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OLHAR

ECONÓMICO

PUBLICAÇÃO DO DEPARTAMENTO
DE ECONOMIA E ESTUDOS DE
DESENVOLVIMENTO

Centro de Estudos
Estratégicos e
Internacionais
CEEI/UJC

SÉRIE DEBATE
ECONÓMICO
Janeiro-Junho de 2021

01
FICHA TÉNICA

Olhar Económico
©Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais – CEEI/UJC

Director do CEEI/UJC
João Gabriel de Barros, PhD

Director-Adjunto do CEEI/UJC
Emílio J. Zeca, PhD

Chefe do Departamento de Economia e Desenvolvimento


Paulo Tembe, PhD

ISBN 978-989-33-2199-7

Editor
Paulo Tembe, PhD

Revisão
Jossias Filipe

Propriedade
CEEI/UJC

Maputo, Julho de 2021


ÍNDICE GERAL

EDITORIAL
João Gabriel de Barros .............................................................................................................................................. 1
COMPORTAMENTO DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO EM TEMPOS DE CRISE
Paulo Tembe ............................................................................................................................................................. 2
O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO: DAS SUAS ORIGENS AO PRESENTE
Domício Chongo ...................................................................................................................................................... 18
PRESENTE E FUTURO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE
Jossias Filipe ............................................................................................................................................................ 44
ESTATUTOS DO OLHAR ECONÓMICO ..................................................................................................................... 56
EDITORIAL

O “Olhar Económico” é uma publicação científica, enquadrada na Série Debate Económico,


publicada pelo Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento do Centro de
Estudos Estratégicos e Internacionais – CEEI/UJC da Universidade Joaquim Chissano (UJC).
Esta publicação aparece ao público, pela primeira vez, com objectivo de retratar assuntos
nacionais e internacionais de actualidade, contribuindo para o debate crítico sobre os
fenómenos e realidade do campo político e económico bem como os assuntos relacionados
com as relações internacionais e política externa.
O “Olhar Económico” resulta de esforços e realizações do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais – CEEI/UJC, na sua nobre missão de disseminar o conhecimento
científico, na perspectiva de educação pública. Trata-se de um veículo de comunicação e
interacção que representa um modesto subsídio para a consolidação da cultura académica
nacional e internacional, através da publicação de textos e análises da autoria de
investigadores residentes, associados ou não ao CEEI/UJC.
A presente edição é dedicada a assuntos económicos de Moçambique, onde o
primeiro texto versa sobre o comportamento do Investimento Directo Estrangeiro – IDE em
tempos de crise tendo como base a teoria de dependência. O IDE tem sido uma actividade
contínua de capital importância para o desenvolvimento de economias em
desenvolvimento.Todavia, países com escassez de recursos financeiros ainda têm o
investimento directo estrangeiro como vector para a resolução dos seus problemas
inerentes à falta de infra-estruturas, tecnologia, emprego e industrialização.
Nesta edição é publicada o texto que versa sobre o desenvolvimento do sistema
financeiro moçambicano, das suas origens ao presente, tendo em conta que o mesmo, joga
um papel multidimensional no processo de desenvolvimento económico do país. Este
desenvolvimento acontecesse quando o mercado, com as suas políticas transparentes
facilita a passagem de recursos de um agente para o outro, promovendo deste modo o
investimento na economia, o que possibilita o aumento dos níveis de poupança dentro dos
bancos.
É, igualmente, publicado nesta 1ª edição, uma pequena reflexão sobre o estágio e os
caminhos a seguir para o desenvolvimento inclusivo de Moçambique, numa altura em que
estremece a perspectiva da exploração dos recursos naturais que parecia capitalizar a
esperança dos moçambicanos em sair da extrema pobreza em que se encontra a grande
maioria. A economia de Moçambique parece, no presente, condicionada a girar à volta dos
mega-projectos de exploração dos recursos naturais.
As espectativas são enormes e isso desvia a atenção de muitos que deviam estar
focados em outras áreas de actividades. Finalmente, gostaria de realçar que aguardamos
dos prezados leitores a vossa colaboração com críticas e sugestões sobre os conteúdos e
abordagens propostas.

João Gabriel de Barros, PhD


Director do CEEI/UJC

1
COMPORTAMENTO DO INVESTIMENTO DIRECTO
ESTRANGEIRO EM TEMPOS DE CRISE
Paulo Tembe1

RESUMO

O presente artigo estuda o comportamento do Investimento directo estrangeiro em tempos


de crise tendo como base a teoria de dependência. Os ganhos mútuos, contudo desiguais
têm justificado o contínuo engajamento de economias desenvolvidas em economias em
desenvolvimento pelo facto de, tais economias desenvolvidas estarem numa procura sem
igual de matérias-primas para abastecer suas indústrias, por conta da escassez que nelas se
verifica. A abundância de matérias-primas em economias em desenvolvimento, origina o
investimento directo estrangeiro quer em tempos de crise ou não. O fenómeno que advêm
da relacao entre a economia investidora e a investida circunscreve-se no abrandamento do
investimento directo estrangeiro e não no rompimento das relacões pois, as indústrias de
proveniência do capital continuam em funcionamento e os projectos do país investido em
andamento embora de forma branda.

Palavras-Chave: investimento, dependência, matéria–prima, crise.

1 Doutor e Mestre em Economia e Comércio Internacional pela Southeast University da República


Popular da China e Graduação em Jornalismo pela Universidade Eduardo Mondlane – UEM;
Investigador do Departamento de Económica e Estudos de Desenvolvimento do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais – CEEI/UJC. Email: paulotembe@ujc.ac.mz

2
INTRODUÇÃO

O presente trabalho é elaborado com objectivo de discutir e analisar o comportamento do


investimento directo estrangeiro em tempos de crise. O estudo faz referência à questão de
crise social, sanitária com foco na crise económica de países que têm o investimento directo
estrangeiro como elemento de promoção ao crescimento e desenvolvimento económicos.
O tema em discussão compreende o período de 2008 a 2010, por ser aquele em que
ocorreu a crise económica e financeira no mundo, e período de 2019-2021, aquele em que
se estabeleceu a nível de vários países, um caos sanitário por conta da pandemia da Covid-
19, originando uma vez mais, uma crise económica contemporânea, sem precedentes. A
delimitação temporal contemporânea, justifica-se pelo facto de, muitas vezes a crise
económica gerar uma outra crise social que culmina com perda de valores morais, éticos,
costumeiros e até culturais, limitação de direitos que colocam em risco a sobrevivência das
sociedades.
O investimento directo estrangeiro constitui para a economia mundial um factor de
arrecadação de receitas quer internas, quer externas que podem contribuir para o
crescimento e desenvolvimento económicos. Os países desenham estratégias e políticas com
vista à atracção de investimento estrangeiro, esperando melhorias no desempenho
económico e financeiro doméstico, através de aumento da produtividade. As políticas de
investimentos desses países, que na sua maioria são países em desenvolvimento, são de
promoção das potencialidades de que dispõem, em troca de tecnologia, formação dos
recursos humanos internos, formação de capitais, promoção de emprego, etc. Assim, as
crises sanitárias e económicas travaram esta tendência por conta da limitação de mobilidade
de capitais e humana com vista à viabilização de projectos económico-sociais, previamente,
acordados. É neste contexto que o estudo analisa o comportamento do investimento directo
estrangeiro em tempos de crise, como forma de contributo académico baseado em literatura
diversa.
O estudo é feito para desmistificar a tendência negativa do discurso, praticabilidade
por detrás de não viabilização e/ou efectividade de projectos cruciais para economias
deficitárias, por meia culpa de crises, quer financeira/económica, quer social e sanitária. A
tendência do investimento directo estrangeiro em tempos de crise não tem sido negativa
para os países detentores de matéria-prima, pois, países com escassez de recursos
continuam procurando por estes, mesmo com dificuldades de capitais. O apetite pela
garantia do lucro vindo das economias investidoras, mostra-se como um factor importante
para o não rompimento da relação país investidor e país investido.
A perspectiva do investimento directo estrangeiro para diferentes países é bastante
controversa. A controvérsia prende se pelo facto de, países pobres pensarem em atrair
investimento directo estrangeiro para resolver a escassez do capital, a transferência de
tecnologias, formação de emprego, e, os países detentores de capital, que são,
normalmente, os que investem, pensarem numa perspectiva bastante diferente, de cujo
interesse é, básica e exclusivamente, a obtenção do lucro. Os países pobres detentores de
recursos naturais com categoria de commodities, no mercado internacional, têm prestado
pouca atenção nos detalhes da discussão das premissas do investimento, que muitas vezes, a
negociação vê-se refém do objectivo principal traçado em políticas e estratégias de atracção
de investimentos e exportações. Assim, embora reconheça-se o verdadeiro valor do

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investimento directo estrangeiro, nas economias mundiais, urge rever as politicas e
estratégias que na sua maioria atribuem mais benefícios aos investidores do que aos países
detentores dos recursos.
O estudo tem como objectivo geral o de reflectir sobre os contornos do investimento
directo estrangeiro em tempos de crise. Em termos específicos, o mesmo visa analisar a
tendência do investimento directo estrangeiro em tempos de crise; reflectir sobre a
perspectiva dualista do investimento directo estrangeiro; e analisar os determinantes do
investimento directo estrangeiro em economias críticas e detentoras de recursos naturais.
Para a prossecução do estudo foram levantadas as seguintes questões de pesquisa:
qual tem sido o comportamento e tendência do investimento directo estrangeiro em tempos
de crise? Como se explica a perspectiva dualista do Investimento directo estrangeiro em
tempos de crise? Quais são os determinantes do investimento directo estrangeiro em
economias com recursos e em crise? Para orientar o estudo, foram levantadas as seguintes
hipóteses de pesquisa: a tendência do investimento directo estrangeiro em tempos de crise
tem sido positiva para o investidor, pois, quanto maior for o risco no país investido, maior é o
lucro; o apetite pelo lucro por parte dos investidores e a necessidade de formação de
capitais estrangeiros e tecnologia pode estar na origem do desfasamento harmonioso dos
objectivos do IDE; e os recursos naturais, o tamanho do mercado, o aspecto demográfico e a
estabilidade política e económica, podem estar na origem de determinantes para economias
em crise e com abundância de recursos.

METODOLOGIA DO TRABALHO

Para a realização do trabalho cujo título é ʺComportamento do Investimento Directo


Estrangeiro em tempos de crise,ʺ utiliza-se uma metodologia adequada para responder aos
requisitos de uma pesquisa científica. A metodologia é um elemento indispensável, sem ela,
dificilmente estar-se-á a produzir-se ciência, isto é, sem método não há ciência. Segundo Gil
(2008:2), para que um conhecimento seja considerado científico, torna-se necessário
identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação.
O presente trabalho traz uma abordagem qualitativa inerente à dinâmica entre o
mundo real e o sujeito. Tal como se refere Da Silva e Menezes (2001:20), trata-se de um
vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números. Considera ainda o autor que a interpretação dos fenómenos e a
atribuição de significados é básico no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas. É com base nesta explicação dos autores que a pesquisa
desenvolvida, privilegia o uso do método qualitativo para chegar aos resultados baseados
nos objectivos previamente traçados.
Para Prodanov e De Freitas (2013:70), a utilização de pesquisa qualitativa difere da
abordagem quantitativa pelo fato de, não utilizar dados estatísticos como o centro do
processo de análise de um problema. Os dados colectados nessas pesquisas são descritivos,
retractando o maior número possível de elementos existentes na realidade estudada. Na
destrinça entre o método qualitativo e quantitativo, o autor procura mostrar que no
processo de colecta e análise de dados, não há tanta preocupação em comprovar hipóteses
previamente estabelecidas, porque não elimina a existência de um quadro teórico que
direccione a colecta, a análise e interpretação dos dados.

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No entanto, a presente pesquisa pela sua natureza qualifica-se como aplicada pois,
tem como enfoque, gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de
problemas específicos, tal como Da Silva e Menezes (2001), escreveram na sua obra
intitulada Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. Quanto aos objectivos, o
presente estudo é explicativo, sendo o método indutivo escolhido para alicerçar na
conclusão dos resultados de forma mais ampla e o histórico para preencher os vazios dos
factos e acontecimentos. No reconhecimento de existência de várias técnicas para a colecta
de dados, o presente trabalho elegeu, para o seu desenvolvimento como técnica, a
bibliográfica e documental.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A presente pesquisa foi elaborada com base na teoria de dependência. Trata–se de uma
teoria que na visão de Sarfati (2005:135) surgiu na América Latina com Fernando Henrique
Cardoso e Enzo Faletto, escrito entre 1966 e 1967, no Chile. De acordo com Cardoso e
Faletto (1975:26-27), proponentes desta teoria, a dependência manifesta-se por uma série
de características inerente à sua forma de actuação e orientação dos grupos, que no sistema
económico aparecem como produtores ou como consumidores. Por isso que Peet &
Hartwick (2009:167) consideram a questão de Dependência como uma condição que molda
uma estrutura económica de cooperação. Há nesta relacao um favoretismo de um país em
detrimento de outro, limitando desta feita as possibilidades de desenvolvimento de
economias subordinadas.
A teoria de dependência aborda o assunto de cooperação económica entre estados
que ajuda a entender o comportamento dos actores do investimento directo estrangeiro e
seus interesses unilaterais. Esta teoria enquadra-se claramente ao tema discutido neste
artigo pelo facto de, através dela, elucidar a posição segunda a qual, quer em momentos de
crise ou não, o investimento directo estrangeiro tem sido positivo em economias detentoras
de matéria-prima. A teoria justifica a situação por considerar a posição cimeira do poder
capital dos países desenvolvidos, comparativamente aos países em desenvolvimento que
dependem do investimento para a sobrevivência da sua economia. Há um claro jogo de
vantagens absolutos dos investidores sob alegação de recessão económica mundial,
originada por crise sanitária e económica que acaba afectando o investimento, previamente,
acordado.

COMPORTAMENTO DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO EM TEMPOS DE CRISE

Nos últimos anos, vários países têm intensificado suas políticas e estratégias com vista à
atracção do investimento directo estrangeiro, almejando resolver questões de formação de
capitais, transferência de tecnologias e criação de emprego. Na actualidade, Castro e
Campos (s/d) referem que o IDE tem sido disputado por muitos países emergentes devido
aos possíveis benefícios que podem propiciar para a modernização e desenvolvimento
dessas economias. Assim, desde fins de 2008, na tentativa de estimular o investimento e o
consumo, a política monetária dos principais bancos centrais do mundo como o Federal
Reserve, o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra, o Banco Central do Japão, tem
sido, a de continuamente reduzir as taxas de juro, (Nakatani e Marques, 2013:66).

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Todavia, assumindo verdadeiramente a função clássica de canalizar poupança para o
investimento, os bancos comerciais do ocidente, emprestaram avultadas quantias aos países
em vias de desenvolvimento, sob forma de empréstimos bancários a taxas de juro variáveis
para a construção de infra-estruturas e desenvolvimento de estratégias de substituição de
importações (Cristóvão, 1999:25). O investimento se torna mais atractivo quando está
denominado numa moeda forte, e os níveis elevados da taxa de câmbio estão associados a
movimentos favoráveis no preço das acções (Miguel, 2012:23).
O conceito Investimento Directo Estrangeiro segundo definição da OECD, é
caracterizado pelo objectivo de obter interesses duradoiros por uma entidade residente
numa dada economia. Assim, este mesmo investimento corresponde a 10% de acções de
uma empresa ou país residente, numa dada economia investida, que torna possível a
relação entre duas acções. O IDE inclui uma transacção inicial que corresponde a 10% das
acções e todas as transacções financeiras subsequentes e posições entre o investidor directo
e as empresas. Quando uma empresa segundo Rodrigues (2009) decide estabelecer uma
produção exterior, ela pode fazê-lo de duas formas distintas; estabelecendo uma nova filial
ou investindo através da aquisição e/ou fusão através de uma empresa estrangeira já
existente. O IDE classifica-se de duas maneiras, segundo OECD (2007), quanto à forma e
quanto aos objectivos. Para a fonte, quanto à forma ele pode ser classificado como um
investimento novo; de fusões e aquisições; lucros reinvestidos e outras formas de
Investimento Directo de Capital.
O Investimento Directo Estrangeiro tem como determinantes tradicionais a
existência de recursos minerais e o tamanho do mercado doméstico que condicionam, a
deslocação de países ou multinacionais aos locais detentores de tais recursos que
constituem comodidades necessárias para a sustentabilidade das indústrias. Estados e
empresas multinacionais têm consciência de que todo o investimento feito em países
estrangeiros, constituem um risco, mesmo em situações que se conhece alguma estabilidade
política e económica no país investido. Assim, após transferência dos 10% do capital total do
IDE, nenhum país ou multinacional quererá perder parte do seu investimento naquele país.
Se a crise fosse um impedimento ao investimento, países como Líbia, Congo, Colômbia,
Venezuela, Mocambique, etc, não teriam algum investimento estrangeiro por conta de
instabilidade politica e ou insegurança.
Alguns críticos mencionam que o IDE pode trazer benefícios, mas também pode
trazer impacto negativo. Por exemplo: As actividades de empresas multinacionais (EMs)
podem causar danos ambientais em grande escala, especialmente, no sector de mineração,
mas muitos trabalhos de pesquisa mostram que a contribuição do IDE para o crescimento é
positiva. O influxo de IDE para o sector manufactureiro tem um efeito positivo sobre o
crescimento, criando oportunidades de emprego.
Há no entanto, cinco principais razões pelas quais por exemplo, os governos da
África Austral querem atrair o IDE. A primeira razão prende-se com o facto de olharem para
o IDE como uma fonte importante de formação de capital; a segunda razão é a transferência
de tecnologia; a terceira razão é acreditarem que o IDE vai ajudar na criação de empregos; a
razão número quatro é que, governos africanos e outras economias em desenvolvimento
esperam que o IDE transfira habilidades de gestão para os gestores locais e o último, é o
aumento da competitividade das exportações.

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Embora os governos africanos e aqueles de economias em desenvolvimento tentem
permitir que o ambiente de negócios atraia mais IDE como mencionado acima, Mwilima
(2003) acredita que a África continuará não ganhando tanto com os investimentos, só
porque, quando a maioria dos países africanos abre seus mercados como uma espécie de
incentivo para promover o desenvolvimento, os investidores mudam para esses países por
razões diferentes.
Este ponto de Mwilima pode ser revertido, se, o país anfitrião e o país convidado do
IDE combinarem seus interesses, o que levará a uma situação win-win, possibilitada pelo
controle da tributação e dos fluxos de capital. Estudos de diferentes estudiosos mostram
consenso sobre uma associação positiva entre fluxos de IDE e crescimento económico.
Assim, este entendimento sugere que os países receptores do investimento directo
estrangeiro podem ter atingido um nível mínimo de desenvolvimento educacional,
tecnológico e de infra-estrutura. Além disso, o quadro macroeconómico desses países em
desenvolvimento pode mostrar alguma melhoria, especialmente, na balança comercial e no
aumento do PIB. Conforme observado por Hansen e Rand (2006), uma proporção mais alta
de IDE na formação bruta de capital tem um impacto positivo no nível de longo prazo do PIB
e no crescimento. Aliás, um quadro simples apresentado no trabalho de Soares (2012),
abaixo mostrado, pode esclarecer as mínimas razões por detrás da internacionalização de
empresas por meio do IDE.

Quadro: Motivos Para Internacionalização

Fonte: Soares (2012), Adaptado de Franco et al., 2008

No entendimento sobre o comportamento do IDE, segundo Dunning (1993), o


Paradigma Ecléctico foi estendido para explicar as motivações, ou os determinantes, que
levam as firmas a produzirem no mercado internacional. Essas motivações estão ligadas,
principalmente, à estrutura económica e políticas governamentais e podem ser divididas em
quatro grupos básicos, de acordo com o tipo de actividade que será realizado pela firma.
É comum os países em desenvolvimento elaborarem políticas com o objectivo de
atrair investimento directo estrangeiro e sendo seu foco principal, resolver os problemas de
escassez de infra-estruturas e construir uma estrutura institucional que melhore os serviços
na economia anfitriã. O investimento directo estrangeiro é considerado como tendo um
impacto mais positivo na economia anfitriã do que um impacto negativo. Os ganhos
comerciais e a melhoria da concorrência no país anfitrião são apontados como um dos

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maiores impactos positivos do investimento directo estrangeiro. Existem relatórios em
algumas economias em desenvolvimento sobre a contribuição do investimento directo
estrangeiro no PIB e no crescimento económico. Os governos dos países em
desenvolvimento trabalham arduamente para atrair o IDE devido às suas reconhecidas
vantagens como ferramenta de desenvolvimento económico.
O possível cenário do comportamento do Investimento directo estrangeiro em
tempos de crise será de abrandamento não assustador e não necessariamente de impacto
negativo. As economias mundiais nunca deixaram de funcionar, o comércio mundial nunca
parou de fluir entre países. Esta realidade sugere que não existe uma crise absoluta capaz de
barrar, parar a mobilidade de capitais e o escoamento de matéria-prima para países que
dela dependem.

TENDÊNCIA DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO EM TEMPOS DE CRISE

O entendimento ao presente subcapítulo terá como premissas o conceito de crise como


elemento basilar para analisar a tendência do investimento directo estrangeiro tanto em
tempo de crises económica, sanitária e social, as quais, ajudarão na compreensão dos
objectivos específicos, elaborados para este estudo. Reconhecendo a multidisciplinaridade
do conceito crise, o estudo, concentra-se apenas na crise económica, sem descurar da
influência que as outras crises mencionadas neste estudo possam ter, no comportamento e
tendência do Investimento Directo Estrangeiro em tempos de crise.

CONCEITO DE CRISE

Crise segundo Moreira (2015) é um conceito nominativo que se abre a uma pluralidade de
conteúdos identificados por critérios diferenciados, e correspondentes a perspectivas
impossíveis de aproximar. A tentativa de lhe conferir significado científico enfrenta
dificuldades que uma riqueza semântica vai seriando, designadamente tensão, desastre,
catástrofe, ameaça, violência, mas também um ponto de transição de circunstâncias
negativas para um estádio de recuperação e até progresso. Adianta o autor que quando
Marx usou a expressão crise do capitalismo, teve em vista, o risco crescente, em seu parecer
de resultado final inevitável, que seria o de, a luta de classes terminar pela falência daquele
sistema. O conceito de crise é extremamente ambíguo, teve múltiplos usos, muitas vezes
contraditórios. Ao longo do século XX gozou de períodos de enorme popularidade em
contraste com outros em que a sua existência futura, como fenómeno social de amplitude e
duração significativa, era quase descartada.
No entanto, para de Souza e de Souza (2020) apud Dussel (1993), “Crise” e
“desenvolvimento” são conceitos que, ao que parece, andaram juntos, no que diz respeito a
um discurso de progresso político. Consideram os autores citados, que há um risco iminente
nestes dois conceitos, que é o hiato provocado entre governo e sociedade. Aliás, segundo
adiantam, pode-se negligenciar a pessoa humana e sua dignidade em prol de um
“desenvolvimento” que vise meramente o lucro. A protecção de acordo com (Centros dos
Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, 2014), contra os efeitos negativos da crise deve
assentar, em políticas activas de emprego, protecção contra o endividamento e numa
política activa de promoção do acesso aos serviços de saúde.

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O início da exploração dos recursos naturais não renováveis seguido de uma forte
injecção de capital pelo investimento directo estrangeiro na economia local, abre uma nova
forma de transformar o país de um país pobre, para uma economia próspera com destaque
para a contribuição natural de Recursos. No entanto, o crescimento económico nunca pode
ser confundido com desenvolvimento. Uma coisa é crescimento económico que explica o
desempenho dos governos sobre a economia de um país, e outra, é o desenvolvimento que
depende da criação de pelo menos infra-estruturas básicas, como escolas, hospitais,
estradas, saneamento, etc.
É preciso promover um crescimento económico inclusivo, que possibilite o
desenvolvimento social, e a sustentabilidade ambiental. Um dos pólos mais importantes
para a promoção do desenvolvimento sustentável num determinado país como
Moçambique é a educação. Uma educação muito bem coordenada e planificada pode
permitir que uma massa crítica de pessoas com conhecimento, fortaleça os esforços para
exercer mais influência no mercado local e internacional. Isso significa que pessoas com
formação científica crítica contribuem fortemente para a formulação de políticas eficientes e
ajudam os países a se especializarem em bens e serviços que influenciam o desenvolvimento
e o crescimento económicos. No entanto, a questão de inclusão social tem-se tornado num
factor importante para a redução da pobreza, a sustentabilidade dos países e não existência
de convulsões sociais, tal como indica o Centro dos Estudos Sociais, Universidade de
Coimbra (2014),

a história europeia do último século também parece demonstrar que não há


crescimento económico sustentável sem coesão social. Deve atentar-se, por isso,
no crescimento económico e na protecção social como duas faces da mesma
moeda e olhar com particular atenção para aqueles factores que influenciam
negativamente quer o desenvolvimento económico quer a boa gestão dos sistemas
de protecção social. São eles (1) o pouco apego ao conhecimento; (2) o limitado
espírito empreendedor nos sectores económico e social; (3) o baixo nível de capital
social; (4) os enraizados dispositivos de captura do bem público por interesses
particulares; e (5) as redes de troca de favores em detrimento da promoção do
mérito.

O investimento directo estrangeiro tem custos e benefícios. Os benefícios e riscos só


levarão ao crescimento económico no país anfitrião sob certas condições, como ambiente
político e macroeconómico. Mwilima (2003) afirma que o impacto do IDE num país
dependeria de uma série de factores, tais como: o modo de entrada; as fontes de
financiamento do IDE e o impacto nas actividades das empresas nacionais.
Na visão de Soares (2012), a suspeita de existência de instabilidade estrutural na
estrutura das relações de IDE e nos seus determinantes nos períodos antes e pós crise, leva
à divisão da análise em dois períodos distintos, um deles de 1985 a 2006 (antes da crise) e o
outro de 2007 a 2011 (depois do início da crise),

De facto, a crise económico-financeira mundial abalou a capacidade de


investimento e expansão das EMN. A contracção dos mercados, o fraco acesso a
recursos financeiros e as baixas expectativas de um retorno rápido em termos de
crescimento económico, levaram a uma redução dos fluxos IDE a partir de 2007. No
entanto, esta redução não se verificou da mesma forma em todo o mundo. No
Gráfico 1, verificou-se que os países desenvolvidos foram claramente mais

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afectados pela crise do que os países em desenvolvimento, apresentando uma
queda mais acentuada dos fluxos de IDE. O Gráfico permite analisar os fluxos
líquidos de investimento directo estrangeiro recebidos por continente, medidos em
milhões de dólares, entre 1985 e 2011.

Gráfico 1: Fluxos de IDE Por Continente, em Milhões de Dólares (USD)

Fonte: Soares (2012) baseado nos dados da UNCTAD

Este gráfico trazido por Soares, permite-nos analisar de forma minuciosa como tem
sido a tendência e comportamento do IDE em tempos de crise, neste caso específico, a
económica, aplicando-se esta quase situação idêntica às outras crises como sanitária e
política. No período em análise, a tendência do investimento foi negativa permanecendo
linear em termos do valor e volume de investimentos para África e Oceânia. Diferente da
África e da América Latina, os mercados asiáticos continuam a ser os principais destinos dos
fluxos internacionais de capitais, tanto em termos de investimentos em títulos como de
investimento directo estrangeiro.

PERSPECTIVA DUALISTA DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO

Em economia, não há dúvidas de que o maior esforço feito pelos países do mundo consiste
em salvaguardar os seus interesses particulares na sua relação com os outros Estados. Assim,
o investimento directo estrangeiro a acontecer num dado país, será por conta de duas
situações distintas, nomeadamente; por um lado, a contínua preocupação pela obtenção do
lucro nos mercados investidos e por outro, o interesse em ver a transferência de tecnologia
para o país, normalmente em desenvolvimento; formação de capitais, aumento de emprego,
formação do capital humano, etc. A questão do lucro para de Souza e de Souza, (2020:157) é
uma perspectiva de crise, ou poder-se-ia dizer que é por meio do lucro que se chega ao
efeito colateral ou resultado do capitalismo, a saber, a desigualdade social,

há dois autores que podem contribuir nessa perspectiva de entender a relação


entre crise e capitalismo. Kautsky (1978) cria que a causa das crises no capitalismo
era o sub-consumo das massas, frente a uma escala de produção sempre
ascendente. Hilferding (1985), por sua vez, acreditava que a causa era a ausência de
um planeamento racional que organizasse a produção social de acordo com as
necessidades de consumo da sociedade. De certa forma, o que percebemos é que
na estrutura do próprio capitalismo há uma crise permanente, pois, ele cria um
hiato entre classe dominante (que detém os meios de produção e a concentração
do capital) e a classe trabalhadora (que vende sua força de trabalho). Uma

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estrutura política e económica que causa esse tipo de relação tem, em si,
fervilhando, uma crise.

A forma como o equilíbrio é conseguido, e a possibilidade de ser evitada a crise


depende da coordenação e dos sinais enviados aos investidores, que por definição se
comportam pela maximização do seu lucro. Neste sentido, as crises de liquidez são
essencialmente crises de pânico dos investidores, (Cristóvão, 1999: 44).

DETERMINANTES DO IDE EM ECONOMIAS CRÍTICAS E DETENTORAS DE RECURSOS


NATURAIS

Apesar dos determinantes físicos do investimento directo externo de um país, como


minerais e outros recursos naturais posicionarem-se aparentemente primordiais, os factores
políticos desempenham um papel importante na atracção de investimentos, especialmente
nas economias em desenvolvimento. Políticas eficientes do IDE são muito melhores num
país do que a própria presença de recursos naturais. No entanto, um país pode ser famoso
pela abundância desses recursos e não ficar em melhor situação, se as políticas para
promoção das potencialidades do país forem ineficientes. Neste caso, o quadro institucional
e as infra-estruturas são cruciais e podem funcionar como um elemento-chave para atrair o
investimento directo estrangeiro.
Castro e Campos, (s/d:39) concluem que as crises se difundem e atingem tais
condicionantes, assim como outros determinantes do IDE, e a probabilidade de queda desse
investimento directo estrangeiro pode ser grande. Assim, mesmo o IDE sendo um tipo de
investimento menos volátil, no geral, uma crise financeira poderá atingi-lo através de seus
determinantes, ou seja, via canais de transmissão ou repercussão dessa crise. Segundo
UNCTAD (2017), durante a crise, os stocks mundiais do investimento directo estrangeiro
reduziram de US$ 18 trilhões em 2007 para US$ 15 trilhões em 2008. Trata-se de uma
redução de 16% em 2008, onde os fluxos recuaram cerca de 33%, e uma queda mais
expressiva nas economias desenvolvidas, em média, 40% e nos países em desenvolvimento,
21%.
Os determinantes do fluxo de investimento directo estrangeiro diferem fortemente
entre os sectores. No entanto, o bom senso indica que o IDE frequentemente se baseia no
argumento de que traz tecnologia estrangeira e habilidades de gestão que podem ser
adaptadas pelos países anfitriões, de acordo com seu contexto. Conforme observado por
Walsh e Yu (2010), a qualidade institucional é um provável determinante do IDE,
especialmente para os países menos desenvolvidos. Seus argumentos se baseiam no facto
de que, onde há qualidade nas instituições, o desempenho da governação é relativamente
melhor.
Em particular, de acordo com Globerman e Shapiro,( 2002), a boa governação
política é caracterizada por políticas que promovem a concorrência em nível doméstico e
internacional, bem como por regimes legais e regulatórios abertos e transparentes e a
prestação efectiva de serviços governamentais. A atracção eficiente de uma quantidade
considerável de investimento directo estrangeiro dependerá também de outro elemento
que Globerman e Shapiro chamam-no de infra-estrutura de governação, que não é a única

11
infra-estrutura que pode contribuir para o bem-estar económico e, criação de um clima
favorável ao IDE.
De acordo com a fonte acima citada, infra-estruturas de governação são aquelas que
compreendem instituições públicas e políticas criadas pelos governos como um marco para
as relações económicas e sociais. Parece que a construção de um quadro institucional ligado
à qualidade das infra-estruturas é o denominador comum para a atracção de investimento
estrangeiro. Por outro lado, um impacto negativo do investimento directo estrangeiro pode
ser resultado de uma governação deficiente, o que desencoraja o IDE. À medida que a
governação melhora, o investimento directo estrangeiro é atraído e desloca algumas
oportunidades de investimento privado. Nesse sentido, as empresas privadas locais
beneficiarão com os investimentos estrangeiros e seu nível de concorrência também
melhorará à medida que os investidores estrangeiros demandam serviços especializados.
Como pode-se depreender, a partir da discussão acima, não há consenso sobre os
determinantes do IDE, um ligeiro consenso sobre os determinantes do IDE é encontrado em
algumas variáveis económicas como os principais determinantes no estudo de Mottaleb e
Kalirajan (2013), que consideram factores como o tamanho do PIB e seu crescimento;
aquelas relacionadas às variáveis socioeconómicas, como por exemplo, o papel do ambiente
de negócios na atracção de IDE que permanece inexplorado. No entanto, para Peter (2012)
determinantes não tradicionais, como factores de custo e seus factores complementares de
produção e abertura ao comércio, normalmente não se tornaram mais importantes com a
globalização. Os determinantes tradicionais relacionados ao mercado ainda são factores
dominantes na atracção de IDE nos países em desenvolvimento.

ESTUDO DE CASO: MOÇAMBIQUE

As tendências actuais da economia projectam que Moçambique dê a mais pessoas


oportunidades de alcançar uma prosperidade muito melhor do que antes. Há preocupações
sobre se, os ganhos do crescimento económico podem ser aqueles de inclusão social ou
podem apenas expressar indicadores económicos de desempenho de crescimento. A
economia de Moçambique tem que funcionar de acordo com o desenvolvimento social e
ambiente sustentável. Os pessimistas sobre a economia de Moçambique temem que o
desempenho da economia do país, se envolva muito pouco para resolver seus problemas de
desenvolvimento.
Entretanto, outra grande preocupação da economia é a falta de transparência na
aprovação e execução de projectos de multinacionais. Quase a maioria dos projectos de
investimento estrangeiro realizada em Moçambique, na indústria extractiva, carece de
transparência, no que se refere aos termos e condições através dos quais é assinado o
acordo entre o governo e investidores estrangeiros. No entanto, quanto maior a
transparência nos acordos de investimento directo estrangeiro for, menor são as
preocupações com um crescimento económico inclusivo e o pessimismo sobre o
desempenho do governo.
Entretanto, Moçambique tem de trabalhar em políticas com vista à especialização
em recursos naturais, visto que o país está a caminho de ser um dos maiores produtores
mundiais de gás e carvão. O crescimento económico só será considerado inclusivo, se as
políticas traçadas para o seu aprimoramento estarem de acordo com o desenvolvimento

12
social. Se Moçambique resolver os problemas de desenvolvimento social, tais como, colocar
infra-estruturas básicas disponíveis nas áreas rurais, então, a realização do crescimento
económico pode espalhar-se horizontalmente evitando a desigualdade entre as pessoas que
vivem em diferentes áreas do país que muitas vezes originam crises económicas e sociais
sem precedentes.
Moçambique está a aumentar maciçamente o número de investidores estrangeiros
interessados em iniciar as suas operações em recursos naturais como minerais, petróleo,
gás, carvão e sector agrícola. Há previsões que apontam que o número de grandes
investimentos que ocorrem em Moçambique ajudará a aumentar a reserva de divisas. Há
um grande número de eventos internacionais ocorrendo recentemente em Moçambique
com o objectivo de promover o potencial dos recursos naturais de Moçambique,
principalmente, o gás e o carvão, que representam as principais commodities que
Moçambique já descobriu.
Estes eventos são coordenados, principalmente, pela Agência de Promoção de
Investimentos e Exportações de Moçambique; instituição governamental com atribuições
para atrair investimentos estrangeiros para o país. Nesta fase inicial, esta agência de
investimento enfatiza os incentivos e isenção de impostos fiscais que beneficiam muito mais
os investidores do que o país. Talvez, não seja necessário implementar políticas que
enfatizem a isenção de impostos e assim por diante, por várias razões; Em primeiro lugar,
Moçambique é um país que se destaca como um dos mais importantes destinos de
investimentos e ocupa uma posição cimeira, dadas as suas enormes reservas de
commodities que o coloca, como primeira escolha para investimentos estrangeiros.
Segundo; o país precisa de mais infra-estruturas para acompanhar o
desenvolvimento em falta. No entanto, vale dizer que essas enormes e marcantes reservas
de carvão e gás incluindo, terras cultiváveis para a agricultura, são elementos suficientes
para atrair uma quantidade considerável de investimentos, pois, o mundo está, cada vez
mais, à procura destes recursos, devido à sua escassez no mercado internacional. Isto
significa que, na corrida pelas commodities, Moçambique será capaz de resolver os
problemas de infra-estruturas.
Existem condições políticas e económicas para o investimento estrangeiro em
Moçambique. No entanto, este é outro elemento forte que coloca o país como primeira
opção para investimentos. A este respeito, não há muito que fazer, em termos de isentar os
investidores estrangeiros do pagamento de impostos, no quadro actual do potencial de
Moçambique. É importante trabalhar na estratégia de marketing para “vender” o potencial
em commodities de Moçambique no mundo exterior, em vez de perder receitas da cobrança
de impostos.
As commodities de Moçambique, como petróleo e gás, dão uma contribuição
importante para o crescimento económico do país. No entanto, a procura por estes
produtos pelas economias desenvolvidas e, também, pelo mercado chinês, fez de
Moçambique uma das 10 economias de crescimento mais rápido do mundo na última
década, embora, actualmente, em recessão, por conta da pandemia da Covid–19.
O país pode melhorar, consideravelmente, as receitas do orçamento do estado se as
políticas de tributação para investidores estrangeiros forem revistas. Conforme mencionado
anteriormente, as condições do mercado internacional de escassez de commodities
contribuem fortemente para posicionar Moçambique como o país com melhor classificação

13
para investimentos estrangeiros. Nesse sentido, o país tem que simplificar algumas políticas
relacionadas ao licenciamento e concessão da exploração de recursos. O excesso de
burocracia impede o fluxo de investimentos e o próprio desenvolvimento. Nesse sentido, o
país tem que contar com políticas eficientes e acessíveis que facilitem o fluxo de
investimentos estrangeiros e que permitam um crescimento económico inclusivo.
Uma análise profunda do argumento acima convida a abordagem do estudo a
sugerir políticas e ambições específicas em inovação tecnológica para a realidade local. Os
modelos de crescimento económico de países em desenvolvimento, como os africanos, não
devem ser estritamente baseados nas estratégias e políticas de outros países, pois, podem
correr o risco de implementar políticas inadequadas e totalmente diferentes da realidade
local, excepto sectores como agricultura e comércio. É muito importante adoptar diferentes
estratégias baseadas na gestão do conhecimento de uma perspectiva interna e externa, a
fim de possibilitar mecanismos para o bom desempenho de uma empresa ou país. Por sua
vez, os países africanos estão interessados em atrair IDE, e, a presença de uma quantidade
considerável de investimentos estrangeiros é a chave para resolver os problemas
económicos de África, em especial os de Moçambique.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O investimento directo estrangeiro tem sido uma actividade contínua de capital importância
para o desenvolvimento de economias em desenvolvimento. O debate conceptual, o
cruzamento da teoria e da diversa bibliografia, permitiu uma discussão sobre o
comportamento do investimento directo estrangeiro quer em seu decurso normal, quer em
tempos de crise. Todavia, países com escassez de recursos financeiros ainda têm o
investimento directo estrangeiro como vector para a resolução dos seus problemas
inerentes à falta de infra-estruturas, tecnologia, emprego e industrialização.
Estudos mostram um resultado comum, referente à contribuição positiva do
Investimento directo estrangeiro para o crescimento e desenvolvimento económicos.
Evidências sugerem nunca haver rompimento do investimento directo estrangeiro em países
de destino a não ser, abrandamento do normal decurso dos projectos, decorrentes de não
desembolso atempado dos fundos para a implementação ou conclusão de tais projectos.
A teoria realista utilizada mostra ganhos mútuos entre estados e/ou empresas sem
com isto, sugerir haver ganhos igualitários. Aos ganhos, por um lado, refere-se à situação de
contínuo empenho no investimento previamente acordado, considerados todos os riscos de
crises quer sanitários, económicos, políticos e /ou sociais, por que possam passar os
investidores, sugerindo um eminente lucro forjado numa crise sanitária que origina a
económica. Por outro, aos países investidos, os ganhos permanecem intactos e, uma vez
iniciada a operação de investimento, torna-se quase difícil até mesmo impossível, a sua
interrupção por se tratar de investimentos de balúrdios de capitais estrangeiros. Assim, a
infra-estrutura inacabada continua nestes países em desenvolvimento, parte da
transferência dos 10% do capital total encontra-se depositado nos bancos onde vai ocorrer o
investimento, e tantos outros procedimentos iniciados que não podem ser,
esporadicamente, cancelados. Por outro, os ganhos com o investimento directo estrangeiro,
também, podem ser medidos através da existência de infra-estruturas básicas como
estradas, escolas, hospitais e saneamento, que constituem a principal condição que leva os

14
governos dos países em desenvolvimento a conceber políticas destinadas a atrair
investimentos.
Vários estudos indicam que o investimento directo estrangeiro pode criar empregos,
aumentar o desenvolvimento tecnológico do país anfitrião e melhorar a condição económica
das pessoas. Quanto mais investimentos são atraídos para um determinado país, maior é a
melhoria das infra-estruturas, do quadro institucional, de pessoas qualificadas e
especializadas. No entanto, os governos dessas economias em desenvolvimento, ao
promover investimentos, esperam receber capital financeiro escasso a um custo
relativamente baixo e beneficiar do comércio.
Os investidores estrangeiros exigem que as perspectivas de crescimento do mercado
continuem favoráveis para permitir o retorno do capital investido no país de origem. Isso
garante um compromisso de longo prazo em grandes projectos com o objectivo de
aumentar a renda e as demandas dos consumidores por bens e serviços. Por outro lado, os
governos devem liberalizar seu sistema financeiro, o que é uma medida importante para
garantir a sustentabilidade dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento.
A disponibilidade de todas essas condições em um determinado país anfitrião será
determinante para o ingresso de investimentos estrangeiros que garantam uma parceria
empresarial de longo prazo que contribua para o crescimento económico inclusivo e o
desenvolvimento social. Isso significa que os países em desenvolvimento, que não
conseguem acomodar esses requisitos, atraem menos investimentos, mesmo que os
recursos naturais sejam abundantes. Outro aspecto que impacta, negativamente, na
atracção de investimento directo estrangeiro num determinado país em desenvolvimento é
a instabilidade política. Contudo, o elemento mais importante que preocupa os investidores
estrangeiros é a garantia do retorno do capital.
Os países em desenvolvimento são sugeridos a criar políticas económicas eficientes
e estrutura regulatória que são as ferramentas essenciais para fazer negócios de forma
competitiva, seja no mercado local ou internacional, contribuindo positivamente na
economia do país anfitrião. No entanto, o investimento directo estrangeiro, nos países em
desenvolvimento, tem um impacto positivo no sentido de que permite um fluxo livre de
capitais, através das fronteiras nacionais em busca da maior taxa de retorno. Esses fluxos
internacionais de capitais podem reduzir o risco encontrado pelos proprietários desses
capitais, possibilitando a diversificação de seus empréstimos e investimentos.
Assim, o estudo valida a primeira hipótese segunda a qual, a tendência do
investimento directo estrangeiro, em tempos de crise, tem sido positiva para o investidor,
pois, quanto maior for o risco, no país investido, maior é o lucro por se ter mercados de
pouca competitividade assustado pelas crises. Evidências mostram que o risco-país é apenas
um dos vários factores de risco com que os agentes económicos se deparam nas suas
ligações ao exterior, sendo no entanto, capaz de influenciar a natureza dos acontecimentos,
independentemente da qualidade do devedor, da validade do projecto ou das condições da
operação, tomando como base o estudo de Cristóvão (1999). Mesmo na existência do risco,
os países ou empresas investidoras não rompem o cometimento em investimentos, apenas
há uma redução na estrutura global do IDE e não necessariamente nos acordos bilaterais.
A segunda hipótese do estudo, segunda a qual, o apetite pelo lucro, por parte dos
investidores e a necessidade de formação de capitais estrangeiros e tecnologia pode estar na
origem do desfasamento harmonioso dos objectivos do IDE, é validada, assim como a 3ª e

15
última hipótese do estudo que postula que os recursos naturais, o tamanho do mercado, o
aspecto demográfico e a estabilidade política e económica podem estar na origem de
determinantes para economias em crise e com abundância de recursos, uma vez que
discutiu-se ao longo do estudo sobre a não existência de consenso nas determinantes do
IDE, eles dependem, sim, das características e condições de cada região especifica.

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Junhode 2021.

17
O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA FINANCEIRO
MOÇAMBICANO: DAS SUAS ORIGENS AO PRESENTE
Domício Chongo1

RESUMO

O Sistema Financeiro (SF) moçambicano, após anos de práticas de repressão financeira,


começou a dar os primeiros passos para a sua modernização, sendo evidente o crescimento do
número de instituições a operar no país, da rede de agências e a sofisticação de produtos,
serviços e operações. O sistema financeiro joga um papel multidimensional no processo de
desenvolvimento económico em Moçambique. A fraqueza do sector financeiro é uma das
causas do fraco desempenho das economias dos países em vias de desenvolvimento. O
presente artigo tem como objectivo analisar o desenvolvimento do SF moçambicano, das suas
origens ao presente. O desenvolvimento do trabalho parte dos pressupostos de que o SF
Moçambicano está estruturado nas vertentes do Banco Central, bancos comerciais e o sector
da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM). Com a liberalização política, económica e com
o fim do conflito armado, o sistema financeiro moçambicano começou a dar os primeiros
passos para a sua modernização e expansão. O resultado principal indica que as medidas
adoptadas até então pelo Governo de Moçambique têm sido com base nas recomendações dos
sistemas internacionais o que contribuiu para a sua expansão e para o desenvolvimento do
mesmo. Para a materialização do estudo recorreu-se ao método de revisão bibliográfica de
fontes secundárias, livros, jornais, artigos científico e todo material relevante sobre o SF e o
seu do desenvolvimento em Moçambique.

Palavras-chave: Moçambique, Sistema Financeiro, economia e desenvolvimento.

1 Licenciado em História pela Universidade Eduardo Mondlane – UEM); Mestre em Relações


Internacionais e Desenvolvimento pelo Instituto Superior de Relações Internacionais – ISRI;
Investigador do Departamento de Economia e Estudo de Desenvolvimento do Centro de Estudo
Estratégico Internacional – CEEI/UJ. Email: domiciochongo@gmail.com

18
INTRODUÇÃO

O Sistema Financeiro (SF) moçambicano começou um pouco desenvolvido,


com poucos operadores e instrumentos financeiros para suportar a actividade
económica. Os principais operadores do sistema financeiro moçambicano, no
princípio acabaram por ser os bancos comerciais.
Em 1975, aquando da independência nacional, o sector bancário em
Moçambique, era constituído por nove bancos, acumulando o Banco de Moçambique
as funções de banco comercial e de banco central.
Na segunda metade dos anos oitenta, o SF da maioria dos países em
desenvolvimento, passou por um processo de liberalização e de maior integração aos
sistemas mundiais. Neste período, o sistema financeiro de alguns países passou por
mudanças que incluíram a redução da presença directa do Estado, através da
privatização de todas ou da maioria das instituições financeiras estatais, do aumento
da entrada de instituições financeiras estrangeiras supervisionadas pelas Instituições
da BrettonWoods (IBW), nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o
Banco Mundial (BM).
Com entrada em vigor da nova Constituição em 1990, instaurou-se o regime
democrático e liberal em Moçambique, do ponto de vista constitucional, de onde veio
a adoptar-se um sistema de economia de mercado. Actualmente, os sectores
financeiros em Moçambique, estão cada vez mais desafiados a reestruturarem as suas
políticas de adequação com a realidade. Todavia, eles estão vinculados com o sistema
analítico de vários sectores que estão sujeitos a incursões de prática anti-legalista e
normativa.
As crises do passado (2000-2001) demonstraram que a ineficiência dos bancos
comerciais podem ameaçar a estabilidade e o desenvolvimento do SF moçambicano.
Estas crises bancárias, trouxeram a necessidade de uma adaptação rápida de modo a
evitar o colapso do sistema financeiro.
O exercício de uma acção no sistema económico exige o conhecimento das
realidades diversas em factos económicos. A vinculação entre o mercado com
sectores económicos tem criado maior problema nos sistemas de adequação entre a
economia social e as plataformas de crescimento económico. Desta feita, o nível de
valoração das actividades está associada às diversas teorias económicas e modelos de
crescimento.
Com este artigo pretende-se mostrar ainda, com base na informação
disponibilizada, o desenvolvimento do SF moçambicano, buscando assim,
contextualizar os principais factos ocorridos no período recente e examinar as suas
actuais perspectivas. O foco da discussão neste artigo é o desenvolvimento do SF
Moçambicano, especificando a sua evolução e trajectória que levou ao longo do
tempo.
Para a materialização deste artigo, foi usado o método histórico e o método
monográfico. O método histórico de acordo com Lundin (2016: 139), consiste em
pesquisar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua
influência no mundo social do presente.

19
Este método parte da premissa de que, para entender o sistema financeiro em
Moçambique e seu papel, é necessário contextualizá-lo resgatando os principais
acontecimentos históricos. Os factos dão suporte para uma melhor compreensão da
importância do sector em estudo. Quanto ao Método Monográfico na investigação, ele
procura examinar o tema escolhido, observando todos os factores que o
influenciaram, analisando-o em todos os seus aspectos (Lundin, 2016:140).
O presente artigo tem como tema o desenvolvimento do sistema financeiro
moçambicano: das suas origens ao presente. Com ele pretende-se demonstrar como o
SF moçambicano passou por grandes transformações ao longo da história do país.
Nesta secção são apresentados os aspectos gerais que norteiam a pesquisa,
onde a prior, apresenta-se uma reflexão à volta do conceito de SF e sua importância,
além da relação que existe entre o desenvolvimento financeiro e o crescimento
económico no geral. A segunda secção descreve como era o SF moçambicano pós
independência, possibilitando uma melhor compreensão do que ele é hoje, resultado
directo do modelo instalado e das nacionalizações que ocorreram nos principio dos
anos 1970, e depois da implementação do Programa de Reabilitação Económica
(PRE). A terceira secção retrata o sistema financeiro no período democrático e liberal,
antes e depois da criação da Bolsa de Valores em Moçambique (BVM).
A quarta secção acolhe a revisão da literatura, a qual descreve e apresenta a
estrutura do sistema financeiro moçambicano. Na quinta secção apresenta-se a
importância do sistema financeiro moçambicano para o desenvolvimento. Por fim,
estão as considerações finais e as bibliografias utilizadas para a materialização do
artigo.

O SISTEMA FINANCEIRO: DEBATE TEÓRICO

O Sistema Financeiro Internacional (SFI) procura respeitar o conjunto de


mecanismos, regras e instituições que asseguram a canalização internacional de fundos dos
agentes que os possuem em excesso, para os agentes que deles necessitam e que
disponibilizam os meios de pagamento necessários à realização de transações
internacionais.
O Sistema Financeiro (SF) é formado por um conjunto de instituições financeiras
privadas e públicas, instrumentos e mercados agrupados em rede. As crises do passado
demonstraram que a ineficiência de um banco comercial pode ameaçar a estabilidade do
sistema financeiro. Portanto, entende-se como sistema financeiro o conjunto de instituições
financeiras dedicadas a proporcionar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo
de recursos entre poupadores e investidores no país.
O SF é marcado pela presença de conglomerados financeiros, criados a partir de
uma política de concentração bancária desenvolvida nas últimas décadas, principalmente
por meio de fusões, aquisições e de incentivos à capitalização das empresas.
Sousa (2005: 172) define SF de um país como o conjunto de instituições financeiras
que asseguram a canalização de fundos na economia entre os agentes que os possuem em
excesso (aforradores) e os agentes que deles necessitam. Estes agentes, são eles que ao

20
andar do tempo irão disponibilizar os meios de pagamento para à realização das transações
económicas.
De acordo com Rose (2000), o SF pode ser definido como sendo o conjunto de
instituições que auxiliam o encontro dos agentes que possuem poupanças que são: os (i)
agentes superavitários2 (poupadores), com os que necessitam de recursos, e os (ii) agentes
deficitários3 (tomadores), cujo principal objectivo é permitir o movimento de fundos
emprestáveis entre eles. Para expandir ou manter estas actividades, estes agentes
deficitários precisam do capital excedente dos agentes superavitários. A operação de
captação destes recursos transforma-se assim, em um investimento no lado dos
superavitários e um empréstimo do lado dos deficitários.
Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), “o sistema financeiro de um país inclui
bancos, mercados de valores imobiliários, fundos de pensão e de investimento, empresas
seguradoras, infra-estruturas de mercado, banco central, bem como as entidades
reguladoras e de supervisão”4. Mas Peter Howells (2000) é de opinião que a noção de
sistema financeiro deve ser bastante restrita, dando-se primazia ao conjunto de mercados,
indivíduos e instituições que negociam nesses mercados.
De acordo com Canotilho e Vital Moreira (2007), o SF pode ser definido de duas
formas: a primeira, objectiva onde se ressalta a disciplina inerente à actividade financeira,
isto é, o conjunto das normas, instituto e mecanismos jurídicos que superintendem as
actividades financeiras. A segunda, subjectiva, onde se encontram mencionadas as
entidades financeiras, como por exemplo, os bancos e outras instituições financeiras que
exercem ou intervém de forma directa na actividade financeira.
Na verdade, o sistema sugere a ideia do conjunto de que as instituições são partes
integrantes. Para Maleiane a designação do sistema financeiro é usada, muito
particularmente, “quando se pretende referir às instituições, o que não é totalmente errado.
Maleiane é de opinião que quando se decide colocar o enfoque do sistema financeiro nas
instituições, sem, entretanto, especificar quais são, abre-se espaço para que nele operem
antes, aqueles que não são institucionais” (Maleiane, 2014:25).
Allen e Gale (2000), classificam os SF de acordo com a seguinte dicotomia: sistemas
do “tipo alemão”5, nos quais existe uma predominância da intermediação financeira, e

2 Os agentes superavitários ou poupadores, que detêm capital em excesso para consumo ou para
outro fim. O agente superavitário concederá empréstimo de sua riqueza financeira de acordo com
suas avaliações de retorno, risco e liquidez do tomador de empréstimo (Howells & Keith Bain,
2001).
3 Os agentes deficitários ou tomadores, que possuem falta de capital para manter as suas atividades.

O agente tomador de empréstimo procura reduzir os custos do empréstimo e compatibilizar o


fluxo temporal de despesas com as receitas previstas (Howells & Keith Bain, 2001).
4 Fact sheet do FMI, sobre a Solidez do Sistema Financeiro, publicado em Setembro de 2014:1.
5 O modelo alemão foi marcado por uma estrutura de governança corporativa baseada nos

stakeholders, pela presença de relações de trabalho participativas, com grande papel conferido aos
trabalhadores, e pela existência de uma fonte de capital paciente, resultado das relações
desenvolvidas entre bancos e empresas. A alemanha consolidou, no século XX, um modelo de
capitalismo bem particular, cujas origens remontam ao século XIX e à necessidade de buscar apoio
político em um contexto não democrático. Após a II Guerra Mundial. Este modelo assumiu sua
forma mais inclusiva, com a existência de canais institucionalizados de participação dos
trabalhadores e com a consolidação de um abrangente Estado de Bem-Estar Social (Streeck 2005).

21
sistemas do “tipo americano”6, nos quais a desintermediação e o papel dos mercados de
capitais predomina.
Neste modelo os bancos são os principais agentes do sistema, por isso que o mesmo
aproximou-o do modelo americano, em que predomina a especialização havendo
instituições especializadas em cada ramo dos serviços financeiros.
O SF é sinónimo de um conjunto complexo de instituições financeiras que captam
poupanças, como forma de investimento para os mercados financeiros, o que é
protagonizado através da compra e venda de produtos financeiros, cuja real eficiência está
na capacidade de minimizar os custos que envolvem todo o processo de intermediação
financeira.
O SF tem sofrido alterações devido a profundas transformações nas condições de
funcionamento da economia mundial, da evolução da tecnologia e devido também a outros
factores. O SF tem como finalidade primordial transferir os recursos em poder dos
poupadores (investidores) para o sector produtivo ou para o sector de consumo.

IMPORTÂNCIA DO SISTEMA FINANCEIRO

Segundo Jossefa (2011:5), o Sistema Financeiro (SF) joga um papel multidimensional


no processo de desenvolvimento económico de cada país. O sistema financeiro tem assim
um papel de extrema importância quando se fala de desenvolvimento económico, uma vez
que a interação entre as várias entidades envolvidas na actividade económica acarreta
custos de informação ou de transação devido às próprias características dos mercados. Estes
mercados, longe de serem perfeitos, condicionam os níveis de crescimento económico e de
bem-estar de cada país.
Esta situação acontece porque a interacção dos agentes económicos nas actividades
económicas envolve custos de informação ou de transacção que é resultado das
imperfeições que aparecem nos mercados, abrindo espaço para a existência de
intermediários financeiros. Essas imperfeições do mercado financeiro dificultam a percepção
adequada do risco e do retorno do investimento. Em casos extremos, elas criam ambientes
de excessivo optimismo ou pessimismo, com sérias repercussões sobre a actividade
económica. Elas podem, também, gerar avaliações equivocadas, produzindo distorções na
oferta e na determinação do preço do crédito.
A presença de intermediários no sistema financeiro contribui para mitigar os
problemas decorrentes dos custos do sistema de transação e de informação, facto que
concorre para influenciar as decisões de poupança e de investimentos.
Haan et al (Sd:19), consideram que o sistema financeiro propicia a partilha de
informação mais equilibrada entre mutuários e credores, dentro do mercado, evitando desta

6 No modelo americano, as instituições são divididas pelas funções que atendem, especializando cada
instituição na sua área de atuação. Este fato possibilitou ganhos de escala e redução dos custos
operacionais para que se criasse oferta de empréstimos com menores taxas (Fortuna, 2006). Nesse
sistema baseado no dólar fixo, os Estados Unidos cumpriam papel semelhante ao que a Inglaterra
havia desempenhado na segunda metade do século XIX. Serviam como o banco central do mundo.
Estabeleciam a taxa básica de juros e proviam, por meio de deficit ou superavit em sua balança de
pagamentos, a liquidez da moeda internacional (Serrano, 2002).

22
forma, resultado do fenómeno da informação assimétrica, e a ocorrência de falhas de
mercado. Por via disso, o crescimento económico está sujeito aos custos de transações,
onde os intermediários financeiros podem influenciar o crescimento através dos seguintes
canais:
 Redução dos custos de aquisição e processamento de informação;
 Diversificação do risco, um facto que pode induzir os aforradores a direccionar a sua
carteira de investimentos para projectos com retornos esperados elevados;
 Um sistema financeiro com intermediários que cumpram, cabalmente, com as
funções financeiras, gera benefícios acrescidos para o crescimento económico;
 Fortalecimento do acompanhamento das operações das empresas, o que pode, por
um lado, reduzir os níveis de racionamento de crédito, e, por outro, facilitar o fluxo
de recursos dos aforradores para os investidores;
 Mobilização de poupanças individuais com vista a aprofundar o processo de
crescimento económico, um facto que permite fazer melhor uso das economias de
escala.
O SF tem, assim, um papel de extrema importância quando se fala do
desenvolvimento económico, uma vez que a interação entre as várias entidades envolvidas
na actividade económica acarreta custos de informação ou de transação devido às próprias
características dos mercados, que longe de serem perfeitos, condicionam os níveis de
crescimento económico e de bem-estar.
Numa economia de mercado, os agentes económicos tomam decisões de
investimentos de acordo com as suas espectativas de risco e retorno. No entanto, no
mercado financeiro há imperfeições que dificultam a decisão de investimentos e que fazem
com que os recursos superáveis não se direcionem nas quantidades e no preço óptimo aos
agentes económicos que demandam empréstimos.
A eficiência do sistema financeiro está, portanto, directamente associada à sua
capacidade de minimizar os custos de transação envolvidos no processo de intermediação
financeira. O sistema financeiro deve, ainda assim, ser percebido como aquele que
desempenha um papel de relevo para a economia, salvaguardando os níveis de crescimento
económico e de bem-estar como já foi referido no parágrafo acima.
O sistema financeiro deve ser visto enquanto um pilar do desenvolvimento
económico das sociedades em razão da sua importância, composição e fundos que possui a
sua guarda (Sobreira, 2005).

RELAÇÃO ENTRE O DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO E O CRESCIMENTO ECONÓMICO

As correntes de pensamento económico tradicionais são conflituantes quanto ao


impacto do sistema financeiro, no crescimento económico. Os economistas do
desenvolvimento, como Meier e Seers (1984) e Lucas (1988), não dão primazia ao papel do
sistema financeiro no processo de crescimento económico e baseiam as suas hipóteses na
teoria neoclássica, defendida por Fama (1970).

23
Esta teoria assume que os mercados são perfeitos e eficientes, e que os agentes
económicos agem de forma racional. Merton (1988), Gurley e Shaw (1955) e McKinnon
(1973) consideram sem fundamento dissociar o sistema financeiro do processo de
crescimento económico, com base na visão schumpeteriana7 do processo de
desenvolvimento que relaciona a liberalização financeira com as taxas de juro, e essas com o
investimento ou poupança. Esta visão é defendida também por Levine (2005), Beck et al.
(2000), Demirguç-Kunt & Maksimovic (1998), e Rajan & Zingales (1998).
Fora daqueles debates, a literatura financeira notabilizou-se nas análises do impacto
das finanças, na distribuição do rendimento, e no alívio à pobreza. Todavia, existe alguma
literatura recente que aponta para o fraco contributo das finanças na distribuição do
rendimento e na redução da pobreza, particularmente, para as pequenas empresas e
famílias pobres (Beck et al., 2005 e Beck et al., 2007).
De acordo com Galor e Moav (2004), desde que se eliminem os factores que
restringem o Acesso aos Serviços Financeiros (ASF), particularmente o acesso ao crédito, o
Sistema Financeiro (SF) pode catapultar o aumento da eficiência na alocação de capital e na
redução da desigualdade no rendimento, gerando fluxos de capital com retornos de
investimento elevados para os pobres.
No entanto, os modelos de racionamento de crédito de Stiglitz e Weiss (1981)
defendem que quando os SF são subdesenvolvidos, como geralmente acontece nos Países
em via de desenvolvimento (PVD), pode criar-se um entrave ao processo de crescimento
económico, visto que, não funcionando o mercado de crédito, as decisões de investimento
ficam determinadas pela riqueza individual, o que exclui, à partida, os que não têm fundos.

SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO PÓS INDEPENDÊNCIA

Neste capítulo, pretende-se apresentar, de forma sumária, o contexto histórico do


Sistema Financeiro (SF) moçambicano e sua estrutura actual de modo a aculturar o leitor
com o tema. O modelo bancário moçambicano seguia o padrão europeu, em que os bancos
são a principal peça do SF.
O sistema era limitado quanto ao número de instituições existente durante o
período colonial, onde existiam apenas o Banco Nacional Ultramarino (BNU)8;o Instituto de

7 Schumpeter em suas obras de 1912 e 1931, respectivamente na Teoria de Desenvolvimento


Econômico e Business Cycles, destacava a importância do sistema bancário no crescimento
econômico, no estímulo à inovação e ao crescimento futuro ao identificar e financiar investimentos
produtivos. Através da criação do crédito bancário os bancos comerciais poderiam financiar a
actividade empreendedora e as novas indústrias. Desta forma tem-se que a “[...] extensão de crédito
para fins de ‘inovações’ é por definição a concessão de crédito ao empresário e constituí elemento
do desenvolvimento econômico [...]”.Schumpeter destacava a importância do sistema bancário no
crescimento econômico, no estímulo à inovação e ao crescimento futuro ao identificar e financiar
investimentos produtivos. Através da criação do crédito bancário os bancos comerciais poderiam
financiar a atividade empreendedora e as novas indústrias (Schumpeter, 1912:72).
8 O Banco Nacional Ultramarino (BNU), foi criado por carta régia de 1864 assinada por D. Luís – a
chamada carta de Lei de 16 de Maio de 186467 o que levou a que em “1877, na Ilha de
Moçambique, e 1883 em Lourenço Marques, fossem abertas, respetivamente, as primeiras
agências.O “BNU foi nacionalizado pelo Governo Provisório através do Decreto-Lei n.º 41/74, de
13 de setembro”, como forma de proceder a passagem deste banco para o Estado moçambicano e,
desta forma, permitir a materialização do acordo de Lusaka.

24
Crédito de Moçambique (ICM); o Banco Popular de Desenvolvimento (BPD); o Banco
Standard & Totta de Moçambique (BSTM), entre outros. Neste período assiste-se o processo
das nacionalizações de vários bancos.
A 25 de Junho de 1975 Moçambique conquista a sua independência, de seguida,
transforma-se numa República Popular, com um regime de partido único até Novembro de
1990, data da entrada em vigor da nova Constituição que instaurou o regime democrático
multipartidário e um sistema de economia de mercado.Tal como outros países,
Moçambique logo depois da proclamação da sua independência nacional, iniciou a sua onda
de reformas (Coscione, 2008: 27).
O sistema bancário moçambicano neste período, era constituído por 9 bancos e
agencias comerciais que operavam no país. O BNU, ganhou o estatuto de banco emissor e
tinha como principal função, disciplinar a circulação monetária.
O BNU transformou-se em Banco de Moçambique (BdM) e o Instituto de Crédito de
Moçambique (ICM), em Banco Popular de Desenvolvimento (BPD), sendo que as restantes
duas deixaram de operar. Importa aqui ressalvar que apenas o Banco Standard & Totta de
Moçambique (BSTM) foi o único banco que não sofreu alguma intervenção (Coscione, 2008:
27).
A adopção de Estado de democracia popular e do modelo de estado socialista não
foi bem visto por alguns países vizinhos que eram contra este tipo de modelo de
desenvolvimento a seguir, o que levou África do sul e Rodesia (actual Zimbabwe), com o
apoio do bloco ocidental a perpetuarem a violência e ataques contra o país.
O período logo a seguir à independência foi um período de grandes turbulências,
caracterizado pela debandada em massa da população europeia, entre 1975 e 1976. Com a
saída de quadros bancários constatou-se uma tentativa de esvaziamento das reservas
internacionais do país. Esta situação acabou por desequilibrar a evolução económica e o
desenvolvimento do país, criando uma grave lacuna de falta de quadros (Abrahamsson e
Nilsson,1994).
A criação de um Estado baseado nos princípios socialista levou à criação de uma
economia planificada9. No sector financeiro foram tomadas medidas que centralizaram o
controlo das agências, bancos e foram intervencionadas as seguintes instituições: (i)
Instituto de Crédito Moçambique (ICM); (ii) Monte Pio de Moçambique (MPM); e o (iii)
Banco Pinto & Sotto Maior (BP-SM) (Coscione, 2008: 28).
Em 1977 foi criado em Moçambique o mercado de capitais. O mercado de capitais
foi criado nesse período, como uma Comissão Instaladora da Bolsa de Valores de
Moçambique (BVM).
No ano seguinte (1978), através do Plano Economico Central (PEC)10, o SF
moçambicano foi reestruturado tendo o Banco de Moçambique absorvido a maioria das

9 Como economia planificada entende-se como um sistema económico onde a produção é prévia e
racionalmente planeada por especialistas, no qual os meios de produção são propriedades do
Estado e a actividade económica é controlada pela autoridade central que estabelece metas de
produção e distribuição matérias-primas para as unidades de produção (Coscione, 2008: 27).
10 O PEC constituía como um instrumento de poder e de acesso aos recursos moçambicanos, e foi o

primeiro plano que procurou restruturar e programar a actividades do Estado, elaborando dentro
do plano, o controlo da direcção e gestão macroeconómica das empresas estatais.

25
instituições de crédito que existia, à excepção do BSTM e o Banco Popular (BP) que cessaram
as suas actividades. Posteriormente segundo Coscione (2008: 27), o SF passou a ser operado
por apenas 3 bancos, nomeadamente: o BdM, BPD e BSTM.
A segunda fase de reforma situou-se no período 1983-87. De acordo com
Abrahamsson e Nilsson (1994), em meados da década de 1980, o governo de Moçambique
compreendeu que a estratégia de desenvolvimento do país ora vigente de economia
centralmente planificada, contribui para o fraco desenvolvimento económico do sistema
financeiro.
Ademais, a desestabilização militar e económica que Moçambique sofreu nessa
altura, tinha anulado as condições de produção. Os credores internacionais não se sentiam
satisfeitos com as medidas económicas de Moçambique outrora vigente. Como condição
para o fornecimento de créditos, Moçambique tinha de ser membro das Instituições Bretton
Woods (IBW), nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial
(BM).
A 16 de Junho de 1980, o país trocou a sua moeda, de escudo para Metical, que
sofreu à desvalorização no final da década pela adesão do país, ao FMI e ao BM. Importa
aqui sublinhar que o Metical constitui “a unidade monetária nacional” e esteve sujeito a
uma única alteração, em 2005, com a entrada da “nova família do Metical (Coscione, 2008:
28).
Moçambique teria que definir, desenhar um programa de desenvolvimento que ia
de encontro com o FMI e BM. Foi nesse caso que em Moçambique foi implementado o
Programa de Reabilitação Económica (PRE). Ou seja, adoptou-se a economia de mercado,
introduzido em 1987 com a adopção do PRE, depois do país ter aderido, três anos antes, ao
FMI e ao BM (Abrahamsson e Nilsson,1994).
Os autores observam que, o governo de Moçambique compreendeu que a
estratégia de desenvolvimento do país, ora vigente, de economia, centralmente, planificada,
se encontrava num beco sem saída. Dito por outras palavras, nesta década iniciaram as
reformas económicas, em Moçambique, através da introdução de uma nova legislação que
permitiu a entrada de novos actores no país.
Esta entrada foi facilitada porque a produção nacional tinha-se tornado demasiado
baixa, devido à seca, guerra e à fraca capacidade do Estado em fazer uma planificação
adequada ao contexto de guerra. Estas medidas culminaram com a mudança da política, da
economia centralmente planificada para economia de mercado, onde introduziu-se
importantes medidas e reformas económicas, no quadro do PRE.

PROGRAMA DE REABILITAÇÃO ECONÓMICA-PRE

As políticas de liberalização financeira foram efectuadas na maior parte dos países


desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Estas políticas deram uma grande impulsão ao
processo de globalização financeira e favoreceram a criação de um mercado único do
dinheiro a nível planetário.
Os Programas de Ajustamento Estrutural (PAE) foram focados na privatização,
liberalização e desregulamentação, a fim de aumentar a eficiência económica e a
produtividade, bem como incentivar o sector privado no país a investir mas em vários
sectores.

26
Através de Programa de Ajustamento Estrutural Moçambique também deveria
integrar-se ao capitalismo global, onde o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é uma força
motriz do mercado global.
A partir dos anos 1986/87, assiste-se ao processo inverso, propiciado pelo chamado
Programa de Reabilitação Económica (PRE), decorrente da adesão de Moçambique às
instituições de BrettonWoods (IBW), transformando-se muitas empresas sob domínio
estatal em privadas.
O Sistema Financeiro (SF) em Moçambique, no princípio caracterizava-se por um
mercado de capitais incipiente, com um mercado interbancário limitado e com instrumentos
financeiros pouco diversificados, o que contribuía para o fraco crescimento económico.
A implementação do PRE deveu-se, principalmente, à necessidade da liberalização
da economia (Coscione, 2008: 29). No entanto, o PRE envolvia as seguintes reformas: (i)
Jurídico-Institucional-de modo a liberalizar e diversificar as actividades do sector; (ii)
Politicas Financeiras; (iii) Privatização dos Bancos estatais e, uma maior abertura no sector
financeiro (Abrahamsson e Nilsson, 1994).
O abandono da economia socialista para a adopção da economia de mercados, em
1987, e as crises bancárias no período de 2000 – 2001, trouxeram a necessidade de uma
adaptação rápida de modo a evitar o colapso do sistema financeiro moçambicano.
Portanto, o sistema financeiro em qualquer país, desempenha um papel crescente
nas nossas economias, condicionando os níveis de crescimento económico e de bem-estar
(Coscione, 2008: 29).

O SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO NO PERÍODO DEMOCRÁTICO E LIBERAL

Moçambique iniciou em princípios da década de 1990, com o programa de reforma


de vários órgãos, um processo de descentralização, parte integrante de um conjunto de
reformas políticas, económicas e administrativas em curso desde os anos 1980.
As reformas que iniciaram, em Moçambique, em 1990, permitiram o Estado
moçambicano receber apoio externo para poder ultrapassar a crise que o assolava. Tal como
refere Forquilha (2007), Moçambique iniciou com o programa de reforma dos órgãos locais,
um processo de descentralização, parte integrante de um conjunto de reformas políticas,
económicas e administrativas. Neste período foi possível também o Governo de
Moçambique e a RENAMO assinarem o Acordo Geral da Paz (AGP) em Roma, a 4 de Outubro
de 1992.
A assinatura do AGP permitiu a realização das primeiras eleições multipartidárias em
1994, ganhas pelo Partido FRELIMO e o seu candidato, Joaquim Chissano.
Em 1992 Moçambique publica a Lei n.º 1/92. Esta lei veio a separar estas funções,
colocando o Banco Comercial de Moçambique (BCM) a desempenhar apenas a função de
Banco Central, como regulador do Sistema Financeiro (SF) em Moçambique. Neste âmbito,
foi criado um novo banco comercial denominado, Banco Comercial de Moçambique, SARL
(BCM, SARL).
Neste mesmo período, o Banco de Moçambique (BdM) passou a exercer funções
exclusivas de banco central, deixando desta forma, as funções comerciais para um banco,
outrora denominado BCM.

27
O BdM foi também atribuído em exclusivo a obrigação de emissão de notas e moeda
divisionária, algo que anteriormente estava sob a égide do governo.Além de controlar a
inflação, o BdM busca também promover o crescimento do crédito ao sector privado e o
desenvolvimento dos mercados financeiros.
O BdM também recorre a ajustamentos da taxa de juro para ajudar a definir a meta
da base monetária e a comunicar a intenção da sua política monetária ao mercado; na
reunião mensal do Comité de Política Monetária (CPM), este decide sobre as eventuais
alterações das taxas da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez (FPCL) e da
Facilidade Permanente de Depósitos (FPD) após avaliar a conjuntura macroeconómica e as
perspetivas de inflação.
O Sistema Financeiro (SF) moçambicano é constituído por intermediários
financeiros11 e mercados financeiros12, os quais angariam fundos junto dos agentes
económicos excedentários13 e os canalizam para os agentes económicos deficitários14,
garantindo desta forma o bem-estar e a eficiência na alocação dos recursos (Abreu et al.,

11 Os intermediários financeiros podem influenciar o crescimento através dos seguintes canais: (i)
redução dos custos de aquisição e processamento de informação, e portanto, melhoramento da
alocação de recursos para as famílias; (ii) diversificação do risco, um facto que pode induzir os
aforradores a direccionar a sua carteira de investimentos para projectos com retornos esperados
elevados; (iii) fortalecimento do acompanhamento das operações das empresas, o que pode, por
um lado, reduzir os níveis de racionamento de crédito, e, por outro, facilitar o fluxo de recursos
dos aforradores para os investidores; (iv) mobilização de poupanças individuais com vista a
aprofundar o processo de crescimento económico, um facto que permite fazer melhor uso das
economias de escala; e no (v) uso da moeda como um meio mais eficaz no processo das trocas,
permitindo que os custos de transacção sejam reduzidos, promovendo dessa forma uma maior
especialização, inovação e crescimento económico (Mishkin, 2000, Devereux e Smith, 1994; e
Obstfeld, 1994).
12 O Mercado financeiro é, por definição, um ambiente de compra e venda de valores

Mobiliários (acções, opções, títulos), câmbio (moedas estrangeiras) e mercadorias (ouro, produtos
agrícolas). O mercado financeiro é uma estrutura de transações de compra e venda de valores
mobiliários, como ações e obrigações, moedas nacionais, mercadorias, a exemplo das
commodities, e outros bens e títulos. O mercado financeiro mais tradicional certamente é a bolsa a
de valores. Neste mercado nos podemos dividir o mercado financeiro em quatro grupos principais:
(i) Mercado de Crédito – neste mercado e onde a maioria das pessoas está acostumada a atuar.
Sempre que você utiliza um cartão de crédito, seu cheque especial ou faz um financiamento
(imobiliário ou veicular) com uma instituição financeira, você está atuando no mercado de crédito.
(ii) Mercado Aberto – Também conhecido como Mercado de Capitais, é onde estão as empresas
com capital aberto que oferecem a oportunidade de investimento em suas ações através de alguma
bolsa de valor. A bolsa de valor, por sua vez, é responsável por disponibilizar a oferta desses papéis
para o público em geral. (iii) Mercado de Câmbio – neste tipo de mercado é utilizado para troca de
moedas de países diferentes. Refere-se principalmente, o mercado Forex (Foreign Exchange)
(maior mercado financeiro do mundo e é destinado a negociações entre pares de moedas), porém,
também está vinculado ao mercado interno de cada país que troca sua moeda por dólar ou euro, os
principais pares negociados no mundo. (iv) Mercado Futuro-este mercado é muito utilizado para
negociação de commodities e uma das suas principais funções e proteger contra futuras flutuações
nos preços desses ativos. Muito utilizado por hedgers e especuladores (Assaf Neto, 2007).
13 Os aforradores ou agentes excedentários nas economias capitalistas os intermediários financeiros

desempenham um papel importante na afectação dos recursos permitindo um crescimento mais


rápido e menores flutuações da actividade económica.Normalmente as agentes deficitários as
unidades de produção e as excedentárias as famílias, é fácil perceber que desempenham um papel
importante na utilização eficiente de recursos pela aplicação e canalização da poupança que
efectuam. Estes agentes económicos cujo desejo de investir é inferior à sua capacidade de poupar e
que procuram uma adequada aplicação para os seus recursos excedentários.
14 Os investidores ou agentes deficitários - agentes económicos cujas intenções de investimento

superam a capacidade de geração de poupança e que são os principais promotores do investimento


produtivo.

28
2007); (Mishkin, 2000, Devereux e Smith, 1994; e Obstfeld, 1994) & (Assaf Neto, 2007). Os
serviços financeiros desempenham um papel indispensável no âmbito da dinamização das
actividades económicas (BM, 2007).
Em 1996, o BCM foi adquirido por um grupo de investidores estrangeiros liderados
pelo Grupo Mello, de Portugal. Em 1997 o BPD foi vendido a um Banco da Malásia e a
investidores moçambicanos, sendo que este alterou a sua designação para Banco Austral
(BA).
Nesse ano, surge também, o Banco Comercial de Investimento (BCI) sendo que os
accionistas eram maioritariamente o Grupo Caixa Geral de Depósito de Portugal. Entretanto,
no final dos anos de 1990, o BdM permitiu a entrada de capital privado, através da
privatização das participações maioritárias dos maiores bancos comerciais (Coscione, 2008:
29).
“Em 2003, o SF moçambicano deixou de ser dominado pelo Estado, passando para
um sistema baseado no mercado aberto, dominado por bancos privados que representavam
cerca de 95 por cento do total de activos do sistema financeiro do Pais”.
A grande contribuição dos bancos comerciais e de investimento no SF neste período,
foi impulsionada pela liberalização económica e financeira. Em 2007, o BdM, ao lançar uma
estratégia de bancarização da economia, pretendia reduzir e controlar melhor a inflação e a
estabilidade do SF moçambicano. Assim, o número de distritos cobertos por rede bancária
passou de 28, em Janeiro de 2007, para 51, em Fevereiro de 2010 (BM, 2007b).
Os bancos comercias, estimularam os investidores a direcionarem os seus capitais
para o SF. No final do ano 2000 uma crise bancária importante atingiu o sistema bancário
Moçambicano, sendo o BCM e a BA, considerados insolventes. As crises bancárias neste
período, trouxeram a necessidade de uma adaptação rápida de modo a evitar o colapso do
SF.
Para evitar uma insolvência completa e um impacto considerável sobre o SF
moçambicano o Governo de Moçambique (GdM) organizou uma operação de resgate (bail-
out)15 com um custo elevado. Esta operação trouxe algumas consequências para a inflação
nacional, e também sobre os passivos do Estado.
O SF moçambicano deixou de ser dominado pelo Estado, passando para um sistema
baseado no mercado aberto dominado por bancos privados que representavam cerca de 95
por cento do total de activos do sistema financeiro do país. A crise que se registou nos finais
desta década (2000), desvendou várias fragilidades no SF, tendo, entre outras
consequências, levado à insolvência de bancos.

15 O bail-outquanto o bail-in podem ser tratados pelo ponto de vista jurídico e econômico. No
presente trabalho iremos aborda-los mais pela visão econômica. No entanto quanto o bail-
outoubail-in são operações que podem ser realizadas em instituições financeiras e não financeiras,
ou seja, qualquer instituição independente do serviço que ofereça. Estes são também instrumentos
para salvaguardar uma instituição financeira, ou seja, para evitar que a instituição quando sofra
perdas passe por um processo que passaria qualquer outra instituição não financeira, deste modo,
o bailout e o bail-in apresentam-se como mecanismos de resolução. ZHOU, et. al. em um artigo do
International Monetary Fund(IMF) (2012: 3): “Large-scale government support of the financial
institutions deemed too big or too important to fail during the recent crisis has been costly and has
potentially increased moral hazard.”

29
O governo reinicia um processo de negociação com o (FMI) paralelamente com a
uma regularização da sua dívida externa. Tal plano continha linhas orientadoras para
solucionar os constantes problemas de défices orçamentais que o país apresentava, bem
como para solucionar outros problemas económicos do país, sobretudo, o elevado
endividamento externo.
Para a KPMG (2014:29), o sector bancário em Moçambique possui uma estrutura de
capitais, maioritariamente estrangeira, que representam 71,11 por cento dos capitais totais
do sector bancário, o que torna a banca moçambicana sensível ao risco sistémico que possa
advir.
A KPMG (2016:2), faz referência também da existência de cinco maiores bancos que
concentravam 83,03%, 82,67% e 86,21% dos activos totais, crédito e depósitos do sistema
bancário, respectivamente, o que de certa forma contribuiu para na estabilidade de todo o
SF moçambicano.
Em 2009, a rede de serviços financeiros foi alargada para 352 balcões contra os 228
existentes até 2006, e que durante o mesmo período entraram em funcionamento duas
novas instituições bancárias, 17 operadores de micro crédito, e 11 micro bancos,
maioritariamente nas zonas rurais, para além da dinâmica evidenciada pelo sector informal,
traduzida em 104 instituições (BM, 2009a).
A evolução do SF foi acompanhado por alguma robustez do próprio sistema, se
tomarmos em consideração que o crédito “mal-parado” reduziu de 3.1 em 2006 para 2.4 em
2011, bem como se tomarmos em consideração que o rácio de solvabilidade transitou de 13
por cento em 2006 para 18 por cento em 2011, o que é recomendável internacionalmente.
A introdução de medidas de política monetária expansiva em 2011, nomeadamente
a redução das taxas de referência, não teve credibilidade entre os bancos comerciais, que
optaram por ser cautelosos, porque as condições estruturais que haviam levado o banco
central a adoptar medidas monetárias restritivas não haviam sido alteradas e porque as
expectativas de incremento de IDE e do potencial de inflação e volatilidade, associados a
fortes influxos de capitais em condições de porosidade, se mantinham.
Apesar do SF moçambicano ser considerado robusto e resiliente, o país não esteve
alheio a estas preocupações e obrigações de cariz internacional referentes à adoção de
medidas de resolução bancária.
Nesse mesmo período, foi recomendado ao BdM, na qualidade de banco central
com competências de regulamentação e supervisão do sistema financeiro, a inclusão das
referidas medidas, no âmbito do programa da assistência técnica, do Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Assim, o SF em Moçambique passou a estar dividido pelas seguintes classes de
instituições: (i) instituições de crédito16, (ii) sociedades financeiras17 e, por último, (iii)

16Por exemplo, fazem parte nas instituições de créditos, os bancos e as sociedades de locação
financeira.
17 Nas Sociedades Financeiras fazem parte as empresas que não sejam instituições de crédito e cuja

actividade principal consista em exercer uma ou mais actividades de cariz financeiro, como, por
exemplo, operações de crédito, operações de pagamentos, emissão e gestão de meios de pagamento,
transacções sobre instrumentos do mercado monetário, financeiro e cambial. As Sociedades
Financeiras: compreende o conjunto de entidades que não sejam instituições de crédito e cuja
actividade principal consiste na participação em emissões e colocações de valores mobiliários; gestão

30
entidades supervisoras.18 Por outras palavras, o sistema bancário moçambicano é composto
por duas categorias de instituições: primeiro, pelas instituições de crédito, e segundo pelas
sociedades financeiras. Os bancos são fundamentais na intermediação financeira, isto é,
recolhem a poupança de quem possui recursos excedentários e disponibilizam os mesmos a
quem deles necessita.

SISTEMA FINANCEIRO DEPOIS DA CRIAÇÃO DA BOLSA DE VALORES EM MOÇAMBIQUE –


BVM

A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM)19 é uma instituição criada pelo Decreto nº


49/98, de 22 de Setembro, cujo objecto consiste na organização, gestão e manutenção de
um mercado central de valores mobiliários, cabendo a ela manter os meios e sistemas
apropriados para o funcionamento de um mercado livre para a transação dos valores
mobiliários cotados (BV, 2021)20.
A BVM é regulada pelo Código do Mercado de Valores Mobiliários (MVM),
aprovado, pelo Decreto nº 45/07, de 30 de Outubro, e pelo Decreto-lei n.º 4/2009, de 24 de
Julho, bem como, pelo Regulamento Interno da Bolsa de Valores de Moçambique (RIBVM). A
sobrevivência econômica das empresas e das pessoas passou a depender do mercado
financeiro.
A BVM tem por objectivo promover a captação, mobilização e alocação dos recursos
financeiros, de forma eficiente, eficaz e transparente, para satisfazer as necessidades de
financiamento dos agentes económicos, promovendo o desenvolvimento sustentável da
economia. Podemos definir a Bolsa de Valores (BV) como sendo um mercado organizado
onde se negoceiam valores mobiliários tais como acções, obrigações, títulos de participação
entre outros.
O processo da emissão ou criação de valores mobiliários pelas empresas e/ou outras
entidades, constitui, para estas, uma forma alternativa de financiamento, com custo mais
baixo, em relação ao financiamento via crédito bancário. Por sua vez, a compra dos valores
mobiliários pelos agentes económicos (pessoas singulares ou colectivas), constitui uma das

de fundos de investimento; actuação nos mercados interbancários.De acordo com o artigo 5, da Lei nº
15/99, de 01 de Novembro, as sociedades financeiras podem ser: as Sociedades Financeiras de
Corretagem; as Sociedades Corretoras; as Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento; as
Sociedades Gestoras de Património; as Sociedades de Capital de Risco; Sociedades Administradoras de
Compras em Grupo; e as Casas de Câmbio.
18 O Banco de Moçambique (BdM) e o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique são as

entidades supervisoras do sistema financeiro moçambicano.


19Tendo sido, aprovado pelo Conselho de Ministros, os Decretos n.º 48/98 e 49/98, ambos de 22 de

setembro, nomeadamente, o Regulamento do Mercado de Valores Mobiliários e a Criação da Bolsa


de Valores de Moçambique e constituição do seu Regulamento. A Bolsa de Valores é uma pessoa
colectiva de direito público, com a natureza de instituto público, dotada de autonomia
administrativa, financeira e patrimonial. Cabe a Bolsa de Valores a criação e manutenção de local e
sistemas dotados de meios necessários ao funcionamento de um mercado livre e aberto para a
realização de compra e venda de valores mobiliários. A Bolsa assegura também os serviços de
registo, compensação, liquidação e divulgação de informação suficiente e oportuna sobre as
operações realizadas (BV, 2021).
20 Bolsa de Valores de Moçambique disponível em http://www.bvm.co.mz/index.php/pt/bolsa-de-

valores/historico-da-bvm consultado no dia 22 de Abril de 2021.

31
alternativas aos investimentos em depósitos bancários e a outros meios de aplicação de
poupanças existentes.
Na BVM, estão cotados os seguintes valores mobiliários: (i) Acções21; (ii)
Obrigações22; e o (iii) Papel Comercial. As acções da BVM são valores mobiliários que
representam o capital social, ou seja, a propriedade de uma empresa, onde a acção confere
ao seu detentor a propriedade da correspondente parcela da empresa, seus lucros, mas
também prejuízos.
As Obrigações são valores mobiliários representativos de empréstimo de médio e
longo prazo emitidos por empresas ou pelo Estado, para financiar as suas despesas, num
dado período de tempo. Possuir obrigações de uma empresa ou de outra entidade, significa
ser credor da emitente, tendo por isso direito ao recebimento periódico de juros, e ao
reembolso do capital, no final do prazo do empréstimo.
E importante ressalvar que, para realizar uma compra ou venda de valores
mobiliários, os investidores têm de se dirigir aos operadores da bolsa, que são os bancos
autorizados23 a realizar estas operações em bolsa. Estes bancos são eles que devem dar as
instruções de compra ou venda, indicando a quantidade de valores mobiliário que desejam
comprar e/ou vender aos preços a que queiram comprar ou vender (BV:2021).
A partir do final de 2015 registou-se a subida de preços de vários produtos causada
pelas dívidas ocultas. Para conter a inflação, o Banco de Moçambique (BdM) fez uso de um
dos instrumentos mais comuns que são as taxas de juros. Esse indicador foi mantido em
7,5% até Outubro do mesmo ano. A 10 de Abril de 2017, o BdM decidiu reduzir a taxa de
juros para 22,75%, conforme o gráfico abaixo.

21 As acções de uma empresa podem ser: (i) uma fonte de lucros para os seus detentores; (ii) uma
forma de poupança; (iii) compradas ou vendidas no mercado, gerando lucros como resultado
dessas transacções; e são (iv) usadas pelos seus detentores como garantia face aos empréstimos
bancários (BV:2021).
22 As obrigações podem ser benéficas nos seguintes moldes: Ela (i) representa uma fonte segura de

rendimento; (ii) permite um planeamento financeiro mais preciso, com vista ao alcance de
objectivos predeterminados, pois os juros são pré-estabelecidos; (iii) constitui uma fonte de
poupança para usar futuro; e (iv) pode ser facilmente compradas ou vendidas no mercado
(BV:2021).
23 As únicas entidades autorizadas a negociar directamente na BVM são: African Banking

Corporation (ABC); Banco Único (BU); Banco Comercial e de Investimento (BCI); Banco Nacional
de Investimento (BNI); Cooperativa de Poupança e Crédito (CPC); Banco de Investimento Global
(BIG); Mozabanco; Barclays Bank Moçambique; Millennium BIM e o Standard Bank de
Moçambique.

32
Grafico 1 – Taxa de Juros (%)

O gráfico mostra variação com tendência ascendente da taxa de juro no período de


2015 a 2017. A moeda moçambicana começou a se desvalorizar de forma acentuada neste
período em alusão. Neste intervalo, o valor oficial necessário, em meticais, para se comprar
um Dólar dos EUA, dobrou de 39,1 para 78,6. No entanto, desde os finais de 2016, o Metical
voltou a recuperar, perante ao Dólar dos EUA, conforme é possível notar no gráfico abaixo
numero II.

Gráfico 2 – Câmbio (MTZ/1USD)

Por outro lado, o país foi ou é alvo de grandes expectativas de crescimento, por
causa do enorme potencial do sector do gás natural.24 Contudo, a Agência de notação
financeira Standard & Poor´s (S&P) (2021), prespectivou que Moçambique deveria crescer
2,5% em 2020 depois de ter caido 1,5%.

24 Mercados & Estratégia disponível em http://www.mercadoseestrategias.com/news/a-situacao-


atual-da-economia-de-mocambique/ consultado no dia 17 de Maio de 2021.

33
Esta agência alertou também que em 2021, o país poderá continuar a enfrentar
muitos desafios no seguimento da contração económica, ligados à pandemia de Covid-19 e
ao baixo desempenho do sector mineiro25.

ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO

A estrutura do Sistema Financeiro (SF) moçambicano compõe-se de órgãos de


regulação e fiscalização, encarregados de traçar diretrizes e aplicar as normas vigentes, e de
instituições de operação e de intermediação, que executam os serviços que o sistema
oferece.
A entidade supervisora do mercado de valores mobiliários é o Banco de
Moçambique (BdM) a quem cabe, diversas atribuições, previstas no artigo 4 do Decreto nº
48/98 de 22 de Setembro, para além das matérias que lhe sejam atribuídas por Lei.
O Governo de Moçambique (GdM), através do Ministério do Plano e Finanças (MPF),
criou a “Comissão Instaladora da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM)”, a qual teria por
missão promover a organização do mercado de capitais em Moçambique.
A criação das estruturas institucionais de ordem jurídica pretendia dar corpo ao
funcionamento de um mercado secundário organizado de valores mobiliários (BV, 2017).
É importante salientar que, no decurso das suas actividades, a BVM cumpre e faz
cumprir a legislação, regulamentação em vigor, a qual consagra todo o leque de mecanismos
que têm por objectivo o estabelecimento de meios efectivos de protecção do investidor.
No segmento das micro-finanças, encontram-se registadas 11 organizações de
poupança e empréstimo, 202 operadores de microcrédito e uma instituição de moeda
electrónica (Gove, 2013).
Em termos de estrutura de capital, a maior parte dos bancos é detida por
investidores estrangeiros, principalmente os grandes bancos. Em Dezembro de 2012, os
capitais estrangeiros, nos bancos, representavam 71,11 por cento dos capitais totais do
sector bancário, sendo o remanescente proveniente de investidores nacionais.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) (2015), o número de agências
bancárias passou de 228 em 2005 para 529 em 2014. Embora esta evolução tenha sido
acompanhada por um grande esforço do BdM para promover o crescimento do crédito ao
sector privado, as taxas de juro do crédito bancário continuam a ser proibitivas para as
Pequenas e Médias Empresas (PME) e a resposta da banca comercial aos ajustes da taxa
diretora por parte da autoridade monetária é lenta.
Actualmente, o mercado financeiro em Moçambique conta com cerca de 16 Bancos
comerciais, nomeadamente: Banco Internacional de Moçambique, SA, Banco Comercial e de
Investimentos, SA; Standard Bank, SA; Moza Banco, SA; Barclays Bank Moçambique, SA;
Banco Único, SA; African Banking Corporation (Moçambique), SA; Banco Nacional de
Investimento, SA; FNB Moçambique, SA; Banco Terra, SA; Ecobank, SA; Capital Bank, SA;

25 Jornal Noticia de 7 de Maio de 2021.

34
Societe Generale Moçambique; Banco Oportunidade de Moçambique, SA; Socremo Banco
de Microfinanças, SA; Letshego, S.A; Banco Mais, AMB (2021).26
Constituem órgãos da Bolsa, o Conselho de Administração27 e o Conselho Fiscal28. A
nível do mercado da Bolsa, para além das “sociedades corretoras” e das “sociedades
financeiras de corretagem” a actividade de intermediação financeira, ao abrigo da Lei 15/99
de 01 de Novembro, regula o estabelecimento e o exercício da actividade das Instituições de
Crédito e das Sociedades Financeiras, pode ser desenvolvida pelas instituições de crédito.
Somente os intermediários financeiros é que se constituem como operadores de bolsa. Estes
é que podem negociar, directamente, na Bolsa de Valores (BV).
O regime de supervisão das instituições de crédito e sociedades financeiras, damos
nota de que as funções regulatórias estão, essencialmente, concentradas no BdM. Assim, o
Governador BdM cabe conceder a autorização para a constituição de uma instituição de
crédito ou sociedade financeira em Moçambique, ficando as mesmas sob a sua alçada
regulatória a partir de então.
As instituições financeiras existentes no país, é da responsabilidade do BdM a
supervisão das mesmas, bem como zelar pela solvabilidade e liquidez, e o exercício da
emissão de notas e moedas metálicas passou a ser da exclusividade do próprio Banco
Central.
O Banco Central de Moçambique (BCM), ao determinar a Política Monetária
introduz um quadro operacional que actua de forma directa sobre as variáveis que estão sob
o seu controle, aprofundando, desta forma, o mecanismo de transmissão da Política
Monetária e, por essa via garantir a estabilidade dos preços na economia.
O funcionamento das economias modernas requer sempre maiores investimentos e
por isso as empresas precisam de capitais que as poupanças das famílias fornecem através
dos mercados financeiros.
Não obstante os avanços expressivos no SF moçambicano, a elevada exclusão acima
referida e as diversas limitações do sistema existente, desaconselham qualquer triunfalismo
ou vaidade da parte dos seus protagonistas.

IMPORTÂNCIA DO SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO PARA O DESENVOLVIMENTO

A importância da intermediação financeira para o financiamento do crescimento


econômico através da oferta de crédito produtivo já era abordada no início do século XX por
autores como Schumpeter (1912) e Keynes (1937) (Scatolin et al, 2001).
O desenvolvimento do Sistema Financeiro (SF) tem sido considerado um
instrumento relevante para o processo de desenvolvimento econômico dado seu papel de

26 Associação Moçambicana de Bancos, disponível em http://www.amb.co.mz/index.php/sistema-


financeiro/instituicoes-financeiras consultado no dia 22 de Abril de 2021.
27 Este órgão e constituído no mínimo por 3 membros e no máximo por 5 membros nomeados pelo

Ministro das Finanças, sendo que um deles proposto, embora com carácter não vinculativo, pelos
Operadores de bolsa.
28 Que esta composto por 3 membros, nomeados por despacho do Ministro das Finanças, dos quais

um o preside.

35
intermediador financeiro e alocador de recursos escassos. O crescimento económico
correlaciona-se de forma forte com o desenvolvimento financeiro.
A poupança e investimento são factores essenciais para o crescimento e,
consequentemente, para o desenvolvimento económico, porém não suficientes, uma vez
que os investimentos devem ser produtivos, ou seja, devem ser bem direcionados a
questões específicas, como o aumento do emprego, inovações tecnológicas e melhora da
infraestrutura.
Os SF são constituídos por intermediários financeiros cuja principal função é mover
os recursos dos agentes superavitários para os agentes tomadores de empréstimos. O
mercado bancário é, sem dúvida, um dos principais pilares para o desenvolvimento dos SF
de qualquer país.
Os bancos como intermediários têm uma obrigação fundamental de proteger os
fundos dos depositantes. Eles devem, por isso, gerir os riscos com cautela e evitar a
exposição desnecessária a possíveis prejuízos, ao mesmo tempo que procuram um retorno
atractivo para os accionistas.
As instituições financeiras mobilizam poupanças, diversificam o risco, produzem
informação sobre oportunidades de investimento com objectivo de ajudar a melhorar a
produtividade de investimentos financiados, o que deverá resultar em taxas de crescimento
maiores em que os retornos sobre entradas acumuláveis são irreduzíveis num nível
agregado.
O SF joga um papel multidimensional no processo de desenvolvimento económico
em Moçambique. Este sistema permite ainda a interacção dos agentes económicos na
actividade económica, onde envolve custos de informação ou de transacção resultados das
imperfeições dos mercados, os quais devem ser minimizados.
O SF “estabelece uma separação entre a actividade seguradora e as demais
actividades financeiras, sempre reconhecendo que o direito dos seguros deve continuar a
ser objecto de um tratamento dogmático automatizado” (Ghiurco, Sd:241).
O SF segundo Abreu et al (2012:3), é composto por 5 elementos principais que
desempenham um papel fundamental na nossa economia: (i) a moeda; (ii) os instrumentos
financeiros;29 (iii) os mercados financeiros30; (iv) as instituições financeiras31, e as; (v)
autoridades de supervisão32 (bancos centrais, seguradoras e sociedades financeiras, são
exemplo de instituições financeira).
Por sua vez, Matos (2002) sistematiza quatro visões teóricas acerca da relação de
causalidade entre desenvolvimento financeiro e crescimento económico que são: (i)

29 Os instrumentos financeiros servem para canalizar recursos dos agentes que tem recursos
disponíveis (com poupança) para aquele que necessitam de recursos para investir. Estes servem
ainda para transferir o risco para os agentes com melhores capacidades para o gerir. Obrigações,
acções e apólices seguros são exemplo de instrumentos financeiros.
30 Estes permitem a compra e venda dos instrumentos financeiros de forma rápida e com baixo custo,

o que os torna interessantes para os agentes económicos.


31 As instituições financeiras fornecem um leque variado de serviços, incluindo acesso aos mercados e

disponibilização de informação sobre a qualidade dos devedores.


32 As autoridades de supervisão, em particular os bancos centrais, tem um papel determinante na

monitorização e estabilização do sistema.

36
ausência de correlação33; (ii) determinação conjunta34; (iii) o crescimento económico
influencia o desenvolvimento do sistema financeiro35; e (iv) o desenvolvimento financeiro
influencia o crescimento económico36. O desenvolvimento do SF constitui fator necessário
ao crescimento econômico ao realocar recursos escassos através da oferta de crédito e de
outros serviços financeiros.
Segundo o BM (2007), o SF tem também o dever de colaborar para o incremento do
nível de monetarização da economia do País e para o asseguramento das necessidades da
evolução do tecido produtivo, quer por meio de financiamento directo às actividades, quer
por meio da promoção do acto de captar poupanças e actividades de comércio cambial. Este
sistema procura identificar cada um destes elementos e o respectivo papel, para melhor
compreender as funções que desempenham as economias.
A existência de um SF inclusivo, forte e com estabilidade faz parte de uma meta.
Esta meta, faz-se sempre presente na agenda do banco central moçambicano. O SF deve ser
visto enquanto um pilar do desenvolvimento económico das sociedades em razão da sua
importância, composição e fundos que possui a sua guarda.
O SF moçambicano antes da crise (2000-2001) era considerado robusto e
apresentava níveis de solidez acima da média, considerando os indicadores de crédito
malparado e o rácio de solvabilidade.
O SF moçambicano estava com menos de 2 bilhões de dólares norte-americanos em
activos totais, transitou de um sistema totalmente controlado pelo Estado para um sistema
de mercado baseado e dominado por Bancos Privados que representa 95 por cento do total
de activos do SF no país.
A importância do SF no crescimento económico não reside apenas na necessidade
de aumentar a quantidade do investimento, ela reside também na qualidade do mesmo. O
uso da moeda como um meio mais eficaz no processo das trocas, permite que os custos de
transacção sejam reduzidos, promovendo dessa forma uma maior especialização, inovação e
crescimento económico.
A economia moçambicana, nos últimos anos, vinha apresentando elevadas taxas de
crescimento, resultado do estabelecimento de um clima de paz, e da eficácia no
cumprimento da estabilização económica definida pelas autoridades locais com o apoio do
FMI. Todos SF são caracterizados pela presença de dinheiro do exterior e um banco central
que gere a quantidade de dinheiro que influencia no custo do crédito.

33 Este posicionamento defende que os mercados financeiros são completamente independentes do


resto da economia e, desta forma, o fato de as empresas procurarem formas e fontes de
financiamento não é relevante (Matos, 2002).
34 O crescimento da economia possibilitaria diluir os custos fixos resultantes dos esforços para atrair

e manter poupadores e investidores, aumentando, desta forma, a eficiência do sistema financeiro


que, a partir daí, atrairia um número maior de agentes superavitários (Matos, 2002).
35 O crescimento da actividade do sistema financeiro é pura consequência do crescimento da

economia, visto que a oferta de produtos financeiros é decorrência de uma adequação à demanda
que se eleva como consequência de uma elevação do produto agregado (Matos, 2002).
36 O sistema financeiro, ao cumprir sua função de alocador de recursos escassos aumentando a

eficiência do uso dos fatores, ou ao oferecer novas formas de financiamento e novos recursos
financeiros, estimula a produção de novos bens ou serviços e a formação de negócios
economicamente viáveis (Matos, 2002).

37
Nos anos recentes, a importância do SF para o desenvolvimento económico e social
vem ganhando espaço no sentido da ampliação do acesso aos mesmos, o que pode provocar
o impacto positivo na economia moçambicana. Em Moçambique, o Ministério que
superintende a área do plano e finanças, possui competências de superintendência do
mercado monetário, financeiro e cambial.37
Portanto, caberá ao referido Ministério enquanto autoridade financeira do país a
coordenação na preparação de legislação específica para a deliberação do Governo e
submissão à Assembleia da República, caso se registe alguma perturbação no mercado
financeiro moçambicano.
A estratégia de inclusão financeira de Moçambique é enquadrada pela Estratégia de
Desenvolvimento do Sector Financeiro (EDSF) (2013 – 2022), que prevê a melhoria do acesso
aos serviços financeiros e o apoio ao crescimento inclusivo e incumbe o BdM de elaborar
uma Estratégia Nacional para a Inclusão Financeira (ENIF).
O desenvolvimento de políticas apropriadas para a inclusão financeira inclui a
melhoria da formação financeira, a proteção dos consumidores financeiros, o
desenvolvimento dos sectores de micro finanças, poupanças e micro pagamentos e a
promoção da concorrência entre prestadores de serviços financeiros com impacto na
expansão dos serviços financeiros para as zonas rurais.
Em suma, a regulação de matérias ligadas à supervisão, quer das instituições de
crédito e sociedades financeiras, bem como, do mercado de valores mobiliários, quer das
empresas de seguro e fundo de pensões, compete às autoridades de supervisão, nesse caso
o BdM e ao Instituto de Supervisão de Seguro de Moçambique (ISSM).
Em Moçambiqueos serviços financeiros desempenham um papel de carácter
indispensável no âmbito da dinamização da actividade económica. O SF tem também o
dever de colaborar para o incremento do nível de monetarização da economia de
Moçambique e para o asseguramento das necessidades da evolução do tecido produtivo,
quer por meio de financiamento directo às actividades desempenhadas pelos sectores
produtivos, de comercialização para aquilo que é o consumo (BdM, 2007).
Apesar de crises financeiras recentes demonstrarem que é necessária uma atenção
especial a questão da regulamentação dos mercados que ainda é mal planejada, o SF
mundial passou por significativas inovações nas últimas décadas, possibilitando o
crescimento de empresas, patrimônios pessoais e dos países. Estudos apontam que os
países com SF desenvolvido, especialmente o mercado de capitais, foram os que mais
cresceram ultimamente.
O dinamismo do SF moçambicano tem-se conotado ao longo do tempo cada vez
mais evoluído para a económica. O contributo para o desenvolvimento sustentável é
inquestionável. A existência de um SF inclusivo, forte e com estabilidade faz parte de uma
meta que se faz sempre presente na agenda do banco central moçambicano (BdM, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

37 TheWorldBank (2018). Actualidade Económica de Moçambique: Redução na Pobreza, mas


Aumento da desigualdade.

38
Com o presente artigo é possível observar que, o sistema financeiro em
Moçambique teve algumas fases de crescimento e fases em que decresceu, devido à
diversos factores. O desenvolvimento do sistema financeiro (SF) em Moçambique foi
acompanhado pela evolução das tecnologias de informação e comunicação.
Ao longo dos anos, com as transformações político-económicas que sucederam até
os princípios dos anos de 1990, culminando com o chamado processo da tomada da Banca,
o BdM vem mostrando uma boa performance nos indicadores macroeconómicos.
Com a globalização dos mercados e crescimento dos fluxos de capitais, houve o
aprimoramento de todo o SF, proporcionando alocações mais eficientes, por meio de uma
melhor estruturação das formas de transação, com mais segurança e transparência. É
interessante observar ao longo do artigo que o desenvolvimento tecnológico e do SF se
estimulam reciprocamente.
Este desenvolvimento acontecesse geralmente quando o mercado, com as suas
políticas transparentes, facilita a passagem de recursos de um agente para o outro,
promovendo deste modo, o investimento na economia, o que possibilita o aumento dos
níveis de poupança dentro dos bancos. Assim, os bancos tornam-se alvos de procura,
tornando-se também num dos principais motores do desenvolvimento económico em
Moçambique.
No sector bancário observou-se um expressivo crescimento nos últimos anos, com
as reformas estruturais implementadas pelo Governo de Moçambique. Assistiu-se ainda um
aumento da competitividade do sector bancário, com o surgimento de várias agências
bancárias que se traduziu numa redução da quota de mercado dos principais bancos,
associada ao dinamismo dos bancos mais pequenos.
É possível notar que o SF moçambicano está estruturado nas vertentes do Banco
Central, que ao mesmo tempo estão representados pelo Banco de Moçambique (BM), o
sector bancário e o sector da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM). O SF moçambicano
com a liberalização política, económica e com o fim do conflito armado, começou a dar os
primeiros passos para a sua modernização e expansão em todo território nacional.
A importância do desenvolvimento do sistema financeiro para o crescimento
económico tem ganhado espaço na discussão económica actualmente. Isto porque um
sistema bancário sólido é vital para a economia, como um todo, uma vez que os agentes
económicos dependem dos bancos para facilitarem as transações, protegerem os saldos de
tesouraria e financiarem as operações. Sendo assim, a preocupação de manter a
estabilidade económica no SF é cada vez maior por parte do Governo Moçambicano.
Para além da gestão prudente e de uma governação corporativa sólida, podemos
concluir que para a existência de um sistema bancário sólido também é necessário que haja
uma supervisão efectiva para evitar a instabilidade económica. A evolução da situação
económica de Moçambique passou a estar intimamente ligada à evolução da situação
política, económica e social do país. Portanto, o crescimento económico é que estimula o SF
a oferecer novos produtos. O desenvolvimento do SF afecta directamente o crescimento
econômico.
No entanto, pode-se concluir que o Estado viu-se sempre obrigado a tomar um
conjunto de medidas de reorganização de modo a evitar o colapso total da economia
moçambicana. Moçambique poderia beneficiar da adopção de uma estratégia de

39
desenvolvimento com políticas públicas eficientes, ao mesmo tempo que alongasse seus
horizontes, incluindo-se aí a definição de um plano de médio prazo para as contas públicas.
O mercado financeiro moçambicano tem vindo a desenvolver-se nos últimos anos,
desenvolvimento esse, promovido em parte, pela possibilidade de oferta de novos produtos,
pela criação de organismos reguladores eficazes, pela entrada de bancos internacionais,
bem como pelo aumento do índice de bancarização da economia.
As medidas adoptadas até então pelo Governo de Moçambique têm sido com base
nas recomendações dos sistemas internacionais o que contribuiu para a sua expansão e para
o desenvolvimento do mesmo. Em suma, a discussão sobre o tema não está esgotada.

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43
PRESENTE E FUTURO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE
Jossias Filipe1

RESUMO

O presente artigo é uma pequena reflexão sobre o estágio e os caminhos a seguir para o
desenvolvimento inclusivo de Moçambique, numa altura em que extremece a perspectiva da
exploração dos recursos naturais que parecia capitalizar a esperança dos moçambicanos em saír da
extrema pobreza em que se encontra a grande maioria. A pandemia que devasta o mundo desde 2020 e
o terrorismo que se estabeleceu em Cabo Delgado, desde 2017, ensombraram as espectativas de
muitos, obrigando a que uma reflexão seja feita. Desejando dar um pequeno contributo nessa reflexão,
apresentam-se, aqui, algumas ideias do que poderia e deveria ser feito para contornar a situação e
impulsionar o desenvolvimento da economia nacional.

Palavras-Chave: Economia, Desenvolvimento, Pobreza, Moçambique, Informação estratégica

1 Graduado em História pela Universidade Eduardo Mondlane e Mestre em Estudos Africanos pela
Universidade do Porto; Investigador do Departamento de Economia e Estudo de Desenvolvimento
do Centro de Estudo Estratégico Internacional – CEEI/UJ.

44
INTRODUÇÃO

A economia de Moçambique parece, no presente, condicionada a girar à volta dos mega-


projectos de exploração dos recursos naturais. As espectativas são enormes e isso desvia a
atenção de muitos que deviam estar focados em outras áreas de actividades. Olhando e
analisando a dinámica do presente, somos forçados a considerar que a existência de grandes
quantidades de recursos minerais, a necessidade de dinamizar a agricultura e o
agroprocessamento, as potencialidades da economia do mar e o turismo, exigem de todos
uma mudança de mentalidades e uma nova maneira de ver e perceber os processos de
crescimento e desenvolvimento económicos.
Considerando, ainda, que Moçambique não tem, claramente, definido o tipo de
economia que se desenvolve ou se defende, mas convivem, no país, de forma ambígua e
desordenada, todos os conceitos de economia conhecidos, numa suposta liberdade de
coexistência entre a propriedade privada e a propriedade colectiva, importante seria
permitir e fomentar para que todos pudessem fazer melhor o que sabem e querem fazer,
uma vez que se defende a liberdade da propriedade privada, mas exige-se, ao governo, o
proporcionar de oportunidades para todos e a inclusão de todos nos benefícios e
oprtunidades, numa espécie de distribuição comunista dos rendimentos. Nesta ambiguidade
existencial, o presente texto pretende sugerir a produção de diagnósticos e análises da
evolução económica do país como uma exigência que se impõe e de que depende o futuro.

SITUAÇÃO ECONÓMICA NO PRESENTE

Depois dos Ciclones Idai e Keneth, que atingiram o centro e norte do país, em Março e Abril,
seguidos por uma seca severa noutras partes do país, o crescimento económico abrandou
para cerca de 1%, em 20192. Em 2020, o país foi assolado pela pandemia da COVID19 que
paralisou, literalmente, toda a actividade económica, agravando o estado da pobreza das
pessoas e regredindo para níveis assustadores, a economia nacional. Num relatório que
Perspectiva a situação Económica de África, para 2021, o Banco Africano de
Desenvolvimento (BAD) estima que a contracção da economia de Moçambique em 2020,
tenha levado mais 850 mil pessoas para baixo do limiar da pobreza, aumentando para
63,7%3 da população nessa condição.
Vive-se uma situação em que, a pobreza, a fome e as doenças afectam
Moçambique, em simultâneo, exigindo uma conjugação de medidas para a sua erradicação,
no inverso de causa e efeito. A pobreza e a fome, sendo flagelos analisáveis usando critérios
e parámetros diferentes, para lugares e circunstâncias diferentes, podem não corresponder
ao binómio causa e efeito. Mas, na análise mais simples, a fome tem sido consequência da
pobreza e onde há fome, as doenças, também, lá estão. Combater as doenças, passa por
eliminar a fome, numa operação que pode resultar na redução da pobreza. Mas reduzir ou

2 In: https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-deve-registar-crescimento-
econ%C3%B3mico-a-partir-deste-ano/a-52150178
3 In: https://www.rtp.pt/noticias/economia/recessao-em-mocambique-coloca-637-da-populacao-

na-pobreza_n1304575

45
eliminar a fome não significa eliminação automática da pobreza e das doenças. Nestas
matérias, tem se observado que, os pobres pensam de uma maneira e os ricos, de outra. O
que isso sugere é que estudos e diagnósticos devem ser feitos de modo a que medidas e
decisões racionais, devam ser tomadas e acções realizadas para reduzir a pobreza e
estimular o desenvolvimento económico do país. É o trabalho que deve solucionar grande
parte dos males do presente. Para começar, é preciso tomar-se em conta o que existe num
determinado lugar, avaliar o seu potencial, nas diferentes vertentes, projectar diferentes
cenários e considerar o mais racional de entre eles. As políticas públicas, em toda a sua
largura, devem ser pensadas e implementadas como contributo para a diminuição das
desigualdades que, já parecem, elas próprias, uma política pública.
Trabalho na agricultura, trabalho na educação, trabalho na saúde, trabalho na
indústria, trabalho no turismo, trabalho na pesca e, trabalho em tanto outros sectores é a
chave que deve ser considerada para a solução dos diversos problemas que apoquentam as
pessoas. Quer dizer, em qualquer sector de actividade, ou em qualquer área de serviços, o
que deve acontecer é trabalho para todas as pessoas.
Há muito trabalho por ser feito, mas é importante dizer que é necessário motivar a
realização desse trabalho e dignificar quem o realiza. Por outras palavras, deve ser possível
demonstrar o valor real da realização de cada trabalho, através da renda que esse trabalho
deve proporcionar para quem o realiza.
As pessoas e as empresas esperam ser pagas pelo trabalho que fazem e estas devem
fazer aquele trabalho que, pela qualidade, mereça ser pago. Contratar um trabalho e não
pagar por ele, como aconteceu durante mais de dez anos4, sem razão aparente, não
dignifica, não valoriza e é algo que tem nome que não honra. No contexto e no âmbito da
abordagem que aqui se faz, racional seria que, o Estado, ao contratar serviços de uma
determinada empresa, não perdesse de vista que, através daquela empresa, está a
contribuir para a solução dos problemas de uma quantidade de pessoas que aquela empresa
vai precisar para a realização do trabalho que, tal contrato exige. Como sabido, é do trabalho
que se tem o produto que se demanda para o consumo e é da produção que as empresas
apresentam as quantidades de produtos que satisfaçam a demanda.
O crescimento e o desenvolvimento que se pretende, exigem muito trabalho. Este,
por sua vez, exige a redução drástica da burocracia e da corrupção que afecta e trava a
realização dos negócios, em Moçambique.
A construção das obras públicas, das infra-estruturas e os investimentos privados,
são a grande fonte do trabalho que deve ser feito e que proporciona crescimento e
desenvolvimento. Construir estradas, escolas, hospitais, edifícios de serviços e de habitação

4Quatro mil empresas credoras do Estado pelo fornecimento de bens e serviços de 2007 a 2017, vão
receber os montantes em atraso. A disposição para saldar estas dívidas fora já manifestada pelo
ministro da Economia e Finanças, num recente encontro com jornalistas em Maputo, durante o
qual explicou que, em 2017, o Governo tinha tomado a decisão de “reforçar a relação com os
agentes económicos, pagando o que lhes era devido para animar as empresas de modo a
produzirem mais e criarem emprego”. Adriano Maleiane disse, na altura, ter-se apurado que
estavam em dívida cerca de 19 mil milhões de meticais (296,875 milhões de dólares) referentes ao
período 2007/2017, dos quais cerca de 16 mil milhões de meticais eram devidos por órgãos de
nível central e três mil milhões, de nível provincial. In:
https://macauhub.com.mo/pt/2019/12/02/pt-governo-de-mocambique-paga-dividas-do-
estado-a-4000-empresas/

46
é a forma primária de dar trabalho, que as empresas têm, para o qual precisam de contratar
muita mão-de-obra para o realizar. Começando pela requalificação dos muitos bairros das
cidades e vilas do país, passando pela urbanização das novas zonas residenciais e ou
industriais indicados, em cada cidade ou vila, há muito trabalho para ocupar, por muito
tempo, grande parte dos desempregados do presente. A agricultura, o agroprocessamento,
a indústria, o turismo e tudo o que com estas actividades esteja relacionado, proporcionam
trabalho para muitas pessoas.
As autoridades e os gestores de cada província, cidade ou vila, no âmbito da
realização das suas actividades, são cobrados a responsabilidade de proporcionar boas
estradas, pontes, escolas, hospitais, comida e habitação condigna, para os cidadãos. Com
ambição e ousadia, estes deveriam equacionar um número de kms de estradas urbanas e
interdistritais a serem asfaltadas ou pavimentadas, por ano, dando, às empresas,
empreitadas que, por sua vez, devem garantir trabalho para muitas pessoas.
Dos centros de produção para os centros de processamento ou de comercialização e
consumo, deve ser possível movimentar os meios para transportar os produtos, os insumos
e os equipamentos necessários para as diferentes actividades que, lá se realizam. Isso é
trabalho que dá renda a muita gente que deve e vai pagar impostos, aumentando a colecta
tributária, no país.
As massas de pobres que são a maioria, em cada distrito, devem, e isso é possível,
ser convertidas em verdadeiras consumidoras que contam para a dinâmica do mercado.
Para isso, é preciso que sejam monetarizadas ou empoderadas, de modo a se libertarem da
pobreza em que estão presas e condenadas. A fórmula simples para isso, é potenciar os
empresários e orientá-los para o recrutamento e enquadramento de quem procura o seu
primeiro emprego. Dar trabalho é a primeira forma de monetarizar alguém que, para se
empoderar, deve dar o máximo de si, no trabalho que faz, para render mais e mais, podendo
tornar-se, ele próprio, num empregador empreendedor. É percepção segura que se os
governantes, os gestores e decisores, a todos os níveis, ousarem decidir a enveredar por
esta iniciativa, desejando para os outros o melhor que querem para si e para os seus filhos, a
situação dos pobres, no país, vai mudar, drasticamente.
O número de escolas que devem ser construidas, em função da pressão que as
actuais unidades vem sofrendo pela demanda, considerando o rácio aluno/professor, em
todos os níveis de ensino e em todo o país, deve dar trabalho a muitas pessoas, em várias
áreas de actividades. O rendimento que deste trabalho resultar, vai retirar muitas pessoas
da condição de pobreza e aumentar a base tributária, no país. A situação actual, resultante
da imposição da COVID19, em que as antigas turmas de mais de 50 alunos, cada, não podem
ter mais do que 25 alunos, exige a contrução de mais escolas e formação de mais
professores para o acompanhamento directo, de todos, pelo professor.
Quanto à saúde, a quantidade e a qualidade das instalações, o conforto e o
humanismo dos serviços prestados, aliado à redução das distâncias entre estas e os utentes,
deve ser a grande preocupação das autoridades, a todos os níveis. A sua construção e
apetrechamento é trabalho para muitas empresas, durante muito tempo, retirando do
desemprego e da pobreza, várias pessoas que vão alargar a base tributária do país.
Tal como a educação e saúde, a habitação é um direito humano que assiste a todos.
Habitação condigna para todos, nas cidades, nas vilas e na mais recóndita das aldeias. Quem
a deve proporcionar, eis a questão? As opiniões dividem-se, quanto à resposta para esta

47
questão. Numa fuga para frente, é simples dizer que, cada um deve ser capaz de ter a casa
que quer. No entanto, há condicionalismos que interferem neste querer individual, fazendo
com que este querer dependa do dever de outros. Milhões de pessoas demandam habitação
mas não dispões de recursos para a ter. Nas aldeias do interior, as habitações são, no
essencial, feitas de material retirado do meio natural (florestas e mangais). No entanto, a
necessidade da preservação do ambiente, o aumento demográfico e a necessidade de
habitação condigna, resiliente e resistente às adversidades das mudanças climáticas, vem
demonstrando que é necessário e urgente repensar na questão da habitação como direito
humano. Nas cidades e vilas, tem estado a observar-se, há algum tempo, uma atitude que
atropela o princípio da necessidade de observância do ordenamento territorial, parcelando-
se e distribuindo-se terrenos sem se equacionar os desafios que cada localização pode
representar, em relação a outros serviços de que depende a vida urbana. Água, energia,
transportes, escolas, hospitais e locais de trabalho são preocupações diárias das pessoas que
vivem em zonas urbanas. Escusado será, por isso, dizer que, a prática de distribuição de
talhões, não é solução para o problema de habitação nas cidades e vilas de Moçambique. As
cidades e vilas do país exigem uma construção em altura, que obedeça a um ordenamento
do território que racionalize a pouca terra urbana que existe, proporcionando, para um
maior número de pessoas, os serviços (de educação, de saúde e de transportes) que a vida
urbana recomenda. É nestes serviços onde os empregos devem ser valorizados de modo a se
evitarem as atitudes incorrectas praticadas por alguns cidadãos e apelidadas de corrupção,
por outros.
No proporcionar de todas estas condições e facilidades é que os organismos do
Estado proporcionarão empregos dignos, cuja manutenção, pelos empregados, deve ter,
sempre, em conta que, cada emprego tem trabalho que deve ser feito com rigor e
responsabilidade.
Na equação recursos naturais e sua contribuição para reduzir a pobreza dos pobres,
considera-se que os governantes e gestores devem ser ousados e determinados a agir nessa
direcção, permitindo que o futuro se equacione a partir da solução dos problemas do
presente, numa busca permanente pelo bem-estar dos locais, em cada lugar.
Sendo verdade que os recursos estão num dado lugar e nesse lugar existem pessoas
que são desse lugar e que para a exploração de tais recursos é obrigatória a sua
movimentação, num processo de reassentamento incontornável, estas pessoas são,
naturalmente, as primeiras donas destes recursos e é natural que tenham que ter benefícios
directos, imediatos e mediatos da parte dos envolvidos na exploração de tais recursos. Se
esta equação for considerada sem ambiguidades, o país pode reduzir, drasticamente, os
níveis de pobreza.
De acordo com estatísticas publicadas, um, em cada dois moçambicanos, vive numa
situação de pobreza crónica e mais de metade5 da população6 é, extremamente, pobre e

5 . Em 2019, o número de moçambicanos em situação de pobreza extrema terá aumentado entre 55 e


60 por cento desde 2015, ou seja, mais da metade da população é pobre, indica o Ministério da
Economia e Finanças (MEF). Depois de recuos substanciais entre 1996 e 2014, a taxa de pobreza
em Moçambique disparou nos anos subsequentes, devido a crise económica que empurrou muitas
famílias para indigência. Com base no índice de preços ao consumidor e dados do Inquérito aos
Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar de 2014/15, o Ministério da Economia e Finanças

48
vulnerável7, o que não permite visualizar o alcance dos objectivos do desenvolvimento
sustentável, da Agenda 2030. Por outro lado, a elevada taxa de natalidade8 que o país
apresenta, continua a reproduzir, exponencialmente, o número de pobres.
Observando de perto, esta realidade, o Banco Mundial publicou um relatório, em
2016, recomendando políticas que conduzissem a um "crescimento robusto e inclusivo"
para maximizar a redução da pobreza, considerando que, “o crescimento robusto que o país
registou nos últimos tempos beneficiou, principalmente, os não-pobres, assinalando uma
fraca inclusão no modelo de crescimento económico atual. O país precisa enveredar por
políticas públicas e investimentos focados para a inclusão social e económica”9.

QUE CAMINHO PARA O FUTURO?

A redução ou eliminação da pobreza, é uma questão de atitude, de cometimento e de


ousadia, dos decisores e gestores.
Os pobres são pessoas que podem trabalhar e precisam de uma pequena ignição
indutora para fazerem o trabalho que os liberte da pobreza em que vivem. Um dos
caminhos para o futuro é proporcionar essa ignição para permitir, aos pobres, o colocar o pé
no primeiro degrau da escada do desenvolvimento.
SACHS (2006:360) considera que, “a chave para acabar com a pobreza extrema,
consiste em dar a possibilidade aos mais pobres entre os pobres, de colocarem um pé na
escada do desenvolvimento, suspensa acima deles”, bastando, apenas, um pequeno impulso
para o atingir”.

calcula que o custo de uma cesta básica pode ter aumentado entre 55% e 70% no período de 2014
e 2016, reflectindo-se na taxa nacional de pobreza que terá subido entre 55 e 60% nos anos
seguintes. Antes da crise, o índice de indigência situava-se nos 46,1%, ou seja, entre 10.5 e 11.3
milhões de pessoas em situação de pobreza absoluta, valores inferiores ao número de 12 milhões
que registava-se entre 1996/97. In: http://opais.sapo.mz/indice-de-pobreza-disparou-em-
mocambique
6 O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) estima que a contração da economia de Moçambique

em 2020, tenha levado mais 850 mil pessoas para baixo do limiar da pobreza, aumentando para
63,7%6 da população In: https://www.rtp.pt/noticias/economia/recessao-em-mocambique-
coloca-637-da-populacao-na-pobreza_n1304575
7 Existem três dimensões principais de vulnerabilidade, entendida aqui como “vulnerabilidade à

pobreza”: a falta de defesas internas, a exposição a riscos externos e a choques e a exclusão social.
Pessoas sujeitas a estes aspectos de vulnerabilidade tendem a ser pobres, quer através da pobreza
transitória quer da crónica. A compreensão de vulnerabilidade como um quadro de análise,
argumenta o presente artigo, é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes
na redução da vulnerabilidade e da pobreza crónica a longo prazo. Este é um assunto de imediata
preocupação no actual contexto de desenvolvimento de Moçambique. Em Moçambique, nos
últimos 15 anos, apesar do impressionante historial de redução da pobreza, esta ainda é profunda e
generalizada. Esta situação reflecte-se nas elevadas taxas de desnutrição, na baixa esperança de
vida e no facto de mais de 50% da população ainda viver na pobreza absoluta. Em
“Pobreza,Desigualdade e vulnerabilidade em Moçambique, IESE, 2010” in:
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/pobreza/IESE_Pobreza.pdf
8 Em cada mil habitantes, nascem cerca de 38 crianças anualmente , Segundo as estatísticas do

Instituto Nacional de Estatísticas. In: http://www.ine.gov.mz/iv-rgph-


2017/mocambique/apresentacao-resultados-do-censo-2017-1. Pode ver, também, In:
https://pt.knoema.com/atlas/Mo%C3%A7ambique/Taxa-de-natalidade
9 Segundo Mark Lundell, Diretor do Banco Mundial em Moçambique. In:
http://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2016/12/21/mozambique-report-discusses-
poverty-trends-and-recommends-way-forward

49
Através de pequenos impulsos dados a muitas pessoas, o movimento de produção,
comercialização e consumo pode dinamizar os processos de crescimento e desenvolvimento
económicos.
O outro caminho é projectar e construír edifícios para habitação e para os serviços
públicos locais, planificados e executados pelas autoridades locais porque dos locais e para
os locais é que essas construções têm utilidade. Asfaltar e pavimentar o maior número de
estradas das cidades, vilas e aldeias, é dar trabalho às empresas e pessoas locais, o que
interessa mais a estes, porque donos e utilizadores permanentes, desejosos de melhorar,
cada vez mais, a sua qualidade de vida. Nesta direcção, XI (2018:105) indica que “as áreas de
extrema pobresa devem melhorar o modelo do crescimento económico, priorizando o
desenvolvimento das indústrias que beneficiem a população carente e a agricultura baseada
nas características locais, onde devem merecer prioridade as estradas que conectam as
aldeias e famílias”.
Como se sabe, as infra-estruturas10, são a base em que se assenta a grande maioria
das actividades que proporcionam crescimento e desenvolvimento dos países. De BARROS
(2018:446) considera que, “em Moçambique, devem ser, uma das prioridades do governo,
uma vez que, o país, precisa de quase tudo, em todas as províncias, onde a política e
estratégia das infra-estruturas deverá estar focada para dentro do país, dando prioridade à
procura interna que, há muito, não é tida em conta”. Melhores escolas, hospitais, estradas,
pontes, habitações e outras infra-estruturas, precisam-se em quantidades e qualidade que
dariam trabalho a muitas pessoas, durante muito tempo, retirando-as da condição de
desempregadas e contribuindo para a redução da sua pobreza, através da renda que este
trabalho iria proporcionar. Considerando esta realidade, recomendável seria, que esta
prioridade fosse, efectivamente, prioridade a todos os níveis, desde os governos distritais,
passando pelos provinciais, até ao central. Ela deve obrigar as empresas locais a
capacitarem-se e a modernizarem-se, para darem o seu melhor na construção daquelas
infra-estruturas que, cada lugar e o país, como um todo, precisam, com a qualidade que
orgulhe quem as construíu, quem as utiliza e, particularmente, quem as equacionou, pagou
e mandou construír, na perspectiva de uma cada vez melhor qualidade de vida das pessoas.
Pensar no futuro e noutras gerações, passa por equacionar, ousadamente, projectos
revolucionários que proporcionam trabalho para muitos e por muito tempo. Trabalho que
proporcione crescimento e desenvolvimento que tanto se deseja. É, por isso que se deve
permitir e influenciar para que se façam os investimentos necessários, nesse sentido. Os
Parques e Reservas Nacionais e o turismo da natureza, nas áreas de conservação, podem ser
a base para o desenvolvimento de uma rede ferroviária que pode orgulhar os moçambicanos
das próximas gerações. Não exige invenção de nada. Exige ousadia, determinação e
investimento.
Por outro lado, Moçambique, como país multicultural, exige que, os aspectos de
natureza cultural sejam, devidamente, equacionados, quando se pensa no desenvolvimento

10 . De toda a natureza, em todas as províncias, que deviam incluir linhas ferroviárias modernas e de
alta velocidade(TGV), tendo em conta o tamanho do país e as conecções que devem ser feitas com
os país da região da SADC, e não só.

50
inclusivo. A arte Makonde11, o Mapiko12 e a Timbila13, por exemplo, são algumas das
manifestações culturais que muito poderiam contribuir para alavancar o desenvolvimento
rural inclusivo, considerando os aspectos destas manifestações culturais que os diferenciam
uns dos outros e que exigem a envolvência e participação de muitas pessoas para a sua
continuidade, preservação e divulgação. Está no respeito e valorização das diferenças
culturais, a chave para a paz, a segurança, a convivência e o desenvolvimento que se
pretende.
No que ao Turismo diz respeito, é importante equacionar todas as variantes e níveis,
proporcionando todas as condições para o Turismo de observação, Turismo de Aventura,
Turismo de Negócios, Turismo de Lazer, Turismo cinegético, Turismo cultural, entre outros
tipos, destacando a necessária aliança entre a Inclusão, a Segurança, o Luxo e a conservação
da Natureza.
Para que tal seja possível, a prioridade, que também proporciona tabalho para
muitas empresas e renda para muitas pessoas, está na equação e colocação de infra-
estruturas de comunicações, de Saúde, de Habitação, entre outros serviços necessários para
dinamizar o desenvolvimento do país. Xi Jinping (2018:102) indica que, para acelerar a
erradicação da extrema pobreza é preciso aplicar o plano e a estratégia orientados para o
alívio e erradicação da pobreza, com precisão. Considera que, para isso é fundamental pôr
em funcionamento, um mecanismo de gestão que distribua as responsabilidades desde os
órgãos centrais até à base. Especifica que, é responsabilidade das autoridades centrais a
planificação e coordenação geral, mas é dos governos provinciais a responsabilidade do
comando da realização dos trabalhos, sendo dos governos municipais e distritais a
implementação das tarefas concretas.

CONCLUSÃO E SUGESTÕES

Dar trabalho e remunerar condignamente é parte do novo paradigma que se deve


experimentar para o desenvolvimento económico que se procura. Não é, propriamente,

11 "O estado deveria apostar em escolas profissionais que promovam e desenvolvam, por exemplo, a
arte makonde. Poderia muito bem ser montada uma escola de arte no planalto dos Makondes. Não
só a matéria-prima como também uma grande parte dos artistas estão lá. Eles até têm algumas
associações que poderiam cooperar com as instâncias nacionais e regionais". In:
https://www.dw.com/pt-002/artistas-de-cabo-delgado-queixam-se-mo%C3%A7ambique-
n%C3%A3o-apoia-a-arte/a-17785172
12 Ao som de batuques acompanhado de cantos tradicionais, usando a força da sua história e do seu

quotidiano, o mascarado misterioso dança o mapiko que, de certa forma, transmite, em cada passo,
convicções que o ligam com as suas crenças – uma verdadeira representação dos diversos modos
de ser e estar no mundo espiritual do povo makonde. Isso é o mapiko em si! É dança, é arte, é
teatro, é música, é expressão corporal, é tradição. A aura de mistérios com que este povo realiza o
ritual penso ser o combustível que move antropólogos e sociólogos com o seu espírito
desmistificador para tentar estudar e compreender o que está por trás das máscaras e dos rituais
pelos quais passam os praticantes do mapiko. In:
http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/africa-em-cultura-mapiko-e-os-seus-misterios
13 . A timbila, um instrumento de percussão utilizado pela etnia “cope”, da província de Inhambane,

foi proclamada obra-prima do património oral e imaterial da humanidade pela UNESCO. A


proclamação pela UNESCO vai atrair mais interessados em pesquisar "as qualidades raras da
timbila", promovendo assim digressões para Zavala, o distrito de onde é oriundo o instrumento, e
"levando consigo algum desenvolvimento para aquelas comunidades pobres". In:
https://noticias.uol.com.br/ultnot/lusa/2005/11/25/ult611u68880.jhtm

51
uma invenção da roda que, como se sabe, ela já existe há séculos. Mas é uma adaptação da
mesma, para especificdades próprioas, como tem sido feito, também, há séculos, para cada
propósito expecífico, tamanho e actividade do veículo.
Se se pretende ver o país a desenvolver, simultaneamente e em harmonia, é preciso
que se observe uma mudança radical de mentalidades, que permita ousadias em atitudes e
medidas revolucionárias orientadas para o bem-estar das pessoas.
Nesta ousadia e mudança de mentalidades, importa referir que Xi Jinping (2018:104)
observa que, “o governo deve ser o principal investidor, para encorajar e orientar o
investimento de outras fontes de financiamento”. Segundo ele, os fundos, projectos e
medidas para a eliminação da pobreza devem ser atribuidos, principalmente, para as áreas
de extrema pobreza onde devem ser aplicados em programas de eliminação da pobreza.
Considera, ainda, que “todas as forças, medidas e recursos, devem ser combinadas de modo
a produzir uma sinergia poderosa no combate à pobreza das áreas extremamente carentes”.
Os recursos de que se falam, em Moçambique, e que tornam o país,
potencialmente, rico, são finitos14. As madeiras de espécies nativas, o carvão, os rubis, o gás
natural, o camarão, explorados intensivamente, como é possível fazer, e está sendo feito,
para alguns destes recursos, em muito poucos anos podem deixar de existir, sendo, por isso,
impossível o usufruto dos mesmos, pelas próximas gerações. Por isso, pensar
em sustentabilidade deve significar pensar na continuidade da vida humana, nas futuras
gerações e na manutenção das inúmeras espécies animais e vegetais que convivem com a
espécie humana. Agir dentro da sustentabilidade, sendo esta uma utopia para alguns, é a
única maneira de garantir a continuidade da vida humana, corrigindo o pensamento antigo
do homem que, ao longo da sua evolução histórica, considerava a Terra, sua fonte
“inesgotável” de recursos, usando-os da maneira que entendia, sem considerar os limites
naturais, da sua existência15.
Neste âmbito, obedecendo às deliberações das conferências das Nações Unidas, de
Estocolmo (1972) e do Rio de Janeiro (1992), ambas sobre o meio ambiente, é importante
dizer que a exploração dos recursos não renováveis, deve ser feita de modo sustentável,
significando que estes devem ser usufruidos pensando no futuro, porque precisamos nós, no
presente, e vão precisar, também, os nossos filhos e netos, no futuro. Daí, a necessidade de
racionalidade na sua exploração.
Considerando a real necessidade que o país tem, de muitos quilómetros de estradas,
auto-estradas e caminhos-de-ferro, precisa de portos, marinas e aeroportos modernos,
capazes de corresponder à demanda da aldeia global em que o mundo se transformou,
precisa de desenvolver muitos empreendimentos produtivos que transformem os recursos

14 A Terra é finita e tudo que tem nela também é finito, inclusive a espécie humana e que o ato de
apenas tirar e usar os recursos indefinidamente, só irá levar à escassez dos mesmos mais
rapidamente. In: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-sustentabilidade-e-sua-
relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-naturais-com-o-
consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem
15 A exploração racional e sustentável dos recursos, a preservação dos ecossistemas, com os

respectivos bancos genéticos naturais e a manutenção de áreas verdes naturais, são a garantia
da sustentabilidade planetária. In: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-
sustentabilidade-e-sua-relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-
naturais-com-o-consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem

52
naturais em produtos consumíveis, demandados pelas populações, é urgente a necessária
mudança de mentalidades a todos os níveis. Nessa mudança de mentalidades, deve haver
espaço para a necessidade da promoção da auto-estima, quer dos políticos, quer dos
empresários, tal como de todos os cidadãos. Deve haver espaço, para a necessidade e
vontade que as pessoas têm em se tornarem ricas, a vários níveis, porque, combater a
pobreza significa não querer ser, perpetuamente, pobre. Não querer ser pobre é querer ser
rico. Mas, para se tornar rico, é necessário muito trabalho, muito investimento e alguma
liberdade.
Tomando por orientador, este posicionamento, considera-se que existem condições
para se sair da condição de pobreza extrema, bastando que, para isso, as pessoas de cada
lugar sejam dadas a possibilidade de fazer o que desejam fazer, através do pequeno impulso
referido por Jeffrey Sachs e dado por Mohamad Yunnus16.
Os pobres sabem o que querem e sabem que o que querem custa dinheiro. Sabem
trabalhar e produzir. E sabem, também, que o produto do seu trabalho não produz alteração
do estágio da sua pobreza, porque, vivendo todos na extrema pobreza, não há quem
compre nada que se produza no seu meio. Entre eles não circula dinheiro e a pobreza se
reproduz exponencialmente.
Analisando o fenómeno, noutra dimensão, o economista Jeffrey Sachs (2018:360) é
directo, quando afirma que “é preciso fazer os investimentos necessários para acabar com a
pobreza extrema”, indicando que, “ao nível mais básico, a chave consiste em dar a
possibilidade aos mais pobres entre os pobres de colocarem um pé na escada do
desenvolvimento, suspensa acima deles”. Diz que, “para isso, basta um montante de capital
mínimo para chegarem ao primeiro degrau, o que exige um pequeno impulso”.
É destes pequenos impulsos que Muhammad Yunus se especializou e, aqui,
considera-se um dos caminhos certos para acabar com a pobreza, em Moçambique, e
desenvolver o país.
A Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), a Agência do Zambeze e
o programa Sustenta, devem ser, no imediato, as bases para a materialização e
operacionalização de novas práticas para um rápido crescimento e desenvolvimento do país.
O Sustenta na ADIN e na Agência do Zambeze, devem ser responsáveis por enquadrar
muitos jovens em programas eficazes de produção orientada para a redução da pobreza, o
que permitiria o desenvolvimento do capital humano necessário para o desenvolvimento do
país.
Reduzir a pobreza é o desafio maior que o país tem pela frente, neste século XXI. É o
desafio que o governo actual e os próximos, devem ter na primeira linha das prioridades da
sua governação. É o desafio em que todos, nele, podem e devem participar. Com ideias, com
acções ou com recursos. É um desafio que exige muita ousadia. Ousadia para apresentar e
defender ideias, projectos e programas, ousadia para financiá-los e ousadia para valorizar a
pessoa humana, uma vez que, tudo o que tem que ser feito, tem que ser feito por pessoas e

16 O impulso consistiu na concessão de pequenos empréstimos a pessoas muito pobres, que,


normalmente, não podiam pedir empréstimos em bancos tradicionais, o que ajudou milhões de
pessoas a saírem da pobreza. Ele percebeu que por meio de pequenos empréstimos, poderia ajudar
os pobres a libertarem-se da sua pobreza. Em 1983, estabeleceu o Grameen Bank (Banco do Povo),
baseado na sua convicção de que o crédito é um direito humano fundamental.

53
para pessoas. É um desafio para uma mudança radical de mentalidades e comportamentos,
a todos os níveis.
Exige às empresas e empresários locais, um dinamismo empreendedor, provocador
de uma cadeia de movimento contínuo, em que cada empresa seja, simultaneamente,
cliente e fornecedora de bens e serviços para outras, correspondendo à exigência dos
consumidores de tais produtos e serviços, à escala nacional, impulcionando o mercado, o
crescimento e o desenvolvimento económicos. O conteúdo local passa por isso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 DE BARROS, João Gabriel. Políticas Públicas de Transportes Rodoviários de


Passageiros: o seu impacto no desenvolvimento socioeconómico em
Moçambique, Publifix, Maputo, (2018), pag. 446
 XI, Jinping. A Governação da China, Editoras de Linguas Estrangeiras, Beijing, 2018
 MONDLANE, Eduardo, Lutar por Moçambique- Maputo: Nosso Chão, 1995.
 MORGADO, Carlos, A Comercialização Agrícola em Moçambique-Uma
Abordagem Estratégica; In: O economista, Amecon, Maputo, 2002
 SACHS, Jeffrey, O Fim da Pobreza; como consegui-lo na nossa geração, Casa das
Letras, Cruz Quebrada, 2005
 SMITH, Adam, Riqueza das Nações, Calouste Gulbenkian, Volume 2, 4ª edição,
Lisboa, 2006
 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-sustentabilidade-e-sua-
relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-naturais-
com-o-consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem
 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-sustentabilidade-e-sua-
relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-naturais-
com-o-consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem
 https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-deve-registar-crescimento-
econ%C3%B3mico-a-partir-deste-ano/a-52150178
 https://www.rtp.pt/noticias/economia/recessao-em-mocambique-coloca-637-da-
populacao-na-pobreza_n1304575
 https://macauhub.com.mo/pt/2019/12/02/pt-governo-de-mocambique-paga-
dividas-do-estado-a-4000-empresas/
 http://opais.sapo.mz/indice-de-pobreza-disparou-em-mocambique
 https://www.rtp.pt/noticias/economia/recessao-em-mocambique-coloca-637-da-
populacao-na-pobreza_n1304575
 http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/pobreza/IESE_Pobreza.pdf
 https://pt.knoema.com/atlas/Mo%C3%A7ambique/Taxa-de-natalidade
 http://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2016/12/21/mozambique-
report-discusses-poverty-trends-and-recommends-way-forward
 https://www.dw.com/pt-002/artistas-de-cabo-delgado-queixam-se-
mo%C3%A7ambique-n%C3%A3o-apoia-a-arte/a-17785172
 http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/africa-em-cultura-mapiko-e-os-
seus-misterios
 https://noticias.uol.com.br/ultnot/lusa/2005/11/25/ult611u68880.jhtm
 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-sustentabilidade-e-sua-
relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-naturais-
com-o-consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem

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 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581630-a-sustentabilidade-e-sua-
relacao-direta-com-a-utilizacao-indevida-e-desnecessaria-dos-recursos-naturais-
com-o-consumismo-com-a-obsolescencia-programada-e-com-a-reciclagem

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ESTATUTOS DO OLHAR ECONÓMICO

CAPÍTULO I
DEFINIÇÃO, FINS, SEDE, PERIODICIDADE E OBJECTIVOS

Artigo 1
(Definição)

O Boletim OLHAR ECONÓMICO é um periódico científico com o objectivo de produzir e


publicar artigos de carácter académico propriedade do Centro dos Estudos Estratégicos
Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, Departamento dos Estudos Económicos e
de Desenvolvimento.

Artigo 2
(Sede)

O Boletim Olhar Económico de Estudos de Economia e Desenvolvimento tem a sua sede no


Centro dos Estudos Estratégicos Internacionais, rua dos desportistas, 2º andar, Prédio JAT 5.

Artigo 3
(Missão)

Boletim Olhar Económico tem como missão a publicação de artigos científicos de natureza
económica e produzir reflexões e análises sobre as reformas e políticas económicas do
governo de Moçambique no contexto de desenvolvimento Socioeconómico nacional.

Artigo 4
(Periodicidade)

O Boletim Olhar Económico de Estudos de Economia e Desenvolvimento é editada e


publicada semestralmente pelo Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento.

Artigo 5
(Objectivos do Boletim)

O Boletim Olhar Económico de Estudos de Economia e Desenvolvimento tem como


objectivos:
a) Promover estudos económicos e de desenvolvimento do país com visão
voltado ao crescimento versus desenvolvimento e sustentabilidade
económica.
b) Influenciar positivamente na tomada de decisões políticas espelhadas na
investigação científica.

56
c) Permitir conteúdos económicos diversificados através do intercâmbio de
vários actores académicos nacionais e internacionais.

CAPÍTULO II
ÓRGÃOS DO BOLETIM

Artigo 6
(Enumeração)

Constituem órgãos do Boletim Olhar Económico de Estudos de Economia e


Desenvolvimento, os seguintes:
a) O Conselho Científico
b) O Conselho de Direcção
c) O Conselho Editorial

Secção I
CONSELHO CIENTÍFICO

Artigo 7
(Definição)

O Conselho Científico do Olhar Económico é um órgão colegial com o papel de delinear


princípios, ideologias gerais do boletim pautando por imparcialidade, cientificidade,
qualidade dos artigos propostos para publicação.
Artigo 8
(Composição do Conselho Cientifico)

1. O Boletim Olhar Económico de Estudos de Economia e Desenvolvimento é composto por


um director da revista, Chefe do Departamento responsável pelo boletim, Editor, dois
investigadores membros do departamento de Economia do Centro dos Estudos
Estratégicos Internacionais.
2. São igualmente membros do Conselho Cientifico Professores de outras unidades
académicas afins ao Boletim.

Artigo 9
(Competências do Conselho Científico)

1. Compete o Conselho Cientifico do Olhar Económico o seguinte:


a) Assegurar a qualidade científica dos artigos submetidos.
b) Ajudar na disseminação dos artigos a nível nacional e internacional.

57
c) Coordenar com o responsável do boletim sobre os conteúdos de actualidade
para a pesquisa e posterior publicação.
d) O Conselho Científico do Olhar Económico é dirigido por um presidente
eleito por um período de 2 anos renováveis.

Artigo 10
(Competências do Presidente do Conselho Científico)

1. Compete ao Presidente d Conselho do boletim Olhar Económico, o seguinte:


a) Apreciar e pronunciar-se sobre a qualidade dos conteúdos dos artigos.
b) Assessoria e monitoria dos procedimentos inerentes ao processo de
produção do boletim.
c) Aconselhar ao director sobre a organização, formato do boletim.

Secção II
CONSELHO DE DIRECÇÃO

Artigo 11
(Definição)

O Conselho de Direcção é um órgão colegial que tem por incumbência garantir o normal
funcionamento do boletim.

Artigo 12
(Composição do Conselho de Direcção)

1) Compõem o Conselho de Direcção do Olhar Económico, o chefe do Departamento de


Estudos Económicos e de Desenvolvimento do CEEI/UJC, O secretário do Boletim e seu
assistente.
2) Os demais órgãos podem participar do Conselho através dum convite formal que lhes
são endereçados quando pertinente.

Artigo 13
(Competências e do Conselho de Direcção)

1) Compete ao Conselho de Direcção do Olhar Económico, o seguinte:


a) Aprovar a política editorial e o regulamento interno.
b) Nomear e desvincular os membros do Conselho editorial.
c) Aprovar a política e estratégia de comunicação da revista

58
d) Garantir a revisão dos artigos ocultando a identidade dos autores e
revisores.

Secção III
CONSELHO EDITORIAL

Artigo 14
(Composição do Conselho Editorial)

1) O conselho Editorial do Olhar Económico é composto por um editor-Chefe, editor e é


coordenado pelo director do boletim.
2) Toda a categoria dos editores é nomeada pelo director do boletim em coordenação com
o conselho científico.
3) O conselho editorial sempre que pertinente pode convidar outras entidades para
coordenarem na produção qualitativa do boletim.

Artigo 15

(Competências do Conselho Editorial)

1) Compete o Conselho Editorial, o seguinte:


a) Coordenar as actividades da publicação do boletim.
b) Publicitar a linha editorial
c) Propor ao conselho de direcção os procedimentos, regras de publicação.
d) Sugerir nomes para integrar o corpo de revisão de pares.
e) Análise dos conteúdos para a publicação.
f) Sugerir relativamente à qualidade dos artigos a serem aceites ou rejeitados
para a publicação.
g) Propor os termos e condições para ilegibilidade dos artigos no boletim
Olhar económico.

Artigo 16
(Termos e condições para ilegibilidade)

1. São ilegíveis os artigos para a publicação no Olhar Económico, artigo e análises de


natureza económica e afins.
2. Só serão aceites os textos redigidos em Português e Inglês.

Artigo 17

59
(Forma de Remessa dos Textos e Outras Indicações)

1. Os trabalhos devem ser enviados na versão electrónica para o e-mail: deed@ujc.ac.mz,


digitados em Word for Windows, em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento entre
linhas de 1,5, formato A4, não devendo ultrapassar seis mil caracteres, excepto referências,
gráficos, quadros e tabelas.
2. As ilustrações, figuras, gráficos, devem ser limitados ao mínimo indispensável, sendo o
título indicado no texto onde as ilustrações estão inseridas, identificadas e numeradas
consecutivamente em algarismos árabes.
3. Os quadros e tabelas devem ser enviados em arquivo separado, obedecendo o Modelo
Metodológico vigente na UJC.

CONDIÇÕES PARA PUBLICAÇÃO


NO “OLHAR ECONÓMICO”

O boletim Olhar Económico publica Artigos, Resenhas Bibliográficas. Os textos para


publicação devem obedecer às seguintes normas:
 Artigos: 15 a 20 Páginas, fonte em Times New Roman e 1.5 de espaçamento;
 Resenhas Bibliográficas: 2 a 5 páginas, fonte Times New Roman e 1.5 de
espaçamento;
 Os artigos e resenhas devem conter referências bibliográficas de acordo
com as Normas vigentes na UJC;
 Os artigos devem conter resumos e palavras-chave em português e em
língua inglesa;
 Os artigos em inglês devem conter resumo e palavras-chave em português;
 Os artigos, resenhas e entrevistas deverão ser acompanhadas da descrição
das qualificações académicas e profissional do (s) autor(es).

Os trabalhos são analisados por meio de revisão de pares às cegas, pelo menos, por dois
membros do Conselho Editorial, Consultivo ou outros intervenientes, que podem recusá-los,
sugerir modificações ou aceitá-los, de acordo com o tratamento do tema, a originalidade
deste ou de sua interpretação e a correcção formal da redacção. Submissões e Informações:

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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E ESTUDOS DE
DESENVOLVIMENTO
CEEI/UJC

O Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento


do CEEI/UJC tem como prioridade a reflexão e a análise das
reformas económicas implementadas pelo governo de
Moçambique, bem como o seu impacto político, económico e
social na vida das populações. O departamento confere
particular atenção a dívida externa; a ajuda externa a África e as
questões relacionadas com custo de vida; e desenvolvimento
das comunidades, devido a sua importância na adopção de
estratégias e políticas de desenvolvimento para Moçambique e
para África Sub-sahariana no geral. Em relação a dimensão
internacional, o enfoque é a região da África Austral. Como
membro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
– SADC, Moçambique tem que harmonizar a sua estratégia e
visão de desenvolvimento, com a visão e estratégia da
organização regional. Os desafios e as realidades emergentes
desta necessidade são objectos de análise, de estudo e de
recomendação por parte deste departamento.

CONTACTOS
Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento
Centro de Estudos Estatégicos e Internacionais – CEEI/UJC
Rua dos Desportistas, nº 833, Prédio JAT 5-1, Maputo - Moçambique
Email: deed@ujc.ac.mz

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