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LINS - SP
2017
0
LINS – SP
2017
1
CDU 159.9
2
Banca Examinadora:
1º Prof(a): _____________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________
2º Prof(a): _____________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________
3
AGRADECIMENTOS
apoiado nos momentos difíceis, por ter chorado junto, ter sorrido nos
momentos engraçados e por ter sempre participado desses 5 longos anos de
curso. Obrigado.
Queria finalizar com uma frase “Bom mesmo é lutar com determinação,
abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o
mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante”.
Peterson Merlugo Tavares
6
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
with these guys or poliamoristas families with such feelings that are difficult to
be handled, do not forget to provide a welcome and necessary support.
LISTA DE QUADRO
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Sexo dos participantes ...................................................................... 74
Tabela 2: Orientação Sexual dos participantes ................................................ 74
Tabela 3: Estado Civil ....................................................................................... 75
Tabela 4: Idade dos participantes ..................................................................... 75
Tabela 5: Cor de pele ....................................................................................... 75
Tabela 6: Religião ............................................................................................. 76
Tabela 7: Grau de escolaridade ........................................................................ 76
Tabela 8: Locais de Residência ........................................................................ 77
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Formações Amorosas ........................................................................ 59
Figura 2: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 60
Figura 3: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 60
Figura 4: Tipos de Relacionamentos Poliamoristas .......................................... 61
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15
CAPÍTULO IV - PESQUISA.............................................................................. 72
14
1 METODOLOGIA .................................................................................... 72
1.1 Abordagem ............................................................................................. 73
1.2 Técnica ................................................................................................... 73
1.3 Método .................................................................................................. 73
1.4 Sujeito da pesquisa ................................................................................ 73
1.4.1 Critérios de Inclusão ............................................................................... 77
1.4.2 Critérios de Exclusão: ............................................................................ 78
1.4.3 Procedimentos ....................................................................................... 78
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
1 DEFINIÇÃO DE POLIAMOR
amorosas sofrem esta influência, onde uma relação era construída dentro de
um amor romântico acerca das questões religiosas em que os sujeitos se
conheciam, apaixonavam-se, adentravam a um namoro, noivado e casamento.
Hoje as relações são baseadas a princípio na atração física, no que o parceiro
pode contribuir na relação, pode ser afetivo ou sexual, mas a partir do
momento em que não há mais satisfação com aquele sujeito à relação conjugal
ou afetiva passa a ser algo que não agrada mais e simplesmente se desfaz.
Para “The Polyamory Society” poliamor é a filosofia e a prática de amar
várias pessoas ao mesmo tempo, de forma honesta, responsável e ética sem
possessão. A escolha de seus parceiros é consciente e não aceita a norma
social monogâmica no que diz respeito a amar apenas uma única pessoa.
Abraça a igualdade sexual e todas as orientações sexuais para um grupo
ampliado de intimidade conjugal e amor, sendo que essa ligação nem sempre
envolve sexo. (LINS, 2008)
Segundo o Dicionário Priberam, Poliamor (poli + amor) é um substantivo
masculino. Que significa um relacionamento de cariz romântico e sexual que se
estabelece simultaneamente entre vários parceiros, com conhecimento e
consentimento de todos os envolvidos (o poliamor não deve ser confundido
com a poligamia).
Para Wolfe (2003 apud PILÃO 2015) o poliamor é praticado em
variações de gênero, podendo ser heterossexual, bissexual, homossexual,
transexual, entre outros, além das variações em números, ou seja, entre três,
quatro, cinco ou mais parceiros, sendo classificado por alguns como
relacionamentos “primário” e “secundário”, referindo-se ao primeiro parceiro e
aos relacionamentos posteriores a este. Desta forma originam-se
configurações monogâmicas e poligâmicas, quando um dos parceiros opta por
uma forma de se relacionar, mas não impede que o outro assuma a maneira
que mais lhe convêm. Originando relações em grupo e relações onde os
parceiros não namoram todos entre si, as configurações estendem-se em
“Aberta” (quando pessoas podem agregar-se a relação já estabelecida) ou
“Fechada” (quando não é permitida a inserção de outras pessoas além do já
estabelecido pelo grupo), a esse acordo utiliza-se o termo “polifidelidade”.
O conceito de poliamor não é unânime, porém há pontos em comum: o
consenso, a liberdade e a honestidade. De um modo geral, trata-se da
20
1.2 A Sexualidade
outro. Na maior parte do tempo, esses dois avatares coabitam, embora estejam
em diversos níveis de consciência.
Esse amor líquido citado por Bauman (2004), nos mostra o verdadeiro
cenário da vida moderna, são relações perturbadoras, ambivalentes, onde o
indivíduo deve ser o centro da atenção. Seres apresentando discursos abertos
a amizade, laços, afetos e comunidade, mas em seu íntimo, tendem a se
concentrar nas satisfações que porventura venha a receber dessas relações.
O poliamorismo aparece como uma nova versão dessa espécie de amor.
A ideia inicial do amor romântico pressupõe a possibilidade de se estabelecer
um vínculo emocional durável com o outro, tendo-se como base as qualidades
intrínsecas desse próprio vínculo (BAUMAN, 2004).
Giddens (1993), fala sobre relacionamento puro, uma forma
predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que cada um pode
ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão
proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na
relação”. No poliamor a possibilidade de estabelecer um vínculo durável,
baseado em um relacionamento puro favorece a manutenção dos princípios
poliamoristasde respeito, honestidade e igualdade.
1.3.1 Monogamia
1.3.2 Poligamia
poligâmico.
De acordo com Raminielli (2007), tratando sobre os tupinambás, a
maioria dos índios tinha somente uma mulher. A poligamia existia, mas era
praticada por um número restrito de homens: somente os considerados
grandes guerreiros e caciques. Eles poderiam viver, sem causar
estranhamento, com até quatorze mulheres e cada esposa possuía seu espaço
exclusivo na cabana. A prática da poligamia era sinônimo de prestígio entre os
bravos guerreiros. A sua virtude era homenageada ao enumerar as esposas:
quanto maior o número de mulheres, mais valente era considerado o guerreiro.
Segundo Dicionário Aurélio, “poligamia” é um substantivo feminino,
significando a união conjugal de um indivíduo com vários outros
simultaneamente. Atualmente poligamia é uma forma de casamento
comumente associada à religião mulçumana e reconhecida pela legislação de
mais de 50 países, onde a população segue os ensinamentos do Alcorão –
livro sagrado dos mulçumanos – que permite ao homem ter até 4 esposas, com
a condição de que dê atenção igual a cada uma delas (FAHEL, 2016).
Tanto a poliginia, quanto a poliandria remetem a uma prática unilateral,
em que apenas um dos sexos tem o direito de nutrir mais de um parceiro.
A poligamia, associada tradicionalmente às sociedades ameríndias e
mulçumanas, é a mais conhecida. Os pesquisados afirmam que não são
polígamos, mas poliamoristas, uma vez que a poligamia pressupõe a
assimetria de gênero, ou seja, existe apenas um polígamo em cada relação. Já
no poliamor, é indispensável que a possibilidade de mais de um
relacionamento amoroso simultâneo seja tanto de homens quanto de mulheres
(PILÃO; GOLDENBERG, 2012).
Já o poliamor, além de não ter associações religiosas, é sempre bilateral
porque defende o direito à liberdade de ambos. Ou seja, todos os parceiros
podem amar e se relacionar com mais de uma pessoa. Ocasionalmente, um
homem ou uma mulher pode ter mais de uma relação, enquanto o outro tem
apenas a ele ou ela. No entanto, se é conservada a liberdade mútua para
seguir novas escolhas, a prática não deixa de se caracterizar como poliamor.
Além de tudo, o significado de poligamia está muito mais atrelado ao ato
do casamento do que à afetividade entre seus participantes. Casar com várias
mulheres ou vários homens não significa necessariamente nutrir sentimentos
31
por todos eles. Afinal, casamento nunca foi sinônimo de amor. A poligamia
pode acontecer, também, como mera fidelidade a determinados padrões
culturais religiosos; mera formalidade. Por outro lado, o poliamor é motivado
apenas pela afetividade múltipla e tem formato fluido, portanto é uma pratica
livre de padrões e incentivos religiosos. (FAHEL, 2013)
1.3.3 Swing
CAPÍTULO II
Segundo Lins (2007), pode-se dizer com certeza que ninguém decide
pelo poliamor de uma hora para outra, essa resolução é o resultado de um
longo processo de desenvolvimento pessoal, e nem todos são capazes dessa
transição. É necessária uma grande revisão de ideias pré-concebidas, de
condições culturais arraigadas e principalmente da capacidade de declarar o
fim do amor romântico idealizado.
De acordo com Anapol (1997 apud LINS, 2008, p. 411) autora do livro
Polyamory: The New Love Without Limits (Poliamor: Um Novo Amor sem
Limites) afirma:
Nossa cultura coloca tanta ênfase na monogamia de modo que
poucas pessoas se dão conta de que podem decidir sobre
quantos parceiros amorosos/ sexuais desejam ter. Ainda mais
difícil de aceitar é a ideia de que uma relação de múltiplos
parceiros possa ser estável, responsável, consensual,
enriquecedora e duradoura. (ANAPOL,1997 apud LINS, 2008,
p. 411).
1.1 Internet
Ainda nesse universo existem adeptos que procuram apenas por novos
relacionamentos, abertos a novas experiências, expõem suas intenções no
grupo e aguardam possíveis contatos. Após esse primeiro contato virtual, o
interesse se mostrando recíproco, os envolvidos marcam encontros
presenciais.
Roda de Debate:
Temática principal: Amor Romântico.
Espaço para conversas, esclarecimento de dúvidas, relatos de
experiências. Conceito de Amor Romântico – suas origens,
consequências, formas, etc – e como os adeptos polis se relacionam
com ele.
Social:
Momento de descontração, de conversas “livres”, onde os presentes
podem se conhecer melhor, fortalecer seus laços e socializar.
OBSERVAÇÃO: O Poliencontro é aberto ao público poliamorista,
simpatizantes e curiosos.
Fonte: https://www.facebook.com/PratiquePoliamorRj/
podem “[...] tanto se aplicar a um corpo que se quer disciplinar, quanto a uma
população que se quer regulamentar”.
Pensando nesse contexto, pode-se dizer que o movimento poliamorista
surge em um momento de construção de novos valores e ideais em uma
sociedade ocidental erguida não somente por aspectos legais jurídicos e
capitalistas, mas amplamente alicerçada em questões de afetividade,
liberdade, igualdade e respeito nos relacionamentos amorosos.
Durante a pesquisa bibliográfica sobre o movimento poliamorista, as
informações mais completas foram obtidas através do site
http://www.polyamorysociety.org/page15a.html, onde se obteve mais detalhes
sobre a “Sociedade Poliamorosa”.
Segundo o site oficial “Polyamory Society” é uma organização sem fins
lucrativos que foi fundada para apoiar, defender e promover indivíduos
poliamoristas, famílias poliamoristas, crianças oriundas de relacionamentos
poliamoristas e instituições poliamorosas em todo o mundo. A “Polyamory
Society” foi criada em 6 de junho de 1996 em Washington DC, por um grupo de
poliamantes empenhados em ajudar as pessoas que sofriam injustiças sociais
decorrentes de suas opções amorosas. Nos dias 6, 7 e 8 de setembro de 1996,
na Pensilvânia, a estrutura organizacional e as diretrizes de associação foram
criadas, marcando a fundação da “Polyamory Society”.
Ainda segundo a página, a sociedade foi criada para promover
mudanças sociais positivas para a instituição do Poliamor. Isso não quer dizer
que já não existissem alguns grupos eficientes que trabalhavam para mudar o
monopólio monogâmico em série. O principal objetivo da “Polyamory Society” é
apoiar a igualdade política, educacional, social e econômica de poliamoristas e
polifamilias em todo o mundo. A Sociedade está comprometida com a
realização através da não violência e depende da imprensa, da petição, da
cédula e dos tribunais, e é persistente no uso da persuasão jurídica e moral,
mesmo em face da hostilidade violenta.
A história recente em todos os grandes movimentos do século XX prova
que as culturas vigentes permitirão a opressão das subculturas até que a
própria subcultura oprimida defenda a si mesma. Usando como exemplo o
movimento homoafetivo, a sociedade desenvolveu vários grupos e
organizações para representar a posição poliamorista de seus integrantes. O
49
CAPÍTULO III
O AMOR
1 A FAMÍLIA
outro, alguns adeptos que fazem parte do blog Poliamores argumentam que
muitas pessoas não se sentiriam bem em uma relação poliamorosa “Isso deve
ser compreendido e não pensar que ela age assim porque está sendo imposta
ou é insegura ou ciumenta. Na visão destes praticantes, a monogamia não é
errada em nenhum sentido, apenas acreditam que “relacionamentos diferentes
atendem a pessoas de necessidades diferentes”. Para os adeptos do poliamor
a lealdade vale mais do que a tradicional fidelidade sexual e afetiva. E se de
acordo com pesquisas Se metade das pessoas traem, existe alguma coisa
errada com a monogamia” (PILÃO; GOLDENBERG, 2012).
Esse amor citado pelos poliamoristas é um amor similar ao que amigos
compartilham. Sem cobranças e exclusividade, sem o sentimento de posse. A
busca pela realização individual é como um impulso para esse tipo de amor.
Nesse tipo de relacionamento você pode ser apenas você, sem ser o que o
outro espera. Assim o ciúme, o medo e a insegurança não existiriam, porque
uma pessoa não é trocada pela outra, porque todos compartilham de forma leal
as experiências ao mesmo tempo.
Embora ainda tão estigmatizados, é fato que os relacionamentos não
monogâmicos têm despertado cada vez mais a atenção da sociedade.
Podemos confirmar isso pelas pesquisas no “Google” onde a procura pelo
termo poliamor aumentou muito nos últimos anos.
O poliamor é considerado um vínculo mais livre do que a monogamia, o
relacionamento aberto e o swing, uma vez que o estabelecimento de um
relacionamento não é impedimento para outros.
Essas formações poliamorosas se apresentam de diversas formas e
configurações, sendo que podem ser modificadas de acordo com o desejo de
seus integrantes, prevalecendo sempre a igualdade, a honestidade e o
consentimento em suas interações, condição imprescindível para um
poliamorista.
No Blog “Poliamores”, encontra-se de forma muito elucidativa as
possíveis formações: em grupo, interconectados e mono/poli, como explica a
figura abaixo:
Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/
Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/
Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/
Fonte: https://tab.uol.com.br/poliamor/
1.3.1 Casamento
Neste contexto fica difícil imaginar que tais garantias de direitos venham
a ser reconhecidos, assim como, previdência social, planos de saúde e todos
os direitos garantidos de imediato em outras uniões, arrastasse ai longos e
cansativos processos judiciais para a garantia destes diretos. Uma vez que um
dos membros venha a falecer seus familiares vem a contestar a validade deste
registro e procuram obter os bens materiais de seu ente falecido.
Considerado o motor de impulsão de toda ordem jurídica brasileira, a
dignidade humana é assegurada no art. 1°, III, da Constituição Federal de 1988
e denomina-se de macro princípio, pois segundo Stolze e Pamplona Filho
(2014, p. 76) “traduz valor fundamental de respeito à existência humana,
segundo as suas possibilidades e expectativas patrimoniais e afetivas,
indispensáveis à sua realização pessoal e à busca da felicidade.”
72
CAPÍTULO IV
PESQUISA
1 METODOLOGIA
1.1 Abordagem
Foi utilizada a abordagem sócio-histórica, procurando investigar em
razão de resultados, para obtenção e compreensão dos comportamentos a
partir da perspectiva dos sujeitos da investigação (BOGDAN, BIKLEN, 1994,
p.16).
1.2 Técnica
1.3 Método
Tabela 6: Religião
Religião Respostas %
Católica 3 10%
Evangélica 3 10%
Espírita 8 27%
Sem religião 3 10%
Ateu/Agnóstico 9 30%
Outras denominações 4 13%
Total 30 100%
Fonte: AUTORES (2017)
ensino superior (14 participantes), em segundo lugar está o ensino médio com
um total de 30% (9 participantes), em terceiro lugar está o doutorado com um
total de 13% (4 participantes), em quarto lugar está os pós-graduados com
10% (3 participantes).
Não adeptos e adeptos que não fizessem parte das redes sociais.
Menores de 18 anos. Não assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
1.4.3 Procedimentos
CAPÍTULO V
existe respeito, companheirismo existe amor entre os três, para mim é esse
entendimento de poliamor, é amar as outras duas pessoas por igual e não
conseguir escolher entre um e outro. (R.S.C.)
(...) é óbvio que eu sendo poliamorista tenho várias namoradas e a
administração desses relacionamentos é um pouco complicado, porque nem
todas elas são poliamorista, mas me aceitam, eu falo abertamente com elas o
seguinte: não conto uma mentira para ninguém com quem me relaciono a mais
de 10 anos, porque não é necessário. Eu me abdico de uma pessoa, de um
relacionamento, mas não abdico de falar a verdade. (A.P.M.)
Através dos relatos percebe-se que os adeptos deste tipo de
relacionamento procuram construir acordos para nortear seus relacionamentos,
para assim não haver traição ou mentira, utilizando para isso dois pontos
essenciais sinceridade e liberdade.
Giddens (1993, apud LINS, 2008), chama de “transformação da
intimidade” o fenômeno sem precedentes de milhares de homens e mulheres
que, estimulados pelos amplos movimentos sociais atuais, estão tentando,
consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar.
Relacionamentos consensualmente baseados em honestidade e
liberdade, apresentando variações de gêneros e de números, além da
necessidade de estabelecer uma relação não possessiva. A possibilidade de
vivenciar diversos amores simultaneamente torna o poliamor um desafio por si
só, e a capacidade de administrar equilibradamente essas vivências facilita a
adesão ao poliamor.
Percebe-se nos dois primeiros relatos, um conceito mais ligado ao
amor/paixão, no entanto no terceiro relato, chama atenção a ligação afetiva
pautada na verdade, igualdade e responsabilidade.
(...) então gente, tem algumas situações diferentes. A gente saia para
passear e quando estávamos na estrada fazíamos “traquinagens” a gente
ficava de mãos dadas, as vezes nos beijávamos, e o povo olhava para a gente
como se fossemos ET’s. E o Paulo era muito carinhoso ele tinha muito disso de
ficar andando abraçado. De ficar fazendo carinho na mão e as pessoas na
mesa do lado ficavam olhando. Era engraçado porque se na mesa do lado
tivesse uma família com crianças eles saíam, eles trocavam de mesa como se
a gente tivesse fazendo sexo ali. Como se fosse atentado ao pudor (risos) a
gente só tava sentados juntos, de mãos dadas, não estávamos fazendo nada
mais que isso. Mas a sensação era como se nós estivéssemos muito errados.
(C.L.L.)
(...) já socialmente falando é meio complicado, o difícil é aceitar, é a
auto-aceitação pelo menos da minha parte. Mas que hoje dentro do meu meio,
do meu círculo já não sofro tanto preconceito, mas quando a gente abre para
as pessoas de fora é um choque, você vê na cara da pessoa. Aí tem gente que
guarda para si e tiram suas próprias conclusões e esses são os piores. E tem
aquelas poucas pessoas que te perguntam, mas e ai como que é, aí você
consegue mostrar para a pessoa como funciona, que realmente não é
perversão, que realmente é amor. (R.S.C.)
(...) o desprezo e o desdém com que as pessoas tratam quando a gente
fala sobre o poliamorismo. Acham que é piada, acham que é brincadeira,
nunca tratam com respeito. É o menosprezo, e isso é em geral, para a
sociedade ou você é um canalha “filho da puta” e não ama ninguém, ou você é
um playboy, um bonvivã e só quer curtir, porque você não ama. E a maioria
das pessoas acha que você é o malandrão e só quer seduzir muitas mulheres.
(A.P.M.)
Nos trechos destacados acima percebe-se que a sociedade apesar das
transformações vivenciadas ainda está atrelada a concepções formuladas em
um modelo de relacionamento monogâmico. Novas formações amorosas e
arranjos sexuais causam impacto na sociedade atual, nota-se um forte
movimento na contramão desses preconceitos, mas acredita-se que ainda têm-
se um longo período de tempo até a aceitação dessa nova forma de amar.
Para o indivíduo que se descobre poliamorista, o mais difícil é a auto-
aceitação, de acordo com modelos sociais históricos, amar mais de uma
84
1.3 Religião
1.5 Família
Pilar de sustentação para grande parte dos indivíduos, pode se dizer que
a família é o primeiro ambiente social que o ser humano vivencia. Acredita-se
que conceitos, valores, ética, moral e bons costumes são aprendizados
recebidos no seio familiar, no entanto nos discursos a seguir, nota-se que o
preconceito e a não-aceitação parte na maioria das vezes desse meio.
(...) às vezes a família não aceita de jeito nenhum. Então nós tentamos
conversar, quando existem filhos, complica um pouco mais, porque vamos ter
outras pessoas envolvidas, como avós, etc. Por exemplo, eu tive que sentar
com os filhos do André e explicar que não estava destruindo a família de
ninguém, que nós gostávamos um do outro igualmente por isso decidimos ficar
juntos. (...) mas o que vejo é que muitas famílias acabam se afastando. Então
esse processo precisa ser bem lento e gradativo, respeitando os limites do
outro. E às vezes ninguém aceita. É quando eles acabam abandonando o
convívio familiar. (C.L.L.)
(...) meus pais biológicos são muito católicos, e meu pai é militar, ele fala
pra mim - já aceitei o fato de você ser homossexual! – ué, aceitou? Valeu, mas
eu não pedi aceitação, só pedi respeito, ninguém precisa aceitar porque quem
vai dormir e acordar com a pessoa sou eu... - E agora tenho que lidar com o
fato de você ter dois homens!... Mas para minha mãe o medo dela é que a
gente já sofre preconceito por ser gay imagina você andando com dois homens
na rua, mas não fico me agarrando na rua, o meu relacionamento é para mim.
Mas eu brinco bastante com ela, eu digo mãe meus namorados são bem mais
altos que eu, são dois armários deste tamanho para me proteger... (R.S.C)
(...) tínhamos todo esse preconceito elevado à alta potência devido a
falta de conhecimento, e eu frequentava muitas saunas gays naquela época
isso era visto assim de uma forma criminosa, era uma vida dupla, uma coisa
87
horrível, verdadeira loucura e eu não sei até que ponto isso me influencia ou
não, nessas relações com homens e mulheres... e voltando a minha irmã ela
não consegue entender como ela é assim tão traumatizada e em mim não
provocou nenhum trauma, eu digo que vivo assim e sou feliz, e ela não
consegue entender, que eu estou em paz na vida, estou bem com você, estou
bem com a mamãe, estou bem com o papai apesar de tudo, mas isso é uma
coisa minha, tudo que aconteceu naquela época não influencia meu caráter,
não merece tanta atenção assim. (A.P.M.)
A não aceitação por vezes é pautada no medo do desconhecido,
diversas famílias após entenderem o posicionamento poliamorista, passam a
apoiar o adepto, facilitando a transição monogamia-poliamorismo.
No entanto não se pode deixar de mencionar que por diversas vezes
esses indivíduos acabam por se afastar do convívio familiar para ter a liberdade
de viver plenamente a sua escolha poliamorosa.
um dos dois... “Mas rola aquele ciúme normal de casal, algo bem mais sadio do
que o que era no começo eu acho que isso é amadurecer né, amadurecer
como poliamorista, amadurecer como pessoas dentro do relacionamento.”
(R.C.S.)
(...) para mim foi uma moleza tão grande, porque eu nunca tive ciúmes,
porque se a pessoa falar e se ela for com outro, para mim ta ótimo, vou ficar
muito feliz, até acho que devam colocar no dicionário A.P.M. como sinônimo de
compersivo, porque eu acredito ser a pessoa mais compersiva do mundo e é
natural. E é engraçado porque as pessoas dizem – então você não ama, mas
não é isso, muito pelo ao contrário, é porque eu amo que eu quero que a
pessoa seja muito feliz, porque se eu amo muito a pessoa e ela vai ter uma
relação com alguém que ela ama, eu sinto prazer, eu sinto tesão, se puder
participar ótimo, melhor ainda, mas se não puder participar fico feliz só por
assistir, mas também se não puder participar, nem assistir também fico feliz em
saber que aquela pessoa que eu amo, esta amando, que está transando, está
gozando e sendo feliz. (A.P.M.)
Compersão é um termo novo, utilizado para se referir as pessoas que
apresentam sentimento de alegria ou de felicidade ao ver seu parceiro amoroso
se relacionando com outra pessoa, portanto compersão é a superação do
ciúme. Esse sentimento é o ideal almejado pelos praticantes do poliamor, pois
somente vivenciaram esse novo modelo amoroso plenamente se conseguirem
administrar a questão do ciúme (VIDA POLIAMOR, 2017).
Se o ciúme ainda é sentimento presente na relação, os indivíduos
deveriam rever suas escolhas de forma consciente, pois segundo Anapol
(2013), “se você não tem certeza do que funcionaria para você, sugiro que
descubra antes de se envolver em um relacionamento poliamoroso, pois a
compatibilidade é o nome do jogo”.
(...) Sim, eu penso em constituir uma família, pois como todo casal
hétero ou homo eu tenho este desejo. Pois alguns já têm filhos, mas podemos
ter a oportunidade de adotar uma criança e sermos felizes como uma família.
Claro que fica difícil explicar a uma criança, sobre este tipo de relação. Mas
todo o amor e carinho que ela receberá e sempre falando abertamente e
livremente, podemos sim constituir família. (C.L.L.)
(...) na verdade essa legalidade do poliamor, ela é um pouco subjetiva
né. Eu acho que a gente tá longe disso, pelo menos aqui no Brasil. Eu acho
que seria bem interessante, garantiria vários direitos que são essenciais né,
nessa questão, mas eu acho que a gente está muito longe disso. A gente vai
tentar se blindar de outras formas ou até mesmo assim, uma das ideias de
acordos que a gente tem, é essa questão de seguros e previdências privadas
em nome de beneficiários pré-estabelecidos.(R.S.C.)
(...) eu aceito você ter um modelinho de família poliamorista em sua
cabeça, mas isso é uma furada porque o poliamor não é isso... O que menos
existe é um relacionamento familiar poliamorista, o que vemos muito por ai são
relações abertas ou fechadas, por exemplo, o trisal fechado, você tem um
modelo monogâmico, porque se aparecer alguém para um dos três lá fora,
estarão novamente vivendo aquele dilema monogâmico, de viver ou não a
outra relação, daí um vai estar traindo a relação. Quando acontecer a gente
senta e conversa, sentar e conversar? Isso não deveria acontecer, porque vai
que na conversa o trisal se entenda e decidam que o triângulo vai virar
quadrado, daí piorou porque o modelo monogâmico de família vai continuar e
daí serão quatro para resolver o dilema, para mim a ideia básica do poliamor
no Brasil ela foi usurpada um pouquinho. (A.P.M.)
Pela primeira vez na história humana, algumas pessoas de países
ocidentais começaram a escolher seus parentes, criando uma nova rede de
parentesco baseada na amizade, e não no sangue. Segundo Fisher (1995,
apud LINS, 2008, p.342), “as associações são compostas de amigos. Os
membros se falam regularmente e compartilham suas vitórias e dificuldades.
Quando um adoece, os outros cuidam dele. Essa rede de amigos é
considerada uma família, que poderá gerar novos termos de parentesco, novos
tipos de política de seguro, novos parágrafos nos planos de saúde, novos
acordos de aluguel, novos tipos de desenvolvimento de moradia e muitos
90
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANAPOL, D. Polyamory: The New Love without Limits. San Rafael, CA: IntiNet
Resource Center, 1997.
COSTA, J. F. Sem fraude, nem favor: estudos sobre o amor romântico. São
Paulo: Editora Rocco, 1998.
DAL PIVA, J. Rio registra primeira união estável realizada entre três
mulheres. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18/10/2015. Disponível em:
http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,rio-registra-primeira-uniao-
estavel-entre-3-mulheres,1781538. Acesso em: 24/10/2017.
(1975).
SIMMEL, G. The Sociology of Georg Simmel. New York, Free Press, 1950.
APÊNDICES
106
APÊNDICE A
Olá Grupo.
Aqui é Rosana Souza e Peterson Merlugo, somos alunos do último
semestre do curso de Psicologia do Unisalesiano – LINS. Participamos deste
grupo há alguns meses e temos um grande interesse acadêmico no conceito
poliamorista. Estamos em fase de conclusão de TCC - “É isso aí... reta final”- e
o tema escolhido foi POLIAMOR: O perfil dos praticantes e os desafios
enfrentados.
Diante das grandes transformações vivenciadas em nossa sociedade
Pós-moderna e as suas influências nos indivíduos, cabe aos acadêmicos e
profissionais da área de psicologia abrir espaço para um maior entendimento
referente às novas configurações de relacionamentos amorosos e arranjos
familiares. Assim eu e meu colega de curso optamos por inicialmente levantar
informações sobre os indivíduos que praticam o poliamorismo. Em seguida,
pretendemos através de entrevistas com alguns adeptos pré-selecionados,
analisar os aspectos psicológicos, afetivos e sexuais dos sujeitos praticantes
das relações poliamorosas. E finalizando, contando claro, com a ajuda de
vocês, procuraremos identificar as concepções dos praticantes a respeito
dessa nova forma de relacionamento e suas dificuldades.
Assim, segue algumas questões iniciais para um levantamento de
informações básicas sobre o perfil dos adeptos:
Qual sua profissão?
Qual a sua idade?
Raça/cor ?
Grau de escolaridade?
Religiosidade?
Onde mora?
Estado civil?
Qual sua orientação sexual?
Agradecendo a colaboração antecipadamente, estaremos à disposição
107
APÊNDICE B
Roteiro de entrevista
APÊNDICE C
ENTREVISTA 1
pelos meus avós e isso eu já tinha como o certo. Após isso fui trabalhar em
uma empresa de callcenter onde conheci o Everton um dos participantes de
meu primeiro relacionamento poliamorista e comecei a namorar, através dele
conheci seu amigo de infância Bruno, onde me apaixonei por Bruno e não
conseguia escolher ou decidir com quem ficar, e como não conseguia decidir
por um ou outro, pois por minha percepção do que era correto era escolher
entre um dos dois, decidi não ficar com nenhum dos dois. E isso acabava
comigo a imaginação de que eu estava apaixonado pelos dois, devido a minha
criação, quando eu me casei com 16 anos meus pais já tinham quase 90 anos,
e já foi difícil para eles eu me assumir em um relacionamento homossexual
imagina como poliamorista, isso nem para mim era possível, assim sofria
muito. Foi quando me separei de Everton, explicando que o amava mas que
também amava seu amigo, foi quando disse que se eu não pudesse ficar com
os dois que não ficaria com nenhum dos dois. 1 mês após o término os dois me
procuraram e por parte deles veio o convite para o início desta relação
poliamorista, inicialmente os dois não tinham nenhum relacionamento entre os
dois, somente eu namorava os dois, mas com o tempo eu quebrei este
paradigma e convenci que os três estávamos em um relacionamento, então
assim começamos nosso relacionamento poliamorista, que foi muito bacana e
durou quase 2 anos. Essa relação foi que abriu as portas para o poliamor para
mim, através desta confusão, acho que foi até isto tudo que fez me interessar
pela psicologia, eu comecei a pesquisar sobre o assunto e sobre o tema,
porque como falei até então para mim era tudo putaria. Na minha visão o que
me fez pensar na proposta e eu vou seguir foi, eu conheço muita gente que
está numa relação a duas pessoas só que estou com você aqui, e na esquina
eu tenho outro e daqui a cem metros eu tenho outro, e isso não é o certo. No
caso do poliamor tem mais de duas pessoas envolvidas, mas existe respeito,
companheirismo existe amor entre os três, para mim é esse entendimento de
poliamor, é amar as outras duas pessoas por igual e não conseguir escolher
entre um e outro.
2- Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser praticante de
relações poliamoristas?
R.S.C.- De acordo com minha religião não sofri tantos preconceitos e nem
112
relacionamento tem que lidar com essa questão de que são três pessoas, lidar
com uma única pessoa já é difícil, lidar com duas fica um pouquinho mais
difícil. O dia a dia de qualquer casal, os altos e baixos de qualquer
relacionamento, não é tão diferente assim do relacionamento comum, mas são
duas pessoas você tem que lidar, com duas pessoas diferentes entendeu, são
duas opiniões, duas visões de mundos diferentes né. Só que tem problemas
também, tudo tem seu bônus realmente se tratando sexualmente é incrível, não
tem nem do que se falar, quem já teve a oportunidade de fazer sexo a três
sabe o quanto é incrível, entre as pessoas tem aquele interesse, mas elas não
assumem, imposição da sociedade, eu tenho vários amigos que dizem eu acho
incrível seu relacionamento, mas eu não teria coragem, mas as pessoas se
privam e esquecem que a vida é uma só se eu for ficar pensando em todas
convenções que impuseram para mim que ninguém perguntou se eu queria,
me mostraram a vida é assim, mas quem disse, sabe onde está escrito? Eu
não sou contra nenhuma religião, mas é muito engraçado evangélicos tentam
entrar nesse meio, nesse mundo, eu tenho parentes que são evangélicos que
tentam me levar para igreja, e eu gente não pelo amor de Deus, não é, não to
com demônio, deixa lucifer lá quieto no canto dele, (risos) entendeu. Deixa tio
Luci lá, ele tá quietinho né, aí pronto quando eu falo tio luci, aí cai a casa.
(risos) minha relação é a três eu não convidei ele ainda (risos) a gente não
resolveu abrir para uma quarta pessoa (risos) meus pais biológicos são muito
católicos, e meu pai é militar, ele fala pra mim o seguinte: já aceitei o fato de
você ser homossexual! Aí eu: ué aceitou? Valeu, mas eu não pedi aceitação,
só pedi respeito, ninguém precisa aceitar quem vai dormir e acordar com a
pessoa sou eu. E ele continua: Agora tenho que lidar com o fato de você ter
dois homens! Eu falei primeiro eu tenho dois namorados se são homens ou não
não sei, se são tão assim, mas minha mãe o medo dela é que a gente já sofre
preconceito por ser gay imagina você andando com dois homens na rua, mas
não fico me agarrando na rua o meu relacionamento é para mim. Mas eu brinco
bastante com ela eu digo mãe meus namorados são bem mais altos que eu,
são dois armários deste tamanho para me proteger (risos) ando na rua com
dois seguranças. Se você soubesse da metade do que eu já vivi na minha vida
você iria querer mais dois do meu lado (risos). O principal desafio do poliamor
foi entrar em sintonia entendeu até um parar de sentir ciúmes do outro que isso
114
rola muito no começo “ah, você fala mais com ele do que comigo, ah você está
comigo, mas fica ligando para ele. Acho que é mais o entrosamento eu já
passei por isso nos meus dois relacionamentos, essa questão de divisão de
tempo, porque até então no começo eles não se relacionavam, hoje eles se
relacionam e nos dois casos foi assim eu entrei numa relação poliamosa onde
as duas outras pessoas não se relacionavam. Eu sou a sementinha do mal ou
do bem eu abri a mente deles para uma outra realidade. O principal no começo
do relacionamento poliamor é isso, é administrar tempo, o ciúmes com duas
pessoas que nunca tiveram um relacionamento assim na vida.
se dissipando, foi até porque eles tinham à visão de que uma hora eu iria
escolher um dos dois entendeu antes eles não se integravam tanto, mas hoje
eles são bem integrados entre si eu posso dizer que todos nós somos
apaixonados uns pelos outros. Mas claro que no inicio rola um “você esta
dando mais atenção para ele do que para mim”, esse tipo de coisa é tão besta,
e eles sabem que eu respeito muito os dois. Então eu to integrado com eles eu
sou apaixonado por eles e que tirando os dois eu não preciso de mais
ninguém, entendeu. Que os dois me completam neste ponto, então acho que é
isso vai passando com o tempo, foi extinguindo. Não que eles não tenham
ciúmes, eles tem muito ciúmes fora do relacionamento entendeu. Então às
vezes a gente vai sair ai tem outra pessoa diferente um dos dois acabam
sentindo ciúmes por outra pessoa que não tem nada a ver com o
relacionamento, mas rola aquele ciúme normal de casal, algo bem mais sadio
do que o que era no começo eu acho que isso é amadurecer né. Amadurecer
como poliamor amadurecer como pessoas dentro do relacionamento.
não chegarem a um consenso, nós não vamos sair, vêm comigo. Tranquei os
dois dentro do quarto, eu só vou me arrumar quando os dois chegarem ao
consenso de onde vamos á três, se não vamos á três, então não vamos a lugar
nenhum, ok. Sai do quarto e deixei eles lá, eles ficaram bem por uma hora e
meia debatendo, (risos) para onde iríamos sair. São duas personalidades
completamente distintas como havia dito antes, aí no fim a gente foi até uma
pracinha que tem aqui na zona leste, perto da onde eu moro, chamada praça
Silvio Romero, então lá a noite fica um monte de gente comendo hot dog, a
gente acabou por terminar o dia dos namorados lá comendo hot dogs, os três,
no meio termo, não teve o teatro naquele dia como estava programado pelo
Everton e nem fui ver a corrida de carro que tava programado pelo Bruno.
(risos). Ficamos comendo dog na Romero. E foi a partir dai que caiu a ficha,
realmente, não peraí, não dá para marcar um programa a dois mais, entendeu.
Ou vamos juntos os três ou não vamos, eu sou assim, se não vai um não vai
nenhum. Sou muito disso, e a partir dai eu não tive mais tanto problema de
ciúme. Ou era os três ou não era mais.
10- Qual a sua opinião (concepção) sobre a constituição legal de uma família
117
poliamorista?
R.S.C.- Na verdade essa legalidade do poliamor, ela é um pouco subjetiva né.
Eu acho que a gente tá longe disso, pelo menos aqui no Brasil né. Eu acho que
seria bem interessante, garantiria vários direitos que são essenciais né, nessa
questão, mas eu acho que a gente está muito longe disso. A ideia que eu tenho
foi quando nós entramos no acordo de um dia nós formarmos uma família, a
gente conversa muito sobre isso. É previdência privada, tipo já com
beneficiários pré-estabelecidos, a gente pensa muito uns nos outros só que a
gente tá tentando fazer de uma forma que nós não precisaremos da lei do
nosso país que é falha. Teoricamente um país laico, mas bem teoricamente né,
é muito teórico isso. Então o que rege o nosso pais ainda é a religião então tá
muito longe, a gente tá muito longe de seguir esses vários exemplos mundiais
que tá cada vez crescendo mais, nós tivemos ai casamentos aqui do lado,
países vizinhos, na argentina aqui do lado e aqui ainda muito arcaico. Eu
acredito que a nossa visão como trisal né a visão de relacionamento vai além
desta questão. A gente vai tentar se blindar de outras formas ou até mesmo
assim, uma das ideias de acordos que a gente tem, é essa questão de seguros
e previdências privadas em nome de beneficiários pré-estabelecidos e a outra
seria é que tenho filho e um dos meus namorados também tem um filho né,
então seria realmente tudo que a gente tem estar no nome das crianças. Então
esse é outro contexto querendo ou não as crianças vão crescer com todos, vão
amar todos, e ai fica só entre a gente mesmo. Eu particularmente não quero
contar com a lei do nosso País.
disso, então eu acho que a fidelidade para com os dois ela fica bem mais forte,
entendeu. Eu acho que essa é a única diferença mais gritante, porque não me
falta nada.
119
ENTREVISTA 2
eles batalhavam juntos e tal e tudo isso estava sendo destruído. E eu percebi,
eu conversava muito com um, conversava com outro e chegou ao ponto que
falei assim: rapaz vocês estão chegando no fundo do poço, vão acabar com a
relação de vocês por causa de alguém que não vale a pena até que chegou um
dia que eles chegaram para mim e falaram: a gente precisa ir embora daqui,
vamos atrás de um porto seguro e quando a gente tiver instalado, entramos em
contato com você. Tá certo então, o que me importa é que vocês sejam felizes,
e eles foram, sumiram por um tempo. Um bom tempo depois eu fiquei sabendo
que eles voltaram, e que se instalaram aqui em Monte Mor, cidadezinha perto
de Hortolândia porque a família do André tinha muito parente nessa região. Aí
um dia eu estava em casa toca o telefone é a voz do André. Ele estava com
uma voz horrível e me falou o seguinte: Olha você reclamou que a gente nunca
mais foi na sua casa, será que você poderia vir falar com a gente, estamos
precisando de você. Na hora eu senti um clima meio pesado.
Eu estava ferrado cara. Desempregado, sem dinheiro quase passando fome o
carro sem uma gota de combustível fiquei pensando como que eu vou até lá.
Cheguei lá para conversar com eles e era aquela nuvem pesada e aquele vício,
porque é claro que se torna um vício, e é uma coisa que não se muda muito dá
noite pro dia. Então eles contaram que conheceram um rapaz que é
empresário em São Paulo, e qual era o tesão do cara: era destruir o casal,
esse era o prazer dele. Então ele vinha com essa história de poliamor, muito
viajado também entendido sobre o assunto, e com todo esse conhecimento ele
envolvia as pessoas, ele percebia pontos positivos e negativos nos outros,
pegava os pontos fracos e fortalecia os sinais negativos da relação.
E quando ele começava a se envolver mais profundamente com um, ele dava
um jeito de prejudicar o outro então quando eu os encontrei novamente
estavam os dois em cacos.
O P... é uma pessoa mais sensível, eu falei vou deixar o P... desabafar,
coloquei ele no colo deixei que falasse e depois falei: meu ele é seu parceiro de
18 anos, vocês têm um relacionamento incrível, vocês não podem deixar isso
acabar assim então ele chorou, chorou muito naquela noite.
O A... eu levei para o outro quarto, porque o A... é um cara assim mais
machista e daí, já viu o pau quebrou. Porque o cara é durão cheio de querer
ser o dono da razão tipo assim o macho alfa da relação. Daí o negócio ficou
123
cerâmica de cabeça para baixo e confirmaram que realmente era uma nova
técnica. O Paulo era muito inteligente, uma pessoa fantástica mesmo.
E a coisa aconteceu e foi sendo construída. Foram os melhores anos da minha
vida. O Paulo sempre viajava muito, tinha o costume de levar as pessoas que
estava se relacionando nessas viagens pelo mundo todo, Europa, Grécia, Egito
e ele ficava triste porque dizia que agora que ele tinha encontrado as pessoas
certas ele não tinha mais condições financeiras para nos levar juntos. E ele já
não estava numa situação financeira tão boa. Ele se sentia culpado por não
poder fazer aquilo por mim, por nós. Mas em contrapartida tudo o que ele fazia!
Ele tinha uma chácara aqui perto de São Paulo e a gente só se encontrava nos
finais de semana porque eu trabalhava. Então a cada 15 dias ele organizava
um jantar temático. Ele nos convidava para essa chácara e fazia aquele jantar
temático, ele fazia decoração, ele fazia a comida, a bebida típica do país. Ele
servia a gente vestido daquele jeito. Ele apresentava a cultura dos outros
países através desses encontros, desses jantares. E para mim aquilo era o
máximo! Eu nunca tinha saído do Brasil, então era tudo fantástico. Aqui no
Brasil a gente viajava sempre, a gente conversava, a gente discutia quando
precisava, a gente curtia junto. A família do A... respeitava muito a minha
presença e os sobrinhos dele me chamavam de tio. Pessoal era uma coisa
maravilhosa, foi uma coisa que valeu a pena.
Entrevistadores - Dentro de uma relação poliamorista quais são os principais
desafios enfrentados?
C.L.L. - Uma coisa na verdade que atrapalhava um pouco era a questão do
ciúme. Eu costumava dizer que não tinha instalado um taxímetro para medir a
quantia de carinho que fazia em um ou no outro. O A... ele achava que eu agia
diferente com ele, não entendia que estávamos juntos, éramos um trio, como
poderia dar mais carinho para um do que para o outro. Eu sou uma pessoa
muito amorosa, muito carinhosa e tentava sempre estar presente,
demonstrando carinho. Se eu ficasse meia hora a mais conversando com o
P..., A... achava que eu estava dando mais atenção para ele. O P... era uma
pessoa mais sensível, às vezes precisava de um pouco mais de atenção.
Então o ciúme atrapalhava um pouco, mas de resto foi uma experiência
maravilhosa.
Se estivermos em um relacionamento com mais de duas pessoas a atenção
126
precisa ser dividida igualmente. Quando o P... tinha vernissages ele viajava e
nós íamos juntos nas exposições nas galerias. E era tudo muito enriquecedor.
Olha, eu realmente não tenho nada para reclamar do tempo em que estivemos
juntos, foi uma época maravilhosa.
As pessoas de fora não entendem, existe muito preconceito na sociedade, e
isso é outro desafio. Uma vez foi muito engraçado (risos). Nós fomos viajar,
tinha um vernissage em Foz do Iguaçu. E chegando no hotel nós pedimos um
quarto de casal. E falamos que era para colocar uma cama a mais no quarto. E
as pessoas não entenderam, o rapaz da recepção ficou olhando para minha
cara.
- Mas vocês vão ficar todos juntos?
- Sim vamos! E qual o problema?
- Não nenhum eu só acho que o quarto não vai caber tudo isso de cama. (risos)
- não tem problema meu querido, pode deixar as camas juntas, encostadas
mesmo (risos).
Então era muito isso, existia muito essa coisa de preconceito que era um
grande desafio, mas também isso era em 1997, 1998.
Entrevistadores - Era uma época onde a sociedade tinha muita dificuldade para
aceitação de orientação sexual. Você ser homossexual era uma barra, imagine
o poliamor. Porque eu também vivi essa época.
C.L.L.- Então gente imagina era muito difícil. Muito preconceito, no primeiro
momento é assim, quem já teve a experiência sabe como lidar com as
dificuldades, que o outro tem. O grande problema é que a pessoa ou ela pensa
como casal ou ela pensa no individual, porque a experiência poliamorosa
verdadeira tem pouco.
Depois que ela se toca, percebe que não tem como ser assim porque ali tem
mais de duas pessoas. É difícil as pessoas entenderem e tudo isso são coisas
para se trabalhar
Não existem pessoas iguais, o Peterson não é igual a você Rosana. Eu não
sou igual ao Peterson. Se vamos ter um relacionamento é preciso entender
que cada um tem uma política diferente, cada um trabalha ou funciona de uma
maneira diferente. E entender isso é sinal de comprometimento. Você se
compromete a amar aquilo que o outro tem de diferente. Essa história vai
complementar. Vai expandir esse amor, vai expandir ao encontro do
127
companheiro ou companheiros.
O casal tem aquela mania, pode estar enfrentando uma crise no
relacionamento e decidem sair para procurar uma terceira pessoa. Tem que
tomar esse cuidado, porque o outro não pode ser visto como salvador do seu
relacionamento. Ela, a terceira pessoa está chegando para agregar, e não para
salvar o que já estava ruim.
Existe outra dificuldade também, é que às vezes um deles está preparado para
abrir o relacionamento, enquanto o outro não. Então quando eles decidem
procurar por uma terceira pessoa, é muito comum acontecer que essa pessoa
pode agradar apenas um, mas o outro não consegue ser agradado. Então fica
difícil porque se você pergunta para o casal o que eles realmente procuram
cada um fala uma coisa, interesses diferentes. O que indico é: pessoal vamos
conversar primeiro, vamos nos entender, porque não é só cama. Porque o que
vocês querem é muito diferente, as ideias de vocês não batem porque cada um
está procurando por uma coisa, vocês precisam entender que abrir o
relacionamento é agregar valores.
Aqueles que fingem ser um poliamorista, eles vão ter um belo discurso, mas na
verdade o que eles querem é um desfile eles estão mais preocupados com o
físico. Se vamos abrir a relação, queremos uma mulher muito bonita, ou se for
o caso, podemos procurar um rapaz também, que seja forte e musculoso como
se fosse uma mercadoria. Então eles colocam os anúncios na internet, tipo
assim: Estamos procurando homens de tantos a tantos anos,
moreno/loiro/negro, alto/baixo. Eles vão escolher fisicamente o que interessa,
para as mulheres é a mesma coisa. Mulheres, normalmente com idade entre
18 a 35 anos, estudante, malhada, tipo mulher de academia. Como se você
estivesse exposto, como se fosse um pedaço de carne para ser escolhido.
Gente eu já tive uma situação assim conversando com um casal estava tudo
indo muito bem. Eles eram interessantes, eles estavam me achando
interessante, quando eles perguntaram a minha idade e eu falei 43 anos eles
responderam que não daria certo, porque o que eles estavam procurando era
por pessoas com até 40 anos (risos) onde já se viu. Então não aconteceu nada,
eles não quiseram me conhecer pessoalmente porque eu já tinha passado do
prazo de validade (risos).
E daí eu falei para eles: - gente vocês ainda não entenderam o que é o
128
poliamor. O que vocês têm ou que vocês estão querendo é sexo grupal. Isso
não é poliamor! O que vocês procuram não é poliamor. Daí o cara ficou bravo
comigo. Ah, mas eu também tô nem aí! (risos).
Onde já se viu, se você está preocupado com o físico da pessoa você não tá
interessado em um amor você só está querendo sexo.
Mas em compensação tem pessoas diferentes às vezes eu converso e as
pessoas agradecem até,
- Poxa cara isso é muito legal!
- Nossa cara suas dicas e o relato de suas vivências foram muito legais para
gente. Ajudaram muito.
Isso é importante quando a pessoa se abre tem que partir dela à vontade. É ela
que vai dar o passo não adianta ninguém querer forçar, é uma experiência e
pode não servir para todos. Pode não servir para ela. Mas ela tem que tentar
entender o que é o programa para saber exatamente o que ela procura
Entrevistadores - Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser
praticante de relações poliamoristas?
C.L.L.- 90% confundem com putaria, amor livre ou sexo a três. O sexo a três é
aceito de boa, mas poliamor não. E explico pela origem da palavra Poli
(múltiplos) Amor (sentimento maravilhoso), capacidade de amar mais de uma
pessoa. Além de dizerem que é muito difícil uma pessoa, imagina mais de uma,
ai eu explico como funciona.
A minha família é assim. Eu tenho dois irmãos e é uma família muito
tradicionalista. Uma família nordestina. O meu pai era daqueles bem
machistas. Mas quando ele veio para São Paulo ele viu que a situação não era
do jeito que ele acreditava. Em toda a minha família só tem eu mais dois
primos homossexuais. Um se assumiu gay na adolescência e a outra é Maria
João, que se assumiu desde o inicio, mas ela se afastou da família e hoje é
bem na dela, não se envolve.
Comigo e minha família foi uma coisa meio difícil porque eu não falei para eles
na hora. Comecei minha vida sexual hétero e monogâmica, me relacionei com
uma mulher por algum tempo. Quando me assumi, me afastei da minha família.
Eu tinha um primo era um pouco mais novo do que eu. E ele se descobriu
homossexual só que ele achava que era o único da família homossexual. E ele
achava que era uma vergonha para nossa família, passou por uma situação
129
que ele queria se assumir, mas tinha muito medo, acho que naquela época se
eu não tivesse ajudado ele poderia até ter cometido o suicídio. E como para
família eu era sempre o porta-voz e tentava ajudar todo mundo, apaziguar
brigas eu ajudava resolver tudo eu me senti meio que obrigado ajudá-lo. Eu
precisava ajudá-lo.
Homem não podia nem se tocar, se abraçar que já era viadagem, na minha
família é assim. Então eu comecei a ler muito eu comecei a ler livros em uma
biblioteca próxima daqui de casa. Tive acesso a diversos livros que falam sobre
o assunto, sobre a homossexualidade. Esses livros modernos me deram essa
arte de entender e a capacidade de ajudar aos outros que enfrentavam os
mesmos problemas. Há muitas possibilidades de conhecer o assunto, basta ter
a vontade.
E aí foi quando eu conheci minha primeira pessoa. Eu era meio burro meio
terra de ninguém. Decidi estudar para poder ajudar. Foi aí que eu fui falar com
meu primo que eu era homossexual. É claro que ele não acreditou. Por mais
que eu falasse ele achava que eu estava zoando com a cara dele.
Levei ele para um barzinho. E daí era uma boate gay, um barzinho gay e eu
queria que ele percebesse a situação.
Por que naquela época se a gente queria conversar, ou até namorar precisava
ser escondido. Lugar afastado para poder conversar, para poder namorar bem
discreto passando na frente ninguém percebe. Então eu falei para ele vamos lá
você conhece o pessoal, conversamos e ele achou que eu tinha combinado
com os meus amigos. Porque até então ele me conhecia como homem casado
já tinha tido um filho, aliás esqueci de falar eu tenho um filho que só vi quando
bebê. Está desaparecido faz mais de 25 anos. Então gente é muita história,
vocês precisariam passar o dia comigo para saber pelo menos a metade. Era
esse o meu passado que ele conhecia, então ele achou que eu tava de
sacanagem com ele.
- Ah, você combinou com seus amigos, você tá querendo me enganar. Aí eu
fui obrigado a apelar (risos).
Fui obrigado levar ele para um hotel, joguei-o na cama, tasquei um baita beijo
na boca. Aí ele viu. Perguntei assim: - Um homem hetero, faria isso só para
brincar com você? Aí depois disso ele percebeu que eu falava a verdade.
Parou de achar que eu estava mentindo. Pensa a cara dele (risos),- cara você
130
é bixa mesmo! Depois disso ele parou com essa palhaçada, parou com essa
frescura.
A minha família mesmo só foi descobrir a minha sexualidade 10 anos depois,
até então eu levava uma vida paralela que estava dando certo. E eles só
descobriram porque eu tenho uma irmã que ...olha é ... Bem foi assim, na
verdade ela engravidou e o namorado falou que o filho não era dele, e foi
aquele bafafá na família, aquela confusão virou um escândalo. Ela tinha se
separado e ficou grávida, nessa mesma época descobriu que o marido tinha
um caso, ia ser mãe solteira, a família fez muita pressão para que ela voltasse.
Ela voltou para o meu cunhado. O casamento não dava certo, muita confusão,
mas não podia ser mãe solteira meu pai não aceitava. Então ela virou a
manchete da família. Todo mundo falava dela, por isso ela precisava mudar o
foco. Era a única que sabia que eu era gay, então ela jogou a bomba, ela falou
para toda família o que eu era na verdade. Tipo assim para tirar o foco só que
ela não falou só para a família ela falou na minha casa, ela falou em toda a
família, ela falou para os meus amigos.
Tive que chegar na minha casa olhar para minha mãe e falar - eu sou gay.
No começo foi assim, se o meu pai me encontrasse na rua ele mudava de
calçada. Alguns amigos daquele tempo quando estão em algum evento, logo
eles dão um jeitinho de ir embora. Porque homem de verdade não pode ficar
no lugar onde existem gay, mas as pessoas boas de verdade ficaram. Agora
imaginem se foi difícil assim o homossexualismo, como vocês acham que eles
iriam receber o poliamor? Por isso o afastamento. Levo minha vida bastante
distante da minha família.
Entrevistadores - Considerando que você é poliamorista, quais são as
principais características de um sujeito que vive uma relação poliamorista?
C.L.L.- Primeiro ter em mente a capacidade de amar, sinceridade e
transparência, independente do que seja e viver a relação da melhor maneira
possível.
Em relação a isso, eu trabalhava numa empresa, era analista de rede,
trabalhava direto e mesmo assim, no final de semana eu dava um jeitinho de
pegar o carro e sair correndo para ir até o interior, ficar com eles e voltava.
E nós ficamos assim por muito tempo, mas eu percebi o sofrimento deles.
Quando você ama, você quer ver o outro feliz é claro que para eles longe da
131
cidade sozinhos na chácara era mais difícil, aqui eu tinha meus amigos, mas
eles não tinham isso então para eles era mais difícil. Eu podia sair e aprontar,
daí começou algumas traições. Conheci algumas pessoas. Pessoas que
vieram até mim sem que eu fosse procurar (risos), porque eu trabalhava direto
e não tinha tempo para isso. Pessoas que vieram na minha mão, assim as
coisas foram acontecendo. Eu trabalhava com mais de 400 pessoas. Quando
eu percebi que eu estava fazendo isso foi muito doloroso, eu não queria
prejudica-los. Eu não queria que eles sofressem. Foi doloroso principalmente
com o A... foi muito difícil. Aquela coisa toda de fim de relacionamento. Os
parentes próximos do A... me acusaram de várias coisas, no fundo eu sai como
errado, e acabamos nos afastando em compensação os familiares do Paulo me
amam até hoje. Às vezes eu vou lá, para revê-los.
Só tem uma parte da família lá em Monte Mor que não conversam comigo,
acham que fui eu que desliguei os meninos, onde já se viu, eles eram anos
mais velho que eu.
Eles achavam que eu estava traindo eles, mas a verdade não foi só eu, eles
também arrumaram outras pessoas. E isso me provou que mesmo uma relação
poliamorista precisa de cuidado.
Então porque essa relação mudou muito minha vida, porque me fez acreditar
que é possível amar mais de uma pessoa. Porque eu não acreditava nisso,
nessa possibilidade.
C.L.L. - Cara incrível olha agora vou te dizer uma coisa, eu tive uma avó que
era muito à frente do seu tempo. E ela era incrível o povo achava ela demais
porque ela falava umas coisas que as próprias filhas dela não entendiam o real
sentido do que ela falava. E daí ela falava as coisas e eu ficava pensando: meu
da onde que ela tirou isso?
Uma pessoa sempre independente sempre quis morar sozinha, mal sabia ler. E
a minha avó sempre me deu muito apoio. A família dizia que nós tínhamos uma
mente muito aberta.
A velhinha dava de 10 a 0 na gente. A velhinha aprontava e fumava viu, fumou
desde os 14 anos até morrer, só não quis outro marido, porque ela falava que
não queria mais sofrer na mão de homem. Mas a velha era danada, saia
passeando. Então ela sempre tinha umas frases assim, ela tinha sempre essa
sagacidade de perceber as coisas antes e ela dizia assim. Que o amor é como
132
a água que corre, por que a água mesmo correndo entre as pedras ela vai
achar um caminho e vai passar por ali e o amor é a mesma coisa. Pode
acontecer de diversas formas. E ele vai achar o caminho. E quando ela passa
pelas pedras ela se torna límpida o amor é assim quando passa por
dificuldades e sobrevive ele sai límpido.
E o amor é assim, como a água que corre entre as pedras. E a minha vó falava
isso. Pensa essa mulher lá no sertão no Nordeste ter o pensamento dela.
E olha só para você ver a história que ela contava ela casou com 14 anos e na
noite de núpcias após o casamento a amante do meu avô chegou com um filho
de 8 anos entregou para o meu avô.
O meu avô era português eu tenho descendência de portugueses, holandeses
e caboclos. E a minha avó contava que na noite de núpcias chegou uma moça
na sua porta, ela dizia que era uma moça muito bonita, uma moça negra,
carregando uma criança uma criança pequena e falou que era filho do meu
avô. Entregou para minha avó cuidar. E ela aceitou, levou essa criança. E
cuidou como se fosse filho dela,ela tinha 14 e o menino 8 anos. E ai de quem
falasse que o filho não era dela.
E isso é porque ela tava lá no nordeste com todo preconceito daquele povo e
ela enfrentou. Além de adotar o filho da amante a minha avó era descendente
de holandeses e era uma criança negra, foi muita dificuldade. E ela enfrentou
toda dificuldade para cuidar daquela criança. E era o filho mais velho. Ela era
uma pessoa de cabeça muito aberta. Comparando com meu pai ela tinha uma
mente muito aberta. E o meu pai é um falso moralista. A maioria da família do
meu pai é assim.
Homossexualidade e poliamor não pode, mas todos eles eram casados e
tinham mulheres fora de casa, várias mulheres, meu avô mesmo teve muitas
amantes durante o casamento. Meu pai também. Agora quando falava para ele
sobre o poliamorismo, era muito preconceito. Só que ele fez isso a vida inteira
escondido, porque traindo pode. Então acredito que precisam ter essas
características, como a da minha avó, uma mente aberta, pronta para aprender
coisas novas e livre de preconceito.
Entrevistadores - As pessoas na rua como viam essa relação?
C.L.L. - Então gente, tem algumas situações diferentes. A gente saia para
passear e quando estávamos na estrada fazíamos “traquinagens” a gente
133
ficava de mãos dadas, as vezes nos beijávamos, e o povo olhava para a gente
como se fossemos ET’s. E o P... era muito carinhoso ele tinha muito disso de
ficar andando abraçado, de ficar fazendo carinho na mão e as pessoas na
mesa do lado ficavam olhando.
E era engraçado porque se na mesa do lado tivesse uma família com crianças
eles saíam eles trocavam de mesa como se a gente tivesse fazendo sexo ali.
Como se fosse atentado ao pudor (risos) a gente só tava sentado junto, de
mãos dadas, não estávamos fazendo nada mais que isso. Mas a sensação era
como se nós estivéssemos muito errados. Porque as pessoas que passavam
pela gente realmente era como se tivéssemos cometido atentado ao pudor por
causa das crianças.
Então vocês imaginam as relações o quanto era difícil então assim a gente
precisava se comportar ao máximo na rua, mas dentro de casa éramos uma
família normal. Queríamos uma família comum, fazendo coisas como cuidar da
casa, fazíamos comida e recebíamos os amigos.
Entrevistadores – Fale um pouco sobre o preconceito hoje.
C.L.L. – Acho que está mesma coisa, (risos) vocês sabem que essa geração
que está vindo agora é muito imatura. Eles tiveram muito acesso à faculdade
muito acesso à internet, mas são muito inseguros. O smartphone aproxima.
Então quando você fala com uma pessoa mais jovem, mas você fala de uma
maneira mais emocional, ele já se assusta. E daí quando você fala na internet
com o mais jovem, você fala sobre poliamor, ele já pensa em “polisexo”, já
manda foto nua. Não é nada disso eles não conseguem entender. É amor a
três, a quatro, a cinco. Eu sou poliamorista, mas o pessoal mais jovem não
entende.
Em relação ao preconceito o que me parece é que não mudou quase nada. Às
vezes você encontra palestras onde o tema é discutido com mais seriedade.
Mas o senso comum ainda continua. Como promiscuidade. Mas existem
pessoas sérias, que conheceram o poliamor que gostaram e que levaram isso
para sua vida. O grande problema é que a maioria da população poliamorista
se mantém na clandestinidade. Eles não colocam a cara a tapa, não se
assumem, não se reconhecem, não confirmam.
Entrevistadores - Diante dessas histórias percebemos algumas características
do sujeito, alguns mais ligados no desejo sexual e outros procurando mais o
134
lado afetivo. Então procurando saber mais sobre o assunto notamos que um
dos principais problemas dos poliamoristas é a questão de saber trabalhar com
o ciúme. Então eu queria saber como você trabalha essa questão de ciúme
durante um relacionamento poliamorista.
C.L.L.- O que se percebe é que o ciúme é uma coisa que atrapalha muito nas
relações poliamoristas. Então assim nessa primeira relação o A... era muito
ciumento, era o macho alfa e muito ciumento. Durante o tempo que estivemos
juntos eu fui trabalhando isso com ele que não existia motivo para ciúmes,
então as vezes ele sentia ciúmes entre nós três, sentir ciúmes de quem está de
fora eu até entendo, mas entre nós já era demais. Ciúmes para mim é uma
doença, é uma coisa destrutiva. Então eu fui trabalhando com eles: A gente tá
numa boa, tá muito legal, estamos curtindo, mas aí aparece o ciúme e você
perde todo aquele momento que era para gente tá curtindo, e não a gente tá
aqui brigando por causa de ciúmes. A finalidade de estarmos juntos é para
estar todo mundo curtindo e se amando. Para mim tem que ser assim todo
mundo se amando, eu, você, nossos amigos, nossa família, nossos
cachorrinhos (risos) isso é amor. Não é porque eu estou abraçando o outro que
eu vou ter alguma coisa além de uma amizade eu converso com todo mundo
eu sou uma pessoa que faço amizade facilmente. Eu falo com as pessoas da
rua eu converso com todos os meus vizinhos. Mas o A... não gostava muito
disso.
Quando tem um casal envolvido, isso já é um agravante porque existe um
casal formado, e daí eles abrem isso, abrem essa relação para uma outra
pessoa, para um terceiro e daí gera uma situação difícil. Porque existe uma
cumplicidade. Esse casal já tinha um relacionamento. Então a terceira pessoa
pode se sentir excluído. Por que o casal se une e a mantém a terceira pessoa
de fora. Aí você tem que ir se revezando. Eu deixei sempre claro, não tem
espaço para ciúmes nessa relação. Se continuar assim, vai ficar complicado e
vamos terminar tudo. Se eu tiver que trair vocês eu vou ser o primeiro a chegar
e falar e foi assim que eu fiz.
E sempre deixei bem claro, se continuar assim eu vou cair fora. Se você não
está satisfeito com a situação, você também tem o direito de sair ou você
confia em mim ou não confia. A situação é essa você não precisa perguntar
para o mundo sobre a relação que está vivendo. Quem está junto de você sou
135
eu. Dormimos na mesma cama, não é mais fácil virar para o lado e falar o que
está sentindo, mais não, ai vem a desculpa eu fui perguntar para ele porque eu
não quis magoar você. Onde já se viu mandar recado por mala direta! Quem
está do seu lado, quem dorme com você na cama não é mais fácil virar e falar
logo. Esses conflitos eram comuns no inicio de nosso relacionamento. Mas
procurei sempre deixar esse ponto esclarecido, eu preciso conquistar os dois,
se não for para os dois não existe sentido esse tipo de relacionamento.
E a vivência do poliamor tem essa questão. Principalmente quando existe o
casal principal e o terceiro. Os adeptos precisam entender que é um novo
relacionamento a partir do momento que entra essa terceira pessoa, isso se
torna um novo relacionamento não é um relacionamento melhorado, é um
novo.
Gente a terceira pessoa não é um agregado. Ah, existe outra preocupação,
quando apenas se agrega uma terceira pessoa, existe sempre a possibilidade
de uma separação. O casal tem uma vida juntos eles têm algo a separar. É
comum não se ter uma estrutura montada para três e essa terceira pessoa vai
estar sozinha. Quem entrou sozinho vai continuar sozinho, porque já existe um
casal. Essa pessoa que entrou, essa pessoa é o quê na relação? É uma
“apêndice”.
No meu caso, ficamos numa situação parecida porque para a família toda o
casal era o P... e o A... e eu era o apêndice.
Entrevistadores - Então, resuma para nós, o que é ciúmes para você?
C.L.L.- Sinceramente para mim é um sentimento que acaba estragando
qualquer tipo de relacionamento, pois a pessoa ciumenta, ela é possessiva,
não confia em si própria e no parceiro e geralmente destrói. Pois o tempo que
se perde com este sentimento, imaginando coisas, eu estou amando e vivendo.
Já sofri muito com ciúmes de parceiros e parceiras e já deixo claro. Não quero
este sentimento mais na minha vida.
Entrevistadores - É possível uma relação poliamorista sem ciúmes? Se a
resposta for sim, como isso é possível?
C.L.L.- Sim, porque em vez do ciúmes, tem que existir a confiança. Tudo na
base da confiança, mas quando ela se quebra é de uma vez.
Entrevistadores - Existe uma coisa que percebemos, pesquisando sobre o
tema que o ponto “constituição familiar” é encarado de maneira bastante
136
juventude ainda e ele está morando no Rio agora. E ele vive um amor assim
ensandecido por um Argelino. E esse Argelino fica um tempo na Argélia e o
outro tempo aqui no Brasil. Mas é um amor meio estranho, porque o argelino
também não é flor que se cheire, é um relacionamento meio bandido.
E daí eu fui para o Rio fiquei um tempo lá. Acabou que a gente se envolveu.
Estava rolando uma coisa legal entre a gente mas ele é louco pelo argelino. E o
argelino tem uma coisa de ciúmes, na verdade acho que não é nem ciúmes
acho que é mais possessão. E ele não gosta do meu relacionamento com esse
meu antigo amigo. Então ele se sentia muito culpado por estar comigo e
manter essa relação com o Argelino, porque na cabeça dele, não conseguia
entender o que era isso de poliamor. Eu tive que explicar para ele exatamente,
para que ele viesse a entender como que é viver um relacionamento assim. Ele
não entendia que mesmo amando o Argelino ele estava começando a ter um
sentimento muito grande por mim.
Dias atrás, ele levou um tiro em um assalto lá no Rio, ficando hospitalizado.
Precisou ficar de repouso em casa e eu fui para lá para cuidar dele. Ficamos
ainda mais juntos. Mas o argelino quer que ele vá morar na Argélia. Ele tem
outros relacionamentos lá, porque para ele a poligamia é livre ele tem outras
mulheres e outros homens também, mas ele quer que esse meu amigo fique
morando por lá. Porque lá na Argélia é legalizada a poligamia. Ele tem se não
me engano quatro mulheres lá. E o E... quer que eu vá junto, morar lá também.
Na verdade ele quer que eu e o E... vá para a Argélia, mas ele não gosta que
eu e o Eduardo tenhamos um relacionamento. Ele quer a mim e ao E..., mas
tem ciúmes dessa relação mais afetiva que eu mantenho com o E... ele
manipula dessa forma.
Só que assim, a confiança para mim é tudo. Ele é uma pessoa manipuladora,
ele manipula o E..., que sofre muito com essa situação. E aí ele diz que quer
acabar com a relação, e o E... se desespera aqui. Resumindo mandou uma
passagem e o E... vai para lá ainda esse ano.
É uma relação muito complicada e eu não estou a fim de encarar isso. Gosto
muito do E..., e sempre corro para lá quando ele está precisando de mim. Teve
uma época que eles brigaram por minha causa. Eu e E... estávamos muito
próximos e ele ficou sem falar com o E..., meu amigo ficou muito mal me ligou
e eu fui para lá conversei e expliquei. Fiz de tudo e eles acabaram voltando a
140
conversar.
E é isso que ele quer, e o E... está caindo na conversa dele ele vai para lá vai
morar numa casa, vai ser o amante dele. Ele vai continuar com as outras
quatro mulheres ou sei lá quantas são, e o E... vai continuar sendo o amante e
ele manipulando todo mundo.
O único problema é que eu já expliquei para o E... homossexualidade, me
parece que, na Argélia é crime. Eu não sei como ele pretende resolver isso. Sei
lá para mim é uma relação que tem data marcada para terminar. Mas já falei
tudo isso para ele.
Então é esse meu poliamor do momento que “entre aspas” tem data marcada
para terminar. Porque ele não aceita que eu me relaciono da forma que é com
o E... Eu e E... nos damos muito bem, somos amigos de verdade e ele é
manipulador. Eu me relaciono sexualmente com ele, mas não é o mesmo
sentimento que sinto por E... E ele não gosta da nossa relação ele quer a mim
e ao E... mas não quer que nós estejamos juntos. E o cara é bipolar. Meu
amigo entra numa tristeza profunda quando ele se afasta. E eu decidi que é
melhor abrir mão do amor dele para que ele fique com o Argelino.
Daí no final do ano, dezembro ou começo de Janeiro sei lá, eles vão para lá. Ai
eles vão decidir a vida deles. Só sei que o Argelino não quer morar aqui, ele
não quer morar no Brasil.
Só que o Eduardo está percebendo que eu estou cada vez mais distante e eu
estou fazendo isso de propósito. Já faz dois meses e alguns dias que a gente
não se vê.
Entrevistadores - Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está
estruturado?
C.L.L. - Três homens solteiros, que não moram na mesma casa, mas que
quando a possibilidade de na casa de um estarem os três é fantástico, mas
caso estejam somente dois não há problema algum. Pois tudo já é acertado
desde o início. Sem medos e só verdades.
Entrevistadores - quais as principais características que você pode definir em
diferenças entre os relacionamentos monogâmicos e poliamoristas?
C.L.L.- Na maioria dos relacionamentos monogâmicos existe a traição, na
poliamorista não, porque tudo é decidido conversado e claro, entre todos os
envolvidos. Pode haver traição, pode, mas isso mostra que a pessoa não é
141
ENTREVISTA 3
arrumadinha, com ótimos salários, boa posição. Eu sou supervisor aqui, mas
consigo com meus ganhos manter uma vida dentro de certos confortos, mas o
custo de vida aqui em Hong Kong é muito alto, mas voltando, nos chamamos
esses encontros de “Clube do Bolinha” eu sou supervisor de vendas, assim,
coordeno as agencias aqui na Ásia, e faço parte desse grupo e nesse grupo
que também tem um pessoal do Brasil, dirigentes de grandes empresas, como
o Santander por exemplo, mas enfim eu estava apenas definindo o perfil desse
pessoal, mas também tem pessoas super retrogradas, e a gente se encontra e
almoçamos juntos toda a sexta- feira e é um ambiente super hostil, eles tem
todos os preconceitos e piadinhas possíveis, mas em paralelo as pessoas que
a gente no começo até admira pela inteligência, pelo papo, mas depois de um
tempo você vai criando aquele ranço, e depois você nem quer mais, eu já cortei
a relação com pelo menos dois deles, então nós mantemos apenas um
relacionamento social porque eu já não estou mais em condições de ficar
levando desaforo para casa, não que seja pessoal , mas dentro desse grupo, a
sociedade já vai impondo, e todos dão aquele sorrisinho amarelo e ninguém
enfrenta o camarada. E eu não, eu já a minha maneira deixo claro que sou
poliamorista e que tenho várias namoradas e a minha qualidade é que assumo
todas elas, falo para eles isso e no fundo eles morrem de inveja, porque quase
todos eles saem com outras mulheres, têm amantes, saem com prostitutas, e
se acham maravilhosos, mas tudo isso escondido, então eles não estão
cumprindo com o acordo. E eu estou vivendo muito bem, porque não preciso
mentir e enganar ninguém e é engraçado porque ao mesmo tempo em que
eles me desprezam, eles me invejam, - porque ele é o cara ele fala logo a real.
Mas mesmo assim todos eles têm casos por fora do casamento, são casados e
mantêm relações fora do casamento. Então na verdade eles não estão
cumprindo com um acordo que fizeram, porque foi um acordo, quando você
casa e diz que é para ser um relacionamento monogâmico, você está fazendo
um acordo com a outra pessoa e quando você não cumpre é deslealdade.
A.P.M - Na minha maneira, da minha forma de pensar eu tenho que mostrar
quem realmente eu sou. No fundo eles morrem de inveja, porque eu posso ter
várias mulheres ao mesmo tempo e todas estão bem assim. Eu acho que eles
gostariam de ser como eu, mas o preconceito não permite. É obvio que eu
sendo poliamorista tenho várias namoradas e a administração desses
147
porque motivo, não me lembro bem, mas daí eu acabei combinando com
minhas namoradas, almoçaria no natal com uma e depois o jantar seria com a
outra, porque na época elas não se conheciam, e ela vai e decide vir de última
hora, assim que ela decidiu vir eu falei, - quero muito que você venha, mas
você me conhece da mesma forma que eu te conheço. Como você disse que
não viria marquei de ficar com elas, minhas namoradas, vou almoçar com uma
e depois vou jantar com outra e queria que você ficasse bem, mas não vou
desmarcar com nenhuma, então ficou combinado assim, era a primeira vez que
ela teria contato com as minhas namoradas, porque para ela eu tenho várias
namoradas, mas não amo nenhuma, e uma delas é a “oficial” e o resto é tudo
“puta”, então para ela a ideia é essa. Mas as minhas duas namoradas da época
foram perfeitas, inclusive uma delas é maravilhosa, tivemos um relacionamento
de 04 anos, eu já a levei para o Brasil, toda minha família conheceu como
minha namorada oficial, mas todos sabiam inclusive ela que não era a única,
que existiam outros relacionamentos. A outra minha família ainda não
conhecia, porque não tinham tido oportunidades, mas eu deixo bem claro que
no momento são duas, mas podem ser 3 ou mais, pois as oportunidades são
constantes e estão a cada esquina e eu não vou me reprimir só porque as
pessoas acham que eu estou errado. Basicamente é assim, mas tudo isso é
um pouco complicado, a gerencia desse negócio é bem complicado, porque a
oportunidade de ruptura é a todo instante uma possibilidade.
Rosana e Peterson – então Annibal, nós temos algumas perguntas que
usaremos como diretrizes para os conteúdos que analisaremos e eu gostaria
de ir colocando-as na entrevista, mas inicialmente eu gostaria que você nos
contasse suas experiências, explicasse como foi essa transição da monogamia
para o poliamorismo?
A.P.M – ok, tá certo, então, basicamente foi assim, porque tem muito a ver com
a bissexualidade, para vocês terem ideia de como pratico o poliamor, e como
aconteceu tudo... Então, eu sei que sou bissexual desde quando tinha 16/17
anos, porque tinha uma namoradinha e certa vez, tinha um amigo de uma
prima minha que dormiu em casa e nesse momento eu me descobri bissexual;
daí eu tive muitos relacionamentos homossexuais na minha juventude, e era
uma coisa assim, como vocês falaram que é difícil agora devido ao
preconceito, eu falo de 35 anos atrás, falo de um tempo ainda antes da AIDS,
149
agora vocês imaginem, portanto era bem mais complicado, então isso que
estamos fazendo aqui agora, falando e se vendo pelo celular, naquela época
era como ficção cientifica, era uma coisa de outro mundo e eu lia muita ficção
cientifica, frequentava muitas bibliotecas em São Paulo, então para nós
naquela época celular era o mesmo que falarmos para vocês hoje sobre
passarmos as férias na lua ou em marte, vocês me entendem? Então essa
facilidade que temos agora de conversarmos em tempo real com alguém do
outro lado do mundo era impossível. Então tínhamos todo esse preconceito
elevado à alta potencia devido a falta de conhecimento, e eu frequentava
muitas saunas gays naquela época e isso era visto assim de uma forma
criminosa, era uma vida dupla assim, uma coisa horrível, verdadeira loucura e
eu não sei até que ponto isso me influencia ou não, nessas relações com
homens e mulheres
A.P.M - ... e voltando a minha irmã ela não consegue entender como ela é
assim tão traumatizada e em mim não provocou nenhum trauma, eu digo que
vivo assim e sou feliz, e ela não consegue entender, que eu estou em paz na
vida, estou bem com você, estou bem com a mamãe, estou bem com o papai,
apesar de tudo, mas isso é uma coisa minha, tudo que aconteceu naquela
época não influencia meu caráter, não merece tanta atenção assim. Mas para
ela eu sou assim e me relaciono dessa forma com as pessoas porque fiquei
traumatizado com tudo que aconteceu, por isso sou poliamorista, por isso me
relaciono dessa forma, - “por isso você trata as mulheres assim” ela diz. A
minha irmã até hoje acha que eu sou traumatizado, e que toda essa minha
forma de ser, essa é maneira de levar a vida são traços desses meus traumas
na infância. Mas eu canso de falar para ela que não é nada disso, que não sou
traumatizado. Pelo menos eu acho que não sou, faço isso porque eu gosto e
me sinto bem. Não culpo ninguém por isso.
Mas sem querer justificar, mas já justificando, eu nunca tive um relacionamento
afetivo com homens, essas relações são puramente sexuais nunca tive
sentimentos, nunca tive vontade de um relacionamento afetivo duradouro com
homens, nunca tive vontade de beijar e abraçar, nunca tive um namorado, com
outro homem é apenas sexo, mas também não tenho nenhum problema com a
minha sexualidade porque eu sou totalmente versátil, assim eu posso ser um
“master dom”, como posso ser um “slive”, posso praticar também um sexo
150
era o suficiente. Tínhamos um outro problema também, ela queria muito ser
mãe, e eu não queria. E nessa situação eu percebi que nossa relação não era
tão sólida como eu pensava, porque se fosse ela poderia ter aberto mão de ser
mãe, para ficarmos juntos ou eu poderia ter cedido e me tornado pai. Teríamos
formado uma família como ela queria, mas na verdade a relação já estava um
pouco abalada e juntou com a falta de tesão então. Alem do que éramos tão
amigos e para que arrasar com essa amizade por causa disso. E daí como eu
estava muito ruim com aquela situação eu decidi confessar porque eu já não
aguentava mais.
A.P.M - eu confessei achando que a nossa relação era tão legal, tão mente
aberta que ela ia entender, mas não foi como eu pensei. Na verdade foi muito
ruim, foi aquele drama todo. E minha mãe estava lá e existe toda aquela
pressão da sociedade e outras séries de agravantes que tornaram tudo mais
difícil e daí eu saí de casa.
A.P.M - e outra coisa também que atrapalha muito é a hipocrisia social. Nesse
episódio das amantes que aconteceu e todo mundo ficou muito abalado porque
ela falou para minha mãe, para família toda. Nisso, eu vinha para São Paulo
pelo menos uma vez por ano, e nem sempre vínhamos juntos porque eu tirava
férias em um período ela em outro, mas sempre que vínhamos, visitávamos a
família um do outro, mas afinal, o dilema era, eu tinha me separado! E agora
como iria falar isso para a família dela, para minha família tudo bem porque
todos já estavam sabendo, mas a reação da família dela eu não sabia, porque
quando nos separamos ela ligou para o Brasil chorando, em desespero e foi
aquele drama todo e eu super preocupado em encontrar a sogra.
E eu naquele dilema se devia ou não encontrar a sogra, mas iria ficar no Brasil
duas semanas e ela sabia, não tinha como não ir, então eu fui, com medo, mas
com medo mesmo. Chegando lá, foi um susto. – “A.P.M, que bom que você
veio”, e eu sem entender nada, achando que ela não entenderia, resumindo ela
apenas me disse: - “menino besta, seu único erro foi ter contado para ela, você
deveria ter deixado como estava, e continuar sendo o melhor marido do
mundo. Veja bem, esse era o conselho da sogra. O que os olhos não vêm o
coração não sente (risos).
A.P.M - e logo depois dela comecei a me relacionar com uma outra menina
peruana, que era uma pessoa maravilhosa também, muito boazinha, a pessoa
152
momento de sua vida você vai sentir atração por uma outra pessoa e pode ser
através do seu trabalho, pode ser no círculo social, pode ser pela internet, vai
acontecer e nesse momento, no momento em que você teve uma atração por
mínima que seja você entrou no grande “dilema do monogâmico”, porque você
terá três opções: você pode trair, sendo um filho da puta, traindo seus votos,
traindo seu parceiro, sendo um canalha; você pode deixar, abandonar o seu
parceiro e “foda-se” vou experimentar a grama do vizinho, que a grama do
vizinho é sempre melhor que a nossa e você chuta tudo e vai experimentar a
grama ou você pode matar aquele sentimento, e pensando na ultima opção
que moralmente dizendo é o que a sociedade espera, porque você é uma
pessoa correta e tem um companheiro maravilhoso que não merece a traição,
você vai chegar numa hora que qualquer pequeno conflito, qualquer drama,
qualquer desavença que aconteça na relação vai ser motivo para você lembrar
que a grama do vizinho era mais verdinha e que você deveria ter ido
experimentar.
E não adianta você matar essa sensação, matar esse desejo que surgiu porque
a cada atração não resolvida, isso vai se transformando em pequenas fissuras
nessa relação maravilhosa que você acredita ter, e você vai cobrar da outra
pessoa, você pode até culpá-la, por não ter permitido que você fosse
experimentar aquela grama verdinha e isso vai ser um fantasma e cada vez
que isso acontecer o cara vai falar – “caramba o que estou fazendo nisso aqui”,
e isso vai trincando sua relação. Mas devemos pensar também que existem
pessoas mais estáveis psiquicamente, biologicamente, hormonalmente,
sexualmente e que para essas pessoas deve ser muito mais fácil aceitar essa
relação estável, monogâmica, com apenas uma pessoa por toda a vida. Pode
ter pessoas que nunca vivenciaram uma paixão inebriante em toda a sua vida,
e que irão passar a vida sem grandes atrações sexuais, digo aquela paixão
sem controle, estonteante, essa pessoa pode ser capaz de viver a vida inteira
de uma forma tranquila com apenas uma pessoa e isso não ser problema. Mas
pessoas como eu por exemplo, que me apaixono uma vez por semana quase
(risos), a cada esquina provavelmente; para pessoas assim é impossível se
relacionar de maneira monogâmica. E esses são grandes extremos e no meio
dos extremos tem a normalidade e essa normalidade, saibam ou não saibam
todas as pessoas que praticam a monogamia tem que praticar essas escolhas
154
diariamente e é um dilema que eu não quero para mim, porque eu não quero
trair ninguém, também não quero ter que escolher entre duas pessoas que
desejo, muito menos matar um sentimento. Então eu penso assim se estou
com uma pessoa e aparece essa atração por uma outra, o que me impede de ir
até lá conhecer e ficar com aquela outra pessoa, daí eu comecei a perceber
que mesmo indo viver aquela paixão, aquela atração que surgiu eu poderia
continuar amando e desejando a primeira pessoa. Então eu estava em um
relacionamento onde todo mundo, inclusive eu acreditava que iria “aquietar o
facho”, tínhamos comprado o apartamento e estávamos bem, até que me
apaixono perdidamente por uma baiana, com um probleminha ela morava em
Salvador. E como eu estava indo praticamente todo mês para São Paulo a
trabalho, e tinha facilidade para conseguir passagens e me locomover por
quase todo o Brasil, então eu vivia isso uma vez por mês, ficava entre SP e
Salvador a ponto de alugar um apartamento lá porque ficava mais barato do
que um hotel. Agora pensa essa minha situação, tendo uma namorada oficial
na Espanha, uma amante em Salvador, trabalhando e morando em Madri,
onde tinha acabado de comprar um apartamento com a Peruana, mas
mantinha um apartamento no Brasil para me encontrar com a baiana (risos).
Com uma hipoteca na Espanha para pagar em nome dos dois, não, não pode,
porque se criou toda uma angústia, eu pensava nessa situação em Madri e
falava para mim mesmo, que ela não merecia passar por isso, eu não posso
continuar fazendo isso. Até que um dia eu a sentei no banco da praça e
perguntei: você me conhece? E ela responde: - é claro que eu conheço, mas
se você está falando assim é porque não devo conhecer direito. Você acha que
eu sou fiel para você? A resposta foi:- eu diria que sim, mas se você está
falando assim é porque não né. Não infelizmente eu não sou fiel a você, ela me
perguntou quantas vezes e eu não soube dizer por que estávamos juntos a 5
anos e eu já tinha me relacionado com diversas pessoas nesse período. Então
eu falei, não posso mais porque eu não tenho mais nada para te dar, não tenho
mais o que te oferecer e você não merece isso, porque você é uma pessoa
maravilhosa e eu sou assim. Então nós decidimos acabar com tudo, ela acabou
ficando com o apartamento e eu sai, e ela tinha um problema que ela se
achava feia, apesar de ser uma mulher muito bonita, simpática, ela tinha uma
auto-estima muito baixa e ela melhorou muito nesse período em que estivemos
155
juntos. E também uma coisa super bacana que eu deixei claro para ela que o
problema não era ela, que eu não conseguia ficar me relacionando com apenas
uma única pessoa, sendo que poderíamos ficar juntos e eu não falaria nada,
vivendo essa vida dupla, só que uma relação monogâmica não era suficiente
para mim, mas eu não queria me sentir culpado, não queria me sentir um
canalha, filha da puta. E a partir daí então eu decidi que não me relacionaria
mais monogamicamente e desse momento em diante eu passei a dizer
abertamente a maneira que me relaciono. Mas daí terminou tudo isso já faz
mais de 10 anos e foi a partir daí que eu me tornei um praticante do poliamor e
agora somos amigos, ela vem aqui para passar as férias, me visitar, da última
vez que ela veio fomos conhecer o vulcão “Cacratoa”, que é um lugar
esplendido aqui na Ásia. Eu, ela, uma das minhas namoradas atual com o
filhinho. E foi uma viagem maravilhosa.
Então resumindo foi assim a minha descoberta do poliamor e da minha
condição de poliamorista, deu-se pouco a pouco. E Posso dizer que descobri
verdadeiramente o poliamor há cerca de uns 10 anos, quando eu já tinha mais
de 40 anos de idade. Com certeza a tardia revelação deveu-se ao pouco
acesso a material (filmes, livros, artigos, etc.) e pessoas com esse tipo de
temática e de vivência. Apesar de que sou capaz de lembrar de algumas
situações, sentimentos ou experiências que ficaram gravadas na minha
memória e foram "flashes" ou pequenas peças de um quebra-cabeças que foi
formando-se no meu interior ao longo de vários anos. Como por exemplo, um
filme francês, assistido no Cineclube do Bixiga, quando eu tinha por volta de 18
anos (1980-1982) chamado “PourquoiPas”, que significa literalmente PORQUE
NÃO? e relata um romance a 3 (três). Foi relevador, mas a opressão da
sociedade e da família era tão grande que ficou no subconsciente.
Rosana e Peterson – Que tipo de reação as pessoas tem quando você diz ser
praticante de relações poliamoristas?
A.P.M - então, depende do tipo de pessoa, porque quando estou falando nas
redes sociais, as pessoas estranham quando falo que sou poliamorista, ah
você está mentindo, você tem namorada, da onde ela é? – não eu não minto, e
de qual namorada você está falando? Porque eu tenho três. Ai o primeiro
impacto é a surpresa – ah você deve ser um playboy, então o que acontece
tem algumas pessoas que insultam, mas eu falo logo, - não vou mentir para
156
você, porque 97% dos homens que estão aqui só querem fazer sexo com você,
não que eu também não queira, mas eu tenho algo mais a oferecer! (risos).
Então se encontra principalmente as seguintes reações: desdém, desconforto,
confronto. Então existem pessoas que te rejeitam, te insultam, mas são
pessoas que são diferentes e não tem nenhuma experiência ou vivencia como
têm outras que se aproximam dizendo – eu gostei de você pela sua franqueza,
Você é um grande “filho da puta”, mas gostei por você ter falado a verdade.
Hoje eu tenho três namoradas, cada um mora na sua casa e todas elas têm a
chave aqui de casa, não se relacionam entre elas e não querem, mas se
conhecem, para nós isso está tranqüilo. Então essa é a reação das pessoas,
falam que sou cínico, me criticam mas é uma coisa bem suave. Mas na vida
social tem esse cinismo e dentro desse cinismo, também o que acontece foi
aquilo que falei, na verdade eles têm inveja por eu conseguir fazer isso, ter
essa possibilidade constante de poder me relacionar com outras pessoas sem
precisar mentir para ninguém. Então eu consigo ir plantando a sementinha da
dúvida na cabecinha de cada um. Aconteceu uma relação também em que eu
falei para uma namorada como eu sou, e ela me amava e mesmo não sendo
poliamorista, nós tentamos, Eu tentei, ela tentou, mas infelizmente não
conseguimos fazer dar certo. E eu acho que ela ficou mais comigo pela minha
franqueza mesmo. E na verdade eu nunca troquei ninguém eu não troco as
pessoas umas pelas outras, muito pelo contrário eu vou até lá e falo eu me
relaciono dessa maneira, as minhas experiências são assim.
Rosana e Peterson - Falando sobre seu relacionamento atual, como ele está
estruturado?
A.P.M - Eu moro na minha casa e as minhas 3 namoradas tem a chave da
minha casa. Pela condição do trabalho delas, todas tem muito pouco tempo
disponível. Então não conflita muito. Duas delas se conhecem e são amigas.
Portanto podemos fazer eventos sociais e passeios juntos. A terceira aceita,
mas não quer se relacionar socialmente com as outras duas. Às vezes há um
pequeno conflito de agenda, porém com as qualidades do ponto anterior é
possível gerenciar as relações. Então é um pouco complicado administrar o
tempo, então costumo fazer assim, ir intercalando mesmo, segunda e terça
para uma, quarta e quinta para a outra, sexta e sábado ou sábado e domingo
para a terceira (risos) na verdade meu sonho de consumo era poder colocar
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todas juntas, até já tentamos isso, mas ainda não deu certo, na verdade quase
que não teve nem jantar certa vez, porque aconteceram alguns conflitos
E normalmente a gente funciona assim dias alternados né, como são três então
é segunda quarta e sexta uma final de semana. Intercalando. Os nossos
horários são corridos também, bastante compromisso, então a gente tem que ir
controlando o horário porque elas não mantêm um relacionamento amoroso
entre elas.
A.P.M - duas são Filipinas, uma é Tailandesa. Então já aconteceu de nós
saírmos juntos, eu tentei colocar todas na mesma mesa, nós saímos para
jantar, mas foi uma tentativa frustrada porque elas se uniram para falar de mim
e daí ficou aquele mimimimimimi, e acho que não deu muito certo. Mas mesmo
sabendo da existência uma da outra é melhor a gente trabalhar assim. Cada
uma tem o seu dia. E a gente vai intercalando, vamos trabalhando dessa
forma.
Rosana e Peterson - Diferenças entre os países, como você já conheceu
diversos países e culturas, existem muitas diferenças?
A.P.M - sim, na verdade não e o assunto em si, porque a cultura é muito
diferente, aqui na Ásia é uma coisa mais dinâmica, mas nem é tanto o formato
das relações em si, eles são muito diferentes, porque eles são muito
materialistas, eles não se abraçam, eles não se beijam, não se tocam com
freqüência, é uma coisa mais fria. Então quando se encontram, mesmo sendo
amigos, convivência de longo tempo, mesmo assim eles se cumprimentam de
longe, eles não dão nenhum aperto de mão, isso é diferente para mim, foi
diferente no início. E foi engraçado que uma vez no Shopping duas amigas se
encontraram eu estava sentado no café e fiquei prestando atenção nelas. E
dava para perceber que elas gostavam muito uma da outra, mas elas ficaram
de longe dando pulinhos e acenando, e é obvio que estavam felizes, mas elas
não se abraçaram. Então para nós brasileiros que gostamos de chegar
abraçando e beijando é estranho essa maneira deles.
Para vocês terem noção os japoneses são engraçados, eu nunca atendi
pornografia no Japão, é uma coisa muito engraçada porque eles fazem os
filmes por lá, e as partes intimas né, elas são desfocadas, eles tiram o foco.
Então elas ficam embaçadas, não aparecem, você não consegue ver a imagem
e daí eu acho muito interessante e me pergunto - porque que é feito o filme?
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Se eles tiram essa parte eles não mostram o ato sexual, as partes intimas
ficam desfocadas (risos) Estranho também porque nesses filmes as meninas,
as mocinhas gritam muito, parece que estão sofrendo, como se a relação fosse
um sofrimento muito grande.
Agora em relação ao poliamor eu não posso dizer para vocês que é maior a
aceitação ou é menor. Não sei te dizer na verdade porque ainda é uma coisa
muito desconhecida a única coisa que nós temos que é na verdade em comum
e o desconhecimento que é igual tanto ai quanto aqui. E o desprezo e o
desdém com que as pessoas tratam quando a gente fala sobre o poliamorismo.
Acham que é piada, acham que é brincadeira, nunca tratam com respeito. É o
menosprezo, e isso é em geral, para a sociedade ou você é um canalha “filho
da puta” e não ama ninguém, ou você é um playboy, um bonvivã e só quer
curtir, porque você não a ama. E a maioria das pessoas acha que você é o
malandrão e só quer seduzir muitas mulheres e todos fazem a mesma
pergunta, - e se ela quiser outras pessoas e se ela tiver interesse fora, ela
também pode? E eu sempre digo: não só pode como deve ter outras pessoas.
Porque se ela gostar de alguém, vai ser muito mais fácil para mim, porque ela
vai passar a entender aquilo que eu vivo. Porque esse é o grande benefício de
ser poliamorista e compersivo, e eu não sei se já surgiu essa palavra aí para
vocês, a compersão. Eu sou um cara extremamente compersivo, e é difícil ver
pessoas assim realmente. Mas trabalhar essa questão da compersão é muito
importante. Eu procuro me relacionar com pessoas assim, que aceitam, que
entendem, que amam. Porque é muito mais fácil se relacionar com uma pessoa
compersiva. E aí, às vezes, mesmo com essa reação das pessoas, eu consigo
chegar em alguém e convencer sobre o lado positivo de se relacionar assim.
No entanto sempre voltam naquilo – “e se for ela a querer outras pessoas” – se
acontecer é ótimo, porque fica muito mais fácil, vai me dar muito mais
segurança na relação, porque se ela tiver interesse, se amar ou sentir tesão
por alguém lá fora é sinal de que ela está feliz, e se houver respeito e
compreensão ela vai ter real noção do que sente por mim. E se ela não quiser
mais a relação com você, daí meu amigo, não importa se é uma relação
monogâmica, se é poliamor, não importa de que forma você se relaciona, se
acabou o tesão, se acabou o amor, vai restar a amizade. Sempre digo que o
fato de ela se interessar por outras pessoas, ou eu me interessar nunca será
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motivo para o fim da relação, mas se o amor tiver que acabar seja pelo motivo
que for, ele vai acabar, e mesmo assim se ainda restar a amizade,
continuaremos como amigos.
Peterson – situação financeira, você acredita que uma certa estabilidade
financeira facilitaria na escolha da opção poliamorista?
A.P.M – olha eu penso assim, dinheiro não compra felicidade, mas ele compra
um bom carro, compra viagens, compra a comida em bons restaurantes, e
assim vai ficar muito mais fácil, agora se o cara tiver que trabalhar 16 horas por
dia para conseguir se sustentar, não vai sobrar tempo muito menos disposição
para nada, honestamente a questão financeira não ajuda somente o poliamor,
ela ajuda tudo, mas essa ideia está muito atrelada a cultura, porque se você
tem uma condição social melhor, tem acesso a cultura, tem conhecimento, tudo
vai ficar mais fácil. Então é nesse sentido, mas se a pessoa tiver a capacidade
de se entender tecnicamente poliamorista, se ela está inserida em um mundo
monogâmica no meio da miséria ela vai ter muita dificuldade para organizar
isso, então vai ser difícil administrar também a questão da família e demandas
técnicas mesmo relacionadas a sobrevivência. Eu diria que a condição
financeira não ajuda e nem atrapalha, mas o estigma social e o preconceito,
atrapalha muito porque o pessoal de condição pobre fica mais suscetível.
A.P.M - e também, quantas são as famílias de condições mais baixas, que
sobrevivem anos com amantes e homens que possuem múltiplas famílias e a
condição social na maioria das vezes não é o problema. No entanto acredito
que uma situação financeira equilibrada consegue trazer maior segurança e
isso é um dos pilares do poliamorismo. Eu não sou rico, tenho um bom
emprego e consigo manter certos confortos, com certeza fica mais fácil ser
poliamorista ou qualquer outra coisa que você decidir tendo condições
financeiras para ter acesso a viagens, cultura, boa educação, boa moradia e
alimentação.
A.P.M - Inclusive gente tem uma foto que vou mandar para vocês dessa última
viagem que eu falei que fiz, fomos para uma ilha vulcânica, Cracatoa, onde a
pouco mais de 5 anos houve uma grande erupção e agora já existe uma
pequena selva em redor da ilha, e eu fico impressionado como a vida abre
passagem, em ambientes totalmente hostis, a vida surge em toda sua
exuberância. Então lá no meio do oceano, em uma ilha vulcânica, encontramos
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uma pedra e embaixo dessa pedra estava nascendo uma flor magnífica,
naquele ambiente inóspito, no meio do nada. Eu fiquei pensando: - Como que
isso veio parar aqui, como que nasce de uma pedra, e agora me veio essa
ideia, isso é o poliamor, que brota em ambientes hostis, e podemos pensar
assim sobre essa questão financeira, porque tem casais, onde o marido
acabou tendo uma amante, acabou tendo uma segunda família, e houve essa
aceitação, e continuaram mantendo seus relacionamentos e na verdade nem
sabem que são poliamoristas, mas a aceitação social vai ser difícil, e também
por conta da segunda família que acaba tendo filhos considerados bastardos
preconceituosamente e todas essas coisas.
Rosana e Peterson – durante nossas pesquisas percebemos que a questão do
ciúme é um dos principais desafios do poliamorista. Como foi para você
administrar essa questão de ciúme?
A.P.M - para mim foi uma moleza tão grande, porque eu nunca tive ciúmes,
porque se a pessoa falar e se ela for com outro, para mim ta ótimo, vou ficar
muito feliz, até acho que devam colocar no dicionário Annibal como sinônimo
de compersivo, porque eu acredito ser a pessoa mais compersiva do mundo e
é natural. E é engraçado porque as pessoas dizem – então você não ama, mas
não é isso, muito pelo ao contrário, é porque eu amo que eu quero que a
pessoa seja muito feliz, porque se eu amo muito a pessoa e ela vai ter uma
relação com alguém que ela ama, eu sinto prazer, eu sinto tesão, se puder
participar ótimo, melhor ainda, mas se não puder participar fico feliz só por
assistir, mas também se não puder participar, nem assistir também fico feliz em
saber que aquela pessoa que eu amo, esta amando, que está transando, está
gozando e sendo feliz. Então gente eu me considero uma pessoa tão
compersiva que se eu estiver namorando uma mulher e mantendo esse
relacionamento poliamorista e ela se apaixonar por outro rapaz e decidir por
um relacionamento monogâmico, é claro que irei sentir falta no inicio, talvez
sofra também por saudades, mas jamais vou te culpar pelo fim, nunca irei me
afastar da outra pessoa por isso, porque ela vai estar feliz e é isso que importa.
Rosana e Peterson - Constituição familiar, percebe-se entre os adeptos uma
discordância quando o tema é formar uma família poliamorista ou não. Alguns
acreditam ser possível a formação de uma família nos moldes do poliamor e
almejam isso, outros discordam dizendo que o modelo familiar vai na
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A.P.M – (risos) essa pergunta vem acompanhada com uma armadilha no caso,
eu diria sim e não, porque não vejo como hierarquia, o ser humano é
promiscuo por natureza, então é como se você tivesse domando uma fera, o
monogamismo ele doma, o ser humano é historicamente poligâmico, então eu
diria que a monogamia é “contra natura”, sendo assim quando você decide por
esse modelo está gerando um problema, não é questão de ser pior ou melhor,
eu não me sinto superior ou melhor por ser poliamor, só acredito ser bem
resolvido. Eu acredito que as pessoas se elas pensarem e serem honestas
com elas mesmas eu acredito que todas elas optariam por praticar o poliamor.
Obviamente eu me sinto superior por ser poligâmico, por ter uma mente mais
aberta, mas não menosprezo os conteúdos de um monogâmico, apesar de não
concordar com ele. E não digo que eles estão errados e não sabem nada, eu
honestamente acredito que o poliamor atende o ser humano de uma maneira
natural, digo que atende suas necessidades. E é aquilo que estávamos falando
antes sobre questão financeira, você pode ir para São Paulo em um fusquinha
caindo aos pedaços, pode ir de ônibus na rodoviária ou pode usar um
helicóptero, você vai chegar de qualquer maneira...
Interrompeu a conexão
A.P.M – oi gente, desculpe, interrompeu por aqui. Mas me dá só um minutinho
para eu abrir a porta, vou aproveitar e mostrar para vocês a vista aqui da minha
janela de Hong Kong.
Rosana e Peterson – ok, tranquilo, fique a vontade.
A.P.M – então pessoal, voltei, deixa eu mostrar a vista para vocês...
Rosana e Peterson – Chovendo, que dia gostoso, e esse transito, se fosse em
SP com essa chuva já estaria tudo parado com o trânsito. Muito bonito.
A.P.M – então pessoal, não vejo superioridade, principalmente porque a
monogamia é a forma de relação que está vigente na maioria do mundo e
então não tenho aquela arrogância ou superioridade moral, mas sim é aquela
noção de que tem diversas formas de viajar pra SP, mas também tenho o
direito de escolher o que mais me convêm, eu particularmente prefiro chegar
em SP de helicóptero, mas entendo que a maioria das pessoas preferem as
rodovias, ou tem medo de helicópteros, então eu acho que é o melhor, para
mim é o melhor, mas respeito a decisão e as escolhas alheias.
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amar. Já que ela nunca terá que optar entre outra pessoa e eu pois poderá ter
os dois ao mesmo tempo. Essa lógica me dá segurança e tranquilidade. Ou
seja, enquanto houver amor, a pessoa amada sempre voltará para mim e
sempre existirá a nossa relação. Em outras palavras, uma terceira (ou quarta
ou quinta... rs) pessoa jamais colocará em risco o que já temos. Salvo que
acabe o amor em algum dos dois. Isso dá segurança. No meu caso, essa
segurança acho que é uma válvula inibidora do ciúme.
Rosana e Peterson - como sujeito poliamorista, você idealiza a constituição de
uma família?
A.P. M - Não. Não tenho um ideal de família e nem de "modelo" ou "polígono"
que eu queira formar. Até porque nunca quis ter filhos, o que me facilita a
gestão logística de uma "família poliamorista".
Rosana e Peterson – para você, casamento e família, como se constituem no
poliamorismo?
A.P.M - não se constituem. Não nos formatos e normas religiosas e sociais
atuais. Os mesmos não deixam espaço para uma constituição formalizada e
harmoniosa de uma família poliamorista. O Poliamor é algo totalmente proscrito
e coibido. Não há nenhuma regra, lei ou mecanismo que ofereça um mínimo de
suporte formal. Pelo contrário, a simples constituição de uma família
poliamorista morando digamos sob o mesmo teto, em alguns países é inclusive
ilegal e passível de condenação em muitos países. Mesmo alguns ocidentais
ditos liberais. Entendo que as famílias poliamoristas que se expõem à
sociedade e forçam a sua aceitação de forma aberta, tem que lutar muito e
tomam muita porrada do sistema e do status-quo social. São verdadeiros
heróis e abnegados mártires.
169
ANEXO A
170
171
172
ANEXO B
173
ANEXO C
ANEXO D
________________________________
Nome e assinatura do participante
Cpf: ____________________
176
ANEXO E
FOLHA DE ROSTO