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CENTRO UNIVERSITARIO FAM

ARETUZA ARAKI LIMA


FRANCIELLY HERMILIO DE LIMA ALVES
WELLYNGTON SANTOS

A RELAÇÃO DO TRABALHO E OS PROFISSIONAIS NA TERCEIRA IDADE:


CONTEXTO SOCIAL E APOSENTADORIA

SÃO PAULO
2021
2

ALVES, F. H. L; LIMA, A. A.; SANTOS, W. A relação do trabalho e os profissionais


na terceira idade: contexto social e aposentadoria. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade das Amáricas – FAM, São Paulo, 2021.

A RELAÇÃO DO TRABALHO E OS PROFISSIONAIS NA TERCEIRA IDADE:


CONTEXTO SOCIAL E APOSENTADORIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO apresentado ao


Centro Universitário FAM, como exigência parcial do curso de
PSICOLOGIA para obtenção do título de BACHARELADO, sob
orientação do Prof. Mauro Sergio Pereira Fernandes.

SÃO PAULO
2021
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ALVES, F. H. L; LIMA, A. A.; SANTOS, W. A relação do trabalho e os profissionais na


terceira idade: contexto social e aposentadoria. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Psicologia) – Faculdade das Amáricas – FAM, São Paulo, 2021.

A RELAÇÃO DO TRABALHO E OS PROFISSIONAIS NA TERCEIRA IDADE:


CONTEXTO SOCIAL E APOSENTADORIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO apresentado ao


Centro Universitário FAM, como exigência parcial do curso de
PSICOLOGIA para obtenção do título de BACHARELADO, sob
orientação do Prof. Mauro Sergio Pereira Fernandes.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

__________________________________
[Nome do participante da banca]
__________________________________
[Nome do participante da banca]
__________________________________
[Nome do participante da banca]

SÃO PAULO
2021
4

DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS

Dedicamos este trabalho a quem colaborou diretamente conosco, nosso


Professor e Orientador Mauro Sergio Pereira Fernandes, sem o qual não teríamos
concluído este projeto.

Aos professores do curso de Psicologia da FAM que nos forneceram todas as


bases necessárias para a realização deste trabalho.

Aos professores do curso de psicologia da USCS, FMU e Anhanguera que


passaram em nossas vidas durante essa longa trajetória, aos quais agradecemos
com profunda admiração pelas contribuições.
5

RESUMO

O presente artigo aborda o tema sobre aposentadoria, trabalho na terceira


idade e qualidade de vida. Por meio da revisão de literatura, pretende-se ter
fundamentação sobre este processo de aposentar-se que está correlacionado com a
psicologia e saúde mental. A aposentadoria é uma etapa que faz parte do
desenvolvimento humano e do envelhecimento. Por meio de artigos científicos e
publicações acadêmicas, buscou-se promover reflexão com a temática citada. A
literatura examinada indicou como que a aposentadoria impacta a vida do indivíduo
na esfera biopsicossocial, considerando o crescente envelhecimento da população e
suas consequências, questionando sobre quais impactos acontecem na vida dos
profissionais que se aposentam e como a saída do mercado de trabalho devido a
aposentadoria pode acarretar o adoecimento mental. Nesse sentido, um dos papeis
do psicólogo é auxiliar no processo de ressignificação da aposentadoria como um
recomeço, uma nova etapa que será impregnada pelas vivencias anteriores, porém
respaldadas pelo amadurecimento que a vida lhe proporcionou.

PALAVRAS-CHAVE: Aposentadoria, envelhecimento, terceira idade,


psicologia, saúde mental.
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ABSTRACT

This article addresses the issue of retirement, work in old age and quality of life.
Through the literature review, it is intended to have a foundation on this process of
retiring, which is correlated with psychology and mental health. Retirement is a stage
that is part of human development and aging. Through scientific articles and academic
publications, we sought to promote reflection on the aforementioned theme. The
examined literature indicates how retirement impacts the individual's life in the
biopsychosocial sphere, considering the aging of the population and its consequences,
questioning the impacts that happen in the lives of retired professionals and how the
exit from the labor market due to retirement it can lead to mental illness. In this sense,
one of the psychologist's roles is to assist in the process of reframing retirement as a
new beginning, a new stage that will be impregnated by previous experiences, but
supported by the maturation that life has provided.

KEYWORDS: Retirement, old age, quality of life and work, mental health,
psychology.
7

RESUMEN

Este artículo aborda el tema de la jubilación, el trabajo en la vejez y la calidad


de vida. A través de la revisión de la literatura, se pretende tener una base sobre este
proceso de jubilación, que se correlaciona con la psicología y la salud mental. La
jubilación es una etapa que forma parte del desarrollo y el envejecimiento humanos.
A través de artículos científicos y publicaciones académicas, se buscó promover la
reflexión sobre el tema mencionado. La literatura examinada indica cómo la jubilación
impacta en la vida del individuo en el ámbito biopsicosocial, considerando el
envejecimiento de la población y sus consecuencias, cuestionando los impactos que
suceden en la vida de los profesionales jubilados y cómo puede conducir la salida del
mercado laboral por jubilación. a la enfermedad mental. En este sentido, una de las
funciones del psicólogo es ayudar en el proceso de replanteamiento del retiro como
un nuevo comienzo, una nueva etapa que estará impregnada de experiencias previas,
pero sustentada en la maduración que la vida le ha brindado.

CONTRASEÑAS: Jubilación, vejez, calidad de vida y trabajo, salud mental,


psicología.
8

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................ 09
Metodologia .......................................................................................................... 11
Contexto Histórico e Social da Aposentadoria ..................................................... 12
Cenário Atual da Aposentadoria........................................................................... 14
A Saúde Mental e a Aposentadoria ...................................................................... 16
Resultados ........................................................................................................... 20
Conclusão ........................................................................................................... 22
Referências Bibliográficas .................................................................................... 23
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INTRODUÇÃO

No passado, aposentar-se estava muito ligado a um processo de retirada do


mercado de trabalho e de busca pelo tão esperado descanso, grande parte das
pessoas não viam a necessidade de trabalhar após concluir o período laborado ao
longo da vida, com o prolongamento da expectativa de vida, aumenta a cada dia a
necessidade das pessoas continuarem trabalhando mesmo após se aposentarem
para manter os padrões de vida ou até mesmo manter as despesas da casa, cerca
de 20% dos aposentados ainda são a principal fonte de renda da família (IBGE, 2007),
além disso, estima-se que até 2025 a população que ultrapassa 75 anos de idade terá
ultrapassado 10% da sua população total, sendo que com 7% da população nessa
faixa etária o país já é considerado “velho” (Veras, 1995).
Considerando que há crescente envelhecimento da população atualmente e
como consequência ocorre o aumento da população aposentada no Brasil, surge a
necessidade de se estudar os impactos psicológicos da aposentadoria nos indivíduos.
questionando sobre quais impactos acontecem na vida dos profissionais que se
aposenta e como a saída do mercado de trabalho devido a aposentadoria pode
acarretar o adoecimento mental.
Diante desse cenário, se faz necessário abordar temáticas relacionadas à
qualidade de vida e à aposentadoria, questionar sobre os impactos desse processo
de envelhecimento na sociedade, rever as políticas públicas já existentes bem como
avaliar a necessidade e desenvolvimento de criação de novos programas que passem
a atender esse recorte da população voltadas para as áreas do envelhecimento.
Segundo dados do IBGE (2009), o Brasil apresenta expectativas de que, no
período de 2000 a 2020, o grupo etário de 60 anos ou mais passará de 13,9 para 28,3
milhões, elevando-se em 2050 para 64 milhões, é importante ressaltar que é
necessário que as reformas previdenciárias andem lado a lado com as políticas
públicas de saúde e cuidado com o envelhecimento garantindo um processo de
aposentadoria com maior qualidade de vida e assistência aos indivíduos, além de ser
necessário olhar e pensar também na criação de espaços de atividades para os
indivíduos ao deixarem o mercado de trabalho, tenham garantida a continuação do
desenvolvimento cognitivo e físico.
Ser humano na terceira idade tem que lidar muitas vezes com os declínios da
capacidade física e cognitiva decorrentes do envelhecimento. No entanto inseridos
10

em uma sociedade capitalista que exige produtividade em torno do ganho financeiro,


a aposentadoria pode ser vivenciada de forma penosa com sofrimento psíquico e
perda de sentido de vida.
Diante do exposto, o objetivo deste artigo é verificar quais os impactos positivos
e negativos da aposentadoria na qualidade de vida dos profissionais da terceira idade
buscando averiguar o efeito na saúde mental.
11

METODOLOGIA

Foi realizada a revisão de literatura através de artigos científicos e publicações


acadêmicas para investigação dos fenômenos e levantamento de inferências sobre o
impacto da aposentadoria nos indivíduos da terceira idade. Posteriormente, foram
correlacionados os achados nos referenciais teóricos para compreensão da realidade
abordada e do significado da saúde mental que envolve o processo de "aposentar-se''
ou estar aposentado.
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CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL

A aposentadoria tem sido considerada como uma perda de referência do


trabalho, uma forma contrária à significação de júbilo. O “aposentar-se” tende a ser
interpretado com valores negativos como: inutilidade, incapacidade e envelhecimento.
Neste processo, o aposentado precisa lidar com o conflito entre sentir-se produtivo e
capaz e também, com o paradigma criado pela sociedade, onde o aposentado é quem
não precisa fazer nada. “Assim, o aposentado vê-se desprovido de um lugar e, ao
mesmo tempo, é substituído por alguém com todas as capacidades que ele foi
obrigado a abdicar ou teve que reprimir”. (SOARES, 2002, p.36).
O mundo da aposentadoria não é um espaço socialmente reconhecido. Devido
a esta falta de “lugar”, os aposentados habitam “lugares" inexistentes ou não
reconhecidos - devido à perda de posição, dos amigos, do núcleo de referência, a
transformação dos valores, das normas e das rotinas. Fala-se muito em mundo do
trabalho, mas pouco se fala em mundo da aposentadoria ou do não trabalho devido à
aposentadoria. (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010).
Para Santos (1990) o afastamento do trabalho em Para França (2008)
aprendemos a dividir o tempo entre o trabalho e o não trabalho e, aposentado, só
resta o tempo de não trabalho. A imagem da aposentadoria é ambígua porque se
alternam os sentimentos de liberação do trabalho e a possibilidade de ser mais feliz,
com sentimentos de vagabundagem, de vazio e de solidão.
Para muitas pessoas trabalhar significa viver, sendo a única atividade útil e as
demais são vistas como perda e desperdício de tempo. Para muitos, a aposentadoria
significa a perda do sentido dos objetivos, da rotina que organiza a vida e do papel
que concede a uma pessoa um lugar na sociedade. (SUPER; BOHN JUNIOR, 1972).
O trabalho se constitui um determinante para a organização e inserção social e
está articulado às relações humanas, intrínseco à constituição e às mudanças da
própria identidade do homem. Em contrapartida, a aposentadoria implica o
rompimento com essa identidade profissional. Ser aposentado é deixar de ser “João,
o professor”; “Maria, a enfermeira”; ambos serão simplesmente João e Maria, os
“aposentados” ou, de forma depreciativa, os “inativos”. O lugar do trabalho na vida
humana é um privilégio, e muitas vezes, é reconhecido e identifica-se com sua
profissão na sociedade, como se fosse um sobrenome que adquirido; “João, o
professor”; “Maria, a enfermeira”. (SOARES; BOGONI, 2008).
13

Segundo Witczak (2005) a expectativa de afastamento ou parar de trabalhar,


está diretamente relacionada ao sentimento de fim da vida. Se trabalhar é viver, a,
vida sem trabalho denota finitude, simboliza a impossibilidade de continuar
interagindo, participando, vivendo em sociedade.
Entende-se que a aposentadoria não deve ser vista como o fim dos projetos,
mas sim com um recomeço que precisa ser reestruturado, pois a perda de identidade
ligada anteriormente ao trabalho pode gerar ansiedade e necessidade de rede de
apoio social, elaboração da nova identidade, suporte afetivo e profissional (NERI,
1995)
Atualmente o tema tem sido alvo de questionamentos com as mudanças nas
idades estipuladas pelo sistema previdenciário e o impacto que isso gera na vida dos
indivíduos a curto e a longo prazo, tema que é de grande importância para a criação
de políticas públicas e criação de ações que geram mudanças não só no sistema
previdenciário, mas incluindo também o sistema de saúde e a procura pelos serviços
por exemplo, ações que garantem o processo de envelhecimento de forma saudável
e ainda geram autonomia para as pessoas que precisam tomar essa decisão.
Uma pesquisa realizada em 2010 com dados do SABE (Saúde, Bem-estar e
Envelhecimento da Faculdade de Saúde Pública da USP, atingiu cerca de 1714
pessoas entre 60 e 79 anos residentes na cidade de São Paulo, estado de São Paulo,
estudando quais impactos esse processo de aposentadoria causa nas pessoas,
Durante o processo de pesquisa, foram levantadas questões como: atividades
básicas da vida diária, atividades instrumentais da vida diária, mobilidade, doenças
crônicas, limitações devido a doenças, obesidade, depressão e funcionamento
cognitivo.
Os dados coletados levaram aos autores a perceber que as alterações nos
níveis descritos acima, proporcionam uma mudança significativa para ambos os
sexos, as medidas de saúde são piores entre os aposentados do que entre indivíduos
que continuam trabalhando, exceto para o indicador de funcionamento cognitivo, que
é superior entre os não aposentados. Esse resultado pode indicar que o histórico
laboral dos homens no município de é caracterizado por empregos que exigem mais
capacidade física, ou seja, com a saída do mercado de trabalho representaria um
ganho em capacidade funcional.
14

CENÁRIO ATUAL

A população brasileira tem apresentado uma grande expansão na expectativa


de vida decorrentes de mudanças demográficas, diante disto a taxa de natalidade bem
como a de fertilidade caíram expressivamente e há um aumento da população da
terceira idade. (IBGE,2008).
Um ponto relevante a se pensar, é que esse crescimento inverte a pirâmide
etária que antigamente era constituída em sua base por contribuintes ativos na
sociedade e que com o passar dos anos, com o aumento da expectativa de vida, essa
pirâmide vem se invertendo gradativamente, sendo necessário pensar em políticas
públicas e projetos de continuidade dessas pessoas no mercado de trabalho para as
manter ativas, mas também pensar na promoção de saúde e qualidade de vida para
esse grupo.

Fonte: IBGE – Projeção da População do Brasil: 1980-2060.


https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html?utm_source=portal&utm_medium=popclock

Na presença destes dados, averígua-se que os indivíduos que vivenciam o


processo de aposentadoria permanecem aposentados por um grande período. Essa
situação requer que haja ressignificação dos objetivos de vida, reconstrução da
identidade, amparados por ações públicas pertinentes que acolha esta população,
acompanhe e dê suporte de qualidade a eles. Sendo necessário o aperfeiçoamento
destas políticas para que sejam fornecidas condições de saúde mental e bem-estar
biopsicossocial aos indivíduos da terceira idade (SILVA,1999).
15

Em São Paulo pelo menos 64% dos idosos estão aposentados, e 95% deles
contribuem com a renda da casa, sendo que 68% chefiam as famílias. É o que mostra
pesquisa realizada pelo Sesc (2020), em parceria com a Fundação Perseu Abramo
(FPA), sobre idosos no Brasil: Vivências, Desafios e Expectativas na 3ª Idade. O
levantamento apresenta uma série de dados sociodemográficos e investiga o
imaginário social da população brasileira sobre o envelhecimento, além de temas
como saúde, moradia e aposentadoria.
Ao todo, 2.369 pessoas acima dos 60 anos foram entrevistadas em todas as
regiões do país. Outras 1.775 entrevistas foram feitas também com o restante da
população, de 16 a 59 anos. O objetivo, segundo os pesquisadores, era comparar o
que um idoso pensa com os demais grupos da sociedade. As entrevistas foram
coletadas do dia 25 de janeiro a 2 de março de 2020.
Entre os pontos identificados, o levantamento indica que a renda mensal de
grande parte da população brasileira (44%), entre idosos e não-idosos, é de até dois
salários-mínimos. Entre os que têm mais de 60 anos, menos de um terço (24%) ganha
entre 2 e 5 salários-mínimos. “Nas famílias, quem tem uma renda constante é quem
depende da previdência, o salário vem todo mês e eles conseguem planejar os gastos.
Mas o que os idosos contam pra gente é que cada vez menos familiares seus têm
empregos formais”, explica a assistente de Gerência de Estudos e Programas Sociais
(Gepros) do Sesc São Paulo, Rosângela Barbalacco.
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A SAÚDE MENTAL E A APOSENTADORIA

A saúde mental é uma condição de bem-estar no qual o ser humano tem a


percepção das suas habilidades, sabe lidar com os stress diários, pode ser produtivo
e contribui para o social (OMS, 2014). Manter o equilíbrio e saber lidar com impactos
decorrentes do envelhecimento bem como da condição de “estar aposentado” requer
uma atenção especial à saúde mental dos indivíduos na terceira idade.
O processo da aposentadoria está atrelado a mudanças que podem gerar
impactos na saúde mental dos indivíduos. Resultante de como a história pregressa de
vida foi estruturada e do valor pessoal dado às experiências laborais e sociais, a
aposentadoria é capaz de provocar sensação vazio, sentimento de menos valia e
inutilidade, abalo da autoestima, transtornos mentais que podem ser transformados
pelo empenho e participação ativa com a vida (FONSECA,2011).
Através do trabalho que o ser humano tem a possibilidade de se identificar, se
posicionar diante da sociedade, ser reconhecido e interagir socialmente. Portanto, a
aposentadoria requer novas escolhas para ocupar-se com atividades que tragam
gratificação, autoconhecimento e ressignificação de vivencias. Não se trata de
ausência de trabalho, mas sim de optar seletivamente por qual atividade será exercida
(DEJOUR,2004).
Considera-se que o trabalho pode trazer prazer e suprir as demandas psíquicas
dos indivíduos, porém aposentar-se pode suprimir uma forma de expressão, causar
rupturas, perda de um papel social e se não for dado suporte pode trazer sofrimento
psíquico que impacta negativamente a qualidade de vida. Surge então a urgência de
dar um novo sentido à vida desconstruindo a ideia de que o trabalho é o centro da
existência humana. Através do cuidado da saúde mental será possível visualizar a
escolha de atividades que tenham sentido para si na esfera cognitiva, afetiva e social
(JAQUES, 2002; GARCIA, 2005; VERONESE, 2007).
A aposentadoria requer mudanças cognitivas por lidar muitas com sentimentos
contrapostos, ou seja, a sensação de liberdade e ausência da rotina laboral. Diante
das dificuldades impostas é importante que haja apoio psicológico que direcione o
aposentando para opções saudáveis dentro do redirecionamento do seu projeto de
vida bem como buscar a expansão da rede de apoio social (WITCZAK, 2005).
Estudos da Organização Mundial da Saúde apontam que 30% dos
trabalhadores são acometidos por transtornos mentais leve e entre 5% e 10% por
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transtornos mentais graves. Diante destes dados estatísticos e do cenário percorrido


pelos aposentados advindos de ocupações do trabalho, há impactos decorrentes de
problemas psicopatológicos e comportamentais bem como agravos, sendo necessária
a garantia de acesso a serviços de saúde mental (OMS, 2001).
O aposentado que conviveu e convive com o sofrimento psíquico terá que lidar
com os ônus que podem afetar sua rotina de vida diária e relações interpessoais,
sendo condições relevantes clinicamente para o suporte de saúde mental a atenção
a alterações das emoções, de humor, do pensamento, angústia e comportamentos
que afetam o indivíduo na esfera social, biológica, psíquica e espiritual (OMS, 2001).
A aposentadoria pode causar danos à saúde mental e elevar em 40% a
predisposição ao desenvolvimento de quadro depressivo segundo a pesquisa
realizada pelo Institute of Economic Affairs (IEA, 2013). Portanto estratégias
preventivas, diagnósticas, tratamento precoce bem como a psicoterapia e
acompanhamento médico são necessários para diminuir os efeitos deletérios e reduzir
o risco de ideação e tentativa de suicídio (MINAYO, CAVALCANTE, MANGAS &
SOUZA, 2012).
O manejo psicológico da saúde mental e o cuidado dos quadros de transtornos
psicopatológicos em aposentados é baseado em grande parte na terapia cognitivo
comportamental (ABREU, 2012).
Cuidar da saúde mental envolve o tratamento de sintomas e engloba os
aspectos sociais, emocionais, culturais, financeiros e ambientais (ALMEIDA, 2011).
Neste âmbito há possibilidade de que sejam fortalecidas as práticas de atividades
prazerosas para que haja o surgimento de pensamentos positivos e o aumento do
bem-estar que favorecem saúde mental dos aposentados.
Em relação a medidas preventivas se destaca a terapia life riview que possibilita
as melhores formas de lidar com perdas trazendo um novo olhar sobre a fase da
aposentadoria (KORTE et al., 2012).
O psicólogo como profissional da saúde deve trazer ao aposentado o
significado da aposentadoria como um recomeço, uma nova etapa que será
impregnada pelas vivencias anteriores, porém respaldadas pelo amadurecimento que
a vida lhe proporcionou.
Atualmente a psicologia contribui com a visão de que o aposentado é um ser
sistêmico que inspira cuidado nas esferas biológicas, psicológicas, sociais e
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espirituais. A saúde é uma condição que está em equilíbrio dinâmico e é determinada


pelas esferas citas que estão em interação (BELLOCH E OLABARRIA, 1993).
Com isso, as estratégias de enfrentamento devem abranger a autoestima do
aposentado, seu bem-estar e qualidade de vida. Sendo importante que haja
acompanhamento da capacidade funcional e do estado emocional, estimulação de
interações sociais saudáveis e positivas, estabelecimento de rotina com atividades
prazerosas, autocuidado, suporte familiar e de ampliação da rede de amigos
(VECCHIA et al, 2005).
A psicologia, por sua vez, trata o envelhecimento como uma etapa do
desenvolvimento que requer do indivíduo adaptação, integração e aceitação. Trata-se
de um processo que é gradual que sofre influências sociais, econômicas, psicológicas
e biológicas decorrentes da história pregressa dos indivíduos que determinam as
exigências e as oportunidades de cada segmento etário na ordem social, onde a
sociedade dita os cursos de vida na medida em que define expectativas e normas
para cada faixa etária a partir de marcadores de natureza biológica e social (NERI,
2012).
Neri menciona também que ao estudar a qualidade de vida na velhice propõe
um modelo psicológico de bem-estar subjetivo na velhice. Os eventos antecedentes
são as variáveis de risco de natureza socioeconômica e biológica controlados por
idade e gênero. A relação entre os riscos associados ao envelhecimento e o bem-
estar subjetivo é mediada pelos mecanismos de autorregulação do Self e pelo senso
de ajustamento psicológico, em interação com os recursos sociais de que o idoso
dispõe. O bem-estar subjetivo inclui satisfação global e referenciada a domínios e
afetos positivos e negativos.
O envelhecimento ativo corresponde ao equilíbrio biopsicossocial, à
integralidade do ser que está inserido em um contexto social e ainda se refere ao
idoso que é capaz de desenvolver suas potencialidades. Daí a importância do apoio
da política, da família, da sociedade, da rede de amigos e dos grupos de interesse
comuns, todos juntos na luta contra a discriminação e o preconceito que gira em torno
do envelhecimento na nossa cultura. (FERREIRA, MACIEL, COSTA, SILVA &
MOREIRA, 2012, p. 517)

Atualmente, o mercado de trabalho diante do avanço tecnológico traz inúmeras


transformações de ordem econômica e social que demandam a necessidade de
mudanças por parte dos indivíduos da terceira idade. O processo de aposentadoria
19

ou estar aposentado requer qualificação por parte daqueles que querem exercer
atividades laborais. Diante disto há necessidade de direcionar energia psíquica para
este fim e maior empenho das equipes de recursos humanos das organizações e das
equipes multidisciplinares através de programas de preparação e de desenvolvimento
para promover envelhecimento ativo desse grupo.
20

RESULTADOS

Após a revisão da literatura, é possível avaliar que o processo de aposentadoria


traz impactos nas três esferas centrais as quais deve-se enxergar o indivíduo, ou seja,
nos aspectos biológicos, psicológicos e sócio interacionais. Estes aspectos são
dinâmicos e interagem entre si. Sejam eles negativos ou positivos, a percepção e a
subjetividade do “aposentar-se” é resultante da história de vida do indivíduo, do
contexto econômico, dinâmica familiar, apoio social e princípios de fé e crenças. O
bem-estar ao aposentar-se é buscado pelos sujeitos e de acordo com o Estatuto do
idoso (Lei 8.842/94) é um direito que deve proporcionar a integralidade, a autonomia,
interações positivas e uma saudável readaptação às novas perspectivas de vida.
A aposentadoria está ligada à idealização de que a velhice bateu à porta e
enfrentar essa realidade não é tão simples quanto se possa imaginar. A distância que
se faz no status de trabalhador para aposentado, faz com que o indivíduo se sinta um
estranho. Num dia é um profissional conceituado e noutro um aposentado. Para
aqueles que conseguiram ao longo de sua jornada garantir recursos que os ajude a
ter uma estadia mais confortável em sua aposentadoria essa passagem torna-se de
melhor assimilação, já para aqueles que não tem a mesma condição, que não
conseguiram ao longo do tempo assimilar e se planejar, o afastamento de suas
atividades torna-se um pesadelo.
Enquanto na cultura oriental o idoso é representado como um ser de vasta
sabedoria e respeito, ser velho em nossa sociedade está correlacionado muitas das
vezes à inaptidão. Todo conhecimento e existência, de certo ponto, passa a ser
descartado. É sempre velho demais para ensinar, para produzir e para ocupar um
espaço. Uma sobrevivência invisível aos demais. Nossa sociedade admira os mais
jovens, pois são os mais produtivos e mais exploráveis. São eles que giram a
economia, ocupam os espaços culturais e são mais adaptáveis às novas tecnologias
existentes. Ser velho em nossa sociedade significa deixar de ser economicamente
produtivo e, portanto, condição para ser desconsiderado e abandonado (Uvaldo,
1995).
O rompimento do vínculo empregatício, de ser um profissional e passar a ser
um aposentado, para alguns está acompanhada do medo e insegurança do que será
da vida a partir de agora: o que pode fazer para deixar de ser um “peso” dentro de seu
lar? essa busca por ocupação e as recusas obtidas trazem adoecimento e insatisfação
21

nos idosos. Enquanto muitos gozam da ideia de que produziram por muito tempo e
agora é o momento de aproveitar os momentos junto daqueles que amam, outros
acabam adoecendo e perdendo a qualidade de vida. Um fator associado a esse
impacto é a questão financeira.
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CONCLUSÃO

A aposentadoria traz o desafio de se reestruturar novamente, construir uma


nova identidade e se autorrealizar agora de modo pessoal e não mais profissional,
buscando novos horizontes e desafios. Os programas direcionados aos idosos que
estão prestes a se aposentar são de suma importância para que os preparem e os
acolham durante o processo de pré-aposentadoria, os auxiliando em seus medos e
angústias no que se refere ao assunto. Com o objetivo de assegurar os direitos sociais
do idoso, em 4 de janeiro de 1994 entrou em vigor a Lei n.º 8.842.
O psicólogo organizacional tem uma atuação importante na melhoria da
qualidade de vida desses trabalhadores, destacando tanto os pontos positivos quanto
os negativos, buscando soluções viáveis para esse processo de adaptação e
preparando-os para a nova fase que será enfrentada.
Passada uma vida dedicada ao trabalho, no qual o indivíduo encontra
diariamente familiaridade e identidade na sociedade, tendo a atividade exercida como
regulador de horários, responsabilidades, rotinas e sentindo-se útil e pertencente ao
meio, ao aposentar-se surgem as dificuldades relacionadas à adequação do espaço
que passa a ocupar e o reconhecimento de si. Os ambientes parecem ter espaço
apenas para aqueles que produzem.
Neste sentido, nota-se a importância de programas que direcionam os idosos
a atividades que possam desenvolver de acordo com aquilo que gostam de fazer e
não mais de maneira automática, estabelecendo assim conexões com o meio social
e o bem-estar.
23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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