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Instituto Politécnico Viana Do Castelo- Escola Superior de Educação

Educação Social Gerontológica


Sociologia do Envelhecimento II
2021/2022
2º Semestre

Trabalho Prático 2:
A Experiência de vida da População Idosa do
Norte de Portugal
Análise das Entrevistas através das teorias sociológicas do envelhecimento

Docente: Manuela Cachadinha

Aluna:
Catarina Ferreira 16883

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Índice:

Introdução........................................................................................................................3
Enquadramento Teórico.................................................................................................4
Resultados do Estudo......................................................................................................5
As teorias sociológicas do Envelhecimento....................................................................8
ANEXOS..........................................................................................................................9
Transcrição das Entrevistas........................................................................................9
Entrevista Código: 0001..........................................................................................9
Entrevista Código 0002......................................................................................14
Conclusões:.....................................................................................................................18
Bibliografia.....................................................................................................................19

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Introdução

Este trabalho é o culminar de um estudo da população idosa desenvolvido no


âmbito na unidade curricular sociologia do envelhecimento II inserida no curso de
Licenciatura de Educação Social Gerontológica.
Posto isto, o tema geral, proposto pela docente Manuela Cachadinha, incide
sobre a realização de um estudo que pretende analisar a experiência de vida dos idosos
do Norte de Portugal principalmente, os que tiveram experiências migratórias.
No que concerne à estrutura deste relatório terá, primeiramente, uma breve
explicação da escolha dos entrevistados. Posteriormente, irei esclarecer em que consiste
o meu guião de entrevista tanto a estrutura como está agrupado o guião, como as
possíveis alterações feitas ao guião original disponibilizado no moodle pela docente.
Por fim, farei um enquadramento teórico do qual irei correlacionar com as
teorias sociológicas existentes e verificar se existe alguma teoria que se encaixa no
perfil do entrevistado.
Tendo em conta a elaboração do guião da entrevista será composta seguindo um
consentimento informado do qual terá como finalidade dar a conhecer o objetivo da
entrevista como também a preservação dos dados pessoais dos entrevistados. Assim, o
guião de entrevista será agrupado por respostas fechadas e abertas e incluídos por
blocos (A, B, C, D, E, F).
Portanto, os entrevistados foram escolhidos seguindo os critérios específicos
para a elaboração das entrevistas, e também, tendo em conta que ainda estamos
socialmente influenciados pelos fatores das limitações das relações que a pandemia
trouxe para a sociabilidade, optei por entrevistar pessoas com algum grau de intimidade.
Por fim, relativamente à estrutura do guião da entrevista, em cada bloco, é
inumerado o enquadramento teórico para dar seguimento às perguntas que irei fazer aos
entrevistados. Assim, através de cada enquadramento teórico situado por blocos
pretendo deixar os pressupostos dos quais partimos para as entrevistas, dos quais nos
baseamos, e mostrar aos entrevistados quais são as situações que pretendemos verificar
ou estudar na população idosa do norte de Portugal, ao correlacionarmos com as teorias
sociológicas do envelhecimento.

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Enquadramento Teórico

Atualmente, as sociedades têm vindo a envelhecer, sobretudo nos países


desenvolvidos. Posto isto, este fenómeno de envelhecimento associa-se com a redução
dos níveis de fecundidade e de natalidade e com o aumento da esperança média de vida
dos seres humanos, sendo que leva ao aumento da proporção de pessoas com idades
superiores a 65 anos. Segundo a OMS, 2005 (Organização Mundial de Saúde)
pressagia que em 2025 haverá um total de aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas com
mais de 60 anos e até 2050, esse valor aumentará para 2 milhões, sendo que 80%
localizar-se-á nos países em desenvolvimento.
Tendo em conta a existência do aumento da população idosa e o prolongamento
da sua esperança média de vida há a necessidade de lançar novos desafios aos sistemas
de saúde, educativo, de segurança social e à sociedade no seu conjunto, de forma a
abraçar esta nova realidade.
Por outro lado, a população sénior pode estar na origem de um problema social,
sobretudo mediante situações de mais vulnerabilidade e carência física, social e
económica. Ou seja, o facto de existir um número elevado de pessoas idosas
dependentes leva a que seja necessário intervir socialmente, através de intervenções
políticas e comunitárias.
Em contrapartida, de forma a fomentar a autonomia e o envelhecimento bem-
sucedido nos seniores é extremamente necessário pensar em novos programas
educativos e culturais.
Paralelamente ao fenómeno do envelhecimento demográfico verifica-se,
presentemente, uma crescente globalização económica e cultural acompanhada por
fenómenos migratórios que implicam um número crescente de pessoas de diferentes
países e culturas. (Cachadinha. M., 2016)

Assim sendo, os fenómenos da globalização e migratórios conduzem às


mudanças sociais e culturais e têm implicações na educação formal e informal, sendo
que neste contexto a educação multicultural e intercultural adquirem maior viabilidade.
Relativamente a Portugal, que se carateriza tradicionalmente por um país de
emigração no seu passado, este passou a ser também, nos anos mais recentes, um país
de imigração, constatando-se atualmente a existência de um elevado número de

4
residentes oriundos de outras áreas geográficas, no nosso país. Ademais, igualmente
muitos dos Portugueses, que há décadas tinham emigrado, retornam ao seu país natal
para viverem a sua aposentadoria.
Em suma, com este trabalho procuro fazer uma analogia sobre o passado
migratório e intercultural dos seniores residentes no distrito de Viana do Castelo bem
como, refletir sobre a forma como a as aprendizagens desenvolvidas ao longo do ciclo
de vida, enquanto esteve em contacto com outras culturas influenciaram o percurso de
vida e a sua satisfação com a vida, atualmente.

Resultados do Estudo

De forma a estudar as duas inquiridas optei por analisá-las consoante uma tabela
“analítica” do qual analisava por categorias as respetivas respostas das entrevistadas.
No que concerne à caraterização sociodemográfica dos inquiridos entrevistei
dois elementos do género feminino residentes em Ponte de Lima com idades 77 e 81
anos.
Referente ao Bloco A – Vida Autónoma, tentei perceber qual era a sua situação
de saúde bem como qual era a sua autonomia. Deste modo, normalmente, ambas as
inquiridas não necessitam de ajuda para cuidar de si, sendo que quando precisam de
ajuda para cuidar de si mesmo são os parentes que costumam ajudá-las. No que diz
respeito às ajudas para a realização de tarefas domésticas, a mais velha refere que não
necessita de ajuda, já a mais nova, diz que às vezes necessita de ajuda. Ao nível da
locomoção/mobilidade ambas referem que não precisam de ajuda. Já no quesito de
saúde uma entrevistada refere que vai às vezes ao médico, mas que não necessita de
apoio médico regular, já a outra não necessita de apoio médico.
Quanto ao Bloco B – Relações Sociais pretendo aferir quais como são as
relações de familiaridade e de parentalidade que os inquiridos mantêm com as pessoas
mais próximas, tanto atualmente, como no seu passado migratório. Portanto, referente
às relações que as entrevistadas mantêm com outras pessoas e se vive só, ambas
afirmam que tem amigos e nunca ou raramente se sentem sós, sendo que mantém
relações de contacto habitual e de afinidade com pessoas e família. Em contrapartida, o
contacto atual com as diferentes relações entre amigos e familiares são distintas, sendo
que a entrevistada mais nova refere que se relaciona com pessoas muito mais jovens (à
exceção do marido) enquanto a entrevistada mais velha, afirma que mantém relações
5
com pessoas de diferentes idades. Os temas de conversa mais recorrentes entre os
amigos e familiares rondam questões pessoais, do quotidiano bem como as recordações
da sua infância.
No que concerne BLOCO C – Bem-Estar Social e Ocupações Quotidianas vou
analisar o bem-estar social dos entrevistados bem como as suas ocupações quotidianas e
como esses fatores podem interferir na felicidade e satisfação com a vida das inquiridas.
Analisando as entrevistas mediante a sua vida e a forma como vivem ambas
refletem que há muitas coisas agradáveis, mas pensam que poderiam ser melhor. Além
disso, quando questionadas sobre as atividades e ou ocupações preferidas e sobre a
frequência da prática das mesmas atividades concluo-o que a mais nova é mais voltada
para a leitura e a necessidade de se sentir atualizada com novos conhecimentos. Ou seja,
estimula mais a parte cognitiva.
Já a mais velha refere que gosta de ir à ginástica, ver televisão e de participar de
excursões com o intuito de conviver com as pessoas. Ambas são ativas nas suas
atividades de modo que procuram manterem-se em atividade quer diariamente, quer
duas vezes por semana.
Por outro lado, designadamente ao Bloco D – História de Vida e Passado
Migratório procuro entender como foi a sua história de vida e de que forma o passado
migratório contribuiu para o envelhecimento bem-sucedido das inquiridas.
Efetivamente, ao longo do seu depoimento, ambas referem que emigraram para
fora do seu país à procura de melhores condições de vida.

Entrevistada: Fui para aquele sítio à procura de uma vida melhor, porque
não queria ficar sempre dependente dos meus pais nem dos meus irmãos. Olhe fui
arranjar dinheiro para uma fazer uma casinha.
(Entrevista 0001)

Entrevistada: Fui para aquele sítio porque naquela altura em 1969 não
existia empregos cá e a gente teve que procurar uma coisa melhor que havia em
Portugal.
(Entrevista 0002)

Referente ao tempo que estiveram emigradas a mais velha esteve bastante mais
tempo que a nova, sendo que a mais velha teve em França em Brive mais ou menos 30

6
anos, e a mais nova 7 anos em África, mais precisamente em Luanda, até à data da
independência de Angola.
Quando questionadas sobre as recordações dos tempos em que tiveram
emigradas, ambas falam com imensa saudade da afinidade com que o país as acolheu,
tanto França como Luanda, como também referem as relações de intimidade com os
patrões e filhos dos patrões que contruíram, ao longo dos anos, e também, do gosto pelo
clima e da gastronomia daquele país.
Por último, acerca do Bloco E – Satisfação com a Vida ambas referem que se
sentem bem com a vida que têm, apesar de uma dizer que gostaria de ter mais algumas
coisas, mas que tem o essencial, saúde, dinheiro, e não está só.

Entrevistada: Estou bem e como lhe disse anteriormente sou feliz com o que
tenho… claro que às vezes gostaria de ter algumas coisas mais, mas tenho o
essencial. Tenho saúde, tenho dinheirinho para comer e para as minhas despesas
diárias. Graças a Deus só também não estou.
(Entrevista 0001)

Ambas referem que as experiências que tiveram com a emigração influenciaram


positivamente a sua maneira de viver a vida atualmente, através do convívio com as
diferentes culturas aprenderam novas experiências de vida, novas formas de encarar a
vida, como também adquiriram o espírito de autonomia e de independência manifestada
com a necessidade de sobreviverem à vulnerabilidade da vida, enquanto estavam
emigrados.

Entrevistada: Sim completamente. A gente aprende sempre alguma coisa não se


fechando no seu casulo e isso contribui sempre para melhorarmos enquanto seres
humanos.
(Entrevista 0002)

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As teorias sociológicas do Envelhecimento

Após analisar as entrevistas das duas seniores irei fazer uma ponte com as
teorias sociológicas do envelhecimento de forma a encontrar eventuais semelhanças que
comprovam a intemporalidade destas teorias, mesmo no século XXI.
Primeiramente e de forma geral, ao correlacionar o testemunho destas inquiridas
com a teoria do curso de vida posso verificar que ambas relataram os estádios de vida
(infância, adolescência, fase adulta e velhice) do qual descreveram aspetos temporais
mais marcantes do seu course life, sendo que estas mudanças ocorreram para
compreender o desenvolvimento humano das mesmas. Nesta teoria, podemos verificar
que o facto das entrevistadas terem sido emigradas e estado em constante
desenvolvimento, quer pessoal, de amadurecimento, ampliação da autonomia,
desenvolvimento do espírito crítico proporcionou uma trajetória de vida diferentes
daqueles que talvez continuaram na época delas, no mesmo sítio de nascença.
Por outro lado, a teoria da atividade pode ser identificada através da necessidade
das seniores se sentirem ativas, mesmo após a sua aposentadoria. Segundo Cachadinha.
M, (2016) a lógica desta teoria “o bom envelhecimento” é possível se o sénior
reformado mantiver níveis de atividade equivalente aos que teve durante a sua vida
ativa. Conforme o que foi referido anteriormente, posso afirmar que a entrevistada mais
nova procura em se sentir ativa, de modo que ainda mantém um trabalho, mesmo após a
reforma, sendo secretária/ rececionista de um centro explicações de inglês.
Por último, identifiquei a teoria da modernidade salientada através da
entrevistada mais nova quando reparo que, apesar da idade que tem utiliza as TIC para
realizar o seu trabalho atual como secretária e rececionista. Desta forma, identifico a
adaptação como meio de plasticidade nesta face de idade, e ressalto que pode estar na
origem do facto de a entrevistada não gostar de estar parada e sentir necessidade de
aprender mais.

Entrevistada: Diariamente, não nos livros. Mas sim na internet.


Diariamente eu estou a ler porque eu gosto de me sentir atualizada.

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(Entrevista 0002)

ANEXOS

Transcrição das Entrevistas

Entrevista Código: 0001

Entrevistadora: Olá, bom-dia.


Entrevistada: Bom-dia
Entrevistadora: Mediante um estudo que vamos realizar na unidade
curricular de Sociologia do Envelhecimento II eu vou realizar uma entrevista.
Primeiramente, eu preciso passar o consentimento informado do qual preciso
saber se autoriza ou não esta entrevista ser gravada. Neste caso, autoriza a
proceder à autorização das informações e dados por mim recolhidos por via de
Entrevista? Do qual toma conhecimento que tais dados e informações apenas
terão fins educativos/académicos ou científicos pelo que, em circunstância
alguma, serão exibidos ou utilizados publicamente fora destes contextos.
Entrevistada: Sim senhora, autorizo.
Entrevistadora: Primeiramente, a presente entrevista visa contribuir para a
realização de um estudo sobre a experiência de vida da população idosa do
norte de Portugal. Todas as respostas permanecerão anonimas e a sua
identidade não será revelada. Desde já, muito se agradece a sua colaboração e ela
e muito importante para a realização da nossa investigação. Por favor, responda a
cada uma das seguintes questões e, nas que têm alternativas de resposta, diga-
nos qual a opção (A. B. C. D.) que melhor descreve a sua situação ao longo dos últimos
anos. Nas questões abertas, sem alternativas de resposta, par favor, descreva
sumariamente o que lhe acontece ou aconteceu e coma tem sido a sua vida.
Entrevistadora: Necessita de ajuda para cuidar de si mesmo?

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Entrevistada: Não necessita de ajuda nenhuma.
Entrevistadora: Quando necessita de ajuda para cuidar de si mesmo, quem
costuma dar-lhe apoio?
Entrevistada: Familiares (grau de parentesco: IRMÃS)
Entrevistadora: Quando realiza tarefas domésticas (por exemplo, preparar refeições,
arrumar roupas, etc.):
Entrevistada: Não necessita de qualquer ajuda.
Entrevistadora: Quando necessita de ajuda para realizar tarefas domésticas,
quem lhe dá apoio habitualmente?
Entrevistada: Familiares (grau de parentesco: IRMÃS)
Entrevistadora: Pensando sobre a forma como se movimenta em casa e na rua:
Entrevistada: Movimenta-se na casa e na rua sem qualquer dificuldade.
Entrevistadora: Necessita de tratamentos de saúde regulares?
Entrevistada: Não necessita de tratamento de saúde regular.
Entrevistadora: Pensando sobre as suas relações com as outras pessoas e se vive
só:
Entrevistada: Tem amigos e nunca ou raramente se sente só.
Entrevistadora: Pensando nas suas relações com a sua família:
Entrevistada: Tem contacto habitual e diário com pessoas e família.
Entrevistadora: Pensando nas suas relações habituais atuais com amigos e/ou
familiares:
Entrevistada: As pessoas com quem se relaciona são de diferentes idades.
Entrevistadora: No passado, teve mais ou menos contactos e relacionamento
com pessoas de outras gerações e idades? Par favor, fale-nos sobre este
assunto.
Entrevistada: Sim eu tive muito tempo emigrada em França e trabalhava num Hotel e
pronto os meus patrões e os filhos dos meus patrões eram muito mais novos. Embora,
pronto…. Tínhamos uma relação (mais ou menos), pode se dizer familiar porque eu
basicamente vivia lá no hotel, só tinha a segunda-feira livre, era o meu único dia de
folga.
Entrevistadora: Quando se encontra com os seus amigos de que costumam
conversar?

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Entrevistada: Aí… (Nostálgica) Conversamos muito do tempo, da saúde, de como as
coisas mudaram… os tempos mudaram, das pessoas que já morreram. Ah. Mas
ultimamente só se fala do bicho é do Covid.
Entrevistadora: Quando se encontra com a sua família quais são os principais
temas de conversa?
Entrevistada: Aí agora… (Pensativa) Falamos, às vezes, sobre os meus sobrinhos netos,
de alguns sobrinhos meus que ainda andam a estudar, falamos das tarefas que temos que
fazer no campo, basicamente falamos de assuntos que dizem diretamente respeito à
família: Preocupações, as alegrias que tenho com os meus sobrinhos.
Entrevistadora: Pensando na sua vida e na forma como vive:
Entrevistada: Há muitas coisas agradáveis, mas pensa que poderia ser melhor.
Entrevistadora: Habitualmente, como ocupa os seus dias?
Entrevistada: Olha então… De manhã eu gosto de dormir até tarde. Depois tenho a
minha horta, que é logo assim perto da minha casa. A horta basicamente ocupa-me
grande parte da manhã. Depois almoço, faço sempre o almoço. Embora, eu viva
sozinha, mas eu gosto muito de cozinhar, não passo cá a pão seco! Tem que ser comida.
Da parte da tarde eu gosto muito de fazer a cesta. E pronto, entre o campo e as coisas da
casa é assim que eu vou passando o meu tempo.
Entrevistadora: Tem alguma(s) atividade(s) e/ou ocupação preferida(s) e porquê?
(desporto, voluntariado, televisão, leitura, jardinagem, passeios, etc.)
Entrevistada: Durante duas vezes por semana eu vou à ginástica que é lá na junta de
freguesia. A junta de freguesia proporciona aos velhos, e como eu já tenho 85 anos.
E também eu gosto muito também pela convivência com as outras pessoas. Depois
também gosto imenso de ver a novela, ver televisão e as notícias também. Também
quando há excursões também gosto de ir, porque tem os almoços de convívio e
podemos conviver com as nossas vizinhas, e conhecer pessoas novas.
Entrevistadora: Com que frequência desenvolve essas atividades?
Entrevistada: A ginástica como já disse é duas vezes por semana. Depois os
almoços de convívio é sempre por épocas festivas por exemplo, por 7 euros nós
comemos e bebemos o que nos apetece… (pausa na narração).
Mais espaçadamente.
Entrevistadora: Por favor, relate-nos resumidamente a história da sua vida
(onde nasceu, onde estudou, onde viveu, onde trabalhou e tudo aquilo que lhe
pareça importante para retratar)

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Entrevistada: Eu nasci numa aldeia beira-baixa. Sou irmã mais velha de 6 irmãos,
(cara triste) dois já faleceram mais novos do que eu, claro… Como eu era a irmã
mais velha quase não frequentei a escola, por isso só fui à escola até à segunda
classe, mas ainda aprendi pelo menos a fazer o meu nome e a desenrascar-me.
Depois, Olhe! Comecei a trabalhar muito nova porque os meus pais tinham muitas
dificuldades então nós andávamos lá ao minério eu e algumas raparigas da minha
idade de segunda-feira à sexta-feira. À sexta-feira íamos vendê-lo, do qual dava
algum dinheiro aos meus pais e ali um tostão ou outro ficava para mim, pois assim
mais tarde a minha grande compra foi um fio de ouro. Mas olhe! Também já não sei
quanto custou. Depois quando já era “maiorzinha” com 15 ou 16 anos eu trabalhava
para um senhor que era vendedor, vendia na feira. Mas também tinha uma loja na
aldeia que vendia de tudo, as antigas mercearias, e eu basicamente fazia de tudo que
era necessário, às vezes estava ao balcão, outras vezes limpava a casa, a loja…
pronto, dependia. Depois os meus irmãos já estavam todos emigrados em França e
como eu era a única solteira porque fiquei mais por casa para ajudar os meus pais,
mas depois com 23 anos os meus irmãos acabaram por me levar para França. Então
lá fui para França, um dos meus irmãos me foi buscar e então fui trabalhar para um
hotel. Mas olhe menina agora também já não me lembro assim muito bem. O sítio
onde eu estava chamava-se Brive e era no centro de França. Primeiro eu trabalhava
ao negro, estava lá ilegal, depois o meu irmão lá conseguiu arranjar-me os papéis e
então eu sempre trabalhei nesse hotel. Também fazia de tudo nesse hotel, só não
estava na receção. Mas pronto, fazia desde a limpeza dos quartos, até tudo que
pertencia ao hotel, passava a ferro. Folgava à segunda-feira, mas trabalhava desde
manhã até ao último cliente do restaurante sair porque aquilo era hotel e restaurante.
Portanto, de manhã cuidava da limpeza do hotel dos quartos e à noite ajudava no
restaurante na cozinha, a limpar, a cozinhar, o refeitório, a sala, as refeições e por aí
fora.
Entrevistadora: Durante o seu passado alguma vez este emigrado (a) ou fora
da sua terra?
Entrevistada: Sim, estive emigrada trinta e poucos anos na França.
Entrevistadora: Se respondeu sim à pergunta anterior, pedimos-lhe que relate
a sua experiência emigratória (a) onde esteve, b) quanto tempo, c)o que fez, em
que trabalhou enquanto esteve fora?, d) porque razão foi para esse sítio , e) o
que recorda mais intensamente desse tempo em que esteve fora?, f) acha que

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aprendeu alguma coisa importante útil para a sua vida enquanto esteve fora?,
g) por favor, fale-nos dessa experiência de aprendizagem enquanto esteve
fora?)
Entrevistada: Eu estive em Brive que era o centro de França mais ou menos 30
anos. Estive sempre na hotelaria, chama-se o hotel Santo António porque perto
havia um recinto um Santo que o local se chamava Santo António, então era o hotel
Santo António. Fui para aquele sítio à procura de uma vida melhor, porque não
queria ficar sempre dependente dos meus pais nem dos meus irmãos. Olhe fui
arranjar dinheiro para uma fazer uma casinha. E olhe… que agora não vivo nela
veja lá. Fiz a casa e nunca lá morei, porque depois quando vim de França os meus
pais ainda eram vivos e fui viver com eles e depois os meus pais (mudança na
expressão de cara) faleceram e eu fiquei com a casa deles. Acabei por remodelar a
casa dos meus pais e nunca fui viver para a minha casa. Nem sei porque que fui
empatar tanto tempo as minhas economias. Veja bem, tive 30 e poucos anos a
trabalhar para fazer uma casa onde nunca vivi. Recordo-me das horas árduas de
trabalho, algumas coisas que aprendi, também aprendi bastantes coisas lá com eles,
eles já eram muito mais evoluídos do que nós, principalmente, do que eu, que vinha
lá da aldeia do interior… (pausa na narrativa) Mas olhe chorei muitas lágrimas,
porque nem sempre a vida é como nós queremos. Nós aprendemos sempre algo,
nem sempre é algo específico, mas aprendemos sempre, que existem outros
mundos, outras formas de viver, outras formas de estar, coisas que nos abrem os
olhos e o nosso horizonte. Embora, eu só tenha a segunda classe eu sempre fui
muito curiosa.
Entrevistadora: Cá em Portugal manteve ou mantém algum contacto com
pessoas de outros países? Se sim, por favor fale-nos desse relacionamento e do
que ele significa para si.
Entrevistada: Não
Entrevistadora: Que pensa sobre a vida que tem atualmente e sobre a forma
como vive?
Entrevistada: Estou bem e como lhe disse anteriormente sou feliz com o que
tenho… claro que às vezes gostaria de ter algumas coisas mais, mas tenho o
essencial. Tenho saúde, tenho dinheirinho para comer e para as minhas despesas
diárias. Graças a Deus só também não estou.

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Entrevistadora: Gostaria que a sua situação e a sua vida fossem diferentes?
Porquê?
Entrevistada: Não, não
Entrevistadora: Acha que durante a sua vida teve educação ou preparação
para lidar com a situação (de pessoa reformada)?
Entrevistada: Se calhar pronto quando eu me vim na situação lá em França em que
depois sabia que ia ter uma reforma melhor, se calhar também influenciou a minha
maneira de viver. Se calhar também fiz muitas coisas depois que embora o meu
objetivo foi sempre poupar algum dinheiro, mas depois de reformada dei-me a
certos... um a outro luxo, porque sabia que a reforma ia dar para as despesas do meu
dia-a-dia e ainda ia sobrar algum. De modo, que ainda dou ainda uma mesada aos
meus sobrinhos netos que vão para aquelas universidades e nós temos que ajudá-los
um bocadinho.
Entrevistadora: Acha que o facto de ter sido uma pessoa emigrada no passado
influenciou a sua maneira de viver a vida atualmente? Se sim, por favor fale-
nos um pouco em que circunstâncias a emigração contribuiu para tais
mudanças.
Entrevistada: Claro que como é obvio que conviver com outras pessoas de culturas
diferentes que se calhar me influenciou pela positiva, se calhar não penso de forma
tão tacanha, até de certa forma alguns preconceitos que tinha e a forma como estava
e como pensava também mudaram. Pelo menos comecei a ter mais informação e
formação.

Entrevista Código 0002

Entrevistadora: Olá, bom-dia.


Entrevistada: Bom-dia
Entrevistadora: Mediante um estudo que vamos realizar na unidade
curricular de Sociologia do Envelhecimento II eu vou realizar uma entrevista.
Primeiramente, eu preciso passar o consentimento informado do qual preciso
saber se autoriza ou não esta entrevista ser gravada. Neste caso, autoriza a
proceder à autorização das informações e dados por mim recolhidos por via de
Entrevista? Do qual toma conhecimento que tais dados e informações apenas

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terão fins educativos/académicos ou científicos pelo que, em circunstância
alguma, serão exibidos ou utilizados publicamente fora destes contextos.
Entrevistada: Sim autorizo.
Entrevistadora: Assim sendo, primeiramente, a presente entrevista visa
contribuir para a realização de um estudo sobre a experiência de vida da
população idosa do norte de Portugal. Todas as respostas permanecerão
anonimas e a sua identidade não será revelada. Desde já, muito se agradece a
sua colaboração e ela e muito importante para a realização da nossa investigação.
Por favor, responda a cada uma das seguintes questões e, nas que têm
alternativas de resposta, diga-nos qual a opção (A. B. C. D.) que melhor descreve a
sua situação ao longo dos últimos anos. Nas questões abertas, sem alternativas de
resposta, par favor, descreva sumariamente o que lhe acontece ou aconteceu e
coma tem sido a sua vida.
Entrevistadora: Necessita de ajuda para cuidar de si mesmo?
Entrevistada: Não necessita de ajuda nenhuma.
Entrevistadora: Quando necessita de ajuda para cuidar de si mesmo, quem
costuma dar-lhe apoio?
Entrevistada: Familiares (grau de parentesco: Filhas, Marido)
Entrevistadora: Quando realiza tarefas domésticas (por exemplo, preparar
refeições, arrumar roupas, etc.):
Entrevistada: Às vezes necessita de ajuda.
Entrevistadora: Quando necessita de ajuda para realizar tarefas domésticas,
quem lhe dá apoio habitualmente?
Entrevistada: Familiares (grau de parentesco: Filhas, Netas, Marido)
Entrevistadora: Pensando sobre a forma como se movimenta em casa e na rua:
Entrevistada: Movimenta-se na casa e na rua sem qualquer dificuldade.
Entrevistadora: Necessita de tratamentos de saúde regulares?
Entrevistada: Necessita de tratamento médico regular.
Entrevistadora: Pensando sobre as suas relações com as outras pessoas e se vive
só:
Entrevistada: Tem amigos e nunca ou raramente se sente só.
Entrevistadora: Pensando nas suas relações com a sua família:
Entrevistada: Tem contacto habitual e diário com pessoas e família.

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Entrevistadora: Pensando nas suas relações habituais atuais com amigos e/ou
familiares:
Entrevistada: As pessoas com quem se relaciona são todas muito mais jovens. (exceção
do marido).
Entrevistadora: No passado, teve mais ou menos contactos e relacionamento
com pessoas de outras gerações e idades? Par favor, fale-nos sobre este
assunto.
Entrevistada: Mais contactos? É normal… sempre tive com pessoas de idade e com
pessoas jovens ao longo da minha vida.
Entrevistadora: Quando se encontra com os seus amigos de que costumam
conversar?
Entrevistada: Aí de tudo e mais alguma coisa (expressão de felicidade demostrado
através de um grande sorriso)
Entrevistadora: Quando se encontra com a sua família quais são os principais
temas de conversa?
Entrevistada: Temas de conversa? É uma conversa normal. Pergunta-se sobre um dos
outros... mais ou menos isso!
Entrevistadora: Pensando na sua vida e na forma como vive:
Entrevistada: Há muitas coisas agradáveis, mas pensa que poderia ser melhor.
Entrevistadora: Habitualmente, como ocupa os seus dias?
Entrevistada: Fazendo sempre alguma coisa, eu não gosto de estar parada.
Entrevistadora: Tem alguma(s) atividade(s) e/ou ocupação preferida(s) e porquê?
(desporto, voluntariado, televisão, leitura, jardinagem, passeios, etc.)
Entrevistada: Gosto de ler, gosto muito de ler.
Entrevistadora: Com que frequência desenvolve essas atividades?
Entrevistada: Diariamente, não nos livros. Mas sim na internet. Diariamente eu
estou a ler porque eu gosto de me sentir atualizada.
Entrevistadora: Por favor, relate-nos resumidamente a história da sua vida
(onde nasceu, onde estudou, onde viveu, onde trabalhou e tudo aquilo que lhe
pareça importante para retratar)
Entrevistada: Bem. Eu nasci em Ponte de Lima, numa aldeia em Ponte de Lima.
Aos 23 anos fui para Angola. Vivi lá 7 anos. Vim quando a Angola se tornou
independente, embora para Portugal. Fui comerciante no ramo da confeção e agora

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estou aqui (numa empresa de explicações e formação de inglês) mas isto é algo à
parte porque já estou reformada.
Entrevistadora: Durante o seu passado alguma vez este emigrado (a) ou fora
da sua terra?
Entrevistada: Sim, só dessa vez em Angola - Luanda.
Entrevistadora: Se respondeu sim à pergunta anterior, pedimos-lhe que relate
a sua experiência emigratória (a) onde esteve, b) quanto tempo, c)o que fez, em
que trabalhou enquanto esteve fora?, d) porque razão foi para esse sítio , e) o
que recorda mais intensamente desse tempo em que esteve fora?, f) acha que
aprendeu alguma coisa importante útil para a sua vida enquanto esteve fora?,
g) por favor, fale-nos dessa experiência de aprendizagem enquanto esteve
fora?)
Entrevistada: Fui para aquele sítio porque naquela altura em 1969 não existia
empregos cá e a gente teve que procurar uma coisa melhor que havia em Portugal.
Recordo-me de tudo, (sorriso de boas recordações) era tudo muito bom… tenho
saudades de lá. Se calhar se fosse lá agora não era igual… tenho saudades do clima,
a gastronomia. A cidade de Luanda era uma cidade já bastante desenvolvida
naquela altura. Sim aprendi, e continuo a aprender, a gente aprende sempre até
morrer. Só não se aprende quem não quiser aprender. Mas aprendemos sempre com
a vida, com as pessoas, com as crianças. Eu convivo atualmente, aqui (na empresa
de explicações de inglês) com muitas crianças e há quem diga que não se aprende
nada com elas, mas se aprende muito. Eu pelo menos penso assim. (Relativamente à
experiência de aprendizagem) aprendi com as pessoas que sabiam mais do que eu,
eu gosto de conversar, e a gente sempre aprende através do diálogo. Eu sempre fui
uma pessoa de boas relações, nunca me chateie com ninguém, nem com os meus
vizinhos.
E a gente aprende sempre com isso.
Entrevistadora: Cá em Portugal manteve ou mantém algum contacto com
pessoas de outros países? Se sim, por favor fale-nos desse relacionamento e do
que ele significa para si.
Entrevistada: Sim. O que significa para mim é isto, eu tento ajudar quando me
pedem ajuda na questão de falar sobre temas que nós em Portugal temos e que as
pessoas de fora não sabem o que é. Eu tento sempre ajudar dentro do possível as
pessoas que precisam de ajuda, quando regressam.

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Entrevistadora: Que pensa sobre a vida que tem atualmente e sobre a forma
como vive?
Entrevistada: Muito boa, graças a Deus.
Entrevistadora: Gostaria que a sua situação e a sua vida fossem diferentes?
Porquê?
Entrevistada: Não.
Entrevistadora: Acha que durante a sua vida teve educação ou preparação
para lidar com a situação (de pessoa reformada)?
Entrevistada: Torne-me a repetir porque não percebi a pergunta.
Entrevistadora: (Repeti a pergunta mais pausadamente)
Entrevistada: Sim, Sim.
Entrevistadora: Acha que o facto de ter sido uma pessoa emigrada no passado
influenciou a sua maneira de viver a vida atualmente? Se sim, por favor fale-
nos um pouco em que circunstâncias a emigração contribuiu para tais
mudanças.
Entrevistada: Sim completamente. A gente aprende sempre alguma coisa não se
fechando no seu casulo e isso contribui sempre para melhorarmos enquanto seres
humanos.

Conclusões:

Em suma, este trabalho é o reflexo de um estudo baseado em duas entrevistas


qualitativas, sendo que foi previamente definido pela docente os critérios dos
entrevistados para realizarmos as entrevistas. Assim sendo, tendo em conta que as
entrevistadas são pessoas com mais de 65 anos e do qual tiveram experiências
migratórias posso concluir que apesar de pertencerem já quase a quarta idade, ainda
demonstram ter bastante autonomia e independência no seu dia-a-dia, sendo que
referem que não precisam de ajuda para fazer as suas tarefas domésticas nem para
cuidar de si mesmas.

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Por outro lado, um aspeto interessante que identifiquei através destas entrevistas
foi que, apesar da baixa escolaridade que têm as inquiridas (sendo que uma tem 2 classe
antiga e a outra o 1 ciclo antigo), demonstram ter bastante cultura, conhecimento, ao
nível das boas relações sociais, do saber-estar, saber agir e preocupam-se em se
manterem informadas diariamente, ora por meio de convívio social ora por fontes de
conhecimento, como internet.
Em suma, do meu ponto de vista, acredito que as experiências emigratórias
destas senhoras contribuíram para um bom envelhecimento bem como para o potencial
de desenvolvimento, demonstrado através dos mecanismos de plasticidade de cada
entrevistada. Isto é , mesmo perante as perdas características da velhice ainda
conseguem regular e adaptarem ao envelhecimento de forma a manterem o último
período de vida dinâmico e saudável.

Bibliografia

Cachadinha, M. (2014). Fatores interculturais no envelhecimento autónomo: estudo de


um grupo de seniores residentes na área urbana de Viana do Castelo. Universidade
Aberta.

19
Cachadinha, M. (2016), EDUCAÇÃO INFORMAL E EXPERIÊNCIA MIGRATÓRIA:
INVESTIGAÇÃO SOBRE SENIORES RESIDENTES EM VIANA DO CASTELO. IX
CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA, Portugal, território de territórios

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