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Unisalesiano

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium


Curso de Psicologia

Peterson Merlugo Tavares


Rosana Cristina da Silva Souza

POLIAMOR: o perfil dos praticantes e os desafios


enfrentados

LINS - SP
2017
0

PETERSON MERLUGO TAVARES


ROSANA CRISTINA DA SILVA SOUZA

POLIAMOR: o perfil dos praticantes e os desafios enfrentados

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Banca Examinadora do
Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium, curso de Psicologia sob a
orientação da Profª. Ma. Ana Elisa S. B.
Carvalho e orientação técnica da Profª
Ma. Jovira Maria Sarraceni

LINS – SP
2017
1

Tavares, Peterson Merlugo; Souza; Rosana Cristina da Silva


P578p Poliamor: o perfil dos praticantes e os desafios enfrentados. / Peterson
Merlugo Tavares; Rosana Cristina da Silva Souza. – – Lins, 2017.
175p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano


Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.
Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Ana Elisa Silva Barbosa de
Carvalho

1. Poliamorismo. 2. Família. 3. Relacionamento. 4. Sexualidade.


ITítulo.

CDU 159.9
2

PETERSON MERLUGO TAVARES


ROSANA CRISTINA DA SILVA SOUZA

POLIAMOR: o perfil dos praticantes e os desafios enfrentados

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,


para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: _____/______/_____

Banca Examinadora:

Profª Orientadora: Ana Elisa Silva Barbosa de Carvalho


Titulação: Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Assinatura: ________________________________

1º Prof(a): _____________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________

2º Prof(a): _____________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________
3

Dedicamos este trabalho a todos os profissionais e futuros profissionais de


Psicologia que se entregam com toda dedicação e respeito à nossa tão valiosa
ciência.
A todos os nossos mestres que nos acompanharam neste processo com toda
dedicação e paciência do mundo durante esses cinco anos de curso.
Em especial a todos os adeptos do poliamor que contribuíram para nossa
pesquisa.
E a todas as famílias Poliamoristas já constituídas ou as que estão por se
constituírem, mesmo diante de tanta luta ainda hoje a ser enfrentada para a
garantia de seus direitos.

Peterson Merlugo Tavares


Rosana Cristina da Silva Souza
4

AGRADECIMENTOS

Ao meu esposo Luiz Henrique Merlugo Tavares, meu amor, amigo e


companheiro de vida e de profissão, por estar ao meu lado durante toda essa
trajetória me estendendo a mão sempre que precisasse, nos momentos em
que eu estava cansado, exausto ou com dúvidas sobre alguma matéria que
tinha que estudar. Só posso ser grato e dizer que te amo.
Aos meus pais e irmã, que mesmo em muitos momentos ausentes de
presença eu sempre estive com vocês em meu coração, meus heróis, minha
direção de vida e meu orgulho. Dentro do possível vocês me direcionaram
sempre para o melhor, nunca deixaram de acreditar e sonhar comigo e sem o
apoio deles não teria chegado aqui. Amo vocês.
A minha cunhada Bruna e meu cunhado Thiago, que acompanharam de
perto toda essa luta para conquistar o meu sonho profissional. Agradeço pelos
almoços e jantares que fizeram para mim quando mal tinha tempo de sentar e
fazer uma refeição, devido a correria do dia a dia para estudar.
Aos meus sobrinhos, Anna Beatriz, Pedro Henrique e Sarah Cristina,
minha alegria nos momentos difíceis.
Aos meus mestres, a mais alta bancada de conhecimento que tive o
privilégio de conhecer ao longo do curso, Liara Rodrigues de Oliveira que me
ensinou muito nos estágios de ENB, ter um olhar de observação, que
desenvolveu-se a empatia pelo outro. Elizeth Germano Mattos que me ensinou
a arte de enfrentar os desafios, resolucionar conflitos e sobre tudo ser resiliente
sempre diante dos problemas que temos de enfrentar não só na vida
profissional dentro de uma empresa, mas na pessoal também. José Ricardo
Lopes Garcia uma calma ao falar, se expressar, me ensinou a enxergar a dor
do outro com um olhar mais humanista. Oscar Xavier de Aguiar que me
ensinou que conhecimento se amplia todos os dias, lendo, relendo e relendo
teorias. Mestres só tenho a dizer muito obrigado e o prazer realmente foi meu.
As minhas orientadoras Ana Elisa Silva Barbosa de Carvalho e Jovira
Maria Sarraceni pelo incentivo, motivação, dedicação, carinho, compreensão e
ensinamentos ao longo desses anos na minha formação, muito obrigado.
Agradeço minha parceira, amiga e praticamente irmã Rosana Cristina da
Silva Souza, por ter aceitado a enfrentar este desafio junto a mim, por ter me
5

apoiado nos momentos difíceis, por ter chorado junto, ter sorrido nos
momentos engraçados e por ter sempre participado desses 5 longos anos de
curso. Obrigado.
Queria finalizar com uma frase “Bom mesmo é lutar com determinação,
abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o
mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante”.
Peterson Merlugo Tavares
6

AGRADECIMENTOS

Por longos minutos fiquei pensando como começar a agradecer. De


repente flashes de diversas situações foram surgindo em minha mente e eu
percebi que foram muitas as pessoas que propiciaram condições para a
realização desse sonho, então devo começar por aquela pessoa onde tudo
começou...
Obrigada minha mãe por ter estado presente em todos os momentos de
minha vida, por me incentivar a estudar mesmo estando extremamente
cansada após um dia de trabalho, por ficar radiante a cada conquista minha,
por ser minha companheira nas noites dedicadas aos estudos, por
simplesmente acreditar em mim.
Agradeço aos meus filhos Wagner, Marjorie, Murillo e Sophia, por serem
os melhores filhos do mundo. Vocês são meus propósitos de vida, pois todas
as minhas conquistas eu dedico a vocês.
Aos meus irmãos Rosângela, Roseli, Ronaldo, Roselaine, Rosimara,
Rodolfo e Gabriela, pelo incentivo constante e pelo apoio incondicional. Um
obrigado especial para minha querida irmã Rosângela, por estar ao meu lado
nos momentos difíceis e por proporcionar condições para que eu alcançasse
meu sonho.
Aos amigos da E.E. Profº João Cândido Fernandes Filho, meus
companheiros de trabalho, pelo apoio, carinho e principalmente pelo respeito
que sempre dedicaram a minha pessoa. Sem vocês eu não teria conseguido
chegar até aqui.
Ao corpo docente do curso de Psicologia, meu muito obrigado por toda
dedicação, carinho e paciência. Vocês sempre serão um exemplo a seguir,
sinto muito orgulho por ter tido a oportunidade de tê-los como professores.
Ao meu grande amigo, companheiro, e praticamente “irmão” Peterson
Merlugo Tavares, por ter me convidado a encarar esse desafio, por todas as
conversas madrugada adentro, por chorar comigo diante das dificuldades
enfrentadas e por sorrir quando percebíamos que apesar de tudo “a vida é
bela”.
Ao meu amigo Luiz Henrique Merlugo Tavares, por todas as sugestões e
aconselhamentos, por nos ajudar a esclarecer diversas dúvidas, pelas longas
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conversas, pelos almoços e jantares maravilhosos e por saber escolher um


bom vinho.
E finalizando, agradeço a Deus, por me presentear com saúde,
inteligência e capacidade para enfrentar desafios.
Rosana Cristina da Silva Souza
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RESUMO

O presente trabalho consiste em exibir um estudo no qual visou levantar


e identificar as características dos indivíduos que praticam o poliamorismo. A
opção por esse tipo de público foi feita diante das grandes transformações
vivenciadas em nossa sociedade pós-moderna e as suas influências nos
indivíduos, cabe aos acadêmicos e profissionais da área de psicologia abrir
espaço para um maior entendimento referente às novas configurações de
relacionamentos amorosos e arranjos familiares. Ao nascermos nos deparamos
com ideias e comportamentos pré-estabelecidos como corretos pela sociedade;
com o desenvolvimento do sujeito, passa-se a ter novos questionamentos, nos
deparamos com sentimentos conflituosos, causando lhe sofrimentos. Segundo
Foucault (1988), sexualidade designa uma série de fenômenos que englobam
tanto os mecanismos biológicos da reprodução como as variantes individuais e
sociais do comportamento, a instauração de regras e normas apoiadas em
instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas, e as mudanças no
modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor à sua conduta,
seus deveres, prazeres, sentimentos, sensações e sonhos. Sexualidade é,
pois, uma construção social que engloba o conjunto dos efeitos produzidos nos
corpos, nos comportamentos e nas relações sociais. Ao longo da história, a
atividade sexual sempre foi objeto de preocupação moral e, como tal,
submetida a dispositivos de controle das práticas e comportamentos sexuais.
Como esses dispositivos são construídos com base nos valores e ideologias
predominantes na sociedade, eles assumem formas diferentes à medida que a
sociedade muda. Esta pesquisa teve como objetivo analisar os impactos
causados aos indivíduos adeptos do poliamorismo e entender os motivos que
influenciaram sua escolha amorosa, seus desejos, medos, angústias e
preocupações dessas novas formações familiares dentro de uma sociedade
historicamente monogâmica. Assim, buscou-se no presente trabalho conhecer
mais profundamente os adeptos de tais relações, entender suas escolhas e
indagar as possíveis dificuldades enfrentadas. Para andamento do trabalho
utilizou-se de uma pesquisa qualitativa com abordagem sócio histórica,
possibilitando-se a análise dos aspectos psicológicos, afetivos e sexuais
desses novos arranjos familiares. Desta forma através da entrevista semi-
dirigida possibilitou-se analisar as declarações e representações dos adeptos
das relações “poliamorosas”, voltando-se para os aspectos psicológicos dos
sujeitos poliamoristas, presentes na escolha de seus relacionamentos
amorosos, afetivos e sexuais explicitando-se os impactos ainda causados em
uma sociedade predominantemente monogâmica, identificou-se como
principais desafios enfrentados pelos praticantes “poliamoristas” assumir
publicamente a sua escolha, quebra de um relacionamento monogâmico, não
conseguir escolher entre um o outro, encontrar parceiros que entendam o que
é o poliamor, disseminar o ciúme dentro da relação, entrar em sintonia com os
9

parceiros, administração de tempo dentro da relação, medo dos pais com


relação ao preconceito da sociedade, falta de entendimento, aceitação,
convivência por parte da sociedade para com os outros modelos de estruturas
familiares. Com o auxilio desta análise identificou-se os desafios enfrentados
acima no qual como proposta de intervenção para futuros trabalhos
acadêmicos da área de psicologia e direito, caso venham a defrontar com
esses sujeitos ou famílias poliamoristas com tais sentimentos difíceis de ser
lidados, não deixem de fornecer um acolhimento e apoio necessário.

Palavras-chave: Poliamorismo. Família. Relacionamento. Sexualidade.


10

ABSTRACT

The present work is to display a study in which aimed to raise and


identify the characteristics of individuals who practice poliamorismo. The option
for this type of public was made before the great transformation experienced in
our post-modern society and its influences on individuals, it is up to the
academics and professionals in the field of psychology to make room for a
greater understanding of the new settings of romantic relationships and family
arrangements. At birth we encounter ideas and behaviors pre-set as correct by
the company; with the development of the subject, is to have new questions,
faced with conflicting feelings, causing her pain. According to Foucault (1988),
sexuality refers to a series of phenomena that encompass both the biological
mechanisms of reproduction as individual and social variants of behavior, the
establishment of rules and standards supported by religious, judicial institutions,
medical and pedagogical, and also changes in the way in which individuals are
encouraged to give meaning and value to your conduct, your duties, joys,
emotions, feelings and dreams. Sexuality is a social construct that
encompasses all of the effects produced on the bodies, in behaviors and social
relations. Throughout history, sexual activity always has been the object of
moral concern and, as such, subject to control devices and practices sexual
behaviors. As these devices are built based on the values and ideologies
prevalent in society, they take different forms as society changes. This study
aimed to analyze the impacts caused to individuals poliamorismo and
supporters understand the reasons that influenced your choice, their desires,
fears, anguish and concerns of these new family formations within a society
historically monogamous. Thus, in this study we sought to know more deeply
the supporters of such relationships, understand your choices and ask the
possible difficulties. To progress the work utilized a qualitative research with
social and historical approach, enabling the analysis of affective and
psychological aspects, these new family arrangements sexual. In this way
through the interview semi-dirigida made it possible to analyze the statements
and representations from the supporters of relations "poliamorosas", turning to
the psychological aspects of the subjects poliamoristas, present in the choice of
his romantic relationships, sexual affective and explaining the impacts caused in
a predominantly monogamous society, identified the main challenges faced by
practitioners "poliamoristas" take your choice, publicly breaks a monogamous
relationship, unable to choose between one another, find partners that
understand what is polyamory, disseminate the jealousy within the relationship,
tune into partners, time management within the relationship, fear of the parents
with respect to the prejudice of society, lack of understanding, acceptance,
coexistence by society to other models of family structures. With the help of this
analysis identified the challenges facing above in which intervention proposal
for future scholarly works in the field of psychology and law, should they meet
11

with these guys or poliamoristas families with such feelings that are difficult to
be handled, do not forget to provide a welcome and necessary support.

Keywords: Poliamorismo. Family. Relationship. Sexuality.


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LISTA DE QUADRO

Quadro 1: Roda de Debate ............................................................................... 45

LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Sexo dos participantes ...................................................................... 74
Tabela 2: Orientação Sexual dos participantes ................................................ 74
Tabela 3: Estado Civil ....................................................................................... 75
Tabela 4: Idade dos participantes ..................................................................... 75
Tabela 5: Cor de pele ....................................................................................... 75
Tabela 6: Religião ............................................................................................. 76
Tabela 7: Grau de escolaridade ........................................................................ 76
Tabela 8: Locais de Residência ........................................................................ 77

LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Formações Amorosas ........................................................................ 59
Figura 2: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 60
Figura 3: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 60
Figura 4: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 61

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFP: Conselho Federal de Psicologia


CRP: Conselho Regional de Psicologia
OMS: Organização Mundial de Saúde
RA: Relação Aberta
RLI: Relacionamentos Livres
SM: Sadomasoquismo
TFP: Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15

CAPÍTULO I - POLIAMOR SAIU DO ARMÁRIO ............................................. 18


1 DEFINIÇÃO DE POLIAMOR ................................................................. 18
1.2 A Sexualidade ........................................................................................ 20
1.2.1 O amor na modernidade......................................................................... 26
1.3 Tipos de relacionamentos ...................................................................... 28
1.3.1 Monogamia............................................................................................. 28
1.3.2 Poligamia................................................................................................ 29
1.3.3 Swing...................................................................................................... 31
1.3.4 Relacionamento Livre - RLI .................................................................... 32
1.3.5 Relacionamento Aberto .......................................................................... 34
1.3.6 Relações Fechadas. ............................................................................... 35

CAPÍTULO II - QUEM SOU EU? ...................................................................... 36


1 CONHECENDO OS ADEPTOS DO POLIAMOR .................................. 36
1.1 Internet ................................................................................................... 43
1.2 Encontros presenciais ............................................................................ 44
1.3 O movimento poliamorista: “liberdade, igualdade, honestidade e amor” 45
1.4 Desafios enfrentados: aspectos psicológicos, sexuais e sociais ............ 49

CAPÍTULO III - O AMOR .................................................................................. 53


1 A FAMÍLIA ............................................................................................. 53
1.1 Como se constituem os relacionamentos ............................................... 57
1.2 A transição: da monogamia ao poliamor ................................................ 62
1.3 Casamento ou União Estável ................................................................. 66
1.3.1 Casamento ............................................................................................. 66
1.3.2 União Estável ......................................................................................... 68
1.4 A Luta pelo reconhecimento jurídico ...................................................... 70

CAPÍTULO IV - PESQUISA.............................................................................. 72
14

1 METODOLOGIA .................................................................................... 72
1.1 Abordagem ............................................................................................. 73
1.2 Técnica ................................................................................................... 73
1.3 Método .................................................................................................. 73
1.4 Sujeito da pesquisa ................................................................................ 73
1.4.1 Critérios de Inclusão ............................................................................... 77
1.4.2 Critérios de Exclusão: ............................................................................ 78
1.4.3 Procedimentos ....................................................................................... 78

CAPÍTULO V - ANÁLISE DOS CONTEÚDOS ................................................. 81


1. PROCESSO DE TRATAMENTO DOS RELATOS ................................ 81
1.1 Conceituação do poliamor ...................................................................... 81
1.2 Sociedade e Aceitação ........................................................................... 82
1.3 Religião .................................................................................................. 84
1.4 Desafios enfrentados ............................................................................. 85
1.5 Família.................................................................................................... 86
1.6 Ciúmes em um relacionamento Poliamorista ......................................... 87
1.7 Casamento e reconhecimento dos poliamorista como família ............... 88

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 91


CONCLUSÃO ................................................................................................... 93
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 96
APÊNDICES ................................................................................................... 105
15

INTRODUÇÃO

A sociedade atual está em constante mudança, mudanças que perduram


e outras que por não se adequarem logo são abandonadas, assim podemos
falar que o conceito de afetividade e família acompanha essas mudanças.
Diante as grandes transformações vivenciadas em nossa sociedade pós-
moderna e as suas influências nos indivíduos, cabe aos acadêmicos e
profissionais da área de psicologia abrir espaço para um maior entendimento
referente às novas configurações de relacionamentos amorosos e arranjos
familiares. O indivíduo desde sua primeira infância se depara com estímulos,
ideias e comportamentos estabelecidos como corretos pela sociedade; com o
desenvolvimento do sujeito, passa a ter novos questionamentos, com
sentimentos conflituosos, causando sofrimento.
Segundo Zanon (2014), na contemporaneidade, tornou-se muito comum
vermos a construção de novos arranjos familiares, o que antes era rotulado
como proibido, hoje é trivial no cotidiano das pessoas. Existe a emergência de
novos modelos conjugais que se configuram em diferentes dimensões, como a
união entre indivíduos do mesmo sexo e/ou aquelas que permitem a existência
de mais de dois sujeitos na relação, sem que haja um desconforto aparente
entre eles.
Neste trabalho de conclusão de curso, iremos abordar os
relacionamentos dos adeptos do poliamor. Etimologicamente a expressão
poliamor é uma palavra híbrida: do grego “poli” que significa muitos, e o termo
amor vem do latim. O verbete poliamor descreve relacionamentos amorosos
múltiplos, e relações interpessoais que recusam a monogamia como princípio
ou necessidade. Por outras palavras, o poliamor afirma o estabelecimento de
vínculos afetivos e/ou sexuais, profundos e eventualmente duradouros entre
mais de duas pessoas, o que intitula de não-monogamia responsável. Os
relacionamentos poliamorosos é uma prática que partilha abertamente e
eticamente amores múltiplos. Tentaremos abranger neste trabalho os desafios
de um poliamorista em uma sociedade que se apresenta em sua maioria como
monogâmica.
16

A rede social Facebook permitiu a inserção dos pesquisadores em


grupos com interesses próximos: uma busca por mais liberdade, mais
precisamente, uma liberdade afetivo-sexual. As pessoas participantes utilizam
esses grupos, para se expressar, para tirar dúvidas, falar sobre suas
dificuldades e ajudar outras pessoas com curiosidades acerca da temática
poliamorosa.
O poliamor passou de uma estrutura mais abstrata e virtual para uma
expressão empírica. Ao passo que reuniu maior número de simpatizantes,
possibilitando as pessoas que mesmo sem ter um posicionamento fechado,
sentiam que os modelos de relacionamento não eram representativos em suas
vidas e também se apresentou como instrumento para esclarecer as dúvidas
acerca do tema, como Ribeiro indica que o ciberespaço tem poder de reunir e
fomentar realidades que pode influenciar os processos no mundo real, “O
ciberespaço, a comunidade virtual podem influenciar a política no mundo real.”
(RIBEIRO, 2000).
A maioria das pessoas acredita que o melhor para o ser humano é a
sensação de nos completarmos na relação com outra pessoa. Porém, nesta
virada de século, com tantas opções e estilos de vida, homens e mulheres
passaram a desejar com muito mais força a “liberdade” ao invés da
“segurança”. Vivemos um período de grandes transformações no mundo, e no
que diz respeito ao amor, surge a dúvida: o que queremos realmente? A
segurança dessa simbiose com o parceiro ou o desejo imperioso de liberdade.
E nesse cenário surge o poliamor com outras possibilidades, abrindo um
leque de opções, uma nova maneira de amar, deixando a liberdade conduzir a
relação. Está surgindo, ou melhor, tornando-se público uma nova dimensão do
amor, a tendência é viver um amor baseado na amizade, respeito e acima de
tudo honestidade.
O trabalho foi desenvolvido a partir do seguinte problema de pesquisa:
quem são os adeptos dos relacionamentos poliamorosos e quais as
dificuldades enfrentadas por este indivíduo diante a sua escolha amorosa. A
partir daí procurou-se através de grupos em redes sociais definir as
características pessoais dos adeptos, o próximo passo foi selecionar três
participantes para a entrevista semi-estruturada.
17

Em posse das entrevistas realizadas e transcritas na integra, passou-se


a fazer a exploração de conteúdo, utilizando a análise de Bardim. Definindo-se
algumas categorias foi possível identificar e analisar os temas significativos que
surgiram através dos dados coletados. A fase de análise de dados na pesquisa
foi baseada em apontamentos de Minayo (1994) e consiste basicamente em
três finalidades: compreender os dados coletados, confirmar ou não os
pressupostos da pesquisa e responder as questões levantadas.
Por fim, apresenta-se na pesquisa os dados obtidos e analisados de
forma detalhada, sendo que os relatos dos participantes propiciou uma visão
abrangente desse mundo poliamorista, suas dificuldades e anseios diante a
essa nova forma de amar.
Este trabalho é voltado para os aspectos psicológicos dos sujeitos
poliamoristas, presentes na escolha de seus relacionamentos amorosos,
afetivos e sexuais. Os relacionamentos e as uniões poliafetivas e os impactos
ainda causados em uma sociedade predominantemente monogâmica.
18

CAPÍTULO I

POLIAMOR SAIU DO ARMÁRIO

1 DEFINIÇÃO DE POLIAMOR

A monogamia é o padrão mais aceito para as relações amorosas na


cultura ocidental, em nossa sociedade é considerada traidora e infiel a pessoa
que tem um compromisso sério com alguém e mantém relações sexuais fora
do relacionamento. Entretanto, existem pessoas que aceitam em não manter a
exclusividade sexual e afetiva, mantem relações sexuais com outra pessoa,
tendo o absoluto consentimento de seu (a) parceiro (a) (PILÃO, 2012).
O poliamor enquanto um tipo de relacionamento possibilita que
situações desta natureza se realizem. Diante disto, neste capítulo pretende-se
desvelar as características dos sujeitos adeptos do poliamor, bem como
conhecer sua dinâmica, definição e suas consequências enquanto
relacionamento amoroso.
Na atual sociedade contemporânea, a conjugabilidade vem sofrendo
transformação explícita, sendo possível observar várias formas de arranjos
conjugais que vão dos mais tradicionais aos mais modernos. O casamento
deixa de ser concebido como uma condição natural e religiosa, não sendo mais
para toda a vida, passando a relação entre os casais a durar enquanto houver
satisfação suficiente, podendo tal relação ser rompida a qualquer momento por
um deles. Homens e mulheres se confrontam com duas forças incompatíveis,
que abrangem os ideais individualistas e a necessidade de vivenciar a
realidade comum de um casal. Neste sentido, percebe-se que o ideal igualitário
predominante na sociedade contemporânea promoveu transformações
importantes nos modelos de casal, que se constroem, desconstroem e
reconstroem, emergindo daí novas formas de manifestação da conjugabilidade,
como o casamento homossexual, a coabitação e união estável, a relação
virtual e o poliamor (NAGEM, 2012).
A transformação do indivíduo diante de uma sociedade moderna, onde
tudo é líquido que faz e se refaz quase que instantaneamente, as relações
19

amorosas sofrem esta influência, onde uma relação era construída dentro de
um amor romântico acerca das questões religiosas em que os sujeitos se
conheciam, apaixonavam-se, adentravam a um namoro, noivado e casamento.
Hoje as relações são baseadas a princípio na atração física, no que o parceiro
pode contribuir na relação, pode ser afetivo ou sexual, mas a partir do
momento em que não há mais satisfação com aquele sujeito à relação conjugal
ou afetiva passa a ser algo que não agrada mais e simplesmente se desfaz.
Para “The Polyamory Society” poliamor é a filosofia e a prática de amar
várias pessoas ao mesmo tempo, de forma honesta, responsável e ética sem
possessão. A escolha de seus parceiros é consciente e não aceita a norma
social monogâmica no que diz respeito a amar apenas uma única pessoa.
Abraça a igualdade sexual e todas as orientações sexuais para um grupo
ampliado de intimidade conjugal e amor, sendo que essa ligação nem sempre
envolve sexo. (LINS, 2008)
Segundo o Dicionário Priberam, Poliamor (poli + amor) é um substantivo
masculino. Que significa um relacionamento de cariz romântico e sexual que se
estabelece simultaneamente entre vários parceiros, com conhecimento e
consentimento de todos os envolvidos (o poliamor não deve ser confundido
com a poligamia).
Para Wolfe (2003 apud PILÃO 2015) o poliamor é praticado em
variações de gênero, podendo ser heterossexual, bissexual, homossexual,
transexual, entre outros, além das variações em números, ou seja, entre três,
quatro, cinco ou mais parceiros, sendo classificado por alguns como
relacionamentos “primário” e “secundário”, referindo-se ao primeiro parceiro e
aos relacionamentos posteriores a este. Desta forma originam-se
configurações monogâmicas e poligâmicas, quando um dos parceiros opta por
uma forma de se relacionar, mas não impede que o outro assuma a maneira
que mais lhe convêm. Originando relações em grupo e relações onde os
parceiros não namoram todos entre si, as configurações estendem-se em
“Aberta” (quando pessoas podem agregar-se a relação já estabelecida) ou
“Fechada” (quando não é permitida a inserção de outras pessoas além do já
estabelecido pelo grupo), a esse acordo utiliza-se o termo “polifidelidade”.
O conceito de poliamor não é unânime, porém há pontos em comum: o
consenso, a liberdade e a honestidade. De um modo geral, trata-se da
20

possibilidade de se estabelecer simultaneamente mais de uma relação


amorosa com a concordância dos envolvidos, sem domínio ou posse, ou seja,
sem exclusividade afetiva ou sexual. Os adeptos deste tipo de relacionamento
e ideias buscam construir acordos em seus relacionamentos para assim não
haver traição e mentira, partindo de dois pontos principais que é a sinceridade
e a liberdade para dizer ao parceiro que tem interesse em uma terceira pessoa
e que gostaria que ela fizesse parte da relação, caso ambos aceitem.

1.2 A Sexualidade

A sexualidade das pessoas é expressa de diversas formas: no jeito


particular de andar, de vestir, falar, interferir, se posicionar, ou se omitir porque
em tudo implica posição de si, frente ao outro, a outra, ao mundo. Como,
também, está relacionada à realização, implica em relações com as pessoas
numa sociedade, que sabe-se, atualmente de classes sociais antagônicas
(MMC – Brasil, 2008).
Pode-se pensar a sexualidade de forma biopsicossocial, ou seja, é o
bem-estar da vida tanto biológico quanto psicológico e social.
Para Favero (2015), sexualidade é um termo amplamente abrangente
que engloba inúmeros fatores e dificilmente se encaixa em uma definição única
e absoluta. O termo “sexualidade” nos remete a um universo onde tudo é
relativo, pessoal e muitas vezes paradoxal. Pode-se dizer que é traço mais
íntimo do ser humano e como tal, se manifesta diferentemente em cada
indivíduo de acordo com a realidade e as experiências vivenciadas pelo
mesmo.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), “a sexualidade faz parte
da personalidade de cada um, sendo uma necessidade básica e um aspecto do
ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida”. A
sexualidade humana abarca tanto as relações sexuais (o coito) como o
erotismo, a intimidade e o prazer. “A sexualidade é experimentada e
expressada através de pensamentos, de ações, de desejos e de fantasias.”
(apud AMARAL, 2007, p.3-4).
Figueiró (2006, p. 2), “compreende que a sexualidade, por sua vez, inclui
o sexo, a afetividade, o carinho, o prazer, o amor ou o sentimento mútuo de
21

bem querer, os gestos, a comunicação, o toque e a intimidade”. Inclui também,


os valores e as normas morais que cada cultura elabora sobre o
comportamento sexual.
Para Vitiello (1998), a espécie humana, desde o seu aparecimento no
planeta, há cerca de cem mil anos, vem apresentando uma característica
peculiar, em termos de exercício da sexualidade. Ao contrário do observado em
outras espécies, a nossa exibe sutis diferenças anatômicas e funcionais que
permitem às fêmeas serem receptivas às manifestações da sexualidade de
seus parceiros, independentemente de estarem ou não em seus períodos
férteis. Assim, ao lado de um componente orgânico básico, nossa sexualidade
passou a ser fortemente condicionada por fatores psicológicos e sociais.
Somos assim, em toda a natureza, privilegiados por poder praticar
prazerosamente o coito - e outras formas de exercícios da sexualidade -
durante a gestação, após o período funcional reprodutivo (menopausa) e ainda
quando (ou talvez até principalmente quando) a gestação não é desejada.
Inventamos, portanto, outras "indicações" que não a reprodução para o
exercício da sexualidade. Podemos praticá-lo (e o praticamos) por mero prazer
("sexo-prazer"), por amor ("sexo-amor") e por muitas outras motivações, aí se
incluindo a econômica.
Ao longo da história da humanidade, aconteceram diversas mudanças
sociais, diante a possibilidade da prática prazerosa com qualquer pessoa e em
qualquer lugar, surgiu a necessidade de uma organização social, assim criando
normas para que essa sexualidade fosse exercida.
Segundo Nunes (1987 apud CAMPOS, 1981, p.5):

As comunidades do paleolítico possuíam um certo grau de


sedentarização, mas também viviam se deslocando em
perseguição aos animais que caçavam. A necessidade da
colaboração, principalmente para os grandes empreendimentos
de caça, deve ter gerado, no final do período, o aparecimento
dos primeiros clãs, famílias extensas onde várias gerações se
sobrepõem. Os clãs do paleolítico eram matriarcais, uma vez
que os homens, em sua atividade de caça, viviam se
deslocando mais constantemente, deixando às mulheres toda e
qualquer forma de governo familiar.

Para Spitzner (2005), a segurança e a estabilidade provocadas pela vida


em cavernas influenciaram a estrutura interna da tribo. As condições de frio
22

eram adequadas às caças maiores, sendo necessário um empreendimento em


cooperação, surgem as interações entre as tribos. Esse contato entre grupos
familiares finaliza com as relações incestuosas, pois a união sempre dentro de
um grupo social tornava inevitável a consanguinidade, onde o incesto surgia
como o primeiro tabu da humanidade.
Já no período neolítico (9000 a.C.) homens e mulheres tornaram-se
agricultores e criadores de animais domesticáveis, isso modificou totalmente a
existência humana. O poder é patriarcal, com a domesticação dos animais os
homens passam a entender o processo de procriação, percebendo a
necessidade de sua contribuição para esse fato que antes era considerado
mágico, feitiçaria, tornando a mulher poderosa. Agora o homem exige a certeza
de sua linhagem, dando-lhe o poder de ter quantas mulheres desejasse, o
conceito de “meu filho” exigia que a mulher fosse monogâmica, reservada e
contida, nessa sociedade a mulher era propriedade do homem, assim como a
posse de terras e animais.
Esse momento é bastante significativo, pois percebe-se a origem da
união conjugal e o início do grupo social. Nesse período acontece uma grande
explosão demográfica, pois a segurança e conforto propiciado pelos abrigos
em cavernas e a produção de alimentos permitiu o fim da vida nômade. A
relação entre tribos diferentes impede a consanguinidade, aumentando a
miscigenação. Ponto onde acontece uma grande melhoria na perspectiva de
vida da população, contribuindo para uma maior eficácia genética. Portanto,
podemos perceber o incesto como mal visto dentro da sociedade, o qual feriria
os preceitos de base social, a família.
Logo após esse período surge o poder real e a religião. Assim a
sexualidade volta a mudar com o surgimento do povo Hebreu, por volta de
3.000 a.C:
Os hebreus destinavam o sexo à procriação dos filhos, que era
uma tarefa destinada por Deus. Feliz o homem cuja família era
numerosa. Era sábio ter filhos, logo, a relação sexual tornava-
se bem vista. O aborto era crime, pois evitando-se que um filho
homem fosse trazido ao mundo, estaria sendo negado ao pai, o
direito de sobreviver através do filho (SPITZNER, 2005, p. 21).

Ainda segundo Spitzner (2005), entre os gregos a nobreza de espírito,


simetria e beleza eram indissociáveis. Esses aspectos deveriam estar
23

integralmente relacionados. Um não poderia viver sem o outro, pois um corpo


atraente e simétrico deveria conter um espírito magno. Os gregos criaram um
mundo aventureiro e amoral. Concebiam o sexo entre os deuses fogosos e
também entre um homem e um deus. O casamento era monogâmico não por
razões religiosas, mas seculares, pois o sistema de heranças e propriedades
exigia origem conhecida de cada geração. No entanto, era permitido que os
homens tivessem relacionamento extra-conjugal, ao contrário da mulher.
Solovijovas et al. (2002), enfatiza que durante a idade média foi possível
perceber a forte influência da igreja católica na regulamentação de condutas
amorosas, conjugais e sexuais. Os objetivos da igreja visavam ao
enquadramento da população a novas formas de se conceber o homem
daquele tempo. Eram as leis de Deus que falavam mais alto e o homem era
entendido como um simples mortal, sujeito às leis do céu e do inferno, criadas
por homens em nome de Deus. Costumes e comportamentos tidos no início da
civilização cristã como aceitáveis, como a nudez, as carícias, a prostituição, os
filhos ilegítimos, a fornicação, o aborto e o divórcio são considerados pecado
na Idade Média.
O controle exercido pela igreja sobre a sexualidade deu-se inicialmente
junto à nobreza e posteriormente abrangeu as camadas mais pobres. Os meios
utilizados para esse controle eram o medo, a culpa, a ideia de inferno, o castigo
e principalmente a prática da confissão que representava o meio do pecador
conseguir absolvição. A ideia da vinculação sexo-pecado foi bastante difundida.
Tanto o ato sexual quanto o desejo sexual eram julgados como pecado sob a
mesma rigidez (SOLOVIJOVAS et al., 2002).
Para a igreja o sexo era um grande pecado e o homem deveria apenas
se entregar as coisas divinas e não se levar pelos prazeres carnais. O amor era
um sentimento exclusivo entre Deus e os homens, permitindo a união entre
homens e mulheres apenas com o intuito de procriação. Nesse período a
mulher tornou-se a imagem do pecado, era o próprio demônio que atentava o
homem, a união prazerosa com uma mulher era a chave para o inferno. O
sentimento de culpa foi sendo instaurado no imaginário popular, assim como o
medo do inferno. São Paulo, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino foram
os precursores desta visão puritana, defensores da castidade, fundamentavam
essa doutrina.
24

Após o movimento da reforma e contra reforma no período


renascentista, as autoridades civis e religiosas, pregadores católicos e
puritanos, perseguiram todas as formas de nudez e sexualidade extraconjugal.
Novas atitudes em relação ao corpo e novas regras de comportamento
promoveram a castidade e o pudor da vida cotidiana. O pudor virou um símbolo
de distinção social e moral utilizado pelas classes médias (burguesia) da
sociedade ascendente, que condenavam tanto a grosseria física das classes
inferiores como a indiferença libertina da aristocracia.
É a partir do patriarcado que se hierarquizam as relações e se cria as
desigualdades de poder. Para Muraro (2003), a sociedade patriarcal criou e
mantém a divisão entre sexualidade e afetividade, especialmente, com relação
ao universo masculino, porque: aos homens foi dado, construído e atribuído o
direito de separar afeto/amor e sexo. E, em se tratando de mulheres, foi lhes
atribuído o papel da reprodução e da negação do prazer sexual. Neste sentido
os homens se beneficiam de uma posição privilegiada na sociedade patriarcal
machista: para eles, quanto mais sexo fizer, mais homem é, ao passo que, se
for mulher, logicamente é tachada de “puta”, “vagabunda”, “prostituta”, “mulher
da vida”, “mulher pública”, etc. Por isto em grande parte, elas precisam negar o
sexo como algo natural, de suas vidas. Com o estabelecimento do patriarcado,
se criam as condições para o germe do que mais tarde vem a ser o
capitalismo. E, na atualidade, o capital e o patriarcado andam juntos enquanto
formas de ação, de opressão e de exploração.
A repressão sexual passava a ser necessária para viabilizar o exercício
do poder conforme as condições da nascente ordem social burguesa.
Pensando nesta dimensão, Foucault (1993), afirmava que nas sociedades
ocidentais, durante séculos, se ligou o sexo à busca da verdade, sobretudo a
partir do cristianismo. O texto de Foucault (1993) traz a seguinte contribuição:

[...] a sexualidade é o nome dado a um dispositivo histórico [...]


à grande rede de superfície em que a estimulação dos corpos,
a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a
formação dos conhecimentos, o reforço dos controles, das
resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas
estratégias de saber e poder. (FOUCAULT, 1993, p.100)

O final do século XIX é marcado pela necessidade de uma nova ética do


25

trabalho, por novas políticas de controle social, novos padrões de moralidade


para os componentes sexuais, sociais e afetivos (ENGEL, 2004).
Uma grande revolução no conceito de vivências sexuais será verificado
em meados da década de 50 com a Revolução Sexual, homens e mulheres
passam a assumir um novo papel social e sexual.
O surgimento da pílula anticoncepcional teve uma contribuição
fundamental na expansão deste movimento e das ideias de sexualidade
natural, pela possibilidade que criou de um controle mais efetivo da natalidade.
Para as mulheres, a contracepção modificou a própria percepção da sua
sexualidade pois tornou possível a vivência da sexualidade no sentido amplo
da palavra, permitindo o prazer sexual desvinculado das gestações repetidas e
da dor do parto. Consequentemente, as pressões para a constituição de
famílias numerosas deram lugar à tendência de famílias pequenas, outorgando
à mulher além do controle artificial da natalidade, uma maior influência sobre os
filhos e o marido no âmbito familiar (GIDDENS, 1993).
Foucault (1984, p.243-76) em suas obras nos diz que:

Atualmente, está se esboçando um movimento contra esta


"sexografia" que decifra o sexo como segredo universal. Trata-
se de fabricar outras formas de prazer, de relações, de
coexistências, de laços de amores. (Foucault, 1984, p.243-76)

A sexualidade está presente em todas as fases de nossas vidas, já que


somos seres sexuais desde que nascemos até morrermos. Ela não é algo
estático, mas bastante dinâmico, que está mudando tanto quanto nós
mudamos. No desenvolvimento da nossa personalidade, desde que nascemos,
adquirimos uma visão única de como experimentar e viver a sexualidade. Este
significado para nós está sempre variando, sendo diferente a cada fase de
nossas vidas (RAMS, 2015).
Junto com a história da humanidade, desenvolve a história da
sexualidade para cada tempo, para diferentes sociedades, assim percebemos
que:

A leitura histórica é a real possibilidade de compreensão dos


tabus que caracterizam a sexualidade e também a
possibilidade de desenvolvimento de versões menos
preconceituosas e moralistas do assunto, sem perder, no
26

entanto, a perspectiva de que os homens, por necessidade


sociais (algumas já superadas), "inventaram" regras e formas
para a sexualidade, ou melhor, inventaram a sexualidade.
(KAHHALE, 2001 p. 185).

1.2.1 O amor na modernidade

Vive se num período de grandes transformações no mundo, em diversas


esferas, incluindo o que diz respeito ao amor. Assiste-se a um novo mundo de
escolhas, em que o leque de possibilidades diante do amor se amplia (LINS,
2008).
Historicamente é possível reconhecer três formas de amor: o
amor/philia, o amor/caritas e o amor/eros, sendo o primeiro aquele que hoje
mais assemelha-se à amizade, implicando num desejo de partilhar a
companhia do outro, não buscando possuir o outro, ao contrário, alegrando-se
por ele (BORGES, 2004).
Ainda segundo Borges (2004), o amor/caritas se relaciona a um
sentimento de compadecimento a toda a humanidade, estando na
fundamentação ética de vários pensadores modernos e frequentemente ligados
ao cristianismo, uma vez buscar o compromisso ético e solidário com os
homens sem nenhuma exigência em contrapartida. O erotismo e o
apaixonamento dizem respeito ao amor/eros, sendo visto com um caráter
dúbio, pois arrebata de modo irracional, não se tem controle dele, ao mesmo
tempo em que leva ao divino.
Prende-se a crença de que o amor romântico é o amor verdadeiro, o que
gera infelicidade e frustrações. O mito do amor romântico enquanto construção
cultural tem como base a estereotipagem sexual das pessoas em homens
verdadeiros e mulheres verdadeiras, envenenando as vidas amorosas. Os
escritores de romance e contos de fada sempre souberam do fascínio exercido,
mas também que esse tipo de amor não dura. No amor romântico ama-se o
amor, o fato próprio de amar, o casal precisa um do outro para arder em
paixão, mas não um do outro como cada um é (LINS, 2008).
A pós-modernidade sofreu mudanças significativas no conceito de
“amor”, destaca-se como característica desse novo modelo a pluralidade,
contribuindo para isso o consumo exacerbado, os avanços tecnológicos e
27

culturais e maior flexibilidade em regras e normas que regulamentam a vida do


individuo. Assim, Chaves diz que:
A pluralidade coloca o indivíduo de frente a uma multiplicidade
de identidades, valores, ideais, costumes e estilos de vida, a
qual se por um lado pode fazer com que ele se sinta
desorientado, por outro, lhe dá a sensação de ser livre, de ter
uma enorme gama de opções a serem escolhidas. Neste
contexto plural e flexível, diversas trocas simbólicas podem vir
a ser feitas e facilitar a construção de novas expectativas e
práticas amorosas. (CHAVES, 2003, p. 4).

Quando o assunto é abrir o leque de opções amorosas e sexuais,


segundo os ideais e características das relações poliamorosas, Gikovate
(1998), acredita que estamos diante do único modo de amar que pode
sobreviver as tendências individualistas, que ele vê com muita simpatia e
otimismo, próprios desse período da nossa história. Para ele, as relações vão
ser de natureza a respeitar a individualidade dos envolvidos. A aproximação
será entre pessoas inteiras e não fusão de metades. É um outro tipo de amor.
É o fim do amor romântico.
Para Costa (1998), a vida é prevaricação às normas, insistindo em
permanecer o mesmo num mundo que se tornou outro, o ideal amoroso fez
eclodir latentes contradições em sua história cultural, tendendo a colocar-se o
amor como monopolizador da felicidade, deixando de ser um meio de acesso a
esta para se tornar seu atributo essencial.
Giddens (1993 apud LINS, 2008), chama de “transformação da
intimidade” o fenômeno sem precedentes de milhares de homens e mulheres
que, estimulados pelos amplos movimentos sociais atuais, estão tentando,
consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.
Segundo Lins (2008), a crença na ideia de que se deve encontrar toda a
satisfação em um único parceiro fica abalada com a hipótese de se amar mais
de uma pessoa simultaneamente.
Relações amorosas são encontradas de diversas formas e em diversos
grupos. Amar é um ato fundamentalmente entre seres humanos, que por sua
condição de humanidade, poder pensar, refletir e experimentar o que é amar.
Bauman (2004), nos traz que: em nosso mundo de furiosa
individualização, os relacionamentos são bençãos ambíguas. Oscilam entre o
sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no
28

outro. Na maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam, embora estejam
em diversos níveis de consciência.
Esse amor líquido citado por Bauman (2004), nos mostra o verdadeiro
cenário da vida moderna, são relações perturbadoras, ambivalentes, onde o
indivíduo deve ser o centro da atenção. Seres apresentando discursos abertos
a amizade, laços, afetos e comunidade, mas em seu íntimo, tendem a se
concentrar nas satisfações que porventura venha a receber dessas relações.
O poliamorismo aparece como uma nova versão dessa espécie de amor.
A ideia inicial do amor romântico pressupõe a possibilidade de se estabelecer
um vínculo emocional durável com o outro, tendo-se como base as qualidades
intrínsecas desse próprio vínculo (BAUMAN, 2004).
Giddens (1993), fala sobre relacionamento puro, uma forma
predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que cada um pode
ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão
proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na
relação”. No poliamor a possibilidade de estabelecer um vínculo durável,
baseado em um relacionamento puro favorece a manutenção dos princípios
poliamoristasde respeito, honestidade e igualdade.

1.3 Tipos de relacionamentos

1.3.1 Monogamia

Monogamia é o regime ou costume em que é imposto ao homem ou à


mulher ter apenas um cônjuge, enquanto se mantiver vigente o seu casamento.
Condição daquele que é monogâmico, ou seja, que tem um só parceiro. É uma
forma de matrimônio que ocorre entre duas pessoas. Esse relacionamento
pode durar muitos anos ou ser apenas algo passageiro, por um período da
vida. O termo pode ser utilizado também para se referir à existência de apenas
um parceiro sexual, ou seja, relacionamento íntimo entre apenas duas pessoas
por vez, segundo Dicionário Houaiss.
Segundo o dicionário Michaellis (2017), etimologicamente, o vocábulo
monogamia possui origem grega, derivada dos termos monos – que significa
sozinho – e gamos – que quer dizer união ou casamento. Por meio da
29

monogamia impõe-se uma restrição quantitativa às relações afetivas, de modo


que conforma um “estado conjugal em que um homem desposa uma única
mulher ou uma mulher um só marido”.
Para Engels (2002), a monogamia foi primeira forma de constituição
familiar que não se baseou em condições naturais, mas sim em econômicas,
no triunfo da propriedade privada sobre a propriedade privativa, originada
espontaneamente.
Desde os primeiros anos escolares aprende-se que estamos inseridos
em uma cultura ocidental e essa cultura chegando ao Brasil, trouxe princípios
tradicionalmente cristãos, que passou a ditar a normatização das uniões
afetivas, sendo a monogamia a norma padrão. Assim, por muito tempo a
sexualidade, as relações amorosas e afetivas, foi controlada por seguimentos
religiosos e políticos. Ainda, nos dias atuais essas regras são seguidas por
homens e mulheres, em defesa da família monogâmica e tradicional composta
por pai, mãe e filhos. Porém percebe-se que, no cotidiano conjugal a
monogamia constituída no contrato matrimonial, tem sido por diversas vezes
trocada por arranjos não monogâmicos.
Para Brandon (2010 apud SANTIAGO, 2014), “nesse cenário, a
monogamia é uma escolha, e não um fato incontestável nos relacionamentos”.

1.3.2 Poligamia

De acordo com dados históricos levantou-se informações que


comprovam a poligamia como algo comum entre as civilizações primitivas, ou
seja, um homem convivia com várias mulheres no intuito de constituir família. A
razão da poligamia nesse período seria lógica: o pouco número de pessoas
existentes impedia seu aumento, colocando em risco a continuidade desse clã.
A relação sexual de um homem com várias mulheres permitia que estas
ficassem grávidas ao mesmo tempo, contribuindo para o aumento daquela
comunidade (ENGELS, 2002).
No Brasil, após a chegada da sociedade portuguesa com base conjugal
estabelecida sobre padrões monogâmicos, teve-se a oportunidade de assimilar
a poligamia de duas importantes formas: a primeira com os indígenas e a
segunda com a chegada dos povos africanos e o seu modelo de família
30

poligâmico.
De acordo com Raminielli (2007), tratando sobre os tupinambás, a
maioria dos índios tinha somente uma mulher. A poligamia existia, mas era
praticada por um número restrito de homens: somente os considerados
grandes guerreiros e caciques. Eles poderiam viver, sem causar
estranhamento, com até quatorze mulheres e cada esposa possuía seu espaço
exclusivo na cabana. A prática da poligamia era sinônimo de prestígio entre os
bravos guerreiros. A sua virtude era homenageada ao enumerar as esposas:
quanto maior o número de mulheres, mais valente era considerado o guerreiro.
Segundo Dicionário Aurélio, “poligamia” é um substantivo feminino,
significando a união conjugal de um indivíduo com vários outros
simultaneamente. Atualmente poligamia é uma forma de casamento
comumente associada à religião mulçumana e reconhecida pela legislação de
mais de 50 países, onde a população segue os ensinamentos do Alcorão –
livro sagrado dos mulçumanos – que permite ao homem ter até 4 esposas, com
a condição de que dê atenção igual a cada uma delas (FAHEL, 2016).
Tanto a poliginia, quanto a poliandria remetem a uma prática unilateral,
em que apenas um dos sexos tem o direito de nutrir mais de um parceiro.
A poligamia, associada tradicionalmente às sociedades ameríndias e
mulçumanas, é a mais conhecida. Os pesquisados afirmam que não são
polígamos, mas poliamoristas, uma vez que a poligamia pressupõe a
assimetria de gênero, ou seja, existe apenas um polígamo em cada relação. Já
no poliamor, é indispensável que a possibilidade de mais de um
relacionamento amoroso simultâneo seja tanto de homens quanto de mulheres
(PILÃO; GOLDENBERG, 2012).
Já o poliamor, além de não ter associações religiosas, é sempre bilateral
porque defende o direito à liberdade de ambos. Ou seja, todos os parceiros
podem amar e se relacionar com mais de uma pessoa. Ocasionalmente, um
homem ou uma mulher pode ter mais de uma relação, enquanto o outro tem
apenas a ele ou ela. No entanto, se é conservada a liberdade mútua para
seguir novas escolhas, a prática não deixa de se caracterizar como poliamor.
Além de tudo, o significado de poligamia está muito mais atrelado ao ato
do casamento do que à afetividade entre seus participantes. Casar com várias
mulheres ou vários homens não significa necessariamente nutrir sentimentos
31

por todos eles. Afinal, casamento nunca foi sinônimo de amor. A poligamia
pode acontecer, também, como mera fidelidade a determinados padrões
culturais religiosos; mera formalidade. Por outro lado, o poliamor é motivado
apenas pela afetividade múltipla e tem formato fluido, portanto é uma pratica
livre de padrões e incentivos religiosos. (FAHEL, 2013)

1.3.3 Swing

Refere-se à troca sexual de parceiros entre dois casais. Seus praticantes


geralmente buscam se livrar da monotonia que tanto atormenta a maioria dos
casais de longa data. A troca de casais chegou à classe média do Ocidente
em fins da década de 1970, nos Estados Unidos, embalada pela revolução
sexual recente, mas sua prática é antiga em outras civilizações. Esquimós
costumavam deixar suas esposas emprestadas quando saiam para caçar, os
maridos chineses quando se ausentavam, alugavam suas esposas com intuito
de protegê-las de possíveis saqueadores, costumes iguais foram identificados
em civilizações antigas no Tibete, na África e no Havaí (LINS, 2008).
O swing acontece quando dois casais se encontram ocasionalmente
para trocar de parceiros em busca de diversificar o sexo, não havendo trocas
romântico-afetivas. Diferente do relacionamento aberto, a prática do swing
nunca acontece separadamente e exige concordância prévia entre os
parceiros. Ou seja, os amantes não podem se encontrar a sós com mais
alguém. Quando isso acontece, considera-se traição e, consequentemente,
gera discórdia entre o casal. Por conta disso, os swingers são considerados
monogâmicos. (FAHEL, 2013)
Atualmente, nas sociedades ocidentais modernas, os adeptos costumam
procurar por casais em clubes e publicações especializadas, os casais
anunciam suas intenções, enviam fotos e dados pessoais, para em seguida
marcarem seus encontros. De acordo com Lins (2008), existem algumas regras
a serem observadas na prática do swing :
a) O casal deve estar sempre de acordo, esclarecidos sobre o
assunto, não deve haver surpresas;
b) A relação tem que estar boa, não deve ser solução para crises
amorosas;
32

c) O respeito a vontade alheia deve ser prioridade, só participa se


estiver interessado, ninguém deve ser assediado.
d) As fantasias não devem ser condenadas, mas ninguém deve
comentar o que rola entre os casais com outros conhecidos;
e) A sutileza deve ser a alma do negócio, explosões de entusiasmo
devem ser evitadas, um olhar é o suficiente para indicar a
intenção do outro;
f) Todos devem ser anônimos, dentro e fora dos ambientes
específicos;
g) Os homens não devem ir aos encontros acompanhados por
mulheres que não sejam a sua esposa, namorada ou amiga;
h) Deve-se evitar o exibicionismo, para não causar
constrangimentos;
i) Em boates ou clubes organizados para esse fim é interessante
dedicar pelo menos uma hora para beber algo no bar ou dançar
para depois entrar nos ambientes reservados.
Para Lins (2008), é difícil dizer se a prática do swing vai se consolidar
como instituição social ou se é apenas um fenômeno casual. Mas ela sinaliza,
sem dúvidas, para um novo patamar de consciência da divisão entre amor e
sexo.
No poliamor, os parceiros não buscam por casais. Cada um pode ter
quantas relações afetivas quiser do outro. Além disso, aqui sexo não é objetivo
como acontece entre swingers, e sim uma consequência.

1.3.4 Relacionamento Livre - RLI

Segundo os blogs “Amores Livres” e “Mundo Poliamoroso”, pode-se


identificar características que diferenciam os relacionamentos não
monogâmicos a seguir:
Amor Livre ou RLI - Surgiu como uma forma de embate à legislação das
uniões amorosas. Seus seguidores acreditam que a igreja e o Estado não têm
o direito de definir o que deve ou não ser considerado um relacionamento
amoroso. Eles são contra o casamento, pois o vêem como forma de controle e
submissão. (FAHEL, 2013).
33

O Amor Livre defende e prática todo tipo de relação amorosa – inclusive


a monogâmica – não atrelada a quaisquer registros formais (casamento civil ou
religioso),ou seja, pessoas que se relacionam sem intitular-se “namorados” ou
“casados”.
Dentre todos os estilos, o relacionamento livre é o que mais se aproxima
do relacionamento poliamoroso, já que ambos dão grande flexibilidade afetiva e
sexual à formatação das relações. No entanto, o poliamor não se preocupa
tanto com o distanciamento de rótulos, que é uma característica fundamental
do amor livre. Portanto, são movimentos distintos.
Para os mais jovens o tipo de relacionamento adotado normalmente é o
“Ficar”, esse termo começou a ser utilizado nos anos 1980 entre os
adolescentes, e consiste em trocas de carícias que vão dos beijos e abraços
até alguma coisa mais, geralmente sem chegar ao ato sexual. “O ‘ficar’
dispensa qualquer tipo de conhecimento prévio e qualquer tipo de continuidade
(…) é uma forma não compromissada de relacionamento afetivo, no qual não
há pressuposto de fidelidade/exclusividade” (LINS, 2008).
O poliamor, assim como o “ficar”, não exige exclusividade. Porém, há
uma diferença discrepante entre os dois: enquanto “ficantes” não sentem amor
ou qualquer senso de compromisso um pelo outro, enquanto os poliamoristas
se desenvolvem emocionalmente da mesma forma que um namoro comum
fechado – só que aberto. Tanto o poliamor quanto o relacionamento
monogâmico, crescem por meio de uma ligação sentimental profunda. Amor,
compromisso, responsabilidade e sinceridade são algumas das características
essenciais entre policasais e dispensáveis entre ficantes.
Outra grande diferença entre poliamar e “ficar” é que o “ficante” deixa
seu parceiro livre por não amá-lo ainda, e o poliamorista da liberdade a seus
amantes justamente por amá-los.
Dentre os relacionamentos não monogâmicos o “Poliamor” ganha
destaque na sociedade atual, notamos isso nas rodas de conversas, em
estudos acadêmicos, em sérias publicações, nos programas de jornais e TVs,
em redes sociais, etc... Assim o que se nota é um grande interesse no assunto,
despertado pelas transformações sociais, principalmente nas constituições
familiares. (FAHEL, 2013)
34

1.3.5 Relacionamento Aberto

De acordo com o site Vida poliamor, relações abertas costumam romper


com a ideia da monogamia por abrir a possibilidade de inclusão de mais
pessoas na relação. Pode ser aberta para se relacionar com um dos membros
de uma relação já constituída, ou para se relacionar com mais de um dos
membros desta relação já existente (VIDA POLIAMOR, 2017).
Quando o assunto é uma relação já existente, necessariamente não se
trata de um casal, uma vez que o que já existe pode também ser uma relação
em “V” ou um triângulo.
As relações abertas passaram a ser conhecidas a partir da década de
1970, com a liberação sexual fortalecida através da pílula anticoncepcional e o
movimento feminista. Diversos estudiosos acreditam que o ser humano não
nasceu para ser monogâmico e defende abertamente as relações abertas onde
um acordo nortearia toda a relação, impedindo o conceito de traição. É
defendida pelos seus adeptos como uma forma alternativa a monogamia
tradicional, esses indivíduos costumam se preocupar com o tolhimento do
desejo no indivíduo e no casal. (LINS, 2008).
Relações abertas podem e devem estar abertas para qualquer forma de
interação relacional com outros. Tudo vai depender do acordo firmado pelas
pessoas que já constituem a relação existente.
Ainda utilizando dados encontrados no site vida poliamor, um casal ou
um trisal, pode estar aberto para receber mais pessoas apenas para relações
sexuais. Um casal que procura outras pessoas para atividades sexuais, como
ménage atrois ou swing (troca de casais para sexo) não está necessariamente
aberto a algo além do sexo, e muitas vezes ocorrem até a proibição/veto de
qualquer relacionamento emocional/romântico/afetivo com a pessoa “de fora”
da relação. Este é um bom exemplo de relações que são abertas, mas não são
relações poliamor. (VIDA POLIAMOR, 2017)
Quando a relação está aberta para possibilidades românticas e novos
envolvimentos emocionais com novas pessoas, então temos relações abertas
no poliamor.
Ainda segundo informações obtidas no mesmo site, pode-se dizer que o
costume é chamar de relação aberta (RA), aquelas que apresentam um casal
35

que está aberto a relacionar-se com outras pessoas apenas sexualmente,


devido ao grande número de casos e situações que se apresentam desta
forma, e por ser um nome que acaba por fazer bastante sentido para estes
casais. Assim, no dia a dia, quando alguém menciona RA, normalmente está
se referindo a algo diferente do poliamor.

1.3.6 Relações Fechadas.

Relação fechada não é necessariamente sinônimo de relação


monogâmica. Há sim relações que são fechadas apenas em um casal. Neste
caso, há monogamia. Mas há relações que são fechadas em relações com
mais gente. Por exemplo, um trisal (V ou um triângulo) que, pelo acordo entre
as pessoas envolvidas, não oferece abertura para a inclusão de mais ninguém,
nem sexualmente, nem afetiva ou romanticamente.
Uma relação pode ser fechada com duas pessoas. Mas também pode
ser fechadas com três, quatro, seis pessoas. No caso de uma relação fechada
com três ou mais pessoas, existe então o acordo entre elas que chamamos de
polifidelidade.
Acreditam que desejos sexuais por outras pessoas procedem mesmo
durante um relacionamento fixo e que reprimi-los pode gerar estresse entre o
casal. Defendem a monogamia afetiva em parceria com a liberdade sexual.
Portanto, relações extraconjugais não são consideradas como infidelidade,
contanto que não haja envolvimento amoroso; este deve existir apenas entre o
casal. “Liberamos o desejo, não o sentimento”, diz um adepto. É importante
ressaltar que o relacionamento aberto costuma funcionar melhor quando há
regras bem definidas e consentidas por ambos para evitar desentendimentos.
(FAHEL, 2013).
Em contrapartida, poliamoristas são a favor da liberdade amorosa, além
da sexual. Cada parceiro poliamoroso pode nutrir quantos namoros e/ou
casamentos ele quiser – independentes ou conjuntos.
36

CAPÍTULO II

QUEM SOU EU?

1 CONHECENDO OS ADEPTOS DO POLIAMOR

Em vários momentos da minha vida amei mais de uma pessoa


ao mesmo tempo. Mas sempre que isso acontece você se
sente na obrigação de ter que decidir entre elas. Não acho
natural; não quero isso para a minha vida. Por que não
podemos amar várias pessoas? Não amamos diversos
amigos? Não amo meus três filhos? Cansei dessa história;
aderi de corpo e alma ao poliamor. Sei que não é fácil
encontrar parceiros que concordem com isso, mas estou
tentando. Tenho a esperança que daqui a algum tempo as
cabeças fiquem mais abertas. (Elaine, 34 anos, advogada,
separada há três anos). (LINS, 2016)

Segundo Lins (2007), pode-se dizer com certeza que ninguém decide
pelo poliamor de uma hora para outra, essa resolução é o resultado de um
longo processo de desenvolvimento pessoal, e nem todos são capazes dessa
transição. É necessária uma grande revisão de ideias pré-concebidas, de
condições culturais arraigadas e principalmente da capacidade de declarar o
fim do amor romântico idealizado.
De acordo com Anapol (1997 apud LINS, 2008, p. 411) autora do livro
Polyamory: The New Love Without Limits (Poliamor: Um Novo Amor sem
Limites) afirma:
Nossa cultura coloca tanta ênfase na monogamia de modo que
poucas pessoas se dão conta de que podem decidir sobre
quantos parceiros amorosos/ sexuais desejam ter. Ainda mais
difícil de aceitar é a ideia de que uma relação de múltiplos
parceiros possa ser estável, responsável, consensual,
enriquecedora e duradoura. (ANAPOL,1997 apud LINS, 2008,
p. 411).

Considerando os artigos e trabalhos publicados, obtém-se um


levantamento das pessoas que se consideram poliamoristas, assim mapearam-
se os marcadores sociais da diferença que são característicos desse grupo
37

como idade, gênero, raça/cor, profissão/ocupação, escolaridade, religião e


padrão socioeconômico (SANTANA, 2015).
Segundo a pesquisa de Pilão (2012), os poliamoristas formam um grupo
heterogêneo com estilo predominantemente alternativo, com idade entre 25 e
50 anos, sem distinção clara de gênero. Gays, lésbicas, bissexuais,
transsexuais, assexuados, pansexuais, heterossexuais se encontram presentes
nos grupos das redes sociais. Segundo dados coletados nas páginas Amores
Livres e Poliamor Brasil (2017).
Quanto à religiosidade, espiritualidade, Pilão (2012) refere-se:
“Ateu”/“agnóstico”(40%), “com um lado espiritual independente de religiões”
(32%) e “pagão/neopagão” (7%).
Em pesquisa realizada em 2011, em que foram analisados 80 perfis de
membros ativos de grupos do Facebook, 55% eram homens e 45% mulheres;
São Paulo (31%), Rio de Janeiro (24%), Rio Grande do Sul (7%) e Brasília
(7%), sendo que 87% afirmaram ter cursado ou estar cursando universidades,
ou seja, possuem nível superior. Atualmente, percebe-se que os integrantes
dos grupos em redes sociais já estão mais equilibrados em relação a gênero,
mas ainda prevalece a maioria de universitários e acadêmicos, seguido por
funcionários públicos e profissionais liberais, segundo dados do grupo poliamor
e diversidade. (PILÃO, 2012).
Muitos adeptos do poliamor que participam dos grupos de redes sociais
“Poliamor Brasil” e “Amores Livres” entram em vários debates sobre o que
pode e não pode ser feito dentro das relações poliamorosas, tentam esclarecer
dúvidas sobre o que é um relacionamento poliamoroso, debatem questões de
gênero e esclarecem questões levantadas por novos adeptos ou curiosos.
Dentre vários questionamentos e debates o mais frequente é a questão de se
“classificar” ou “rotular” como poliamorista, dizer que na relação existe regras
em consenso dos envolvidos ou que o relacionamento é a base do amor, da
liberdade e igualdade. (PILÃO, 2012)
Há uma convicção entre os pesquisados de que classificação são
prisões e identidades são fantasias perigosas; o que é acentuado quando são
pela ótica imposta. Há, dessa forma, uma incoerência na construção das
identidades poliamoristas, em que ao mesmo tempo os sujeitos desejam se
afirmar como “autênticos” e “originais”, mas, para se descreverem socialmente,
38

sentem a necessidade da confirmação como um grupo, o que, por sua vez,


rompe com sua singularidade. Alice uma das poliamoristas entrevistada por
Pilão (2012) manifesta essa dificuldade com precisão. De um lado, opõe-se ao
emprego de rótulos: “desprezo efetivamente tudo o que tenta me rotular, me
petrificar, me inferiorizar ao nível de uma coisa”. Por outro lado, vê a
organização conjunta como indispensável para ter liberdade para viver o
poliamor.
Segundo seu relato retirado do artigo “Entre a liberdade e a igualdade:
princípios e impasses da ideologia poliamorista”.

Não gosto muito de definições, rótulos, mas ultimamente eu


tenho visto uma necessidade política disso, talvez seja um mal
necessário que eu me afirme dessa maneira, para que todas as
pessoas que estejam envolvidas no processo e que não sabem
que existe esse tipo de relacionamento possam também viver
de uma forma mais confortável, sejam mais toleradas na
sociedade. (Alice, entrevistada em setembro de 2011).

No universo pesquisado, a construção de identidades entre


poliamoristas é problemática em razão de objetivarem se “desaprisionar”, ou
seja, permitir que se possa “ser” o que se deseja sem a necessidade de
enquadramentos, fixações e categorizações, consideradas opostas à
“liberdade”. No entanto, apesar de a identidade feminina ser entendida como
inferior e exclusivamente limitadora, assumir-se poliamorista tende a ser visto
como um “mal necessário” a fim de atuar politicamente na sociedade, ajudando
a legitimar uma alternativa à monogamia.
Pode-se afirmar que a crítica de poliamoristas aos papéis sociais
atribuídos a homens e mulheres comporta dois níveis: no primeiro, defende-se
o “feminismo” e a conquista de direitos pelas mulheres e, no segundo, critica-se
a distinção entre “homem” e “mulher” e se luta contra a classificação de
pessoas em identidades de gênero. Os termos utilizados para designar essa
ruptura são “queer”, “transgênero” e “androginia”. O último é tema de um fórum
de discussão no grupo do Facebook:

Há sinais de que caminhamos para o fim do gênero sexual. A


39

androginia refere-se a uma maneira específica de juntar os


aspectos “masculinos” e “femininos” de um único ser humano.
É possível que, num futuro não muito distante, com a
dissolução da fronteira entre masculino e feminino, as pessoas
escolham seus parceiros amorosos e sexuais pelas
características de personalidade, não mais pela condição de
serem homens ou mulheres. (LINS, 2010 p.13).

O que se percebe em diversas literaturas consultadas é o fim do gênero


sexual como um objetivo comum a homens e mulheres poliamoristas. Por um
lado, pode-se afirmar que sim, já que ambos compartilham da crença de que o
gênero é uma limitação a ser combatida. Por outro, é explicito que são as
mulheres poliamoristas as que mais enfatizam o anseio pelo seu fim. Um sinal
que evidencia essa diferença é a predominância de homens heterossexuais e
de mulheres bissexuais, já que como argumentam Butler (2010) e Wittig
(1983), a inteligibilidade do gênero está diretamente articulada à
heterossexualidade. Os homens poliamoristas, mais “tímidos” na luta contra o
gênero sexual, questionam a “masculinidade hegemônica” ao buscarem
envolvimentos emocionais profundos e ao defenderem a possibilidade de suas
parceiras terem outros relacionamentos.
Os autores acima citados apresentam a construção da identidade
poliamorista cercada por uma tensão entre a ênfase nas singularidades
(postura antiidentitária) e a negação das diferenças em nome da constituição
de um grupo de identidade. O mesmo debate está presente na desconstrução
das identidades de gênero. Enquanto alguns pesquisados apresentam uma
posição de crítica ao “masculino” e de busca por “igualdade” entre os gêneros,
outros criticam a separação de pessoas em duas grandes categorias: “homens”
e “mulheres”.
Percebe-se que ainda é minoria, homens homossexuais em busca de
um relacionamento poliamoroso com homens bissexuais, normalmente os
homossexuais estão à procura de um terceiro elemento homem para o
relacionamento, enquanto os homens bissexuais estão à procura de entrar em
uma relação poliamorosa independente de gêneros. De acordo com Lins
(2008), nos próximos 10 ou 20 anos abrir o relacionamento será uma tendência
“as pessoas não buscam o outro porque têm um vazio ou porque sexo com o
parceiro não está legal, mas sim porque variar é bom”.
40

Segundo Pilão (2012), os poliamoristas definem-se como seres


“completos” e que apenas se “complementam” nos outros, não constituindo
seus relacionamentos, portanto, uma unidade. Um elemento que ilustra essa
tese é a própria concepção, presente no universo “poli”, de que a parentalidade
e a coabitação não são desejáveis visto que implicariam em perda de
autonomia. Já que o casamento monogâmico é tido como aprisionador e
hipócrita e o poliamor é considerado uma forma de conjugar amor e autonomia.
As noções de compromisso, responsabilidade e negociação devem ocupar um
papel secundário, o que contraria a perspectiva de alguns pesquisadores do
tema, que defendem serem essas as principais bases ideológicas do poliamor.
Dentre os poliamoristas, é possível perceber uma preponderância
oposta, a da liberdade sobre a igualdade, sendo melhor que o outro aprenda a
lidar com a sua particularidade do que faça consentimentos para se adequar
aos parceiros. Por isso, é importante destacar que apesar da noção de
igualdade ocupar um papel central, ela é vista, também, como restritivo da
expressão mais legítima do indivíduo. (PILÃO, 2015)
A divisão proposta por Simmel (1950), entre dois princípios do
individualismo, contribui para a compreensão da ideologia poliamorista,
cercada por tensões entre as ênfases na “liberdade” e na “igualdade”. O
conceito poliamorista de “liberdade” refere-se basicamente à dimensão
“qualitativa”, apesar de apresentar aspectos que vão além da divisão proposta
por Simmel. O autor compreende as noções de diferenciação, singularidade,
espontaneidade e autonomia. Já o segundo grupo de ideais, reunidos na chave
da “igualdade”, engloba as noções de reciprocidade, equidade, mutualidade,
identidade e negociação. Em suas pesquisas sobre conjugalidade em camadas
médias urbanas, Heilborn (2004), argumenta que o “casal igualitário” é guiado
por duas forças contrárias: de um lado, o anseio por igualdade que implica
“compromisso” e busca de “indiferenciação” (“simbiose”) e, de outro, a
valorização da singularidade e da liberdade. No mesmo sentido, Féres-
Carneiro (2008), afirma ser esse o principal dilema da conjugalidade
contemporânea:

O fascínio e a dificuldade de ser casal residem no fato de esta


díade encerrar, ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas
41

individualidades e uma conjugalidade (...) Assim, o casal


contemporâneo é confrontado, o tempo todo, por duas forças
paradoxais. Se por um lado, os ideais individualistas estimulam
a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve
sustentar o crescimento e o desenvolvimento de cada um, por
outro, surge à necessidade de vivenciar a conjugalidade, a
realidade comum do casal, os desejos e projetos conjugais
(FÉRES-CARNEIRO, 2008, p.3).

Segundo Heilborn (2004), o casal moderno reivindica primazia do par


sobre outras relações, provocando uma sensação de “aprisionamento
sentimental” entre os cônjuges. A autora afirma que a relação dual é composta
por “cobranças”, “monitoramento” do fluxo de trocas e “reforma do outro” que
visam garantir a mutualidade entre os deveres, obrigações e concessões.
Nesse plano, as diferenças individuais em certas situações tendem a ser
entendidas, segundo a autora, como descompromisso do acordo de
cooperação mútua. Para a autora, essa valorização das noções de “unidade”,
“compromisso” e “igualdade” colide com o “sacrossanto valor da singularidade
irredutível do indivíduo. (HEILBORN, 2004, p.148),
Os poliamoristas pesquisados procuram desfazer o paradoxo entre
conjugalidade e individualidade, uma vez que afirmam ser possível
estabelecerem relações conjugais sendo “eles mesmos” e de renunciarem a
constituição de uma unidade com o parceiro. Neste sentido, o “nós” se
conjugaria com o verbo “estar” e não com o “ser”. Esse processo não significa,
entretanto, a negação do vínculo amoroso. Pelo contrário, o poliamor se
estabelece a partir do amparo de ligações “íntimas” e “profundas”, mas com a
oportunidade de que elas sejam feitas sem perda de autonomia. Os recursos
que buscam possibilitar a aliança entre amor e liberdade são a do rompimento
da regra de exclusividade conjugal, o desenvolvimento do sentimento de
“compersão”, além da crítica a atitudes percebidas como de “controle” e
“expectativa” e a promoção daquelas percebidas como sendo de “tolerância” e
“aceitação”. (PILÃO, 2015)
Nos mesmos depoimentos identificou-se que, enquanto as identidades
de gênero são questionadas, a identidade poliamorista atrai maior adesão, uma
explicação possível para essa diferença é que a identidade poliamorista é
entendida como libertadora, tendo como principal objetivo questionar as
limitações impostas pela mononormatividade, pela heteronormatividade e pelo
42

machismo. Afirmar-se poliamorista não é, nessa ótica, visto como aprisionar-


se, mas defender a libertação do amor, para que ele possa ser experimentado
independentemente dos sexos dos envolvidos e da existência de outros
relacionamentos. Outra tensão está em como conciliar individualidade e
conjugalidade.
Os poliamoristas pesquisados por Pilão (2012), defendem que, no
poliamor, não há contradição entre elas, uma vez que é possível estabelecer
um vínculo amoroso sem que isso gere impedimentos e constrangimentos aos
parceiros. É defendida a possibilidade de amar sendo “si mesmo”. Para tanto, é
fundamental o desenvolvimento do sentimento de compersão, atitude de
aceitação e de contentamento com a liberdade do parceiro. Como a ênfase dos
pesquisados está em suas individualidades, é recusado o ideal de fusão com o
amado, considerado uma alienação própria da monogamia. O dilema mais
fundamental da prática poliamorista se dá entre, de um lado, a valorização dos
princípios de espontaneidade e liberdade e, de outro, os de reciprocidade e
mutualidade. Em um extremo, defende-se que não devem existir regras nos
relacionamentos, que o amor deve ser espontâneo e que “reciprocidade é
comércio”. Em outro, prioriza-se a equidade nas trocas, argumentando que um
relacionamento deve ser negociado e consensual.
O termo “compersão” é uma tradução do neologismo em inglês
“compersion” e é considerado um “novo” sentimento, oposto ao ciúme e fruto
de um movimento de superação do sentimento de posse, a partir da aceitação
da liberdade de amar do(s) parceiro(s).
Pilão (2012), identifica que entre os perfis pesquisados certos
poliamoristas defendem a necessidade de definir algumas práticas e valores
como superiores a outros. São, em geral, as práticas mais igualitárias e
libertárias as consideradas melhores: como o poliamor e a bissexualidade. A
monogamia e o heterossexismo seriam “inferiores”. Por outro lado, há
participantes que negam qualquer forma de hierarquização, ressaltando a
igualdade entre todas as formas de conjugalidade e afetos. Uma hierarquia, em
geral, questionada é a entre amores, sendo defendida a possibilidade de
estabelecer ilimitados vínculos com igual intensidade. Assim, a afirmação
poliamorista de que todos são igualmente únicos promove uma aparente e
43

paradoxal conciliação entre os valores de igualdade e diferença, na qual são


ressaltadas as individualidades, mas recusadas as hierarquias. (PILÃO, 2012)

1.1 Internet

[...] “O novo assusta...” [...] segundo Lins (2008), quando o assunto é


relacionamento poliamoroso as pessoas ainda estranham o diferente. De
acordo com relatos de seus clientes, a maioria das pessoas ainda se assusta
diante dos relacionamentos virtuais “como é possível amar uma pessoa sem
poder vê-la, tocá-la, sentir seu cheiro?”. Para a autora essa estranheza ocorre
porque qualquer forma de pensar e viver diferentemente da que estamos
habituados gera insegurança e medo.
No mundo poliamorista a internet é utilizada para que as pessoas com
ideias afins se aproximem, troquem ideias e experiências, assim contribuindo
para o conhecimento e a visibilidade do movimento.
Estamos cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks,
etc. Tudo para disfarçar o antigo medo da solidão. O contato via rede social
tomou o lugar de boa parte das pessoas, cuja marca principal é a ausência de
comprometimento.
Segundo Polyamory Society (2017), desde seu surgimento, a internet é
o principal veículo de interação entre poliamoristas, o que favoreceu a
internacionalização de suas propostas. Hoje, são mais de 20 países, centenas
de grupos que destinam a trocar experiências pessoais sobre poliamor,
promover visibilidade e conquistar direitos, como a legalização das uniões
poliamorosas, sendo no Brasil o grupo “Poliamor e Diversidade” da rede social
Facebook, criada em 2012, com aproximadamente 23.000 membros, como o
grupo de discussões com maior número de adeptos atualmente, e o grupo
Polyamory Discussion, com mais de 32.000 membros de origem estrangeira.

A Internet, como telecomunicação, criou possibilidades de


relacionamento interpessoal diferentes das antigas cartas e do
não tão antigo telefone. Com o anonimato e a participação
voluntária em chats de conversação, foram iniciadas amizades
que evoluíram, em alguns casos, para relacionamentos íntimos
(COLETA et al, 2008. p.279).
44

Ainda nesse universo existem adeptos que procuram apenas por novos
relacionamentos, abertos a novas experiências, expõem suas intenções no
grupo e aguardam possíveis contatos. Após esse primeiro contato virtual, o
interesse se mostrando recíproco, os envolvidos marcam encontros
presenciais.

1.2 Encontros presenciais

O poliamor como movimento começou “tímido” assim como o movimento


homossexual com as paradas gays mundo a fora, ele se empoderou junto a
luta dos homossexuais por direitos civis, reivindicações de respeito, igualdade
e dignidade. Através das lutas das minorias, os adeptos do poliamor
embarcaram nesta jornada como a ocasião do momento de dizer está é a hora
do “poliamor sair do armário”, mostrar ao mundo uma nova forma de se amar e
que ela também é válida.
Segundo Lins (2016), o poliamor como movimento existe de maneira
visível e organizada nos Estados Unidos desde 1990, acompanhado de perto
por movimentos na Alemanha e no Reino Unido. Recentemente, a imprensa
começou a cobrir abertamente quer o movimento poliamor em si, quer
episódios que lhe são ligados. Em novembro de 2005, realizou-se a Primeira
Conferência Internacional sobre Poliamor em Hamburgo, Alemanha.
Para Lins (2016), foi através destas manifestações públicas, que
pequenos grupos criados em redes sociais na época, proporcionou a
visibilidade dessa forma de amar que a anos tem adormecido e se escondido
pelos seus adeptos diante da sociedade. Diante deste marco inicial, surgiram
cada vez mais pessoas adeptas desta prática amorosa e a necessidade de
organizar eventos para mostrar à sociedade e para o mundo que a relação
poliamorista é tão valida quanto à relação monogâmica. A ideia é dar
visibilidade aos praticantes do poliamor, mostrando que são pessoas comuns.
No Brasil há vários grupos na rede social do Facebook para marcar
estes tipos de encontro presencial como congressos, poliencontros, palestras e
passeatas. Um destes grupos que se intitula “Pratique Poliamor Rio de
Janeiro”, é um grupo que pretende reunir os poliamoristas e simpatizantes
desse estado e de outros lugares do país, de maneira presencial e virtual para
45

trocar experiências, pensamentos e ideias.


Segundo os fundadores da Pratique Poliamor RJ o grupo foi fundado em
2011, e tem como seus pilares: apoio, conhecimento e militância. Para os
participantes do grupo, a questão do apoio é ampla e ocorre desde a troca de
conselho e experiências em encontros virtuais ou presenciais, como também
no grupo de amigos que vão se formando, “a militância transparece em nossas
ações que visam divulgar e desmistificar o poliamor, lutar contra a polifobia e
também contra todo e qualquer tipo de opressão”. Já o ponto sobre
conhecimento visa esclarecer e informar sobre o tema do poliamor como um
todo. A intenção desse grupo, como de outros afins é contribuir para a questão
do conhecimento através de “poliencontros”, atualmente existe um grande
número de pessoas curiosas e/ou interessadas sobre poliamor, mas que
encontram por aí mais desinformação do que conteúdo sério sobre o assunto.
Nestes eventos a ideia principal é a troca de experiências, conhecimentos
teóricos, política e socialização.
Abaixo um exemplo da agenda do encontro, descrição detalhada:
Quadro 1: Roda de Debate

Roda de Debate:
Temática principal: Amor Romântico.
Espaço para conversas, esclarecimento de dúvidas, relatos de
experiências. Conceito de Amor Romântico – suas origens,
consequências, formas, etc – e como os adeptos polis se relacionam
com ele.
Social:
Momento de descontração, de conversas “livres”, onde os presentes
podem se conhecer melhor, fortalecer seus laços e socializar.
OBSERVAÇÃO: O Poliencontro é aberto ao público poliamorista,
simpatizantes e curiosos.

Fonte: https://www.facebook.com/PratiquePoliamorRj/

1.3 O movimento poliamorista: “liberdade, igualdade, honestidade e amor”.


46

A página na internet é ilustrada com uma passeata em Londres dos


adeptos dessa prática amorosa, com uma grande faixa na qual se lê:
Polyamory. No Google atualmente são encontrados 2.480.000 resultados para
a palavra Polyamory e 599.000 para poliamor.
Anteriormente já aconteciam inúmeras movimentações nessa área,
segundo Araguaia (2013), o movimento surgiu na década de oitenta nos
Estados Unidos, com sua primeira conferência internacional sendo realizada
em 2005, em Hamburgo – Alemanha. Anteriormente, voltando para a década
de 1960 e mais da metade da próxima, tivemos significativas alterações
culturais e comportamentais que levaram a uma nova fase da sexualidade
humana. Principalmente a temas relacionados com a sexualidade feminina,
aspectos esses que até hoje estão em vigor, mantendo sua força por gerações
e sendo objeto de estudo para diversas áreas.
Para Azevedo (2005), o movimento feminista, reforçado por fatores
externos, de um movimento histórico-cultural e comportamental que colaborou
em seus desdobramentos na denominada Revolução Sexual, em grande parte
resultante da liberação da comercialização, em 1960 nos Estados Unidos, de
um método seguro para evitar a gravidez, a pílula anticoncepcional. Disponível
nas farmácias brasileiras dois anos depois, a popularização do medicamento
foi questão de tempo e era possível então a prática do sexo pelo prazer e não
apenas para a reprodução.
Lins; Braga (2008), relata que o movimento hippie também teve uma
grande importância para a consolidação da revolução sexual. Nas décadas de
1960 e 1970, muitos jovens não contentes com os valores impostos pela
sociedade americana capitalista, iniciaram um novo estilo de vida. Procuravam
um novo padrão de comportamento, sempre priorizando a paz e o amor.
Apresentavam novos ideais em relação à emancipação sexual, ao casamento e
as regras impostas pela sociedade vigente. Momento histórico onde o conceito
poliamorista passou a fazer parte do estilo de vida dessas pessoas,
primeiramente como forma de protesto, em seguida como opção de vida.
A concepção moderna de sexualidade, segundo Foucault (1988),
designa uma série de fenômenos que englobam tanto os mecanismos
biológicos da reprodução como as variantes individuais e sociais do
comportamento, a instauração de regras e normas apoiadas em instituições
47

religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas, e também as mudanças no


modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor à sua conduta,
seus deveres, prazeres, sentimentos, sensações e sonhos.
Ainda segundo Foucault (1988), pode-se pensar a sexualidade como
uma construção social que engloba o conjunto dos efeitos produzidos nos
corpos, nos comportamentos e nas relações sociais. Ao longo da história, a
atividade sexual sempre foi objeto de preocupação moral e, como tal,
submetida a dispositivos de controle das práticas e comportamentos sexuais.
Como esses dispositivos são construídos com base nos valores e ideologias
predominantes na sociedade, eles assumem formas diferentes à medida que a
sociedade muda.
Segundo Barbosa (2011),

A liberdade sexual e afetiva integra direitos sexuais básicos, no


entanto, aproxima-se do exercício no meio social somente
quando se ajusta ao padrão heteronormativo, dispositivo cuja
base é o casal heterossexual monogâmico.

No questionamento a esta norma e na luta por respeito e dignidade


surgem os movimentos de afirmação pela multiplicidade sexual e afetiva. É o
caso do Poliamor, 1980 (EUA), e da Rede Relações Livres (RLI), 2001,
(RS/Brasil).
Segundo Foucault, (2005, p.286), “a discussão sobre direitos sexuais
não pode prescindir de uma análise sobre os processos históricos que
constituíram o que chamamos de sexualidade”. No século XVIII, a sociedade
europeia empreende um avanço imperialista sobre a África, a América e a Ásia
e desencadeia um processo de disciplinarização e regulamentação,
simultâneos, pelo qual o biológico, em geral, e a sexualidade, em particular,
são submetidos ao controle do Estado, individual e coletivamente. Trata-se de
uma sociedade de normalização para exercer um biopoder.
Ainda, de acordo com o autor acima citado a biopolítica, cujas bases
estão alicerçadas em disciplina e regulamentação social, onde o saber-poder
age no indivíduo e na população, articula processos biológicos e políticos de
disciplina e regulamentação, e contribui para a emergência das normas que
48

podem “[...] tanto se aplicar a um corpo que se quer disciplinar, quanto a uma
população que se quer regulamentar”.
Pensando nesse contexto, pode-se dizer que o movimento poliamorista
surge em um momento de construção de novos valores e ideais em uma
sociedade ocidental erguida não somente por aspectos legais jurídicos e
capitalistas, mas amplamente alicerçada em questões de afetividade,
liberdade, igualdade e respeito nos relacionamentos amorosos.
Durante a pesquisa bibliográfica sobre o movimento poliamorista, as
informações mais completas foram obtidas através do site
http://www.polyamorysociety.org/page15a.html, onde se obteve mais detalhes
sobre a “Sociedade Poliamorosa”.
Segundo o site oficial “Polyamory Society” é uma organização sem fins
lucrativos que foi fundada para apoiar, defender e promover indivíduos
poliamoristas, famílias poliamoristas, crianças oriundas de relacionamentos
poliamoristas e instituições poliamorosas em todo o mundo. A “Polyamory
Society” foi criada em 6 de junho de 1996 em Washington DC, por um grupo de
poliamantes empenhados em ajudar as pessoas que sofriam injustiças sociais
decorrentes de suas opções amorosas. Nos dias 6, 7 e 8 de setembro de 1996,
na Pensilvânia, a estrutura organizacional e as diretrizes de associação foram
criadas, marcando a fundação da “Polyamory Society”.
Ainda segundo a página, a sociedade foi criada para promover
mudanças sociais positivas para a instituição do Poliamor. Isso não quer dizer
que já não existissem alguns grupos eficientes que trabalhavam para mudar o
monopólio monogâmico em série. O principal objetivo da “Polyamory Society” é
apoiar a igualdade política, educacional, social e econômica de poliamoristas e
polifamilias em todo o mundo. A Sociedade está comprometida com a
realização através da não violência e depende da imprensa, da petição, da
cédula e dos tribunais, e é persistente no uso da persuasão jurídica e moral,
mesmo em face da hostilidade violenta.
A história recente em todos os grandes movimentos do século XX prova
que as culturas vigentes permitirão a opressão das subculturas até que a
própria subcultura oprimida defenda a si mesma. Usando como exemplo o
movimento homoafetivo, a sociedade desenvolveu vários grupos e
organizações para representar a posição poliamorista de seus integrantes. O
49

movimento poliamorista é muito jovem e alguns poliativistas, poliamoristas e


polifamilias sentiram que o movimento precisava de um símbolo, veículo e voz
organizacionais extremamente visíveis para representar o ideal Poliamorista.
Diversos sites, publicações, artigos e livros recorrem a “Sociedade
Poliamor” para esclarecer dúvidas sobre o movimento. No Brasil a procura se
concentra nas páginas do Facebook intitulada “Poliamor Brasil”. Tudo indica
que a tendência nas relações amorosas é não haver modelos, ou seja, a
escolha individual pela melhor forma de viver.

1.4 Desafios enfrentados: aspectos psicológicos, sexuais e sociais

Segundo Anapol (2013), para alguns indivíduos, a monogamia é uma


escolha melhor, para outros, o poliamorismo é provavelmente um ajuste
melhor. Se você não tem certeza do que funcionaria para você, sugiro que
descubra antes de se envolver em um relacionamento comprometido, se for
possível, pois a compatibilidade é o nome do jogo.
Para alguns adeptos existem algumas desvantagens nos
relacionamentos poliamorosos como a necessidade de ter a habilidade para a
negociação entre diversas pessoas, aprender a lidar com o repúdio e
incredulidade social, e a questão do ciúme e o sentimento de posse como duas
das principais dificuldades a serem enfrentadas.
No poliamor não existe o conceito de traição. Traição, na opinião dos
praticantes do poliamor, é sinônimo de posse, e amor verdadeiro não requer
possessividade e sim liberdade. O fato de o parceiro vir a se sentir atraído ou
até mesmo amar outra pessoa não significa que esteja deixando de amar seu
primeiro companheiro e sim que encontrou em outra pessoa outra
característica que lhe agrada e que o complementa, esse sentimento de posse
pode trazer muito sofrimento para a relação. A maioria dos humanos,
independentemente da orientação sexual, não são imunes aos ciúmes.
Em artigo publicado no site “A Mente é Maravilhosa”, intitulado: O que é
Poliamor? Benefícios e Dificuldades (2015), o autor listou algumas situações
comuns para os adeptos:
50

a) O ciúme: o ciúme é inevitável até que a pessoa aprenda a dizer


as coisas que lhe incomodam. Talvez incomode olhar como as
outras duas pessoas se beijam, mas se não dissermos nada, o
problema nunca poderá ser resolvido ou comentado. Em algumas
situações pode ser muito bom sentir ciúme, mas devemos
aprender a administrá-lo e conhecer a sua origem.
b) A comparação: muitas vezes temos a tendência a nos
compararmos com os outros em relação à beleza, inteligência,
etc. Mas isso é absurdo. O que cada pessoa gosta em outra é
único. O relacionamento amoroso é diferente com cada pessoa.
c) A possibilidade de formar uma família: o poliamor significa que é
possível formar uma família e conviver com várias pessoas. Não é
uma família no sentido tradicional, e sim um novo conceito de
família diferente e mais aberto que pode trazer felicidade do
mesmo jeito.
d) Os términos: o término de uma relação com uma das pessoas que
formam um relacionamento poliamoroso é tão duro quanto o de
qualquer outro. O fato de se relacionar com várias pessoas não
quer dizer que terminar com uma não doa. Se gostarmos de uma
pessoa pelo que ela é, doerá perdê-la, independentemente de
o relacionamento ser monogâmico ou poliamoroso.
e) A aceitação dos outros: uma das dificuldades que podemos
encontrar na hora de esclarecer o tipo de relacionamento que
queremos é explicar aos outros como desejamos que seja a
relação. Por um lado, quando conhecemos alguém e queremos
ter uma relação poliamorosa, a primeira coisa a fazer é explicar
isso para que fique bem claro.
Sentimentos se apresentam de forma diferente para cada indivíduo, e as
emoções despertadas também são diferentes, embora a situação seja a
mesma. Por esta razão, cada pessoa tem uma maneira diferente de sentir
prazer, já que o que faz com que algumas pessoas tenham prazer pode causar
descontentamento para outras.
Os estudos do psicanalista argentino Ernesto Sinatra (apud, ZANON,
2014), contribuem para esse respectivo trabalho quando traz a tona o seguinte
51

discurso: “o imperativo da civilização atual tornou-se “deves gozar”. Sob essa


ótica, hoje se observam novas categorias de relações amorosas, ou seja,
lésbicas, gays, bissexuais ou transexuais que fazem parte de uma nova
implosão de gênero no século XXI, de acordo com o mesmo autor. Novas
maneiras de se obter prazer emergem como um sintoma que resiste às leis de
um Estado movido pelo preconceito. O poliamor faz parte dessa problemática,
pois é “o único relacionamento que afirma ser possível e preferível que todos
amem a mais de uma pessoa ao mesmo tempo” (PILÃO; GOLDEMBERG,
2012, p. 68).
Tendo em vista que a problemática é o conceito milenar de família
monogâmica heteronormativa em decadência, estudos sugerem novos arranjos
a se formarem, salientando que os modelos tradicionais estão sendo
submetidos a um novo anseio social que prioriza a satisfação como um desejo
predominante, assim a resistência sociopolítica e religiosa aparecem como
fortes marcadores nos conflitos dos indivíduos poliamoristas.
Segundo Anapol (2012), “não é novidade que muitos adultos projetem
seus medos e suas preocupações moralistas para seus filhos”. Em seu
livro, “Poliamor no século 21: amor e intimidade com múltiplos parceiros”, a
autora relata que seus clientes por diversas vezes a questionam sobre o
melhor momento para compartilhar com seus filhos sobre seu estilo de vida
não monogâmico, e ela sempre os encoraja a responder com sinceridade de
uma maneira apropriada para a idade. As crianças pequenas realmente não
querem ou precisam saber muito sobre a vida sexual de seus pais, mas se os
pais orientam seus filhos com crenças monógamas, essas crianças não vão
reagir bem quando finalmente descobrem que mamãe e papai não estão
praticando o que eles estão pregando. Crianças e adolescentes se beneficiam
grandemente por serem frutos de relacionamentos poliafetivos, devido ao apoio
de uma variedade de adultos, essas crianças desde que positivamente
orientadas se desenvolvem com uma maior habilidade para amar e ser amado.
Poliamor não é uma solução para um relacionamento flutuante, mas
pode resolver problemas de desejo sexual desigual ou diferente em um
relacionamento saudável e feliz. Um indivíduo pode encontrar aspectos em
uma segunda pessoa que são interessantes, mas isso não é sinal de que o
sentimento pela primeira pessoal terminou.
52

Ainda, segundo Anapol (2012), “O Poliamor requer alfabetização


emocional, bem como a capacidade de se comunicar bem, estabelecer e
respeitar limites e manter acordos”. Além dessas habilidades básicas, o
poliamor também é uma oportunidade muito rica para abordar padrões
disfuncionais herdados ou adquiridos na infância. Ao contrário da monogamia
que limita suas oportunidades de projeção a um parceiro, o poliamorismo
oferece oportunidades para mudar os padrões de relacionamento com o
mesmo gênero e parceiros de gênero opostos. Por exemplo, um homem que
teve que competir com o pai (ou um irmão) para a atenção da mãe é
susceptível a ver essa situação ressurgir se sua parceira tiver outro
amante. Pode parecer que sua questão é com a mulher, mas a fonte de seu
problema é a sua posição competitiva com outros homens. Ou se ele tem duas
mulheres parceiras que cada uma delas aprendeu de suas mães que os
homens não são confiáveis e fracos, eles podem se unirem a ele e recriar o
medo da infância de uma mãe irritada e rejeitada, em geral, apontados como
causados pela manutenção de comportamentos e sentimentos monogâmicos.
53

CAPÍTULO III

O AMOR

1 A FAMÍLIA

Segundo Engels (2002), a história da família começa de fato em 1861


com o “Direito Materno de Bachofen”. Nessa obra o autor formula algumas
teses, onde era considerada a existência primitiva de seres humanos que
viveram em promiscuidade sexual, onde a filiação era conhecida apenas pela
linhagem materna, e em consequência as mulheres gozavam de grande apreço
e respeito.
Engels refere-se à descoberta de Bachofen (1861), explicando que: até
esse período as ciências históricas ainda se achavam, sob a influência dos
Cinco Livros de Moisés. A forma patriarcal de família retratada nesses livros,
não somente era admitida como a mais antiga, como também se identificava
com a família burguesa de hoje – descontando apenas a poligamia – nota-se
que de acordo com essa identificação era como se a família não tivesse sofrido
evolução alguma através da história.
A partir da obra de Bachofen, inicia-se uma nova visão de família e
novos conteúdos passaram a ser publicado, indicando a real evolução do
conceito de família.
O sucessor de Bachofen foi o jurista John F. MacLennam, o qual
descreveu costumes distintos em povos selvagens: o matrimônio através do
rapto para determinadas tribos (exógamas), e o casamento possível dentro da
própria tribo (endógamas). Maclennam descreveu além dos raptos, o
reconhecimento de três formas de casamentos: sendo elas a poligamia, a
poliandria e a monogamia. Em tempos posteriores, verificou-se a prática em
que vários homens possuíam em comum várias mulheres. Esse fato histórico
fora denominado como sendo comunal marriage – casamento grupal.
(BAZZANELLA; BORGUEZAN, 2014).
A análise e interpretação de Engels (2002) permitem constatar que
através dos séculos a família foi mudando, bem como as suas formas
54

construção e de dissolução, ajustando-se nesse sentido a realidade das


necessidades apresentadas pelo próprio grupo e pela sociedade de um modo
geral.
Na Europa pré-moderna, por volta do século XII, os casamentos eram
contraídos não sobre o alicerce da mútua atração sexual, mas sim da situação
econômica. De acordo com Carvalho (1999), durante a Idade Média, o
casamento era produto de uma negociação entre os nobres a partir de
interesses econômicos e sociais, uma troca entre as famílias para favorecer os
patrimônios.
Segundo Costa (1998), a prática de transmissão da herança na Europa
do século XII deixava sem poder e propriedades os filhos mais jovens dos
senhores feudais, uma vez que essa transmissão lateral da herança, e não
vertical, fazia com que os aparentados do herdeiro possuíssem direito aos bens
que os descendentes direto do senhor feudal não tinham.
Surge assim uma classe de jovens nobres que para manter a posição
aristocrática e a posse de terras, a única saída era casar com jovens ricas. E
assim, desse grupo dos “sem herança” surgem os cavaleiros e o chamado
amor cortês predecessor do amor romântico. Ainda de acordo com Costa
(1998), era uma forma aceitável de rebeldia contra os costumes sociais
dominantes. No século XII, o casamento era para os senhores um puro e
simples meio de enriquecimento e de anexação de terras oferecidas em dote
ou prometidas em herança.
A indissolubilidade da união conjugal inseriu-se no cenário das
sociedades ocidentais apenas a partir do século XIII. Até então a Igreja não
intervinha no casamento dos nobres, era apenas um contrato entre as famílias.
Caso a mulher não procriasse, poderia ser devolvida à família ou colocada em
um convento. O casamento era uma instituição com vistas à estabilidade de
uma sociedade, desempenhando apenas uma função reprodutiva e de união
de bens e riquezas (LINS, 2008).
Foi somente no século XIII, após a transformação do matrimônio em
sacramento, que se instituiu o casamento monogâmico e inquebrantável. Na
idade média e com a influência do cristianismo, o casamento passou a ser
encarado como um sacramento em que intervinha a vontade divina revestia-se
de forma canônica e um ministro de culto autorizava a celebração. Apenas com
55

o advento do Concílio de Trento do século XVI o sacerdote passou a intervir.


Após a Revolução Francesa, no final do século XVIII passou-se a adotar
a concepção do casamento como um ato meramente civil, um contrato,
baseado na vontade dos nubentes, sem estar sujeito à intervenção obrigatória
da Igreja (LINS, 2008). Deste modo, com a substituição da Igreja pelo Estado,
este manteve o princípio da indissolubilidade. O molde conjugal monogâmico e
insolúvel é o grande fato da história da sexualidade ocidental.
Segundo publicações de Santiago (2014 apud EASTON; HARDY, 2009,
p. 13) percebe-se que:

A ideia de um relacionamento monogâmico que dure pela vida


toda como o único objetivo adequado no campo sentimental
está tão profundamente enraizada na cultura do ocidente que
se torna quase invisível: nós nos restringimos a essas crenças
mesmo sem saber se acreditamos nela. E essa noção sempre
circunscreve o ser humano, seus valores, desejos, mitos e
expectativas, sem que por ele seja notada, até que um dia nela
tropece. (SANTIAGO, 2014 apud EASTON; HARDY, 2009, p.
13)

Os relacionamentos monogâmicos, vividos pela maioria das pessoas em


nossa sociedade, compartilham dos ideais e fantasias do amor romântico. Um
casal, quando compartilha dos ideais românticos, pode ser visto como duas
metades, cujos objetivos de vida é encontrar quem os complete, pelo amor,
para que possam alcançar a verdadeira felicidade. (LINS, 2007).
“O casamento moderno não é mais essencial para a sobrevivência,
tendo como objetivos o conforto, a segurança, o sexo, a intimidade e a conexão
emocional” (EASTON; HARDY, 2009, p. 14). A realidade econômica se
modificou significativamente, de forma que a maioria das pessoas pode deixar
os relacionamentos em que não estão satisfeitas e não passarão por
necessidades financeiras por essa atitude
Nota-se a necessidade de buscar a satisfação sexual e afetiva, e esses
sentimentos pode estar presente de diversas formas além do casamento. Se
antes, a família poderia ser considerada a “célula germinal da civilização”,
segundo o posicionamento de Freud, hoje ela é um projeto que desconstrói a
autoridade paternalista e questiona uma nova ordem. São as necessidades do
sujeito contemporâneo que demarcam tais injunções.
56

Segundo Faco e Melchiori (2009) em seus trabalhos encontramos que: a


família caracteriza um ambiente de socialização, de procura coletiva de
subterfúgios de sobrevivência, além de ser local para a prática da cidadania,
cenário para o desenvolvimento individual e grupal de seus membros, através
de arranjos livres apresentados ou das novas estruturas que vêm se formando.
Segundo Minuchin (1985), a família é um complexo sistema de
organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas ligadas
diretamente às transformações da sociedade, em busca da melhor adaptação
possível para a sobrevivência de seus membros e da instituição como um todo.
O sistema familiar muda à medida que a sociedade muda, e todos os seus
membros podem ser afetados por pressões interna e externa, fazendo que ela
se modifique com a finalidade de assegurar a continuidade e o crescimento
psicossocial de seus membros.
Hodkin et al. (1996 apud FACO ; MELCHIORI, 1999) também acreditam
que para definir o que é família, é necessário estudar o que as pessoas
pensam a esse respeito, pois os limites da família são definidos pelos laços de
afetividade e intimidade e não somente pelo parentesco por consanguinidade e
pelo sistema legal que rege as relações familiares.
Segundo Dessen e Braz (2005), ela é um dos principais contextos de
socialização dos indivíduos e, portanto, possui um papel fundamental para a
compreensão do desenvolvimento humano, que por sua vez é um processo em
constante transformação, sendo multideterminado por fatores do próprio
indivíduo e por aspectos mais amplos do contexto social no qual estão
inseridos.
Para Rios (2012), o marco histórico, no que diz respeito à legislação, foi
à promulgação da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 (antigo Código Civil).
Nesse código, “família legítima” era definida apenas pelo casamento oficial. Em
janeiro de 2003, começou a vigorar o Novo Código Civil, que incorporou uma
série de novidades, sendo que a definição de família passou a abranger as
unidades formadas por casamento, união estável ou comunidade de qualquer
genitor e descendentes.
O casamento passou a ser “comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges” Faco; Melchiori (1999 apud
CAHALIL, 2003, p.467); os filhos adotados ou concebidos fora do casamento
57

passaram a ter direitos idênticos aos dos nascidos dentro do matrimônio; a


palavra “pessoa” substituiu “homem” e o “pátrio poder” que o pai exercia sobre
os filhos passou a ser “poder familiar” e atribuído também à mãe. A Lei do
Divórcio, de 1977, atribuía a guarda dos filhos ao cônjuge que não tivesse
provocado a separação ou, não havendo acordo, à mãe. Hoje, é concedido a
“quem revelar melhores condições para exercê-la” (CAHALIL, 2003, p.480).
Portanto, com o passar do tempo o modelo familiar mudou, sendo
influenciado pelo ideal de democracia, igualdade e dignidade da pessoa
humana. Assim o modelo patriarcal foi abandonado, sendo empregado um
modelo igualitário, onde todos os membros devem ter suas necessidades e
direitos atendidos, sendo que a busca da felicidade passou a ser ponto
indispensável no ambiente familiar. A entidade familiar é a manifestação de
vontade de constituir família, e levaremos sempre em consideração que o
conceito de família atual é afetivo.

1.1 Como se constituem os relacionamentos

Os valores de “liberdade”, “igualdade”, “honestidade” e “amor” são o


princípio de um relacionamento poliamorista e justificam essa opção. Assim
como usamos esses elementos para diferenciar e hierarquizar as diversas
modalidades conjugais. Para Pilão e Goldenberg (2012) a construção da
identidade poliamorista não se formula em termos fixos. Por um lado o poliamor
representa apenas um conjunto de ideais amorosos, podendo inclusive aqueles
que se identificam como adeptos jamais o terem vivido.
Uma das principais personagens nesse mundo poliamorista é a
psicóloga norte-americana Deborah Anapol, responsável pelo desenvolvimento
e consolidação do poliamor em todo o mundo. Com efeito, considera-se
importante mencionar o sentido dado por ela em suas obras (2010, p.1,
tradução nossa):

[…] Eu uso a palavra poliamor para descrever todo o conjunto


de estilos de amor que surgem a partir do entendimento de que
o amor não pode ser obrigado ou impedido de fluir em qualquer
direção particular. O amor, que pode se expandir,
frequentemente cresce para incluir um número de pessoas.
Mas, para mim, o poliamor tem mais relação com a atitude
58

interna de deixar o amor evoluir sem expectativas ou


demandas [...] do que com o número de parceiros envolvidos.
(ANAPOL, 2010, p.1)

Ainda segundo Pilão e Goldenberg (2012), acredita-se que no “Poliamor


se é mais honesto consigo mesmo, já que não é necessário se moldar ao(s)
parceiro(s) como nas demais formas de conjugalidade, que têm mais regras,
expectativas e ciúmes”. É da mais fundamental importância que todos os
envolvidos na relação estejam cientes e de acordo, por livre e espontânea
vontade, com a configuração que ela assume ou assumirá. Honestidade e
transparência são conteúdos (AMORES LIVRES, 2013).
Os parceiros envolvidos decidem como será o relacionamento por meio
de muito diálogo, deixando claro a todo o momento o que é confortável ou
seguro para cada um, e que concessões e demandas serão aceitas, isto é o
que eles chamam de “acordos”.
Redes de relacionamentos interconectados, onde uma pessoa em
particular pode ter relações de diversas naturezas com diversas pessoas, em
geral esses relacionamentos se iniciam em sites e grupos da internet, podendo
ou não evoluir para encontros presenciais e possíveis relacionamentos mais
duradouros.
É necessária uma total sinceridade entre os membros para viver de
forma satisfatória uma relação poliamorosa. No blog Poliamores, são
apresentadas algumas possibilidades de relações poliamoristas como o
casamento ou relação em grupo quando todos os membros têm relações
amorosas entre si. A “rede de relacionamentos interconectados”, quando cada
um tem relacionamentos poliamoristas distintos dos parceiros, ou seja, os
namorados de uma pessoa não o são entre si. Há ainda as relações mono/poli,
quando um dos parceiros é poliamorista e o outro é monogâmico. O
poliamorista mantém relacionamentos paralelos enquanto o monogâmico, por
opção, tem só um parceiro.
O risco de “contaminação” monogâmica é permanente, em especial
porque os poliamoristas já foram monogâmicos. Sentir ciúmes, competir por
amores e buscar torná-los exclusivos representam os principais perigos para
ultrapassar as “margens”.
A construção da identidade poliamorista não se formula de um dia para
59

outro, alguns adeptos que fazem parte do blog Poliamores argumentam que
muitas pessoas não se sentiriam bem em uma relação poliamorosa “Isso deve
ser compreendido e não pensar que ela age assim porque está sendo imposta
ou é insegura ou ciumenta. Na visão destes praticantes, a monogamia não é
errada em nenhum sentido, apenas acreditam que “relacionamentos diferentes
atendem a pessoas de necessidades diferentes”. Para os adeptos do poliamor
a lealdade vale mais do que a tradicional fidelidade sexual e afetiva. E se de
acordo com pesquisas Se metade das pessoas traem, existe alguma coisa
errada com a monogamia” (PILÃO; GOLDENBERG, 2012).
Esse amor citado pelos poliamoristas é um amor similar ao que amigos
compartilham. Sem cobranças e exclusividade, sem o sentimento de posse. A
busca pela realização individual é como um impulso para esse tipo de amor.
Nesse tipo de relacionamento você pode ser apenas você, sem ser o que o
outro espera. Assim o ciúme, o medo e a insegurança não existiriam, porque
uma pessoa não é trocada pela outra, porque todos compartilham de forma leal
as experiências ao mesmo tempo.
Embora ainda tão estigmatizados, é fato que os relacionamentos não
monogâmicos têm despertado cada vez mais a atenção da sociedade.
Podemos confirmar isso pelas pesquisas no “Google” onde a procura pelo
termo poliamor aumentou muito nos últimos anos.
O poliamor é considerado um vínculo mais livre do que a monogamia, o
relacionamento aberto e o swing, uma vez que o estabelecimento de um
relacionamento não é impedimento para outros.
Essas formações poliamorosas se apresentam de diversas formas e
configurações, sendo que podem ser modificadas de acordo com o desejo de
seus integrantes, prevalecendo sempre a igualdade, a honestidade e o
consentimento em suas interações, condição imprescindível para um
poliamorista.
No Blog “Poliamores”, encontra-se de forma muito elucidativa as
possíveis formações: em grupo, interconectados e mono/poli, como explica a
figura abaixo:

Figura 1: Formações Amorosas


60

Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/

Na figura a seguir é possível identificar os formatos básicos de relações


poliamoristas: trisal, formato em V e formato em T:

Figura 2: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas

Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/

Dando sequência, a próxima figura demonstra formações poliamorosas


mais complexas: quarteto, quadrado e quadra em N.

Figura 3: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas


61

Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/

Os modelos citados dividem-se em “aberto” e “fechado”. No primeiro


caso, existe a possibilidade de novos amores e, no segundo, é praticada a
“polifidelidade”, restringindo as experiências amorosas.

Figura 4: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas

Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/

Ainda no blog “Poliamores” encontrou-se referência à outra possibilidade


de demarcar o formato das relações a partir das letras F para feminino e M
para masculino. Uma relação F x M x M x F ocorre quando as mulheres se
relacionam cada uma com um homem, e estes se relacionam entre si. No
formato F x M x F x M, os homens se relacionam com as duas mulheres e não
62

há relações homossexuais. Outros formatos possíveis são o M x M x F x F e o


M x F x F x M.
De acordo com Anapol (2010, p. 05), para aqueles que criaram e
propagaram o poliamor, o modo de relacionamento é menos importante do que
o entendimento de seus valores. A liberdade para se entregar e permitir que o
amor estabeleça a forma dos relacionamentos íntimos é a essência do
poliamor. Ele se funda na decisão de honrar as mais diversas maneiras que um
relacionamento amoroso pode se manifestar, sendo capaz de assumir variadas
formas.
Adeptos afirmam que a honestidade entre os parceiros é o principal valor
poliamorista e que relacionamentos múltiplos e simultâneos sempre foi uma
realidade para o ser humano. Sendo que a única diferença entre os infiéis
monogâmicos e os poliamoristas é que estes discutem e apresentam um
discurso critico a exclusividade amorosa e sexual e os primeiros preferem
colocar “no outro” a responsabilidade por uma infidelidade.
O termo “compersão” é uma tradução do neologismo em inglês
“compersion” e é considerado um “novo” sentimento, oposto ao ciúme e fruto
de um movimento de superação do sentimento de posse, a partir da aceitação
da liberdade de amar do(s) parceiro(s), (PILÃO, 2012).
Para Pilão (2012), a “liberdade plena”, ambicionada por alguns
poliamoristas, sem entraves sociais, regras e limitações, implica que os
relacionamentos sejam baseados exclusivamente na vontade de cada um dos
envolvidos, sem constrangimentos ao livre amar.
Independente da formação vivenciada pelos indivíduos pode-se dizer
que o poliamor é uma libertação da regra de exclusividade do ser amado. Lins
(2008) acredita que estamos diante da única forma de amor que sobreviverá ao
individualismo reinante na sociedade atual.

1.2 A transição: da monogamia ao poliamor

Assim como em outras dicotomias, o Poliamor depende de seu oposto


para fazer sentido, uma vez que se constitui como uma série de discursos de
critica a exclusividade afetivo-sexual (PILÃO, 2012). Adeptos acreditam que
existe uma superioridade nesse tipo de relação, pois se assumindo uma
63

relação poliamorosa, deixaria de existir muitos problemas que acontecem nas


relações monogâmicas, como por exemplo, o ciúme, a posse e a exclusividade.
Como já foi dito por diversas vezes nesse trabalho, o Poliamor é um
modelo de relacionamento não monogâmico que abarca diversas formas e
arranjos possíveis de relação, mas possui algumas características básicas que
devem ser priorizadas pelos adeptos: não exclusividade sexual e/ou afetiva,
consensualidade, honestidade e igualdade entre todas as partes envolvidas.
Para Carvalho (2017), responsável pelo blog 3P (Philosofia, Política e
Poliamor), “a sociedade ainda é muito hipócrita, existe uma ditadura da
monogamia, que a gente chama de polifobia. É difícil encarar isso deforma
natural, pública, aberta. Muitos precisam de ajuda nesse trajeto”.
O objetivo de quem encara essa transição é se libertar das formas de
relacionamentos limitantes. Quem pratica o poliamor, reconhece que é
necessária muita estabilidade emocional. Há quem goste, há quem não.
(CARVALHO, 2017)
O poliamorismo surge, justamente, como mecanismo para o combate da
mononormatividade – a ideia de que as relações monogâmicas são as únicas
certas e naturalmente inseridas no contexto das relações humanas
(CARDOSO, 2012).
Pode-se dizer que não há uma receita pronta de orientações para quem
quer se tornar um poliamorista, e isso deve depender das subjetividades de
cada indivíduo ou de particularidades em um relacionamento para cada casal
monogâmico. Portanto o que se observa é a existência de algumas questões
importantes que devem servir como ponto de reflexão para todos que estão
nesse processo.
Para as pessoas solteiras percebe-se que a transição acontece de forma
mais tranquila e harmoniosa, o ideal seria iniciar uma relação falando
francamente sobre a opção poliamorosa. Já para os casais estabelecidos,
acordos são necessários. Carvalho (2017), refere que abrir uma relação não
significa deixar de ter "regras" no relacionamento. Ter um relacionamento não
mono não é deixar de se importar com o outro e viver focado em seus desejos
e vontades, é entender que, apesar de você amar e querer estar junto ao
seu/sua parceiro, o desejo e o afeto não são limitados e que viver mais de uma
relação não implica negligenciar sua relação primária.
64

Analisar a real intenção do casal ao decidir abrir a relação, pois o


poliamor não deve servir como tábua de salvação para um relacionamento em
crise. Caso seja esse o motivo, muito provavelmente a relação irá findar de
vez. Para acontecer à transição de forma harmoniosa é necessário muito
diálogo, respeito e compreensão, se isso não acontecia na relação
monogâmica, não se deve esperar um milagre quando optarem pelo
poliamorismo.
Segundo Rams (2017), há uma sexualidade exclusiva para todas as
pessoas que determina como elas vivem o prazer, mas existem tantas
sexualidades quanto existem indivíduos, cada um com suas peculiaridades,
que são determinadas pela personalidade, pelo conhecimento e pela
experiência individual. Entendendo isso, podemos nos livrar do considerado
como “normal” e, assim, levar a sexualidade à nossa própria maneira, sem
medo e sem culpa, explorando e desfrutando de nossa sexualidade.
Bauman (2004), diz que sem humildade e coragem não há amor. Essas
duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e continuas, quando se
ingressa numa terra inexplorada e não mapeada. E é a esse território que o
amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos.
Humildade para conseguir visualizar seus próprios limites e os limites de
seus parceiros, entender e aceitar escolhas pessoais sem julgamentos.
Coragem para enfrentar os desafios diante a escolha poliamorosa, além de
suportar os preconceitos de uma sociedade historicamente monogâmica.
Coragem para encarar as critica que vierem diante ao rompimento com as
normas sociais preestabelecidas no que diz respeito a relacionamentos
amorosos e afetivos.
Os indivíduos que estão em processo de transição, ou os adeptos que já
se denominam poliamoristas, com certeza se familiarizam com essa descrição
de Giddens (1993), do “relacionamento puro”.

O “relacionamento puro” tende a ser, nos dias de hoje, a forma


predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que
cada um pode ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas
as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma
satisfações suficientes para permanecerem na relação”.
65

De acordo com Bauman (2004, p.113), o atual “relacionamento puro”,


não...

... é como o casamento um dia foi, uma “condição natural” cuja


durabilidade possa ser tomada como algo garantido, a não ser
em circunstâncias extremas. É uma característica do
“relacionamento puro” que ele possa ser rompido, mais ou
menos ao bel-prazer, por qualquer um dos parceiros e a
qualquer momento. Para que uma relação seja mantida, é
necessária a possibilidade de compromisso duradouro. Mas
qualquer um que se comprometa sem reservas arrisca-se a um
grande sofrimento no futuro, caso ela venha a ser dissolvida.

Relações líquidas estão cada vez mais frequentes e a capacidade de


amar do ser humano está se tornando mais individualista (BAUMAN, 2004).
Pensando nessa nova organização observa-se que o amor como era
conhecido começa a sair de cena e o foco atual é de uma vida mais livre e
desvinculada de regras autoritárias
Ainda segundo relatos de Carvalho (2017), colhidos no blog “Philo-sofia,
Política e Poliamor”, a escolha pela não monogamia, deve ser conjunta e
consciente, se um dos parceiros não está disposto a tentar, não deve ser
obrigado a se submeter a esse processo. Toda relação é uma construção entre
duas ou mais pessoas, assim todas as tomadas de decisões devem envolver a
todos. Um diálogo sincero e respeitoso que leve em consideração o sentimento
do outro, pode surtir um efeito positivo, caso ao contrario, não havendo um
consenso não poderá ser evitado que alguém acabe frustrado, incomodado,
subjugado em suas vontades e escolhas.
De acordo com Cardoso (2012), o elemento fundamental nessas
relações é, inclusive, a responsabilidade, aí inseridas a ética e a
autodeterminação dos seus membros (isto é, o sujeito como agente ativo,
tendo o total controle sobre a sua vida).
Nesse sentido, todas as pessoas envolvidas são igualmente
responsáveis por aquilo que fazem e por tudo o que acontece. Por outro lado,
resta configurada a quebra da responsabilidade nos casos em que há traição
em uma relação monogâmica (CARDOSO, 2012).
Para Carvalho (2017), quando o indivíduo se propõe viver uma relação
(independente do tipo que for), precisa entender que esta é constituída de pelo
66

menos mais outra pessoa, e essa pessoa ou pessoas possuem demandas,


desejos, traumas e condições específicas de gênero, orientação sexual, raça e
classe social que vão influenciar em como ela vai lidar com os desafios de se
viver uma relação sem exclusividade em meio a uma sociedade mono e
heteronormativa, machista, racista, capitalista, etc. Tais especificidades
precisam ser levadas em conta na dinâmica do relacionamento e é aqui que
entra a questão da tão polêmica “responsabilidade afetiva”.
Responsabilidade afetiva significa compreender, ouvir, cuidar, respeitar,
enfim, assumir a responsabilidade pelo que fazemos tendo em conta que
nossas ações vão afetar, às vezes profundamente, as pessoas que estão
conosco (CARVALHO, 2017).
O mundo em que vivemos dificulta o desenvolvimento de laços afetivos
mais comunitários que poderiam oferecer outros modos de subjetivação
também mais voltados para a produção de vida coletiva e não de vida privada,
e em parte essa dificuldade é posta pelo encapsulamento das famílias
nucleares dentro de seus dramas internos.
Enfim, as possibilidades de acordos são inúmeras e devem
corresponder às necessidades específicas e particulares da relação em
questão. Os poliamoristas argumentam que não se trata de procurar
obsessivamente novas relações pelo fato de ter essa possibilidade sempre em
aberto, mas sim de viver naturalmente tendo essa liberdade em mente.

1.3 Casamento ou União Estável

1.3.1 Casamento

Apresenta-se como definição de casamento, segundo o novo Código


Civil Brasileiro, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, com vigência marcada
para um ano após sua publicação, acerca do Direito de Família no Livro IV,
artigos 1.511 a 1.783, incorporando em seu texto as diversas modificações
ditadas pelas normas principiológicas da Constituição Federal de 1988 e por
leis especiais atinentes ao organismo familiar (OLIVEIRA, 2002).
Com base no Código Civil Brasileiro, pode-se conceituar o casamento
67

como instituto civil pelo meio do qual, atendida às solenidades legais


(habilitação, celebração e registro), estabelece entre duas pessoas a
comunhão plena de vida em família, com base na igualdade de direitos e
deveres, vinculando os cônjuges mutuamente como consortes e companheiros
entre si, responsáveis pelos encargos da família.
Para os casais monogâmicos o casamento é a escolha preferencial onde
é firmado um contrato entre duas pessoas perante um juiz para estabelecer um
vínculo conjugal. O casal precisa demonstrar estar apto a casar, comprovando
que nenhum dos dois tem casamento antecedente sem divórcio. Intitulado
como instituição, com direitos e deveres definidos por lei, como fidelidade, sem
a possibilidade de alteração. Sendo um documento público.
Em outras palavras, podemos dizer que o casamento, sob a ótica do
Direito Civil Brasileiro, consiste na entidade familiar constituída com base no
atendimento das solenidades legais.
Porém, pensando no indivíduo inserido na sociedade pós-moderna
destacamos o vínculo conjugal de maneira mais subjetiva e com um olhar
atento para os aspectos afetivos e psicológicos envolvidos.
De acordo com Foucault (2006), casamento, sexo e amor não são
sinônimos e nem sempre coexistem em harmonia. Pode ocorrer sexo no
casamento sem a presença do amor; o contrário também é possível. Pode,
inclusive, acontecer que um casamento seja mantido apenas pelo costume da
convivência, numa relação de interdependência, sem sexo e unidos por um
amor afetuoso.
Por outro lado, não existem relacionamentos externos à vida conjugal
nutridos pelo desejo sexual? Por acaso, o casamento é uma camisa de força
capaz de impedir que novas paixões aconteçam? Para Foucault (2006), essas
são questões levantadas quando o assunto é relacionamento amoroso e
casamento. De qualquer forma, com amor ou sem amor, com sexo ou sem
sexo, a tirania da opinião pública, o temor religioso, a culpa, o medo, a
dependência econômica, entre outros, são fatores poderosos para manter os
casamentos. Às vezes, é necessário insistir no casamento, outras vezes é
preciso repensar a relação.
De acordo com a evolução da sociedade com relação aos novos
arranjos familiares e amorosos. Pode-se dizer que após a legalização do
68

casamento homo afetivo em 2013, abriu-se precedentes para novos arranjos


familiares e amorosos, as relações poliamorosas reapareceram, mostrando a
sociedade pós-moderna que é possível ter um relacionamento com mais de
dois parceiros e que para algumas pessoas está relação flui com êxito, os
adeptos afirmam que cada relação tem suas regras e contratos e que todos
são de pleno acordo, afirmam também que prevalece a sinceridade e
cumplicidade de todos os envolvidos, querem quebrar o tabu de que as
relações poliamorosas são formadas por apenas relações de sexo grupal ou
swings (ALEXANDRE, 2014). Desta forma alguns adeptos falam da união e
formalização da relação, mas não como um casamento para a sacralização
religiosa e sim como garantia de direitos civis e de heranças, para os parceiros
e filhos frutos das relações poliafetivas.
Desta forma, abaixo vamos explanar um pouco sobre a união estável
que tem proporcionado os adeptos a garantia destes direitos civis.

1.3.2 União Estável

De acordo com a lei do Código Civil brasileiro, Lei 10.406, de 10 de


janeiro de 2002, Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Antigamente, para ser reconhecida a união estável era necessário um
lapso temporal de cinco anos de convivência entre os cônjuges. Hoje, por sua
vez, os tribunais pátrios não têm fixado um tempo mínimo, bastando apenas
que exista uma convivência reconhecida de forma pública. Pode-se
caracterizar a união estável como uma ausência de formalismos para sua
constituição.
Assim como já apresentado à definição de poliamor, se sujeitos
inseridos em uma relação poliamorista decidem por constituir um casamento ou
união estável, ficaria estes na contramão de preceitos básico do poliamor como
liberdade, fuga de rótulos ou exclusividade.
Praticantes do poliamorismo estariam em busca de um casamento ou
uma união estável que legitimem esta relação independente se estes arranjos
familiares se deem entre um casal ou um grupo de pessoas que em comum
69

acordo optem por oficializar estas relações.


Em vários artigos de pesquisa sobre o tema vemos que os adeptos
desta nova forma de relação divergem sobre legalizar a união ou não. Muitos
alegam que se oficializar a relação vai à contramão do que o poliamor tem
como essência.
Segundo o site The Polyamory Society, os adeptos têm como filosofia a
prática de amar várias pessoas ao mesmo tempo, de forma honesta,
responsável e ética sem possessão. A escolha de seus parceiros é consciente
e não aceita a norma social monogâmica no que diz respeito a amar apenas
uma única pessoa. Abraça a igualdade sexual e todas as orientações sexuais
para um grupo ampliado de intimidade conjugal e amor, sendo que essa
ligação nem sempre envolve sexo (SANTANA, 2015).
O atual momento social é descrito como uma era cujas mensagens e
fenômenos são confusos, fluídos e imprevisíveis. Bauman (2003), denomina
esta era como “modernidade líquida” e compara o momento atual com o mundo
darwiniano, onde o melhor e mais forte sobrevive. Neste mundo de
sobrevivência, o relacionamento humano configura-se de forma efêmera. Os
sentimentos são descartáveis, assim como os relacionamentos, em prol de
uma sensação de segurança. Assim, a sociedade contemporânea enfrenta um
paradoxo. A fragilidade do laço e o sentimento de insegurança inspiram um
conflitante desejo de tornar o laço intenso e, ao mesmo tempo, deixá-lo
desprendido.
Mesmo grande parte dos adeptos não sendo favorável a oficialização
das relações poliamorista, alguns pequenos casos já foram citados na mídia
falando sobre a união de um homem e duas mulheres na cidade de Tupã-SP,
cidade localizada no interior do estado. Esta oficialização aconteceu no ano de
2012. Outro caso aconteceu no Rio de Janeiro-RJ, onde no início de 2016 a
manchete dizia “O ditado diz: um é pouco, dois é bom, três é demais”. Mas,
para o funcionário público Leandro Jonattan da Silva Sampaio, de 33 anos,
sobra mesmo é o amor que o uniu oficialmente a duas mulheres na sexta-feira
passada (1º), no 15º Ofício de Notas, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do
Rio. Trata-se do primeiro trio – formado por um homem e duas mulheres – a
formalizar a união estável poliafetiva no estado (MENDONÇA, 2016).
70

Existem direitos garantidos quando se estabelece uma união estável,


reconhecer legalmente a união auxilia trazendo benefícios financeiros e mais
segurança para o casal. O parceiro pode ser incluído em planos de saúde,
odontológicos e de lazer. O companheiro também tem direito a receber pensão
do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS em caso de morte do outro,
desde que a convivência seja provada.
Com a escritura pública feita em cartório, é possível obter uma segunda
via do documento — chamada certidão — a qualquer momento, sempre que for
necessário.
Por fim, a união estável pode ser feita por um casal independente do
gênero e orientação sexual. Solicitá-la é forma de garantir que os dois tenham
segurança judicial e proteção em âmbito patrimonial.

1.4 A Luta pelo reconhecimento jurídico

Segundo Vincent e Goodman (1978, apud BELMINO; COSTA 2015),


aponta que, o que há de perdido e inadaptado na sociedade contemporânea
não é a natureza humana, mas a própria sociedade, que esquecida do
arquétipo social não se adapta. Assim, aconselha que antes de tentar moldar
os jovens a todo custo aos padrões sociais, melhor seria produzir modificações
na cultura e na sociedade que possam satisfazer os desejos e capacidades da
natureza humana.
Devido a mudanças na sociedade no conceito de família, descortinam-se
novos pensamentos em relação à formação familiar. Essa nova posição passou
a valorizar ainda mais os princípios éticos dos vínculos familiares,
reconhecendo com o passar dos anos que família atual deve estarbaseada em
afeto, solidariedade, confiança, respeito, lealdade e amor.
Diante a decisão dos adeptos por um reconhecimento jurídico,
transcorre ai então um longo processo em busca destes direitos. Existem hoje
causas ganhas para este reconhecimento, assim como se apresenta a noticia
abaixo retirada da matéria do jornal O Estado de S. Paulo (PIVA, 2015)

O Brasil registrou sua primeira união estável entre três


mulheres. O local escolhido para a formalização foi o 15.º
71

Ofício de Notas do Rio, localizado na Barra da Tijuca, zona


oeste. De acordo com o Instituto Brasileiro de Direito de
Família (IBDFAM), este é o segundo trio que declara
oficialmente uma relação. O primeiro caso aconteceu em Tupã,
no interior de São Paulo, em 2012. Na ocasião, um homem e
duas mulheres procuraram um cartório para registrar a relação.

Neste contexto fica difícil imaginar que tais garantias de direitos venham
a ser reconhecidos, assim como, previdência social, planos de saúde e todos
os direitos garantidos de imediato em outras uniões, arrastasse ai longos e
cansativos processos judiciais para a garantia destes diretos. Uma vez que um
dos membros venha a falecer seus familiares vem a contestar a validade deste
registro e procuram obter os bens materiais de seu ente falecido.
Considerado o motor de impulsão de toda ordem jurídica brasileira, a
dignidade humana é assegurada no art. 1°, III, da Constituição Federal de 1988
e denomina-se de macro princípio, pois segundo Stolze e Pamplona Filho
(2014, p. 76) “traduz valor fundamental de respeito à existência humana,
segundo as suas possibilidades e expectativas patrimoniais e afetivas,
indispensáveis à sua realização pessoal e à busca da felicidade.”
72

CAPÍTULO IV

PESQUISA

1 METODOLOGIA

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, o modelo utilizado foi a


Pesquisa Exploratória e Descritiva. Teve por objetivo a identificação das
concepções dos adeptos das relações poliamoristas. Nesse universo
destacaram-se os sentimentos, as características dos adeptos, as expectativas
e os desafios enfrentados pelos entrevistados. Essa particularidade do estudo
requereu o emprego de uma metodologia qualitativa, pois segundo Minayo
(1996), é mais complexo captar os sentimentos e as emoções em
procedimentos metodológicos estatísticos no qual se prestam a quantificação.
Nesse tipo de pesquisa visa à descoberta, o achado, a elucidação de
fenômenos ou a explicação daqueles que não eram aceitos apesar de
evidentes. A exploração representa, atualmente, um importante diferencial
competitivo em termos de concorrência (GONÇALVES, 2014).
Nas atividades exploratórias concentram-se as importantes descobertas
científicas, muitas originadas pelo acaso quando da constatação de fenômenos
ocorridos durante experimentos em laboratórios.
Na pesquisa descritiva realiza-se o estudo, a análise, o registro e a
interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do pesquisador.
São exemplos de pesquisa descritiva as pesquisas mercadológicas e de
opinião (BARROS; LEHFELD, 2007).
A finalidade da pesquisa descritiva foi observar, registrar e analisar os
fenômenos ou sistemas técnicos, sem, contudo, entrar no mérito dos
conteúdos.
Os dados foram levantados através de análise de conteúdos obtidos em
entrevistas semi-dirigida, sem haver, no entanto interferência do pesquisador,
onde o intuito era descobrir a frequência com que o fenômeno acontece ou
como se estrutura e funciona um sistema, método, processo ou realidade
operacional.
73

1.1 Abordagem
Foi utilizada a abordagem sócio-histórica, procurando investigar em
razão de resultados, para obtenção e compreensão dos comportamentos a
partir da perspectiva dos sujeitos da investigação (BOGDAN, BIKLEN, 1994,
p.16).

1.2 Técnica

Inicialmente foi utilizado o levantamento de campo, com o questionário


básico e interrogações diretas obteve-se as informações necessárias para
definir o perfil dos praticantes.
Em seguida utilizou-se a técnica de entrevista semi-dirigida. Foram
inseridos questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses
relacionados ao tema. O foco principal foi colocado pelo investigador-
entrevistador.

“A entrevista semi-dirigida favorece não só a descrição dos


fenômenos sociais, mas também sua explicação e a
compreensão de sua totalidade, além de manter a presença
consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de
informações”. (TRIVINÕS, 1987, p. 152).

Ao utilizar a entrevista semi-dirigida deixou-se que o entrevistado falasse


livremente sobre o seu relacionamento, abordando suas dificuldades, anseios e
desejos pertinentes a sua escolha amorosa.

1.3 Método

O método utilizado foi o Estudo de Caso, baseando-se nas questões


básicas levantadas e em análises feitas através de discursos livres obtidos com
as entrevistas semi-estruturadas.

1.4 Sujeito da pesquisa

Os sujeitos de pesquisa foram os adeptos do Poliamorismo, praticantes


e usuários das páginas do Facebook. Os grupos foram: “Poliamor Brasil”,
74

“Poliamor e Diversidade”, “Poliamor Gay”, “Poliamor Gay Maduros x Jovens” e


“Poliamor – Encontros”.
Para levantamento dos perfis dos praticantes, participaram 30 pessoas,
sendo 22 homens e 08 mulheres, recrutadas nos grupos acima especificados,
oriundas de diversas regiões do Brasil e 1 participante de nacionalidade
Brasileira, mas expatriado na Ásia.
Foi aplicado um questionário com um total de 8 perguntas, onde a
formulação das perguntas foi em linguagem simples e diretiva para gerar maior
facilidade de entendimento aos entrevistados. Todos os participantes foram
esclarecidos quanto ao anonimato de suas identidades por ocasião da
devolutiva do questionário e posterior publicação da pesquisa, evitando assim
qualquer constrangimento em expor sua opinião sobre o assunto. Conforme
salienta o Art. 9º do código de ética do psicólogo:

É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de


proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das
pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no
exercício profissional (CRP/SP, Art. 9º).

Tabela 1: Sexo dos participantes


Sexo Respostas %
Masculino 22 73%
Feminino 8 27%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017).

Referente ao sexo dos participantes é possível observar que o maior


número é do sexo masculino (22 participantes) correspondente a 73%. O sexo
feminino com um total de 27% (8 participantes).

Tabela 2: Orientação Sexual dos participantes


Orientação Sexual Respostas %
Heterossexual 10 33%
Homossexual 6 20%
Bissexual 10 33%
Pansexual 3 10%
Assexual 1 3%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)
75

Referente à orientação sexual dos participantes observou-se que a


maioria é heterossexual com um total de 33% (10 participantes), bissexual com
um total de 33% (10 participantes), 20% são homossexual (6 participantes),
pansexual 10% (3 participantes) e 3% (1 participante) que respondeu ao
questionário é assexuado.

Tabela 3: Estado Civil


Estado Civil Respostas %
Solteiro 13 43%
Casado 11 37%
Separado/Divorciado 4 13%
União Estável 2 7%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Foi observado que a maioria dos participantes que responderam à


pesquisa são solteiros com um total de 43% (13 participantes), em segundo
lugar estão os participantes casados com um total de 37% (11 participantes),
em terceiro está o Separado/Divorciado com um total de 13% (4 respostas) e
apenas 7% (2 participantes) vivem em união estável.

Tabela 4: Idade dos participantes


Idade Respostas %
17 a 25 anos 6 20%
26 a 35 anos 10 33%
36 a 45 anos 10 33%
46 a 55 anos 4 13%
Mais de 55 Anos 0 0%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Referente à idade dos participantes 33% está na faixa etária dos 26 a 35


anos (10 participantes), na mesma proporção está com 33% está na faixa
etária dos 36 a 45 anos (10 participantes) em segundo lugar com 20% (6
participantes) estão os de 17 a 25 anos, em terceiro com 13% os participantes
de 46 a 55 anos (4 participantes), acima dessa idade não houve participantes.

Tabela 5: Cor de pele


76

Cor de pele Respostas %


Branca 17 57%
Negra 5 17%
Parda 8 27%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Referente à cor de pele dos participantes 57% é Branca (17


participantes), em segundo lugar são de cor parda com um total de 27% (8
participantes), em terceiro lugar estão o de cor negra com total de 17% (5
participantes).

Tabela 6: Religião
Religião Respostas %
Católica 3 10%
Evangélica 3 10%
Espírita 8 27%
Sem religião 3 10%
Ateu/Agnóstico 9 30%
Outras denominações 4 13%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Referente à religião 30% dos participantes que responderam ao


questionário são ateu/agnóstico (9 participantes), 27% são espírita (8
participantes), outras denominações 13% ( 4 participantes) e católicos 10% (3
participantes), 10% são evangélicos (3 participantes), sem religião 10% (3
participantes).

Tabela 7: Grau de escolaridade


Grau de escolaridade Respostas %
Ensino médio 9 30%
Ensino Superior 14 47%
Pós-graduação 3 10%
Doutorado 4 13%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Referente ao grau de escolaridade dos participantes 47% possui o


77

ensino superior (14 participantes), em segundo lugar está o ensino médio com
um total de 30% (9 participantes), em terceiro lugar está o doutorado com um
total de 13% (4 participantes), em quarto lugar está os pós-graduados com
10% (3 participantes).

Tabela 8: Locais de Residência


Residência Participantes %
São Paulo 14 47%
Rio de Janeiro 6 20%
Santa Catarina 1 3%
Paraná 2 7%
Brasília 2 7%
Fortaleza 1 3%
Minas Gerais 1 3%
Rio Grande do Norte 1 3%
Ceará 1 3%
Hong Kong 1 3%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)

Referente às localidades de moradia dos participantes da pesquisa 47%


dos participantes que responderam ao questionário são do estado de São
Paulo (14 participantes), 20% são do estado do Rio de Janeiro (6
participantes), 07% são do estado do Paraná (2 participantes), 07% são do
estado do Brasília (2 participantes), e demais Estados e Hong Kong 3% cada
um (6 participantes).
Para análise de conteúdos, participaram 3 pessoas do sexo masculino,
com idade entre 30 e 57 anos, também selecionados através dos grupos. O
processo de seleção foi devido a inserção dos pesquisadores a cerca de um
ano, nos grupos anteriormente citados, foi possível através da observação
verificar as características dos adeptos que realmente vivem ou viveram uma
relação poliamorista. Após foi feita a seleção e convocação dos mesmos
mediante a mensagem pelo Messenger ou WhatsApp, onde os convidados
aceitaram a sua participação na pesquisa.

1.4.1 Critérios de Inclusão


78

Ser adepto do poliamor, participantes das redes sociais acima citadas,


maiores de 18 anos e de ambos os sexos, aceitar o convite para participar da
entrevista e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

1.4.2 Critérios de Exclusão:

Não adeptos e adeptos que não fizessem parte das redes sociais.
Menores de 18 anos. Não assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.

1.4.3 Procedimentos

Na primeira etapa dos procedimentos, após ter submetido o projeto de


pesquisa na Plataforma Brasil, analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa e devidamente aprovado, sob o parecer consubstanciado CAAE Nº
67911317.0.0000.5379 datado em 24/05/2017, atendendo a Resolução do
Conselho Nacional 466/2012, Anexo A, iniciou-se o processo de pesquisa com
a inserção dos pesquisadores em grupos das páginas do Facebook “Poliamor
Brasil”, “Poliamor e Diversidade”, “Poliamor Gay”, “Poliamor Gay Maduros x
Jovens” e “Poliamor – Encontros” há um ano antes do início da coleta de
dados. Esta inserção possibilitou aos pesquisadores observar e analisar
discussões entre membros sobre o tema poliamorista, serviu como base de
pesquisas para elaboração das entrevistas semi-dirigidas.
Os adeptos poliamoristas foram convidados no período de 01/09/2017
à 15/09/2017, através de convites nos grupos de Facebook. Foram explicados
os objetivos da pesquisa, em seguida recolheram-se os dados para
caracterização dos perfis dos praticantes. Dentre os participantes que
responderam ao questionário básico foram selecionados três participantes para
a entrevista semi-estruturada.
Através de e-mails foram encaminhados os seguintes documentos:
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B), Carta de informação
ao participante (Anexo C) e Termo de consentimento para fotografias, vídeos e
gravações para maiores de 18 anos (Anexo D), para os três participantes da
entrevista.
79

Em conversas via Messenger e WhatsApp, marcarem-se as datas para a


realização das entrevistas. Entre os dias 13/09/2017 e 16/09/2017, finalizou-se
o processo com 5 horas de áudio-vídeo totalizando o conteúdo dos três
participantes. (verificar a entrevista no apêndice)
Para a coleta das características dos adeptos do poliamor, foram
enviados convites previamente para os grupos do Facebook: “Poliamor Brasil”
em 15/09/2017 às 15h43min, “Poliamor Gay Maduros x Jovens” em 04/09/2017
às 17h:53min, “Poliamor Gay” em 04/09/2017 às 18h:01min, “Poliamor e
Diversidade” em 01/09/2017 às 16h:24min e “Poliamor – Encontros” em
15/09/2017 às 22h:20min, colheu -se informações básicas sobre o perfil dos
adeptos, Apêndice “A”.
Aproveitando o mesmo convite, solicitamos aos interessados a
participação em entrevistas presenciais, através do Skype, um software da
“Microsoft” que possibilita a interação em tempo real, através de áudio-vídeo
com pessoas através do mundo.
As entrevistas de áudio-vídeo foram gravadas através do programa
FreeVideoCall Recorder for Skype e posteriormente transcritas, garantindo-se a
fidedignidade dos relatos apresentados. No momento de sua aplicação
confirmou-se a condição de segurança e o anonimato dos entrevistados.
O material obtido foi ouvido diversas vezes para assim realizar a etapa
de transcrição e contextualização. Realizou-se de modo cuidadoso e atento a
audição e transcrição do material obtido.
Segundo Minayo (2010) os registros, devem ser fidedignos ao relato, e
se possível “ao pé da letra”, todos os registros devem ser realizados em sua
integridade e com consentimento dos interlocutores.
Assim, após definição de datas e horários, foram realizadas 3
entrevistas, conforme pode-se verificar no apêndice “B”.
“Compreendida como um conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo
é a busca do sentido ou dos sentidos de um documento, a análise de
conteúdos é um método muito utilizado para analisar os dados levantados”.
(CAMPOS, 2004, p.611)
Neste estudo procurou-se apresentar a técnica de análise de conteúdo,
interligando os discursos dos entrevistados com a teoria pesquisada. Deu-se
início através da seleção dos conteúdos qualitativos, introduzindo o método de
80

análise de Bardin, o qual foi organizado em três fases: “pré-análise, exploração


do material e tratamento dos resultados” (BARDIN, 2011).
81

CAPÍTULO V

ANÁLISE DOS CONTEÚDOS

1. PROCESSO DE TRATAMENTO DOS RELATOS

Definindo-se algumas categorias de análise foi possível identificar e


analisar os temas significativos que surgiram dos dados coletados. Para a
análise foi necessário organizar todo o conteúdo das entrevistas transcritas,
dividindo-os em sete categorias para assim posteriormente, melhor analisá-las.
Esse procedimento foi obtido através dos apontamentos de Minayo
(1994) onde salienta a fase de análise de dados na pesquisa, que consiste em
três finalidades: estabelecer a compreensão dos dados coletados, confirmar ou
não os pressupostos da pesquisa e responder as questões levantadas.
Após leitura analítica do conteúdo das entrevistas, foi necessária a
retomada da hipótese, na qual supunha que os adeptos das relações
poliamoristas apresentam dificuldades para o reconhecimento de suas
escolhas amorosas e que seus interesses são difusos, sendo que essa
população esbarra constantemente em concepções recorrentes de um universo
monogâmico. Portanto seguem as categorias levantadas:

1.1 Conceituação do poliamor

Poliamor segundo definições encontradas é a prática de amar e se


relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo, de forma honesta,
responsável e ética sem possessão, no entanto o conceito de poliamor não é
unânime, apesar de haver pontos em comum como consenso, liberdade e
honestidade. Para os entrevistados a conceituação de poliamor aparece da
seguinte forma:
(...) depois que percebi que estava apaixonado por duas pessoas e
como sou feito de amor, posso amar várias pessoas ao mesmo tempo. Então
sou um adepto convicto. (C.L.L.)
(...) no caso do poliamor tem mais de duas pessoas envolvidas, mas
82

existe respeito, companheirismo existe amor entre os três, para mim é esse
entendimento de poliamor, é amar as outras duas pessoas por igual e não
conseguir escolher entre um e outro. (R.S.C.)
(...) é óbvio que eu sendo poliamorista tenho várias namoradas e a
administração desses relacionamentos é um pouco complicado, porque nem
todas elas são poliamorista, mas me aceitam, eu falo abertamente com elas o
seguinte: não conto uma mentira para ninguém com quem me relaciono a mais
de 10 anos, porque não é necessário. Eu me abdico de uma pessoa, de um
relacionamento, mas não abdico de falar a verdade. (A.P.M.)
Através dos relatos percebe-se que os adeptos deste tipo de
relacionamento procuram construir acordos para nortear seus relacionamentos,
para assim não haver traição ou mentira, utilizando para isso dois pontos
essenciais sinceridade e liberdade.
Giddens (1993, apud LINS, 2008), chama de “transformação da
intimidade” o fenômeno sem precedentes de milhares de homens e mulheres
que, estimulados pelos amplos movimentos sociais atuais, estão tentando,
consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.
Relacionamentos consensualmente baseados em honestidade e
liberdade, apresentando variações de gêneros e de números, além da
necessidade de estabelecer uma relação não possessiva. A possibilidade de
vivenciar diversos amores simultaneamente torna o poliamor um desafio por si
só, e a capacidade de administrar equilibradamente essas vivências facilita a
adesão ao poliamor.
Percebe-se nos dois primeiros relatos, um conceito mais ligado ao
amor/paixão, no entanto no terceiro relato, chama atenção a ligação afetiva
pautada na verdade, igualdade e responsabilidade.

1.2 Sociedade e Aceitação

A sociedade atual passa por grandes transformações, inclusive no que


diz respeito a afetividade e sexualidade. O indivíduo sofre as pressões dessas
mudanças, pois ao mesmo tempo em que o leque de opções se amplia,
esbarra-se em situações de preconceitos, moralismo e hostilidades. Os relatos
a seguir nos mostram essas condições sociais.
83

(...) então gente, tem algumas situações diferentes. A gente saia para
passear e quando estávamos na estrada fazíamos “traquinagens” a gente
ficava de mãos dadas, as vezes nos beijávamos, e o povo olhava para a gente
como se fossemos ET’s. E o Paulo era muito carinhoso ele tinha muito disso de
ficar andando abraçado. De ficar fazendo carinho na mão e as pessoas na
mesa do lado ficavam olhando. Era engraçado porque se na mesa do lado
tivesse uma família com crianças eles saíam, eles trocavam de mesa como se
a gente tivesse fazendo sexo ali. Como se fosse atentado ao pudor (risos) a
gente só tava sentados juntos, de mãos dadas, não estávamos fazendo nada
mais que isso. Mas a sensação era como se nós estivéssemos muito errados.
(C.L.L.)
(...) já socialmente falando é meio complicado, o difícil é aceitar, é a
auto-aceitação pelo menos da minha parte. Mas que hoje dentro do meu meio,
do meu círculo já não sofro tanto preconceito, mas quando a gente abre para
as pessoas de fora é um choque, você vê na cara da pessoa. Aí tem gente que
guarda para si e tiram suas próprias conclusões e esses são os piores. E tem
aquelas poucas pessoas que te perguntam, mas e ai como que é, aí você
consegue mostrar para a pessoa como funciona, que realmente não é
perversão, que realmente é amor. (R.S.C.)
(...) o desprezo e o desdém com que as pessoas tratam quando a gente
fala sobre o poliamorismo. Acham que é piada, acham que é brincadeira,
nunca tratam com respeito. É o menosprezo, e isso é em geral, para a
sociedade ou você é um canalha “filho da puta” e não ama ninguém, ou você é
um playboy, um bonvivã e só quer curtir, porque você não ama. E a maioria
das pessoas acha que você é o malandrão e só quer seduzir muitas mulheres.
(A.P.M.)
Nos trechos destacados acima percebe-se que a sociedade apesar das
transformações vivenciadas ainda está atrelada a concepções formuladas em
um modelo de relacionamento monogâmico. Novas formações amorosas e
arranjos sexuais causam impacto na sociedade atual, nota-se um forte
movimento na contramão desses preconceitos, mas acredita-se que ainda têm-
se um longo período de tempo até a aceitação dessa nova forma de amar.
Para o indivíduo que se descobre poliamorista, o mais difícil é a auto-
aceitação, de acordo com modelos sociais históricos, amar mais de uma
84

pessoa ao mesmo tempo é considerado, pecado, libertinagem ou até mesmo


transtorno moral, percebe-se claramente essa situação no depoimento a
seguir:
(...) aí eu feliz, ela feliz, minha família feliz, nessa época eu já estava na casa
dos quarenta, então todo mundo achava que eu estava “aquetando” o facho e
foi nesse mesmo período que eu fui descobrindo o poliamor, fui me achando,
fui percebendo que não era apenas “promíscuo” e “filha da puta”... Então lendo
algumas coisas, alguns flashbacks acontecendo... (...) e assim eu fui me
encontrando com artigos na internet, alguns livros e filmes e então eu vi que
era poliamorista, e aí foi um aprendizado pena que tão tarde, mas antes tarde
do que nunca. (A.P.M.)
A prática poliamorista desafia um tabu social que é a monogamia,
diversas pessoas já se sentiram atraídas por mais de uma pessoa ao mesmo
tempo, mas renunciaram essa atração ou afeto porque esses sentimentos
eram errados de acordo com as normas sociais vigentes.
Para grande parte dos adeptos a auto-aceitação é o maior desafio a ser
enfrentado, pois tomar ciência e posse dessa nova forma de amar traz na
bagagem preconceitos e exclusões.

1.3 Religião

No questionário publicado nos grupos de Facebook, uma das questões


era sobre a religiosidade dos adeptos, ao pesquisar esse conteúdo identificou-
se certas predominâncias. É de conhecimento universal que práticas
poliamorosas não são aceitas pela maioria das religiões, no entanto um,e
apenas um dos entrevistas fala sobre sua religiosidade durante a entrevista.
(...) de acordo com minha religião não sofri tantos preconceitos e nem
sentimentos de culpa, porque a bruxaria não condena a poligamia. Eu não sou
contra nenhuma religião, mas é muito engraçado, evangélicos tentam entrar
nesse meio, nesse mundo, eu tenho parentes que são evangélicos que tentam
me levar para igreja, e eu gente não pelo amor de Deus, não é isso, não to com
demônio, deixa lúcifer lá quieto no canto dele, (risos) entendeu. Deixa tio Luci
lá, ele tá quietinho né, aí pronto quando eu falo tio luci aí cai a casa. ( risos)
minha relação é a três eu não convidei ele ainda (risos) a gente não resolveu
85

abrir para uma quarta pessoa (risos)”


Os outros participantes, apesar de terem mencionado a denominação
religiosa no questionário, durante as entrevistas não voltaram a falar sobre
esse conceito ao relatar suas experiências.

1.4 Desafios enfrentados

Unanimidade, essa é a palavra indicada quando se fala sobre desafios


enfrentados diante a opção por uma relação não-monogâmica. Claro já ficou
que o poliamorismo não é uma opção fácil de assumir, nota-se isso quando a
maioria dos participantes da pesquisa preferiu ficar no anonimato. Nos relatos a
seguir é possível identificar os maiores desafios que são: ciúmes, preconceito,
incredulidade social e a administração da relação.
(...) existe outra dificuldade também, é que às vezes um deles está
preparado para abrir o relacionamento, enquanto o outro não. Então quando
eles decidem procurar por uma terceira pessoa, é muito comum acontecer que
essa pessoa pode agradar apenas um, mas o outro não consegue ser
agradado. (C.L.L.)
(...) dentro de um relacionamento tem que lidar com essa questão de
que são três pessoas, lidar com uma única pessoa já é difícil, lidar com duas
fica um pouquinho mais difícil. O dia a dia de qualquer casal, os altos e baixos
de qualquer relacionamento, não é tão diferente assim do relacionamento
comum, mas são duas pessoas você tem que lidar, com duas pessoas
diferentes entendeu, são duas opiniões, duas visões de mundos diferentes né.
O principal no começo do relacionamento poliamor é isso,é administrar tempo,
o ciúmes com duas pessoas que nunca tiveram um relacionamento assim na
vida. (R.S.C.)
(...) porque você tem o principal desafio de se calar ou enfrentar, tendo
um balanço para buscar um equilíbrio para não abdicar de sua decisão,
principalmente no nível familiar, porque ou você se anula e fica dentro do
armário, ou vira ativista e passa a ser visto como um louco, ou encontra o
equilíbrio. Essa é a minha opção, porque é um desafio constante, e é aquilo
que falei, você precisa estar bem resolvido para essas questões não
interferirem muito no seu psicológico. (A.P.M.)
86

Colocar em discussão a monogamia é direcionar um ataque as


instituições religiosas, judiciárias e sociais, o que pode gerar reações extremas.
A sociedade atual apesar das transformações eminentes, ainda está
sobrecarregada de estereótipos, o que dificulta a visibilidade e aceitação de
todo grupo que se diferencie das concepções historicamente aceitas.

1.5 Família

Pilar de sustentação para grande parte dos indivíduos, pode se dizer que
a família é o primeiro ambiente social que o ser humano vivencia. Acredita-se
que conceitos, valores, ética, moral e bons costumes são aprendizados
recebidos no seio familiar, no entanto nos discursos a seguir, nota-se que o
preconceito e a não-aceitação parte na maioria das vezes desse meio.
(...) às vezes a família não aceita de jeito nenhum. Então nós tentamos
conversar, quando existem filhos, complica um pouco mais, porque vamos ter
outras pessoas envolvidas, como avós, etc. Por exemplo, eu tive que sentar
com os filhos do André e explicar que não estava destruindo a família de
ninguém, que nós gostávamos um do outro igualmente por isso decidimos ficar
juntos. (...) mas o que vejo é que muitas famílias acabam se afastando. Então
esse processo precisa ser bem lento e gradativo, respeitando os limites do
outro. E às vezes ninguém aceita. É quando eles acabam abandonando o
convívio familiar. (C.L.L.)
(...) meus pais biológicos são muito católicos, e meu pai é militar, ele fala
pra mim - já aceitei o fato de você ser homossexual! – ué, aceitou? Valeu, mas
eu não pedi aceitação, só pedi respeito, ninguém precisa aceitar porque quem
vai dormir e acordar com a pessoa sou eu... - E agora tenho que lidar com o
fato de você ter dois homens!... Mas para minha mãe o medo dela é que a
gente já sofre preconceito por ser gay imagina você andando com dois homens
na rua, mas não fico me agarrando na rua, o meu relacionamento é para mim.
Mas eu brinco bastante com ela, eu digo mãe meus namorados são bem mais
altos que eu, são dois armários deste tamanho para me proteger... (R.S.C)
(...) tínhamos todo esse preconceito elevado à alta potência devido a
falta de conhecimento, e eu frequentava muitas saunas gays naquela época
isso era visto assim de uma forma criminosa, era uma vida dupla, uma coisa
87

horrível, verdadeira loucura e eu não sei até que ponto isso me influencia ou
não, nessas relações com homens e mulheres... e voltando a minha irmã ela
não consegue entender como ela é assim tão traumatizada e em mim não
provocou nenhum trauma, eu digo que vivo assim e sou feliz, e ela não
consegue entender, que eu estou em paz na vida, estou bem com você, estou
bem com a mamãe, estou bem com o papai apesar de tudo, mas isso é uma
coisa minha, tudo que aconteceu naquela época não influencia meu caráter,
não merece tanta atenção assim. (A.P.M.)
A não aceitação por vezes é pautada no medo do desconhecido,
diversas famílias após entenderem o posicionamento poliamorista, passam a
apoiar o adepto, facilitando a transição monogamia-poliamorismo.
No entanto não se pode deixar de mencionar que por diversas vezes
esses indivíduos acabam por se afastar do convívio familiar para ter a liberdade
de viver plenamente a sua escolha poliamorosa.

1.6 Ciúmes em um relacionamento Poliamorista

O ciúme pode aparecer com diversas conceituações, desde uma doença


que atrai sofrimento para as pessoas, até como algo necessário para mostrar a
afetividade de uma pessoa para outra.
Nas relações poliamorosas não há lugar para o ciúme, já que a causa do
ciúme é o sentimento de posse, inaceitável para essa formação amorosa. No
entanto essa questão e amplamente discutida entre os adeptos, pois é a causa
de muitos conflitos no início dos relacionamentos poliamorosos.
(...) sinceramente para mim é um sentimento que acaba estragando
qualquer tipo de relacionamento, pois a pessoa ciumenta, ela é possessiva,
não confia em si própria e no parceiro e geralmente destrói. Pois o tempo que
se perde com este sentimento, imaginando coisas, eu estou amando e vivendo.
Já sofri muito com ciúmes de parceiros e parceiras e já deixo claro, não quero
este sentimento mais na minha vida. (C.L.L.)
(...) para mim ciúmes é sentimento de posse. É uma coisa muito ruim
que desgasta a relação entendeu, já enfrentei no início do meu poliamor, um
ter ciúme do outro, mas assim é algo que com o tempo foi se dissipando
porque foi até porque eles tinham né à visão de que uma hora eu iria escolher
88

um dos dois... “Mas rola aquele ciúme normal de casal, algo bem mais sadio do
que o que era no começo eu acho que isso é amadurecer né, amadurecer
como poliamorista, amadurecer como pessoas dentro do relacionamento.”
(R.C.S.)
(...) para mim foi uma moleza tão grande, porque eu nunca tive ciúmes,
porque se a pessoa falar e se ela for com outro, para mim ta ótimo, vou ficar
muito feliz, até acho que devam colocar no dicionário A.P.M. como sinônimo de
compersivo, porque eu acredito ser a pessoa mais compersiva do mundo e é
natural. E é engraçado porque as pessoas dizem – então você não ama, mas
não é isso, muito pelo ao contrário, é porque eu amo que eu quero que a
pessoa seja muito feliz, porque se eu amo muito a pessoa e ela vai ter uma
relação com alguém que ela ama, eu sinto prazer, eu sinto tesão, se puder
participar ótimo, melhor ainda, mas se não puder participar fico feliz só por
assistir, mas também se não puder participar, nem assistir também fico feliz em
saber que aquela pessoa que eu amo, esta amando, que está transando, está
gozando e sendo feliz. (A.P.M.)
Compersão é um termo novo, utilizado para se referir as pessoas que
apresentam sentimento de alegria ou de felicidade ao ver seu parceiro amoroso
se relacionando com outra pessoa, portanto compersão é a superação do
ciúme. Esse sentimento é o ideal almejado pelos praticantes do poliamor, pois
somente vivenciaram esse novo modelo amoroso plenamente se conseguirem
administrar a questão do ciúme (VIDA POLIAMOR, 2017).
Se o ciúme ainda é sentimento presente na relação, os indivíduos
deveriam rever suas escolhas de forma consciente, pois segundo Anapol
(2013), “se você não tem certeza do que funcionaria para você, sugiro que
descubra antes de se envolver em um relacionamento poliamoroso, pois a
compatibilidade é o nome do jogo”.

1.7 Casamento e reconhecimento dos poliamorista como família

Tendo em vista que o conceito milenar de família monogâmica


heteronormativa é a grande problemática, diversos estudos demonstram novos
arranjos a se formarem. O modelo tradicional está sendo submetido a novos
anseios, baseados em afetividade e satisfação
89

(...) Sim, eu penso em constituir uma família, pois como todo casal
hétero ou homo eu tenho este desejo. Pois alguns já têm filhos, mas podemos
ter a oportunidade de adotar uma criança e sermos felizes como uma família.
Claro que fica difícil explicar a uma criança, sobre este tipo de relação. Mas
todo o amor e carinho que ela receberá e sempre falando abertamente e
livremente, podemos sim constituir família. (C.L.L.)
(...) na verdade essa legalidade do poliamor, ela é um pouco subjetiva
né. Eu acho que a gente tá longe disso, pelo menos aqui no Brasil. Eu acho
que seria bem interessante, garantiria vários direitos que são essenciais né,
nessa questão, mas eu acho que a gente está muito longe disso. A gente vai
tentar se blindar de outras formas ou até mesmo assim, uma das ideias de
acordos que a gente tem, é essa questão de seguros e previdências privadas
em nome de beneficiários pré-estabelecidos.(R.S.C.)
(...) eu aceito você ter um modelinho de família poliamorista em sua
cabeça, mas isso é uma furada porque o poliamor não é isso... O que menos
existe é um relacionamento familiar poliamorista, o que vemos muito por ai são
relações abertas ou fechadas, por exemplo, o trisal fechado, você tem um
modelo monogâmico, porque se aparecer alguém para um dos três lá fora,
estarão novamente vivendo aquele dilema monogâmico, de viver ou não a
outra relação, daí um vai estar traindo a relação. Quando acontecer a gente
senta e conversa, sentar e conversar? Isso não deveria acontecer, porque vai
que na conversa o trisal se entenda e decidam que o triângulo vai virar
quadrado, daí piorou porque o modelo monogâmico de família vai continuar e
daí serão quatro para resolver o dilema, para mim a ideia básica do poliamor
no Brasil ela foi usurpada um pouquinho. (A.P.M.)
Pela primeira vez na história humana, algumas pessoas de países
ocidentais começaram a escolher seus parentes, criando uma nova rede de
parentesco baseada na amizade, e não no sangue. Segundo Fisher (1995,
apud LINS, 2008, p.342), “as associações são compostas de amigos. Os
membros se falam regularmente e compartilham suas vitórias e dificuldades.
Quando um adoece, os outros cuidam dele. Essa rede de amigos é
considerada uma família, que poderá gerar novos termos de parentesco, novos
tipos de política de seguro, novos parágrafos nos planos de saúde, novos
acordos de aluguel, novos tipos de desenvolvimento de moradia e muitos
90

outros planos legais e sociais”.


Nos dois primeiros relatos percebe-se que o perfil do poliamorista no
Brasil está ligado ao ideal de amor romântico, com bases monogâmicas. Ao
idealizar um modelo de família o indivíduo poliamorista acaba esbarrando em
ideais monogâmicos e fechando a relação, nota-se de forma clara a
predominância de relacionamentos em forma de triângulo fechado, sendo essa
a forma escolhida pela maioria dos adeptos para a formação familiar.
No terceiro relato nota-se uma crítica a esse modelo de família
poliamorista, pois o participante acredita que esse princípio familiar não condiz
com a proposta do poliamor. No discurso de A.P.M. nota-se que para ele esse
modelo de família historicamente construído impossibilita a vivência
poliamorosa em sua plenitude.
Vive se num período de grandes transformações no mundo, em diversas
esferas, incluindo o que diz respeito ao amor. Assiste-se a um novo mundo de
escolhas, em que o leque de possibilidades diante do amor se amplia (LINS,
2008). Tomando como base essa afirmação e os relatos apresentados,
percebe-se que se fazem necessários estudos aprofundados sobre essas
novas formações amorosas, assim auxiliando os adeptos diante as dificuldades
encontradas.
91

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Embora se tenha observado uma visão positiva a respeito das relações


poliamoristas em relação às novas configurações de relacionamento e arranjos
familiares, se observa que existem alguns tabus e preconceitos dentro da
nossa sociedade Brasileira conservadora que, ainda não foram desvelados e
tem dificuldades pessoais para lidar com esta demanda existente.
Os dados analisados indicam ainda existir preconceito em relação às
uniões poliamoristas, por tentar vivenciar o seu relacionamento demostrando
que toda forma de amar é valida e que o amor não tem como mensurar
relevância entre os envolvidos. Assim sendo, seria de extrema relevância
destacar algumas possíveis medidas para que esses futuros adeptos não
encontrem tamanhas barreiras para vivenciar sua forma de amar dentro desta
ou outras diferentes configurações que possam surgir na expressão de amor.
Sugerimos tais propostas de intervenção, como:
a) Discussão nas disciplinas de graduação, principalmente nos cursos
de humanas e saúde, as novas configurações de relacionamentos
e de família na sociedade pós-moderna.
b) Implementação de políticas públicas para melhorar o atendimento
dessas novas configurações de família.
c) Estimular novas pesquisas científicas acerca da visão dos
profissionais de Psicologia e Direito a respeito das relações
poliamoristas e das novas configurações de família.
Seria de extrema relevância o incentivo á pesquisa cientifica, divulgação
de trabalhos científicos, realização de eventos que favoreçam a troca de
informações como simpósios, palestras, e oficinas. O contato com essas
representações sociais é enriquecedor para as próprias visões sociais que se
tenha a respeito dessas novas configurações de relacionamentos amorosos e
liberdade de expressar o sentimento de amor.
Pensando em relação a esta análise identificou-se os desafios
enfrentados pelos adeptos do poliamor no qual, como proposta de intervenção
para futuros trabalhos acadêmicos da área de Psicologia e Direito, caso estes
venham a se defrontar com esses sujeitos ou as novas configurações de
92

famílias com tais sentimentos difíceis de serem lidados, não os deixem de


fornecer um acolhimento e apoio necessário, garantindo assim, os mesmos
direitos que uma família heterossexual possui. É dever dos Psicólogos (as)
amparar esta família, livrando-se de suas crenças ou julgamentos fazendo que
haja a disseminação de qualquer tipo de preconceito que venham a ter.
Para Giddens (1993):
“nossa existência interpessoal está sendo completamente
transfigurada, envolvendo todos nós naquilo que chamarei de
experiências sociais do cotidiano, com as quais as mudanças
sociais mais amplas nos obrigam a nos engajar”.
93

CONCLUSÃO

Diante aos dados levantados na presente pesquisa compreende-se que


novas formações amorosas estão se tornando visíveis para a sociedade, assim
o leque de opções se abre e o poliamorismo ganha destaque. Por meio de
acompanhamento das redes sociais e também com um estudo detalhado de
relatos dos adeptos participantes, enfatizou-se a importância de um olhar mais
atento a essa população, para assim auxiliá-los a enfrentar os desafios
encontrados diante a sua escolha amorosa.
Os conteúdos levantados permitiram identificar o perfil dos adeptos,
analisar suas escolhas, compreender as dificuldades, e reconhecer o
enfrentamento da sociedade diante as transformações afetivas e sexuais
vivenciadas por esse grupo específico.
O preconceito a respeito das novas configurações de relações amorosas
e de família é notável, ainda que não tenha se mostrado de forma exacerbada
na pesquisa. A auto-aceitação aparece como um dos maiores desafios a ser
enfrentado, o indivíduo que vivencia experiências poliamoristas, se deparam
com acentuadas dificuldades para entender-se como uma pessoa capaz de
amar diversas outras ao mesmo tempo, devido a estereótipos sociais acreditam
estar diante à um desequilíbrio ligado a sexualidade, uma pessoa promíscua ou
que não consegue se comprometer afetivamente de forma responsável. Sendo
assim o conteúdo teórico levantado, o acompanhamento de grupos
poliamoristas em redes sociais e as entrevistas realizadas com adeptos,
possibilitou reconhecer, observar e discutir conteúdos acerca de tão polêmica
forma de relacionamento afetivo.
Assim, constata-se que os adeptos apresentam dificuldades para o
reconhecimento de suas escolhas, e alguns de seus interesses ainda
aparecem de forma difusa, como por exemplo, o conceito de família, pois suas
concepções ainda esbarram em ideias oriundas de um universo monogâmico,
fundamentado em um ideal de amor romântico.
O mundo poliamorista no Brasil apresenta uma característica
diferenciada, diante ao levantamento teórico constatou-se que a ideia
poliamorista é baseada em questões de liberdade, igualdade e honestidade,
94

sendo assim o amor deve ser compreendido sem a problemática de um mundo


monogâmico, ou seja, controle, ciúme, possessividade, imposições de
proibições, restrições, entre outros, não devem permear relações poliamorosas.
Nos resultados obtidos através das entrevistas, percebe-se que o conceito de
relacionamento amoroso em nosso país, ainda está pautado em interpretações
relacionadas ao ideal de amor romântico.
Existe uma grande discussão sobre essas duas interpretações, de um
lado estão os poliamoristas que repelem qualquer insinuação de “relações
fechadas”, pois acreditam que isso não condiz com o ideal poliamorista onde a
intenção é ser livre para amar e se relacionar sexualmente com quantas
pessoas desejar, de outro lado encontramos adeptos que optaram por um
relacionamento fechado tipo “trisal” ou “quadrilátero” pautado em uma
polifidelidade, onde os integrantes do grupo ficam impossibilitados de manter
relações fora do grupo, e quando isso acontece sem o consentimento dos
outros integrantes, passa a ser visto como traição.
Apesar de inúmeras mudanças atuais em nosso país relacionadas às
diversas formas de amar, por diversas vezes encontrou-se um discurso
baseado em idéias monogâmicas e tradicionalistas, pautadas por sentimentos
de posse e ciúme, mesmo que velado. Para os poliamoristas que optam pela
polifidelidade o fato de poder ter relações sexuais com diversas pessoas sem a
necessidade de um compromisso mais duradouro, é visto como libertinagem,
promiscuidade ou falta de respeito, o que nos leva a histórica definição de que
“sexo” somente dentro de um relacionamento fechado, ou compromissado.
Sobre o conceito de família nos deparamos com a mesma situação, por
um lado os poliamoristas que acreditam não haver possibilidade para a
formação de uma família pautada no modelo tradicional, utilizando como base
a formação poliamorista, devido à opção dos adeptos por liberdade como
princípio absoluto.
De outro lado encontramos adeptos que idealizam uma família no seu
formato historicamente construído, com pais e filhos, dividindo o mesmo teto e
responsabilidades, dentro de um relacionamento fechado e comprometido com
a fidelidade.
Tal experiência confirma a hipótese de que são extremamente
necessários novos estudos, diálogos, debates e possíveis ressignificações do
95

tema proposto. Segundo Rams (2015), a informação e o conhecimento que


adquirimos, de fora para dentro da esfera sexual, influenciam o nosso próprio
conhecimento sobre nós mesmos e também a interação que temos com os
outros.
Frente a tais análises, considera-se importante finalizar este trabalho
dando destaque especial para a preparação dos alunos e alunas de Psicologia
em lidar com estas novas configurações de família, e não se pode deixar de
levar em conta a necessidade de novos estudos sobre o tema.
96

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105

APÊNDICES
106

APÊNDICE A

Convite para Coleta de Características dos Adeptos do Poliamor

Olá Grupo.
Aqui é Rosana Souza e Peterson Merlugo, somos alunos do último
semestre do curso de Psicologia do Unisalesiano – LINS. Participamos deste
grupo há alguns meses e temos um grande interesse acadêmico no conceito
poliamorista. Estamos em fase de conclusão de TCC - “É isso aí... reta final”- e
o tema escolhido foi POLIAMOR: O perfil dos praticantes e os desafios
enfrentados.
Diante das grandes transformações vivenciadas em nossa sociedade
Pós-moderna e as suas influências nos indivíduos, cabe aos acadêmicos e
profissionais da área de psicologia abrir espaço para um maior entendimento
referente às novas configurações de relacionamentos amorosos e arranjos
familiares. Assim eu e meu colega de curso optamos por inicialmente levantar
informações sobre os indivíduos que praticam o poliamorismo. Em seguida,
pretendemos através de entrevistas com alguns adeptos pré-selecionados,
analisar os aspectos psicológicos, afetivos e sexuais dos sujeitos praticantes
das relações poliamorosas. E finalizando, contando claro, com a ajuda de
vocês, procuraremos identificar as concepções dos praticantes a respeito
dessa nova forma de relacionamento e suas dificuldades.
Assim, segue algumas questões iniciais para um levantamento de
informações básicas sobre o perfil dos adeptos:
Qual sua profissão?
Qual a sua idade?
Raça/cor ?
Grau de escolaridade?
Religiosidade?
Onde mora?
Estado civil?
Qual sua orientação sexual?
Agradecendo a colaboração antecipadamente, estaremos à disposição
107

para qualquer dúvida.


108

APÊNDICE B

Roteiro de entrevista

1- A partir de que momento você se tornou adepto de um relacionamento


poliamorista?
2- Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser praticante de
relações poliamoristas?
3- Dentro de uma relação poliamorista quais são os principais desafios
enfrentados?
4- Considerando que você é poliamorista, quais são as características de
um sujeito que vive uma relação poliamorista?
5- Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está estruturado?
6- O que é ciúme para você?
7- É possível uma relação poliamorista sem ciúmes? Se a resposta for sim,
como isso é possível?
8- Como sujeito poliamorista, você idealiza a constituição de uma família?
9- Casamento e Família, como se constituem no Poliamorismo?
10- Qual a sua opinião (concepção) sobre a constituição legal de uma
família poliamorista?
11- Quais as principais características que você pode definir em diferenças
entre os relacionamentos monogâmicos e poliamoristas?
109

APÊNDICE C

Entrevistas adeptos poliamor na integra

Fizeram-se necessários a descoberta e encontro de praticantes do


poliamor para que estes contribuíssem através de entrevistas suas vivencias e
olhares voltados ao tema. Tais entrevistados foram informados sobre o intuito
da pesquisa, e que as mesmas seriam usadas como material de pesquisa para
trabalho de conclusão de curso, e que suas identidades seriam mantidas em
total sigilo se assim decidirem. Como pesquisa cientifica se faz necessários os
estudos e comparações documentais e produções e novos materiais, assim
após todas as entrevistas realizadas serão usadas como instrumentos de
comparações entre entrevistas e outros materiais já estudados.
Basear este trabalho somente com o que já foi produzido e negligenciar
o olhar de seus praticantes seria algo errôneo e inadmissível para se dar total
validade e responsabilidade pelos resultados obtidos nesta pesquisa.
Assim dando inicio a nossas entrevistas, e devidamente autorizado à
publicação de seu nome e profissão, entrevistamos R.S.C. 29 anos, psicólogo,
morador da cidade de São Paulo. Entrevista realizada em 16 de Setembro de
2017 às 14 horas via Skype.
110

ENTREVISTA 1

Entrevistado R. S. C. – 30 anos, Psicólogo. São Paulo. Relacionamento: Trisal


Peterson- Olá R.S.C. boa tarde, esta é minha companheira de Tcc, Rosana.
Rosana- Olá R.S.C., boa tarde é um prazer te conhecer.
R.S.C - Boa tarde, o prazer é meu.
Peterson- Então R.S.C. antes de começarmos gostaria de saber se nos escuta
bem, e que não serão divulgados seu nome ou profissão se assim não quiser.
R.S.C.- Imagina por mim tudo bem, não tenho problema nenhum em falar
sobre o assunto e já estou bem acostumado falar sobre o tema.
Peterson- Ah sim claro, já deu até entrevista na Parada para a repórter do site
Uol.
R.S.C.- Sim, isso mesmo.
Rosana- Legal R.S.C.
Rosana- Então R.S.C., nós preparamos algumas perguntas já diretamente
dirigidas ao tema do poliamor, mas gostaríamos de deixar o assunto e a
entrevista livre, para que nos conte de forma mais aberta, suas vivências e
como chegou até o poliamor.
R.S.C. - Ok, tranquilo.
Peterson e Rosana- fique a vontade para falar.

1- A partir de que momento você se tornou adepto de um relacionamento


poliamorista?
R.S.C.- Desde muito cedo, eu já tive os dois tipos de relacionamentos, com 16
anos me casei com um cara que tinha idade para ser meu pai, eu com 16 e ele
com 42, vivemos um relacionamento monogâmico, ao menos de minha parte e
deste relacionamento tivemos nosso primeiro filho através de inseminação que
veio a falecer com 1 ano e 8 meses, após isso nosso relacionamento começou
a despencar, mas como a queda do relacionamento resolvemos adotar outra
criança que vive comigo hoje, e ele já tinha um filho do primeiro casamento, eu
com 16 já assumi um filho de 8 anos. A intenção da ex-mulher foi atrapalhar
nosso relacionamento, o que não deu certo porque sou apaixonado por
crianças, vivemos este relacionamento por 10 anos. Até este momento eu não
conseguia quebrar o paradigma de um relacionamento monogâmico, fui criado
111

pelos meus avós e isso eu já tinha como o certo. Após isso fui trabalhar em
uma empresa de callcenter onde conheci o Everton um dos participantes de
meu primeiro relacionamento poliamorista e comecei a namorar, através dele
conheci seu amigo de infância Bruno, onde me apaixonei por Bruno e não
conseguia escolher ou decidir com quem ficar, e como não conseguia decidir
por um ou outro, pois por minha percepção do que era correto era escolher
entre um dos dois, decidi não ficar com nenhum dos dois. E isso acabava
comigo a imaginação de que eu estava apaixonado pelos dois, devido a minha
criação, quando eu me casei com 16 anos meus pais já tinham quase 90 anos,
e já foi difícil para eles eu me assumir em um relacionamento homossexual
imagina como poliamorista, isso nem para mim era possível, assim sofria
muito. Foi quando me separei de Everton, explicando que o amava mas que
também amava seu amigo, foi quando disse que se eu não pudesse ficar com
os dois que não ficaria com nenhum dos dois. 1 mês após o término os dois me
procuraram e por parte deles veio o convite para o início desta relação
poliamorista, inicialmente os dois não tinham nenhum relacionamento entre os
dois, somente eu namorava os dois, mas com o tempo eu quebrei este
paradigma e convenci que os três estávamos em um relacionamento, então
assim começamos nosso relacionamento poliamorista, que foi muito bacana e
durou quase 2 anos. Essa relação foi que abriu as portas para o poliamor para
mim, através desta confusão, acho que foi até isto tudo que fez me interessar
pela psicologia, eu comecei a pesquisar sobre o assunto e sobre o tema,
porque como falei até então para mim era tudo putaria. Na minha visão o que
me fez pensar na proposta e eu vou seguir foi, eu conheço muita gente que
está numa relação a duas pessoas só que estou com você aqui, e na esquina
eu tenho outro e daqui a cem metros eu tenho outro, e isso não é o certo. No
caso do poliamor tem mais de duas pessoas envolvidas, mas existe respeito,
companheirismo existe amor entre os três, para mim é esse entendimento de
poliamor, é amar as outras duas pessoas por igual e não conseguir escolher
entre um e outro.

2- Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser praticante de
relações poliamoristas?
R.S.C.- De acordo com minha religião não sofri tantos preconceitos e nem
112

sentimentos de culpa, porque a bruxaria não condena a poligamia, já


socialmente falando é meio complicado, o difícil é aceitar e a auto aceitação
pelo menos da minha parte. Como fui criado pelos avós num sistema muito
rígido, como a palavra que minha avó sempre dizia, eu criei vocês para se
casarem e não ficarem fazendo putaria por aí. E a minha visão, até conhecer
os dois era que ficar com mais de duas pessoas era putaria, eu não tinha essa
visão de amor. Mas que hoje dentro do meu meio, do meu círculo já não sofro
tanto preconceito, mas quando a gente abre para as pessoas de fora é um
choque, você vê na cara da pessoa como assim. Ai tem gente que guarda para
si e tiram suas próprias conclusões e esses são os piores. E tem aquelas
poucas pessoas que te perguntam, mas e ai como que é, ai você consegue
mostrar para a pessoa como funciona, que realmente não perversão, que
realmente é amor. Preconceito Eu enfrentei um pouquinho na minha Pós-
graduação, mas ainda disse vem cá eu achei que todo mundo aqui era
psicólogo, não é uma pós-graduação em psicologia? Então porque do
espanto? Mas dentro do meu circulo, minha família e meus amigos eles já
estão acostumados e a gente gosta muito de receber as pessoas então a gente
sempre ta fazendo jantar, alguma coisa integrando todo mundo nesse nosso
meio, porque a gente sabe que é meio complicado para outras pessoas
entenderem e a gente tentar mostrar ao máximo que é normal.

3- Dentro de uma relação poliamorista quais são os principais desafios


enfrentados?
R.S.C.- Os principais desafios seriam os mesmos de qualquer outro
relacionamento, só que assim ampliados se você tiver que lidar com o mau
humor de uma pessoa você no poliamor terá que lidar com duas. Sabe todos
aqueles problemas de casal multiplica, multiplica você vai ter em dobro, (risos).
São duas pessoas diferentes, se fosse para escolher uma relação monogâmica
seria mais fácil, (risos) é serio se for parar pra pensar é muito mais fácil. Tem
dias que você fala meu, não vai rolar sexo, eu não tenho cabeça para isso, ai
vira cada um dos três para um lado e vai dormir. E não é só isso é lidar com os
problemas do dia a dia, é ajudar o outro, nesses dois anos já passei por
diversos problemas e eles estavam ali me segurando me dando apoio e da
mesma forma eles com problemas e eu ali dando apoio. Dentro de
113

relacionamento tem que lidar com essa questão de que são três pessoas, lidar
com uma única pessoa já é difícil, lidar com duas fica um pouquinho mais
difícil. O dia a dia de qualquer casal, os altos e baixos de qualquer
relacionamento, não é tão diferente assim do relacionamento comum, mas são
duas pessoas você tem que lidar, com duas pessoas diferentes entendeu, são
duas opiniões, duas visões de mundos diferentes né. Só que tem problemas
também, tudo tem seu bônus realmente se tratando sexualmente é incrível, não
tem nem do que se falar, quem já teve a oportunidade de fazer sexo a três
sabe o quanto é incrível, entre as pessoas tem aquele interesse, mas elas não
assumem, imposição da sociedade, eu tenho vários amigos que dizem eu acho
incrível seu relacionamento, mas eu não teria coragem, mas as pessoas se
privam e esquecem que a vida é uma só se eu for ficar pensando em todas
convenções que impuseram para mim que ninguém perguntou se eu queria,
me mostraram a vida é assim, mas quem disse, sabe onde está escrito? Eu
não sou contra nenhuma religião, mas é muito engraçado evangélicos tentam
entrar nesse meio, nesse mundo, eu tenho parentes que são evangélicos que
tentam me levar para igreja, e eu gente não pelo amor de Deus, não é, não to
com demônio, deixa lucifer lá quieto no canto dele, (risos) entendeu. Deixa tio
Luci lá, ele tá quietinho né, aí pronto quando eu falo tio luci, aí cai a casa.
(risos) minha relação é a três eu não convidei ele ainda (risos) a gente não
resolveu abrir para uma quarta pessoa (risos) meus pais biológicos são muito
católicos, e meu pai é militar, ele fala pra mim o seguinte: já aceitei o fato de
você ser homossexual! Aí eu: ué aceitou? Valeu, mas eu não pedi aceitação,
só pedi respeito, ninguém precisa aceitar quem vai dormir e acordar com a
pessoa sou eu. E ele continua: Agora tenho que lidar com o fato de você ter
dois homens! Eu falei primeiro eu tenho dois namorados se são homens ou não
não sei, se são tão assim, mas minha mãe o medo dela é que a gente já sofre
preconceito por ser gay imagina você andando com dois homens na rua, mas
não fico me agarrando na rua o meu relacionamento é para mim. Mas eu brinco
bastante com ela eu digo mãe meus namorados são bem mais altos que eu,
são dois armários deste tamanho para me proteger (risos) ando na rua com
dois seguranças. Se você soubesse da metade do que eu já vivi na minha vida
você iria querer mais dois do meu lado (risos). O principal desafio do poliamor
foi entrar em sintonia entendeu até um parar de sentir ciúmes do outro que isso
114

rola muito no começo “ah, você fala mais com ele do que comigo, ah você está
comigo, mas fica ligando para ele. Acho que é mais o entrosamento eu já
passei por isso nos meus dois relacionamentos, essa questão de divisão de
tempo, porque até então no começo eles não se relacionavam, hoje eles se
relacionam e nos dois casos foi assim eu entrei numa relação poliamosa onde
as duas outras pessoas não se relacionavam. Eu sou a sementinha do mal ou
do bem eu abri a mente deles para uma outra realidade. O principal no começo
do relacionamento poliamor é isso, é administrar tempo, o ciúmes com duas
pessoas que nunca tiveram um relacionamento assim na vida.

4- Considerando que você é poliamorista, quais são as características de um


sujeito que vive uma relação poliamorista?
R.S.C.- A característica é a pessoa querer amar né, porque a ideia do
poliamorismo é você amar todos os componentes do relacionamento por igual
né porque se não for para amar por igual aí não é um poliamor, ai é um sexo a
três, então assim você tem que realmente amar e não consegui escolher. Nas
duas vezes que eu vivi e a que eu vivo hoje inicialmente a questão foi
exatamente esta eu entrei na relação exatamente por não saber escolher um
ou outro, então este é o contexto entendeu, é amar todos os integrantes do
poliamor por igual. Num ter nenhum preconceito e aceitar as qualidades e
defeitos de cada um entendeu, e amar eu acho que a principal característica de
um poliamorista é a capacidade de amar né.

5- Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está estruturado?


R.S.C.- Meu relacionamento hoje está estruturado num trisal. Eu e mais dois
rapazes onde todos são homossexuais. Um dos meus namorados (Bruno) é
mais hiperativo, ele é mais para o esporte, corrida, ele gosta muito de corrida
de carro. O outro (Everton) é mais intelectual, mais cinema, teatro esse tipo de
coisa, duas personalidades completamente distintas.

6- O que é ciúmes para você?


R.S.C.- Pra mim ciúmes é sentimento de posse, respondendo esta pergunta. É
uma coisa muito ruim que desgasta a relação entendeu, já enfrentei no inicio
do meu poliamor, um ter ciúme do outro, mas assim é algo que com o tempo foi
115

se dissipando, foi até porque eles tinham à visão de que uma hora eu iria
escolher um dos dois entendeu antes eles não se integravam tanto, mas hoje
eles são bem integrados entre si eu posso dizer que todos nós somos
apaixonados uns pelos outros. Mas claro que no inicio rola um “você esta
dando mais atenção para ele do que para mim”, esse tipo de coisa é tão besta,
e eles sabem que eu respeito muito os dois. Então eu to integrado com eles eu
sou apaixonado por eles e que tirando os dois eu não preciso de mais
ninguém, entendeu. Que os dois me completam neste ponto, então acho que é
isso vai passando com o tempo, foi extinguindo. Não que eles não tenham
ciúmes, eles tem muito ciúmes fora do relacionamento entendeu. Então às
vezes a gente vai sair ai tem outra pessoa diferente um dos dois acabam
sentindo ciúmes por outra pessoa que não tem nada a ver com o
relacionamento, mas rola aquele ciúme normal de casal, algo bem mais sadio
do que o que era no começo eu acho que isso é amadurecer né. Amadurecer
como poliamor amadurecer como pessoas dentro do relacionamento.

7- É possível uma relação poliamorista sem ciúmes? Se a resposta for sim,


como isso é possível?
R.S.C.- Então, existe a possibilidade sim e é um trabalho de formiguinha sabe,
é ir mostrando realmente, olha o mesmo tanto de atenção que eu dou pra ele
eu dou para você, incluindo sempre né, os dois em tudo que você vai fazer, em
todas as suas decisões, mostrando realmente que é um trisal e que aquilo é
importante para você, a opinião dos dois é relevante, a opinião dos dois conta
muito entendeu. Eu acho que no começo é sempre um pouco mais difícil
principalmente para quem nunca viveu o poliamor, mas que com o tempo você
vai sim construindo, vai colocando tijolinho por tijolinho, ai você tem uma
relação assim... sólida, firme. Um exemplo disso foi o meu primeiro dia dos
namorados, eu achei que iria acabar ali, né. Simplesmente um me liga e diz
olha se arruma, que eu estou passando ai que nós vamos em tal lugar. Cinco
minutos depois o outro me liga, oh to indo te buscar pra gente ir em tal lugar,
eu falei “fudeu”, eu fiquei tipo: e agora? tipo assim: dá para clonar aqui por
favor, dividir (risos). Aí beleza chegaram os dois em casa eu tava de camiseta
e cueca, largado no sofá com um balde de pipoca assistindo filme, aí tipo, e ai
nós não vamos sair? Eu falei não. Ah como assim? E eu falei, enquanto vocês
116

não chegarem a um consenso, nós não vamos sair, vêm comigo. Tranquei os
dois dentro do quarto, eu só vou me arrumar quando os dois chegarem ao
consenso de onde vamos á três, se não vamos á três, então não vamos a lugar
nenhum, ok. Sai do quarto e deixei eles lá, eles ficaram bem por uma hora e
meia debatendo, (risos) para onde iríamos sair. São duas personalidades
completamente distintas como havia dito antes, aí no fim a gente foi até uma
pracinha que tem aqui na zona leste, perto da onde eu moro, chamada praça
Silvio Romero, então lá a noite fica um monte de gente comendo hot dog, a
gente acabou por terminar o dia dos namorados lá comendo hot dogs, os três,
no meio termo, não teve o teatro naquele dia como estava programado pelo
Everton e nem fui ver a corrida de carro que tava programado pelo Bruno.
(risos). Ficamos comendo dog na Romero. E foi a partir dai que caiu a ficha,
realmente, não peraí, não dá para marcar um programa a dois mais, entendeu.
Ou vamos juntos os três ou não vamos, eu sou assim, se não vai um não vai
nenhum. Sou muito disso, e a partir dai eu não tive mais tanto problema de
ciúme. Ou era os três ou não era mais.

8- Como sujeito poliamorista, você idealiza a constituição de uma família?


R.S.C.- Eu acho que a família é bem vinda né, em relação, que nem eu tenho
filho, e hoje meus dois namorados interagem com o meu filho sem eu ver
distinção de um para o outro sabe, eles gostam muito do meu filho, eles
brincam, eles jogam bola com meu filho e meu filho entende que eles são duas
pessoas especiais para mim, ainda é muito cedo para ter essa conversa com
ele, sobre o fato de eu estar num relacionamento de poliamor, mas ele entende
que ele tem duas pessoas a mais que eu amo muito.

9- casamento e família, como se constituem no poliamorismo?


R.S.C.- Ah eu acho que os princípios do relacionamento, do amor e do
casamento essas coisas respondendo a pergunta em relação ao poliamor ele é
igual só que a diferença é que você tem que amar, respeitar e cuidar de duas
pessoas diferentes, eu acho que se existe amor, companheirismo e compaixão
né, o interesse das duas áreas.

10- Qual a sua opinião (concepção) sobre a constituição legal de uma família
117

poliamorista?
R.S.C.- Na verdade essa legalidade do poliamor, ela é um pouco subjetiva né.
Eu acho que a gente tá longe disso, pelo menos aqui no Brasil né. Eu acho que
seria bem interessante, garantiria vários direitos que são essenciais né, nessa
questão, mas eu acho que a gente está muito longe disso. A ideia que eu tenho
foi quando nós entramos no acordo de um dia nós formarmos uma família, a
gente conversa muito sobre isso. É previdência privada, tipo já com
beneficiários pré-estabelecidos, a gente pensa muito uns nos outros só que a
gente tá tentando fazer de uma forma que nós não precisaremos da lei do
nosso país que é falha. Teoricamente um país laico, mas bem teoricamente né,
é muito teórico isso. Então o que rege o nosso pais ainda é a religião então tá
muito longe, a gente tá muito longe de seguir esses vários exemplos mundiais
que tá cada vez crescendo mais, nós tivemos ai casamentos aqui do lado,
países vizinhos, na argentina aqui do lado e aqui ainda muito arcaico. Eu
acredito que a nossa visão como trisal né a visão de relacionamento vai além
desta questão. A gente vai tentar se blindar de outras formas ou até mesmo
assim, uma das ideias de acordos que a gente tem, é essa questão de seguros
e previdências privadas em nome de beneficiários pré-estabelecidos e a outra
seria é que tenho filho e um dos meus namorados também tem um filho né,
então seria realmente tudo que a gente tem estar no nome das crianças. Então
esse é outro contexto querendo ou não as crianças vão crescer com todos, vão
amar todos, e ai fica só entre a gente mesmo. Eu particularmente não quero
contar com a lei do nosso País.

11- Quais as principais características que você pode definir em diferenças


entre os relacionamentos monogâmicos e poliamoristas?
R.S.C.- Ah sei lá, eu não vejo, tirando o fato da monogamia eu não vejo a
questão como diferente né, são duas pessoas se preocupando com você ou
você se preocupando com duas pessoas, é acho que a diferença é que assim a
traição ela vira desnecessária e subjetiva porque você já tem tudo ali entendeu
em questão de qualidades e defeitos, eu acho que traição não acontece né
assim você tem duas pessoas suprindo todas as suas necessidades, no meu
caso eu tenho duas pessoas maravilhosas do meu lado, suprindo todas as
minhas necessidades e eu não vejo um porque procurar alguma coisa fora
118

disso, então eu acho que a fidelidade para com os dois ela fica bem mais forte,
entendeu. Eu acho que essa é a única diferença mais gritante, porque não me
falta nada.
119

ENTREVISTA 2

Entrevista com C.L.L. – 46 anos, vendedor - SP/CAPITAL


Entrevistadores - Olá C.L.L. Boa noite. Olá, boa noite. Prazer em te conhecer
agora com direito a imagem (risos). Muito obrigada por aceitar participar da
entrevista, ficamos muito contentes com sua contribuição.
C.L.L.– eu que agradeço por vocês terem o interesse de falar sobre esse
assunto tão complexo e polêmico e também por querer ouvir minhas histórias.
Entrevistadores – Sim, o tema é muito interessante. A faculdade inteira nos
perguntando, passando pelos corredores nos param para saber do poliamor, o
que significa isso. Para nós está sendo assim o evento do ano.
C.L.L. - Ah imagino, mas eu sei o quanto o assunto pode provocar curiosidade.
Mas estamos nos organizando e se der tudo certo, estaremos ai prestigiando o
trabalho de vocês. Eu, R..., o B..., vamos tentar estar aí sim.
Entrevistadores - nós falamos com a orientadora e ela confirmou que vocês
poderão estar presentes e vai ser uma honra recebê-los aqui.
Entrevistador - Ah, e o Breno eu já mandei o termo para ele, para a mãe dele
assinar.
C.L.L. - Ah tá tranquilo. Eu estava falando com ele agora pouco. Estava
passando algumas orientações porque sabe né, 16 anos. Temos que trabalhar
a cabecinha dele porque é bem avoado. Para não meter os pés entre as mãos.
Entrevistadores - Ah sim! Normal para a idade.
Entrevistadores - o que a gente queria na verdade era fazer a entrevista de um
jeito bem tranquilo. Não queríamos fazer uma coisa muito formalizada, deixar
algo informal mesmo, queria que você falasse de suas vivências. Como
começou o poliamorismo para você. Com quantos anos começou? Quantos
anos duraram os relacionamentos. Com quem foi? Homens ou mulheres?
Orientação sexual dos integrantes...
C.L.L.- Ah ta, entendi. Vocês querem que eu tire a roupa agora, ou pode ser
depois? (risos).
Entrevistadores - não, não é necessário! (Risos) Pode ficar com a roupa, a
gente pula essa parte. Eu queria deixar uma coisa mais livre. Queria que você
me falasse principalmente de suas vivências. Para quem está chegando agora
no mundo poliamorista. Queria que você explicasse um pouco para a gente, o
120

que é o poliamor para você?


C.L.L. - Então eu estava falando com o Peterson antes Rosana, mas como
você chegou agora, vou começar de novo. Porque as pessoas entram nos
grupos sem saber ao certo o que é isso e confundem muito. Ou acha que é só
sexo (risos) “polisexo”.
- Ah tá legal vou transar com muita gente! Quero experimentar e tal. Mas, na
verdade são pessoas mal resolvidas. Então o que eu faço na maioria vezes é
orientar, saem grandes quebra-paus, ideias diferentes do que é o verdadeiro
poliamor.
Eles me procuram mais para saber a minha experiência e também para que eu
os ajude a enfrentar isso. E eu faço isso numa boa porque o que eu quero é
proliferar isso, difundir essa ideia.
C.L.L. – mas, falando de uma forma mais didática, podemos dizer que a
poligamia sempre existiu, essa ideia existe ha muitos anos, os seres humanos
praticam o poliamor desde sempre. Acredito que a humanidade vive de ciclos,
então o ciclo está voltando podemos dizer assim e é engraçado porque a
pessoa aceita o ménage, aceita normalmente a traição e a prática da traição
como normalidade para o homem, enganando a outra pessoa. O homem é o
garanhão e a mulher com perdão dá palavra é a “puta”, se tentar agir da
mesma forma. Mas não aceita o poliamorismo. O homem tem amante na rua,
tem a mulher (esposa) em casa, e na rua tem uma amante ou até várias
mulheres fora e não consegue assumir que é um poliamorismo. Não se
admitem poliamorista, mas na maioria das vezes o que vemos é a aceitação da
traição.
C.L.L.- Eu conheço bem o poliamor desde os anos 70 para cá. Então eu posso
dizer que conheço muitas pessoas poliamoristas. Pessoas com 70 anos, até
jovens com 16 anos, como o Peter... (risos) desculpe o Breno. São pessoas
que ainda carregam certo preconceito, digo que foram tempos difíceis, eu
peguei a época do militarismo para vocês terem ideia.
Então... Mas, o que eu vejo mesmo é o inicio de uma mudança nesse
moralismo. Também tem o poliamorismo entre dois gays e uma mulher. É uma
coisa que vai enriquecer muito o trabalho de vocês. Além de ter outras
formações nesse meio, mas sem delongas que eu já falei demais vamos lá, em
que posso ajudar?
121

Entrevistadores - A partir de que momento você se tornou adepto de um


relacionamento poliamorista?
C.L.L.- A minha experiência começou bem naturalmente. Não foi uma coisa
prevista, eu não estava pensando nisso, na verdade eu nunca tinha pensado
sobre isso. Não tinha essa história de poliamor na minha época, não era
divulgado. Existia já! Isso é claro, mas nas famílias tradicionais não se falava
sobre isso. Tudo que é referente a sexo sempre existiu, mas certas coisas
eram putaria. Não existia realmente divulgação no Brasil sobre o poli. O que se
via era um pouco lá fora, Europa e EUA, aqui nada, ou muito escondido. Mas
era raro você ver alguma coisa falando realmente sobre esse assunto aqui no
Brasil. E ai, começou de que forma, então tava até falando para o Peterson que
eu deveria ser psicólogo. Porque nos grupos da internet eu atuo como um
conselheiro, um orientador e ofereço amizade e as pessoas, principalmente no
meio gay, acham isso estranho, como assim só amizade? Estranho. (risos)
C.L.L. – Então, mas para mim tudo começa assim a partir de uma amizade o
que vai acontecer daqui pra frente ninguém sabe, mas eu preciso. Por que não
é tipo assim conhecer a pessoa num dia e já vou para a cama. Então é com
isso que eu tento trabalhar, eu tento colocar isso na cabeça das pessoas
conversando e tirando da cabeça deles esse repúdio e essa mídia errada.
Depois que percebi que estava apaixonado por duas pessoas e como sou feito
de amor, posso amar várias pessoas ao mesmo tempo. Então sou um adepto
convicto, independente do preconceito.
Então, sobre o meu inicio, eu tinha amizade com um casal que era do Paraná,
de Londrina e eles tinham 18 anos de um relacionamento então a relação deles
era fantástica.
Você olhava para eles percebia isso, mas eles estavam meio que perdidos
podemos dizer assim. Então eles começaram a trazer terceiras pessoas para
relação e ficou assim uma coisa meio desenfreada porque era assim, uma
pessoa diferente na relação toda semana. E também assim independente da
idade era meio que fogo na tarraqueta. E o que acontecia, a gente conversava
muito, tínhamos uma amizade. Eles eram um casal gay. Um deles era o
gerente do Banco do Brasil viajava bastante e o outro era professor de
educação física.
Só que nisso você percebia que eles tinham uma cumplicidade, uma parceria,
122

eles batalhavam juntos e tal e tudo isso estava sendo destruído. E eu percebi,
eu conversava muito com um, conversava com outro e chegou ao ponto que
falei assim: rapaz vocês estão chegando no fundo do poço, vão acabar com a
relação de vocês por causa de alguém que não vale a pena até que chegou um
dia que eles chegaram para mim e falaram: a gente precisa ir embora daqui,
vamos atrás de um porto seguro e quando a gente tiver instalado, entramos em
contato com você. Tá certo então, o que me importa é que vocês sejam felizes,
e eles foram, sumiram por um tempo. Um bom tempo depois eu fiquei sabendo
que eles voltaram, e que se instalaram aqui em Monte Mor, cidadezinha perto
de Hortolândia porque a família do André tinha muito parente nessa região. Aí
um dia eu estava em casa toca o telefone é a voz do André. Ele estava com
uma voz horrível e me falou o seguinte: Olha você reclamou que a gente nunca
mais foi na sua casa, será que você poderia vir falar com a gente, estamos
precisando de você. Na hora eu senti um clima meio pesado.
Eu estava ferrado cara. Desempregado, sem dinheiro quase passando fome o
carro sem uma gota de combustível fiquei pensando como que eu vou até lá.
Cheguei lá para conversar com eles e era aquela nuvem pesada e aquele vício,
porque é claro que se torna um vício, e é uma coisa que não se muda muito dá
noite pro dia. Então eles contaram que conheceram um rapaz que é
empresário em São Paulo, e qual era o tesão do cara: era destruir o casal,
esse era o prazer dele. Então ele vinha com essa história de poliamor, muito
viajado também entendido sobre o assunto, e com todo esse conhecimento ele
envolvia as pessoas, ele percebia pontos positivos e negativos nos outros,
pegava os pontos fracos e fortalecia os sinais negativos da relação.
E quando ele começava a se envolver mais profundamente com um, ele dava
um jeito de prejudicar o outro então quando eu os encontrei novamente
estavam os dois em cacos.
O P... é uma pessoa mais sensível, eu falei vou deixar o P... desabafar,
coloquei ele no colo deixei que falasse e depois falei: meu ele é seu parceiro de
18 anos, vocês têm um relacionamento incrível, vocês não podem deixar isso
acabar assim então ele chorou, chorou muito naquela noite.
O A... eu levei para o outro quarto, porque o A... é um cara assim mais
machista e daí, já viu o pau quebrou. Porque o cara é durão cheio de querer
ser o dono da razão tipo assim o macho alfa da relação. Daí o negócio ficou
123

feio os vizinhos acharam que estávamos colocando a casa abaixo quase


chamaram a polícia (risos). Eu deixei ele incorporar (risos) tipo assim macho
alfa sendo contrariado. Até eu me cansar! – Agora vamos conversar de macho
alfa para macho alfa, e se você acha que estou errado me explique o que está
acontecendo porque agora vocês encontraram uma pessoa que realmente está
conseguindo acabar com o relacionamento de vocês. Daí ele desabafou,
depois falei para ele o que P... estava sentindo. Quebrei o pau com o A...
primeiro ele não quis aceitar,a vizinhança veio acharam que ele estava me
batendo. Mas no fim, graças a Deus eles se entenderam. Eu perguntei se eles
queriam dormir aqui em casa, eles falaram não porque queriam ainda
conversar nessa noite, e pensar em tudo que tínhamos discutido, agradeceram
muito. E a partir disso foi criando um vínculo, porque na realidade até aí eu não
tinha visto isso como um relacionamento. Eu só os via como amigos. Então a
partir daí a coisa foi crescendo eles me chamaram várias vezes para ir até a
casa deles eu estava numa situação financeira muito difícil, desempregado.
Então eles me ligavam e pediam para ir até a casa deles para conversar e eles
pagavam a minha passagem ou colocavam a gasolina no meu carro. Para que
eu fosse visitá-los, éramos grandes amigos, mas daí esse relacionamento
começou a crescer.
E tudo começou assim numa amizade. Nós ficamos juntos mais ou menos uns
4 anos. Eles eram bem mais velhos do que eu, e eu já tinha ficado muito tempo
sozinho quase virei um monge (risos). E a coisa foi começando muito
tranquilamente, nós começamos a nos relacionar e daí virou o poliamor.
A minha experiência poliamorista, começou muito por acaso. Nunca havia
pensado neste tipo de relacionamento antes e começou através desse contato
com amigos, eles já haviam vivido sexo a três e também não haviam tido essa
experiência com o poliamor, até que eles vieram para São Paulo e tudo foi
começando naturalmente, conversando, trocando ideias, conhecendo, até que
quando nos demos conta, estávamos os três apaixonados e amando muito um
ao outro. Dai percebi que o amor não tem barreiras e foi uma das melhores
experiências que tive na vida. Dávamos-nos bem em todos os sentidos, indico
e falo sobre o assunto para aquelas pessoas que querem viver ou conhecer
sobre o assunto, pois vale muito a pena. O nosso trisal durou quatro anos e é
inesquecível. E a partir dai vi que viver o poliamor (amor sem limites e
124

fronteiras) é válido e que no fundo a maioria das pessoas vivem, como


amantes, mas no poliamor tudo é claro, sincero e verdadeiro. Hoje vivo um
falso poliamor e estou começando um poliamor com três solteiros, mas bem no
início. E agora é meu motivo de vida e vou plantar a semente para combater o
preconceito. Pois é maravilhoso.
C.L.L. - As pessoas não entendem muito bem o poliamor porque acham que é
o casal e um terceiro ou são dois casais. O negócio é que quando você entra
no poliamor não é um casal e o terceiro não são só dois casais. Na realidade
todos precisam se relacionar porque senão vai ficar aquela história tipo assim
eu vou gostar mais da Rosana e menos do Peterson. Ou melhor, eu vou amar
o Peterson, mas vou gostar um pouco da Rosana ou o contrário vou amar
Rosana e vou gostar um pouco mais do Peter. Na verdade a Rosana e o
Peterson irão ter qualidades que irão complementar a relação, então você vai
aprendendo que as pessoas se completam, existe algo que precisamos
entender que não podemos amar a todos do mesmo jeito. Temos que nos
relacionar, e assim vamos construindo algo e todos precisam se amar por que
não existe amor à primeira vista eu pelo menos penso assim. Pode até existir,
mas eu ainda não vi. O amor é construído com o tempo. O nosso poliamor foi
construído.
Mas então foi assim que começou para mim, aos poucos, através de uma
amizade. A gente foi trocar o primeiro beijo já estávamos juntos a 3 meses.
Nossa, vocês devem estar rindo de mim agora (risos) - Nossa ele parece uma
virgem puritana (risos).
Entrevistadores - Eu só estava imaginando a cena, vocês sentados no sofá os
três de mãozinhas dadas. (risos).
C.L.L.- Foi quase isso, mas a gente saía, íamos para o cinema, a gente ia
comer comida japonesa no bairro da Liberdade, o P... fazia uma arte de origem
japonesa, muito bonita, participou de feiras e amostras de arte e os Japoneses
achavam que ele tinha falsificado porque era perfeita, até ele participou das
comemorações dos 100 anos da imigração japonesa. Ele era especialista na
arte e os japoneses duvidavam porque ele era muito técnico. Ele achou um
colorido diferente, uma maneira de colorir a cerâmica, diferente do que eles
estavam acostumados a fazer então eles acharam que o P... estava mentindo
que aquela arte não era dele. Numa feira de arte japonesa eles viraram a
125

cerâmica de cabeça para baixo e confirmaram que realmente era uma nova
técnica. O Paulo era muito inteligente, uma pessoa fantástica mesmo.
E a coisa aconteceu e foi sendo construída. Foram os melhores anos da minha
vida. O Paulo sempre viajava muito, tinha o costume de levar as pessoas que
estava se relacionando nessas viagens pelo mundo todo, Europa, Grécia, Egito
e ele ficava triste porque dizia que agora que ele tinha encontrado as pessoas
certas ele não tinha mais condições financeiras para nos levar juntos. E ele já
não estava numa situação financeira tão boa. Ele se sentia culpado por não
poder fazer aquilo por mim, por nós. Mas em contrapartida tudo o que ele fazia!
Ele tinha uma chácara aqui perto de São Paulo e a gente só se encontrava nos
finais de semana porque eu trabalhava. Então a cada 15 dias ele organizava
um jantar temático. Ele nos convidava para essa chácara e fazia aquele jantar
temático, ele fazia decoração, ele fazia a comida, a bebida típica do país. Ele
servia a gente vestido daquele jeito. Ele apresentava a cultura dos outros
países através desses encontros, desses jantares. E para mim aquilo era o
máximo! Eu nunca tinha saído do Brasil, então era tudo fantástico. Aqui no
Brasil a gente viajava sempre, a gente conversava, a gente discutia quando
precisava, a gente curtia junto. A família do A... respeitava muito a minha
presença e os sobrinhos dele me chamavam de tio. Pessoal era uma coisa
maravilhosa, foi uma coisa que valeu a pena.
Entrevistadores - Dentro de uma relação poliamorista quais são os principais
desafios enfrentados?
C.L.L. - Uma coisa na verdade que atrapalhava um pouco era a questão do
ciúme. Eu costumava dizer que não tinha instalado um taxímetro para medir a
quantia de carinho que fazia em um ou no outro. O A... ele achava que eu agia
diferente com ele, não entendia que estávamos juntos, éramos um trio, como
poderia dar mais carinho para um do que para o outro. Eu sou uma pessoa
muito amorosa, muito carinhosa e tentava sempre estar presente,
demonstrando carinho. Se eu ficasse meia hora a mais conversando com o
P..., A... achava que eu estava dando mais atenção para ele. O P... era uma
pessoa mais sensível, às vezes precisava de um pouco mais de atenção.
Então o ciúme atrapalhava um pouco, mas de resto foi uma experiência
maravilhosa.
Se estivermos em um relacionamento com mais de duas pessoas a atenção
126

precisa ser dividida igualmente. Quando o P... tinha vernissages ele viajava e
nós íamos juntos nas exposições nas galerias. E era tudo muito enriquecedor.
Olha, eu realmente não tenho nada para reclamar do tempo em que estivemos
juntos, foi uma época maravilhosa.
As pessoas de fora não entendem, existe muito preconceito na sociedade, e
isso é outro desafio. Uma vez foi muito engraçado (risos). Nós fomos viajar,
tinha um vernissage em Foz do Iguaçu. E chegando no hotel nós pedimos um
quarto de casal. E falamos que era para colocar uma cama a mais no quarto. E
as pessoas não entenderam, o rapaz da recepção ficou olhando para minha
cara.
- Mas vocês vão ficar todos juntos?
- Sim vamos! E qual o problema?
- Não nenhum eu só acho que o quarto não vai caber tudo isso de cama. (risos)
- não tem problema meu querido, pode deixar as camas juntas, encostadas
mesmo (risos).
Então era muito isso, existia muito essa coisa de preconceito que era um
grande desafio, mas também isso era em 1997, 1998.
Entrevistadores - Era uma época onde a sociedade tinha muita dificuldade para
aceitação de orientação sexual. Você ser homossexual era uma barra, imagine
o poliamor. Porque eu também vivi essa época.
C.L.L.- Então gente imagina era muito difícil. Muito preconceito, no primeiro
momento é assim, quem já teve a experiência sabe como lidar com as
dificuldades, que o outro tem. O grande problema é que a pessoa ou ela pensa
como casal ou ela pensa no individual, porque a experiência poliamorosa
verdadeira tem pouco.
Depois que ela se toca, percebe que não tem como ser assim porque ali tem
mais de duas pessoas. É difícil as pessoas entenderem e tudo isso são coisas
para se trabalhar
Não existem pessoas iguais, o Peterson não é igual a você Rosana. Eu não
sou igual ao Peterson. Se vamos ter um relacionamento é preciso entender
que cada um tem uma política diferente, cada um trabalha ou funciona de uma
maneira diferente. E entender isso é sinal de comprometimento. Você se
compromete a amar aquilo que o outro tem de diferente. Essa história vai
complementar. Vai expandir esse amor, vai expandir ao encontro do
127

companheiro ou companheiros.
O casal tem aquela mania, pode estar enfrentando uma crise no
relacionamento e decidem sair para procurar uma terceira pessoa. Tem que
tomar esse cuidado, porque o outro não pode ser visto como salvador do seu
relacionamento. Ela, a terceira pessoa está chegando para agregar, e não para
salvar o que já estava ruim.
Existe outra dificuldade também, é que às vezes um deles está preparado para
abrir o relacionamento, enquanto o outro não. Então quando eles decidem
procurar por uma terceira pessoa, é muito comum acontecer que essa pessoa
pode agradar apenas um, mas o outro não consegue ser agradado. Então fica
difícil porque se você pergunta para o casal o que eles realmente procuram
cada um fala uma coisa, interesses diferentes. O que indico é: pessoal vamos
conversar primeiro, vamos nos entender, porque não é só cama. Porque o que
vocês querem é muito diferente, as ideias de vocês não batem porque cada um
está procurando por uma coisa, vocês precisam entender que abrir o
relacionamento é agregar valores.
Aqueles que fingem ser um poliamorista, eles vão ter um belo discurso, mas na
verdade o que eles querem é um desfile eles estão mais preocupados com o
físico. Se vamos abrir a relação, queremos uma mulher muito bonita, ou se for
o caso, podemos procurar um rapaz também, que seja forte e musculoso como
se fosse uma mercadoria. Então eles colocam os anúncios na internet, tipo
assim: Estamos procurando homens de tantos a tantos anos,
moreno/loiro/negro, alto/baixo. Eles vão escolher fisicamente o que interessa,
para as mulheres é a mesma coisa. Mulheres, normalmente com idade entre
18 a 35 anos, estudante, malhada, tipo mulher de academia. Como se você
estivesse exposto, como se fosse um pedaço de carne para ser escolhido.
Gente eu já tive uma situação assim conversando com um casal estava tudo
indo muito bem. Eles eram interessantes, eles estavam me achando
interessante, quando eles perguntaram a minha idade e eu falei 43 anos eles
responderam que não daria certo, porque o que eles estavam procurando era
por pessoas com até 40 anos (risos) onde já se viu. Então não aconteceu nada,
eles não quiseram me conhecer pessoalmente porque eu já tinha passado do
prazo de validade (risos).
E daí eu falei para eles: - gente vocês ainda não entenderam o que é o
128

poliamor. O que vocês têm ou que vocês estão querendo é sexo grupal. Isso
não é poliamor! O que vocês procuram não é poliamor. Daí o cara ficou bravo
comigo. Ah, mas eu também tô nem aí! (risos).
Onde já se viu, se você está preocupado com o físico da pessoa você não tá
interessado em um amor você só está querendo sexo.
Mas em compensação tem pessoas diferentes às vezes eu converso e as
pessoas agradecem até,
- Poxa cara isso é muito legal!
- Nossa cara suas dicas e o relato de suas vivências foram muito legais para
gente. Ajudaram muito.
Isso é importante quando a pessoa se abre tem que partir dela à vontade. É ela
que vai dar o passo não adianta ninguém querer forçar, é uma experiência e
pode não servir para todos. Pode não servir para ela. Mas ela tem que tentar
entender o que é o programa para saber exatamente o que ela procura
Entrevistadores - Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser
praticante de relações poliamoristas?
C.L.L.- 90% confundem com putaria, amor livre ou sexo a três. O sexo a três é
aceito de boa, mas poliamor não. E explico pela origem da palavra Poli
(múltiplos) Amor (sentimento maravilhoso), capacidade de amar mais de uma
pessoa. Além de dizerem que é muito difícil uma pessoa, imagina mais de uma,
ai eu explico como funciona.
A minha família é assim. Eu tenho dois irmãos e é uma família muito
tradicionalista. Uma família nordestina. O meu pai era daqueles bem
machistas. Mas quando ele veio para São Paulo ele viu que a situação não era
do jeito que ele acreditava. Em toda a minha família só tem eu mais dois
primos homossexuais. Um se assumiu gay na adolescência e a outra é Maria
João, que se assumiu desde o inicio, mas ela se afastou da família e hoje é
bem na dela, não se envolve.
Comigo e minha família foi uma coisa meio difícil porque eu não falei para eles
na hora. Comecei minha vida sexual hétero e monogâmica, me relacionei com
uma mulher por algum tempo. Quando me assumi, me afastei da minha família.
Eu tinha um primo era um pouco mais novo do que eu. E ele se descobriu
homossexual só que ele achava que era o único da família homossexual. E ele
achava que era uma vergonha para nossa família, passou por uma situação
129

que ele queria se assumir, mas tinha muito medo, acho que naquela época se
eu não tivesse ajudado ele poderia até ter cometido o suicídio. E como para
família eu era sempre o porta-voz e tentava ajudar todo mundo, apaziguar
brigas eu ajudava resolver tudo eu me senti meio que obrigado ajudá-lo. Eu
precisava ajudá-lo.
Homem não podia nem se tocar, se abraçar que já era viadagem, na minha
família é assim. Então eu comecei a ler muito eu comecei a ler livros em uma
biblioteca próxima daqui de casa. Tive acesso a diversos livros que falam sobre
o assunto, sobre a homossexualidade. Esses livros modernos me deram essa
arte de entender e a capacidade de ajudar aos outros que enfrentavam os
mesmos problemas. Há muitas possibilidades de conhecer o assunto, basta ter
a vontade.
E aí foi quando eu conheci minha primeira pessoa. Eu era meio burro meio
terra de ninguém. Decidi estudar para poder ajudar. Foi aí que eu fui falar com
meu primo que eu era homossexual. É claro que ele não acreditou. Por mais
que eu falasse ele achava que eu estava zoando com a cara dele.
Levei ele para um barzinho. E daí era uma boate gay, um barzinho gay e eu
queria que ele percebesse a situação.
Por que naquela época se a gente queria conversar, ou até namorar precisava
ser escondido. Lugar afastado para poder conversar, para poder namorar bem
discreto passando na frente ninguém percebe. Então eu falei para ele vamos lá
você conhece o pessoal, conversamos e ele achou que eu tinha combinado
com os meus amigos. Porque até então ele me conhecia como homem casado
já tinha tido um filho, aliás esqueci de falar eu tenho um filho que só vi quando
bebê. Está desaparecido faz mais de 25 anos. Então gente é muita história,
vocês precisariam passar o dia comigo para saber pelo menos a metade. Era
esse o meu passado que ele conhecia, então ele achou que eu tava de
sacanagem com ele.
- Ah, você combinou com seus amigos, você tá querendo me enganar. Aí eu
fui obrigado a apelar (risos).
Fui obrigado levar ele para um hotel, joguei-o na cama, tasquei um baita beijo
na boca. Aí ele viu. Perguntei assim: - Um homem hetero, faria isso só para
brincar com você? Aí depois disso ele percebeu que eu falava a verdade.
Parou de achar que eu estava mentindo. Pensa a cara dele (risos),- cara você
130

é bixa mesmo! Depois disso ele parou com essa palhaçada, parou com essa
frescura.
A minha família mesmo só foi descobrir a minha sexualidade 10 anos depois,
até então eu levava uma vida paralela que estava dando certo. E eles só
descobriram porque eu tenho uma irmã que ...olha é ... Bem foi assim, na
verdade ela engravidou e o namorado falou que o filho não era dele, e foi
aquele bafafá na família, aquela confusão virou um escândalo. Ela tinha se
separado e ficou grávida, nessa mesma época descobriu que o marido tinha
um caso, ia ser mãe solteira, a família fez muita pressão para que ela voltasse.
Ela voltou para o meu cunhado. O casamento não dava certo, muita confusão,
mas não podia ser mãe solteira meu pai não aceitava. Então ela virou a
manchete da família. Todo mundo falava dela, por isso ela precisava mudar o
foco. Era a única que sabia que eu era gay, então ela jogou a bomba, ela falou
para toda família o que eu era na verdade. Tipo assim para tirar o foco só que
ela não falou só para a família ela falou na minha casa, ela falou em toda a
família, ela falou para os meus amigos.
Tive que chegar na minha casa olhar para minha mãe e falar - eu sou gay.
No começo foi assim, se o meu pai me encontrasse na rua ele mudava de
calçada. Alguns amigos daquele tempo quando estão em algum evento, logo
eles dão um jeitinho de ir embora. Porque homem de verdade não pode ficar
no lugar onde existem gay, mas as pessoas boas de verdade ficaram. Agora
imaginem se foi difícil assim o homossexualismo, como vocês acham que eles
iriam receber o poliamor? Por isso o afastamento. Levo minha vida bastante
distante da minha família.
Entrevistadores - Considerando que você é poliamorista, quais são as
principais características de um sujeito que vive uma relação poliamorista?
C.L.L.- Primeiro ter em mente a capacidade de amar, sinceridade e
transparência, independente do que seja e viver a relação da melhor maneira
possível.
Em relação a isso, eu trabalhava numa empresa, era analista de rede,
trabalhava direto e mesmo assim, no final de semana eu dava um jeitinho de
pegar o carro e sair correndo para ir até o interior, ficar com eles e voltava.
E nós ficamos assim por muito tempo, mas eu percebi o sofrimento deles.
Quando você ama, você quer ver o outro feliz é claro que para eles longe da
131

cidade sozinhos na chácara era mais difícil, aqui eu tinha meus amigos, mas
eles não tinham isso então para eles era mais difícil. Eu podia sair e aprontar,
daí começou algumas traições. Conheci algumas pessoas. Pessoas que
vieram até mim sem que eu fosse procurar (risos), porque eu trabalhava direto
e não tinha tempo para isso. Pessoas que vieram na minha mão, assim as
coisas foram acontecendo. Eu trabalhava com mais de 400 pessoas. Quando
eu percebi que eu estava fazendo isso foi muito doloroso, eu não queria
prejudica-los. Eu não queria que eles sofressem. Foi doloroso principalmente
com o A... foi muito difícil. Aquela coisa toda de fim de relacionamento. Os
parentes próximos do A... me acusaram de várias coisas, no fundo eu sai como
errado, e acabamos nos afastando em compensação os familiares do Paulo me
amam até hoje. Às vezes eu vou lá, para revê-los.
Só tem uma parte da família lá em Monte Mor que não conversam comigo,
acham que fui eu que desliguei os meninos, onde já se viu, eles eram anos
mais velho que eu.
Eles achavam que eu estava traindo eles, mas a verdade não foi só eu, eles
também arrumaram outras pessoas. E isso me provou que mesmo uma relação
poliamorista precisa de cuidado.
Então porque essa relação mudou muito minha vida, porque me fez acreditar
que é possível amar mais de uma pessoa. Porque eu não acreditava nisso,
nessa possibilidade.
C.L.L. - Cara incrível olha agora vou te dizer uma coisa, eu tive uma avó que
era muito à frente do seu tempo. E ela era incrível o povo achava ela demais
porque ela falava umas coisas que as próprias filhas dela não entendiam o real
sentido do que ela falava. E daí ela falava as coisas e eu ficava pensando: meu
da onde que ela tirou isso?
Uma pessoa sempre independente sempre quis morar sozinha, mal sabia ler. E
a minha avó sempre me deu muito apoio. A família dizia que nós tínhamos uma
mente muito aberta.
A velhinha dava de 10 a 0 na gente. A velhinha aprontava e fumava viu, fumou
desde os 14 anos até morrer, só não quis outro marido, porque ela falava que
não queria mais sofrer na mão de homem. Mas a velha era danada, saia
passeando. Então ela sempre tinha umas frases assim, ela tinha sempre essa
sagacidade de perceber as coisas antes e ela dizia assim. Que o amor é como
132

a água que corre, por que a água mesmo correndo entre as pedras ela vai
achar um caminho e vai passar por ali e o amor é a mesma coisa. Pode
acontecer de diversas formas. E ele vai achar o caminho. E quando ela passa
pelas pedras ela se torna límpida o amor é assim quando passa por
dificuldades e sobrevive ele sai límpido.
E o amor é assim, como a água que corre entre as pedras. E a minha vó falava
isso. Pensa essa mulher lá no sertão no Nordeste ter o pensamento dela.
E olha só para você ver a história que ela contava ela casou com 14 anos e na
noite de núpcias após o casamento a amante do meu avô chegou com um filho
de 8 anos entregou para o meu avô.
O meu avô era português eu tenho descendência de portugueses, holandeses
e caboclos. E a minha avó contava que na noite de núpcias chegou uma moça
na sua porta, ela dizia que era uma moça muito bonita, uma moça negra,
carregando uma criança uma criança pequena e falou que era filho do meu
avô. Entregou para minha avó cuidar. E ela aceitou, levou essa criança. E
cuidou como se fosse filho dela,ela tinha 14 e o menino 8 anos. E ai de quem
falasse que o filho não era dela.
E isso é porque ela tava lá no nordeste com todo preconceito daquele povo e
ela enfrentou. Além de adotar o filho da amante a minha avó era descendente
de holandeses e era uma criança negra, foi muita dificuldade. E ela enfrentou
toda dificuldade para cuidar daquela criança. E era o filho mais velho. Ela era
uma pessoa de cabeça muito aberta. Comparando com meu pai ela tinha uma
mente muito aberta. E o meu pai é um falso moralista. A maioria da família do
meu pai é assim.
Homossexualidade e poliamor não pode, mas todos eles eram casados e
tinham mulheres fora de casa, várias mulheres, meu avô mesmo teve muitas
amantes durante o casamento. Meu pai também. Agora quando falava para ele
sobre o poliamorismo, era muito preconceito. Só que ele fez isso a vida inteira
escondido, porque traindo pode. Então acredito que precisam ter essas
características, como a da minha avó, uma mente aberta, pronta para aprender
coisas novas e livre de preconceito.
Entrevistadores - As pessoas na rua como viam essa relação?
C.L.L. - Então gente, tem algumas situações diferentes. A gente saia para
passear e quando estávamos na estrada fazíamos “traquinagens” a gente
133

ficava de mãos dadas, as vezes nos beijávamos, e o povo olhava para a gente
como se fossemos ET’s. E o P... era muito carinhoso ele tinha muito disso de
ficar andando abraçado, de ficar fazendo carinho na mão e as pessoas na
mesa do lado ficavam olhando.
E era engraçado porque se na mesa do lado tivesse uma família com crianças
eles saíam eles trocavam de mesa como se a gente tivesse fazendo sexo ali.
Como se fosse atentado ao pudor (risos) a gente só tava sentado junto, de
mãos dadas, não estávamos fazendo nada mais que isso. Mas a sensação era
como se nós estivéssemos muito errados. Porque as pessoas que passavam
pela gente realmente era como se tivéssemos cometido atentado ao pudor por
causa das crianças.
Então vocês imaginam as relações o quanto era difícil então assim a gente
precisava se comportar ao máximo na rua, mas dentro de casa éramos uma
família normal. Queríamos uma família comum, fazendo coisas como cuidar da
casa, fazíamos comida e recebíamos os amigos.
Entrevistadores – Fale um pouco sobre o preconceito hoje.
C.L.L. – Acho que está mesma coisa, (risos) vocês sabem que essa geração
que está vindo agora é muito imatura. Eles tiveram muito acesso à faculdade
muito acesso à internet, mas são muito inseguros. O smartphone aproxima.
Então quando você fala com uma pessoa mais jovem, mas você fala de uma
maneira mais emocional, ele já se assusta. E daí quando você fala na internet
com o mais jovem, você fala sobre poliamor, ele já pensa em “polisexo”, já
manda foto nua. Não é nada disso eles não conseguem entender. É amor a
três, a quatro, a cinco. Eu sou poliamorista, mas o pessoal mais jovem não
entende.
Em relação ao preconceito o que me parece é que não mudou quase nada. Às
vezes você encontra palestras onde o tema é discutido com mais seriedade.
Mas o senso comum ainda continua. Como promiscuidade. Mas existem
pessoas sérias, que conheceram o poliamor que gostaram e que levaram isso
para sua vida. O grande problema é que a maioria da população poliamorista
se mantém na clandestinidade. Eles não colocam a cara a tapa, não se
assumem, não se reconhecem, não confirmam.
Entrevistadores - Diante dessas histórias percebemos algumas características
do sujeito, alguns mais ligados no desejo sexual e outros procurando mais o
134

lado afetivo. Então procurando saber mais sobre o assunto notamos que um
dos principais problemas dos poliamoristas é a questão de saber trabalhar com
o ciúme. Então eu queria saber como você trabalha essa questão de ciúme
durante um relacionamento poliamorista.
C.L.L.- O que se percebe é que o ciúme é uma coisa que atrapalha muito nas
relações poliamoristas. Então assim nessa primeira relação o A... era muito
ciumento, era o macho alfa e muito ciumento. Durante o tempo que estivemos
juntos eu fui trabalhando isso com ele que não existia motivo para ciúmes,
então as vezes ele sentia ciúmes entre nós três, sentir ciúmes de quem está de
fora eu até entendo, mas entre nós já era demais. Ciúmes para mim é uma
doença, é uma coisa destrutiva. Então eu fui trabalhando com eles: A gente tá
numa boa, tá muito legal, estamos curtindo, mas aí aparece o ciúme e você
perde todo aquele momento que era para gente tá curtindo, e não a gente tá
aqui brigando por causa de ciúmes. A finalidade de estarmos juntos é para
estar todo mundo curtindo e se amando. Para mim tem que ser assim todo
mundo se amando, eu, você, nossos amigos, nossa família, nossos
cachorrinhos (risos) isso é amor. Não é porque eu estou abraçando o outro que
eu vou ter alguma coisa além de uma amizade eu converso com todo mundo
eu sou uma pessoa que faço amizade facilmente. Eu falo com as pessoas da
rua eu converso com todos os meus vizinhos. Mas o A... não gostava muito
disso.
Quando tem um casal envolvido, isso já é um agravante porque existe um
casal formado, e daí eles abrem isso, abrem essa relação para uma outra
pessoa, para um terceiro e daí gera uma situação difícil. Porque existe uma
cumplicidade. Esse casal já tinha um relacionamento. Então a terceira pessoa
pode se sentir excluído. Por que o casal se une e a mantém a terceira pessoa
de fora. Aí você tem que ir se revezando. Eu deixei sempre claro, não tem
espaço para ciúmes nessa relação. Se continuar assim, vai ficar complicado e
vamos terminar tudo. Se eu tiver que trair vocês eu vou ser o primeiro a chegar
e falar e foi assim que eu fiz.
E sempre deixei bem claro, se continuar assim eu vou cair fora. Se você não
está satisfeito com a situação, você também tem o direito de sair ou você
confia em mim ou não confia. A situação é essa você não precisa perguntar
para o mundo sobre a relação que está vivendo. Quem está junto de você sou
135

eu. Dormimos na mesma cama, não é mais fácil virar para o lado e falar o que
está sentindo, mais não, ai vem a desculpa eu fui perguntar para ele porque eu
não quis magoar você. Onde já se viu mandar recado por mala direta! Quem
está do seu lado, quem dorme com você na cama não é mais fácil virar e falar
logo. Esses conflitos eram comuns no inicio de nosso relacionamento. Mas
procurei sempre deixar esse ponto esclarecido, eu preciso conquistar os dois,
se não for para os dois não existe sentido esse tipo de relacionamento.
E a vivência do poliamor tem essa questão. Principalmente quando existe o
casal principal e o terceiro. Os adeptos precisam entender que é um novo
relacionamento a partir do momento que entra essa terceira pessoa, isso se
torna um novo relacionamento não é um relacionamento melhorado, é um
novo.
Gente a terceira pessoa não é um agregado. Ah, existe outra preocupação,
quando apenas se agrega uma terceira pessoa, existe sempre a possibilidade
de uma separação. O casal tem uma vida juntos eles têm algo a separar. É
comum não se ter uma estrutura montada para três e essa terceira pessoa vai
estar sozinha. Quem entrou sozinho vai continuar sozinho, porque já existe um
casal. Essa pessoa que entrou, essa pessoa é o quê na relação? É uma
“apêndice”.
No meu caso, ficamos numa situação parecida porque para a família toda o
casal era o P... e o A... e eu era o apêndice.
Entrevistadores - Então, resuma para nós, o que é ciúmes para você?
C.L.L.- Sinceramente para mim é um sentimento que acaba estragando
qualquer tipo de relacionamento, pois a pessoa ciumenta, ela é possessiva,
não confia em si própria e no parceiro e geralmente destrói. Pois o tempo que
se perde com este sentimento, imaginando coisas, eu estou amando e vivendo.
Já sofri muito com ciúmes de parceiros e parceiras e já deixo claro. Não quero
este sentimento mais na minha vida.
Entrevistadores - É possível uma relação poliamorista sem ciúmes? Se a
resposta for sim, como isso é possível?
C.L.L.- Sim, porque em vez do ciúmes, tem que existir a confiança. Tudo na
base da confiança, mas quando ela se quebra é de uma vez.
Entrevistadores - Existe uma coisa que percebemos, pesquisando sobre o
tema que o ponto “constituição familiar” é encarado de maneira bastante
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divergente entre os adeptos. Você idealizaria uma família?


C.L.L. - Sim, eu penso em constituir uma família, pois como todo casal hétero
ou homo eu tenho este desejo. Pois alguns já têm filhos, mas podemos ter a
oportunidade de adotar uma criança e sermos felizes como uma família. Claro
que fica difícil explicar a uma criança, sobre este tipo de relação. Mas todo o
amor e carinho que ela receberá e sempre falando abertamente e livremente,
podemos constituir família. E muitas vezes o relacionamento poliamor também
vira uma família, devido a não aceitação de amigos, familiares, etc.
Entrevistadores - casamento e família, como se constituem no poliamorismo?
C.L.L.- Casamento ainda é muito raro no poliamorismo, mas se constituem da
mesma forma que qualquer tipo de relacionamento. Só depende dos
envolvidos. As famílias... 99% das famílias envolvidas não entenderiam. Não
entendem um casal homossexual imagine um relacionamento com 3 ou 4
pessoas.
Então o que a gente faz, não posso falar generalizando, mas o comum é
vermos acontecer assim: um terceiro vai sendo apresentado como um amigo.
Aí as pessoas vão se acostumando com a presença da terceira pessoa. Vão
aprendendo a respeitar, vamos aos lugares juntos, nas reuniões de família, nas
viagens.
Quando acontece de ir morar junto, eles (a família) vão perceber que já existia
um relacionamento. E acaba sendo natural. Às vezes a família não aceita de
jeito nenhum. Então nós tentamos conversar, quando existem filhos, complica
um pouco mais, porque vamos ter outras pessoas envolvidas, como avós, etc.
Por exemplo, eu tive que sentar com os filhos do André e explicar que não
estava destruindo a família de ninguém, que nós gostávamos um do outro
igualmente por isso decidimos ficar juntos.
Mas o que vejo é que muitas famílias acabam se afastando. Então esse
processo precisa ser bem lento e gradativo, respeitando os limites do outro. E
às vezes ninguém aceita. É quando eles acabam abandonando o convívio
familiar.
A família poliamorista fica só e daí já que a família abandonou, nós vamos criar
novas famílias. E amigos se tornam família porque a família da gente nos
abandonou.
Eu vou até citar um exemplo para você: é tipo assim a minha família não me
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discrimina. Mas a minha mãe só vem na minha casa em algumas situações


especiais e por apenas algumas horas. Uma vez por ano, duas no máximo
quando eu vou lá me abraça, me beija, me trata normalmente. Mas eu sei que
eles não me aceitam, eu moro há 11 anos nessa casa e vi no máximo 4 vezes
a minha família aqui. Eles fingem que me aceitam e eu finjo que tenho uma
família. Mas eu tenho várias famílias que me adotaram. Tenho grandes amigos
que é a mesma coisa que uma família.
Então eu posso dizer que Deus me abençoou com uma família de sangue e
com a minha família de afinidade porque se eu precisar, se eu não estiver bem,
se eu precisar chorar eu tenho certeza que alguém vai dizer: vem para cá, fica
aqui com a gente.
Mas, para finalizar o que nós fazemos é o seguinte: deixamos o casal aparecer.
O casal oficial aparece para família, para os amigos, para a sociedade, e
sempre estamos juntos. Como um amigo do casal. Para que eles se
acostumem com a presença do terceiro e daí com o passar do tempo a gente
abre a situação e deixa claro para todos, que somos três ou quatro.
Entrevistadores - Como foi a transição da monogamia para o poliamor?
C.L.L. - Olha eu vou te dizer que a minha primeira relação foi heterossexual,
quase me casei com 19 anos. E eu só não me casei para falar a verdade que
aquela mulher era doente de ciúmes. Ela detestava o meu jeito de ser, a família
dela me adorava, mas ela não suportava esse meu jeito sincero de falar
sempre na cara.
Eu fui criado em um lar onde o homem era responsável pela família era o pilar,
então eu achava que isso era tudo que podia ser na verdade. Mas na verdade
eu sabia que eram todos hipócritas. Quando eu terminei esse relacionamento e
eu me percebi homossexual. Tive alguns relacionamentos até encontrar o P... e
o A... No começo eu fiquei com receio achava que era só sexo a três, e daí a
transição veio de uma forma natural, porque sempre tive uma cabeça muito
aberta. De certa forma o poliamorista não é hipócrita, existem muitos casais
monogâmicos por aí, se achando com a razão, mas na verdade tem muitas
amantes fora do relacionamento. Em minha opinião o poliamor já está em
vantagem contra a monogamia, porque tudo que for acontecendo, tem que ser
dividido. Diálogo, respeito e honestidade. Quando você opta pelo poliamorismo
precisa saber que a igualdade e a honestidade têm que estar em primeiro
138

lugar. Alguns já viveram relacionamentos anteriores outros não, então algumas


coisas darão mais trabalho, aprender a respeitar as características pessoais do
outro.
Às vezes as pessoas entram em um relacionamento com postura de casado,
como marido e mulher, apresentam essa característica mesmo entre homens.
E aí no homossexualismo, acredito que a dinâmica é um pouco diferente disso.
Existem relacionamentos onde todos são homens. Então são homens e ponto!
não existe essa do meu marido, porque não tem esposa, “todos são homens e
ninguém precisa assumir papéis”. Precisa de certa paciência para trabalhar
isso, para que eles percebam que no poliamorismo é um pouco diferente.
Então existe uma série de fatores, mas a igualdade realmente é para todos.
Respeitando a individualidade de cada um.
Entrevistadores - casamento e família, como se constituem no poliamorismo?
C.L.L.- Casamento ainda é muito raro no poliamorismo, mas se constituem da
mesma forma que qualquer tipo de relacionamento. Só depende dos
envolvidos. Eu sempre fui uma pessoa que quando tive um parceiro ajudava a
crescer, valorizava o estudo. Quando a gente ama de verdade a gente quer
que a outra pessoa cresça e seja independente.
Mas no geral, se constituem da maneira que já expliquei anteriormente, depois
do fim do meu relacionamento com o P... e o A..., tive várias outras
experiências, algumas poliamorosas, outras não, mas a possibilidade dessa
espécie de relacionamento sempre esteve presente.
Alguns anos atrás eu tive um AVC, e aí fiquei paralisado de um lado do corpo e
perdi toda memória. Nesse tempo muitas coisas aconteceram e muitas
pessoas ficaram no passado. E conforme as coisas foram voltando, eu fui
aprendendo agora eu tenho que me respeitar e respeitar o meu limite.
Eu não lembrava de quase ninguém, mas tenho uma memória fotográfica muito
boa e isso foi a única coisa que não foi afetada. E depois de um tempo
utilizando o Facebook, eu vi a foto de uma pessoa. E eu tinha nítida certeza
que aquela pessoa eu já conheciam, mas não sabia da onde. Eu mandei
mensagem e comecei a falar com ele. E conversa vai conversa vem, eu falei
que tive um AVC, falei também que lembrava de seu rosto, mas não conseguia
lembrar da onde. Não conseguia saber das histórias.
E no fim, era uma pessoa que eu conhecia de muitos anos atrás, da minha
139

juventude ainda e ele está morando no Rio agora. E ele vive um amor assim
ensandecido por um Argelino. E esse Argelino fica um tempo na Argélia e o
outro tempo aqui no Brasil. Mas é um amor meio estranho, porque o argelino
também não é flor que se cheire, é um relacionamento meio bandido.
E daí eu fui para o Rio fiquei um tempo lá. Acabou que a gente se envolveu.
Estava rolando uma coisa legal entre a gente mas ele é louco pelo argelino. E o
argelino tem uma coisa de ciúmes, na verdade acho que não é nem ciúmes
acho que é mais possessão. E ele não gosta do meu relacionamento com esse
meu antigo amigo. Então ele se sentia muito culpado por estar comigo e
manter essa relação com o Argelino, porque na cabeça dele, não conseguia
entender o que era isso de poliamor. Eu tive que explicar para ele exatamente,
para que ele viesse a entender como que é viver um relacionamento assim. Ele
não entendia que mesmo amando o Argelino ele estava começando a ter um
sentimento muito grande por mim.
Dias atrás, ele levou um tiro em um assalto lá no Rio, ficando hospitalizado.
Precisou ficar de repouso em casa e eu fui para lá para cuidar dele. Ficamos
ainda mais juntos. Mas o argelino quer que ele vá morar na Argélia. Ele tem
outros relacionamentos lá, porque para ele a poligamia é livre ele tem outras
mulheres e outros homens também, mas ele quer que esse meu amigo fique
morando por lá. Porque lá na Argélia é legalizada a poligamia. Ele tem se não
me engano quatro mulheres lá. E o E... quer que eu vá junto, morar lá também.
Na verdade ele quer que eu e o E... vá para a Argélia, mas ele não gosta que
eu e o Eduardo tenhamos um relacionamento. Ele quer a mim e ao E..., mas
tem ciúmes dessa relação mais afetiva que eu mantenho com o E... ele
manipula dessa forma.
Só que assim, a confiança para mim é tudo. Ele é uma pessoa manipuladora,
ele manipula o E..., que sofre muito com essa situação. E aí ele diz que quer
acabar com a relação, e o E... se desespera aqui. Resumindo mandou uma
passagem e o E... vai para lá ainda esse ano.
É uma relação muito complicada e eu não estou a fim de encarar isso. Gosto
muito do E..., e sempre corro para lá quando ele está precisando de mim. Teve
uma época que eles brigaram por minha causa. Eu e E... estávamos muito
próximos e ele ficou sem falar com o E..., meu amigo ficou muito mal me ligou
e eu fui para lá conversei e expliquei. Fiz de tudo e eles acabaram voltando a
140

conversar.
E é isso que ele quer, e o E... está caindo na conversa dele ele vai para lá vai
morar numa casa, vai ser o amante dele. Ele vai continuar com as outras
quatro mulheres ou sei lá quantas são, e o E... vai continuar sendo o amante e
ele manipulando todo mundo.
O único problema é que eu já expliquei para o E... homossexualidade, me
parece que, na Argélia é crime. Eu não sei como ele pretende resolver isso. Sei
lá para mim é uma relação que tem data marcada para terminar. Mas já falei
tudo isso para ele.
Então é esse meu poliamor do momento que “entre aspas” tem data marcada
para terminar. Porque ele não aceita que eu me relaciono da forma que é com
o E... Eu e E... nos damos muito bem, somos amigos de verdade e ele é
manipulador. Eu me relaciono sexualmente com ele, mas não é o mesmo
sentimento que sinto por E... E ele não gosta da nossa relação ele quer a mim
e ao E... mas não quer que nós estejamos juntos. E o cara é bipolar. Meu
amigo entra numa tristeza profunda quando ele se afasta. E eu decidi que é
melhor abrir mão do amor dele para que ele fique com o Argelino.
Daí no final do ano, dezembro ou começo de Janeiro sei lá, eles vão para lá. Ai
eles vão decidir a vida deles. Só sei que o Argelino não quer morar aqui, ele
não quer morar no Brasil.
Só que o Eduardo está percebendo que eu estou cada vez mais distante e eu
estou fazendo isso de propósito. Já faz dois meses e alguns dias que a gente
não se vê.
Entrevistadores - Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está
estruturado?
C.L.L. - Três homens solteiros, que não moram na mesma casa, mas que
quando a possibilidade de na casa de um estarem os três é fantástico, mas
caso estejam somente dois não há problema algum. Pois tudo já é acertado
desde o início. Sem medos e só verdades.
Entrevistadores - quais as principais características que você pode definir em
diferenças entre os relacionamentos monogâmicos e poliamoristas?
C.L.L.- Na maioria dos relacionamentos monogâmicos existe a traição, na
poliamorista não, porque tudo é decidido conversado e claro, entre todos os
envolvidos. Pode haver traição, pode, mas isso mostra que a pessoa não é
141

poliamorista. Pois sempre a sinceridade em primeiro lugar. Eu demorei um


pouco também para entender esse conceito, mas agora para mim é muito claro
e satisfatório.
Entrevistadores - qual a sua opinião (concepção) sobre a constituição legal de
uma família poliamorista?
C.L.L. - devemos ter os mesmo direitos que qualquer tipo de relacionamento,
pois mesmo os monogâmicos, ainda hoje quando acontece a morte do
parceiro, geralmente não tem direitos. Meu sonho é que todas as pessoas que
queiram legalizar a sua relação poliamorosa, possa marcar num cartório e ter
os mesmos direitos, pois deveres e impostos têm que pagar da mesma forma.
E para finalizar minha história sobre o primeiro contato com o poliamor, hoje
em dia o P... vive no Sul. Virou pastor evangélico, então ele mal fala comigo
hoje. E o A... faleceu já faz alguns anos. Faleceu de câncer ele começou a se
envolver com uma pessoa e a pessoa era carimbador. Vocês sabem o que é
carimbador? Carimbador é uma pessoa que é infectada pelo vírus HIV e se
relacionam com as outras pessoas só para transmitir o vírus.
Entrevistadores - Então eu vou parando por aqui. Infelizmente o meu horário é
corrido, porque moro em outra cidade e preciso ir embora. A gente vai marcar
outro dia e podemos continuar a conversar porque eu tenho a impressão de
que ainda tem muito poliamor por aí.
C.L.L.- Ah eu posso dar uma idéia, vocês podem fazer assim, passem as
perguntas básicas. O que vocês querem saber exatamente e eu vou
respondendo. E depois nós temos as conversas, as vivências que seria bom
vocês irem colocando na entrevista.
Entrevistadores - Está bom eu agradeço, pode ser assim, conforme for
surgindo as dúvidas nós entramos em contato. Obrigada pela participação.
Um abraço, um abraço para vocês aí e fiquem com Deus um beijão no coração
de vocês e até a próxima. Tchau.
142

ENTREVISTA 3

Entrevistado A.P.M., 54 anos, Supervisor Comercial – Hong Kong/China.

Rosana e Peterson - Olá, prazer em te conhecer. Muito melhor agora podendo


te ver. Assim é melhor para conversar, porque antes só nos falávamos por
WhatsApp
A.P.M - Engraçado né? Mesmo por foto nunca é a mesma coisa, e depois
pessoalmente fica mais diferente ainda vocês estão lindos! (risos).Vocês estão
em Lins, é isso?
Rosana e Peterson - Sim Lins. Somos de Lins ou melhor, estamos em Lins. Eu
sou de São Paulo, nasci lá morei até os 36 anos, depois decidi me mudar para
o interior, agora moro em uma cidadezinha da região de Lins, em Sabino.
A.P.M - Como chama?
Rosana - Sabino
A.P.M - Ah sim, Sabino.
Rosana - Nas margens do rio Tiête, na parte limpa ainda do rio Tiête.
A.P.M - Nossa, ainda existe isso por aí Rosana. Sabe, quando era adolescente
costumávamos ir em Itú comer peixe, existia a piracema, íamos assistir.
Rosana - Que legal, infelizmente isso não é mais possível por lá, a poluição
não deixa. Aqui nós ainda temos esse contato maior, ainda dá para aproveitar
o rio.
A.P.M - É isso ai. E você Peterson, como que tem esse nome tão Inglês?
Peterson - Bem esse nome, foi meu pai que gostou muito do nome que a
minha tia colocou em um primo, que veio a falecer ainda bebê, quando minha
mãe engravidou ele decidiu que eu teria o mesmo nome, então minha mãe
para agradar deixou ele me registrar com esse nome, mas inicialmente eu iria
me chamar Luiz.
A.P.M - Certo, e você pegou o karma do bebezinho falecido, mas sabe que
você tem cara de anjinho mesmo, né Rosana? E eu seria chamado de Luiz
também, dizia minha mãe, mas na hora de registrar meu pai resolveu mudar,
por causa do nome do meu pai.
Peterson – eu não consegui me realizar chamando Luiz, mas acabei casando
com um Luiz.
143

A.P.M - Ai, isso mesmo rapaz, era para ser.


Peterson – Nasci em SP, mas meus pais são daqui, então cresci aqui, quando
jovem fiquei morando por lá por + ou – 10 anos, em SP fiz minha primeira
faculdade, mas minha mãe adoeceu e eu precisei voltar, conheci o Luiz,
comecei a estudar Psicologia e acabei casando, fiquei por aqui mesmo. O Luiz
também se formou em psicologia ano passado e agora são dois psicólogos em
casa.
A.P.M - Nossa, aja DR (risos)
Peterson - Não, não tem DRs, a correria não está deixando.
Rosana – a DR acontece quando eu venho para cá, que daí fico ouvindo
ambas as partes, ambas as versões.
A.P.M – (risos) Entra num trisal Rosana e fica logo tudo em casa.
Peterson – se algum dia você vier nos visitar, ficar um tempo por aqui, terá 3
psicólogos à disposição (risos)
A.P.M – Três psicólogos juntos, isso cura trauma até três encarnações
passadas.
Peterson – E ele está por aqui, participando de tudo. Olha a figura aqui!
Luiz – Olá Annibal, prazer te conhecer.
A.P.M - Oi Luiz, prazer, tudo bom?
Peterson – ele já está sabendo tudo sobre o poliamor, de tanto ouvir a gente
falando, ajudar procurando material...
A.P.M – Sabe, eu to achando que esse TCC é coisa sua só para convencer o
Luiz a abrir a relação (risos)
Peterson – Meu Deus, não fala isso, que a pessoa já é encanada com as
coisas (risos). Agora acaba com o casamento.
A.P.M – ai, agora entendi e olha que nem sou psicólogo (risos). Os psicólogos
aqui são vocês (risos). Mas vocês sabem pessoal, então eu adoro conversar
com a juventude porque sou um eterno adolescente. E gosto muito de crianças,
mas nunca tive filhos. E o pessoal que conheço costuma falar, - “como você
sendo assim nunca teve filhos? E foram tantas possíveis mães maravilhosas.
Mas acho que eu sou muito egoísta eu não quero concorrência em casa é isso
aí. Então gente vamos lá o que que mandam.
Rosana e Peterson – então, A.P.M nós estamos preparando o nosso TCC, e o
que queremos pesquisar é o perfil dos praticantes poliamoristas e quais os
144

desafios enfrentados diante a escolha para a sociedade e dentro da relação.


Quando decidi por esse tema e convidei a Rosana para trabalharmos juntos,
inicialmente estava pensando sobre a dificuldade que as pessoas enfrentavam
diante a homossexualidade, pois sofriam muitos preconceitos da sociedade e
até da própria família, era muito difícil assumir a orientação sexual eu posso
dizer e afirmar porque passei por essa situação a mais de 20 anos atrás. E hoje
essas pessoas alcançaram alguns direitos, inclusive o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, entre outros. E isso foi através de muita luta,
levantando a bandeira, se impondo, abrindo espaço através até da morte de
diversos militantes. Agora o poliamor está aparecendo, está sendo discutido e
estudado, essas pessoas estão se abrindo e se mostrando para a sociedade e
eu vejo que o caminho para o reconhecimento será o mesmo que nós
passamos a anos atrás. Então cada um tem a sua maneira para demonstrar o
seu amor, e o que pretendemos é que esse mundo acadêmico auxilie através
de pesquisas e estudos, para que essas pessoas e as futuras gerações do
mundo poliamorista possa mostrar com mais dignidade essa possibilidade de
amar.
Rosana e Peterson – Você sabe que aqui para nós, que estamos no interior
esse tema é uma grande novidade, tanto que na universidade é o auge,
colegas de classe e até professores estão super curiosos com o conteúdo que
estamos preparando.
A.P.M - Porque isso é o que está chocando! Rosana e Peterson podem ficar
tranquilos que vocês não estão sozinhos nisso não. É impressionante como as
pessoas não conhecem o que é realmente o poliamor, e isso não é
exclusividade do interior de São Paulo não, é para o mundo todo.
Peterson – Para você ter ideia de como ainda certos assuntos são fechados
aqui no interior, no começo desse ano eu me casei legalmente com o Luiz, e o
nosso casamento foi feito no cartório e promovemos uma festa para família e
alguns amigos íntimos, e foi uma grande repercussão porque aqui isso ainda
não tinha acontecido. Inclusive a Rosana estava em meu casamento e precisou
explicar para a filhinha dela, ela queria saber por que não tinha noiva.
Rosana – a pergunta da criança era, quem vai colocar o vestido de noiva se
serão dois homens? Daí você fica um tempão explicando para a criança, para
não passar vergonha na festa (risos) e no final ainda resta a pergunta, - mas
145

mãe, vai ter beijo? Sim com certeza terá beijo! –


A.P.M - (risos) vai ter só beijo!! Que é para não chocar.
Rosana - Acho que não quero ver isso... (risos)
A.P.M - Putz, olha só.
Rosana - Chegando na hora da celebração a curiosidade dela era tanta que foi
sentar logo nas primeiras cadeiras, para acompanhar os mínimos detalhes, no
final se apaixonou pelo Peterson e não queria largar mais. Acho que ela
encontrou a noiva que procurava (risos).
A.P.M – Sim, para vocês verem como isso é construído para as crianças. E
você já começou a explicar para ela que podem existir pessoas diferentes, isso
já é a iniciação, porque tudo é simbólico! Casamento precisa de vestido, quem
usa o vestido é a mulher. Para existir um casamento é necessária uma mulher,
imagine se você fala que serão mais de dois (risos).
Rosana - É preciso ser feito um trabalho com essas crianças desde muito
pequenas para que elas venham aceitar essas diferenças que estão aí, na
sociedade, para que elas percebam que existem diversas maneiras de amar,
assim vamos acabando com essa homofobia, com esses preconceitos.
A.P.M - Sim é isso, é a única maneira, acho muito bonito esse trabalho porque
os antigos têm um ditado onde eles sempre dizem que “é de pequenino que se
torce o pepino”. Então para você conseguir tratar a homofobia e o preconceito
contra o poliamor é preciso começar a falar com as crianças desde muito
jovens, desde pequenininhos mesmo para que elas cresçam entendendo essas
diferenças e não criem esses preconceitos. E eu digo todo tipo de preconceito.
Nós devemos começar a passar Informações corretas, para que essas crianças
cresçam com outra mentalidade.
A.P.M - Para vocês terem uma ideia de como é o preconceito, aqui na China
nós temos um grupo, um grupo de amigos que a gente costuma chamar de
“Clube do Bolinha”, são de 30 a 40 homens aqui em Hong Kong, então é a elite
da sociedade, com bons cargos e posições, inclusive o Consul do Brasil
participou desse grupo. É uma espécie de clube e agente se encontra pelo
menos uma vez por semana, nas sextas-feiras, e lá nesse clube, às vezes
saem algumas piadas quando eu falo que sou poliamorista, é tiração de sarro
mesmo, brincadeiras, gracinhas. Adoram fazer piadas com isso eu nem ligo
mais. Digamos assim é a elite, têm alguns amigos meus, com a vida bem
146

arrumadinha, com ótimos salários, boa posição. Eu sou supervisor aqui, mas
consigo com meus ganhos manter uma vida dentro de certos confortos, mas o
custo de vida aqui em Hong Kong é muito alto, mas voltando, nos chamamos
esses encontros de “Clube do Bolinha” eu sou supervisor de vendas, assim,
coordeno as agencias aqui na Ásia, e faço parte desse grupo e nesse grupo
que também tem um pessoal do Brasil, dirigentes de grandes empresas, como
o Santander por exemplo, mas enfim eu estava apenas definindo o perfil desse
pessoal, mas também tem pessoas super retrogradas, e a gente se encontra e
almoçamos juntos toda a sexta- feira e é um ambiente super hostil, eles tem
todos os preconceitos e piadinhas possíveis, mas em paralelo as pessoas que
a gente no começo até admira pela inteligência, pelo papo, mas depois de um
tempo você vai criando aquele ranço, e depois você nem quer mais, eu já cortei
a relação com pelo menos dois deles, então nós mantemos apenas um
relacionamento social porque eu já não estou mais em condições de ficar
levando desaforo para casa, não que seja pessoal , mas dentro desse grupo, a
sociedade já vai impondo, e todos dão aquele sorrisinho amarelo e ninguém
enfrenta o camarada. E eu não, eu já a minha maneira deixo claro que sou
poliamorista e que tenho várias namoradas e a minha qualidade é que assumo
todas elas, falo para eles isso e no fundo eles morrem de inveja, porque quase
todos eles saem com outras mulheres, têm amantes, saem com prostitutas, e
se acham maravilhosos, mas tudo isso escondido, então eles não estão
cumprindo com o acordo. E eu estou vivendo muito bem, porque não preciso
mentir e enganar ninguém e é engraçado porque ao mesmo tempo em que
eles me desprezam, eles me invejam, - porque ele é o cara ele fala logo a real.
Mas mesmo assim todos eles têm casos por fora do casamento, são casados e
mantêm relações fora do casamento. Então na verdade eles não estão
cumprindo com um acordo que fizeram, porque foi um acordo, quando você
casa e diz que é para ser um relacionamento monogâmico, você está fazendo
um acordo com a outra pessoa e quando você não cumpre é deslealdade.
A.P.M - Na minha maneira, da minha forma de pensar eu tenho que mostrar
quem realmente eu sou. No fundo eles morrem de inveja, porque eu posso ter
várias mulheres ao mesmo tempo e todas estão bem assim. Eu acho que eles
gostariam de ser como eu, mas o preconceito não permite. É obvio que eu
sendo poliamorista tenho várias namoradas e a administração desses
147

relacionamentos é um pouco complicado, porque nem todas elas são


poliamorista, mas me aceitam, eu falo abertamente com elas o seguinte: não
conto uma mentira para ninguém com quem me relaciono a mais de 10 anos,
porque não é necessário. Eu me abdico de uma pessoa, de um
relacionamento, mas não abdico de falar a verdade.
Rosana e Peterson – Só para esclarecer, então Annibal, para a gente
conseguir entender melhor, me diz qual a sua orientação sexual?
A.P.M - Eu sou bissexual, na verdade eu sou pansexual, eu fiquei
impressionado um tempo, porque sempre me considerei bissexual, e alguns
anos atrás, eu já estava aqui em Hong Kong, quando lendo algumas coisas eu
percebi que sou pansexual, ou melhor, sou um homem “cispansexual”, porque
eu não tenho absolutamente nenhum tipo de preconceito, costumo dizer que se
for maior de 18 anos e estiver se mexendo é uma possibilidade.
Peterson - sendo ser humano e maior de 18 anos, tô dentro (risos)
A.P.M – havendo consentimento também, e não tendo que amarrar (risos).
“Cissexual ou cisgênero são termos utilizados para se
referir às pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado
em seu nascimento. Transgênero é o que não aceita a
identidade designada no momento do seu nascimento”.
(nota dos autores)
A.P.M - e nunca me questionei também sobre isso, porque isso não tem o que
questionar, não vem ao caso, então tem uma coisa engraçada, a minha irmã
maior, nós somos três e eu sou o do meio. Então a minha irmã maior ela mora
no Canadá e tem um relacionamento super traumático com a minha mãe,
porque diz que minha mãe a traumatizou a vida inteira, e ela é uma pessoa
bem complicada, ela se casou, descasou, depois casou de novo, ficou viúva...,
e agora ela está sozinha, então ela é toda certinha, toda quadradinha, é
vegetariana, ela é espírita, ela é uma pessoa super bacana, mas você não
pode contar uma piada para ela, só piadas politicamente correta (risos), mas
mesmo para ela eu consegui colocar pouco a pouco o meu jeito de ser, porque
ela tem que me aceitar como eu sou.
A.P.M - inclusive teve um episódio em que ela viria passar o natal aqui comigo,
eu me preparei para recebê-la, não aceitei os convites de minhas namoradas
para poder ficar com ela, e acabou que ela desistiu de vir, cancelou, sei lá
148

porque motivo, não me lembro bem, mas daí eu acabei combinando com
minhas namoradas, almoçaria no natal com uma e depois o jantar seria com a
outra, porque na época elas não se conheciam, e ela vai e decide vir de última
hora, assim que ela decidiu vir eu falei, - quero muito que você venha, mas
você me conhece da mesma forma que eu te conheço. Como você disse que
não viria marquei de ficar com elas, minhas namoradas, vou almoçar com uma
e depois vou jantar com outra e queria que você ficasse bem, mas não vou
desmarcar com nenhuma, então ficou combinado assim, era a primeira vez que
ela teria contato com as minhas namoradas, porque para ela eu tenho várias
namoradas, mas não amo nenhuma, e uma delas é a “oficial” e o resto é tudo
“puta”, então para ela a ideia é essa. Mas as minhas duas namoradas da época
foram perfeitas, inclusive uma delas é maravilhosa, tivemos um relacionamento
de 04 anos, eu já a levei para o Brasil, toda minha família conheceu como
minha namorada oficial, mas todos sabiam inclusive ela que não era a única,
que existiam outros relacionamentos. A outra minha família ainda não
conhecia, porque não tinham tido oportunidades, mas eu deixo bem claro que
no momento são duas, mas podem ser 3 ou mais, pois as oportunidades são
constantes e estão a cada esquina e eu não vou me reprimir só porque as
pessoas acham que eu estou errado. Basicamente é assim, mas tudo isso é
um pouco complicado, a gerencia desse negócio é bem complicado, porque a
oportunidade de ruptura é a todo instante uma possibilidade.
Rosana e Peterson – então Annibal, nós temos algumas perguntas que
usaremos como diretrizes para os conteúdos que analisaremos e eu gostaria
de ir colocando-as na entrevista, mas inicialmente eu gostaria que você nos
contasse suas experiências, explicasse como foi essa transição da monogamia
para o poliamorismo?
A.P.M – ok, tá certo, então, basicamente foi assim, porque tem muito a ver com
a bissexualidade, para vocês terem ideia de como pratico o poliamor, e como
aconteceu tudo... Então, eu sei que sou bissexual desde quando tinha 16/17
anos, porque tinha uma namoradinha e certa vez, tinha um amigo de uma
prima minha que dormiu em casa e nesse momento eu me descobri bissexual;
daí eu tive muitos relacionamentos homossexuais na minha juventude, e era
uma coisa assim, como vocês falaram que é difícil agora devido ao
preconceito, eu falo de 35 anos atrás, falo de um tempo ainda antes da AIDS,
149

agora vocês imaginem, portanto era bem mais complicado, então isso que
estamos fazendo aqui agora, falando e se vendo pelo celular, naquela época
era como ficção cientifica, era uma coisa de outro mundo e eu lia muita ficção
cientifica, frequentava muitas bibliotecas em São Paulo, então para nós
naquela época celular era o mesmo que falarmos para vocês hoje sobre
passarmos as férias na lua ou em marte, vocês me entendem? Então essa
facilidade que temos agora de conversarmos em tempo real com alguém do
outro lado do mundo era impossível. Então tínhamos todo esse preconceito
elevado à alta potencia devido a falta de conhecimento, e eu frequentava
muitas saunas gays naquela época e isso era visto assim de uma forma
criminosa, era uma vida dupla assim, uma coisa horrível, verdadeira loucura e
eu não sei até que ponto isso me influencia ou não, nessas relações com
homens e mulheres
A.P.M - ... e voltando a minha irmã ela não consegue entender como ela é
assim tão traumatizada e em mim não provocou nenhum trauma, eu digo que
vivo assim e sou feliz, e ela não consegue entender, que eu estou em paz na
vida, estou bem com você, estou bem com a mamãe, estou bem com o papai,
apesar de tudo, mas isso é uma coisa minha, tudo que aconteceu naquela
época não influencia meu caráter, não merece tanta atenção assim. Mas para
ela eu sou assim e me relaciono dessa forma com as pessoas porque fiquei
traumatizado com tudo que aconteceu, por isso sou poliamorista, por isso me
relaciono dessa forma, - “por isso você trata as mulheres assim” ela diz. A
minha irmã até hoje acha que eu sou traumatizado, e que toda essa minha
forma de ser, essa é maneira de levar a vida são traços desses meus traumas
na infância. Mas eu canso de falar para ela que não é nada disso, que não sou
traumatizado. Pelo menos eu acho que não sou, faço isso porque eu gosto e
me sinto bem. Não culpo ninguém por isso.
Mas sem querer justificar, mas já justificando, eu nunca tive um relacionamento
afetivo com homens, essas relações são puramente sexuais nunca tive
sentimentos, nunca tive vontade de um relacionamento afetivo duradouro com
homens, nunca tive vontade de beijar e abraçar, nunca tive um namorado, com
outro homem é apenas sexo, mas também não tenho nenhum problema com a
minha sexualidade porque eu sou totalmente versátil, assim eu posso ser um
“master dom”, como posso ser um “slive”, posso praticar também um sexo
150

normal, sou um pouquinho praticante de “SM” (sadomasoquismo), mas de leve


porque não curto muito essa história de pancadaria e porrada pra todo lado e
também posso dizer que pratico um pouco de “DS” (dominação e submissão),
e assim, gosto de ser um escravinho, como também gosto de escravizar e essa
é a minha sexualidade. E demorou muito tempo para eu me descobrir, isso foi
pouco a pouco, freqüentava minhas saunas gay normalmente e ia tendo
minhas namoradinhas como todo mundo tem que ter e já com 27 anos, eu
tinha uma namorada em SP, estava trabalhando na American Express como
gerente de marketing, e minha irmã menor tinha ido para Londres fazer um
trabalho por lá e eu que sempre tive vontade de sair do Brasil, larguei tudo na
American Express, vendi meu Passat e comprei uma passagem, sendo que um
mês antes eu tinha ligado para a minha namorada, porque nós estávamos
juntos à 1 ano e ela tinha ido para a Alemanha, continuamos namorando por
cartas e quando fui para lá nos encontramos na Europa e ficamos juntos em
Madri e Milão, ficamos juntos por 12 anos e éramos um casal perfeito, nos
dávamos super bem, muito respeito, éramos realmente um casal perfeito.
Éramos a inveja de todos os casais que nós conhecíamos, porque a gente se
dava bem, era tudo muito legal. Mas era o tal negócio, esporadicamente havia
uma traição, e às vezes com outros homens e a parte sexual também foi se
desgastando e até hoje ela não sabe que sou bissexual, para vocês verem que
foi um relacionamento de 12 anos e não nos conhecíamos. Então essa vida
dupla começou a me incomodar. Eu levei durante anos essa ambiguidade. E
sou muito amigo de todas as minhas namoradas, mesmo depois que
terminaram os relacionamentos e aquela situação estava ficando insustentável
porque eu estava enganando, eu estava traindo. E daí, porque meu
relacionamento acabou, porque tinha acabado o tesão mesmo, tinha acabado
aquela paixão! Apesar de que eu gostava muito dela. E a gente morava junto e
se dava super bem e vivíamos bem. Ficávamos juntos bem dizer por 24 horas
no dia, porque trabalhávamos na mesma empresa. As pessoas costumam dizer
que um casamento é assim, que o tesão termina, mas fica o companheirismo,
mas para mim não dá, porque a convivência se torna aquela coisa mecânica. E
era engraçado porque as pessoas que chegavam de fora, que não nos
conheciam estranhavam porque a gente se dava tão bem no trabalho. Éramos
colegas mesmo de trabalho, era uma amizade muito boa, mas para mim não
151

era o suficiente. Tínhamos um outro problema também, ela queria muito ser
mãe, e eu não queria. E nessa situação eu percebi que nossa relação não era
tão sólida como eu pensava, porque se fosse ela poderia ter aberto mão de ser
mãe, para ficarmos juntos ou eu poderia ter cedido e me tornado pai. Teríamos
formado uma família como ela queria, mas na verdade a relação já estava um
pouco abalada e juntou com a falta de tesão então. Alem do que éramos tão
amigos e para que arrasar com essa amizade por causa disso. E daí como eu
estava muito ruim com aquela situação eu decidi confessar porque eu já não
aguentava mais.
A.P.M - eu confessei achando que a nossa relação era tão legal, tão mente
aberta que ela ia entender, mas não foi como eu pensei. Na verdade foi muito
ruim, foi aquele drama todo. E minha mãe estava lá e existe toda aquela
pressão da sociedade e outras séries de agravantes que tornaram tudo mais
difícil e daí eu saí de casa.
A.P.M - e outra coisa também que atrapalha muito é a hipocrisia social. Nesse
episódio das amantes que aconteceu e todo mundo ficou muito abalado porque
ela falou para minha mãe, para família toda. Nisso, eu vinha para São Paulo
pelo menos uma vez por ano, e nem sempre vínhamos juntos porque eu tirava
férias em um período ela em outro, mas sempre que vínhamos, visitávamos a
família um do outro, mas afinal, o dilema era, eu tinha me separado! E agora
como iria falar isso para a família dela, para minha família tudo bem porque
todos já estavam sabendo, mas a reação da família dela eu não sabia, porque
quando nos separamos ela ligou para o Brasil chorando, em desespero e foi
aquele drama todo e eu super preocupado em encontrar a sogra.
E eu naquele dilema se devia ou não encontrar a sogra, mas iria ficar no Brasil
duas semanas e ela sabia, não tinha como não ir, então eu fui, com medo, mas
com medo mesmo. Chegando lá, foi um susto. – “A.P.M, que bom que você
veio”, e eu sem entender nada, achando que ela não entenderia, resumindo ela
apenas me disse: - “menino besta, seu único erro foi ter contado para ela, você
deveria ter deixado como estava, e continuar sendo o melhor marido do
mundo. Veja bem, esse era o conselho da sogra. O que os olhos não vêm o
coração não sente (risos).
A.P.M - e logo depois dela comecei a me relacionar com uma outra menina
peruana, que era uma pessoa maravilhosa também, muito boazinha, a pessoa
152

mais incrível, um doce de pessoa, honesta, suave, paciente, um anjo


encarnado e nós começamos a namorar, logo depois de minha separação,
houve um pouquinho de trauma, porque minha ex acreditava que ainda me
amava e aconteceram alguns conflitos, mas depois de seis meses, um ano, já
tínhamos nos tornado amigos. Então com a Lili, a peruana, com toda essa
candura, essa doçura, ela me cativou também, e eu fazia dela gato e sapato,
ela era auxiliar de enfermeira e trabalhava a noite e eu de noite marcava
encontros, porque nessa época já estava começando os celulares, então via
celular e computador, SMS, Chat eu conhecia outras pessoas, inclusive
homens...
Toque de celular...
A.P.M – Olha só, coloquei o despertador para uma hora depois, eu confundi os
horários e marquei com vocês uma hora antes. Mas continuando... ai eu traia
muito ela com homens, com mulheres, e eu trabalhava com uma companhia
aérea e viajava direto para outros países, inclusive para o Brasil e continuava
levando esse relacionamento com ela, até que aconteceu a oportunidade de
comprarmos um apartamento juntos, dividimos os valores e compramos meio a
meio. Ai, eu feliz, ela feliz, minha família feliz, nessa época eu já estava na
casa dos quarenta então todo mundo achava que eu estava “aquietando” o
facho e foi nesse mesmo período que eu fui descobrindo o poliamor, fui me
achando, fui percebendo que não era apenas promiscuo e “filha da puta”, então
lendo algumas coisas, alguns flashback acontecendo, inclusive aquele episódio
com a minha sogra, quando o pessoal brincava comigo, porque a minha vida
estava pautada em dois ditados populares, um é “o que os olhos não vêm o
coração não sente” mas também costumo dizer: “lavou tá novo”, então eu junto
essas duas e estou feliz (risos) e assim eu fui me encontrando com artigos na
internet, alguns livros e filmes e então eu vi que era poliamorista, e ai foi um
aprendizado pena que tão tarde, mas antes tarde do que nunca. Então eu até
queria uma fala para explicar o poliamor que é todas as suas concepções,
todos os seus preconceitos; porque qual o maior dilema do monogâmico,
porque toda a relação monogâmica para mim tem um dilema absoluto porque
você pode fazer todos os votos, você pode ter um casamento onde decidiu ficar
uma única pessoa por toda a sua vida, e de verdade querer apenas uma
pessoa, e nós poliamoristas aceitamos a sua opção, mas em um determinado
153

momento de sua vida você vai sentir atração por uma outra pessoa e pode ser
através do seu trabalho, pode ser no círculo social, pode ser pela internet, vai
acontecer e nesse momento, no momento em que você teve uma atração por
mínima que seja você entrou no grande “dilema do monogâmico”, porque você
terá três opções: você pode trair, sendo um filho da puta, traindo seus votos,
traindo seu parceiro, sendo um canalha; você pode deixar, abandonar o seu
parceiro e “foda-se” vou experimentar a grama do vizinho, que a grama do
vizinho é sempre melhor que a nossa e você chuta tudo e vai experimentar a
grama ou você pode matar aquele sentimento, e pensando na ultima opção
que moralmente dizendo é o que a sociedade espera, porque você é uma
pessoa correta e tem um companheiro maravilhoso que não merece a traição,
você vai chegar numa hora que qualquer pequeno conflito, qualquer drama,
qualquer desavença que aconteça na relação vai ser motivo para você lembrar
que a grama do vizinho era mais verdinha e que você deveria ter ido
experimentar.
E não adianta você matar essa sensação, matar esse desejo que surgiu porque
a cada atração não resolvida, isso vai se transformando em pequenas fissuras
nessa relação maravilhosa que você acredita ter, e você vai cobrar da outra
pessoa, você pode até culpá-la, por não ter permitido que você fosse
experimentar aquela grama verdinha e isso vai ser um fantasma e cada vez
que isso acontecer o cara vai falar – “caramba o que estou fazendo nisso aqui”,
e isso vai trincando sua relação. Mas devemos pensar também que existem
pessoas mais estáveis psiquicamente, biologicamente, hormonalmente,
sexualmente e que para essas pessoas deve ser muito mais fácil aceitar essa
relação estável, monogâmica, com apenas uma pessoa por toda a vida. Pode
ter pessoas que nunca vivenciaram uma paixão inebriante em toda a sua vida,
e que irão passar a vida sem grandes atrações sexuais, digo aquela paixão
sem controle, estonteante, essa pessoa pode ser capaz de viver a vida inteira
de uma forma tranquila com apenas uma pessoa e isso não ser problema. Mas
pessoas como eu por exemplo, que me apaixono uma vez por semana quase
(risos), a cada esquina provavelmente; para pessoas assim é impossível se
relacionar de maneira monogâmica. E esses são grandes extremos e no meio
dos extremos tem a normalidade e essa normalidade, saibam ou não saibam
todas as pessoas que praticam a monogamia tem que praticar essas escolhas
154

diariamente e é um dilema que eu não quero para mim, porque eu não quero
trair ninguém, também não quero ter que escolher entre duas pessoas que
desejo, muito menos matar um sentimento. Então eu penso assim se estou
com uma pessoa e aparece essa atração por uma outra, o que me impede de ir
até lá conhecer e ficar com aquela outra pessoa, daí eu comecei a perceber
que mesmo indo viver aquela paixão, aquela atração que surgiu eu poderia
continuar amando e desejando a primeira pessoa. Então eu estava em um
relacionamento onde todo mundo, inclusive eu acreditava que iria “aquietar o
facho”, tínhamos comprado o apartamento e estávamos bem, até que me
apaixono perdidamente por uma baiana, com um probleminha ela morava em
Salvador. E como eu estava indo praticamente todo mês para São Paulo a
trabalho, e tinha facilidade para conseguir passagens e me locomover por
quase todo o Brasil, então eu vivia isso uma vez por mês, ficava entre SP e
Salvador a ponto de alugar um apartamento lá porque ficava mais barato do
que um hotel. Agora pensa essa minha situação, tendo uma namorada oficial
na Espanha, uma amante em Salvador, trabalhando e morando em Madri,
onde tinha acabado de comprar um apartamento com a Peruana, mas
mantinha um apartamento no Brasil para me encontrar com a baiana (risos).
Com uma hipoteca na Espanha para pagar em nome dos dois, não, não pode,
porque se criou toda uma angústia, eu pensava nessa situação em Madri e
falava para mim mesmo, que ela não merecia passar por isso, eu não posso
continuar fazendo isso. Até que um dia eu a sentei no banco da praça e
perguntei: você me conhece? E ela responde: - é claro que eu conheço, mas
se você está falando assim é porque não devo conhecer direito. Você acha que
eu sou fiel para você? A resposta foi:- eu diria que sim, mas se você está
falando assim é porque não né. Não infelizmente eu não sou fiel a você, ela me
perguntou quantas vezes e eu não soube dizer por que estávamos juntos a 5
anos e eu já tinha me relacionado com diversas pessoas nesse período. Então
eu falei, não posso mais porque eu não tenho mais nada para te dar, não tenho
mais o que te oferecer e você não merece isso, porque você é uma pessoa
maravilhosa e eu sou assim. Então nós decidimos acabar com tudo, ela acabou
ficando com o apartamento e eu sai, e ela tinha um problema que ela se
achava feia, apesar de ser uma mulher muito bonita, simpática, ela tinha uma
auto-estima muito baixa e ela melhorou muito nesse período em que estivemos
155

juntos. E também uma coisa super bacana que eu deixei claro para ela que o
problema não era ela, que eu não conseguia ficar me relacionando com apenas
uma única pessoa, sendo que poderíamos ficar juntos e eu não falaria nada,
vivendo essa vida dupla, só que uma relação monogâmica não era suficiente
para mim, mas eu não queria me sentir culpado, não queria me sentir um
canalha, filha da puta. E a partir daí então eu decidi que não me relacionaria
mais monogamicamente e desse momento em diante eu passei a dizer
abertamente a maneira que me relaciono. Mas daí terminou tudo isso já faz
mais de 10 anos e foi a partir daí que eu me tornei um praticante do poliamor e
agora somos amigos, ela vem aqui para passar as férias, me visitar, da última
vez que ela veio fomos conhecer o vulcão “Cacratoa”, que é um lugar
esplendido aqui na Ásia. Eu, ela, uma das minhas namoradas atual com o
filhinho. E foi uma viagem maravilhosa.
Então resumindo foi assim a minha descoberta do poliamor e da minha
condição de poliamorista, deu-se pouco a pouco. E Posso dizer que descobri
verdadeiramente o poliamor há cerca de uns 10 anos, quando eu já tinha mais
de 40 anos de idade. Com certeza a tardia revelação deveu-se ao pouco
acesso a material (filmes, livros, artigos, etc.) e pessoas com esse tipo de
temática e de vivência. Apesar de que sou capaz de lembrar de algumas
situações, sentimentos ou experiências que ficaram gravadas na minha
memória e foram "flashes" ou pequenas peças de um quebra-cabeças que foi
formando-se no meu interior ao longo de vários anos. Como por exemplo, um
filme francês, assistido no Cineclube do Bixiga, quando eu tinha por volta de 18
anos (1980-1982) chamado “PourquoiPas”, que significa literalmente PORQUE
NÃO? e relata um romance a 3 (três). Foi relevador, mas a opressão da
sociedade e da família era tão grande que ficou no subconsciente.
Rosana e Peterson – Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser
praticante de relações poliamoristas?
A.P.M - então, depende do tipo de pessoa, porque quando estou falando nas
redes sociais, as pessoas estranham quando falo que sou poliamorista, ah
você está mentindo, você tem namorada, da onde ela é? – não eu não minto, e
de qual namorada você está falando? Porque eu tenho três. Ai o primeiro
impacto é a surpresa – ah você deve ser um playboy, então o que acontece
tem algumas pessoas que insultam, mas eu falo logo, - não vou mentir para
156

você, porque 97% dos homens que estão aqui só querem fazer sexo com você,
não que eu também não queira, mas eu tenho algo mais a oferecer! (risos).
Então se encontra principalmente as seguintes reações: desdém, desconforto,
confronto. Então existem pessoas que te rejeitam, te insultam, mas são
pessoas que são diferentes e não tem nenhuma experiência ou vivencia como
têm outras que se aproximam dizendo – eu gostei de você pela sua franqueza,
Você é um grande “filho da puta”, mas gostei por você ter falado a verdade.
Hoje eu tenho três namoradas, cada um mora na sua casa e todas elas têm a
chave aqui de casa, não se relacionam entre elas e não querem, mas se
conhecem, para nós isso está tranqüilo. Então essa é a reação das pessoas,
falam que sou cínico, me criticam mas é uma coisa bem suave. Mas na vida
social tem esse cinismo e dentro desse cinismo, também o que acontece foi
aquilo que falei, na verdade eles têm inveja por eu conseguir fazer isso, ter
essa possibilidade constante de poder me relacionar com outras pessoas sem
precisar mentir para ninguém. Então eu consigo ir plantando a sementinha da
dúvida na cabecinha de cada um. Aconteceu uma relação também em que eu
falei para uma namorada como eu sou, e ela me amava e mesmo não sendo
poliamorista, nós tentamos, Eu tentei, ela tentou, mas infelizmente não
conseguimos fazer dar certo. E eu acho que ela ficou mais comigo pela minha
franqueza mesmo. E na verdade eu nunca troquei ninguém eu não troco as
pessoas umas pelas outras, muito pelo contrário eu vou até lá e falo eu me
relaciono dessa maneira, as minhas experiências são assim.
Rosana e Peterson - Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está
estruturado?
A.P.M - Eu moro na minha casa e as minhas 3 namoradas tem a chave da
minha casa. Pela condição do trabalho delas, todas tem muito pouco tempo
disponível. Então não conflita muito. Duas delas se conhecem e são amigas.
Portanto podemos fazer eventos sociais e passeios juntos. A terceira aceita,
mas não quer se relacionar socialmente com as outras duas. Às vezes há um
pequeno conflito de agenda, porém com as qualidades do ponto anterior é
possível gerenciar as relações. Então é um pouco complicado administrar o
tempo, então costumo fazer assim, ir intercalando mesmo, segunda e terça
para uma, quarta e quinta para a outra, sexta e sábado ou sábado e domingo
para a terceira (risos) na verdade meu sonho de consumo era poder colocar
157

todas juntas, até já tentamos isso, mas ainda não deu certo, na verdade quase
que não teve nem jantar certa vez, porque aconteceram alguns conflitos
E normalmente a gente funciona assim dias alternados né, como são três então
é segunda quarta e sexta uma final de semana. Intercalando. Os nossos
horários são corridos também, bastante compromisso, então a gente tem que ir
controlando o horário porque elas não mantêm um relacionamento amoroso
entre elas.
A.P.M - duas são Filipinas, uma é Tailandesa. Então já aconteceu de nós
saírmos juntos, eu tentei colocar todas na mesma mesa, nós saímos para
jantar, mas foi uma tentativa frustrada porque elas se uniram para falar de mim
e daí ficou aquele mimimimimimi, e acho que não deu muito certo. Mas mesmo
sabendo da existência uma da outra é melhor a gente trabalhar assim. Cada
uma tem o seu dia. E a gente vai intercalando, vamos trabalhando dessa
forma.
Rosana e Peterson - Diferenças entre os países, como você já conheceu
diversos países e culturas, existem muitas diferenças?
A.P.M - sim, na verdade não e o assunto em si, porque a cultura é muito
diferente, aqui na Ásia é uma coisa mais dinâmica, mas nem é tanto o formato
das relações em si, eles são muito diferentes, porque eles são muito
materialistas, eles não se abraçam, eles não se beijam, não se tocam com
freqüência, é uma coisa mais fria. Então quando se encontram, mesmo sendo
amigos, convivência de longo tempo, mesmo assim eles se cumprimentam de
longe, eles não dão nenhum aperto de mão, isso é diferente para mim, foi
diferente no início. E foi engraçado que uma vez no Shopping duas amigas se
encontraram eu estava sentado no café e fiquei prestando atenção nelas. E
dava para perceber que elas gostavam muito uma da outra, mas elas ficaram
de longe dando pulinhos e acenando, e é obvio que estavam felizes, mas elas
não se abraçaram. Então para nós brasileiros que gostamos de chegar
abraçando e beijando é estranho essa maneira deles.
Para vocês terem noção os japoneses são engraçados, eu nunca atendi
pornografia no Japão, é uma coisa muito engraçada porque eles fazem os
filmes por lá, e as partes intimas né, elas são desfocadas, eles tiram o foco.
Então elas ficam embaçadas, não aparecem, você não consegue ver a imagem
e daí eu acho muito interessante e me pergunto - porque que é feito o filme?
158

Se eles tiram essa parte eles não mostram o ato sexual, as partes intimas
ficam desfocadas (risos) Estranho também porque nesses filmes as meninas,
as mocinhas gritam muito, parece que estão sofrendo, como se a relação fosse
um sofrimento muito grande.
Agora em relação ao poliamor eu não posso dizer para vocês que é maior a
aceitação ou é menor. Não sei te dizer na verdade porque ainda é uma coisa
muito desconhecida a única coisa que nós temos que é na verdade em comum
e o desconhecimento que é igual tanto ai quanto aqui. E o desprezo e o
desdém com que as pessoas tratam quando a gente fala sobre o poliamorismo.
Acham que é piada, acham que é brincadeira, nunca tratam com respeito. É o
menosprezo, e isso é em geral, para a sociedade ou você é um canalha “filho
da puta” e não ama ninguém, ou você é um playboy, um bonvivã e só quer
curtir, porque você não a ama. E a maioria das pessoas acha que você é o
malandrão e só quer seduzir muitas mulheres e todos fazem a mesma
pergunta, - e se ela quiser outras pessoas e se ela tiver interesse fora, ela
também pode? E eu sempre digo: não só pode como deve ter outras pessoas.
Porque se ela gostar de alguém, vai ser muito mais fácil para mim, porque ela
vai passar a entender aquilo que eu vivo. Porque esse é o grande benefício de
ser poliamorista e compersivo, e eu não sei se já surgiu essa palavra aí para
vocês, a compersão. Eu sou um cara extremamente compersivo, e é difícil ver
pessoas assim realmente. Mas trabalhar essa questão da compersão é muito
importante. Eu procuro me relacionar com pessoas assim, que aceitam, que
entendem, que amam. Porque é muito mais fácil se relacionar com uma pessoa
compersiva. E aí, às vezes, mesmo com essa reação das pessoas, eu consigo
chegar em alguém e convencer sobre o lado positivo de se relacionar assim.
No entanto sempre voltam naquilo – “e se for ela a querer outras pessoas” – se
acontecer é ótimo, porque fica muito mais fácil, vai me dar muito mais
segurança na relação, porque se ela tiver interesse, se amar ou sentir tesão
por alguém lá fora é sinal de que ela está feliz, e se houver respeito e
compreensão ela vai ter real noção do que sente por mim. E se ela não quiser
mais a relação com você, daí meu amigo, não importa se é uma relação
monogâmica, se é poliamor, não importa de que forma você se relaciona, se
acabou o tesão, se acabou o amor, vai restar a amizade. Sempre digo que o
fato de ela se interessar por outras pessoas, ou eu me interessar nunca será
159

motivo para o fim da relação, mas se o amor tiver que acabar seja pelo motivo
que for, ele vai acabar, e mesmo assim se ainda restar a amizade,
continuaremos como amigos.
Peterson – situação financeira, você acredita que uma certa estabilidade
financeira facilitaria na escolha da opção poliamorista?
A.P.M – olha eu penso assim, dinheiro não compra felicidade, mas ele compra
um bom carro, compra viagens, compra a comida em bons restaurantes, e
assim vai ficar muito mais fácil, agora se o cara tiver que trabalhar 16 horas por
dia para conseguir se sustentar, não vai sobrar tempo muito menos disposição
para nada, honestamente a questão financeira não ajuda somente o poliamor,
ela ajuda tudo, mas essa ideia está muito atrelada a cultura, porque se você
tem uma condição social melhor, tem acesso a cultura, tem conhecimento, tudo
vai ficar mais fácil. Então é nesse sentido, mas se a pessoa tiver a capacidade
de se entender tecnicamente poliamorista, se ela está inserida em um mundo
monogâmica no meio da miséria ela vai ter muita dificuldade para organizar
isso, então vai ser difícil administrar também a questão da família e demandas
técnicas mesmo relacionadas a sobrevivência. Eu diria que a condição
financeira não ajuda e nem atrapalha, mas o estigma social e o preconceito,
atrapalha muito porque o pessoal de condição pobre fica mais suscetível.
A.P.M - e também, quantas são as famílias de condições mais baixas, que
sobrevivem anos com amantes e homens que possuem múltiplas famílias e a
condição social na maioria das vezes não é o problema. No entanto acredito
que uma situação financeira equilibrada consegue trazer maior segurança e
isso é um dos pilares do poliamorismo. Eu não sou rico, tenho um bom
emprego e consigo manter certos confortos, com certeza fica mais fácil ser
poliamorista ou qualquer outra coisa que você decidir tendo condições
financeiras para ter acesso a viagens, cultura, boa educação, boa moradia e
alimentação.
A.P.M - Inclusive gente tem uma foto que vou mandar para vocês dessa última
viagem que eu falei que fiz, fomos para uma ilha vulcânica, Cracatoa, onde a
pouco mais de 5 anos houve uma grande erupção e agora já existe uma
pequena selva em redor da ilha, e eu fico impressionado como a vida abre
passagem, em ambientes totalmente hostis, a vida surge em toda sua
exuberância. Então lá no meio do oceano, em uma ilha vulcânica, encontramos
160

uma pedra e embaixo dessa pedra estava nascendo uma flor magnífica,
naquele ambiente inóspito, no meio do nada. Eu fiquei pensando: - Como que
isso veio parar aqui, como que nasce de uma pedra, e agora me veio essa
ideia, isso é o poliamor, que brota em ambientes hostis, e podemos pensar
assim sobre essa questão financeira, porque tem casais, onde o marido
acabou tendo uma amante, acabou tendo uma segunda família, e houve essa
aceitação, e continuaram mantendo seus relacionamentos e na verdade nem
sabem que são poliamoristas, mas a aceitação social vai ser difícil, e também
por conta da segunda família que acaba tendo filhos considerados bastardos
preconceituosamente e todas essas coisas.
Rosana e Peterson – durante nossas pesquisas percebemos que a questão do
ciúme é um dos principais desafios do poliamorista. Como foi para você
administrar essa questão de ciúme?
A.P.M - para mim foi uma moleza tão grande, porque eu nunca tive ciúmes,
porque se a pessoa falar e se ela for com outro, para mim ta ótimo, vou ficar
muito feliz, até acho que devam colocar no dicionário Annibal como sinônimo
de compersivo, porque eu acredito ser a pessoa mais compersiva do mundo e
é natural. E é engraçado porque as pessoas dizem – então você não ama, mas
não é isso, muito pelo ao contrário, é porque eu amo que eu quero que a
pessoa seja muito feliz, porque se eu amo muito a pessoa e ela vai ter uma
relação com alguém que ela ama, eu sinto prazer, eu sinto tesão, se puder
participar ótimo, melhor ainda, mas se não puder participar fico feliz só por
assistir, mas também se não puder participar, nem assistir também fico feliz em
saber que aquela pessoa que eu amo, esta amando, que está transando, está
gozando e sendo feliz. Então gente eu me considero uma pessoa tão
compersiva que se eu estiver namorando uma mulher e mantendo esse
relacionamento poliamorista e ela se apaixonar por outro rapaz e decidir por
um relacionamento monogâmico, é claro que irei sentir falta no inicio, talvez
sofra também por saudades, mas jamais vou te culpar pelo fim, nunca irei me
afastar da outra pessoa por isso, porque ela vai estar feliz e é isso que importa.
Rosana e Peterson - Constituição familiar, percebe-se entre os adeptos uma
discordância quando o tema é formar uma família poliamorista ou não. Alguns
acreditam ser possível a formação de uma família nos moldes do poliamor e
almejam isso, outros discordam dizendo que o modelo familiar vai na
161

contramão dos princípios poliamoristas de liberdade. E você, como enxerga


essa possibilidade de constituição familiar?
A.P.M – eu vou para a segunda turma. Eu aceito você ter um modelinho de
família poliamorista em sua cabeça. Mas isso é uma furada porque o poliamor
não é isso.....
O que menos existem é um relacionamento familiar poliamorista, o que vemos
muito por ai são relações abertas ou fechadas, por exemplo o trisal fechado,
você tem um modelo monogâmico, porque se aparecer alguém para um dos
três lá fora, estarão novamente vivendo aquele dilema monogâmico, de viver
ou não a outra relação, daí um vai estar traindo a relação. Quando acontecer a
gente senta e conversa, sentar e conversar, isso não deveria acontecer, porque
vai que na conversa o trisal se entenda e decidam que o triangulo vai virar
quadrado, daí piorou porque o modelo monogâmico vai continuar e serão
quatro para resolver o dilema, para mim as ideias básicas do poliamor no Brasil
ela foi usurpada um pouquinho, porque o mundo e a psicologia e os
congressos que falam sobre o poliamor, eles admitem um polígono fechado, ou
um trisal sei lá, mas isso é um subproduto, porque o poliamor para mim não
deve acontecer esse dilema monogâmico, porque você precisa do
consentimento do outro para viver a sua sexualidade, porque você precisa
fazer a escolha de qualquer jeito. Porque um poliamor onde você assina um
contrato ela continua sendo tão opressiva quanto uma relação monogâmica.
Rosana e Peterson – sim, é isso. Estudando sobre isso e conhecendo as
formas de se relacionar dessas pessoas, o que percebemos é que elas querem
a possibilidade de manter um relacionamento afetivo/amoroso com mais de
uma pessoa, mas daí saem a procura de terceiras ou quartas pessoas, incluem
essas pessoas na relação e decidem fechar isso, daí costumam dar o nome de
polifidelidade ou polifamília, se houver interesse por outras pessoas isso
precisa ser discutido e aceito pelo grupo, e eu achava isso estranho porque
aonde foi parar a liberdade nessa situação, eles estão vivendo um amor em
três ou mais pessoas mas continuam com ideais monogâmicos de fidelidade. A
liberdade de relacionamento é somente entre as pessoas que eu participei da
escolha, se for alguém que eu não quiser a outra pessoa não pode. Realmente
é muito confuso.
A.P.M – – Ahh, obrigado, até que enfim alguém que me entende, é isso
162

Rosana, isso que tento explicar para as pessoas e ninguém consegue me


entender. Então um trisal, ou um quarteto fechado, continua vivendo um
modelo monogâmico porque só aumentou a quantidade de pessoas dentro de
uma gaiola porque o dilema vai ser o mesmo. Obrigada por vocês chegarem na
mesma conclusão que eu (risos).
Rosana – só aumentou a quantidade de problemas e de pessoas para “discutir
a relação” liberdade não consigo enxergar. Fica uma relação muito próxima do
modelo monogâmico.
A.P.M – é isso Rosana, eu te entendo perfeitamente, você é compersiva e
estima muito a liberdade, poliamor é isso. (risos).
Peterson – tá vendo A.P.M, a gente fala isso aqui para ela, abraçou totalmente
a causa do TCC, já virou poliamorista.
Rosana – Não, não é isso, na verdade sempre pensei dessa forma, só não
sabia da existência do poliamor (risos)
Toque de celular...
A.P.M – só um momento pessoal, é a namorada avisando que está chegando.
Ela está preocupada porque eu não atendi a ligação dela agora, e eu não tinha
falado nada que iria dar essa entrevista. E essa é a primeira namorada depois
que mudei para Hong Kong, e eu era super compersivo com ela, e ela gostava
também de manter outros relacionamentos, então utilizávamos um site para
encontros e combinamos de convidar um rapaz para eu manter relações e ela
ficaria apenas assistindo, então ela é meu sonho de consumo, nos damos
muito bem nessa questão, se era só sexo estava ótimo, agora ela ficava puta
se por exemplo rolasse um cinema, ou um jantar antes com a mulherada
(risos). Inclusive tinha uma vez que conhecemos uma mulher e eu fiquei
interessado nela, e toda aquela história, ela se fazendo de difícil, até que
aconteceu e no dia em que a gente transou eu ainda no elevador, tirei a
camisinha do bolso, fotografei e mandei para ela, ela ficou radiante, super feliz
– Ai valeu. Eu sabia que essa filha da mãe ainda ia dar para você! – mas era
uma coisa absolutamente sadia, mas com homens como eu disse era apenas
luxúria mesmo.
Rosana e Peterson – existe uma hierarquia entre poliamorismo e monogamia,
poliamor como uma sublimação nas relações amorosas.
163

A.P.M – (risos) essa pergunta vem acompanhada com uma armadilha no caso,
eu diria sim e não, porque não vejo como hierarquia, o ser humano é
promiscuo por natureza, então é como se você tivesse domando uma fera, o
monogamismo ele doma, o ser humano é historicamente poligâmico, então eu
diria que a monogamia é “contra natura”, sendo assim quando você decide por
esse modelo está gerando um problema, não é questão de ser pior ou melhor,
eu não me sinto superior ou melhor por ser poliamor, só acredito ser bem
resolvido. Eu acredito que as pessoas se elas pensarem e serem honestas
com elas mesmas eu acredito que todas elas optariam por praticar o poliamor.
Obviamente eu me sinto superior por ser poligâmico, por ter uma mente mais
aberta, mas não menosprezo os conteúdos de um monogâmico, apesar de não
concordar com ele. E não digo que eles estão errados e não sabem nada, eu
honestamente acredito que o poliamor atende o ser humano de uma maneira
natural, digo que atende suas necessidades. E é aquilo que estávamos falando
antes sobre questão financeira, você pode ir para São Paulo em um fusquinha
caindo aos pedaços, pode ir de ônibus na rodoviária ou pode usar um
helicóptero, você vai chegar de qualquer maneira...
Interrompeu a conexão
A.P.M – oi gente, desculpe, interrompeu por aqui. Mas me dá só um minutinho
para eu abrir a porta, vou aproveitar e mostrar para vocês a vista aqui da minha
janela de Hong Kong.
Rosana e Peterson – ok, tranquilo, fique a vontade.
A.P.M – então pessoal, voltei, deixa eu mostrar a vista para vocês...
Rosana e Peterson – Chovendo, que dia gostoso, e esse transito, se fosse em
SP com essa chuva já estaria tudo parado com o trânsito. Muito bonito.
A.P.M – então pessoal, não vejo superioridade, principalmente porque a
monogamia é a forma de relação que está vigente na maioria do mundo e
então não tenho aquela arrogância ou superioridade moral, mas sim é aquela
noção de que tem diversas formas de viajar pra SP, mas também tenho o
direito de escolher o que mais me convêm, eu particularmente prefiro chegar
em SP de helicóptero, mas entendo que a maioria das pessoas preferem as
rodovias, ou tem medo de helicópteros, então eu acho que é o melhor, para
mim é o melhor, mas respeito a decisão e as escolhas alheias.
164

Rosana e Peterson - quais as principais características que você pode definir


em diferenças entre os relacionamentos monogâmicos e poliamoristas?
A.P.M - prisão versus liberdade; fragilidade versus solidez; cinismo versus
sinceridade; infidelidade versus honestidade e para finalizar infelicidade versus
felicidade. Acho que é isso
A namorada aparece...
Rosana e Peterson – Olá! Tudo bem?
A.P.M – faz as apresentações utilizando o Inglês, fazendo a tradução.
A entrevista continua...
Rosana e Peterson – nós estamos utilizando alguns autores que falam
bastante sobre essa sociedade líquida, sobre esses relacionamentos que se
formam e acabam com muita facilidade, que são construídos como castelos de
areia. Então esses laços não apresentam uma característica muito duradoura.
Então você concorda que o poliamor é uma característica dessa sociedade
liquida e efêmera.
A.P.M – as relações estão sim muito modelo express, mas ainda são
exatamente as mesmas coisas. Então para vocês terem uma ideia, quando eu
tinha uns quinze anos, eu estudava no Senac, e existia um projeto, onde
entregavam um papelzinho que você se comunicava com outras pessoas e
ficava na Finlândia, então você escrevia naquilo, mandava para um endereço
na Finlândia, indicando os países que você teria interesse em se corresponder,
então dentro de pelo menos dois meses chegavam mensagens de pessoas do
outro lado do mundo, então eu digo que o que mudou é isso, a facilidade com
que você consegue se comunicar com pessoas de todos os cantos do mundo,
agora dizer que o poliamor é fruto disso, eu não concordo porque
relacionamentos afetivos/amorosos são e serão sempre uma experiência
social, então a sociedade dá um modelo e deixa a pessoa se enquadrar,
porque sexo e sentimentos além do poliamor serão sempre iguais.
Rosana e Peterson – então assim, foi como aquela conversa que tivemos pelo
Messenger, alguns dias atrás, quando você me disse que naqueles grupos eu
teria muita dificuldade para encontrar pessoas realmente poliamoristas, e foi
exatamente isso, passei por todas as dificuldades que você disse que eu
encontraria, porque naqueles grupos as pessoas se diziam poliamoristas, mas
165

na verdade estavam à procura de sexo sem compromisso, e na hora de


participar da pesquisa não aceitavam, usando diversas razões como desculpa.
Mas o que percebi é que elas não tinham conteúdo nenhum para falar sobre
aquilo, só estavam à procura de sexo, eu precisava de informações e as
pessoas que estava encontrando não tinham nenhuma informação correta
acerca de minhas dúvidas. O primeiro questionário publicado para definir o
perfil das pessoas está tendo muito dificuldade para alcançar o numero
desejado de participantes, a maioria das pessoas responde que gostaria de
manter a opção poliamorosa em sigilo.
A.P.M – é tudo muito velado mesmo, escondido, não se assumem e eu no
começo me engajava na causa e saia como defensor do poliamor, mas percebi
que não valia a pena.
Rosana e Peterson – bem Annibal, nos já estamos finalizando também para
deixar você curtir seu final de semana mais sossegado...
A.P.M – tranquilo, por mim sem problemas, posso conversar o dia inteiro,
vocês que devem estar apressados para poder curtir as baladas por ai.
Peterson – Imagina, o TCC não está deixando curtir nada. Ou vou para as
baladas ou faço o trabalho. Mas daqui a três meses vou conseguir socializar
(risos).
A.P.M – mas porque falam no singular? Vocês já estão vivendo essa
experiência juntos pelo jeito. Amarrados pelo TCC (risos).
Rosana e Peterson – gostaria que você nos falasse sobre os desafios
enfrentados, você enfrenta alguma situação que te compromete no aspecto
psicológico?
A.P.M – sim com certeza, porque você tem o desafio de se calar ou enfrentar e
ter um balanço para buscar um equilíbrio para não abdicar de sua decisão,
principalmente no nível familiar, porque ou você se anula e fica dentro do
armário, ou vira ativista e passa a ser visto como um louco, ou encontra o
equilíbrio. Essa é a minha opção, porque é um desafio constante. E é aquilo
que falei, você precisa estar bem resolvido para essas questões não
interferirem muito no seu psicológico. Como já disse também, existem pessoas
que são mais estáveis, pessoas estáveis psiquicamente, moralmente e
sexualmente, para essas pessoas pode ser que seja mais fácil.
Só que para mim isso é diferente, isso é muito diferente porque parece que eu
166

sou só paixão, eu estou nos extremos, eu me apaixono muito fácil. Eu me


apaixono toda semana se for possível, toda pessoa que encontro é passível
que eu me apaixone.
Eu não quero trair ninguém. E eu quero fazer isso aqui agora, mas eu não
quero ter que escolher entre as pessoas. Então pense assim se eu gosto de
uma pessoa, o que me impede de eu ir ali e encontrar outra pessoa e gostar e
me apaixonar e ter um relacionamento com ela. Mas no começo quando eu
realmente me assumi, eu estava em uma relação que achava perfeito, que era
estável e equilibrada, mas não foi o suficiente para mim, essa modelo de
relação monogâmica para mim não é o suficiente.
A.P.M - já vivi várias relações poliamoristas. Atualmente vivo uma relação
poliamorista onde tenho 3 namoradas e as 3 sabem e aceitam que eu me
dedique às 3. Uma delas é ninfomaníaca e tem vários namorados e casos.
Uma delas tem outro namorado, porém não o vê com tanta frequência quanto
eu vejo as minhas outras duas namoradas. A outra, não tem outros namorados.
No máximo, aproveita a "liberdade do poliamor" para flertar online. No fundo,
eu ainda tenho dificuldade em encontrar parceiras que tem o mesmo grau de
aceitação do poliamor e a compersão que eu tenho. Eu exponho para elas
desde o primeiro momento e dou-lhe liberdade de também terem quaisquer
tipos de outras relações. Elas aceitam. São bem abertas. Porém não estão tão
confortáveis na relação como eu. Elas topariam na hora o fechamento da
relação caso eu propusesse. Tipo, elas aceitam, mas ainda sofrem um pouco.
Creio que devido à insegurança e ao condicionamento religioso e social. Não
deixa de ser um pouco egoísta da minha parte. Reconheço, porque elas não
são 100% poliamoristas. Mas na verdade, elas poderem flertar e até terem
outras relações realmente as deixam tranquilas. Elas também gostam muito da
parte de que realmente, por primeira vez, confiam 100% em um namorado.
Sabem sempre com quem e onde eu estou e tem livre acesso ao meu celular e
todas as minhas fotos e redes sociais. Acho que elas enfrentam um dilema,
tipo, tem ciúmes, mas confiam e o saldo ainda é positivo para elas.
Escolhi esse tipo de relação porque é o único que me atende as necessidades
sentimentais e físicas e o único que me entrega uma solução ao que eu chamo
o dilema do monogâmico, ou seja, ao submeter-se e aceitar um compromisso
monogâmico, a pessoa se "auto-engaiola" e, cedo ou tarde, fatalmente ver-se-á
167

diante de um sentimento, emoção ou atração física para com uma terceira


pessoa, nesse momento, ele enfrentará o "dilema do monogâmico" onde não
há solução que lhe atenda pois ele terá que optar entre: a) TRAIR (e ser um
canalha e safado que não é capaz de cumprir a promessa e o acordo feito); b)
TROCAR (e mesmo que primeiro terminar o atual relacionamento e depois ir se
dedicar à nova paixão, ainda assim será um canalha, inseguro e manipulador
que não foi capaz de manter a relação que já tinha); c) MATAR (o sentimento
ou desejo que está nascendo). Nenhuma dessas 3 opções me satisfaz. Eu
quero não perder o atual amor, experimentar o novo sentimento ou desejo e
não ser um filho da puta... O Poliamor me dá isso.
A.P.M - Um dos maiores problemas enfrentados é a discriminação da
sociedade e da família. Que se dá desde a crítica abjeta até o desdém, tipo
..."quando você gostar de alguém de verdade”, você não precisará de mais
ninguém e não aceitará que ela tenha outros parceiros"...
Para fazer a escolha pelo modelo de relacionamento poliamorista existem
características essenciais como liberdade, paciência, compreensão,
honestidade e principalmente, compersão. Eu sou super compersivo, fico
realmente feliz de ver alguma pessoa que eu amo, amando e sendo amada por
uma terceira pessoa.
Rosana e Peterson - O que é ciúmes para você?
A.P.M - Desconheço. Sou o ser mais compersivo que eu já vi na face da Terra.
Creio ser afortunado.
Rosana e Peterson - É possível uma relação poliamorista sem ciúmes? Se a
resposta for sim, como isso é possível?
A.P.M - Claro que sim. Na verdade, o que eu não concebo é uma relação
poliamorista com ciúmes. Claro que um ciúme, "pequeno e racional” tipo de
gerenciamento de tempo pode rolar, mas aquele ciúmes de não poder ver o ser
amado com outra pessoa e gerador de raiva ou vontade de vingança, não pode
rolar. Do contrário não é poliamor. A forma de gerenciar um possível ciúmes
acho que passa pela segurança de que você nunca vai perder o ser amado. Ou
seja, caso a pessoa que você ama, tenha sentimentos ou desejos carnais por
uma terceira pessoa, ela saber que pode ir experimentar aquele novo
sentimento sem ter que te trair e nem abandonar você, é uma segurança. Ou
seja, eu penso assim, somente perderei alguém que amo se ela deixar de me
168

amar. Já que ela nunca terá que optar entre outra pessoa e eu pois poderá ter
os dois ao mesmo tempo. Essa lógica me dá segurança e tranquilidade. Ou
seja, enquanto houver amor, a pessoa amada sempre voltará para mim e
sempre existirá a nossa relação. Em outras palavras, uma terceira (ou quarta
ou quinta... rs) pessoa jamais colocará em risco o que já temos. Salvo que
acabe o amor em algum dos dois. Isso dá segurança. No meu caso, essa
segurança acho que é uma válvula inibidora do ciúme.
Rosana e Peterson - como sujeito poliamorista, você idealiza a constituição de
uma família?
A.P. M - Não. Não tenho um ideal de família e nem de "modelo" ou "polígono"
que eu queira formar. Até porque nunca quis ter filhos, o que me facilita a
gestão logística de uma "família poliamorista".
Rosana e Peterson – para você, casamento e família, como se constituem no
poliamorismo?
A.P.M - não se constituem. Não nos formatos e normas religiosas e sociais
atuais. Os mesmos não deixam espaço para uma constituição formalizada e
harmoniosa de uma família poliamorista. O Poliamor é algo totalmente proscrito
e coibido. Não há nenhuma regra, lei ou mecanismo que ofereça um mínimo de
suporte formal. Pelo contrário, a simples constituição de uma família
poliamorista morando digamos sob o mesmo teto, em alguns países é inclusive
ilegal e passível de condenação em muitos países. Mesmo alguns ocidentais
ditos liberais. Entendo que as famílias poliamoristas que se expõem à
sociedade e forçam a sua aceitação de forma aberta, tem que lutar muito e
tomam muita porrada do sistema e do status-quo social. São verdadeiros
heróis e abnegados mártires.
169

ANEXO A
170
171
172

ANEXO B
173

ANEXO C

CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DE PESQUISA


174
175

ANEXO D

CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E GRAVAÇÕES

Permito que sejam realizadas fotografia, filmagem ou gravação de


minha pessoa para fins da pesquisacientífica intitulada “POLIAMOR: O perfil
dos praticantes e os desafios enfrentados”, e concordo que o material e
informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam ser publicados
eventos científicos ou publicações científicas. Porém, a minha pessoa não
deve ser identificada por nome ou rosto em qualquer uma das vias de
publicação ou uso.
As fotografias, vídeos e gravações ficarão sob a propriedade do grupo
de pesquisadores pertinentes ao estudo e, sob a guarda dos mesmos.

__________________, _____ de ____________ de2017.


Local e Data

________________________________
Nome e assinatura do participante
Cpf: ____________________
176

ANEXO E
FOLHA DE ROSTO

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