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T EOR I A Ana

E Carolina
CLÍ N ICA
Peck PSICA
Vasconcelos & Breno NA
FerreiraLÍT
Pena ICAS

Angústia:
o afeto que não engana
Ana Carolina Peck Vasconcelos
Breno Ferreira Pena

Resumo
A angústia é um afeto norteador da clínica psicanalítica, sem representação e da ordem do real,
por isso um afeto que não engana. Nesse contexto, este artigo tem por objetivo realizar um breve
percurso do conceito de angústia construído por Lacan no Seminário 10, bem como compreender
suas nuances, que em muitos momentos se configuram como um enigma a ser desvendado tanto
na teoria quanto na clínica psicanalítica.

Palavras chave: Angústia, Afeto sem representação, Clínica psicanalítica.

Afeto extremamente importante na práti- Para Miller (2005), torna-se com-


ca psicanalítica, a angústia foi caracteriza- preensível que Lacan tenha optado
da por Freud, desde o começo de sua obra, por se debruçar sobre a teorização da
como um afeto sem representação. Ao angústia, visto que esse seria de fato o
trabalhar as referências freudianas, Lacan único afeto sem representação e apon-
([1962-1963] 2005) concebe a angústia taria diretamente para o real, enquanto
como um afeto que não engana, que per- objeto a.
tence ao real e não pode ser capturado na Lacan reafirma a teoria freudiana de
malha significante. Como tal, afirma que que a angústia, em si, é um afeto e não um
a angústia funciona como balizador para sintoma. Evidencia que, enquanto afeto, a
o analista em sua prática clínica, por sua angústia conserva-se à deriva, pois nunca
manifestação tanto no analisando quanto é recalcada. E exatamente por isso é tão
no próprio analista. inquietante, por não estar vinculada à rede
Ao se aprofundar na teoria freudiana de significantes, não sendo, assim, passível
sobre a angústia, portanto, Lacan desen- de ser representada.
volve todo um seminário sobre o tema Para Lacan ([1962-1963] 2005), o
entre 1962 e 1963. Trata-se do Seminário significante não abrange tudo, pois algo
10: A angústia. Nesse seminário Lacan sempre se perde na procura do significan-
propõe um questionamento: o que é pro- te pelo objeto, levando inevitavelmente
duzido pela relação do sujeito com o objeto a uma defasagem entre ambos. E, ainda
a? É nesse contexto, que vem à tona a que não se apreenda a angústia, que não
questão da angústia, como consequência se possa traduzi-la em palavras, ela se
dessa relação. presentifica enquanto uma certeza avas-
Nesse seminário Lacan formaliza sua saladora no corpo.
teoria do objeto a, e isso apenas se tornou A partir da proposta freudiana de
viável porque, já na década de 1960, ele que a angústia é um sinal (Freud, [1926]
pensou a lógica da primazia do significan- 2011), é viável complementá-la com La-
te, formulando o objeto a como real, aquilo can: a angústia é sinal da relação do sujeito
que não é tangível de simbolização. com certo objeto, o objeto a.
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Angústia: o afeto que não engana

A manifestação mais flagrante desse De acordo com Viola e Vorcaro


objeto a, o sinal de sua intervenção, é (2011), nesse momento de construções e
a angústia (Lacan, [1962-1963] 2005, formulações a respeito do objeto a, o gozo
p. 98). é mais trabalhado como o avesso da ordem
significante, como o que não possibilita se
E conclui: enredar pela cadeia da linguagem. A ideia
de gozo que comparece no Seminário 10
Do real, [...] é disso que angústia é sinal. é importante por trazer de volta para o
(Lacan, [1962-1963] 2005, p. 178). debate psicanalítico a dimensão do corpo.
Levando-se em conta um organismo
Nesse sentido, Lacan traça um per- que goza, que é constituído por órgãos
curso por meio da angústia, para que seja reais e erógenos, faz-se necessária uma
possível construir um saber acerca do obje- ponte para assegurar tanto o progresso na
to. Inicialmente o objeto é pensado como assimilação do desejo quanto o manejo da
objeto do desejo do sujeito; por fim, o clínica psicanalítica, que não pode mais ser
autor conclui que não existe objeto do de- a mesma, tendo em vista a inserção desses
sejo. O que existe é objeto como causa de novos parâmetros. O objeto a se torna o
desejo, que ele denominou como objeto a. cerne da discussão clínica em virtude de
Contudo, em um primeiro momento, seu papel de causa e seu caráter de borda.
é importante ressaltar, que esse objeto Assim, no seminário dedicado à te-
incita o gozo e está contido no sujeito. mática da angústia, Lacan ([1962-1963]
Apenas após a passagem pelo Édipo pode 2005) mergulha para desvendar o papel
se tornar também causa de desejo, pois, do objeto a na experiência analítica e, a
para haver desejo, é necessário que haja partir do viés da angústia, esse aconteci-
a circunscrição da falta. mento que manifesta o ponto em que se
Assim, Freud se ocupou em desvendar está frente ao real.
o que seria o objeto da angústia. E Lacan
faz uso da própria angústia para pensar em Ponto onde o resto se apresenta desvelado
um objeto até então não formulável porém de toda cobertura. Ponto diante do qual,
fundamental para todo o encadeamento desamparado diante do real, sem o véu
de sua teoria do desejo. da imagem ou a tradução significante, o
A letra a, segundo Viola e Vorcaro encontro com a coisa provoca no sujeito
(2011), indica o resto da operação de o afeto que não mente (Machado, 2008,
constituição do sujeito a partir da lingua- p. 35).
gem. É um resto impossível de ser reduzido
ao significante, um resto que se apresenta Além disso, Lacan ([1962-1963]
como borda entre o real e o simbólico. 2005) frisa que a angústia não é sem ob-
Como borda, o objeto a funciona como jeto, já que se faz presente exatamente em
a causa do desejo, o que está por trás da virtude das relações do sujeito com o ob-
substituição significante que constitui o jeto a. Contudo, pondera que não se trata
desejo. de um objeto do mundo dos fenômenos,
O percurso que Lacan realiza no âmbi- pois diz respeito a um objeto totalmente
to da angústia revela o limite do desejo, as impossível de ser pensado, visto que não
bordas do gozo. A partir desse momento, o existe imagem ou palavra que o represen-
gozo será muito problematizado por Lacan te, e o que revela sua presença é o que se
em formulações cada vez mais complexas sente no corpo, o real no corpo como um
e, nesse contexto, ganha uma condução resto impossível de simbolizar: o próprio
com contornos mais simples. objeto a.
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O autor sugere ainda que a presença sentido no corpo, o sujeito ainda tem a
do objeto a, enquanto angústia, pode se proteção da tela da fantasia, ainda não
manifestar por meio da relação fantasmá- está tão próximo assim do objeto a.
tica ou por um encontro não esperado com Já no caso da angústia do desamparo,
o real, no qual o objeto se presentifica sem o sujeito se aproxima demais do objeto a,
a proteção da fantasia. o véu da fantasia se torna mais permeável,
A fantasia funcionaria como uma tela o que mobiliza no sujeito uma estranheza,
de proteção que o sujeito cria para driblar um choque. Ele é atravessado pelo real, o
a falta primordial, que se encontra no que o paralisa momentaneamente.
campo do insuportável – a inconsistência Dessa maneira, como sugere Miller
do Outro. (2005), a angústia sinal pode funcionar
Dessa forma, promove uma triagem como norteadora para o tratamento, uma
sobre o gozo absoluto do ser: vez que é sinal da relação do sujeito com
o objeto a, apontando, assim, para o real.
[...] a entrada em ação da fantasia é que O trabalho em análise visa o desejo,
freia o empuxo-ao-gozo inerente a expe- ou seja, o analista na posição de causa de
riência imperiosa da pulsão de morte de desejo possibilita ao paciente ainda que
obter satisfação absoluta a qualquer preço de forma parcial, o acesso ao seu saber
(Jorge, 2010, p. 143). inconsciente. Dessa forma, ao longo de seu
processo analítico, o analisando poderá
Assim, a fantasia fundamental exerce construir e descontruir sua fantasia, con-
esse papel e impõe o enquadre à realidade frontando-se com a castração. No entan-
psíquica. O sujeito passa a ver o mundo to, esse percurso não se dá sem angústia.
através dessa janela, que conta ainda Na realidade, segundo Lacan ([1962-
com um véu que age como cortina e se 1963] 2005), é justamente o contrário, ao
converte em uma tela de proteção para se lidar com o fantasma do sujeito. O que
se defender do real insuportável que ela a clínica revela é a presença da angústia
esconde. Nesse contexto, a fantasia como sinal, ocasionada pelo questionamento
tela de proteção ao real nos direciona para da relação do sujeito com o objeto a no
o desejo. enquadre fantasmático.
No entanto, diz respeito à angústia A função do objeto a na constituição
que emerge entre o gozo e o desejo, a do desejo direciona Lacan a uma aborda-
angústia enquanto angústia sinal, como gem decisiva sobre a questão da angústia:
ratifica Jorge (2010, p. 169), se manifesta o sujeito alienado pelo significante é
quando o objeto a se torna muito próximo eclipsado ao se encontrar com o vazio de
do sujeito: significante. Nesse contexto, há a invasão
da angústia, que demarca o momento em
[...] a angústia é o sinal de que o objeto que o desejo retorna para antes da cadeia
a, causa de desejo, que deve ser mantido de significantes e se depara com o objeto
sempre a certa distância, está se aproxi- que o causa (Viola; Vorcaro, 2011).
mando demais. Porém, existe a angústia mais primiti-
va ligada ao desamparo original, na qual se
Lacan ([1962-1963] 2005) aponta torna evidente a inconsistência do Outro,
a angústia como um sinal e estabelece a sua falta de garantia. Esses são momentos
diferença entre a angústia de castração mais raros e mais avassaladores, configu-
e a angústia do desamparo. No caso da rando-se como uma situação traumática,
angústia de castração, o autor argumenta em que o sujeito não conta com a angústia
que, apesar de mobilizar um mal-estar sinal como um aviso de que um perigo
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Angústia: o afeto que não engana

iminente se aproxima. Nesse instante retornando ao ponto em que o “sujeito de


o sujeito é confrontado com o real sem gozo” (S sem a barra) se depara com o Ou-
significação. tro, lugar do significante (A sem a barra).
Apenas diante desse encontro trau-
É o ponto no qual me apreendo como mático com a linguagem, esperado nessa
objeto causa do desejo do Outro, em operação de divisão, é que o sujeito bar-
presença do desejo do Outro. É o instante rado pode emergir, instituindo o lugar da
em que realmente me sinto esse objeto e falta. Como produto disso, permanece
a sua tradução é a angústia. Mas de que um resto não plausível de significar – o
angústia se trata? Certamente não da an- objeto a.
gústia sinal, mas da angústia primordial, Se a queda desse objeto o elimina da
essa angústia que rompe todas as defesas, cadeia significante, a linguagem buscará,
a barreira protetora diante do estímulo, sem sucesso, capturá-lo. Esse resto que fica
para dizê-lo em termos freudianos (Rabi- dessa operação é justamente o que propor-
novich, 2005, p. 99). ciona a constituição do sujeito desejante.
Dessa forma, quando acontece essa
Diante disso, pode-se dizer que o furo operação de divisão subjetiva, ela deter-
primitivo, que nunca é tamponado, está mina a presença do sujeito e do objeto a. E
ligado à castração inerente à linguagem, é através da relação desses dois elementos
que está diretamente relacionada ao de- na fantasia que se chega à angústia.
samparo original e, por um instante, tem Nesse aspecto, Bênia, Celes e Cha-
o poder de trazer à tona o real da angústia. telard (2016) nos apontam que se pode
Quando a angústia invade o sujeito analisar a angústia ligada à presença do
como o puro desejo do Outro, ela o sub- objeto, muito mais do que à sua falta.
juga na posição de objeto do gozo desse No Seminário 10, Lacan ressalta que
Outro, o que está para além da proteção o lugar vazio do objeto renunciado na
da fantasia. constituição subjetiva é um lugar a ser
Dessa forma, quando o sujeito não conservado sem tamponamento, para que
pode contar com o anteparo da fantasia, a dimensão do desejo seja mantida. Caso
o véu se levanta, e ele é confrontado com isso não ocorra, a angústia se faz presente
o real, sente a presença do objeto a, sem como marca do real, sem defesas.
a proteção fantasmática (Lacan, [1962- Miller (2005) destaca que a extração
1963] 2005). do objeto a só é viável, nessa circunscrição
Para Freud ([1926] 2011), a angústia teórica, porque a angústia é um caminho
seria uma reação diante do perigo da perda não significante, ou seja, um afeto que
de um objeto. baliza o que está alheio à linguagem. Como
Lacan ([1962-1963] 2005), no entan- sinal, a angústia delimita uma convicção
to, nos direciona para outra perspectiva: prematura para o sujeito, certeza repenti-
a angústia não como o sinal de uma falta, na de sua condição de objeto. A verdade
mas como da falta do apoio da falta. É a apontada pela angústia é esta: a verdade
falta que faz com o que o sujeito deseje. do sujeito, transvestida em objeto, em
Mas ao nos depararmos com a angús- resto. 
tia, o que é possível notar, é que, nesse No que tange aos registros no imagi-
lugar onde deveria haver a falta, entra um nário, em que a constituição da imagem
objeto que vem obturá-la. se propõe a uma suposta completude
Para explicar a relação da angústia narcísica, não é possível especular esse
com o objeto a, Lacan ([1962-1963] 2005) lugar vazio. Assim também no registro
formula o esquema da divisão subjetiva, simbólico, o lugar vazio deixado pela
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retirada do objeto também não é passível fundamental nessa estruturação. Lacan a


de significação. coloca no lugar do “entre” (gozo e desejo),
Desse modo, quando algo surge ali, onde o objeto a brota como representante
onde o vazio deveria permanecer, obtu- do sujeito, não no registro do imaginário,
rando-o, é que a falta faz falta. Quando ou simbólico, mas em seu real indomável.
há uma presença no lugar em que não Portanto, podemos concluir que a an-
deveria haver nada, faz surgir um algo a gústia não seria pela perda do objeto, nem
mais angustiante. Novamente, a angústia pela falta do objeto, mas sim pela presença
é frisada por Lacan como um sinal, um do objeto. Devido a isso, a angústia é o
indício de que o objeto esteve próximo afeto que, por essência, não é capaz de
demais (Miller, 2005). enganar, pois está presente como marca
Miller aponta que Lacan passa a pon- do real, do que não é possível simbolizar.
derar o pequeno a da fantasia do neurótico Aprendemos com Lacan que, frente
como um a suplementar, uma adulteração, ao vazio, do ponto oco da estrutura, o
um deslocamento indevido no Outro. Ao sujeito fará uso do falo e do objeto a para
atuar como o a, a fantasia transforma esse justamente agir com esse ponto. Bênia,
objeto em um objeto visado. Celes e Chatelard (2016) nos apontam
De acordo com Miller (2005), é em que o falo causa a operação pela via sim-
decorrência disso, que se refere a um bólica. Já o objeto a, nomeado por Lacan,
engano. E isso é primordial já que existe possibilitou à psicanálise atuar com o
todo um movimento nesse seminário que real, o que persiste, o que repete, o que se
chama atenção para a exterioridade do apresenta por não ter a via da linguagem
objeto a em relação ao campo do Outro. para se manifestar.
Miller ainda esclarece: Nesse contexto, segundo Bênia, Ce-
les e Chatelard (2016), para apreendê-lo
A fantasia neurótica é colocada como na clínica, é necessário observar onde se
inautêntica e o objeto a da fantasia do desvela o real, o ponto da falta em que
neurótico apenas como um substituto. o recobrimento não se dará por meio da
Permanece, nesse Seminário, a noção de tradução em palavras. Devido a isso, a
que o verdadeiro de verdade, o verdadeiro angústia serve de norteadora para a di-
objeto a, não pode ser visto. [...] Lacan reção do tratamento, visto que o que ela
constrói os objetos-causa como não personifica é que ali, naquele ponto onde
especularizáveis, eles não podem ser cap- se revelou, está-se próximo do objeto a,
turados no espaço do espelho, no campo logo do real.
escópico, eles escapam ao campo visual. A angústia é essencial para a psicaná-
Por isso, o que Lacan chama de campo do lise, tanto quando aparece como queixa
Outro no Seminário A angústia é o lugar que impulsiona a busca por uma análise
do significante, mas também o lugar das quanto no momento em que se desvela,
aparições, é ali que eles aparecem (Mil- no decorrer do processo analítico, funcio-
ler, 2005, p. 52-53). nando como um índice do real.
Ao ser adotada como conceito que
Dessa forma, segundo Lacan ([1962- alicerça a prática psicanalítica, procurar
1963] 2005), a angústia desempenha um sua formalização na teoria construída
importante papel na constituição subjetiva por Lacan, demostra-se de significativa
e, logo, na constituição do desejo neuróti- relevância.
co. A angústia surge aqui como momento Para Lacan, o manejo da angústia se
lógico antecedente à constituição do configura como um enorme desafio para
desejo, constituindo-se como condição os analistas, uma vez que é necessário
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Angústia: o afeto que não engana

conseguir apreender quanto o analisante


pode suportar de angústia. Segundo o Referências
autor, isso é o que nos põe à prova como BÊNIA, R; CELLES, L; CHATELARD, D. O afeto
analistas a todo momento (Lacan, [1962- “angústia” em Freud e em Lacan: discussões para a
1963] 2005). clínica psicanalítica atual. Caderno de Psicanálise,
O processo analítico proporciona Rio de Janeiro, v. 38, n. 34, p. 47-59, jan./jun. 2016.
uma experiência inédita, pois possibilita
FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926). In:
ao sujeito um encontro com o que há de ______. “Inibição, sintoma e angústia”, “O futuro de
mais particular e singular nele próprio. Por uma ilusão” e outros textos (1926-1929). Tradução
conseguinte, o incita a buscar sustentar e Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
suportar o vazio subjetivo a que isso con- Letras, 2014. p. 13-123. (Obras completas, 17).
duz. A angústia é o afeto que não engana,
JORGE, M. A. C. Fundamentos da psicanálise: de
reafirma Lacan ([1962-1963] 2005). Isso Freud a Lacan, v. 2: a clínica da fantasia. Rio de
se evidencia quando, ao se debruçar a Janeiro: Zahar, 2010.
escutar, o analista pode apreender mais
verdade na angústia do que na própria LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia (1962-
1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller.
fala do paciente.
Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar,
Tendo isso em vista, torna-se possível 2005. (Campo Freudiano no Brasil).
dizer que esse afeto carrega em si uma
convicção que toca em indícios do incons- MACHADO, Z. Da angústia ao desejo do analista.
ciente e que aponta que, a partir dali, pode Reverso. Belo Horizonte, ano 30, n. 56, p. 35-40,
out. 2008. Publicação semestral do Círculo Psica-
advir um sujeito.
nalítico de Minas Gerais.
Logo, trata-se de uma aposta.
Por fim, compreende-se que a angús- MILLER, J.-A. Introdução à leitura do Seminário
tia não engana, pois porta uma verdade da Angústia de Jacques Lacan. Opção Lacaniana,
sobre o sujeito. j Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, São
Paulo: Eolia, n. 43. p. 7-81, 2005.

RABINOVICH, D. A angústia e o desejo do Outro.


ANGUISH: Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.
THE FAILURE TO DO IT
VIOLA, D.; VORCARO, A. A verdade e o engodo
do desejo na leitura do seminário “A Angústia” de
Abstract
Jacques Lacan. Ágora: Estudos em Teoria Psicana-
Anguish is a guiding affection of the lítica, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1. jan./jun. 2011.
psychoanalytic clinic, being without
representation, of the order of the real, for Recebido em: 17/06/2019
that reason an affection that does not deceive. Aprovado em: 13/09/2019
In this context, this article aimed to make a
brief review of Lacan ‘s concept of anguish
in seminary 10, as well as to understand
its nuances, which in many moments are
configured as an enigma to be unveiled both
in theory and psychoanalytic clinic.

Keywords: Anguish, Affect without


representation, Psychoanalytic Clinic.

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Ana Carolina Peck Vasconcelos & Breno Ferreira Pena

Sobre os autores

Ana Carolina Peck Vasconcelos


Psicóloga.
Mestra em Psicologia pelo Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal
do Pará, na linha de pesquisa Psicanálise: teoria
e clínica.
Especialista em Psicologia da Saúde e Hos-
pitalar pelo Instituto de Ensino e Pesquisa em
Psicologia e Saúde.
Psicanalista em formação pelo Círculo Psica-
nalítico do Pará.
Membro do Laboratório de Psicanálise e
Psicopatologia Fundamental da Universidade
Federal do Pará.

Breno Ferreira Pena


Psicólogo.
Psicanalista sócio do CPMG.
Pós-graduado em gestão de pessoas pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Doutor e mestre em Psicologia pela PUC
Minas.
Professor da Faculdade de Psicologia e do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Pará (UFPA).
Professor da Residência Multiprofissional,
Complexo Hospitalar UFPA-EBSERH, Unidade
João de Barros Barreto.

Endereço para correspondência

Ana Carolina Peck Vasconcelos


E-mail: <carolinapeck@gmail.com>

Breno Ferreira Pena


E-mail: <brenopena@hotmail.com>

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