam formas válidas de raciocínio. ((:), sTE6 c,; a-))

A fim de confirmarmos esta situação, tomemos a título de exemplo a proposição


condicional "Se compro a casa, então gasto muito dinheiro". Ela servirá aqui como premissa
maior para a construção dos quatro modos do silogismo condicional.

Modus Ponens [Modo Afirmativo] ÀA.- JA (

O modus ponens representa a forma afirmativa do silogismo condicional. Ele consiste


em afirmar na premissa menor (a segunda premissa) o antecedente da premissa maior; e
afirma na conclusão o consequente da premissa maior. Vejamos:

t_
Premissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]

Ckk Od.AYY?
`nlit -0 Premissa Menor: Comprei a casa. [É verdade que P]

Conclusão: Logo, gastei muito dinheiro. [Logo, é verdade que Q]

Modus To/lens [Modo Negativo] [1\1 /1..\.

O modus tollens representa a forma negativa do silogismo condicional. Ele consiste em


negar na premissa menor (a segunda premissa) o consequente da premissa maior; e negar na
conclusão o antecedente da premissa ~of. Vejamos:
,CY1 OV-
Premissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]

wnt,2 VAT) v o/A hto Premissa Menor: Não gastei muito dinheiro. [Não é verdade que Q]

Conclusão: Logo, não comprei a casa. [Logo, não é verdade que P]


Falácia da Afirmação do Consequente FAC.

A falácia da afirmação do consequente, como o próprio nome indica, representa uma


forma falaciosa, ou inválida, de construir o silogismo condicional. Esta falácia ocorre sempre
que na premissa menor afirmamos o consequente da premissa maior, independentemente da
conclusão. Na verdade, sempre que afirmamos o consequente da premissa maior, na premissa
menor, não podemos retirar qualquer conclusão necessária. Vejamos:

Premissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]

__ Premissa Menor: Gastei muito dinheiro. [É verdade que Q]


cAv%uvbi,r2v -k-o

Conclusão: Logo, Comprei a casa ANada me obriga a aceitar que é verdade que P]
Low v‘zio

Falácia da Negação do Antecedente I h) Al (

A falácia da negação do antecedente, como o próprio nome indica, representa uma


forma falaciosa, ou inválida, de construir o silogismo condicional. Esta falácia ocorre sempre
que na premissa menor negamos o antecedente da premissa maior, independentemente da
conclusão. Na verdade, sempre que negamos o antecedente da premissa maior, na premissa
menor, não podemos retirar qualquer conclusão necessária. Vejamos:

—15 remissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]

e—"Y'v" "e'41) 'onuAclo Premissa Menor: Não compro a casa. [Não é verdade que P1

Conclusão: Logo, não gasto muito dinheiro.ANada me obriga a aceitar que não é
verdade que Q]. u9,9c, , $4 4 vvt-t•k• 4-0 inhse:yo

Silogismo Disjuntivo

O silogismo disjuntivo é aquele silogismo cuja premissa maior nos oferece uma
disjunção (que pode ser exclusiva ou inclusiva), a qual se manifesta através de uma alternativa.
A partir desta premissa maior, podemos construir dois modos válidos de argumentos
disjuntivos, e um modo inválido.

A fim de confirmarmos esta situação, tomemos a título de exemplo a proposição


condicional "Ou escrevo ou sorrio". Ela servirá aqui como premissa maior para a construção
dos nossos silogismos.

Modus Ponendo Tollens [Modo Afirmando, Nego]


O modus ponendo tollens representa o modo afirmativo válido do silogismo disjuntivo.
Ele consiste em afirmaremissa menor, uma das alternativas da premissa maior; e negar
/la conclusão a outra alternativa. No entanto esta forma de raciocínio só é válida quando
partimos de uma premissa maior que apresenta uma disjunção exclusiva, pois só nessa
situação sabemos que se uma das alternativas é verdadeira, então a outra é necessariamente
falsa. Vejamos:

Premissa Maior: Ou escrevo ou sorrio. [Ou é verdade que P ou é verdade que Q]

Premissa Menor: Escrevo. [É verdade que P]

Conclusão: Logo não sorrio. [Logo, não é verdade que Q].

Falácia do Silogismo Disjuntivo

A falácia do silogismo disjuntivo representa o modo afirmativo inválido do silogismo


disjuntivo. Este erro de raciocínio ocorre sempre que partimos de uma proposição disjuntiva
irIclusiva e, depois de afirmarmos uma das alternativas na premissa menor, tentamos extrair
uma conclusão. Vejamos:

Premissa Maior: Escrevo ou sorrio. [É verdade que P ou é verdade que Q]

Premissa Menor: Escrevo. [É verdade que P]

Conclusão: Logo, não sorrio. [Esta conclusão não é necessária, pois segundo a
disjunção inclusiva nós sabemos que pelo menos uma das alternativas tem de ser verdadeira,
mas nada impede que as duas sejam verdadeiras. Nestes casos, nenhuma conclusão é
necessária.]

Modus Tollendo Ponens [Modo Negando, Afirmo]

O modo tollendo ponens representa o modo negativo válido do silogismo disjuntivo.


Ao contrário do que acontecia com o modo afirmativo, este modo é válido quer para
disjunções inclusivas quer exclusivas. Ele consiste em negar, na premissa menor, uma das
alternativas da premissa maior; e na conclusão afirmar a outra alternativa. Vejamos:

Premissa Maior: Escrevo ou sorrio. [É verdade que P ou é verdade que Q]

Premissa Menor: Não escrevo. [Não é verdade que P]

Conclusão: Logo, Sorrio. [Logo, é verdade que Q].

Nota: Uma vez que segundo a regra da disjunção pelo menos uma das alternativas tem de ser
verdadeira, então, se negarmos uma das alternativas na premissa menor, podemos estar
seguros de que a outra alternativa é verdadeira e afirmá-la na conclusão.
Exercícios

1. Coloque as seguintes proposições na sua forma padrão e classifique-as quanto ao seu tipo:

, Os< •
a) Os galos cantam. L) •
A \ a_
Yctu C)( (...) CO \I-) \•)X•c"(:),,NA•c),
b) Alguns estudantes não compreendem a lógica silogística. \
(c) ‘
. p() O
1-(--yskoO er.5-\ ("4-eQv‘okt, c tit s-0,-)
c) Nenhum tigre é ovelha.
‘. 15V-e0 1- ` ° P
1- 42..d) Esta garrafa cheira mal. -1-Q4,c, 0, (0.\-,(- c‘c \-y‘o,\ c\n,e‘coSc-. ‘00 A
\ %u• % e \r`f -&°-

e) Nem todos os patos são bravos., f fr\n ‘o'n .!...01 0 1--N \)()
•Sc-7‘) '4- CA )(.-%) co P) •

f) Certos heróis são simpáticos. M o,e,\), )JO


pc;-\ UT) po

1\3 y\VNIA-try\ <-0 "T¡

2. Escreva a proposição contraditória para cada uma das proposições anteriores.

()Imagine que a proposição "Nenhum homem é mortal" é verdadeira. Indique qual é a sua
proposição subalterna e o que podemos saber quanto ao seu valor de verdade.
) v(.\ cl
'

\
4. ,Coloque na forma padrão as proposições condicionais seguintes:
,
a) Para não seres infeliz, basta que tenhas saúde. ,)Q (LP \ • C \r\-\
-

b) Caso haja conhecimentos inatos, os empiristas radicais estão errados.


, • 1"-).`

ronuncie-se acerca da validade dos seguintes silogismos:

a) Se leio, então torno-me inteligente. Leio. Logo, torno-me inteligente. )-koGkk._s %\nsekn

b) Se fumo, então não tenho uma vida saudável. Não tenho uma vida saudável. Logo,
fumo. 1(*;, < ; 6 tT,(0o\-uki‘

c) Se és meu amigo, então nunca me mentiste. Nunca m.e mentiste. Logo, és meu
amigo. - k6 ; dos
10‘ , ,

(6)Construa, a partir das proposições dadas, os dois modos válidos do silogismo condicional.
Al
:\hT

a) Se o doente não melhora, então faz terapia. 'S)c> \nzo `(‘-l-c»"'( 6- • o) cl


0 (A.A..)-ev\--e \\A (M«.--= • 1."' c;Y° -") +\",

b) Se a aluna não tira boas notas, então não vai de férias.


\-1c-A-c. •L0 jr
A , ceo (A0

C7 Yente encontrar as premissas e a conclusão de cada silogismo. Coloque-as por ordem, de


modo a ficar com um argumento na sua forma padrão. No fim, pronuncie-se sobre a sua
validade.
2-k\r- e'kei-(A- c¡u » „ Q.)

\'‘(--() °‘` 4 Eu não faço exercício físico,, por isso não tenho saúde., Fazer exercício físico é
.11A condição suficiente para eu ter saúde. '

b) O ser humano não concebe o ser perfeito. Ora, o ser perfeito não existe. O ser
)(,
perfeito existe, caso o ser humano o conceba.
A (_) • •.• • •,
y, , 0, A ,
0

8. Pronuncie-se acerca da validade dos seguintes silogismos:

a) Ou recordo ou esqueço. Esqueço. Logo, não recordo. ckyr-v•-•0\N"\-0

b) Este livro ou é de poesia ou é de história. Este livro não é de poesia. Logo, este livro
é de história. •- ( • '

c) Penso ou fujo. Penso. Logo, .não


• fujo. cty,..ifu.w.(2~
9'. Construa, a partir das proposições seguintes, uma forma válida do raciocínio disjuntivo.

rtockvn PcYrosk)Y-W-u T<)1k.)\i_s


a) Ou descanso ou estudo. :).)(e•onso) )o'», \r‘i3--c) 'er:)\--Lk-c/-0
Nós) GLP") \ — ktocl-u•--J
— y•
)(yr\s+-`,
b) Estou saudável ou aprecio a paisagem. »No ,O•ot& sco,Ld-rro-e\ • 2O8.0 ) cxsesec-0 f....,442,s6R .

_ _
c) Sou poeta ou arquiteto-Th&o cx\rcko4.4'etti — \--(00 si-61\44'.U1,0

d) Estou vivo ou morto. \\I e,)k-e•-••• Y.• \-0 ) 1_ 09so O 4D .--1--C)16/4".AD cbvv,v)

Cy-, %Co \('‘i~. cjLir)


4) 'sbaf)'‘-k,(- 6vt.k yyx_ o'r x--se

tqlwoo 1,36:0 e sko


A ) (17:u.)
- o • ,cf-t(j•c-
edAN, Pdv\r2'r\s3-0 --ro\‘P‘&91,_.0
Ti21\•ey‘., •••-,
A WA qwv)1A5
Nclo •crc,
toeàk. ) fl? L-D \-1Z3

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2) ki (j

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APONTAMENTO N„° 4

Filosofia 2020/2(V:.
Conteúdos de 10.0 ANO

bubo: Lóca 1. ógka Proposicional

Professor: Tiago Lemos

lntrodução

Ao contrário da Lógica Aristotélica, que lida apenas com uma forma de argumentos
dedutivos (os Silogismos), a Lógica Proposicional permite-nos avaliar a validade de qualquer
argumento dedutivo, quer se trate de um Silogismo ou não. Neste sentido, ela representa um
progresso face à Lógica Aristotélica.

Proposições Simples e Complexas

Chamamos Proposições Simples a todas as proposições que não se podem decompor


em proposições 'r-V elementares, uma vez que se são simples, então isso significa que não
possuem quaisquer partes. sOS

São proposições onde não se encontra presente qualquer operador proposicional.

Chamamos Proposições Complexas/Compostas a todas as proposições que resultam


da negação de uma proposição simples, ou da combinação de duas ou mais proposições
simples.

São proposições em que se encontra presente pelo menos um operador proposicional.

TocLe ) A S6A,

Variáveis Proposicionais

Na lógica proposicional ignora-se o conteúdo específico e atende-se às operações


lógicas existentes. Cada proposição elementar ou simples que constitui um argumento é
representada pelas letras P, Q R, e assim sucessivamente, a que se chamam variáveis
proposicionais. O seu significado é fixado por meio de um dicionário que estabelece a
correspondência entre cada letra ou variável proposicional e a proposição simples ou
elementar específica que esta representa. As proposições simples ou elementares são aquelas
proposições que não têm qualquer conectiva proposicional ("se... então", "e", "ou", "não",
entre outras). Por exemplo, considerando a seguinte proposição condicional:

1.."Sê Deus existe, então nãõ, há mal no mundo." • \-\,(<

podemos construir um dicionário em que P representa a proposição elementar "Deus


existe" e Q representa "Há mal no mundo". Tendo em conta o dicionário e abstraindo-nos do
conteúdo da proposição, constatámos que a condicional em consideração tem a seguinte
forma lógica: "Se P, então não Q".

NOTA: nos dicionários entram apenas as proposições simples, e nunca os operadores


lógicos, ou verofuncionais.

Distin ão entre O serador Pro sosicional e O serador Ló ico

Os operadores proposicionais são palavras ou expressões que, sendo ligadas a


determinada(s) proposição(ões), permitem formar novas proposições. Dentro dos operadores
proposicionais, chamam-se operadores verofuncionais (operadores lógicos ou ainda conetivas
proposicionais) quaisquer operadores que nos permitam, uma vez conhecidos os valores de
verdade das proposições simples, determinar, apenas com base nessa informação, o valor de
verdade da proposição resultante.

Exemplos de operadores proposicionais que não são verofuncionais são expressões


como "Penso que", "Acredito que", Desejo que", "Prometo que", etc. Imagina a proposição
simples "A Democracia é o regime político ideal". Se acrescentarmos a expressão Penso que a
esta proposição, ficamos com a proposição complexa "Penso que a Democracia é o regime
político ideal". Mesmo sabendo nós o valor de verdade da Proposição Simples, jamais
conseguiremos apurar, de forma totalmente objetiva e fidedigna, o valor de verdade da
Proposição Complexa.

Pelo contrário, os operadores lógicos [verofuncionais ou conetivas proposicionais] são


palavras ou expressões que nos permitem calcular objetivamente o valor de verdade das
proposições complexas a partir do valor de verdade das proposições simples que as compõem.
Nesse sentido dizemos que essa proposição complexa é uma função de verdade. Vejamos a
seguir a lista completa de operadores lógicos:
re,(0,ctoy -e.r)
C/59 Conectivas
Linguagem natural
Simbolos das
proposicionais conectivas
It
• "não...», Weito,‘"
Negação • "não é verdade que...", -,
N.,
• "é falso que..."
a .,... e...,,,
Conjunção • "tanto... corno...", A
- "... mas... também..."
- "... ou...",
Disjunção (inclusiva) • "... a não ser que...", V
• "... a menos que..."

• "... ou.. .ou"


Disjunção (exclusiva) V \./
• " ... ou..., mas não ambos"

• "se... então..",
Condicional a ... desde que...", ,
a -------->

a "
a "se e somente se..." '
Bicondícional <4-
" " . . . condição necessária e
suficiente...",

Nota: chama-se operador singular, unário ou monádico àquele que se aplica apenas a uma
proposição simples; e chama-se operador binário, ou diádico, àquele que atua sobre duas
proposições. Apenas o "não" é um operador singular.

EXERCÍCIOS:

1— Refira quais das seguintes proposições são simples e quais são complexas.

a) És pintor ou és mecânico. ( ,)'ernçM.<0... p;vilOY = Es ~,('


‘,, Q V \I

b) Se vens ter comigo, então sabes onde estou. cc,r,,,s-i,D,< 49,n5 s,


c) A vida não é uma realidade misteriosa.c,,,,x,\k,,,, Q
d) Sócrates é um filósofo. -`:. z,e(t,p2i) v., cAl;t
oAdd vrW kv

e) Tudo o que percecionamos é ilusório.


f) O João estuda. s-fv)
g) O João é estudante ou cantor. COrn•O,QXOL O -ray C(5‘'Ll acvA z P t--) V
O 75E,, P C006toN =

2 — Construa um dicionário [utilizando as variáveis proposicionais] para todas as proposições


complexas que assinalou na questão anterior.

3 — Proceda à formalização proposicional [escreva em linguagem proposicional] essas


proposições complexas.
Tabelas de Verdade

Como já vimos, se soubermos o valor de verdade das proposições simples, poderemos


igualmente determinar o valor de verdade das proposições complexas resultantes, desde que
estejam envolvidos operadores verofuncionais (lógicos ou conetivas proposicionais). Assim,
uma tabela de verdade, ou matriz lógica, é uma tabela que apresenta as diversas condições de
verdade de uma forma proposicional específica, permitindo determinar de forma mecânica a
sua verdade ou falsidade.

As tabelas de verdade apresentam duas colunas. Na primeira parte, construímos a


coluna de referência, onde exibimos as variáveis proposicionais e todas as possíveis
combinações de valores de verdade; na segunda parte, colocamos a forma proposicional em
análise e calculamos o seu valor verdade.

Vejamos a seguir a tabela de verdade correspondente a cada um dos operadores


verofuncionais.

Negação

A negação é uma proposição com a forma "Não P", representando-se "— P". Se P é
verdadeira, então — P é falsa e vice-versa.

Tomemos por exemplo a proposição complexa "Portugal não é um país asiático" e


sigamos, passo a passo, a sua transformação para a linguagem proposicional, a fim de
verificarmos o seu valor de verdade.

Dicionário:

Formalização:

Tabela de Verdade:

Conjunção

A conjunção é uma proposição com a forma "P e Q", simbolizando-se por "P A Q", a
qual é verdadeira apenas na circunstância de todas as proposições simples serem verdadeiras;
e é falsa no caso de pelo menos uma das proposições ser falsa.
Tomemos por exemplo a proposição complexa "A vida é enigmática e a morte é
enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.

Dicionário:
— A\í‘ cta_ ev\ (ck
(.) - A c -)\IAP rt se ,r\ rt. „no:\ ‘«in
o

Formalização:
eAQ
Tabela de Verdade:
P A

F 1`;

Disjunção Inclusiva

A disjunção inclusiva é uma proposição com a forma "P ou Q", simbolizando-se em


lógica proposicional por "13 V Q", sendo sempre verdadeira,
_ _ com a exceção de quando P e
_ _ _
são simultaneamente falsas.

Tomemos por exemplo a proposição complexa "A vida é enigmática ou a morte é


enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.

Dicionário:
P i)/•-k-
\<\ %*01,
— A f•c-k r\
o
Z

Formalização:
NI

Tabela de Verdade:

P o P V CD
\1
v - V
F v v
F- r F
Disiunção Exclusiva

A disjunção exclusiva é um,a proposição com a forma "Ou P ou CI", apresentando-se na


simbologia proposicional por "P Q", a qual é verdadeira quando P e Q possuem valores
lógicos distintos e falsa quando P e Q possuem o mesmo valor lógico.

Tomemos por exemplo a proposição complexa "Ou a vida é enigmática ou a morte é


enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.

Dicionário:
P- A
Q • t",' \‘-\
o

Formalização:
P

Tabela de Verdade:
\‘\/

Condicional [ou implicação]

A condicional é uma proposição composta com a forma "Se P, então Q", assumindo a
simbologia "P --> Q", a qual só é falsa se P (o antecedente) é verdadeiro e Q (o consequente) é
falso. Em todas as outras situações a proposição complexa é verdadeira.
)
Tomemos por exemplo a proposição complexa "Se a vida é enigmática, então a morte
é enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.

Dicionário:

(.) „
- A -(‘\ k ‘, `).• , . è,
ti

Formalização:
P

Tabela de Verdade:

V
Bicondicional [ou equivalência material]

A bicondicional é uma proposição composta com a forma "P se, e só se, CI",
simbolizando-se "P E-> Q", a qual é verdadeira _ se ambas as proposições simples tiverem o
mesmo valor lógico, e falsa se apresentarem valores distintos.
Tomemos por exemplo a proposição complexa "A vida é enigmática se, e só se, a
morte é enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.

Dicionário:
— A .1‹,
.(t)... j
o

Formalização:

Tabela de Verdade:

v \) v
v F
•‘:- \.) F
v r v

O Âmbito dos Operadores Verofuncionais [ou a sua precedência]

O âmbito do operador refere-se à proposição, ou proposições, sobre a qual ele atua.


Neste sentido, quando diante de uma proposição composto nos deparamos com a presença de
dois ou mais operadores, é necessário ser capaz de distinguir o operador principal da
proposição do(s) operador(es) secundários. O operador principal é sempre aquele que atua
sobre um maior
_ número de elementos.
Tomemos como exemplo as frases "A terra é bela e o céu não." e "É falso afirmar que a
terra é bela e o céu não.". No primeiro caso o operador de maior âmbito é a conjunção,
simbolizando-se a proposição do seguinte modo: "P'^ Cr. Por sua vez, na segunda frase o
operador de maior âmbito é a negação, simbolizando-se do seguinte modo: '(-'(P A Q)".
O uso de parêntesis ajuda-nos a identificar qual o operador de maior âmbito, e será ele
a indicar-nos o valor de verdade da proposição complexa.
Exercícios:

1- Diferencie operador proposicional de operador verofuncional.

2 - Considere as proposições:
P = 0 universo é finito \t
0=0 universo é infinito F

Admitindo que P é verdadeiro e Q é falso refira o valor de verdade das proposições


expressas a seguir. Se tal não for possível, explique a razão dessa impossibilidade.

c)p<D5C-
a. O Joaquim admite que,o universo é infinito.
b. O universo é finito(ói.)infinito. vt\t-cV)C\\“5-
c. Penso que o universo é infinito. f,ecAraL co,cy\v=k0 - •( \tit_ e'c 0

d. (.,Se10 universo é finito, ntão não é infinito. ft.,'

3 - Sendo dadas as seguintes letras proposicionais e as proposições que elas simbolizam:


P = O ser humano é livre.
Q= A natureza é determinada.

3.1- Converta para língua portuguesa:


a. PAQ h.4.4 yr.okr,-0 e' kt‘t‘pee.... ‘AO,N.-"‘‘` eiV3"- 01..0"\ V1“vvy,01(1...
b. P E-> Q 0 \AA,,,,o\akv-c) >vt. ,, s"okerk
a,c£ 4 \c‘A-x-,
c. QvP A N"ck--kw< ‘ei)(31/4 6 cLote\r %s-n.

3.2 - Converta em linguagem simbólica:


a. O ser humano não é livre.
b. Se a natureza é determinada, então o ser humano é livre. 1.)
c. A natureza é determinada e o ser humano não é livre. .f--t

4- Formalize as seguintes proposições, apresentando a sua interpretação [dicionário]. ,


bet& Q
A 0,k v- ,ok. ‘rykya'N-ns( P a' A vida é breve, a pesr de bela. À
‹)«

—7 b. •
É falso que a alma seja mortal.
- -
PAQ
(si6e\e‘ to ODeus é o mundo ®Deus ao o mundo. 3)"/"Ç s'AA‘vv't ° --‘ p
v ("P'4 '•10 p d. Nem o libertismo nem o determinismo são persuasivos. • .Q, _ r sk;k' ~ - P
CM, ÇAf `01i341,;u)Nr».4, 0
, Q
e. Ser filósofo é condição suficiente para eu ser cauteloso. Sc (ct.,...\.g.,a,...0 -Q
p•N"4,t,A01/4 &.-‘k q f. A leitura é tranquila, a_m_e_nos que as moscas nos importunem e qu ... Ido
A \ 12-4` \(-<''s
não cesse à n ssa\volta. " 1-) ./R.AR -"4 e
IN s yncs) w-O"'") V.1(i- > yy.‘ri,..),
‹ .k vAN.evy• - a
-- R
5 - Verifique em que circunstância(s) as proposições anteriores são verdadeiras (para isso deve
construir as suas tabelas de verdade. p f PrD .Y. ( P VG?)
' •r( 1/4) EICiA ak,Z 'CC, GI .
k,

- y) s
...
v "Q I- V
IT' So ,01 v•ev arn~c v isg-°'fl'e r39A16.°
19 A Q
V -Q- 01/4,_ er\loov, f'
r \J I E v
5éti, pew\ r F 1 V F
,0^ 1/4:j se .r.ok.(:)W
c‘CkcAlZ y(-f> j (),/ cx,c-q , .8.0,c,,,--,

V e•falik-OUÂYC
\I V

(.10'011 \)
P 7 6) 7 )3t‘C'i
p Ywh,‘,0-) c‘kkom,\41,0 \I
t3)

k 1.2
Tautologias, Contradições e Contingências

As Tautologias, ou verdades lógicas, designam as fórmulas proposicionais que são


sempre verdadeiras, qualquer que seja o valor de verdade das proposições simples que as
constituem. q resultado final do operador princi al é verdadeiro em •ual uer circunstância.
As Contradições, ou falsidades lógicas, designam as fórmulas proposicionais que são
sempre falsas, qualquer que seja o valor de verdade das proposições simples que as compõem.
O resultado final do operadw
-Lcip saálguer circunstância
As Contingências, ou proposições indeterminadas, são fórmulas proposicionais que
tanto podem ser verdadeiras como falsas, consoante os valores lógicos das proposições
simples que as compõem. O resultado final do operador principal varia consoante as
circunstâncias.

Equivalência Lógica

Antes de mais, não devemos confundir esta equivalência com a equivalência material
(as proposições bicondicionais). A equivalência material representa apenas uma proposição
complexa, enquanto a equivalência lógica ajuda-nos a perceber se duas fórmulas são
logicamente proposicionais. Para as distinguir simbolicamente, usaremos <=> para as
equivalências lógicas; e H para as bicondicionais, ou equivalências matérias„ oj. rAr
Dizemos que duas proposições são logicamente equivalentes quando apresentam os
mesmos resultados para as mesmas circunstâncias, resultando assim o resultado final da
equivalência numa tautologia.

Exercícios

1 - Verifique, usando tabelas de verdade, se as seguintes fórmulas proposicionais são


tautologias, contradições ou contingências:
a. (P -> Q) v (P v O) 4coO
b. (- PA Q) A P v Q) coy\-\•wok,.
c. P R)
d. (p A Q.) A( p v Q.) cov

e. (P A Q) -> P ct.u.ka

2 - Refira, usando tabelas de verdade, se as seguintes proposições complexas são ou não são
logicamente equivalentes:
(.0‘ v) xo (AA: Jc t&9
a. P v Q epA-Q yr---(c)
b. P -> Q e (P v Q) "
P ->O e p pv ' \AAt v\"\ •erk...,_ ye, Lt 1/4A- ti).
c.
d. P->QePE4(PAQ) te•Ci. (0\ yNk.( v:\ ‘'? e_ro:
p ()I cot 0:

DeterrniD10 e ri...iberdzIde

Disciplina: Filosofia

Conteúdos de 10.0

Assinatura Professor: Tiago Lemos

Determinismo e Liberdade na ação humana

Quando estudámos a ação humana, verificámos que esta exige sempre o exercício da
liberdade. É certo que distinguimos as ações voluntárias das involuntárias, mas até nesse
momento não estava em questão o exercício da liberdade, mas tão somente o facto de a
liberdade de escolha estar ou não constrangida. Nesse sentido, Jean -Paul Sartre parece estar
correto ao afirmar que "o ser humano está condenado a ser livre".

No entanto, levando agora a questão para outro patamar de complexidade, sempre


poderemos perguntar: que garantias existem que possam comprovar, de modo absoluto, que
a liberdade existe? É verdade que nós partimos, anteriormente, do princípio de que a
liberdade existe. Mas como estarmos absolutamente seguros de que esse princípio é correto?

Ora vejamos: independentemente de a liberdade ser, ou não ser, real, a verdade é que
parece difícil aceitar que a liberdade humana seja incondicional, isto é, que ela ocorra a um
nível em que não se depare com qualquer constrangimento. Na verdade, sem ser necessário
fazer uma grande reflexão, ocorrem-nos facilmente dois tipos de condicionantes da
ação/liberdade humana: as condicionantes físico-biológicas e as condicionantes histórico e
culturais.

Por um lado, todo o ser humano é determinado (ainda que não completamente, pois o
meio em que o indivíduo se desenvolve também irá contribuir para essa determinação) por um
património genético que recebe dos seus progenitores. Essa herança genética confere ao ser
humano determinadas aptidões, as quais, necessariamente, acabarão por condicionar a sua
personalidade, o seu comportamento e as suas ações.

Para além desta condicionante de ordem física e biológica, os seres humanos crescem
e são educados em diferentes contextos. O filósofo espanhol Ortega y Gasset escreve: "eu sou
eu e a minha circunstância". Com esta afirmação o autor pretende apenas mostrar a influência
que o meio (em que crescemos e vivemos) tem junto do ser humano. De tal modo que não
podemos ignorar o impacto que a cultura tem sobre os nossos comportamentos e ações, os
quais seriam certamente distintos caso tivéssemos sido criados e educados sob os princípios e
valores de um outro padrão cultural.
Perante esta situação, eis a questão: a partir do momento em que qualquer um dos
nossos comportamentos e ações são condicionados por fatores hereditários (genéticos) e
culturais, será que podemos falar efetivamente em liberdade? Mais: não será a liberdade uma
mera ilusão? Sobre este assunto, disse Espinosa o seguinte:

"(...) Os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas
em que eles têm consciência das suas ações e são ignorantes das causas pelas quais são
determinados. O que constitui, portanto, a ideia da sua liberdade é que eles não conhecem
nenhuma causa das suas ações. Com efeito, quando dizem que as ações humanas dependem
da vontade, dizem meras palavras das quais não têm nenhuma ideia."

Atendendo à opinião deste autor, vemos facilmente que ele defende a ideia de que a
liberdade (o livre-arbítrio, livre escolha) não é real. Trata-se antes de uma ilusão, gerada pela
nossa ignorância; pois ignoramos as verdadeiras causas que dirigem e determinam
(inconscientemente) a nossa vontade.

É certo que nem todos os autores pensam como Espinosa. Mencionámos já a opinião
de Jean-Paul Sartre, que afirma exatamente o contrário. Neste sentido, diz ainda o filósofo
Thomas Nagel:

"Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente
daquilo que de facto fazemos. Afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes
de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências e
desejos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais, em conjunto
com outros fatores de que pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazer com que
uma ação particular seja inevitável nessas circunstâncias. Esta perspetiva chama-se
determinismo [radical]. Isto parece ter sérias consequências, porque, se fosse assim, não faria
sentido condenar alguém por fazer uma coisa má ou elogiá-lo por fazer uma coisa boa. Se
estivesse determinado à partida o que as pessoas fariam, seria inevitável: não poderiam ter
feito outra coisa, dadas a s circunstâncias prévias. Portanto, como poderíamos achá-las
responsáveis?

Se pensasse que tudo o que faço é determinado pelas circunstâncias em que me


encontro e pelas minhas condições psicológicas, sentir-me-ia encurralado. E, se pensasse o
mesmo de todas as pessoas, pensaria que elas eram marionetas. Não faria sentido considerá-
las responsáveis."

Ora, perante as distintas opiniões destes filósofos, entendemos imediatamente que o


tema da liberdade é um tema controverso, e que nele se inscrevem diferentes posições e
teorias. De seguida, centraremos a nossa atenção na análise das principais teorias sobre o
livre-arbítrio, a fim de averiguarmos os seus fundamentos e, eventualmente, as objeções que
lhes são dirigidas.
Teorias Sobre o Problema do Livre-Arbítrio

Antes de avançarmos para a análise propriamente dita de cada uma das teorias
relativas ao problema do livre arbítrio, é de suma importância esclarecer, desde já, dois
conceitos fundamentais: livre-arbítrio e determinismo.

• Livre-arbítrio: designa a capacidade inerente à natureza humana (a vontade)


de efetuar ou não uma dada ação, isto é, a capacidade de fazer escolhas.

• Determinismo: designa o princípio segundo o qual qualquer fenómeno,


acontecimento, é rigorosamente determinado por aqueles que o precederam
ou acompanham, sendo a sua ocorrência necessária (não há escolha) e não
aleatória.

Estes dois conceitos são considerados fundamentais, pois eles colocam-nos perante
cenários possíveis absolutamente antagónicos. Dizer que a realidade humana é determinada
significa negar-lhe qualquer possibilidade de fazer escolhas, isto é, significa dizer que ela nunca
poderia ser diferente daquilo que efetivamente é. Por sua vez, afirmar a liberdade significa
exatamente o contrário, isto é, significa dizer o ser humano, através do exercício da sua
vontade, pode, a qualquer momento, alterar o decurso natural [determinístico] dos
acontecimentos.

Ora, é a partir do jogo que se estabelece entre estes dois conceitos que se originam as
diferentes teorias sobre o livre-arbítrio. E desde já podemos avançar que essas mesmas teorias
se podem agrupar em dois grandes grupos:

• Compatibilismo: teoria(s) que afirma(m) ser possível compatibilizar o


determinismo com o livre-arbítrio.

• lncompatibilismo: teorias que afirmam ser impossível compatibilizar o


determinismo com o livre-arbítrio. De tal modo que ou a liberdade é absoluta
ou'o determinismo é absoluto.

Comecemos então por analisar o Compatibilismo. Neste grupo encontramos apenas


uma teoria, a qual é denominada por Determinismo Moderado.

• Determinismo Moderado: na sua tentativa de conciliar a liberdade humana


com o determinismo do mundo natural (o qual é regido por forças inexoráveis
e necessárias), o determinismo moderado coloca o seu enfoque na sensação
generalizada, e comum a cada indivíduo, de liberdade que cada pessoa
experimenta em si mesma. Embora não existam provas que garantam
absolutamente a nossa liberdade, a verdade é que a sensação que temos de
que somos livres é tão forte, presente e constante em nós que não podemos
seriamente descurar a sua possibilidade. Assim, segundo os autores que
defendem esta perspetiva, embora o mundo natural seja regido por forças
determinísticas, o ser humano, graças ao exercício da vontade, pode "escapar"
a esse determinismo absoluto e alterar o decurso natural das coisas.
Certamente que este "escapar" não significa colocar-se de parte. Nada disso. O
determinismo moderado sabe perfeitamente que as forças naturais, que
governam a matéria, condicionam as ações humanas. Mais, não são apenas
essas forças naturais, mas também as condicionantes hereditárias e culturais
que interferem na nossa vida. Porém, condicionar não significa determinar de
modo rigoroso e absoluto. As condicionantes inclinam, mas não constrangem a
nossa liberdade.

Ao contrário do determinismo moderado que, como acabámos de ver, procura


conciliar determinismo e livre-arbítrio, as teorias que analisaremos de seguida são
abertamente Incompatibilistas. Vejamos.

• Determinismo Radical: Esta teoria encontra os seus fundamentos na mecânica


clássica, segundo a qual todo o universo se assemelha a um grande relógio em
que cada um dos seus movimentos é absolutamente determinado pelos
movimentos que o antecederam. Estes movimentos são regidos por um
conjunto de forças naturais, as quais governam toda a matéria. Ora, dado que
o ser humano faz parte desse universo, e é constituído por essa matéria, então
não há razão alguma para afirmar que ele possui um estatuto distinto de todas
as outras coisas. Assim, tal como tudo o resto, o ser humano, e com ele a sua
vontade, é absolutamente determinado por forças naturais contra as quais
nada pode fazer.

• Libertismo: A teoria do Libertismo parte do princípio de que o ser humano é


constituído por uma natureza dupla: um corpo material e uma
mente/alma/espírito imaterial. Assente numa tradição religiosa, e histórico
filosófica, a teoria do libertismo defende que embora o corpo, por ser
material, se encontre submetido às leis inexoráveis que governam toda a
matéria, a verdade é que a alma, sendo imaterial, escapa por completo a essas
determinações. Por sua vez, é na alma que reside a faculdade racional e
volitiva (vontade), de tal modo que, estando esta liberta de todos os
constrangimentos materiais, então a liberdade humana não pode ser
constrangida de nenhum modo.

Determinismo Radical e Libertismo representam teorias antagónicas, colocando-se em


pontos absolutamente opostos: ora não existe livre-arbítrio, ora o livre-arbítrio é uma
realidade.
Para além das três teorias que acabámos de estudar, existe ainda uma outra que,
curiosamente, não se enquadra em nenhum dos grupos, Compatibilismo e Incompatibilismo,
que definimos anteriormente. Vejamos.

• Indeterminismo: Tal como o determinismo radical, a teoria do


Indeterminismo também possui um fundamento científico. Tendo por base, já
não a mecânica clássica, mas os desenvolvimentos científicos que ocorreram
no campo da física, ao longo do século XX, bem como a descoberta de um
novo mundo de micropartículas (física quântica), as quais se comportam
aleatoriamente (ora de um modo, ora de modo distinto no momento
seguinte, sem nunca se repetirem), os defensores da Teoria Indeterminista
defendem que dado o ser humano ser um ser material, e dado que toda a
matéria, em último caso, apresenta um movimento/comportamento aleatório
e imprevisível, então os nossos estados mentais e as nossas tomadas de
decisão (fazendo parte do mundo natural) estão entregues ao mesmo registo
de aleatoriedade. Daí que não seja possível afirmar que somos livres ou
determinados.

Uma vez apresentadas as diferentes posições teóricas face ao problema do livre-


arbítrio, é tempo, agora, de assinalar as objeções com que cada teoria se deparou:

Assim, as obieções ao:

• Determinismo Moderado: Os críticos do determinismo moderado dizem não


existir qualquer fundamentação que legitime a diferença de estatuto entre o
ser humano e os outros seres naturais. Para além disso, basear a
argumentação de que somos livre numa mera sensação, mais do que justificar
a existência de livre-arbítrio, é reveladora da nossa ignorância sobre o mundo
natural.

• Determinismo Radical: Os críticos do Determinismo Radical afirmam que,


embora o mundo natural ser regido por leis inexoráveis, a verdade é que a
sensação de liberdade também é natural ao ser humano, de tal modo que não
temos razão alguma para pensar que essa liberdade não é real. Pura e
simplesmente ainda não descobrimos a fundamentação para a justificar.

• Libertismo: Não existe qualquer prova de que o ser humano possui uma
natureza dual, material e imaterial. Daí que que não podemos dizer que os
nossos estados mentais não obedecem, nem são condicionados, por leis
físicas. Para além disso, ainda que existissem e não fossem condicionados
pelas leis físicas, ainda seria necessário garantir que não eram regidos por leis
não físicas.

• Indeterminismo: O facto de ainda não termos percebido a causalidade a que


obedecem as partículas quânticas, isso não significa que essa causalidade não
exista. No início das investigações da física clássica também não conhecíamos
as leis que regiam a matéria, mas, como viemos a perceber, isso não significou
que elas não obedeciam a leis determinísticas. Também ao nível da física
quântica será uma questão de tempo até desvendarmos as leis que aí atuam.

Exercícios:

1. Classifique como verdadeiras ou falsas as seguintes proposições. Corrija as falsas.

a) Segundo o determinismo radical, algumas ações humanas são determinadas mas


não totalmente constrangidas;
b) O libertismo defende que as ações humanas resultam de deliberações racionais e
podem alterar o curso dos acontecimentos no mundo. V
c) Segundo o indeterminismo, as nossas ações estão sujeitas a leis determinísticas e
temos livre-arbítrio , ..kk er(, "M-4. n sn. sr\O A“,) '3(.5cg,
d) Segundo o determinismo moderado, todos os acontecimentos, inclusive as opções
humanas, são causados por acontecimentos anteriores. is--

D
('I
"0 nosso comportamento não é previsível do mesmo modo predizível o
comportamento dos objetos rolando por um plano inclinado. E a razão por que não é
predizível dessa maneira é porque, muitas vezes, poderíamos ter agido de um modo diferente
de como agimos efetivamente. A liberdade humana é precisamente um facto de experiência.
Se alguém prediz que eu vou fazer alguma coisa, posso muito bem não fazer essa coisa. Ora
bem, este tipo de opção não está à disposição dos glaciares que se movem pelas montanhas
abaixo ou das bolas que rolam em pianos inclinados, ou dos planetas que se movem em torno
das suas órbitas elípticas."

John Searle, Mente, Cérebro e Razão

a) Defina o conceito de livre-arbítrio.


b) Identifique a posição defendida pelo autor do texto.
c) Construa uma argumentação refutando a tese do autor do texto.

• "(\ ixe. -0, ykoAL.1 /4 -(•en.ø \v-kyY,ht`rk ,•., -Q RR


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\ACLI)LO• (>04"-

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Apontamento:

Os Valores anállse e compreensão da experrel


Disciplina: Filosofia

Conteúdos de 10.0

Assinatura Professor: Tiago Lemos

Os Valores e as suas Caraterísticas

Independentemente de sermos possuidores de livre-arbítrio, ou não, uma coisa parece


ser absolutamente certa: é que a nossa vida é continuamente marcada por uma experiência
valorativa. Neste momento já não se trata aqui de discutir se a nossa experiência valorativa
está, ou não está, determinada por forças inexoráveis da natureza. O que se pretende analisar
agora é a natureza desta experiência valorativa, no sentido de averiguar o que são afinal os
valores e qual é a sua natureza.

Embora existam diferentes aceções (sentidos/significados) para a palavra valor (como


por exemplo o valor económico — caro/barato —, o valor moral — bem/mal —, o valor estético —
belo/horrível —, etc.), a verdade é que na sua aceção (sentido/significado) vulgar, a palavra
valor é sinónimo de preferência e seleção.

Enquanto manifestações da nossa preferência (individual e coletiva) os valores


constituem-se, pois, como uma referência, uma orientação e um guia para a ação humana.
Normalmente agimos de acordo com as nossas preferências, procuramos as coisas a que
damos valor em detrimento daquelas que, para nós, não o possuem. No entanto, podemos
perguntar: qual a natureza dos valores? Serão eles propriedades intrínsecas (que fazem parte)
da própria natureza das coisas ou, pelo contrário, tratam-se de meras criações humanas? E
quando dizemos que preferimos uma coisa em detrimento de outra, essa preferência deve-se
ao facto de ela ser objetivamente mais valiosa ou, pelo contrário, esse valor só existe porque
nós lho atribuímos?

Para dar resposta a estas e outras perguntas sobre a natureza e realidade dos valores,
foi desenvolvida, no interior da filosofia, uma disciplina muito específica: a Filosofia dos
valores, ou Axiologia. Assim, a Filosofia dos valores, ou Axiologia, designa a disciplina filosófica
especializada na reflexão/estudo sobre o conceito de valor, a natureza dos valores e os juízos
de valor.

Ora, a primeira coisa que podemos afirmar sobre os valores, independentemente da


aceção (sentido/significado) em que estejam a ser tomados, é que eles possuem algumas

caraterísticas gerais, tais como:


• Polaridade: a todo o valor está associado um contravalor, ou desvalor, o qual
representa o lado negativo, ou oposto, do valor em causa. Por exemplo, a
justiça tem como contravalor a injustiça, o caro tem como contravalor o
barato, a beleza tem como contravalor a fealdade, etc.

• Hierarquia: todos os conjuntos de valores que orientam a ação humana


(individual ou coletivamente) estão organizados hierarquicamente em tábuas
de valores, ou escalas valorativas, segundo o grau de importância que o
sujeito, singular ou coletivo, lhes atribui.

Para além destas duas caraterísticas invariáveis, os valores assumem ainda outras duas
caraterísticas, as quais são resultado da posição que assumirmos face à sua natureza. Vejamos:

• Absolutividade ou Relatividade:

Para alguns autores os valores possuem um caráter absoluto. Ser absoluto


significa valer por si mesmo, ser independente de qualquer outra coisa. Deste
modo, estes autores afirmam que os valores possuem uma natureza absoluta,
isto é, fazem parte da natureza das próprias coisas e nós, humanos, podemos,
ou não, reconhecê-los. Porém, as coisas não perdem valor só porque nós não
lho apreciamos.
Já para outros autores os valores possuem um caráter relativo. Ser relativo
significa estar na dependência de qualquer outra coisa, não valer por si
mesmo. Neste sentido, estes autores afirmam que os valores não existem
independentemente da valoração humana, de tal modo que o valor mais do
que ser uma propriedade das coisas, representa apenas a manifestação de
preferência dos sujeitos, individuais ou coletivos. As coisas em si mesmas não
possuem valor; o sujeito é que atribui valor às coisas.

e Perenidade e Historicidade:

Os autores que afirmam o caráter absoluto dos valores, por norma, afirmam
que estes são perenes, isto é, que os valores não caducam e não mudam
consoante os diferentes períodos históricos e culturais. Aquilo que pode
mudar é a apreciação que os indivíduos fazem desses valores/coisas, mas os
valores, em si mesmos, são imutáveis.
Por sua vez, os autores que defendem a relatividade dos valores sublinham,
ainda, o seu caráter histórico e cultural, defendendo que os valores
acompanham a história da humanidade nas suas aventuras e mudanças, e, tal
como ela, também eles se vão alterando, ganhando e perdendo sentido,
nunca existindo de modo absoluto, mas sim de modo relativo em cada
contexto histórico.
A natureza dos Valores

Até agora vimos qual a definição comum de valor, bem como as suas caraterísticas. No
entanto, ainda não fizemos uma reflexão acerca da sua natureza. Serão os valores qualidades
objetivas e reais, que fazem parte das próprias coisas, ou serão, porventura, meras
apreciações subjetivas que os sujeitos fazem?

Para dar resposta a esta questão, ao longo dos séculos desenharam-se duas
perspetivas teóricas distintas e antagónicas (opostas). Vejamos:

1) Perspetiva Objetivista (ou Objetivismo axiológico)


Segundo os autores que defendem o objetivismo axiológico, o valor existe
independentemente da apreciação de um sujeito individual ou coletivo. De acordo
com estes autores, os valores são realidades objetivas, eles residem nas próprias
coisas/objetos, de tal modo que o sujeito avaliador não cria esses valores, somente
os descobre.

Nota: atendendo às caraterísticas que vimos anteriormente, podemos afirmar que


para além da sua polaridade e hierarquia, a perspetiva objetivista defende ainda a
absolutividade e perenidade dos valores, uma vez que para estes autores os
valores não dependem da nossa apreciação (são absolutos) e mantêm-se
inalteráveis/imutáveis ao longo do tempo (são perenes).

2) Perspetiva Subjetivista (ou Subletivismo axiológico)


Segundo os autores que defendem o subjetivismo axiológico, o valor não existe
independentemente da apreciação de um sujeito individual ou coletivo. De acordo
com estes autores, os valores são realidades subjetivas, de tal modo que uma
coisa, ou objeto, em si mesmos não têm valor, a menos que um sujeito, individual
ou coletivo, lho atribua. Neste sentido, os valores são então uma criação, e não
uma descoberta; e um mundo sem humanos seria um mundo sem valor.

Nota: atendendo às caraterísticas que vimos anteriormente, podemos afirmar que


para além da sua polaridade e hierarquia, a perspetiva subjetivista defende ainda a
relatividade e historicidade dos valores, uma vez que para estes autores os valores
são criações humanas que se encontram na dependência da relação que o ser
humano estabelece com a realidade/coisas/objetos (relatividade), a qual se vai
alterando ao longo do tempo (historicidade).
Juízos de valor e Juízos de Facto

Não são novos para nós os juízos de facto. Na verdade, aquando do estudo que
realizámos sobre a lógica proposicional, referimo-nos às proposições como frases declarativas,
tendo estas sempre associado um valor de verdade. Ora, os juízos de facto (ou juízos de
existência, como também podem ser chamados) são então proposições que se apresentam
sob a forma de frases declarativas e as quais visam apresentar uma descrição objetiva da
realidade. Neste sentido, o valor de verdade destes juízos depende sempre de a descrição que
apresentam corresponder (verdadeiro) ou não (falso) há realidade.

Pensemos em alguns exemplos. A frase "0 planeta Terra gira em torno de uma estrela
a que damos o nome de Sol" representa um juízo de facto. Estamos a descrever um traço da
realidade, e podemos comprovar objetivamente se a descrição é, ou não, verdadeira. O
mesmo se passa com a frase "A água é composta por dois elementos químicos: três átomos de
ferro e um de sódio". Também neste caso podemos recorrer à realidade para comprovar
objetivamente o valor de verdade deste juízo. E imaginemos ainda que alguém dissesse "0
professor Tiago Lemos gosta de beber whisky" — eu sei que é um absurdo, mas existem
pessoas capazes de dizer estas inverdades a meu respeito —, também aqui se trata de um juízo
de facto, uma vez que, objetivamente, podemos apurar o seu valor de verdade, perguntando
ao professor Tiago Lemos se é, ou não, verdade que ele possui esse gosto.

Vamos agora pensar noutro ponto. Pensemos na frase "0 universo é infinito". Sem
dúvida que esta frase expressa uma descrição da realidade. No entanto, não temos forma
alguma, pelo menos até ao momento, para afirmar, objetivamente, se essa descrição é
verdadeira ou falsa. Será que por essa razão esta frase deixa de traduzir um juízo de facto?
Deixa de possuir um valor de verdade? A resposta a ambas as perguntas é, obviamente, não.
Aquilo que acontece neste, como em tantos outros casos, é que não conseguimos determinar
o valor de verdade do juízo de facto; mas sem dúvida que ele continua a ter um valor de
verdade e a tratar-se de um juízo de facto. O mesmo se passa com a frase "Existem seres
extraterrestres dotados de vida inteligente". Ou mesmo ainda com a frase "Deus existe".
Embora se tratem de juízos de facto, em nenhum dos casos podemos (pelo menos até agora),
determinar objetivamente o seu valor de verdade.

Deixando para trás os juízos de facto, apercebemo-nos que existem outras frases
declarativas cuja finalidade não se centra na descrição objetiva da realidade, mas sim na
manifestação de uma apreciação valorativa face à realidade. Tratam-se, pois, de juízos de
valor. Ao contrário dos juízos de facto, que são descritivos, os juízos de valor dizem-se
apreciativos, uma vez que eles não pretendem traduzir uma verdade ou uma falsidade, mas
tão somente manifestar a impressão ou sentimento que essa realidade desperta em nós. Por
exemplo, a proposição "Os morangos são melhores que os limões" não pode ser
objetivamente considerada como verdadeira ou falsa, pois ela mais do que descrever uma
qualidade da realidade, traduz apenas uma preferência subjetiva (individual ou coletiva). É
claro que se existisse um critério objetivo que determinasse o que significa "ser melhor", então
já estaríamos perante um juízo de facto, e esta frase seria ou verdadeira ou falsa. No entanto,
como não existe esse critério objetivo, a única coisa que podemos dizer é que ela traduz um
valor de preferência e, como tal, é um juízo de valor.

Imaginemos agora que a frase dizia o seguinte "0 professor Tiago Lemos considera que
os morangos são melhores que os limões". Neste caso, estamos perante um juízo de facto,
uma vez que já não está em causa saber se os morangos são ou não melhores do que os limões
(até porque não temos o tal critério para determinar isso objetivamente), mas sim apurar se é
ou não verdade que o professor Tiago Lemos considera isso. Concluindo: embora não exista
um critério objetivo que determine o que é "melhor", existe, no entanto, a possibilidade de
interrogarmos o professor Tiago Lemos de modo a determinar se é, ou não, verdade que ele
considera aquilo.

Do mesmo modo que "Os morangos são melhores que os limões", temos outras frases
declarativas, como "Toda a poesia portuguesa é bela", ou "A Filosofia é desagradável e
desinteressante", ou ainda "Existem demasiadas espécies de seres", que traduzem meros
juízos de valor. O que todas elas têm em comum é que não possuem um critério objetivo que
determine o seu valor de verdade. Ou melhor, enquanto apreciações que são, o único critério
a que obedecem é meramente subjetivo, isto é, depende da preferência de cada sujeito.

Relacionando ideias

Será que para um autor que defende o objetivismo axiológico existem juízos de valor?
À partida a resposta será não. Se efetivamente os valores forem qualidades objetivas
independentes da apreciação do sujeito, então aquilo a que normalmente chamaríamos
apreciações subjetivas não são outra coisa senão descrições verdadeiras ou falsas da realidade.
Se efetivamente a Filosofia tiver em si mesma um valor desagradável e desinteressante, então
a frase "A Filosofia é desagradável e desinteressante" nunca seria um juízo de valor, mas sim
um juízo de facto, neste caso verdadeiro. E ainda que alguém dissesse que "A Filosofia é
agradável e interessante", continuaria a ser um juízo de facto, mas agora falso.

Ora, este tipo de problema não ocorre ao nível da perspetiva que defende o
subjetivismo axiológico. Pois na medida em que estes autores consideram os valores como
criações humanas, as quais manifestam as preferências dos indivíduos, então a existência dos
juízos de valor não se coloca em questão. Os juízos de valor existem, possuem um caráter
subjetivamente apreciativo, e distinguem-se dos juízos de facto, que possuem um caráter
objetivamente descritivo.

Conflito de Valores e Preferência Valorativa

Uma das caraterísticas gerais que os valores apresentam é a sua Hierarquia, isto é, eles
encontram-se organizados numa escala de preferência (individual ou coletiva). Acontece,
porém, que ao longo da nossa vida nos deparamos com situações em que experienciamos um
conflito de valores, isto é, em que nos deparamos com uma situação perante a qual nos vemos
obrigados a escolher entre valores distintos, mas aos quais atribuímos uma importância
equivalente.

Tomemos como exemplo alguém que atribui o mesmo valor à liberdade de circulação
e à saúde. Numa situação de grave pandemia mundial, provocada por um vírus
potencialmente mortal, essa pessoa acabará por experienciar um conflito de valores: continua
a circular livremente no espaço público, colocando em risco a sua saúde e de todos os outros,
ou opta por limitar a sua livre circulação e resguardar-se, a si e aos outros, recolhendo-se em
casa e salvaguardando a sua saúde?

Responder a esta questão, embora possa não parecer, não é coisa fácil. Em último
caso, a resposta deste indivíduo irá sempre depender da importância que ele atribuir a
diferentes critérios, e os quais determinarão a sua tomada de decisão. Pensemos por exemplo
no fator económico: se a pessoa precisar de circular livremente no espaço público para obter
dinheiro, de modo a poder pagar as suas contas e alimentar-se, então o mais certo é que ela
saia de casa e circule livremente. Pensemos agora noutro ponto: se a livre circulação da pessoa
implicar ajudar um conjunto de pessoas que dependem dela, então seria mais um fator que
certamente a inclinaria a sair de casa. Porém, se apesar de tudo isto a pessoa considerasse que
essa livre circulação não colocaria apenas a sua saúde em risco, nem a de todos com que
contatasse na rua, mas também daqueles que habitassem com ela, talvez se sentisse menos
inclinada a sair. Por outro lado, se o fator económico lhe fosse indiferente, e se dela não
dependesse ninguém, então o mais provável é que a pessoa permanecesse em casa,
salvaguardando-se de qualquer eventual contágio.

Vemos pois que numa situação de conflito de valores, vários fatores concorrem para a
nossa tomada de decisão. De qualquer modo, e numa situação limite, o indivíduo irá agir
sempre de acordo com o que considerar preferível. No entanto, é importante recordar que
essa preferência valorativa não é imutável; pelo contrário, ela varia não apenas porque o
contexto e os fatores mudam, mas também porque nós próprios mudamos ao longo do
tempo.
APONTAMENTO N.° 1

Disciplina: Filosofia 2020/2021

Conteúdos de 10.0 ANO

Título: A origem e especificidade da Filosofia

Professor: Tiago Lemos

Introdução:

Atendendo à sua etimologia (isto é, à sua origem), a palavra Filosofia deriva dos
seguintes termos gregos:

phi/os ou phi/ia, que querem respetivamente dizer amor ou amizade; e


sophia, que significa sabedoria.

Ou seja, literalmente, filosofia significa amor ou amizade pela sabedoria. De onde se


depreende, então, que o filósofo é, por natureza, todo aquele indivíduo que dedica a sua
vida e atividade à aquisição do conhecimento, isto é, de um conhecimento seguro e
inabalável que permita ao ser humano dar resposta às principais questões da existência:
De onde venho? Para onde vou? Quem sou? O que me é permitido esperar?

Assim, a Filosofia representa o estudo das inquietações e problemas da


existência humana (quem somos?), dos valores morais (o que é o bem e o mal?),
estéticos (o que é o belo c o horrível?), do conhecimento nas suas diversas
manifestações e conceitos, visando sempre a verdade; porém, sem nunca se considerar
como uma verdade absoluta, dogmática.

A Origem

A Filosofia surgiu por volta do século VI a.C, na Grécia Antiga, a qual é


apelidada de "berço da Filosofia ocidental". Desde a sua origem ela é vista como uma
arte de procurar o conhecimento verdadeiro, ou mesmo como forma de estudo das
inquietações humanas. De entre os primeiros pensadores apelidados de filósofos
encontram-se nomes como os de Tales, Pitágoras, Heráclito e Xenófanes, os quais, na
época, concentraram os seus esforços para tentar responder racionalmente às questões
da realidade humana.
Numa época em que praticamente tudo era explicado através da mitologia e da
ação dos deuses, esses primeiros filósofos procuraram explicar todos os fenómenos da
realidade (quer os fenómenos da natureza, quer os sociais) através de um pensamento
lógico e racional. Quer dizer, procuraram substituir o divino pelo humano, o irracional
pelo racional, o caos pelo cosmos (ordem).
Mas por que razão foi na Grécia Antiga que surgiram estes pensadores
inovadores, e com eles a Filosofia? Na realidade não existiu apenas uma razão, ou um
fator, para que tal tenha ocon-ido. Foi antes todo um contexto cultural e civilizacional
que contribui para essa origem. Ora vejamos: a Grécia Antiga não era propriamente um
país; aquilo a que chamamos Grécia Antiga era antes um conjunto de cidades-Estado
(Pólis) independentes, cada uma com um governo próprio, com leis e regras próprias, e
corn rituais particulares. No entanto estas cidades tinham muitos pontos em comum e
possuíam acordos de interajuda militar e comercial.
De entre esses pontos em comum, e que foram cruciais para a origem da
Filosofia, contam-se a Poesia, a Religião, a Política e o Comércio. Um longo processo,
determinado por esses fatores, promoveu uma mudança na mentalidade grega.

a) A Religião grega, tanto a pública, como aquela referida como "a religião dos
mistérios", era não dogmática e permitia que os filósofos expressassem as
suas ideias sem medo de represálias. Vivia-se, portanto, num período de
liberdade de culto e os filósofos eram livres de questionar a veracidade dos
deuses e das explicações mitológicas.

b) A Poesia, por outro lado, tanto ajudava a conhecer a história, e as ideias dos
antepassados (note-se que na altura todas as obras eram escritas em verso);
para além disso, o facto de estar escrita em verso ajudava à sua memorização
e difusão da mensagem.

c) A Política, corn urna forma de governo democrática (a Grécia Antiga


apresentou o primeiro sistema democrático da história), obrigava os
indivíduos a melhorar as suas aptidões para realizarem discursos racionais e
bem fundamentados, os quais teriam de ser proferidos e defendidos em
assembleias públicas, onde seriam sujeitos a votação e aprovação.

d) Por fim, o Comércio, cujo desenvolvimento permitia o contato com outras


civilizações e, por isso mesmo, com outras formas de cultura e de
pensamento, demonstrava aos gregos a relatividade dos princípios
orientadores de cada cultura (outros povos apresentavam outras ideias,
outros deuses, outros rituais, etc.). Tudo isto fazia corn que os gregos se
questionassem de modo a perceber: que cultura é a cultura certa?, que
conhecimento é verdadeiro?

Se é verdade que até ao final do século VII a.C., as sociedades existentes


pareciam orientar-se segundo urna matriz religiosa, a verdade é que a partir desta data
alguns indivíduos já não se satisfaziam com uma simples explicação mítica da
realidade. O processo de transformação que os fatores, que apontámos atrás, incutiram
na sociedade grega urna verdadeira revolução civilizacional. É em Mileto, situado na
atual Turquia, que no século VI a.C. nasce Tales, o qual, segundo Aristóteles, é o
iniciador do pensamento filosófico.
Mas se Tales é considerado o pai da Filosofia, a verdade é que vários outros
pensadores, deste período histórico, lhe seguiram os passos. De entre todas as
curiosidades e mistérios, a verdade é que o grande problema filosófico que ocupou a
mente destes primeiros pensadores teve a ver com a origem das coisas, a origem do
universo. Daí dizermos que o primeiro grande problema filosófico foi o problema
Cosmológico (o problema de saber qual a origem do Cosmos).
Assim, durante este período, podemos dizer que o grande objeto de estudo destes
filósofos era a Physis. Este conceito é comummente traduzido por «natureza», mas a
verdade é que o seu significado é mais amplo. Não se trata apenas das coisas, mas
essencialmente do seu movimento, o qual, apesar de ininterrupto (todas as coisas estão
em mudança contínua), nunca conduz à perda da forma, da ordem e da estabilidade.
Digamos que era essa ordem das coisas, da natureza, que se pretendia descobrir.
Voltando os olhos para a Physis, os primeiros filósofos procuravam descobrir a
sua Arché, ou Arqué, isto é, o elemento primordial que deveria estar presente em todas
as coisas (na Physis); a arché é o princípio único, o motor e a estrutura de todas as
coisas. Segundo o filósofo Demócrito, este elemento primordial eram os átomos
(unidades indivisíveis).
Ora, estes primeiros filósofos ficaram conhecidos corno filósofos pré-socráticos.
No entanto, este «pré», mais do que significar uma anterioridade temporal, remete-nos
para uma anterioridade epistemológica (para uma anterioridade em que o problema
central da filosofia era o problema das origens (Qual a origem das coisas? Qual a
origem do universo?).
Ser um autor, ou pensador pré-socrático não é necessariamente ser-se um
pensador que viveu antes de Sócrates. Muitos pensadores denominados pré-socráticos
viveram depois de Sócrates e continuaram a ser assim chamados, pela única razão de
que o principal problema a que se dedicavam era o mesmo daqueles primeiros
pensadores, a saber, o problema das origens.
Com Sócrates, a Filosofia sofreu a sua primeira revolução epistemológica, a qual
viria a marcar e definir todo o trajeto futuro da Filosofia. O problema central já não é
tanto Cosmológico, digamos assim, mas Antropológico. O homem passa a estar no
centro das investigações filosóficas (Conhece-te a ti mesmo — Nosce te ipsum). É que
segundo Sócrates não faz sentido o homem querer conhecer todas as outras coisas antes
de se conhecer a si próprio; pois se não for capaz de se conhecer a si próprio como
poderá ser capaz de conhecer tudo o resto?
Conceitos Importantes:

Democracia: do grego demokratía, significa o governo do povo, ou governo dos


cidadãos livres.

Pólís: Cidade independente cujo governo era exercido por cidadãos livres, na
Antiguidade grega. Sinónimo de cidade-Estado.

Agora: Principal praça pública das cidades-Estado, era o local por excelência onde se
discutiam todos os assuntos relativos à vida pública da cidade.

Mito: do latim mythos, significa fábula; do grego múthus, significa conto, história,
nan-ativa, ficção. Diz-se de coisas ou pessoas que não existem, mas se supõem reais.

Logos: palavra grega que significa discurso, linguagem, estudo, teoria. Em filosofia
assume essencialmente o significado de Razão, no sentido de discurso/estudo racional e
justificado.

Dogma: ponto fundamental e indiscutível de uma religião ou ideologia.

Maiêutica: do grego maieutike, significa "dar à luz", "parir" ou a "arte de parejar" o


conhecimento. Sócrates conduzia este parto em duas etapas: (1) Na primeira levava o
interlocutor a duvidar das suas próprias crenças/conhecimentos «Só sei que nada sei»;
(2) Na segunda ajudava a encontrar novos conceitos e novas crenças/conhecimentos
mais verdadeiros. Assim, a maiêutica primeiro destrói, e depois ajuda a reconstruir,
alcançando noções cada vez mais claras, complexas, justificadas e verdadeiras.
A Especificidade da Filosofia

Já vimos que com Sócrates a Filosofia vai sofrer a sua primeira revolução
epistemológica, o que significa que ela vai mudar completamente a sua forma de
abordar a investigação, ao mesmo tempo que muda o seu objeto de estudo central: a
partir de Sócrates já não é tanto o Cosmos (ordem do Universo), mas sim o Homem
(Antropologia) que passa a estar no cerne das problemáticas filosóficas.
Na sua atividade, a Filosofia surge então como uma reflexão crítica que se
distingue de todas as outras esferas do saber. Não possuindo um objeto de estudo
particular, mas estando atenta a todo o real, a Filosofia tem como categorias específicas
as seguintes quatro dimensões:

a) A Radicalidade: pela radicalidade sabemos que a filosofia vai à raiz dos


problemas, procurando a sua justificação e fundamentação racional. Se os
outros saberes procuram resposta para a questão do Como?, a Filosofia
interroga-se sobre o Porquê dos Porquês?

b) A Autonomia: ao contrário da maior parte dos outros saberes disciplinares, a


Filosofia, desde a sua génese, procurou sempre manter-se fiel à sua
Autonomia, isto é, buscou sempre ser capaz de desenvolver os seus próprios
métodos de investigação e análise, não tornando nunca nenhum desses
métodos como definitivo ou inquestionável. Ao ser capaz de criar e recriar os
seus próprios métodos, a Filosofia garantia assim a sua independência face
aos outros saberes, permitindo que cada filósofo pensasse por si próprio.

Nota: Autonomia, do grego auto nomos, significa dar lei a si mesmo.

c) Historicidade: apesar da sua radicalidade e autonomia, a Filosofia não é


independente da sua História nem dos seus contextos culturais. Certamente
que cia investiga não apenas os grandes problemas que atravessam todos os
tempos, e para os quais o ser humano ainda não possui uma resposta
definitiva, como também investiga e analisa os problemas particulares de um
determinado tempo e espaço, tendo em atenção todo o conhecimento
disponível desse período.

d) Universalidade: uma vez que as questões da Filosofia são gerais e


fundamentais, e se debruçam sobre toda a realidade e existência humanas,
então podemos dizer que a atividade filosófica é universal, no sentido de
abarcar todos os tempos, lugares e seres.

Mas o que distingue, enfim, a Filosofia dos outros saberes?


Por um lado, a Filosofia distingue-se do senso comum, ou conhecimento vulgar.
O senso comum é o tipo de conhecimento mais elementar, caraterizando-se por ser não
sistemático, acrítico e subjetivo, nele prevalecendo a opinião e a crença. Trata-se de um
tipo de conhecimento orientado para a prática, bem como para a resolução dos
problemas imediatos do dia a dia, não exigindo por isso grande reflexão nem
conhecimento científico. Note-se que a filosofia não nega a importância deste tipo de
conhecimento, considerado vulgar. Simplesmente procura enriquecê-lo e superá-lo,
colocando-o à prova e criticando-o.
Por outro lado, a Filosofia também se distingue do saber científico, pois, apesar
de este saber ser metódico e sistemático, caraterísticas que agradam à Filosofia, a
verdade é que cada ciência possui um objeto de estudo específico, particular, enquanto a
Filosofia se dedica ao estudo do Todo, procurando as respostas fundamentais que
expliquem a própria existência. Ela distingue-se de outras vertentes de conhecimento,
como a mitologia e a religião, visto que tenta explicar os fenómenos e as questões
humanas através do pensamento racional e justificado. Contudo, ela também não pode
ser equiparada, ou confundida, em termos de métodos, às ciências que têm a pesquisa
empírica como fundamento, uma vez que a Filosofia não se circunscreve (não sendo
descartada essa hipótese) à experiência sensível. Os métodos de estudo filosóficos estão,
essencialmente, fundamentados na análise do pensamento, em experiências práticas e
mentais, na lógica e na análise conceptual.

E qualquer pessoa pode desenvolver a atividade Filosófica?


No domínio da Filosofia, é comum distinguir-se entre Filosofia Espontânea e
Sistemática.

(1) — A Filosofia Espontânea representa o filosofar natural a cada indivíduo, na


medida em que todos os seres humanos, pelo menos uma vez na vida, se deparam com
as grandes inquietações humanas e se perguntam sobre o Porquê de as coisas serem
exatamente como são. Apesar de tudo, este tipo de exercício filosófico é esporádico e
pouco aprofundado.

(2) — A Filosofia Sistemática, por sua vez, é própria dos Filósofos, pensadores
que não apenas conhecem a história da Filosofia, as suas diferentes correntes de
pensamento, mas que também procuram aprofundar o conhecimento existente,
submetendo-o a todas as espécies de críticas, de modo a eliminar todo o tipo de
preconceitos infundados e dogmáticos. Na sua atividade, o filósofo sistemático procura
analisar e compreender a complexa relação entre o Homem e o Mundo.
APO Ur A M T4 N.(' 2

Disciplina: Filosofia 2020/2021

Conteúdos de 1.0.0 ANO

Título: Lógica - o que é a Lógica e quais os seus instrumentos?

Professor: Tiago Lemos

A DIMENSÃO DISCURSIVA DO TRABALHO FILOSÓFICO

Postulados (0 que se considera como facto reconhecido, como axioma).

- A Filosofia é uma atividade conceptual e argumentativa; é, essencialmente, uma atividade de


investigação que se debruça sobre problemas fundamentais acerca da natureza da realidade,
do conhecimento e dos valores.

- Ao contrário do que acontece com os problemas da ciência, os problemas da filosofia, tal


como os problemas da matemática, não são problemas empíricos, isto é, não se resolvem com
base na observação e na experiência sensorial, mas sim pela reflexão e pelo pensamento. No
entanto, ao contrário da matemática, a filosofia não dispõe de métodos formais de prova.
Assim, para encontrar respostas aos problemas de que se ocupam, os filósofos recorrem,
sobretudo, à discussão/reflexão crítica e à argumentação.

- Os seus instrumentos são a linguagem e o pensamento.

Assim, para exercer corretamente a atividade filosófica é necessário aprender a


«problematizar» (identificar e formular um problema), «conceptualizar» (traduzir o problema
em conceitos/termos precisos e corretos) e «argumentar» (apresentar frases/proposições que
justifiquem a nossa tese, ou conclusão).

- O ponto de partida para a discussão filosófica são os problemas. No que diz respeito aos
problemas, a principal ferramenta filosófica é a capacidade de os formular. Formular um
problema significa ser capaz de enunciá-lo. Geralmente, a melhor forma de o fazer é
formulando diretamente uma questão; o problema da justiça de guerra, por exemplo, pode ser
formulado nos seguintes termos: "Pode haver guerras justas?"; ou alternativamente, podemos
dizer que consiste "no problema de saber se uma guerra poderá alguma vez ser justa ou não."
Além disso, os filósofos também devem ser capazes de esclarecer um problema, isto é, de
explicitar o seu conteúdo e a sua relevância. Por exemplo, "0 problema da justiça de guerra
consiste em procurar determinar se existem (ou não) situações que justificam o recurso ao
conflito armado entre diferentes Estados (ou comunidades políticas)..."; "Este problema é
importante porque..."; etc.

Pode ainda ser de grande importância relacionar o problema em mãos com outros
problemas filosóficos aos quais este se encontra ligado. Por exemplo, o problema da justiça de
guerra, tal como foi aqui formulado, relaciona-se, entre outros, com um problema mais geral
acerca da moralidade das nossas ações, ou seja, com o problema de saber o que torna uma
ação certa ou errada.

- Chamamos teorias ou teses às diferentes respostas que os filósofos avançam para resolver os
problemas de que se ocupam. No entanto, aquilo que está a ser discutido pelos filósofos não
são as frases propriamente ditas, mas sim as ideias que lhes estão subjacentes, ou seja, as
proposições.

- Se usamos a linguagem e o pensamento para produzir conhecimento, então devemos estudar


essas duas áreas. Assim, estudaremos de seguida a Lógica e a Filosofia da Linguagem.

1) Lógica:

É a disciplina que estuda a estrutura do pensamento e as regras para a elaboração de um


raciocínio correto (ou válido). Ela dedica-se, por isso, ao estudo das leis, princípios e regras a
que devem obedecer o pensamento e o discurso para serem válidos.

- Qual a sua utilidade?

Ela contribui para o desenvolvimento da autonomia, do espírito crítico e da capacidade de


argumentar corretamente.

- Quais são os instrumentos lógicos que estruturam o pensamento conceptual?

Esses elementos são: os conceitos (ou termos), as proposições (ou juízos) e os argumentos
(também chamados de raciocínios ou inferências). Vejamos cada um deles.

A) Os Conceitos:

O conceito constitui o elemento básico do pensamento. Trata-se da representação


intelectual/mental de determinada realidade, e ela tanto pode envolver uma classe de objetos
(como por exemplo, o conceito de ponte), como uma realidade singular (por exemplo, Ponte
Vasco da Gama, António...).

- O termo é normalmente entendido como a expressão verbal do conceito. Neste sentido, o


mesmo conceito pode ser expresso por diferentes termos (por exemplo, «guarda-chuva» e
«chapéu de chuva» são dois termos diferentes, mas referem-se à mesma ideia, isto é, ao
mesmo conceito), e, por vezes, acontece que um mesmo termo pode exprimir diferentes
conceitos (por exemplo o termo «banco» tanto pode remeter-nos para o conceito de banco
enquanto objeto utilitário de que nos servimos para nos sentarmos, como pode remeter-nos
para o conceito de banco enquanto instituição económico-financeira).

- Por estas razões, uma das principais tarefas do trabalho filosófico é tentar clarificar os
conceitos. E essa clarificação resulta de uma boa definição. Contudo, para que uma definição
seja boa, ela terá de ser explícita, isto é, ela terá de ser feita com base em condições
necessárias e suficientes.

Exemplo:

Conceito — Macieira

A Macieira é uma árvore. Ser árvore é uma condição necessária para ser macieira, mas não é
suficiente.

A Macieira é uma árvore que tem como fruto a maçã. Deste modo, temos então as condições
necessárias para se ser uma macieira.

- Assim, a definição correta de um conceito:

- deve convir apenas ao conceito a definir;

- não pode ser demasiado ampla (para não abranger elementos que não pertencem à extensão
do conceito), nem demasiado restrita (para não excluir nenhum dos elementos abrangidos por
essa extensão;

- tem de ser mais clara do que o conceito a definir.

- Os conceitos podem ser ainda avaliados sobre a sua extensão ou compreensão.

Existem conceitos mais gerais, amplos, e outros mais restritos, ou singulares. Assim, dizemos
que os mais gerais são aqueles que têm maior extensão, pois aplicam-se ou abrangem um
maior número de elementos, e os mais restritos têm menor extensão.

Quanto mais geral for um conceito, menos caraterísticas individualizadoras possui, menos
compreensivo ele é. Assim, dizemos que os conceitos mais gerais são aqueles que têm menor
compreensão, enquanto que os conceitos mais específicos, ou restritos, têm maior
compreensão. Por ex: o conceito de animal tem maior extensão que o conceito de cão, mas o
conceito de cão tem maior compreensão que o conceito de animal.
B) Os Juízos

Os conceitos não existem isolados. Quando pensamos, relacionamos conceitos, ou seja,


formamos juízos. Assim, podemos definir o juízo como a operação fundamental que permite
estabelecer uma relação de afirmação ou de negação entre conceitos, podendo tal relação ser
considerada verdadeira ou falsa.

A expressão verbal do juízo é a Proposição. As proposições são sempre afirmações ou


negações, isto é, materializam-se sempre através frases declarativas. Neste sentido elas
possuem sempre um valor de verdade (podem ser consideradas verdadeiras ou falsas),
precisamente porque atribuem, declaram ou constatam alguma coisa.

Mais, uma mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas. Por
exemplo, a frase «A terra é contemplada pelo astronauta a partir da Lua» expressa a mesma
proposição que a frase «0 astronauta contempla a Terra a partir da Lua».

Apenas as frases declarativas servem para expressar proposições, pois apenas estas possuem
um conteúdo suscetível de ser considerado verdadeiro ou falso. Para clarificar este aspeto,
vamos comparar as frases que se seguem:

a) O João fechou a porta?


b) Oxalá o João feche a porta!
c) João, fecha a porta!
d) O João fechou a porta.

Como podes constatar, as frases interrogativas, exclamativas e imperativas — representadas


nas alíneas a), b) e c), respetivamente — não expressam proposições, pois não expressam
qualquer conteúdo suscetível de ser verdadeiro ou falso. As perguntas são (ou não)
respondidas, mas não são em si mesmas verdadeiras ou falsas. As exclamações servem apenas
para expressar/manifestar certos sentimentos e/ou desejos e, como tal, também não faz
sentido dizer que declaram algo de verdadeiro ou falso acerca da realidade que nos rodeia. As
ordens, por sua vez, são (ou não) cumpridas, mas também não são em si mesmas verdadeiras
ou falsas. Assim, apenas as frases declarativas, como aquela que surge na alínea d), veiculam
um pensamento que pode ser verdadeiro ou falso. Contudo, nem todas as frases declarativas
expressam proposições, algumas delas são absurdas e, por conseguinte, também não
expressam nenhum pensamento verdadeiro ou falso. É o que acontece, por exemplo, com a
frase "Incolores ideias verdes dormem furiosamente". Deste modo, podemos concluir que
apenas as frases declarativas que não são absurdas expressam proposições.

As Proposições podem ser simples ou complexas.


Proposições Simples:

Existem quatro tipos de proposições simples (também chamadas de proposições categóricas),


e estas caraterizam-se por afirmar ou negar sem restrições ou condições.

As proposições categóricas afirmam ou negam algo de forma absoluta e incondicional, isto é,


sem admitir alternativas e sem estabelecer condições. Como acontece, por exemplo, no caso
que se segue: "Sócrates é mortal". Pode dizer-se que as proposições categóricas têm sempre
subjacente a forma "S é P", porque envolvem a atribuição de um predicado, P, a um sujeito, S.

No que diz respeito à qualidade, as proposições categóricas podem ser afirmativas — quando
afirmam algo — ou negativas — quando negam algo. No que diz respeito à quantidade, as
proposições categóricas podem ser universais — quando aquilo que afirmam (ou negam) se
aplica à totalidade do sujeito —, particulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
a uma parte do sujeito —, ou singulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
apenas a um indivíduo. Exemplos de proposições categóricas:

Tipo A: Frase Declarativa Universal e Afirmativa. Ex: Todos os S são P.

Tipo E: Frase Declarativa Universal e Negativa. Ex: Nenhum S é P.

Tipo I: Frase Declarativa Particular e Afirmativa. Ex: Alguns S são P.

Tipo 0: Frase Declarativa Particular e Negativa. Ex: Alguns S não são P.

Proposições Complexas:

As proposições complexas podem ser Condicionais ou Disjuntivas, e chamam-se complexas por


cada premissa encerrar/conter em si duas ou mais proposições simples.

e Se forem condicionais, então elas afirmam ou negam sob determinadas condições. Ex:
Se todos os S são P, então nenhum A é P.

As proposições condicionais estabelecem relações de consequência (ou implicação) entre


proposições. Diz-se que uma proposição implica outra quando é impossível que a primeira seja
verdadeira e a segunda falsa, ou, dito de outra forma, quando a segunda é a consequência da
primeira. Isto significa que as proposições condicionais estabelecem condições necessárias e
suficientes entre proposições mais simples.

Atentemos no seguinte exemplo:

Proposição Condicional 1: "Se sou português, então sou europeu."

Aquilo que está aqui a ser dito é que ser português implica ser europeu, ou, por outras
palavras, está-se a afirmar que ser português é uma condição suficiente para se ser europeu e
que ser europeu é uma condição necessária para se ser português.

Uma coisa completamente diferente seria dizer o seguinte:


Proposição Condicional 2: "Se sou europeu, então sou português".

Neste caso, estaríamos a afirmar que ser europeu é uma condição suficiente para se ser
português e que ser português é uma condição necessária para se ser europeu. A Proposição
Condicional 1 é verdadeira, ao passo que a Proposição Condicional 2 é falsa, pois existem
europeus que não são portugueses, mas sim franceses, alemães, espanhóis, etc.

A proposição que implica, isto é, aquela que constitui uma condição suficiente designa-se
"antecedente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou português").
A proposição que é implicada, isto é, aquela que constitui uma condição necessária designa-se
"consequente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou europeu").

A forma canónica de expressar a condicional em português é a seguinte: "Se P, então Q",


sendo que, neste caso, a proposição que surge no lugar do P corresponde à antecedente e a
proposição que surge no lugar do Q à consequente. Contudo, esta não é a única forma de
expressar uma proposição condicional na nossa língua. Por vezes, invertemos a estrutura da
frase e apresentamos primeiro a consequente e só depois a antecedente: "Q, se P" (ou,
retomando o exemplo da Proposição Condicional 1: "Sou europeu, se sou português").
Também recorremos a expressões como "sempre que", "desde que", "só se", "apenas se",
"somente se", etc., como forma de expressar a relação de implicação. Algumas destas
expressões, como "se", "desde que", "sempre que", etc., servem para indicar condições
suficientes. Ao passo que outras, como "só se", "apenas se", "somente se", etc., servem para
indicar condições necessárias.

Assim, a Proposição Condicional 1 poderia de igual modo ter sido expressa por qualquer uma
destas formulações alternativas:

Se sou português, sou europeu.


Sou europeu, se sou português.
Sou português só se sou europeu.
Só se sou europeu, é que sou português.
Sou português apenas se for europeu. Etc.

- Quando queremos proceder a uma definição explícita de algo, não basta apresentar
condições necessárias ou suficientes, temos de apresentar condições simultaneamente
necessárias e suficientes. Ora, se, como acabámos de ver, a relação de condição necessária é,
geralmente, expressa em português pela expressão "só se" e a relação de condição suficiente
é, geralmente, expressa pela expressão "se", então para expressar condições simultaneamente
necessárias e suficientes devemos usar a expressão "se, e só se" (ou equivalentes, como "se e
apenas se", "se e somente se", etc.), como acontece por exemplo na seguinte definição: "Algo
é água se, e só se, é H20".
Às proposições que têm subjacente esta estrutura: "P se, e só se, Q" decidiu chamar-se
"bicondicionais", porque cada uma das proposições que as compõem implica (ou tem como
consequência) a outra, porque é simultaneamente verdade que "Se P, então CI" e que "Se Q
então P".

Com efeito, quando dizemos que "A água é H20", estamos a afirmar que se algo é água, então
é H20 e que se algo é H20, então é água. Isto significa que uma condição necessária e
suficiente para algo ser água é ser H20, e vice-versa, ou seja, "Algo é água se, e só se, é H20".

Se forem disjuntivas, então elas afirmam ou negam em forma de alternativa. Ex: Ou as


casas são brancas ou são amarelas - Ou todos os S são P ou nenhum S é P. Como veremos
maios adiante as proposições disjuntivas podem ainda dividir-se em exclusivas e inclusivas.

C) Os Raciocínios ou Inferências

Tal como ós conceitos, os juízos também se relacionam entre sU organizando-se em operações


mais complexas, chamadas raciocínios ou inferências.. Assim, um raciocínio é um
encadeamento de dois ou mais juízos, os quais se encontram estruturados para deles se
extrair uma conclusão. A expressão verbal do raciocínio é o argumento.

Um argumento é um onjunto de proposições/em que se pretende justificar ou defender uma


_
delas, a conclusão, com base na outra ou nas outras, que se chamam premissas.

Existem expressões linguísticas que, tipicamente, servem para indicar essa pretensão: os
indicadores de premissas e conclusão. Quando alguém afirma que "Deus não existe, porque há
mal no mundo" está a usar o "porque" para indicar qual é a_ razão que o leva a pensar que
Deus não existe, ou seja, está a usá-lo como um indicador de premissas. Por outro lado,
quando alguém afirma que "Há mal no mundo. Logo, Deus não existe" está a utilizar o "logo"
para indicar que a ideia de que "Há mal no mundo" suporta (ou tern corno consequência) a
ideia de que "Deus não existe", ou seja, está a utilizá-lo como um 'indicador de conclusão. Na
tabela que se segue apresentam-se alguns indicadores de premissas e conclusão comuns.

Indicadores de premissas Indicadores de Conclusão


('-•;,.,„ ,,,,' ,, ,, fi. ,-(„ ,,,,, ..(1 ?) . • )
ic O r )
(I (").%,0,( C., \ COY) r( ' ' (,n'M -;
0, ( n ' ); r r, ' ( ) )
• Pois... • Portanto...
•Supondo/admitindo/assumindo/ • Logo...
sabendo que... • Por conseguinte...
• Sendo que... • Daí...
• Porque... • Donde...
• O que / como se mostra por... •Assim...
• Tal como resulta / decorre / se • Por essa razão...
conclui de... • Em consequência / • Por isso...
como resulta(do) de.. • Consequentemente...
• Desse modo...
•Do que se conclui / segue / infere / deduz que...
• Conclui-se / segue-se / infere-se / deduz-se que...
• Q que acarreta que...
• O que tem por / como consequência que...
• Tem-se que...
• Vem que...
• O que prova / justifica / permite defender que...
• Do que resulta / decorre que...
• De modo que...
• O que mostra que...

A argumentação assume-se como um dos aspetos mais importantes da atividade filosófica,


pois, como acabámos de ver, não basta avançar teorias para responder aos problemas, é
preciso fundamentar
_ _ essas teorias corn bons argumentars7. Para isso, os filósofos têm de ser
capazes de formular argumentos, avaliar argumentos e contra-argumentar.

Para formular explicitamente urn argumentõl (ou para reconstruir um argumento que nos foi
apresentado por outrem de uma forma confusa e desordenada) devemos seguir os passos que
se seguem:

L
1. Identificar a conclusão do argumento.
2. Identificar as premissas do argumento.
3. Completar o argumento.
4. Formular explicitamente o argumento.

Para ver como é que isto funciona na prática, vamos imaginar um exemplo de argumento
apresentado de forma confusa e desorganizada e tentar reformulá-lo de forma explícita.

"É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse mal no mundo, por isso,
Deus não existe." coy, clwasii.,-

e Y.*

(eNek t
A) pv.e ,m, ssi) •
" )‘-E‘ t) N."1- "A eV,* to*. k% V).0 QV\ k );')
ç_2»,t" Y‘ Z_SN •

O ponto 1. diz-nos que a primeira coisa a fazer- é identificar a conclusão do argumento! Para
isso temos de procurar responder à seguinte pergunta "Qual _ é a_ ideia que o autor do
argumento quer defender?" ou, dito de outra forma, "Quem apresenta este argumento quer
convencer-nos a acreditar
_ em quê? Neste caso, parece ser claro que o autor do argumento
quer convencer-nos a acreditar que "Deus não existe". Em alguns casos podemos facilmente
detetar a conclusão do argumento se encontrarmos um dos indicadores de conclusão
apresentados acima. Neste exemplo, a expressão "por isso" indica que aquilo que surge em
seguida é a conclusão do argumento.
No ponto 2., estabelece-se que, em seguida,tdevernos identificar as premissas do argumento,
Para isso temos de responder à seguinte questão "Que razões apresenta o autor do argumento
para defender a sua conclusão?". No exemplo apresentado, afirma- -se que a existência de
Deus no é compatível com a existência de mal no mundo, ou seja, afirma-se que a existência
de Deus é uma condição suficiente para que não haja mal no mundo. Podemos expressar esta
ideia através da seguinte condicional:

"Se Deus existe, então não há mal no mundo."

No ponto 3., recomenda-se que se procure detetar se há alguma premissa implícita, isto é,
alguma premissa que o autor do argumento não chegou a formular explicitamente, mas que é
legítimo presumir que é uma das ideias que este precisa de assumir para poder chegar à
conclusão. No exemplo apresentado, podemos presumir que o autor do argumento acredita
que

"Existe mal no mundo."

Por fim, no ponto 4., é-nos sugerido que escrevamos cada premissa (incluindo a(s) premissa(s)
omissa(s), caso existam) numa linha diferente, seguidas pela conclusão, que surge na última
linha, antecedida pela palavra "logo" (para ser mais fácil identificar os diferentes passos do
argumento, sugere-se ainda, que todas as linhas devem ser numeradas, por exemplo com 1, 2,
3, e assim sucessivamente (ou com P1, P2, P3, para as premissas, e Cl), para a conclusão).
Neste caso, o argumento apresentado no exemplo ficaria qualquer coisa como:

(1) Se Deus existe, então não há mal no mundo.


(2) Existe mal no mundo.
(3) Logo, Deus não existe.
Leis Fundamentais do Pensamento Lógico

Uma vez definidos corretamente os elementos lógicos que estruturam o pensamento


conceptual, importa dizer que eles devem obedecer sempre às leis fundamentais que
estruturam todo o pensamento. E essas leis são: o Princípio da Identidade, o Princípio da Não
Contradição e o Princípio do Terceiro Excluído.

1- Princípio da Identidade: é a primeira das três leis clássicas do pensamento e foi formulada
por Parménides (filósofo grego do séc. a.C) nos seus estudos lógicos. De acordo com esta
lei todas as coisas possuem caracteres próprios da sua identidade, de tal modo que também
tod-a
_ s as eiji-
_ i e
--podem diferenciar das restante—si

- P.
Assim, cada coisa é o que é. A forma lógica deste princípio é P, então

2- Princípio da Não contradição: é a segunda das três leis clássicas do pensamento, e foi
formulada por Aristóteles na sua obra Da Interpretação. Aí, afirma Aristóteles que 'duas
afirmações contraditórias não—põdem s-ér -Verdadeiras ao mesmo temlio. Por exemplo: As
afirmações «A é B» e «A não é B» não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.

Assim, nada pode ser uma coisa e não ser essa mesma coisa ao mesmo tempo. A forma lógica
deste princípio é-9(P

3- Princípio do Terceiro Excluído: é a terceira e última lei clássica do pensamento, e também


ela foi formulada por Aristóteles. De acordo com esta lei, qualquer afirmação é ou verdadeira
ou falsa, não existindo assim qualquer valor intermédio. Por exemplo, a afirmação «A é B» ou
é considerada verdadeira ou é considerada falsa. Seja como for ela só pode ter um destes
valores.

Assim, uma coisa ou é ou não é, não existindo meio termo. A forma lógica deste princípio é ou
A ou não A. A v

Olhando para estas três leis, vemos facilmente que elas se complementam. Na verdade, as leis
da Não Contradição e do Terceiro Excluído não são senão um complemento à lei primeira da
Identidade.

As Leis do Pensamento, Princípios Regulativos do Pensamento, ou Postulados do


Conhecimento, são aquelas leis fundamentais, necessárias, formais e a priori de acordo com as
quais todo o pensamento válido/correto deve ser conduzido. Elas são a priori, isto é, elas
resultam diretamente dos processos da razão exercidos sobre fatos do mundo real (a priori
diz-se de tudo aquilo que ocorre antes da experiência sensorial). Elas são necessárias, pois
ninguém concebe ou pode concebê-las ao contrário, ou realmente violá-las, pois ninguém
aceita uma contradição quando esta se apresenta perante a sua mente como tal.

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