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Educação Financeira e Educação Matemática Crítica na escola:

articulando conhecimentos no Ensino Médio


Inglid Teixeira da Silva1
GDn° 15 – Educação Financeira
Com o avanço cada vez maior da tecnologia, compreendemos que os conhecimentos matemáticos precisam
integrar ciência e prática, nesse sentido, sabendo que a economia influencia cada vez mais a sociedade
capitalista em que vivemos, acreditamos que a Educação Financeira ao ser trabalhada numa perspectiva
crítica, pode potencializar o ensino de Matemática nas escolas, pois além de mobilizar vários conhecimentos
matemáticos pode possibilitar discussões de questões do cotidiano, além disso, pode favorecer o ensino numa
perspectiva interdisciplinar, nesse contexto buscamos em nossa pesquisa analisar a implementação do
programa desenvolvido pela Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) para o Ensino Médio nas
escolas, bem como suas contribuições para o desenvolvimento de cidadãos mais críticos frente a situações
que envolvem finanças e que exigem o conhecimento matemático. O referencial teórico será a Educação
Matemática Crítica (EMC), proposta por Skovsmose entre outros autores na década de 80. Analisaremos
documentos norteadores da educação, o material proposto pela ENEF para o trabalho com o Ensino Médio,
aplicaremos questionário e realizaremos entrevistas, a fim de compreender qual o papel da matemática na
Educação Financeira, qual a relevância de se trabalhar a Educação Financeira nas escolas e que lugar a
Educação Financeira precisa ocupar no currículo escolar.

Palavras-chave: Educação Matemática; Educação Financeira; Ensino Médio;


Introdução
Vivemos em uma sociedade capitalista que influencia mudanças frequentes no
mundo, sejam elas econômicas, sociais e culturais. As pessoas estão expostas a
propagandas, merchandisings que despertam o interesse pela aquisição de bens materiais,
compras e vendas, sempre alimentando a necessidade do ter.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCN) a sociedade
é influenciada “[...] com a criação permanente de novas necessidades transformando bens
supérfluos em vitais, a aquisição de bens se caracteriza pelo consumismo. O consumo é
apresentado como forma e objetivo de vida” (BRASIL, 1998. p.35). Ampliar a discussão
sobre características dessa sociedade, não apenas consumista, valores, crenças, etc.,
tornam-se necessário para compreender o processo de tomada de decisões frente a
situações que envolvam finanças e a relevância (ou não) de discutir essa temática nas
escolas.
O Brasil é um país com grande desigualdade social e economia instável, assim a
falta de planejamento econômico pode prejudicar o orçamento familiar. Além disso, de
acordo com Saito (2007), “o extenso período de inflação comprometeu a capacidade da
população brasileira de planejamento econômico-financeiro de longo prazo” (apud,
SILVA, JUNIOR e VITAL, 2014, p.37).
A economia pode influenciar a vida das pessoas. Nesse sentido, conhecer os
modelos sociais que são estruturados pela matemática pode ajudar na tomada de decisões

1
Universidade Federal de Pernambuco, e-mail: inglidteixeira@yahoo.com.br, orientadora: Ana Coelho
Vieira Selva.
dos indivíduos, tendo em vista que, “esses sistemas frequentemente por razões conhecidas
apenas por alguns; eles regulam e alteram nossas vidas e criam nossa civilização” (Davis e
Hersh, apud Skovsmose, 2001, p. 98).
A Educação Financeira é um tema em ascensão e foi discutido em fóruns
mundiais, como é o caso da reunião do G20 e a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico –
APEC. Atualmente países como Austrália, Japão, Holanda, África do Sul, Espanha, Reino
Unido e Estados Unidos discutem estratégias para a Educação Financeira da população.
Geralmente as iniciativas para Educação Financeira surgem de instituições
privadas como bancos, empresas de cartões de crédito. Não há muitas pesquisas sobre
Educação Financeira relacionada à educação, de forma que é recente este movimento de
incluir a educação financeira nas escolas,
Diante de uma tendência mundial, o governo brasileiro formou, em
novembro de 2007, um grupo de trabalho com representantes do Banco
Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da
Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e da Superintendência de
Seguros Privados (SUSEP), para desenvolver uma proposição de
Estratégia Nacional de Educação Financeira. (SILVA, JÚNIOR e
VITAL, 2014, p.37-38).
A Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) “é uma mobilização
multisetorial em torno da promoção de ações de educação financeira no Brasil” (ENEF,
2009) foi instituída pelo Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010 e tem por objetivo
“promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da
cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões
conscientes por parte dos consumidores” (BRASIL, 2010, p.7).
Inicialmente são propostos dois programas: para crianças e jovens (Ensino
Fundamental e Médio) dentre os objetivos citados para o desenvolvimento desse programa
estão “formar para a cidadania; educar para consumir e poupar de modo ético, consciente e
responsável; oferecer conceitos e ferramentas baseada em mudança de atitude; desenvolver
a cultura da prevenção; possibilitar a mudança da condição atual;” (ENEFa, 2009, p.1) e
para adultos (Aposentados e Mulheres Bolsa Família) com o objetivo de “formar para a
cidadania, estimulando comportamentos éticos e responsáveis; educar para o consumo e a
poupança; oferecer conceitos e ferramentas para a tomada de decisões autônomas pautada
em mudança de atitude; Proporcionar a possibilidade de melhoria da própria condição”
(ENEFb, 2009, p.1).

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Nesse ano está sendo implantado em escolas estaduais de todo o Brasil o
programa para o Ensino Médio. Nesse contexto, buscamos fazer a análise da
implementação desse programa nas escolas, bem como suas contribuições para o
desenvolvimento de cidadãos mais críticos frente a situações que envolvem finanças e que
exigem o conhecimento matemático. Estas análises poderão também subsidiar uma
compreensão mais profunda sobre a importância da especificidade da temática na
educação, especialmente na educação matemática.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Educação Financeira
A Educação Financeira no Brasil não vem sendo discutida no contexto escolar,
tampouco as crianças, em geral, participam das discussões financeiras da família
(PELICIOLI, 2011). Assim, muitas crianças crescem sem saber lidar com o dinheiro, sem
entender questões econômicas do dia a dia.
Observa-se pouca ou mesmo ausência de orientações voltadas para a Educação
Financeira nas escolas, ainda que seja reconhecida como importante nos documentos
oficiais existentes. As ações de Educação Financeira, no Brasil, geralmente ainda são
desenvolvidas através de iniciativas privadas. Assim, algumas empresas oferecem guias
que podem ajudar com investimentos, poupanças, gestão de recursos, como é o caso da
Federação Brasileira de Bancos, Bolsa de Valores, SERASA, bancos, empresas de cartões
de crédito, através de panfletos, internet, jornais, televisão, entre outros.
Para Britto (2012, p. 18), a participação de bancos em iniciativas de projetos
financeiros precisa ser motivo de preocupação, pois, “bancos não vendem sonhos e sim
produtos financeiros”. Assim, apesar de se verificar as contribuições que a educação
financeira pode trazer à formação dos estudantes, como apresentado pelos documentos
curriculares, é importante verificar as concepções que vem sendo trazidas na Educação
Financeira pelos que já vem desenvolvendo e verificar como e qual proposta de Educação
Financeira deve ser trazida para a escola.
A economia mundial vem mudando consideravelmente nos últimos tempos e
essas mudanças podem refletir na forma com que o individuo consome e também como
gerencia suas finanças, assim, “a submissão de indivíduos aos novos arranjos sociais
econômicos nos impõe a necessidade de repensar o papel da instituição escolar na
formação crítica do cidadão, (também) consumidor” (BRITTO, 2012, p. 27).

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No contexto educacional, em 2004, o projeto de Lei nº 3401 foi apresentado a
Câmara dos Deputados com a proposta de criar uma disciplina de educação financeira nas
séries de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental e Ensino Médio, entretanto, “após alterações, a
proposta é que a Educação Financeira seja inserida no conteúdo de Matemática”
(CAMPOS, 2013, p.22). Esta é uma discussão importante, pois a inserção em apenas um
componente curricular define e limita a abrangência da temática em questão.
Não concordamos que a educação financeira deva ser trabalhada apenas nas aulas
de matemática. Consideramos, a Educação Financeira numa perspectiva critica, ou seja,
que favoreça uma educação “em que cada indivíduo-consumidor tome suas decisões e
produza seus significados em suas ações de consumo, buscando exercitar a criticidade”
(LOSANO, 2013, p.35). A matemática pode surgir como ferramenta importante nesse
processo, pois, “a matemática se caracteriza como objeto de leitura, crítica e reflexão”
(PINHEIRO, 2007, p. 85). Mas, outras ciências também são importantes e dialogam de
perto com a educação financeira, tal como história, sociologia, geografia, ciências, etc.,
que dão sentido e nos fazem compreender as relações econômicas, sociais e culturais numa
sociedade. Diante dessas reflexões, uma primeira questão que se coloca é o que significa
educação financeira. Este será objeto do próximo tópico.
Concepção de Educação Financeira
Alguns pesquisadores afirmam que ainda não há um conceito bem definido sobre
o que é Educação Financeira, mas para Brasil (2011, p.57-58) Educação Financeira é:
o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua
compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira
que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os
valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes
das oportunidades e dos riscos nele envolvidos e, então, poderem fazer
escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adotar outras ações
que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais
consciente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis,
comprometidos com o futuro.
O documento que serve como parâmetro de Educação Financeira na União
Europeia considera que Educação Financeira é “o processo através do qual os
consumidores melhoram a compreensão dos produtos financeiros, adquirem um maior
conhecimento dos riscos financeiros e das oportunidades do mercado e tomam decisões
econômicas com base em informações adequadas” (CESE, 2011, apud, BRITTO, 2012, p.
228).

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Percebemos que nessas definições de Educação Financeira ainda há um discurso
muito voltado para conhecimentos administrativos e econômicos, assim, precisamos
compreender melhor o papel da Educação Financeira no contexto educacional.
Nas escolas, o foco da Educação Financeira ainda está nas aulas de matemática
quando abordado o conteúdo de matemática financeira, entretanto, a Educação Financeira
abrange temas mais amplos, como por exemplo, os impactos sociais causados pelo
consumo inconsciente, como afirma o Instituto de Defesa do Consumidor (apud, Araújo,
2009, p.75) que diz “ou se alteram os padrões de consumo ou não haverá recursos naturais
nem de qualquer outro tipo para garantir o direito das pessoas a uma vida sustentável. Não
haverá como garantir o direito de acesso universal sequer aos bens”.
Poucas são as pesquisas que abordam o tema Educação Financeira nas escolas,
mas, em sua maioria, as pesquisas existentes apontam para um caminho, a Educação
Financeira através de uma perspectiva crítica, que considera que além de aspectos
econômicos, a Educação Financeira nas escolas precisa estar preocupada com os contextos
sociais, culturais e políticos que o tema pode desenvolver.
Além disso, “a educação financeira está referida a um determinado contexto
socioeconômico–cultural, mas, sobretudo a um contexto que possui uma coloração
ideológica dominante” (BRITTO, 2012, p.139).
Sendo assim, a educação critica pode ser um caminho a ser trilhado quando o
assunto é Educação Financeira, pois esta acontece através de “discussões relacionadas com
problemas sociais, com críticas e com relações democráticas que objetivam reações às
contradições sociais e transformações nas estruturas sociais, políticas, econômicas e éticas
da sociedade” (JACOBINI, 2004, apud, JACOBINI e WODEWOTZKI, 2006, p. 5).
Passamos então a discutir a Educação Matemática Crítica no próximo tópico.
Educação Matemática Crítica
A matemática surge a partir da necessidade que o homem encontra em seu dia-a-
dia e pode ser usada na resolução dos mais variados problemas, auxiliando no processo de
tomada de decisões, assim, seus conhecimentos precisam estar voltados para a prática no
cotidiano dos alunos, os quais estão inseridos em contextos sociais, políticos, culturais e
também econômicos.
Muitas pesquisas vêm discutindo novas metodologias para o ensino de
matemática com o objetivo de dar sentido aos conhecimentos matemáticos, buscando
integrar conhecimentos científicos com conhecimentos práticos. Outras pesquisas abordam

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quais conhecimentos matemáticos são necessários aos alunos para atuarem de forma critica
na sociedade. Apesar dos avanços consideráveis na academia, observando-se as práticas
pedagógicas, notamos que ainda permanecem, em geral, as mesmas, escutando-se os
alunos a distância da matemática escolar da matemática usada em seu cotidiano.
Na educação matemática há uma zona de conforto, na qual os conteúdos
matemáticos já vêm prontos para serem utilizados, condicionando o
ensino àqueles conteúdos, e o que é pior, alienando docentes e futuros
docentes a uma única metodologia de ensino, tradicional, baseada no
escute, leia, decore e repita (MIRANDA et al., 2012, p. 9-10).
É fácil ver a aplicação de conhecimentos matemáticos em compras, vendas,
aplicação de receitas, entre outras, e assim, justificamos a presença da matemática no
currículo escolar, mas a matemática pela matemática não pode ser critério suficiente para
essa presença, é preciso despertar nos alunos “o “pensar matematicamente”, ou seja: a
inserção da matemática à vivência, para que esta possa auxiliá-lo nas mais diversas
atuações e contextos culturais em que se encontre” (MIRANDA et al., 2012, p.13).
Mesmo sem denominar de Educação Matemática Crítica, muitos pesquisadores
em Educação Matemática na década de 80 começaram a demonstrar preocupação com o
ensino descontextualizado da matemática, afirmando que era preciso um ensino voltado
para criticidade e que envolvesse os alunos em questões sociais. Estes que são alguns dos
objetivos da Educação Matemática Crítica, como reflete Miranda et al. (2012, p. 13) ao
afirmar que a Educação Matemática crítica “objetiva despertar questionamentos, estimular
a criticidade, de forma a provocar no educando maior participação social”.
Campos (2013, p.13) aponta que a Educação Financeira precisa ser “uma prática
social, de modo que possa estar enraizada em um espírito de crítica e em um projeto de
possibilidades que proporcionem aos indivíduos-consumidores participarem, ativamente,
no entendimento e na trans-formação dos contextos que estão inseridos” e reitera que se for
“compreendida dessa forma a Educação Financeira viria a ser um item adjunto propiciador
da emancipação socioeconômica desses indivíduos” (idem, p.13).
Nesse sentido, compreendemos que trabalhar a Educação Financeira nas aulas de
matemática numa perspectiva de Educação Matemática Crítica, pode colaborar para o
desenvolvimento de cidadãos mais críticos e conscientes frente a situações que envolvam
finanças, além de favorecer o desenvolvimento de práticas interdisciplinares, tendo em
vista que essa é uma temática que abre possibilidades de conversa com várias áreas de
conhecimento.
Revisão da Literatura

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Poucas são as pesquisas que envolvem o tema educação financeira no contexto
educacional, nesse sentido, percebemos que pesquisas que envolvem essa temática buscam
inicialmente compreender alguns pontos, como a forma que essa temática vem sendo
tratado em documentos norteadores como é o caso da pesquisa: Educação financeira: uma
pesquisa documental crítica desenvolvida por Britto (2012). Essa pesquisa teve por
objetivo refletir criticamente sobre propostas atuais sobre educação financeira e contribuir
para que novas propostas sobre a temática surjam no campo educacional. O autor elaborou
um quadro teórico sobre a inserção da educação financeira no Brasil e no mundo, ancorado
em Michael De Certeau (2008) e Norman Fairclough (2001). Fez uma análise crítica de
discurso de diversas instituições que promovem educação financeira, buscando fazer
conexões com o contexto em que estão inseridas.
O autor analisou documentos como bases legais que regem a educação,
reportagens jornalísticas e propostas para a Educação Financeira de alguns países como a
Estratégia Nacional de Educação Financeira do Brasil (ENEF), Plan Nacional de
Educación Financiera da Espanha (PNEF), Plano Nacional de Formação Financeira de
Portugal (PNFF) e o Parecer do Comité Económico e Social Europeu (CESE) sobre
Educação Financeira e Consumo Responsável de Produtos Financeiros (parecer de
iniciativa).
Britto (2012) analisou que estes documentos dividindo os discursos em asserções,
que para ele são “prescrições estratégicas, discursivas que tem como objetivo elevar a
Educação Financeira, tal como se apresenta, ao status de um bem/valor a ser consumido
pelos indivíduos” (BRITTO, 2012, p.178). De modo geral, observou muita semelhança nos
documentos analisados, encontrando asserções legais que seriam responsáveis por
embasar a inserção da educação financeira no currículo escolar, asserções financeiras que
são “aquelas que concorrem para a legitimação da Educação Financeira, como um valor a
ser consumido” (BRITTO, 2012, p. 191); asserções neoliberais, que seriam “aquelas que
denunciam e nos ajudam a desvelar a presença de orientações neoliberais - dirigidas aos
mercados e valorizando a liberdade (sobretudo econômica) individual- nos documentos das
Estratégias Nacionais de Educação Financeira” (BRITTO, 2012, p. 210) e asserções
capital/trabalho que “contribuem para constituir a Educação financeira como um bem a
ser consumido, formatando trabalhadores em favor do capital” (BRITTO, 2012, p. 215)

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Nesse sentido, há uma preocupação inerente sobre como essas propostas chegam à
escola, com que objetivo e como serão desenvolvidas, despertando o interesse dos
educadores matemáticos para pesquisas que envolvam essa temática nas escolas.
Outro ponto de investigação que podemos identificar em pesquisas sobre
Educação Financeira é a relevância dessa temática nas escolas. Pesquisas com essa
temática é importante, pois traz a tona visões de alunos, professores, pesquisadores da área,
buscando assim, legitimar a importância (ou não) dessa temática nas escolas.
Encontramos, por exemplo, a pesquisa desenvolvida por Pelicioli (2011)
intitulada A relevância da Educação Financeira na Formação de Jovens, que teve por
objetivo compreender as iniciativas pedagógicas na área de Matemática que podem ser
colocadas em prática com a clara intenção de qualificar a aprendizagem dos estudantes em
relação à Educação Financeira, preparando-os para o futuro.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com nove sujeitos, sendo seis do
Ensino Médio (três de escolas publicas e três de escolas privadas) da cidade de Porto
Alegre no Rio Grande do Sul e três profissionais que atuam como consultores financeiros.
As entrevistas foram gravadas e analisadas através da análise textual discursiva proposta
por Moraes e Galiazzi (2007).
Os resultados mostraram que tanto os alunos quanto consultores entrevistados
acreditavam que era válida a proposta de Educação Financeira para os jovens, bem como a
importância da matemática para a compreensão desse tema. Na entrevista, os estudantes
sugeriram que a matemática vista por eles na escola ainda não relacionava a teoria e a
prática. Estes dados foram confirmados pelos profissionais do campo financeiro, que
afirmaram que seus clientes têm poucas informações sobre investimentos, refletindo a falta
de educação voltada para esses pontos durante o período escolar.
Os estudantes entrevistados apresentaram pouco conhecimento sobre alguns
conceitos matemáticos que estão atrelados à economia como: juros, desconto, aplicações
em bolsa de valores, etc. e não conseguiram interpretar noticias referentes à inflação. Além
disso, demonstraram inicialmente não ter conhecimento sobre poupança, e, após
explicação do pesquisador, mostraram que esta seria uma forma de segurança para o
futuro, conclusões também apresentadas pelos consultores entrevistados. Questionados
sobre quem os ensinavam sobre finanças, os alunos afirmaram sobre a participação dos
pais e da escola, mas não explicaram de que forma se davam esses ensinamentos,

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acrescentando a importância das próprias experiências, aspecto citado também pelos
consultores.
Sobre o papel da escola na Educação Financeira, os participantes da pesquisa
afirmaram que seria importante, tanto dentro da disciplina de matemática como em outras,
sendo uma disciplina ou através de workshops, jogos. Os alunos demonstraram interesse
em saber usar bem seu dinheiro já que nessa fase começam a trabalhar e receber seu
próprio dinheiro.
Outro ponto levantado por pesquisadores é a importância de se trabalhar a
Educação Financeira para a tomada de decisões crítica dos indivíduos, temática discutida
por Campos (2013), por exemplo.
Campos (2013) desenvolveu uma pesquisa foi intitulada Investigando como a
Educação Financeira Crítica pode contribuir para a tomada de decisões de consumo de
jovens-indivíduos-consumidores (JIC’S), a partir de um estudo piloto desenvolvido em um
projeto de extensão Educação Financeira para Jovens de Teófilo Otoni da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Participaram da pesquisa sete sujeitos com idades que variam de 16 a 18 anos, que
estudavam no Ensino Médio. Alguns recebiam mesada, outros trabalhavam e há também
sujeitos que não tinham nenhuma fonte de renda. O autor apresentou situações problemas
que envolviam a tomada de decisões frente a situações financeiras e analisou as falas dos
alunos em relação a esses problemas através do Modelo dos Campos Semânticos (MCS).
O autor percebeu que os alunos participantes da pesquisa mostraram que quando o
assunto é dinheiro, eles se utilizavam do senso comum e não de conhecimentos
matemáticos para resolver os problemas, que, tinham visão limitada do uso da poupança e
que diante da necessidade de aquisição de um bem, buscavam adquiri-lo da forma mais
rápida possível sem levar em consideração outras despesas que já tinham ou a renda
familiar, já que em sua maioria, dependiam dos pais.
O autor buscou ainda discutir questões como propagandas e o Código de Defesa
do Consumidor (CDC). Nessas discussões, percebeu o impacto das propagandas na tomada
de decisões dos indivíduos, de forma que muitas vezes os estudantes não pensavam sobre
preço, durabilidade, conforto dos produtos na hora da compra. Em relação ao CDC foi
percebido que os alunos desconheciam seus direitos enquanto consumidores e
desconheciam os mecanismos de funcionamento dos cartões de crédito, ainda que o
usassem.

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Pesquisas como essas são fundamentais, pois a partir delas podemos compreender
como os indivíduos pensam, as influências que sofrem, o que desconhecem e o que é
levado em consideração quando o assunto é finanças, favorecendo que se desenvolvam
estratégias adequadas para trabalhar essa temática nas escolas.
Em nossa pesquisa propomos analisar o Programa de Estratégia Nacional de
Educação Financeira (ENEF) no Ensino Médio, buscando identificar se o material
proposto por esse programa pode colaborar para a formação de cidadãos mais críticos
frente a situações de consumo, bem como identificar que competências matemáticas
podem ser mobilizadas no trabalho com esse material. Procuraremos ainda ouvir a
comunidade envolvida no processo de inserção dessa temática nas escolas, professores e
alunos de escolas estaduais do Estado de Pernambuco, a fim de identificar a relevância (ou
não) dessa temática nas escolas do Estado. Além disso, analisaremos se esse programa se
integra com as propostas de documentos nacionais e estaduais norteadores do currículo e
da Educação Matemática, em particular, buscando trazer mais subsídios para a área da
Educação Financeira, especialmente, na escola, e suas relações com a Educação
Matemática.
Nesse sentido, acreditamos na relevância de nossa pesquisa para a ampliação da
discussão sobre a Educação Financeira e Educação Matemática no contexto educacional,
pois esta pode colaborar para a compreensão da relevância (ou não) dessa temática ser
discutida nas escolas bem como o lugar que a mesma ocuparia no currículo escolar.
Objetivos

Objetivo Geral
Analisar o Programa de Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) no Ensino
Médio bem como suas contribuições para o desenvolvimento de cidadãos mais críticos
frente a situações que envolvem finanças e que exigem o conhecimento matemático.
Objetivos Específicos
 Analisar o material proposto pelo programa dizer qual para o Ensino Médio e sua
articulação com os conceitos matemáticos;
 Analisar documentos norteadores para a Educação Matemática e suas relações com
a Educação Financeira;
 Analisar a implementação do programa na rede estadual de Educação e a relação
com o currículo de Matemática;
 Metodologia
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O estudo contempla análise documental e questionários e entrevistas com atores.
A análise documental será realizada a partir dos seguintes documentos: A Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), o Parâmetro Curricular Nacional para o Ensino
médio, as Diretrizes Curriculares para o Ensino médio, o Parâmetro Curricular Nacional
sobre os Temas Transversais, o Parâmetro Curricular do Estado de Pernambuco para a
Educação Básica - Matemática e o material didático proposto pelo Ministério da Educação
para inserção da Educação Financeira nas Escolas. As entrevistas e questionários serão
aplicados com formadores, multiplicadores, professores e estudantes, visando entender o
processo de implementação nas escolas, expectativas, dificuldades e potencialidades.
Pretendemos inicialmente analisar o material proposto pela Estratégia Nacional de
Educação Financeira a partir de educação matemática, buscando identificar os conceitos
matemáticos que podem ser trabalhados com esse material e se esse material articula com
documentos norteadores para o ensino de Matemática. Do ponto de vista mais geral, o
material será analisado a partir das asserções propostas por Britto (2012), observando-se,
especialmente, se possibilita o desenvolvimento da criticidade dos alunos frente a situações
de consumo.
Também iremos entrevistar formadores, enviados pela Associação Nacional de
Educação Financeira, a fim de investigar que fatores impulsionaram o surgimento da
proposta de Educação Financeira nas escolas, bem como e de que forma estão atuando nos
estados na formação dos professores para lidar com esse novo contexto.
Será aplicado um questionário com professores multiplicadores responsáveis pela
formação dos professores na rede estadual de Pernambuco e também com professores que
estejam à frente da implementação desse projeto nas escolas, com o intuito de compreender
suas expectativas relativas à inserção deste tema nas escolas e como está se dando o
trabalho na sala de aula. Também realizaremos entrevistas com estudantes, para entender o
que acham do trabalho com educação financeira na escola que está sendo proposto. Estes
dados nos ajudarão a refletir sobre a educação financeira, sobre como está sendo
implantada nas escolas e seus impactos na formação cidadã dos estudantes.
Referências
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da educação matemática crítica. ALEXANDRIA - Revista de Educação em Ciência e
Tecnologia, Santa Catarina, v.2, n.2, p.55-68, jul. 2009.
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007--‐
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Disponível em
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CAMPOS, A. B. Educação Financeira Crítica e a Tomada de Decisões de Consumo de
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JACOBINI, O. R., WODEWOTZKI, M. L. L. Uma Reflexão sobre a Modelagem
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LOSANO, L. A. B. Design de Tarefas de Educação Financeira para o 6º ano do Ensino
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MIRANDA, C. T.; SANTOS JUNIOR, G. S.; PINHEIRO, N. A. M.; PILATTI, L. A.
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136f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática) – Faculdade de
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PINHEIRO, N. A. M. Formar cidadãos crítico-reflexivos: a contribuição da matemática.
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