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O CONTRIBUTO DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (IDE) EM

MOÇAMBIQUE NO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO

Mussa Beatriz de Adamuge Tacula, Estudante- MBA-UCM


Tel.: +258864008391/+258843008391
E-mail: 703220210@ucm.ac.mz
Nampula, Novembro de 2022

1. RESUMO
As economias actuais dos países africanos têm readequado suas políticas internas com vista a
atracção do Investimento Directo Estrangeiro (IDE), devido a ideia de que o mesmo promove
o desenvolvimento económico. Moçambique tem se destacado na atracção do fluxo do IDE
mas o nível de discussões em relação a impacto na economia aumentam na mesma proporção
que consequências de ser um país pobre aumentam.
Adicionalmente, enquanto os países pobres acrescentam seus esforços incansáveis na busca
pelo IDE com vista a melhoria de vida das populações os investidores e respectivas empresas
transaccionais seleccionam criteriosamente onde investir, com vista a garantir a acumulação
privada de capital.
Embasada na abordagem qualitativa, o presente pesquisa classifica-se como documental e
para o efeito foram usados fontes primárias como artigos científicos, teses, jornais e revistas,
relatórios e demais documentos.
As bibliografias constituem a base para a busca de teorias diversas pelo que pelos dados
disponíveis verifica-se que por vários factores existe uma disparidade entre os níveis de fluxo
de IDE conseguidos e o desenvolvimento económico propriamente esperado. Recomenda-se
porém que políticas públicas sejam traçadas com vista a capitalização do IDE atraído, para
que haja proporções adequadas na aplicação do IDE.

Palavra-chave: IDE, desenvolvimento, economia, pobreza

ABSTRACT
The current economies of African countries have readjusted their internal policies in order to
attract Foreign Direct Investment (FDI), due to the idea that it promotes economic
development. Mozambique has excelled in attracting the flow of FDI but the level of
discussions regarding the impact on the economy increases in the same proportion as the
consequences of being a poor country increase. Additionally, while poor countries add their

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tireless efforts in the search for FDI aimed at improving the lives of the populations,
investors and their respective transactional companies carefully select where to invest, with a
view to guaranteeing the private accumulation of capital. Based on the qualitative approach,
the present research is classified as documentary and for this purpose primary sources such
as scientific articles, theses, newspapers and magazines, reports and other documents were
used. The bibliographies constitute the basis for the search for different theories, so from the
available data it is verified that for several factors there is a disparity between the levels of
FDI flow achieved and the economic development expected. It is recommended, however,
that public policies are designed with a view to capitalizing the FDI attracted, so that there
are adequate proportions in the application of FDI.

2. INTRODUÇÃO
O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é considerado como sendo um importante
impulsionador do desenvolvimento económico, na medida em que ajuda a estabelecer ponto
equilíbrio entre o investimento actual na economia e o investimento necessário para sustentar
o desenvolvimento económico, assumido assim um papel fundamental no processo de
desenvolvimento socioeconómico dos países emergentes.
Por falta de recursos financeiros para fazer investimentos de longo prazo, a maioria dos
países africanos, incluindo Moçambique vêm o IDE como forma de suprir esta necessidade e
fomentam estratégias na buscam desesperada pelo IDE com vista a reduzir ou eliminar o
problema do desemprego, incrementar suas exportações, introduzir novos produtos de
exportação, obter melhorias tecnológicas, aumentar o rendimento per capita, entre outros
ganhos.
Porém, acordo com UNDP (2022) apesar de Moçambique atrair muito IDE, os níveis de
desenvolvimento económico e social e de distribuição de riquezas, são bastante baixos a nível
Mundial, chegando ao quarto país mais pobre do Mundo para um total de 191 países,
Assim, considerando os dados acima, surge a seguinte questão de partida: Se Moçambique
consegue atrair o fluxo IDE, seja devido a disponibilidade de recursos naturais ou pelos
incentivos fiscais, por quê é que os níveis de desenvolvimento económico continuam
baixos?
Desta forma, o presente artigo tem por objectivo geral entender qual é o contributo do IDE no
desenvolvimento económico de Moçambique.

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Como objectivos específicos, procura, primeiro entender o estado actual dos índices de
desenvolvimento económico de Moçambique e, em segundo lugar entender a relação entre
estes índices e os níveis de IDE recebidos por Moçambique.
Constitui motivação para este estudo, o facto de o autor ter verificado de que apesar de existir
megaprojectos e empresas transaccionais que capitalizam o IDE, o desenvolvimento
económico que tanto se almeja está a quem das espectativas.
Entender esta matéria ajudará ao leitor a ter ferramentas para repensar nas novas direcções
que se devem assumir para que haja proporções entre o IDE e o desenvolvimento económico.
Para esta pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa, que segundo Lakatos e Marconi
(2003), é baseado na interpretação dos fenómenos observados e no significado que carregam,
ou no significado atribuído pelo pesquisador, dada a realidade em que os fenómenos estão
inseridos.
Quanto aos objectivos a pesquisa é exploratório pois, segundo Fontenelle (2022), tem por
objectivo aumentar a compreensão de um fenómeno ainda pouco conhecido, ou de um
problema de pesquisa ainda não perfeitamente delineado. Os procedimentos usados são
embasados nos documentos e bibliografias, que avivaram o referencial teórico.
A pesquisa documental e bibliográfica que Fontenele (2022) destaca de que usa como fontes
documentos que não tenha carácter científico mas que contenha informação sobre um facto,
fenómeno ou acontecimento. Lakatos e Marconi (2003) afirmam que a pesquisa bibliográfica,
ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de
estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias,
teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais.

3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
3.1. DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
Segundo Souza N. d (2009), o desenvolvimento económico tem por objectivo melhorar a
condição de vida das populações, apesar dos elevados índices de analfabetismo, surtos de
fome e consequentemente dos níveis altos de mortalidade, por mutas vezes provocadas por
epidemias associadas a higiene.
Outro sim, Souza e Spinola (2017), afirma que desenvolvimento económico constitui um
processo guiado com objectivo de alcançar um bem maior para a sociedade, como riqueza,
prosperidade, progresso técnico, crescimento económico, bem-estar, sustentabilidade,
liberdade etc.

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Retaliativo a Moçambique, o The World Bank (2022) afirma que apesar de ter uma das
economias que mais cresceu na África Subsariana entre os 2000 à 2015, a criação de
emprego, redução da pobreza e acumulação de capital humano foram limitadas, com a maior
parte da riqueza gerada beneficiando secções limitadas da economia, os serviços básicos na
saúde e educação são prestados de forma irregular em todo o país, levando ao tribalismo e
aos males que neles advêm.
Desta forma, entende-se por desenvolvimento económico, como referido por ambos autores,
por um processo de mudanças qualitativas, na estrutura da economia, que conduzem a
melhoria do bem-estar das pessoas.

3.2. PRINCIPAIS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO


O desenvolvimento económico de uma região influi directamente na vida das pessoas e na
renda per capita da população. Os níveis de desenvolvimento de regiões de um país
apresentam diferenças que vão desde as condições económicas e sociais, culturais e, até
mesmo, ambientais.
Segundo Bezerra (2022), os países são divididos pela Organização das Nações Unidas (ONU)
em duas principais categorias, que são: países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, que
é o caso de Moçambique. Esta classificação dos países baseia-se no seu Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), que mede tanto as riquezas de um país, como o nível de
educação e expectativa de vida.
E de acordo com Sousa (2022), a ONU define países subdesenvolvidos, também conhecidos
como países menos desenvolvidos ou países menos avançados como sendo aqueles que
apresentam baixo desenvolvimento económico e social. São usados três critérios para
classificar um país como sendo subdesenvolvido que são, a vulnerabilidade económica, a
fragilidade social e a baixa renda.
Moçambique afigura-se como um país em que os critérios de classificação definidos pela
ONU, ora citados pelos autores acima, apresenta valores bastante críticos. É um país com
baixo nível de industrialização, baixo nível de desenvolvimento científico, baixo nível de
desenvolvimento humano, baixo nível de expectativa de vida e elevado nível de natalidade e
de mortalidade. Moçambique apresenta também déficit nos sectores da saúde e educação,
com políticas públicas incapazes de atender a toda a população, o que o torna dependente de
países desenvolvidos.

3.2.1. Produto Interno Bruto


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O Produto Interno Bruto (PIB), segundo Siedenberg (2003), refere-se ao valor agregado de
todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território de um país, independentemente
da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços.
E segundo Mata (2018), PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos num
determinado período de tempo, num país ou região incluindo as rendas dos não residentes ou
empresas estrangeiras dentro do país.
Relativamente a Moçambique, Segundo Castel-Branco, Massingue e Muianga (2015), apesar
de haver muito investimento na última década, o que gera crescimento de PIB, em termos
reais são os serviços de comércio, finanças, transportes e comunicações, turismo e
construção, mega e grandes projectos na indústria, energia, minerais e agricultura têm sido
limitados.
No último quinquénio (2015-2019), Moçambique, segundo Tribunal Administrativo de
Moçambique (2020), previa-se pelo Fundo Monetário Internacional – FMI, que para o triénio
2017-2019, haveria um crescimento de 3,7%, da Produção Mundial e de 4,7%, para as
economias emergentes, valor assumido para a previsão do crescimento real do PIB de
Moçambique, tanto no Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP) 2019-2021, quanto no Plano
Económico e Social (PES) de 2019. Em 2019 a taxa de crescimento real do PIB foi de 2,2%,
inferior em 2,5%. Calamidades naturais como ciclones, inundações, seca e cheias, bem como
os impactos da pandemia da Covid 19, os conflitos militares, as dividas públicas são
fenómenos que impactam negativamente no crescimento do PIB em Moçambique.

3.2.2. Índice de Desenvolvimento Humano


Segundo Siedenberg (2003), o IDH foi composto por indicadores de três elementos essenciais
à vida: esperança de vida ao nascer, alfabetização e poder de compra per capita. Este
indicador é apresentado em uma escala de 0 a 1, e com ele é possível estabelecer a posição
relativa de cada país no intervalo considerado.
Para Oliveira, Dantas e Lages (2009), o IDH é uma medida sintética, composta por três
dimensões do desenvolvimento social: longevidade, educação e renda.
De acordo com UNDP (2022), Moçambique é o quarto país menos desenvolvido do mundo
de um total de 191 países. Antes da pandemia da Covid 19, Moçambique obteve um valor de
IDH de 0,456, estando abaixo do IDH dos países de baixo de desenvolvimento humano
(0,513), que integra, e baixo do valor médio de IDH da África Subsaariana (0,547), onde se
localiza.

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Por outro lado, Moçambique teve o IDH de 1,44% entre os anos de 2010 e 2019, 2,71% de
2000 a 2010 e 3,07 de 1990 a 2000. Estes dados mostram a depreciação do IDH década pois
década.
A evolução negativa do IDH de Moçambique principalmente nos últimos 3 anos, tem como
factor principal o decréscimo da esperança média de vida à nascença em quase em 2 anos.
Analisando o PIB per capita, segundo Tribunal Administrativo de Moçambique (2020),
Moçambique regista uma tendência de crescimento populacional ao longo dos últimos cinco
anos, chegando a superar em 0,7%, e o PIB apresentou uma tendência decrescente. Estas
divergência de PIB e população, contribuiu para o agravamento das condições de vida, com o
PIB per Capita a decrescer de 600,77 Dólares, em 2015, para 416,86 Dólares em 2016.
Apesar de ter registado uma melhoria nos anos de 2017, 2018 e 2019, com o registo de
453,13 Dólares, 508,44 Dólares e 523,98 Dólares, na mesma ordem, continua abaixo do nível
de 600,77 Dólares, alcançado em 2015, no início do quinquénio.
Os factores acima contribuíram para o aumento dos níveis de desigualdade económica, bem
como para um crescimento menos inclusivo, concorrendo para o agravamento do nível de
vida da população, uma vez que as acções de políticas públicas consideradas como um dos
principais instrumentos de planificação estratégica nacional para, entre outros, reduzir as
desigualdades, estão ainda longe de acompanhar o rápido crescimento populacional, com a
provisão de condições de meios básicos como segurança alimentar, saúde, educação,
habitação, entre outros bens e serviços.
Relativamente a Educação, Franco (2017), afirma que devido ao compromisso demostrado
em relação à educação, Moçambique registou um aumento significativo no número de
ingressos ao ensino primário ao longo da última década.
Entretanto, prevalecem desafios relativamente a qualidade devido ao acesso a serviços de
aprendizagem precoce de qualidade (3 – 5 anos) que está em torno de 5%, 45% de taxa de
conclusão do ensino primário, 4,9% de crianças na 3ª classe que sabem ler, rácio professor-
aluno 60 para 1, absentismo dos professores e directores de 45%, tempo de ensino por dia 1
hora e 40 min, alunos com livros 69%, material básico de 74% e conhecimentos dos
professores de 29%.
Pota (2019), afirma que apesar dos desafios do Governo de Moçambique a taxa de
analfabetismo de adultos em continua alta, perto de 45%. O número de mulheres que não
sabe ler nem escrever é duas vezes superior ao dos homens. O analfabetismo é mais
prevalente nas áreas rurais, onde vivem 57% das pessoas não alfabetizadas, em comparação
com 23% que reside nas áreas urbanas.
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De acordo com os dados disponibilizados pela UNDP (2022), Moçambique apresenta
mortalidade em menores de 5 anos estimada em 71 a cada 1.000 nados vivos, a mortalidade
infantil está em torno de 53 a cada 1.000 nados vivos, a mortalidade neonatal em torno 27 em
cada 1.000 nados vivos, a mortalidade materna de 489 em cada 100.000 nascimentos, a
prevalência do HIV de 13,2%.
No que tange a esperança média de vida de Moçambique, em função dos dados
disponibilizados pelo Lusa (2019), registaram uma subida no valor de 58,9 para 60,2 anos. A
esperança média de vida das mulheres aproxima-se da dos homens, subindo de 61 para 63
anos

3.2.3. Coeficiente de GINI


Segundo Pena (2022), o Coeficiente de Gini, também chamado de Índice de Gini é um dado
estatístico utilizado para avaliar a distribuição das riquezas de um determinado lugar. É
mensurado em um número que vai de 0 a 1, de forma que 0 representa um país totalmente
igualitário e 1 representa um país totalmente desigual.
Assim, de acordo com Porter, Bohl, Kwasi, Donnenfeld e Cilliers (2017), o peso histórico e
contínuo da pobreza de Moçambique depende muito das taxas de crescimento da população,
de atrasos nas melhorias do desenvolvimento humano básico e de desigualdades crescentes.
O coeficiente de Gini de Moçambique é de aproximadamente 0,47.

4. INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (IDE)


4.1. Conceitualização de IDE
Segundo OCDE (2021)- Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico, o
IDE é o investimento transfronteiriço por uma entidade residente de uma economia com o
objectivo de obter um interesse duradouro numa empresa residente noutra economia.
De acordo com a Lei 3/93 de 24 de Junho, o IDE é qualquer das formas de contribuição de
capital estrangeiro susceptível a avaliação pecuniária, que constitua capital ou recursos
próprios ou sob conta e risco de investidor estrangeiro, provenientes do exterior destinados a
sua incorporação no investimento para a realização de um projecto de actividade económica,
através de uma empresa registada em Moçambique e a operar a partir do território
moçambicano.
É imperioso reflectir sobre o fenómeno e o conceito de desenvolvimento de modo a fazer
uma
discussão mais construtiva sobre este tema.
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Os autores e documentos acima citados fazem ênfase ao IDE como necessário para o
desenvolvimento de um país mas deve ser alinhado a aspectos internos do país, que são
embasados em correctas políticas públicas.
A importância do IDE em muitos países pobres e em vias de desenvolvimento aumentou
consideravelmente devido a adopção de cada vez mais a políticas para o atrair, focando mais
na necessidade de transferência de tecnologias e conhecimento do capital humano bem como
na existência de empresas multinacionais.
Outro sim Sambo (2020), afirma que existe a ênfase cada vez maior no IDE como o único ou
principal factor que condiciona o fenómeno de desenvolvimento. No entanto, o fenómeno de
desenvolvimento nem sempre esteve intrinsecamente ligado ao IDE. Nos países hoje
desenvolvidos, o fenómeno foi alcançado mediante políticas públicas correctas.

4.2. Determinantes do fluxo do IDE


Para entender o estado de implementação do IDE em Moçambique bem como seu contributo
no desenvolvimento de Moçambique é necessário entender o status dos indicadores
económicos mas também as motivações que levam as empresas multinacionais e se
interessarem por Moçambique.
Relativamente à abertura de mercado Kheng, Sun e Sajid (2016), afirmam que o aumento
de 1% na abertura de mercado desencadeia um aumento em torno de 6,2% no fluxo de IDE.
E Chakrabarti (2003), considera que a abertura de mercado é a característica mais importante
na atracção de IDE e que os países interessados em aumentar os seus fluxos de IDE devem
aumentar a sua participação nos mercados internacionais.
O capital humano e tecnológico é também um factor a considerar na atracção do IDE,
enfatizado por Fowowe e Shuaibu (2014), que afirma de que quanto mais pobre um país,
menor será o desenvolvimento do capital humano e também menor será a esperança média de
vida.
A possibilidade de obtenção de crédito e o mercado financeiro e o crescimento
económico têm um impacto positivo na atracção de IDE. O crescimento económico nos
países que recebem e que investem influem na atracção do IDE. Segundo Williams (2017), o
IDE contribui positivamente para o crescimento económicos.
A corrupção tem também seu contributo na atracção do IDE, de tal forma que segundo Borja
(2017), quanto menor for o nível de corrupção do país, mais notórios são os efeitos do
crescimento, motivados pelo IDE. Por esta razão os países em desenvolvimento devem mover
esforços para combater a corrupção. Júlio e Ricardo (2011), afirmam que a ausência de
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corrupção apresenta um efeito positivo no IDE pois, por vezes, os custos associados à
corrupção superam os custos de não se fazer um negócio por questões burocráticas.
A criminalidade, segundo Brown e Hibbert (2017), pode aumentar os custos de um negócio
e reduzir a procura por bens e serviços, ao mesmo tempo que torna o negócio incerto para o
investidor.
O contexto laboral e político são adicionalmente dois factores que influem no IDE, pois
segundo Janicki e Wunnava (2004), os custos de mão-de-obra são um dos principais
determinantes do IDE, tendo um impacto negativo na atracção de IDE, visto que as empresas
procuram países onde a mão-de-obra seja mais barata, contribuindo para a redução de custos.
Por outro lado os mesmos autores afirmam que a instabilidade política tem um efeito
negativo na atracção de IDE. Os investidores procuram ambientes de investimento
caracterizados pela estabilidade política e macroeconómica.
O contexto fiscal deve ter características que atraiam o IDE, facto que leva alguns países a
introduzir diversos incentivos fiscais, como isenções, subsídios ao investimento, ou deduções,
que são uma das medidas mais importantes na captação de IDE. Mais ainda, Júlio e Ricardo
(2011), afirmam que os países com melhores desempenhos económicos, melhores políticas e
melhores instituições podem atrair mais IDE.
A inflação tem um efeito negativo em países em desenvolvimento, enquanto em países
desenvolvidos o efeito foi insignificante. Li e Liu (2005), afirmam que a inflação apresenta
um impacto negativo, isto é, níveis mais baixos de inflação atraem mais IDE.
Países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento possuem piores infraestruturas devido à
falta de rendimento para investir. De acordo com Hunady e Orviska (2014), o
desenvolvimento das infraestruturas locais não tem um impacto directo na atracção de IDE,
porque não estimula directamente o crescimento no investimento local.
Em relação ao PIB Kheng, Sun e Sajid (2016), estimaram que o aumento de 1% no PIB
provoca um aumento de 9,7% no IDE. No estudo de Hunady e Orviska (2014), o PIB revelou
uma influência significativa na atracção de IDE. Os investidores preferem países com maior
PIB per capita, pois isso pode indiciar um maior poder de compra da população.
Um outro aspecto a considerar nos factores que influenciam na atracção do IDE é o tamanho
do mercado, que segundo Janicki e Wunnava (2004) o tamanho de mercado é um dos
principais determinantes do IDE. Note-se que o impacto é positivo, isto é, quanto maior o
mercado, maiores serão os fluxos de IDE.
Apesar de Moçambique ter muitos dos factores que determinam o fluxo de IDE em situação
pouco abonatória, que constituem um desafio, principalmente a corrupção, criminalidade, a
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qualidade de mão-de-obra e o nível de avanço tecnológico, as infraestruturas precárias e o
mercado pequeno, tem atraído muito o fluxo de IDE.
De acordo com o relatório do FMI (2019), desde 1992, ano da assinatura do acordo geral de
paz, (até 2002) o governo de Moçambique colocou em prática uma série de reformas políticas
e económicas que estabeleceram bases para uma economia de mercado.
Estas medidas, associadas aos apoios e doadores bem como a conjuntura económica externa
favorável fizeram com que, de acordo com os Relatórios da OECD (2014), a economia
moçambicana continuasse a ser uma das que mais cresceu no continente africano em 2013,
com a variação do PIB situada nos 7% anuais. Os principais motores desse crescimento,
ainda de acordo com este relatório, foram o IDE (Principalmente o sector extractivo) e o
aumento das despesas públicas.

4.3. Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em Moçambique


Chegados a esta fase do presente artigo, importa destacar que o IDE tem desempenhado um
papel importante na economia de Moçambique, ao permitir que o país tenha acesso ao capital
externo. Uma vez que Moçambique não possui empresas nacionais com capacidade para
explorar os abundantes recursos naturais em proporções necessárias para suprir as
necessidades, a entrada das multinacionais estrangeiras no país traz novas dinâmicas
económicas permitindo a circulação maior de divisas no interior do país, o que pode provocar
alguns choques tecnológicos, no sentido de que exige que os serviços prestados no país sejam
boa qualidade e catapulta a necessidade de se investir em infraestruturas melhores para
escoamento da produção, o que aliás, constitui um dos desafios de Moçambique para atrair
mais os fluxos de IDE.
O investimento de grande envergadura no sector industrial e indústrias extractivas constituiu
um diferencial significativo para a recuperação económica de Moçambique. A Mozal
particularmente, que é um megaprojecto de fundição de alumínio contribuiu para o aumento
dramático de entradas de IDE na década de 1990 e, novamente, no início de 2000.
Importa ainda destacar de que os megaprojectos representaram 76% dos fluxos totais de IDE,
entre 1998 e 2005. Entretanto, mais recentemente, Moçambique também teve sucessos na
atracção e diversificação de investimentos estrangeiros, para além de megaprojectos.

4.4. Relação do IDE com o desenvolvimento económico de Moçambique


Segundo Mandlate (2015), as ligações entre os megaprojectos financiados pelo IDE e a
economia nacional podem contribuir para o desenvolvimento económico por meio da
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absorção adicional de recursos e pode constituir uma das fontes de fomento da
industrialização e de alargamento da base produtiva da economia moçambicana.
De acordo com Castel-Branco (2010)há três formas de ligações que podem ocorrer entre os
megaprojectos e a economia nacional para que haja retenção e multiplicação da riqueza
gerada por estes investimentos. A primeira diz respeito às ligações fiscais; a segunda é a
ligação de consumo decorrente do aumento da procura de bens finais de outros sectores
decorrente das rendas da exploração dos recursos naturais e a terceira é a ligação produtiva
que segundo Langa (2015), pode ser a jusante, onde os produtos finais dos megaprojectos são
transformados em matérias-primas para diferentes indústrias, e a montante, onde empresas
locais fornecem bens e serviços aos megaprojectos de IDE.
As ligações produtivas a montante oferecem um maior potencial de realização e contribuição
efectiva para o desenvolvimento industrial das Pequenas e Médias Empresas (PME)
nacionais, na medida em que permite aumentar e diversificar a produção, melhorar
competências, capacidades e padrões de produção e induzir melhorias tecnológicas,
conduzindo ao desenvolvimento de uma estrutura económica mais diversificada e à
promoção de emprego.
Com efeito as fracas capacidades tecnológicas e habilitações do capital humano das empresas
nacionais, o elevado custo do capital para financiamento das PME e a debilidade de
infraestruturas, serviços e logística, entre outros aspectos, determinam o estágio actual das
ligações produtivas, que é desfavorável.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O IDE vem para Moçambique procurando factores de produção mais baratos, atraído pelos
recursos naturais abundantes. Os incentivos fiscais e a falta de políticas públicas adequadas
fazem com que as multinacionais que vêm capitalizar o IDE fiquem em total liberdade de
repatriar os seus lucros.
Moçambique não dispõe de empresas nacionais com vantagens de propriedade para explorar
recursos naturais. As multinacionais optam por contratar prestadores de serviços estrangeiros,
em detrimento dos nacionais, devido à baixa qualidade dos serviços nacionais e a falta de selo
de qualidade das empresas nacionais, fazem que com as multinacionais se estabeleçam em
Moçambique.
Apesar do sector extractivo ser o que mais cresceu, o seu contributo no PIB é baixo, em torno
de 4%, o que torna insignificante para o contributo no desenvolvimento económico. Porém o

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sector extractivo contribui para as exportações, uma vez que Moçambique assenta sua
economia no sector primário.
O IDE não tem trazido resultados muito positivos para a economia moçambicana, pois, não
tem fomentado transferência de tecnologia para as empresas nacionais devido a não
existência de políticas claras do governo moçambicano para que a riqueza gerada pela
exploração de recursos naturais não renováveis fomente o desenvolvimento da economia
nacional.
Outro factor importante é de que os megaprojectos pouco contribuem para reduzir a taxa de
desemprego em Moçambique e não contribuem para melhorar a situação do PIB per capita do
país que continua abaixo da média dos países da África Subsaariana.
Conclusivamente, pelo facto de Moçambique não ter uma estratégia clara e específica sobre
como os megaprojectos podem constituir uma ferramenta essencial para o desenvolvimento
económico e social, para o desenvolvimento industrial, diversificação da produção e
upgrading tecnológico das pequenas e médias empresas (PME) nacionais, faz com que os
níveis de pobreza sejam elevados, dando espaço para que as consequências nos diversos
sectores sejam negativamente destacáveis.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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