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Resumo
A autora aborda as dimensões da angústia através da clínica.
saber o que o Outro quer do sujeito (im- O superego profere uma ordem im-
potência de saber) e quando essa falta se possível de ser cumprida pelo sujeito,
preenche pela iminência de resposta pos- mesmo que se esforce bastante, porque
sível. o gozo é fálico, limitado, fixado ao um
Exemplo: o angustiado da página em e dura pouco. Angústia e culpa se avizi-
branco. nham, pois as duas estão na linguagem e
no saber.
Perguntem ao angustiado com a pá- A angústia segue o gozo fálico de
gina em branco, e ele lhes dirá quem é maneira muito próxima: o homem sofre a
o excremento de sua fantasia (Lacan, angústia da detumescência, de não mais
[1960] 1998, p. 832). poder (impotência).
A mulher sofre por ser objeto de uso
Na análise, essa destituição subjetiva (instrumento de gozo) e em ser reduzida
programada toca os fenômenos da angús- a objeto fora do uso. Quanto mais agar-
tia. rado ao gozo fálico, como na melancolia
E aí chegamos às estruturas clínicas e na neurose obsessiva, mais o supereu se
e aos efeitos que elas sofrem em decor- enfurece.
rência do discurso capitalista, lembrando
que cada estrutura implica uma posição Histeria
ética. As formas de angústia são diferentes no
Tomaremos mais a clínica da neuro- obsessivo e na histérica. A histérica se
se. A neurose é a mais defendida das es- identifica com a castração como faltosa.
truturas clínicas, o que explica o neuróti- O obsessivo tem a resposta. Ele sabe por
co fabricar sintomas; ele sintomatiza seus que corre mais risco de cair no lugar de
gozos. A neurose, então, é uma estrutura objeto do desejo do Outro (a mãe): ele
de defesa em relação ao gozo. tem o que ela deseja.
Na experiência clínica as angústias A histérica faz greve do corpo (La-
superegoicas são as mais difíceis de redu- can, [1969-1970] 1992, p. 88) e parece
zir e as mais devastadoras. paradoxal com as somatizações que re-
Freud atribui ao superego a reação conduzem o gozo ao corpo, deserto de
terapêutica negativa, apresentada por gozo, corpo que só goza na superfície. A
aqueles sujeitos que não suportam o êxi- somatização é o significante que se imis-
to e recusam qualquer sinal de melhora. cui nas funções do corpo, que atravessa a
É uma angústia paradoxal em relação ao superfície e que toca as próprias funções.
princípio de prazer. Não é o mal que en- A partir de agora as histéricas têm
gendra a culpa, mas o bem. acesso a um leque muito amplo de angús-
Nesse sentido, para Freud o superego tia quando querem bancar O Homem e
interdita o gozo, enquanto para Lacan o apresentam novas oportunidades de an-
superego comanda o gozo. Superego é de gústias em vez de novos sintomas. Estão
início uma voz que repreende herdada do sujeitas a todas as angústias ligadas ao
Outro. É uma cadeia significante que se poder fálico: à angústia de impotência, às
impõe na dimensão de voz. angústias superegoicas, que demandam
O superego é diferente do ideal do sempre mais. Atualmente, a inveja do
eu, que também pode ser esmagador. pênis desemboca em angústia e não em
Os afetos do superego são angústia e depressão.
culpa. Entretanto, há diferença entre os Para Soler (2012), os novos sintomas
dois: a culpa é um afeto que engana; a têm uma dimensão de acting out histéri-
angústia é um afeto que não engana. co, pois gozam de um corpo sem passar
Reverso • Belo Horizonte • ano 40 • n. 75 • p. 43 – 50 • jun. 2018 45
Dimensões clínicas da angústia
Sobre a autora