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NOSSA HISTÓRIA
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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 4
METODOLOGIA ................................................................................ 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 40
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INTRODUÇÃO
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE SAÚDE
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considerar-se que toda a doença corresponderia a uma causa, presumivelmente
à ação de um organismo já conhecido ou a descobrir.
Foi no século XIX, com o desenvolvimento das ciências bacteriológicas,
que se conheceu a natureza das doenças transmissíveis. No século XX o
conceito de saúde modificou-se e com o passar dos anos foi adquirindo um
significado mais amplo e completo. O conhecimento dos múltiplos fatores que
influenciam a saúde do homem trouxe-nos uma nova perspectiva de saúde. A
medicina, foi analisando os fenómenos ligados ao mal-estar humano e
determinando as suas causas o que permitiu o reconhecimento de múltiplos
fatores intervenientes no processo de saúde/doença. Portanto de ante dos
fatores de natureza fisiológica e anatómica, estudados tradicionalmente,
passaram também a considerar-se como causadores de doença, fatores
socioeconómicos, culturais e ecológicos.
Nos EUA que surge, em meados dos anos 60, um novo modelo etiológico
ou teoria explicativa da saúde/doença, o lifestyle-risk factor (Human Population
Laboratory, 1966; Belloc, 1972; Berkam, 1983),citado por (GRAÇA 1999: 135).
Trata-se de uma nova variante do paradigma epidemiológico segundo o qual
certos comportamentos individuais ou estilos de vida constituem fatores de risco
(por ex., o tabagismo, o sedentarismo e os maus hábitos alimentares) e são
decisivos para o desenvolvimento de doenças crónicas, de elevada mortalidade
(por ex., cancro do pulmão, doenças cardiovasculares e diabetes ).
Os modernos pontos de vista sobre a saúde começaram a considerar a
pessoa como um todo e a relacionar os seus estados com as características da
sociedade e o meio em que se integra. Na atual definição de saúde, reconhecida
universalmente, queconsidera a saúde um completo bem-estar físico, mental e
social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (OMS), está
implícitos múltiplos fatores que se interligam e que influenciam a saúde do
homem.
Nesta perspectiva, a saúde é entendida como pleno desenvolvimento das
potencialidades físicas, mentais e sociais do homem, tendo em conta, como
principais fatores, a carga genética e a procura permanente do equilíbrio com o
ambiente. É pois à luz desta percepção positiva e multidimensional, que a saúde
é entendida atualmente. O entendimento da saúde já não passa apenas pelos
níveis prevenção primária (evitar os riscos profissionais, a doença e o acidente,
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ou seja, a incapacidade), secundária (tratar a doença ou reparar a incapacidade),
e terciária (atenuar os seus efeitos). Vai mais além, colocando questões como é
que o indivíduo realiza as suas potencialidades de saúde e como responde
positivamente às exigências (físicas, biológicas, psicológicas e sociais) dum
ambiente (laboral e extralaboral) em constante mutação.
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anos (2003), a ENSP agregou o nome de Arouca ao seu, tornando-se Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.
Arouca nasceu em Ribeirão Preto (SP) e formou-se médico, em 1966,
pela Universidade de São Paulo (USP). Em sua vida acadêmica, buscou
vincular-se sempre com as propostas de democratização da sociedade brasileira
na defesa de que todo cidadão tenha direito à saúde, entendida não só como
assistência médica, no momento adequado e com a qualidade necessária, mas
também como uma série de condições para que a população não adoeça:
reforma agrária, educação, lazer, liberdade, habitação digna, transporte etc. O
sanitarista foi um dos principais teóricos e líderes do chamado “movimento
sanitarista”, que mudou o tratamento da questão da saúde pública no Brasil. A
consagração do movimento veio com a Constituição de 1988, quando a saúde
tornou-se um direito inalienável de todos os cidadãos, como está escrito na Carta
Magna: "A saúde é direito de todos e dever do Estado".
Após a criação da Organização Mundial de Saúde (OMS) (1945), a saúde
passou a ser considerada “um dos direitos fundamentais de todo o ser humano
sem distinção de raça, religião, opiniões políticas e condições económicas e
sociais” e foi aceite o princípio da ajuda mútua entre os países. Daqui para frente,
as preocupações com a saúde dos povos foram sendo cada vez mais sentidas,
reunindo sucessivamente responsáveis pela saúde de vários países, no sentido
de refletirem sobre a saúde, os fatores que a determinam e a forma de os
controlar.
Uma das principais reuniões para a saúde, ocorreu em Alma-Ata (1977).
A Declaração de Alma-Ata constituiu um marco importante no movimento da
"Saúde para Todos". Baseada no reconhecimento de que a saúde é um objetivo
social de primeira importância, a Declaração instituiu uma nova orientação para
a política de saúde, conferindo especial ênfase ao envolvimento das pessoas, à
cooperação entre os vários sectores da sociedade, bem como à criação dos
Cuidados de Saúde Primários (CSP). A saúde passou a ser entendida num
sentido positivo, como um recurso da maior importância para o desenvolvimento
social, devendo constituir um direito humano fundamental.
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Foi presidente da Fiocruz em 1985, momento marcado pela
democratização da
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O espírito de Alma-Ata teve o seu desenvolvimento na Carta de
promoção da saúde, que foi adoptada em Ottawa, em 1986. A carta lançou
um desafio dirigido a uma nova saúde pública, afirmando a justiça social e
a equidade, como pré-requisitos para a saúde, e a advocacia e a mediação,
como processos para atingi-la. É a partir daqui que a promoção da saúde
começou teoricamente a ser equacionada, debatida e verdadeiramente
valorizada. Os encontros e conferências internacionais, que se seguiram,
permitiram precisar o sentido e a pertinência das principais estratégias
enunciadas na Carta, nomeadamente: - Estabelecer Políticas Públicas
Saudáveis – A Conferência de Adelaide, na Austrália, em 1988;
Criar Meios Favoráveis à Saúde – A Conferência de Sündsvall, na
Suécia, em 1991. Seguiu-se a Declaração de Jacarta sobre a Promoção da
Saúde, em 1997, com vista a responder aos desafios da Promoção da Saúde no
século XXI e por último a 5ª Conferência Global sobre a Promoção da Saúde,
subordinada ao tema: Rumo a uma Maior Equidade realizada na Cidade do
México, em 2000 donde resultou a Declaração ministerial do México para a
promoção da saúde. Das ações recomendadas destacam-se as seguintes:
➢ Colocar a promoção da saúde como prioridade
fundamental das políticas e programas locais, regionais,
nacionais e internacionais;
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pesquisas que ampliem o conhecimento sobre as áreas
prioritárias.
➢ Estabelecer ou fortalecer redes nacionais e internacionais
que promovam a saúde.
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influenciam os fatores determinantes desta” (NUNES, 1997). Só levando à
prática estas concepções, que apesar derivarem de diferentes teóricos, expressa
uma ideia única, esta abrangente estratégia conseguirá alcançar o seu objetivo:
permitir ao indivíduo adquirir maior domínio sobre os fatores da sua própria
saúde.
A preocupação com os problemas de saúde das populações, não é
recente e está, naturalmente, relacionada com a evolução do conceito de saúde
ao longo dos tempos. Esta preocupação, durante séculos, esteve centrada em
torno da doença, e limitou-se a uma atitude de aceitação passiva, já que a saúde
era encarada numa perspectiva teológica. As medidas implementadas para
preservar a saúde limitaramse durante séculos à repressão, segregação e
abandono dos doentes.
O desconhecimento sobre a etiologia da doença humana conduziu
durante longos anos à ausência de uma consciência coletiva da saúde e da
doença dúvidas, de que, tanto como prevenir a doença é igualmente importante
investir na saúde e valorizar positivamente os fatores que a determinam. Passou-
se do investimento na prevenção da doença para o investimento na prevenção
da saúde. organizacional. GRAÇA, 2000).
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O MOVIMENTO SANITARISTA E A 8ª CONFERÊNCIA NACIONAL
DE SAÚDE
O movimento sanitarista foi de importância ímpar ao entendimento de
saúde pública, do conceito de saúde e também da evolução do direito à saúde
no Brasil. A reforma sanitária se refere às ideias de uma série de mudanças e
transformações necessárias à saúde. Sua composição era de técnicos da saúde
– médicos, enfermeiros, biomédicos… – e intelectuais, partidos políticos,
diferentes correntes e tendências e movimentos sociais diversos. Ao fim da
década de 1970, o movimento adquiriu certa maturidade em função de uma série
de estudos acadêmicos e práticos realizados, principalmente, nas faculdades de
Medicina. Nas universidades, o entendimento de medicina se tornava cada mais
social, pensando a saúde como uma série de fatores que vão além do bem-estar
do corpo humano.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), alguns dos atores
do movimento sanitarista foram os médicos residentes, “que na época
trabalhavam sem carteira assinada e com uma carga horária excessiva”, por
exemplo. Outras movimentações da Reforma Sanitária foram as primeiras
greves realizadas depois de 1968 e os sindicatos médicos, que também estavam
em fase de transformação.
“Esse movimento entra também nos conselhos regionais, no Conselho
Nacional de Medicina e na Associação Médica Brasileira – as entidades médicas
começam a ser renovadas. A criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(Cebes), em 1976, também é importante na luta pela reforma sanitária. A
entidade surge com o propósito de lutar pela democracia, de ser um espaço de
divulgação do movimento sanitário, e reúne pessoas que já pensavam dessa
forma e realizavam projetos inovadores”, de acordo com a Fiocruz.
Enquanto a ditadura militar existia, o movimento sanitarista foi “testando”
uma série de hipóteses a respeito do seu entendimento de saúde. Na Escola
Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz são colocados
em prática diversos projetos “e pessoas que faziam política em todo Brasil foram
treinadas”. Os projetos envolviam:
➢ saúde comunitária;
➢ clínica de família;
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➢ pesquisas comunitárias.
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intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Há
procedimentos do SUS que são veiculados por meio de regulamentos, decretos,
portarias, especificados no capítulo a seguir. Essas normas infralegais devem
adequar-se à moldura constitucional que impõe a observância dos
procedimentos à efetivação dos direitos fundamentais.
Desse modo, integra o chamado direito sanitário não apenas a
Constituição Federal de 1988 e leis específicas atinentes à saúde, mas também
as portarias e protocolos dos SUS, sendo imperioso que todas as normas
atendam à finalidade constitucional do direito à saúde. Cabe ao Estado, por ser
o responsável pela consecução da saúde, a regulamentação, fiscalização e
controle das ações e serviços de saúde. Desse modo, o amplo acesso aos
medicamentos, por integrar a política sanitária, insere-se no contexto da
efetivação do direito à saúde, de modo que as políticas e ações atinentes aos
produtos farmacêuticos devem sempre atender ao mandamento constitucional
de relevância pública.
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 198, estabelece como
diretrizes do Sistema Único de Saúde a descentralização, com direção única em
cada esfera de governo, o atendimento integral, com prioridade para as
atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e a participação
da comunidade. Importante observar que as diretrizes do SUS não se esgotam
nessas três diretrizes, porquanto ao longo da seção destinada à saúde
observam-se alguns fundamentos desse direito, que servem de norte para a
conduta da Administração Pública no tocante ao direito à saúde.
Nos 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), são apontados avanços
na implementação dos seus princípios e diretrizes constitucionais, em especial,
a universalidade e a descentralização, com uma importante inclusão social no
sistema público de saúde. Ocorrem também avanços na gestão do sistema
público com a criação dos fundos de saúde, dos repasses fundo a fundo, das
comissões intergestores (tripartite e bipartite), das normas operacionais básicas
pactuadas e, recentemente, no Pacto pela Saúde, em suas três dimensões:
Pacto pela Vida; em Defesa do SUS; e de Gestão (SANTOS, 2010).
O Pacto pela Vida compõe um conjunto de compromissos sanitários
considerados prioritários, expressos em objetivos de processos e resultados que
apresentam impacto sobre a situação de saúde da população (BRASIL, 2006).
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O Pacto em Defesa do SUS expressa os compromissos entre os gestores do
sistema, de repolitizar a saúde com a consolidação da Reforma Sanitária
Brasileira (BRASIL, 2006). O Pacto de Gestão estabelece diretrizes para o
sistema, valorizando o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária
(BRASIL, 2006). A partir do Pacto pela Saúde, os acordos estabelecidos entre
as três esferas de governo são formalizados por meio da assinatura do Termo
de Compromisso de Gestão (TCG), que compreende responsabilidades,
objetivos e metas associados a indicadores e prioridades definidas
nacionalmente.
Atualmente, com o Decreto no 7.508/11, o TCG será substituído pelo
Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (BRASIL, 2011), que ainda não
está vigente em todo o território nacional. O Pacto pela Saúde, em suas três
dimensões, representou uma mudança na forma de atuação do nível federal,
assim como uma revisão das relações federativas no SUS, com aumento da
necessidade de cooperação intergovernamental. No entanto, embora haja
ênfase na pactuação federativa como eixo, a elaboração dos compromissos
pactuados se articula pouco com o planejamento, se baseando mais na
expectativa de solidariedade entre os entes, o que acaba sendo um ponto frágil
do Pacto pela Saúde.
Isso se evidencia pela pouca ênfase no diagnóstico situacional prévio à
pactuação, pela dificuldade de cada realidade local realizar uma adaptação das
metas e prioridades, e pela não definição de instrumentos para atingir as metas
pactuadas (investimentos, recursos, estruturas etc.) (MACHADO ET AL., 2010).
Segundo Santos (2007, p. 434), as mudanças propostas no Pacto pela Saúde
devem ser analisadas sob o ponto de vista da macropolítica e da microgestão.
A microgestão está atrelada à micropolítica do trabalho em saúde, “onde
está localizado o espaço para acumulação de êxitos visíveis e consecução de
mudanças significativas do SUS”. Nesse sentido, as prioridades definidas
nacionalmente para o Pacto pela Vida (BRASIL, 2008) apresentam objetivos,
metas e indicadores que, necessariamente, se traduzem em um conjunto de
compromissos e responsabilidades para as práticas cotidianas nos serviços de
Atenção Primária à Saúde (APS), articulando-os à finalidade do trabalho.
Entre estas prioridades está o fortalecimento da própria APS, organizada
e qualificada pela Estratégia Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2008). A Política
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Nacional da Atenção Básica elege a ESF como a estratégia de reorientação do
modelo de atenção à saúde em todo o território nacional. Desde a implantação
da saúde da família, em 1994, houve grande expansão no número de equipes,
sendo que, em setembro de 2010, a cobertura, segundo o Ministério da Saúde,
chegou a 99,4 milhões de pessoas, com 31.500 equipes implantadas (BRASIL,
2008).
Contudo, para além da expansão, questões de qualidade permanecem
no debate, ao lado de problemas ligados à própria natureza de um programa
público universal que almeja a equidade. Uma discussão premente centra-se na
potencialidade para transformação da ESF, ao privilegiar outras interfaces do
sistema, à medida que busca estimular a organização dos sistemas locais e
aproximar os serviços à realidade da população, envolvendo os atores sociais
desses cenários, para que possam desenvolver todas as competências
necessárias para a produção do cuidado, em uma Atenção Básica que
ambiciona resolver cerca de 80% dos problemas de saúde apresentados pelos
usuários, embora nem sempre isso se concretize.
Atenção Básica que deve ser necessariamente entendida como aquela
que disputa seu papel, que não deve ser simplesmente reiterado sob o ponto de
vista do discurso, mas consolidada gradualmente através da ampliação da sua
legitimidade perante os usuários, como efetivamente resolutiva e coordenadora
do cuidado (CECILIO ET AL., 2012). Assim, quanto mais estudos aproximarem
os trabalhadores da Atenção Primária à Saúde envolvida no processo de
trabalho dos serviços de saúde com o compromisso político institucional
assumido pelo município com o Pacto pela Saúde, maiores serão as chances de
que este se torne uma política pública efetiva.
O profissional de saúde produz trabalho vivo no exercício de suas
funções, ou seja, o resultado de seu trabalho é consumido durante sua produção,
apropriando-se dos instrumentos para produção do trabalho e sendo o produto
desse trabalho (MERHY, 1997, 2002). Este estudo apoiou-se no referencial da
micropolítica do trabalho em saúde de Mehry (1997/ 2002). Este autor conceitua
a micropolítica do trabalho vivo em ato, que nos permite duvidar, analisar e
revelar os sentidos e a direcionalidade (intencionalidade) do processo de
trabalho em saúde, e seus modos de operar cotidianamente os processos
produtivos.
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Esse movimento é fundamental nas dobras da gestão dos
estabelecimentos de saúde e de seus resultados, como o lugar onde se
governam os processos institucionais, pois é o espaço da formulação e da
decisão de políticas. É também o lugar onde imprime direcionalidade aos atos
produtivos, ao governar processos de trabalho. Na micropolítica, o processo de
trabalho está sempre aberto à presença do trabalho vivo em ato, possibilitando
ao trabalhador a criação de novos processos de trabalho, interrogando os velhos
processos cristalizados. Entende-se que a simples pactuação não garante que
venham a ocorrer mudanças na maneira de se produzir o cotidiano dos serviços
de saúde.
Porem depende da descentralização do processo de gestão para que os
atores locais – gestores, trabalhadores de saúde, prestadores de serviço e
usuários – tornem-se protagonistas na pactuação de novos compromissos e
responsabilidades (BRÊTAS; SILVA, 2010, p. 31). Diante desse desafio, o
objetivo em compreender o processo de implementação do Pacto pela Saúde na
prática cotidiana dos trabalhadores de saúde vinculados à coordenação da Rede
de Atenção Primária à Saúde e os vinculados à coordenação da equipe saúde
da família.
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quem pode exercer a função de médico, dentista etc., quais são os dados
essenciais que devem ser gerados pelos serviços; de outro lado, como serão
tratadas determinadas doenças de interesse público, quais os medicamentos,
quais as dosagens, como será feita a vacinação de adultos, crianças etc., como
as pessoas devem entrar no sistema de saúde público para serem atendidas
corretamente. Tudo isso e muito mais coisas fazem parte da função de
Regulação.
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no SUS pode ser dentro do próprio público ou do privado (contratado-conveniado
ou não): da ação de saúde, do serviço, da instituição, dos profissionais, dos
contratos-convênios, dos planos e seguros de saúde etc.
Podemos ainda falar em controle público que é a especificidade de se
controlar o público e que se divide em controle público institucional e social. O
controle público institucional é aquele exercido pela própria instituição pública,
sobre o público. O controle público social é aquele exercido pela sociedade,
pelos cidadãos sobre a instituição pública.
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DIRETRIZES E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SUS
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ele não existe na legislação federal a não ser em algumas legislações, como a
do Estado de São Paulo. Equidade é a igualdade adjetivada pela justiça. Pela
equidade buscamos tratar diferentemente os diferentes (equidade vertical) e
igualmente os iguais (equidade horizontal). No SUS, só se pode fazer equidade
e tratar diferentemente a partir das necessidades de saúde. Priorizar atenção e
tratamentos só se por carências de saúde. Muitas pessoas imaginam que o SUS
possa fazer diferenças a partir do estado de pobreza das pessoas. Pensam que
o SUS além de ser dos pobres pode priorizar tratamentos e medicamentos para
os chamados carentes. Esse raciocínio é incorreto. Diferenças no SUS só por
necessidades de saúde.
• Integralidade – A integralidade também pode ser vista sob dois
prismas. A integralidade vertical que lembra a necessidade de se ver o ser
humano como um todo e não apenas como um somatório de órgãos e aparelhos.
O segundo prisma é o da integralidade horizontal onde se entende que a ação
deva abranger seus três enfoques: promoção, proteção e recuperação da saúde.
Ver como um todo e agir nesse todo, integralmente.
• Intersetorialidade – Não pensar saúde só como área de
recuperação da saúde: consulta, remédio, especialista, exame, internação...
Pensar saúde garantida por políticas econômicas e sociais que diminuam o risco
de as pessoas ficarem doentes ou piorarem. Levar em consideração a
determinação econômica e social da saúde. Os fatores determinantes e
condicionantes da saúde devem sempre ser levados em consideração:
“alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, trabalho, renda, educação,
transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais; saúde expressando a
organização social e econômica do Brasil” (Lei 8.080,3).
• Direito à informação – Todas as pessoas assistidas têm direito a
todas as informações sobre seu estado de saúde-doença. Todas as informações
sobre os pacientes: exames, prontuários etc. são de propriedade e direito do
paciente. O segredo médico é um segredo consequente do direito primeiro ao
segredo que é do paciente. Além disso, a população tem direito a “informações
quanto ao potencial dos serviços de saúde e de sua utilização pelo usuário”.
• Autonomia das pessoas – As pessoas – os cidadãos usuários –
devem ter preservada sua autonomia na defesa de sua integralidade física e
mental. Trata- -se da preservação – dentro dos serviços de saúde – da liberdade
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de decisão dos pacientes. Aqui se completa a autonomia associada ao direito de
informação. A verdadeira autonomia é condicionada pelo direito de acesso à
informação, o princípio discutido acima. Só bem informado o cidadão poderá
usufruir da verdadeira autonomia.
• Resolutividade – As ações e serviços de saúde devem atender
também ao princípio de ter capacidade de resolução em todos os níveis de
assistência. Os serviços de saúde devem buscar resolver os problemas das
pessoas da melhor maneira possível e ao menor custo. Essa é uma questão que
cada vez fica mais complexa pela incorporação tecnológica cada vez maior e
onde o sistema de encaminhamentos acaba por bloquear a capacidade de ser
resolutivo. Cada vez mais se resolvem menos problemas que, mesmo os menos
complexos, são encaminhados quase que em cadeias. Princípio do SUS:
capacidade de resolver problema.
• Epidemiologia como base – A epidemiologia é uma das ciências
da saúde que têm como objetivo conhecer aquilo que ocorre com a população:
as condições ambientais em que vive a população, as condições gerais de
saúde, a oferta de ações e serviços de saúde. O objetivo mais importante da
epidemiologia é o estudo da morte e de doenças que ocorrem em determinada
população, em determinado lugar. A epidemiologia define o perfil demográfico e
o perfil de morbimortalidade em relação às doenças agudas e
cronicodegenerativas (hipertensão, diabetes, câncer etc.); os agravos dos
acidentes de trabalho, de trânsito, de tóxicos, dos homicídios; as doenças
evitáveis; as doenças tratáveis precocemente. As diretrizes e princípios
tecnogerenciais da CF e Lei 8.080 são: descentralização, regionalização,
hierarquização, gestor único em cada esfera de governo, conjugação de
recursos das três esferas de governo, organização dos serviços para evitar
duplicidade, complementariedade e suplementariedade do privado,
financiamento tripartite e participação da comunidade.
• Descentralização – A descentralização no sistema de saúde
brasileiro é uma diretriz-princípio. Consta como diretriz na CF e como princípio
na Lei 8.080. Descentralização, segundo o Glossário do MS do Projeto de
Terminologia da Saúde, é “redistribuição de recursos e responsabilidades entre
os entes federados, com base no entendimento de que o nível central, a união,
só deve executar aquilo que o nível local, municípios e estados, não podem ou
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não conseguem. A gestão do SUS passa a ser responsabilidade da União, dos
Estados e dos Municípios, agora entendidos como os gestores do SUS”. Quem
fazia não tem mais a competência de fazer e precisa passar a outra esfera de
governo o que fazia e como fazia (se souber ). A descentralização que
defendemos é aquela com ênfase na municipalização, com regionalização
ascendente e gestor único por esfera de governo. Regiões organizadas pelos
municípios com a cooperação técnica dos Estados e do MS. É colocar nas mãos
do município a decisão do quê e do como fazer saúde e os meios, principalmente
o financeiro, para poder fazer. Poder perto da necessidade do povo é mais fácil
de o cidadão controlar. Existem entraves a essa descentralização colocados pelo
gestor descentralizador. Uns assumem posição favorável com argumentos como
descentralizar para desresponsabilizar e colocar menos dinheiro para a saúde
deixando para Estados e municípios o ônus. São feitas constantemente
acusações de desvio e mau uso dos recursos descentralizados a Estados e
municípios. Interpretações restritivas de leis criando controle distorcidos pelos
próprios organismos federais, como Tribunal de Contas da União (TCU),
Controlaria Geral da União (GCU), Tribunais de Contas dos Estados (TCE) e
Sistema Nacional de Auditora (SNA). Desfinanciamento desencadeando
desestímulo de se conseguir implantar e implementar o SUS. Muitos servidores
descentralizados têm restrições à descentralização (implicitamente sempre
temendo maior controle de trabalho, horário e quase nada de ideológico).
Existem entraves também por parte dos gestores descentralizados que não
querem muitas vezes assumir seu papel e, comodamente, deixam suas
competências constitucionais e legais nas mãos dos outros gestores. Outras
vezes são limitações por falta de profissionais da área administrativa e técnica,
como vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental.
• Direção única – O SUS é de responsabilidade constitucional das
três esferas de governo, não podendo nenhuma delas se eximir dessa
obrigação. O comando legal é de que, em cada esfera de governo, só possa ser
gestor uma das esferas de governo. No município comanda o prefeito e o
secretário municipal de Saúde. No Estado, o governador e seu secretário de
Saúde; e na União, o presidente e o ministro da Saúde. A direção única em cada
esfera de governo é um complemento da descentralização. Hoje existe uma
questão falaciosa sendo discutida. Discute-se que a gestão única é apenas por
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esfera de governo e não por território. Equivaleria a dizer que na esfera municipal
só poderia ter um gestor, não poderiam ser várias secretárias e secretários
cuidando da saúde. Apenas um. Entretanto, no território municipal poderia ter
um único gestor municipal concomitante a um único gestor estadual ou um único
gestor federal. Isso é controverso, e ainda que defendido pelas secretarias
estaduais de Saúde, não é reconhecido pelas secretarias municipais de Saúde.
• Regionalização – As ações e serviços de saúde devem ser
organizados de forma regionalizada. Seria impossível que os 5.600 municípios
brasileiros fossem, cada um deles, suficientes e capazes de atender a toda sua
demanda em todos os níveis de atenção. A regionalização é fundamental à
organização do SUS, mas só dará certo quando for uma regionalização
funcional, ascendente, e nunca uma regionalização burocrático-administrativa e
descendente. “A proposta de regionalização, sem investimentos para cobrir os
‘vazios regionais de infraestrutura’, sem redefinir a relação público-privado
(especialmente diante dos planos de saú- de) e sem mudança nos modelos de
atenção, seria mais uma proposta tecnocrática que não daria conta dos desafios
atuais do SUS. Sob o pretexto da regionalização, poderia estar havendo um
movimento de recentralização de decisões junto ao poder estadual” (Prof. Dr.
Jairnilson da Silva Paim – ISC – UFBA.) No mundo inteiro, no público e no
privado, sabe-se que ações e serviços de saúde precisam ser organizados de
forma regionalizada e hierarquizada. Quer dizer que não se podem alocar todos
os serviços em todos os lugares, independentemente de seu tamanho, território
e disponibilidade de equipamentos e pessoal. Os serviços de saúde devem se
complementar numa associação permanente entre os mais simples e os mais
complexos, se referenciando e contrarreferenciando.
• Hierarquização – Começa pela atenção ao indivíduo, à família e à
comunidade por meio dos Agentes Comunitários de Saúde, do Programa de
Saúde da Família, das Unidades Básicas de Saúde com seus procedimentos de
menor complexidade tecnológica (equipamentos e aparelhos) e da mais alta
complexidade de saber e prática humanos. Da atenção primária se vai à
secundária (especialistas, exames mais complexos, internações em clínicas
básicas, como pediatria, clínica e cirurgia gerais, ginecologia e obstetrícia). Da
secundária à terciária com profissionais e hospitais em áreas mais
especializadas. Na quaternária se encontram os profissionais e hospitais
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superespecializados em uma única área, como os de cardiologia, neurologia,
cirurgia plástica etc.
• Complementariedade do privado – O art.199 da CF coloca
claramente que a saúde está livre à iniciativa privada. Além de ser possível o
livre exercício das profissões de saúde e dos serviços privados de saúde, esses
poderão também ser utilizados pelo SUS todas as vezes que sua capacidade de
atendimento for insuficiente para dar conta da demanda. A complementaridade
poderá se dar com o privado através de contrato de direito público ou convênio.
Nessa chamada de complementação dos serviços públicos a preferência será
dada às entidades filantrópicas e às sem fins lucrativos. Todas as vezes que o
próprio estatal não for suficiente para atender a demanda é constitucional
recorrer-se complementarmente ao privado. Atenção, que não se trata de
entregar o público ao privado (terceirização pelas Organizações Sociais,
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público Social (Oscips),
Cooperativas, Associações), mas de recorrer ao privado para complementar o
público. Não para substituir o público. Ordem de preferência: público estatal,
universitário público, universitário filantrópico, filantrópico, privado lucrativo.
• Suplementariedade do privado – Na área de saúde, no Brasil, é
livre a iniciativa privada que pode ser exercida e utilizada de maneira totalmente
liberal, nos consultórios e nas clínicas contra pagamento direto. Pode também
ser organizada em forma de operadoras de planos e seguros de saúde,
individuais, familiares ou coletivos, conforme faculta a legislação. Entre as
operadoras de saúde temos, de um lado, os seguros de saúde, que são
seguradoras e não podem ter serviços de saúde; de outro, têm-se as empresas
de Medicina de Grupo, o Sistema de Autogestão patrocinado por empresas ou
trabalhadores e as Cooperativas Médicas e Odontológicas.
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O CONTRATO ORGANIZATIVO DE AÇÃO PÚBLICA –
COAP
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a governança da rede poderá ser falha, ante a ausência de segurança jurídica
aos compromissos sanitários pactuados.
De outro lado, o recurso às portarias ministeriais tem sido um valioso,
senão o principal, instrumento de coordenação das ações nacionais de saúde,
estabelecendo um arranjo no qual o Governo Federal ocupa posição central,
detendo o poder de agenda e exercendo maior influência sobre processos
decisórios que, especialmente por meio da Comissão Intergestores Tripartite,
afetaram o formato da cooperação e a destinação dos recursos transferidos,
enquanto os municípios se converteram em executores e gestores diretos dos
serviços que compõem a atenção à saúde.
Neste contexto, a construção de sistemas regionalizados de atenção à
saúde foi vista como condição para o alcance da equidade e integralidade do
acesso, demandando tratar questões federativas, uma vez que tais redes
regionais extrapolariam os limites territoriais dos municípios.
O estabelecimento de pactos de acesso entre municípios, sob a
coordenação dos governos estaduais, tornou-se, portanto, a alternativa central
para a garantia dos objetivos finalísticos do SUS, independente do município
de residência do cidadão, o que passou a requerer um esforço de construção
normativa de regras que viessem a regulá-los. O Pacto da Saúde, vigente de
2006 a 2011, registra um momento dessa construção. Observa-se que o
Ministério da Saúde trata o processo de transição do instrumento Pacto pela
Saúde para o Contrato Organizativo de Ação Publica como um “processo de
aprimoramento” muito bem ilustrado pela Figura 1:
28
Depreende-se da figura acima que o Termo de Compromisso de
Gestão (TCG) segue um modelo padronizado composto de seis cláusulas
(objeto, atribuições e responsabilidades sanitárias dos Estados, objetivos e
metas prioritárias dos Pactos pela Vida e de Gestão, indicadores de
monitoramento e avaliação dos pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de
Gestão, revisão e publicação) e os seguintes anexos:
29
Segundo Sandro Terabe, coordenador geral de contratualização do
Ministério da Saúde, defende que,
30
➢ Observância ao Princípio da Legalidade, a fim de reforçar o
caráter indispensável da autorização legislativa para a
execução dos atos.
31
parecer sobre minuta do Decreto em questão, sustenta que o SUS é matéria de
competência comum dos entes federados (art. 23, II, da CF) e abarca recursos
e ações de todos os entes, devendo, portanto, atuarem obrigatoriamente de
maneira harmônica e integrada. [...] nem se pode dizer que o acordo necessário
entre os entes está implícito ou subentendido nas normas da lei, eis que é uma
obrigação que salta diretamente dos textos dos dispositivos para os olhos de
quem interpreta.
Cabe referência à regra verba legis cum effectu sunt accipienda segundo
a qual não há palavras inúteis ou ociosas na lei, devendo o intérprete garantir-
lhes a eficácia e o resultado [...] (UEMA,2011, p. 6).
32
➢ Implementar um projeto permanente de mobilização social com a
finalidade de:
• Mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema
público universal garantidor desses direitos;
• Alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda
Constitucional nº 29, pelo Congresso Nacional;
• Garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos
orçamentários e financeiros para a saúde.
• Aprovar o orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das
três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada uma
delas.
➢ Elaborar e divulgar a carta dos direitos dos usuários do sus.
33
Explicita as diretrizes para o sistema de financiamento público tripartite:
busca critérios de alocação eqüitativa dos recursos; reforça os mecanismos de
transferência fundo a fundo entre gestores; integra em grandes blocos o
financiamento federal e estabelece relações contratuais entre os entes
federativos.
As prioridades do Pacto de Gestão são:
➢ DEFINIR DE FORMA INEQUÍVOCA A RESPONSABILIDADE
SANITÁRIA DE CADA INSTÂNCIA GESTORA DO SUS: federal, estadual
e municipal, superando o atual processo de habilitação.
➢ ESTABELECER AS DIRETRIZES PARA A GESTÃO DO SUS, com
ênfase na Descentralização; Regionalização; Financiamento;
Programação Pactuada e Integrada; Regulação; Participação e Controle
Social; Planejamento; Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.
34
autonomia das partes constituintes a fim de obter um bem coletivo comum.
Tanto as formas e conteúdo do espaço compartilhado entre entes federados
quanto seu grau de autonomia varia significativamente entre diferentes
federações.
Mas tal compartilhamento requer a solução de problemas da
coordenação entre níveis de governo, eventualmente sob constrangimentos
constitucionais e legais e sob instrumentos de regulação manejados pelo nível
nacional no sentido de induzir cooperação, porém sem ferir a autonomia e os
direitos dos governos subnacionais. Seja como for, a cooperação dos entes
federados para a realização de objetivos coletivos dependerá de incentivos
institucionais, mas também da natureza dos problemas que se apresentam nas
diferentes áreas governamentais.
De sua parte, o federalismo brasileiro incorporou atributos que sugerem
alto grau de descentralização política, fiscal e de competências,
particularmente para a execução das políticas sociais pelos municípios. Mas,
ao conferir ampla autoridade legislativa à União e limitadas oportunidades de
veto aos governos subnacionais, a Constituição brasileira permitiu à primeira
exercer poderosa influência sobre a formação da agenda e a formulação das
políticas sociais. Para tanto, atuou decisivamente na formatação de legislação
específica para cada área governamental, assim como passou a exercer uma
regulação federal sobre o modo de execução das políticas descentralizadas.
Ao concentrar maior volume de arrecadação de receitas, a União se
valeu, ainda, de transferências condicionadas para governos subnacionais
como incentivo para seu alinhamento às prioridades da agenda federal. Tal
alinhamento viabilizou a superação dos problemas de coordenação e a
construção de padrões mais homogêneos de bens e serviços a serem providos
sob as políticas públicas.
No caso da política de saúde, a exigência de inter-relação entre os entes
federados, dado o elevado nível de externalidades de caráter vertical ou
horizontal, produzidas a partir de escolhas dos gestores públicos, é ainda maior
que nas outras áreas. Neste sentido, o SUS foi criado sob uma clara concepção
de cooperação entre as três esferas de governo, transferindo
responsabilidades para governos subnacionais e buscando superar relações
35
competitivas e predatórias, tanto entre entes da mesma esfera de governo
quanto de esferas distintas.
A coordenação federativa tem se sustentado por uma combinação de
mecanismos, incluindo constrangimentos constitucionais e legais – atribuições
estabelecidas na Lei 8.080/90 e 8.142/90, ou obrigações de cada esfera no
financiamento nos termos da Emenda Constitucional 29/2000 e Lei
Complementar 141/2012 –, bem como transferências condicionadas de
recursos para estados e municípios, que ampliaram o papel indutor e regulador
do Executivo Federal a partir da edição de Normas Operacionais Básicas.
De outro lado, o recurso às portarias ministeriais tem sido um valioso,
senão o principal, instrumento de coordenação das ações nacionais de saúde,
estabelecendo um arranjo no qual o Governo Federal ocupa posição central,
detendo o poder de agenda e exercendo maior influência sobre processos
decisórios que, especialmente por meio da Comissão Intergestores Tripartite,
afetaram o formato da cooperação e a destinação dos recursos transferidos,
enquanto os municípios se converteram em executores e gestores diretos dos
serviços que compõem a atenção à saúde.
Neste contexto, a construção de sistemas regionalizados de atenção à
saúde foi vista como condição para o alcance da equidade e integralidade do
acesso, demandando tratar questões federativas, uma vez que tais redes
regionais extrapolariam os limites territoriais dos municípios.
O estabelecimento de pactos de acesso entre municípios, sob a
coordenação dos governos estaduais, tornou-se, portanto, a alternativa central
para a garantia dos objetivos finalísticos do SUS, independente do município
de residência do cidadão, o que passou a requerer um esforço de construção
normativa de regras que viessem a regulá-los. O Pacto da Saúde, vigente de
2006 a 2011, registra um momento dessa construção.
METODOLOGIA
36
negociação entre os mesmos, ainda pouco conhecidas na literatura. Entrevistas
semiestruturadas foram realizadas entre agosto a dezembro de 2013, num total
de oito gestores ou consultores na área da saúde que participaram do processo
de formulação ou implementação do Pacto pela Saúde, enquanto representantes
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS); do Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) ou do Ministério da
Saúde (MS) – instituições componentes da CIT, objeto do estudo –, conforme
relação abaixo.
Foram complementadas pela análise das atas de reuniões da CIT,
realizadas entre 2004 e 2012, tendo sido o critério de seleção das atas a menção
ao Pacto pela Saúde ou às dimensões que o compõem, sendo excluídas aquelas
nas quais o tema não era mencionado
Os conteúdos das entrevistas foram classificados em quatro categorias
centrais, eleitas a partir de desenvolvimentos recentes da literatura brasileira
sobre federalismo, a fim de orientar o tipo de informação a ser coletada e
analisada:
• o papel de first mover;
37
CRÍTICAS ÀS NORMAS OPERACIONAIS E
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
38
A partir de 2003, foram intensificados os questionamentos dos secretários
municipais de saúde sobre o engessamento da gestão municipal, a partir das
restrições produzidas por normas federais, somadas ao avanço tímido do
processo de regionalização.
39
da Previdência Social - INAMPS, cuja rede hospitalar nunca se integrou, de fato,
às redes de atenção básica.
Para o CONASEMS, a persistência de obstáculos estruturais e
conjunturais teria feito com que a descentralização se constituísse em algo
perverso para os municípios, em razão das grandes amarras burocráticas que
dificultavam a gestão do trabalho, dos processos de compras, da contratação de
serviços e da realização de investimentos. Essa situação entraria em conflito
com a solidariedade e com a integralidade, fazendo de um instrumento como a
Programação Pactuada e Integrada – PPI - um mero espaço declarativo, sem
clara responsabilidade sanitária.
Em síntese, as representações nacionais de estados e municípios
defendiam a desburocratização dos processos normativos, a superação da
escassez crônica de recursos, a definição das responsabilidades sanitárias e a
reversão das iniquidades de acesso entre municípios e regiões.
Um ponto fundamental para o novo Pacto seria a superação da gestão
por habilitação em favor de uma proposta de pactuação de compromissos
sanitários e financiamento solidário entre as esferas de governo. Entendia-se,
cada vez mais, que os conflitos na organização dos sistemas regionais de saúde
previstos na NOAS não se restringiam apenas à fase de formulação, mas
persistiam nas dificuldades para promover a articulação entre os entes
federativos, implantar instrumentos de cooperação e estabelecer regiões de
saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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integralidade e uma mudança na visão das responsabilidades dos entes na
organização das ações de saúde.
Entretanto, enfrentou uma série de limitações, como fragilidade do
instrumento, a utilização de forma cartorial, a dificuldade de tornar consensual o
desenho das regiões de saúde retardando a instituição dos Colegiados de
Gestão, que se revelaram espaços com baixa governabilidade, a descrença dos
gestores no processo de pactuação, reforçado pelo fato da PPI de 2010 ter tido
um caráter meramente redistributivo de recursos, acentuando ainda mais as
disputas entre os atores e, por fim, o problema sistêmico do subfinanciamento
dos recursos da saúde.
Porém, revelou-se um caminho para superação dos modelos anteriores
(descentralização tutelada), mas a determinada altura do processo de
implantação apresentou um esgotamento frente aos problemas já elencados. Eis
que surge o COAP, anunciado pelo Ministério da Saúde como um instrumento
de “aprimoramento” e não uma mera “substituição” do Pacto de Gestão.
Importante registrar que incialmente os estudos o processo de
implantação do
41
Diante da complexidade e diversidades de desafios colocados pelo SUS
é imprescindível que se tenha uma grande oferta de instrumentos de gestão,
disponíveis para serem utilizados de acordo com a conveniência de cada
cenário, de cada problema. Consideramos que o COAP é mais um desses
instrumentos, ou seja, um recurso instrumental para a gestão, que, no caso,
pode vir a viabilizar avanços importantes como a segurança jurídica
oportunizada pela natureza jurídica do COAP, aperfeiçoamento da gestão
financeira a partir da otimização de recursos e do processo de
acompanhamento, avaliação e fiscalização das ações e compromissos
assumidos pelos entes signatários.
Não resta dúvida acerca da necessidade de uma articulação federativa
sólida e harmônica entre as três esferas de gestão do SUS. No entanto, a
experiência tem mostrado que é imprescindível a implicação dos atores/gestores
nos processos de pactuação/contratualização para garantirmos a
responsabilização sanitária, não bastando tão somente a existência de um
instrumento jurídico. O contrato não terá o condão de resolver problemas
históricos do SUS como, por exemplo, o subfinanciamento, a disputa técnica e
política do modelo de atenção à saúde, que se almeja implantar a necessidade
de consenso e cooperação para o sucesso na execução de políticas de saúde,
dentre outros.
Mas, abre um terreno para se incorporar na gestão da saúde pública
técnicas gerenciais já utilizadas largamente em outros países e que tem
apresentado resultados positivos. Em última análise, podemos dizer que a
utilização de políticas de pactuação e contratualização se revelam iniciativas que
permitem o aperfeiçoamento do SUS.
A utilização de mecanismos que estimulem o diálogo e a articulação entre
os gestores possibilita a gestão pública da saúde a acompanhar a tendência
mundial da gestão por resultados, bem como a ampliação da responsabilização
solidária. Convém ressaltarmos, ainda, que o estudo analisou a fase inicial da
implementação da política, no entanto, durante o curso do processo de
implementação é provável que novas necessidades sejam detectadas. Ao
mesmo tempo, as já colocadas serão revistas, em um processo contínuo de
alimentação e articulação entre as etapas do ciclo da política, permitindo
reformulações e adaptações constantes às transformações da realidade.
42
Por fim, como desdobramento e/ou aprofundamento do estudo surge uma
gama de possibilidades de pesquisas que tenham a contratualização de
responsabilidades sanitárias no SUS como objeto, contando com o
desenvolvimento de estudos que tenham como foco o acompanhamento da
implantação dessa política, com vistas a uma avaliação dos seus
efeitos/impactos para posteriormente comparam com os avanços e limites da
política anterior
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CUBAS, M. R. Desafios para a enfermagem no alcance das metas da
Atenção Primária. Revista da Escola de Enfermagem da USP, Ribeirão Preto, v.
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45