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PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DA SAÚDE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
GOIÂNIA, 2020
GIOVANA MARTA DA SILVA MOMBELLI
GOIÂNIA, 2020
GIOVANA MARTA DA SILVA MOMBELLI
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Prof.ª Drª. Margot Riemann Costa e Silva
PUC Goiás
(Presidente)
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Profª. Mª. Marly Bento
PUC Goiás
(Membro)
AGRADECIMENTOS
Compreendo que na existência humana, não há quem realize nada sozinho. De forma
obrigatória, direta ou indiretamente, em todo caso, haverá algum ou alguns que viabilizarão as
conquistas.
Por isso agradeço, primeiramente, a Deus, que é o primeiro viabilizador de tudo de
bom que se pode existir, uma vez que tudo se deu e se dá a partir dele.
Agradeço aos meus pais, Angela Maria Bezerra e Derli Mombelli, que me deram a
vida, e fizeram muito por mim e minha formação, em especial minha mãe, a qual foi, depois
de Deus, foi a maior viabilizadora da minha educação.
Agradeço aos meus avós maternos, Maria José Bezerra e Stélio Silva (in memoriam),
os quais me deram amor e cuidado, enquanto fora possível.
Agradeço ao apoio de minhas tias, tio e padrinho de batismo religioso: Maria do
Socorro Bezerra, Maria Margarete Bezerra, Regiani Mombelli, Francisco Bezerra e Claudio
José dos Santos, também ao meu padrasto Tancredo Gonçalves que me apoiaram na minha
trajetória acadêmica.
Agradeço à minha avó paterna, Dileta Bombardelli, pelo cuidado que recebi.
Nascida na região amazônica, mudei-me para Goiás no ano de 2018. Fiz alguns
amigos, que foram grandes estimuladores pessoais e não poderia deixar de mencioná-los:
Eliana Vasconcelos, José Neves e Dayse Fleury.
Agradeço à professora e querida alemã, Margot Riemann, a qual auxiliou na
construção desse trabalho.
Agradeço às professoras que participarão da banca, Maria Conceição Padial e Marly
Bento.
Agradeço a todos os professores que participaram da minha formação, desde a mais
tenra infância. Em especial, aos que foram mais marcantes.
Deixo os meus sinceros agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente,
viabilizaram este trabalho.
"A nobreza de nosso ato profissional está em acolher aquela pessoa por inteiro, em conhecer
a sua história, em saber como chegou a esta situação e como é possível construir com ela
formas de superação deste quadro. Se reduzirmos a nossa prática a uma questão urgente, a
uma questão premente, retiramos dela toda a sua grandeza, pois os deixam de considerar,
neste sujeito, a sua dignidade humana".
(Maria Lúcia Martinelli)
RESUMO
The objective of this research was to analyze the new demands arising from the population
aging process, aiming in particular to identify the challenges and difficulties encountered by
informal caregivers of the elderly. The research was based on literature review of books and
articles printed or published in electronic media. It was identified that the elderly will need to
be cared for and that this need for care, for society, will be increasingly strong, due to the
demographic and epidemiological transition, due to the growing population aging. The results
point to the idea that most of informal caregivers are women, with family ties. The growing
number of elderly people will demand specialized public services that will reflect the current
planning and priorities of social public policies.
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
CONSIDERÇÕES FINAIS....................................................................................................43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................44
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INTRODUÇÃO
Segundo este mesmo artigo do Estatuto do Idoso, a pessoa quando atinge a velhice
tem as mesmas garantias de um jovem, sendo que a do idoso tem mais proteção e garantia dos
demais.
O dever de amar, cuidar e proteger a pessoa idosa é semelhante ao que é garantido
para uma criança. No art. 3º da Lei 10.741 de 2003, encontra-se referência a esta
responsabilidade:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar
ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
A lei é clara no tocante ao cuidado, pois, fica entendido que ao envelhecer, os papeis
devem se inverter, pois, quem primeiro ofertou carinho, amor, segurança e proteção, agora se
encontra na posição contrária, debilitado e incapaz de realizar ações antes desempenhadas
com maestria.
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O Brasil é um dos países da América Latina que tem experimentado um dos maiores
aumentos em relação a sua proporção de idosos na população total. Isto significa uma
acelerada tendência de envelhecimento populacional. De acordo com Miranda; Mendes; Silva
(2016) nas últimas décadas constata-se esta afirmação ao longo dos Censos e das projeções
realizadas até 2040, conforme tabela abaixo.
No atual contexto em relação à população idosa brasileira, por exemplo, a projeção
aponta que, a partir de 2039, o Brasil terá mais pessoas acima de 65 anos do que crianças de
até 14 anos. E em 2060, o país terá 67,2% de cidadãos considerados dependentes da força de
trabalho dos adultos (acima dos 65 ou abaixo dos 15 anos) para cada cem pessoas em idade de
trabalhar. (MINAYO, 2019).
O quadro dos idosos dependentes foi traçado pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)
realizada em conjunto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério
da Saúde (MS) em 2013. Os dados analisados por autores como Lima-Costa et al (apud
MINAYO, 2019), mostram o seguinte: foram ouvidas 23.815 pessoas, numa amostra
nacionalmente representativa de toda a população acima de 60 anos.
Do conjunto, 56,4% eram mulheres, reafirmando sua predominância no processo de
longevidade; 32,8% eram analfabetos; 46,5% tinham de um a oito anos de estudo e 21,7%
possuíam curso superior; 14.9% viviam sozinhos; 35,6% moravam com uma pessoa e 42,3 %
com duas ou mais. Foi encontrada a prevalência 30.1% de pelo menos uma limitação para as
atividades da vida diária (AVD), chegando a 43,0% entre os analfabetos; a 29% entre os que
tinham instrução primária e 13,8 % entre as pessoas com formação superior. (MINAYO,
2019). Esses últimos dados assinalam, de um lado, a elevada proporção de idosos com perda
de autonomia; de outro, os efeitos da desigualdade, expressos nos grupos de analfabetos e
com apenas educação elementar.
A partir das análises dos dados estatísticos citados, percebe-se uma urgência por parte
do Estado e da sociedade quanto ao enfrentamento dos desafios que virão juntamente com
aumento do envelhecimento populacional. O país já tem um importante percentual de idosos,
que será crescente nos próximos anos, demandando serviços públicos especializados que será
reflexo do planejamento e das prioridades atuais das políticas públicas sociais.
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70 a 74 anos
65 a 69 anos
60 a 64 anos
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50 a 54 anos
45 a 49 anos
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aproximava dos 54 anos. A manutenção de altas taxas de fecundidade nas décadas que se
seguiram à queda da mortalidade, determinou significativo crescimento da população. Assim,
a população brasileira saltou de 41 para 93 milhões de pessoas entre 1940 e 1970, crescendo
quase 30% a cada década. No entanto, os jovens representavam ainda mais de 40% da
população e os idosos, menos de 3%. (CHAIMOVICZ, 2013).
Até os anos 1970, os elevados níveis de fecundidade, acompanhados pela queda
progressiva da mortalidade, contribuíram para o crescimento da população com grande
participação de crianças e jovens. O país já iniciava o processo de envelhecimento
populacional, no entanto, o número de nascimentos e a entrada de crianças na população,
reduzia o peso do grupo dos idosos. Assim sendo, durante muito tempo o Brasil foi chamado
de país do futuro, isso ocorria devido ao grupo etário das crianças (0-14 anos) ser bem
expressivo frente ao grupo dos jovens e adultos e dos idosos. O país ainda possui uma grande
massa de crianças em sua população, no entanto, diante da queda do crescimento populacional
no Brasil, o grupo de 0 a 14 anos vem apresentando sucessivas quedas (OLIVEIRA, 2019).
É nesse contexto de redução da natalidade e da participação populacional do grupo de
0 a 14 anos, que pode ser observada, uma maior participação do grupo de idosos. De acordo
com os dados do censo IBGE (2000 e 2010) sobre a participação dos idosos na população
brasileira, observa-se um movimento constante de crescimento na mesma, no gráfico
elaborado por Oliveira (2019).
De acordo com Camarano (2020), o crescimento acentuado da população em idade
mais avançada, ocorre em um contexto de transformações nas famílias, decorrentes, entre
outros, de da queda da fecundidade, e do ingresso generalizado das mulheres no mercado de
trabalho. Este ingresso afetou os contratos tradicionais de gênero. Onde a mulher era a
cuidadora, e o homem, o provedor. Hoje, a mulher brasileira está assumindo cada vez mais o
papel de provedora, sua renda foi responsável por 40,9% da renda das famílias brasileiras em
2009, mas ainda mantém a responsabilidade pelo cuidado dos membros dependentes.
No que tange à redução das taxas de fecundidade, Oliveira (2019) aponta que, o
número médio de filhos por mulher caiu mais da metade em 30 anos. Sendo essa queda
reflexo de mudanças comportamentais das mulheres, do ingresso das mulheres no mercado de
trabalho, da melhoria e do acesso à métodos contraceptivos, da intensificação do processo de
urbanização e do aumento do nível de instrução, que avançou muito, especialmente nos anos
2000.
Assim sendo, Oliveira (2019) ressalta que, a queda da fecundidade provocou a redução
da participação das crianças na população total, ampliando a participação de jovens e adultos.
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65+
60+
Veras e Oliveira (2018) aponta que o cuidado com a saúde do idoso, por exemplo,
deveria ser focado em prevenção, porém, os modelos assistenciais vigentes decorrem do foco
exclusivo na doença. Os autores enfatizam ainda que mesmo quando se oferece um programa
com uma lógica de antecipação dos agravos, as propostas são voltadas prioritariamente para a
redução de determinada moléstia, esquecendo que numa doença crônica já estabelecida o
objetivo não deve ser a cura, mas a busca da estabilização do quadro clínico e o
monitoramento constante, de forma a impedir ou amenizar o declínio funcional.
Diversos estudos evidenciam que a atenção deve ser organizada de maneira integrada,
e os cuidados precisam ser coordenados ao longo do percurso assistencial, numa lógica de
rede desde a entrada no sistema até os cuidados ao fim da vida. Para Veras e Oliveira (2018),
os adequados modelos de atenção à saúde para idosos, portanto, são aqueles que apresentam
uma proposta de linha de cuidados, com foco em ações de educação, promoção da saúde,
prevenção de doenças evitáveis, postergação de moléstias, cuidado precoce e reabilitação.
Veras e Oliveira (2018) esclarecem que o modelo de atenção a saúde do idoso deve ser
baseado na identificação precoce dos riscos de fragilização dos usuários. Uma vez
identificado o risco, a prioridade é a reabilitação precoce, a fim de reduzir o impacto das
condições crônicas na funcionalidade – busca-se intervir antes de o agravo ocorrer. A ideia é
monitorar a saúde, não a doença; a intenção é postergar a doença, a fim de que o idoso possa
usufruir seu tempo a mais de vida com qualidade. Assim, a melhor estratégia para um
adequado cuidado do idoso é utilizar a lógica de permanente acompanhamento da sua saúde,
tê-lo sempre sob observação, variando apenas os níveis, a intensidade e o cenário da
intervenção.
Faleiros (2007) nos mostra também que o estabelecimento de direitos iguais, numa
sociedade desigual, para grupos específicos, é uma questão fundamental que articula
cidadania com democracia. No Brasil os direitos da pessoa idosa começaram a ser inscritos
na Constituição 1934 (inciso h do parágrafo 1º do artigo 121) sob a forma de direitos
trabalhistas e de uma Previdência Social “a favor da velhice”. Ao se tornar improdutivo no
trabalho industrial, o indivíduo era considerado velho. Já o trabalhador rural não tinha seus
direitos trabalhistas reconhecidos, pois pertencia à esfera do “aluguel de mão-de-obra”, sob a
tutela da oligarquia rural.
Entretanto, a garantia de direito só é estabelecida de fato com a Constituição de 1988,
no capítulo da Ordem Social, no que se refere ao idoso e à pessoa com deficiência, o artigo
203, estabelece o direito a um salário mínimo em situação de falta de meios de subsistência.
Esse artigo foi regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei
n.8.742/03).
Ao analisar alguns estudos e pesquisas percebe-se que há uma preocupação com o
processo do envelhecimento da população, embora seja uma atitude recente na sociedade
brasileira. As necessidades e limitações apresentadas pelos idosos que antes eram assistidos
pela caridade de instituições assistenciais confessionais e filantrópicas começam a figurar na
agenda pública governamental como prioridade somente no ano de 1988 na Constituição
Federal, como já mencionado anteriormente. O texto constitucional em seu capítulo VII, da
Ordem Social, Art. 30, reconheceu “o dever da família, da sociedade e do Estado de amparar
as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e
bem-estar social e garantindo-lhes o direito à vida”. (BRASIL, 1988).
Para compreendermos a história ou evolução do cuidado com o idoso no Brasil, em
termos de legislações e políticas públicas se faz necessário uma retomada no processo de
industrialização capitalista, que no Brasil ocorre em um período que o capitalismo
monopolista se torna mundialmente dominante e sua economia já está consolidada. Alguns
teóricos chamam de capitalismo tardio (NETTO, 1994 apud ALVES, 2014), ou capitalismo
retardatário (MELLO, 1994 apud ALVES, 2014). No Estado Novo, incorporar a
reivindicação dos setores populares foi a forma encontrada para legitimar o governo e garantir
a disciplina da classe trabalhadora para dar continuidade ao projeto de desenvolvimento
industrial. Os direitos sociais dos trabalhadores eram divulgados como doações, até serem
materializados na legislação trabalhista, previdenciária e sindical, onde se pôde detectar uma
estratégia político-ideológica de combate à pobreza e de superação dos graves problemas
socioeconômicos do país (GOMES, 1999 apud ALVES, 2014).
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[...] a formulação das suas demandas, a luta por melhoria de condições de vida, em
um contexto que a exploração econômica se concretiza na sociedade brasileira pela
ação do grande capital, e na política econômica do Estado que cria, garante e
expande as condições de dominação (HADDAD, 1993, p. 104 apud ALVES, 2014,
p. 51).
públicos e também ao próprio idoso cobrar pela efetivação desses direitos socialmente
conquistados.
Outra garantia importante destacada por Silva e Yazbek (2014), está concretizada com
a criação, pelo governo brasileiro em 2003, do Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1 de
outubro, com o objetivo de regular os direitos assegurados às pessoas idosas com idade igual
ou superior a 60 (sessenta anos). O referido Estatuto prevê: Artigo 2º que o idoso goza de
todos os direitos fundamentais inerentes á pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral
de que trata esta lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual.
Esse estatuto deve ser algo utilizado por familiares dos idosos, profissionais das áreas
de direito, serviço social, educação e saúde, e não deve ser visto como um documento para
ficar engavetado, pois este dará o norte e os esclarecimentos sobre os direitos básicos da
pessoa idosa.
Observa-se que esse processo de ressignificação do envelhecimento coloca, como
exigência, o redirecionamento da agenda pública no sentido de fortalecer as oportunidades de
debate sobre a problemática enfrentada pela terceira idade e por outro, incorporar medidas
efetivas que visem o atendimento de suas necessidades sociais.
É possível então dizer, que a defesa de direitos presentes nas legislações LOAS, PNI e
Estatuto do Idoso, vem somar-se em 2004, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS),
em cujas diretrizes passa a figurar a proteção social básica e proteção social especial,
destinadas aos segmentos sociais prioritários entre os quais se inclui os idosos. As ações
caracterizadas por esses dois níveis de proteção passam a ser reguladas pelo Sistema Único de
Assistência Social, com atribuições e competências definidas em cada ente federativo e sob a
supervisão geral do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á Fome (MDS).
(SILVA; YASBEK, 2014).
É importante destacar que a PNAS vem materializar o disposto no texto constitucional
acerca da área da assistência social, política que integra junto á saúde e a previdência social o
famoso tripé da seguridade social brasileira, Silva (2012 apud SILVA e YAZBEK, 2014), nos
mostra que:
As três áreas que compõem as políticas de seguridade social se encontram
permeadas pelas necessidades dos idosos enquanto sujeito social que transita pelas
três políticas sociais conformando direitos. Na área da saúde lhes é assegurado a
prevalência do atendimento fundamentado no princípio do direito universal; na
assistência social é assegurada a proteção social básica e especial através de ações
que tem por objetivo assegurar a provisão de suas condições de vida e garantir a sua
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De acordo com Queiroz (2019) no período de 2003 a 2013, nos governo de Lula e
Dilma, houve um prosseguimento do projeto neoliberal, articulado com medidas de
ampliação de alguns direitos sociais, como os inerentes a transferência de renda, inserção das
donas de casa no âmbito do Regime Geral da Previdência Social - RGPS e/ou Regimes
Próprios de Previdência Social - RPPS, entre outros. Porém, também houveram medidas de
cunho restritivo, demonstrando os reais interesses de prosseguimento do desmonte do
sistema de seguridade social, diversas medidas que restringiram o acesso às políticas sociais
e à emancipação política; porém, também foram desenvolvidas algumas medidas favoráveis
à classe trabalhadora, demonstrando o caráter contraditório e de relativa autonomia do Estado
no capitalismo.
Apesar de um prosseguimento do projeto neoliberal no governo Lula e Dilma houve
uma relativa melhora no que se refere as condições de vida, principalmente para a população
mais pobre. Também foram efetivadas medidas que facilitaram ampliar o acesso as
universidades públicas, ampliando a inserção da população pobre, negra e indígena.
(QUEIROZ, 2019).
Em 2016, o então presidente Michel Temer, criou as bases necessárias para
intensificar as medidas restritivas do projeto neoliberal no Brasil. (QUEIROZ, 2019). Este
quadro auxiliou o avanço das ideias e valores disseminados pela extrema direita, tendo como
porta-voz Bolsonaro e sua demagogia amparada pela elite brasileira ligada aos setores rurais,
industriais, financeiros, religiosos e midiáticos, como aponta Laval (2018 apud QUEIROZ,
2019).
As medidas de contrarreforma na previdência social, o governo Temer submeteu a
Proposta de Emenda Constitucional nº 287 de 2016. Esta é uma das medidas mais
devastadoras tomadas desde o início das ações de contrarreforma na previdência social, após a
Constituição Federal de 1988. A Proposta de Emenda Constitucional nº 287 consolida as
principais orientações estimuladas pelo projeto neoliberal as quais ainda não tinham sido
aprovadas nos governos anteriores, conferindo um duro golpe para o sistema de seguridade
social, em especial para a previdência social.
Seguindo essa tendência, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de
Ensino Superior – ANDES-SN (2018 apud QUEIROZ, 2019) ressaltou a grande
possibilidade de que o governo Bolsonaro venha com medidas mais agressivas de
contrarreforma (ataques) a legislação que garante a previdência social. Segundo o ANDES-
SN (2018 apud QUEIROZ, 2019) o banqueiro Armínio Fraga – presidente do Banco Central
no período de 1999 a 2003 – apresentou ao presidente eleito Bolsonaro uma proposta mais
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O crescimento da população idosa é um fenômeno mundial, que não pode ser ignorado
e, no Brasil, ocorre de forma acelerada, exigindo assim medidas políticos sociais urgentes
para enfrentamento do desafio relativo a essa mudança.
O cuidador informal representa, dentro do núcleo familiar, a referência e o elo entre o
idoso, e o profissional de saúde. Garbaccio e Tonaco (2019) mostram que é a partir do
cuidador que inúmeras informações relativas à saúde do idoso são obtidas contribuindo para
diagnósticos e tratamentos mais precisos. A presença do cuidador é de suma importância na
qualidade da atenção ao idoso, mas na prática o cuidador enfrenta inúmeras dificuldades no
dia a dia por falta de informações, de suporte financeiro, técnico e social.
Conforme mostra a figura acima, a maior parte dos entrevistados referenciou que as
principais dificuldades encontradas durante os cuidados com os idosos foram a falta de
formação para cuidadores e a falta de paciência. Ressaltou a complexidade da função e o
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O cuidar está relacionado à questão social. Às questões de gênero, idade e cultura, aos
laços de parentesco ou de muita proximidade. O cuidado formal é exercido por profissional e
pessoal especializado, de acordo com um protocolo e um Código de Ética. O cuidado
despendido em casa ou entre familiares e amigos é denominado cuidado informal, sendo na
maioria das vezes representado como obrigação, entretanto comporta também a expressão de
afeto, proteção, reciprocidade e gratuidade (MARQUES; TEIXEIRA; SOUZA, 2012 apud
HEDLER; et al, 2016). Além de ser uma tarefa motivada por normas sociais, o cuidador se
sente cumpridor de uma obrigação social e moral em que predomina um dever de
reciprocidade, necessidade de evitar o sentimento de culpa e uma relação empática e afetiva
entre o cuidador e o idoso.
Segundo Mioto (2010 apud HEDLER, et al, 2016), uma das críticas a respeito da
centralidade familiar, como provedora de proteção aos seus membros, está relacionada ao
retrocesso da atuação do Estado nas garantias de direitos sociais, quando a política pública de
caráter universal passa a ser uma política pública focalizada, fortalecendo a atuação do
mercado como provedor da proteção social, com objetivo do cobrir a sua falta na garantia dos
direitos sociais.
É importante refletirmos que há uma ausência do Estado e culpabilização da família na
discussão do cuidado. Essa questão relacionada ao cuidado com as pessoas idosas perpassa
ainda pela questão de gênero, cabendo a indagação de quem são os cuidadores familiares
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desse público. Nestas três vertentes faz-se necessário compreender as representações sociais
da sua atividade, o cuidado, e da imagem, o cuidador familiar.
Cuidar de uma pessoa idosa da família pode trazer outras consequências, como
conflitos no âmbito emocional, pois o cuidador pode experimentar sentimentos
positivos como satisfação por cuidar de uma pessoa idosa da família e ao mesmo
tempo sentimentos negativos como: sensação de impotência, tristeza, solidão e
preocupação. (HEDLER, et al, 2016, p. 3).
Outra questão para se observar em relação ao cuidado com o idoso, refere-se aos
novos arranjos familiares advindos da redução do número de filhos, menor taxa de
fecundidade, aumento da longevidade, exigência do mercado de trabalho e pobreza
(FALEIROS, 2014 apud HEDLER, et al, 2016) questiona-se a extrema vulnerabilidade
psicológica e situacional em que se encontram tanto o cuidador quanto o idoso, quando se
trata de uma díade onde o cuidador não possui muitas vezes as condições materiais, físicas e
psicológicas para exercer esse cuidado. Até onde vai a responsabilidade da família, até onde
vai a responsabilidade do Estado?
As desigualdades de gênero e a desigualdade das distribuições das tarefas
condicionam a realidade do cuidado familiar. O cuidado familiar é atribuído às mulheres, seja
o cuidado das crianças, de pessoas dependentes, de idosos ou de pessoas deficientes, pois a
maternagem é naturalizada como capacidade feminina.
Constatou-se que o convívio familiar impõe a um dos familiares a responsabilidade
pelo cuidado, uma vez que a maioria dos cuidadores familiares assume essa tarefa por razões
afetivas, culturais, de parentesco, entre outras. Na maioria das vezes, quando tem uma pessoa
idosa com dependência funcional, a família é obrigada a assumir a tarefa do cuidar, pois não
dispõe de recursos financeiros para contratar o cuidador formal, bem como outros aparatos
necessários ao cuidado da pessoa idosa. Geralmente quem assume esse papel na família é a
mulher, pois, historicamente e pela lógica dos programas sociais de família, o cuidado é
delegado à figura feminina.
Para Hedler, et al (2016) o Estado, por sua vez, não estabelece e executa políticas de
suporte familiar, assegurando precariamente a atenção à saúde no SUS e uma remuneração
previdenciária desigualmente distribuída. Para atender as necessidades reais das famílias, a
organização familiar é ampliada, por exemplo, incorporando um amigo, outro parente ou um
membro da família mais diretamente ligado a pessoa idosa para assumir esse papel.
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Acredita-se que muitas vezes esse rearranjo familiar não é pensado, é imposto por
problemas econômicos ou é emergente, pois cuida quem possui amor, tempo e
disponibilidade para fazê-lo.
Os cuidadores familiares cuidam com amor dos idosos, uma vez que esse elemento foi
prioritariamente evocado. Na análise de conteúdo das falas do cuidador familiar e do cuidado,
esse sentimento é apresentado como motivador para a realização dos cuidados com a pessoa
idosa. No entanto, é importante salientar que esses cuidadores precisam de atenção por parte
do Estado e da sociedade, pois o contexto no qual estão inseridos constitui-se de um cenário
complexo, uma vez que não há diretriz em lei ou regulação na política nacional de proteção ao
idoso que oriente a atividade do cuidador familiar de pessoas idosas, deixando esse sujeito
sem suporte, sozinho e na maioria das vezes despreparado para realizar a tarefa de cuidador.
(HEDLER, et al, 2016). Ainda que existam algumas iniciativas de ações sociais por parte de
instituições públicas e privadas que, são ações focalizadas, e não são suficientes para atender
as necessidades dos cuidadores familiares, a importância de realizar estudos que investiguem
o perfil de cuidadores familiares e as implicações que norteiam a atividade realizada por esses
sujeitos, se dá na medida em que podem possibilitar a criação de políticas públicas, as quais
ofereçam uma rede de suporte e amparo a esses cuidadores, contribuindo para sua qualidade
de vida para assim prestarem serviços dignos e de qualidade para com as pessoas idosas.
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CONSIDERÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. Estatuto do Idoso. Lei Federal nº 10.741 de 01 de outubro de 2003. Brasília – DF:
Senado Federal, 2003.
_______. Lei nº 8742 de 01/12/93. Lei Orgânica da Assistência Social. Brasília: DF, 07 de
dezembro de 1993.
CAMARANO, Ana Amélia. Cuidados de longa duração para a população idosa: um risco
social a ser seguido. (organizadora). Rio de Janeiro, IPEA, 2010.
MIRANDA, Gabriella Morais Duarte; MENDES Antonio da Cruz Gouveia; SILVA, Ana
Lucia Andrade da. O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências
sociais atuais e futuras. (2016). Fundação Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisas Aggeu
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https://www.scielo.br/scielo.php?Acesso em: 13 de nov. 2020.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452007000300019. Acesso
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NERY, Carmen. Com envelhecimento, cresce número de familiares que cuidam de idosos no país.
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SILVA, Maria do Rosário de Fátima e. YAZBEK, Maria Carmelita. Proteção social aos
idosos: concepções, diretrizes e reconhecimento de direitos na América Latina e no Brasil.
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em: 15 de nov. 2020.