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Facilitando o Ambiente de Negócios

para o Crescimento Econômico


em Moçambique (SPEED+)
Programa de capacitação para AMECON

REVISÃO DE LITERATURA
Leitura preparatória para o workshop de resumo de políticas (policy brief)

O objetivo deste documento é identificar estudos já existentes no tema de crescimento e


estabilidade econômica em Moçambique em um período de boom de recursos naturais.
Este documento resume artigos e estudos sobre o tema e extrair as conclusões e soluções
propostas por eles. A lista de estudos aqui presentes não é absoluta, mas é uma
representação dos tipos de estudos feitos nos últimos anos sobre o tema. Nem toda a
literatura neste documento aborda diretamente o tema; no entanto, todos eles poderão
contribuir para a formulação de um policy brief sobre o impacto do boom de recursos
naturais na estabilidade macroeconômica de Moçambique.

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BACUANE, Aurélio; MULDER; Peter. Exploring Natural Resources in Mozambique, Will it Be
a Blessing or a Curse? (Explorando Recursos Naturais em Moçambique, Será uma
Bênção ou uma Maldição?). Instituto de Estudo Sociais e Económicos, 19 Setembro
2007. Disponível em:
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/Bucuane,Aurelio%20&%20Mulder,Peter_Natural
Reseorces.pdf.
Bacuane e Mulder escreverem este artigo para o Instituto de Estudos Sociais e
Económicos, uma organização de pesquisas em Moçambique, em 2007. Este estudo é de
nível acadêmico, portanto, apesar de ser mais antigo, há lições valiosas que podem ser
extraídas e trazidas para a situação atual. O estudo aborda a “maldição dos recursos
naturais” (ou resource curse, em inglês), que é o fenômeno quando um país rico em
recursos naturais não consegue efetivamente combater a pobreza. Os autores estimam o
potencial da riqueza em recursos naturais de Moçambique em comparação com os outros
países, conduzem uma breve revisão da literatura existente, identificam os determinantes
da “maldição dos recursos naturais” e avaliam o risco deste fenômeno ocorrer em
Moçambique. Finalmente, os autores propõem seis sugestões de modo a se evitar a
ocorrência de uma “maldição dos recursos naturais” em Moçambique. A primeira sugestão é
ter uma política orçamentária prudente combinado com medidas anticíclicas. Essas
medidas poderão mitigar os efeitos negativos da volatilidade associada ao mercado de
commodities de recursos naturais. Um segundo modo para diminuir a volatilidade das
verbas públicas relacionadas aos recursos naturais é a criação de um fundo de
estabilização. Esse fundo poderá ser fomentado durante épocas quando preços estiverem
altos, e usado quando preços estiverem baixos. Uma terceira proposta é a formulação de
contratos entre o governo e as mineradoras e empresas extrativistas que tenham
mecanismos que favoreceriam a estabilidade das receitas, como, por exemplo, usando uma
média-móvel de preços invés de preços correntes nos contratos. Diversificação é um
componente importante para mitigar os riscos associados a uma economia dependente em
recursos naturais. A diversificação poderá diminuir essa dependência e portanto a economia
nacional não estará tão vinculada aos preços internacionais de recursos naturais.
Transparência é uma estratégia importantíssima, senão a mais a importante, para evitar a
“maldição dos recursos naturais”, já que ela consegue impedir corrupção com mais
informações chegando à população sobre contratos, processos e dados sobre a extração
de recursos naturais. Uma última medida que os autores propõem é o extrativismo
prudente. De um certo modo, a extração de recursos naturais diminui a riqueza do país, já
os recursos naturais não são renováveis. Portanto, é importante ter planos de longo prazo
para assegurar que sua riqueza não seja extraída rapidamente e que seus benefícios
poderão ser aproveitados de uma forma estável e consistente por muitos anos.

BALCHIN, Neil; COUGHLIN, Peter; PAPADAVID, Phyllis; VELDE, Dirk Willem te; VROLIJK,
Kasper. Economic Transformation and Job Creation in Mozambique (Transformação
Econômica e Geração de Empregos em Moçambique). Outubro 2017. Disponível em:
https://www.odi.org/publications/10961-economic-transformation-and-job-creation-
mozambique.
Este estudo patrocinado pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do governo
britânico (DFID) tem o objetivo de avaliar os desafios atuais que Moçambique enfrenta,
sendo eles provenientes do impacto do boom de recursos naturais ou não. Ademais, este
estudo também examina as políticas públicas atuais que Moçambique emprega para
enfrentar tais desafios e propõe outras medidas ou melhorias nas políticas públicas

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existentes. Os autores identificam que Moçambique exige urgentemente um enfoque
diferente em direção à transformação econômica, para enfrentar os desafios
macroeconômicos de curto prazo e criar empregos necessários de maneira sustentável.
Moçambique não se desenvolveu estruturalmente, evidente na transformação estrutural
limitada da economia da agricultura para a indústria. Como resultado, o nível de
complexidade econômica de Moçambique é baixo e muito pouco progresso foi feito na
construção de novas capacidades para mudar a produção para bens e serviços mais
complexos. Os autores reconhecem que existe um consenso razoável sobre os setores que
podem ajudar nessa transformação e as restrições ao crescimento nesses setores. No
geral, os setores de agro-processamento, construção e silvicultura são os mais amplamente
citados como fornecendo caminhos promissores para futura agregação de valor e criação
de emprego. Geralmente, a manufatura recebe menos atenção, fora do subsetor de agro-
processamento e alguma ênfase no potencial de desenvolvimento da indústria de vestuário.
As restrições vinculativas à transformação econômica e à criação de empregos também são
bem conhecidas. Os autores sugerem que o governo poderia seguir uma combinação de
um modelo de transformação baseado no agro-processamento, um modelo de
transformação de diversificação de recursos naturais no estilo da Indonésia e um modelo de
diversificação do estilo das Ilhas Maurício ou da Etiópia para manufatura. No centro de
todos esses modelos de desenvolvimento está um impulso direcionado à industrialização,
envolvendo uma mudança acelerada de mão-de-obra e outros recursos de atividades
agrícolas ou extrativas de baixa produtividade e atividades de maior produtividade na
agroindústria ou manufatura.

BANCO AFRICANO DE DESENVOLVIMENTO. Mozambique Country Strategy Paper 2018-


2022: Supporting Mozambique Towards the High5s (Documento de Estratégia para
Moçambique 2018-2022: Apoiando Moçambique em Direção ao High5s). Junho 2018.
Disponível em: https://www.afdb.org/fileadmin/uploads/afdb/Documents/Boards-
Documents/MOZAMBIQUE_-_CSP_2018-2022__Final_.pdf.
Este documento apresenta a estratégia do Banco Africano de Desenvolvimento para
Moçambique para 2018-2022. O objetivo deste documento é guiar as atividades do Banco
nos investimentos e projetos empregados em Moçambique, alinhando com os objetivos
High 5s que o Banco formulou para 2013-2023. Eles são: melhorar a qualidade de vida da
população africana; industrializar a África; integrar a África; alimentar a África; e levar
energia elétrica para toda a África. Em relação a Moçambique, o Banco tem dois pilares em
sua estratégia para 2018-2022. Primeiro é o desenvolvimento de infraestrutura que
possibilita crescimento inclusivo transformativo e a criação de empregos. Segundo é o apoio
à transformação agrícola e o desenvolvimento da cadeia de produção. O documento
providencia um contexto político, econômico e social para a situação atual de Moçambique,
identifica desafios e obstáculos para crescimento e desenvolvimento sustentável, e fazem
recomendações, que são os dois pilares da estratégia.

BIGGS, Tyler. Mozambique’s coming natural resource boom: Expectations, Vulnerabilities,


and Policies for Successful Management (A chegada do boom de recursos naturais de
Moçambique: Expectativas, Vulnerabilidades, e Políticas para Boa Gerência). USAID
SPEED+, Setembro 2012. Disponível em: https://landportal.org/file/31882/download.
Este estudo foi feito para o projeto SPEED da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional. A primeira seção deste estudo revisa a pesquisa que

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examina as causas da “maldição de recursos naturais” em países de baixa renda. Três
canais de transmissão são destacados através dos quais recursos abundantes podem levar
a um desempenho econômico ruim: volatilidade, efeitos da “doença holandesa” e fraquezas
institucionais. A segunda seção identifica as três principais vulnerabilidades do país durante
um boom de recursos naturais: as grandes expectativas de renda provenientes do boom; a
sensitividade do valor do câmbio da moeda que poderá desequilibrar sua balança
comercial; e a qualidade das instituições Moçambicanas. Essas vulnerabilidades combinado
com outros fatores de risco do país, como a falta de mão de obra qualificada, mercado
financeiro ainda nascente e infraestrutura inadequada, reduzem a capacidade de absorção
da economia. A última seção do estudo sugere as medidas de políticas públicas prioritárias
para Moçambique. Em primeiro lugar, é preciso aumentar investimento doméstico privado e
público para alavancar o crescimento e elevar o consumo interno. Em segundo lugar, é
preciso alocar uma fração da renda proveniente dos recursos naturais diretamente para os
cidadãos. Distribuições diretas aumentam o consumo e a capacidade absorção da
economia. É também preciso abordar o problema da volatilidade por meio de investimentos
internos e a criação de fundos para atenuar grandes quedas nos preços mundiais.

BANCO MUNDIAL. Mozambique Economic Update: Shifting to More Inclusive Growth


(Atualização Econômica de Moçambique: Mudando para um Crescimento Mais
Inclusivo). Outubro 2018. Disponível em:
http://documents.worldbank.org/curated/en/132691540307793162/Mozambique-
Economic-Update-Shifting-to-More-Inclusive-Growth.
O Banco Mundial regularmente publica estudos econômicos sobre países que inclui uma
seção especial sobre um tema importante e atual para o país em discussão. A seção de
foco especial desta edição discute a estrutura e os impulsionadores do crescimento de
Moçambique nas últimas duas décadas e até que ponto os padrões de crescimento
anteriores ajudaram a moldar os atuais resultados de pobreza e desigualdade. A análise
observa vários desenvolvimentos positivos. Primeiro, a economia de Moçambique está
passando por uma transição estrutural gradual, quando os trabalhadores começaram a
mudar da agricultura, o setor com menor nível de produtividade, para os serviços—um setor
seis vezes mais produtivo. Isso aumentou a produção por trabalhador, em média,
estabeleceu a produtividade como o motor do crescimento nos últimos anos e aumentou o
ritmo da redução da pobreza. No entanto, esses ganhos foram acompanhados por um fosso
crescente entre os mais abastados e os pobres. A seção conclui destacando que lidar com
a pobreza e o desafio do aumento da desigualdade exige redefinir os fatores de
crescimento inclusivo na economia dependente de recursos de Moçambique. Episódios de
crescimento rápido, como vivido por Moçambique na maior parte dos anos 2000, são uma
ocorrência bem-vinda. Mas é a amplitude desse crescimento em todos os setores da
economia e até que ponto ele aumenta a capacidade produtiva de maneira durável,
mantendo um cenário macroeconômico sustentável que determina a qualidade desse
crescimento. Mudar o modelo de crescimento para ampliar os propulsores do crescimento e
aumentar a produtividade em setores com maior potencial de emprego é um desafio
primário para os formuladores de políticas de Moçambique hoje. Extrativos não serão
suficientes. Um foco intensivo e ambicioso em alcançar a diversificação, aumentar a
produtividade rural e fornecer acesso mais igual aos serviços nos esforços nacionais de
desenvolvimento é essencial para o crescimento inclusivo.

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BURR, Lars. The Development of Natural Resource Linkages in Mozambique: The Ruling
Elite Capture of New Economic Opportunities (O Desenvolvimento de Ligações de
Recursos Naturais em Moçambique: A Captura da Elite Governante de Novas
Oportunidades Econômicas). Instituto Dinamarquês para Estudos Internacionais
(DIIS), 2014. Disponível em:
https://forskning.ruc.dk/files/55471747/Buur_Ruling_Elite_Capture_DIIS_WP_2014_03
.pdf.
Este artigo explora a criação de vínculos relacionados a megaprojetos extrativistas e
desenvolvimento de recursos naturais sob uma perspectiva da economia política em
Moçambique. Burr explora as tentativas de melhores práticas entre produtores de
commodities e de conteúdo local. O autor argumenta que uma configuração organizacional
e institucional estatal relativamente elaborada, baseada em políticas, estratégias e unidades
com ferramentas de financiamento, surgiu ao longo do tempo para começar a colher os
benefícios de investimentos em larga escala nos setores extrativos. No entanto, muito
pouco foi alcançado com relação aos vínculos na cadeia produtiva. A primeira seção do
estudo considera brevemente o escopo dos megainvestimentos e sua relação com a
estrutura econômica de Moçambique. A segunda seção descreve brevemente como o
desenvolvimento de vínculos foi realizado em relação aos megainvestimentos. A terceira
seção explora quais foram as limitações para o desenvolvimento de vínculos na cadeia
produtiva. A quarta seção explora brevemente qual foi a resposta organizacional e
institucional, enquanto a quinta seção analisa por que a atual onda de megainvestimentos
na economia extrativa de recursos naturais luta para se engajar na formação de vínculos e
é seguida por uma breve conclusão. O autor conclui que a experiência de MOZAL, um
empresa produtora de alumínio em Matola, a capital da província de Maputo, é usada como
exemplo de melhores práticas na integração da cadeia produtiva com o setor extrativista da
economia moçambicana. O projeto conseguiu integrar os investimentos do megaprojeto
com pequenas e médias empresas e o desenvolvimento da produção de conteúdo local. No
entanto, Burr também argumenta que não se pode ignorar os incentivos políticos na
formulação de políticas industriais. Ele argumenta que o emprego de melhores práticas não
se traduzem em uma boa política pública sem considerar o contexto institucional e político.
Portanto, é preciso que as melhores práticas se encaixem no contexto do país, de suas
instituições, de sua política e seus objetivos econômicos.

CASTEL-BRANCO, Carlos Nuno. “Indústrias de Recursos Naturais e Desenvolvimento:


Alguns Comentários”. In: BRITO, Luís de; CHIVULELE, Fernanda Massarongo (org.).
Economia, Recursos Naturais, Pobreza e Política em Moçambique. IDeIAS, 2017.
p. 487-494. Disponível em: http://www.iese.ac.mz/wp-content/uploads/2017/10/parte-
v-recursos-naturais.pdf.
Este capítulo escrito por Castel-Branco no livro Economia, Recursos Naturais, Pobreza e
Política em Moçambique, organizado por Brito e Chivulele, apresenta de forma didática o
impacto da exploração de recursos naturais sobre o desenvolvimento de um país. Este
capítulo aborda três temas importantes: desenvolvimento e desafios de recursos naturais,
estratégia pública de desenvolvimento nacional e recursos naturais, e receitas. O autor
considera diversos temas sobre esses assuntos relacionados à indústria de recurso naturais
e desenvolvimento econômico, apesar de não aprofundar bastante. Mesmo assim, ele
apresenta soluções para problemas comuns que surgem da indústria de recursos naturais,
como a necessidade de ter um planejamento ou estratégia de longo prazo para conseguir
extrair os benefícios da indústria de recursos naturais de modo eficiente e transparente.

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Castel-Branco chega a identificar tipos de estratégias, que ele chama de defensiva ou
ofensiva. A estratégia defensiva é aquela que acomoda a interesses, dinâmicas e processos
já estabelecidos enquanto a estratégia ofensiva é a aquela que determina as dinâmicas e
processos para serem usados durante seu emprego. Na seção dedicada a receitas, o autor
sugere medidas para o governo conseguir formular um estratégia fiscal que consiga gerar
recursos, cobrir os custos e acumular fundos. Finalmente, Castel-Branco aborda assuntos
legislativos e como eles deverão ser formulados para melhor servir o interesse público. Ele
argumenta que não é suficiente formular contratos menos generosos e mais rigorosos para
novos projetos, mas é também necessário renegociar contratos já estabelecidos para
melhor responder à realidade do país e o impacto já gerado da exploração da indústria de
recursos naturais.
Há outros capítulos escritos por outros autores neste livro que aborda o mesmo tema de
forma diferenciada e mais específica. Os outros capítulos relevantes são: “Recursos
Naturais, Meio Ambiente e Crescimento Sustentável” por Carlos Nuno Castel-Branco (p.
495-501); “Terra, Desenvolvimento Comunitário e Projectos de Exploração Mineira” por
Virgilio Cambaza (p. 503-508); “Análise ao Exercício de Reconciliação do Segundo
Relatório da ITIE em Moçambique” por Rogério Ossemane (p. 509-514); “ITIEM: Análise
dos Obstáculos Legais, Transparência do Regime Fiscal e Completa Adesão à ITIE” por
Rogério Ossemane (p. 515-520).

HOFMANN, Katharina. Economic Transformation in Mozambique: Implications for Human


Security (Transformação Econômica em Moçambique: Implicações para Segurança
Humana). Friedrich Ebert Stiftung, International Policy Analysis, Agosto 2013.
Disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/iez/10201.pdf.
O estudo de Hofmann foi escrito em 2013, que marca um período de forte de crescimento
econômico em Moçambique. As altas taxas de crescimento é devido à descoberta de
recursos (principalmente carvão e gás) acompanhadas por crescentes interesses
comerciais regionais e internacionais. No entanto, de acordo com o estudo, a economia de
Moçambique não sofreu nenhuma mudança estrutural significativa. Descobertas de
recursos poderiam alterar o caminho do desenvolvimento e levar a uma transformação
econômica se a receita desses recursos naturais e investimentos diretos estrangeiros
(IEDs) levassem ao investimento em indústrias geradoras de emprego. Um obstáculo nesse
cenário positivo é a falta de transparência sobre a dinâmica da transição econômica
combinada com a falta de oportunidade de participação política dos cidadãos
moçambicanos que tende a criar um potencial de conflito político e social. O objetivo do
estudo é identificar oportunidades e riscos na atual transformação econômica e seu impacto
na segurança humana. De acordo com Hofmann, os principais pontos de conflitos políticos,
econômicos e sociais são a renda antecipada do boom de recursos naturais, a distribuição
de riquezas entre os maiores grupos de interesse no país, a tensão entre FRELIMO e
RENAMO, a desigualdade e estagnação do crescimento econômico entre as camadas mais
pobres da população, e o déficit de capacidade institucional em todos os níveis do governo.
A “maldição dos recursos naturais” deve ser contrabalanceada com ações que construam
uma indústria manufatureira que conecte com a indústria de extração de recursos. A
economia não deve depender somente da extração de recursos. Outros setores
econômicos também precisam ser diversificados, como agricultura e turismo. É também
preciso medidas que incentivem a formação de empresas de pequeno e médio porte, como
regulamentação de trabalho mais liberal, micro e pequenos empréstimos e taxas de juros
mais favoráveis.

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LI, Bin Grace; GUPTA, Pranav; YU, Jiangyuan. From natural resource boom to sustainable
economic growth: Lessons from Mongolia (Desde o boom de recursos naturais até
crescimento econômico sustentável: Lições da Mongólia). International Economics,
151, 2017, p. 7-25.
Este artigo acadêmico, apesar de não abordar Moçambique diretamente, aborda o tema de
boom de recursos naturais e crescimento econômico e extrai boas práticas e lições da
experiência da Mongólia, um outro país rico em recursos naturais mas ainda em fase de
desenvolvimento. Os autores utilizam um modelo estruturado para analisar os impactos
macroeconômicos de diferentes estratégias de investimento público nos principais fatores
fiscais e de crescimento na Mongólia. O estudo conclui que, embora a ampliação do
investimento público possa impulsionar o crescimento, desembolsos fiscais muito rápidos
levarão a economia ao limite de capacidade de absorção e aumentarão riscos
macroeconômicos. Uma política fiscal prudente, particularmente moderando o investimento
em infraestrutura e otimizando a eficiência do capital, é essencial para manter a estabilidade
econômica e para impulsionar o crescimento sustentável a longo prazo para países em
desenvolvimento como a Mongólia.

ROSS; Doris C (ed.). Mozambique Rising: Building a New Tomorrow (Mozambique na


Ascensão: Construindo um Novo Amanhã). Fundo Monetário Internacional, 2014.
Disponível em: https://www.imf.org/external/pubs/ft/dp/2014/afr1404.pdf.
Esta publicação do Fundo Monetário Internacional (FMI) providencia uma visão técnica e
aprofundada sobre a economia de Moçambique, sua história recente, análises econômicas
e sociais de assuntos contemporâneos, incluindo megaprojetos de infraestrutura e da
indústria de recursos naturais, desenvolvimento, demografia, entre outros assuntos. O livro
inteiro é relevante ao tema, no entanto, o capítulo 10 é o mais pertinente, já que aborda os
desafios fiscais em relação ao boom de recursos naturais do país. Gerenciar bem esse
processo permitiria a Moçambique escapar da “maldição de recursos naturais” e alavancar
a nova riqueza para impulsionar o desenvolvimento. Isso exigirá mudanças substanciais na
abordagem atual da formulação de políticas fiscais. O capítulo discute ferramentas
analíticas que podem ajudar a avaliar políticas alternativas. A política fiscal precisará
encontrar o equilíbrio certo entre a necessidade de aumentar o investimento em setores
prioritários, levando em consideração as restrições de capacidade e considerações de
sustentabilidade fiscal ao longo prazo. Será importante proteger o orçamento da volatilidade
dos preços através da adoção de regras fiscais e fortalecer instituições, inclusive
aprimorando a gestão financeira pública para garantir que a renda gerada seja usada de
maneira eficiente e transparente. O país tem a oportunidade em alavancar sua nova riqueza
de recursos para acelerar seu desenvolvimento e transformar a economia.

STANDARD BANK. Rovuma LNG Project: Macroeconomic Study (Projeto Rovuma GNL:
Estudo Macroeconômico). 19 Março 2019. Disponível em:
https://www.standardbank.co.mz/en/content/download/94420/2328915/file/Standard%
20Bank%20Rovuma%20LNG%20Project%20English%20short%20version.pdf.
Este estudo do Standard Bank, um banco sul-africano, foi feito de forma independente com
o apoio do Conningarth Economists, uma consultoria econômica sul-africana. O objetivo
deste estudo é avaliar o impacto macroeconômico do projeto de gás natural liquefeito (GNL)

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na região da bacia do rio Rovuma, no extremo norte de Moçambique. Está estimado que o
projeto de Rovuma terá a capacidade de produzir 15,2 milhões de toneladas métricas por
ano (MTPA) de GNL. De acordo com o estudo, o projeto tem o potencial de desenvolver e
monetizar os recursos de hidrocarbonetos de modo seguro e econômico. A renda potencial
deste projeto poderá fomentar a indústria do país, promover a diversificação de sua
economia, impulsionar investimentos estrangeiros, e criar vínculos econômicos com outros
setores da economia. Está também presumido que este projeto sozinho poderá pagar a
dívida externa do país. No entanto há riscos que o projeto enfrente obstáculos que adiará
sua conclusão, algo que impactaria significantemente a economia de Moçambique e
impediria o pagamento de sua dívida. O estudo também identifica que Moçambique
precisará ter uma visão plena do que fazer nos próximos passos depois da conclusão do
projeto de Rovuma. Os autores argumentam que o governo deverá ter duas considerações.
Primeiramente, é preciso que o projeto seja implementado assim que concluído. Qualquer
demora em sua implementação poderá afetar negativamente as divisas a serem coletadas
do projeto. Segundo, o governo moçambicano deverá se transformar em um vendedor
primário para a China. A China deverá ser o maior comprador de GNL do mundo, portanto,
Moçambique deverá se posicionar como um vendedor importante para este mercado.

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