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PARTO, DISTOCIA EMOCIONAL E LUTO

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
PARTO, DISTOCIA EMOCIONAL E LUTO ........................................................ 1
NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 2
1.PARTO ............................................................................................................ 4
1.1Saúde no contexto sócio-cultural ............................................................... 5
1.2Aspectos Emocionais do Parto .................................................................. 7
1.2.1 A terapia de apoio na psicologia ...................................................... 10
1.2.2Benefícios do apoio emocional e físico ............................................. 11
1.3Violência Obstétrica ................................................................................. 13
1.3.1 Tipos de Violência................................................................................ 13
1.3.2 Descumprimento das normatizações e legislação vigentes................. 16
1.4 Humanização no parto ............................................................................ 16
1.4.1 Método de Dick-read ........................................................................ 20
1.4.2 Método de Bradley ........................................................................... 21
1.4.3 Método de Lamaze........................................................................... 21
1.5 Gravidez na adolescência....................................................................... 23
2.DISTOCIA ..................................................................................................... 25
2.1Conceito de Distocia ................................................................................ 25
2.1.1 Distocia Funcional ........................................................................... 26
2.1.2Distocia do Trajeto ............................................................................ 27
2.1.4 Distocias Ósseas.............................................................................. 28
2.1.5 Distocias de partes moles ................................................................ 28
2.1.6 Distocia do Objeto ............................................................................ 28
2.1.7 Tamanho Fetal ................................................................................. 28
2.1.8 Distocia de Bacrominal ..................................................................... 29
2.2 Distocia Emocional ................................................................................. 29
2.3 Prevenção Da Distócia ........................................................................ 31
3.LUTO ............................................................................................................. 32
3.1Abordagem terapêutica ao luto ................................................................ 33
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 35

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1.PARTO
O nascimento é historicamente um evento natural. Como é indiscutivel-
mente um fenômeno mobilizador, mesmo as primeiras civilizações agregaram, a
este acontecimento, inúmeros significados culturais que através de gerações so-
freram transformações, e ainda comemoram o nascimento como um dos fatos
marcantes da vida. Até as importantes mudanças do modus vivendi do período
industrial, as vivências do parto foram, nas mais diferentes culturas, de caráter
íntimo e privado, sendo uma experiência compartilhada entre mulheres. A
imensa mortalidade materna e perinatal começou então a ser discutida, na es-
fera pública, por uma necessidade político-econômica de garantir exércitos e tra-
balhadores. Ao lado destas transformações sociais, a obstetrícia firmava-se
como matéria médico e ocorriam as primeiras ações voltadas a disciplinar o nas-
cimento.

A maioria das mulheres que até meados do sec. XX pariram com a ajuda
de outras mulheres, por não serem nobres ou da classe de maior renda, passou

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também a ser objeto do interesse médico e ter seus partos atendidos ou obser-
vados por profissionais oficialmente preparados para este fim, como as enfer-
meiras-parteiras e os médicos. No Brasil, o processo de institucionalização do
parto, ao longo da década de 40, foi provavelmente a primeira ação de saúde
pública dirigida à mulher. Até o início dos anos 60, a preocupação com a saúde
materna se restringiu à assistência ao parto. Com a introdução da medicina pre-
ventiva no país e a criação dos centros de saúde, iniciaram-se os programas de
pré-natal que, na realidade, tinham como objetivo principal reduzir a mortalidade
infantil.
Em 1996, o Ministério da Saúde, em parceria com FEBRASGO, UNICEF
e OPAS, lançou o Projeto Maternidade Segura que pretendia reduzir a mortali-
dade materna e perinatal, através da melhoria da assistência ao parto e ao re-
cém-nascido. Embora estas iniciativas e outras em âmbito municipal e estadual
tenham sido desenvolvidas nos últimos anos, problemas permanecem na siste-
matização da assistência à gestação e ao parto, desrespeitando direitos básicos
da cidadania e colocando em risco a vida de mulheres e recém nascidos. Entre
eles, estão a segmentação entre a rede básica e hospitalar e a intervenedo ex-
cessiva sobre o parto.
Em 1996, o Ministério da Saúde, em parceria com FEBRASGO, UNICEF
e OPAS, lançou o Projeto Maternidade Segura que pretendia reduzir a mortali-
dade materna e perinatal, através da melhoria da assistência ao parto e ao re-
cém-nascido. Embora estas iniciativas e outras em âmbito municipal e estadual
tenham sido desenvolvidas nos últimos anos, problemas permanecem na siste-
matização da assistência à gestação e ao parto, desrespeitando direitos básicos
da cidadania e colocando em risco a vida de mulheres e recém nascidos. Entre
eles, estão a segmentação entre a rede básica e hospitalar e a intervenedo ex-
cessiva sobre o parto.

1.1Saúde no contexto sócio-cultural

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A saúde não deve se restringir ao tradicional conceito de prevenção, di-
agnóstico, tratamento e reabilitação, mas deve ser abordada também no con-
texto cultural, histórico e antropológico, onde estão os indivíduos que se querem
ver saudáveis ou livres de doenças. Essa abordagem é fundamental ao se ana-
lisar a questão da saúde da mulher brasileira, em especial daquela de menor
renda, pois esta tem carências marcadas daquilo que se chama de "necessida-
des básicas", que interferem na sua saúde e seu bem-estar. Este mulher carece,
frequentemente, de alimentação, moradia, trabalho digno e adequadamente re-
munerado, educação, cultura, lazer, dentre outros. Evidentemente, essa "doença
social" - que acomete um número expressivo de mulheres - determina ou agrava
condições biológicas e psicológicas que põem em risco sua vida, sua saúde e
seu bem-estar.
“Saúde- estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente à ausência de doença ou enfermidade é um direito fun-
damental, e que a consecução do mais alto nível de saúde é a mais
importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de mui-
tos outros setores sociais e econômicos, além do setor saúde (OMS
1976)

No caso da mulher, acresce-se à problemática já explicitada, questões


também complexas, relacionadas às relações de gênero, de não tão simples re-
solução, por refletirem padrões culturais dominantes na sociedade. A definição
de identidade sexual como fator eminentemente biológico, em que as caracte-
rísticas anatômicas, fisiológicas e hormonais definem macho e fêmea, é por de-
mais estreita para abarcar a totalidade dos universos masculino e feminino. A
identidade cultural de gênero e construída no tempo e no espaço, criando este-
reótipos de papéis diferenciados, marcados pelos interesses imediatos das so-
ciedades nos diferentes momentos históricos. Ao longo dos séculos, construiu-
se um modelo social predominante que vem impedindo a mulher de ser sujeito
pleno de sua própria história. Esse modelo pré determina formas de conheci-
mento e ação, na área da saúde inclusive, que evidenciam seu caráter patriarcal.
Esses determinantes histórico-sociais vêm se refletindo, ao longo dos tempos,
na atuação médico nas questões relacionadas à saúde da mulher: a exaltação
da maternidade – discurso dominante a partir do século XIX – trouxe no seu bojo
não a proteção da mulher das vulnerabilidades a que está exposta no processo

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de manutenção da espécie, mas a perpetuação das relações de poder entre os
sexos.

1.2Aspectos Emocionais do Parto

Até agora, discutiu-se a grande intensidade emocional do parto, o que

exige da parturiente e de seu acompanhante capacidade de lidar com conteúdos,


ansiedades e medos, que vêm à tona em conjunto com as transformações físicas
inerentes a esse processo, e de elaborá-los. O ambiente em que a mulher dá a
luz influencia fortemente essa dinâmica psíquica, uma vez que ela tem de lidar
com lugar e pessoas desconhecidas, com cultura e normas próprias, e deixa de
ser sujeito para ser objeto submetido ao conhecimento e ao poder médico reco-
nhecidos socialmente. Após viver tantas ansiedades até conseguir adaptar-se à
gravidez, quando já havia integrado o feto como parte de seu esquema corporal,

se acostumado às mudanças metabólicas, hormonais e fisiológicas, após o parto


a mulher terá de passar por um novo processo de ajuste, agora ao corpo não

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grávido. Ao mesmo tempo, finalmente verá o seu bebê, poderá tocá-lo, senti-lo
em seus braços. O nascimento é uma mudança decisiva para mãe e bebê, e é
uma experiência bastante forte. A separação de dois seres que até então viviam
de modo interdependente, em íntimo e permanente contato, impacta emocional-
mente a cada um deles.

Essa mudança reativa a angústia de nascimento da mulher, leva-a a re-


viver inconscientemente o trauma do próprio nascimento, do desamparo experi-
mentado ao nascer pela perda do estado de vida uterino e pelo medo do desco-
nhecido. Trata-se de uma ansiedade associada à sensação de perda, esvazia-
mento, de sentir-se despojada de parte sua, de ter que enfrentar um desconhe-
cido, o filho. O interjogo dessas ansiedades pode produzir um estado confusio-
nal, com sensações de estranhamento, despersonalização e perda de identi-
dade. A ansiedade trazida pela percepção das primeiras contrações, ao ser ade-
quadamente reconhecida e nomeada, deve se esvanecer em seguida, com a
parturiente mantendo-se em relativo equilíbrio. Se isso não for possível, como
uma forma de defesa psíquica, algumas mulheres sentem uma diminuição na
frequência das contrações, o que pode ser interpretado como uma reação in-
consciente a algo que a agride internamente. Para algumas mulheres a dor in-
tensificada resulta em aumento da angústia, que pode se estender aos familia-
res. Para outras, a dor é sentida como anúncio da proximidade do parto e tida
como uma aliada. Quanto ao apoio emocional, ter por perto uma figura que traga
serenidade, compreensão e seja acolhedora pode aliviar a crise e trazer segu-
rança. Isso facilita o contato e a comunicação com os profissionais do hospital,

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promovendo a sensação de segurança e atitudes de colaboração da parturiente
e da própria equipe. Nesse sentido, ajuda muitíssimo a presença de um acom-
panhante de escolha da mulher na sala de parto, podendo ser o companheiro,
sua própria mãe ou pessoa de sua rede apoio, dada a necessidade de proteção
da parturiente, em meio a seu desamparo e exaustão. Algumas mulheres contam
com Doulas, que oferecem apoio à mulher desde a gestação e estão presentes
no trabalho de parto e parto. Cabe à equipe de saúde acolher o acompanhante
e facilitar sua presença desde o pré-natal, bem como no trabalho de parto, parto
e puerpério. Segundo o Ministério da Saúde, há estudos que comprovam que a
presença do acompanhante traz benefícios que vão desde o sentimento de
maior segurança e confiança das gestantes até a redução de medicamentos
para alívio da dor e da duração do trabalho de parto.

A incorporação das medidas preconizadas pela Organização Mundial de


Saúde (2003) na atenção ao parto (por exemplo, evitar o uso rotineiro e sem
indicação precisa de procedimentos como tricotomia, episiotomia e enemas), ali-
ada às práticas que comprovadamente são benéficas (como a permissão para

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ingestão de líquidos e alimentos, o incentivo a deambulação, banhos e massa-
gens para alívio da dor), contribui para o bem-estar da parturiente. No final do
trabalho de parto, torna-se confusa a percepção do que é vaginal ou anal. Isso
pode reativar fantasias e sentimentos da infância sobre os mitos do nascimento
e angústias ligadas ao processo de aprendizado esfincteriano, como às referen-
tes as fantasias de castração. Nas manifestações de sintomatologia oral, a ansi-
edade diz respeito ao medo de esvaziar-se totalmente e ficar dissolvida no nada.
A mulher pode se sentir invadida por fanta-
sias de perigo, aniquilamento e morte, rela-
tivas à angústia do próprio nascimento.
Tudo isso indica a necessidade de apoio
emocional da parturiente nesse mo-
mento, tanto pelo acompanhante como
por parte de pessoas especializadas e fami-
liarizadas com esses conceitos, como po-
dem ser os obstetras, as obstetrizes, as
enfermeiras e as doulas. Na situação expulsiva, a fonte de ansiedade refere-se
à proibição da sexualidade, uma vez que o alívio prazeroso provocado pela pas-
sagem do bebê pode ser vivido confusamente como prazer da área sexual. Ver
o filho recém-nascido e tê-lo em seus braços é fator que possibilita recobrar a
identidade perdida no estado confusional e tolerar da melhor forma a saída da
placenta. Além do mais, ao nascer, o bebê se mostra com vida própria e se in-
corpora como integrante novo na família, que solicita atenção e provoca intera-
ção.

1.2.1 A terapia de apoio na psicologia

Na psicologia, Fiorini (1987, p. 51) define a terapia de apoio como um


processo que tem como objetivo: “... a atenuação ou supressão da ansiedade e
de outros sintomas clínicos, como meio de favorecer um retorno à situação de
homeostase anterior à descompensação ou crise”. Para tanto, é necessário que
o terapeuta crie um vínculo com o paciente, no papel de protetor, orientador e
encorajador. Fiorini afirma que essas características são fundamentais para o
estabelecimento de um trabalho sugestivo-diretivo, uma vez que a interpretação

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dos conteúdos ou comportamentos que vêm a tona durante a terapia é opcional,
pois não há necessidade da compreensão dos significados dos distúrbios nesse
tipo de terapia. O objetivo, a estratégia e os papéis na relação precisam estar
claramente definidos. Fiorini aponta ainda que a persistência ou continuidade do
terapeuta é condição para a eficácia do vínculo, visto que o paciente não deve
sentir-se abandonado ou ameaçado na ausência do terapeuta.

1.2.2Benefícios do apoio emocional e físico

O conhecimento sobre os efeitos do apoio emocional durante o parto


tem sido desenvolvido, mas responde à teoria da terapia de apoio, guardadas as
devidas proporções. A construção e a difusão desse saber estão embasadas em
pesquisas fundamentadas em respostas de caráter eminentemente empírico.
O apoio emocional dá-se por uma aproximação carinhosa à parturiente,
palavras de encorajamento e elogios. O apoio físico dá-se por meio de toques,
massagens e o incentivo à deambulação e a mudanças de posição, buscando
sempre oferecer conforto físico à mulher. A informação caracteriza-se pelo ofe-
recimento de qualquer informação, seja em nível do desenvolvimento do trabalho
de parto, seja quanto os procedimentos médicos utilizados pela equipe.
O conceito de acompanhante qualificada – doula –, que foi se delineando
nessas pesquisas, refere-se a uma pessoa, preferencialmente, mulher, que te-
nha conhecimento do meio médico e domínio dos termos básicos usados pela
equipe médica, para que possa ser mediadora entre a equipe, a parturiente e a
família. Capacidade de acompanhar, sensibilidade e disponibilidade emocional
são ingredientes fundamentais para o desempenho da doula no acompanha-
mento contínuo do parto. A doula tem o papel de transmitir segurança à parturi-
ente, para que ela se sinta com mais autonomia, de forma que possa estar mais
em contato com seu corpo e, então, perceba o desenvolvimento do parto, o que
lhe propiciará a sensação de maior controle da situação.

Para o Ministério da Saúde (2001), as atribuições da acompanhante trei-


nada são:

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• orientar a mulher a assumir a posição que mais lhe agrade durante as
contrações;
• favorecer a manutenção de um ambiente tranqüilo e acolhedor com
silêncio e privacidade;
• orientar a mulher sobre métodos para o alívio da dor que podem ser
utilizados, se necessários;
• estimular a participação do marido ou companheiro em todo o pro-
cesso; e
• apoiar e orientar a mulher no período expulsivo, incluindo a possibili-
dade da liberdade de escolha quanto à posição a ser adotada
Os trabalhos de Klaus e Kennell (1993, 2000) sobre os benefícios do
acompanhamento indicam que a presença do companheiro da mulher é muito
importante, nesse momento, para o desenvolvimento dos vínculos amorosos
com o bebê e um maior aprofundamento na vida do casal. Entretanto, de acordo
com os autores, o casal necessita de apoio emocional para melhor vivenciar o
parto, uma vez que o pai está emocionalmente envolvido com o processo, o que
poderia dificultar o oferecimento de apoio à parturiente.
Questões levantadas quanto à possibilidade de um acompanhamento
emocional e físico não concernem ao mérito do trabalho em si, uma vez que uma
vasta gama de pesquisas demonstram os benefícios do acompanhamento qua-
lificado e contínuo. Os questionamentos são de ordem prática, política e na or-
dem de como ele poderia ser realizado. O Brasil ainda precisa realizar mudanças
importantes referentes ao processo de humanização do parto e na implementa-
ção das normas de atendimento à parturiente propagadas pelo Ministério da Sa-
úde. As pesquisas sobre apoio emocional,evidenciam que o aspecto emocional
que envolve o parto precisa ser seriamente considerado pela equipe que atende
à parturiente e sua família.
Portanto, o apoio emocional caracterizam-se por um conjunto de atitudes
e técnicas que propiciam à parturiente conforto físico, emocional e segurança e,
ao acompanhante, orientação e estímulo à participação. A informação e a orien-
tação são fundamentais no desenvolvimento deste tipo de apoio, pois contri-
buem para que o casal ou o par compreenda como está o desenvolvimento do

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trabalho de parto, o que possibilita uma posição autônoma e um papel de prota-
gonista no parto. Para facilitar a nomeação deste apoio, será utilizado apenas o
nome ‘apoio emocional’, tendo em mente todas as suas características.

1.3Violência Obstétrica

São todos aqueles praticados contra a mulher no exercício de sua saúde


sexual e reprodutiva, podendo ser cometidos por profissionais de saúde, servi-
dores públicos, profissionais técnico-administrativos de instituições públicas e
privadas, bem como civis.

1.3.1 Tipos de Violência

Caráter físico
Ações que incidam sobre o corpo da mulher, que interfiram, causem dor
ou dano físico (de grau leve a intenso), sem recomendação baseada em evidên-
cias científicas.
Exemplos: privação
de alimentos, interdi-
ção à movimentação
da mulher, tricotomia
(raspagem de pelos),
manobra de Kristeller,
uso rotineiro de ocito-
cina, cesariana eletiva
sem indicação clínica,
não utilização de analgesia quando tecnicamente indicada.

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Caráter psicológico
Toda ação verbal ou comportamental que cause na mulher sentimentos
de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, instabilidade emocional, medo, acu-
ação, insegurança, dissuação, ludibriamento, alienação, perda de integridade,
dignidade e prestígio.
Exemplos: ameaças, mentiras, chacotas, piadas, humilhações, grosse-
rias, chantagens, ofensas, omissão de informações, informações prestadas em
linguagem pouco acessível, desrespeito ou desconsideração de seus padrões
culturais.

Caráter sexual
Toda ação imposta à mulher que viole sua intimidade ou pudor, inci-
dindo sobre seu senso de integridade sexual e reprodutiva, podendo ter acesso
ou não aos órgãos sexuais e partes íntimas do seu corpo.

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Exemplos: episiotomia, assédio, exames de toque invasivos, constantes
ou agressivos, lavagem intestinal, cesariana sem consentimento informado, rup-
tura ou descolamento de membranas sem consentimento informado, imposição
da posição supina para dar à luz, exames repetitivos dos mamilos sem esclare-
cimento e sem consentimento.

Caráter institucional
Ações ou formas de organização que dificultem, retardem ou impeçam
o acesso da mulher aos seus direitos constituídos, sejam estes ações ou servi-
ços, de natureza pública ou privada.
Exemplos: impedimento do acesso aos serviços de atendimento à sa-
úde, impedimento à amamentação, omissão ou violação dos direitos da mulher
durante seu período de gestação, parto e puerpério, falta de fiscalização das
agências reguladoras e demais órgãos competentes, protocolos institucionais
que impeçam ou contrariem as normas vigentes.

Caráter material
Ações e condutas ativas e passivas com o fim de obter recursos finan-
ceiros de mulheres em processos reprodutivos, violando seus direitos já garan-
tidos por lei, em benefício de pessoa física ou jurídica.

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Exemplos: cobranças indevidas por planos e profissionais de saúde, in-
dução à contratação de plano de saúde na modalidade privativa, sob argumen-
tação de ser a única alternativa que viabilize o acompanhante.

Caráter midiático
São as ações praticadas por profissionais através de meios de comuni-
cação, dirigidas a violar psicologicamente mulheres em processos reprodutivos,
bem como denegrir seus direitos mediante mensagens, imagens ou outros sig-
nos difundidos publicamente; apologia às práticas cientificamente contra-indica-
das, com fins sociais, econômicos ou de dominação.
Exemplos: apologia à cirurgia cesariana por motivos vulgarizados e sem
indicação científica, ridicularização do parto normal, merchandising de fórmulas
de substituição em detrimento ao aleitamento materno, incentivo ao desmame
precoce.

1.3.2 Descumprimento das normatizações e legislação vigentes

 Proibição do acompanhante- Descumprimento da Lei 11.108/2005,


RDC nº 38/2008 da ANVISA e do Estatuto da Criança e do Adolescente
(no caso de adolescente grávida)
 Restrição ao acompanhante mediante cobrança de taxas- Descum-
primento da Lei 11.108/2005, RN nº 211/2010 e RN nº 262/2011 da ANS

1.4 Humanização no parto

A Política Nacional de Humanização toma o acolhimento como postura


prática nas ações de atenção e gestão das unidades de saúde, o que favorece
a construção de uma relação de confiança e compromisso dos usuários com as
equipes e os serviços, contribuindo para a promoção da cultura de solidariedade
e para a legitimação do sistema público de saúde. O acolhimento da gestante na
atenção básica implica a responsabilização pela integralidade do cuidado a partir
da recepção da usuária com escuta qualificada e a partir do favorecimento do
vínculo e da avaliação de vulnerabilidades de acordo com o seu contexto social,
entre outros cuidados. O profissional deve permitir que a gestante expresse suas

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preocupações e suas angústias, garantindo a atenção resolutiva e a articulação
com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência e, quando
necessário, possibilitando a criação de vínculo da gestante com a equipe de sa-
úde. Cabe à equipe de saúde, ao entrar em contato com uma mulher gestante,
na unidade de saúde ou na comunidade, buscar compreender os múltiplos sig-
nificados da gestação para aquela mulher e sua família, notadamente se ela for
adolescente. A história de vida e o contexto de gestação trazidos pela mulher
durante a gravidez devem ser acolhidos integralmente a partir do seu relato e da
fala de seu parceiro. Tal contexto implica mudanças nas relações estabelecidas
entre a mulher e a família, o pai e a criança. Além disso, gera mudanças na
relação da gestante consigo mesma, no modo como ela entende seu autocui-
dado, bem como modificações em como ela percebe as mudanças corporais, o
que interfere muitas vezes no processo de amamentação. É cada vez mais fre-
quente a participação do pai no pré-natal, devendo sua presença ser estimulada
durante as atividades de consulta e de grupo, para o preparo do casal para o
parto, como parte do planejamento familiar. A gestação, o parto, o nascimento e
o puerpério são eventos carregados de sentimentos profundos, pois constituem
momentos de crises construtivas, com forte potencial positivo para estimular a
formação de vínculos e provocar transformações pessoais. É importante acolher
o(a) acompanhante de escolha da mulher, não oferecendo obstáculos à sua par-
ticipação no pré-natal, no trabalho de parto, no parto e no pós-parto. O(a) acom-
panhante pode ser alguém da família, amigo(a) ou a doula, conforme preconiza
a Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005. O benefício da presença do(a) acompa-
nhante já foi comprovado. Vários estudos científicos nacionais e internacionais
evidenciaram que as gestantes que tiveram a presença de acompanhantes se
sentiram mais seguras e confiantes durante o parto. Também houve redução do
uso de medicações para alívio da dor, da duração do trabalho de parto e do
número de cesáreas. Alguns estudos sugerem, inclusive, a possibilidade de ou-
tros efeitos, como a redução dos casos de depressão pós-parto. Contando suas
histórias, as grávidas esperam partilhar experiências e obter ajuda. Assim, a as-
sistência pré-natal torna-se um momento privilegiado para discutir e esclarecer
questões que são únicas para cada mulher e seu parceiro, aparecendo de forma

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individualizada, até mesmo para quem já teve outros filhos. Temas que são ta-
bus, como a sexualidade, poderão suscitar dúvidas ou a necessidade de escla-
recimentos.

O diálogo franco, a sensibilidade e a capacidade de percepção de quem


acompanha o pré- -natal são condições básicas para que o saber em saúde seja
colocado à disposição da mulher e da sua família – atores principais da gestação
e do parto. Uma escuta aberta, sem julgamentos nem preconceitos, de forma
que permita à mulher falar de sua intimidade com segurança, fortalece a ges-
tante no seu caminho até o parto e ajuda a construir o seu conhecimento sobre
si mesma, contribuindo para que tanto o parto quanto o nascimento sejam tran-
quilos e saudáveis. Escutar uma gestante é algo mobilizador. A presença da
grávida remete as pessoas à condição de poder ou não gerar um filho, seja para
um homem, seja para uma mulher. Suscita solidariedade, apreensão. Escutar é
um ato de autoconhecimento e reflexão contínua sobre as próprias fantasias,
medos, emoções, amores e desamores. Escutar é desprendimento de si. Na es-
cuta, o sujeito dispõe-se a conhecer aquilo que talvez esteja muito distante de
sua experiência de vida, o que, por isso, exige grande esforço para ele compre-
ender e ser capaz de oferecer ajuda, ou melhor, trocar experiências. O ambiente
acolhedor, confortável e o mais silencioso possível, conduz ao relaxamento
psico-físico da mulher, do acompanhante e equipe de profissionais e indica qua-
lidade da assistência. O recurso da música e das cores representa formas alter-

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nativas de abordagem que buscam desenvolver potenciais e/ou restaurar fun-
ções corporais da parturiente, acompanhante e da equipe profissional. A utiliza-
ção de roupas confortáveis também é uma medida importante para favorecer o
relaxamento. Na prática cotidiana dos serviços de saúde, o acolhimento se ex-
pressa na relação estabelecida entre os profissionais de saúde e os(as) usuá-
rios(as), mediante atitudes profissionais humanizadoras, que compreendem ini-
ciativas tais como as de:
(i) Se apresentar;
(ii) Chamar os(as) usuários(as) pelo nome;
(iii) Prestar informações sobre condutas e procedimentos que devam
ser realizados;
(iv) Escutar e valorizar o que é dito pelas pessoas;
(v) Garantir a privacidade e a confidencialidade das informações; e
(vi) Incentivar a presença do(a) acompanhante, entre outras iniciati-
vas semelhantes.
De igual forma, o acolhimento também se mostra:
(i) Na reorganização do processo de trabalho;
(ii) Na relação dos trabalhadores com os modos de cuidar;
(iii) Na postura profissional; e
(iv) No vínculo com a mulher gestante e sua família, o que fa-
cilita, assim, o acesso dela aos serviços de saúde. O aco-
lhimento, portanto, é uma ação que pressupõe a mudança
da relação profissional/ usuário(a).
O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética e
solidária. Portanto, ele não se constitui como uma etapa do processo, mas como
ação que deve ocorrer em todos os locais e momentos da atenção à saúde.
Na literatura médica são, descritos vários métodos psico-profiláticos e
de relaxamento que podem ser iniciados no pré-natal - Método de DickRead,
Bradley e Método de Lamaze. Tais métodos pressupõem que sua utilização re-
sulte na redução do medo, da tensão e da dor, melhorando o tônus muscular e
aumentando o relaxamento, desta forma favorecendo a evolução do trabalho de
parto e do parto. Enfatizam a respiração lenta, o relaxamento muscular e as téc-
nicas para os esforços de puxos. Infelizmente, a utilização de tais métodos não

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tem sido motivo de estudos clínicos controlados para avaliar sua efetiva contri-
buição para a evolução do trabalho de parto e parto. As poucas evidências cien-
tíficas disponíveis sobre este assunto têm demonstrado concretamente apenas
uma diminuição na necessidade de drogas analgésicas, uma major satisfação
com o processo do nascimento e nenhum efeito adverso. Entretanto, a expecta-
tiva com relação aos resultados dente tipo de intervenção deve ser claramente
explicitada para que não ocorram expectativas que não correspondam à reali-
dade.
1.4.1 Método de Dick-read

Considerado um dos pilares para a educação preparatória para o parto


em diversos países, este método orienta sobre a fisiologia do parto, exercícios
para a musculatura do períneo e do abdome, e técnicas de relaxamento. Preco-
niza o aprendizado do relaxamento através da concentração em cada parte do
corpo, separadamente, dos pés à cabeça, contraindo e relaxando os músculos.
Recomenda a presença de acompanhante, pois o fato de a mulher permanecer
sozinha durante o trabalho de parto gera medo. Possui como objetivo principal
evitar a tríade medo – tensão – dor, pois se baseia no fato de que o conheci-
mento destrói o terror e evita a tensão, controlando a dor. Segundo este método,
são três os fatores que causam medo:

a) sugestão – as mulheres são condicionadas negativamente em rela-


ção ao parto, desde a infância. A comunidade à qual ela pertence e os meios de
comunicação exercem um importante papel nessa sugestão, ressaltando os so-
frimentos do parto. Infelizmente, essa sugestão também pode partir de profissi-
onais da área da saúde;
b) ignorância – a gestante é muito ansiosa por ignorar as modificações
que ocorrem em seu organismo durante o ciclo gravídico-puerperal. Com fre-
qüência preocupa-se com o desenvolvimento fetal, sua nutrição, posição dentro
do útero, malformações, etc. As gestantes poderiam ser preparadas para o tra-
balho de parto, sem medo e tensão, se aprendessem a encarar a gravidez e o
parto como processo fisiológico; e

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c) desamparo psicológico – é caracterizado pelo despreparo do profissi-
onal de saúde, e também pela indiferença demonstrada na falta de apoio psico-
lógico e informação, por dificuldade de comunicar-se, ou por achar que a partu-
riente não deve saber da conduta adotada.

1.4.2 Método de Bradley

Este método reafirma o parto como um processo normal. Tem como prin-
cipal foco as variáveis ambientais, como a penumbra e o silêncio, para que o
parto seja uma experiência a mais natural possível. Neste método, o acompa-
nhante assume também um papel de grande importância. No início do trabalho
de parto a mulher é estimulada a se movimentar livremente. Ao deitar, é orien-
tada a adotar a posição de Sims (decúbito lateral esquerdo, com os braços po-
sicionados de maneira confortável, perna direita ligeiramente mais fletida que a
esquerda e apoiada sobre a cama; deve-se colocar um travesseiro sob a cabeça
para aumentar o conforto). Durante cada contração, a mulher deve fechar os
olhos, relaxar todos os músculos do corpo e respirar lenta e profundamente (ins-
pirando pelo nariz e expirando pela boca). Neste período, o acompanhante é
incentivado a colocar a mão sobre abdome da mulher, durante a contração.

1.4.3 Método de Lamaze

Este método é também conhecido como método psico-profilático da dor.


A mulher pode ser ensinada a substituir suas reações à dor, ao medo e à perda
de controle, por um comportamento mais positivo. O método de Lamaze é base-
ado na Teoria de Pavlov sobre o reflexo condicionado. Atualmente, é o método
mais popular para preparação do parto. Nele, são combinados os relaxamentos
musculares controlados e as técnicas de respiração. A mulher é ensinada a con-
trair grupos específicos de músculos, enquanto relaxa outros. Ela também
aprende a focalizar um pequeno objeto que, durante o trabalho de parto, será
usado como ponto focal. O objeto é colocado onde possa ser facilmente visto
pela mulher. Exercícios respiratórios são explicados detalhadamente desde o

21
período do pré-natal ate o pré-parto/parto. O método de Lamaze incentiva a mu-
lher e seu acompanhante a uma participação ativa no trabalho de parto e parto.
No pré-natal são, trabalhados os vários tipos de respiração nos diferentes está-
gios do trabalho de parto, os métodos de relaxamento de certos grupos de mús-
culos e as medidas a serem utilizadas para aumentar o conforto durante o tra-
balho de parto. Quando inicia o trabalho de parto, a mulher é orientada a inspirar
profundamente, focar sua atenção num objeto selecionado e expirar lenta e pro-
fundamente, usando o peito. No final da contração, ela novamente deve inspirar.
Esta respiração permitirá que a parturiente descanse e recomponha-se. Isso po-
derá ser feito com a mulher deambulando ou em posição de Sims. À medida que
evolui o trabalho de parto, e a mulher entra na fase ativa do parto, a respiração
torácica lenta já não e tão eficiente. A mulher é então, estimulada a iniciar pela
respiração lenta, passar para uma mais curta, e quando a contração atingir seu
pico, voltar à lento. A respiração rápida e realizada por longo período pode cau-
sar hiperventilação, um estado em que se reduz o nível de pCO2 no sangue.
Esta ocorrência é indesejável para o organismo materno e fetal. Na realidade,
são utilizadas variações nos padrões respiratórios, pois há algumas mulheres
que descobrem um padrão respiratório próprio que lhes é mais confortável. O
acompanhante tem papel fundamental no controle das contrações, incentivando
a mulher a relaxar. Os métodos contemporâneos de educação preparatória para
o parto tendem a combinar aspectos das diversas abordagens dos métodos de
Dick-Read, Lamaze e Bradley. Tais métodos não possuem a pretensão de subs-
tituir na íntegra os métodos farmacológicos de minimização da dor e, sim, modi-
ficar a atitude da mulher e seu acompanhante que, ao invés de ligar o parto a
medo e dor, passam a aceita-lo com compreensão, segurança, tranqüilidade e
com participação ativa. Considerando que muitas mulheres não têm acesso a
essas orientações no período gestacional, é importante que, ao serem admitidas
em trabalho de parto, recebam orientações e acompanhamento quando à reali-
zação dessas medidas educativas e de minimização de estresse e ansiedade.
Tais medidas visam oferecer a estas mulheres uma postura ativa em seu traba-
lho de parto.

22
1.5 Gravidez na adolescência

A adolescência é uma importante etapa do desenvolvimento do ser hu-


mano para atingir a maturidade biopsicossocial. É durante este período que a
sexualidade manifesta-se em novas e surpreendentes necessidades e sensa-
ções corporais, em desconhecidos desejos e na busca de relacionamento inter-
pessoal ocasionados pelas alterações hormonais da puberdade, sendo foco im-
portante de preocupação e curiosidade para adolescentes de ambos os sexos.
A maneira como os(as) adolescentes vão lidar com a sua sexualidade,
como vão vivê-la e expressá-la é influenciada por vários fatores, entre os quais
estão a qualidade das relações afetivas que vivenciaram e ainda vivenciam com
pessoas significativas nas suas vidas, as transformações corporais, psicológicas
e cognitivas trazidas pelo crescimento e desenvolvimento, até os valores, as nor-
mas culturais e as crenças da sociedade na qual estão inseridos.

23
É nesta fase que se iniciam os interesses pelas relações afetivas e se-
xuais e os momentos de “ficar”, conhecer, namorar, descobrir novas sensações,
sentimentos e, em muitos casos, vivenciar a primeira relação sexual. É neste
período, portanto, que os(as) adolescentes precisam ter a oportunidade de rece-
ber informações e orientações sobre a sua saúde sexual e reprodutiva para que
possam ter conhecimentos e recursos que permitam ajudá-los a se prevenir de
uma gravidez não planejada e se proteger de doenças, como as sexualmente
transmissíveis: DST/Aids, hepatites,entre outras.
Quando e por que acontece a gravidez na adolescência?
Não existe um único motivo para a gravidez na adolescência. As causas
são múltiplas e estão relacionadas aos aspectos sociais, econômicos, pessoais,
às condições materiais de vida, ao exercício da sexualidade, ao desejo da ma-
ternidade e às múltiplas relações de desigualdade que constituem a vida social
e cultural em nosso País.
Além disso, a falta ou a inadequação das informações quanto à sexuali-
dade e aos métodos contraceptivos referentes às especificidades da adolescên-
cia, o baixo acesso aos serviços de saúde e a falta de comunicação com os pais
são outros aspectos no contexto da gravidez. Embora a ocorrência da gestação
na adolescência possa ser considerada como uma espécie de problema”, parece
mais adequado entendê-la como um processo que pode resultar de uma multi-
plicidade de experiências de vida – razão pela qual ela pode assumir diferentes
significados e ser também tratada de diferentes formas – e, por isso mesmo,
pode apresentar diferentes desfechos. O início cada vez mais precoce da puber-
dade e o decréscimo da idade da primeira menstruação são fatores que estão
favorecendo o começo prematuro da idade reprodutiva de adolescentes. Aliadas
a estes fatores estão também a facilidade das informações sobre assuntos rela-
cionados à sexualidade na internet e na mídia, assim como a erotização precoce,
favorecida pelos meios de comunicação. Segundo Heilborn (1998), as mudan-
ças na sociedade brasileira diminuíram o valor moral que era dado à virgindade,
sendo que a gravidez se tornou, então, uma forma de constituir família, de mudar
de status social, uma vez que a maternidade é valorizada socialmente e vista
como elemento formador da identidade, por meio da constituição de nova família.

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2.DISTOCIA

2.1Conceito de Distocia

Pode-se definir distocia como qualquer perturbação no bom andamento


do parto em que estejam implicadas alterações em um dos três fatores funda-
mentais que participam do parto:
 Força motriz ou contratilidade uterina – caracteriza a distocia fun-
cional
 Objeto – caracteriza a distocia fetal
 Trajeto (bacia e partes moles) – caracteriza a distocia do trajeto

Por sua vez, o parto eutócico é um parto normal, no qual não se verificam
alterações e que se inicia e conclui de forma espontânea, sem necessidade de
intervenção médica. Neste tipo de parto, o feto encontra-se em posição fetal ce-
fálica e flexionada e a sua saída é vaginal.

Portaria MS/GM 2.815, de 29 de maio de 1998

Esta portaria inclui na tabela do Sistema de Informações Hospitalares do


SUS o procedimento "parto normal sem distócia realizado por enfermeiro obste-
tra" e tem como finalidade principal reconhecer a assistência prestada por esta
categoria profissional, no contexto de humanização do parto. Atualmente, o nú-
mero de enfermeiros obstetras atuando no país ainda é muito baixo, embora se
estime que o número de partos realizado seja bem superior àquele registrado no
SUS. Por esta razão, o Ministério da Saúde esta fomentando técnica e financei-
ramente a realização de cursos de especialização em enfermagem obstétrica.
Estão sendo apoiados 55 cursos que deverão formar especialistas em todo país.

25
2.1.1 Distocia Funcional

Caracterizada como a alteração na força motriz durante o trabalho de


parto, pode estar presente em até 37% das nulíparas com gestações de baixo
risco.Utiliza-se a classificação de Goff para descrever as distocias funcionais, a
saber.
Distocia por hipoatividade uterina
Os elementos da contração encontram-se abaixo do normal, gerando um
parto lento. Nestes casos, a conduta necessária é aumentar a força motriz com
medidas ocitócicas, como a amniotomia e/ou infusão de ocitocina, separadas
entre si por no mínimo 40 a 60 minutos. Pode ser dividida em

 Hipoatividade primária – diagnosticada desde o início do trabalho


de parto;
 Hipoatividade secundária – inicialmente normal, tornou-se ficou
lento ou parou de evoluir.

- Distocia por hiperatividade uterina

Os elementos da contração estão acima do normal, porém não geram


necessariamente um parto rápido. Subdivide-se em:

 Hiperatividade com obstrução, como devido à desproporção ce-


falopélvica, tumor de trajeto prévio, ou sinéquia do colo uterino;

 Hiperatividade sem obstrução – a hiperatividade é intrínseca, le-


vando a um parto rápido, ao que se conceitua um parto em 3 ho-
ras ou menos – desde o início do trabalho de parto até a expulsão
do produto conceptual e da placenta e suas membranas.

- Distocia por hipertonia

Gera um parto lento, causado normalmente por:

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 Uso indevido de ocitocina - é a causa mais frequente de hipertonia.
Deve-se suspender seu uso imediatamente.
 Sobredistensão uterina – por gemelidade ou polidramnia, por
exemplo. Deve-se tentar amniodrenagem ou rotura de uma das
bolsas amnióticas, se clinicamente possível.

- Distocia por hipotonia uterina

Não possui relevância clínica durante a dilatação ou no período expul-


sivo, mas pode acarretar em uma dequitação retardada. Deve ser corrigida com
medidas ocitócicas.

- Distocia de dilatação

Seu diagnóstico é feito por eliminação. São casos em que a atividade


uterina e o tônus são normais, mas a evolução ainda assim não é favorável. O
quadro clínico pode se apresentar de duas formas:

 Com paciente poliqueixosa, ansiosa – a liberação de catecolami-


nas na circulação decorrente do estresse pode levar à incoordena-
ção uterina. Deve-se orientar a paciente e oferecer, se possível,
analgesia peridural.
 Quando não se trata de ansiedade, provavelmente está ocorrendo
inversão de gradiente ou incoordenação de primeiro grau idiopáti-
cos. Deve-se adotar medidas ocitócicas, visto que a ocitocina sen-
sibiliza o marcapasso uterino.

2.1.2Distocia do Trajeto

Deve-se à presença de anormalidades ósseas ou de partes moles, o que


gera um estreitamento do canal de parto e dificulta ou até impede a evolução
normal do trabalho de parto e a passagem do feto.

27
2.1.4 Distocias Ósseas

São anormalidades no formato, no tamanho ou nas angulações da pelve,


o que torna difícil ou até impede o parto por via vaginal.

2.1.5 Distocias de partes moles

São alterações do canal de parto que impedem a progressão do trabalho


de parto, excetuando-se as distocias ósseas, a saber:

 Vulva e períneo – Varizes, estenose ou edema de vulva, condiloma acumi-


nado de grande extensão. Normalmente não impedem o parto, mas podem
gerar mais sangramentos vaginais e/ou infecções pós-parto;

 Vagina – septos vaginais (transversos ou longitudinais);

 Colo – hipertrofia, estenose cervical pós-cirúrgica (conização, cerclagem) ou


cicatricial e edema de colo;

 Tumores prévios – interpõem-se à apresentação fetal, como miomas ou ne-


oplasias de colo uterino.

2.1.6 Distocia do Objeto

São as anormalidades que ocorrem no trabalho de parto atribuídas ao


feto e às relações materno-fetais.

2.1.7 Tamanho Fetal

O tamanho do feto pode prejudicar uma boa evolução do trabalho de parto


quando este for estimado em mais de 4000 g ou quando, mesmo não tendo um peso

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aumentado, a bacia materna não apresenta diâmetros que permitam a sua passa-
gem, ao que se denomina desproporção cefalopélvica.

Deve-se tentar identificar uma distócia pelo tamanho fetal preferencialmente


antes do trabalho de parto efetivamente, o que pode ser evidenciado de diversas
maneiras:

 Altura uterina acima do percentil 95 para idade gestacional;


 Presença de edema suprapúbico e membros inferiores sem insi-
nuação do pólo cefálico no estreito superior da bacia;
 Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia obstétrica;
 Prova de trabalho de parto – caracteriza-se a parada secundária
de dilatação pelo partograma.

2.1.8 Distocia de Bacrominal

 Trata-se de complicação grave que pode ocorrer no trabalho de parto,


quando a apresentação é cefálica e, após o desprendimento do pólo
cefálico, os ombros não se soltam e não há outros fatores que impe-
çam seu desprendimento. Associa-se frequentemente a obesidade
materna, ao pós-datismo e à diabetes gestacional.
 A distocia de ombros, como também é chamada, pode causar graves
consequências à parturiente – como lacerações, atonia uterina, rotura
uterina ou disjunção da sínfise púbica – e ao feto – lesões de plexo
braquial, fratura de clavícula ou úmero, podendo evoluir para óbito in-
traparto ou neonatal.

2.2 Distocia Emocional

Considera-se distocia emocional o stress materno, o medo, cansaço e


dor excessiva durante o parto. Há uma série de fatores que podem predispor a
gestante à distocia emocional:

 Partos anteriores difíceis;


 Experiências traumáticas prévias ou atuais (por exemplo, abusos
físicos ou sexuais);

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 Múltiplas hospitalizações anteriores;
 Desestruturação familiar;
 Consumo de substâncias psicoativas;
 Fatores culturais: vergonha extrema produzida pela nudez, ou pela pre-
sença de um homem ou por outros comportamentos contrários às expectativas
culturais da mulher;
 Barreiras idiomáticas ou impossibilidade para entender que está aconte-
cendo ao seu redor;
 Morte da mãe da mulher
(principalmente, se ocorreu du-
rante a infância);
 Crenças pessoais sobre o
parto: lesões durante o nasci-
mento de alguém próximo, his-
tória traumática em relaciona-
mento com o próprio nasci-
mento, etc.

A ansiedade da mulher
traduz-se em um aumento dos
hormônios do estresse, que in-
fluenciam diretamente as con-
trações uterinas, diminuindo-as e aumentando os hormônios que produzirão es-
tresse fetal. Desta maneira o fornecimento de oxigênio através da placenta é
reduzido, e cresce o risco de desaceleração cardíaca fetal. Tudo isto, contribui
para intensificar o estresse materno, o desânimo e a necessidade de apoio. Esta
série de acontecimentos implica uma fase prodrômica longa, lenta e dolorosa.

30
Por outro lado, o aumento fisiológico dos hormônios do estresse (cate-
colaminas), quando a mulher se encontra perto do final do parto, provoca o re-
flexo de expulsão fetal, que acelera o nascimento. Nestes momentos, a mulher
pode sentir, por alguns instantes, pânico, angústia ou euforia, emoções que são
a resposta normal ao aumento das catecolaminas e à proximidade do nasci-
mento.Para evitar o estresse materno, a mulher deve ser encorajada a:
 Explorar, durante a gravidez, os possíveis medos, emoções e
sentimentos em relacionamento com o nascimento;
 Aprender técnicas de relaxamento;
 Conhecer, durante a gravidez, a equipe e o local onde vai ocorrer
o nascimento;
 Elaborar um plano de parto e ter a oportunidade de discutí-lo com
a pessoa ou a equipe que a acompanhará durante o processo;
 Expressar as suas emoções durante o parto.

2.3 Prevenção Da Distócia

Segundo os especialistas, existem algumas medidas preventivas que se


podem levar a cabo de modo a diminuir a incidência de partos difíceis:
Contrações de parto. É completamente normal que as dores de parto
durem horas ou até dias sem que se observe uma dilatação considerável do colo
do útero. Se a futura mamã observar alguma alteração no ritmo ou frequência
das contrações deve informar imediatamente o seu médico.
Mexer-se durante o parto. Mudar de posição com liberdade ou caminhar
durante as fases de dor do parto são condições que os médicos aconselham às
futuras mães para aliviar a dor e ajudar o feto a posicionar-se bem para sair.
Suporte do pai. Considera-se básico durante a fase ativa do parto. Con-
tar com o apoio do pai é muito importante para transmitir calma e serenidade à
mãe. Estando calma, é muito mais provável que tudo fique bem.
Evitar o bloqueio. Se os médicos detetam algum tipo de bloqueio motor numa
fase mais avançada do parto, vão ser os anestesistas os encarregados de o re-
duzir de modo a facilitar a saída do bebê.

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3.LUTO

No decorrer da história da humanidade, em diversas culturas, as crian-


ças ocuparam distintos lugares e sem importância na sociedade. Na idade mé-
dia, a criança era pouco valorizada uma vez que a consideravam como adultos
em miniaturas incompletos e sem personalidade. Para Ariès (1978), essa forma
de enxergar a criança se dava provavelmente por não haver lugar para a infância
naquele mundo. Nessa época, ao
morrer, a criança muitas vezes não
tinha nome ou então o seu nome
era atribuído imediatamente a ou-
tra criança. Foi a partir do século
XIX que a morte da criança come-
çou a ser considerada importante e
agregava normalmente uma cono-
tação religiosa como justificativa
para a sua morte. De um descaso
quase total na Idade Média, perder
um filho, no século XIX, tornou-se
um evento de profunda comoção e tristeza (Chiattone, 1998) e permanece até
hoje.
A morte de um filho antes do nascimento ou logo após este rompe com
a ordem natural da vida. Como também, interrompe com os sonhos, as esperan-
ças, as expectativas e as esperas existenciais que normalmente são depositadas
na criança que está por vir.
Para a mãe, a construção do vínculo com o filho sonhado precisa prece-
der a chegada do bebê, e é desse material que emerge a vinculação com o filho.
Quanto ao teste de realidade, a tendência cultural é de desaparecer com vestí-
gios da existência do bebê em casos de má-formação grave. Assim, “a mãe
busca reconhecimento do filho perdido, enquanto que, para as pessoas que a

32
acompanham, fica difícil vislumbrar o que ela perde” (Iaconelli, 2007, p. 6). Por-
tanto, a elaboração do luto pela morte de uma criança antes de seu nascimento
tem uma dinâmica diferente, pois “a construção de vínculos afetivos fortes e de
recordações de convivência mútua fica impossibilitada, uma vez que lembranças
não podem ser evocadas posteriormente e a ausência da criança é profunda-
mente sentida, como se fosse retirada parte do corpo” (Duarte & Turato, 2009,
p. 487). Além disso, Duarte e Turato (2009, p. 487) complementam a ideia afir-
mando que “essa ausência de lembranças também pode trazer a sensação de
que a criança foi alguém que não existiu”.
O luto é um processo lento e doloroso, que tem como característica:

 Tristeza profunda,
 Choque,
 Raiva,
 Hostilidade,
 Agitação,
 Ansiedade,
 Fadiga,
 Aperto no peito,
 Afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a
pensamentos sobre o objeto perdido,
 Perda de interesse no mundo externo.
Não raro o emocional, biológico, cognitivo e espiritual é desestruturado
no processo de luto, assim como o sistema imunológico, tornando o indivíduo
mais suscetível a doenças.

3.1Abordagem terapêutica ao luto

No luto por óbito fetal, fatores relacionados ao diagnóstico e tratamento,


motivações para a gestação e fatores relativos ao seu planejamento serão de-
terminantes no processo de elaboração da perda. O significado da criança para
a paciente, assim como suas expectativas em relação ao futuro dela, sua rede
de apoio social e possíveis perdas secundárias também serão fortes fatores de

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influência. Como parte da reação à perda gestacional, o sujeito poderá manifes-
tar diversos sinais e sintomas, tanto cognitivos, emocionais e comportamentais
quanto físicos. Nesse sentido, deve ser dado especial cuidado ao diagnóstico
diferencial entre luto e quadros depressivos ou quadros de estresse pós-traumá-
tico. Devido a algumas particularidades desse tipo de perda apesar de as carac-
terísticas gerais do processo permanecerem as mesmas, sua duração pode ser
mais longa que o definido como normal para o luto em geral.
É frequente a busca por serviços de emergência médica por pessoas
que sofreram perdas recentes. Pacientes enlutados apresentam maior necessi-
dade de atendimentos médicos do que a população geral e maior número de
internações, assim como maior vulnerabilidade a problemas psicossomáticos.
O psicólogo é um profissional preparado para oferecer uma escuta clí-
nica e especializada, seu papel é indispensável. Temos como principal objetivo
criar um espaço de abertura e conforto para que o enlutado possa dialogar sobre
a dor que sente e elaborar essa vivência.
Sentimento de culpa, dificuldade de lidar com a separação, mágoas e
rancores podem ser abordados no atendimento, permitindo construir novos sig-
nificados para as experiências vividas.
Assim, o psicólogo ajuda o indivíduo a ter um espaço para expressar a
dor e a criar novos sentidos (existencial) à experiência da perda e sofrimento que
orientando para que consiga elaborar esse luto e permitindo vivenciar o luto de
maneira respeitosa.
Para que assim o enlutado consiga recurso para dar sentido Utilizamos
de estratégia clínica, a psicoterapia (tanto individual, como de grupo ou familiar),
ambas em geral terão um objetivo que cabe para todas as situações de luto, o
de elaboração do luto, a de favorecer a criação de suportes e alavancas para
que a pessoa possa se adaptar à condição de viver sem aquele que se foi e
estabelecer novos sentidos que possam ser compreendidos como uma reorga-
nização de sua subjetividade e das novas possibilidades de existir que se mos-
tram a partir de então.

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REFERÊNCIAS

Stirtzinger RM, Robinson GE, Stewart DE, Ralevski E. Parameters of grieving in


spontaneous abortion. Int J Psychiatry Med. 1999;29(2):235-49.
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/184-distocias(acesso em
15/06/2020)
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de
Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/
Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher.
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cos%20ou%20sexuais)%3(acesso em 15/06/2020)
MOTTA. CIBELE CUNHA LIMA DA. QUEM ACOLHE ESTA MULHER? CARAC-
TERIZAÇÃO DO APOIO EMOCIONAL À PARTURIENTE. Florianópolis 2003
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Se-
cretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Edi-
tora do Ministério da Saúde, 2012. 318 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Téc-
nicos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32)

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