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Como a Educação Financeira

aparece na BNCC?
Tema transversal deve permear as diferentes áreas do conhecimento,
trazendo protagonismo aos estudantes para seus projetos de vida

Ilustração: Veridiana Scarpelli/NOVA ESCOLA

Por CLAUDIA RATTI


Publicado em: 01/04/2021

O impacto das Reformas Trabalhista e da Previdência, além da crise econômica agravada


pela pandemia, transformou a Educação Financeira em instrumento essencial para o
planejamento dos gastos e dos investimentos de brasileiros de todas as idades. “Há o desejo e
a necessidade de as pessoas conhecerem mais sobre o tema”, avalia a educadora financeira
Veronica Maiko Odani, do C6 Bank.
Por sua importância e atualidade, a Educação Financeira deve começar na escola, como
prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Em 2018, o documento a incluiu entre os
temas contemporâneos que devem ser contemplados pelos currículos de estados e municípios
de todo o Brasil. Ruy César Pietropaolo, membro da equipe que elaborou a BNCC de
Matemática desde a primeira versão, explica que tema transversal é aquele que não se esgota

Fonte: https://box.novaescola.org.br/etapa/3/educacao-fundamental-2/caixa/265/educacao-financeira-
para-alunos-da-bncc-ao-dia-a-dia/conteudo/20237. Acesso em: 08 de jul. de 2021.
Classificação: Interna
em uma única área, assim como Educação Ambiental e Educação das Relações Étnico-
Raciais.
“A Educação Financeira pode ser tratada em componentes como História, quando se fala
sobre moeda e consumo em diferentes momentos históricos”, exemplifica. Ruy ressalta ainda
a diferença entre Matemática Financeira e Educação Financeira. Enquanto a primeira é
focada nos cálculos matemáticos relacionados ao dinheiro, como juros simples e compostos,
a segunda diz respeito aos comportamentos dos indivíduos em relação às finanças.
Por essa razão, Cláudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do
Brasil (AEF-Brasil), que participou ativamente do processo de inclusão do tema na BNCC,
defende que todos os componentes curriculares têm espaço para abordá-lo e, assim, auxiliar
os alunos a refletirem criticamente sobre suas escolhas de consumo. “Devemos olhar para a
Educação Financeira sob o prisma da tomada de decisão, não apenas da Matemática”, reflete
Cláudia.
Para Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank e professor do Insper, abordar o tema
na escola é maneira de instruir os jovens sobre a importância de fazer escolhas levando em
consideração o bem-estar financeiro. “Ela prepara o estudante para gerir a mesada e os
primeiros salários, por exemplo.”
Cláudia completa dizendo que o tema instiga nos estudantes questionamentos relacionados
ao futuro: “A Educação Financeira ajuda a construir o projeto de vida dos alunos. Com ela,
formamos um cidadão, um adulto mais responsável e consciente”.
Além disso, é importante ter em vista que a Educação Financeira não deve ser trabalhada
apenas como uma preocupação individual de cada aluno, mas como algo que também está
relacionado à comunidade e à realidade na qual ele está inserido. Nesse sentido, o tema está
intimamente relacionado à competência geral Responsabilidade e Cidadania: agir pessoal e
coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e
solidários.

Educação Financeira na prática


Mas como levar esses conceitos de forma atrativa para os alunos? Na hora de abordar esse
tema no ensino, Veronica ressalta a importância de entender o repertório dos estudantes para
contextualizá-lo ao seu universo. A compra parcelada de um celular no cartão de crédito, por
exemplo, pode ser uma situação vivenciada por alguns jovens e que pode ilustrar questões
envolvendo juros compostos e as armadilhas desse meio de pagamento.
No Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência, em Lajeado (TO), a realidade local foi a
premissa para a elaboração das propostas pedagógicas envolvendo Educação Financeira.
Como a cidade tem apenas 3 mil habitantes e altas taxas de desemprego, Willas Sousa,
professor de Matemática do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino
Médio, teve a ideia de abordar o tema transversal montando uma malharia e uma serigrafia
dentro da escola.

Classificação: Interna
“Calculamos todos os gastos para chegar ao produto final: matéria-prima, maquinaria,
impostos”, lembra. Os alunos também fizeram os cálculos para chegar ao valor de venda e
como administrar os lucros. “Minha ideia ao trabalhar a Educação Financeira nesse projeto
foi, além de ensinar cálculos e conceitos, prepará-los para o futuro profissional”, conta o
professor, que, no ano seguinte, encorajou os estudantes a buscarem uma área de interesse
para planejar a abertura de uma empresa.
Com a chegada da pandemia, a escola adaptou o conteúdo para as atividades remotas e
promoveu uma roda de conversa on-line sobre o tema, envolvendo docentes de diferentes
componentes. “Por experiência própria, recomendo que o professor faça um estudo sobre a
realidade da sua comunidade para aplicar a Educação Financeira no dia a dia do estudante”,
orienta Willas. Assim, diz ele, os alunos identificam-se com o tema e engajam-se nas
atividades propostas.

Classificação: Interna

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