° 1
Introdução:
Atendendo à sua etimologia (isto é, à sua origem), a palavra Filosofia deriva dos
seguintes termos gregos:
A Origem
a) A Religião grega, tanto a pública, como aquela referida como "a religião dos
mistérios", era não dogmática e permitia que os filósofos expressassem as
suas ideias sem medo de represálias. Vivia-se, portanto, num período de
liberdade de culto e os filósofos eram livres de questionar a veracidade dos
deuses e das explicações mitológicas.
b) A Poesia, por outro lado, tanto ajudava a conhecer a história, e as ideias dos
antepassados (note-se que na altura todas as obras eram escritas em verso);
para além disso, o facto de estar escrita em verso ajudava à sua memorização
e difusão da mensagem.
Pólis: Cidade independente cujo governo era exercido por cidadãos livres, na
Antiguidade grega. Sinónimo de cidade-Estado.
Agora: Principal praça pública das cidades-Estado, era o local por excelência onde se
discutiam todos os assuntos relativos à vida pública da cidade.
Mito: do latim mythos, significa fábula, do grego mílthus, significa conto, história,
narrativa, ficção. Diz-se de coisas ou pessoas que não existem, mas se supõem reais.
Logos: palavra grega que significa discurso, linguagem, estudo, teoria. Em filosofia
assume essencialmente o significado de Razão, no sentido de discurso/estudo racional e
justificado.
Já vimos que com Sócra-ies a Filosofia vai sofrer a sua primeira revolução
epistemológica, o que significa que ela vai mudar completamente a sua forma de
abordar a investigação, ao mesmo tempo que muda o seu objeto de estudo central: a
partir de Sócrates já não é tant-o- o Cosmos (ordem do Universo), mas sim o Homem
(Antropologia) que passa a estar no cerne das problemáticas filosóficas.
Na sua atividade, a Filosofia surge então como uma reflexão crítica que se
distingue de todas as outras esferas do saber. Não possuindo um objeto de estudo
particular, mas estando atenta a todo o real, a Filosofia tem como categorias específicas
as seguintes quatro dimensões:
(2) — A Filosofia Sistemática, por sua vez, é própria dos Filósofos, pensadores
que não apenas conhecem a história da Filosofia, as suas diferentes correntes de
pensamento, mas que também procuram aprofundar o conhecimento existente,
submetendo-o a todas as espécies de críticas, de modo a eliminar todo o tipo de
preconceitos infundados e dogmáticos. Na sua atividade, o filósofo sistemático procura
analisar e compreender a complexa relação entre o Homem e o Mundo.
APONTAMENTO N.° 2
Introdução
Lógica
A Lógica é a disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (ou
válidos) e incorretos (ou inválidos). Ela dedica-se, por isso, ao estudo das leis, princípios e
regras a que devem obedecer o pensamento e o discurso para serem válidos. Neste sentido,
ela ajuda-nos a desenvolver a nossa autonomia, o espírito crítico e a nossa capacidade para
argumentar corretamente.
Mas se a Lógica estuda a correção dos nossos argumentos, então a primeira coisa a
fazer é vermos em que consiste um "argumento".
O Argumento
A Proposição
Note-se que só as frases declarativas expressam Proposições. De tal modo que frases
exclamativas, imperativas, interrogativas, ou que expressem promessas e pedidos não podem
ser tidas como proposições, pois nenhuma destas frases possui um valor de verdade, isto é,
não são verdadeiras nem falsas.
No que diz respeito às proposições, elas podem ser classificadas como Simples ou
Complexas:
O Conceito
Por estas razões, uma das principais tarefas do trabalho filosófico é tentar clarificar os
conceitos. E essa clarificação resulta de uma boa definição. Contudo, para que uma definição
seja boa, ela terá de ser explícita, isto é, ela terá de ser feita com base em condições
necessárias e suficientes. Por exemplo, o conceito de "Macieira". Podemos definir a Macieira
dizendo que ela é uma árvore. No entanto, ser árvore é uma condição necessária para ser
macieira, mas não é suficiente. Pois existem árvores que não são macieiras. Porém, se
dissermos que a Macieira é uma árvore que tem como fruto a maçã, temos então as condições
necessárias e suficientes para se ser uma macieira.
Conclusão
Por esta razão, existem expressões linguísticas que, tipicamente, servem para indicar
essa pretensão: os indicadores de premissas e conclusão. Quando alguém afirma que "Deus
não existe, porque há mal no mundo" está a usar o "porque" para indicar qual é a razão que o
leva a pensar que Deus não existe, ou seja, está a usá-lo como um indicador de premissas. Por
outro lado, quando alguém afirma que "Há mal no mundo. Logo, Deus não existe" está a
utilizar o "logo" para indicar que a ideia de que "Há mal no mundo" suporta (ou tem como
consequência) a ideia de que "Deus não existe", ou seja, está a utilizá-lo como um indicador de
conclusão. Na tabela que se segue apresentam-se alguns indicadores de premissas e conclusão
comuns.
Indicadores de premissas Indicadores de Conclusão
• Pois... • Portanto...
• Supondo, admitindo, • Logo...
assumindo, sabendo que... • Por conseguinte...
• Sendo que... • Daí...
• Porque... • Donde...
• O que, como se mostra por... "Assim...
• Tal como resulta, decorre, se • Por essa razão...
conclui de... • Por isso...
• Em consequência, como • Consequentemente...
resulta(do) de... • Desse modo...
«Do que se conclui / segue / infere / deduz que...
. Conclui-se / segue-se / infere-se / deduz-se que...
• O que acarreta que...
• O que tem por / como consequência que...
• Tem-se que...
• Vem que...
• O que prova /justifica / permite defender que...
• Do que resulta / decorre que...
• De modo que...
• O que mostra que...
Para ver como é que isto funciona na prática, vamos imaginar um exemplo de
argumento apresentado de forma confusa e desorganizada e tentar reformulá-lo de forma
explícita.
"É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse mal no mundo, por isso, t\P (0,0(
A ---> aQ,(,.(j) (o
O ponto 1. diz-nos que a primeira coisa a fazer é identificar a conclusão do argumento.
Para isso temos de procurar responder à seguinte pergunta "Qual é a ideia que o autor do
argumento quer defender?" ou, dito de outra forma, "Quem apresenta este argumento quer
convencer-nos a acreditar em quê?". Neste caso, parece ser claro que o autor do argumento
quer convencer-nos a acreditar que "Deus não existe". Em alguns casos podemos facilmente
detetar a conclusão do argumento se encontrarmos um dos indicadores de conclusão
apresentados acima. Neste exemplo, a expressão "por isso" indica que aquilo que surge em
seguida é a conclusão do argumento.
No ponto 2., por sua vez, estabelece-se que, em seguida, devemos identificar as
premissas do argumento. Para isso temos de responder à seguinte questão "Que razões
apresenta o autor do argumento para defender a sua conclusão?". No exemplo apresentado
afirma-se que a existência de Deus não é compatível com a existência de mal no mundo, ou
seja, afirma-se que a existência de Deus é uma condição suficiente para que não haja mal no
mundo. Podemos expressar esta ideia através da seguinte condicional:
Por fim, no ponto 4. é-nos sugerido que escrevamos cada premissa (incluindo a(s)
premissa(s) omissa(s), caso existam), numa linha diferente, seguidas pela conclusão, que surge
na última linha, antecedida pela palavra "logo" (para ser mais fácil identificar os diferentes
passos do argumento). Neste caso, o argumento apresentado no exemplo ficaria qualquer
coisa como:
Olhando para estas três leis, vemos facilmente que elas se complementam. Na
verdade, as leis da Não Contradição e do Terceiro Excluído não são senão um complemento à
lei primeira da Identidade.
Exercícios
•
•(/ y•OV 1/4)-Pkr -
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‹)Ç (Ao C
APONTAME.NTO 3
Filosofia
6- „,ot,
Lógica Formal
1) Tod„ 0., g sa.e,
?) (..Nraitse") Neste momento já sabemos o que é a Lógica Formal e que o seu objeto de estudo é a
análise da validade dos argumentos dedutivos. Por sua vez, os argumentos dedutivos são um
.d.v011
•tipo de argumento muito específico, os quais se caraterizam pela sua forma constringente, isto
é, a partir de uma ou mais premissas gerais, permitem que se extraia daí uma conclusão
menos geral, a qual, de algum modo, já se encontrava implícita nas premissas. Por se
encontrar implícita nas premissas, a conclusão dos argumentos dedutivos não é ampliativa, no
sentido que não amplia o nosso conhecimento, limitando-se a tornar explícito o que já
sabíamos implicitamente.
Por outro lado, quando o nosso argumento não é válido, isto é, é inválido ou incorreto,
isso significa que a conclusão não é o resultado lógico nem necessário das premissas de que
partimos. Nestes casos, a eventual verdade das premissas não garante a verdade da conclusão.
Os argumentos inválidos dizem-se falaciosos. Daí que uma falácia seja sempre um erro de
raciocínio.
A partir deste momento, vamos estudar duas formas de aplicar a Lógica Formal: por
um lado, estudaremos o sistema Lógico desenvolvido por Aristóteles, e ao qual damos o nome
de Lógica aristotélica, e, de seguida, estudaremos a Lógica Proposicional, a qual, na realidade,
representa uma espécie de aperfeiçoamento face à Lógica aristotélica.
tJQ billtkVvt,
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O
(\i) (\i ') .1/ :..(<>11. SW° Co
Âilpt„n<, 4 o-
-9
a) Regra das Contrárias: duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras ao
mesmo tempo. Mas da falsidade de uma não se pode concluir a falsidade ou veracidade da
outra.
b) Regra das subalternas: da verdade da universal infere-se a verdade da particular que lhe
está subordinada; mas da verdade da particular nada podemos inferir quanto à universal. Por
sua vez, da falsidade da universal nada se pode concluir quanto à veracidade ou falsidade da
particular; mas se a particular for falsa, então podemos estar seguros da falsidade da universal.
c) Regra das contraditórias: duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras nem
falsas ao mesmo tempo. ,
d) Regra das subcontrárias: duas proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas ao
evvl skr-
mesmo tempo; mas ambas sejam verdadeiras.
Silogismo
o VYLo
Silogismo Condicional
O silogismo condicional é aquele silogismo cuja premissa maior nos oferece uma
condição, e a qual se encontra dividida em antecedente e consequente. A partir desta
premissa maior, podemos construir quatro modos de argumentos condicionais, sendo que
apenas dois deles representam formas válidas de raciocínio. ((:), sTE6 c,; a-))
t_
Premissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]
Ckk Od.AYY?
`nlit -0 Premissa Menor: Comprei a casa. [É verdade que P]
wnt,2 VAT) v o/A hto Premissa Menor: Não gastei muito dinheiro. [Não é verdade que Q]
Premissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]
Conclusão: Logo, Comprei a casa ANada me obriga a aceitar que é verdade que P]
Low v‘zio
—15 remissa Maior: Se compro a casa, então gasto muito dinheiro. [Se P, então Q]
e—"Y'v" "e'41) 'onuAclo Premissa Menor: Não compro a casa. [Não é verdade que P1
Conclusão: Logo, não gasto muito dinheiro.ANada me obriga a aceitar que não é
verdade que Q]. u9,9c, , $4 4 vvt-t•k• 4-0 inhse:yo
Silogismo Disjuntivo
O silogismo disjuntivo é aquele silogismo cuja premissa maior nos oferece uma
disjunção (que pode ser exclusiva ou inclusiva), a qual se manifesta através de uma alternativa.
A partir desta premissa maior, podemos construir dois modos válidos de argumentos
disjuntivos, e um modo inválido.
Conclusão: Logo, não sorrio. [Esta conclusão não é necessária, pois segundo a
disjunção inclusiva nós sabemos que pelo menos uma das alternativas tem de ser verdadeira,
mas nada impede que as duas sejam verdadeiras. Nestes casos, nenhuma conclusão é
necessária.]
Nota: Uma vez que segundo a regra da disjunção pelo menos uma das alternativas tem de ser
verdadeira, então, se negarmos uma das alternativas na premissa menor, podemos estar
seguros de que a outra alternativa é verdadeira e afirmá-la na conclusão.
Exercícios
1. Coloque as seguintes proposições na sua forma padrão e classifique-as quanto ao seu tipo:
, Os< •
a) Os galos cantam. L) •
A \ a_
Yctu C)( (...) CO \I-) \•)X•c"(:),,NA•c),
b) Alguns estudantes não compreendem a lógica silogística. \
(c) ‘
. p() O
1-(--yskoO er.5-\ ("4-eQv‘okt, c tit s-0,-)
c) Nenhum tigre é ovelha.
‘. 15V-e0 1- ` ° P
1- 42..d) Esta garrafa cheira mal. -1-Q4,c, 0, (0.\-,(- c‘c \-y‘o,\ c\n,e‘coSc-. ‘00 A
\ %u• % e \r`f -&°-
e) Nem todos os patos são bravos., f fr\n ‘o'n .!...01 0 1--N \)()
•Sc-7‘) '4- CA )(.-%) co P) •
()Imagine que a proposição "Nenhum homem é mortal" é verdadeira. Indique qual é a sua
proposição subalterna e o que podemos saber quanto ao seu valor de verdade.
) v(.\ cl
'
\
4. ,Coloque na forma padrão as proposições condicionais seguintes:
,
a) Para não seres infeliz, basta que tenhas saúde. ,)Q (LP \ • C \r\-\
-
a) Se leio, então torno-me inteligente. Leio. Logo, torno-me inteligente. )-koGkk._s %\nsekn
b) Se fumo, então não tenho uma vida saudável. Não tenho uma vida saudável. Logo,
fumo. 1(*;, < ; 6 tT,(0o\-uki‘
c) Se és meu amigo, então nunca me mentiste. Nunca m.e mentiste. Logo, és meu
amigo. - k6 ; dos
10‘ , ,
(6)Construa, a partir das proposições dadas, os dois modos válidos do silogismo condicional.
Al
:\hT
\'‘(--() °‘` 4 Eu não faço exercício físico,, por isso não tenho saúde., Fazer exercício físico é
.11A condição suficiente para eu ter saúde. '
b) O ser humano não concebe o ser perfeito. Ora, o ser perfeito não existe. O ser
)(,
perfeito existe, caso o ser humano o conceba.
A (_) • •.• • •,
y, , 0, A ,
0
b) Este livro ou é de poesia ou é de história. Este livro não é de poesia. Logo, este livro
é de história. •- ( • '
_ _
c) Sou poeta ou arquiteto-Th&o cx\rcko4.4'etti — \--(00 si-61\44'.U1,0
d) Estou vivo ou morto. \\I e,)k-e•-••• Y.• \-0 ) 1_ 09so O 4D .--1--C)16/4".AD cbvv,v)
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7'( OCO —
Filosofia 2020/2(V:.
Conteúdos de 10.0 ANO
lntrodução
Ao contrário da Lógica Aristotélica, que lida apenas com uma forma de argumentos
dedutivos (os Silogismos), a Lógica Proposicional permite-nos avaliar a validade de qualquer
argumento dedutivo, quer se trate de um Silogismo ou não. Neste sentido, ela representa um
progresso face à Lógica Aristotélica.
TocLe ) A S6A,
Variáveis Proposicionais
• "se... então..",
Condicional a ... desde que...", ,
a -------->
a "
a "se e somente se..." '
Bicondícional <4-
" " . . . condição necessária e
suficiente...",
Nota: chama-se operador singular, unário ou monádico àquele que se aplica apenas a uma
proposição simples; e chama-se operador binário, ou diádico, àquele que atua sobre duas
proposições. Apenas o "não" é um operador singular.
EXERCÍCIOS:
1— Refira quais das seguintes proposições são simples e quais são complexas.
Negação
A negação é uma proposição com a forma "Não P", representando-se "— P". Se P é
verdadeira, então — P é falsa e vice-versa.
Dicionário:
Formalização:
Tabela de Verdade:
Conjunção
A conjunção é uma proposição com a forma "P e Q", simbolizando-se por "P A Q", a
qual é verdadeira apenas na circunstância de todas as proposições simples serem verdadeiras;
e é falsa no caso de pelo menos uma das proposições ser falsa.
Tomemos por exemplo a proposição complexa "A vida é enigmática e a morte é
enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.
Dicionário:
— A\í‘ cta_ ev\ (ck
(.) - A c -)\IAP rt se ,r\ rt. „no:\ ‘«in
o
Formalização:
eAQ
Tabela de Verdade:
P A
F 1`;
Disjunção Inclusiva
Dicionário:
P i)/•-k-
\<\ %*01,
— A f•c-k r\
o
Z
Formalização:
NI
Tabela de Verdade:
P o P V CD
\1
v - V
F v v
F- r F
Disiunção Exclusiva
Dicionário:
P- A
Q • t",' \‘-\
o
Formalização:
P
Tabela de Verdade:
\‘\/
A condicional é uma proposição composta com a forma "Se P, então Q", assumindo a
simbologia "P --> Q", a qual só é falsa se P (o antecedente) é verdadeiro e Q (o consequente) é
falso. Em todas as outras situações a proposição complexa é verdadeira.
)
Tomemos por exemplo a proposição complexa "Se a vida é enigmática, então a morte
é enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.
Dicionário:
(.) „
- A -(‘\ k ‘, `).• , . è,
ti
Formalização:
P
Tabela de Verdade:
V
Bicondicional [ou equivalência material]
A bicondicional é uma proposição composta com a forma "P se, e só se, CI",
simbolizando-se "P E-> Q", a qual é verdadeira _ se ambas as proposições simples tiverem o
mesmo valor lógico, e falsa se apresentarem valores distintos.
Tomemos por exemplo a proposição complexa "A vida é enigmática se, e só se, a
morte é enigmática" e verifiquemos o seu valor de verdade.
Dicionário:
— A .1‹,
.(t)... j
o
Formalização:
Tabela de Verdade:
v \) v
v F
•‘:- \.) F
v r v
2 - Considere as proposições:
P = 0 universo é finito \t
0=0 universo é infinito F
c)p<D5C-
a. O Joaquim admite que,o universo é infinito.
b. O universo é finito(ói.)infinito. vt\t-cV)C\\“5-
c. Penso que o universo é infinito. f,ecAraL co,cy\v=k0 - •( \tit_ e'c 0
—
d. (.,Se10 universo é finito, ntão não é infinito. ft.,'
•
—7 b. •
É falso que a alma seja mortal.
- -
PAQ
(si6e\e‘ to ODeus é o mundo ®Deus ao o mundo. 3)"/"Ç s'AA‘vv't ° --‘ p
v ("P'4 '•10 p d. Nem o libertismo nem o determinismo são persuasivos. • .Q, _ r sk;k' ~ - P
CM, ÇAf `01i341,;u)Nr».4, 0
, Q
e. Ser filósofo é condição suficiente para eu ser cauteloso. Sc (ct.,...\.g.,a,...0 -Q
p•N"4,t,A01/4 &.-‘k q f. A leitura é tranquila, a_m_e_nos que as moscas nos importunem e qu ... Ido
A \ 12-4` \(-<''s
não cesse à n ssa\volta. " 1-) ./R.AR -"4 e
IN s yncs) w-O"'") V.1(i- > yy.‘ri,..),
‹ .k vAN.evy• - a
-- R
5 - Verifique em que circunstância(s) as proposições anteriores são verdadeiras (para isso deve
construir as suas tabelas de verdade. p f PrD .Y. ( P VG?)
' •r( 1/4) EICiA ak,Z 'CC, GI .
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k 1.2
Tautologias, Contradições e Contingências
Equivalência Lógica
Antes de mais, não devemos confundir esta equivalência com a equivalência material
(as proposições bicondicionais). A equivalência material representa apenas uma proposição
complexa, enquanto a equivalência lógica ajuda-nos a perceber se duas fórmulas são
logicamente proposicionais. Para as distinguir simbolicamente, usaremos <=> para as
equivalências lógicas; e H para as bicondicionais, ou equivalências matérias„ oj. rAr
Dizemos que duas proposições são logicamente equivalentes quando apresentam os
mesmos resultados para as mesmas circunstâncias, resultando assim o resultado final da
equivalência numa tautologia.
Exercícios
e. (P A Q) -> P ct.u.ka
2 - Refira, usando tabelas de verdade, se as seguintes proposições complexas são ou não são
logicamente equivalentes:
(.0‘ v) xo (AA: Jc t&9
a. P v Q epA-Q yr---(c)
b. P -> Q e (P v Q) "
P ->O e p pv ' \AAt v\"\ •erk...,_ ye, Lt 1/4A- ti).
c.
d. P->QePE4(PAQ) te•Ci. (0\ yNk.( v:\ ‘'? e_ro:
p ()I cot 0:
DeterrniD10 e ri...iberdzIde
Disciplina: Filosofia
Conteúdos de 10.0
Quando estudámos a ação humana, verificámos que esta exige sempre o exercício da
liberdade. É certo que distinguimos as ações voluntárias das involuntárias, mas até nesse
momento não estava em questão o exercício da liberdade, mas tão somente o facto de a
liberdade de escolha estar ou não constrangida. Nesse sentido, Jean -Paul Sartre parece estar
correto ao afirmar que "o ser humano está condenado a ser livre".
Ora vejamos: independentemente de a liberdade ser, ou não ser, real, a verdade é que
parece difícil aceitar que a liberdade humana seja incondicional, isto é, que ela ocorra a um
nível em que não se depare com qualquer constrangimento. Na verdade, sem ser necessário
fazer uma grande reflexão, ocorrem-nos facilmente dois tipos de condicionantes da
ação/liberdade humana: as condicionantes físico-biológicas e as condicionantes histórico e
culturais.
Por um lado, todo o ser humano é determinado (ainda que não completamente, pois o
meio em que o indivíduo se desenvolve também irá contribuir para essa determinação) por um
património genético que recebe dos seus progenitores. Essa herança genética confere ao ser
humano determinadas aptidões, as quais, necessariamente, acabarão por condicionar a sua
personalidade, o seu comportamento e as suas ações.
Para além desta condicionante de ordem física e biológica, os seres humanos crescem
e são educados em diferentes contextos. O filósofo espanhol Ortega y Gasset escreve: "eu sou
eu e a minha circunstância". Com esta afirmação o autor pretende apenas mostrar a influência
que o meio (em que crescemos e vivemos) tem junto do ser humano. De tal modo que não
podemos ignorar o impacto que a cultura tem sobre os nossos comportamentos e ações, os
quais seriam certamente distintos caso tivéssemos sido criados e educados sob os princípios e
valores de um outro padrão cultural.
Perante esta situação, eis a questão: a partir do momento em que qualquer um dos
nossos comportamentos e ações são condicionados por fatores hereditários (genéticos) e
culturais, será que podemos falar efetivamente em liberdade? Mais: não será a liberdade uma
mera ilusão? Sobre este assunto, disse Espinosa o seguinte:
"(...) Os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas
em que eles têm consciência das suas ações e são ignorantes das causas pelas quais são
determinados. O que constitui, portanto, a ideia da sua liberdade é que eles não conhecem
nenhuma causa das suas ações. Com efeito, quando dizem que as ações humanas dependem
da vontade, dizem meras palavras das quais não têm nenhuma ideia."
Atendendo à opinião deste autor, vemos facilmente que ele defende a ideia de que a
liberdade (o livre-arbítrio, livre escolha) não é real. Trata-se antes de uma ilusão, gerada pela
nossa ignorância; pois ignoramos as verdadeiras causas que dirigem e determinam
(inconscientemente) a nossa vontade.
É certo que nem todos os autores pensam como Espinosa. Mencionámos já a opinião
de Jean-Paul Sartre, que afirma exatamente o contrário. Neste sentido, diz ainda o filósofo
Thomas Nagel:
"Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente
daquilo que de facto fazemos. Afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes
de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências e
desejos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais, em conjunto
com outros fatores de que pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazer com que
uma ação particular seja inevitável nessas circunstâncias. Esta perspetiva chama-se
determinismo [radical]. Isto parece ter sérias consequências, porque, se fosse assim, não faria
sentido condenar alguém por fazer uma coisa má ou elogiá-lo por fazer uma coisa boa. Se
estivesse determinado à partida o que as pessoas fariam, seria inevitável: não poderiam ter
feito outra coisa, dadas a s circunstâncias prévias. Portanto, como poderíamos achá-las
responsáveis?
Antes de avançarmos para a análise propriamente dita de cada uma das teorias
relativas ao problema do livre arbítrio, é de suma importância esclarecer, desde já, dois
conceitos fundamentais: livre-arbítrio e determinismo.
Estes dois conceitos são considerados fundamentais, pois eles colocam-nos perante
cenários possíveis absolutamente antagónicos. Dizer que a realidade humana é determinada
significa negar-lhe qualquer possibilidade de fazer escolhas, isto é, significa dizer que ela nunca
poderia ser diferente daquilo que efetivamente é. Por sua vez, afirmar a liberdade significa
exatamente o contrário, isto é, significa dizer o ser humano, através do exercício da sua
vontade, pode, a qualquer momento, alterar o decurso natural [determinístico] dos
acontecimentos.
Ora, é a partir do jogo que se estabelece entre estes dois conceitos que se originam as
diferentes teorias sobre o livre-arbítrio. E desde já podemos avançar que essas mesmas teorias
se podem agrupar em dois grandes grupos:
• Libertismo: Não existe qualquer prova de que o ser humano possui uma
natureza dual, material e imaterial. Daí que que não podemos dizer que os
nossos estados mentais não obedecem, nem são condicionados, por leis
físicas. Para além disso, ainda que existissem e não fossem condicionados
pelas leis físicas, ainda seria necessário garantir que não eram regidos por leis
não físicas.
Exercícios:
D
('I
"0 nosso comportamento não é previsível do mesmo modo predizível o
comportamento dos objetos rolando por um plano inclinado. E a razão por que não é
predizível dessa maneira é porque, muitas vezes, poderíamos ter agido de um modo diferente
de como agimos efetivamente. A liberdade humana é precisamente um facto de experiência.
Se alguém prediz que eu vou fazer alguma coisa, posso muito bem não fazer essa coisa. Ora
bem, este tipo de opção não está à disposição dos glaciares que se movem pelas montanhas
abaixo ou das bolas que rolam em pianos inclinados, ou dos planetas que se movem em torno
das suas órbitas elípticas."
(7) tr.", "k E' l.j> OLD -COs' e ns?v-tak-o (")-0 •<- \tut,- \r" t.)o N-40 Q1~
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\ACLI)LO• (>04"-
\t\P-&
Apontamento:
Conteúdos de 10.0
Para dar resposta a estas e outras perguntas sobre a natureza e realidade dos valores,
foi desenvolvida, no interior da filosofia, uma disciplina muito específica: a Filosofia dos
valores, ou Axiologia. Assim, a Filosofia dos valores, ou Axiologia, designa a disciplina filosófica
especializada na reflexão/estudo sobre o conceito de valor, a natureza dos valores e os juízos
de valor.
Para além destas duas caraterísticas invariáveis, os valores assumem ainda outras duas
caraterísticas, as quais são resultado da posição que assumirmos face à sua natureza. Vejamos:
• Absolutividade ou Relatividade:
e Perenidade e Historicidade:
Os autores que afirmam o caráter absoluto dos valores, por norma, afirmam
que estes são perenes, isto é, que os valores não caducam e não mudam
consoante os diferentes períodos históricos e culturais. Aquilo que pode
mudar é a apreciação que os indivíduos fazem desses valores/coisas, mas os
valores, em si mesmos, são imutáveis.
Por sua vez, os autores que defendem a relatividade dos valores sublinham,
ainda, o seu caráter histórico e cultural, defendendo que os valores
acompanham a história da humanidade nas suas aventuras e mudanças, e, tal
como ela, também eles se vão alterando, ganhando e perdendo sentido,
nunca existindo de modo absoluto, mas sim de modo relativo em cada
contexto histórico.
A natureza dos Valores
Até agora vimos qual a definição comum de valor, bem como as suas caraterísticas. No
entanto, ainda não fizemos uma reflexão acerca da sua natureza. Serão os valores qualidades
objetivas e reais, que fazem parte das próprias coisas, ou serão, porventura, meras
apreciações subjetivas que os sujeitos fazem?
Para dar resposta a esta questão, ao longo dos séculos desenharam-se duas
perspetivas teóricas distintas e antagónicas (opostas). Vejamos:
Não são novos para nós os juízos de facto. Na verdade, aquando do estudo que
realizámos sobre a lógica proposicional, referimo-nos às proposições como frases declarativas,
tendo estas sempre associado um valor de verdade. Ora, os juízos de facto (ou juízos de
existência, como também podem ser chamados) são então proposições que se apresentam
sob a forma de frases declarativas e as quais visam apresentar uma descrição objetiva da
realidade. Neste sentido, o valor de verdade destes juízos depende sempre de a descrição que
apresentam corresponder (verdadeiro) ou não (falso) há realidade.
Pensemos em alguns exemplos. A frase "0 planeta Terra gira em torno de uma estrela
a que damos o nome de Sol" representa um juízo de facto. Estamos a descrever um traço da
realidade, e podemos comprovar objetivamente se a descrição é, ou não, verdadeira. O
mesmo se passa com a frase "A água é composta por dois elementos químicos: três átomos de
ferro e um de sódio". Também neste caso podemos recorrer à realidade para comprovar
objetivamente o valor de verdade deste juízo. E imaginemos ainda que alguém dissesse "0
professor Tiago Lemos gosta de beber whisky" — eu sei que é um absurdo, mas existem
pessoas capazes de dizer estas inverdades a meu respeito —, também aqui se trata de um juízo
de facto, uma vez que, objetivamente, podemos apurar o seu valor de verdade, perguntando
ao professor Tiago Lemos se é, ou não, verdade que ele possui esse gosto.
Vamos agora pensar noutro ponto. Pensemos na frase "0 universo é infinito". Sem
dúvida que esta frase expressa uma descrição da realidade. No entanto, não temos forma
alguma, pelo menos até ao momento, para afirmar, objetivamente, se essa descrição é
verdadeira ou falsa. Será que por essa razão esta frase deixa de traduzir um juízo de facto?
Deixa de possuir um valor de verdade? A resposta a ambas as perguntas é, obviamente, não.
Aquilo que acontece neste, como em tantos outros casos, é que não conseguimos determinar
o valor de verdade do juízo de facto; mas sem dúvida que ele continua a ter um valor de
verdade e a tratar-se de um juízo de facto. O mesmo se passa com a frase "Existem seres
extraterrestres dotados de vida inteligente". Ou mesmo ainda com a frase "Deus existe".
Embora se tratem de juízos de facto, em nenhum dos casos podemos (pelo menos até agora),
determinar objetivamente o seu valor de verdade.
Deixando para trás os juízos de facto, apercebemo-nos que existem outras frases
declarativas cuja finalidade não se centra na descrição objetiva da realidade, mas sim na
manifestação de uma apreciação valorativa face à realidade. Tratam-se, pois, de juízos de
valor. Ao contrário dos juízos de facto, que são descritivos, os juízos de valor dizem-se
apreciativos, uma vez que eles não pretendem traduzir uma verdade ou uma falsidade, mas
tão somente manifestar a impressão ou sentimento que essa realidade desperta em nós. Por
exemplo, a proposição "Os morangos são melhores que os limões" não pode ser
objetivamente considerada como verdadeira ou falsa, pois ela mais do que descrever uma
qualidade da realidade, traduz apenas uma preferência subjetiva (individual ou coletiva). É
claro que se existisse um critério objetivo que determinasse o que significa "ser melhor", então
já estaríamos perante um juízo de facto, e esta frase seria ou verdadeira ou falsa. No entanto,
como não existe esse critério objetivo, a única coisa que podemos dizer é que ela traduz um
valor de preferência e, como tal, é um juízo de valor.
Imaginemos agora que a frase dizia o seguinte "0 professor Tiago Lemos considera que
os morangos são melhores que os limões". Neste caso, estamos perante um juízo de facto,
uma vez que já não está em causa saber se os morangos são ou não melhores do que os limões
(até porque não temos o tal critério para determinar isso objetivamente), mas sim apurar se é
ou não verdade que o professor Tiago Lemos considera isso. Concluindo: embora não exista
um critério objetivo que determine o que é "melhor", existe, no entanto, a possibilidade de
interrogarmos o professor Tiago Lemos de modo a determinar se é, ou não, verdade que ele
considera aquilo.
Do mesmo modo que "Os morangos são melhores que os limões", temos outras frases
declarativas, como "Toda a poesia portuguesa é bela", ou "A Filosofia é desagradável e
desinteressante", ou ainda "Existem demasiadas espécies de seres", que traduzem meros
juízos de valor. O que todas elas têm em comum é que não possuem um critério objetivo que
determine o seu valor de verdade. Ou melhor, enquanto apreciações que são, o único critério
a que obedecem é meramente subjetivo, isto é, depende da preferência de cada sujeito.
Relacionando ideias
Será que para um autor que defende o objetivismo axiológico existem juízos de valor?
À partida a resposta será não. Se efetivamente os valores forem qualidades objetivas
independentes da apreciação do sujeito, então aquilo a que normalmente chamaríamos
apreciações subjetivas não são outra coisa senão descrições verdadeiras ou falsas da realidade.
Se efetivamente a Filosofia tiver em si mesma um valor desagradável e desinteressante, então
a frase "A Filosofia é desagradável e desinteressante" nunca seria um juízo de valor, mas sim
um juízo de facto, neste caso verdadeiro. E ainda que alguém dissesse que "A Filosofia é
agradável e interessante", continuaria a ser um juízo de facto, mas agora falso.
Ora, este tipo de problema não ocorre ao nível da perspetiva que defende o
subjetivismo axiológico. Pois na medida em que estes autores consideram os valores como
criações humanas, as quais manifestam as preferências dos indivíduos, então a existência dos
juízos de valor não se coloca em questão. Os juízos de valor existem, possuem um caráter
subjetivamente apreciativo, e distinguem-se dos juízos de facto, que possuem um caráter
objetivamente descritivo.
Uma das caraterísticas gerais que os valores apresentam é a sua Hierarquia, isto é, eles
encontram-se organizados numa escala de preferência (individual ou coletiva). Acontece,
porém, que ao longo da nossa vida nos deparamos com situações em que experienciamos um
conflito de valores, isto é, em que nos deparamos com uma situação perante a qual nos vemos
obrigados a escolher entre valores distintos, mas aos quais atribuímos uma importância
equivalente.
Tomemos como exemplo alguém que atribui o mesmo valor à liberdade de circulação
e à saúde. Numa situação de grave pandemia mundial, provocada por um vírus
potencialmente mortal, essa pessoa acabará por experienciar um conflito de valores: continua
a circular livremente no espaço público, colocando em risco a sua saúde e de todos os outros,
ou opta por limitar a sua livre circulação e resguardar-se, a si e aos outros, recolhendo-se em
casa e salvaguardando a sua saúde?
Responder a esta questão, embora possa não parecer, não é coisa fácil. Em último
caso, a resposta deste indivíduo irá sempre depender da importância que ele atribuir a
diferentes critérios, e os quais determinarão a sua tomada de decisão. Pensemos por exemplo
no fator económico: se a pessoa precisar de circular livremente no espaço público para obter
dinheiro, de modo a poder pagar as suas contas e alimentar-se, então o mais certo é que ela
saia de casa e circule livremente. Pensemos agora noutro ponto: se a livre circulação da pessoa
implicar ajudar um conjunto de pessoas que dependem dela, então seria mais um fator que
certamente a inclinaria a sair de casa. Porém, se apesar de tudo isto a pessoa considerasse que
essa livre circulação não colocaria apenas a sua saúde em risco, nem a de todos com que
contatasse na rua, mas também daqueles que habitassem com ela, talvez se sentisse menos
inclinada a sair. Por outro lado, se o fator económico lhe fosse indiferente, e se dela não
dependesse ninguém, então o mais provável é que a pessoa permanecesse em casa,
salvaguardando-se de qualquer eventual contágio.
Vemos pois que numa situação de conflito de valores, vários fatores concorrem para a
nossa tomada de decisão. De qualquer modo, e numa situação limite, o indivíduo irá agir
sempre de acordo com o que considerar preferível. No entanto, é importante recordar que
essa preferência valorativa não é imutável; pelo contrário, ela varia não apenas porque o
contexto e os fatores mudam, mas também porque nós próprios mudamos ao longo do
tempo.
APONTAMENTO N.° 1
Introdução:
Atendendo à sua etimologia (isto é, à sua origem), a palavra Filosofia deriva dos
seguintes termos gregos:
A Origem
a) A Religião grega, tanto a pública, como aquela referida como "a religião dos
mistérios", era não dogmática e permitia que os filósofos expressassem as
suas ideias sem medo de represálias. Vivia-se, portanto, num período de
liberdade de culto e os filósofos eram livres de questionar a veracidade dos
deuses e das explicações mitológicas.
b) A Poesia, por outro lado, tanto ajudava a conhecer a história, e as ideias dos
antepassados (note-se que na altura todas as obras eram escritas em verso);
para além disso, o facto de estar escrita em verso ajudava à sua memorização
e difusão da mensagem.
Pólís: Cidade independente cujo governo era exercido por cidadãos livres, na
Antiguidade grega. Sinónimo de cidade-Estado.
Agora: Principal praça pública das cidades-Estado, era o local por excelência onde se
discutiam todos os assuntos relativos à vida pública da cidade.
Mito: do latim mythos, significa fábula; do grego múthus, significa conto, história,
nan-ativa, ficção. Diz-se de coisas ou pessoas que não existem, mas se supõem reais.
Logos: palavra grega que significa discurso, linguagem, estudo, teoria. Em filosofia
assume essencialmente o significado de Razão, no sentido de discurso/estudo racional e
justificado.
Já vimos que com Sócrates a Filosofia vai sofrer a sua primeira revolução
epistemológica, o que significa que ela vai mudar completamente a sua forma de
abordar a investigação, ao mesmo tempo que muda o seu objeto de estudo central: a
partir de Sócrates já não é tanto o Cosmos (ordem do Universo), mas sim o Homem
(Antropologia) que passa a estar no cerne das problemáticas filosóficas.
Na sua atividade, a Filosofia surge então como uma reflexão crítica que se
distingue de todas as outras esferas do saber. Não possuindo um objeto de estudo
particular, mas estando atenta a todo o real, a Filosofia tem como categorias específicas
as seguintes quatro dimensões:
(2) — A Filosofia Sistemática, por sua vez, é própria dos Filósofos, pensadores
que não apenas conhecem a história da Filosofia, as suas diferentes correntes de
pensamento, mas que também procuram aprofundar o conhecimento existente,
submetendo-o a todas as espécies de críticas, de modo a eliminar todo o tipo de
preconceitos infundados e dogmáticos. Na sua atividade, o filósofo sistemático procura
analisar e compreender a complexa relação entre o Homem e o Mundo.
APO Ur A M T4 N.(' 2
- O ponto de partida para a discussão filosófica são os problemas. No que diz respeito aos
problemas, a principal ferramenta filosófica é a capacidade de os formular. Formular um
problema significa ser capaz de enunciá-lo. Geralmente, a melhor forma de o fazer é
formulando diretamente uma questão; o problema da justiça de guerra, por exemplo, pode ser
formulado nos seguintes termos: "Pode haver guerras justas?"; ou alternativamente, podemos
dizer que consiste "no problema de saber se uma guerra poderá alguma vez ser justa ou não."
Além disso, os filósofos também devem ser capazes de esclarecer um problema, isto é, de
explicitar o seu conteúdo e a sua relevância. Por exemplo, "0 problema da justiça de guerra
consiste em procurar determinar se existem (ou não) situações que justificam o recurso ao
conflito armado entre diferentes Estados (ou comunidades políticas)..."; "Este problema é
importante porque..."; etc.
Pode ainda ser de grande importância relacionar o problema em mãos com outros
problemas filosóficos aos quais este se encontra ligado. Por exemplo, o problema da justiça de
guerra, tal como foi aqui formulado, relaciona-se, entre outros, com um problema mais geral
acerca da moralidade das nossas ações, ou seja, com o problema de saber o que torna uma
ação certa ou errada.
- Chamamos teorias ou teses às diferentes respostas que os filósofos avançam para resolver os
problemas de que se ocupam. No entanto, aquilo que está a ser discutido pelos filósofos não
são as frases propriamente ditas, mas sim as ideias que lhes estão subjacentes, ou seja, as
proposições.
1) Lógica:
Esses elementos são: os conceitos (ou termos), as proposições (ou juízos) e os argumentos
(também chamados de raciocínios ou inferências). Vejamos cada um deles.
A) Os Conceitos:
- Por estas razões, uma das principais tarefas do trabalho filosófico é tentar clarificar os
conceitos. E essa clarificação resulta de uma boa definição. Contudo, para que uma definição
seja boa, ela terá de ser explícita, isto é, ela terá de ser feita com base em condições
necessárias e suficientes.
Exemplo:
Conceito — Macieira
A Macieira é uma árvore. Ser árvore é uma condição necessária para ser macieira, mas não é
suficiente.
A Macieira é uma árvore que tem como fruto a maçã. Deste modo, temos então as condições
necessárias para se ser uma macieira.
- não pode ser demasiado ampla (para não abranger elementos que não pertencem à extensão
do conceito), nem demasiado restrita (para não excluir nenhum dos elementos abrangidos por
essa extensão;
Existem conceitos mais gerais, amplos, e outros mais restritos, ou singulares. Assim, dizemos
que os mais gerais são aqueles que têm maior extensão, pois aplicam-se ou abrangem um
maior número de elementos, e os mais restritos têm menor extensão.
Quanto mais geral for um conceito, menos caraterísticas individualizadoras possui, menos
compreensivo ele é. Assim, dizemos que os conceitos mais gerais são aqueles que têm menor
compreensão, enquanto que os conceitos mais específicos, ou restritos, têm maior
compreensão. Por ex: o conceito de animal tem maior extensão que o conceito de cão, mas o
conceito de cão tem maior compreensão que o conceito de animal.
B) Os Juízos
Mais, uma mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas. Por
exemplo, a frase «A terra é contemplada pelo astronauta a partir da Lua» expressa a mesma
proposição que a frase «0 astronauta contempla a Terra a partir da Lua».
Apenas as frases declarativas servem para expressar proposições, pois apenas estas possuem
um conteúdo suscetível de ser considerado verdadeiro ou falso. Para clarificar este aspeto,
vamos comparar as frases que se seguem:
No que diz respeito à qualidade, as proposições categóricas podem ser afirmativas — quando
afirmam algo — ou negativas — quando negam algo. No que diz respeito à quantidade, as
proposições categóricas podem ser universais — quando aquilo que afirmam (ou negam) se
aplica à totalidade do sujeito —, particulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
a uma parte do sujeito —, ou singulares — quando aquilo que afirmam (ou negam) se aplica
apenas a um indivíduo. Exemplos de proposições categóricas:
Proposições Complexas:
e Se forem condicionais, então elas afirmam ou negam sob determinadas condições. Ex:
Se todos os S são P, então nenhum A é P.
Aquilo que está aqui a ser dito é que ser português implica ser europeu, ou, por outras
palavras, está-se a afirmar que ser português é uma condição suficiente para se ser europeu e
que ser europeu é uma condição necessária para se ser português.
Neste caso, estaríamos a afirmar que ser europeu é uma condição suficiente para se ser
português e que ser português é uma condição necessária para se ser europeu. A Proposição
Condicional 1 é verdadeira, ao passo que a Proposição Condicional 2 é falsa, pois existem
europeus que não são portugueses, mas sim franceses, alemães, espanhóis, etc.
A proposição que implica, isto é, aquela que constitui uma condição suficiente designa-se
"antecedente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou português").
A proposição que é implicada, isto é, aquela que constitui uma condição necessária designa-se
"consequente" (na Proposição Condicional 1, corresponde à proposição: "Eu sou europeu").
Assim, a Proposição Condicional 1 poderia de igual modo ter sido expressa por qualquer uma
destas formulações alternativas:
- Quando queremos proceder a uma definição explícita de algo, não basta apresentar
condições necessárias ou suficientes, temos de apresentar condições simultaneamente
necessárias e suficientes. Ora, se, como acabámos de ver, a relação de condição necessária é,
geralmente, expressa em português pela expressão "só se" e a relação de condição suficiente
é, geralmente, expressa pela expressão "se", então para expressar condições simultaneamente
necessárias e suficientes devemos usar a expressão "se, e só se" (ou equivalentes, como "se e
apenas se", "se e somente se", etc.), como acontece por exemplo na seguinte definição: "Algo
é água se, e só se, é H20".
Às proposições que têm subjacente esta estrutura: "P se, e só se, Q" decidiu chamar-se
"bicondicionais", porque cada uma das proposições que as compõem implica (ou tem como
consequência) a outra, porque é simultaneamente verdade que "Se P, então CI" e que "Se Q
então P".
Com efeito, quando dizemos que "A água é H20", estamos a afirmar que se algo é água, então
é H20 e que se algo é H20, então é água. Isto significa que uma condição necessária e
suficiente para algo ser água é ser H20, e vice-versa, ou seja, "Algo é água se, e só se, é H20".
C) Os Raciocínios ou Inferências
Existem expressões linguísticas que, tipicamente, servem para indicar essa pretensão: os
indicadores de premissas e conclusão. Quando alguém afirma que "Deus não existe, porque há
mal no mundo" está a usar o "porque" para indicar qual é a_ razão que o leva a pensar que
Deus não existe, ou seja, está a usá-lo como um indicador de premissas. Por outro lado,
quando alguém afirma que "Há mal no mundo. Logo, Deus não existe" está a utilizar o "logo"
para indicar que a ideia de que "Há mal no mundo" suporta (ou tern corno consequência) a
ideia de que "Deus não existe", ou seja, está a utilizá-lo como um 'indicador de conclusão. Na
tabela que se segue apresentam-se alguns indicadores de premissas e conclusão comuns.
Para formular explicitamente urn argumentõl (ou para reconstruir um argumento que nos foi
apresentado por outrem de uma forma confusa e desordenada) devemos seguir os passos que
se seguem:
L
1. Identificar a conclusão do argumento.
2. Identificar as premissas do argumento.
3. Completar o argumento.
4. Formular explicitamente o argumento.
Para ver como é que isto funciona na prática, vamos imaginar um exemplo de argumento
apresentado de forma confusa e desorganizada e tentar reformulá-lo de forma explícita.
"É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse mal no mundo, por isso,
Deus não existe." coy, clwasii.,-
e Y.*
(eNek t
A) pv.e ,m, ssi) •
" )‘-E‘ t) N."1- "A eV,* to*. k% V).0 QV\ k );')
ç_2»,t" Y‘ Z_SN •
O ponto 1. diz-nos que a primeira coisa a fazer- é identificar a conclusão do argumento! Para
isso temos de procurar responder à seguinte pergunta "Qual _ é a_ ideia que o autor do
argumento quer defender?" ou, dito de outra forma, "Quem apresenta este argumento quer
convencer-nos a acreditar
_ em quê? Neste caso, parece ser claro que o autor do argumento
quer convencer-nos a acreditar que "Deus não existe". Em alguns casos podemos facilmente
detetar a conclusão do argumento se encontrarmos um dos indicadores de conclusão
apresentados acima. Neste exemplo, a expressão "por isso" indica que aquilo que surge em
seguida é a conclusão do argumento.
No ponto 2., estabelece-se que, em seguida,tdevernos identificar as premissas do argumento,
Para isso temos de responder à seguinte questão "Que razões apresenta o autor do argumento
para defender a sua conclusão?". No exemplo apresentado, afirma- -se que a existência de
Deus no é compatível com a existência de mal no mundo, ou seja, afirma-se que a existência
de Deus é uma condição suficiente para que não haja mal no mundo. Podemos expressar esta
ideia através da seguinte condicional:
No ponto 3., recomenda-se que se procure detetar se há alguma premissa implícita, isto é,
alguma premissa que o autor do argumento não chegou a formular explicitamente, mas que é
legítimo presumir que é uma das ideias que este precisa de assumir para poder chegar à
conclusão. No exemplo apresentado, podemos presumir que o autor do argumento acredita
que
Por fim, no ponto 4., é-nos sugerido que escrevamos cada premissa (incluindo a(s) premissa(s)
omissa(s), caso existam) numa linha diferente, seguidas pela conclusão, que surge na última
linha, antecedida pela palavra "logo" (para ser mais fácil identificar os diferentes passos do
argumento, sugere-se ainda, que todas as linhas devem ser numeradas, por exemplo com 1, 2,
3, e assim sucessivamente (ou com P1, P2, P3, para as premissas, e Cl), para a conclusão).
Neste caso, o argumento apresentado no exemplo ficaria qualquer coisa como:
1- Princípio da Identidade: é a primeira das três leis clássicas do pensamento e foi formulada
por Parménides (filósofo grego do séc. a.C) nos seus estudos lógicos. De acordo com esta
lei todas as coisas possuem caracteres próprios da sua identidade, de tal modo que também
tod-a
_ s as eiji-
_ i e
--podem diferenciar das restante—si
- P.
Assim, cada coisa é o que é. A forma lógica deste princípio é P, então
2- Princípio da Não contradição: é a segunda das três leis clássicas do pensamento, e foi
formulada por Aristóteles na sua obra Da Interpretação. Aí, afirma Aristóteles que 'duas
afirmações contraditórias não—põdem s-ér -Verdadeiras ao mesmo temlio. Por exemplo: As
afirmações «A é B» e «A não é B» não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.
Assim, nada pode ser uma coisa e não ser essa mesma coisa ao mesmo tempo. A forma lógica
deste princípio é-9(P
Assim, uma coisa ou é ou não é, não existindo meio termo. A forma lógica deste princípio é ou
A ou não A. A v
Olhando para estas três leis, vemos facilmente que elas se complementam. Na verdade, as leis
da Não Contradição e do Terceiro Excluído não são senão um complemento à lei primeira da
Identidade.