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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM GERONTOLOGIA

MAYTÊ ANELONE PEREIRA

A INTERAÇÃO SOCIAL DO IDOSO DE 80 OU MAIS ANOS – UMA


REVISÃO INTEGRATIVA

São Paulo
2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM GERONTOLOGIA

MAYTÊ ANELONE PEREIRA

A INTERAÇÃO SOCIAL DO IDOSO DE 80 OU MAIS ANOS – UMA REVISÃO


INTEGRATIVA

Trabalho de Dissertação apresentado à


Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de
Mestre em Gerontologia, inserida na área
de concentração Gerontologia Social, linha
de pesquisa Processo Político-Institucional
e Práticas Sociais, do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Gerontologia, vinculado
à FACHS, Faculdade de Ciências Humanas
e da Saúde, da PUC-SP, sob a orientação da
Professora Doutora Flamínia Manzano
Moreira Lodovici.

São Paulo
2019

1
Banca Examinadora

_________________________________________
Prof.a Dr.a Monique Borba Cerqueira
(Instituto de Saúde, SES-SP)

_______________________________________
Prof. Dr. Edin Sued Abumanssur
(PEPós-Graduados em Ciência da Religião/PUC-SP

_______________________________________
Prof.a Dr.a Flamínia Manzano Moreira Lodovici
(PEPós-Graduados em Gerontologia/PUC-SP)
(Orientadora)

2
À minha amada filha, Mariana, que veio alegrar meus dias

e me dar forças para não desistir.

3
AGRADECIMENTOS

Agradecimento especial à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior), fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC), pela Bolsa de Estudos a
mim concedida, sem a ajuda da qual não seria possível a conclusão deste trabalho de
pesquisa.

4
AGRADECIMENTOS

À minha mãe, que fez por mim o que não pude fazer enquanto realizava o mestrado.

À minha mãe, que não pediu que eu desistisse, mas perguntou como poderia me ajudar.

À minha mãe, que sempre esteve a meu lado e é responsável por todas as minhas conquistas.

A Deus, que segue meus passos e me permite ser sempre o meu melhor.

Às minhas orientadoras, Prof.a Dr.a Maria Helena Villas Bôas Concone e Prof.a Dr.a Flamínia
Manzano Moreira Lodovici, que me transmitiram seus conhecimentos com humildade,
dedicação, delicadeza e amor.

Aos membros da Banca de Qualificação, Prof.a Dr.a Monique Borba Cerqueira e Prof.
Dr. Edin Sued Abumanssur, que fizeram contribuições inestimáveis para a evolução
desta dissertação.

Aos Professores do Programa de Gerontologia da PUC-SP, que apresentaram conteúdos


valiosos em suas disciplinas, me fazendo aprender, refletir com criticidade e aplicar
melhores práticas com idosos.

Ao Rafael Quini Arbeche, secretário do Programa de Gerontologia da PUC-SP, que nos


assessorou durante todo o tempo com disponibilidade e atenção.

5
RESUMO

Esta dissertação teve o objetivo de pesquisar a interação social do idoso em idade


avançada, de 80 ou mais anos, que podem ser também chamados de longevos ou
“velhos-velhos”. O aumento do número de idosos é fator visível na sociedade brasileira
sendo, a parcela com 80 ou mais anos, a que mais cresce. Justifica-se, assim, a
necessidade de estudar as condições de vida destes idosos e desenvolver programas
sociais e políticas de saúde que lhes sejam adequadas. A metodologia utilizada foi a
revisão bibliográfica das publicações sobre o assunto dos últimos 10 anos em teses,
dissertações, artigos científicos e livros. Muitas publicações que envolvem idosos e
interação social foram encontradas; contudo, a maioria não abrange idosos em idade
avançada ou não trata especificamente da interação social, apesar de este termo constar
das palavras-chave. Dezenove artigos científicos e uma tese de doutorado pertinentes ao
tema foram encontrados. A partir da leitura dessas publicações, juntamente com os
autores abordados no referencial teórico, foi possível dissertar sobre o tema e alocar os
resultados em três categorias: interação social do idoso na família, interação social
intergeracional e interação social do idoso em instituições. Conclui-se que mais
pesquisas com idosos em idade avançada devem ser realizadas, principalmente
abordando as percepções dos próprios idosos sobre suas condições, física, mental e
social. Entende-se que esta parcela da população passa a apresentar mais limitações e
complicadores que a anterior, dos 60 aos 79 anos, os “velhos-jovens”; portanto, mais
dificuldades de inseri-los em pesquisa podem ocorrer, com justificativas de diversas
ordens. Contudo, é preciso conhecer melhor estes idosos para que lhes sejam sugeridas
melhores práticas cotidianas. De par a um idoso, família e profissionais da saúde devem
se dar conta da necessidade de se imprimirem cuidados específicos ao lidar com esse
longevo, pois uma efetiva e amorosa interação com ele é essencial, a fim de lhe
assegurar condições adequadas de saúde, de bem-estar; em suma, uma melhor qualidade
de vida.
Palavras-chave: Idosos de 80 ou mais anos; Interação social; Apoio social; Cuidados
específicos a longevos; Qualidade de vida.

6
ABSTRACT

This dissertation aimed to investigate the social interaction of the elderly people in old
age after 80 years, who may also be called “old-old”, “long-lived elderly”. The rise in
the number of elderly people is a visible factor in Brazilian society, being the 80-year-
old or older, the fastest growing. This justifies the need to study the living conditions of
these elderly people and to develop appropriate social programs and health policies.
The methodology used was a bibliographical review of the publications on the subject
of the last 10 years in theses, dissertations, scientific articles and books. Many
publications involving elderly people and social interaction were found, however, most
of them did not include old age elderly or did not specifically address social interaction,
despite it being among the key words. Nineteen scientific articles and one doctoral
thesis on the subject were found. From the reading of these publications, together with
the authors mentioned in the theoretical framework, it was possible to dissert about the
subject in three categories: social interaction of the elderly in the family, social
interaction between generations and social interaction of the elderly in institutions. It
was concluded that more research with elderly people in old age should be carried out,
mainly addressing the perceptions of the elderly themselves about their conditions. It is
understood that this portion of the population is the one presenting more limitations,
therefore, the difficulty of inserting them in research can be justifiable. However, these
elderly people need to be better acquainted with daily best practices. In addition, family
and health professionals must realize the need to print specific care when dealing with
this elderly person, since effective interaction with them is essential to ensure better
health, well-being, and quality of life in general.
Keywords: Elderly aged 80 years or older; Social interaction; Social support; Longevity
specific care; Quality of life.

7
A INTERAÇÃO SOCIAL DO IDOSO DE 80 OU MAIS ANOS – UMA REVISÃO
INTEGRATIVA

SUMÁRIO Pág.

1.Introdução 09

1.1.Um pequeno histórico do estudo do envelhecimento e da epidemiologia da 11


velhice

2.Referencial Teórico 17

2.1. A vivência da velhice 17

2.2. Os cuidados da velhice 25

2.3. A interação social e o idoso 30

2.4. O idoso com 80 ou mais anos (o “velho-velho”, ou da “quarta idade”) 41

3. Metodologia 46

4. Resultados da Revisão Bibliográfica 46

5. Discussão dos dados 48

5.1. A interação social na família 48

5.2. A interação social entre gerações 56

5.3. A interação social em instituições 64

6.Considerações finais 71

7.Referências Bibliográficas 74

8
1. Introdução

Minha vida em comunidade, comunhão e parceria


Foi a minha vida em família, em religião e em amizades
Cheia de vida e cheia de vidas
Cheia de vivências

Minha vida por onde encontrei muitos velhos


Muitos idosos
Muitas avós, nonas e abuelas
Muitas freiras e madres
Muitas professoras e chefes
Muitas Doutoras
Muitos pacientes

Minha vida, onde as relações são o mais importante


Por onde tudo conheci e aprendi
Através dos velhos com quem convivi
Que somos todos nós
E que tentarei reproduzir...

Por meio do poema em epígrafe, quis traduzir parte do meu trajeto de vida que
motivou a elaboração desta pesquisa na área de Gerontologia, em uma perspectiva
interdisciplinar, e com foco especialmente nos aspectos sociais do envelhecimento.
Foram sentimentos, experiências, memórias e conhecimento vivenciados até aqui e que
me despertaram o interesse por saber como procedem os idosos em idade avançada, de
80 ou mais anos, os 80+, chamados em inglês Oldest-Old 1, ou “velhos-velhos”, ou da
“quarta idade” 2, bem como a família e os profissionais devem proceder com eles nas
práticas sociais.

Esta dissertação tem, pois, o objetivo de pesquisar a interação social do idoso,


com 80 ou mais anos, identificar as modalidades dessa interação, com quais pessoas, e
em quais lugares ela ocorre prioritariamente e, se possível, identificar a qualidade dessas
interações e sua relevância física e psíquica para o idoso.

1
ANDERSEN-RANBERG; PERTENSEN; ROBINE; CHRISTENSEN. “Who are the Oldest-Old? – The
Survey of Health, Ageing, and...”. Disponível em: http://www.share-
project.org/uploads/tx_sharepublications/CH_2.2.pdf. Acesso em 01/01/2018.
2
“Há duas formas de classificar o envelhecimento: o critério demográfico por faixa de idade, ou seja, a
do ´velho-jovem` que vai dos 60 a 79 anos, a chamada ´terceira idade`; e a do ´velho-velho`, de 80 ou
mais anos, a ´quarta idade` ” (MINAYO; FIRMO, 2019, p. 4). Há, porém, pesquisadores que reservam
aos de 90 anos em diante o pertencimento à “quinta idade”; chegando aos “centenários” (100-109) e aos
“super-centenários (110 ou mais anos).” (Grifo meu).

9
Há pesquisas que apontam a importância dessa interação, como será
evidenciado adiante, via de regra bem-sucedida, para a manutenção da qualidade de
vida de um idoso. Por conta da experiência pessoal junto a idosos 80+ desta
pesquisadora-autora do poema acima, a hipótese do presente estudo é que essas
pesquisas que estão aqui discutidas estejam em um bom caminho quanto a uma
interação adequada junto aos idosos de qualquer faixa etária. Contudo, supõe-se que,
especialmente no caso dos idosos chamados “velhos-velhos”, essa interação, devido aos
complicadores que surgem, possa mostrar-se diminuída na sua qualidade, assiduidade e
grau de apoio oferecido.

Pretende-se, assim, abordar estudos que tratam do tema - desde aqueles que
estejam em concordância com a hipótese de redução da interação apesar de sua
essencial importância para o idoso, quanto as que estejam em discordância com essa
hipótese, ou seja, que não concordem com a premissa de que a qualidade de vida do
idoso esteja submetida à qualidade de suas interações sociais ou que afirmem que as
interações sociais se mantenham preservadas, apesar da idade avançada. O interesse
aqui é dizer da pertinência do tema e da necessidade, pela sua relevância, da discussão e
respectiva aplicação em práticas e políticas sociais com idosos.

Ratifica-se, desse modo, que a longevidade e a qualidade de vida de um idoso


dependem essencialmente da interação social que este idoso estabelece, da qualidade
das suas relações sociais, e especialmente da sua rede de apoio social, em que intervêm
familiares, cuidadores, profissionais, vizinhos, amigos, dentre outros.

Muitos fatores podem fazer uma pessoa viver mais anos, ganhando assim
longevidade, desde a genética até as tecnologias médicas; porém, suas relações pessoais
com outras pessoas podem ser um dos fatores, senão o mais relevante, a nosso ver, para
viver mais, mas com satisfação, saúde, felicidade; em suma, para viver mais anos com a
desejada qualidade de vida.

10
1.1. Um pequeno histórico do estudo do envelhecimento e da epidemiologia da
velhice

(...)Os gigantes são essencialmente guerreiros, personificam a


violência bélica: desconhecendo a infância e a velhice, são eles a vida
inteira, adultos na força da idade, dedicados à luta, com gosto pela
batalha (VERNANT, 2000, p. 25).

Nessa epígrafe, evidencia-se que, desde a mitologia grega, a infância e a velhice


são citadas como antagônicas à força e à luta. Sendo assim, e a despeito do constante
aumento da expectativa de vida em todo o mundo, desde a Antiguidade a velhice vem
sendo subestimada - em consequência negligenciada -, em muitas sociedades. Um
estudo consistente do envelhecimento somente se deu no século XX e, até hoje, busca-
se demonstrar que pessoas idosas têm recursos até então não apreciados, contradizendo
tal crença milenar da velhice como o reverso da juventude (PAPALÉO NETTO, 2016).
Foi mais precisamente em 1903, como historiou o mesmo autor, que Elie Metchwikoff
defendeu a ideia de criação da especialidade gerontológica. A palavra surgiu do grego,
no qual géron seria velho ou ancião e logia, estudo. Esta especialidade propôs um
estudo centrado no envelhecimento, na velhice e nas pessoas idosas.

A constituição da Gerontologia, para a antropóloga Guita Green Debert (2004),


transforma o envelhecimento em objeto do saber científico, pondo em jogo suas
múltiplas dimensões, dentre outras, o desgaste fisiológico e o prolongamento da vida, o
desequilíbrio demográfico, e o custo financeiro das políticas sociais.

Em 1909, é que Ignatz L. Nascher descreve a especialidade denominada de


Geriatria, que seria o estudo clínico da velhice. Este médico vienense, radicado no
Estados Unidos, passou a ser reconhecido como o pai da Geriatria (PAPALÉO NETTO,
2016).

A partir daí muitas pesquisas estabeleceram que, com o passar dos anos, vão
ocorrendo mudanças estruturais e funcionais, variando de indivíduo a indivíduo, mas
que ocorrem em todos, e são próprias do processo de envelhecimento (PAPALÉO
NETTO; PONTES, 1996, apud PAPALÉO NETTO, 2016).

11
O mesmo autor indica que, no início dos anos 1930, Marjory Warren foi
considerada a mãe da Geriatria, quando introduziu o conceito e a implementação de
ação de avaliação geriátrica especializada, postulando, então, a avaliação
multidimensional ou interdisciplinar, também assumida pela Gerontologia.

Os anos subsequentes à década de trinta, segundo o mesmo autor, foram muito


produtivos quanto à formação de grupos de pesquisa longitudinal sobre a vida e a
velhice. Para o desenvolvimento do conhecimento científico, porém, muitas barreiras
tiveram que ser superadas. Estas barreiras estão relacionadas ao preconceito com a área
de estudo, a falta de base teórica consistente que levasse a um planejamento adequado e
a falta de investimento à pesquisa.

Debert (2004) alerta para a negação da velhice feita dentro da Gerontologia,


inclusive por experts, que querem, por vezes, fazer-nos acreditar que velhice, doença e
morte não têm relação entre si e que são todas estas uma questão de escolha ou uma
construção social. Mesmo que um indivíduo não esteja ativo, que não esteja envolvido
em programas de rejuvenescimento, e viva em isolamento e na doença, isso não quer
dizer que ele tenha tido um comportamento inadequado ao longo da vida, que tenha
recusado a adoção de formas de consumo e estilos de vida adequados e, portanto, que
não merecesse nenhum tipo de solidariedade.

Aproximando-se dos dias atuais, envelhecer, segundo o Informe Mundial sobre


o Envelhecimento e a Saúde, recentemente publicado pela Organização Mundial de
Saúde (2015), pressupõe, no plano biológico, uma variedade de danos moleculares e
celulares, aumentando os riscos de enfermidades e diminuindo a capacidade de um
indivíduo. Contudo, estas mudanças não são uniformes, ocorrendo de forma aleatória de
uma pessoa para a outra, influenciadas pelo seu entorno e comportamento. É, pois,
objetivo dos pesquisadores – envolvidos no Informe Mundial sobre o Envelhecimento e
a Saúde, da OMS (2015) - discutir todas as questões relativas ao envelhecimento,
visando a desfazer estereótipos e preconceitos em relação ao tema, além de propor
novas ações sociais e políticas que empoderem os idosos no enfrentamento dessa etapa
da vida, o que já demonstra uma certa preocupação com o público longevo.

Que se pontue que, para além das mudanças biológicas, outras também ocorrem
e de grande significação: mudam-se as posições sociais, as metas, as prioridades
motivacionais, as preferências, dentre outros aspectos. Não sem razão, mas justo em

12
função dessas mudanças, a OMS (2015) aponta que o envelhecimento é um processo
complexo, e valioso, em que é exemplar a contribuição de décadas de experiências das
pessoas idosas junto à sociedade, possibilitando, por exemplo, que se pulem, no
mercado, etapas de trabalho já vivenciadas, e se possa dar saltos de qualidade em um
trabalho. O fragmento a seguir, de Simões (2016) atesta bem o argumento acima a favor
dos idosos:

Uma sociedade equilibrada seria aquela em que o exemplo dos idosos


seria capaz de mostrar às novas gerações que os verdadeiros valores
são os decorrentes da afetividade bem direcionada e da sabedoria,
resgatando a solidariedade e o respeito àqueles que ajudaram a
construir o mundo, tal como o conhecemos (s/p.).

As sociedades estão ficando melhores justo por terem mais idosos; necessita-se,
na verdade, valorizar a resiliência dos idosos em seus novos projetos, ainda que com as
inevitáveis perdas da velhice (SANTANA DA SILVA, L.W.; VIEIRA DA SILVA;
SANTANA DA SILVA, D.; LODOVICI, 2015).

Constatação inegável é a de que a população de todo o mundo vem


envelhecendo aceleradamente. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio, a PNAD, a proporção de idosos de 60 anos ou mais de idade
passou de 9,7% em 2004, para 13,7% em 2014, sendo, assim, o grupo etário que mais
cresceu na população (IBGE, 2015).

Em um estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), Simões (2016) demonstra que, até o final dos anos de 1970, a estrutura etária
da população brasileira era sobretudo jovem, fruto de um longo histórico de níveis
elevados de fecundidade nas décadas do pós-Segunda Guerra Mundial. Contudo, em
seguida a tal período fecundo em nascimentos, observaram-se reduções significativas do
número de crianças e adolescentes no total da população, por motivos diversos como a
anticoncepção, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o êxodo rural etc. Estamos
vivendo, pois, uma transformação demográfica, de um lado com a diminuição do
número de nascimentos, por outro, com a elevação da esperança de vida e do número de
idosos, portanto.

Tributariamente a tais fatos, surgem novas questões e demandas, sobretudo em


relação aos serviços que os governos e a sociedade devem prestar aos distintos grupos

13
de cidadãos. Os órgãos públicos e a sociedade civil devem ficar atentos, pois o aumento
do número de idosos gera novos gastos com a saúde e onera ainda mais o sistema
previdenciário, questões que, se forem negligenciadas, afetarão a toda uma população,
já que todos um dia seremos idosos.

Em decreto de 1996, instituiu-se a Política Nacional do Idoso (Decreto n.º


1948/96), que passou a reconhecer o idoso como uma pessoa com direitos e deveres,
definindo-se diretrizes para que seus direitos e deveres fossem assegurados e indicados
os princípios para promover a autonomia e a integração social na interação com o poder
público e a sociedade civil (BRUNO, 2003).

A Política Nacional do Idoso se pauta em dois eixos: proteção social (saúde,


moradia etc.) e inclusão social (atividades educativas, saúde preventiva etc.); porém, até
o presente, é pouco utilizada como referência por profissionais ou pelos próprios idosos,
segundo Bruno (2003).

O Estatuto do Idoso regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou


superior a 60 (sessenta) anos, através da Lei n.º 10.741, de 1º de outubro de 2003. O
Estatuto ratifica os direitos descritos na Política Nacional do Idoso, mas também cria
dispositivos para coibir a discriminação ao idoso (BRUNO, 2003). O IBGE (2015)
divulgou, na Síntese de Indicativos Sociais, o atendimento a esses direitos assegurados
aos idosos perante o Estatuto. Citando apenas alguns destes, iniciaremos pelo direito à
liberdade, à dignidade e ao respeito do idoso. Através da Pesquisa de Informações
Básicas Municiais, MUNIC (2014), o IBGE aponta que houve um aumento significativo
na proporção de municípios com conselhos municipais de direitos dos idosos, que
passou de 35,5% em 2009, para 61,9% em 2014; este aumento, porém, foi
predominante nas regiões sul e sudeste.

No que diz respeito à saúde, o IBGE identificou que 6,8% das pessoas de 60 ou
mais anos tinham limitação funcional para realizar suas atividades diárias, e atestou que
quanto maior a idade, mais pessoas havia com limitações.3

Quanto ao direito à educação, a média, apesar de baixa, evoluiu de 3,5 anos de


estudos em 2004, para 4,8 anos de estudos em 2014. Apurou-se que, em 2019, essa
questão da escolaridade avançou, mas de idosos que residem em áreas de nível

3
Dados disponíveis em: https://www.alexandrecorrealima.com.br/o-novo-perfil-do-idoso-brasileiro/.
Acesso em 14 outubro, 2018.

14
socioeconômico mais alto: há cerca de 18,9 mil universitários idosos, com idades entre
60 e 64 anos; e 7,8 mil com 65 e mais anos.4 Por fim, o IBGE (2015) demonstrou que
houve um aumento no grupo dos idosos com 80 ou mais anos de idade – foco desta
investigação -, que passou de 1,2% em 2004, para 1,9% em 2014.5

Segundo Pinho (2008), observa-se, hoje, o “papy boom” 6;7


, o fenômeno
mundial referente ao aumento significativo dos aposentados, incluindo-se os “velhos-
velhos” (oldest old), indivíduos com mais de 80 anos (CAMARANO et al., 2005, apud
PINHO, 2008).

Abaixo, os dados numéricos do total de idosos com 80+ anos (Tabela 1).

Tabela 1: Idosos de 80+ anos, separados por sexo, e a quantidade em cada grupo no Brasil

Pessoas e Idades Quantidade


Mulheres de 80 a 84 anos de idade 246.113
Mulheres de 85 a 89 anos de idade 121.030
Mulheres de 90 a 94 anos de idade 45.806
Mulheres de 95 a 99 anos de idade 12.323
Mulheres de 100 anos ou mais de idade 2.317
Homens de 80 a 84 anos de idade 150.452
Homens de 85 a 89 anos de idade 63.558
Homens de 90 a 94 anos de idade 20.758
Homens de 95 a 99 anos de idade 4.534
Homens de mais de 100 anos de idade 917
Fonte: Sinopse do Censo Demográfico, 2010

4
Esses dados envolvem instituições públicas e privadas, constando do Censo de Educação Superior de
2017. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/01/03/volta-as-aulas-aos-90-anos-os-
idosos-brasileiros-que-decidiram-ir-a-faculdade.ghtml. Acesso em 01 fevereiro, 2019.
5
“Agora se tem a “prioridade da prioridade”, diz a demógrafa Ana Amélia Camarano, quando cita a faixa de
idosos a partir de 80 anos, que podem merecer um outro estatuto, o dos “super-idosos” [ou como dirão
outros, da quinta idade]: “A velhice ficou velha, mas não morreu. Você tem as fragilidades que são típicas da
idade, mas cada vez mais tarde” (matéria “Longevidade: viver bem e cada vez mais”, na Retratos 16, Revista
do IBGE. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/
d4581e6bc87ad8768073f974c0a1102b.pdf. Acesso em 01 abril, 2019.
6
O “papy boom”, expressão de Delumeau, prefaciando Minois (1987), relativamente ao fenômeno
observado desde 2006, estendendo-se até 2025, nos países desenvolvidos), como consequência do “baby
boom” do pós-Segunda Guerra Mundial, com o alongamento da esperança de vida e a redução da
natalidade, acarretando o envelhecimento demográfico. Fenômeno este que exerce uma influência
importante nas despesas com a saúde, afetando toda a sociedade, especialmente no domínio da economia.
7
Jean Delumeau (1923...) é um historiador francês, assim como Georges Minois (1946..., autor, dentre
outros livros, de História da Velhice, aqui citada, de 1987).

15
A transição demográfica refere o aumento da população idosa, porém não
unicamente justificada pelo aumento da expectativa de vida, mas, sim, por outros
fatores, dentre eles, a baixa mortalidade e a baixa natalidade. Antes disso, nos anos de
1950 a 1960, no período pós-Segunda Guerra Mundial, houve uma alta taxa de
fecundidade, acarretando no maior número de idosos hoje, os chamados nos EUA de
“Baby Boomers”.

Hoje, 11% da população idosa tem 80 ou mais anos de idade, constituindo o


segmento da população idosa que mais cresce, prevendo-se que, em 2050, 19% dos
idosos terão 80 ou mais anos. O número de centenários é projetado para aumentar em 15
vezes, de 1999 até 2050 (MINAYO; FIRMO, 2019).

Tendo em vista tais dados demográficos, muitos autores discutem a situação dos
idosos no mundo, e especificamente no Brasil, quanto à sua saúde, inserção social,
qualidade de vida, dificuldades físicas e mentais, dentre outros aspectos, com a intenção
de conhecer mais esta parcela crescente da população e lidar com ela da forma mais
adequada possível.

Nessa linha de preocupação, esta dissertação foi estruturada no sentido de


abordar, de início, na presente Introdução, um referencial teórico com dados da história
de alguns estudos sobre velhice e envelhecimento; a seguir, explicitam-se também os
dados sociodemográficos, a fim de situar o leitor acerca do contexto atual em que vivem
os idosos no Brasil e, especificamente, as características da população-foco desta
dissertação, que são os idosos com 80 ou mais anos. Reitere-se que a faixa dos
octogenários é a que mais cresceu no Brasil (MINAYO, 2011), assim como se tem um
número bastante expressivo de nonagenários, centenários e super-centenários8.

O capítulo a seguir intitulado “A vivência da velhice” busca tratar esse momento


da vida para além dos dados demográficos, discutindo concepções de velhice e
envelhecimento à luz de diversos autores em suas perspectivas biológicas, afetivas e
sociais. Em seguida, são apresentadas as possibilidades de cuidados da velhice, desde os
cuidados familiares até as políticas públicas de saúde.

8
Dentre os idosos, os de 80 e mais anos, são 2,9 milhões; os de 100 ou mais anos são 24.236 idosos,
equivalendo a 1,62% do total de idosos brasileiros. Disponível em: https://agenciade
noticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/d4581e6bc87ad8768073f974c0a 1102b. pdf.

16
Adiante, é abordada a interação social do idoso, problematizando-se esse
conceito, por meio de alguns autores que são referência no tema e relacionando esse
conceito com a faixa etária aqui em questão.

Por fim, são apresentadas as características da chamada “quarta-idade”, que é a


parcela-foco deste trabalho, e que serão aprofundadas nos capítulos de Resultados e
Discussão, pretendendo-se identificar os modos de interação dos idosos longevos, assim
como destacar, por meio de uma revisão bibliográfica e algumas reflexões posteriores, a
importância dessa interação para quem envelhece; na verdade, para todo e qualquer ser
humano.

2. Referencial Teórico

2.1. A vivência da velhice

Há muitas e diferentes concepções sobre o que é a velhice e o envelhecimento.


Na área da Gerontologia, a velhice é vista de maneira mais ampla, não apenas por meio
de um olhar biofisiológico, nem apenas cronológico, mas, na verdade, considerando-se
o argumentado a seguir:

“(...) os membros de uma sociedade são classificados de modo


variado: idades, faixas de idade,9 classes de idade, gerações,10
hierarquias, gênero são [estes] alguns dos marcadores que se pode
tomar como exemplos de dados usados, variavelmente, para
classificações socioculturais (LODOVICI; CONCONE, 2019, no
prelo).

9
Reitere-se que o critério demográfico tem, como um dos parâmetros, a faixa de idade que consiste em
separar o “velho-jovem que vai dos 60 aos 79 anos, a chamada ´terceira idade`, o “velho-velho”, de 80
ou mais anos, da ´quarta idade`, justamente a que mais cresce e que se prevê ser a mais acometida por
perda de autonomia física, mental/emocional e social” (MINAYO; FIRMO, 2019, p. 4). Mas ainda se
considera a chamada “quinta idade”...
10
Dentre os critérios para delimitar as gerações, o demográfico tem como parâmetro individual aquele
que “distingue as pessoas com base na herança genética, personalidade e forma de levar a vida”
(MINAYO; FIRMO, 2019, p. 4).

17
O modo de classificar alguém como velho, ou idoso, é variável, assim como
varia também no tempo, numa mesma sociedade, e no espaço de uma sociedade para
outra, em função dos efeitos trazidos por problemas ambientais, sociais, culturais,
políticos e econômicos que participam de um processo de envelhecimento. Como
consequência, o idoso pode ser visto como uma baliza de um grupo, a memória desse
grupo, o conhecimento acumulado do grupo ou, ao contrário, como ultrapassado,
prisioneiro do passado, fechado às inovações, inativo e, por conseguinte inútil, um peso
para o grupo social e familiar (CONCONE, 2007).

Para além disso, Debert (2004) sublinha que as concepções de “etapas da vida”,
além de baseadas em diversos fatores na diferenciação entre crianças, jovens, adultos e
idosos, leva ainda em conta o processo histórico, a despeito da idade cronológica,
Contudo, a autora alerta para a importância de pensarmos na plasticidade do curso da
vida e nas especificidades de cada idade como elementos especificamente de
organização social. Desse modo, a autora demonstra pesquisas que visam a discutir a
heterogeneidade da velhice, criticando definições anteriores de um envelhecimento
homogêneo, pois mesmo dentro de uma mesma idade cronológica, há diferenças entre
as pessoas.

Somos sempre o velho para alguém, conforme demonstra Messy (1999). A


discussão proposta por este autor é sobre quando realmente se fica velho, fora do
repertório social. Muitos fatores podem determinar a velhice ou o envelhecimento no
contexto social, porém esta vivência é muito mais íntima e particular do que se imagina.

Cada especialidade de estudo e seus autores vão desvendar a velhice a partir de


seus olhares, possibilitando extensa e benéfica discussão, mas nunca esgotando o tema
já que se trata de seres humanos, em que o subjetivo se sobrepõe e surpreende a todos.

Os sinais da velhice, para Barros (2014), são diferenciados pela perda paulatina
ou abrupta das formas de controle de si, do domínio do corpo e da vigilância constante
da mente. O sentimento de envelhecer é vivido de forma interior e exterior.
Interiormente as mudanças corporais alertam que algo está mudando. Exteriormente, a
sociedade coloca o indivíduo no lugar de idoso como, por exemplo, quando este se
aposenta, quando vivencia situações cotidianas desfavoráveis à questão etária, ou
quando, simplesmente, alguém o chama de “velho”, como apontam os seguintes
dizeres:

18
O indivíduo idoso sente-se velho por meio dos outros, sem ter
vivenciado mutações graves; interiormente, [inclusive] não adota o
rótulo que é atribuído a ele (BEAUVOIR, 1970, p. 30).

A velhice, se não ocorre precocemente, na infância, na juventude, ou na idade


adulta, será inevitavelmente a última parada antes da morte, conforme Minayo (2011), o
que mostra o velho vinculado a este mundo, mas também dependente das imposições da
cultura sobre a velhice e das determinações biológicas que o constrangem.

Para compreender a velhice, segundo Messy (1999), é preciso integrar o


indivíduo e a velhice em toda uma história de vida. O velho, comumente, é o outro em
quem não nos reconhecemos, como uma imagem “fora” do espelho, uma imagem que
nos apanha se antecipada, causando-nos, então, estranheza.

Fora do repertório social, que pode definir a entrada de alguém na velhice pelo
marco dos 60 anos ou pela aposentadoria por exemplo, é difícil definir a velhice. O
envelhecimento, por sua vez, é um processo sucessivo de perdas e aquisições ao longo
da vida; desde o nascimento, a velhice aproxima uma pessoa do temor da própria morte
(MESSY, 1999), como o evoca tão bem o fragmento a seguir:

A velhice é um irrealizável, segundo Sartre; é uma situação composta


de aspectos percebidos pelo outro e, como tal, reificados, que
transcendem nossa consciência. Nunca poderei assumir a velhice
enquanto exterioridade, nunca poderei assumi-la existencialmente, tal
como ela o é para o outro fora de mim (BOSI, 1994, p. 79).

Em uma pesquisa com idosos entre 70 e 97 anos, Kaufman (1986, apud Debert,
2004, p. 29), entendeu não ser a idade cronológica um marcador importante na vida de
seus entrevistados, mas um dos eventos presentes em sua vida familiar, valendo-se, para
tal, do emprego do termo the ageless self, caracterizando um universo em que a idade
cronológica torna-se irrelevante.

Muitos idosos não apenas lidam com as perdas (da idade e do seu aspecto jovem,
de emprego com a aposentadoria, da morte de pessoas próximas etc.), mas também
passam a ressignificar esses acontecimentos de sua vida, construindo-lhes, assim, novos
sentidos, reconfigurando-se, sucessivamente, sua identidade. Para Debert (2004), esse
trabalho é vital, pois desenvolvido ao longo dos dias do envelhecimento, demonstra a

19
resistência de um indivíduo inclusive a um conjunto de estereótipos existentes na
sociedade, volta e meia aplicados à velhice, estereótipos trabalhados também por Souza-
Guides; Lodovici (2018).

Quanto às inevitáveis mudanças corporais, mesmo com todo o avanço da


medicina e da estética, percebe-se que o envelhecimento corporal ainda é vivenciado de
três maneiras: - quanto ao corpo orgânico, que se refere a uma vida com saúde; - quanto
à aparência, em suas dimensões plásticas; - quanto à energia ou vitalidade (CARADEC,
2014).

Os avanços da medicina têm, de fato, conseguido prolongar a vida humana; no


entanto, permanecendo inalterados à época em que surgem as doenças e as
incapacidades, os anos de vida ganhos só fariam aumentar a proporção de incapacitados
e doentes. E aí surgem mais complicadores, mesmo em países industrializados: os
custos do sistema de saúde que vêm se tornando insuportáveis, na medida em que
aumentam a fração, chamada pela autora de, “muito velha” da população, ou seja, a dos
indivíduos com 80 ou mais anos, que consomem recursos desproporcionalmente
maiores, segundo Chaimowicz (1997). Entretanto, a este discurso, segundo Lodovici e
Concone (2019, no prelo), exclusivamente pautado pelo

“(...) chamado ônus demográfico (velhice), em oposição ao bônus


envelhecimento populacional (mão de obra jovem), tem-se como
consequência, uma visão de que o envelhecimento populacional é um
peso econômico, obliterando-se sua contribuição na produção e
reprodução da sociedade no passado e no presente (consumo, trabalho,
cultura, cuidado aos netos, dentre outros valores)” (FALEIROS, 2014,
p. 8). Além do que esse discurso demográfico, ao circunscrever a
aposentadoria apenas à idade cronológica, pode provocar
negativamente o imaginário do velho de que algo do desejo deve ser
abandonado/aposentado, com temor de viver na carência de objetos,
ou de laços afetivos, ou de realizações pessoais (MUCIDA, 2009).

Além disso, para Caradec (2014), o que ocorre é que os estigmas corporais são
atualmente mais vividos após os 80 anos, período considerado da “verdadeira” velhice.
Nesse período, mesmo pessoas idosas com boa saúde física e mental, relatam
“diminuição de energia vital”, conforme revelado pelos entrevistados Jean-François
Barthe, Serge Clément e Marcel Drulhe (1988, apud CARADEC, 2014).

20
Nesse sentido, é preciso pensar na unidade mente-corpo que Merleau-Ponty
apresenta, na qual é visto o corpo integrado à consciência em uma unidade profunda, e
não como uma dualidade. O corpo existe junto ao indivíduo e é fonte de comunicação e
relação com o mundo e a vida (DASCAL, 2008). Para os idosos, não se faz diferente:
todas as modificações corporais ocorridas afetam suas atitudes e com elas interagem
diretamente. Independentemente das estratégias utilizadas, o antienvelhecimento
corporal, “na linha do tempo, o passado do corpo sempre se reapresenta: é um presente
contínuo” (p. 45).

Por outro lado, a família, notando as transformações corporais de um idoso que


lhe é próximo, por vezes, sucumbe a tal fato, realizando as tarefas por ele,
desaconselhando-lhe atividades esportivas ou colocando-o em uma instituição de
repouso para pessoas idosas. Essa tomada de decisão pela família, visando a proteger o
idoso (na verdade, afirmando a incapacidade laborativa deste idoso), ao mesmo tempo,
pode também privá-lo de desempenhar atividades importantes (atribuindo-lhe
incapacidade física ou mental) a uma vida produtiva, saudável, evidenciando-se, a partir
deste episódio, que “o monstro da intolerância pode mudar de cara e estar mais perto do
que imaginávamos”, até mesmo em familiares, sem que estes se apercebam disso
(PINSKY, 2003, p. 7). Justamente porque o preconceito resulta da intolerância de um
ser humano a outro ser humano. O preconceito e a própria discriminação (discriminação
que é o preconceito em ação) ganham terreno quando falamos do velho com relação ao
jovem e do jovem com relação ao velho.

Segundo Galvão-Alves (1992), pode se encaixar o idoso em uma ou outra das


duas modalidades: a do “trambolho” e a da “relíquia”. Se pertencer a esta última
modalidade, o idoso é aquele preservado e amado por seus familiares, que estão sempre
atentos ao mínimo sinal de doença e são participantes da sua melhora. No entanto,
observa-se mais frequentemente nos prontos-socorros, o “velho trambolho”, que a
família abandona na sala de emergência e só aparece dias depois, ou não mais aparece.
Mesmo com idade avançada, esse idoso percebe a rejeição familiar e entrega-se à
doença ou à morte.

Quanto à atividade profissional e econômica, o marco da entrada na velhice -


que anteriormente se dava com a aposentadoria, ocasião em que o indivíduo parava de
trabalhar -, está sendo flexibilizado. Muitos idosos permanecem trabalhando mesmo

21
após a aposentadoria, mantendo-se até como provedores da família (BARROS, 2014).
Para o mesmo autor, em camadas economicamente mais precárias da população, este
fato se dá pela necessidade financeira, na maior parte das vezes. Já entre os aposentados
com maior escolaridade e renda, continuar trabalhando é uma tentativa de manter a
autoridade na família, a autonomia como indivíduo e a plena cidadania.

A criação da aposentadoria, para Debert (2004), acompanhou o desenvolvimento


do capitalismo e estabeleceu uma relação indissociável entre o fim do trabalho
assalariado e o último estágio da vida. Contudo, logo surgiu um mercado de previdência
e serviços especializados para aposentados, velhos-jovens, que contribuíram, ao redor
do mundo, para a invenção da “terceira idade”. Com o crescimento desse mercado foi
criada uma nova linguagem em que terceira idade substitui velhice, aposentadoria ativa
substitui aposentadoria, centro residencial substitui asilo. Assim, o período deixa de ser
um período de descanso para ser um período de lazer. Nesse contexto também surgem
os grupos de convivência e as universidades para a terceira idade.

A sociedade industrial acaba sendo, via de regra, maléfica para a velhice com
suas mudanças constantes de interesses e sua velocidade, segundo Eclea Bosi (1994). O
que o velho construiu muitas vezes não terá continuidade com seu filho; nesta situação,
o velho sente-se rejeitado, bem como suas construções de vida, tal como o afirma essa
autora: “Perdendo a força de trabalho, ele já não é produtor nem reprodutor” (p. 77).
O idoso com aquisições materiais, por sua vez, terá algum privilégio, enquanto suas
propriedades o defenderem da desvalorização de sua pessoa.

Em pesquisa com idosos de 61 a 96 anos, Pereira, Giacomin e Firmo (2015)


verificaram que a velhice é vivenciada e sentida de formas diferentes para diferentes
classes sociais. Para idosos com mais recursos financeiros, intelectuais e sociais, a
incapacidade e a velhice não são condições vividas necessariamente com sofrimento e
desesperança. Para os demais, as dificuldades diárias da velhice vêm acompanhadas
pelo conformismo, associação de velhice a perdas constantes e à morte.

A velhice não é essencialmente um conceito cronológico, para Rosenberg


(1992). Pode-se dizer que, a partir dos 60 anos, as pessoas estão mais velhas, mas há
pessoas de 80 anos que têm muita vitalidade e saúde, por vezes, mais que pessoas de 50
anos. A esse respeito, Minayo e Firmo (2018, p. 4) ratificam desta forma:
“(...)encontram-se indivíduos relativamente jovens com dependências mais comuns

22
aos mais idosos e pessoas de 80, 90, até 100 anos que permanecem saudáveis e
autônomas”. Então, o conceito físico também é discutível. O conceito da velhice muda
de acordo com uma série de condições, para Rosenberg (1992). Similarmente Minayo
(2011) complementa que a velhice não é um fator homogêneo. É diferente, se
envelhecer no campo ou na cidade, em uma família rica ou pobre, sendo mulher ou
homem. Há um grande diferencial ainda que está na subjetividade de cada um, segundo
a autora.

A concepção cultural, que vê a incapacidade funcional como fator inevitável da


velhice e responsabilidade de quem a vivencia, desresponsabiliza o Estado e a sociedade
do dever constitucional e ético de amparar pessoas idosas em situação de
vulnerabilidade (PEREIRA; GIACOMIN; FIRMO, 2015).

Da mesma forma, a depressão é, equivocadamente, considerada como parte do


envelhecimento normal; contudo, sabe-se que esta é uma doença diagnosticada
clinicamente a partir de critérios estabelecidos mundialmente (APA, 2000, apud
FERREIRA et al., 2015). De forma enviesada, o significado de velhice é comumente
atrelado à ideia de dependência e doenças.

Assim, a fim de se contrapor ao conceito de velhice como doença, fim da vida


ou solidão, foi criada a denominação da “terceira idade”. Segundo Debert (1999), essa
denominação corresponde à responsabilização do indivíduo pelo próprio cuidado e bem-
estar, justo ao ganhar independência, autonomia e capacidade de agir. A autonomia
pode ser entendida como a capacidade que cada indivíduo possui para decidir sobre algo
e seguir suas próprias regras (TAHAN; CARVALHO, 2010, apud FERREIRA et al.,
2015).

Outros autores propõem que, em novos discursos como os da “terceira idade”,


“maior idade” e “melhor idade”, busca-se mais uma vez, negar, de forma obsessiva, a
velhice e as perdas inerentes embora, por outro lado, tentam idealizá-la, aprisionando o
idoso em uma imagem pré-estabelecida (DOURADO; LEIBING, 2002; MINOIS, 1987,
apud PINHO, 2008).

Socialmente, a experiência de vida é um dos poucos pontos valorizados da


velhice; contudo, a presença do grupo social é imprescindível para o desencadear da
memória e uma interpretação do passado de quem viveu (BARROS, 2014).

23
Em pesquisa sobre mitos que envolviam a imagem do idoso, Ferreira et al.
(2015) identificaram que, dentre os mitos mais presentes, encontra-se aquele sobre a
personalidade do idoso: mitos do “espírito benevolente”, do “velhinho bonzinho” ou do
idoso mal-humorado e rabugento. Ratifique-se aqui que esses mitos precisam ser
desfeitos. E por quê? A velhice pode “servir de circunstância efetivadora para ações
sociais que possam ser colocadas em questão” (WERNECK, 2014, p. 310). Quando
este último autor discute a velhice como desculpa, ele não almeja falar do velhinho
como sofredor, digno de piedade, mas, sim, de como a velhice pode lhe dar condição
moral de algo que chama de “egoísmo competente” (p. 315), utilizando a idade
avançada, então, como desculpa. Traz, como exemplo, o idoso que fura a fila do
supermercado ou que se sente no direito de falar o que quiser. São situações em que
idosos são praticantes de ações que incomodam os outros a seu redor, mas que eles
usam de sua condição de idoso para aplacar conflitos.

Todos esses olhares abordados foram trazidos para que se possa ter uma
compreensão inicial da vivência da velhice em suas diferentes condições e influências,
sem julgamento de valor para explicitar qual a definição ou a percepção mais adequada,
uma vez que se trata de uma questão da complexidade da vida humana.

Por fim, cita-se agora Lazarus (2006, apud PINHO, 2008) com seus oito
princípios para um envelhecimento bem-sucedido, acreditando ser este conteúdo amplo
e, portanto, abrangendo a quase totalidade do assunto, sem nunca esquecer o conteúdo
íntimo e peculiar de cada envelhecimento, conforme Messy (1999). Esses oito
princípios são: 1) ter clareza sobre a realidade de sua própria condição; 2) aceitar essa
realidade e encará-la da melhor forma possível; 3) ser capaz de lidar de forma efetiva
com essa realidade; 4) ser capaz de compensar perdas e déficits; 5) engajar-se
ativamente na realização de aspirações; 6) ser seletivo e sábio nas suas escolhas; 7)
manter relacionamentos estreitos com as pessoas; 8) conservar o amor próprio apesar
das perdas e déficits. Bruno (2003) alerta, então, para um aspecto muito relevante na
vida de qualquer idoso:

A sociedade deve ser sensibilizada e alertada para ter uma conduta


junto aos idosos que respeite, sobretudo, a sua autonomia (BRUNO,
2003, p. 77).

24
A autonomia é a condição que permite que um idoso continua senhor de si, apto
para desempenhar todas as suas atividades básicas e instrumentais da vida diária; mas e
se essa autonomia começa a ser prejudicada? É quando a questão dos cuidados começa
a fazer presença obrigatória na vida de um idoso, problemática que é discutida a seguir.

2.2. Os cuidados da velhice

A velhice, como foco deste estudo, perpassa, inevitavelmente, a necessidade de


cuidados. Mesmo que o idoso não esteja totalmente dependente de um cuidador, há de
se discutirem os cuidados da velhice para compreender as relações dos que envelhecem
com o mundo que os cercam.

Por conta do envelhecimento da população idosa, esta está mais exposta às


fragilidades típicas da idade, demandando cuidados. A expectativa para os próximos
anos é que mais idosos demandarão cuidados, e por mais tempo. Em contrapartida, por
mudanças no perfil familiar da sociedade brasileira, haverá redução acentuada de
cuidadores familiares (CAMARANO, 2016). É preciso que a sociedade se prepare para
essa realidade e aprenda a cuidar de seus idosos, como sublinha a pesquisadora:

Por cuidados de longa duração entende-se todo o tipo de atenção


prestada a pessoas com doença crônica ou deficiência, que não podem
cuidar de si mesmas por longos períodos de tempo (p. 1237).

A definição dessa autora refere-se a pessoas de qualquer idade, mas abrange os


mais idosos, consistindo em apoio para suas atividades diárias como comer, tomar
banho e ir ao banheiro sozinhos.

A maior parte dos especialistas afirma que é melhor para os idosos serem
cuidados pelas famílias. Esses cuidados familiares, especialmente prestados pelas
mulheres, não incorrem em custos financeiros ou emocionais, segundo Goldani (2004,
apud CAMARANO, 2016). Esta última autora acredita que, pelo contrário, cuidar custa
tempo, dinheiro, perda de oportunidades, riscos para a saúde, isolamento social, dentre
outros fatores. Por estar dentro das casas, o cuidado familiar traz o peso de o cuidador se
tornar socialmente invisível.

25
Segundo Caldas (2004, apud PAPALÉO NETTO, KITADAI, 2015), a
urbanização e a migração modificaram a estrutura de famílias extensas para famílias
nucleares, diminuindo a disponibilidade de parentes para cuidar dos mais velhos.

A família é de vital importância, segundo Camarano e Kanso (2016), porque é


quando se definem os padrões de cuidado a seus membros dependentes. Sendo assim, o
momento do ciclo de vida familiar determina quais membros serão encarregados dos
cuidados com os demais.

Muitos idosos não têm cuidadores profissionais,11 contando apenas com o


respaldo familiar para as atividades que envolvem o cuidar. Segundo Scalco et al.
(2013), assumir, em família, o cuidado do idoso é geralmente uma experiência nova, o
primeiro contato com esse tipo de experiência. Muitos parentes assumem o cuidar como
um dever, uma retribuição ao que aqueles idosos fizeram por eles no passado; outros
assumem o cuidar por não haver outra opção, que seria outras pessoas dispostas a
fazerem isso, ou condições financeiras para contratar um cuidador profissional ou
formal.

Socialmente, acreditava-se que as mulheres adultas deveriam sempre cuidar de


seus filhos e maridos doentes, pais e sogros frágeis (MARKUARTU; ANSA, 2004,
apud CAMARANO, 2016). Entretanto, com mudanças do papel econômico e familiar
da mulher, a provisão de cuidados aos idosos vem sofrendo modificações. Já há homens
na função de cuidadores familiares.

Há idosos que vivem sós, quando não são essencialmente dependentes. Isso não
necessariamente tem conotação de solidão ou abandono para os mesmos. Assim como
morar com a família ou próximo de familiares, não necessariamente reflete maior
contato ou cuidado para o idoso (CAMARANO; KANSO, 2016).

O cuidado familiar, para Goldani (2004, apud CAMARANO, 2016), se faz


baseado em normas, obrigações e trocas entre as gerações. Faz-se importante levar
algum alívio para as famílias, já que a prestação de cuidados pode ocorrer em condições
precárias ou de conflito. Inclusive é recomendável, porque necessário se torna, que se

11
“Por ´cuidador`, em seu sentido estendido, entende-se o indivíduo responsável por prover ou coordenar
os recursos requeridos por uma pessoa doente, que necessite de cuidados em casa, no hospital ou outra
instituição. Cuidador familiar principal é aquele que, em uma família, assume, deliberadamente como
dever, ou por designação dos demais membros por delegação ou omissão, os cuidados com uma pessoa
doente em casa.” (COSTA, 2015, p. 10).

26
crie uma rede de cuidados que ligue um cuidador familiar de idoso, que necessita de
suporte emocional, a serviços de apoio e meios alternativos, tal como a instituições
dedicadas a essa tarefa, bem como a ajuda formal ou informal quanto aos cuidados, que
possam garantir qualidade de vida a esse cuidador principal de uma família (Garcia et
al., 2017).

Schoueri Junior (2015) discute as motivações dos cuidadores de idosos para o


cuidar. Antes de tudo, aponta que se trata de um ato de doação, de desprendimento. O
cuidar pode ser para o cuidador uma fonte de gratidão, pertencimento, aprendizado,
tornando este beneficiário da sua própria ação.

A Política Nacional do Idoso prevê a implantação de serviços voltados para o


cuidado domiciliar no Brasil, mas atribui à família a principal responsabilidade pelo
cuidado do idoso frágil. Para Camarano (2016), enquanto pouco é oferecido pelo setor
público, o setor privado cresce em ritmo acelerado, reforçando desigualdades já que a
condição econômica será também determinante dos cuidados recebidos na velhice.

Segundo a Constituição Federal de 1988, “a família, a sociedade e o Estado têm


o dever de amparar as pessoas idosas [...] preferencialmente em seus lares”
(CAMARANO, 2016, p. 1239).

A Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 observou que 74% das pessoas que
cuidam de idosos são familiares que residem com estes e não recebem nenhum tipo de
remuneração, provavelmente, esposas (CAMARANO, 2016).

Identificou-se, em 2013, que 27,2% dos domicílios brasileiros tinham pelo


menos uma pessoa idosa. Observa-se em pesquisas de 1993 a 2013, que os idosos do
sexo masculino exerciam papel de chefes de família, enquanto as idosas exerciam mais
o papel de cuidadoras; contudo, de forma decrescente ao longo dos anos. Ou seja, os
idosos (homens) estão cada vez menos no papel de chefes de família, enquanto as idosas
estão cada vez mais nessa posição (CAMARANO; KANSO, 2016).

Há ainda, segundo os mesmos autores, outra categoria analisada que são outros
parentes idosos que estão inseridos na família, tais como pais, avôs e sogros. Com o
envelhecimento destes outros parentes, eles são levados para o núcleo familiar.
Entretanto, nota-se decréscimo nestes números por influência de melhores condições de
renda, saúde e capacidade funcional, que os fazem menos dependentes de suas famílias.

27
Quanto às questões econômicas, o autor aponta que famílias com idosos estão
em melhores condições econômicas que as demais. A renda dos idosos pode
desempenhar papel importante na renda da família. Idosos que necessitam de cuidados
ajudam financeiramente os filhos adultos que não têm renda e estes lhes prestam algum
cuidado. Este pode ser um sistema de transferência intergeracional. Por outro lado,
quando os benefícios monetários dos idosos vão para sua família, sua disponibilidade
financeira para necessidades, como as de saúde, pode diminuir (CAMARANO, 2016).

Nesse contexto ocorrem trocas intergeracionais, nas quais idosos recebem


cuidados familiares, mas que, por sua vez, prestam ajuda na forma de bens, serviços,
dinheiro e outros, caracterizando o apoio informal entre idoso e família um intercâmbio
recíproco de gerações.12 Em 2013, 54,6% do rendimento familiar vinha de idosos, mas a
participação da renda do idoso diminui com o avanço da idade. Tendo visto todos estes
dados, a co-residência entre familiares pode ser uma estratégia de sobrevivência para
duas gerações ou mais gerações (CAMARANO; KANSO, 2016). Até mesmo propostas
de co-residência entre velhos amigos são possíveis, tal como se vê no filme “E se
fôssemos todos viver juntos?” (LODOVICI, 2018), em que se evidenciam relações
intrageracionais.13

A forma de encarar a situação de cuidar de idosos, para muitos autores, envolve


fatores diversos, sendo algo de ordem pessoal e que depende muito da vivência de cada
cuidador (SCALCO et al., 2013).

De modo geral, estados físicos, mentais e emocionais negativos associados ao


cuidado podem ocorrer por conta de vários aspectos, tais como: o choque do exercício
do cuidar com a individualidade do cuidador, que tem sua vida pessoal invadida; o
desgaste físico do cuidar, principalmente se o idoso tem doenças graves; quando
somente um familiar se responsabiliza pelo cuidado do idoso; e dependendo das

12
Caracterizam-se as relações intergeracionais, segundo Moragas (1997), como relações assimétricas
agregando pessoas nascidas em diferentes épocas e contextos históricos (os familiares, com avós, filhos,
netos), que determinam diferentes trajetórias e estilos de vida, uma primeira oportunidade para o
exercício de relações com conteúdos e atribuições também diferentes. Nas sociedades desenvolvidas, as
relações intergeracionais fora da família se apoiam nas relações sociais, como membros da diversidade de
instituições das quais o cidadão participa, trabalho, educação, política, religião e lazer, nas quais
convivem gerações de várias idades e ideologias e habitualmente são produzidos intercâmbios em
profusão (MORAGAS, 2004).
13
Relações intrageracionais são aquelas ditas por Moragas (1997), como agregando pessoas de uma
mesma geração - com menores diferenças etárias e histórico-contextuais como, por ex., entre amigos da
mesma geração, ou geração próxima, assim como entre parentes (irmãos, primos, sobrinhos de uma
mesma família) -, para os mesmos fins, geralmente baseadas no afeto e na espontaneidade.

28
próprias limitações físicas e psicológicas do cuidador (NERI, 2008, apud
PATROCINIO, 2015).

O fato de que a população do Brasil está vivendo mais já é algo discutido em


todas as esferas, científica, social e política. Contudo, com o aumento da expectativa de
vida, muitas vezes quem cuida dos idosos são outros idosos da mesma idade ou mais
jovens, o que é um fator pouco discutido na literatura.

Para Papaléo Netto e Kitadai (2015), o apoio informal ou familiar constitui um


dos aspectos mais importantes da atenção à saúde da população idosa; contudo, o
Estado também tem responsabilidades na promoção, proteção e recuperação da saúde do
idoso.

É fato que o idoso consome mais serviços de saúde e tem internações frequentes
e mais longas, como demonstrado pelos mesmos autores. Assim como são acometidos
por múltiplas doenças e crônicas, em sua maioria, exigindo acompanhamento médico e
de equipe multidisciplinar. Apesar disso, porém, o idoso não recebe via de regra
abordagem médica adequada. Na verdade, há escassez de recursos técnicos e humanos
para atender ao crescimento populacional dessa faixa etária, além da falta de
conhecimento científico e técnico também.

Além da família e do Estado, há as instituições asilares como uma possibilidade


de cuidado ao idoso fora da família. É uma modalidade de cuidado muito frequente, que
pode, entretanto, conduzir ao isolamento e à inatividade física, em decorrência dos altos
custos dos serviços de apoio adequados. Além disso, esta é uma possibilidade com custo
alto, o que faz a maioria preferir os cuidados domiciliares (PAPALÉO NETTO;
KITADAI, 2015).

Muito mais que puramente treinar para as atividades diárias, ao cuidarmos de


idosos, é preciso aprender o respeito ao outro, a ética, a coerência, conforme o conceito
de cuidado e educação de Paulo Freire (2011).

Segundo Edgar Morin (2011), são necessárias novas práticas pedagógicas para
uma educação transformadora (no conceito mais amplo), no planeta como um todo, que
esteja centrada na condição humana, no desenvolvimento da compreensão, da
sensibilidade e da ética, que privilegie a construção de um conhecimento

29
transdisciplinar, envolvendo indivíduo, sociedade e natureza. É esse conceito que deve
ser aplicado na educação sobre cuidados na velhice.

Educação que depende primordialmente das relações entre as diversas gerações


e os idosos, o que vai ser tratado na rubrica a seguir.

2.3. A interação social e o idoso

“Agora, a voz que toca o coração:


Ele se remete à razão que não é razão,
á irmã triste da razão, aquela que busca
apreender o que há de real no real, com uma paixão
que recusará toda temeridade, todo extremismo.”
(PASOLINI, 1957)14

Os versos em epígrafe introduzem aqui a direção deste capítulo15 para o que são
utilizados textos de alguns autores da área da Sociologia, que trazem suas proposições
teóricas para o entendimento no mundo real da vida cotidiana, de como se dá a
construção social da realidade, incluindo-se a questão das relações interativas entre as
pessoas, neste caso levando a pensar naquelas com os idosos, e de idoso a idoso.

As formulações sobre a vida cotidiana, de Berger e Luckman (2014), indicam


que esta é uma realidade lida ou interpretada pelos seres humanos, e por estes sentida
subjetivamente, à medida em que se forma um mundo coerente. O argumento
apresentado por eles parece, a nossos olhos, se desenvolver do seguinte modo: quando
há a disposição para se compreender a vida cotidiana, deve-se tomar a realidade como
dada, não necessitando indagar os respectivos fundamentos, como o faria um filósofo.
Contudo, é preciso considerar que a compreensão da vida cotidiana inclui, em sua
origem, o pensamento e a ação do homem comum, tomados como reais. Portanto,
segundo esses autores, para conhecer a realidade da vida cotidiana, é preciso conhecer,
nos seus próprios termos, as “objetivações dos processos e significações subjetivas
graças aos quais é construído o mundo intersubjetivo do senso comum” (p. 36).

14
Pier Paolo Pasolini (1922-1975), literato, professor, poeta maior (aqui, versos do poema As Cinzas de
Gramsci, Le ceneri di Gramsci), cineasta, e escritor italiano, de grande versatilidade cultural, única e
extraordinária, que serviu para transformá-lo numa figura controversa, com trabalhos tidos como obras de
arte segundo muitos pensadores da cultura italiana.
15
Capítulo inspirado pelos versos do “(...)real de que Gramsci foi o agente ou a testemunha...” (apud
BADIOU, Alain. Em busca do real perdido. Trad.: Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2017,
p. 40.

30
Esses dizeres significam, a nosso ver, que a abordagem dos fundamentos ⎯
ponto de partida para a análise sociológica, vale-se, para suas considerações, da análise
fenomenológica como método descritivo e empírico. Ou seja, apesar de inúmeras
interpretações que o conhecimento da realidade da vida cotidiana pode ter, para
conhecê-la através do método proposto, é preciso abordar as interpretações de senso
comum, levando-se em consideração seu caráter de suposição indubitável e utilizando-
se sempre procedimentos fenomenológicos (BERGER; LUCKMANN, 2014).

Para empreender uma reflexão que trate da interação social com e entre os
idosos, na linha seguida pelos autores, é preciso considerar que, por ser a consciência
sempre intencional como pressuposto dos autores, decorre que esta seja aplicada a tal ou
a qualquer coisa. Não importa se o objeto em foco pertence ao mundo interno, como um
sentimento, ou ao mundo externo, como a uma pessoa idosa. O que interessa aqui é
relevar o caráter intencional comum de toda a consciência. Assim é que o mundo,
consistindo de múltiplas realidades, dentre elas, uma se apresenta como a realidade por
excelência: a realidade da vida cotidiana. Experimenta-se a vida cotidiana sempre em
estado de total vigília ⎯ o estado natural. Esta realidade se apresenta sempre de forma
ordenada, previamente organizada, independentemente da apreensão que dela se obtém,
sendo a principal ordenação prévia a questão da linguagem. Nessa linha, os objetos ou
as relações humanas são sempre pré-determinados pela linguagem, cuja precedência e
alcance são pontuados pelos autores: “Desta maneira, a linguagem marca as
coordenadas de minha vida na sociedade e enche esta vida de objetos dotados de
significação.” (BERGER; LUCKMANN, 2014, p. 38).

Além da imposição da primordialidade da linguagem, ou seja, colocando a


linguagem como anterior a qualquer fronteira, os autores mostram, a seguir, que a vida
cotidiana é experenciada em diferentes graus de aproximação e distanciamento, e em
termos espaciais e temporais. O que permite uma intervenção corporal é a esfera
cotidiana mais próxima de uma pessoa, isto é, aquilo do mundo que está a seu alcance,
que ela possa modificar na realidade que a cerca, ou naquela em que trabalha. Sua
atenção a esse mundo circundante é determinada por aquilo em que ela opera
concretamente ou pretende nisso atuar. Por exemplo, é mais interessante vivenciar os
objetos de ocupação diária de uma pessoa, no seu ambiente de trabalho, do que os
objetos presentes em outros ambientes de trabalho que não são o seu, ainda que este

31
outro ambiente possa influenciar seu mundo. Pode ainda se interessar por um mundo
bastante distante dela própria, que não interfira na sua vida cotidiana, como o espaço
cósmico, mas este interesse seria ligado ao “tempo de lazer”, segundo os autores. A
realidade da vida cotidiana ainda é um mundo intersubjetivo, de que uma pessoa
participa junto a seus próximos. Não é possível existir na vida cotidiana sem estar
continuamente em interação e comunicação com os outros. Ainda que estes tenham
perspectivas do mundo diferentes, é preciso viver com eles, isto é, partilharem um
mundo comum de convivência (BERGER; LUCKMANN, 2014). Estas colocações dos
autores levam esta aluna-pesquisadora a pensar em como é fundamental saber como um
idoso convive com parentes, vizinhos, amigos, cuidadores, profissionais que dele
cuidam...; enfim, como se dá sua interação social na sociedade contemporânea.

A realidade da vida cotidiana é colocada ao ser humano tal qual se evidencia;


sabe-se que é de existência real, como apontam os mesmos autores. A vida é dividida
em setores que uma pessoa apreende rotineiramente; e outros, que são problemas desta
ou daquela espécie. A realidade cotidiana se torna, então, em sua apreensão pelo
humano, como um espaço não problemático, quando se convive com algo conhecido; e
problemático, quando surge um problema que interrompe a continuidade rotineira.
Neste último caso, é preciso que se tente integrar o problema ali emergente dentro
daquilo que já não é problemático. Há casos, contudo, em que o problema foge da
realidade da vida cotidiana, não possibilitando tal integração, por exemplo, nos sonhos e
no pensamento teórico, em que problemas podem ocorrer, porém em instâncias fora da
realidade cotidiana. São campos finitos de significação, tais como a experiência estética
e religiosa, por exemplo, no teatro, em que uma pessoa, adulto ou criança,
vivencia/representa um mundo fora da realidade cotidiana, mas estando
concomitantemente na realidade da vida cotidiana.

Os autores citados continuam sua formulação, afirmando que os campos finitos


de significação desviam a atenção, da realidade da vida contemporânea, para um campo
muito mais radical; para um contexto religioso, por exemplo, situação que pode ser
chamada de “transe”. Essa realidade outra é “traduzida” por quem a vive, interpretando-
a, muitas vezes, como a realidade suprema de uma vida diária, muito embora
inevitavelmente todos vivam, cada um, sua realidade, independentemente da realidade
outra em que muitos se aventuram (BERGER; LUCKMANN, 2014). No caso da pessoa

32
idosa, é preciso, pois, respeitar a realidade em que ele está situado, muitas vezes
diferente daquela vivenciada por um familiar, por um cuidador...

Temporalmente, a vida cotidiana também sofre influências, conforme afirmam


os mesmos autores. Para cada ser humano, há uma temporalidade interior, que é dita
pelos ritmos fisiológicos do organismo, e uma temporalidade social, estabelecida pela
sociedade, e estas duas levam-no à espera de um tempo, contínuo e finito, ao qual se
devem adequar os respectivos projetos de vida. A própria vida é um contínuo com uma
certa quantidade de tempo determinado pelo nascimento e pela morte, muito embora o
tempo já existisse (assim como a linguagem e a própria realidade), antes do nascimento
desse ser e vai continuar existindo depois de sua morte. Saber disso modifica a relação
com a própria vida, podendo gerar até mesmo a ansiedade, uma vez que, com o passar
do tempo, pode-se ficar cada vez mais difícil concretizar os projetos de vida. Saber
disso, a nosso ver, é imprescindível para se poder entender o estado psíquico ou mental
de um idoso, que ansia, muitas vezes, pela cura de uma doença que não vai ser curada,
que ansia por concretizar novos projetos de vida que não vão mais ser possíveis...

Essa estrutura temporal ainda é coercitiva, não sendo possível inverter


determinadas sequências impostas socialmente. Por exemplo, para realizar uma
graduação, é preciso, via de regra, concluir certo programa educativo. Essa mesma
estrutura temporal fornece também a historicidade da vida cotidiana, marcando com
datas momentos importantes como nascimento, formação etc., que localizam o sujeito
em uma história muito mais ampla do que simplesmente um número (BERGER;
LUCKMANN, 2014). Essas ideias dos autores nos fazem lembrar que cada idoso é um
ser biográfico, cada um com sua história de vida, sua subjetividade, seus desejos...

O relógio e a folhinha asseguram, de fato, que alguém possa se sentir um


“homem do meu tempo”, afirmam Berger e Luckmann (2014, p. 45). Só nesta estrutura
temporal é que a vida cotidiana conserva, para esse alguém, seu sinal de realidade, de
existência, seu limite, a obediência a esse real, ou realidades, que são impositivas, a
ponto de formarem uma espécie de lei, da qual seria insensato querer escapar. E cada
ser humano, segundo o que se pode depreender dessa formulação sociológica, é e tem
que ser seu modo de ser, seu modo espontâneo, ser tal qual se é. Desse modo, foi
definida, então, a realidade da vida cotidiana, no sentido proposto por Berger e
Luckmann (2014), isto é, de se perceber, pela linguagem, a árvore como “árvore”, o

33
idoso como “idoso”; a concentração estando sobre a existência, que algo seja tal ou
qual. Ou sobre a essência, o que é árvore, o que é idoso, na sua identidade e diferença,
isto é, seu modo de ser, seu modo espontâneo, isto é, ser tal qual se é. Mas quando se
liga com seres humanos, a nosso ver, leva-nos a refletir ainda: “será possível aceitar,
como uma lei da razão que o real exige em toda e qualquer circunstância uma
submissão mais do que uma invenção?” ⎯ esta é a pergunta feita por Alain Badiou
(207, p. 8), que continua: “Onde começa o pensamento? E como começar de maneira
que esse começo ajuste o pensamento a um real de verdade, um real autêntico, um real
real?”.

Após essa indagação, pensamos que a questão do real é também a de saber qual
relação a atividade humana, mental e prática, entretém com a realidade. Mais
especificamente, se esse real funciona como um imperativo de submissão ou se poderia
funcionar como uma determinação aberta à possibilidade de mudanças. Mudanças estas
do mundo, de tal modo que se apresente uma abertura, antes imprevista, através da qual
se consiga escapar de tal situação impositiva, sem, contudo, negar que haja real e que
haja imposição; é o sair da caverna, de um mundo fechado sob a figura (falsa) de um
real coercitivo. É, no caso de uma pessoa idosa, ela sair de sua solidão, de seu mundo
estigmatizado, para uma outra posição na vida, a partir da ressignificação de seu valor
como ser humano, de realizações novas em sua potencialidade de vida.

Assim, a seguir, se vai tratar do como, da relação de exposição de um ser


humano a si mesmo, e diante da sociedade que o circunda. Como dito antes, a realidade
da vida cotidiana é partilhada com outros seres humanos. Na situação presencial, o
outro é apreendido por mim, e eu sou apreendido pelo outro em um momento partilhado
por nós dois. Simultaneamente os dois expressam-se um ao outro. Nenhum outro
relacionamento pode substituir a plenitude do contato presencial, já que neste há
inúmeras formas de apreensão do outro e de sua subjetividade, tornando todas as outras
formas de relação, maneiras “remotas” de se relacionar. Daí o grande valor do olho no
olho, da presença do familiar junto ao idoso, do profissional, do cuidador, que ao idoso
precisam dar vez e voz, ter principalmente escuta a esse idoso.

O outro pode existir para mim, ainda que eu não o veja face a face; entretanto ele
só é real para mim, no sentido exato da palavra, quando o encontro pessoalmente. Nesse
sentido, o outro pode ser mais real para mim que eu próprio. Obviamente conheço-me

34
melhor do que ao outro, pois minha subjetividade e história de vida estão totalmente
acessíveis a mim, mas para este melhor autoconhecimento acontecer, necessita-se de
reflexão (BERGER; LUCKMANN, 2014).

Para os sociólogos, ainda na relação com os outros, nas situações de face a face,
nota-se que estas são altamente flexíveis, não sendo possível manter um padrão em
todas as relações, devido ao intercâmbio variado e sutil de significados subjetivos.
Nenhum padrão será capaz de substituir a subjetividade do encontro face a face,
enquanto que, num encontro não face a face, seguir um padrão pode ser muito mais
fácil.

Os autores complementam sua formulação, ao afirmarem que é possível,


contudo, que, mesmo em face a face, haja uma má interpretação das intenções alheias,
ou que as verdadeiras intenções sejam escondidas por alguém. Mesmo que seja difícil
impor padrões de relacionamento no encontro face a face, na vida cotidiana este já é, de
alguma forma, padronizado. A realidade da vida cotidiana contém esquemas
tipificadores que influenciam nossas relações, como papéis sociais que levam a uma
interação pré-determinada por princípio, sem que nos demos conta, muitas vezes, disso
(BERGER; LUCKMANN, 2014). Esses esquemas tipificadores, para estes autores, são
naturalmente recíprocos e entram em contínua “negociação” na situação face a face e se
tornam, progressivamente, anônimos, à medida que se afastam da situação face a face.
Tipificar a pessoa a leva à anonimicidade porque a inclui em um grupo. O grau de
anonimato, por sua vez, tem relação direta com o grau de interesse que se tem por
aquela pessoa. É possível estar face a face diariamente com alguém, mas esta pessoa
permanecer no anonimato por falta de interesse de quem a encontra. O grau de interesse
e o grau de intimidade se combinam para aumentar ou diminuir o anonimato de alguém.
A estrutura social é, então, a soma dessas tipificações e padrões de interação decorrentes
delas, o elemento essencial da realidade da vida cotidiana (BERGER; LUCKMANN,
2014).

Giddens e Sutton (2017) são dois outros teóricos que pensaram a questão da
interação social, e passaram a definir o conceito de socialização na área da Sociologia:

[A socialização trata de] Processos sociais pelos quais novos membros


da sociedade tomam ciência das normas e valores sociais,
contribuindo para que adquiram um senso distinto de si próprio [self].

35
Os processos de socialização são contínuos pela vida toda
(GIDDENS; SUTTON, 2017, p. 208)

A socialização transforma crianças em pessoas bem-informadas e conscientes de


si, dentro dos moldes da cultura de sua sociedade. Processo que é essencial para a
reprodução social e continuidade da sociedade ao longo do tempo. Contudo, não só as
crianças aprendem com os adultos. Adultos e idosos também aprendem com bebês e
crianças no processo de socialização, uns aprendem continuamente com os outros.

Para estes autores, a socialização se dá através de agentes como família, amigos,


escola, mídia etc. Na socialização primária, a família é fundamental. Já na socialização
secundária, a criança é socializada através de outros agentes, além da família, tais como
a escola e amigos. Nestes contextos ocorrem as interações sociais, desde a mais tenra
idade, e as pessoas vão aprendendo valores, normas e crenças que constituem os
padrões de sua cultura.

Na fase adulta, ainda segundo os mesmos autores, a socialização continua e as


pessoas seguem aprendendo a se comportar em determinados contextos, como trabalho
e política. A mídia de massa terá um papel grande nesse momento na socialização,
ajudando a formar opiniões, atitudes e comportamentos.

Todos estes agentes de socialização somados, então, formam uma complexa rede
de influências sociais opostas, e novas oportunidades de interação, fazendo com que a
socialização não seja jamais um processo determinante ou totalmente direcionado,
principalmente porque os seres humanos são capazes de fazer as próprias interpretações
de todas as influências com as quais se deparam.

Alguns autores são radicais ao considerar os indivíduos como meros


reprodutores dos papéis sociais, impostos pela socialização; porém outros, caso do
Sigmund Freud que conseguiu considerar a importância da socialização, mas ao mesmo
tempo considerar o indivíduo como sujeito ativo nesse processo e não passivo.

Para Giddens e Sutton (2017), a “socialização é quase sempre permeada por


conflitos e enorme carga emocional, ao contrário do processo harmonioso narrado em
alguns livros de sociologia” (p. 211). Para estes autores, então, a socialização é um
processo social poderoso, de grande relevância.

Já a interação é definida pelos autores como:

36
Qualquer forma de encontro social, em situações formais ou
informais, entre dois ou mais indivíduos (GIDDENS; SUTTON, 2017,
p. 232).

Para os autores, as rotinas cotidianas estruturam e formam a nossa vida, podendo


entender as interações sociais como trocas focadas ou não focadas. Erving Goffman
(apud GIDDENS; SUTTON, 2017) denomina, como troca focada, a interação ou o
“encontro” com pessoas (famílias, amigos e colegas), tendo, normalmente, como plano
de fundo, a interação não focada, com outros presentes nas cenas.

A interação social inclui inúmeras formas de comunicação não verbal. É um


intercâmbio de informações através de expressões faciais, gestos e movimentos do
corpo. Assim, acrescentamos a fala de uma pessoa, suas expressões faciais e gestos
corporais, para verificar se estão sendo sinceras, e se podemos confiar nelas
(GIDDENS; SUTTON, 2017).

Apesar disso, para os autores, grande parte da interação ocorre pela fala. A
linguagem é fundamental para a vida social. Quase sempre só conseguimos
compreender o que uma pessoa fala se compreendermos o contexto social, que não fica
explícito nas palavras.

De qualquer forma, para Giddens e Sutton (2017), o conceito de interação social


é fundamental, flexível e adaptativo. Atualmente se discute a interação social no
ciberespaço, muito diferente do mundo cotidiano do cara a cara. Portanto, este conceito
deve ser ampliado sempre. Para alguns estudiosos, a interação social virtual é percebida
pela pessoa como “não real” ou não tão real quando o encontro físico. Esse fator parece
influenciar na moralidade do mundo on-line, onde há mais discussão e expressões de
descontentamento do que nas interações cara a cara. Por este e outros fatos, estas
interações precisam ser estudadas constantemente.

Para Velho (2002), enquanto processo social básico, a interação social é por si só
complexa e problemática. A dimensão que gera a complexidade é especificamente a
diferença entre os envolvidos. Por, muitas vezes, haver interesses antagônicos nas
sociedades, entre as pessoas, o conflito se torna sempre uma possibilidade no complexo
jogo de negociação da realidade.

Sennett (2015), em seu livro Juntos: os rituais, os prazeres e a política de


cooperação, apresenta um olhar menos técnico ou teórico (como costumava usar) para
37
falar de aspectos do cotidiano com mais liberdade. Suas considerações sobre as relações
sociais demonstram que o homem constrói, e por elas é construído. Para poder
sobreviver, o bebê humano precisa do outro por muito tempo e esta necessidade de
cooperação, é algo do humano, está no DNA da espécie. O humano tem que cooperar
para viver.

Entretanto, assim como em Velho (2002), essa cooperação, segundo Sennett


(2015), por vezes, é só parcial ou conflitiva. O que ele chama de tribalismo refere essa
maneira de pensar, na qual se acredita saber como as outras pessoas são, sem ao menos
conhecê-las. Sem ter uma experiência direta com o outro, criam-se fantasias e
estereótipos em relação a uma outra pessoa. Alguns autores acreditam que a experiência
direta com os outros poderia enfraquecer tais estereótipos, contrariamente a outros, que
outros não acreditam. Dessas ideias decorre a atenção necessária ao idoso, que precisa
ser muito próxima a fim de se detectarem possíveis estereótipos que podem levá˗lo a
sofrimentos.

Lévi-Strauss (1997, apud MERCADANTE, 1997), por sua vez, ao discutir as


relações sociais, aponta para a necessidade de se buscarem as formas universais do
espírito humano, a chamada por ele de identidade universal, porém estas só serão
encontradas, para o autor, se forem conhecidas as diferenças culturais que existem nas
sociedades humanas. O ideal é que haja a coexistência entre diferentes culturas, através
da comunicação entre estas, apesar de suas manifestas diversidades.

Nessa discussão sobre a interação social, é possível inserir o idoso, que é o foco
do presente estudo. Segundo os autores acima citados, o foco nas dificuldades de
interação social, está na questão da diferença. O idoso vive diferenças óbvias em relação
a outras etapas da vida; portanto, o tribalismo pode isolá-lo e criar estereótipos em
relação a ele, que não correspondem absolutamente com a realidade e a que é necessário
desconstruir, com argumentos bem fundamentados. A principal diferença se refere às
mudanças biológicas devidas ao envelhecimento do corpo; contudo, a velhice não deve
ser compreendida como um fato unicamente biológico. Há no idoso, além de um corpo,
uma essência e uma identidade, uma construção social e cultural que está em constante
transformação como em outras etapas da vida (MERCADANTE, 1997).

O convívio com o diferente pode romper com estereótipos, apesar das


complicações dessa convivência. Contudo, de acordo com Concone (2007), a presença

38
de idosos nos espaços em geral confronta a todos com a passagem do tempo para si
próprios, obriga a todos a encararem a própria fragilidade e finitude. Este é um dos fatos
geradores do tribalismo que isola o idoso.

Na sociedade dita moderna, caminhamos da individualidade para o


individualismo, em que só se consideram os interesses próprios. Já a cooperação visa a
uma troca de diferentes formas, que levam os indivíduos a aprenderem sobre os outros,
principalmente, a compreenderem sobre si mesmos (SENNETT, 2015).

Desejamos constantemente neutralizar as diferenças, continuando com o mesmo


autor, já que estas nos angustiam. Desejamos, assim, uma falsa igualdade que
minimizaria nosso mal-estar. Contudo, isso é impossível. Não se desfazem as
características culturais, de crenças, de costumes, de um povo por completo, ou de
forma harmônica. Deixamos, então, de exercer a cooperação com aqueles que teimam
em ser os Outros.

Com o idoso, por vezes, tentamos moldá-lo dessa forma, inseri-lo no que é
esperado para os dias atuais, para o local em que ele vive atualmente, para amenizar
nossas angústias de conviver com as diferenças geracionais. Por vezes, ele pode
conseguir se adaptar para sobreviver; por vezes, a mudança não será seu desejo ou sua
necessidade.

Conforme aponta Mercadante (1997), a partir da perspectiva da Antropologia


Evolucionista, a sociedade europeia do século XIX, considerava os nativos que
encontravam em suas expedições, sociedades não evoluídas, por serem diferentes deles
em suas crenças e moral. Anulavam estes nativos, com a intenção de tornar a todos eles
como os europeus, considerados evoluídos. Ou seja, ser igual era ser evoluído.

Beauvoir (1990, p. 156) “aponta que a sociedade determina o lugar e o papel


que o idoso deve ocupar”, levando em conta sua importância e sua experiência, e este
idoso está condicionado a aceitar esse lugar. Para Mercadante (1997), o velho não é
igual em todos os lugares; o contexto social vai influenciar diretamente sua velhice.

Sennett (2015) expõe também o conceito de dialógica. Este vai dizer que as
pessoas precisam observar para poderem conversar. Estar receptivo e atento ao outro já
é uma forma de cooperar e, assim, gerar um diálogo verdadeiro. Entretanto, poucos
querem ser os ouvintes.

39
Com o envelhecimento especialmente, o que é dito pode não receber atenção de
outra pessoa. Por vezes, as considerações dos idosos passam a se desvalorizar com o
passar dos anos, já que não são mais economicamente produtivos, não estão mais no
mercado de trabalho, ou outras justificativas que as pessoas encontram para não escutar
um idoso. Contudo, o não escutar o idoso isola˗o socialmente e retira a possibilidade de
conhecimento mútuo. Como caminho, o afirmado a seguir:

A conversa dialógica, como vimos, prospera através da empatia, o


sentimento de curiosidade sobre os outros e o que são realmente. É um
sentimento mais tranquilo que as identificações, não raro instantâneas,
da simpatia, mas as recompensas da empatia não são necessariamente
frias (SENNETT, 2015, p. 36).

Sendo assim, a possibilidade de dialogar com o idoso possibilita conhecê-lo,


amenizando fantasias estereotipadas em relação a esta etapa da vida e trazendo um
convívio social de troca respeitosa. Enquanto que o tribalismo, a não possibilidade de
escuta, dentre outros fatores afastarão a todos, velhos ou não, promovendo conflito e
sofrimento.

Para Bosi (1994), aos poucos, o velho é afastado de tudo e de todos, e alguns se
resignam, crendo que este é um processo normal, em que o novo precisa de espaço.
Existem, porém, sociedades em que o velho é valorizado e possui espaço honroso em
contato com os mais jovens.

Se isolado, estigmatizado, o idoso sente-se diminuído, lutando para continuar


sendo homem. As adversidades aumentam, as ameaças também, e qualquer falha pode
ser fatal. Para se comunicarem, muitas vezes, precisam de próteses, lentes, aparelhos
acústicos. E os que não podem comprar, simplesmente não se comunicam, não podendo
ensinar o que levaram a vida inteira para aprender (BOSI, 1994).

Da mesma forma, Iacub (2012) demonstra que, quando o idoso tem


reconhecimento de seu valor e utilidade social, este ganha um melhor nível de
funcionalidade psíquica e qualidade de vida, diminuindo o risco de mortalidade,
podendo levá-lo a um envelhecimento exitoso. Muitas pesquisas apresentadas pelo autor
demonstram a influência do sentimento de utilidade e qualidade de vida.

40
O autor aponta que, além da família, as redes sociais de apoio são essenciais. Os
amigos, conhecidos, e vizinhos, por exemplo, ocupam um lugar de grande importância
no cuidado ao idoso, que antes se considerava função exclusiva da família.

Giles (2005, apud IACUB, 2012) apontou que, em seu estudo na Austrália,
idosos com amigos têm maior expectativa de vida que idosos sem amigos –
considerações essas que podem ser universalizadas certamente, e estendidas a idosos de
todos os lugares. Considerou, Giles, que os amigos reforçam a autoestima e promovem
bem-estar psicológico, pois podem contar com uma pessoa que os estimula a se
cuidarem e a melhorar sua saúde.

Muitos idosos acreditam que vivem melhor, com menos limitações, com amigos
do que com a família. Não porque tenham conflitos com esta, mas porque,
frequentemente, esta mantém em suas atitudes, sem se aperceber disso, estereótipos
sobre a velhice, limitando a vida do idoso (IACUB, 2012). Contudo, para o autor, a
integração e a participação comunitária são os fatores de maior impacto sobre a
qualidade de vida na velhice. Essa integração tem intensa relação com os processos de
empoderamento dos idosos.

Muitos grupos de idosos, com diferentes fins, têm sido criados. Muitos são
grupos reivindicatórios que lutam para garantir os direitos dos idosos. Outros se
propõem a realizar atividades culturais, sociais, desportivas e recreativas. Esta
participação torna o idoso protagonista de sua vida (IACUB, 2012).

2.4. O idoso com 80 e mais anos (o “velho-velho” ou da “quarta idade”)

A longevidade é, e foi sempre, a grande aspiração do ser humano, mas que traz
consigo inúmeros desafios. No século XX houve uma revolução de longevidade, que
tende a permanecer por muitas décadas, com consequências como o aumento das
demandas sanitárias, sociais e econômicas. Para tanto, precisa-se de profundas
transformações, a fim de melhorar a qualidade de vida dos idosos e, em última análise,
promover o envelhecimento ativo (KITADAI; PAPALÉO NETTO, 2015)

“Longevidade”, do latim longaevus, significa viver muito tempo. Em


termos biológicos, a definição de longevidade aplica-se ao período de

41
vida do organismo entre seu nascimento e sua morte (KITADAI;
PAPALÉO NETTO, 2015, p. 1).

Muitos autores discutem a diferença entre longevidade e envelhecimento. Para


muitos, são processos completamente diferentes. Enquanto a longevidade é determinada
pelo genoma, o envelhecimento é direcionado pelo acaso. Apesar de existirem ainda
muitas incertezas em relação à longevidade, assim como em relação à vida humana
como um todo, a maior parte dos estudos concordam que a longevidade responde a um
programa genético, mesmo que sofra alguns efeitos ambientais (KITADAI; PAPALÉO
NETTO, 2015).

Com a longevidade, seguindo com estes autores, surge o processo de


envelhecimento populacional, que revela a existência de desafios médicos,
sociais̎̏ emocionais, psicológicos, filosóficos, bioéticos e espirituais. Quanto mais
longevo for o ser humano, maior será a probabilidade de adquirir doenças que
comprometem sua independência e autonomia, com sofrimento físico, mental, social e
emocional, pois ele continuará envelhecendo, adoecendo e, por fim, cumprindo seu
destino, o de morrer. Não existe equidade, por conseguinte, entre a longevidade e a
qualidade de vida.

A população com 80 ou mais anos é a que, proporcionalmente, tem crescido


mais acentuadamente, acarretando alterações na composição desse grupo etário
tornando-o mais heterogêneo. Ou seja, o grupo de “velhos” não pode ser visto como
uma categoria homogênea, pois se assim fosse, perderia a complexidade desse grupo e a
substituiria por estereótipos. Na descrição de idosos com 80 ou mais anos, algumas
expressões são utilizadas, como as de quarta idade, velhice avançada, idoso muito
idoso, grande idoso, “velhos˗velhos”, dentre outras. Via de regra, é o grupo com
limitação funcional irreversível associada à idade avançada (PAPALÉO NETTO;
KITADAI, 2015).

Para alguns autores, não se deve fazer uma marcação cronológica, como a da
quarta idade, pois a idade avançada nem sempre significa limitação funcional, segundo
Papaléo Netto e Kitadai (2015). Contudo, é inegável que há condições qualitativamente
distintas de outras fases, na quarta idade, como maior necessidade de suporte ambiental,
social e econômico, e de assistência à saúde:

42
Adolphine está com 86 anos quando começo a atendê-la uma
vez por semana no Centro de atendimento diurno em que
trabalho. Uma arterite dos membros inferiores, que prejudica
seus deslocamentos, e um tremor cerebelar a fazem caminhar
como uma velhinha frágil. Essa visão que proporciona aos
outros é para si intolerável. De coração e de cabeça jovem, diz
ela, é só corpo que está envelhecendo (MESSY, 1999, p.69).

A passagem do tempo acarreta desgaste e enfraquecimento, afirma Beauvoir


(1990). Enquanto o velho permanecer sendo eficaz ele estará integrado à coletividade
sem se distinguir dela, quando perde sua produtividade, se torna uma carga.

Esse aumento da longevidade, apesar de tão esperado pela humanidade, não vem
acompanhado de boa qualidade de vida que garanta uma velhice saudável.

Não aceita de modo algum que se aponte sua imagem de


fraqueza, praguejando contra os médicos que lhe receitam
“montes de remédios”, quando não se sente doente. Às vezes
deve engolir até dezessete pílulas e comprimidos antes da
refeição: “Depois disso perco a fome!” (MESSY, 1999, p.69).

O aumento do número de idosos terá como consequência um índice de


dependência mais elevado. O impacto financeiro da dependência da faixa etária dos
idosos é muito maior que o das crianças, e será muito maior com o passar dos anos
(PAPALÉO NETTO; KITADAI, 2015).

A família, o espaço aonde vivem a maior parte dos idosos recebendo amor e
carinho, muitas vezes, percebem o idoso como um incômodo. Frequentemente, este é
alvo perdedor de espaços na casa e de negligências quanto a suas necessidades de
alimentação, segurança e participação (MINAYO, 2011).

Com as mudanças sociais muitos idosos abrigam seus filhos em suas moradias,
porém nem sempre podem contar com a ajuda destes, pois todos ainda precisam atuar
no mercado de trabalho (PAPALÉO NETTO; KITADAI, 2015).

As mulheres idosas, particularmente as que já entraram na quarta idade, estão


mais frágeis e mais sujeitas à institucionalização, por conta de aspectos sociais, como
viuvez, renda reduzida, maior pobreza e longos períodos com doenças crônicas.

43
Somados estes dados à solidão, estas idosas terão mais chances de terem depressão
(PAPALÉO NETTO; KITADAI, 2015).

Mulher habituada ao comando, não pode acostumar-se à ideia de


não ser senhora de sua vida. Protege-se disso rejeitando tudo o
que possa defrontá-la com essa realidade. Não se reconhece
mais no espelho: “esta velha não pode ser eu” (MESSY, 1999,
p.69)

Na velhice, para Bosi (1994), devemos estar conectados com causas que dão
significado a nosso cotidiano; porém, se ao se aposentar do trabalho, se desespera pela
falta de sentido da vida, para Beauvoir (1970), ele esteve a vida toda sem encontrar esse
sentido.

A velhice, etapa desejada e temida, não foi pensada pelo mundo do


trabalho, a não ser pela aposentadoria como um processo de
desengajamento (PACHECO, apud PAPALÉO NETTO, KITADAI,
2015, p. 19).

A aposentadoria, vendida, muitas vezes, como um momento de descontração e


reconhecimento, é vivida por muitos com sofrimento pelas perdas de status social e
financeiro.

Há um número elevado de depressões que se seguem à aposentadoria, indicando


um processo de luto nesse momento. É um descanso merecido e concedido através do
financiamento da nação, porém que não é lembrado ou valorizado por esta, como
descreve Messy (1999).

Os sobreviventes, muito felizes, vão nos convencer de que há,


de fato, erros a respeito da pessoa idosa, em que, aliás, não se
reconhecem. Irão recair a designação sobre a geração
precedente, a da quarta idade, que canta a ária da dependência,
sob os auspícios da demência (MESSY, 1999, p.24).

Sobre a relação intergeracional, nem sempre há conflitos entre as gerações e nem


sempre o idoso é a vítima, como se pensa, normalmente. Mesmo que a sociedade possa
ser hostil com os idosos, estes podem ter uma parcela de culpa nos possíveis conflitos
de gerações (PAPALÉO NETTO; KITADAI, 2015). Muitos idosos têm dificuldades de

44
adaptação ao meio em que vive e muitos idosos rejeitam o próprio envelhecimento, o
que pode levá-los a conflitos com os mais jovens.

Por um lado, há um culto excessivo à juventude, por parte da sociedade e, por


outro, há rejeição aos novos tempos por alguns idosos, o que traz dificuldades nas
relações. Até mesmo dentro da família pode haver conflitos e desagregação (PAPALÉO
NETTO; KITADAI, 2015). Há necessidade de transformar o conflito em solidariedade,
com igualdade de direitos e respeito às diferenças. Essa transformação favoreceria
pessoas de todas as idades (PAPALÉO NETTO; KITADAI, 2015).

Viver por longo tempo sem companhia predispõe o idoso ao


isolamento, predispondo-o ainda a doenças físicas e mentais (VERAS,
2007, apud PAPALÉO NETTO, KITADAI, 2015, p. 20).

Justifica-se a escolha de pesquisar especificamente a população com 80 e mais


anos, não só porque esta é a parcela da população idosa que mais cresce, mas é a que
começa a sofrer invariavelmente mais limitações, baixando sua qualidade de vida, e
ainda ficando mais afetada que os velhos-novos, pelas mudanças sociais descritas
anteriormente.

Apesar de um idoso com menos idade cronológica poder ter limitações e


dificuldades, tais como um idoso com mais de 80 anos, a parcela da população em que
mais se observa estas dificuldades, é a dos idosos longevos, ou dos chamados “velhos-
velhos”, como atestaram os autores citados acima.

Obviamente que, por outro lado, alguns idosos com mais de 80 anos, podem não
vivenciar tais dificuldades por uma série de fatores em suas vidas e por conta da
particularidade de cada velhice. Como descrito por Messy (1999), “a quebra do
espelho”, simbologia para a entrada na velhice, é algo íntimo, particular e não
cronológico, nem definido socialmente.

Então, as limitações e dificuldades frequentes nesta faixa etária, somadas às


mudanças sociais, afetam, de algum modo, suas interações sociais. E é inegável que a
interação social é necessária para o sujeito permanecer existindo na vida cotidiana.

Partindo dos pressupostos teóricos acima colocados, explicitamos a seguir a


metodologia aplicada neste estudo, no sentido de gerar uma discussão crítica sobre o
tema da interação social do idoso de 80 ou mais anos.

45
3. Metodologia

O método de pesquisa é a pesquisa bibliográfica. Segundo Severino (2007), esta


é a pesquisa que se faz a partir dos estudos disponíveis sobre o tema que, na presente
dissertação é a “interação social do idoso com 80 e mais anos de idade”, decorrentes de
pesquisas anteriores, em documentos como livros, teses, artigos etc.

Marconi e Lakatos, já em 1991, explicitavam que a pesquisa bibliográfica deve


ser feita através do levantamento de toda a bibliografia publicada sobre o assunto (seja
em forma de livros, revistas, publicações avulsas, artigos científicos, dissertações e teses
de pesquisa, além da imprensa escrita). Dessa coleta extensa de dados é que pode fazer
com que um pesquisador entre em contato com todo o material desenvolvido sobre um
determinado assunto, auxiliando-o na análise crítica de suas pesquisas ou na
manipulação de tais informações.

Os critérios de inclusão para a participação de publicações nesta dissertação foi a


de elas tratarem da questão dos idosos em sua interação social, independentemente do
local de moradia do idoso (instituição de longa permanência, centro de convivência,
família etc.), e de pesquisarem idosos longevos ou “velhos-velhos” unicamente ou, ao
menos, incluindo essa parcela da população.

Através das contribuições dos outros autores sobre o tema, publicadas nos
últimos 10 anos, de 2008 a 2018, foi possível fazer uma análise com enfoque
qualitativo. As publicações encontradas foram analisadas, inicialmente, a partir da
leitura dos títulos e resumos, desde que nestes houvesse conteúdos que obedecessem aos
critérios de inclusão da presente pesquisa, sendo que o material publicado foi lido na
íntegra.

4. Resultados da Revisão Bibliográfica

Os descritores utilizados para a busca de publicações foram “idosos”, “idosos


em idade avançada”, “velho-velho”, “idosos longevos” e “interação social”, com a
restrição da data de 2008 em diante.

46
A busca foi feita nas bases de dados Portal de Periódicos Capes, do Ministério
da Educação, e Scielo (Scientific Electronic Library Online).

Foram selecionadas 20 publicações, sendo uma tese de Doutorado e as outras em


formato de artigo científico. Muitas outras publicações foram excluídas pois não
incluíam o idoso longevo ou não tratavam de forma especificamente sobre a interação
social, apesar do descritor. Estas 20 publicações se encontram disponíveis na Tabela
2Tabela 2: Listagem das publicações selecionadas para a revisão bibliográfica a partir dos critérios de
inclusão e exclusão

Publicação Título Autores Ano


Tese de Relação da rede de apoio social e a
1 Doutorado qualidade de vida em idosos longevos CAUDURO 2013
Artigo A rede social e os tipos de apoio recebidos
2 RODRIGUES & SILVA 2013
científico por idosos institucionalizados
Aspectos psicossociais da convivência de
Artigo
idosas com animais de estimação: uma
científico
3 interação social alternativa COSTA et al. 2009
Qualidade de vida e independência
Artigo
funcional de idosos frequentadores do clube LIMA; ARAÚJO;
científico
4 do idoso do município de Sorocaba SCATTOLIN 2016
Contribuições da socialização e das políticas
Artigo públicas para a promoção do
científico envelhecimento saudável: uma revisão de
5 literatura PEREIRA et al. 2016
Sistematização da assistência de
Artigo
6 enfermagem ao idoso institucionalizado CLARES; FREITAS;
científico
fundamentada em Virginia Henderson PAULINO 2013
Artigo Déficits de autocuidado de idosas
FROTA et al.
7 científico institucionalizadas 2012
Percepção dos idosos jovens e longevos
Artigo
gaúchos quanto aos espaços públicos em que
científico
8 vivem NAVARRO et al. 2015
Artigo A saúde fonoaudiológica a partir do discurso
9 científico do idoso institucionalizado. SOUZA & MASSI 2015
Artigo Percepção da saúde e dor em idosos em
10 VILELA et al.
científico unidades de saúde. 2017
Artigo Idosos praticantes de atividade física em
11 científico projetos sociais e a satisfação com a vida SILVA et al. 2012
Artigo (Re)significando a solidariedade na velhice:
12 científico para além de laços consanguíneos D'ALENCAR 2012
Artigo Apoio social e o cuidado integral à saúde do
GUEDES et al.
13 científico idoso 2017
Estudo comparativo da qualidade de vida de
Artigo
14 idosos asilados e frequentadores do centro-
científico
dia SIMEÃO et al. 2018
Artigo Fatores que influenciam a qualidade de vida
PEREIRA & SOARES
15 científico do cuidador familiar do idoso com demência 2015
Artigo Narrativas do envelhecimento: ser velho na
16 científico sociedade contemporânea ABOIM 2014
Artigo Dia dos avós: atividades socioeducativas e
17 científico intergeracionais bem-sucedidas FRATEZI et al. 2015
Artigo Dinâmica das relações familiares
18
científico intergeracionais na ótica de idosos SILVA et al. 2015

47
residentes no Município de Jequié (Bahia)

Artigo “Velhice? Acho ótima, considerando a


19 Lima, Viana e Lazzarini 2011
científico alternativa”: reflexões sobre velhice e humor
Perfil do idoso dependente de cuidado
Artigo Delduca, Martinez e
20 domiciliar em comunidades de baixo nível 2012
científico Bastos
socioeconômico de Porto Alegre

5. Discussão dos dados

5.1.A interação social na família

Com a chegada da velhice muitos desafios aparecem. Na velhice avançada,


muitos mais. A interação social e a família serão, então, alguns destes desafios. Morar
sozinho, morar com filhos, morar em uma instituição. Pedir suporte financeiro ou
emocional, ou não pedir. Relacionar-se ou evitar manter relações. São todas questões
que podem surgir nesta fase de vida:

Em muitos casos, a velhice enreda os que a ela chegam nas tramas de


uma solidão indesejada que, em larga medida e para a maioria,
contrasta com os anos produtivos do curso de vida e assim impõe
novos desafios à pessoa idosa (ABOIM, 2014, p. 223).

D’Alencar (2012), em seu artigo, faz uma problematização interessante sobre o


conceito de família antes de qualquer discussão. Para alguns autores, a família define
um grupo de pessoas com laços consanguíneos. Para Velho (1999, apud D’Alencar,
2012), a problemática do parentesco tende a ser reduzida a uma linguagem
psicologizante, com foco na família nuclear tomada como fato universal e natural.

Não se pode negar, segundo a mesma autora, que há novos modelos na família
contemporânea, que passou da família patriarcal para o modelo nuclear, homoafetiva,
monoafetiva, dentre outros. Essas mudanças têm impactado idosos que se permitem ou
presenciam uniões não necessariamente legais, divórcios, (re)casamentos, relações com
pessoas do mesmo sexo etc. Ou seja, as mudanças sociais familiares também atingem o
idoso.

48
Para Silva et al. (2015), apesar das mudanças sociais, ainda hoje, a família é o
suporte mais comum dos cuidados de saúde aos idosos, tendo que se adaptar e aprender
na prática como atender à necessidade do idoso fragilizado. Esse cuidado, cotidiano
oferecido pela família, é, porém, carregado de emoção ou sentimentos outros que devem
também ser observados pelos serviços de saúde. A família deve receber atenção dos
profissionais, tal qual seus idosos.

É no grupo familiar que as relações se estabelecem primordialmente,


permitindo que os idosos se sintam valorizados. Independente da
idade todos nós temos necessidades afetivas. O afeto e o
estabelecimento de vínculos afetivos surgem quando as relações
possibilitam uma proximidade mais íntima, uma maior afinidade
(SILVA et al., 2015, p. 2186).

Através das publicações encontradas, notou-se que pouco se sabe sobre a


interação social que ocorre entre idosos com mais de 80 anos e suas famílias. Muitos
estudos que abordam o tema tratam de idosos mais jovens que 80 anos de idade, o que
faz muita diferença já que são idosos, na maior parte das vezes, com autonomia, sem
grandes limitações.

Dos estudos que abordam especificamente o tema interação social do idoso


longevo, a maioria tratou a interação social como apoio social, o que se mostra muito
benéfico aos idosos. Este apoio social apresentado nas publicações aparece como
cuidados nas atividades da vida diária, principalmente em idosos dependentes, e em
suporte financeiro.

O cuidado aparece quando, com o envelhecimento dos pais ocorre a inversão de


papéis. Nesta inversão, filhos passam a cuidar de quem lhes cuidou, exigindo uma
reestruturação da família em níveis concretos e psicológicos e, então, a qualidade da
relação familiar será a qualidade do cuidado recebido pelo idoso (SILVA et al., 2015).

Algumas hipóteses para justificar o pouco número de pesquisas neste contexto:


desinteresse dos pesquisadores, dificuldade de acessar este público por conta das
limitações quase sempre presentes, dificuldade das famílias em falar sobre o tema e, por
fim, dificuldade de interação social das famílias com seus idosos longevos. Sobre as
duas últimas hipóteses, as publicações encontradas poderão ilustrar melhor.

49
Em sua tese de doutorado, Cauduro (2013) relatou uma dessas dificuldades
encontradas para realizar sua coleta de dados com idosos com mais de 90 anos. No
momento da coleta, os participantes tinham liberdade de estarem acompanhados ou não.
A autora verificou que, algumas vezes, o acompanhante (na maioria das vezes um
familiar) demonstrava excessiva proteção ao idoso, talvez na tentativa de anular
qualquer decisão sua. Nestes casos, era necessária a intervenção do coordenador da
pesquisa, a fim de valorizar as respostas do idoso entrevistado.

Tal comportamento familiar de realizar a atividade pelo idoso, ou desencorajá-lo


a realizar uma atividade, já citado por Caradec (2014), pode proteger o idoso, mas, ao
mesmo tempo, privá-lo de muitas coisas. Neste caso, demonstrou também a dificuldade
de acessar, conhecer, essa parcela da população pela dificuldade da família em expor a
situação do idoso, mesmo em um contexto protegido e que visava desenvolvimento
científico.

Camarano (2016) aponta que, por estar dentro das casas, o cuidado familiar se
torna socialmente invisível, podendo esconder problemas e desgastes desta família, mas
podendo também esconder o idoso, torná-lo também invisível socialmente.Da mesma
forma explicita Bosi (1994), quando, utilizando-se de aparentes boas intenções, os
velhos são via de regra convencidos a deixarem seus lugares, cederem seu espaço para
os mais jovens. Dentro das famílias, os velhos são remanejados, privados de escolhas,
com a constante justificativa: “é para seu próprio bem”. Mesmo a atitude de não discutir
com o velho, de não entrar em confronto com ele, nega˗se a ele a possibilidade de
crescimento, tornando esse fato uma discriminação etária.

Em outro estudo encontrado, foi possível perceber a dificuldade na relação


familiar que inclui o idoso. Rodrigues e Silva (2013), em tal estudo sobre redes de apoio
social com idosos institucionalizados, identificaram que a maior parte dos idosos da
instituição de longa permanência pesquisada tinham familiares com quem poderiam
conviver ou coabitar, mas que isso não ocorria. A maioria deles recebia mais apoio
social de amigos do que de parentes. A média de idade dos idosos participantes deste
estudo foi de 74 anos e incluía idosos sem nenhum grau de dependência. Acredita-se
que, se fossem ainda mais velhos ou dependentes, a interação familiar poderia ser ainda
menos frequente.

50
Percebe-se neste estudo então, uma outra dinâmica familiar que mantém o idoso
isolado do seu núcleo, também tirando-lhe sua voz ou participação social, seja por
desejo próprio, seja pelo desejo da família ou pela qualidade do vínculo formado entre
eles ao longo da vida.Em sua pesquisa, Aboim (2014) identificou que, para os idosos, a
institucionalização é sinônimo de solidão associada à perda de autonomia e atividade:

A ideia de uma espera acompanhada, mas ainda assim solitária –


porque povoada de estranhos – da morte que virá mais dia, menos dia,
apanhando nas suas teias aqueles que a família, a doença e as
condições sociais afastaram de uma cidadania plena (ABOIM, 2014,
p. 223).

Não há um julgamento sobre a postura das famílias ou dos próprios idosos nesta
interação ou falta de interação, pois a interação é sempre algo muito singular. Não cabe
eleger um culpado, uma vez que as pessoas não são homogêneas assim como a velhice
não é homogênea, conforme apontou Minayo (2011). Ou seja, cada história será sempre
única.

Além disso, conforme denotaram Camarano e Kanso (2016), morar com a


família ou próximo de familiares, não necessariamente reflete maior contato ou cuidado
para o idoso.

Contudo, a partir deste dado, pode-se refletir sobre a vivência da velhice e suas
dificuldades. É inegável que esta traz mudanças e, assim, produz novas formas de
interação social, até mesmo com a própria família. Por vezes, o próprio idoso se afasta
ou se isola da família por dificuldade em aceitar a própria velhice, o que Aboim (2014)
chamou de autodiscriminação – “sou velho, portanto, sou menos pessoa” -, ou por se
sentir lesado nesse contexto. Por vezes, a família afasta o idoso ou o anula,
desconsiderando o sujeito que está ali, podendo fazer isto pela dificuldade em aceitar a
velhice ou porque os vínculos familiares nunca foram bons.

O trabalho de Rodrigues e Silva (2013) aponta

A família que deveria proporcionar proteção e amparo ao idoso acaba


por abandoná-lo ao institucionalizá-lo [...] A maioria dos idosos
participantes da pesquisa [...] teria condições físicas de permanecer no
lar sem qualquer tipo de ajuda para realizar as atividades de vida
diária (p. 167).

51
Nesse sentido, Ecléa Bosi (1994) defende a importância da participação do velho
nas famílias, na socialização das crianças e na formação de memória:

(...)Os velhos, postos à margem da ação, rememoram, fatigados da


atividade. O que foi sua vida senão um constante preparo e treino de
quem irá substituí-los? Os jovens, formados e alimentados pelo
cuidado de seus doadores, logo se fortalecem e se tornam aptos para
desempenhar tarefa igual ou superior à de seus mestres (BOSI, 1994,
p. 76).

Para alguns aprendizes, há a gratidão pelos velhos, após tê-los superado; outros
dão-lhes as costas quando a fonte se esgotou, enquanto se espera que o velho tenha
infinita tolerância, capacidade de perdoar e seja abnegado à família. Qualquer erro ou
fraqueza já cria dificuldades e se inicia o afastamento desse velho (BOSI, 1994).

Discursos sobre solidão, ausência de apoio, medo de abandono, à medida que a


autonomia diminui, foram comuns nos idosos pesquisados por Aboim (2014); portanto
a interação social e o apoio social deveriam ser alvo de preocupação e valorização,
como aponta Bosi (1994).

Por outro lado, Rodrigues e Silva (2013) dizem que

A forma como o idoso se relaciona afetiva e socialmente com seu


grupo familiar ao longo de sua história de vida pode determinar o
quanto ele será querido, estimado e amparado na velhice (p. 167).

Enquanto Bosi (1994) tem uma percepção do idoso sendo prejudicado, muitas
vezes, por sua família, destituindo o idoso de seus desejos e crenças e o punindo com o
afastamento; a pesquisa de Rodrigues e Silva (2013) demonstra que o laço afetivo
criado entre os familiares, que determinará a interação na velhice, teve fundamental
participação do idoso. As duas visões são reais e necessárias, pois, como definido por
Berger e Luckmann (2014) há muita subjetividade envolvida em qualquer interação, o
que tornam as coisas muito mais complexas e profundas do que podemos descrever.

Em estudo com 60 longevos (90 anos ou mais), Cauduro (2013) identificou que
as mulheres têm mais contatos sociais; contudo, o número de contatos é menos
relevante do que a qualidade destes. Se estes contatos não fornecerem apoio social, o
idoso pode ter sua qualidade de vida diminuída. Mesmo que a rede social de apoio

52
diminua ao final da vida, não, necessariamente, o idoso estará insatisfeito, bastando esta
continuar sendo suportável

A autora identificou também que mulheres precisam mais de apoio material


(pensando que as idosas longevas de hoje são de uma geração em que a mulher não
tinha renda própria, em sua maioria), enquanto os homens precisam mais de apoio
afetivo e informação. A renda também influencia no suporte social recebido. Quanto
maior a renda, mais este idoso terá segurança, proteção, recursos, cuidados de saúde e
sociais.

No artigo de Aboim (2014), realizado em Portugal, ela descreve que, em locais


menores, cidades rurais, a vizinhança tem grande importância na interação social, sendo
os vizinhos os principais contatos dos idosos longevos estudados. Já em cidades
maiores, mais urbanas, a família e instituições acabam sendo as principais formas de
interação.

Neste âmbito familiar, um elemento tem sido frequente como parte da família, o
animal doméstico ou de estimação. Independentemente de, se idosos ou não, boa parte
das famílias adotam um animal para fazer parte da sua constituição. Costa et al. (2009)
pesquisaram sobre a convivência de idosas com animais de estimação, chamando esta
de interação social alternativa.

Com as perdas frequentes na velhice, perde-se a intimidade com companhias


humanas, cônjuges e amigos, além do distanciamento dos filhos e colegas de trabalho
pelos motivos já sabidos. Assim, o animal de estimação se torna uma forma de interação
social e passa a ser considerado pela família. Na luta silenciosa para superar a solidão,
os animais proporcionam significativa melhora na qualidade de vida de um idoso,
aumentando sua felicidade, diminuindo-lhe a solidão e melhorando as funções físicas e
a saúde emocional.

A interação social é um intercâmbio de informações através de expressões


faciais, gestos e movimentos do corpo, para Giddens e Sutton (2017). Obviamente os
animais têm estas expressões e movimentações próprias a sua espécie; entretanto, é
inegável a ocorrência de alguma interação entre animais e humanos, a que Costa et al.
(2009) chamaram de interação alternativa, mas também é sabido que os animais podem
ser intermediadores de interações sociais que os humanos, ou idosos aqui em questão,
venham a desenvolver. Interações estas que podem surgir pela demanda de cuidado

53
desse animal (levar para passear, levar para o veterinário, levar para tomar banho no pet
shop), assim como poderem ser intermediadores para trazer novidades, acontecimentos
e assuntos a este idoso.

Apesar destes benefícios apresentados por alguns autores, as autoras fazem a


seguinte reflexão:

Guardadas as devidas proporções, a interação com outras espécies


surge para dar conta de uma demanda de apoio social que o homem
não consegue controlar. Significa dar vazão à necessidade do homem,
como ser social, de coexistir em meio a outras vidas e fazer parte ativa
delas, mesmo que sejam vidas não humanas. É uma busca pelo
equilíbrio mental, uma luta silenciosa para sobreviver à angústia da
solidão (COSTA et al., 2009, p. 13).

Por fim, a principal forma de interação da família com o idoso é através do


cuidado, o que já foi mencionado acima, discutindo os dizeres de Camarano (2016) e
Papaléo Netto e Kitadai (2015). Mas vale ressaltar características específicas envolvidas
nesta situação baseada no cuidar.Com as diversas mudanças na constituição familiar, o
cuidar vem mudando de mãos. Há algum tempo esse papel era essencialmente feminino,
já que as mulheres, na maior parte das vezes, não trabalhavam fora, não eram as
provedoras de sua casa e haviam sido como que destinadas a esse papel. Atualmente,
homens assumem cuidados de idosos já que muitas mulheres são provedoras de suas
famílias, dentre outros fatores que geraram esta modificação. Conforme apontaram
Pereira e Soares (2015), a maioria dos cuidadores continuam sendo do sexo feminino,
cônjuges e filhas; porém, percebe-se uma crescente participação dos homens nesse
papel.

Apesar de Camarano (2016) apontar que, com as mudanças do perfil familiar,


haverá uma redução acentuada de cuidadores familiares, Ferrigno (2015) demonstra que
ainda cerca de 90% dos idosos dependentes no mundo são cuidados por suas famílias.
Alerta que muitas vezes esses cuidados são feitos por jovens e até crianças, que sofrem
com a sobrecarga de tarefas e o estresse psicológico de cuidar de um idoso dependente.

Para o autor, o que mais importa é a qualidade da relação entre jovens e


idosos/avós ou bisavós. Se esta relação for benéfica para todos os envolvidos, está tudo

54
bem; porém, se houver sobrecarga, constrangimento e até opressão sobre o jovem
cuidador e sobre o idoso, esta relação necessita ser modificada.

O cuidar gera desgaste, custos, perdas de oportunidades para o cuidador, mas,


por outro lado, pode lhe trazer a sensação de estar retribuindo algo, também o prazer em
ser útil e fazer o bem ao próximo. Como apontado por Scalco et al. (2013) muitos
familiares assumem o cuidar como um dever em retribuição ao que aqueles idosos
fizeram por eles no passado, porém, para outros, é simplesmente por falta de opção.

Enquanto ocorre o cuidar, há uma interação acontecendo; contudo, esta pode ser
positiva ou negativa. Nesta interação pode estar ocorrendo apoio social ou não.

Apesar de terem sido encontrados poucos estudos que abordassem este assunto
em idosos longevos, muitos (com idosos no geral) descrevem o desgaste do cuidador e
as possibilidades de este desenvolver problemas de saúde pela sobrecarga do papel.
Portanto, há a possibilidade de esta interação, que muitas vezes é a única para o idoso,
perder a qualidade pelo desgaste do cuidador.

Por estes fatores, Pereira e Soares (2015) alertam para a necessidade de se


pensar sobre o assunto, implantando políticas e programas públicos de suporte social às
famílias. Da mesma forma que Del Duca, Martinez e Bastos (2012), que evidenciaram a
necessidade de ações em saúde pública com vistas a qualificar os cuidadores, na
maioria, familiares sem grandes informações sobre o cuidado cotidiano do idoso. Como
visto anteriormente, famílias superprotegem com a intenção de cuidar, enquanto, se bem
orientadas, poderiam cuidar com maior respeito e estímulo a autonomia.

Guedes et al. (2017) publicaram um artigo intitulado Apoio social e o cuidado


integral, no qual os autores elencam diversos estudos que discutem a questão do apoio
social como parte da atenção integral à saúde do idoso. Neste artigo muitos autores são
abordados para demonstrar a importância do apoio social prestado ao idoso pela sua
família, amigos, vizinhos, profissionais da saúde e comunidade de forma geral,
incluindo os próprios idosos.

Nas propostas de atenção integral à saúde, os autores defendem que o apoio


social deve estar presente, não mais somente a atenção à doença. As redes microssociais
podem multiplicar seus benefícios, proporcionando maior interação, reduzindo os

55
efeitos danosos de problemas físicos, emocionais ou sociais e favorecendo o bem-estar
de todos.

Por rede microssocial os autores entendem pessoas próximas com contato de


uma vez por semana a uma vez no mês, mas que auxiliam em alguma necessidade do
idoso, ou ainda, profissionais da saúde, que poderão fornecer apoio social formal, ou,
por fim, amigos, parentes, vizinhos que tratarão do apoio informal.

O bem-estar do idoso é o fator que vai avaliar se aquela rede microssocial está
sendo benéfica ou não, já que a qualidade do relacionamento com as pessoas envolvidas
nessa rede, a confiança e a reciprocidade serão essenciais nesse momento. Quando não
existem esses sentimentos, a interação social se desequilibra, os laços são
enfraquecidos, formando um ciclo prejudicial para vida das pessoas em idade avançada:

Uma boa rede de apoio social auxilia os idosos a viverem bem esta
etapa da vida, minimizando os estresses decorrentes do
envelhecimento. Para possuir uma boa rede de apoio social, é
necessário conquistá-la e mantê-la, e as habilidades sociais possuem
uma função importante neste processo. É um processo longo e bem
trabalhoso, pois não se conquistam verdadeiros amigos de uma hora
para outra (RODRIGUES; SILVA, 2013, p.169).

Sobre a interação social do idoso com a sua família é possível dizer, através dos
autores abordados, que esta interação é permeada pelo medo da solidão, necessidades de
cuidado, reconhecimento e adaptação de todos. A história afetiva da família será
determinante nesta interação, assim como a subjetividade de cada membro. Se houver
afeto e reconhecimento, além de interação, este idoso, provavelmente, receberá apoio
social, se não houver, este idoso, provavelmente, estará isolado em casa ou em uma
instituição.

5.2 A interação social entre gerações

O conceito de “geração” pode ser amplamente discutido e estudado ao longo de


um percurso histórico com muitas mudanças, segundo Ferrigno (2015). Desde a Idade
Média até os dias de hoje, houve uma grande variedade de modos de relacionamento

56
entre crianças, jovens e velhos, alternando momentos de conflito, repressão, indiferença
com momentos de cooperação e diálogo. Cada cultura também estabelece modos de
comportamento no que diz respeito às gerações e os relacionamentos entre elas.

É importante observar, ainda segundo o mesmo autor, que mesmo com a


globalização não há uma total padronização sobre o comportamento de cada geração,
podendo mudar inclusive de uma cidade grande para uma cidade pequena. O padrão de
relacionamento intergeracional ocorrerá de formas distintas dependendo do local, ainda
que a TV e a internet criem uma cultura global, por conta das especificidades culturais
existentes em cada local.

Para Iacub (2012), assim como para muitos autores, o ser humano é gregário,
portanto, necessita estar sempre com outros seres humanos. Para o idoso, ter mais
contato promove mais anos de vida e com melhor qualidade. Os idosos precisam se
encorajar e manter ou criar mais relações. Em concordância com Barros (2014), que
afirmou que a presença do grupo social é imprescindível para a ativação da memória e
interpretação do passado.

Muitas vezes, o idoso se limita e se isola, por experiências sociais negativas.


Iacub (2012) chama isso de processo de desempoderamento, que ocorre porque a
sociedade reconhece apenas valores relacionados à juventude. Quando os idosos se
deparam com mudanças e limitações pessoais em um contexto cultural de prejuízos e
estereótipos sociais negativos sobre a velhice, a consideração sobre si mesmos
progressivamente vai diminuindo.

Outros autores apresentados acima também discutem as dificuldades sociais que


o idoso enfrenta. Debert (2004) criticou as visões homogeneizadas da velhice, que cria
tais estereótipos sociais negativos e impedem interações produtivas. Caradec (2014)
apontou como a sociedade coloca o indivíduo em um lugar de idoso, quando se
aposenta, quando tem prioridade, ou quando, simplesmente alguém o chama de “velho”,
podendo desta forma se tornar uma sociedade que desempodera o idoso.

Um estudo no Canadá demonstrou que idosos temiam sair a espaços públicos,


desenvolvendo agorafobia, sem nenhuma explicação de saúde ou econômica para isso.
Muitas pessoas idosas vão se retirando dos lugares, deixando de frequentar com as mais
diversas desculpas. Eles temem que algo de ruim lhes aconteça fora de casa, com uma
crescente desconfiança e perda de autoestima (FERRIGNO, 2015).

57
As consequências, apontadas na mesma pesquisa, são perda de relações,
alterações do sono, maior pressão arterial, tendência à depressão e à ansiedade,
desconfiança, pensamentos repetitivos e perda de recursos intelectuais como memória e
maior tendência ao suicídio.

Para um envelhecimento bem-sucedido, alguns pontos são essenciais para


Lazarus (2006, apud PINHO, 2008), dentre estes, manter relacionamentos estreitos com
as pessoas e conservar o amor próprio. Dois fatores que Iacub (2012) diz não estar
acontecendo com os idosos.

Em contraponto, Papaléo Netto e Kitadai (2015) apresentam que, na relação


intergeracional, nem sempre há conflitos e nem sempre o idoso é a vítima. Mesmo que a
sociedade possa ser hostil, este pode ter alguma culpa nos conflitos de gerações, por
dificuldades de se adaptarem ao meio em que vivem, rejeição do próprio
envelhecimento e rejeição dos novos tempos.

Para modificar esse cenário e propiciar melhores relacionamentos


intergeracionais e sociais no geral, algumas atitudes têm sido tomadas.

Fratezi et al. (2012) publicaram uma pesquisa sobre o evento chamado “Dia dos
Avós”, no qual 350 idosos e 60 crianças foram convidados a interagir. Foram
desenvolvidas atividades como dança, brincadeiras, oficina de memória, atividades de
animação, coral e consulta gerontológica.

Foi possível observar que as atividades propiciaram integração entre os idosos e


as crianças. As atividades de dança, exercícios físicos, animação e brincadeiras,
voltadas especificamente para a intergeracionalidade, mostraram-se eficazes na medida
em que permitiram a co-participação, favorecendo com que os participantes das faixas
etárias mais jovens pudessem perceber que, ao contrário de estereótipos existentes na
sociedade, envelhecimento não é sinônimo de doença e o idoso não é um ser passivo no
seu processo de envelhecimento.

Os idosos, por sua vez, relataram satisfação pela presença dos mais jovens e
indicaram que o evento possibilitou a mudança do preconceito de que os jovens não se
interessam pelos idosos e não os respeitam (FRATEZI et al., 2012).

Os autores alertam que, no âmbito dos programas intergeracionais, destaca-se


que as relações interpessoais devem se basear no respeito ao próximo e não apenas na

58
tolerância. Acredita-se que interagir e participar são direitos de todos em nossa
sociedade.

Assim como para Papaléo Netto e Kitadai (2015), o conflito intergeracional deve
ser transformado em solidariedade, com igualdade de direitos e respeito às diferenças,
favorecendo pessoas de todas as idades. A interação é sempre algo complexo porque
envolve as diferenças de todos os envolvidos (VELHO, 2002), contudo o convívio com
o diferente pode romper estereótipos (CONCONE, 2007).

Nesta questão dos programas intergeracionais, os Estados Unidos parecem estar


à frente, já que desenvolvem programas de voluntariado para jovens e crianças
interagirem com idosos dependentes. Esta interação se dá por vezes por contato
telefônico ou e-mail, por vezes se dá presencialmente, com jogos, leituras, artesanato
etc. Esses programas trazem benefícios mútuos para idosos e jovens. Os idosos
apresentam melhora em seu humor e se sentem mais estimulados a participarem
socialmente. Os jovens apresentam melhoras em sua autoestima, desenvolvem amizades
com os idosos, sentem-se mais necessários socialmente, conhecem mais sobre a velhice
e se preparam melhor para o próprio envelhecer (FERRIGNO, 2015).

O autor desenvolveu pesquisas relevantes sobre o tema da intergeracionalidade e


especificamente com idosos longevos, ou da quarta idade, como prefere chamar. Aponta
que os encontros intergeracionais com idosos fragilizados pela idade avançada ou por
limitações em geral, com pessoas de gerações mais novas, são raros.

A fragilidade e a dependência de um ser humano, despertam, de forma geral,


sentimentos positivos nas pessoas a seu redor de quererem ajudar e cuidar, assim como
no contato com um bebê. Com o idoso em idade avançada, fragilizado, não se dá o
mesmo. O corpo envelhecido provoca rejeições ou indiferença.

Se as gerações, de modo geral, estão distanciadas umas das outras


como consequência de fatores econômicos e socioculturais, a distância
entre os jovens e os muito velhos, aqueles pertencentes à chamada
Quarta Idade, mais frágeis e dependentes, é, sem dúvida, bem maior.
A própria condição de dependência impõe à maioria dessas pessoas a
permanência em locais restritos e fechados, como o domicílio ou as
instituições de longa permanência (ILPI). Esse confinamento acaba

59
dificultando o encontro com as gerações mais novas (FERRIGNO,
2015, p. 189).

Quanto às posições do jovem e do velho em suas famílias, os autores Ferrigno


(2015) e Silva et al. (2015) observam muitas alterações no contexto social atual,
podendo variar muito de uma família para outra16.

A pesquisa de Silva et al. (2015) teve como objetivo identificar a dinâmica das
relações familiares intergeracionais na percepção dos idosos. Foram coletados dados
com 32 idosos, sendo apenas 1 com idade acima de 80 anos.

Estes autores relataram, então, 4 categorias de relações familiares: relações


familiares intergeracionais harmônicas; relações familiares intergeracionais
conflituosas; relações familiares intergeracionais permeadas pelo cuidado com o idoso;
relações familiares intergeracionais permeadas pelo cuidado do idoso para com seus
netos ou bisnetos.

Na categoria relações familiares intergeracionais harmônicas, notou-se que há


diálogo e uma profunda ligação afetiva na relação entre idosos e jovens da mesma
família. É uma relação com assiduidade e intensidade, permitindo que os idosos se
sintam valorizados, sobretudo, pelos conselhos que transmitem. Algumas falas descritas
nas pesquisas ilustram com clareza esta categoria:

“Uma relação de muito amor e cumplicidade, tudo que meu neto vai
fazer antes de tomar a decisão ele me pede conselho, ele considera
muito os meus conselhos.”

“[...] apesar dele já ter maior idade, ele respeita as coisas que eu
falo, nós interage para tomar uma decisão.” (SILVA et al., 2015, p.
2186).

Para estes autores, as relações positivas entre idosos e seus netos, descritas nesta
categoria, são de importância crucial para idosos, pois sentir-se amados e valorizados
levam os idosos a escaparem do isolamento.

16
No capítulo “A interação social na família”, da presente pesquisa, foram abordadas mais questões sobre
a relação familiar, valendo aqui destacar apenas alguns pontos a mais que tangem ao relacionamento
intergeracional.

60
Quando o citado autor, Galvão-Alves (1992), fala dos dois tipos de velhos, o
“trambolho” e a “relíquia”, esta primeira categoria da pesquisa de Silva et al. (2015)
percebe o velho como relíquia, algo a ser preservado e amado por seus familiares, mas
que segundo Galvão-Alves (1992), velhos percebidos desta forma são uma minoria.

A segunda categoria, cujas relações familiares intergeracionais são conflituosas,


descreve relações com problemas principalmente por diferença de valores entre as
gerações. O diálogo apresentado foi bastante ilustrativo:

“Tem hora que tem umas discussões com as netas, porque têm
algumas coisas que elas faz, eu falo que tá errado e elas fica
falando que eu sou do tempo antigo [...].”

“Tem vez que a gente tem uns aborrecimentos porque também


eles são tão jovens. Aí, às vezes, a gente fala alguma coisa que
eles não gostam, acha que é coisa de velho, coisa antiga. Aí
pronto, discutem.” (SILVA et al., 2015, p. 2187).

Silva et al. (2015) referem que jovens titulam seus avós como ultrapassados,
neste estudo, sendo um reflexo da imagem negativa sobre o idoso que está presente na
sociedade; contudo, é preciso cultivar laços afetivos ao longo de toda a vida para que
idosos e jovens consigam superar estes conflitos.

Fazendo novamente uma ligação com o conhecimento descrito por Galvão-


Alves (1992), estas famílias seriam as que interagem com seus velhos, percebendo-os
como “trambolhos”, provavelmente. Estes velhos então, percebem a rejeição familiar e,
normalmente, entregam-se à doença e à morte.

Contudo, o velho pode nos aborrecer com o excesso de experiência, querendo


sempre aconselhar e prever. Protestamos contra seus conselhos, e ele se cala, se retrai
do seu papel social, e este encolhimento é uma perda e um empobrecimento para todos.
“Então, a velhice desgastada, ao retrair suas mãos cheias de dons, torna-se uma ferida
no grupo” (BOSI, 1994, p. 83).

Nesta situação de relações intergeracionais conflituosas, morar junto, misturando


várias gerações, cria um cenário ideal para tais dificuldades na interação. Por conta
disso, muitos idosos podem optar por morarem sozinhos, o que pode ser bom, ou pode
levá-los ao isolamento social. Para os autores, precisa haver diálogo e respeito nessa

61
situação, pois, conforme teorizado por Berger e Luckmann (2014), ainda que os outros
tenham perspectivas de mundo diferentes das minhas, vivo com eles em um mundo
comum:

Embora seja nítida a expansão numérica das gerações na família, em


decorrência do aumento da longevidade humana e da coabitação de
jovens e velhos, netos e avós, bisnetos e bisavós, temos de admitir que
coabitar é uma coisa, conviver é outra. Em muitas famílias prevalece o
distanciamento afetivo (FERRIGNO, 2015, p. 191).

A terceira categoria do estudo de Silva et al. (2015), relações familiares


intergeracionais permeadas pelo cuidado com o idoso, fala sobre famílias que são o
suporte nos cuidados de saúde, atividades cotidianas, financeiras, muitas vezes sem
terem preparação para tal, o que pode gerar problemas. Nesta situação, a qualidade da
relação familiar determinará a qualidade do cuidado recebido pelo idoso.

Por fim, a quarta categoria, relações familiares intergeracionais permeadas pelo


cuidado do idoso para com seus netos ou bisnetos, diz respeito às famílias, nas quais os
avós são cuidadores de seus netos ou bisnetos, sendo os responsáveis pelos cuidados
básicos e diários, alimentação, educação, aconselhamento, acompanhamento escolar,
carinho e atenção.

Nas famílias desta pesquisa, os idosos referiram prazer em desfrutar seu tempo
“livre”, pós-aposentadoria, com seus netos e a satisfação em cuidar deles:

“É bom que meu neto mora aqui comigo, porque como eu já perdi
meu esposo, se não tivesse meu neto, eu ia ficar muito sozinha, então
eu que cuido dele, levo para a escola.”

“Se não fosse pra felicidade deles, eu queria que eles ficasse aqui pra
sempre, pra toda vida comigo, porque desde que nasceu moram aqui.
Eles me apoia, dá carinho, risada, mas eu sei que um dia eles têm que
sair e construir a vida deles, constituir a família.” (SILVA et al.,
2015, p. 2189).

A relação entre avós e netos deve ser reciprocamente interessante, pois os netos
são as companhias mais frequentes dos idosos (SILVA, et al., 2015).

62
É na interação com pessoas de idade que a criança entra em contato com o
passado, formando memórias; sem isso seriam somente dados da história. Ruas, casas,
móveis, roupas antigas, maneiras de falar e de se comportar só nos são familiares,
devido ao contato íntimo com nossos avós (BOSI, 1994). Nos seus termos, “É a
essência da cultura que atinge a criança através da fidelidade da memória” (BOSI,
1994, p. 75).

O ambiente acolhedor que os avós proporcionam, para a mesma autora, são


memoráveis, já que nestes não há a preocupação de socializar, punir, sancionar nossos
atos; tudo tem tolerância e aceitação. Para avós e netos, o presente não importa,
importam, sim, o passado e o futuro. Os velhos têm o poder de tornar presentes na
família os que se ausentaram, já que deles ainda restam coisas no nosso hábito de sorrir
e andar.Apesar desta relevância dos papéis dos avós, na sociedade atual, estes assumem
novas funções, de provedor ou pilar econômico dos netos, por motivos diversos. Muitas
vezes são também estabilizadores na relação pais e filhos em momentos de estresse
(SILVA, et al., 2015).

O mesmo fato foi apontado por Barros (2014), ao dizer que muitos idosos
permanecem trabalhando mesmo depois da aposentadoria, por serem provedores de suas
famílias, principalmente em camadas economicamente mais precárias da população.

Para Ferrigno (2015), o idoso vive, de forma geral, um esvaziamento de papéis,


levando ao isolamento e recolhimento ao espaço doméstico. A aposentadoria e o
chamado “ninho vazio” diminuem muito as funções sociais do idosos.

Atualmente, contudo, há um novo fenômeno que chama de “ninho cheio”. Neste,


muitos filhos protelam suas saídas das casas dos pais, ou retornam após suas saídas,
muitas vezes com cônjuges e filhos. Os motivos são variados, como questões
financeiras e problemas relacionais. Para alguns idosos, esta permanência dos filhos ou
seu retorno significa perda da tranquilidade e dissabores acarretados por
desentendimentos com filhos e netos; para outros significa fim da solidão e recuperação
da alegria no convívio familiar. Para os jovens, a percepção é ambígua, desejando ter as
vantagens de ser livre, mas não desejando perder o conforto e a segurança que a família
proporciona (FERRIGNO, 2015).

Para Camarano e Kanso (2016), a co-residência pode salvar duas gerações.


Enquanto que idosos recebem cuidados familiares e maiores possibilidades de interação

63
social, estes prestam ajuda na forma de bens, dinheiro, caracterizando uma troca
intergeracional, recíproca, dentro da família.

Sobre a interação social intergeracional é possível dizer que esta pode se dar em
qualquer ambiente, porém é mais visível dentro das famílias. Esta interação, como
qualquer outra, é complexa e influenciada pelos papéis sociais, crenças,
comportamentos e vínculo afetivo de ambos os lados: jovens e velhos. A interação
intergeracional pode beneficiar a todos, mas requer também de todos, respeito e afeto.

5.3 A interação social em instituições

Foram encontradas muitas publicações que pesquisaram idosos em alguma


instituição. Estas foram basicamente centros de convivência para idosos, hospitais e
ILPI’s (Instituições de longa permanência para idosos). Cada uma delas tem
características peculiares e, portanto, propiciam diferentes formas de interação social.

Em seu trabalho sobre os laços sociais estabelecidos pelos idosos, para além dos
laços consanguíneos, D’Alencar (2012) estuda os grupos de convivência. A partir de
toda a mudança já apresentada no contexto familiar, que faz o velho ressignificar a
solidariedade e diversificar seus laços, ele passa a projetar para outros espaços o que
entende como perdido (carinho, afeto, atenção, respeito).

Iacub (2012) também relatou este evento, quando diz que muitos idosos
acreditam que vivem melhor, com menos limitações, com amigos do que com a família,
não, necessariamente, por conflitos, mas por verem a velhice de forma menos
estereotipada.

Nesse contexto, os grupos de convivência passam a ter papel fundamental por


preencherem a ausência deixada por familiares e sociedade.

Por reconhecerem que a participação da família está aquém da


esperada é que, muito provavelmente, idosos busquem mecanismos de
interação social, para não sucumbirem ao isolamento, ao abandono, à
desatenção. De outro lado, a fragilização das famílias, em muitos
aspectos, tem criado, para os idosos, responsabilidades que estão

64
muito além do que deveriam incorporar, considerando o papel que já
assumiram em etapas pretéritas da vida (D’ALENCAR, 2012, p.16).

No estudo realizado no centro de convivência da cidade de Sorocaba, Lima,


Araújo e Scattolin (2016) analisaram idosos de 60 anos em diante, contando com 8
participantes com mais de 80 anos. A maior parte destes idosos eram mulheres e tinham
mais de 17 anos de estudo.

Neste estudo, foi notado que, para estes idosos pesquisados, a idade interferiu
diretamente na independência funcional. Contudo, segundo apontado anteriormente por
Papaléo Netto e Kitadai (2015), nem sempre a idade avançada vai significar limitação
funcional, apesar de concordarem que a idade avançada trará condições
qualitativamente distintas das outras fases da vida.

Neste centro de convivência, os idosos realizam atividades recreativas que visam


a estimular a socialização e à autoestima dos participantes. O centro funciona de
segunda a sexta-feira, das 8h às 17 horas e oferece atividades físicas, danças, curso de
fotografia e teatro, pintura e palestras educativas. Quanto à interação social destes
idosos, observou-se que a participação nesse centro de convivência aumenta o repertório
de habilidades sociais e sua rede de apoio social, minimizando sentimentos de abandono
e isolamento e melhorando a qualidade de vida deles. Afirmando o que descreveu Iacub
(2012) sobre os grupos de idosos, quando disse que estes grupos tornam o idoso
protagonista de sua vida.

A principal dificuldade de interação apresentada pelos idosos participantes da


pesquisa foi no domínio da intimidade. As autoras relacionaram com a vivência da
sexualidade, expressão emocional, prazer e amor, e apontam que, pelo fato de a amostra
ser essencialmente de mulheres, estas enviúvam mais cedo e têm mais anos sozinhas,
sendo, para elas, uma dificuldade vivenciar relacionamentos íntimos novamente.

Outro estudo que avaliou a contribuição dos centros de convivência foi o de


Pereira, et al. (2016), através de uma revisão bibliográfica com 27 artigos. Identificaram
que a participação de mulheres nesses centros é sempre maior; a maior parte são de
aposentados(as) e com idade inferior a 75 anos, em média.

Essa é uma das limitações da presente pesquisa, como já foi dito anteriormente,
pois segundo as pesquisas encontradas (tal qual a supracitada) os idosos longevos quase
não aparecem também nos centros de convivência. Obviamente, eles ainda são em
65
menor número na população em geral, mas o acesso a eles, a possibilidade de conhecê-
los e proporcionar-lhes práticas mais adequadas, ainda é difícil.

A publicação que contribui para este dado é o estudo de Navarro, et al. (2015)
sobre a percepção dos idosos sobre áreas urbanas. Neste foram comparadas as
percepções de dois grupos de idosos, idosos-jovens e idosos-longevos. A percepção de
dificuldades, como: poucos bancos, falta de faixas de segurança, tempo de sinal muito
curto para pedestres, degraus muito altos e mau cheiro dos banheiros públicos, foi maior
entre os idosos jovens (até 79 anos). Os idosos longevos perceberam menos esses
fatores, porém, referiram que frequentam menos os ambientes comunitários, talvez por
terem mais limitações, por se sentirem menos pertencentes a este espaço social, dentre
outras dificuldades que os tornam “invisíveis” socialmente.

Apesar disso, a publicação de Pereira et al. (2016) foi selecionada nesta


pesquisa, pois em alguns artigos que levantou foram estudados idosos longevos, ainda
que em menor número pelas dificuldades já apontadas.

Quanto a uma maior participação da mulher, os autores justificaram pela maior


longevidade desta e maior motivação em participar de atividades que estimulem o bem-
estar. Por outro lado, a população masculina demonstra pouco interesse em cuidar da
saúde, fato associado pelos autores a características socioculturais, em que o homem
não pode adoecer ou assumir fragilidade.

No artigo anteriormente citado, Lima, Araújo e Scattolin (2016), a maior


participação percebida naquele centro de convivência, também foi de mulheres,
corroborando a percepção de Pereira, et al. (2016). Conforme tabela 1, apresentada
anteriormente, há mais mulheres idosas do que homens, segundo os dados do IBGE
(2015), mais uma justificava condizente à de Pereira et al. (2016).

Quanto aos benefícios de participarem em centros de convivências, as pesquisas


em geral apontaram que a maioria apresenta menos sintomas depressivos, maior
satisfação com a vida e melhor condição física, que a população idosa em geral.
Segundo Pereira et al. (2016), os grupos são importantes espaços de interação social e
socialização das emoções, da mesma forma que apontado por Lima, Araújo e Scattolin
(2016).

66
Com a aposentadoria o rendimento dos idosos diminui, trazendo dependência
familiar para alguns, além da ruptura com a vida atarefada, podendo gerar isolamento e
sentimento de solidão.

Como afirma Bosi (1994), na velhice o sujeito sente-se diminuído, lutando para
continuar sendo homem. Na sociedade de competição e lucro, o homem é desvalorizado
todo o tempo, acentuando-se na velhice tal problema, principalmente com a
aposentadoria. E, para Beauvoir (1970), a única forma de o homem se sentir respeitado
na velhice é se ele tivesse sido respeitado durante toda a sua vida. Portanto, é preciso
refazer todas as relações humanas, para que nenhuma humanidade seja excluída da
humanidade. Há grupos que lutam por seus direitos, mas o velho não tem armas; por
isso, nós precisamos lutar por ele. Nestas condições os centros de convivência têm se
mostrado eficazes dentro do possível.

Outro artigo que conclui a importância de atividades físicas e sociais para o


idoso, em grupos, foi o de Silva et al. (2012). Para estes, a atividade física, juntamente
com a participação em projetos sociais, possibilita a ressocialização do idoso, melhorias
em sua qualidade de vida e promoção da cidadania:

Os grupos de convivência têm um papel importante no processo


de continuidade das interações e solidariedades, na manutenção
de uma vida ativa, bem como na construção de laços afetivos
capazes de estimular o idoso a permanecer interagindo, e
oferecer oportunidades para novas convivências e
aprendizagens. Não podemos esquecer, no entanto, que
necessitam ser mais bem estudados (D’ALENCAR, 2012, p.16).

Além dos centros de convivência, os espaços de assistência à saúde também


foram estudados para identificar a interação social que ocorre naquele momento e sua
relevância na vida do idoso.

Para Leite e Gonçalves (2009), a internação de um idoso insere este em uma


rede específica de relacionamento que inclui principalmente a equipe de enfermagem,
passando a ser esta a sua principal interação social do momento. A equipe de
enfermagem, segundo o estudo, não recebe treinamento específico em gerontogeriatria
para interagir corretamente, portanto estes profissionais agem de forma subjetiva com os
idosos, baseando-se em suas experiências particulares anteriores.

67
Dessa forma, a interação em um momento de internação pode ser boa ou não, a
mercê do histórico anterior de cada profissional. O ideal seria haver treinamentos para
desenvolver habilidades nesses profissionais, focando ações delineadas a partir do
conhecimento da realidade do idoso e de sua família, e não mais baseando-se em seu
histórico pessoal anterior. Desenvolvendo boas interações sociais nas ações de cuidado,
equipe e idosos podem ser mutuamente gratificados, já que saúde física, mental e social
deve receber igualmente atenção das equipes de saúde que visem resultados positivos
em suas atuações.

Assim como demonstrou Vilela et al. (2017), para um envelhecimento saudável


faz-se necessária a interação entre saúde física e mental, independência na vida diária,
integração social, suporte familiar e independência econômica. É necessário que todos
estes itens estejam intimamente ligados.

Confirmando o observado pelos autores acima, Guedes et al. (2017) dizem que o
que se vê no Sistema Único de Saúde do Brasil, são serviços preparados para atender a
uma demanda específica da doença, principalmente aguda, sem levar em conta o
protagonismo e a autonomia do usuário.

Contudo, a doença está intimamente ligada, como já dito, com os aspectos


emocionais e sociais de um indivíduo. Se este usuário tem uma rede microssocial
desarranjada, dizem Guedes et al. (2017), ele tem uma condição de risco, por ser uma
condição que afetará sua vida de forma continuada e prolongada. Caso ele tenha uma
rede social bem arranjada, teria o suporte social favorecido e, consequentemente,
redução de demanda em redes de atenção à saúde:

No documento, Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças


crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado
prioritárias, elaborado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), são
preconizadas ações voltadas para os determinantes sociais, lançando
mão de ferramentas que sejam capazes de avaliar o processo saúde de
forma completa, considerando a complexidade e singularidade de cada
um e o meio onde ele está inserido [...] Alguns profissionais não
entendem que podem existir diversos fatores, incluindo os sociais, que
poderiam estar prejudicando a evolução do processo de tratamento,
como é o caso das redes sociais (GUEDES et al., 2013, p. 1194).

68
Para tanto, tais mudanças requerem também um esforço dos próprios usuários
com uma responsabilidade compartilhada no cuidado de sua saúde ou das pessoas
próximas, proporcionando o empoderamento e autonomia popular para estas questões
em saúde.

Mais um espaço amplamente estudado no que tange à interação social do idoso,


são as ILPI’s. Estas são instituições onde os idosos moram, tendo limitações ou não,
sendo dependentes de cuidados ou não. Alguns idosos procuram estas instituições por
vontade própria; outros vão por decisão familiar. A interação familiar com o idoso em
ILPI já foi discutida anteriormente; a intenção aqui é discutir a interação que ocorre
dentro da instituição.

Segundo o estudo de Frota et al. (2012), os principais motivos que ocasionaram


a institucionalização das idosas pesquisadas foram: ausência de parentes,
indisponibilidade dos filhos para o provimento de cuidados, e necessidade de viver em
ambiente de paz e sem conflitos. Portanto, espera-se que o idoso encontre isso dentro da
ILPI.

No estudo de Rodrigues e Silva (2013) ficou evidente que os idosos


institucionalizados relataram receber apoio material, afetivo e emocional de forma
satisfatória. Contudo, esta é a principal forma de ajuda das ILPI’s para os idosos
mesmo. Apesar de a instituição estar cumprindo este papel tão importante, quando
questionados sobre as interações dentro da instituição, estas se mostram escassas.

De forma geral, os idosos deste estudo não possuíam grandes limitações,


podendo inclusive auxiliar nas tarefas diárias. Relataram também terem amigos de fora
da instituição, amizades que a maioria havia construído há mais de 10 anos. Esperava-se
assim, como se esperou em outros estudos semelhantes, que estes idosos
desenvolvessem amizades entre si com facilidade, pelo ambiente propício, proximidade
física, contato diário, semelhança de idades, dentre outros fatores. Mas o que se
evidenciou neste e em outros estudos foi certa insensibilidade e desinteresse pela
construção de amizades entre eles; em alguns casos, houve até certa discriminação.

Dentre os que desenvolveram amizades dentro da ILPI, alguns relataram


amizade com outros idosos; outros, amizade com funcionários. Disseram que o
relacionamento é bom entre eles e que se ajudam mutuamente. As mulheres fazem mais
amizades com mulheres e homens com homens:

69
Na institucionalização, a rede de apoio é imprescindível, pois auxilia o
idoso a adaptar-se a essa situação, melhora seu bem-estar subjetivo e a
qualidade de vida. O grande desafio é ajudar o idoso
institucionalizado a estabelecer sua rede de apoio social,
principalmente com os demais idosos da instituição (RODRIGUES;
SILVA, 2013, p. 169).

O estudo de Clares, Freitas e Paulino (2013) é de um relato de experiência, com


o objetivo de descrever a aplicação do processo de enfermagem a
um idoso institucionalizado, fundamentado na teoria de Virginia Henderson. O estudo
de caso foi aplicado em uma instituição de longa permanência para idosos da cidade de
Fortaleza. Através do estudo foram identificadas algumas necessidades, dentre elas a
necessidade de melhorar a interação social até o momento prejudicada. Com
intervenções da equipe de enfermagem direcionadas à saúde e independência deste
idoso, houve repercussão positiva para suas necessidades, demonstrando-se, assim, a
necessidade das equipes de saúde se atentarem as condições sociais também.

Souza e Massi (2015), ao estudarem a saúde fonoaudiológica de residentes numa


ILPI, fizeram uma relevante conclusão da importância da interação do idoso
institucionalizado:

Deste modo, assumindo a relevância de dar voz/vez aos idosos


institucionalizados, esse trabalho aponta possibilidades para refletir
sobre a construção do cuidado fonoaudiológico voltado a essa
população, pautado na necessidade de interação/socialização do idoso
institucionalizado, para que as Instituições de Longa Permanência não
signifiquem apenas "depósitos de velhos" (p. 300).

Em outro estudo identificado, o autor comparou a qualidade de vida de idosos


asilados e frequentadores de um Centro-Dia. Os resultados apontaram melhores escores
de qualidade de vida para os idosos do Centro-Dia, destacando-se as mulheres. As
institucionalizadas tiveram os piores valores de QV, sobressaindo-se os domínios Físico
e Psicológico. Os domínios com escores mais baixos foram: Meio Ambiente (pior para
asiladas e homens do Centro-Dia) e Intimidade (pior para asiladas e asilados). Os mais
altos foram: Relações Sociais (melhor para homens e mulheres do Centro-Dia) e
Morte/Morrer (melhor para homens e mulheres do Centro-Dia) (SIMEÃO et al., 2018).

70
Neste estudo fica claro que a qualidade de vida é melhor para quem não está
asilado, mas vários fatores podem justificar este resultado, por exemplo, o maior ou
menor grau de dependência do idoso, e não unicamente a institucionalização. Contudo,
o que vale ressaltar é o fato do escore mais baixo ser o da intimidade. Vários estudos,
inclusive com idosos não institucionalizados, tal qual o de Lima, Araújo e Sacattolin
(2016), já abordado anteriormente, apresentam este mesmo resultado, demonstrando que
desenvolver intimidade na velhice é uma tarefa difícil.

Aboim (2014) fala sobre a desistência da sexualidade nas mulheres de sua


pesquisa. Apesar de relatarem falta de desejo ou falta de capacidade, elas, ao final,
atribuem essa desistência como desistência do homem, na maior parte das vezes,
demonstrando a passividade feminina em relação à sexualidade de gerações passadas.

Essa baixa avaliação do quesito intimidade, pensada como vivência da


sexualidade, em diversos artigos, pode ser mais estudada, mas é possível que haja
bastante resistência nos idosos atuais, principalmente nos longevos. Esse
comportamento pode se modificar com o passar das gerações, à medida que a vivência
da sexualidade está sendo mais abertamente discutida, com menos tabus, ou pode ser
realmente uma dificuldade da velhice, independentemente da geração, por questões
físicas ou outras.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A interação social do idoso em idade avançada após os 80 anos ou “velho-velho”


ainda é algo a ser mais estudado, principalmente, com pesquisas de campo, coletando
dados dos próprios idosos nestas condições, trazendo assim resultados mais fidedignos
sobre a interação social destes.

Neste estudo houve dificuldade em encontrar publicações com esta parcela da


população, apesar de ser a parcela da população idosa que mais cresce. Este fato
permitiu perceber a dificuldade de acessar esses idosos, porém as justificativas ainda
não são claras, mas acredita-se que algumas delas sejam: desinteresse dos
pesquisadores, dificuldade de acessar este público por conta das limitações quase

71
sempre presentes, dificuldade das famílias em falar sobre o tema e, por fim, dificuldade
de interação social das famílias com seus idosos longevos.

Apesar desta limitação, todos os estudos selecionados apontaram, em


concordância com a hipótese inicial, que a interação social é reduzida e vivida com
dificuldades pelos idosos por motivos de saúde, histórico de vida, personalidade e
ambiente/pessoas ao seu redor. É então, uma conjunção de fatores, particularidades de
cada indivíduo e de cada grupo, e singularidades, por serem sempre encontros únicos,
determinados, inclusive, por um contexto histórico e social.

Além disso, notou-se que a interação social é de extrema importância para a


manutenção da qualidade de vida do idoso, para que ele não viva em isolamento.
Contudo, a interação social positiva ou que ofereça apoio social pode trazer ainda mais
benefícios representados por melhores condições físicas, psicológicas e sociais do
indivíduo.

A interação social foi estudada aqui dentro da família, intergeracionalmente e


em instituições. Todas estas podem propiciar bem-estar ao indivíduo e devem ser
valorizadas.

Foi interessante perceber, que muitos idosos interagem socialmente, mas


descrevem falta de interação com intimidade. Ou seja, a velhice é uma fase da vida,
como outra qualquer, e o sujeito/velho quer viver, se relacionar, interagir, inclusive de
forma íntima, quebrando estereótipos do idoso sem desejos ou necessidades.

Mais propostas, para além de propostas em envelhecimento ativo, visando


inclusão social, como prevê a Política Nacional do Idoso, devem ser implantadas.
Projetos sociais como nos Estados Unidos, estimulando a interação, devem ser
estudados e implantados com adaptações a realidade brasileira. Os projetos de atenção a
família dos idosos devem ser implantados ou reforçados, quando já existentes, tendo em
vista a complexidade desta interação na qual famílias desorientadas se sobrecarregam,
superprotegem ou abandonam o idoso. Da mesma forma, a equipe de saúde deve ser
treinada e preparada para atuar com o público idoso e ter a clareza que esta equipe é a
interação social que aquele idoso tem, portanto, deve ser de qualidade.

A velhice deve ser respeitada e valorizada. A memória e o sentimento que nela


há devem ser colocados no presente, não para confundir a vida atual com o que passou,

72
mas para a compreensão do presente, “função de unir o começo ao fim, de tranquilizar
as águas revoltas do presente alargando suas margens” (BOSI, 1994, p. 82).

“A vida atual só parece significar se ela recolher de outra época o alento”


(BOSI, 1994, p. 82). A lembrança de outra época, a consciência de ter passado e
suportado algumas coisas, traz, para o velho, alegria e sua vida cria finalidade se
encontrar ouvidos atentos. A memória não se mantém pelo exercício em si de
memorizar, mas pela agradável sensação de ser ouvido, o que estimula o velho a reter
fatos e transmiti-los. Momentos do mundo podem ser compreendidos pela memória dos
velhos. Para quem sabe ouvir a memória do velho, terá uma experiência desalienadora.

73
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Brasileira, 2014.

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