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EDUCAÇÃO FINACEIRA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO SEGUNDO

MAPEAMENTO DAS INICIATIVAS DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA NA


FORMAÇÃO DO INVESTIDOR BRASILEIRO DE 2015 A 2020

MATTHEUS BEZERRA OLIVEIRA

RESUMO

Em um momento de crescimento do conhecimento sobre educação financeira, saber a


maneira como esse assunto é transmitido e mensurar sua influência é de extrema relevância,
tendo na educação financeira o meio que, se desenvolvido e medido, pode contribuir para
entender e identificar as causas da mudança do perfil do investidor nesses últimos anos.
Diante desse contexto, este trabalho buscou identificar como as iniciativas de educação
financeira mapeadas podem ter contribuído com mudanças na sociedade brasileira. A
metodologia utilizada é metodologia de desenvolvimento a pesquisa bibliográfica, pela qual
foi possível concluir uma correlação ainda sutil, no comportamento do investidor brasileiro
sobre educação financeira.

PALAVRAS-CHAVE: Educação financeira, Perfil do investidor, iniciativas de educação


financeira

INTRODUÇÃO

O tema educação financeira tem recebido grande destaque nacional e internacional nas
últimas décadas, como um dos fatores fundamentais a fim de garantir melhor qualidade de
vida, uma vida financeira saudável e equilibrada. (SOUZA, 2012) Por se manter em destaque
e se intensificar com o desenvolvimento bancário e dos mercados financeiros nos últimos
anos, mudanças significativas vêm sendo observadas no perfil do investidor.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de
Capitais (ANBIMA), em 2019 houve um aumento de 10% de pessoas que investiram em
aplicações financeiras contra 8% no ano anterior. E a poupança manteve a liderança como
principal destino dos investimentos, mas vem perdendo participação: 84,2% dos investidores
deixaram os recursos na caderneta em 2019, uma queda de mais de quatro pontos em relação
aos 88% do ano anterior.

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Durante esse período, a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil),
somente em 2018, identificou mais de 1.300 iniciativas, mais do que a metade comparada
com 2013. Observou-se que cresceu o número de iniciativas de Educação Financeira não
apenas junto às escolas, mas também com vistas a atingir um publico mais amplo
Frente a esse cenário, de multiplicação do conhecimento financeiro e gestões pessoais
indo ao encontro de mudanças ainda tímidas, mas relevantes do investidor brasileiro, busca-se
responder a seguinte questão: como as iniciativas de educação brasileira registradas no
segundo mapeamento nacional tem influenciado a formação do investidor brasileiro?
O objetivo principal desse trabalho é realizar uma análise das iniciativas de educação
brasileira registradas no segundo mapeamento nacional e sua influência na formação do
investidor brasileiro. Para tanto analisaremos os seguintes objetivos específicos:
1 - Determinar, conforme a literatura existente, o perfil do investidor brasileiro de
2015 a 2020;
2 - Buscar, conforme literatura existente, os principais programas e iniciativas
desenvolvidos; e
3 - Determinar, durante o período citado, quais foram as principais mudanças e
tendência dos investidores.
Segundo a Associação Brasileira de Planejadores Financiadores (2019):

O investidor varejo, quando dotado de noções satisfatórias sobre poupança e


investimentos, torna-se usuário mais consciente dos serviços e produtos oferecidos e
desenvolve mecanismos de defesa mais eficientes para reagir a situações que podem
surgir. E, na medida em que tais conhecimentos se ampliam, o benefício para o
investidor são evidentes: melhor gestão de seus recursos, maior capacidade de
tomada de decisões de forma planejada e adequadas ao seu perfil específico. (2019,
p. 11)

Para Savoia, Saito e Santana (2007, p. 1125) “[...] não há como negar que a educação
financeira é fundamental na sociedade brasileira contemporânea, visto que influencia
diretamente as decisões econômicas dos indivíduos e das famílias.”
Apesar do material sobre e educação financeira e economia serem diversos e
abundantes, os indicadores de mensuração dos impactos das iniciativas desenvolvidas ainda
são poucos. Assim este estudo é de relevante interesse econômico-social por fomentar a
discussão da correlação e contribuição dos programas sobre educação financeira
desenvolvidos para mudanças no perfil do investidor brasileiro.
Este trabalho terá́ como principal fonte de pesquisa materiais contidos em relatórios
sobre educação financeira e economia, sites e materiais impressos, como livros e artigos
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científicos sobre o tema e outros que tratem do assunto. A principal forma de coleta de dados
e levantamento das informações será́ pelo processo de pesquisa bibliográfica.

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O conhecimento sobre educação financeira é importantíssimo para toda a sociedade e


vem se desenvolvendo algo longo do tempo. Foi impulsionado no início desse século por
iniciativas de órgãos internacionais como a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), principalmente após a crise financeira de 2008. O
Brasil seguindo essa tendência, em 2010 conseguiu aprovar a Estratégia Nacional de
Educação Financeira (ENEF) com a finalidade de promover educação financeira, em 2013 foi
publicado o primeiro mapeamento de inciativas de educação financeira e em 2020 o terceiro
raio X do Investidor Brasileiro.

1.1 Educação Financeira

O primeiro passo é ter ideia clara do que é Educação Financeira, compreendida como
o processo no qual as sociedades melhoram a sua compreensão dos conceitos e produtos
financeiros. Com informação, formação e direcionamento claro, os indivíduos adquirem os
valores e as competências necessários para se tornarem conhecedores das oportunidades e dos
riscos a elas associados e, então, façam decisões fundamentadas, saibam onde procurar ajuda
e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, a Educação Financeira é um
processo que contribui para a formação de cidadãos responsáveis, comprometidos com o
futuro. (NETO, 2014)
De acordo com a OCDE (2012, p.12, tradução nossa) “A educação financeira é
importante tanto para o presente, dando aos indivíduos o conhecimento e as habilidades para
participar plena e efetivamente na sociedade, quanto para o futuro, pois ajuda a expandir o
conhecimento científico e cultural.”. E ainda complementa ao comentar que “Uma população
bem-educada é essencial para o desenvolvimento econômico e social; as sociedades, portanto,
têm um interesse real em garantir que crianças e adultos tenham acesso a uma ampla gama de
oportunidades educacionais.” (OCDE, 2012, p.14, Tradução nossa)
Para Greesnspan (2002, p. 2), a Educação Financeira pode ser muito útil aos
indivíduos, no sentido de

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[...]dotar os indivíduos com conhecimento financeiro necessário para elaborar
orçamentos, iniciar planos de poupança, e fazer investimentos estratégicos
auxiliando nas tomadas de decisões. O planejamento financeiro pode ajudar as
famílias a cumprirem suas obrigações a curto prazo e a longo prazo, e maximizar
seu bem-estar e é especialmente importante para as populações que tem sido
tradicionalmente sub-atendidas pelo nosso sistema financeiro.

Segundo Amadeu (2009) Educação Financeira pode ser compreendida como um


processo de ensino-aprendizagem que permite desenvolver a mente financeira do cidadão,
para que esses possam gerir suas finanças com segurança e fundamento, com uma postura
proativa na busca de seu bem-estar.
Pelo exposto, e considerando a relevância da educação financeira do cidadão, torna-se
de importância o mapeamento do crescimento do número de iniciativas nacionais e como tem
contribuído para escolhas financeiras sábias.

1.2 Inciativas de Educação Financeiras


Desde o início do século XXI, nota-se uma movimentação internacional do
fortalecimento daquilo que vem sendo chamado de Educação Financeira. Destaca-se o papel
proeminente da OCDE, que desde 2003, vem incentivando diversos países no intuito de
promover iniciativas voltadas para o fomento da Educação Financeira. (SARAIVA, 2017).
Nesse caminho, países desenvolvidos e emergentes estão preocupados com o nível de
alfabetização financeira dos seus cidadãos, principalmente pela complexidade do mercado
financeiro e pelo entendimento de que a falta de alfabetização financeira é um dos fatores que
contribuiu para decisões erradas. (GERARDI, 2010)
O Brasil veio, nos últimos anos, abrindo espaço para melhorar a educação financeira.
O tema adquiriu status de política de Estado com a criação ENEF, a partir do Decreto
7.397/2010. que tinha como finalidade “[...] promover a educação financeira e previdenciária
e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro
nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores” (BRASIL, 2010).
Já em 2009, um levantamento preliminar de iniciativas de educação financeira no país
identificou 64 iniciativas. Em 2013, o 1º Mapeamento Nacional identificou 803 ações em
diferentes regiões brasileiras e, em 2018, o resultado mostrou mais de 1.300 iniciativas em
todo o Brasil, entre escolas do ensino médio e universidades, públicas e privadas, associações,
cooperativas e órgãos da iniciativa privada. O objetivo do Mapeamento era conhecer com
maior abrangência e profundidade o cenário da educação financeira no Brasil. Além disso, os

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dados coletados no Mapeamento promovem reflexões sobre os desafios e as oportunidades da
área no país. (AEF-Brasil, 2018).
Para Leandro (2018) existem hoje no Brasil quatro grupos predominantes que atuam
na educação financeira. O primeiro envolve iniciativas que privilegiam o ensino de crianças e
jovens. O segundo tem como preocupação introduzir os principais temas financeiros à
população. O terceiro inclui as iniciativas dirigidas a públicos específicos e oferece venda de
treinamento e consultoria. O quarto abrange as iniciativas de empresas privadas para
qualificar seus mercados de atuação e atender a seus clientes, fornecedores e demais
stakeholders.
As iniciativas identificadas não representam a totalidade de ações existentes no brasil,
pois são numerosas, se considerar o tamanho do país e o desenvolvimento do seu sistema
financeiro. O conjunto de projetos educacionais inventariados revela, no entanto, que a
cooperação nesse campo pode ainda ser consideravelmente ampliada, se não induzida, sob
orientação e liderança do estado. (BRASIL, 2011)
A Brasil Bolsa e Balcão (B3) percebendo as mudanças, identificou que a
transformação digital trazida pelo avanço da tecnologia e o maior acesso à informação, amplo
leque disponível, foram cruciais para que o mercado de investimentos se desenvolvesse muito
nos últimos anos no Brasil.

1.2.1 Internet
Atualmente, a internet viabiliza a comunicação e o acesso a informações de maneira
ágil, democrática e eficiente. O aparato tecnológico impulsionou o avanço da disseminação de
informações, tornando acessíveis os dados públicos para fácil leitura e acompanhamento.
(AMARAL, 2019). Diante disso, as Iniciativas digitais ou híbridas tomam um protagonismo
beneficiado por esse avanço, á medida que tendem a atingir maior número de beneficiários.
(ANBIMA, 2020)
A ANBIMA (2020) registrou que acesso a sites de notícias, blogs e fóruns
especializados em finanças e investimentos foi citado por 32% dos investidores em 2019, um
crescimento de quatro pontos percentuais em relação a 2018.
Instituições financeiras conscientes desses fatos e autorizados a operar pelo Banco
Central e pela CVM, oferecem conteúdo para educação e orientação dos investidores. Por
meio do seu Hub de Educação, a B3 verifica e organiza conteúdos educacionais dos principais

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players do mundo de investimentos. Isso sem mencionar os influenciadores digitais através
dos diversos canais pelas mídias sociais. (B3, 2020)
Ainda segundo a B3 (2020, p.14) “[...] a transformação digital trazida pelo avanço da
tecnologia e o maior acesso à informação foram cruciais para que o mercado de investimentos
se desenvolvesse muito nos últimos anos no Brasil.”. E por isso, é importante que as pessoas
estejam cada vez mais atentas.

1.3 Perfil do Investidor Brasileiro

O perfil do brasileiro em investir principalmente em caderneta de poupança é algo


histórico, ainda é um legado das elevadíssimas taxas de inflações do início da década de 90 do
século passado, bem como a ausência de acesso a informação fácil e falta de conhecimento
sobre investimentos contribuíram bastante para a manutenção dessa estatística conservadora,
porém o brasileiro tem mudado seus investimentos ainda de forma tímida, mas que já pode ser
percebido pelo mercado.
Após adquirir conhecimento, o indivíduo começará a ter sobras no orçamento e
a partir desse momento, as aplicações terão início. Investimento se tornará algo do cotidiano.
As pessoas normalmente começam aplicando na caderneta de poupança, por ser uma
aplicação que possui apelo nacional, as instituições financeiras fizeram com que se tornasse a
aplicação com maior fama para população.
As pessoas sabem o que é poupança e investimento, separando investimento como
aplicação em algo que gere rendimentos e poupar é somente o ato de economizar. A poupança
é o início enquanto os investimentos passam dessa fase, onde o objetivo é o crescimento e
maiores rendimentos.
Segundo a ANBIMA (2020) cinquenta por cento dos brasileiros não conhecem ou não
utilizam nenhum tipo de investimento. Embora alto, o percentual é o menor nos três anos de
pesquisa – abaixo dos 53% computados em 2018 e dos 57% em 2017.
A cada ano, mais e mais brasileiros adquirem o hábito de investir.
A pesquisa com os dados de 2019 mostra que 44% dos brasileiros terminaram o ano com
saldo em produtos financeiros. O número corresponde a 42 milhões de brasileiros com algum
tipo de investimento em produtos financeiros, e aponta para um crescimento em relação aos
dois anos anteriores da pesquisa, em que 42% das pessoas diziam investir nesses produtos.
(ANBIMA, 2020)

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Além dessas pequenas mudanças percebidas no raio X do investidor brasileiro, a B3
divulgou no final de dezembro de 2020 o relatório completo da pesquisa do perfil e
comportamento do investidor pessoa física no intuito de identificar quem são e como se
comportam os mais de 2 milhões de pessoas que aplicaram parte de seus recursos em bolsa no
último ano.
A figura 1 destaca um aumento expressivo nos últimos 3 anos, O número de pessoas
que investem em bolsa saltou de 1 milhão em maio de 2019 para quase 3,2 milhões em
outubro de 2020. Sendo que o número de investidores se permanecia constante abaixo dos
600 mil desde 2011 conforme indicado no próprio relatório da B3.

Figura 1- Evolução no número de investidores de renda variável 2018-2020

Fonte: Brasil Bolsa Balcão, 2020


2. MÉTODO

A seguir serão apresentados os procedimentos metodológicos do artigo científico da pesquisa


realizada sobre como as inciativas de educação financeira influenciam o perfil do investidor.

2.1. Procedimentos metodológicos

2.1.1. Tipo de Pesquisa


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Para o presente estudo o procedimento metodológico utilizado foi a pesquisa bibliográfica e
documental, pois conforme Mascarenhas descreve (2012, p.50):
A pesquisa documental é parecida com a bibliográfica. A única diferença é o tipo de
fonte. Na bibliográfica, usamos textos científicos que analisam o mesmo objeto de
estudo. Já na documental, lançamos mão de fontes que não tem o objetivo de
analisarmos o assunto em questão.

Em relação a pesquisa bibliográfica, Cervo, Bervian e Da Silva (2007) complementam que


este tipo de pesquisa procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas
em artigos, livros, dissertações e teses.

2.1.2. Coleta de Dados

Foram coletados dados de livros, jornais, revistas, relatórios e sites da internet que
identifiquem as características do objetivo do trabalho.

2.1.3. Análise dos Dados

A pesquisa foi desenvolvida através de análise qualitativa quanto a relação entre a


iniciativas de educação financeira e o perfil do investidor brasileiro. Foram analisados
diversos conteúdos sobre o tema visando o fundamento teórico, para que o objetivo fosse
atingido e fosse obtida a resposta do problema.
A presente pesquisa utilizará como procedimento metodológico a pesquisa
bibliográfica e documental, por apresentar dados já publicados em documentos, de
conhecimento público.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O plano diretor do Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF) adota como


referência o conceito de educação financeira desenvolvido pela OCDE, adaptado à
realidade nacional:

a Educação Financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades


melhoram sua compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros, de maneira
que, com informação, formação e orientação claras, adquiram os valores e as
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competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dos
riscos neles envolvidos e, então, façam escolhas bem informados, saibam onde
procurar ajuda, adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar, contribuindo,
assim, de modo consistente para formação de indivíduos e sociedades responsáveis,

comprometidos com o futuro. (BRASIL 2011, p 20)

Amâncio (2020), corrobora com esse mesmo conceito de que o ensino sobre educação
financeira é um meio utilizado para que o individuo desenvolva a capacidade financeira, que
permite tomadas de decisões financeiras com fundamento e segurança, postura que vai em
busca do bem-estar. Amadeu (2009) complementa essa opinião informando que é
basicamente oferecer conhecimento e ferramentas para que as famílias consigam atingir
objetivos, tais como poupar, mesmo que em pequenas quantias, gastar com consciência, e
desenvolver habilidades financeiras que propiciem uma melhor gestão do dinheiro.
ANBIMA (2020, p.5) reforça esse tópico ao dizer que pessoas com este conhecimento
“[...] conseguem montar um orçamento, lidar com as despesas e os gastos do dia a dia,
economizar e investir recursos e, mais importante, tirar do papel sonhos como uma viagem ou
casa própria e até mesmo ter uma aposentadoria financeiramente saudável”
Amâncio (2020) identificou em sua pesquisa que apesar da maioria da população não
ter excedente de renda, economizar não era algo extremamente impossível de se alcançar. O
que é conflitante ainda com os resultados do terceiro raio X do investidor Brasileiro levantou,
haja vista que considera um desafio fazer com que mais brasileiros economizem recursos e
invistam, pois ainda existe uma alta combinação de brasileiros que dizem não guardar
dinheiro de forma alguma (49% das pessoas) com aqueles que não utilizam produtos
financeiros para guardar dinheiro (7%). Na soma dos dois grupos, chegamos ao total de 56%
de brasileiros que não são investidores.
Nesse sentido todas as iniciativas sobre o tema Educação financeira desenvolvidos são
de extrema importância para poder superar o desafio citado acima. A ANBIMA (2020) notou
que mais entidades estão preocupadas em disseminar conhecimento sobre educação
financeira, O que pode ser confirmado no segundo mapeamento das iniciativas financeiras
desenvolvido pelo AEF-Brasil. Esse aumento ocorreu principalmente pelo crescimento das
iniciativas escolares, mas ainda há grande diversidade de instituições. Em 2018, foram
mapeadas 72% mais iniciativas do que em 2013. 1383 iniciativas começaram o questionário
versus 803 em 2013. 526 completaram o cadastro versus 317 em 2013.

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O que se destacou durante a pesquisa foi a contribuição significativa que a internet
promoveu nesse setor durante o que conhecemos como 4ª Revolução Industrial trazida pelo
avanço tecnológico, à medida que permitiu maior acesso a informação, importantíssimo no
desenvolvimento do conhecimento financeiro e dos mercados financeiros. O relatório da
AEF-Brasil relatou que “Iniciativas online tem maior alcance”. Das iniciativas digitais 19%
combinam redes sociais e youtube, enquanto outros 19% sites e youtube. A própria B3 (2020)
em sua pesquisa sobre os novos investidores corroboram com este fato ao identificar que na
hora de decidir onde efetivamente eles vão aplicar seu dinheiro 73% deles colhem
informações na internet e 60% o façam por meio de influenciadores, apesar de apenas 36% e
32%, respectivamente, afirmarem que tomariam decisões baseadas em recomendações obtidas
por esses meios.
Ainda a AEF-Brasil percebeu que poucas iniciativas monitoram seu impacto e que
apenas 40% das iniciativas têm avaliações o que vai ao encontro do que Vieira, Moreira e
Poltrich (2019, p.29) comentaram:

De fato, para que no futuro seja possível uma Análise multidimensional dos efeitos
das medidas que o Brasil, ou qualquer outro país, adote para melhoria da educação
financeira, é indispensável que, entre as diversas dimensões de análise, seja incluída
uma dimensão relativa à proficiência, da qual o indicador de educação financeira
pode ser um dos parâmetros.

Nesse contexto, o Brasil está buscando implementar estratégias nacionais para a


melhoria do nível de educação financeira da população. A incorporação da educação
financeira na base curricular e a criação da Estratégia Nacional de Educação Financeira, já́
estão sendo efetivadas. Entretanto, ainda não se tem, na literatura, um modelo de avaliação da
educação financeira consolidado nas escolas (Vieira, Moreira e Poltrich, 2019), bem como nas
diversas iniciativas de educação financeira desenvolvido por instituições publico, privadas ou
até mesmo por influenciadores digitais.
Por último apesar da mudança, ainda que tímida, no perfil do investidor brasileiro ao
longo do tempo, em especial nesses últimos 5 anos. Notou-se durante a pesquisa a dificuldade
na assertiva de qual seria as causas reais dessas mudanças, haja vista que durante esse período
houve diversos fatores que podem ter contribuído. A B3 (2020) descreveu que “é evidente que
o impacto da queda da taxa de juros na poupança e na renda fixa transformou a forma de o
brasileiro encarar seus investimentos. Mas esse fator, por si só́ , não explica o aumento da

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adesão à bolsa.” A ANBIMA (2020) ressaltou que o comportamento brasileiro é algo já
arraigado pelo cenário econômico brasileiro, porém os temas como reforma da previdência e
redução da taxa de juros, que impactou a rentabilidade da caderneta de poupança, já
influenciam nas decisões de investimentos.

4. CONCLUSÃO

O desenvolvimento e crescimento da educação financeira cresceu


exponencialmente e os governos e a sociedade de forma geral tem se preocupado sobre isso, e
por conseguinte tem incentivado iniciativas de diversos órgãos sejam públicos ou privados
com pode ser observado nessa pesquisa.
Este trabalho analisou as iniciativas de educação brasileira registradas no
segundo mapeamento nacional e sua influência na formação do investidor brasileiro. Nota-se
uma coerência entre todos os autores que o conhecimento sobre finanças é essencial para a
compreensão dos conceitos financeiros, permitindo que a sociedade entenda as oportunidades
e riscos de seu comportamento. As iniciativas sobre educação financeira estão contribuindo
com a disseminação desse conhecimento que permite que decisões sejam conscientes.
Como limitações desse estudo nota-se ainda poucas informações sobre o perfil
do brasileiro de forma ampla, haja vista que apesar das iniciativas terem iniciadas seu registro
em 2013 e apesar de seu incremento notificado no relatório de 2018 ainda são incipientes os
indicadores que fazem mensuração da evolução da população brasileira sobre o assunto
educação financeira, haja vista que o primeiro raio X do investidor é de 2017.
Os programas existentes ainda são insuficientes em quantidade e o período observado
de 5 anos é um período ainda curto para identificação consistente e satisfatória de mudança de
comportamento na sociedade brasileira.
Nesse mesmo período (B3, 2020) o Brasil passou por mudanças estruturais que
levaram as taxas de juros ao menor patamar da história. Somado a isso, em março de 2020, o
mercado sofreu um período de alta volatilidade com a crise das bolsas mundiais provocada
pela pandemia do Covid-19 e as mudanças na previdência brasileira, ou seja, diversas ações
têm contribuído com essas pequenas mudanças no brasileiro em geral.
A pesquisa demonstrou que houve sim uma mudança no perfil do investidor brasileiro
durante o período proposto, porém sem correlação consistente ainda com as iniciativas
mapeadas, pois não há uma mensuração do alcance das suas ações de forma efetiva, porém

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pode-se inferir que as mídias sócias, através da internet e influenciadores digitais, têm
influenciado no conhecimento e decisões dos novos investidores da bolsa de valores, visto
que o conhecimento era pouco difundido, o que impedia investimento em ações.
Diante disso, compreende-se melhor como a educação financeira e suas iniciativas
pelo Brasil, em suas diversas modalidades tem ou não mudado a dinâmica pessoal sobre
finanças brasileiras. Para tal, sugere-se um estudo mais completo e aprofundado sobre o
assunto após o quarto raio X do investidor e o terceiro mapeamento nacional de inciativas
sobre educação financeira brasileira.

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