Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOCIOAMBIENTAL EM
LIVRE PERCURSO
A EXPERIÊNCIA DA UMAPAZ
267 p.
ISBN: 978-85-98140-14-8
CDD 372.357
APRENDIZAGEM
SOCIOAMBIENTAL EM
LIVRE PERCURSO
A EXPERIÊNCIA DA UMAPAZ
A experiência do atual Departamento de Educação Tudo isto imerso num corrosivo caldo de egoísmos
Ambiental/ UMAPAZ da Secretaria do Verde e Meio nacionalistas e estímulos midiáticos para um consu-
Ambiente da Prefeitura de São Paulo nasceu em mismo estéril e materialista.
2005 de uma pretensão radical de ser mais um pólo Assim, não é pouca coisa o que a ONU nos pede. É
irradiador e articulador de duas políticas orquestra- uma reorganização quase revolucionária na nossa
das pela Organização das Nações Unidas para reor- forma de viver e conviver. É a reforma/superação
ganizar a forma moderna de viver e conviver: o De- das formas de viver capitalistas/ socialistas como
senvolvimento Sustentável e a Cultura de Paz. se apresentaram até agora em diversificadas expe-
Os dois modelos de organizar nossa forma de viver riências históricas nos últimos séculos em variados
e conviver em sociedade que a humanidade criou países de todos continentes.
nos últimos séculos - o capitalismo e o socialismo O núcleo desta visão é o casamento do viver sus-
- trouxeram muitos avanços na qualidade de vida, tentável, como foi apresentado ao mundo no en-
porém a evidente hegemonia, em ambos sistemas, contro Rio/92, com a hegemonia da cultura de paz
da cultura da violência, da lei da selva de predomínio sobre a cultura da violência nas nossas relações
do mais forte, do egoísmo nacionalista e o desprezo com as pessoas e com as outras espécies vivas e
pela preservação do meio ambiente com o predomí- o mundo, enfim.
nio extremado das preocupações sociais e econômi-
cas levaram a uma situação de crise gravíssima no O viver sustentável busca uma nova alquimia que
final do século XX e início deste século XXI. equilibre as preocupações econômicas, sociais e am-
bientais. A palavra chave aqui não é dominação de
Uma situação caracterizada pela emergência na um fator sobre o outro. A palavra chave é o equilíbrio.
consciência popular, científica e espiritual da im-
portância decisiva das crises climáticas / aqueci- A hegemonia da cultura de paz não pretende que os
mento global e da perda acelerada da riqueza da instintos agressivos que fazem parte da nossa natu-
biodiversidade, associadas à persistência da he- reza sejam erradicados totalmente, tarefa aparen-
gemonia da cultura da violência e da multissecu- temente impossível e até totalitária, e sim que ou-
lar distância opressiva entre a extrema riqueza e a tras tendências nossas de altruísmo, solidariedade
extrema pobreza. e amor, sejam predominantes nas nossas relações.
1 | Secretário Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, 2005-2012. Médico Sanitarista. Foi Deputado Estadual e
Federal por São Paulo, no período entre 1983 e 2003, e Secretário Municipal de Saúde de São Paulo de 1989 a 1990 e de
2001 a 2002.
4
Esta forma de pensar é muito nova, mas ao mesmo Este casamento deve também favorecer/ perse-
tempo se baseia nas tradições muito antigas de pesso- guir um ambiente onde a democracia política, a
as proféticas, visionárias, que vislumbraram sua impor- tolerância religiosa, o respeito aos direitos hu-
tância/ possibilidade e viveram de verdade de acordo manos e a utópica superação dos egoísmos na-
com esta crença. Buda, Cristo, São Francisco, Thoreau, cionalistas por uma governabilidade mundial
Tolstoi, Gandhi e mais recentemente Einstein, Rondon, democrática permita à humanidade continuar
Mandela, John Lennon, são exemplos sempre vivos, evoluindo sua responsabilidade de ser uma espé-
apesar de todos os seus próprios conflitos íntimos e cie de ser vivo na Terra, que tem consciência ple-
contradições, de que esta forma de ser não é impossí- na de sua existência, e que por isto tem respon-
vel para nós, homens e mulheres comuns. sabilidade de preservar e proteger a sua própria
e as outras espécies vivas que conosco habitam
A idéia da UMAPAZ é que o casamento das duas pro-
este pequena planeta.
postas - viver sustentável e cultura de paz - é uma
condição necessária para seu progresso reformador. São Paulo, verão de 2012
Cássia Domingues
10 introdução
Rose Marie Inojosa
8
161 Programa Aventura Ambiental
Angélica Berenice de Almeida e Thereza Christina Rosa
Esta coletânea registra e comenta o trabalho de edu- gias e referências, de modo a poderem ser analisa-
cação ambiental e cultura de paz que vem sendo reali- dos e porventura utilizados por outros grupos que
zado na Cidade de São Paulo pela Universidade Aberta desejem desenvolver programas com propósito se-
do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), da Se- melhante, já que a UMAPAZ tem recebido pessoas
cretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São de outros municípios e regiões.
Paulo, desde 2005. Tem o propósito de estimular a re-
O artigo seguinte é sobre Educação Gaia São Pau-
flexão sobre a experiência e a abordagem metodológica
lo e foi produzido por representantes dos parceiros
da aprendizagem socioambiental, que incorporou prin-
que trouxeram esse programa internacional para a
cípios e orientações contemporâneos para a educação
Cidade de São Paulo: o Instituto Roerich da Paz e
ambiental, crítica e inclusiva, e vem construindo seu
Cultura; o CRIS – Centro de Referência e Integração
próprio invento. Esse modo de ser no mundo é pauta-
em Sustentabilidade e a UMAPAZ. O programa capa-
do pela reconstrução do sentimento de pertencimento
citou mais de 500 pessoas.
e de interdependência sistêmica do Planeta e uns dos
outros, pelo reconhecimento dos componentes éticos O quarto artigo, de autoria de Débora P. Marcondes,
dessa teia, vem como pelo envolvimento das diferen- bióloga, e Lia S. Lopes, geógrafa, traz o programa
tes dimensões da ecologia, como bases da sustentabi- Articulação Local para o Desenvolvimento Susten-
lidade da vida e da convivência humana. tável, que visa a fortalecer os cidadãos para a aná-
lise crítica de sua realidade e muni-los de ferramen-
Com esse intento, seu primeiro artigo conta o evolver
tas que contribuam para transformar suas escolhas,
da UMAPAZ, de 2005, sua concepção, até 2012. Escrito
seu cotidiano e seu entorno de forma sustentável.
por um conjunto de pessoas que vivenciaram o proces-
O programa, em parceria com o Programa Ambien-
so, apresente as fases da instituição, desde a formula-
tes Verdes e Saudáveis, da Saúde, vem capacitando
ção do seu projeto, e as bases da sua metodologia, que
centenas de agentes comunitários.
será exemplificada nos artigos que tratam de seus pro-
gramas. Observa-se, nesse texto, a preocupação com a A seguir, o artigo O Ensino das Geociências na UMA-
identificação dos atores atuantes nas diferentes fases PAZ, do geólogo Gustavo Agni Beutenmuller, vista
e seu papel em cada momento da organização. mostrar como o conhecimento relativo às Geociências
se desenvolveu no âmbito do município de São Paulo
O segundo artigo chama-se Carta da Terra em Ação
e em sua relação com outros temas e conhecimentos
em São Paulo. A Carta da Terra é documento orien-
atuais como as mudanças climáticas e a vulnerabilida-
tador da UMAPAZ, mas também dá nome e conteú-
de das megacidades frente a esse processo, e apresen-
do a dois programas robustos, apresentados nesse
texto: o Programa de Difusão da Carta da Terra na ta os cursos oferecidos aos cidadãos sobre o tema.
rede municipal de educação e o Programa Carta da Segue-se o texto intitulado Cidadãos Mediadores na
Terra em Ação, dedicado à formação de agentes so- Cidade de São Paulo?, trata do processo empreen-
cioambientais urbanos. São detalhados objetivos, dido na Cidade para a capacitação de pessoas em
organização dos programas, conteúdos, metodolo- resolução pacífica de conflitos e, especialmente, na
10
tecnologia da mediação. São mostradas as escolhas ro focaliza a questão metodológica e o diálogo que
metodológicas e o desenvolvimento, pelo olhar crí- as danças circulares estabeleceram com os outros
tico da Dra. Sandra Inês Baraglio Granja, que tem um temas e tecnologias que integram a programação da
papel importante nesse processo. UMAPAZ. O segundo aborda o Programa Dançando e
O sétimo artigo, de autoria da psicóloga Márcia Convivendo nos Parques públicos da cidade.
Amélia Moura, trata da Arte do Diólogo, o desen- A seguir, Suely Feldman Bassi, conta a história da
volvimento da qualidade da escuta, que é um refe- inserção do Tai Chi e da Meditação na programação
rencial fundamental para a cultura de paz e para a da UMAPAZ.
resolução pacífica de conflitos.
O décimo quinto artigo, apresenta um programa que
O artigo seguinte, de autoria do sociólogo Valério Igor visa a promover o encontro entre a arte e a natureza,
P. Vitorino, trabalha a relação entre direitos humanos, na busca de despertar a consciência ecológica por
sustentabilidade e paz, buscando demonstrar as rela- meio do trabalho com o barro. Sua autora, a artista
ções históricas e intrínsecas dos temas. e educadora Regina Fiorezzi Chiesa, tem conduzi-
Na diversidade dos temas da UMAPAZ é, a seguir, abor- do muitos grupos pela aventura de trabalhar com o
dada a relação entre alimentação, meio ambiente e barro e refletir, nesse processo, sobre as diferentes
sustentabilidade. O artigo é de autoria da nutricionista dimensões da ecologia.
e psicóloga Suely Feldman Bassi, que tem coordena- Segue-se artigo de outra arte-educadora Maria
do, juntamente com Vitor Octávio Lucato, o Programa Christina Belfort d´Arantes Cariani, com o título
Meio Ambiente, Alimentação e Saúde. Atos Criativos Sustentáveis, trabalha uma meto-
O décimo artigo, de autoria de Angélica Berenice de dologia para o desenvolvimento integral, que busca
Almeida e Thereza Christina Rosa, ambas pedago- transcender o pensamento linear. O artigo relata
gas da equipe da UMAPAZ, apresenta o Programa como, em um conjunto de programas, foram sen-
Aventura Ambiental, idealizado, inicialmente para do costurados saberes e fazeres, tecendo, com os
alcançar diretamente o público infantil e que, ao lon- participantes, um caminho de auto conhecimento e
go do tempo, também foi sendo procurado por ou- consciência ecológica.
tros grupos. Trata-se de uma trilha especial que visa O décimo sétimo artigo é de autoria de Ieda Januário
a aliar o contato com a natureza, o respeito à vida e Varejão, pedagoga e atual diretora de Formação da
a reflexão sobre valores da convivência. Centenas de UMAPAZ, apresenta o desenvolvimento das ativida-
grupos já fizeram a Aventura. des de educação ambiental em um parque da cidade
No artigo A Escola de Jardinagem vai até você, a – o Lions Clube Tucuruvi – e como se deu a articulação
arquiteta Cristina Pereira Araujo conta como a tra- dessas atividades com a programação da UMAPAZ.
dicional Escola Municipal de Jardinagem, que diri- Segue-se artigo sobre o Programa Ambientes Verdes
ge desde 2008, transbordou seus muros e levando e Saudáveis, um importante exemplo de atuação in-
conhecimentos de jardinagem para toda a cidade, tersetorial, com resultados e desdobramentos locais.
despertando o interesse de novos públicos e traba-
Finalmente, Aprendizes-educadores e educadores-
lhando, em parceria, a inclusãor social.
aprendizes traz depoimentos de dois atores, a artista
Os dois artigos seguintes tratam do papel funda- plástica Ana André e o especialista em jogos coope-
mental que as Danças Circulares têm tido como par- rativos Adriano Galhardo Pedroso. Eles vivenciaram a
te da metodologia integrativa da UMAPAZ. São de metodologia do livre percurso de aprendizagem so-
autoria da fonoaudióloga e especialista em dança cioambiental proposto pela UMAPAZ e trazem o rela-
circular, Estela Maria Guidi Pereira Gomes. O primei- to de sua visão sobre seus próprios percursos.
Resumo Abstract
Este texto tem o objetivo de registrar e comentar o This text aims to register and comment on the proc-
processo de constituição e desenvolvimento organi- ess of formation and organizational development of
zacional da UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio Ambiente
Ambiente e Cultura de Paz, de São Paulo, de 2005 a e Cultura de Paz (The Open University of the En-
2012. Inicia pelo contexto em que o projeto foi gera- vironment and Culture of Peace) , São Paulo, from
do e trata, na sequência, das fases de planejamento; 2005 to 2012. It starts by the context in which the
da implementação do projeto; e da institucionaliza- project was generated and continues on the plan-
ção da UMAPAZ como Departamento da Secretaria ning process, the implementation and institution-
Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo alization of UMAPAZ as São Paulo´s Municipal
e das relações estabelecidas pela nova estrutura Department of Environment Education and the es-
organizacional da Secretaria. A seguir, são sucessi- tablished relationships by the new organizational
vamente focalizados: a equipe e a produção, o tra- structure. Hereafter, are successively focused: the
balho intersetorial, especialmente com a saúde, a staff and production, the intersectoral work, espe-
educação, as relações de trabalho, subprefeituras e cially with health, education, labor relations, safety
a segurança urbana; as parcerias com organizações and urban boroughs; partnerships with third sector
do terceiro setor, com a universidade, e o controle organizations, with the university, and social con-
social. Finaliza abrindo espaço para pressupostos e trol. Bringing to completion with reflections on UMA-
práticas metodológicas adotadas pela UMAPAZ. PAZ adopted methodology
Palavras-chave: UMAPAZ, educação socioambiental, Keywords: UMAPAZ, environment education, part-
cultura de paz, parcerias, intersetorialidade, rede nerships, intersectoral relations, network
6 | Rose Marie Inojosa, organizadora da coletânea; Glacilda Pinheiro Corrêa Pedroso, pedagoga, integrante da equipe UMA-
PAZ e Diretora de Formação do DEA/UMAPAZ de janeiro de 2009 a outubro de 2011; Estela Maria Pereira Gomes, fono-
audióloga, integrante da equipe da UMAPAZ desde 2006 e Vitor Octávi Lucato, biólogo e ecólogo, integrante da equipe
da UMAPAZ desde 2006. rosemarieinojosa@bol.com.br; glacildamaranhao@gmail.com; estelagomes@uol.com.br; vlucato@
prefeitura.sp.gov.br.
12
1. Introdução com a implementação do projeto, de 2006 a 2008.
Aborda-se, no item 5, a Institucionalização do pro-
Esta narrativa, feita pelo olhar de observadores par- jeto como parte da estrutura organizacional da Se-
ticipantes7, trata do desenvolvimento da UMAPAZ cretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São
– Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura Paulo, ocorrida em 2009, e as peculiaridades, tanto
de Paz, cujo foco é a educação socioambiental e a do desenho da Secretaria, com sua proposta matri-
cultura de paz, em São Paulo8. Tem os propósitos de cial, como do diálogo entre essa estrutura e a forma
registrar e comentar as etapas percorridas desde a de operar em rede característica da UMAPAZ desde a
formulação inicial, de identificar os atores presentes sua concepção. A evolução da equipe e da produção
em cada etapa, bem como as singularidades dessa da organização é abordada no item 6, abordando, in-
organização pública, formulada e desenvolvida em clusive, os projetos e ações intersetoriais, no âmbito
articulação com uma rede intersetorial. Com isso as- do próprio governo municipal, como na rede de par-
pira a contribuir para a análise do caso e, também, cerias, com o terceiro setor e a universidade. O item
para a inspiração de outras iniciativas, sobretudo 7 refere-se as relações de controle social inerentes
na esfera local e em rede, do mesmo modo como a a uma organização pública. Finalmente, no item 8,
UMAPAZ tem se beneficiado da observação e do con- são apresentados pressupostos e escolhas metodo-
vívio com a experiência de outras instituições. lógicas da UMAPAZ, nesse período de sua existência.
O texto, intencionalmente, dá relevância aos atores
– pessoas e organizações – que participaram e par- 2. Contexto
ticipam da trajetória da UMAPAZ, entendendo que
os arcabouços organizacionais são animados pelas A Prefeitura de São Paulo parece ter ampliado sua
pessoas. Elas é que configuram a face com que a or- visão sobre as complexas relações socioambientais
ganização se apresenta ao mundo, aos parceiros e concomitantemente à movimentação internacional e
ao público, com seus valores e modo de atuação. nacional no final do século XX.
Um mesmo aparato organizacional pode ser habi- Há décadas, a Prefeitura administrava parques e
tado, no tempo e no espaço, por diferentes grupos jardins públicos e realizava ações de educação am-
e ser manejado de muitas formas, embora também biental, na existente Escola de Jardinagem, quando
estabeleça possibilidades e limites aos gestores. do plantio de árvores, com palestras nas escolas e
No item Contexto busca-se delinear o ambiente em conversa com moradores, nas feiras do verde e da
que o projeto foi gerado e de que forma, para, em se- primavera que eram realizadas na marquise do Par-
guida, abordar o processo de planejamento do pro- que Ibirapuera, entre outras ações. Contudo, somen-
jeto, imediatamente após a sua concepção e instala- te em 1993 foi criada uma estrutura mais complexa
ção inicial. Os itens Planejamento e Implementação para tratar das questões ambientais, no primeiro es-
(itens 3 e 4) tratam da fase pioneira da organização, calão de seu Poder Executivo: a Secretaria do Verde
e Meio9 - SVMA. Essa estrutura agregou, ao já exis-
7 | Os autores participaram de todas as fases do de- tente departamento de áreas verdes, unidades de
senvolvimento da UMAPAZ, de 2005 a 2012. Outras nar- controle e fiscalização e de planejamento e educa-
rativas, presentes nos demais artigos desta publicação, ção ambiental. Isso ocorreu logo após a Conferência
podem iluminar outros aspectos e posições relacionados
Internacional do Meio Ambiente, realizada no Rio de
ao evolver da organização.
Janeiro, em 1992, indicando que o fortalecimento e
8 | Parte dessa história foi registrada e analisada por
Dulce Regina Bernardo Campos no texto UMAPAZ – um a ampliação das reflexões sobre a gestão ambiental
estudo de caso, que constituiu seu trabalho de con- tiveram impacto em São Paulo.
clusão do Curso de Especialização em Ecologia, Arte e
Sustentabilidade. 9 | Lei Municipal nº 11.426 de 1993.
14
um espaço interconectado onde as ações de um in- em Curitiba (Paraná, Brasil), a UNIPAZ (Brasília), a
divíduo ou grupo podem gerar efeitos que chegam Associação Palas Athena (São Paulo), a U-Peace
muito longe no tempo e no espaço; que estão inte- – Universidade da Paz (Costa Rica), o Schumacher
grados igualmente em um espaço social comparti- College (Devon, Reino Unido) – nos seus formatos,
lhado onde se estabelecem relações complexas e propósitos, escolhas metodológicas.
desiguais entre diferentes grupos de atores sociais
A idéia inicial de uma instituição municipal de edu-
e, ainda, que há dimensões simbólicas das questões
cação socioambiental e de cultura de paz, orientada
ambientais e diferentes visões do valor dos recursos
por essa visão e experiências, foi apresentada ao
naturais, que fomentam disputas ideológicas. Esses
Secretário Municipal do Verde e Meio Ambiente e ao
aspectos articulam-se na formação de opinião e têm
Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvi-
impacto nas escolhas.
mento Sustentável – CADES, na sua sessão ordiná-
É certo que São Paulo, uma cidade global, tanto pela ria de 28 de julho de 2005, ação indispensável para
diversidade da formação étnica e cultural de sua po- que a proposta pudesse ser desenvolvida.
pulação, como pela posição econômica no país, na
América Latina e entre as maiores cidades do mun- 3. Planejamento
do, conta com pessoas e instituições empenhadas em
dialogar sobre as possibilidades e perspectivas de no- Com a aprovação inicial do Secretário do Verde e
vas escolhas e a visão de um novo paradigma. Muitas Meio Ambiente e do CADES, foi mobilizada uma rede
delas têm tido um papel progressivamente significati- de educadores ambientais, técnicos da própria Se-
vo no cenário, especialmente a partir do Fórum Global cretaria, representantes de instituições do campo
realizado na Eco 92 e seus desdobramentos. do meio ambiente e da cultura de paz e estudio-
sos, convidados a participar do desenvolvimento da
“Hoje, tomamos consciência de que o sentido
proposta. Esse processo de trabalho em rede, que
das nossas vidas não está separado do senti-
envolveu 60 pessoas, metade da própria Prefeitura e
do do próprio planeta.. Diante da degradação
metade da sociedade civil, realizou-se de setembro
das nossas vidas no planeta chegamos a uma
a novembro de 200513.
verdadeira encruzilhada entre um caminho
Tecnozóico, que coloca toda a fé na capacida- 13 | Esse processo está pormenorizadamente descrito no
de da tecnologia de nos tirar da crise sem mu- Relatório Projeto UMAPAZ Universidade Aberta do Meio
dar nosso estilo poluidor e consumista de vida Ambiente e da Cultura de Paz da Secretaria Municipal do
Verde e Meio Ambiente, dezembro de 2007, disponível na
e um caminho Ecozóico, fundado numa nova
Biblioteca da UMAPAZ . Participaram de uma ou mais ofi-
relação saudável com o planeta, caracterizado cinas: Alessandro Marco Rosini,Professor, Núcleo de Estu-
pelas atuais preocupações ecológicas. Temos dos do Futuro - PUC-SP; Ambar de Barros,Jornalista, Co-
de fazer escolhas. Elas definirão o futuro que ordenadora do Escritório da UNESCO em São Paulo;André
Goldman, Arquiteto, SVMA - Assessor Técnico; André
teremos. “(GADOTTI, s data) Luís Moura de Alcântara,Cientista Social, S MA - Dep.
Envolvendo uma mudança paradigmática, esse pro- Educação Ambiental; Angélica Berenice de Almeida, Pe-
dagoga, SVMA - equipe UMAPAZ; Ariella Setti,Bióloga,
cesso necessita de muitos agentes sociais atuantes, SVMA - Administradora do Parque Previdência;Arnoldo
incluindo a organização da gestão pública municipal, de Hoyos,Filósofo, Coordenador do Núcleo de Estudos do
de modo a propiciar a ampliação da cidadania crítica Futuro da PUC – SP;Aureliano Biancarelli,Jornalista, Rede
Gandhi;Cristina Lopes,Psicóloga. Coordenadora do CEC-
e a produção de novos sentidos. CO Ibirapuera; Cyra Malta Olegário da Costa,Engenheira
Nesse contexto, em 2005, algumas experiências ins- Agrônoma, SVMA - Administradora do Parque São
Domingos;Dulce Regina Bernardo Campos,Bibliotecária,
piradoras foram observadas pela Secretaria Muni- SVMA - equipe UMAPAZ;Edmundo Fonseca Correa Garcia,
cipal do Verde e Meio Ambiente, como a UNILIVRE, Físico, SVMA - Assessor Técnica; Edney Martins,Consultor
16
vas do Parque do Ibirapuera17, um imóvel, com face Ainda no mês de janeiro de 2006, no dia 30, a UMA-
para a Av. IV Centenário, foi atribuído à Secretaria PAZ recebeu May East, membro do GEESE (Global
Municipal do Verde e Meio Ambiente, pelo Prefei- Ecovillage Educators for a Sustainable Earth) e
to18, para sediar e dar início a implantação do então coordenadora do programa Gaia Education21. May
projeto UMAPAZ. A coordenação do projeto UMA- East veio a São Paulo por articulação dos parceiros
PAZ recebeu as chaves do imóvel em 6 de janeiro Ecobairro, do Instituto Roerich da Paz e Cultura do
de 200619. Brasil, e grupo Ecovila São Paulo. Ofereceu, na UMA-
PAZ, uma palestra aberta, sobre Educação Gaia, que
Para constituir a equipe inicial um grupo de profis-
reuniu mais de uma centena de interessados.
sionais, com diferentes formações universitárias
e experiências em educação ambiental, a maioria Em fevereiro do mesmo ano, foi iniciado o Ciclo de
oriunda do Centro de Educação Ambiental do Parque Palestras sobre Meio Ambiente e Cultura de Paz,
Ibirapuera, foi alocada no projeto UMAPAZ20. com profissionais de diferentes áreas da Secretaria
Municipal do Verde e Meio Ambiente e convidados22.
A rede de parcerias mobilizada para a formulação
O Ciclo teve o propósito de ampliar a informação e
do projeto foi preciosa para sua implementação,
contribuir para a troca de opiniões entre os partici-
participando ativamente da programação e levando
pantes sobre aspectos do meio ambiente e a convi-
profissionais de suas equipes ou rede para pales-
vência na cidade de São Paulo.
tras e cursos.
Em março, por meio de articulação realizada pela
17 | Saíram a PRODAM (Companhia de Processamento Secretária Adjunta da SVMA23, foi realizada uma Ofi-
de Dados do Município) e o Departamento de Edifica- cina de Planejamento Participativo, com o apoio de
ções (EDIF). Este último, pertencente à Secretaria de
Serviços e Obras, ocupara, durante cerca de 50 anos, uma equipe da U-Peace24. Essa Oficina reuniu, além
um imóvel de cerca de 1500 m2, contíguo ao Viveiro da equipe básica do projeto, pessoas que haviam
Manequinho Lopes, que foi atribuído à UMAPAZ. A ade- participado de sua formulação e novos convidados25,
quação inicial do prédio foi possível pelo apoio da Leda
Ascherman, então diretora de Administração e Finanças
da SVMA e ação do colaborador Mário Sérgio Alves da 21 | O Gaia Education, oficialmente fundado em julho de
Cruz e da equipe de Meire Aparecida Fonseca de Abreu. 2005, é um consórcio internacional de experientes edu-
cadores, que nasceu do GEESE. May East dissemina pelo
18 | Prefeito José Serra.
mundo o programa de formação de designers de susten-
19 | Nesse dia houve uma pequena cerimônia com re- tabilidade e, mais recentemente, o programa Transition
presentantes de diferentes tradições que participam da Towns.
formação da comunidade paulistana. Kaká Verá Jecupé,
22 | Participaram como palestrantes: Andriane Macelli,
representante da comunidade indígena e autor, entre
Anita Correa de Souza, Angela Branco, Eduardo Coelho
outros, do livro São Paulo a Terra dos Mil Povos, en-
de Mello Aulicino, Laura Ceneviva, Luciene Figueiredo,
toou, nessa ocasião, um canto para cada uma das quatro
Mary Lobas de Castro, Maria Lúcia Bellenzani, Regina
direções.
Luísa de Barros, Rodrigo Martins dos Santos, Thiago Lo-
20 | A equipe técnica inicial da UMAPAZ foi formada por pes Ferraz Donnini e Volf Steinbaum.
Vitor. Octávio Lucato; Eliana Sapucaia Rizzini; Estela
23 | Leda Aschermann.
Maria Guidi Pereira Gomes; Angélica Berenice de Almei-
da, Júlio César Rosa, Maricy Montenegro, Maria Alice 24 | Tatiana Benavides, Betty Mc Dermott, Carlos Garcia
Nelli Machado, Sonia Ribeiro de Carvalho, Vania Nelize e Victor Valle.
Ventura, que vieram do núcleo do próprio Parque, Dulce 25 | Participaram representantes e/ou profissionais
Regina Bernardo Campos e Glacilda Pinheiro Correa Pe- vinculados a ABDL (Rede Lead), Aliança pela Infância,
droso, que vieram com Rose Marie Inojosa, coordenado- Associação Monte Azul, Associação Palas Athena, Co-
ra do projeto. De agosto de 2006 a maio de 2007 o pro- missão Municipal de Justiça e Paz, Grupo EcoBairro
jeto UMAPAZ foi coordenado por Paullo César Santos, do Instituto Roerich da Paz e Cultura do Brasil, Escola
do movimento de cultua de paz e coordenador do projeto da Vila (Fortaleza/CE), Guarda Civil Municipal, Institu-
Ecobairro do Instituto Roerich. Retornou à coordenação to Migliori, Instituto Nina Rosa, Instituto Paulo Freire,
anterior dessa data até 2012. Instituto Sou da Paz, I Paz Agência de Comunicadores
pela Paz, Rede Gandhi, Secretaria Geral da Presidência Em meados de 2005, nasceu a proposta da Uni-
da República, UNESCO – escritório São Paulo, UNIPAZ. versidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultu-
26 | Relatório do Planejamento UMAPAZ – U-PEACE, ra de Paz, originária da Secretaria Municipal do
SVMA, março de 2006. Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, uma
27 | Adelina Renno; Adriana Friedmann; Affonso Celso A. iniciativa pioneira ao integrar cultura de paz e
P. Lima;. Ambar de Barros;. André Spinola e Castro; An-
tonio Carlos Ribeiro Fester; Aureliano Biancarelli;Beatriz
desenvolvimento sustentável. Desde então, a
Silva Cruz; Carlos Magno de Moura; Carmem Silvia Cava- reflexão e a proposição da sua missão, valores
lieri; Celia Cristina Whitaker; Célia Cymbalista; Cyra Mal- e objetivos vêm sendo realizadas em rede com
ta; Darci Rocha Munin; Dulce Regina B. de Campos; Elia- instituições comprometidas com um novo pa-
na S.Rizzini; Estela Gomes; Eveline Lima Verde; Felipe
Cunha Barreto; Fernando José de Almeida; Flavia Maria drão de convivência sócio-ambiental ética, res-
Soares; Flavio Boleiz Jr.;Glacilda S. Correa Pedroso; Jair ponsável, cooperativa, pacífica e de proteção da
Cordeiro Grava;.Jason F. Mafra;.Jerusha Chang;.Jonas vida, alicerçado nas iniciativas da ONU para a
Melman;.Jorge Vieira Barros;Juliana de Oliveira Lei-
Década Internacional de Cultura de Paz e Não-
te; Júlio Cesar Rosa; Julio Cesar Silva Filho; Karla R.C.
Mello;Laura Ceneviva; Leda Aschermann; Magda Marly Violência(2001 a 2010),Década Internacional de
Fernandes; Manoel J.P.Simão;Marcos Biancardi; Marga- Educação para o Desenvolvimento Sustentável
rete Louzanos; Maria A. C. Brant; Maria Alice Machado; (2005 à 2014), na CARTA DA TERRA: Valores
Maria Amélia C. F. Fernandes; Maria Augusta Antunes;
Maricy E. Montenegro; Marilu Martinelli; Marisa Dab-
e Princípios para um Futuro Sustentável (www.
bur; Oscar A. B. de Barros Bressane; Patricia Limaverde cartadelatierra.org) e Agenda 21.
Nascimento; Paullo Santos; Regina Luisa F. de Barros;
Ricardo Ghelman; Rita de Cassia Garcia; Rodrigo Macha-
Os signatários compartilham a percepção de
do; Rose Marie Inojosa; Rubens Casado; Rute Cremonini que o atual padrão de relacionamento entre os
Zarconi; Sergio Bilotta; Sergio Talocchi; Sonia Regina R.
de Carvalho; Terezinha de J. Reis; Thiago Donnini; Ute 28 | O original da Carta, assinado pelos participantes, foi
Craemer; Valerio Igor P. Victorino; Vania Lucia de Souza encaminhado ao Secretário do Verde e Meio Ambiente e
Olívia; Vânia Nely Ventura; Vera Lucia Rolim Salles; Vi- sua reprodução inserida no Relatório da Oficina, disponí-
viane Amaral; Yoshiko Marui. vel na Biblioteca da UMAPAZ.
18
seres humanos e os demais seres vivos, bem Tendo aberto a programação de 2006 com o Ciclo
como o consumo insustentável dos recur- de Palestras, já citado, iniciou, em abril de 2006, a
sos naturais do planeta, fomentam conflitos primeira turma do curso Educação Gaia, com 101
sócio-ambientais, esgotando os recursos na- alunos selecionados, em parceria com o GEESE, o
turais, o que por sua vez alimenta a violência Programa Permanente Ecobairro, do Instituto Ro-
e a destruição. Na cidade de São Paulo, esse erich da Paz e Cultura do Brasil, e o grupo Ecovila
diagnóstico é amparado por indicadores que São Paulo29:
revelam, por exemplo, que a qualidade do ar
“A Educação Gaia é um projeto educacional ela-
que respiramos nos retira um ano e meio da
borado por um grupo internacional de educado-
expectativa de vida, que a disponibilidade de
res com larga experiência em desenvolvimento
água potável está se reduzindo perigosamen-
e gestão de Ecovilas. A união de suas práticas
te e que é inaceitável o índice de mortes vio-
resultou na elaboração de um projeto curricu-
lentas na população.
lar educacional que pretende atender e apontar
Os signatários propõem, a partir desse diag- soluções para as diversas comunidades, rurais
nóstico, realizar atividades culturais e de e urbanas, visando a construção conjunta de
educação sócio-ambiental, produção e disse- um futuro sustentável para o planeta. A Educa-
minação de conhecimentos, em cooperação ção Gaia não é uma educação tradicional, an-
e de forma transdisciplinar, com o objetivo tes, constitui uma nova forma de educação que
de sensibilizar, conscientizar e capacitar ci- se pretende universal, uma educação especifi-
dadãos para a convivência sócio-ambiental camente designada para detectar e encontrar
ética, responsável, cooperativa, pacífica e de os desafios e as oportunidades pertinentes ao
reverência à vida. século XXI. O objetivo maior dessa educação é
Com o propósito de expressar a sua disposi- propiciar as condições e o poder necessário aos
ção e empenho em cooperar para que a UMA- indivíduos e comunidades para que estes, em
PAZ seja a Casa das Ações Unidas, espaço de se apropriando de conhecimentos, experiências
realização de iniciativas em parceria, onde e práticas, adquiram meios para modificar e
cada um ofereça e articule a contribuição de edificar a sua própria realidade.”30
seus saberes e experiências, assinam esta O curso, organizado em 4 módulos - Visão de Mundo,
carta aos cidadãos paulistanos, dirigentes Módulo Econômico, Módulo Social e Módulo Ecoló-
municipais e representantes eleitos dessa po- gico – recebeu no nome de Educação Gaia São Paulo
pulação, para que conheçam essas intenções e foi, também, a primeira das turmas do programa
de cidadania e apóiem a iniciativa, participan- realizado, pelo Gaia Education, em outros países31
do da sua viabilização de forma permanente
dentro de uma política sustentável. 29 | Depois substituído pelo CRIS – Centro de Referência
São Paulo, 10 de março de 2006, e Integração em Sustentabilidade.
30 | Termo de Referência do Curso de Educação Gaia,
verão.”
2006.
31 | No mesmo ano de 2006 foram realizadas turmas
4. A implementação do projeto do Gaia Education nos seguintes locais e países: Insti-
tuto Tonantzin, México, de 19 de junho a 14 de julho,
No período de 2006 a 2008, a UMAPAZ prosseguiu em Keimblatt Oekodorf, na Áustria, de 16 de julho a 6
dee agosto; em Crystal Waters, na Austrália, de 31 de
como um espaço de realização de iniciativas em
julho a 26 de agosto; em Sieben Linden, na Alemanha,
parcerias internas e com instituições do campo de de 19 de agosto a 17 de setembro; no Kibbutz Lotan,
conhecimento. em Israel, de 6 de setembro a 14 de novembro; em Ta-
20
de promoção social, tem o objetivo de qualificar os Na coordenação da UMAPAZ foi instalada, desde
agentes para observar os nexos entre causas e con- 2006, uma secretaria escolar43, que expandiu pro-
sequencias ambientais para a saúde individual e co- gressivamente seu trabalho para garantir infra-
letiva e agregar orientações para as famílias. Mais estrutura para os cursos e programas44, realizar
tarde, o PAVS foi incorporado à Estratégia de Saú- os registros dos cursos, alunos e professores e, a
de da Família da Secretaria Municipal de Saúde e, partir de 2007, os contratos dos palestrantes e ofi-
desde então, prossegue um trabalho conjunto com cineiros credenciados45.
a UMAPAZ, no reforço da capacitação e inclusão das
A possibilidade de contratar horas/aula de pales-
novas equipes41.
trantes e oficineiros constituiu importante diferen-
Em 2008, aumentou a oferta de cursos e, além da cial para a ampliação e diversificação progressiva
continuidade do trabalho com os profissionais de da programação46.
saúde, foi iniciado o Programa de Difusão da Carta
Em maio de 2008, compondo com o acervo vindo da
da Terra na rede municipal de educação, com 40 tur-
sede da Secretaria e aquele acumulado pela própria
mas descentralizadas, formadas com coordenadores
UMAPAZ, foi aberto o Espaço Sapucaia47, biblioteca
pedagógicos, diretores e professores de escolas da
especializada em meio ambiente e cultura de paz,
rede, nas 13 Diretorias Regionais de Saúde. Esse
para uso dos alunos e professores, mas também
Programa foi fruto de uma parceria estabelecida
aberto ao público48.
entre as Secretarias Municipais de Educação e do
Verde e Meio Ambiente, com a interveniência e apoio Em 2008, o projeto UMAPAZ recebeu o Prêmio São
da Iniciativa Internacional da Carta da Terra (Earth Paulo Cidade Inovação em Gestão Pública. Esse prê-
Charter Initiative), com sede na Costa Rica42. mio, iniciativa da Secretaria Municipal de Gestão,
por meio da Coordenadoria de Gestão de Pessoas e
Nos primeiros três anos (2006 a 2008) a UMAPAZ
recebeu, em sua sede, cerca de vinte mil pessoas/ 43 | A organização inicial foi feita por Débora Pontalti
ano. Nesse período conviveram, paralelamente, o Marcondes e, na fase subseqüente, assumida por Rodri-
projeto UMAPAZ, a Divisão de Educação Ambiental go Matos de Aquino.
no Departamento de Planejamento e quatro Núcle- 44 | Parte importante da infra-estrutura é o apoio áudio-
visual, para o que a UMAPAZ contou, desde o início com
os descentralizados, nas regiões Norte, Sul, Leste a equipe de Audio Visual da Secretaria, comandada por
e Centro-Oeste, com a atribuição de realizarem lo- Anderson Alonso e, depois, por Airan Silva Figueiredo.
calmente atividades de fiscalização, arborização e Além do apoio áudio-visual, o apoio operacional de Da-
educação ambiental. Os parques, vinculados à co- niel de Oliveira e da equipe da própria SVMA já citada.
ordenação de Áreas Verdes, se multiplicavam na 45 | Com a operacionalização dos contratos inicialmente
realizada por Alice K. Neme e que, no período subse-
cidade e, em parte deles, também eram oferecidas qüente, seria reforçada por José Maestro de Queiroz e
atividades de educação ambiental, como trilhas e Gilberto José Monteiro.
pequenos cursos. 46 | Isso foi viabilizado com a colaboração de Thiago Do-
nini, assessor jurídico da Secretaria, que elaborou o Edi-
41 | A relação da UMAPAZ com o PAVS contempla o nú- tal para o credenciamento de palestrantes e oficineiros,
cleo gestor na Secretaria Municipal de Saúde e, nos ter- com as normas para sua contratação.
ritórios, as organizações parceiras do PSF – Programa 47 | O nome foi escolhido olhando para o fruto da Sapu-
de Saúde da Família. caia, espécie nativa da qual há exemplares no Parque,
42 | O protocolo de intenções foi firmado em Seminário que parece um cofre cheio de sementes.
promovido na Amana Key, com a articulação de Mirian 48 | A biblioteca foi aberta com as bibliotecárias Eveline
Vilela, dirigente da Iniciativa Internacional., e Oscar Mo- Brasileiro Leal e Dulce Regina Bernardo Campos e apoio
tomura, com o Prefeito Gilberto Kassab e os Secretários de Madalena S.Rosa . Conta, atualmente, também com a
Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, do Verde e Meio bibliotecária Mayara Parolo Colombo Reibaldi e o apoio
Ambiente, e Alexandre Schneider, da Educação. de Patrícia Carla Hilário.
22
5. Institucionalização Descentralizada, relacionam-se, pela lógica da matriz,
com os departamentos de Áreas Verdes (DEPAVE)54;
A Lei 14.887, de janeiro de 2009, promoveu uma am- Controle e Fiscalização (DECONT), Educação Ambien-
pla reestruturação da Secretaria Municipal do Ver- tal (DEA-UMAPAZ) e Apoio a Políticas Públicas (DPP).
de e Meio Ambiente, buscando adequá-la às novas
Inovações importantes também foram instaladas pela
realidades, quer de seus programas e orçamento,
Lei de reestruturação no que diz respeito ao controle
que vinham crescendo exponencialmente, quer dos
social: o fortalecimento do CADES – Conselho Munici-
desafios apresentados à cidade pela necessidade
pal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
instância deliberativa, e a criação dos CADES regionais,
Toda essa movimentação administrativa teve signi-
Conselhos de Desenvolvimento Sustentável, Meio Am-
ficados importantes para a política de educação am-
biente e Cultura de Paz, um em cada Subprefeitura, de
biental e cultura de paz no município.
caráter consultivo, compostos, paritariamente, por re-
A reestruturação explicitou uma lógica inovadora, presentantes do poder público e da população.
matricial e em rede52 para a realização da política
Teoricamente, não há, em estruturas matriciais, su-
municipal para a questão ambiental, indicando a
bordinação entre as instâncias central e local. Elas
relevância das relações intersetoriais, quer com ou-
trazem a necessidade de diálogo e de projetos inte-
tros órgãos e instituições da estrutura municipal que
grados, orientados pelas respectivas atribuições. Essa,
com atores externos. Nessa dimensão, a reestrutu-
no entanto, não é a prática corrente na organização
ração dialoga com a Lei municipal que institui a po-
da Prefeitura, bastante hierarquizada e segmentada.
lítica de mitigação e adaptação a mudanças climáti-
É preciso considerar que quem realiza as propostas –
cas em São Paulo53, primeira do gênero a ser editada
inclusive as determinações legais – são as pessoas e,
no país e para cuja efetivação a Secretaria tem sido
se elas ainda não estiverem convencidas e preparadas
importante ator-fomentador de transformações na
para isso, tendem a se instalar pontos de resistência,
administração municipal.
quer por incompreensão, quer por discordância. Assim,
A Lei de reestruturação horizontalizou a Secretaria, não foi imediata a incorporação de mudanças que afe-
organizando-a em sete Departamentos: Gestão Des- tam modos tradicionais de relacionamento e as indica-
centralizada; Planejamento; Áreas Verdes; Controle e ções são que formato matricial ainda está em fase de
Fiscalização; Educação Ambiental/UMAPAZ; Apoio a absorção pelos integrantes da SVMA.
Políticas Públicas e Administração e Finanças e ins-
Vale lembrar que essa grande mudança ocorreu num
tituindo, com base regional, dez divisões de gestão
ambiente em que, além da expansão dos serviços
descentralizada, sendo duas na região Norte; duas na
prestados diretamente à população, houve uma am-
Centro-Oeste; três na Leste e três na Sul. Cada divi-
pliação progressiva do protagonismo da Secretaria
são descentralizada atua no território de três subpre-
no cenário da gestão socioambiental, coordenando ou
feituras, com atividades de controle e fiscalização, de
participando de iniciativas e foruns municipais, nacio-
arborização e biodiversidade e de educação ambiental,
nais e internacionais, como o Comitê Municipal de Mu-
além de participar dos conselhos regionais. As dez di-
danças Climáticas, a ANAMA55, o C4056, entre outros.
visões, coordenadas pelo Departamento de Gestão
52 | Inovadora do ponto de vista da Administração Mu- 54 | Pode ter sido uma contradição manter os parques sob
nicipal e da antiga estrutura da Secretaria, cujo modelo gestão direta do DEPAVE, já que eles estão nas regiões
prevalente é o piramidal, com o poder bastante cen- coordenadas pelas Divisões de Gestão Descentralizada.
tralizado no topo, planejamento também centralizado, 55 | Associação Nacional dos Secretários Municipais de
e vários escalões intermediários até chegar a base da Meio Ambiente.
pirâmide, onde o serviço encontra o cidadão. 56 | C 40: associação das maiores cidades do mundo, que
53 | Lei 14.933, de 5 de junho de 2009. se reunem periodicamente para compartilhar as solu-
24
vezes, conflitantes, cujos efeitos se explicitaram no e Carmo (em reforma) e a Escola Municipal de Astro-
tempo. O recém criado departamento acolheu, ao física, onde ofereceu novos cursos e programas para
mesmo tempo, um pólo de educação ambiental que educadores, estudantes e público em geral, como o
dedica especial atenção à questão da convivência, intitulado Família do Universo. É preciso registrar a
com a incorporação da cultura de paz, até então es- expressiva dificuldade na gestão dos Planetários pela
tranha ao ambiente da Secretaria e equipes com di- administração direta62.Embora conte com professores
ferente lógica de funcionamento. de alta especialização, a complexidade dos Planetários
de São Paulo impõe a necessidade de uma outra figura
A equipe do projeto UMAPAZ ficou, majoritaria- institucional63. Contudo, é igualmente importante re-
mente, na Divisão de Formação58, que foi se for- gistrar a capacidade de impacto que uma simples ses-
talecendo no tempo com outros integrantes, ser- são de planetário no público, em relação a percepção
vidores públicos que se propuseram a vir reforçar de sua identidade terrena e pertencimento ao sistema
esse trabalho, quer pela compatibilidade entre vivo do nosso conhecido universo e do desconhecido
os propósitos da organização com seus próprios e hipotético multiverso. Além das sessões abertas ao
propósitos, quer motivados, eles próprios, para publico em geral, a UMAPAZ instalou uma prática de
trazer inovações e questionamentos que foram inserir sessões nos cursos, como é o caso do curso Car-
enriquecendo o grupo. ta da Terra em Ação e Educação Gaia, onde se começa
a refletir sobre identidade e pertencimento a partir de
A Escola Municipal de Jardinagem59 manteve, com a uma sessão do planetário do Ibirapuera.
equipe própria, seus cursos tradicionais, que são muito
procurados; o Programa Crer-Ser, que focaliza jovens, A chamada diferenciação funcional (SCHAEFER,
iniciou o Curso Plantas Medicinais e acolheu, com pro- 2005) traz riscos e impõe a necessidade de trabalhar
nesse novo contexto sem fragilizar a criatividade e o
fessores contratados, um importante processo de des-
comprometimento das pessoas com o projeto. Se a
centralização e a capacitação de zeladores de praças.
metáfora da Fase Pioneira é a família, a metáfora da
A Divisão de Projetos Especiais60 manteve o progra- Fase de Diferenciação é o mecanismo.
ma A3P – Agenda Ambiental na Administração Pú-
Apesar disso, por ter sido concebida por uma rede de
blica, que não logrou a expansão desejada para toda pessoas e de instituições, cujos integrantes continua-
a estrutura municipal, embora tenha conseguido ram a participar da implementação do projeto, a Fase
apoiar alguns casos exemplares; o programa Trilhas de Diferenciação, tipificada pela transformação insti-
Urbanas, restrito a alguns parques, e incorporou tucional, também tem características das Fases In-
parte do trabalho de avaliação e o acompanhamento tegrativa e Associativa. A rede, composta por atores
de projetos conveniados com recursos FEMA.
A Divisão de Astronomia e Astrofísica61 continuou res- 62 | Quando o Departamento de Educação Ambiental –
UMAPAZ foi criado o Planetário do Carmo estava fecha-
ponsável por administrar os Planetários do Ibirapuera do. Sua edificação, inaugurada em 2005, logo apresentou
grave problema estrutural. Superado esse problema com
58 | Dirigida por Glacilda Pinheiro Correa Pedroso, pe-
custosa reforma, apresentou-se a necessidade de revi-
dagoga, até novembro de 2011 e, em seguida, por Ieda
são e restauro do planetário propriamente dito, isto é, do
Varejão, pedagoga.
complexo equipamento, impondo a importação de peças e
59 | Dirigida por Cristina Pereira Araújo, arquiteta, dou- tratamento técnico especializado para seu restauro. O Pla-
tora em Planejamento Urbano e Regional pela FAU/USP. netário do Carmo foi reaberto em 28 de setembro de 2012.
60 | Dirigida por Thais Prado Horta até julho de 2012 e, 63 | Como o modelo de fundação, por exemplo, ou seu
atualmente, por Sonia Jabour. deslocamento para uma universidade, com maior agi-
61 | Dirigido por André Luiz da Silva, até dezembro de lidade e capacidade tanto para a manutenção e a atu-
2010 e João Paulo Delicato, físico e astrônomo, a partir alização dos equipamentos como para contratação de
de janeiro de 2011. pessoal especializado.
26
programas de sensibilização, abertos, focali- coletivos. Diz Maturana (1998) que “como vivemos é
zados em faixas etárias ou intergeracionais, como educaremos, e conservaremos no viver o mundo
com atividades artísticas, corporais, coopera- que vivemos como educandos. E educaremos outros
tivas, meditação, rodas de conversa e diálo- com o nosso viver com eles, o mundo que vivemos ao
gos, palestras, exposições; conviver”. As trilhas nos parques são oportunidades
para que nossos olhos se abram para todos os seres
programas de formação e capacitação, aber-
que os habitam, para seus hábitos, para as relações
tos, mediante inscrição e seleção, aprofun-
e intervenções humanas nesses espaços. Somando-
dando estudos de situação, reflexões e ofe-
se à instituição das dez divisões de gestão descen-
recendo instrumentos de ação, por meio de
tralizada, os parques passaram a demandar progra-
cursos que variam de 360 h a 20 h, mini cursos
mas realizados localmente. A Escola de Jardinagem
de 16 h a 4 h, seminários e encontros;
ofertou dezenas de mini-cursos de jardinagem, horta
programas instersetoriais para multiplica- e paisagismo nos parques e a Divisão de Formação
dores, focalizando públicos com potencial de levou programas de sensibilização, como danças cir-
reedição, como educadores, profissionais de culares, tai-chi, contação de histórias, arte e susten-
saúde, guardas civis municipais, lideranças de tabilidade para esses espaços.
organizações não-governamentais, conselhei-
Na área de Jardinagem foi crescente o volume de
ros, servidores públicos.
horas/aula oferecidas à população (de 2.500 horas/
Em todos esses tipos há programas realizados dire- aula em 2009 para quase 5.000 em 2011). Além
tamente pelas equipes próprias e professores con- de turmas sucessivas dos cursos tradicionais de
tratados e outros realizados em parcerias internas, Jardinagem, Paisagismo, Orquídeas e Hortas, e das
com Parques e Divisões Descentralizadas, ora com turmas do Programa Crer-Ser, que focaliza jovens,
órgãos da própria administração, numa perspectiva trabalhando integradamente a capacitação em jar-
intersetorial, ora em parceria com organizações do dinagem com o desenvolvimento de temas sobre
Terceiro Setor. cidadania, foram realizadas oito turmas do Curso
Vale considerar que o programa 100 Parques, da Se- Plantas Medicinais, parceria com a área da Saúde,
cretaria, por meio do qual a Municipalidade expandiu que tem o propósito de disseminar conhecimentos
de 34 para 85 (até outubro de 2012)72 os parques aber- sobre práticas integrativas e fitoterapia, reunindo
tos à população paulistana, é talvez o maior programa especialistas de diversas organizações e pesquisa-
de educação ambiental da gestão73 . Os parques são dores. Foram preparados e publicados o Manual do
espaços educadores naturais da Cidade, lugares privi- Curso de Jardinagem e o Manual de Plantas Me-
legiados de convivência, os nossos jardins e quintais dicinais e estão no prelo os Manuais do Curso de
Horta e de Cultivo de Orquídeas. A Escola de Jardi-
nagem assumiu a capacitação de mais de dois mil
so é produzido, para o Gabinete do Prefeito, um balanço
mensal, onde os cursos e atividades produzidos são or- Zeladores de Praças, programa intersetorial com a
ganizados por Subprefeitura. Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho e as
72 | Estão previstos 100 parques até dezembro de 2012. Subprefeituras.
73 | A possibilidade de reconexão com a natureza, de que
A área de Formação ampliou, progressivamente, a
fazemos parte, é essencial para o respeito à vida, fonte e
lago da educação ambiental. O contato promove a sen- quantidade de horas/aula/atividade e diversificou a
sibilização e a prontidão para que as idéias mergulhem oferta aos cidadãos, ampliando muito o número de
na experiência e a construção do conhecimento se com- pessoas atendidas. Em 2009, foram oferecidos 163
plete. Nesse sentido, reconhecemos a multiplicação dos
parques pela cidade como parte da estratégia de educa-
cursos, três mil e quinhentas horas e atendidas vinte
ção socioambiental e de cultura de paz. mil pessoas. Em 2010, 206 cursos, quatro mil e qui-
28
citadas pela Escola Municipal de Jardinagem e tra- propósito de sinergia e alcance de resultados transfor-
balhando nas praças de São Paulo. madores. Pessoas e instituições do Terceiro Setor aju-
Em 2011, uma nova parceria começou a se articular daram a conceber a UMAPAZ e as que se agregaram a
com a Defesa Civil da Secretaria de Segurança Urba- sua visão e propósito no tempo vêm emprestando seu
na, em torno da questão dos riscos e vulnerabilida- apoio para o andamento exitoso das suas atividades.
des presentes nas diferentes regiões da cidade, no Isso tem ocorrido de várias formas, desde a ajuda na
sentido de apoiar a organização da sociedade civil e divulgação de eventos e programas, até a identificação
sua relação com órgãos municipais ou estaduais que de temas, palestrantes, oportunidades e, mesmo, a
podem contribuir para prevenir desastres e prestar participação voluntária ativa, em atividades do inte-
apoio em situações de vulnerabilidade. Essa parce- resse da instituição e seus freqüentadores.
ria iniciou-se com um Seminário, reunindo dirigentes Por causa dessa rede a UMAPAZ tem oferecido aos
e educadores ambientais da UMAPAZ e dez Divisões cidadãos, sem ônus, oportunidades de dialogar com
de Gestão Descentralizada e prosseguiu com reu- personalidades que seria difícil e custoso contratar,
niões regionais de modo a construir um espaço de como o especialista em mediação de conflitos, o no-
compartilhamento e construção de conhecimentos ruegues Johan Galtung77; May East, Diretora do Gaia
sobre riscos e vulnerabilidades, formas de preven- Education78 e Christopher Mare, articulador do currí-
ção de desastres, remediação de situações e proces- culo Educação Gaia: Design em Sustentabilidade79,
sos de adaptação. O objetivo é alcançar e ampliar o Dr. Brendan Mackey, Chairman do Conselho da Terra,
envolvimento de conselheiros e lideranças das co- pesquisador especialista em florestas80, entre outros.
munidades em atividades de defesa civil, o que está
Em 2009, houve a possibilidade de fazer um Edital
ocorrendo em parceria com as equipes locais.
para chamamento de organizações da sociedade civil
A histórica segmentação do aparelho formador em que se interessassem por realizar projetos de educa-
clausuras setoriais foi copiada pelas estruturas de ção ambiental, com financiamento do FEMA – Fundo
gestão do Estado. O modelo setorializado da estru- Especial do Meio Ambiente. Esse processo, fruto de
tura governamental, que se repete nas três esferas uma parceria interna com o Departamento de Apoio a
de governo, vem dando mostras de incapacidade para Políticas Públicas da Secretaria, possibilitou que fos-
a solução de problemas completos e uma das formas sem firmados convênios com 12 organizações.
de minimizar seus efeitos têm sido os projetos ma-
Em 2010, novo Edital para projetos de educação am-
triciais, com objetivos comuns e ações articuladas de
biental foi aberto, com a apresentação de 180 propos-
um conjunto de órgãos. A Secretaria do Verde e Meio
tas, das quais 50 foram aprovados para convênio. O
Ambiente e a UMAPAZ têm compreendido que é es-
sencial envolver outras áreas para o encaminhamen- Departamento de Apoio a Políticas Públicas (DPP)81
to de questões socioambientais, pois as mesmas não 77 | Trazido pela Associação Palas Athena, em 2008. A
estão contidas em um só setor, quer na compreensão Palas Athena, parceira de primeira hora, durante todos
quem nas possibilidades de atuação e solução. Assim, esses anos ofereceu numerosas vezes palestras e arti-
culou atividades conjuntas com a UMAPAZ, contribuindo
em suas propostas e projetos, inclusive na educação com a inspiração e a realização da programação.
ambiental, tem se dedicado a essa articulação inter- 78 | E outros educadores para o Curso Educação Gaia,
setorial, compreendendo a necessidade de articula- realizado com os Grupos Ecobairro e Cris, com o apoio
ção de diferentes saberes e poderes para alcançar do Gaia Education, Findhorn em 2006, 2007 e 2008, da
UNINOVE em 2009, dos Cursos Gaia de Porto Alegre e do
sinergia e potência transformadora.
Rio de Janeiro em 2010.
No entanto, a articulação intersetorial não se restrin- 79 | Trazido pelo Gaia Education em 2009.
ge às relações intragovernamentais, mas estende essa 80 | Trazido pela Earth Charter Initiative, em 2010.
rede com organizações do Terceiro Setor, com o mesmo 81 | Dirigido por Helena Maria Campos Magoso.
30
Em 2012, iniciou-se um trabalho com o Instituto A equipe da Escola Municipal de Jardinagem tem 19
de Biociências da USP, a partir de uma Mostra No servidores, sendo 11técnicos87. A divisão de projetos
Mundo da Terra, realizada na Escola Municipal de especiais conta com cinco técnicos88 e a divisão de
Astrofísica, que, em sua primeira edição, já reuniu Astronomia e Astrofísica conta com 24 servidores,
800 visitantes. sendo 10 professores e técnicos89
Finalmente, esta publicação também é fruto de uma Na diretoria do Departamento, a equipe da bibliote-
parceria com o Rotary Club de São Paulo e o Institu- ca90 e a equipe de apoio administrativo e de gestão91
to Paulo Viriato Correa da Costa – IPVCC. servem a todas as divisões. A Escola Municipal de
Astrofísica tem uma biblioteca própria especializada
Para dar conta desse volume e diversidade de pro-
no tema92.
gramação, a equipe da UMAPAZ cresceu e, também,
se diversificou. Para trazer constantes inovações à programação e
viabilizar a expansão descentralizada das atividades
A Divisão de Formação, núcleo inicial da UMAPAZ,
da UMAPAZ e das Divisões de Gestão Descentralizada
que contava, em 2006, com dez técnicos, tem, em tem sido possível contar, também, com a contrata-
2012, dezesseis educadores ambientais, com di- ção de professores por hora/aula. Desde 2007 é anu-
versificado perfil de formação básica: pedagogia, almente publicado um Edital de credenciamento de
biologia, ecologia, geografia, geologia, sociologia, palestrantes e oficineiros, que devem preencher cri-
fonoaudiologia, psicologia, engenharia, arquitetura térios de formação e experiência nas áreas em que se
e economia85. Do total da equipe técnica, 80% são inscrevem, além da documentação pertinente. Após a
servidores públicos concursados, apenas três servi- publicação de seu credenciamento, o palestrante ou
dores são nomeados para cargos em comissão. Essa oficineiro está apto para ser convidado a participar
proporção foi intencionalmente procurada, com a de um programa da UMAPAZ ou de propor um curso,
atribuição de cargos de livre provimento a servidores
públicos concursados, de modo a dar maior estabili- 87 | Roberto Martin, Nilce Morais Pinto, Oswaldo Barre-
dade à equipe técnica86. to de Carvalho, Assucena O. Tupiassu, Linete Maria Ha-
raguichi, Juscelino Nobuo Shiraki, Elaine Martins Diaz,
Adão Luiz Castanheiro Martins, Mário do Nascimento
85 | André Luis Moura de Alcântara; Angelica Berenice Júnior, Patrícia Morales Bertucci e Rivelene Cristini F.
de Almeida; Estela Maria Guidi Pereira Gomes; Débora Waldvogel, com a coordenação de Cristina P. Araujo.
Pontalti Marcondes; Eduardo Coelho e Mello Aulicino; 88 | Sonia Joana Jabur Salomão, Paula Carlina Favareto
Eveline Limaverde; Georges Fouad Kherakian Jr.; Glacil- Santos, Virgínia Talaveira Valentini Tristão, Rosana Be-
da Pinheiro Pedroso Correa; Gustavo Agni Beuttemuller; gueldo e Silvia Neves Gobeti Gomes, com a coordenação
Lia Salomão Lopes; Márcia Amélia Moura; Nadime Bou- de Thais Prado Horta.
eri, Regina Luisa de Barros; Suely Feldman Bassi; The-
89 | Ana Carolina de Souza Pimentel, Irineu Gomes Va-
reza Rosa Valério Igor P. Vitorino; Vitor Octávio Lucato,
rella, Otávio Augusto Triverio Dias, Paulo Gomes Varella,
com a coordenação de Ieda Varejão.
Regina Auxiliadora Atulim, Youssif Chantous Filho, Wal-
86 | A Prefeitura de São Paulo não tem carreira de edu- mir Tommazzi Cardoso, Lívia Camargo Cruz, Gregório
cador ambiental. Existe um projeto de lei, tramitando Paoli Conrado Sabbag, Maria Paula Bacchin Zappa Leite,
para sua instituição, o que possibilitará a contínua reno- com a coordenação de João Paulo Delicato.
vação dos cargos, tanto para a UMAPAZ como para as
90 | Dulce Regina Bernardo Campos, Eveline Brasileiro
Divisões de Gestão Descentralizadas. A proposta formu-
Leal, Mayra Maris Ribeiro, Madalena S. Rosa.
lada por um grupo de educadores da UMAPAZ e das Divi-
sões de Gestão Descentralizadas indicou a importância 91 | Rodrigo Matos Aquino, Alice K. Neme, José Maestro
de termos como formação básica pessoas originárias de de Queiroz, Gilberto José Monteiro, Maria de Lourdes
vários cursos. Entende-se que uma equipe de formação Diniz, Danilo Scudillo, Ronaldo Medalskas, Elizete de
multidisciplinar é mais adequada para o trabalho de Oliveira Buriti Leonor.
educação ambiental. 92 | Priscilla Di Cianni Ferraz de Oliveira.
32
e não contempla diferenciação por desempenho. liar as atividades realizadas. O Conselho é constituído
Houve apenas algumas oportunidades. Uma delas por cinco pessoas de reconhecido saber na área, cin-
foi o próprio Curso de Especialização, com a UNESP, co instituições e três representantes da Secretaria. O
inteiramente gratuito e oferecido na sede da UMA- mandato do primeiro grupo de Conselheiros é de 23 de
PAZ, oportunidade que foi aproveitada por seis in- setembro de 2011 a 23 de setembro de 2013 98,. As atas
tegrantes da equipe, além de servidores de outros ficam disponíveis na internet, no site da Secretaria..
departamentos da própria SVMA e outros órgãos da
O Conselho teve papel importante nas definições
Administração. Outra oportunidade foi a de mostrar
da programação de 2012, propondo, entre outras
trabalhos desenvolvidos. Alguns técnicos tiveram
orientações, um foco na Conferência Internacional
trabalhos aprovados e foram apresentá-los no VI
Rio+20, o que de fato ocorreu, com um ciclo de pa-
Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, em Sal-
lestras sobre a própria Conferência e seus temas. No
vador (BA), na Conferência Internacional Cidades
âmbito da Rio+20 houve dois encontros promovidos
Educadoras, em Chagwon, em Seul, e na Cúpula dos
pela Earth Charter Initiative, em um deles foi lança-
Povos por ocasião da Conferência Internacional das
da a Rede Brasil da Carta da Terra, que a UMAPAZ
Nações Unidas para o Meio Ambiente, Rio+20, va-
passou a integrar, no outro, no dia 19 de junho de
lorizando a contribuição de cada um.
2012, a UMAPAZ participou da mesa de debates e foi
Finalmente, como todas as instituições públicas, lançado o vídeo São Paulo: Cidade Educadora99
a UMAPAZ está aberta ao controle da sociedade,
mais amplo do que a avaliação dos cidadãos que 98 | Portaria 109 /SVMA.G/2011: Representantes de en-
usufruem diretamente de seus serviços. Por esse tidades com missão ou objetivos na área de educação
socioambiental que compartilhe os seguintes valores:
motivo, o projeto UMAPAZ foi, antes mesmo de seu responsabilidade ambiental, transdisciplinaridade, in-
detalhamento, apresentado ao CADES – Conselho terculturalidade, acesso universal à informação, cultura
do Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, de paz e não-violência: Entidade - Iniciativa Internacio-
em 16 de julho de 2005. Em sessão de 20 de julho de nal da Carta da Terra - Titular – Mirian Vilela, Suplente
– Cristina Moreno; Entidade - Instituto Roerich da Paz e
2011, a UMAPAZ, já como Departamento de Educa- Cultura do Brasil - Titular – Paulo Cesar dos Santos, Su-
ção Ambiental, voltou ao CADES apresentando um plente – Lara Cristina Batista Freitas; Entidade - Asso-
relato de seu evolver e produção. ciação Palas Athena - Titular – Lúcia Benfatti, Suplente
– Flávia Faria; Entidade - Centro de Referência e Inte-
Em 9 de novembro de 2011, a UMAPAZ, atendendo a gração em Sustentabilidade - Titular – Marcelo Todes-
convite, apresentou seu histórico e relatório de ati- can, Suplente – Mônica Picavéa; Entidade - Aliança pela
Infância (rede) - Titular – Ute Craemer, Suplente – Gio-
vidades à Comissão de Meio Ambiente da Câmara do vana Barbosa de Souza; Representantes publicamente
Município de São Paulo, em sessão pública. reconhecidos com notório saber nas áreas de educação
socioambiental, disseminadores dos seguintes valores:
Também em 2011, ocorreu a nomeação do seu Conse- responsabilidade ambiental, transdisciplinaridade, in-
lho Consultivo97, que tem a finalidade de opinar sobre terculturalidade, acesso universal à informação, cultura
as metas e linhas de atuação da Universidade Aberta de paz e não-violência: Fábio Feldman, Maria Lúcia (Ma-
luh) Barciotte; Magnolia Costa; Rita de Cássia Bernardo
do Meio Ambiente e Cultura de Paz – UMAPAZ, e ava-
Mendonça e Sandra Inês Baraglio Granja; Representan-
97 | Previsto na Lei nº 14.887, de 2009, com 13 membros, tes da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
sendo três componentes do Poder Público Municipal, es- – SVMA - Departamento de Educação Ambiental e Cul-
colhidos dentre o quadro de servidores da UMAPAZ e tura de Paz – UMAPAZ: Glacilda Pinheiro Correa Pedroso,
dez representantes da Sociedade Civil, sendo cinco re- Thais Pedroso Horta e Rose Marie Inojosa (presidente).
presentantes reconhecidos como de notório saber e cin- 99 | Esse vídeo sobre o trabalho orientado pela Carta
co representantes de entidades que tenham missão ou da Terra desenvolvido na UMAPAZ, foi realizado mercê
objetivos na área de educação socioambiental e cultura da articulação da Mirian Vilela com o consultor Oscar
de paz e que compartilhem os valores orientadores da Montomura, dirigente da Amana-Key, organização que
UMAPAZ. também trabalha com a Carta da Terra, no âmbito do
34
que são essenciais à manutenção da vida, especial- justiça econômica e numa cultura da paz. Para
mente da vida humana, no futuro. E isso se dá de for- chegar a este propósito, é imperativo que, nós,
ma extremamente desigual entre as regiões, grupos, os povos da Terra, declaremos nossa responsa-
pessoas. Tudo isso configura uma situação de risco. bilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade da vida, e com as futuras gerações.
Do ponto de vista das relações sociais também
precisamos ser reapresentados, pois, a mudança é Essa “reapresentação” é necessária para que possa-
vertiginosa. Princípios e valores são rapidamente mos estar aqui e “sermos no mundo”, como explica
mudados, substituídos. Abandonamos velhos pre- Sauvé (2005):
conceitos, mas geramos outros tantos. Em ambiente A trama do meio ambiente é a trama da própria
de escassez ou de alto consumo, eclodem conflitos vida, ali onde se encontram natureza e cultura;
entre grupos e nações, pelo acesso e apropriação o meio ambiente é o cadinho em que se forjam
dos recursos, que nutrem relações violentas nas so- nossa identidade, nossas relações com os ou-
ciedades e entre os grupos que as compõem. tros, nosso “ser-no-mundo”.A educação am-
Assim, precisamos todos, crianças, jovens e adultos, biental não é, portanto, uma “forma” de edu-
sermos novamente apresentados ao mundo: ao Pla- cação (uma “educação para...”) entre inúmeras
neta do qual fazemos parte e, talvez, uns aos outros. outras; não é simplesmente uma “ferramenta”
para a resolução de problemas ou de gestão do
“Vive-se, no início do século XXI, uma emer- meio ambiente. Trata-se de uma dimensão es-
gência que, mais que ecológica, é uma crise do sencial da educação fundamental que diz res-
estilo de pensamento, dos imaginários sociais, peito a uma esfera de interações que está na
dos pressupostos epistemológicos e do co- base do desenvolvimento pessoal e social: a da
nhecimento que sustentaram a modernidade. relação com o meio em que vivemos, com essa
Uma crise do ser no mundo que se manifesta “casa de vida” compartilhada. (...)É preciso re-
em toda sua plenitude: nos espaços internos construir nosso sentimento de pertencer à na-
do sujeito, nas condutas sociais autodestru- tureza, a esse fluxo de vida de que participamos.
tivas; e nos espaços externos, na degradação
Então, essa é a primeira orientação da abordagem
da natureza e da qualidade de vida das pesso-
metodológica da UMAPAZ: reconstruir o sentimento
as.“ (JACOBI,2005:240)
de pertencimento e de interdependência sistêmica
Como diz o preâmbulo da Carta da Terra: do Planeta e uns dos outros. E reconhecer os compo-
nentes éticos dessa teia, diversificada, assimétrica e
Estamos diante de um momento crítico na his-
dinâmica: respeito a todas as formas de vida, coo-
tória da Terra, numa época em que a humanida-
peração e solidariedade. Por isso, não distinguimos
de deve escolher o seu futuro. À medida que o
educação ambiental e educação para a paz102, con-
mundo torna-se cada vez mais interdependen-
sideradas aqui, e na programação da UMAPAZ, como
te e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo,
componentes inseparáveis do ser no mundo.
grandes perigos e grandes promessas. Para se-
guir adiante, devemos reconhecer que no meio 102 | A UMAPAZ nasceu no bojo da década internacional
da cultura de paz, introduzindo a reflexão sobre nosso
da uma magnífica diversidade de culturas e for-
modo de conviver e buscando difundir reflexões e tec-
mas de vida, somos uma família humana e uma nologias de convívio e de resolução pacífica de conflitos.
comunidade terrestre com um destino comum. O respeito a vida, a todos os seres e aos semelhantes
Devemos somar forças para gerar uma socieda- é o ponto focal da cultura de paz que busca contribuir
para a mudança do paradigma ainda vigente, que usa a
de sustentável global baseada no respeito pela violência nas relações de poder em todas as dimensões,
natureza, nos direitos humanos universais, na inclusive no cotidiano.
36
pode navegar segundo seus interesses e possibilida- visão da unidade na diversidade e da diversidade que
des, montando seu próprio desenho de desenvolvimen- compõe a unidade, fundamento de uma prática so-
to, com o apoio dos integrantes da equipe. cial integrada, cooperativa e solidária.
A UMAPAZ busca proporcionar um espaço para vi- Para facilitar esse processo é preciso considerar e
vência e reflexão na busca de novas aprendizagens acionar as “caixas de brinquedos e de ferramentas”104
de uma ação transformadora entre o personagem e o de cada um, Não uma ou outra, mas uma e outra,
ser, sugere e propõe a liberdade de escolha e a pos- transformando uns e outros e uns em outros, de modo
sibilidade do uso desse método como instrumento a despertar e desenvolver o prazer dessa aventura-
auxiliar para redimensionar a temática do universo ventura compartilhada de ensinar e aprender.
do individuo em suas inquietações em seus proces-
Rubem Alves diz que engendrou essa metáfora das cai-
sos de aprendizagem. Os aspectos pessoais, sociais,
xas a partir da reflexão filosófica de Santo Agostinho
educacionais, culturais dentre outras escolhas do
sobre a ordem do “uti”, do que é útil, utilizável, uten-
ser humano têm duas importantes características:
sílio, e a ordem do “frui’, do fruir, usufruir, desfrutar,
a razão e a emoção. A metodologia do livre per-
amar uma coisa por ela mesma. “As coisas da caixa de
curso de aprendizagem proporciona que o indivíduo
experimente, tenha experiências onde o corpo, o ferramentas, do poder, são meios de vida necessários
pensamento e as sensações se manifestem espon- para a sobrevivência”, diz Alves. A ciência está nessa
taneamente no processo de aprender, de construir categoria, pois além de ensinar o uso das ferramentas
conhecimentos, por meio de fazeres e saberes que inventadas guarda o saber de como se fazem as ferra-
despertem e desenvolvam o encanto misterioso do mentas, para que continuemos inventando. Mas, alerta
sonhar, do brincar, equilibrando razão e emoção. o autor, as ferramentas não nos dão razões para viver,
são chaves para abrir a caixa dos brinquedos, onde es-
À medida que inicia qualquer atividade de aprendi- tão as coisas que geram alegria: poesia, música, pintu-
zagem na UMAPAZ o indivíduo pode ir despertando ra, escultura, dança, teatro, culinária...
e relacionando necessidades e desejos de aprender,
numa crescente interação, ajustando os desejos à A UMAPAZ trabalha com a perspectiva de que é
sua inquietude, fazendo sua livre escolha de como possível – e desejável - misturar o conteúdo des-
quer estar na vida. Por isso o uso da mandala103 como sas caixas para apreender com alegria, para se en-
imagem-metáfora dessa proposta, que se compõe cantar e compreender ao mesmo tempo, começando
de círculos e desenhos que se interpenetram e con- por onde cada um puder, seguindo a borboleta azul.
duzem a atenção ao espaço central, do indivíduo, Conta Marina Silva105 que seu tio ensinava que se al-
do grupo ou do universo, simbolizando integração e guém se perdesse “e visse uma borboleta azul, era
unidade. Essa imagem pode ser utilizada para sim- só segui-la que ela nos levaria para a clareira mais
bolizar o processo de diálogo dinâmico e consciente próxima e de lá acharíamos o caminho de casa.”. En-
entre práticas e saberes de cada indivíduo, capaz de canto. Essa grande borboleta da floresta gosta de
gerar uma visão mais abrangente e integradora do pousar em frutas como banana e mamão maduros e
seu próprio ser e atuação no mundo. E, também, por busca clareiras onde haja um roçado de frutas. “E lá
meio de oportunidades de compartilhamento desse perto, certamente haverá uma casa.” Entendimento.
processo em grupo, que valoriza as experiências e
os achados de cada um, propiciar a ampliação da 104 | A metáfora da caixa de brinquedos e da caixa de
ferramentas é do Rubem Alves. O texto está disponível
103 | A mandala é uma imagem recorrente em muitas cul- em www.rubemalves.com.br/resumindo.htm.
turas primitivas e modernas (hindu, chinesa, grega, egípcia, 105 | Do texto “Atrás de uma Borboleta Azul” de Marina
islâmica, tibetana, asteca, aborígene, européia), em todos Silva, professora de história, ex-senadora pelo Acre, ex-
os continentes. Carl Jung a ela se refere em O homem e Ministra do Meio Ambiente do Brasil, publicado em 15 de
seus símbolos (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006). julho de 2008 pelo portal http:terramagazine.terra.com.br.
38
Referências Bibliográficas MENEZES, Ulpiano Bezerra de
A História, cativa da memória? Para um mapea-
ALVES, Rubem mento da memória no campo das Ciências Sociais
Gaiolas e Asas, jornal Folha de S. Paulo, Tendên- in Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 34,
cias e debates, 05/12/2001 São Paulo: USP, 1992: 14
Resumo Abstract
Este texto trata do trabalho da Universidade Aberta This text deals with the work of the Open University
do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ) com a of the Environment and Culture of Peace (UMAPAZ)
Carta da Terra, como o discurso orientador do traba- with the Earth Charter as the guiding discourse of
lho de educação ambiental da Universidade Aberta, environmental education at the Open University, de-
descreve e comenta como a Carta da Terra foi colo- scribes and comments on how the Earth Charter was
cada em Ação na cidade de São Paulo, por meio de put into action in São Paulo, through two programs:
dois programas: o de Difusão da Carta da Terra na the Diffusion of the Earth Charter in the municipal
rede municipal de educação de São Paulo e Carta da education of São Paulo and the Earth Charter in Ac-
Terra em Ação. Ao final o item bibliografia e outras tion at the end of the bibliography records and other
referências é utilizado para identificar parte dos au- references that have been used as references for
tores e obras que têm sido utilizados como referên- programs .
cias para os Programas. Keywords: Earth Charter, carteiros, methodology,
Palavras-chave: Carta da Terra, carteiros, metodo- training, urban environmental agents.
logia, formação, agentes socioambientais urbanos
40
1. Introdução fundamentos do desenvolvimento sustentável, pro-
pondo, assim, uma mudança de paradigma.
A Carta da Terra, como discurso orientador do traba-
Na Rio92113, integrantes da Cúpula da Terra, que
lho de educação ambiental da UMAPAZ, é o tema de
reuniu grupos diversos de atores da sociedade civil,
abertura destas reflexões.
começaram a produzir a declaração que viria a ser a
A seguir, são apresentados dois programas da UMA- Carta da Terra114. Dois anos depois, em 1994, Mauri-
PAZ que trabalham especificamente com a Carta da ce Strong, presidente do Conselho da Terra, e Mikhail
Terra: o Programa de Difusão da Carta da Terra na Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional,
rede municipal de educação e o Programa Carta da assumiram a implementação da iniciativa, iniciando
Terra em Ação. São programas concebidos a partir uma série de consultas internacionais para a formu-
da visão da potência da Carta da Terra para inspirar, lação da Carta da Terra. Progressivamente, vários
orientar e estimular a análise crítica das situações grupos foram se agregando à Iniciativa da Carta da
socioambientais e resultar em ações cooperativas Terra e formando comitês nacionais, que alcançaram
na comunidade, capazes de contribuir para um novo 45 países, o que demonstra a riqueza do movimento
paradigma de convivência, sustentável e pacífica. e a delicadeza necessária para encontrar consensos
em diferentes culturas. Em março de 2000, a Comis-
Assim, no segundo capítulo, é abordado o programa são da Carta da Terra se reuniu em Paris, França,
voltado para educadores da rede municipal de edu- para acordar a versão final do documento, e o lan-
cação, tendo como subitens o histórico da parceria çamento oficial ocorreu em junho, no Palácio da Paz,
entre as áreas de meio ambiente e da educação da em Haia115.
prefeitura de São Paulo, a organização da primeira
O resultado é um código de ética para a convivência
fase do programa em 2007/2008, em todas as Dire-
planetária, que propõe e orienta uma mudança de
torias Regionais de Educação (DRE) e a organização
paradigma, com vistas à construção de uma socie-
e o desenvolvimento do trabalho na sua segunda
dade global sustentável, com respeito à vida, mais
fase, nas DRE, em 2011.
equânime e pacífica. A partir do respeito à vida – a
No terceiro capítulo, é apresentado o Programa todas as formas de vida, seu ponto fulcral, a Carta
Carta da Terra em Ação, aberto a pessoas de várias da Terra desenvolve, como eixos interdependentes e
faixas etárias, ocupações e regiões de origem, abor- complementares: a integridade ecológica; a justiça
dando conteúdos, metodologias, perfil e manifesta- social e econômica, a democracia; a cultura de paz
ção dos participantes. e não violência.
Ao final apresenta um elenco de referências biblio- A Carta da Terra apresenta à humanidade os desa-
gráficas, vídeos e sites que têm sido utilizados nos fios presentes e futuros e é um chamado a novas
Programas. escolhas e à responsabilidade coletiva dos habi-
tantes do planeta. Por isso, o documento deflagrou,
também, um movimento de mobilização e de ação.
2. A Carta da Terra
As propostas do movimento Carta da Terra apontam
A Carta da Terra é um documento e um movimento. para mudanças profundas na sociedade, inclusive no
A sua formulação teve origem em recomendação fei- 113 | Conferência Internacional do Meio Ambiente, reali-
zada, em 1992, no Rio de Janeiro.
ta, em 1987, no relatório da Comissão Mundial sobre
114 | Reproduzida por Moacir Gadotti no livro A Carta da
Meio Ambiente e Desenvolvimento, das Nações Uni- Terra na Educação.
das, a chamada Comissão Brundtland, para a criação 115 | Essa história é relatada nos sites www.cartadater-
de uma declaração universal que estabelecesse os rabrasil.org.br e www.earthcharterinaction.org.
42
ma de Difusão da Carta da Terra na rede municipal de Figura 1. Logotipo do Programa Difusão da Carta
educação de São Paulo, tendo por propósito: difundir da Terra na rede municipal de educação.
os valores e princípios da Carta da Terra na rede mu-
nicipal de educação, contribuindo para a promoção
do equilíbrio e da sustentabilidade sócio ambiental.
A dinâmica escolhida para a parceria foi promover
Encontros sobre os princípios e conteúdos da Carta
da Terra, entre educadores da rede municipal de edu-
cação, especialmente coordenadores pedagógicos e
diretores de escolas – pela sua capacidade de multi-
plicação e influência – e educadores socioambientais
da UMAPAZ – Universidade Livre do Meio Ambiente
e da Cultura de Paz, visando a sua aplicação nos pro-
jetos pedagógicos e atividades das escolas da rede
pública municipal, que atingem cerca de um milhão
de crianças e adolescentes.
A primeira ação da parceria foi a reprodução de 65
mil exemplares da Carta da Terra para distribuição
para todos os professores da rede municipal de
educação119.
Em seguida, as equipes das duas Secretarias articu- Fonte: Assessoria de Comunicação da SVMA
laram a forma de realização do programa, iniciando
com reuniões em cada uma das treze diretorias re- O Programa teve duas fases intensivas. A primeira
gionais da educação, para informar sobre o progra- de setembro de 2007 até outubro de 2008, quando
ma e definir, com elas, a dinâmica do processo e o foram realizados treze reuniões de divulgação121 e
perfil das turmas120. dez Encontros sobre a Carta da Terra para cada uma
das 42 turmas constituídas. A segunda, de agosto a
dezembro de 2011, com quatro Encontros, para cada
na rede municipal de educação, também havia escolas
que trabalhavam com ela, porém, não havia um trabalho uma das 23 turmas de educadores. No intervalo dos
conjunto orientado pelos seus valores e conteúdos. Encontros e em 2012, a UMAPAZ manteve a oferta
119 | “A rede municipal de ensino da cidade de São Paulo de um conjunto de cursos e programas aos educado-
é o maior sistema do país, com quase um milhão de alu- res, visando a manter a mobilização.
nos, 9,2% dos 10,8 milhões de habitantes da cidade (...)
com mais de 84,6 mil funcionários, entre educadores e
pessoal de apoio, a rede tem 1449 escolas sob adminis- 2.2 A organização do programa
tração direta da Secretaria Municipal da Educação (....)”
Fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br. As primeiras ações do Programa tiveram início no dia
120 | Os interlocutores da Secretaria Municipal de Edu- 3 de setembro de 2007, quando foi feita a primeira
cação para o desenvolvimento do Programa foram: Emí-
lia Emirene Nogueira (2007-2008); Renata V. Rodel (até das 13 reuniões regionais de divulgação do projeto
fevereiro de 2008) Marisa Ricca Ximenes, Benedita Tere- para os diretores das escolas da rede municipal nas
zinha Rosa de Oliveira e os Diretores Regionais de Edu- respectivas Coordenadorias de Educação do Municí-
cação, que designaram assessores para o acompanha-
mento do Programa em cada uma das treze regiões. Pela 121 | Houve uma reunião em cada uma das 13 Diretorias
Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente os inter- Regionais de Educação, cada uma responsável por um
locutores foram a coordenação e a equipe da UMAPAZ. conjunto de escolas nas regiões da cidade de São Paulo.
44
dução de novas práticas na escola, para a separação No segundo Encontro foi abordada a temática da
e destinação correta de resíduos e, com o apoio da Biodiversidade e sua importância, recuperando-se as
equipe da UMAPAZ e dos Núcleos Descentralizados, noções de Ecologia Profunda (Arne Naess), Biofilia
implantar hortas e fazer plantios. (Edward Wilson) e Saber cuidar (Leonardo Boff). Fo-
Durante o processo de trabalho, foi realizado um es- ram trabalhados os princípios de “Respeitar a Terra e
forço de articulação com outras instituições e gru- a vida em toda sua diversidade” e de “Cuidar da comu-
pos públicos e privados, para os desdobramentos do nidade da vida com compreensão, compaixão e amor”.
Programa, como reuniões com a LIMPURB (Departa- No terceiro Encontro, ainda dentro do primeiro princí-
mento de Limpeza Pública da Secretaria Municipal pio, foram trabalhadas diferentes abordagens peda-
de Serviços), solicitando um circuito de coleta sele- gógicas, usando como tema Diversidade de Olhares
tiva nas escolas; com o Instituto Verdescola127, que sobre Educação, com a escolha de sete autores que
foi parceiro na realização de um seminário com os se debruçam sobre o tema da educação: Moacir Ga-
educadores e com o grupo Educomunicação128, da dotti (ecopedagogia), Edgar Morin (complexidade e os
própria Secretaria Municipal de Educação. sete saberes da educação do futuro), Roberto Crema
Os temas abordados são articulados com os quatro (educação e vocação), Krishnamurti (educação sem
princípios da Carta da Terra, a saber: Respeitar e disciplina), Sai Baba (pedagogia do amor), Howard
Cuidar da Comunidade da Vida; Democracia Não vio- Gardner (inteligências múltiplas) e Fritjof Capra (teia
lência e Cultura de Paz; Integridade Ecológica; Jus- da vida e alfabetização ecológica). As diferentes vi-
tiça Social e Econômica. sões foram trabalhadas em grupo e plenárias. Além
das reflexões, foram realizadas dinâmicas para traba-
No primeiro Encontro foram abordadas as perspec-
lhar as planilhas de resíduos e do verde na escola. E,
tivas e a responsabilidade da família humana face à
finalmente, a temática da “cultura do desperdício”, já
situação do Planeta e da comunidade da vida, que
em resposta aos primeiros dados trazidos pelos par-
permeiam todos os princípios e propósitos da Car-
ticipantes na pegada dos resíduos na escola.
ta da Terra, consolidados na noção de interdepen-
dência. Como referencial de apoio, foram utilizados No quarto Encontro, em fevereiro, foram focaliza-
autores como Fritjof Capra, Edgar Morin e Leonardo das as bases da Cultura do Consumo e Cultura do
Boff e outros. Também foi utilizado o filme “Hope” Desperdício, com apoio em autores como Zigmunt
para dialogar sobre as escolhas da humanidade. Bauman, Gilberto Dupas e Ervin Laszlo. Neste mo-
Neste Encontro foi introduzida, a ferramenta da pe- mento dialogou-se sobre a relação entre consumo,
gada ecológica escolar para resíduos. felicidade e sustentabilidade, trabalhando as inter-
O segundo e terceiro Encontros focalizaram o pri- faces entre nossa sociedade de consumo ocidental
meiro princípio da Carta da Terra “Respeitar e Cuidar e seus impactos socioeconômicos e culturais mais
da Comunidade de Vida”. abrangentes. Da mesma forma foi abordada a publi-
cidade e sua influência na criação de necessidades
127 | www.verdescola.org. e na perpetuação do consumo enquanto fim em si
128 | O grupo Educomunicação, coordenado por Carlos mesmo, bem como seus reflexos sobre a construção
Lima, com equipes de alunos da rede municipal de edu- da personalidade das nossas crianças.
cação, tem o objetivo de contribuir para que as escolas
da rede utilizem o rádio e o jornalismo no processo pe- No quinto Encontro, a reflexão foi sobre a Diversida-
dagógico. Teve uma significativa participação no proces- de Humana, tendo como tema central foi o conceito
so, participando e apoiando várias reuniões e eventos, de cultura e conversando sobre sua influência sobre
incentivando e oferecendo apoio às escolas para implan-
tar educomunicação e criando o e.group educomunica- nossas construções sociais. Este encontro teve o
caoambiental@googlegroups.com. propósito de suscitar o dialogo sobre a unidade que
46
rência importante para os educandos. A idéia cen- sendo que nesse período foram realizados cursos
tral residiu no fato de que educamos pelo exemplo, ou dinâmicas, como Lições da Árvore, Minicursos de
pelas ações e isso amplia nossa responsabilidade jardinagem, Minhocário, Danças Circulares, Tai-Chi,
de trabalharmos em nós mesmos as dimensões que Contação de histórias e Mediação de conflitos, nos
percebemos mais frágeis e de assumirmos nossos CEUs Veredas, Caminho do Mar, Perus, Butantã, Ja-
limites enquanto educadores e seres humanos. Mo- çanã, Sapopemba, Alvarenga, entre outros.
bilizamos para amparar essas reflexões as idéias de
A partir de 2009, a rede municipal de escolas passou
Fátima Freire Dowbor entre outros. E foi utilizado o
a contar com mais um interlocutor e apoio, por meio
curta metragem australiano “Children see, children
da expansão de quatro para dez Divisões de Gestão
do”130. Uma das dinâmicas foi propor que cada par-
Descentralizada da Secretaria Municipal do Verde e
ticipante buscasse se lembrar de um educador que
Meio Ambiente.
tivesse marcado sua vida e por que.
Além disso, organizações não governamentais tive-
No dia 13 de Outubro de 2008, foi realizado um Café
ram projetos para realização em escolas aprovados
do Futuro como evento de encerramento da etapa de
pelo FEMA (Fundo Especial do Meio Ambiente) da
2008 do Programa de Difusão da Carta da Terra na
SVMA. Entre eles, o Instituto Gea – Ética e Meio
rede municipal de educação, realizado na sede UMA-
Ambiente134, que trabalhou, com dez escolas de
PAZ – Universidade Livre do Meio Ambiente e da
Itaquera, em 2010/2011, um projeto integrado de
Cultura de Paz, no Ibirapuera131. Nesse evento, 250
sustentabilidade.
educadores participaram de duas vivencias, o Café
do Futuro e a Feira de Trocas. O Café do Futuro foi Em 2011, a Secretaria Municipal do Verde e Meio Am-
realizado com a metodologia do world café132, ten- biente propôs à Secretaria Municipal de Educação a
do como tema a Cidadania do Futuro. As perguntas retomada dos Encontros em todas as Diretorias Re-
para o dialogo foram: Como seria o “melhor” cidadão gionais de Educação, para realimentar a rede. Mercê
para o futuro que você pode imaginar? e O que você de um diálogo ativo da UMAPAZ com a assessoria da
acha que pode fazer para contribuir com a formação Diretoria de Orientação Técnica (DOT) da Secretaria
deste cidadão? A segunda vivência foi a Feira de Tro- Municipal de Educação, foi possível programar essa
cas solidárias a partir dos bens, produtos e serviços segunda etapa, com quatro Encontros, a serem rea-
que os educadores trouxeram para trocar. lizados em cada uma das 13 DRE, para uma turma no
período da manhã e outra à tarde, de modo a atender
Com o encerramento dessa fase, a UMAPAZ conti-
as possibilidades de horários dos profissionais.
nuou acompanhando projetos na rede municipal de
educação e acolhendo demandas para cursos, pales- Para viabilização dos encontros a Secretaria Muni-
tras e parcerias pontuais de escolas da rede. O tra- cipal de Educação (SME) definiu um elenco de res-
balho direto da UMAPAZ passou a ser mais requisi- ponsáveis pela organização e acompanhamento das
tado pelos Centros de Educação Unificados (CEU)133, turmas135, e a UMAPAZ, da Secretaria Municipal do
134 | www.institutogea.org.br.
130 | Disponível no endereço www.youtube.com/
watch?v=KHi2dxSf9hw. 135 | DRE Butantã: Cristina Rocha Gonçalves Romani e
Maria Celeste de Paula A. Requeijo. DRE Campo Limpo:
131 | Os Encontros eram todos realizados regionalmente.
Naiara Barbosa R. Braga. DRE Capela do Socorro:, Mar-
132 | Metodologia desenvolvida por Juanita Brown e Da- garete de Moraes. DRE Freguesia do Ó/Brasilândia: Ma-
vid Isaacs. ria Isabel S. Fonseca e Fernanda Barbosa de Souza. DRE
133 | Unidades da rede que têm, no mesmo espaço, es- Guaianases: Sonia Regina Rocetto. DRE Ipiranga: Eliza-
colas de educação infantil e ensino fundamental, com bete Iglecias. DRE Itaquera: Margarete Louzano. DRE
uma infraestrutura que inclui espaços para esportes e Jaçanã/Tremembé: pela SME Clarislinda T. Morisco. DRE
cultura (biblioteca, teatro). Penha: Sandra Aparecida Fernandes Lira. DRE Pirituba
48
foi realizado no segundo semestre de um ano e no Os achados da pesquisa, no que diz respeito à sa-
primeiro do ano seguinte. Na mudança de ano letivo, tisfação, informam que, na visão dos educadores
quando a primeira fase do Programa foi retomada, em integrantes da primeira fase do Programa Carta da
fevereiro de 2008, muitas turmas haviam perdido di- Terra, com seus dez Encontros, trouxe conteúdos
versos educadores que a integravam e a explicação e materiais que eles acessaram e utilizaram ativa-
foi que eles tinham se deslocado de escola no pro- mente na sua vida profissional e pessoal e que tam-
cesso anual de remoção. Houve até mesmo o caso de bém contribuíram para as atividades que as Escolas
uma professora que estava participando ativamente já realizavam sobre a questão socioambiental e os
do Programa e com a remoção foi impedida de conti- temas tratados na Carta da Terra.
nuar, porque na escola para a qual foi removida não foi Ainda sobre a relevância dos temas os participan-
possível autorizar a sua saída mensal. E depois ainda tes da segunda pesquisa também sinalizaram sua
houve alguma movimentação, com mais 27 pessoas importância, que ilustramos com algumas das suas
(8,5%) que declararam, na pesquisa terem mudado manifestações:
de escola. Nas reuniões houve reflexões sobre como a “Em sala de aula e na ONG a qual coordeno, foram
movimentação constante de educadores, apesar das de grande importância para a discussão e apli-
vantagens que costumam ser apontadas pela corpo- cação dos temas.”; “Formação e embasamento
ração, fragiliza a relação na comunidade escolar e a teórico auxiliando a prática pedagógica.”;“Levar
introdução e implementação de inovações. Muitos para sala de aula experiências novas e incenti-
projetos são interrompidos com a movimentação de var a solidariedade.”;“Anualmente acrescenta-
pessoas, os projetos pedagógicos continuam, mas mos projetos relacionados ao maio ambiente
quem dá alma a eles são os educadores e as mudan- em nosso Projeto Político pedagógico, por-
ças de rumo são visíveis. tanto o aprofundamento nestas questões é
necessário.’
Outro fator que facilita as relações é o fato do edu-
cador ser integrante da comunidade que atende, vi- ‘Os temas trabalhados irão auxiliar em sala de
venciar e conhecer os problemas e as potencialida- aula.”;“Ampliou meus conhecimentos sobre a
des. Perguntados sobre se moram na mesma região degradação do meio ambiente, origens e con-
da Escola, 62% dos educadores respondeu afirmati- sequências de vários fatores ambientais que
vamente. Então, o ponto positivo da movimentação passam despercebidos no cotidiano”;“Tiveram
é viabilizar que o professor possa se aproximar, pro- importância na orientação e subsídios para
projetos das Unidades que supervisiono.”
gressivamente, de sua residência, já que os concur-
;“Auxiliam na construção de novas propostas
sos não são regionalizados.
de atividades para e com os alunos. Têm toda
Para a avaliação do Programa pelos educadores, fo- ( importância). Sou uma cidadã e formadora
ram feitas várias perguntas, procurando encontrar de opinião.”;“Consegui subsídios para o traba-
informações que permitissem apurar a satisfação lho na escola. Encontrar parceiros para traba-
dos participantes. lhos futuros. Reafirmar convicções e construir
outras.”;“A Carta da Terra vem reforçar todos
Perguntou-se, em ambas as pesquisas, como os
nossos desejos de construção de uma socie-
educadores perceberam a contribuição do Progra-
dade mais harmônica, o que nos impulsiona a
ma para o trabalho que realizam e, também, para
criar um novo olhar para nossos educandos.”138
o seu dia-a-dia. Em ambos os casos, mais de 90%
responderam que os Encontros contribuíram para o 138 | Esses depoimentos constam do Relatório do Proje-
seu trabalho e para o seu cotidiano. to, disponível na UMAPAZ.
50
horta coletiva com a participação de CEI, EMEI Programa Carta da Terra em Ação, aberto a todos
e EMEF, com todos contribuindo para o plan- os interessados e visando capacitar cidadãos para
tio e usufruindo da colheita. Projetos ligados à atuarem como agentes de mudança na comunidade.
coleta seletiva e convivência.”;“Compartilhar
Com esse propósito, a equipe desenhou um progra-
repertório de danças circulares e jogos coope-
ma em módulos, que abordassem os diferentes as-
rativos; elaboração da Agenda 21 Escolar.”;“
pectos da Carta da Terra, estimulasse a reflexão so-
Implantação da coleta seletiva.”;“A revitaliza-
bre as diferentes dimensões da sustentabilidade, o
ção do entorno escolar, o estudo da história
desenvolvimento da capacidade de observação e crí-
de nosso bairro e a capacitação de agentes
tica da situação e promovessem o compartilhamen-
multiplicadores de informações sobre meio
to e fortalecimento de conhecimentos sobre modos
ambiente.”139.
de vida urbana sustentável e pacífica.
Nas duas fases do Programa, foi perceptível que, em-
bora o professor tenha informações sobre a questão Até a produção desse texto, foram realizadas oito
socioambiental pela sua formação e receba muitas turmas. Com as avaliações de cada grupo, houve
notícias pela mídia, nem sempre são tecidos os ne- modificações na organização interna do programa,
xos sobretudo quanto ao impacto que os estilos de que tem um total de 100 horas/atividades, sendo 80
vida na pegada ecológica. Também não são visíveis horas/aula presenciais e 20 horas orientadas para a
as responsabilidades e possíveis contribuições dos produção do trabalho de conclusão de curso.
cidadãos para a mitigação e adaptação ao cenário As oitenta horas presenciais, em grupo, compõem-
de mudanças climáticas e para o cultivo dos valores se por cinco Módulos: A Carta da Terra e o Planeta;
presentes na Carta da Terra. As oportunidades de Diversidade Humana; Integridade Ecológica; Cultura
reflexão conjunta, como os Encontros, contribuem de Paz e Convivência; Planejamento e Futuro. Cum-
para que esses nexos sejam tecidos pelos próprios prida essa etapa, o participante escolhe, com orien-
participantes e que seja fomentada e apoiada uma tação da equipe de facilitadores, outras atividades
vontade comum de transformação no cotidiano. para compor o seu livre percurso de aprendizagem,
Visualiza-se como desafios para a continuidade da conforme sua linha de reflexão e atuação. A apre-
Difusão da Carta da Terra na rede municipal de edu- sentação dos resultados da aprendizagem de cada
cação o acompanhamento dos processos de mudan- participante deverá ser feita em até seis meses após
ça iniciados referentes a resíduos, áreas verdes, me- a conclusão dos módulos presenciais.
renda, material escolar e uniformes, diversidade e
Após a aceitação do trabalho, o participante rece-
relações na escola e resolução pacífica de conflitos;
be o certificado de Agente Socioambiental Urbano.
o alcance de maior número de coordenadores peda-
Porém, os próprios participantes escolheram, es-
gógicos e diretores de escolas; bem como a abertura
pontaneamente, um título muito mais significativo,
do programa para pais e alunos.
autodenominando-se CARTEIROS, agentes de di-
fusão da Carta da Terra. Essa denominação foi se
3. O Programa Carta da Terra fortalecendo como uma identidade comum, tanto na
em Ação convivência virtual pela internet como em encontros
presenciais de carteiros das várias turmas, que já
Em 2009, a UMAPAZ, com a experiência acumulada
somam quatrocentas pessoas.
na primeira fase da difusão da Carta da Terra para
educadores e amparada no seu propósito, delineou o Para atender a crescente procura e as diferentes dis-
ponibilidades dos participantes, foram organizadas
139 | Idem ibidem. turmas em diferentes dias da semana e horários. As-
52
biente e Desenvolvimento Sustentável – e CADES cimento da cidade e as relações entre o ambiente
Regionais - Conselhos de Desenvolvimento Susten- construído e o ambiente natural.
tável e Cultura de Paz. São apresentados indicadores socioambientais do
Focaliza, especialmente, a extraordinária diversida- município e técnica de captação da percepção e aná-
de no Brasil e em São Paulo, tanto pela sua origem lise do território pelos participantes.
nos povos indígena, europeu e africano, como pelas
sucessivas ondas de imigração e migração, e os ti- Módulo IV – Cultura de Paz
pos de convívio que resultam dessa miscigenação.
Esse módulo tem o propósito de trabalhar a con-
Utilizando a dinâmica de construção da árvore ge- vivência, considerando as relações da teia da vida,
nealógica de cada participante por origem de seus entre o ser humano e outros seres e entre os mem-
antepassados, o módulo evolui com a reflexão so- bros da família humana, na perspectiva da cultura
bre o conceito de cidadania planetária e como esse de paz. Compõem esse módulo as seguintes ses-
conceito dialoga com a dinâmica contemporânea das sões: Democracia, justiça e equidade; Cultura de
redes sociais. Paz; Ética e consumo; Alimentação, saúde e meio-
Finalmente, trabalha a questão da participação, ambiente; Diálogo e convivência; Resolução pacífica
condição e resultado da cidadania e da visão das de Conflitos; Educação para o século XXI e Biografia
interdependências no processo de evolução, par- e transformação.
ticularizando as possibilidades de participação no Assim, o módulo inicia com uma reflexão sobre os
processo de implementação da Agenda 21 local e conceitos de democracia, justiça e equidade.
nos Conselhos de Meio Ambiente e Cultura e Paz da
Em seguida, analisa a emergência histórica do con-
Cidade de São Paulo.
ceito de cultura de paz e o Manifesto 2000. Busca
traçar um diálogo entre as recomendações da Carta
Módulo III – Integridade Ecológica da Terra e a proposta de cultura de paz presente no
Manifesto, que foi produzido por um grupo de laure-
O propósito desse Módulo é trabalhar as interdepen-
ados com o prêmio Nobel da Paz, que o formularam
dências na teia da vida e é composto pelos seguintes
como um compromisso a ser assumido pelos indi-
temas Ecologia, biomas e a teia da vida; Climatolo-
víduos para viabilizar a mudança do paradigma de
gia e mudanças climáticas; O diálogo entre a ocupa-
convivência vigente.
ção e o meio físico; Leitura de território; Indicadores
socioambientais.. Trabalha, em seguida, a relação entre ética e consu-
mo, na perspectiva de Bauman147 e como alimenta-
O módulo se inicia pela apresentação de uma visão ção, saúde e meio ambiente estão interligados,
integrada dos biomas, expressão dos vínculos entre buscando propiciar que os participantes observem
os fenômenos locais e globais. Trata da climatologia como, na prática, o estilo de vida e os hábitos de
e das mudanças climáticas, buscando propiciar a re- consumo têm impacto nas relações e no ambiente.
flexão sobre o movimento do próprio Planeta e sobre
os impactos da família humana nos recursos natu- O tema “Diálogo e Convivência” abre a reflexão
rais tratados no primeiro módulo. Também considera
de formas pacíficas de convívio na sociedade
humana e evolui para a apresentação e experi-
as perspectivas presentes nas pesquisas científicas,
seus dilemas e incertezas. 147 | Zigmunt Bauman, sociólogo de origem polonesa,
que tem extraordinária produção no campo da moderni-
A observação chega ou parte do sítio de São Paulo, dade e da relação entre ética, consumo e convivência no
buscando trabalhar a visão do nascimento e cres- mundo contemporâneo.
54
maior parte das sessões é conduzida por integrantes nhecimentos por áreas e corporações de saberes.
da equipe de educadores ambientais da UMAPAZ, Por vezes, esbarra-se em velhas práticas, como au-
constituída por profissionais de diferentes forma- las excessivamente expositivas. O aluno da UMA-
ções e experiências, que produziram, em conjunto, PAZ já percebe e questiona quando isso ocorre, o
toda a proposta do Curso, a abordagem de seus te- que coloca constantemente o desafio da coerência
mas e dinâmicas151. metodológica.
A UMAPAZ considera que o conhecimento, para ser Assim, os temas são apresentados ao grupo, por
construído, precisa acionar a caixa de brinquedos e a meio de estratégias de ensino-aprendizagem que
caixa de ferramentas de cada um e do coletivo, isto é trabalham com a caixa de brinquedos de cada um,
trabalhar com encantamento e com entendimento152. por meio de vivências, de atividades lúdicas e cria-
Desse modo, procura não limitar-se a apresentação tivas, e com a caixa de ferramentas, oferecendo
de informações, exposições e textos, mas, usar es- instrumental para a ação. São utilizadas aulas
tratégias para alcançar razão e sensibilidade. dialogadas, sessões de world-café, rodas de con-
versa, danças circulares, filmes, música e jogos
Esse não é um aprendizado apenas para os alunos,
cooperativos.
mas tem sido um exercício cotidiano para os pro-
fessores, igualmente formados, ou conformados, Nesse contexto, tem sido especialmente importante
em clausuras setoriais com a fragmentação dos co- o papel das danças circulares, que abrem cada mó-
dulo e são utilizadas com freqüência durante o cur-
taria Municipal do Verde e Meio Ambiente, que, com sua so. A focalizadora de danças circulares153 prepara, a
experiência na região leste, traz exemplos de iniciativas cada turma, um programa que se integra aos temas
locais, e Helena Maria Campos Magoso, psicóloga, Dire- que serão tratados. A utilização das danças circula-
tora do Departamento de Participação e Fomento a Po-
líticas Públicas da Secretaria Municipal do Verde e Meio res não só como meio, mas como conteúdo, tem sido
Ambiente que, com Rute Cremonini, educadora ambien- exitosamente experimentada pela UMAPAZ154.
tal, trazem para os participantes informações de formas
e espaços de participação ativa na cidade. Além disso, os participantes são estimulados a se
151 | André Luiz Moura de Alcântara, sociólogo e coor- apropriarem e refletirem sobre idéias de autores e
denador do Módulo Diversidade Humana; Angélica Bere- textos155, a começar pela própria CARTA DA TERRA.
nice de Almeida, pedagoga; Débora Pontalti Marcondes,
bióloga; Estela Maria Guidi Pereira Gomes, fonoaudió- Finalmente, terminada a etapa das sessões pre-
loga, especialista em danças circulares; Eveline Lima- senciais (primeiras 80 horas), os participantes são
verde, educadora e coordenadora executiva do Curso; orientados a realizarem alguma ação local, na sua
Georges Fouad Kharlakian Jr., socioeconomista; Glacil-
da Pinheiro Correa Pedroso, pedagoga e coordenadora
comunidade, que expresse seu aprendizado. Essa
do Módulo Cultura de Paz e Convivência; Gustavo (Agni) ação deve ser documentada e compartilhada com
Beuttenmuller, geólogo; Lia Salomão Lopes, geógrafa; toda a turma. São organizadas sessões para esse
Márcia Amélia Moura, psicóloga; Nadime Boueri, biblio- compartilhamento, de modo a que uns possam ser
tecária e contadora de histórias; Paulo Varela, geólogo
e integrante da equipe da Divisão de Astronomia e As- inspiradores para outros e seja possível a colabora-
trofísica; Regina Luísa F. Barros, arquiteta; Rose Marie ção mútua.
Inojosa, comunicóloga e coordenadora da UMAPAZ;
Suely Feldman Bassi, psicóloga e nutricionista; Thereza 153 | Estela Maria Guidi Pereira Gomes.
Rosa, pedagoga; Valério Igor P. Vitorino, sociólogo; Vi- 154 | Mais detalhes no artigo Danças Circulares como
tor Octávio Lucato, ecólogo, biólogo e coordenador do metodologia integrativa, nesta coletânea.
Módulo Integridade Ecológica, Walmir Cardoso, físico 155 | Os alunos e professores têm livre acesso a biblio-
e coordenador de projetos da Divisão de Astronomia e teca Espaço Sapucaia, da UMAPAZ, especializada em
Astrofísica. meio ambiente e cultura de paz, que tem em seu acer-
152 | A metodologia da UMAPAZ está detalhada no texto vo grande parte das obras utilizadas, além dos textos
O Evolver da UMAPAZ; primeiro setênio, nesta coletânea acessíveis pela internet.
56
Gráfico 1: Distribuição dos carteiros, da 1ª a 8ª tur- Gráfico 2: Distribuição percentual dos trabalhos de
mas, por faixa etária. conclusão de curso dos carteiros, da 1ª a 8ª turmas,
por eixo do Programa.
58
4. Apoio bibliográfico setembro de 2012)
Em vídeo, narrado por Leonardo Boff: www.youtu-
Neste item são apresentados autores, obras be.com/watch?v=EJ6NVNGxuMc (visita em 30 de
e sites que têm sido utilizados para a prepa- setembro de 2012)
ração das aulas dos Programas de difusão da CAPRA, Fritjof
Carta da Terra. Naturalmente, as referências A Teia da Vida São Paulo: Cultrix, 1996
são dinâmicas e, a cada edição ou turma, re- Conexões Ocultas – Ciência para uma vida susten-
nováveis. Porém, o elenco que segue baseou tável. São Paulo: Cultrix, 2002
parte das reflexões feitas até agora. CREMA, Roberto
Introdução à visão holística, Cultrix, S.Paulo 1997
ALVES, Rubem
Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura G.
(SP): Papirus, 2000 Paz como se faz? Semeando cultura de paz nas
www.rubemalves.com.br (visita em 30 de março escolas. Rio de Janeiro:
de 2012) Unesco, Governo do Estado do Rio de Janeiro e
Palas Athena, 2002
ARRUDA, Marcos
http://unesdoc.unesco.org/
Educação para uma economia do amor: educação
images/0013/001308/130851por.pdf (visita em 30
da práxis e economia solidária Aparecida do Nor-
de março de 2012)
te (SP):Ed. Idéias&Letras, 2009
DOWBOR, Fátima Freire; CARVALHO, Sonia; LUP-
BAUMAN, Zygmunt
PI, Deise
A ética é possível num mundo de consumidores?
Quem educa marca o corpo do outro. São Paulo:
São Paulo: Zahar, 2011
Cortez Editora, 2007
Vida para consumo: a transformação das pessoas
em mercadorias. São Paulo: Zahar, 2008 DUPAS, Gilberto
O mito do progresso. São Paulo: UNESP, 2006
BOFF, Leonardo
Ética da vida A nova centralidade Rio de Janeiro/ FELDMAN, Fábio
São Paulo: Ed. Record, 2009 Sustentabilidade Planetária: onde eu entro nisso?
Saber cuidar. São Paulo: Ed. Vozes, 1999 São Paulo: Ed. Terra Virgem, 2012
BROWN, Juanita & ISAACS, David FROIS, Katja Plotz
The World Cafe Book: Shaping Our Futures Uma breve história do fim das certezas ou o
Through Conversations that Matter, San Francisco paradoxo de Janus, Cadernos de Pesquisa Inter-
(EUA) Berrett-Koehler, 2005 disciplinares em Ciências Humandas, 63, FPolis,
The world café. www.theworldcafe.com (visita em dez.2004, disponível em www.periodicos.ufsc.br/
30 de setembro de 2012) index.php/cadernosdepesquisa/article/.../120...
(visita em 30 de março de 2012)
BUCKLES (org)
Cultivar la paz - conflicto y colaboración en el GADOTTI, Moacir
manejo de los recursos naturales. [s.l.], 2000 - Pedagogia da Terra, 5ª ed, São Paulo: Peirópolis,
disponível em inglês, francês e espanhol para 2000
download em www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1- A Carta da Terra na Educação, série Cidadania
DO_TOPIC.html. Planetária, v.3. São Paulo: Ed. Instituto Paulo
Freire, 2010
CARTA DA TERRA
www.cartadaterrabrasil.org (visita em 30 de se- GALTUNG, Johan
tembro de 2012) Transcender e transformar: uma introdução ao
www.earthcharterinaction.org (visita em 30 de trabalho de conflitos. São
60
SACHS, Ignacy
Desenvolvimento includente, sustentável, susten-
tado. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2008
SAI BABA, Sathya
A Educação deve enfatizar os valores, 2000
http://www.sathyasai.org.br/discursos/pdf/SAI-
BABA_20000925_78.PDF (visita em 6 de março
de 2012)
SANTOS, Milton
Por uma outra globalização: do pensamento único
à consciência universal, 15ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2008
O Espaço do Cidadão, 7ª ed. São Paulo: Editora
USP, 2007
SÃO PAULO Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente
São Paulo: Cidade Educadora
http://www.youtube.com/watch?v=JlDBGIIL0Uk
&feature=youtu.be (visita em 30 de setembro de
2012)
SCHADEN, Egon (org.).
Leituras de Etnologia Brasileira. São Paulo, Na-
cional, 1976
TOURAINE, Alain
Um novo paradigma: para compreender o mundo
de hoje. Petrópolis: Vozes, 2006
Poderemos viver juntos? iguais e diferentes. Pe-
trópolis (RJ): Vozes, 1998
WOLTMANN, A & ARAÚJO, Luiz E. B.
Desenvolvimento x Sustentabilidade: uma abor-
dagem transdisciplinar. Panóptica, ano 1, n 8,
maio-junho 2007, p.461-481 www.panoptica.org/
maio_junto2007/N.8_020_Woltmann.p.461-482.
pdf (visita em 30 de março de 2012)
Resumo Abstract
Trata da aplicação, em São Paulo, do Programa Edu- Report the application, in Sao Paulo, Gaia Education
cação Gaia, formulado GEESE-“Global Ecovillage Edu- Program formulated GEESE-”Global Ecovillage Edu-
cators for a Sustainable Earth” (Educadores de Eco- cators for a Sustainable Earth” (World Ecovillage
vilas do Mundo para um Planeta Sustentável), com o Educators for a Sustainable Planet), with the goal
objetivo de capacitar designers de sustentabilidade e of enabling designers and contribute to sustain-
contribuir para a Década das Nações Unidas da Educa- ability of the Decade UN Education for Sustainable
ção para o Desenvolvimento Sustentável. O Programa Development. The Gaia Education Program had its
Educação Gaia teve sua primeira turma, em São Paulo, first class in São Paulo, in 2006, developed through a
em 2006, desenvolvido por meio de uma parceria en- partnership between the Gaia Education, the Munici-
tre o Gaia Education, a Secretaria Municipal do Verde pal Green and Environment of São Paulo / UMAPAZ,
e Meio Ambiente de São Paulo/UMAPAZ, o Programa Program Ecobairro of the Roerich Institute of Peace
Permanente Ecobairro do Instituto Roerich da Paz e and Culture of Brazil and CRIS - Centre for Refer-
Cultura do Brasil e o CRIS – Centro de Referência e In- ence and Integration in Sustainability. There were
tegração em Sustentabilidade. Foram realizadas cinco five classes, the last, with a review of curriculum
turmas, sendo a última, com uma revisão do currículo e and course logistics. Lists the contents, dynamic fa-
da logística do curso. São apresentados os conteúdos, cilitators and the class of 2010, and the vision of its
dinâmicas e facilitadores da turma de 2010, bem como participants.
a visão de seus participantes. Key words: Gaia education, world vision; transfor-
Palavras-chave: Educação Gaia; visão de mundo; mation; partnership, sustentability
transformação; parcerias; sustentabilidade.
161 | Coordenadora da UMAPAZ, instituição parceira do Programa Educação Gaia São Paulo.
162 | Coordenador do Programa Ecobairro do Instituto Roerich da Paz e Cultura do Brasil, instituição parceira do Programa
Educação Gaia São Paulo.
163 | Coordenador do Centro de Referência e Integração em Sustentabildiade, instituição parceira do Programa Educação
Gaia São Paulo.
62
1. Introdução ção de comunidades rurais e urbanas sustentáveis,
a partir de suas experiências em ecovilas. Para isso
O Programa Educação Gaia foi concebido por um desenhou um currículo focalizando as dimensões so-
grupo de educadores de várias partes do mundo, cial, cultural, economica e ecológica da sustentabili-
com experiências em ecovilas, como uma contribui- dade, numa abordagem holística164.
ção para a Década do Desenvolvimento Sustentável
Em 2005 foi oficialmente constituído um consórcio
da ONU.
internacional congregando esses profissionais, cha-
São Paulo teve a oportunidade de realizar, na UMA- mado de “Gaia Education”. Compõem o consórcio
PAZ, a primeira edição do Curso no Brasil, em abril educadores especialistas em desenho de ecovilas,
de 2006. criando e realizando cursos para o desenvolvimen-
No plano internacional, com a coordenação do con- to de comunidades sustentáveis em áreas urbanas
sórcio Gaia Education, o Curso se espalhou, chegan- e rurais165.
do a alcançar 34 países e, no Brasil, aconteceu em O núcleo do programa é um currículo educativo cha-
Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Minas Gerais, mado “Ecovillage Design Education - EDE” (Forma-
Curitiba e Brasília. ção em Desenho de Ecovilas), que tem por objeti-
A UMAPAZ realizou cinco turmas, alcançando mais vo tornar acessível ao maior número de pessoas as
de 500 participantes. lições aprendidas pelas ecovilas de todo mundo. A
proposta do currículo é a de que a investigação te-
O item inicial informa sobre a história do progra- órica seja seguida por aplicações práticas, visando
ma Gaia Education. Em seguida é apresentada a ao empoderamento de indivíduos, organizações e
sua realização em São Paulo e particularizados os comunidades, capacitando-as para redesenhar, de
conteúdos, dinâmicas, facilitadores e tecelões da forma sustentável suas realidades.
turma realizada em dezembro de 2010, que expe-
rimentou a revisão de abordagens e do Programa. O currículo Gaia Education constituiu-se na con-
Essa revisão foi desenhada num coletivo de vinte tribuição oficial do consórcio internacional para a
educadores, em janeiro do mesmo ano, e proposta Década das Nações Unidas da Educação para o De-
ao grupo dos formuladores originais, em Findhorn senvolvimento Sustentável e recebeu a certificação
(Escócia). Finalmente, apresenta o perfil e a voz do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e
dos gaianos, participantes do Curso Educação Pesquisa (United Nations Institute for Training and
Gaia São Paulo. Research – UNITAR).
164 | http://gen-europe.org/networks/gaia-education/
2. Situando o Gaia Education index.htm; http://www.gaiaeducation.org.
165 | A atual composiçao desse grupo, segundo o site
O Gaia Education é um programa de formação de de- oficial http://www.gaiaeducation.org/index.php/en/peo-
signers em sustentabilidade, que nasceu de um cur- ple.html é a seguinte: Albert Bates, Massimo Candela,
Giovanni Ciarlo, Jonathan Dawson, Deniz Dinçel , May
rículo elaborado por um grupo de educadores de vá-
East, José Luis Escorihuela, Hide Enomoto, Michiyo
rias partes do mundo, denominado GEESE-“Global Furuhashi, Daniel Greenberg Maddy Harland, Hildur Ja-
Ecovillage Educators for a Sustainable Earth” (Edu- ckson, Ross Jackson, Anja Kosha Joubert Anja Kosha
cadores de Ecovilas do Mundo para um Planeta Joubert, Will Keepin, Declan Kennedy, Max O. Linde-
gger, Adama Ly, E. Christopher Mare, Ina Meyer-Stoll,
Sustentável). Marti Mueller, Helena Norberg-Hodge, Narumon Paibo-
Esse grupo buscou uma abordagem transdisciplinar onsittikun (Mon), Jane Rasbash, Potira Preiss, Penelo-
pe Reyes, Macaco Tamerice (Martina Grosse Burlage) ,
para a educação para a sustentabilidade, valendo-se Géza Varga Paola Vidulich, Daniel Christian Wahl, Liz
das valiosas experiências e lições de design e cria- Walker, Marian Zeitlin.
64
currículo, visando sua maior adequação ao meio ur- realização do curso, de 2 a 17 de dezembro de 2010.
bano e, também, a atualização de conteúdos e dinâ- Muitas atividades foram realizadas no Viveiro Mane-
micas, mantendo, no entanto, sua proposta nuclear quinho Lopes177, que é contíguo à UMAPAZ, no mes-
original, bem como a abordagem transdisciplinar. mo Parque do Ibirapuera.
Esse trabalho foi desenvolvido intensivamente, na pri- Além disso, considerando que o foco do Curso Edu-
meira semana de janeiro de 2010, com oito horas de cação Gaia em São Paulo é a transformação em meio
trabalho por dia. O resultado foi encaminhado à consi- urbano, acrescentou-se um novo tipo de apoio aos
deração do GEESE, entretanto, estimulados por esse participantes: mobilidade, alimentação, lazer e arti-
processo, os parceiros de São Paulo decidiram propor culação da rede.
ao Gaia Education a experimentação do novo currículo.
A partir da notícia de recertificação, que fora solici-
Essa decisão exigiu muita preparação do grupo coor- tada em agosto de 2010, o grupo de parceiros co-
denador e dos facilitadores, bem como a solicitação ordenadores do Curso estruturou a realização do
de recertificação para o Gaia Education nesses ter- Curso, e a preparação de cada módulo, respectivas
mos. Concedida a autorização, a quinta turma, como ementas e materiais, com os facilitadores, com os
o currículo renovado, foi programada para dezembro seguintes objetivos:
de 2010.
Promover a capacitação de agentes sociais
Em fevereiro do mesmo ano (2010), também ocorreu, em sustentabilidade urbana.
na UMAPAZ, o encontro dos educadores do Curso
Desenvolver práticas para a aplicação e ob-
Educação Gaia de todo o Brasil
servação dos conceitos da Educação Gaia em
meio urbano.
4. Educação Gaia São Paulo 2010: Experimentar estratégias e metodogias
nova dinâmica de ensino-aprendizagem para mudan-
Além de experimentar o novo currículo, outras deci- ças em meio urbano de modo a contri-
sões foram tomadas para a realização dessa quinta buir e implementar melhores práticas de
turma. Sustentabilidade.
Foi decidido, pelos parceiros, realizar o curso de for- O programa foi estruturado para um total de 120 ho-
ma intensiva e, também, com uma logística nova. ras, sendo 96 horas/aula/atividades presenciais e 24
horas de estágio, para ser realizado no período de 2
O Curso de São Paulo sempre atraiu um número
a 17 de dezembro de 2010, de segunda a sexta, das
expressivo de candidatos, então os parceiros defi-
9 h às 18 h.
niram formar uma turma de 120 pessoas e subdi-
vidi-la em três grupos de 40 pessoas, trabalhando A seleção dos inscritos compôs três grupos de 40
simultaneamente. pessoas, com diferentes formações, ocupações e
Essa logística foi tornada possível pela reserva de faixas etárias, com alguma predominância de jo-
todos os espaços da sede da UMAPAZ176 durante a vens, em razão da proposta do curso ser intensi-
vo e exigir, portanto, dezesseis dias integralmente
tor Leon Ades, Taísa Mattos, Georges Fouad Kherakian, disponíveis.
Ezio, Marina, Manu, Raquel, Felipe, Erian, Rose, Luciana,
Edite, Claudia Passos, Eduardo Weaver, Lama Padma O Curso foi organizado para iniciar-se nos dois pri-
Santem, Marcos Arruda.
meiros dias com as três turmas – 120 pessoas –
176 | Dois auditórios, duas salas grandes, espaços am-
plos para convívio e biblioteca especializada em meio 177 | Viveiro de plantas para as praças públicas e entre-
ambiente e cultura de paz. posto de árvores para plantio nas ruas da cidade.
66
trazem a organização da forma do quadrado em diversas línguas (português, inglês, espa-
presente em várias construções, os quatro nhol, árabe, hebraico e francês) para dançar-
elementos presentes em tudo que existe (ter- mos no próximo dia esta linda saudação.
ra, água, fogo e ar), Mãe Terra na figura de
Sétimo dia: foi retomada da “Saudação da
Pachamama que nos aquece e alimenta. Em
Paz” canção com a dança aonde todos vão
seguida os participantes entoaram a canção
juntos ao centro, onde todos somos um, vol-
indígena dos nomes, trazendo a força das vo-
tam aos seus lugares no círculo da dança e da
gais de cada ser presente no círculo, o um no
vida trazendo a força da conexão com o todo e
todo, formando harmonias e conjuntos diver-
depois desejam e saúdam os companheiros da
sos no círculo, o todo no um.
roda em várias línguas construindo a paz nas
Quinto encontro, número cinco que traz a in- relações pela troca dos olhares e da expressão
teira presença de nossa humanidade, a ima- pessoal da voz e da gestualidade. Retomada
gem do homem vitruviano, com os membros e da conexão do número 7: nas 7 cores do arco-
a cabeça formando a estrela de cinco pontas. íris, nas 7 notas musicais e nos 7 tons que po-
Tempo de reconhecimento de si e do outro, dem ser representados na subida do grave ao
divisão em sol e lua na dança russa “Aya Po agudo e do ritmo mais lento ao mais rápido.
Logu”, dança de saudação e cumprimento, Dançando e cantando “Escravos de Jó nos
olhar e reconhecer o outro fazendo cada um a 7 tons” buscou-se resgatar a criança interna
sua parte, seguindo nossa plena natureza. A que traz a alegria em viver o momento presen-
seguir, os participantes cantaram e dançaram te e a força no trabalho conjunto na brincadei-
uma canção indígena trazida anteriormente ra cantada.
pela May East, dividindo o grupo dos homens
no centro olhando para fora e o grupo das mu- Oitavo dia, início de mais uma semana, o dia
lheres no círculo de fora olhando para o centro. começa saudando a Terra com a canção “A
Encontro dos grupos na distinção de gênero, Terra é nossa mãe” reconhecendo a necessi-
na complementação de forças opostas, terra dade do cuidar, convidando a união entre os
e céu, para baixo e para cima, para dentro e homens e todos os seres que fazem parte de
para fora, feminino e masculino na beleza do uma mesma morada e tornando consciente
encontro dos olhares formando uma só canção cada passo dado em nosso caminho e na jor-
com duas vozes distintas. nada com o grupo. A seguir é trazido o sím-
bolo da leminiscata através da dança de Israel
Sexto encontro, encontro da intuição com a
“Al Achat” que reconhece o grande milagre da
razão na figura da estrela de 6 pontas que une
vida no momento presente. Caminha-se em
o triângulo que vem de cima com o triângulo
todas as direções, direita, esquerda, centro e
que vem de baixo, representando a sabedoria
círculo e se desenha o símbolo do infinito onde
do encontro, a sinergia e complementaridade
cada um ocupa o lugar do outro, voltando
dos opostos. Para celebrar esta união os par-
sempre ao nosso próprio lugar e presença do
ticipantes dançaram “Ve Davi” de Israel, dan-
um no todo.
ça animada, alegre, viva que celebra a sabedo-
ria da união e do encontro. A seguir do “dois” Nono encontro: número 9 que retoma a sa-
se forma “um’ e é possível desejar que a paz bedoria do caminho percorrido e de todos os
esteja com todos no aprendizado do canto da passos que demos através da jornada do 1 ao
“Saudação de Paz” que diz em harmonia que 9. Tempo de finalização e salto quantitativo
´a paz esteja contigo, contigo esteja a paz´ e qualitativo. Tempo de reconhecer as lindas
68
5.1 Visão de Mundo Design para sustentabilidade - uma Introdução
O Módulo Visão de Mundo é composto por 6 temas: A introdução apresenta uma visão geral do traba-
Design para sustentabilidade – uma introdução; um lho internacional de design de sustentabilidade do
mundo pleno de visões; Modelos de mudança; Ou- Gaia Education. Relata as raízes do Gaia Education
vindo e reconectando com a natureza; Dinâmicas de desenvolvido por uma rede de experts dos mais
transição: o modelo do Ecobairro184 e o modelo Tran- avançados centros de demonstração de vida de bai-
sition Towns185. xo carbono. Explora os motivos da necessidade de
redesenhar nossa presença humana sobre a terra
Os quatro primeiros temas foram facilitados por May
com enfoque na mudança climática, na necessida-
East186, que além de apresentar os conteúdos realiza
um trabalho extraordinário de formação de comuni- de de descarbonizarmos nossas cidades e na justiça
dade com os participantes, colocando-os em condi- social, possibilitando que os estudantes pratiquem
ção de prontidão para o processo de construção do apresentações relâmpagos sobre estes temas. No
conhecimento. final, os estudantes avaliam e definem as possíveis
escalas de design para sustentabilidade, desde pro-
A seguir os conteúdos abordados em cada um dos dutos até a colaboração internacional, passando por
temas do Módulo Visão de Mundo. comunidades, bairros, vilas, cidades, biorregiões e
megalópolis. São também introduzidos acordos so-
computadores da Biblioteca da UMAPAZ. Outros mate- ciais que irão nortear e promover resiliência nas re-
riais, como arquivos de slides e textos utilizados pelos lações interpessoais da comunidade de aprendizado.
facilitadores, também foram disponibilizados em meio
digital. Em papel os alunos receberam apenas a progra-
mação básica, com a indicação de suas salas e horários, Um Mundo Pleno de Visões
por tema e facilitador.
184 | Gerado pelo Programa Permanente Ecobairro do Aqui é introduzida a Dinâmica da Espiral, uma teo-
Instituto Roerich da Paz e Cultura do Brasil. ria de desenvolvimento que mapeia a complexidade
185 | Movimento criado pelo inglês Rob Hopkins e que humana e usa cores para caracterizar níveis de que
visa a transformar cidades em espaços mais sustentá- marcam nossa subsistência e existência Essa teoria
veis, menos dependentes do petróleo e mais integrados
à natureza. Vem sendo fomentado uma rede brasileira ajuda os estudantes a fazerem diagnósticos que se
de Cidades em Transição no Brasil, que pode ser conhe- aplicam a nível de indivíduo, instituição e/ou toda
cida no endereço: http://transitionbrasil.ning.com. uma sociedade e a mapearem diferenças internas no
186 | Educadora e consultora para a sustentabilidade, processo de design para sustentabilidade. Baseada
trabalha internacionalmente com o movimento global de
ecovilas e novo urbanismo. Mora há 17 anos na Ecovi-
na teoria do desenvolvimento humano proposta pelo
la Findhorn e coordena os programas de educação para professor de psicologia Clark Graves, a Dinâmica da
sustentabilidade. Responsável pelas Relações Inter- Espiral afirma que todos possuímos uma inteligência
institucionais entre a Rede Global de Ecovilas - GEN e
adaptável e complexa, que se desenvolve em res-
a ONU. Como Diretora do Programa Gaia Education da
Findhorn Foundation lidera um consorcio de educadores posta às condições de vida e aos desafios a serem
conhecidos como GEESE – Global Ecovillage Educators enfrentados. Onde está o foco da vida, lá estarão
for Sustainable Earth. May é embaixadora do Clube de também, latentes, os mecanismos e a inteligência
Budapest, Diretora do CIFAL Findhorn - Centro de Trei-
namento de Autoridades Locais Associado a UNITAR- coletiva, para lidar com os desafios.
United Nations Institute of Training and Research. Atu-
almente viaja o mundo para impulsionar o movimento
Modelos de Mudança
das cidades em transição (Transition Towns). Desde que
foi criado há pouco mais de três anos, gerou mais 8 mil
iniciativas de transição e 180 cidades oficialmente reco-
“Para dissolver um paradigma, se queremos mu-
nhecidas espalhadas pelo mundo. dar, temos que entrar em nível quântico, temos de
70
Frank Siciliano190 e Monica Picavéa191. A idéia por ceituais do pensamento ecológico, tomando por
trás do modelo Cidade em Transição é simples: uma base nossas heranças biológica e cultural para
cidade que use menos energia e recursos que nor- delinear um território dentro do qual iremos tran-
malmente consome; que seja auto-suficiente em sitar, em que serão incluídas diversas abordagens
relação à maior parte de suas necessidades; que contemporâneas: Pensamento Sistêmico, Teoria da
esteja preparada com sua total dependência dos Complexidade, Ecologia Profunda, Sharing Nature,
sistemas altamente globalizados de alimentação, Ecopsicologia, Fenomenologia Goetheana. Como
energia, transporte, saúde e habitação. A apresen- reconhecer essas abordagens em nossos esforços
tação contou com um representante da comunidade para pensar e agir de forma ecologicamente har-
de Brasilândia, da região norte de São Paulo, onde o mônica? Um contato profundo com a Natureza nos
modelo está sendo aplicado. conduz a formular pensamentos novos, criativos e
focados nos nossos mais elevados ideais. O conhe-
5.2 Dimensão Ecológica cimento deverá ser transformado e tornado vivo
por meio de experiências.
A dimensão Ecológica é composta por 6 temas: In-
teligência Ecológica; Ciclos de alimentação; Infraes-
Ciclos de Alimentação
trutura integrada para resiliência. Repensando o ha-
bitat; Regeneração de ecossistemas e Regeneração Tendo como facilitadoras Marly Pedra193 e Sueli
ecossistemas em meio urbano. Feldman Bassi194, aborda, inicialmente, a profunda
mudança na maneira de viver, de relacionar-se e
Inteligência Ecológica nos hábitos alimentares ocorrida desde que o ho-
mem deixou o estado nômade para fixar-se na terra.
Com a facilitadora Rita de Cássia Bernardo Men- Ao longo dos séculos a humanidade foi inventando
donça192, busca tecer em conjunto as bases con- formas de manejo e produção, fazendo escolhas.
No século XVIII começou a se intensificar a aglo-
ceito integrado para ecovilas urbanas e um dos “pilares” meração de população em cidades e uma separa-
de sustentação do Gaia Education em São Paulo. Sócio ção entre produtores e consumidores de alimentos,
do escritório Todescan Siciliano Arquitetura, Membro e
até que, em grande parte do planeta, a agricultura
Fundador do Instituto CRIS Referencia Integração Sus-
tentabilidade, Membro e Fundador da revista GEA Glo-
bal Ecologia Arquitetura. Membro e articulador da rede nação e execução de programas educativos, voltados
Brasileiras de Cidades em Transição. para os temas da sustentabilidade, da responsabilidade
190 | Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura socioambiental e da ética. Coordena o Instituto Romã e
e Urbanismo da Universidade Mackenzie com 20 anos é responsável pela difusão do Sharing Nature no Brasil.
de experiência profissional responsável por diversos Tem livros e artigos publicados.
projetos na área da saúde, com cursos de extensão uni- 193 | Médica homeopata, psicoterapeuta, nutróloga, Nu-
versitária em Planejamento de Campos Universitários cleadora de Saúde do Ecobairro, Coordenadora da Casa
e Instalações Esportivas na Republica Federal da Ale- Urusvati, Coordenadora de Cosmo-Ação da UNIKÓSMI-
manha e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio- CA – Universidade Livre de Educação Cósmica, Coorde-
Construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e nadora em São Paulo e Conselheira do Instituto Roerich
Ecologia Profunda. da Paz e Cultura do Brasil.
191 | Superintendente da Fundação Stickel. Pioneira no 194 | Nutricionista e psicóloga, certificada pelo Gaia
Brasil, junto com Marcelo Todescan e May East na me- Education como designer de sustentabilidade, 2007.
todologia de Cidades em Transição, vice-presidente do Educadora da UMAPAZ onde coordena Os programas de
Conselho da Associação Cidade Escola Aprendiz, Conse- Meio Ambiente e Saúde, Tai-Chi e Meditação e co-co-
lheira da Aliança Empreendedora. ordena o Programa de Alimentação e Meio Ambiente. É
192 | Graduada pela Universidade de São Paulo (USP) em especialista em Ecologia, Arte e Sustentabilidade, pela
Ciências Biológicas, é experiente na elaboração, coorde- UNESP/UMAPAZ.
72
Regeneração de Ecossistemas em Espaço Urbano Criando comunidade, sinergia e reciprocidade
Com Vitor Lucato e Yone K. F. Hein198, continua A complexidade do mundo contemporâneo, o ad-
o trabalho com a regeneração de Ecossistemas, vento das tecnologias da informação e a crescente
agora focalizando o espaço urbano como São Pau- transformação do planeta e dos povos e diferentes
lo, que é um desafio. É necessário compreender formas de vida, que o co-habitam em uma grande
a dimensão humana nas mudanças ambientais lo- e única comunidade, nos impõem um estimulante e
cais e globais e relacionar os ecossistemas urba- novo desafio: sermos capazes de conviver e favo-
nos com os sistemas naturais. O processo históri- recer realização plena de toda essa diversidade. É
co de ocupação do território paulista revestiu-se urgente que nos capacitemos para melhor atender à
de um caráter predatório que resultou na destrui- essa demanda, e assim sejamos capazes de promo-
ção de grande parte das formações vegetais ori- ver espaços efetivos de aprendizagem e vivência de
ginais. A tendência de desmatamento começou a uma inteligência social-comunitária que necessita
mudar recentemente com o avanço da legislação ser compreendida e aprendida por todos. O facilita-
ambiental, o aperfeiçoamento dos mecanismos de dor é Adriano Galhardo Pedroso199 .
controle e o crescente reconhecimento pela so-
ciedade da importância das florestas para manu- Redes e Ações Colaborativas
tenção da biodiversidade, a fixação do carbono da
Fruto do relacionamento complexo, horizontal e es-
atmosfera, a proteção do solo contra a erosão e a
truturado no fluxo poroso das relações capilariza-
prevenção do assoreamento de represas e cursos
das, as redes assumem múltiplas formas. As idéias
de água. A proposta é sensibilizar através de vi-
de redes e de ações colaborativas não são novas,
vências, a co-responsabilização quanto a recupe-
mas foram reconhecidas pelos meios de comunica-
ração de áreas degradadas pela urbanização e a
ção de massa dessa maneira na última dezena de
preservação de espécies nativas, notadamente as
anos ou pouco mais. Compreende-se com relativa
ameaçadas de extinção.
facilidade a presença das redes de relacionamento
como o Orkut, o Facebook e o Twitter ou das redes
5.3 Dimensão Social profissionais como o Linkedin em nossas vidas. Mais
Esse módulo que trata da dimensão social é com- rara, mas não por isso menos importante, é a com-
preensão de redes mais antigas que operaram de
posto pelos temas: Criando comunidade, sinergia
maneira dinâmica, complexa, porosa e capilar muito
e reciprocidade; redes e ações colaborativas; Lide-
antes de as reconhecermos dessa maneira. Há uma
rança e Empoderamento: agentes de transformação
rede quase invisível que nos envolve e que chama-
pessoal e comunitária; Metodologias sociais; Arte e
mos de Universo. A menor partícula conhecida e as
transformações sociais. Arte e celebração.
maiores galáxias de que temos conhecimento estão
intimamente ligadas através de redes. Em nosso en-
198 | Bióloga, pesquisadora da Seção Técnica de Pes-
quisa da Divisão de Produção (DEPAVE-2) do Departa- contro vamos tratar dessa organização para enten-
mento de Parques e Áreas Verdes, onde cuida, inclusive,
da coleta de sementes e produção de mudas. Criou um 199 | Pedagogo, com formação em Psicopedgogia, Ges-
canteiro de plantas medicinais no Viveiro Manequinho tão de Pessoas e em Análise Transacional. É Trainer
Lopes, que tem sido campo de estudo para cursos da em PNL - Programação Neurolinguística, Focalizador
UMAPAZ, onde Ione colabora como educadora Formulou em Danças Circulares e Jogos Cooperativos, Terapeuta
e realiza, na UMAPAZ, o curso Sementes, mudas, árvo- Comunitário e Terapeuta Floral. Atua há 12 anos com
res, florestas, pelo qual já passaram muitas turmas. É educação (escolas, empresas, instituições públicas),
especialista em Ecologia, Arte e Sustentabilidade, pela com desenvolvimento de pessoas e grupos, e com aten-
UNESP/UMAPAZ. dimento clínico em consultório.
74
tribua para a reconexão do olhar e o reencontro com partida para se aproximar da questão econômica,
a beleza e diversidade das formas naturais, seguido social e ambiental, compreendendo a dimensão sis-
de uma roda de diálogo onde os participantes pode- têmica, dinâmica e viva desta realidade poderosa
rão compartilhar suas visões. A facilitadora é Maria que é a economia. A proposta é trabalhar de forma
Christina Belfort203 . conjunta sobre este tema complexo, aberto a di-
versos pontos de vista, de modo a empreendermos
Arte e Celebração a tarefa de desvelá-lo e compreendê-lo, conside-
rando que o desenvolvimento atual da humanidade
Atividades artísticas, festivais, encontros de não pode evitar e nem postergar esta questão. Fa-
criatividade e celebrações são integradores dos cilitador Jefferson Costa204.
diversos nichos sociais, são caminhos da recupe-
ração e o revisitar do trajeto cultural, mantendo Ecosocioeconomia
sua vitalidade criativa. O vivenciar do universo
simbólico que nos trouxe até o presente, sus- Com a facilitação de Lia Salomão Lopes205, faz-se
tenta a unidade social e a inter-relação cultural, a analise das mudanças nos padrões de desenvol-
mantendo-a viva. A proposta, coordenada por vimento econômico. Identificação de necessidades
Maria Christina Belfort, mobilizou um grupo de de alteração da cadeia de produção para o desen-
gaianos dos anos anteriores. volvimento sustentável, com a análise coletiva da
cadeia produtiva atual. Reflexão sobre a ferramen-
5.4 Dimensão Economica ta territorial de alteração do padrão de produção e
desenvolvimento.
Esse módulo que trata da dimensão economica é
composto pelos seguintes temas: Tirando as Más- Economia e Geopolítica
caras da Economia: Economia, Espiritualidade e
Desenvolvimento Humano; Ecosocioeconomia: De- O Desenho do tecido econômico mundial se reorga-
senvolvimento local, economia solidária e redes; nizou, nos últimos tempos. Este modulo pretende
Comércio justo; Desenvolvimento local sustentável: explorar o novo modelo, Analisando as bases da
experiências em São Paulo Geopolítica econômica mundial e como este tecido
76
ensino-aprendizagem do espírito gaiano em meio sino-aprendizagem de convívio solidário urbano e de
urbano: Gestão da Mobilidade; Gestão da Alimenta- compreensão das relações campo-cidade, produtor-
ção; Gestão do Lazer; Facilitação da Articulação da consumidor. Foi constituído um grupo para contribuir
Rede208 para que os participantes se alimentassem de forma
adequada, saudável, prazeirosa, solidária e com res-
Essas frentes – mobilidade, alimentação, lazer, rede
peito mútuo durante o Curso, como parte do proces-
– visaram a que os participantes experimentassem
so de ensino-aprendizagem; maximizar a aquisição e
práticas referidas a orientações e reflexões com-
consumo de alimentos saudáveis e ambientalmente
partilhadas durante o curso, bem como a adaptação
responsáveis; minimizar o desperdício e a produção
dos ensinamentos gerados nas ecovilas para meio
de resíduos; orientar para a correta disposição e
urbano transpondo os limites da reflexão teórica e
destinação dos resíduos orgânicos e os demais.
encontrando formas de se realizar na complexidade
de uma cidade como São Paulo, podendo, eventual- Em relação ao lazer, 25% dos participantes eram
mente, ser usada em outras cidades. de fora da cidade e, além disso, no período do curso
havia dois finais de semana. A cidade de São Paulo
No que diz respeito à mobilidade, a situação é que
oferece, de forma gratuita ou com baixo custo, ati-
eram 120 alunos deslocando-se para a UMAPAZ, na
vidades de lazer e oportunidades de encontros em
região sul, de vários pontos da cidade e retornando
muitos parques públicos, atividades de arte, cultura
a sua origem, durante 12 dias. Além disso, 25 alunos
e esportes livres em unidades da própria prefeitura
eram de outras cidades e cinco de outros estados do
(centros esportivos, teatros) e do sistema S (SESC e
Brasil. Uma pegada e tanto, sobretudo considerando
SENAC). O grupo de apoio ao lazer procurou contri-
as dificuldades de trânsito em São Paulo. O objeti-
buir identificando essas oportunidades e trabalhan-
vo estabelecido para esse grupo foi o de contribuir
do o tempo de lazer como parte do ensino/apren-
para a gestão solidária e responsável da mobilidade
dizagem da convivência urbana alegre, criativa,
dessa turma, realizando pesquisa origem-destino de
solidária e responsável , demonstrando como buscar
cada aluno, mapeando os grupos por região e bairro;
alternativas individuais e coletivas para o lazer em
identificação de alternativas de percurso e modos de
meio urbano.
acesso: a pé, de bicicleta, de ônibus, de metro, de
carro/carona e modos combinados, com os tempos Já o grupo de Articulação da Rede teve como ob-
médios dos percursos; facilitando a auto-organiza- jetivo promover a integração dos gaianos inclusive
ção dos participantes para a formação de grupos por com as turmas já concluídas.
bairro, proximidade, modo de locomoção.
No que diz respeito à alimentação eram 120 almo- 7. Os gaianos e suas vozes
ços e 240 lanches diários. No primeiro e no último dia
Como se pode ver dos itens anteriores, muitos gaia-
serão oferecidos alimentos para os participantes.
nos ficam ligados entre si e aos trabalhos da UMA-
Nos demais dias eles deveriam trazer e comparti-
PAZ, tornando-se reeditores209 dos conhecimentos
lhar seus alimentos como parte do processo de en-
construídos. No próprio conjunto de facilitadores de
208 | Esse trabalho foi coordenado por Glacilda Pinheiro 2010 figuram participantes das primeiras turmas.
Correa, educadora e diretora de Formação da UMAPAZ,
e Jacob (Jack) Shdaior ,empresário e ganiano, com o A seleção, em 2010, pautou-se pelos mesmos crité-
apoio de Mordehai Shcaior, arquiteto, que trabalhou rios usados na composição das turmas anteriores,
com a questão da Mobilidade), Anne Trummer e Suely
Feldman Bassi, que trabalharam com a orientação da
Alimentação, Rodrigo Garcia e Luna Borges, responsá- 209 | Não se trata de mera multiplicação, mas de reedi-
veis pela questão do Lazer e Marina Spirandelli e Rodri- ção, onde cada educando também se torna produtor de
go Cardoso, que trabalharam a articulação da rede. novos conhecimentos e práticas.
78
Os estágios, em alguma medida, mostraram a pas-
sagem da intenção à prática. As escolhas de ativi-
dades foi bastante diversificada, desde ações nos
bairros dos participantes, como “Ações para uma
Vila Brasilândia mais sustentável”; “Análise mul-
tidisciplinar da Praça Victor Civita”; “Tatuapé em
Transição”, “ Implantação do parque linear do Ri-
beirão Água Podre”, até a formação de um “banco
de sementes” a articulação de “rede de cooperação
para incentivo à reciclagem de resíduo doméstico” e
“Trabalho com os professores e funcionários de um
núcleo sócioeducativo”. Projetos onde os participan-
tes puderam aplicar e complementar a construção
de conhecimentos.
Uma participante, que veio de Fortaleza (CE) pro-
pôs-se a levar a Educação Gaia para sua cidade210.
De fato, em 2012, a UMAPAZ foi convidada para a
abertura do curso em Fortaleza, articulando a Se-
cretaria Municipal de Meio Ambiente, a Universidade
Estadual do Ceará e a comunidade de Sabiaguaba,
uma área de preservação.
Outro participante, vindo do Acre211, propôs-se a ca-
pacitar agentes comunitários na elaboração partici-
pativa do plano diretor no Vila Céu do Mapiá, Flores-
ta Nacional do Purus, Pauini-Am.
Um número expressivo de gaianos certificados em
São Paulo, das várias turmas, está trabalhando na
educação socioambiental em programas oferecidos
pela própria UMAPAZ, em organizações não gover-
namentais na Cidade de São Paulo e em outras ci-
dades. A própria Prefeitura de São Paulo absorveu
gaianos certificados também como administradores
de parques urbanos212.
Alia-se, desse modo, a capacitação Gaia com opor-
tunidades para esses profissionais aplicarem seus
valores e conhecimentos na vida pública paulistana,
como sementes de transformação, demonstrando a
potência da Educação Gaia também em meio urbano.
Resumo Abstract
O programa Articulação Local para o Desenvolvimen- The Local Articulation for Sustainable Development
to Sustentável tem o propósito de fortalecer os cida- Program has the purpose to strengthen citizens for
dãos para a análise crítica de sua realidade e muni- a critical analysis of the reality and to provide them
los de ferramentas que contribuam para transformar tools that contribute to transform their choices, their
suas escolhas, seu cotidiano e seu entorno de forma daily lives and surroundings, in a sustainable way.
sustentável. Desenvolvido pela UMAPAZ desde o Developed by UMAPAZ since 2010, the program be-
ano de 2010, passou a focalizar, em 2012, os Agen- gan to focus, in 2012, on Community Health Agents,
tes Comunitários de Saúde, no âmbito do Programa under the Green and Healthy Environments Program,
Ambientes Verdes e Saudáveis da Estratégia Saúde of the Family Health Strategy in the São Paulo City.
da Família no município de São Paulo. O objetivo é The main objective is to empower those agents, who
empoderar esses agentes, que se relacionam cotidia- maintain a daily relationship with the local popula-
namente com a população, em cuja região residem, tion, by living in the same region of them, so that, at
para que, ao conhecerem e vivenciarem as realidades the time, they can recognize and experience the re-
locais, sejam capazes de refletir sobre as suas especi- gional realities, being able to reflect on their spec-
ficidades, necessidades e potencialidades e de apoiar ify cities, needs and potentials and to support the
a realização de estratégias e ações que contribuam execution of strategies and actions that contribute
para o desenvolvimento local sustentável. O progra- to sustainable local development. The program has
ma já alcançou 12 turmas e 389 agentes de saúde, reached 12 groups and 389 health agents, in 2012,
em 2012, estando programadas mais 16 turmas para with more 16 groups scheduled for 2013.
2013. Keywords: local articulation, sustainable develop-
Palavras-chave: articulação local; desenvolvimen- ment, community health agents; empowerment
to sustentável; agentes comunitários de saúde;
empoderamento
80
1. Introdução dades descentralizadas, cerca de 50%, concentram-
se em bairros ainda centrais, como Vila Mariana, Ja-
O presente artigo tem por objetivo apresentar as baquara, Ipiranga, Santo Amaro, Lapa e Butantã.
experiências resultantes do acompanhamento e de-
Diante deste quadro e por meio do Programa, mais
senvolvimento do Programa “Articulação Local para
do que ampliar a oferta de cursos descentralizados,
o Desenvolvimento Sustentável”. O Programa nas-
a UMAPAZ buscou levar para fora do eixo central da
ceu em outubro de 2009, como desdobramento do
cidade o debate sobre modos de convivência socio-
curso “Verde em Ação”. Este, em seu formato inicial,
ambiental sustentáveis.
buscava atender a uma demanda de promover o de-
bate ambiental entre formadores de opinião locais Inicialmente, com o nome de “Verde em Ação”, o
com espaço de atuação, porém carentes de conte- curso debruçava-se mais sobre os conceitos de Edu-
údo com uma abordagem técnica. Assim, surgiu da cação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável,
necessidade do Departamento de Gestão Descentra- instigando que os participantes passassem a ques-
lizada (DGD) Sul 2 em propor ações locais em prol do tionar o modo de organização da sociedade atu-
desenvolvimento sustentável. Com este nome inicial al. Para tanto, baseava em atividades e dinâmicas
foram realizadas cinco turmas, cujas discussões que promovessem o empoderamento para posterior
mostraram que o conteúdo inicialmente planejado transformação.
precisava ser alterado para se adequar às realidades Com o passar das turmas pode-se perceber que o
da prática e especificidades locais. curso precisava dialogar com possibilidade reais
O presente trabalho está dividido em 6 seções. A de transformação local. Foi um entendimento de
segunda seção apresenta o histórico do programa, que, em regiões onde a infraestrutura é precária e o
as parcerias que já foram realizadas e a população acesso a educação e renda ainda são incipientes, a
atendida. Na terceira seção é apresentado o Progra- temática ambiental somente encontraria entrada e
ma Ambientes Verdes e Saudáveis, bem como a par- aceitação quando dialogasse com a realidade, pro-
ceria deste com a UMAPAZ. A quarta seção expõe pondo soluções, somando-se à busca por inclusão
os objetivos do Programa para 2012 e os detalhes e desenvolvimento. Entende-se, a partir daí, que o
da articulação para a realização da Capacitação dos próprio desenvolvimento sustentável é impulsio-
Agentes Comunitários de Saúde. Compete à quinta nador de uma melhora de qualidade de vida dessas
seção explicar as escolhas e abordagens do curso. comunidades, somando, muitas vezes, novas formas
Por fim, sexta seção apresenta os resultados alcan- de impulsioná-lo, com criatividade e inovação na
çados ao longo nesta parceria. busca de uma realidade melhor para todos. Segundo
Dowbor (2001), somente com a inclusão social e a
2. Verde em Ação oportunidade de mudança abrem-se as portas para
o Desenvolvimento Sustentável como um elemento
Segundo o relatório anual, no exercício de 2011, a real nas comunidades.
UMAPAZ ofereceu 12.825 horas/aula em seus cur-
A partir de março de 2010, já com o nome atual, o
sos, atividades e oficinas de educação ambiental e
Articulação Local para o Desenvolvimento Sustentá-
cultura de paz, atendendo 180.398 pessoas, sendo
vel o Programa se firma como um curso descentrali-
que 25% das atividades oferecidas pelo foram rea-
zado da UMAPAZ, uma vez que pretende promover o
lizadas de forma descentralizada215. Neste mesmo
debate ambiental entre formadores de opinião locais
relatório é possível notar que grande parte das ativi-
visando o desenvolvimento sustentável da região.
215 | O relatório completo pode ser obtido no site da Desde então, o curso tem sido procurado para aten-
Umapaz (www.prefeitura.sp.gov.br/umapaz). der a demanda dos Núcleos de Gestão Descentra-
82
Desde 2007, o PAVS desenvolve ações de inter- construção de uma relação de pertencimento com o
venção local nos territórios, e para tanto, a ação entorno e, portanto, sua valorização, pretende-se
do agente comunitário de saúde (ACS) e do agente construir uma nova forma de pensar e agir, estabe-
de proteção ambiental (APA) é fundamental, pois lecendo uma relação de troca entre meio ambiente
seu trabalho possibilita a alteração de situações- e atores locais, que beneficiará tanto a conservação
problema que comprometem a qualidade de vida da e o respeito à natureza, quanto o desenvolvimento
comunidade onde atuam. Atualmente, a Cidade de dos moradores destas áreas.
São Paulo conta com a participação efetiva de quase Assim como nas parcerias firmadas anteriormen-
7.000 Agentes. te, este propósito somente é possível devido a
A atuação do ACS contribui para a qualidade de vida forma de atuação em rede da UMAPAZ, pois para
das pessoas uma vez que ele conhece o território, os que as ações sejam efetivas, duradouras e con-
problemas, e também as potencialidades de crescer tinuem promovendo mudanças é imprescindível a
e desenvolver socioeconomicamente a região (BRA- construção com parceiros locais. Neste sentido, o
SIL, 2009). Assim, apesar do público-alvo desta ca- PAVS é indispensável.
pacitação ser especificamente os Agentes de Saúde, Através desta parceria UMAPAZ/PAVS, pretendeu-
é válido afirmar que toda a comunidade será benefi- se capacitar com este curso 480 Agentes Comuni-
ciada, pois, em muitos casos, o ACS desempenha o tários de Saúde e Agentes de Promoção Ambiental
papel de estimular e organizar as reivindicações da da Coordenadoria Regional de Saúde Norte, dividi-
comunidade local. dos em 14 turmas. Desta maneira, além de uma mu-
É possível observar a relevância deste tipo de atu- dança na visão das possibilidades de atuação local
ação no Manual do Ministério da Saúde, dirigido aos do ACS, almeja-se também levar novos conceitos e
ACS. O Agente Comunitário de Saúde “deve com- ferramentas de educação ambiental que possam ser
preender a importância da participação popular na utilizados na construção de alternativas locais de
construção da saúde, estimulando assim as pessoas desenvolvimento, através da interação entre atores
da comunidade a participarem das discussões sobre locais e o meio ambiente.
sua saúde e o meio ambiente em que vivem, aju- Por se tratar de um programa que parte da lógica
dando a promover a saúde e a construir ambientes de aproximação dos atores locais, ele é reeditado a
saudáveis” (BRASIL, 2009, 27p.). Nota-se, portanto, cada nova turma de acordo com as especificidades
a convergência de ideais entre o Programa da UMA- daquele território. Assim, um momento prévio de
PAZ e o PAVS. planejamento faz-se necessário.
Primeiramente foi realizada uma reunião entre a
4. Objetivos do Programa em UMAPAZ e a Gestão Regional do PAVS a fim de de-
2012: Articulação para a senhar a capacitação, definir seu conteúdo, forma-
Capacitação de ACS to e possível agenda de execução. Posteriormente
O curso Articulação Local para o Desenvolvimento realizaram-se reuniões com as Instituições parcei-
Sustentável foi idealizado com o objetivo de promo- ras da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que
ver o entendimento de que ao conhecer o local de gerenciam os serviços de saúde da família em cada
atuação e vivência, apropriando-se de suas espe- região, para a apresentação e validação do projeto.
cificidades, é possível traçar estratégias de partici- Todas as Instituições aderiram ao modelo formatado
pação em prol de um território. A partir da tomada e contribuíram com sugestões que enriqueceram a
de consciência da importância do meio ambiente, da capacitação.
Por fim, parceiros no território, representados por di- Como em toda parceria, cada ator deve exercer
versos gestores locais do PAVS, acionam suas redes bem sua função para que o todo caminhe adequa-
para organizar a logística dos encontros, segundo a damente. Por parte da Instituição parceira coube a
proximidade dos locais em relação ao ambiente de convocação dos ACS, APA e demais interessados
trabalho; e convocação equilibrada de ACS e APA, da Unidade Básica de Saúde, alocação de recursos
para não esvaziar demasiadamente a Unidade de materiais e financeiros. Por outro lado, compete à
seus recursos humanos. UMAPAZ construir, em parceria com gestores locais,
o conteúdo e a metodologia destas aulas, disponibi-
De maneira ilustrativa, o fluxo das etapas é exposto
lizando palestrantes capacitados para ministrar as
na Figura 2.
turmas previstas218.
O programa de capacitação foi formatado com carga
Vale reforçar que o trabalho de capacitar tais pa-
horária total de 32h, distribuídas em 4 encontros de
lestrantes se faz necessário para que todos os
8h cada.
professores/facilitadores garantam que a capaci-
Em cada turma, nas três primeiras manhãs, o Pro- tação aconteça de forma homogênea, em termos
grama Ambientes Verdes e Saudáveis é contextuali- de conteúdo, e consistente quanto aos objetivos e
zado e apresentado aos ACS e APA, assim como os metodologias.
sete eixos de atuação do PAVS: (a) Gerenciamento
de Resíduos; (b) A3P; (c) Revitalização de espaços
Públicos; (d) Cultura, Comunicação e Cultura de Paz;
5. Fundamentação teórica
(e) Biodiversidade e Arborização; (f) Água, Ar e Solo; Criar condições para que o desenvolvimento respon-
(g) Horta e Alimentação Saudável. Também são ex- da “as necessidades do presente sem comprometer
postos projetos de sucesso implantados em outras a capacidade das gerações futuras de responder as
Unidades Básicas de Saúde. suas necessidades”219 é, talvez, o maior desafio da
Já nas três tardes e no quarto dia, os palestran- sociedade atual.
tes da UMAPAZ217 dialogam sobre (a) os impactos Por dialogar com todos os elementos da sociedade,
da sociedade de consumo, sob a ótica da pegada a temática ambiental configura-se, portanto, como
ecológica e da cadeia produtiva; (b) indicadores de parte essencial nesta estratégia. Isso se torna evi-
desenvolvimento local e a questão dos resíduos, dente uma vez que o desenvolvimento sustentável
sob a perspectiva da Política Nacional de Resíduos
Sólidos; (c) Economia Solidária e Permacultura; (d) 218 | Os profissionais para ministrar os cursos são con-
biodiversidade local e diagnóstico participativo. tratados através do Edital de credenciamento de pesso-
as físicas interessadas em prestar serviços de natureza
217 | Para o cumprimento desta parceria contou-se com intelectual como palestrantes nas atividades de educa-
a participação de Débora Pontalti Marcondes, Lia Salo- ção ambiental.
mão Lopes, além da colaboração de Dan Levy, Gabriela 219 | Definição de Desenvolvimento Sustentável, se-
de Campos Nardocci, Raquel Vettore, Vitor Mizuki, e Val- gundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
dilene de Oliveira, estagiária da Umapaz. Desenvolvimento.
84
está pautado no tripé equidade social, desenvolvi- to é, assim, o desenvolvimento territorial, dinami-
mento econômico e preservação ambiental. zado por agentes e vantagens locacionais, no qual
o território é o ator principal. Desta forma, esse
Dada a complexidade de unir os elementos econômi-
desenvolvimento será o resultado de uma ação
cos, sociais e ambientais, faz-se necessário mudar a
coletiva intencional de caráter local, um modo de
escala de análise, e de atuação, para o âmbito local.
regulação territorial associada a uma cultura, a
Segundo Dowbor, “Ao se deslocar boa parte das ini-
uma natureza, a um plano e a instituições locais
ciativas do desenvolvimento para o nível local, apro-
(PIRES et al. 2006)
xima-se a decisão do espaço onde o cidadão pode
efetivamente participar, enfrentando em particular Propor uma reorganização territorial que envolva os
a marginalidade urbana que se tornou a forma do- interessados e vise ao Desenvolvimento Sustentá-
minante de manifestação da nossa tragédia social” vel é um objetivo de longo prazo, mas pretende-se,
(DOWBOR, 2003). com o curso, mostrar a possibilidade dessa forma de
organização que aproxime o cidadão das tomadas de
5.1 Desenvolvimento local decisões, abrindo um leque de possibilidades de de-
senvolvimento para os cidadãos e seus territórios.
O desenvolvimento local, fomentado pelo fortale- O entendimento da importância dos espaços de par-
cimento político e institucional de entidades locais, ticipação, com a tomada de consciência e intencio-
promovendo melhoria da qualidade de vida e empo- nalidade das comunidades em utilizá-los, também
deramento da comunidade, levará também à conser- é fundamental e pode ser estimulado no questiona-
vação ambiental, através da construção de modelos mento do sistema produtivo e das condutas indivi-
alternativos de desenvolvimento (BUARQUE, 2008). duais, evidenciando a necessidade de transformação
O desenvolvimento estará, portanto, fundado em ca- para a qualidade de vida.
racterísticas específicas de um local e delas surgirão Baseando-se nestes elementos expostos, o curso
possibilidades efetivas para que o próprio cidadão “Articulação Local para o Desenvolvimento Susten-
comande seu desenvolvimento, regulando estraté- tável” está pautado na teoria do Desenvolvimento
gias e ações condizentes com o local. Local, pois é nesta escala que as transformações
Trazer o cidadão ao centro das decisões nada mais é poderão se tornar reais. Além disso, é também na
do que privilegiar aqueles que conhecem e se reco- escala local que o compromisso com a preserva-
nhecem neste recorte territorial, sendo capazes de ção do meio torna-se evidente e problemático para
identificar as potencialidades para o desenvolvimen- a complexa gestão de uma cidade. Contudo, neste
to. Trata-se, pois, do pressuposto que as pessoas tipo de desenvolvimento proposto, o meio ambiente
devem participar ativamente e não apenas serem torna-se um elemento impulsionador e sustentador
beneficiárias do desenvolvimento (BUARQUE, 2008). de uma realidade social mais igualitária e de cresci-
mento econômico.
Nesse sentido, procura-se não apenas estraté-
gias que pensem outra forma de agir sobre o meio, No âmbito local, o coletivo é necessário para o bem
mas que possam ser um processo de mudança de estar social, o equilíbrio do meio é essencial para a
caráter endógeno, de dentro para fora, de baixo geração de renda e inclusão social, e a equidade é fa-
para cima, que produza solidariedade e cidadania. tor indispensável à preservação ambiental. Ou seja,
Estratégias pensadas para conduzir, de forma in- é no nível local que os pilares da sustentabilidade
tegrada e permanente, a mudança qualitativa e a tornam-se verdadeiramente indissociáveis, por ser o
melhoria do bem-estar da população de uma loca- local um espaço privilegiado para experimentações
lidade ou uma região. O desenvolvimento propos- contra-hegemônicas e coletivas (SANTOS, 2002).
86
ção dos recursos naturais, máxima exploração dos mais é do que analisar a possibilidade de integra-
trabalhadores e na externalização dos custos de ção de fatores locacionais e de produção, ou seja, da
produção. Ou seja, os produtos e serviços oferecidos transformação das especificidades locais em ativos
no mercado não contabilizam os danos causados às e recursos econômicos, visando cadeias produti-
pessoas e ao meio, gerando uma situação de baixa vas competitivas e que gerem um desenvolvimento
qualidade de vida em detrimento de produtos que sustentável.
tem o baixo custo como fator primordial de com-
Estimular cadeias produtivas locais está baseado na
petitividade. Essa lógica produtiva, legitimada por
formação de redes de cooperação entorno da opor-
condutas individuais, geridas por interesses econô-
tunidade de geração de trabalho e renda. Porém, ao
micos, prejudica o estabelecimento de um Desenvol-
se pretender esse desenvolvimento econômico será
vimento Sustentável ao impedir sistemas produtivos
preciso o entendimento de que ele está calcado na
ambientalmente corretos e socialmente justos.
interação dos elementos locais.
Assim, torna-se fundamental trazer à discussão do
A análise do sistema produtivo servirá, portanto,
desenvolvimento sustentável o seu pilar econômico,
para a reflexão da necessidade de aproximar os ele-
muitas vezes, uma forma eficaz de chamar a atenção
mentos da cadeia produtiva beneficiando as pesso-
para a possibilidade de geração de emprego e ren-
da ao construir uma nova relação com as pessoas e as, o meio e a geração de riquezas. Manter a organi-
com o meio a sua volta. zação do sistema produtivo como está hoje é manter
um padrão de baixa qualidade de vida e degradação
Como ser produtivo e competitivo se o desenvolvi- do meio.
mento sustentável propõe redução do uso e impacto
de recursos naturais? Essa dicotomia se dissolve no Neste contexto, riqueza e investimento devem ser
âmbito local, onde as especificidades locais e suas entendidos para além do dinheiro, mostrando que
vocações (atividades potenciais) surgem como van- economia em o nível local está ligada ao estabeleci-
tagens competitivas. Além disso, é nesta escala de mento de novas relações sociais, do respeito ao meio
análise que flexibilidade e inovação (elementos atra- e de novas relações de vizinhança e pertencimento.
tivos de um Mercado globalizado) podem emergir de A mudança nas relações se reflete, principalmente,
um local articulado, onde haja governança, partici- nas parcerias e na participação, tanto nas tomadas
pação e planejamento. (PIRES; et al. 2006). de decisão como nas ações locais.
Dessa forma, os participantes do Curso são convida- Trata-se de colocar no centro das reflexões dos ato-
dos a refletir sobre a oportunidade de formação de res sociais a mobilização para novos arranjos produ-
cadeias produtivas que possam ser por eles influen- tivos que tenham como base a mudança de cultura e
ciadas. Se não há a intenção de deixar de consumir, padrões, demonstrando as vantagens competitivas
mas sim de fazer parte de uma produção social e am- desta mudança (SILVEIRA et al, 2001).
bientalmente mais justa, é necessário refletir sobre O olhar econômico sobre um local sugere a criação
de quais tipos de cadeias produtivas, ou de sistema de cadeia produtivas locais a partir dos seguintes
produtivo, nós podemos e queremos fazer parte para aspectos: pela existência de atividades produtivas
que o desenvolvimento produtivo dos territórios re- com características comuns; pela existência de uma
sulte em beneficies para os cidadãos e para o meio. infraestrutura tecnológica significativa; pela exis-
Assim, debruçar-se sobre o desenvolvimento produ- tência de relacionamentos dos agentes produtivos
tivo do território é uma forma de articular as dife- entre si e com os agentes institucionais locais, con-
rentes atividades presentes em um espaço urbano solidando a geração de sinergias e de externalidades
determinado, já que falar em sistema produtivo nada positivas. Essas características conferem às cadeias
É desta maneira que se inicia a construção do pro- Assim, almeja-se que a articulação local propicie o
cesso de transformação urbana proposta pelo Cur- desenvolvimento da prática da coleta seletiva, com
so, considerando que, para transformar os locais, é destinação dos materiais às cooperativas locais,
preciso que as pessoas se transformem e que elas alimentando sistemas maiores de logística reversa
transformem o consumo, os produtos, as relações e e incorporando, no cotidiano dos cidadãos, a res-
os resíduos gerados. Ou seja, será não só pela to- ponsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
mada de consciência, mas pelas oportunidades de produtos.
transformação que o Desenvolvimento Local Sus- A Responsabilidade Compartilhada, instituída pelo
tentável terá inicio. Artigo 30 da PNRS, deve ser realizada de forma in-
dividualizada, porém por meio do encadeamento das
5.3 Resíduos ações dos fabricantes, importadores, distribuidores,
comerciantes, consumidores e serviço público de
Olhar os resíduos sólidos domiciliares é um exemplo limpeza urbana, de forma que o sucesso do todo seja
de como o problema pode ser visto como oportuni- priorizado. Desta maneira, os interesses individuais
dade de promover crescimento e desenvolvimento de todas as partes serão atendidos, possibilitando
para o bairro, através de uma maior gerência sobre o melhor aproveitamento dos resíduos, direcionando-
problema. Visto que uma das formas de se repensar
os de volta para sua cadeia produtiva ou outra eco-
e reformular a cadeia produtiva, passa pelo enten-
nomicamente viável (SÃO PAULO, 2012).
dimento de que novas formas de gestão de resíduos
são necessárias, a fim de reintroduzi-los na produ- Com tais práticas, os benefícios gerados para a co-
ção, reduzindo, assim, a disposição final em aterros munidade são: redução da geração de resíduos, de
sanitários. desperdício de materiais e de poluição; estímulo a
novos mercados de materiais e serviços; e o incentivo
A base deste processo é compreender a Política
à boas práticas de responsabilidade socioambiental.
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em
agosto de 2010, e o Plano de Gestão Integrada de Re- Instituída pelo Artigo 33 da PNRS, a Logística Re-
síduos Sólidos do Município de São Paulo, aprovado versa define quais setores são obrigados a firmar
em julho de 2012 (BRASIL, 2010; SÃO PAULO, 2012). acordos, independentes ao serviço público de limpe-
Estes dois instrumentos, legais e complementares, za urbana, para garantir a gestão ambientalmente
necessitam ser encarados como oportunidades para adequada dos resíduos de setores como agrotóxi-
que a cooperação mútua entre Administração Pú- cos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias;
blica, entidades representativas, iniciativa privada pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embala-
e sociedade civil organizada, traga, para o nível lo- gens; produtos eletroeletrônicos e seus componen-
cal, um modelo de gestão com “sistemas de custo tes (SÃO PAULO, 2012).
88
Vale ressaltar que cabe aos consumidores devolve- ocupação e edificações que pouco, ou nada, se adé-
rem resíduos de agrotóxicos e eletroeletrônicos aos quam ao local onde estão inseridas. Resulta deste
comerciantes e distribuidores após o uso, além de processo o mau aproveitamento dos recursos, obri-
qualquer outro tipo de embalagens. Desta forma, gando, por exemplo, ao uso de ventiladores, ares-
nos locais onde houver coleta seletiva e/ou logística condicionados, ou luzes acesas durante o dia. Tais
reversa obrigatória, o consumidor deve aderir, sepa- custos podem ser evitados ou minimizados com
rando e disponibilizando para coleta, reutilização ou um planejamento que aproveite os recursos dispo-
devolução. níveis, ou a utilização de tecnologias adequadas a
localidade.
5.4 Permacultura Neste sentido, os participantes são convidados a
Entretanto, as possibilidades de atuação do cida- experimentar alguns exemplos compatíveis com o
dão não se resumem às obrigações da Lei. A fim de meio-urbano e facilmente replicáveis em suas comu-
ilustrar a viabilidade real do desenvolvimento local nidades, tais como: compostagem doméstica dos re-
sustentável, práticas de sustentabilidade urbanas síduos orgânicos, aquecedores solares de baixo cus-
são apresentadas a seguir, gerando benefícios eco- to, telhado verde, captação e reutilização de água da
nômicos, ambientais e sociais àquela comunidade. chuva, hortas suspensas e canteiros caseiros.
Por trás deste conteúdo, duas ideologias de trans- Contudo, apesar de todos os benefícios reais trazi-
formação social são expostas: a Permacultura (HOL- dos pela permacultura, ela por si só não basta para
GREN, 2002; MOLLISON, 1999) e a Economia Solidá- promover o desenvolvimento sustentável na comu-
ria (SINGER, 2002). Elas respondem à pergunta de nidade. É preciso também novos arranjos econômi-
como fazer para repensar produção, consumo e ge- cos, novas formas de organização social.
ração de resíduos, promovendo um desenvolvimento
que ocorra de dentro para fora, aliando os pilares
5.5 Economia Solidária
econômico, social e ambiental.
Segundo um de seus criadores, a Permacultura con- A Economia Solidária é um movimento social abor-
siste na “A elaboração, a implantação e a manuten- dado no curso como uma proposta de reorganiza-
ção de ecossistemas produtivos que mantenham a ção do sistema socioeconômico na perspectiva do
diversidade, a resiliência e a estabilidade dos ecos- Desenvolvimento Sustentável Local. Ela responde
sistemas naturais, promovendo energia, moradia e à questão de como transformar a cadeia produtiva
alimentação humana de forma harmoniosa com o para que esta seja local e colabore com um desen-
ambiente” (MOLLISON, 1999, prefácio). volvimento que não agrida ao meio e às pessoas. A
Economia Solidaria apresenta-se, nos últimos anos,
Baseando-se nas linhas gerais da Permacultura, como inovadora alternativa de geração de trabalho
propõe-se que as atividades humanas, como o uso e e renda e uma resposta a favor da inclusão social.
ocupação do solo combinem os desejos da comuni- Compreende uma diversidade de práticas econômi-
dade ao meio ambiente, beneficiando-se dos recur- cas e sociais organizadas sob a forma de coopera-
sos abundantes na região e viabilizando intercone- tivas, associações, clubes de troca, empresas em
xões que fechem ciclos dentro do mesmo sistema. autogestão, redes de cooperação, entre outras, que
Assim, o reaproveitamento de resíduos ou exceden-
realizam atividades de produção de bens, prestação
tes será mais eficiente.
de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio
Entretanto, cabe ressaltar que no meio urbano o que justo e consumo solidário (definição do Ministério do
se vê é a repetição de padrões pré-estabelecidos de Trabalho).
90
Diante deste quadro, a Secretaria do Verde e do Meio Esta metodologia, segundo o SEBRAE, sistematiza
Ambiente do Município de São Paulo e o Centro de o conhecimento das potencialidades, das vocações
Estudos da Metrópole publicaram, em 2008, o “In- (atividades potenciais) e vantagens comparati-
dicadores Ambientais e Gestão Urbana: os desafios vas locais (condições que sustentam as atividades
para a construção da sustentabilidade na cidade de vocacionais), exigência básica para o processo de
São Paulo”, onde são caracterizadas as condições desenvolvimento.
socioambientais e como elas condicionam a susten- O Diagnóstico Local participativo é fundamental
tabilidade em São Paulo. Uma das grandes contri- para o Desenvolvimento Local Sustentável já que
buições que esta publicação traz é criação de grupos fortalece o exercício da cidadania e que tem condi-
de distritos onde fenômenos ambientais e sociais ções de criar um espaço de interação dos cidadãos,
interagem de maneira semelhante. recuperando a iniciativa e a autonomia na gestão do
Este exercício, de debruçar-se sobre as especificida- que é publico. (MARTINS e CALDAS, 2009).
des de um dado local, é um primeiro movimento para As reflexões e conteúdos expostos e discutidos até
a formação de um diagnóstico participativo, que irá aqui são pilares para a construção de um plano es-
amparar a construção de um plano estratégico de tratégico elaborado pelos atores locais. Uma ação
transformação urbana para a sustentabilidade local prática, onde cada participante, através da identifi-
(SCOTT, 1994). cação com os temas, é levado a refletir uma forma
O Diagnóstico Participativo está inserido no curso de intervenção urbana no seu território de atuação,
não só como uma importante metodologia de orga- tendo como base os mecanismos de participação e
nização comunitária para o desenvolvimento local articulação local. O resultado esperado é a formação
como, também, um exercício que estimula as pes- de grupos de trabalho para repensar e transformar
soas de um local da cidade a se reconhecerem como o local.
parte de uma realidade e dialogarem com suas pró- A agenda 21 dá suporte a esta discussão, pois apre-
prias potencialidades e problemáticas, seus recur- senta uma metodologia de trabalho que vai da sen-
sos, talentos e especificidades em geral. sibilização de agentes locais às ações monitoradas
para Plano Local de Desenvolvimento Sustentável,
A intenção é traçar um retrato do local, evidenciando
tendo as especificidades locais como fundamento
seus elementos. É importante que os problemas e
dessas ações.
potenciais sejam evidenciados como parte da solu-
ção e da busca por mudanças.Esse recurso didático
permite à comunidade saber que recursos ela tem 6. Resultados apresentados
seu favor identificando o que existe no entorno que Desde maio deste ano, o projeto de capacitar 100%
precisa ser evidenciado e como o pertencer ao pro- dos novos agentes comunitários de saúde (ACS) e
blema ajuda a solucioná-lo. agentes de proteção ambiental (APA) da região nor-
O objetivo é que o Diagnostico Participativo se mos- te já concluiu doze turmas, totalizando 389 partici-
tre como uma metodologia possível e como uma pantes, dos 480 previstos.
sensibilização e mobilização para enxergar novas Entretanto, mais do que atingir a meta estabelecida,
possibilidades, a partir das temáticas anteriormente a parceria UMAPAZ/PAVS gerou ganhos múltiplos
trabalhadas. O Diagnóstico Participativo é um cami- para todos os envolvidos. Trouxe a UMAPAZ um pú-
nho para as pessoas conhecerem e entenderem me- blico que, por seu perfil de morador e ator de uma
lhor seus potenciais, necessidades e possibilidades mesma área da cidade, possui grande potencial de
de Desenvolvimento presente no local. transformação na busca por uma sustentabilidade
92
“(Este curso) Acrescentou mais conhecimento. Após está capacitação os Agentes estão fortale-
Me ajuda a entender alguns conceitos e buscar cidos e munidos de ferramentas para transformar
soluções para situações desagradáveis.” suas escolhas, seu cotidiano e seu entorno.
“Vai ser muito importante, pois descobri que Finalmente, se a parceria realizada tem se mostra-
há muitas coisas que são acessíveis para nós do benéfica ao processo permanente de capacitação
e que podemos aderir a novas idéias.” dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes
de Proteção Ambiental, também o foi para a UMA-
Diante dos depoimentos colhidos, evidencia-se que
PAZ, no sentido da oportunidade de levar à cidadãos
a proposta de levar conceitos e ferramentas que
atuantes da cidade a possibilidade de transformação
auxiliem as Unidades Básicas de Saúde a desen-
urbana, que tem como base o cidadão e o desenvol-
volverem seus projetos, mobilizando e engajando
vimento sustentável.
os agentes nesse processo foi atingida. Acredita-
se, também, que os Agentes foram empoderados,
no sentido de conhecerem a própria capacidade de
transformação local baseada no pertencimento e
qualificação.
7. Conclusão
No decorrer dos quatro dias de curso nota-se que
o conteúdo promove o empoderamento dos Agen-
tes Comunitários de Saúde, que passam a com-
preender melhor seu fundamental papel como
atores da estratégia de desenvolvimento local.
Através da participação, pertencimento e credibi-
lidade junto a comunidade – somado ao conteúdo
da capacitação que se propõe inovador quanto a
escala de análise e ferramentas apresentadas –
fica evidente a imediata identificação dos agentes
comunitários de saúde como agentes desta trans-
formação urbana.
Aprimorando a capacidade de identificar onde estão
possibilidades de transformação de uma área, é pos-
sível olhar os problemas como oportunidades, e as
reivindicações como impulsos à participação.
Além disso, o curso qualifica os agentes para um
atendimento aos usuários da Unidade Básica de
Saúde, que traz o desenvolvimento local sustentá-
vel como base para uma melhor qualidade de vida e
para melhoria nas condições de saúde. Demonstra-
se, assim, o estabelecimento de uma nova forma de
relação entre os participantes com seu local de atu-
ação e moradia.
Aspectos econômicos das experiências de desen- Permaculture: designer’s manual. 8ª ed. Tyalgum,
volvimento local. São Paulo: Fundação Friedrich Austrália: Tagari Publication, 1999.
Ebert/ILDES; Polis, 2002. MONIÉ, F & SILVA, G
CORRÊA, T. D. . A mobilização produtiva dos territórios: institui-
Redes econômicas solidárias e Desenvolvimento: ções e logística do desenvolvimento local. Rio de
perspectivas emancipatórias na sociedade de con- Janeiro: ed. DP&A, 2003
sumo. Revista de Estudos Sociais - ano 10, n. 20, PIRES, E.; MÜLLER, G.; VERDI, A.
v. 2. 2008 Disponível em http://200.129.241.94/
“Instituições, territórios e desenvolvimento local:
index.php/res/article/viewFile/203/156. Acessado
delineamento preliminar dos aspectos teóricos e
em 12/10/2012.
morfológicos”. In: Geografia Associação de Geo-
DOWBOR, L. grafia Teorética, Rio Claro-SP, v. 31, n. 3, p. 437-
O desenvolvimento local e a racionalidade eco- 454, set./dez., 2006.
nômica. Fevereiro de 2003. Disponível em: http:// SACHS, I
dowbor.org/06deslocalcurto4p.doc. Acesso em 25
Inclusão social pelo trabalho. Rio de Janeiro: ed.
de julho de 2010.
Garamond/SEBRAE, 2003.
DOWBOR, L. et al.
SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.)
A comunidade inteligente: visitando as experiên-
Produzir para viver: os caminhos da produção não
cias de gestão local. São Paulo: Pólis; Programa
capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
Gestão Pública e Cidadania, 2001.
2002.
FRANÇA, Cassio Luiz de; CALDAS, Eduardo de
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L.
Lima; VAZ, José Carlos (Org.) .
O Brasil: Território e Sociedade no início do século
Aspectos econômicos de experiências de desen-
XXI. Rio de Janeiro-São Paulo: Record, 2001.
volvimento local: um olhar sobre a articulação de
atores. São Paulo, Instituto Polis, 2004. 80p. (Pu- SÃO PAULO (Cidade).
blicações Pólis, 46) Edital de Credenciamento n°01/SVMA/2012, de
GUARNIERI, P. 20 de Junho de 2012. Diário Oficial da Cidade, São
Paulo, v. 57(114), p. 119-121.
Logística Reversa: Em busca do equilíbrio econô-
mico e ambiental. 1ª ed. Recife: Ed. Clube de Auto- SÃO PAULO (Cidade).
res, 2011. 307p. Decreto nº 53.323, de 31 de julho de 2012. Aprova
o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
94
do Município de São Paulo. Diário Oficial da Cida- WACKERNAGEL, M.; REES, W. E.
de, São Paulo, v.57 (142). Suplemento, p. 1-62.
Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact
SCOTT, A. J. on the Earth. Philadelphia: New Society Publish-
ers, 1996.
A economia metropolitana: organização industrial
crescimento urbano. In: BENKO, G & LIPIETZ, A. WWF-BRASIL.
As regiões ganhadoras, distritos e redes: novos
Pegada ecológica: que marcas queremos deixar no
paradigmas da geografia econômica. São Paulo:
planeta? Brasília: WWF-Brasil, 2007.
Celta, 1994.
SEPE, P.; GOMES, S.
Indicadores ambientais e gestão urbana. Desafios
para a construção da sustentabilidade na cidade
de São Paulo. Secretaria Municipal do Verde e
Meio Ambiente, São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.
SILVEIRA, C. et al.
Ações integradas e desenvolvimento local: ten-
dências, oportunidades e caminhos. São Paulo:
Pólis; Programa Gestão Pública e Cidadania, 2001.
Disponível em http://www.scielo.br/pdf/inter/
v10n2/v10n2a08.pdf. Acessado em 10/08/2012
SINGER, P.
A recente ressurreição da economia solidária
no Brasil. In: Boaventura de Sousa Santos (org.)
Produzir para viver: os caminhos da produção não
capitalista. Rio de janeiro: Civilização Brasileira,
2002.
SINGER, Paul
Introdução à Economia solidária. São Paulo: Edi-
tora Fundação Perseu Abramo, 2002.
SEBRAE
Desenvolvimento Local no Brasil: o papel do
SEBRAE na dinamização do comércio ético e soli-
dário. 2003 Disponível em http://www.biblioteca.
sebrae.com.br/bds/bds.nsf/81E5CDB980A0CE8C83
2576B9004D344F/$File/NT0004397A.pdf. Acessa-
do em 14/10/2012
TOURAINE, A.
Um novo paradigma: para compreender o mundo
de hoje. Tradução de Gentil Avelino Titton. Petró-
polis, RJ: Vozes, 2006.
Resumo Abstract
O ensino das Geociências na UMAPAZ é parte inte- Teaching on the Geosciences UMAPAZ is part of a
grante de uma estratégia de valorização, divulgação, recovery strategy, dissemination, translation of sci-
tradução de conteúdos científicos e técnicos de utili- entific and technical contents of public interest and
dade pública e deve ser acessível aos atores locais. should be accessible to local actors. In this regard
Neste sentido buscamos aqui apresentar o contexto we seek here to present the context in which this
em que este conhecimento relativo às Geociências knowledge concerning Geosciences has developed
se desenvolveu no âmbito do município de São Paulo within the municipality of São Paulo and its relation-
e em sua relação com outros temas e conhecimen- ship with other current knowledge and topics such
tos atuais como as mudanças climáticas e a vulne- as climate change and the vulnerability of megaci-
rabilidade das megacidades frente a esse processo. ties forward to this process. We try to show how it is
Também procuramos mostrar como é possível um possible a sector environmental education dialogue
setor de educação ambiental dialogar com outros with other types of education, such as scientific and
tipos de educação, como a científica e patrimonial, property, when considering the geological heritage
quando se considera o patrimônio geológico e se en- and geodiversity is understood that is as important
tende que a geodiversidade é tão importante quanto as biodiversity for urban and environmental issues
à biodiversidade para a questão ambiental urbana e should be part of a strategy Geoconservation. Fi-
deve ser parte de uma estratégia de Geoconserva- nally, it is important that the courses discussed here
ção. Ressaltamos, por fim, que os cursos refletem reflect a knowledge alive, largely the result of accu-
um conhecimento vivo, em grande parte resultado mulated experience along the trajectory of the Tech-
da experiência acumulada ao longo da trajetória de nical Secretariat of the Environment and Green and
técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente other organs of the municipality of São Paulo.
e de outros órgãos da prefeitura de São Paulo. Keywords: geosciences, geoconservation, vulner-
Palavras-chave: geociências, geoconservação, vul- ability, climate change
nerabilidade, mudanças climáticas
96
1. Introdução Hoje a educação ambiental tem seu próprio Depar-
tamento na SVMA e inclui setores relacionados à
O ensino das Geociências no DEA/UMAPAZ - Depar- educação científica como a Divisão Escola Munici-
tamento de Educação Ambiental / Universidade de pal de Astrofísica - EMA e Divisão Escola Municipal
Meio Ambiente e Cultura de Paz da Secretaria do de Jardinagem. A educação científica na UMAPAZ
Verde e do Meio Ambiente está inserido em um con- também ocorre na Divisão de Formação em cursos
texto onde podemos relacionar: o desenvolvimento relacionados às Ciências Naturais, em especial en-
institucional da SVMA; o histórico de atuação dos volvendo as especialidades da Biologia, Ecologia e
Geólogos na PMSP e a contribuição das Geociências
Geologia (esta última também é área temática de
na gestão municipal e; a evolução do ensino rela-
ensino na EMA).
cionado à temática ambiental, além de aspectos de
educação para a cidadania e educação científica. A contribuição das Geociências para as ações da
Prefeitura do Município de São Paulo iniciou, em
Este texto busca relatar o desenvolvimento da es-
parte, com a criação da carreira de geólogo e vem
tratégia de ensino das Geociências na UMAPAZ re-
acontecendo nestes vinte anos de atuação des-
lacionando-a com o contexto, com as questões am-
tes profissionais. Com o passar outros municípios
bientais com as quais guarda alguma relação e das
quais algumas são temas emergentes de discussão incluíram geólogos em seus quadros e se benefi-
no município e no contexto internacional. ciaram de seu conhecimento. A mais recente con-
tribuição em nível nacional foi exigência da re-
Para isso vamos desenvolver rapidamente alguns alização de Cartas Geotécnicas de Aptidão como
temas ambientais relacionados às Geociências e que documento de planejamento urbano e prevenção
são objeto dos cursos oferecidos na UMAPAZ e sua de desastres naturais, conforme previsto na Lei
relação. 12.608/12 que institui a Política Nacional de Pro-
A seguir é explicitado o conteúdo desenvolvido nos teção e Defesa Civil e cria o sistema de informa-
cursos, a metodologia adotada e o público alvo e ções e monitoramento de desastres.
suas impressões quanto à utilidade e importância
Entendemos que a divulgação do conhecimento
dos temas abordados em sala de aula.
científico é de suma importância num momento em
A trajetória histórica da Secretaria do Verde e do que questões complexas como as mudanças climáti-
Meio Ambiente - SVMA iniciou em 1993, a partir de cas afetam a vida das pessoas vivendo nos grandes
sua criação que foi decorrência natural da Eco92, centros urbanos e chegam a causar catástrofes.
dos compromissos assumidos por governantes bra-
Esta informação de qualidade deve chegar aos cida-
sileiros e da proeminência que a temática ambiental
assumiu em todo mundo ocidental a partir desta dé- dãos e ser incorporada à sua vida cotidiana e para
cada. Neste contexto, seu desenho institucional in- isso é necessária uma estratégia de ensino e divul-
cluiu um setor de Educação Ambiental subordinado gação do conhecimento que cumpra essa missão.
ao Departamento de Planejamento Ambiental. A seguir vamos percorrer uma linha do tempo que
Em 1991 os Geólogos foram admitidos pela primeira inicia com o aparecimento das Geociências como
vez no Brasil numa prefeitura para trabalhar com a especialidade técnica na prefeitura de São Paulo
gestão municipal e isso ocorreu num município com e suas consequências, o desenvolvimento de uma
a dimensão territorial e questões ambientais do por- estratégia de ensino, tradução e divulgação destes
te de São Paulo o que trouxe desafios inéditos e mui- conteúdos aos cidadãos na UMAPAZ e, finalmente,
to aprendizado a este corpo inicial de profissionais e vamos abordar os cursos propriamente ditos, seus
à gestão ambiental municipal. conteúdos e fazer algumas breves considerações.
98
Em São Paulo, segundo o Jornal Folha de São Paulo dãos em geral que pretendam atuar no seu território
16/02/2010, no verão de 2010 mais de 140 pessoas (bairro, comunidade etc.).
morreram em consequência das chuvas extremas e
A Geologia, juntamente com a Biologia, compõe as
enchentes em áreas rurais e urbanas do estado, in-
Ciências Naturais e a perspectiva destes profissio-
cluindo a Região Metropolitana de São Paulo.
nais é fundamental para complementar os conheci-
Neste sentido, as Geociências têm contribuído so- mentos das Ciências Humanas e Exatas na criação
bremaneira e tem sido parte importante em estudos de uma visão multidisciplinar que nos ajude a com-
como “Vulnerabilidade das Megacidades às Mu- preender a realidade multifacetada que nos cerca,
danças Climáticas”, realizado recentemente pelo nosso meio ambiente.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,
No processo de criação, realização e aperfeiçoamento
em parceria com várias instituições, onde são feitas
dos cursos nos deparamos com novas abordagens para
projeções para o clima e cenários de risco e vulne-
rabilidade associadas à enchentes, inundações e a compreensão de conteúdos tradicionais das Geociên-
escorregamentos. cias. Foi assim que, por exemplo, quando inserimos a
abordagem sistêmica e relacionamos elementos cons-
tituintes do planeta de forma renovada, procurando
3. O ensino das geociências na passar essa visão renovada para os alunos.
UMAPAZ
Na perspectiva da UMAPAZ de inclusão de novos te-
O ensino das Geociências na UMAPAZ está relacio- mas aos já tradicionais da área ambiental e mesmo
nado ao processo de incorporação dos conhecimen- de abordagem não formal para a educação ambien-
tos relacionados às Geociências e ao meio físico na tal, buscamos atualizar os conteúdos e buscar no-
gestão e planejamento ambiental e municipal. Este vos espaços para a divulgação da informação técnica
processo envolve um contínuo processo de reflexão, e científica de utilidade ao cidadão e aos atores cita-
informação, formação e educação de todos os atores dos anteriormente.
envolvidos.
Assim, de nossa relação com técnicos de outras áre-
Nesta perspectiva, os cursos buscam trazer conhe- as temáticas da prefeitura e parcerias com outras
cimento técnico e científico que sirva de subsídio: a) Secretarias fomos construindo uma visão de educa-
à atuação profissional de técnicos (Geólogos, Geó- ção em sintonia com o que é realizado na prática e
grafos, Engenheiros, Arquitetos, entre outros) que está sendo discutido pelos especialistas e profissio-
atuem em nível local de governo, ou seja, prefeituras nais da área ambiental.
e, no caso do município de São Paulo, também nas
Subprefeituras; b) à capacitação de lideranças co- Um exemplo disso é nossa participação no Gru-
munitárias e representantes em Conselhos Gestores po de Trabalho que estudou as cavas de ouro que
e outros fóruns de participação que precisem qua- ocorreram na região próxima ao pico do Jaraguá
lificar sua participação nestes fóruns de discussão no século XVI, conhecidas como “cavas de ouro do
e também no enfrentamento direto de problemas Jaraguá”. Estes remanescentes de antigas minera-
ambientais e áreas de risco; c) à complementação ções do início do processo de colonização no Brasil
de conhecimentos de estudantes e professores do foram tombadas e necessitavam de estudos e enca-
ensino formal médio e superior (envolvidos, p.ex. nas minhamentos por parte do município de São Paulo.
áreas temáticas de Ciências, Geografia, Geologia, Nossa participação neste Grupo de Trabalho ocorreu
Educação Ambiental, entre outras); d) ao processo no sentido de orientar a preservação destes locais
de aquisição de novos conhecimentos e envolvimen- e buscar oportunidades para seu uso como espaço
to com as questões ambientais e urbanas de cida- para a educação. Neste sentido, apontamos novos
100
da Terra acontecida em outubro deste ano e com de de São Paulo e sua interação com o histórico da
data para marcada para nova edição em Novembro ocupação urbana em São Paulo.
buscou trazer para um público bastante heterogê-
O grupo de profissionais envolvido desde a primeira
neo conteúdos relacionados ao tempo geológico, à
edição do curso permanece basicamente o mesmo e
transformações planetárias e como a vida evoluiu e
pode ser considerado o responsável por essa cons-
se adaptou ao longo das Eras Geológicas.
trução coletiva. Dentre os vários técnicos da Secre-
Nos últimos anos e em atenção a estas questões, as taria especialidades que passaram pelo tivemos a
universidades paulistas - USP e Unicamp - têm cria- presença predominante de Geólogos, seguidos de
do cursos de graduação e pós-graduação, respecti- Geógrafos, Agrônomos, Biólogos, Historiadores e
vamente, para formar profissionais aptos a ensinar Arquitetos.
as questões geocientíficas na educação formal e não
formal. Os cursos de graduação em Licenciatura em O objetivo do curso é discutir o processo de urbani-
Geociências e Educação Ambiental (LiGEA) do Insti- zação no mundo e no Município de São Paulo e de-
tuto de Geociências e em Licenciatura em Ciências monstrar que vários problemas ambientais crônicos
da Natureza (LCN), da Escola de Artes, Ciências e da cidade são decorrentes da desconsideração de
Humanidades, ambos da USP, tiveram início em 2004 aspectos relevantes do meio físico quando de sua
e 2005, respectivamente, e foram criados para for- ocupação pelo homem.
mar e capacitar profissionais que atuem na interface Dentre algumas feições do relevo de suma impor-
da Educação e das Geociências (Toledo et al., 2005). tância no processo de urbanização em São Paulo,
O programa de pós-graduação em Ensino e História podemos citar os rios e suas várzeas, por vezes bas-
de Ciências da Terra, criado em 1997, a partir de um tantes extensas; as serras e morros que compõem
subprograma de pós-graduação em Geociências da as porções mais altas do terreno paulistano e suas
Unicamp, visa à focalização de questões pedagógi- encostas muitas vezes íngremes e inadequadas à
cas relativas à veiculação do conhecimento de Ge- ocupação; os diferentes tipos de solo e rocha que,
ociências nos vários níveis de escolaridade e no en- quando associados com determinados tipos de rele-
sino não formal. A formação de profissionais nesses vo ou quando expostos por movimentos de terra sem
cursos é pioneira no Brasil, especialmente porque critérios técnicos adequados, pode vir a criar áreas
privilegia uma visão geossistêmica do mundo em de grande susceptibilidade a escorregamentos em
que vivemos, não mais uma visão fragmentada e re- encostas ou favorecer erosão acelerada e assorea-
ducionista, a qual é tida como a principal causadora mento de canais, rios, galerias de águas pluviais e,
dos problemas ambientais atuais. (BACI, 2009, p. 13) finalmente, aumentando a gravidade das enchentes
nas áreas baixas das antigas várzeas.
4. Programas de geociências Esse processo de ocupação de todos os espaços li-
realizados na UMAPAZ vres que ocorreu e ocorre nas cidades de todo mundo
ainda hoje precisa ser revisto. Em São Paulo as áre-
as baixas junto aos grandes rios, serviam de espaço
4.1 O Curso Terra Meio Físico e a
para acumular o excesso de águas. No momento his-
Paisagem Urbana tórico que se decidiu ocupar estes locais por pressão
Este curso foi criado na UMAPAZ a partir da junção de interesses econômicos desconsiderou-se o crité-
das experiências de vários profissionais da Secreta- rio técnico e o conhecimento associado.
ria do Verde e do Meio Ambiente envolvendo a ques- Hoje, quando as mudanças climáticas são um fato
tão do conhecimento relativo ao meio físico da cida- e não se fala em evitar as consequências, mas sim
102
Conforme previu o relatório da ONU “Estado da Po- O público focalizado é composto por profissionais,
pulação Mundial 2007”, a partir de 2008 a popula- professores e estudantes de geografia, engenharia,
ção mundial se tornou predominantemente urbana. arquitetura, geologia, e demais interessados que
Desta forma é importante conhecermos o meio fí- possuam 2º grau completo.
sico, seus elementos (relevo, geologia, hidrografia,
entre outros) e processos associados de forma a 4.2 Outros cursos e Oficinas
subsidiar e orientar as decisões voltadas ao pla-
nejamento urbano e ambiental de uma cidade, e às Como consequência da relação com os participantes
intervenções humanas (obras civis, sistema viário, do Curso Terra Meio Físico e a Paisagem Urbana sur-
loteamentos etc.). O desconhecimento destes as- giu a necessidade de um programa sobre mapas, que
pectos favorece a ocorrência de problemas ambien- contribuísse para a compreensão dos conteúdos e
tais tais como escorregamentos e enchentes, que para o manuseio dos mapas usados normalmente na
podem ameaçar ocupações humanas e gerar áreas Prefeitura de São Paulo em seus trabalhos técnicos
de risco, acidentes e catástrofes como os eventos e em documentos essenciais como o Plano Diretor
que vêm ocorrendo anualmente em várias áreas ur- do município.
banas no Brasil. Para acolher essa necessidade foram gerados: o
O programa do curso, com 32 horas, prevê aulas curso Introdução ao meio físico e aos mapas e, tam-
expositivas e dialogadas, além de leituras e exercí- bém, oficinas descentralizadas sobre o tema e sobre
cios práticos sobre conceitos básicos de Geologia, a questão dos Riscos Ambientais Urbanos.
a história do planeta, tipos de rochas e processos As oficinas sobre Riscos Ambientais Urbanos foram
modeladores do Meio Físico. Também enfatiza a im-
realizadas em parceria com as unidades descentrali-
portância desse conhecimento para o planejamento
zadas da Secretaria Municipal do Verde e Meio Am-
urbano e o entendimento dos problemas ambientais
biente, as Divisões de Gestão Descentralizada.
decorrentes da ocupação inadequada em relação ao
meio físico. Segue breve descrição dos referidos cursos e oficinas.
O programa é o seguinte:
4.2.1 Curso e Oficina descentralizada: Introdução
Conceitos básicos de Geologia, tipos de ro- aos estudos do meio físico e dos mapas
chas, dinâmica interna e externa do planeta,
história geológica do planeta; A interpretação do meio físico é fundamental para
entender questões socioambientais e os problemas
a Geologia enquanto ciência, o pensamento
urbanos em uma grande cidade como São Paulo. Co-
geológico, o homem como agente geológico
nhecer a história do planeta Terra, a sua composição
nas transformações da Terra; histórico da ci-
e sua dinâmica interna e externa possibilita a com-
dade de São Paulo e a ocupação do meio físi-
preensão de muitos fenômenos naturais e os proble-
co; o diálogo entre ocupação e o meio físico:
mas ambientais associados, além da situação crítica
aspectos da paisagem; a geologia do municí-
dos recursos naturais extraídos do planeta.
pio de São Paulo e os problemas ambientais
urbanos associados; as geociências no geren- As geociências têm grande importância para a educa-
ciamento dos riscos ambientais na cidade de ção ambiental, porém não possuem uma linguagem
São Paulo; aula prática de planejamento ur- muito acessível à população, o objetivo da oficina é
bano com mapas e aplicação dos conteúdos traduzir esta linguagem introduzindo o pensamento
do curso. geocientífico na interpretação do meio físico.
104
causar uma série de danos. Para um entendimento zer para lidar com isso. Procura-se trazer problemas
técnico básico desses problemas são apresentados locais para que sejam discutidos nos encontros. Já
conceitos relacionados às geociências. ocorreram visitas em algumas áreas de risco, como
com a Defesa Civil do Jaçanã/Tremembé, cujos re-
Trabalhando a prevenção no tripé de percepção, mi-
presentantes estão disponibilizando materiais como
tigação e adaptação do risco, o último encontro é
fotos e mapas e também acompanham as oficinas,
direcionado de acordo com os problemas de cada
oferecendo todo apoio para que realidade da região
região atendida.
seja discutida ao longo das aulas.
A oficina utiliza metodologias de ensino técnico
científico dos assuntos abordados com uma lingua-
gem simples, e fornece informações sobre recursos
5. Considerações finais
didáticos utilizados para ensino de geociências e A introdução de cursos e oficinas com conteúdos
para prevenção de riscos. e práticas da área de geociências, dialogando com
Os objetivos da oficina, com 20 horas, são discutir outros cursos e atividades, tem o propósito de ser
e entender os problemas ambientais urbanos asso- mais um caminho que pode ser percorrido no livre
ciados à interferência humana na dinâmica natural percurso de aprendizagem dos participantes da pro-
do planeta; mobilizar funcionários da prefeitura e a gramação da UMAPAZ.
comunidade a atuar na prevenção de riscos. Considerando que as geociências têm fundamental
O público é composto por integrantes da comunida- importância para a educação ambiental, os cursos e
de local, conselheiros do Conselho Regional de Meio oficinas visam contribuir para que o educando cons-
Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura trua nexos sobre o que ocorre no mundo, na sua
de Paz (CADES Regionais), educadores, líderes co- cidade e na sua região, compreendendo que vários
munitários, estudantes e público interessado. problemas ambientais atuais crônicos ou extraor-
dinários são decorrentes da desconsideração de
O conteúdo programático é o seguinte: aspectos relevantes do meio físico quando de sua
Sistemas terrestres: Biosfera, hidrosfera, at- ocupação pelo homem, que é o principal agente geo-
mosfera, geosfera e suas interações; o que lógico contemporâneo.
são Desastres Naturais? O que é Risco? Quais Visa, também, propiciar a apropriação de tecnolo-
são os principais tipos de desastres naturais?; gias para compreensão e manuseio de mapas, que
riscos hidrológicos: o ciclo da água urbano/ viabilizam a leitura independente e crítica de situa-
bacia hidrográfica/ enchentes, inundações ções e podem informar sua ação e participação nos
e alagamentos/ recursos didáticos para en- espaços e decisões da cidade.
tender níveis de absorção de água no solo, e
como construir um pluviômetro; riscos geoló- Ao oferecer oficinas descentralizadas sobre Riscos
gicos: relevo de encostas/ tipos de solos e ro- Ambientais Urbanos, além da compreensão da di-
chas/ tipos de escorregamentos/ como prever nâmica natural da ocorrência dos fenômenos e sua
um escorregamento; monitoramento partici- associação à ação humana, visa a equipar os partici-
pativo e discussão sobre os problemas locais. pantes com conhecimentos práticos para reconhecer
situações de risco e para que sejam capazes de agir
Nas oficinas de Riscos Ambientais Urbanos as dis- para prevenir a ocorrência de desastres.
cussões e relacionamento do grupo são estimulados
com a realização de dinâmicas em grupo. São discu-
tidos termos utilizados na área, para sua compreen-
são, e como acontecem situações de risco e o que fa-
106
CIDADÃOS MEDIADORES
NA CIDADE DE SÃO PAULO?
TRAJETÓRIA, AMBIGUIDADES, SUCESSOS PARCIAIS E
CONTRADIÇÕES DA BUSCA PELA CONVIVÊNCIA PACÍFICA
Sandra Inês Baraglio Granja223
Resumo Abstract
O objetivo deste artigo é discutir se a opção de ca- The aim of this paper is to discuss the option of
pacitar cidadãos paulistanos como mediadores e/ou forming citizens paulistanos mediators and / or em-
trabalhadores de conflito, colabora ou não para uma ployees of conflict, collaborate or not for a City of St.
Cidade de São Paulo menos conflituosa ou pelo me- Paul less confrontational or at least no possibility of
nos, se há possibilidade de sensibilização na cons- sensitization on peacebuilding for a more peaceful
trução da paz por um convívio mais pacífico. Também coexistence. It also aims to reconstruct the trajecto-
objetiva reconstruir a trajetória do conteúdo, suas ry of the content, its innovations in transdisciplinar-
inovações na transdisciplinariedade com outros con- ity with other content, even if partially. And finally
teúdos, mesmo que de forma parcial. E finalmente, state the methodological and pedagogical choices
indicar as opções metodológico-pedagógicas reali- made during these seven years of reflection on the
zadas ao longo desses sete anos de reflexão sobre o subject with very different actors.
tema com os mais variados atores. Key words: conflict mediation, transdisciplinarity,
Palavras-chave: mediação de conflitos, transdisci- socioenvironment conflicts, peace.
plinaridade, conflitos socioambientais, paz.
223 | Docente e facilitadora de diversos cursos para a Umapaz, tanto de Mediação de Conflitos (com várias versões), como
sobre: “Indicadores Socioambientais”; “Ombudsman ambiental para as próximas gerações”; “A essencialidade das redes
sociais em processos de mediação de conflitos”; Mediação como Resolução Cooperativa e Integradora de Problemas”; “Pla-
nejamento Participativo e Gestão Socioambiental Conjunta” (várias versões); “Jogos Sustentáveis”; “Construção Social dos
Problemas Ambientais” (várias versões); Sociedade de Risco” (várias versões); “As Dimensões da Sustentabilidade: Meio
Ambiente e Desenvolvimento” e “A construção de Consensos em Conflitos Socioambientais”. Membro do Conselho Consulti-
vo da Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, com mandato de dois anos. Doutora pela Universidade de São
Paulo. Endereço para acessar o currículo: http://lattes.cnpq.br/4495546985346723. sines@uol.com.br.
108
Desde o início, há sete anos, os cursos voltados mento da dinâmica das relações e tensões entre as
à mediação tiveram como público focalizado o ci- pessoas que o habitam e como o conflito faz parte
dadão paulistano e servidores municipais. Desses dessas trocas. Para o curso adotou-se de imedia-
últimos, muitas categorias foram contempladas: to, o território como espaço, não só da convivência,
servidores ligados à educação, subprefeituras, como também do possível diálogo interdisciplinar,
saúde, meio ambiente, conselheiros área socio- de acordo com Ribeiro (2009):
ambiental (CADES, entre outros). Também orga-
“Por “focalização” entendemos que: todo con-
nizações não governamentais das mais variadas
ceito, apesar de moldável e aberto, tem um
tipologias e prestação de serviço, como também
foco. Poderíamos dizer que o conceito precisa
organizações não-governamentais (ONGS) e mo-
“estar focado”, ter um núcleo central ordena-
vimentos voltados à sustentabilidade ambiental,
dor, dentro das múltiplas relações que dese-
consultores socioambientais, estudantes e de-
nha num grande conjunto (...) pg 12; (...) “...a
mais interessados. Um público com poder de mul-
mobilidade é uma característica fundamental
tiplicação e reedição foi o a comunidade escolar,
dos territórios”. (pg.13). (...)os territórios, em
especialmente, o educador.
si mesmos, são múltiplos, na medida em que
No âmbito da Cultura de Paz e Resolução Pacífica de se pode não só construir um território na mo-
Conflitos e visando a contribuir para que a Munici- bilidade (pela vivência sucessiva de diferentes
palidade consiga instalar uma Casa de Mediação em territórios) como também, simultaneamente,
cada Subprefeitura, a SVMA contratou com o Institu- pode-se “acionar” – ou “controlar” – mais de
to 5 Elementos225 a realização de 8 (oito) turmas de um território, o que o atual aparato técnico-
Mediação de Conflitos Socioambientais, destinada a informacional nos permite. Desdobra-se assim
capacitar 400 pessoas, sendo dois terços de guardas uma multiterritorialidade tanto no sentido su-
civis municipais. Essas oito edições do curso “Media- cessivo (pela mobilidade física) quanto simul-
ção de Conflitos Socioambientais” foram realizadas tâneo (pela mobilidade informacional ou “vir-
nas zonas Leste, Norte, Sul e Oeste da Cidade de tual” – que nem por isso, obviamente, é menos
São Paulo. Essa divisão também se relaciona com as “real”). (RIBEIRO, 2009, pg.14).
regiões descentralizadas do DGD.
A vivência dos cidadãos se dá por meio de vários
Algumas das escolhas metodológicas que envol- territórios, de suas mais diversas formas de apro-
viam conteúdo serão abordadas neste artigo, como
priação, entendimento, manejo, relação de perten-
fundamentadoras teóricas do curso. A opção de re-
cimento, acolhimento, rejeição, identidade, repúdio,
latá-las, primeiro porque outros cursos de media-
dentre outras possíveis formas de relação com o
ção têm abordagens diferenciadas (o que é parti-
espaço. No entanto, cabe ao Poder Público compre-
cularmente rico e complementar), segundo porque
endê-lo em sua mais complexa expressão e oferecer
um dos eixos de desenvolvimento foi entrelaçar a
políticas públicas que considerem essas camadas e
governança com a política pública e como a media-
dimensões para efetividade das mesmas.
ção se insere neste processo. Também, como o ter-
ritório é de fundamental importância para entendi- Entender o território também é compreender qual a
rede instalada e como se articulam. O processo de
225 | Desta parceira, dentre outros produtos, foi a publi- mediação necessita das redes para o adequado su-
cação do livro/manual: “Manual de mediação de confli- porte ao cidadão atendido ou a ser atendido. A di-
tos socioambientais “/Sandra Inês Baraglio Granja. -- 1. mensão das redes será abordada neste artigo, con-
ed. -- São Paulo : 5 Elementos Instituto de Educação
e Pesquisa Ambiental, 2012. Bibliografia. ISBN 978-85-
juntamente com a de capital social e suas interfaces
63041-05-0. Parceria com a Umapaz. com o território.
110
cas, ou pela democracia direta, a gestão autônoma E, por fim, sob a governança, há os direitos sociais,
de determinadas questões pelas organizações civis, balizados por padrões de civilidade e bem-estar.
mas com suporte do governo. Essas variáveis com- Os aspectos mencionados acima apontam políticas
plexas engendram parte do que se considera como públicas apropriadas, coerentes, incorporando sua
governança. complexidade e suas interfaces com outras áreas,
O “tamanho” da governança não tem resposta sim- suas peculiaridades, de entendimento adequado,
ples, já que as questões socioambientais atraves- acomodando interesses conflitantes, realizando
sam problemas transfronteiriços e para os quais a ações cooperativas; gestão de interações, sistemas
ciência ainda não tem respostas claras, como, por de regulação e mecanismos de coordenação; nego-
exemplo, o desenho de políticas públicas projeta- ciação e mediação entre cidadãos.
do às gerações futuras. De qualquer forma, houve Por outro lado, as organizações, por meio de seus
avanços no funcionamento democrático na gestão programas e projetos viabilizam as diversas po-
do bem comum, várias formas estão sendo testadas. líticas públicas. Muitas delas ou grande parte têm
Os limites da governança são relativos à disfunção interface com outras diversas organizações públi-
ou limitação dos processos de participação existen- cas, exigindo decisões técnicas e políticas, rubricas,
tes; ineficácia de políticas deliberativas; enfraque- aportes de recursos dos mais diversos tipos e nego-
cimento de instituições; e procedimentos claros de ciações. De forma geral, as políticas públicas ten-
coordenação entre os diferentes poderes territoriais. tam dar respostas às situações de vulnerabilidade,
Há contradições entre posturas técnicas, políticas e de conflito, de potencialidades ou mesmo de opções
a daqueles grupos interessados expulsos ou que não de determinado governo.
querem participar dos processos de decisão.
“Uma política pública constitui um conjunto
A governança participativa e/ou representativa está de decisões e atividades, intencionalmente
centrada em uma ação coletiva, plural, expressa coerentes, elaboradas e conduzidas por dife-
na multiplicidade de interesses; condições a serem rentes atores públicos e, por vezes, privados,
construídas, por meio do diálogo público, com mul- com vistas a resolver de maneira focada um
tiplicação de consultas, diversificação de formas de problema definido politicamente como cole-
decisão, conectando-as melhor com as instâncias de tivo”. “Esse conjunto de decisões e ativida-
decisão e com o território. Instâncias, precisando ser des implicam atos formalizados, de natureza
mais autônomas e interativas, com relações de força relativamente imperativa, visando modificar
e poder mais equilibradas. o comportamento de grupos sociais (grupos
A governança também é o resultado do contrato alvo) ligados à origem do problema coletivo
social ´consensual´ que define a série de arranjos focado, e no interesse de grupos sociais que
institucionais e normas no qual se baseia o Estado. sofrem os efeitos negativos do citado proble-
Supõe um conjunto de inovações que vai além dos ma (beneficiários finais)”. (STÉPHANE, 2005).
arranjos pragmáticos. Entrelaçam-se vários papéis: Existe uma capacidade de governar dentro de uma
da ciência, dos cientistas, da política, da mídia; da Política Pública, essa capacidade se expressa de
ética; do sistema educacional, do setor privado, dos muitas formas, uma delas é a capacidade de inter-
especialistas, das autoridades públicas, das institui- facear a intersetorialidade exigida pelas mesmas. É
ções, da opinião pública. (ROGERS, HALL, 2003). difícil imaginar uma política pública de educação, por
Sob a governança, os direitos dos cidadãos se rela- exemplo, sem pensar nas questões socioeconômicas
cionam com justiça; no âmbito dos direitos políticos envolvidas. Ou de meio ambiente, sem a interface
da governança, a democracia é o exercício do poder. com saúde, saneamento, uso e ocupação do solo,
112
resolução de conflitos. De qualquer forma, a com- mento de determinada situação. A voz às objeções e
plexidade das instituições, suas disputas por ideias críticas pode ser fornecedora de outras perspectivas.
e de poder não podem instrumentalizar ou legitimar Outra camada do curso de mediação foi compreen-
a ausência de debate público e manter as decisões der o manejo de conflitos; como iniciar o processo de
restritas a um nicho do poder decisório. mediação envolvendo as partes interessadas; como
O processo de tomada de decisão deve representar trabalhar as versões dadas pelas partes do mesmo
todos os interesses dos cidadãos, sejam consumi- conflito; como contribuir para que as partes come-
dores, competidores, investidores, empregados de cem o processo de diálogo, projetando um processo
instituições financeiras, público em geral, governo, colaborativo de soluções satisfatórias para ambas; e
grupo de formadores de opinião, mídia, comunidade como realizar (transformar e transcender) o diálogo
científica, fornecedores, dentre outros. O esforço é em ação, organizando as sugestões e incorporando
no sentido de obter entendimento compartilhado so- as mudanças sugeridas, como de soluções sustentá-
bre os interesses de cada um, e das questões técni- veis de longo prazo.
cas, políticas, sociais, econômicas e ambientais en-
volvidas, construindo alternativas em conjunto, que 4. Transformação e
se configuram como criativas e de maior aceitabili- transcendência do conflito:
dade que as inicialmente propostas. Por fim, buscar
voz, empoderamento, versões
acordos que satisfaçam os interesses prioritários de
cada um.
do conflito226
Com este entendimento, a capacitação sobre o tema Para aprofundamento das capacitações, foi no con-
mediação, a anatomia sobre como os conflitos ocor- ceito do agir comunicativo de Habermas que se em-
rem no território foram essenciais para a compreen- basou parte do conteúdo dos cursos de mediação,
são das abordagens necessárias ao tema. Conflitos como a ética discursiva sob a forma de uma lógica
são reveladores do funcionamento social e suas de argumentação moral, normativa, universalizá-
contradições. Não se restringem somente à falta de vel. (HABERMAS, 2001). O ponto focal da Teoria de
informação ou comunicação entre as partes. O con- Habermas para o processo de mediação é que cada
flito expresso não tem a mesma relação de força e de indivíduo pode ser aceito pelo outro, entretanto,
não de forma coercitiva por todos os envolvidos. A
poder entre as partes, a neutralidade das posições
lógica de argumentação moral se relaciona com a
não existe, já que o poder e o vetor de força dos ato-
tessitura, com o alcance da voz. Metaforicamente,
res são sempre assimétricos. Pode ser entendido de
entende-se a tessitura como vozes transdisciplina-
diversas formas, mas, basicamente, é uma relação
res dos atores, possibilitando o afrouxamento de
que envolve duas ou mais partes com apreciações
fronteiras disciplinares. A tessitura também tem
situacionais diferentes de um problema, envolvem
vínculo com a rede, uma trama de atores e relações
interesses e valores.
sociotécnicas que constrói ações reiteradas por to-
O conflito é também uma oportunidade, com função dos, conjuntamente.
e respectivas consequências. Seu desenvolvimento
pode ser gradual ou gerar ruptura da relação, poden- 226 | Para transcender o conflito e transformá-lo, utili-
zou-se nos cursos, os conceitos do Prof. Galtung (fun-
do centrar-se em posições ideológicas, em discor- dador da Disciplina acadêmica Pesquisa de Paz, mentor
dância das causas, em posições ou jargões técnicos no campo da mediação e da transformação de conflitos).
distintos. O conflito engendra mudanças, pode ser Autor do primeiro manual das Nações Unidas para mul-
tiplicadores do Programa “Transformação de Conflitos
uma oportunidade necessária e desejável, pois pro- por Meios Pacíficos: a Abordagem TRANSCEND” (PNUD,
voca motivação para outros patamares de entendi- 2000). Consta na bibliografia deste artigo.
114
intenções, expectativas e pensamentos, Habermas No processo de mediação, a saída para a situação
vislumbra a possibilidade de que, por meio de do diá- só é possível se houver voz, as partes expressando
logo, o homem possa retomar o seu papel de sujeito. seu olhar sob o conflito e de como querem resolvê-
lo. Hirschman afirma: (...) que a voz é dependente
O agir comunicativo também pode ampliar o recurso
da saída, pois o ator que não dispõe da possibili-
cognitivo, ou seja, o aumento do vocabulário e das
dade da saída precisa da voz. A voz “é o oposto da
inferências explicitadas para o entendimento do sig-
saída (...). Voz é ação política por excelência” (HIRS-
nificado dos enunciados emitidos pelos atores. Esses
CHMAN, 1973, p. 26).
enunciados dos atores também podem acenar van-
tagens como podem continuar agindo em função dos A voz entra em cena quando a saída não é facilmente
acordos estabelecidos no território. O agir comuni- encontrada, se não há saída, sou candidato à voz. O
cativo requer mobilização dos atores-protagonistas, processo de mediação canaliza as vozes, buscando
credibilidade, reciprocidade e convivência com as alternativas de saídas para a superação do conflito.
estratégias acordadas nas mesas de negociação. As A voz tem um custo, implica em tempo, mobilização
relações entre sujeitos só são mantidas por meio de entendimento do problema, comprometimento, rei-
da ação. (HABERMAS, 2001). vindicação, participação na decisão e responsabili-
dade na implementação. A voz é, em essência, ação
Para que as mediações entre os cidadãos se trans- política, abrindo um leque de possibilidades, e tam-
formem no agir comunicativo, é preciso que o diá- bém de consequências (SILVA, 2003).
logo se estabeleça, cujas razões de cada parte são
os significados a serem compreendidos, mesmo Para o processo de mediar, a voz teria efetividade se
associada à linguagem - concebida como uma das
que a comunicação, primeiramente, só demonstre a
garantias da democracia -, isto é, uma forma políti-
intenção.
ca derivada de um livre processo comunicativo diri-
O agir comunicativo227 constitui estratégia adequa- gido a conseguir acordos consensuais em decisões
da para estabelecer a promoção dos interesses das coletivas.
partes no processo de mediação. Há possibilidade de
Mesmo que limitada, a voz pode construir o agir co-
desconfianças sobre as reais intenções dessas par-
municativo, a reciprocidade, influência, sinergia e ca-
tes, mas há, ainda, a possibilidade do consenso dos
pital social. O agir comunicativo de Habermas pode
participantes numa situação de fala ideal. Assim, o
ser agregado à dimensão da voz proposta por Hirs-
processo de mediação busca, na teoria do agir co-
chman. O consenso social228 pode derivar da ação229
municativo de Habermas, a tessitura das vozes que
comunicativa, como uma orientação que responde ao
explicitam suas versões sobre o conflito. interesse coletivo. Mesmo que a ação comunicativa
A vocalização no processo de mediação é a vocali- proposta por Habermas seja idealística, a interação
zação das partes para a construção da superação das partes, por meio da utilização da linguagem, do
do conflito, como também em última instância da diálogo produz uma organização social que tenta
própria governança. Hirschman (1973) considera buscar consenso sem coação.
os conflitos de formas variadas, uma delas é de
soluções conciliatórias, caso da mediação, e dois 228 | Neste ponto, coloca-se o problema da possibilida-
de de uma democratização dos processos de formação
elementos, segundo Hirschman, são fundamentais
da opinião e da vontade majoritária.
para o conflito: a saída e a voz. Não existiria uma, 229 | Habermas distingue três formas de ação: instru-
sem a outra. A voz daria condições à saída, seja por mental, estratégica e comunicativa. Esta última envol-
meio de da política ou da reunião de muitas vozes. ve o entendimento entre as partes, em que os sujei-
tos tentam chegar a um acordo sobre o conhecimento
227 | Para aprofundamento do tema, ver Giannotti (1991). contextual.
116
ses públicos. Mesmo com a possível reciprocidade voltam à rede ou comunidade, pois elas também im-
e cooperação, a mediação considera a assimetria de pactam de forma finalística pós-mediação. Por isso,
poder os envolvidos em determinada situação, bem a prática de monitoramento e acompanhamento da
como a motivação ou a força do interesse contem- pós-mediação é essencial, pois “devolve” à rede, ao
plado na própria mediação. A assimetria dos pode- território e à comunidade uma mediação/ação, pos-
res também se expressa nos saberes, nas posturas, sivelmente, “resolvida”.
no conhecimento cognitivo e nas dificuldades das O capital social, então, é um estoque de relações e
partes. valores que pode potencializar a mediação. Como
O capital social também pode ter a dimensão da a mediação tem implícita a construção de coope-
mobilização. Para Evans (1996) coube ou cabe ao ração entre as partes, estas, na medida em que se
Estado o papel de capitanear a formação de capi- influenciam reciprocamente, podem compartilhar
tal social, conectando cidadãos e órgãos governa- responsabilidade para a eventual superação do
mentais. Esse é um aspecto nítido quando a Uma- conflito. Esse capital social não se desgasta com o
paz/SVMA, enquanto Poder Público, foi a indutora e uso e não se esgota, mas precisa ser sempre incen-
teve papel decisivo, mobilizando atores, parceiros, tivado, renovado.
sociedade, instituições e professores para dissemi- Entretanto, pode ser destruído ou reduzido, aumen-
nar e trabalhar por meio de simulações o processo tando a vulnerabilidade dos grupos de risco da socie-
de mediação. Evans (op.cit) sugere a possibilidade dade. O Estado tem papel fundamental na criação de
de sinergia entre Poder Público e sociedade, crian- capital social, já que implica uma correlação signifi-
do um círculo virtuoso de mudança institucional. cativa entre o grau de confiança geral e as normas de
Sinergia no caso, da Política Pública da construção cooperação prevalecentes na sociedade (COLEMAN,
da convivência pacífica em São Paulo, por meio dos 1998; BORDIEU, 1980, 1998). Este, talvez seja um
cursos sugeriu-se o engajamento e “contaminação” dos sucessos compartilhados pela Umapaz, já que,
de níveis de confiança, interação e aprendizado. Se enquanto instituição pública promoveu, por meio de
a sociedade reconhece e responde a essa confian- inúmeras capacitações, a sensibilização e sugestão
ça, há revalorização da prática democrática, haven- de práticas aos participantes, como protagonistas
do resposta satisfatória de ambos (Poder Público e de uma convivência pacífica na Cidade de São Paulo.
sociedade), a cooperação e reciprocidade podem se
retroalimentar.
6. A importância das redes para o
Incluiu-se, de forma transversal no conteúdo da me- processo de mediação
diação, as possibilidades de interconexão, ou seja,
a dimensão do capital social que privilegia as redes Como muitos processos de mediação precisam ter
de cooperação e sociotécnicas. Relaciona-se com a uma continuidade para a transformação do problema
capacidade e a habilidade dos cidadãos de se conec- em ação efetiva, ou seja, um suporte pós-mediação
tarem, mobilizarem reciprocidade, cooperação tro- incluiu-se as redes nos conteúdos de capacitação de
carem informações, compartilharem conhecimentos mediação.
por meio de redes, propiciando fluxo de comunicação. A conectividade, a multiliderança, a transparência
Como referido anteriormente, o processo de media- e a cooperação são elementos que se espera cons-
ção investe no diálogo entre as partes, com a cola- truir, por meio da mediação, podendo-se transformar
boração do mediador, para que esta se transforme e em redes230, que compõem recursos organizacionais,
transcenda em ações e decisões pós-mediação. As
230 | Pode ou não haver um “animador” ou mediador da
ações resultantes do diálogo na mediação sempre rede que se altera, conforme o foco das ações a serem
118
visível em termos de política pública, a capacitação (SMDH), além da Secretaria de Estado de Justiça e
de guardas civis metropolitanos (alguns militares e Cidadania que, entre outras atribuições, são respon-
civis) e cidadãos que poderiam ser mediadores nas sáveis pela tomada de decisões como a aprovação
Salas de Mediação da Cidade de São Paulo. de conteúdo do curso de formação. As deliberações
do comitê partem da proposta de fazer das unidades
A Prefeitura de São Paulo entregou no mês de se-
centros de cidadania, na medida em que as inspe-
tembro de 2012, em cerimônia realizada na sede do
torias passam de bases operacionais para locais de
Comando Geral da Guarda Civil Metropolitana, 14
referência nas comunidades onde os cidadãos pos-
novas “Casas de Mediação de Conflitos”, totalizando
sam resolver os seus conflitos. Informações sobre o
18 postos em funcionamento. O serviço, gratuito e
funcionamento das Casas é por meio do telefone 153
disponível 24h para as comunidades em unidades da
da GCM e por meio de do portal233.
GCM, tem como objetivo intermediar relações con-
flituosas, tentando estabelecer uma cultura de paz, Este é o resultado parcial mais visível de uma po-
auxiliando as pessoas a resolverem seus problemas lítica pública que pode se transformar em porta de
sem o emprego da força ou da violência. A forma- entrada para resolução pacífica de muitos conflitos
ção232 de Guardas civis teve sua primeira turma de e ser agregada a muitas outras políticas públicas.
mediadores iniciada em fevereiro de 2012 e contou Ainda é o início de um processo.
com oito edições.
Talvez essa trajetória amplie algumas esperanças,
Em março, 49 (quarenta e nove) mediações foram re- melhore várias relações tensas, diminua conflitos,
alizadas com 98 (noventa e oito) pessoas, das quais reinvente outras formas de nos relacionarmos na Ci-
apenas sete (7) mediações ainda continuam em an- dade de São Paulo, crie poesia onde havia só medo,
damento. As salas onde ocorrem os processos de aumente estratégias coletivas de melhoria de quali-
mediação estão adaptadas para que as pessoas se dade de vida, promova capital social para enfrenta-
sintam acolhidas e tenham a privacidade assegura- mento de questões cruciais para a Cidade, empodere
da. Os padrões de atendimento e procedimento são cidadãos, dê voz a quem não tem, referencie as Casa
unificados em todas as casas de mediação. As audi- de Mediação como ponto de apoio aos problemas do
ências dispensam a presença de advogado. território, organize voluntários para a participação
nas Casas, aglutine esforços para discutir a Justiça
Na avaliação da Secretaria de Segurança Urbana, a
Restaurativa, promova os cidadãos a “donos” do seu
mediação de conflitos permite contribuir de maneira
território, buscando a melhoria do espaço, segundo
positiva nos indicadores de criminalidade, diminuin-
critérios discutidos coletivamente.
do o número de encaminhamentos às Delegacias,
Tribunais e a outros serviços públicos. As Casas de
Mediação estão preparadas para solucionar proble-
mas tais como perturbação de sossego, brigas de
vizinhos, queixas de barulho, intolerâncias, entre
outros tipos de conflitos. Fatos considerados como
crimes, não comportam mediação.
O serviço conta com um comitê formado por repre-
sentantes das secretarias municipais de Segurança
Urbana (SMSU), Educação (SME), do Verde e do Meio 233 | http://www.capital.sp.gov.br/”. (Prefeitura entre-
Ambiente (SMVA), e a Especial de Direitos Humanos ga 14 novas “Casas de Mediação de Conflitos”: fonte:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/se-
232 | As oito edições dos cursos, produto desta parceria guranca_urbana/noticias/?p=45210 Acesso em setem-
foram ministradas pela autora deste artigo. bro de 2012).
120
_________. Bowling Alone - Journal of Democ-
racy 6:1. Copyright (c) 1995 National Endowment
for Democracy and the Johns Hopkins University
Press. All rights reserved. Journal of Democracy
6.1 (1995b) 65-78.
ROGERS, Peter & HALL, Alan W.
Effective water governance, TEC Background Pa-
per No 7, Global Water Partnership, 2003 (PDF).
Disponível em: <http://www.id21.org/insights/in-
sights67/art00.html> Acesso em 11 de novembro
de 2007.
RIBEIRO, MTF., and MILANI, CRS., orgs.
Compreendendo a complexidade socioespacial
contemporânea: o território como categoria de di-
álogo interdisciplinar [online]. Salvador: EDUFBA,
2009. 312 p. ISBN 978-85-232-0560-7. Available
from SciELO Books http://books.scielo.org
RUAS, M. G.
Análise de Política Públicas: Conceitos Básicos
In: O Estudo da Política: Tópicos Selecionados ed.
Brasília: Paralelo 15, 1998.
SILVA, A. R. da.
A voz do outro. 2003. Tese (Doutorado em Filoso-
fia). IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, 2003.
STÉPHANE Nahrath
Institut de Hautes Etudes en Administration Pub-
lique – IDHEAP; Conférence SENTEDALPS, Laus-
anne, 2005.
Resumo Abstract
A proposta do Diálogo, na visão de David Bohm The proposal of the Dialogue, in the view of David
(2005), é o tema central do desenvolvimento des- Bohm (2005), is the central theme for the develop-
te trabalho desenvolvido na Universidade Aber- ment of this work. This study was accomplished with
ta do Meio Ambiente e Cultura de Paz – UMAPAZ. the voluntary participation of members of the Exper-
Trata-se de um estudo de caso realizado com a imental Group of Dialogue at Universidade Aberta do
participação voluntária das pessoas que frequen- Meio Ambiente e da Cultura de Paz – UMAPAZ. The
tam o Grupo Experimental de Diálogo na UMAPAZ. main goal of the research was to observe how the
O principal objetivo da pesquisa foi observar como a continued practice of the Dialogue helps to develop
prática continuada do diálogo propiciou o desenvol- the listening quality of the group and its participants.
vimento da qualidade da escuta no grupo e em seus Keywords: Dialogue; Listening; Communication;
participantes. Presupposition; Shared Production of Meaning.
Palavras-Chave: Diálogo; Escuta; Comunica-
ção; Pressupostos; Produção Compartilhada de
Significados.
234 | Psicóloga, Educadora Ambiental, Docente da UMAPAZ. Especialista em Arte, Ecologia e Sustentabilidade pelo Instituto
de Artes da UNESP e pela UMAPAZ.
122
1. Introdução O diálogo é um lugar de criação de consciência
e de compartilhamento de significado. Dialogar
A proposta do Diálogo, na visão de David Bohm não é a busca da uniformização do pensamen-
(2005), é o tema central do desenvolvimento des- to. É um lugar onde aprendemos a pensar junto,
te trabalho. ainda que diferentemente se necessário; apesar
Físico norte-americano, Bohm (1917- 1992) foi um das diferenças, estamos juntos. Este aspecto é
dos mais destacados pensadores do século XX. Tra- algo a ser vivido, e que não pode ser descrito
balhou com Einstein, na Universidade de Princeton. em palavras. O diálogo quer expor os pressu-
Suas contribuições para a física, principalmente na postos, as limitações do pensamento, para que
área da mecânica quântica e teoria da relativida- ele possa caminhar livre, na trilha da criativida-
de, foram significativas. Suas idéias sobre o diálogo de, no aqui e no agora.
estão entre as contribuições mais relevantes feitas
O diálogo examina a forma pela qual o pensamen-
às ciências que estudam a mente, a consciência e
to – visto por Bohm como um veículo inerentemente
o pensamento (ciências cognitivas) e ao estudo das
limitado em vez de uma representação objetiva da
relações entre indivíduos, grupos, organizações e
realidade – é gerado e mantido no plano coletivo.
instituições.
O propósito do diálogo é percorrer todo o processo
Diálogo é um método que examina um âmbito ex-
do pensamento e mudar o modo como ele acontece
traordinariamente amplo da experiência humana:
coletivamente. Nosso pensamento é um processo
nossos valores mais intimamente arraigados; a na-
que requer atenção. A fragmentação que se origina
tureza e a intensidade das emoções; os padrões de
no pensamento – o modo de pensar que divide tudo
nossos processos de pensamento; a função da me-
– é uma das dificuldades (BOHM, 2005). O grande
mória; a importância dos mitos culturais herdados;
e, por fim, a maneira segundo a qual nossa neuro- problema que o diálogo busca resolver é o da se-
fisiologia estrutura a experiência do aqui-e-agora. paratividade - entre nós e nós mesmos, entre nós
(BOHM, 2005). e os outros.
124
Existe uma ética do Diálogo, que visa facilitar que David Bohm, para o desenvolvimento da qualidade
ele aconteça: falar na primeira pessoa (contando a da escuta.
sua experiência); escutar o outro até o fim, sem in-
Esta pesquisa foi realizada com a participação das
terromper; falar para o centro do grupo (e não para
pessoas que frequentam o Grupo Experimental de
uma pessoa em particular); dar um tempo para to-
Diálogo na UMAPAZ e que voluntariamente con-
dos falarem; esperar que pelo menos cinco pessoas
cordaram com a proposta apresentada. O número
falem antes de tomar a palavra novamente; dar um
de inscritos no semestre anterior às entrevistas foi
tempo entre as falas, para que o que foi dito possa
de vinte pessoas, sendo que ocorreu uma média de
reverberar internamente e ser assimilado.
onze a treze participantes por encontro. Destes, par-
No Diálogo procura-se a observação dos próprios ticiparam da pesquisa apenas aqueles que afirma-
pensamentos e sentimentos, e da tendência em ram seu interesse e o registraram numa lista.
concordar ou discordar enquanto ouve-se o outro;
A metodologia da pesquisa envolveu entrevistas in-
a identificação dos pressupostos; a suspensão dos
dividuais que foram realizadas com oito participan-
pressupostos por um tempo para poder ouvir o novo;
tes do Grupo que se dispuseram a participar da mes-
a manutenção da atenção plena; a observação do
ma. As entrevistas foram gravadas e transcritas, os
pensamento coletivo; o compartilhamento de signi-
sujeitos não foram identificados, no intuito de pre-
ficados no grupo.
servar o anonimato.
O papel da facilitadora não é diretivo, mas ajudar a
A pesquisa é qualitativa e baseou-se em respostas
manter o foco da postura dialógica, questionando
discursivas que foram dadas a um roteiro de quinze
para que o grupo reflita se o diálogo está aconte-
perguntas previamente definido. O roteiro foi cons-
cendo ou não, incentivando o seguimento da ética,
truído a partir de princípios que são encontrados no
mostrando quando não está sendo observada, além
escopo teórico-prático da metodologia do Diálogo.
de participar com suas próprias idéias e percepções
como todos os outros. A finalidade da entrevista pessoal com seu roteiro de
perguntas foi estimular a comunicação da auto-ob-
A fase introdutória de sensibilização tem a duração
servação dos participantes a respeito dos seguintes
de quinze a vinte minutos e a conversação propria-
aspectos: as atitudes que facilitaram o diálogo; as
mente dita, uma hora e quinze a uma hora e trinta
atitudes que dificultaram o diálogo; o automatismo
minutos.
concordo-discordo, próprios do pensamento linear; a
O fechamento é indicado pela facilitadora que so- atenuação da rigidez dos condicionamentos e o desen-
licita que as pessoas se interiorizem, fechando os volvimento da habilidade de lidar com o automatismo
olhos, e busquem uma palavra ou frase curta que concordo-discordo; a identificação de pressupostos,
expresse um sentimento ou percepção do que foi o crenças, preconceitos, sentimentos subjacentes, emo-
encontro para si. Cada um vai abrindo os olhos, con- ções; a explicitação e suspensão dos pressupostos e
forme encontram o significado e quando todos estão julgamentos; a tendência às interrupções ao interlo-
prontos é realizado o compartilhamento e fechado o cutor; o nível de empatia e a tolerância a opiniões di-
encontro. ferentes e a experiências diversas; o desenvolvimento
da habilidade de falar na primeira pessoa, assumindo
4. A Metodologia da Pesquisa a responsabilidade pelo seu discurso e de falar para o
centro do grupo, para todos; a qualidade da atenção; o
Relata-se, aqui, estudo de caso por meio do qual é surgimento de insights; a existência e a qualidade do
feita uma reflexão sobre a contribuição da metodo- silêncio; o compartilhamento de idéias e significados; o
logia do Diálogo, segundo a visão do físico quântico processo do aprendizado do ouvir e compreender.
126
Figura 3: Mapa Mental elaborado com os resultados da pesquisa sobre o Diálogo
128
no que observaram, atenuando a separação sujeito- Referências Bibliográficas
objeto. Pode-se dizer que os sujeitos apreenderam a
metodologia do Diálogo, não como uma técnica que BASSOLI, Arnaldo.
é aplicada, mas como um processo que não tem fim,
Sobre o Diálogo. Disponível em:
que exige paciência e vontade.
www.escoladedialogo.com.br/escoladedialo-
Observa-se também que estão sendo tolerantes go/index.php/biblioteca/artigos. Acesso em:
consigo mesmos e com os outros. A harmonia gru- 27/07/2012
pal foi percebida na observação das pessoas entre-
BOHM, David.
vistadas. A possibilidade de poder tanto acolher o
outro, com as suas idéias, as suas percepções e os Diálogo: comunicação e redes de convivência
seus sentimentos, bem como sentirem-se acolhidos (editado por Lee Nichol). Tradução de Humberto
Mariotti. São Paulo: Palas Athena, 2005.
pelos outros nesse mesmo sentido, foi gerando um
ambiente propício ao compartilhamento de significa- MARIOTTI, Humberto.
dos no grupo. Diálogo: um método de reflexão conjunta e obser-
Pode-se dizer que as pessoas se dispuseram a viver vação compartilhada da experiência. In: Thot nº 76
a experiência, e provavelmente tem um bom domí- (Associação Palas Athena do Brasil), 2001.
nio da ansiedade, embora a tenham reconhecido em
si mesmas como uma das atitudes que dificultam o
diálogo, e também abriram mão de alguma forma
dos controles usuais da ótica linear que não permite
o tempo de maturação que os processos humanos
exigem.
Há indícios de que a sensibilização aplicada no iní-
cio dos encontros do Grupo Experimental de Diálogo
teve um papel significativo no desenvolvimento da
atenção e da auto-observação, pois tem o propósito
de estimulá-las, além de propiciar uma integração
e maior disponibilidade interna para a conversação,
tendo sido reconhecida por alguns como um momen-
to importante da prática. Usualmente, os grupos de
Diálogo entram diretamente na conversação.
Conclui-se que o estudo de caso desta pesquisa,
através da análise realizada, validou a hipótese de
que a prática continuada do Diálogo, na visão de Da-
vid Bohm, contribui para o desenvolvimento da qua-
lidade de escuta.
O Diálogo é uma arte relacional que pode ser com-
parada a uma sinfonia na qual cada pessoa é um ins-
trumento com sua afinação própria e única, e cuja
composição emerge na participação grupal. Essa
sinfonia é o significado compartilhado.
“desde que a guerra começa na mente dos homens, é na mente dos homens
que as defesas da paz devem ser erigidas” (Declaration on a Culture of Peace, 1999)
Resumo Abstract
O artigo discorre pela história dos direitos humanos The article discusses the history of fundamental hu-
fundamentais, procurando tecer uma teia conceitual man rights, seeking to weave a web conceptual civil
sobre os direitos civis, sociais e os direitos transin- rights, social rights and trans. For both shows the
dividuais. Para tanto apresenta o movimento da luta movement of the struggle for human dignity empty-
pela dignidade humana desaguando na questão am- ing in environmental issues, through diffuse rights,
biental, por meio dos direitos difusos, e apresenta and presents the fundamental principles govern-
os princípios fundamentais que regem a preservação ing the preservation of the environment, such as
do meio ambiente, como os de prevenção, precau- the prevention, precaution, participation and social
ção, participação e função social da propriedade. function of property. Finishes with notes on the cul-
Finaliza com apontamentos de sobre a cultura de ture of peace and conflict in the realization of funda-
paz e o conflito na realização dos direitos humanos mental human rights and in building a sustainable
fundamentais e na construção de uma sociedade society.
sustentável. Keywords: sustainability, human rights, peace, sus-
Palavras-chave: sustentabilidade, direitos huma- tainable society
nos, paz, sociedade sustentavel
130
1. Introdução A luta contra a opressão política e social é uma
constante do processo civilizatório, derivando na
Nossa civilização vive o paradoxo do aumento des- transformação dos valores humanos e no reconheci-
comunal do saber, nos dando a ilusão de aumento de mento e afirmação de novos direitos239. Deste modo,
poder; mas ao mesmo tempo o futuro parece amea- o patrimônio comum da humanidade vai se enrique-
çado por uma voracidade sem fim. cendo – na medida em que os direitos clássicos afir-
A Carta da Terra assinala que o “futuro reserva, ao mados nos séculos XVIII e XIX vão sendo aperfeiço-
mesmo tempo, grande perigo e grande esperança”238. ados e novos direitos vão emergindo no repertório
Na perspectiva deste documento, a esperança esta- de direitos fundamentais.240 Na família dos direitos
ria depositada na construção de uma sociedade sus- humanos fundamentais, o direito ao meio ambiente
tentável global fundada no respeito pela natureza, é o mais novo e situa-se âmbito dos interesses difu-
nos direitos humanos universais, na justiça econô- sos ou transindividuais, por conta de seus portado-
mica e numa cultura da paz. A complexidade deste res não serem individualizados ou coletivizados de
desafio envolve fundamentalmente uma disputa em modo identificado – características das duas primei-
torno da definição dos conceitos estruturadores da ras gerações ou dimensões241 dos direitos humanos
ordem social, pois justiça, responsabilidade, respei- fundamentais.
to e equidade são conceitos polissêmicos. As gera-
ções sucessivas vão criando e recriando conceitos de 2. Em busca da dignidade da
acordo com o evolver das necessidades e das capa-
cidades humanas. Nem bem nos entendemos a cerca
pessoa humana
do que é democracia – e observe que esta discussão
tem mais de 2500 anos – agora temos mais a tarefa 2.1 A liberdade
de definir o que significa sustentabilidade.
Ações contra a injustiça ou lutas por liberdades de-
Abordaremos a trajetória da esperança de uma socie-
mocráticas já ocorriam em Roma e em Atenas há
dade global sustentável, procurando tecer uma teia
conceitual com apontamentos sobre a construção e mais de dois mil anos, contudo, tinham alcance limi-
a ampliação da noção de direitos socioambientais. tado aos membros das classes dominantes242. Mais
243 | Segundo John Locke “a liberdade dos homens sob Logo após o desastre da Segunda Grande Guerra, em
governo importa em ter regra permanente pela qual 10 de dezembro de 1948, Assembleia Geral das Na-
se viva, comum a todos os membros dessa sociedade
(...); liberdade de seguir minha própria vontade em tudo 245 | Friedrich Engels, em “A situação da classe traba-
quanto a regra não prescreve, não ficando sujeito à von- lhadora na Inglaterra”, descreveu um quadro sinistro das
tade inconstante, incerta e arbitrária de qualquer ho- condições de vida e de trabalho das camadas mais hu-
mem.” (1973:49). mildes e do mundo urbano miserável e degradante em
244 | Escritos políticos apud José Afonso da Silva (2011:155). que viviam os ingleses.
132
ções Unidas aprovou a Declaração Universal dos Di- aplicabilidade imediata249 e dependem do compro-
reitos do Homem. Neste documento foram afirmados misso político programático para sua realização.
os direitos fundamentais do individuo246, os direitos Nosso intuito com este breve histórico das decla-
econômicos do trabalho, sociais da previdência e rações dos direitos fundamentais da humanidade
culturais da educação necessários ao livre desenvol- foi evidenciar o longo caminho entre a emergência
vimento da personalidade do ser humano.247 destes direitos no campo ideológico, sua declaração
A conquista de direitos sociais se origina da reflexão em instrumentos públicos e sua eficácia como rea-
a cerca da igualdade de oportunidades como um va- lidade concreta, pois grande parte da humanidade
lor supremo da convivência ordenada, feliz e civiliza- está muito distante de compreender o significado e
da. Bobbio afirma que tal qual o princípio da igualda- sentir o poder destas palavras em suas vidas. A De-
de perante a lei foi um dos pilares do Estado liberal, claração de 1948 tem obrigatoriedade apenas moral
“o princípio da igualdade de oportunidades, ou de para os países membros da ONU, de modo que são
necessários esforços globais para que um número
chances ou de pontos de partida” é um dos pilares
crescente de países reconheçam e efetivem os direi-
do Estado de providência social (Bobbio, 1997:30). O
tos civis, econômicos, sociais e culturais para suas
objetivo destes direitos é colocar todos os membros
populações.250
de uma determinada sociedade na condição de par-
ticipar da competição pela vida. Implica em oposi-
ção aos princípios liberais no sentido da cobrança da 2.3 A fraternidade
presença ativa do Estado na promoção do bem estar Os revolucionários franceses havia declarado reto-
coletivo. Diferentemente dos direitos de liberdade, ricamente o princípio da fraternidade dentro da trí-
cuja proteção efetiva é garantida por instrumen- ade ideológica dos direitos fundamentais dos seres
tos processuais explícitos – os chamados remédios humanos, posto que este ideal de fraternidade está
constitucionais248 – os direitos sociais não são de em um nível mais amplo de consideração moral do
que aqueles dos interesses individuais ou coletivos.
246 | Direito à dignidade, à igualdade, à não discrimina- Foi Karel Vasak251 que, em 1979, chamou a atenção
ção; à vida; à liberdade (de locomoção, de pensamento,
para o tema ao pronunciar uma palestra sob o título
de consciência, de religião, de opinião, de expressão, de
reunião, de associação), à segurança pessoal, à naciona- “Pour le droit de l’homme de la troisième génération:
lidade, ao asilo, à propriedade; foram condenadas a es- le droit de solidarité”. Enquanto os direitos decla-
cravidão, a servidão, a tortura, as penas ou tratamentos rados e afirmados anteriormente destinavam-se à
cruéis, inumanos e degradantes; foi prescrito o respeito
à intimidade; os direitos políticos de participação no go-
proteção dos interesses de indivíduos ou segmen-
verno, de votar e ser votado, o voto secreto, etc. tos específicos, os direitos fundamentais de tercei-
247 | Foram afirmadas as necessidades dos trabalhado- ra geração – os direitos de fraternidade – tem por
res – como condições satisfatórias de trabalho, proteção destinatário o gênero humano mesmo. É o interesse
contra o desemprego, remuneração justa e satisfatória, abrangente de todos: “Estes direitos têm como ti-
liberdade sindical, limitação da jornada de trabalho,
férias, descanso remunerado. Os direitos sociais foram tular não o indivíduo na sua singularidade, mas sim
expressos no direito à previdência e seguros sociais grupos humanos como a família, o povo, a nação, co-
contra enfermidade, invalidez e velhice. Por último des-
tacamos a afirmação de que toda pessoa tem direito a 249 | Conforme Paulo Bonavides (2009: 564).
educação gratuita, pelo menos nos graus elementares e 250 | Destacam-se o Pacto Internacional dos Direitos
fundamentais e direito de participar livremente da vida Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Eco-
cultural da comunidade. nômicos, Sociais e Culturais, aprovados pela Assembleia
248 | Habeas Corpus, Mandado de Segurança Individual, Geral em Nova York, em 16 de dezembro de 1966.
Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de Injunção, 251 | Ex-diretor da Divisão de Direitos do Homem e da
Ação Popular. Paz, da UNESCO.
252 | O professor Paulo Bonavides afirma que a relação A necessidade de promover a equidade intergeracio-
de Vasak é apenas indicativa daqueles direitos que se nal na esfera do direito ao meio ambiente, como um
delineiam atualmente sendo “possível que haja outros direito humano fundamental, destaca a dimensão
em fase de gestação, podendo o círculo alargar-se à me-
dida que o processo universalista se for desenvolvendo.”
temporal e o caráter transindividual deste direito,
(2009:569). emergindo como um princípio a reger as ações das
253 | Ignacy Sachs foi um dos primeiros teóricos da sus- presentes gerações em função do futuro. O concei-
tentabilidade socioambiental, tendo criado o termo eco-
desenvolvimento. (Sachs, 1986). 254 | Conforme Antônio A. Cançado Trindade, (1993:36).
134
to de equidade intergeracional foi desenvolvido por mantidas seguras. O desafio da consubstanciação
Edith Brown Weiss255 nos anos 1980 e significa a con- deste direito envolve variáveis de natureza científi-
servação de opções, de qualidade e de acesso onde ca, social e política na medida em que, na busca da
e quando cada geração é ao mesmo tempo usuária satisfação de padrões culturais de produção e con-
e guardiã do patrimônio natural e cultural, que deve sumo de matéria prima e energia, emergem situa-
deixar para as futuras gerações em condições não ções que conduzem as comunidades ecossistêmicas
piores do que recebeu, encorajando a equidade en- a uma maior ou menor instabilidade. Deste modo, a
tre as gerações. Trata-se de uma das questões mais condição de equilíbrio do meio ambiente há de ser
complexas da atualidade, uma equação que envolve constantemente definida e redefinida de acordo com
variáveis quantitativas e qualitativas de necessida- os valores estabelecidos pela sociedade, em função
des das presentes gerações em função de neces- de especificidades biogeográficas e sociopolíticas.
sidades prospectivas que não podemos conhecer e
Do ponto de vista dos direitos humanos, este direito
medir. O certo é que nossa geração é apenas um elo
ao meio ambiente equilibrado é essencial à manu-
na corrente que se liga através do tempo com o pas-
tenção da sadia qualidade de vida dos seres huma-
sado e com o futuro. Por outro lado, o desenvolvi-
nos e, neste sentido, há que se considerar o nível
mento da razão filosófica, científica e do poderio tec-
nológico – que produziu a complexidade dos desafios de qualidade dos elementos da natureza – água, ar,
contemporâneos – aumenta a nossa responsabilida- solo, flora, fauna e paisagem. O Princípio 1 da De-
de pela proteção dos sistemas de sustentação da claração do Rio abre espaço para o debate muito ao
diversidade biológica, da manutenção do equilíbrio gosto dos polemistas a cerca do antropocentrismo
nos processos ecológicos e dos recursos culturais versus biocentrismo ao afirmar que “Os seres hu-
necessários à sobrevivência da espécie humana. manos constituem o centro das preocupações rela-
cionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm
direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia
4. Princípios fundamentais do com a natureza.” Neste assunto invocamos a pala-
direito ao meio ambiente vra da professor Paulo Affonso Leme Machado, que
Na atualidade um grande número de países256 as- a respeito diz:
seguram ou reconhecem em sua legislação, nestas “Nem sempre o homem há de ocupar o centro
palavras, o direito ao meio ambiente equilibrado, as- da política ambiental, ainda que comumente
sim como o Brasil. Isto demonstra que os esforços ele busque um lugar prioritário. Haverá casos
da Comissão Brundtland – no sentido de inserir a em que, para se conservar a vida humana ou
questão ambiental no campo institucional, em suas para colocar em prática a ‘harmonia com a na-
várias esferas – foram bem sucedidos e o direito ao tureza’, será preciso conservar a vida dos ani-
meio ambiente equilibrado formalmente conquistou mais e das plantas em áreas consideradas ina-
globalidade. Do ponto de vista biológico, o equilíbrio cessíveis ao próprio homem. Parece paradoxal
do meio ambiente depende da preservação de carac- chegar-se a essa solução do impedimento do
terísticas naturais dos ecossistemas de modo que acesso humano, que, afinal de contas, deve
suas funções de suporte e reprodução de vida sejam ser decidida pelo próprio homem.” (2011:67)
255 | Edith Brown Weiss, “In fairness to future genera- As conferências internacionais de meio ambiente fa-
tions: international law, common patrimony and inter- zem parte da estratégia da Organização das Nações
generational equity”. Conforme Antônio C. Trindade,
Unidas para estabelecer, no mínimo, algum tipo de
(1993:57) e Alexandre Kiss (2004:3).
256 | Argentina, Peru, Turquia, Moçambique, Portugal,
compromisso moral dos governantes mundiais no
Espanha, França, Romênia, Cabo verde, Seychelles etc. sentido de envidar esforços convergentes para tratar
136
exemplo, o sociólogo Jacques Ellul já debatia a res- exista ameaça de sensível redução ou perda de di-
peito da técnica. Em 1954 escreveu ele: “A história versidade biológica, a falta de plena certeza cientí-
mostra que toda aplicação técnica, em sua origem, fica não deve ser usada como razão para postergar
apresenta efeitos (imprevisíveis e secundários) mui- medidas para evitar ou minimizar essa ameaça, (...)”
to mais desastrosos do que a situação anterior, ao O princípio 3 da Convenção-Quadro das Nações Uni-
lado de efeitos previstos, esperados, que são válidos das Sobre Mudança do Clima afirma:
e positivos.” (1968:108). Ellul alertou diretamente
“As Partes devem adotar medidas de precau-
sobre os impactos dos pesticidas sintéticos (espe-
ção para prever, evitar ou minimizar as causas
cialmente o DDT – Dicloro-Difenil-Tricloroetano). Em
da mudança do clima e mitigar seus efeitos
1962 a bióloga e escritora Rachel Carson ganhará
negativos. Quando surgirem ameaças de da-
notoriedade pública por conta da obra “Primavera
nos sérios ou irreversíveis, a falta de plena
silenciosa” reafirmando as preocupações de Jacques
certeza científica não deve ser usada como ra-
Ellul. A ideia básica levantada por Ellul e Carson é
zão para postergar essas medidas, (...).”
que estava havendo uma invasão dos ecossistemas
pelas inovações tecnoquímicas de uso agrícola e Em 1994 o Congresso Brasileiro ratificou as duas
cujas repercussões sobre a cadeia de sustentação convenções internacionais citadas acima e em 1998
do frágil equilíbrio da vida sobre o planeta podem aprovou a Lei 9.605, que dispõe sobre as sanções
ser muito graves. penais e administrativas derivadas de condutas
Em essência o princípio de precaução preceitua que e atividades lesivas ao meio ambiente. O artigo
as atividades que possam trazer risco significativo 54 desta lei dispõe que quem “Causar poluição de
à natureza não devem ser continuadas enquanto qualquer natureza em níveis tais que resultem ou
seus efeitos adversos potenciais não são totalmen- possam resultar em danos à saúde humana, ou que
te compreendidos. Ele foi explicitado mundialmente provoquem a mortandade de animais ou a destruição
pela primeira vez em 1984, na Declaração Ministerial significativa da flora” terá pena de reclusão de um a
da Segunda Conferência Internacional sobre a Prote- quatro anos e multa. Em seu parágrafo 3º afirma-se
ção do Mar do Norte: que será penalizado “quem deixar de adotar, quando
assim o exigir a autoridade competente, medidas de
“(...) a fim de proteger o Mar do Norte de possí- precaução em caso de risco de dano ambiental grave
veis efeitos danosos da maioria das substân- ou irreversível.”
cias perigosas, uma abordagem de precaução
é necessária, a qual pode exigir ação para con- O princípio de precaução diferencia-se claramente
trolar os insumos de tais substâncias mesmo do princípio de prevenção. Na prevenção trata-se de
antes que um nexo causal tenha sido estabele- um dano futuro, porém certo e mensurável objetiva
cido por evidência científica clara e absoluta.”257 e cientificamente.
As duas principais convenções internacionais sobre O nexo causal é claro e o efeito nefasto da atividade
meio ambiente que emergiram da Conferência do Rio ou da coisa é bem conhecido; sendo que o que se
de Janeiro de 1992 inseriram o princípio de precau- ignora é se o dano vai se produzir em um caso con-
ção. O preâmbulo da Convenção sobre a Diversidade creto258. Na precaução trata-se de impedir a criação
Biológica afirma: “Observando também que quando de um risco cujos efeitos são desconhecidos e, por-
tanto, imprevisíveis. Neste caso opera-se no âmbito
257 | Apud Rudiger Wolfrum (2004:14). Wolfrum (2004)
da incerteza do saber científico (Alguma espécie de
e Sands (2004), entre outros, afirmam que o princípio
de precaução foi primeiramente inserido na legisla- vida desaparecerá para sempre? Haverá impactos
ção da Alemanha Ocidental na década de 1970 como
vorsorgeprinzip. 258 | Conforme Roberto Andorno apud Cafferatta (2009).
138
A audiência pública é um instrumento formal de par- No que tange à defesa do meio ambiente a ação civil
ticipação popular no processo de licenciamento am- pública tem procurado realizar o mérito de exigir do
biental, pois a legislação prevê seu uso no caso de agente envolvido no conflito ambiental a obrigação
empreendimentos que tenham como exigência a ela- de fazer, de não fazer e/ou a condenação em dinheiro.
boração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental. O
processo de participação neste instrumento é confli- Por fim, para que haja participação popular efetiva
tuoso e por vezes revela-se insatisfação com os re- e legítima no processo de gestão ambiental é ne-
sultados das audiências públicas, com as respostas cessário que a informação esteja disponibilizada de
aos questionamentos propostos e com as explica- modo transparente262 e de fácil acesso. Segundo o
ções sobre os empreendimentos, o que tem levado princípio 10 da Declaração do Rio, no “nível nacional,
as questões ambientais para a esfera do judiciário. cada indivíduo deve ter acesso adequado a informa-
A participação popular pode se dar também por meio ções relativas ao meio ambiente de que disponham
do judiciário, dando concretude ao final do princípio as autoridades públicas, inclusive informações sobre
10 da declaração do Rio, quando esta dispõe sobre o materiais e atividades perigosas em suas comunida-
acesso à justiça: des, bem como a oportunidade de participar de pro-
“Deve ser propiciado acesso efetivo a proce- cessos de tomada de decisões.”
dimentos judiciais e administrativos, inclusive A democratização dos processos decisórios na are-
no que diz respeito à compensação e repara- na ambiental tem como pressuposto a existência
ção de danos.” Paulo Affonso Leme Macha- de indivíduos autônomos em sua capacidade crítica
do afirma que o acesso à justiça para dirimir e transformadora de modo que os “Estados devem
conflitos ambientais “pode-se afirmar, sem
facilitar e estimular a conscientização e a partici-
exagero, é uma das conquistas sociais mais
pação pública, colocando a informação à disposição
importantes do último século.” (2011:391)260
de todos.” Os indivíduos devem ter acesso a toda a
O principal instrumento de acesso do cidadão brasilei- informação disponível: sobre a qualidade do ar, das
ro, enquanto indivíduo, à justiça ambiental está pre- águas, dos solos, sobre a diversidade biológica e
visto na Constituição em seu art. 5º inciso LXXIII, que espécies ameaçadas, sobre a matriz energética e
possibilita a Ação Popular para anular ato considera-
os planos de expansão, a legislação, os acordos,
do lesivo ao meio ambiente. Contudo, o instrumento
as estratégias, os planos, os programas, às agen-
mais importante de justiça ambiental é a Ação Civil
das governamentais, aos projetos que envolvem a
Pública, criada pela Lei 7.347 de 1985, ao final do regi-
me militar, e reafirmada pela Constituição Federal de riscos aos sistemas de suporte de vida em geral e
1988 no art. 129, III e § 1º. Trata-se de um instrumento à saúde humana em particular. Em 1998, foi assi-
de proteção jurídica de interesses transindividuais – nada na Dinamarca a convenção de Aarhus a cerca
do meio ambiente, do consumidor e do patrimônio ar- do acesso à informação, participação do público no
tístico, estético, histórico, turístico e paisagístico261. processo decisório e acesso à justiça em matéria de
meio ambiente. Trata-se de mais um passo rumo à
decisão, evitando, pelo menos, que esse processo fique
fechado em segredo.” (2011:108). democratização mundial das relações entre o ho-
260 | Os exemplos de constituições que proporcionam mem e a natureza e na promoção da legitimidade e
acesso a procedimentos judiciais e administrativos, incluin- da autonomia da participação dos agentes sociais
do compensação e reparação são inúmeros. José Adércio na esfera ambiental.
Leite Sampaio cita Tailândia, Suiça, Equador, Finlândia e
Portugal, entre outros. (Sampaio, Wold & Nardy, 2003:84) . 262 | A administração pública deve reger-se por cinco
261 | Edis Milaré conceitua a Ação Civil Pública como “o di- princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade pu-
reito expresso em lei de fazer atuar, na esfera cível, em de- blicidade e eficiência, segundo o art. 37 da Constituição
fesa do interesse público, a função jurisdicional.” (1990:31). Federal em vigor.
140
Emerge recentemente o temor de que, por conta de preservação de espaços de significação ambiental
eventos econômicos conjunturais, ocorra um proces- importante. Trata-se do debate em torno do novo
so de regressão em termos das conquistas ambien- código florestal, onde os segmentos do agronegó-
tais. O professor Michel Prieur alerta sobre as amea- cio procuram “flexibilizar” a legislação ambiental em
ças que pairam, destacando as de natureza política, função de seus interesses de produção agrícola em
econômica e psicológica: larga escala, de tal modo que a eficácia ambiental-
legal seja insignificante. No núcleo desse confronto
“a) ameaças políticas: a vontade demagógica
está a defesa da liberdade de iniciativa e de usufruto
de simplificar o direito leva à desregulamenta-
de propriedade privada, ou seja, contra as limitações
ção e, mesmo, à “deslegislação” em matéria
que a ação do Estado, enquanto representando inte-
ambiental, visto o número crescente de nor-
resses da sociedade, pode impor à liberdade de ini-
mas jurídicas ambientais, tanto no plano in-
ciativa individual no que tange à propriedade de ter-
ternacional quanto no plano nacional; b) ame-
ras no Brasil. Está em discussão o velho conceito de
aças econômicas: a crise econômica mundial
propriedade, tal qual emergiu nas primeiras revolu-
favorece os discursos que reclamam menos
ções liberais, versus o novo conceito de propriedade,
obrigações jurídicas no âmbito do meio am-
regido pela função social e ambiental, determinada
biente, sendo que, dentre eles, alguns consi-
pelos objetivos da nação brasileira. Trata-se de um
deram que essas obrigações seriam um freio
embate político-ideológico, onde o liberalismo revo-
ao desenvolvimento e à luta contra a pobre-
lucionário, que fundou a modernidade, traveste-se
za; c) ameaças psicológicas: a amplitude das
como oligarquia decadente e apegada a velhos mo-
normas em matéria ambiental constitui um
dos de pensar a relação homem natureza e ameaça
conjunto complexo, dificilmente acessível aos
as conquistas duramente efetivadas até o momento.
não especialistas, o que favorece o discurso
em favor de uma redução das obrigações do Observando a dinâmica das forças sociais em con-
Direito Ambiental.” (2012:12) flito, cabe postular que a luta pela progressão em
termos de direitos ambientais deve, necessariamen-
Há um polarizado debate ideológico que se trava
te, caminhar entrelaçada com os direitos humanos
cotidianamente em diversas esferas da vida pública,
fundamentais, pois o direito ao meio ambiente tor-
desde os plenários das casas legislativas do Estado,
nou-se parte constitutiva, irreversível e irremovível
passando pelas salas de aula, até as filas dos su-
da mais recente dimensão dos direitos humanos.
permercados. PRIEUR (2012) alerta que a regressão
ambiental ocorre de modo insidioso,
5.2 O direito à paz
“por modificações aportadas às regras proce-
dimentais, reduzindo a amplitude dos direitos A análise da história humana, principalmente a con-
à informação e à participação do público, sob temporânea, deixa muita margem para o pessimis-
o argumento de aliviar os procedimentos; ela mo267, de modo que muitas vozes descartam a paz
ocorre igualmente, pelas derrogações ou mo- como um valor268. Contudo, a convivência pacífica
dificações das regras de direito ambiental, re-
duzindo ou transformando em inoperantes as 267 | De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), aproximadamente 191 milhões de pessoas per-
regras em vigor.” (2012:13) deram a vida em consequência de guerras e conflitos,
Em nosso país, nesta segunda década do século XXI, fazendo do século XX foi um dos mais violentos da his-
tória. (Gerhardt, 2005:143).
o mais vigoroso sinal de retrocesso ambiental está
268 | E até a ridicularizam como algo covarde e efemi-
representado pela ferrenha oposição que os setores nado, como é o caso de Ljubomir Tadic, um ex-filósofo
agrários impõem à implementação de normas de marxista citado por Vojin Dimitrijkevic (2003:81).
142
preensão e à cooperação. O intelecto há que forjar Referências Bibliográficas
utopias que venham a se materializar em conceitos,
estratégias, mecanismos e instrumentos de instau- BECK, Ulrich.
ração de novos padrões de convivência.
Risk society: toward a new modernity. Londres:
A concretização de soluções sustentáveis e inclusi- Sage Publications, 1992
vas para superação dos complexos desafios contem- BRASIL. Constituição Federal, Brasília: 1988.
porâneos implica, essencialmente, na construção de
métodos de geração de consensos, de negociações BRASIL. Código Civil - Lei federal 10.406 de 2002
baseadas na capacidade de diálogo e na confiança BOBBIO, Norberto.
entre as partes, na aceitação da possibilidade de ga- A era dos direitos. Rio de janeiro: Campus, 1992.
nhos mútuos. É necessário ver os desafios sob novos
ângulos, identificar as tendências positivas e negati- Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro,
1997
vas e saber comunicá-las adequadamente, de modo
a construir colaborações e parcerias para gerar valor BONAVIDES, Paulo.
para todos. Sim, “Um outro mundo é possível”. Curso de direito constitucional. São Paulo: Ma-
Parafraseando John Rawls , uma sociedade so-
271 lheiros, 2012
mente poderá ser feliz quando estiver no caminho da CAFFERATTA, Néstor A.
execução (mais ou menos) bem sucedida de um pla-
“Principios de derecho ambiental”. In: Revista de
no racional de vida traçado em circunstâncias (mais
Derecho Ambiental. Instituto de Derecho y Econo-
ou menos) favoráveis, e estiver razoavelmente con- mia Ambiental, 2009.
fiante em que suas intenções possam ser realizadas.
A nossa intenção de convivência harmoniosa há que DIMITRIJKEVIC, Vojin.
ser conduzida pela razão em um fluxo necessaria- “Direitos humanos e paz”. In: SYMONIDES, Ja-
mente dialético, onde devemos ser determinados nusz. Direitos Humanos: novas dimensões e desa-
pela firme convicção de possibilidade, pois “desde fios, Brasília: UNESCO Brasil, Secretaria Especial
que a guerra começa na mente dos homens, é na dos Direitos Humanos, 2003.
mente dos homens que as defesas da paz devem ser ELLUL, Jacques.
erigidas” (Declaration on a Culture of Peace, United
A técnica e o desafio do século. Rio de Janeiro:
Nations:1999). Paz e Terra, 1968
ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalha-
dora na Inglaterra, São Paulo: Boitempo, 2008
FREITAS, Vladimir P. de.
A constituição federal e a efetividade das normas
ambientais. São Paulo: Editora Revista dos Tribu-
nais, 2005
FIGUEIREDO, Guilherme J. P. de; SILVA, Lindamir
M. da; RODRIGUES, Marcelo A.; LEUZINGER, Már-
cia. D.
Código Florestal: 45 anos: estudos e reflexões.
Curitiba: Letra da Lei, 2010.
271 | John Rawls refere-se à felicidade do indivíduo
(2002:610). GERHARDT, LUIZA M.
144
ALIMENTAÇÃO E MEIO AMBIENTE:
Relações e contribuições no caminho da
sustentabilidade
Suely Feldman Bassi 272
Resumo Abstract
Neste artigo são apresentadas atividades desenvol- This paper presents the activities of the Open Uni-
vidas na Universidade Aberta do Meio Ambiente e versity of the Environment and Culture of Peace -
Cultura de Paz - Umapaz – com o tema Alimentação Umapaz – about the theme Food and Environment.
e Meio Ambiente, que têm como proposta oferecer This theme is proposing that offer contributions of
contribuições para escolhas e decisões que possam reflection and action for choices and decisions that
estar presentes no ato da alimentação e colaborar may be present in the act of feeding and collaborate
para o exercício de conexão do indivíduo, sociedade connection to the exercise of the individual, society
e universo nesta atividade vital para o ser humano. and the universe in this vital activity for humans. The
Os desafios atuais que se apresentam como acesso current challenges that present themselves as food
e segurança alimentar para toda a comunidade pla- security and access to the entire global community
netária exigem atenção e busca de caminhos compa- require attention and finding ways compatible for a
tíveis para uma alimentação saudável e em sintonia healthy diet and consistent with ethical and rational
com as dimensões éticas e racionais na busca da dimension in the search for planetary sustainability.
sustentabilidade planetária. As atividades organiza- The activities organized on this theme are intended
das nesta temática têm o intuito de caminhar nesta to walk in that direction.
direção. Keywords: Health and food; food and sustainability;
Palavras-chave: Alimentação saudável. Alimen- nutritional security.
tação e sustentabilidade. Segurança alimentar e
nutricional.
272 | Psicóloga e nutricionista com especialização em Ecologia, Arte e Sustentabilidade; docente da Umapaz e coordenadora
dos programas Alimentação e Meio Ambiente, Meio Ambiente e Saúde e Tai Chi nos Parques.
146
diversos povos, assim como as técnicas culinárias, das pessoas dela resultante, com severos impactos
ingredientes, e toda simbologia específica no que se sobre a saúde pública” (CARNEIRO, F. F. et al, 2012,
refere à escolha de gêneros, à elaboração de cardá- p. 03). E justifica este trabalho: “A identificação de
pios, preparo e no momento da refeição. numerosos estudos que comprovam os graves e
Atualmente a necessidade de responder às deman- diversificados danos à saúde provocados por estes
das de rapidez na aquisição, preparação e no próprio biocidas impulsiona esta iniciativa. Constatar a am-
momento da alimentação, impõem a praticidade e ao plitude da população à qual o risco é imposto subli-
mesmo tempo abandono da forma como eram ela- nha a sua relevância”. (CARNEIRO, F. F. et al, 2012,
boradas e realizadas as antigas refeições; as opções p. 03).
atuais ainda que nem sempre sejam as desejadas, O mesmo dossiê ainda assinala: “Nos últimos três
correspondem ao ritmo acelerado exigido princi- anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior con-
palmente nos grandes centros urbanos, e que já se sumidor de agrotóxicos no mundo. Os impactos à
alastram também por locais menores. saúde pública são amplos porque atingem vastos
Produtos industrializados que oferecem esta pra- territórios e envolvem diferentes grupos populacio-
ticidade ou a simplificação do trabalho doméstico nais como trabalhadores em diversos ramos de ati-
no preparo da refeição, a independência maior dos vidades, moradores do entorno de fábricas e fazen-
jovens na decisão de sua alimentação, o aumento das, além de todos nós que consumimos alimentos
expressivo das refeições realizadas fora de casa, o contaminados”. (CARNEIRO, F. F. et al, 2012, p. 12).
impacto da propaganda na oferta de gêneros e arte- Aliado a estes aspectos, outro foco de preocupação
fatos de cozinha estão entre alguns fatores decisivos atualmente amplia-se para a alimentação no con-
para essa acelerada transformação que assistimos. texto global, constatando a urgência de adequação
Alguns produtos industrializados ou altamente pro- para satisfazer essa necessidade básica para todos
cessados oferecem, segundo apontam especialistas os seres humanos, de forma a equacionar as rela-
no assunto, um excesso de substâncias estranhas ções entre produção e consumo, e ainda a questão
ingeridas sem o tempo adequado para o organismo de distribuição e acesso.
se adaptar a esses novos hábitos, gerando carên- Muito se discute sobre a necessidade de responder
cia de nutrientes essenciais para exercer suas fun- à demanda coletiva de alimentação, e embora a pro-
ções de defesa. Ao mesmo tempo em que a oferta se dução de alimentos seja uma questão sempre im-
apresenta maior, traz um excesso de componentes portante a ser observada, a questão premente a ser
como gorduras e produtos químicos. solucionada é o acesso, na medida em que se verifica
Outra questão que gera dúvida, questionamento e a desigualdade para os dois extremos: a da falta e
preocupação é o uso de agrotóxicos na produção de excesso alimentar e as consequências apresentadas
alimentos, em relação à sua finalidade, uso adequa- em ambos os lados.
do e possíveis efeitos nocivos à saúde das pessoas No primeiro caso é evidente a séria consequência
e ambiente. para a sobrevivência, saúde e pleno desenvolvimen-
Recentemente a Associação Brasileira de Saúde Co- to, e sabemos que parte considerável da população
letiva – ABRASCO – lançou um trabalho sobre o uso humana vive nesta situação. Por outro lado, o consu-
de agrotóxicos com o objetivo de registrar e difundir mo exacerbado incontestável por uma parcela cada
“a preocupação de pesquisadores e professores e vez mais crescente de indivíduos, está ocasionando
profissionais com a escalada ascendente de uso de desequilíbrios severos na saúde, como as doenças
agrotóxicos no país e a contaminação do ambiente e crônicas e degenerativas, ao lado, ou em consequ-
148
para a promoção e a proteção da saúde, possibili- da, culturalmente aceitável e também incorporando
tando a afirmação plena do potencial de crescimento a idéia de acesso à informação.
e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e A lei nº 11346 de 15 de setembro de 2006 cria o
cidadania. No plano individual e em escala coletiva, Sistema Nacional de Segurança Alimentar – SISAN
esses atributos estão consignados na Declaração - com vistas em assegurar o direito humano à ali-
Universal dos Direitos Humanos, promulgada há 50 mentação adequada, considerando entre outras, as
anos, os quais foram posteriormente reafirmados no seguintes afirmações:
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, So-
ciais e Culturais (1966) e incorporados à legislação A alimentação adequada é direito fundamen-
nacional em 1992”. (BRASIL, 2003, p.11). tal do ser humano, inerente à dignidade da
pessoa humana e indispensável à realização
A Declaração de Roma sobre a Segurança Alimen- dos direitos consagrados na Constituição Fe-
tar Mundial e o Plano de Ação da Cúpula Mundial deral, devendo o poder público adotar as polí-
da Alimentação estabelecem as bases para diversas ticas e ações que se façam necessárias para
trajetórias, de maneira a atingir um objetivo comum: promover e garantir a segurança alimentar e
a segurança alimentar a nível individual, familiar, nutricional da população.
nacional, regional e mundial. Existe segurança ali-
mentar quando as pessoas têm, a todo o momento, A segurança alimentar e nutricional abrange
acesso físico e econômico a alimentos seguros, nu- entre outras coisas: a conservação da biodi-
tritivos e suficientes para satisfazer as suas neces- versidade e a utilização sustentável dos recur-
sidades dietéticas e preferências alimentares, a fim sos; a promoção da saúde, da nutrição e da ali-
de levarem uma vida ativa e sã. A este respeito é mentação da população, a implementação de
necessário uma ação concertada, a todos os níveis. políticas públicas e estratégias sustentáveis
Cada país deverá adaptar uma estratégia, segundo e participativas de produção, comercialização
os seus recursos e capacidades, para alcançar seus e consumo de alimentos, respeitando-se as
próprios objetivos e ao mesmo tempo cooperar, no múltiplas características culturais do País.
plano regional e internacional, na organização de É apresentado o seguinte conceito em nosso país:
soluções coletivas dos problemas mundiais de se- “a Segurança Alimentar e Nutricional consiste na
gurança alimentar. Num mundo de instituições, so- realização do direito de todos ao acesso regular e
ciedades e economias cada vez mais ligadas, é im- permanente a alimentos de qualidade, em quantida-
prescindível coordenar os esforços e compartilhar as de suficiente, sem comprometer o acesso a outras
responsabilidades. (Cúpula Mundial de Alimentação, necessidades essenciais, tendo como base práticas
Roma, 1996). alimentares promotoras de saúde que respeitem a
Vários documentos nacionais e internacionais vêm diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
sendo elaborados no sentido de formular diretrizes econômica e socialmente sustentáveis” (BRASIL,
que contribuam para o compromisso de atitudes e 2006, p. 04)
hábitos seguros e adequados em relação à Alimen- A Primeira Conferência Internacional sobre Promo-
tação Saudável. ção da Saúde realizada em Ottawa, Canadá em no-
O conceito de segurança alimentar passou a incorpo- vembro de 1986 apresentou uma carta de intenções
rar também a noção de acesso a alimentos seguros respondendo às expectativas para uma nova saúde
(não contaminados biológica ou quimicamente); de pública que traz recomendações e abordagens vin-
qualidade (nutricional, biológica, sanitária e tecno- culando a saúde em seu contexto mais amplo e des-
lógica), produzidos de forma sustentável, equilibra- tacando a importância de ações intersetoriais.
150
medicina, nutrição, estando estes permeados pelos cuidados devem ser cultivados a nível individual e
aspectos sociais, culturais, nutricionais e políticos coletivo e integrados na rotina diária.
envolvidos. Esta abordagem hoje é cada vez mais divulgada e
Esta ênfase não causa estranheza, pois, como já sugerida. Assim como o repensar da maneira em
assinalado, nosso atual momento planetário de di- como e do que nos nutrimos, não nos restringindo
versidade alimentar e desigualdade de acesso aos só a nutrientes e alimentos, mas em modos de vida
recursos alimentares e provento e os desequilíbrios exercidos de forma consciente e prazerosa que nosso
evidentes (falta e excesso alimentar) exigem medi- ambiente pode nos proporcionar. Resgatar nossa his-
das de correção pelas consequências que apresen- tória, descobrir o prazer de compartilhar tradições,
tam pela forma de consumo atual. Tanto a fome modos de preparo como também novas possibilida-
como a desnutrição são problemas a serem obser- des ainda não vivenciadas são caminhos possíveis;
vados como o grande consumo tanto em quantidade a arte da culinária que se apresenta mais difundida
como em qualidade de determinados produtos, ao atualmente nos oferece caminhos enriquecedores.
mesmo tempo em que são oferecidos produtos ema-
grecedores e dietéticos, alinhados com uma imagem 2. Nossa proposta de trabalho
corporal perseguida na atualidade. São questões
O conceito de Alimentação Saudável é parte essen-
e paradoxos da sociedade moderna em acelerada
cial da educação sócio ambiental e neste sentido
transformação em seus hábitos alimentares.
parte integrante do desenvolvimento ambiental a
Cabe ressaltar ainda que outros fatores intrínsecos que se direciona a UMAPAZ, processo este que ob-
ao ato de alimentar-se vão além do alimento e re- jetiva favorecer e disseminar informações a respeito
mete a um contexto mais amplo, como o preparo, de todas as etapas que compõe a relação com os
modo de realização da refeição (individualmente ou alimentos, enfatizando opções sustentáveis.
em grupo), ambiente onde é realizada, tempo dedi- Através de cursos e oficinas de alimentação a pro-
cado, e outros. Constituem fases anteriores e pos- posta é a reflexão e conhecimento de práticas que
teriores ao momento da alimentação e revelam a permitam a incorporação e multiplicação de atitudes
forma como é orientada a relação com o alimento e favoráveis em relação às questões socioambientais
que pode interferir também na sua qualidade, sendo em todas as etapas do ciclo de produção, consumo
também muito relevantes. Não é só o que comemos, e destinação final de resíduos e levando em consi-
mas de que forma, atenção, respeito, etc. Como é deração aspectos da diversidade cultural da nossa
realizada a aquisição dos gêneros, como são lidados população.
os resíduos, destinação final e outros. Todos estes
O objetivo do programa é oferecer a oportunidade de
aspectos devem ser levados em conta na direção de participar de atividades que ressaltam a idéia da ali-
escolhas alimentares mais sustentáveis. mentação saudável, como parte do processo de edu-
A busca de qualidade de vida que pressupõe uma cação socioambiental, visando melhorar a relação
vida saudável deve levar em consideração uma con- das pessoas com os alimentos, para a sua própria
cepção integrativa. O aspecto alimentar é fundamen- saúde e bem-estar coletivo; visa também compre-
tal, mas deve estar aliado a hábitos saudáveis, com ender as relações entre produção e consumo, refletir
ações e cuidados em esferas mais amplas. Aliado e incorporar práticas de consumo sustentável, esco-
a uma alimentação saudável, também a prática de lha e aproveitamento dos alimentos.
alguma atividade física, tempo de lazer, convivência As atividades são organizadas de forma a oferecer
harmoniosa, controle do estresse, e diversos outros olhares e propostas diversas, formas e caminhos de
152
bilidade de multiplicação e também a participação Neste curso o objetivo foi dialogar e difundir junto
de público interessado em geral, em busca de uma aos participantes os conceitos de Segurança Ali-
melhor alimentação para si e para sua família. mentar e Nutricional (SAN), as redes formadas para
Neste curso, a proposta foi estimular conceitos te- organizar esta proposta, os caminhos percorridos e
óricos e práticos com o intuito de favorecer a inte- a serem ainda desenvolvidos e refletir sobre conhe-
gração e vínculo com as leis da natureza, conhecer cimentos e habilidades para a escolha de alimentos
a diversidade e as opções de elaboração de uma de forma adequada, saudável e segura; proporcio-
alimentação saudável, equilibrada e adequada a um nou ainda a discussão das culturas alimentares das
novo conceito de sustentabilidade, sensibilizando diversas regiões do país, das práticas alimentares
para as questões socioambientais. Buscou, também, mais saudáveis, consumo sustentável e redução do
resgatar a importância energética dos alimentos desperdício.
vivos orgânicos que podemos cultivar em nossos O público foi diversificado com grande participação
quintais promovendo a saúde e criando fontes de de profissionais da saúde como nutricionistas, biólo-
sustentabilidade e ainda a oportunidade de elaborar gos e médicos, assim como educadores, cozinheiros
pratos saborosos e saudáveis utilizando ingredien- e outros profissionais da área ambiental, arte, entre
tes locais. outros.
Foram enfatizados aspectos que contribuem para a Com a certificação de 20 participantes e carga ho-
qualidade dos alimentos como região, época ade- rária total de seis horas em três encontros, o curso
quada de colheita e produções com qualidade ecoló- possibilitou uma aproximação ao tema e reflexão de
gica e ainda o jardim comestível, com suas proprie- possibilidades de ação e prosseguimento do diálogo.
dades e utilizações; foram abordados os aspectos A dinâmica e metodologia desenvolvidas com ênfa-
estéticos dos alimentos e preparações. se na troca entre os participantes além do conteúdo
O desenvolvimento das atividades foi realizado na teórico enriqueceu e fomentou um bom aproveita-
UMAPAZ e com a utilização do espaço do entorno mento e incorporação dos conceitos. Evidenciou a
como viveiro de plantas localizado no próprio parque. importância do tema e necessidade de expansão e
continuidade dos conteúdos oferecidos.
A possibilidade de realização das aulas práticas foi
extremamente enriquecedora no intuito de elaborar O Ciclo de Palestras Segurança Alimentar e Meio
e saborear alimentos e preparações por vezes des- Ambiente foi realizado na Semana do Meio Ambien-
conhecidas e a participação na confecção dos mes- te em junho de 2012 com sete encontros, tendo como
mos, o que propicia uma nova relação e oportunida- objetivo a reflexão do tema Alimentação por diferen-
de de vivência de saberes. tes prismas com os seguintes temas e palestrantes:
O curso Segurança Alimentar e Nutricional – di- Alimento Saudável em um Meio Ambiente Saudá-
reito ou escolha?274 foi realizado em julho de 2012 vel - Vitor Otavio Lucato, ecólogo e biólogo, docen-
em parceria com o Centro de Referência em Segu- te da UMAPAZ; Segurança Alimentar e Nutricional
rança Alimentar e Nutricional Sustentável – Butantã na ótica dos Direitos Humanos - Christiane Araújo
(CRSANS-BT) da Secretaria Municipal do Verde e do Costa, representante do Fórum Brasileiro de Sobe-
Meio Ambiente; as aulas foram ministradas na Esco- rania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN)
la Municipal de Astrofísica. e técnica do Instituto Pólis; Alimentação Susten-
tável - Denise Haddad, consultora em alimentação
saudável, culinarista especializada em educação
274 | Ministrado por Solange Cavalcante da Silva Redolfi,
pedagoga e nutricionista, técnica da SVMA nas áreas de
ambiental; Sustentável é comer bem! Hum... co-
Educação Ambiental e Segurança Alimentar. mida de verdade, produzida com amor, cheirosa
154
Este primeiro tema buscou propiciar a reflexão e di- bilidades de ação para um número cada vez maior
álogo sobre as questões alimentares, a saúde pes- de profissionais e pessoas em geral que buscam es-
soal e a saúde pública, a sustentabilidade social e colhas mais sustentáveis, ampliando o conceito de
ambiental. Considerou a oportunidade de refletir so- uma alimentação saudável que vai além da simples
bre como as decisões cotidianas de consumo, refe- ingestão de nutrientes, estando presente em um
rentes à alimentação, podem gerar grande impacto contexto mais amplo que deve levar em conta outros
ambiental, especialmente nos centros urbanos, que aspectos inerentes ao ato de alimentar-se.
não produzem alimentos, mas os importam de ou-
Outra parceria bem sucedida é com a SVB – Socieda-
tras regiões próximas ou distantes, além do impacto
de Vegetariana Brasileira que, com a Secretaria do
na saúde das pessoas e, por consequência, no custo
Verde e Meio Ambiente, lançou a Campanha Segunda
social da saúde.
Sem Carne, com o propósito de incentivar as pesso-
Para aprofundar a análise, diálogo e reflexão destes as a repensarem sua alimentação, com a ampliação
importantes temas, a facilitadora seguiu realizando do repertório de alimentos e preparações no cardá-
o curso intitulado Consumo responsável, escolhas pio, gerando benefícios à saúde do planeta e à saúde
alimentares e saúde pública - autonomia e novos individual. Foram realizadas palestras mensais que
padrões de produção, preparo e consumo, que teve abordaram o tema oferecendo conhecimentos práti-
como objetivo abordar de que forma o comporta- cos e teóricos para favorecer uma maior conscienti-
mento de consumo tem impacto na saúde ambien- zação para as pessoas interessadas poderem optar
tal e na saúde individual. Refletir ainda sobre como por este tipo de alimentação com mais segurança.
as nossas escolhas de hoje definem, inclusive, qual A apresentação da campanha em seu endereço ele-
será a disponibilidade de água e alimentos para as trônico elucida: “A Campanha Segunda Sem Carne
futuras gerações, e ainda os custos sociais e indivi- se propõe a conscientizar as pessoas sobre os im-
duais importantes, considerando os gastos com saú- pactos que o uso de carne para alimentação tem so-
de pelas famílias e pela sociedade e, especialmente, bre o meio ambiente, a saúde humana e os animais,
sofrimentos evitáveis para os indivíduos. convidando-as a tirar a carne do prato pelo menos
uma vez por semana e a descobrir novos sabores”.
A equipe participou também de palestras277 em
A partir desta proposição, dados importantes nesta
eventos realizados em outros locais, tais como o I
abordagem são revelados possibilitando uma cons-
Festival de Gastronomia Orgânica de São Paulo, com
ciência maior em relação aos benefícios que oferece.
o tema Sustentabilidade e Vegetarianismo, realiza-
A diminuição da produção e consumo deste tipo de
do em novembro de 2010, onde dialogou sobre o en-
alimento favorece as diversas instâncias apontadas
foque da alimentação orgânica e o vegetarianismo
e pode contribuir de forma notória para a saúde hu-
com diversas instituições e profissionais que traba-
mana e planetária. Os eventos, palestras e oficinas
lham com esta proposta, apresentando o trabalho
oferecidas objetivaram este esclarecimento, nem
que desenvolvemos; e o Ciclo de Palestras Para viver
sempre claro para as pessoas.
de bem com o planeta realizado no Centro de Con-
trole de Zoonoses da Secretaria Municipal da Saúde Uma das palestras realizadas na UMAPAZ em par-
onde foi apresentado o tema Alimentação Saudável ceria com a Sociedade Vegetariana Brasileira, no 3º
em outubro de 2011. Salão Vegetariano, foi com a professora Ana Bran-
co278, em maio de 2010, com a apresentação da pes-
Estas iniciativas proporcionam excelentes oportuni-
dades de troca de informação e expansão de possi- 278 | Ana Maria Branco é Professora do Departamento
de Artes e Design da PUC – Rio e Pesquisadora do dese-
277 | Ministradas por Suely Feldman Bassi, nutricionista nho com Modelos Vivos - Laboratório de Living Design;
e psicóloga, docente da Umapaz. Coordena a Convivência com o Biochip, Grupo Aberto de
156
a busca da sustentabilidade em uma sociedade glo- encontros e trocas enriquecedoras para os partici-
balizada e com infinitas informações cada vez mais pantes e educadores.
disponíveis, que favoreçam decisões e escolhas.
Um dos princípios destacados no Guia Alimentar se 6. Resultados
refere à Sustentabilidade Ambiental, onde assume o A participação nas atividades que envolvem a temá-
enfoque de tica de Alimentação tem sido bastante expressiva e
“claro incentivo ao consumo de alimentos com retornos muito positivos, no que se refere ao
nas formas mais naturais e produzidos lo- aproveitamento, multiplicação do aprendizado e ca-
calmente e à valorização dos alimentos re- minhos de ação a partir dos conteúdos vivenciados.
gionais e da produção familiar e da cultura Podemos perceber nas afirmações de intenção ainda
alimentar, além de estimular mudanças de anteriores à participação nas atividades, objetivos
hábitos alimentares para a redução do risco claros de busca de alternativas no caminho de uma
de ocorrência de doenças, valoriza a produ- melhor qualidade de vida para si, família, ambiente
ção e o processamento de alimentos com o escolar, e ainda a percepção de relações intrínsecas
uso de recursos e tecnologias ambientalmen- com escolhas que possam favorecer a sustentabili-
te sustentáveis. Atualmente se reconhece dade futura. O índice de participação em todo o per-
como prioritária a produção de alimentos que curso dos cursos, assim como o desejo de prossegui-
fomente e garanta a Segurança Alimentar e mento, refletem essa inserção e compromisso com
Nutricional nacional, mas se reconhece como os próprios grupos pela formação de redes de trocas
igualmente prioritário o uso da terra e da de informações que prosseguem além da carga ho-
água, de forma ecologicamente sustentável rária proporcionada, dinamizando as possibilidades
e com impactos sociais e ambientais positi- de convívio e ação.
vos”. (BRASIL, 2006, p. 33).
Conforme já assinalado, constatamos grande pro-
Outros enfoques são ainda ressaltados o que expõe cura pelas atividades oferecidas, não sendo pos-
a complexidade na abordagem do tema e a necessi- sível acolher toda a demanda de participação, o
dade de atenção a todos os aspectos relacionados, que buscamos corresponder com novas turmas e
para que se apresentem alternativas compatíveis possivelmente novos locais para contemplar essa
com as diversas realidades em nosso país, em sua solicitação.
configuração cultural, disponibilidade, produção,
transporte, armazenamento, crenças e hábitos. Através da avaliação final de curso, podemos veri-
ficar a forma como assimilaram os conteúdos/vi-
Assim como a crescente oferta de informações, o de- vências e também como imaginam continuar essa
safio também é grande ao trabalhar com a proposta ação a partir do que relatam em seus comentários
de educação. Mas este é o caminho e cada vez mais e sugestões.
se percebe a busca das pessoas para uma melhor
compreensão e decisão. A ação coletiva favorece o Em uma das perguntas: “Que importância tem este
encontro e a abertura a que se propõem. tema no seu cotidiano?” apresentamos algumas
afirmações.
Apesar de ainda no início da oferta de atividades, o
retorno que observamos é significativo. Organiza- Curso Alimentação Sustentável
mos e relatamos alguns dados para melhor com- “De grande importância no meu dia a dia,
preender o que trilhamos e elaborar e encaminhar tanto na melhoria da minha própria alimen-
as atividades futuras. Constatamos um percurso de tação como na aplicação de projetos’; “Ex-
158
velocidade muitas vezes difícil de acompanhar, de- to; convivência harmônica e prazerosa no momento
vem ser refletidas e compartilhadas continuamente. da aquisição, preparação e da própria refeição, com
possibilidade de vivenciar os diversos elementos da
Por outro lado, cada vez mais se torna possível
nossa ação e compromisso com a sustentabilidade.
encontrar caminhos compatíveis e coerentes com
estes desafios de nossa rotina diária; não sem es- O retorno que nos chega através das avaliações dos
forço, dada à rapidez que as mesmas informações participantes é muito relevante para pautarmos o
apresentam, mas possíveis desde que possa haver nosso referencial, assim como as sugestões e trocas
um tempo ou espaço para troca de idéias, pesquisa e na própria dinâmica das atividades.
busca de coerência e percepção da teia que estamos
A perspectiva que remete é que precisamos prosse-
inseridos e na qual somos protagonistas; onde nos-
guir cada vez mais, buscarmos ainda mais oportuni-
sas ações revertem ao todo maior e deste voltando
dades de oferecer atividades como as já realizadas
a cada um de nós.
e também em parceria com outras secretarias do
Este sentimento de pertencimento na sociedade município, outras instituições e qualquer espaço que
pode aumentar uma vez que seja percebido o sig- seja favorável para a reflexão e diálogo.
nificado das ações de cada um em relação aos seus
Os desafios são inúmeros e as consequências de
efeitos no meio ambiente e em outros grupos sociais,
uma alimentação em desequilíbrio a nível individual
conectando as esferas local e global, o que poderia
e práticas que não favoreçam a sustentabilidade do
produzir sentimentos de cidadania mais fortes.
meio ambiente a todo o momento são evidentes. A
Por outro lado assistimos trabalhos desenvolvidos partir desta consciência, alternativas devem ser tri-
no sentido de promover a informação e conhecimen- lhadas na direção de melhores respostas na saúde e
to na direção de uma alimentação mais saudável em sustentabilidade individual e planetária.
instâncias educacionais buscando favorecer o públi-
co infantil a direcionar hábitos mais saudáveis desde
o ambiente escolar. Existem já esforços no sentido
de pactuar uma redução de elementos desfavoráveis
como, por exemplo, sódio e gorduras em excesso;
outros caminham no incentivo à própria participação
na elaboração e cultivo no próprio espaço escolar, o
que propicia a vivência concreta, com maior possibi-
lidade de sensibilização e incorporação de conceitos
pela própria participação.
A partir da preocupação presente pela constata-
ção do crescente índice de obesidade que indicado
pelas pesquisas realizadas pelos órgãos governa-
mentais, estas iniciativas tornam-se cada vez mais
frequentes, também com a produção de manuais de
orientação.
Nas atividades que desenvolvemos constatamos
que a troca pode ser exponencial e os caminhos se
multiplicarem seja em informações sobre benefícios
ou riscos do que consumimos; locais onde podemos
realizar compras com caráter mais sustentável e jus-
160
PROGRAMA AVENTURA
AMBIENTAL NOS PARQUES
Angélica Berenice de Almeida279 e Thereza Christina Rosa280
Resumo Abstract
O Programa Aventura Ambiental no Parque Ibirapue- The Environmental Adventure Program in the Ibi-
ra nasce na UMAPAZ em 2006 e ocorre até a pre- rapuera Park in UMAPAZ born in 2006 and is to date,
sente data, com uma proposta de desenvolver uma with a proposal to develop an environmental educa-
atividade de educação ambiental com crianças das tion activity with children from the schools of São
Escolas de São Paulo. Considerando que o Parque Paulo. Whereas the Ibirapuera Park has a rich bio-
Ibirapuera tem uma rica biodiversidade e é uma das diversity and is one of the most important green ar-
mais importantes áreas verdes e de lazer da cidade, eas and leisure center, is a prime location to conduct
é um local privilegiado para realizar atividades rela- activities related to environmental education, which
cionadas à educação ambiental, que tem um papel has a key role in raising awareness about critical
fundamental para a sensibilização crítica quanto às environmental issues. Providing the change as a re-
questões ambientais. Propiciando como resultado a sult of man’s relationship with nature. This program
mudança da relação do homem com a natureza. Este contributes to UMAPAZ the purpose of meeting the
programa contribui para o propósito da UMAPAZ demand from all regions of São Paulo, from all age
atendendo a demanda de todas as regiões da cidade groups, raising awareness about environmental is-
de São Paulo, de todas as faixas etárias, sensibili- sues and culture of peace.
zando as pessoas sobre as questões socioambien- Keywords: Biodiversity, environmental adventure,
tais e de cultura de paz. urban parks
Palavras-chave: Biodiversidade, aventura ambien-
tal, parques urbanos
279 | Pedagoga, formuladora do Programa Aventura Ambiental no Parque do Ibirapuera, docente da UMAPAZ.
280 | Pedagoga, docente da UMAPAZ.
4. Metodologia
2. Justificativa
O programa busca estimular o interesse pelas ques-
Considerando o caráter de urgência com relação à
tões ambientais, através de uma metodologia de
preservação do planeta e o impacto ambiental da
educação que desperte valores humanos e promova
humanidade e das ações predatórias, considerando
o equilíbrio entre mente e coração.
ainda que o consumismo desenfreado e o estilo de
vida das populações urbanas vem criando impactos O conteúdo do programa é desenvolvido a partir de
à natureza pelo seu modo de vida, propomos um tra- uma metodologia participativa utilizando a exposi-
balho de educação ambiental que leve a reflexão e ção dialogada, vídeos, dinâmicas vivenciais e a visita
a consciência destas questões possibilitando aqui- monitorada no parque Ibirapuera. Essa ação peda-
sição de um novo estilo de vida menos predatório. gógica favorece a capacidade de uma vinculação afe-
162
tiva do sujeito consigo mesmo, com o outro e com Durante este período foram produzidos dois jogos
a natureza. Os conteúdos são trabalhados de forma para serem entregues para as crianças. Um jogo de
interdisciplinar buscando uma interação através das tabuleiro com o percurso da Aventura Ambiental e
atividades desenvolvidas. um jogo de memória “Ave Fauna do Ibira” com as
A aventura ambiental utiliza vivências e dinâmicas aves e pássaros do Parque Ibirapuera. Estes jogos
propostas na metodologia desenvolvida pela técnica foram elaborados por estagiários do programa, com
do aprendizado seqüencial que possibilita um indiví- a supervisão das técnicas supervisoras coordenado-
duo aprender a desenvolver mudanças de transfor- ras da Aventura Ambiental.
mação interior baseados na afetividade e na experi-
ência direta com a natureza. 6. Roteiro da Aventura Ambiental
As atividades realizadas buscam proporcionar novas A primeira etapa da Aventura acontece na Sala
experiências onde o respeito a si mesmo e ao outro, da Aventura Ambiental na sede da UMAPAZ281.
ocorrem através de atividades que propiciam a vi-
Ali acontece uma breve apresentação do grupo
vência de valores humanos tais como: cooperação,
da Aventura Ambiental e da Universidade Aberta.
companheirismo, convivência com as diferenças pes-
É feita uma sessão de vídeo que aborda os temas
soais, solidariedade, escutar o outro, que são exercí-
ambientais ou de cultura de paz e, a seguir é fei-
cios constantes durante toda a série de vivências ao
ta uma reflexão dialogada com o grupo. Antes da
longo do percurso.
saída para o parque é feita a combinação de como
vamos trabalhar para garantir a harmonia e quali-
5. Desenvolvimento da Atividade dade da atividade.
A Aventura Ambiental ocorre de terça a sexta-fei- Na segunda etapa começa a aventura pelo Viveiro
ra nos horários de 8h30 às 11h30 e das 13h30 ás Manequinho Lopes.
16h30, recebemos grupos de 15 a 40 pessoas atra-
O parque Ibirapuera teve inicio em 1928 com o plan-
vés de agendamento prévio.
tio de mudas no Viveiro Manequinho Lopes (nome
São atendidas escolas públicas e particulares, ONGs, dado em homenagem a um técnico naturalista que
projetos sociais e instituições que atendem pessoas ajudou no manejo e criação do viveiro). Antigamen-
com deficiências. A faixa recebida é a partir de 04 anos te o viveiro abrigava a produção de diversas mudas
até idosos. Temos uma estimativa de atendimento floríferas, ornamentais e árvores trepadeiras que
desde 2006 até a presente data de 20.000 pessoas.
eram destinadas a áreas públicas da cidade de São
Para atendimento deste programa contamos com Paulo (praças, parques, ruas, canteiros, hospitais,
uma equipe de sete estagiários de diferentes forma- escolas, prédios públicos etc.). Porém, o crescimen-
ções: geografia, biologia, pedagogia, educação am- to da cidade exigiu um espaço maior para as mu-
biental e outros. das e a produção de árvores foi para o município de
Com o objetivo de garantir a todos o direito à educa- Cotia, no Parque Cemuacan, e a de arbustos para
ção ambiental, iniciamos o atendimento de pessoas o Parque do Carmo, ficando no Viveiro Manequinho
com deficiências na Aventura Ambiental em 2011. Lopes apenas a produção de mudas floríferas e
Para realizar este atendimento fazemos um plane- ornamentais. O Viveiro recebe também árvores de
jamento com cada grupo para conhecer o seu perfil. compensação ambiental.
Realizamos uma reunião com estagiário, coordena-
dores do programa e o coordenador da instituição a 281 | Equipada com mobiliário adequado e decorada pela
ser atendida para prepararmos a visita. equipe de estagiários.
Este serviço público, que fica dentro do Viveiro Ma- O parque se situava sobre uma área de várzea, onde
nequinho Lopes, é responsável pela recuperação de antes havia um solo alagadiço e por isso, as árvores
animais silvestres perdidos ou que tenham sofridos apodreciam facilmente.
maus tratos, como animais vítimas do tráfico encon- Na parte aberta do Parque, a primeira parada é na
trados na cidade de São Paulo. O objetivo é tratar e Praça Burle Marx.
reintroduzir os animais a vida silvestre, além disso,
Praça Burle Marx e pausa para o lanche:
realizar pesquisas como levantamentos da fauna
dos parques, planejamentos de corredores ecológi- Em 1993 um novo projeto que recebeu o nome do
cos e mapeamento de parques. paisagista Burle Marx, visou integrar o viveiro ao
Parque e valorizar suas edificações e árvores notá-
Plantas Medicinais:
veis. O espaço da antiga serraria é um espaço onde se
No viveiro há canteiros específicos destinados ao reúnem pessoas para prática de esportes diversos.
plantio de diversas espécies de plantas medicinais
Figueira-Microcarpa:
como erva cidreira, guaco, anis, bálsamo, cânfora,
boldo, babosa, estomalina, lavanda, mil folhas, ma- A Microcarpa é uma árvore originária da Índia, típica
racujá, hortelã, etc. Muitas servem como remédios, de clima tropical e tem como característica a folha-
temperos, base para cosméticos e muitas outras fun- gem brilhante e o tamanho de seus troncos e galhos
ções úteis à economia, culinária, farmacêutica, etc. podendo ultrapassar 20 metros de altura.
164
Esta árvore desperta grande curiosidade nos par- Outra característica é sua profunda raiz que absorve
ticipantes pelo fato de ter sofrido uma técnica de grande quantidade de água propiciando um solo me-
reprodução conhecida como alporquia. Trata-se de nos encharcado uma vez que antigamente a região
um direcionamento artificial dos galhos para o solo era alagadiça e comprometia o desenvolvimento da
durante o crescimento da árvore, onde através de flora. Foram plantadas diversas árvores de eucalipto
cortes e uso de hormônios os troncos criam raízes e para auxiliar na drenagem do solo, assim colaboran-
formam novos troncos, dando a impressão de várias do para o plantio das demais espécies.
árvores interligadas. O Lago é a próxima parada.
Figueira-Bengalense (Ficus bengalensis): Embora bastante poluído, o lago abriga uma série de
A Figueira-Bengalense conhecida como “banyan” é animais aquáticos como tartarugas, peixes, (Tilápia,
uma árvore originária da Índia. Tem uma caracterís- Carpa, Bagre Africano) e aves (Biguá, Garça, Irerê,
tica interessante da espécie, na qual seus galhos Pato, Ganso, Marreco, Urubu).
descem ao solo, enraízam e formam troncos adicio- O Parque do Ibirapuera possui três lagos artificiais
nais, por isso também é conhecida como árvore da interligados, compostos pelas águas dos Córregos
infinitude. Estas árvores também despertam o inte- Caaguaçu (atualmente canalizado) e do Sapatei-
resse dos visitantes pelo fato de Buda ter atingido o ro. As águas dos lagos recebem esgotos domés-
Nirvana meditando embaixo de uma Figueira-Benga- ticos clandestinos tornando a qualidade da água
lense. imprópria.
Bosque de Falsa-Seringueira: O histórico de poluição das águas do Córrego do
Essa árvore, originária da Malásia, desperta inte- Sapateiro data do início do século, quando o antigo
resse devido a suas raízes aéreas. O tamanho da matadouro da Vila Mariana despejava em seu leito o
copa acompanha o comprimento das raízes escon- couro e as entranhas dos animais. O couro era utili-
didas no solo. Diferentemente da Seringueira, ela zado pelos curtumes e por sapateiros que procura-
é chamada de Falsa-Seringueira, pois produz um vam materiais no córrego. Por este motivo recebem
líquido branco semelhante ao látex, porém que não o nome de Córrego do Sapateiro. Atualmente, o cór-
serve para a produção da borracha. Outra observa- rego ao entrar no parque, recebe tratamento para
ção nessa parada é a serrapilheira, que é a cama- amenizar a carga orgânica contidas em suas águas,
da formada pelas folhas que caem das árvores. As o tratamento feito pela SABESP.
mesmas, ao caírem, são decompostas por microor- A seguir, vem o Pau-Brasil.
ganismos encontrados no solo, formando assim um
Originária do Brasil e atualmente ameaçada de ex-
rico adubo natural que servirá de “alimento” para
tinção, essa espécie tem uma grande importância
as árvores, além de garantir que o solo permaneça
na história do país. Na época do descobrimento foi
sempre úmido.
muito extraída devido a sua madeira nobre e por for-
A seguir os participantes da Aventura vão ao Bosque necer tinta vermelha para a indústria têxtil européia,
de Eucaliptos (Eucalyptus): principalmente para a igreja. Outro aspecto inte-
Originária da Austrália, esta espécie se adaptou mui- ressante da espécie é que ela cresce até encontrar
to bem ao clima brasileiro. Tem grande importância a luz, sendo que no parque numa área aberta, ela
econômica por ser usada na produção de pasta de cresce mais lentamente enquanto que no meio da
Mata Atlântica pode chegar aos 40 metros.
celulose e na fabricação de papel, carvão vegetal e
madeira. Foi trazida ao Brasil para sustentação dos O caminho leva os participantes da Aventura à Praça
trilhos das estradas de ferro. da Paz.
166
Qual é o animal? se deixar cuidar e cuidar do outro, da transmissão de
confiança, respeito, cooperação e solidariedade.
Esta vivência é realizada na Praça Burle Marx (ser-
raria). Formamos um círculo, no centro dois moni-
Pintor e os tons de verde
tores mostram como será esta vivência. Um coloca
nas costas do outro a foto de um animal e o outro Na figueira bengalense, organizamos uma fila com
faz perguntas para adivinhar qual animal que está os participantes e pedimos para todos ficarem de
representando. Por exemplo: é mamífero? É anfí- frente para o bosque. Neste momento falamos para
bio? É réptil? Ele voa? Tem pelo? etc. A resposta eles pensarem que são pintores e irão pintar um
só pode ser sim ou não. As questões serão feitas quadro da paisagem que está a sua frente. Pergun-
até a pessoa acertar qual é o animal. Após todos tamos quantos tons de verde eles conseguem ver.
passarem por esta vivência conversamos sobre Após alguns minutos pedimos que cada um diga o
as sensações vividas nesta dinâmica e qual foi o número de tons observados.
aprendizado. O mais importante nesta dinâmica não é o número
Esta dinâmica demonstra ao participante a rica bio- de cores apontado pelos participantes e sim a ob-
diversidade em nosso país e a importância dos ani- servação dos vários tons de verdes que ocorrem por
mais, assim como o seu próprio conhecimento sobre causa do sol, da sombra, temperatura e reflexo da
as espécies. Nesta dinâmica incluímos a foto de um luz do ambiente. A importância desta vivência está
ser humano gerando uma grande surpresa quando o na concentração e observação da diversidade da na-
grupo se vê incluído no reino animal. tureza ao seu redor.
Realizamos esta dinâmica num bosque que tem di- Pedimos para o grupo fazer uma fila e solicitamos
ferentes espécies de árvores. Pedimos para o gru- que cada duas ou três pessoas encostem-se ao eu-
po formar um círculo, dois monitores demonstram calipto e olhem para cima para ver o tamanho da
no centro da roda, como será realizada a dinâmica árvore. Perguntamos como eles se sentem com re-
lação ao seu tamanho comparado ao tamanho da
colocando uma venda nos olhos de um deles e o
árvore. Neste momento podemos sentir a nossa fra-
guiará até uma árvore. Neste momento é explicado
gilidade em relação à natureza.
que é necessário guiar de forma cautelosa, dando
segurança ao parceiro para poder vivenciar de forma
prazerosa esta vivência. A pessoa que está vendada Corrida dos pássaros
vai explorar a árvore sentindo o seu caule, folhas, Na Praça da Paz realizamos uma grande corri-
textura, cheiro, etc. Após a exploração, retornar ao da. Um monitor ficará na partida dando as orien-
círculo e tirar a venda dos olhos. Neste momento o tações e outro na chegada. Pedimos para cada
parceiro pede para ele identificar qual foi a árvore participante escolher um pássaro que gostaria
que ele explorou. Em seguida a dupla troca de papel, de representar. Após a escolha dos pássaros, o
quem guiou será guiada até outra árvore. monitor conta até três para que cada um corra
Após todos passarem pela experiência, retornamos ao imitando o seu pássaro até chegar ao ponto em
círculo e conversamos sobre as sensações sentidas que está o outro monitor.
nesta vivência. Procuramos nesta vivência, despertar Utilizamos esta atividade com crianças aproveitan-
os sentidos através do contato com a árvore desen- do a Praça da Paz para que elas possam usufruir da
volvendo um vínculo afetivo. Propicia a experiência de liberdade que este amplo espaço proporciona.
Novamente em círculo, cantamos uma música para “Sabe o que mais amo na vida? As árvores
fazer encerramento. porque dão flores e sombra”
“Levantar um braço, levantar o outro. “Nunca mais vou querer passarinho preso na
gaiola, eles são bem mais felizes soltos”
Fazer um remelexo e mexer o pescoço.
“Quero ficar bem rico para poder cuidar de to-
Olhe para o alto, olhe para baixo.
das as árvores do parque, mesmo que eu gaste
Olhe para o amigo e dê um abraço.” todo o meu dinheiro, serei um pobre feliz”
Em seguida repetimos a música e pedimos para todos “ Eu quero morar no parque Ibirapuera porque
cantarem juntos e fazerem os movimentos da música. aqui é lindo, tem árvores, pássaros e lago”
“Plantei uma árvore e alguém veio e arrancou,
Dinâmica de despedida fiquei muito triste, mas hoje abracei uma ár-
Fazemos uma roda e pedimos para que cada diga vore e fiquei muito feliz”
uma palavra que defina o momento vivido na Aven- “Vamos abraçar a árvore para ela sarar?”
tura Ambiental. Proporcionando os participantes a
compartilharem suas experiências com o grupo. “Vim no parque com o meu pai e ele deu sal-
gadinho para os patos, e eu coloquei ele de
Existem ainda outras dinâmicas que são realizadas castigo”
conforme as características dos diferentes grupos
atendidos. A mesma atenção que os grupos de visitantes re-
cebem também é dedicada aos estagiários do Pro-
grama282. São jovens que participam ativamente do
8. Resultados desenho e adaptação do roteiro aos perfis dos gru-
Acreditamos, e nossa experiência tem nos confirma- pos, que participam da proposição e realização das
do, que para sensibilizar as pessoas sobre a impor- dinâmicas, que, no seu processo de ensino-apren-
tância do meio ambiente e cultura de paz, precisamos dizagem, escrevem, sugerem mudanças, inovam,
atuar como educadores que despertem a afetividade. acompanham grupos, resolvem problemas e, assim,
Procuramos desenvolver isto a partir de um bom aco- ganham qualificação e segurança para suas próprias
lhimento do grupo na chegada, chamando as pessoas iniciativas.
pelo nome fortalecendo a identidade dos participantes
A seguir, são apresentados alguns depoimentos de
e criando um vínculo conosco. E durante as atividades
estagiários, que passaram pelo Programa Aventura
procuramos desenvolver o encantamento despertado
Ambiental:
no contato com a natureza através das diferentes di-
nâmicas, propiciando que os participantes deixem de “O que nós, educadores ambientais do progra-
ver o parque como cenário e passem a ter um olhar ma Aventura Ambiental, acreditamos fazer, é
mais focado, percebendo a relação do homem com a iluminar as dezenas de mentes que por sema-
natureza e entendendo que todos nós fazemos par- na cruzam nosso caminho com o intuito de co-
te da teia da vida. Para nós, educadores ambientais, nhecer, de vivenciar o contato com a natureza
esta é mais uma oportunidade, no desenvolvimento
da nossa ação educativa, de poder desenvolver a arte
282 | Equipe atual de estagiários: Lucas Pinho Polonio,
de educar e ajudar a transformar o mundo, por isso
Raul Pedro Cordeiro Neto, Tuira Maia, Letícia Carvalho,
compartilhamos as frases ditas por algumas crianças João Vergueiro Paciello, Laís Tavane da Silva e Vitoria
que participaram da Aventura Ambiental: Lais Leite dos Santos.
168
e de explorar um grandioso universo que está tos deles, quando saem do canteiro da plan-
inserido dentro do Parque Ibirapuera.“ tas medicinais, falam que a natureza é muito
“Aventura Ambiental é uma fonte rica para importante para nós e por isso não podemos
desenvolvermos nossa atividade educacio- fazer mal pra ela, e que devemos sempre cui-
nal diretamente com um público, que sempre dar dela. “
é variado quanto às faixas etárias e classes “Mesmo sabendo que já nos compensa se so-
sociais. Nos proporciona uma evolução como mente uma pessoa adquirir uma nova pers-
educadores, como agentes de transformação pectiva, a vontade é de conquistar o maior
e como seres humanos. Nos ajuda a prestar número de pessoas na sensibilização sobre as
mais atenção nos detalhes, nas pessoas, a questões ambientais. Temos um sentimento
respeitar mais o mundo que há dentro de cada de gratidão, ao perceber que esse dia ficará
um. É uma enorme oportunidade e uma gran- em suas memórias, lembrando sempre que
de experiência em que podemos expor nossas a natureza é viva e dá tudo que precisamos
idéias e ser reconhecidos por elas. Os sorrisos, se agirmos de maneira correta, ressaltando a
abraços, carinhos, as dúvidas e as histórias interdependência dos seres vivos e acabando
de cada criança em uma visita são parte da com a idéia de alienação do homem com a na-
recompensa de nosso trabalho, porque no fim
tureza. A aventura ambiental desperta em nós
das contas, com otimismo, sempre acredita-
uma grande vontade de continuar trabalhando
mos que algum conhecimento assimilado por
com a educação ambiental, pois acreditamos
elas, será como uma semente, que um dia será
convictamente que é uma maneira de auxiliar
plantada em outras pessoas e assim como
a formação de uma sociedade consciente de
uma corrente, caminhamos para uma mudan-
seus atos em equilíbrio com a natureza.”
ça planetária. As crianças entram em um novo
mundo, onde estão conhecendo e reconhecen- “Desde criança já somos todos ligados ao
do as plantas e percebendo a dependência que tema da preservação ambiental, seja pelas
temos da natureza.” vegetações ou pelos animais, neste nosso
“A aventura ambiental chama atenção do pú- contexto histórico em que a economia global
blico para perceberem que bonito e agradável é e o consumismo vêm devastando florestas,
o Parque do Ibirapuera, que é uma oportunida- poluindo ambientes e encurralando a vida na-
de para apreciarem o canto dos passarinhos, tural em espaços cada vez menores e mais in-
a beleza das árvores e desfrutar da calma e suficientes para o equilíbrio ecológico entre as
da tranqüilidade que a natureza proporciona. espécies. Alguns de nós começamos atuar na
Despertar a atenção das crianças para as ca- aventura com alguma insegurança, achando
racterísticas únicas de diferentes árvores é que não éramos capazes de ensinar ou sen-
uma oportunidade para começar a estreitar sibilizar as pessoas por nunca antes termos
o relacionamento deles com os elementos da exercido essa função de educador ambiental.
natureza, pois facilmente ficam deslumbrados Na verdade, o que ajuda é a liberdade que sen-
com a beleza natural ainda por eles desconhe- timos, proporcionada pelo programa aventura
cida e com as incríveis características, possi- ambiental onde expomos e colaborarmos com
bilidades e utilidades que cada planta possui. nossas idéias, nossos olhares a respeito dos
Procuramos resgatar uma afetividade com as temas, nossa forma de agir, sem que precisás-
árvores, devido a todo o distanciamento que o semos seguir um roteiro e uma metodologia
mundo moderno vem nos condicionando. Mui- única e “quadrada”.
170
A ESCOLA DE JARDINAGEM
VAI ATÉ VOCÊ
Cristina Pereira de Araujo283
Resumo Abstract
Este artigo tem a intenção de apresentar a metodo- This article intends to present a methodology which
logia desenvolvida pela Escola Municipal de Jardi- has been developed by Garden School of São Paulo
nagem a partir da integração desta à Universidade Municipality from his integration to Open University
Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMA- of Environmental and Peace Culture (UMAPAZ). From
PAZ). A partir de então, uma série de atividades on this event, a lot of activities out of the dependen-
descentralizadas passam a ser desenvolvidas no cies of School have been realized. The program “Out
âmbito da Educação Ambiental. O programa “Fora of School” was created in 2007 and the main idea
da Escola” é criado e destina-se a ministrar oficinas, is give workshops, talks, courses and small courses
palestras, cursos e minicursos de forma descentra- in all Parks, Districts and other educational spaces
lizada: com isso, as atividades passam a ocorrer ao of the City. For all this activities which were been
longo das 31 Subprefeituras, em diversos Parques e created between the years 2007 and 2012, we are
demais espaços educacionais da Cidade. Dentre as present two programs in this paper: the School goes
atividades do Programa, serão aqui apresentadas to the Park and the School goes to the Square.
aquelas direcionadas aos Parques e as envolvidas Key words: School of Gardening, environmental ed-
com o Programa Zeladoria de Praças. ucation, public parks, caretakers of squares
Palavras-chave: Escola de Jardinagem, educação
ambiental, parques públicos, zeladoria de praças
283 | Diretora de Divisão Técnica da Escola Municipal de Jardinagem da UMAPAZ. Arquiteta e Doutora em Planejamento
Urbano e Regional; e-mail: cparaujo@prefeitura.sp.gov.br.
172
2. A Escola vai aos Parques sábados, por conta da agenda atribulada durante a
semana. No entanto, 60 horas seria um tempo de-
Os cursos oferecidos na sede da Escola Municipal de masiado longo para a oferta de um curso – o que
Jardinagem são regulares e ofertados ao longo do poderia ocasionar evasão ao longo das 24 semanas
ano. A carga horária varia de 60 horas para o cur- de duração. Diante do impasse, tivemos a ideia de
so de jardinagem, 51 horas para o curso de recursos trabalhar uma versão condensada do curso regular,
paisagísticos e 27 horas para os cursos de horta e surgindo assim, o minicurso de jardinagem.
orquídeas, cada um.
Dos 16 temas constantes do curso (meio ambiente
Como já mencionado, todos eles possuem uma gran- e qualidade de vida, botânica, solos/compostagem,
de procura o que tornava decepcionante para o cida- controle de pragas e doenças, multiplicação vegeta-
dão, a espera de longos 10 meses, sobretudo, para o tiva, árvores, frutíferas, arbustos, trepadeiras, hor-
curso de jardinagem, que por sua vez é pré-requisito tas, gramados, sementeiras, floríferas, plantas de
para o de recursos paisagísticos. interior, forrações e evolução dos jardins), a equipe
No entanto, a compreensão do projeto pedagógico técnica da Escola propôs o reagrupamento do conte-
de cada um dos cursos e de sua estrutura metodoló- údo em 8 temas de 2 horas cada. Assim, o minicurso
gica nos permitiu a tomada de duas ações: (i) a cria- seria formado por 4 encontros de 4 horas abrangen-
ção de oficinas e palestras e (ii) a criação de minicur- do os temas: (i) jardinagem e meio ambiente; estudo
sos; ambas as ações tinham o objetivo de preencher da planta; (ii) multiplicação de plantas (sementes e
a lacuna entre o dia em que o munícipe comparecia à vegetativa); controle de pragas e doenças; (iii) árvo-
Escola e sua efetiva matrícula no curso, cerca de dez res, arbustos e trepadeiras: identificação, plantio e
meses depois. Dessa forma, criava-se um vínculo manutenção; (iv) gramados, forrações e plantas de
mais estreito entre o cidadão e a Escola de Jardina- interior: identificação, plantio e manutenção.
gem, que passaria a visita-la com maior frequência. De forma análoga, condensou-se o curso de paisa-
Numa aplicação piloto na própria Escola, foi es- gismo de 51horas (17 encontros) para 16 horas (4
colhido o Dia da Árvore, 21 de setembro de 2007, encontros), num minicurso de paisagismo; e o curso
para iniciarmos as atividades do recém-inaugurado de horta (9 encontros) ganhou sua versão condensa-
“Programa de Oficinas e Palestras da Escola de Jar- da no minicurso de horta – 8 horas em 2 encontros.
dinagem”. Os temas escolhidos foram a “Trilha das Estava assim montada a estrutura que nos possibili-
Qualidades” e o “Dia da Troca”, ambas ministradas taria diversificar a oferta em direção aos Parques da
pelos técnicos da Escola. A trilha propunha um olhar cidade de São Paulo a partir do ano de 2008.
diferenciado numa caminhada pelo Parque Ibirapue-
Ainda de uma forma tímida, em 2008 iniciamos o
ra, que envolvia experimentações sensoriais e o “dia
programa atendendo as solicitações que vinham
da troca” sugeria o compartilhamento de plantas e
diretamente dos Parques. Como era de se imagi-
mudas entre os participantes.
nar, a demanda mais latente era pelos cursos de
Dessa experiência piloto, observou-se que muitos jardinagem; a sua formatação em minicurso de 16
munícipes tinham de fato, interesse apenas em de- horas, tornou possível a oferta que ocorreu atra-
terminado tema – o que seria plenamente atendido vés de palestrantes contratados pelo edital via-
pela oferta de oficinas relacionadas a tópicos do cur- bilizado pela UMAPAZ que tinha como propósito
so e que, portanto, não careciam esperar 10 meses justamente a formação de multiplicadores das
para satisfazerem a necessidade de conhecimento. atividades desenvolvidas. Foram atendidos 08
Percebeu-se também que muitos dos frequentado- parques (figura 6), na razão de um minicurso de
res gostariam de fazer o curso de jardinagem aos jardinagem por parque, como pode ser observado
QUANTIDADE PARQUES/DGDS
ANO PARTICIPANTES
DE EVENTOS ATENDIDOS
2008 8 177 8
2009 36 1006 36
2010 168 4658 41
2011 56 1204 14
2012* 70 1239 26
Total 338 8284 125
na tabela 3. Esta tabela também nos permite ve- Na sede da Escola de Jardinagem, no Parque Ibira-
rificar a evolução de como se deu o diálogo entre puera, resolvemos testar uma nova forma de con-
a Escola de Jardinagem e os Parques. trole das inscrições nos cursos e oficinas: ao se
inscrever, o munícipe é alertado a notificar o não
Se num primeiro momento, houve um contato Par-
comparecimento até um dia antes do evento sob
que – Escola, em 2009, partimos para um contato pena de não poder se inscrever em atividades pro-
direto com os Parques, ofertando a estes, o mini- movidas pela Escola durante os três meses seguin-
curso de jardinagem numa clara intenção de aten- tes. O recurso se demonstrou eficaz nas atividades
der a demanda reprimida (por cursos de jardinagem) ocorridas a partir de então, posto que praticamente
e promover a formação de maneira descentralizada. 100% das comunicações (inscrições, lista de espe-
À época, 36 parques aceitaram a parceria e juntos, ra e cancelamento) são realizadas eletronicamente.
definimos uma programação para o segundo se- Nos Parques, o processo de inscrições (e divulgação)
mestre de 2009. ainda responde à dinâmica individual de cada Gestor
o que justifica a persistência do processo de evasão
Tivemos a colaboração de sete facilitadores contra-
relativamente alto que perdura até os dias de hoje.
tados que foram encarregados de multiplicar o mi-
nicurso de jardinagem de acordo com a formatação Em 2010, estendemos a oferta para além dos mi-
proposta pela Escola. Embora tenham sido registra- nicursos. Montamos um cardápio de atividades por
das 230 participações, o que daria uma média de 29 sugestão de uma das educadoras das Divisões de
pessoas por minicurso, um olhar mais acurado sobre Gestão Descentralizada (DGDs) que, numa das reu-
o desempenho das atividades apontaram para uma niões mensais entre educadores promovidos pela
UMAPAZ, sugeriu que ofertássemos oficinas de curta
alta taxa de evasão – fato este também observa-
duração. Foi assim que surgiu o seguinte cardápio:
do nas oficinas e palestras promovidas na Escola de
(i) minicurso de jardinagem (16 horas); (ii) minicur-
Jardinagem284.
so de horta (8 horas); (iii) oficinas com 3 horas cada
de: cultivo de ervas aromáticas em jardineiras, como
284 | Não se tem uma pesquisa específica sobre a eva-
são. Uma das possibilidades é que a gratuidade do curso cuidar de plantas dentro de casa, compostagem do-
gere falta de comprometimento. méstica e minhocário, como fazer um terrário.
174
Figuras 4 e 5: Minicurso de horta no Parque Jacintho Alberto (à esquerda)
e Oficina de Compostagem Doméstica no Parque Tenente Brigadeiro Faria Lima (à direita).
Definido o cardápio, desenvolvemos uma comunica- junto aos DGDs. Assim, Parques e demais espaços
ção padrão de oferta e mais uma vez fizemos o con- educacionais como os CEUs (Centros Educacionais
tato direto com os Parques resultando numa parce- Unificados) teriam como agente articulador para
ria com 40 deles (figura 8), num total de 168 eventos suas atividades os respectivos DGDs.
ofertados, na razão de quatro atividades por parque
Nesse novo formato, portanto, os Parques deve-
(figuras 4 e 5). Em todos eles, o minicurso de jardi-
riam contatar os DGDs manifestando seu interes-
nagem foi ofertado e as demais atividades variavam
dentre as oficinas oferecidas e o minicurso de horta, se por determinada atividade, e estes entrariam
de acordo com o perfil do frequentador de cada Par- em contato conosco para que formulássemos a
que. Mais uma vez, foi disponibilizada uma equipe programação. Porém, a falta do necessário ali-
de facilitadores contratados responsáveis pela mul- nhamento Parques/DGD frente a uma nova abor-
tiplicação das atividades ofertadas pelo cardápio dagem acabou por resultar em uma diminuição
criado pela Escola (figuras 4 e 5). das atividades ofertadas nos Parques em 2011,
como pode ser obervado na figura 9 e na tabela
Contudo, a evasão ainda continuava alta, motivo
3. Em contrapartida, registramos nenhum cance-
pelo qual traçamos no âmbito da UMAPAZ uma nova
lamento de palestra e/ou oficina por parte dos
estratégia de abordagem para as atividades des-
14 Parques atendidos, prática corrente até 2010
centralizadas. Para 2011 a relação Parque – Escola
quando acreditamos que estes solicitavam cur-
passaria a ser intermediada pelos DGDs, as Divisões
de Gestão Descentralizada, que são em número de sos mais por impulso do que efetivamente por
dez. Nessa estrutura criada (a partir da reestrutu- uma análise de demanda de seu público; fato que
ração da SVMA em 2006 e revista em 2009), cada mudou a partir de um diálogo mais estreito entre
DGD responde enquanto órgão descentralizador da Parque e DGD que também atua diretamente na
Secretaria no tocante à arborização urbana e educa- mesma região e que, portanto, tem auxiliado o
ção ambiental, entre outras. No âmbito da educação Parque a uma melhor identificação dos anseios
ambiental, cabe a UMAPAZ estabelecer o diálogo de seu público frequente.
Figura 9 Figura 10
Escola de Jardinagem 2011. Escola de Jardinagem 2012.
176
Um balanço parcial dos dados de 2012 apontou que der um pedido da Secretaria Municipal de Participação
a estratégia de diálogo Escola – DGD – Parques tem – Coordenadoria da Juventude, que nos solicitou um
dado certo e está afinada. Contabilizados somente o curso de capacitação em jardinagem com foco em ma-
primeiro semestre de 2012, oferecemos 70 atividades nutenção. Este curso, cuja proposta pedagógica con-
espalhadas entre Parques, Parques Lineares, CEUs, tou com a colaboração da coordenadora do Programa
UBSs (Unidades Básicas de Saúde), EMEFs (Escolas Crer Ser pela Escola, a bióloga Assucena Tupiassu, foi
de Ensino Fundamental) e EMEIs (Escolas de Ensi- assistido na íntegra pelo facilitador que daria o curso
no Infantil). Para a articulação dessas atividades foi para os albergados da Mooca: o engenheiro agrônomo
fundamental o trabalho realizado pelos DGDs junto José Luis Domingues, contratado através do edital de
aos espaços no sentido de identificação das neces- credenciamento de palestrantes da UMAPAZ.
sidades, que inclusive, demandou a multiplicação de Proposta metodológica compreendida, o professor
cursos extensivos de horta, o qual acrescentamos ao Domingues aliou teoria à prática e capacitou 22 al-
cardápio de atividades do Programa “Fora da Escola!”. bergados que teriam como tarefa empreendida pela
O estabelecimento da conversação entre a tríade Subprefeitura, transformar a Praça até então aban-
Escola-DGD-Parque fortalece o programa de educa- donada num local de produção de mudas. Se para
ção ambiental na cidade, possibilitando a multipli- os alunos o curso era uma oportunidade de inclu-
cação e solidificação das atividades antes possíveis são social e oportunidade de ingresso no mercado
somente no âmbito da Escola de Jardinagem, e que de trabalho, para o professor Domingues, tratou-se
agora encontram reverberação nos demais Parques de uma experiência única, pois, professor universitá-
da cidade de São Paulo que acabam se transforman- rio que é, se viu completamente envolvido com uma
do também em espaços de educação ambiental. realidade diferente da que conhecia em sala de aula
de ambiente formal. “Até rezar o Pai Nosso no início
As figuras 6 a 10 apresentadas sintetizam a evolu- da aula, todos de mãos dadas numa corrente em prol
ção desse anseio. de alguém que não estava bem aquele dia, a gente
fazia” conta o professor, ao relatar a experiência do
3. A Escola vai à Praça curso que, de tão forte, vinculou o professor à turma
por vários meses consecutivos após o término da ca-
Praça Alfredo di Cunto, mais conhecida como Praça pacitação, nas manhãs do mês de agosto de 2008.
das Flores, foi a primeira praça em que a Escola de
Jardinagem ofereceu um curso de capacitação numa Primeira experiência bem sucedida, seguiram-se a
parceria intersecretarial, em agosto de 2008. A de- ela mais três capacitações: a da frente de trabalho
manda foi da Secretaria do Trabalho e Desenvolvi- do recém-inaugurado Parque Ermelino Matarazzo, a
pedido da gestora do Parque em setembro de 2008;
mento Social e o público, albergados da Subprefei-
mais uma turma de albergados, agora pertencentes
tura da Mooca.
à Subprefeitura de Santo Amaro, em outubro; e mu-
Tínhamos como repertório o curso tradicional de jar- nícipes em situação de exclusão junto à Subprefeitu-
dinagem que a Escola oferece e o Programa Crer Ser, ra de Parelheiros, em novembro; estas duas últimas
destinado à capacitação em jardinagem de jovens em parceria com a Secretaria do Trabalho. Parece
carentes num curso interdisciplinar de 540h, con- que definitivamente a Escola de Jardinagem estava
tando com a colaboração da Secretaria Municipal de retornando ao objetivo pelo qual foi inaugurada: a
Saúde, através do Cecco Ibirapuera (Centro de Con- formação de Jardineiros para o mercado de trabalho.
vivência e Cooperativa).
É nesse ínterim, em novembro de 2008, que damos iní-
Um mês antes, na sede da Escola, tivemos a oportu- cio à participação no programa de maior envergadura
nidade de retomar o processo de capacitação ao aten- e definitivo posicionamento da Escola de Jardinagem
178
Sem dúvida, a saída em definitivo para o mercado de curso de Recuperação de Jardins para mais de 350
trabalho significa para nós e para os parceiros 100% Zeladores formados (gráfico 3). Foram ao todo, 56
de êxito nos objetivos de recolocação e inclusão. Ao cursos de capacitação para Zeladores e 15 para Ze-
todo, contamos com uma equipe de 14 facilitadores ladores formados.
contratados por edital que se dispunham a fazer
todo o trabalho de imersão no conteúdo e metodo- Gráfico 3: Capacitação de Zeladores de Praça e cur-
logia proposta de capacitação, que envolve desde so de Recuperação de Jardins no período de 2008 a
as visitas aos locais onde os cursos irão ocorrer, à 2012 (contabilizado até o mês de setembro).
escolha de mudas, ferramentas e insumos de acordo
com o tamanho da área e grupo a ser trabalhado.
A percepção de êxito desta primeira formação nos le-
vou à criação de um segundo curso de formação con-
tinuada para os Zeladores. Trata-se do curso de Re-
cuperação de Jardins, com 42h de duração, uma vez
por semana em 14 encontros de 3 horas. O objetivo
deste curso é justamente prepara-los para o mercado
de trabalho, trazendo questões como levantamento
e cálculo de área, critérios para escolha de espécies,
composição de preço e contrato com o cliente (figura
11). Os cursos iniciaram em setembro de 2011 e até
junho de 2012, 15 turmas de Zeladores foram capa-
citadas. As figuras 6 a 10 sintetizam a atuação por
Subprefeitura e por ano, do curso de formação de Ze-
ladores e de formação continuada. Fonte: Relatorios anuais da Escola Municipal de Jardinagem,
elaboração da autora
4. Por uma Escola mais inclusiva Além da maior visibilidade dada às Praças pelo Pro-
grama, que agora se tornam mais convidativas à
Ao longo desses cinco anos de implementação do
frequência, pois deixam de ser lugares ermos para
Programa “Fora da Escola!” notadamente nas ati- se tornarem espaços de convivência e apreciação,
vidades aqui apresentadas, entendemos que há um o Programa Zeladoria de Praças devolve dignidade
movimento em direção às origens da Escola de Jar- e respeito às pessoas que se viam em fragilidade
dinagem, expresso pelos programas de capacitação social e desacreditadas de uma nova oportunidade
para a formação de Jardineiros – vale lembrar a gra- de trabalho. Muitas dessas pessoas encontraram na
tuidade dessas atividades, bem como o fornecimen- jardinagem, no trato com a terra, o resgate de suas
to de material didático: as apostilas de jardinagem vidas e o caminho para um novo futuro.
e hortas, que também estão disponíveis em meio
digital, no endereço eletrônico da SVMA. Em aden- Embora o Programa Operação Trabalho ofereça uma
do, a Escola busca novos horizontes ao descentra- bolsa durante dois anos – o tempo máximo de víncu-
lo ao Programa –, é com imensa satisfação que rea-
lizar suas atividades em Parques e demais espaços
lizamos novas capacitações para preencher as vagas
educacionais.
daqueles que conseguiram inserção no mercado formal
O Programa Zeladoria de Praças já contribuiu para de trabalho. Atualmente, as capacitações que realiza-
a formação de mais de 2300 Zeladores no período mos são, sobretudo, destinadas à reposição de Zelado-
de 2008 a 2012 e promoveu a formação através do res em Subprefeituras já inseridas no Programa.
180
DANÇAS CIRCULARES COMO METODOLO-
GIA INTEGRATIVA NOS PROGRAMAS DE
FORMAÇÃO DA UMAPAZ
Estela Maria Guidi Pereira Gomes285
Resumo Abstract
A UMAPAZ - Universidade Aberta de Meio Ambiente The UMAPAZ - Open University of the Environment
e Cultura de Paz – pertencente à Secretaria do Verde and Culture of Peace - belonging to the Secretariat
e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São of the Green and the Environment of the City of São
Paulo desenvolve ações de Danças Circulares como Paulo - develops Circle Dances actions as integra-
metodologia integrativa nos Programas de Formação tive methodology in training programs since its in-
desde sua criação em 2006. O objetivo das Danças ception in 2006. The goal of the Circle Dances UMA-
Circulares na UMAPAZ é estimular o autoconheci- PAZ is to stimulate self-knowledge and respect for
mento e o respeito às diferenças, trabalhar os valores differences, work values for Culture of Peace and
da Cultura de Paz e sensibilizar os indivíduos sobre sensitize people about environmental issues. In ad-
as questões socioambientais. Além dos Cursos de dition to the training courses of Circle Dances that
formação das Danças Circulares que capacitam prin- empower educators and especially health profes-
cipalmente educadores e profissionais de saúde que sionals who work with groups in several communi-
atuam com grupos em diversas comunidades, as Dan- ties, Circle Dances have proved valuable resource
ças Circulares têm se mostrado como recurso valioso to prepare people for thoughts and actions on vari-
para preparar as pessoas para reflexões e ações em ous topics in other environmental Courses of UMA-
diversos temas socioambientais em outros progra- PAZ, contributing both to the individual and collec-
mas da UMAPAZ , contribuindo tanto com as desco- tive discoveries. We conclude that the experience
bertas individuais quanto coletivas. Conclui-se que of Circle Dances by experience to join hands in a
a vivência das Danças Circulares pela experiência de circle, listening to music, exercising and looking to
dar as mãos no círculo, escutar as músicas, exercitar learn to dance together has provided the exercise
o olhar e aprender a dançar juntos tem propiciado o of brotherhood, joy, meditation and expanding co-
exercício da fraternidade, da alegria, da meditação e operation healthier ways of living in pursuit of sus-
da cooperação ampliando formas mais saudáveis de tainability and building a more just and fraternal
viver na busca da sustentabilidade e da construção de world.
um mundo mais justo e fraterno. Keywords: Circle dances, Culture of peace, Environ-
Palavras-chave: Danças Circulares, Cultura de Paz, mental education, Eart Charter, Gaia Education
Educação Ambiental, Carta da Terra, Educação Gaia.
285 | Fonoaudióloga. Formada em Danças Circulares, Coordenadora do Programa de Danças Circulares e outros programas de
educação socioambiental da UMAPAZ. Formadora em Danças Circulares da Triom – SP. Docente do Curso de Especialização
em Danças Circulares e Jogos Cooperativos da UNIPAZ Campinas. Certificada como designer de sustentabilidade pelo Gaia
Education, realizado em parceria com a UMAPAZ, 2006.
182
“Danças Sagradas Celtas: círculos de amor, poder e compartilhavam os valores daquele grupo e de sua
sabedoria”; “Danças da Paz Universal”, “Dançando e realidade. Dançar fazia parte da vida das pessoas
cantando na Educação”, “Dança de roda na educa- e conferia saúde, ritmo, união e harmonia ao povo.
ção”, “Dançando no CEU” e “Vivências de medição de Revisitar as danças inspiradas nas culturas “dos
histórias e Danças Circulares (Sabedoria Ancestral e povos da tradição” é compreender o que era impor-
ecologia interior)”. A partir de 2009 foi implantado o tante para aquela comunidade, trazendo ao pre-
Programa “Dançando e Convivendo nos Parques Pú- sente valores preciosos e tantas vezes esquecidos
blicos de São Paulo” levando as Danças Circulares como respeito, generosidade, união, cooperação e
para os parques públicos municipais286 produzindo novos sentidos para a vida e o viver.
O curso “Danças Circulares e Sabedoria dos Povos” Educar a sensibilidade e a expressão corporal atra-
busca conhecer as tradições culturais que estrutu- vés do gesto simbólico nos permite o contato com
ram os passos e gestos simbólicos que realiza-se o “espaço sagrado” de conexão com o outro e com
ao dançar, possibilitando uma melhor assimilação, a vida: nosso coração. As habilidades presentes em
compreensão e respeito diante da diversidade cul- nosso coração de sermos generosos, ouvirmos para
tural podendo auxiliar no desenvolvimento de uma compreender, estarmos atentos às questões am-
visão de mundo pacífica e sustentável. bientais requer trabalho diário e desenvolvimento
Além dos cursos e atividades abertas as Danças de atenção plena sendo que a dança e as atividades
Circulares passaram a integrar outros cursos pro- corporais que nos sentimos convidados a experen-
movidos pela UMAPAZ com temas específicos. No ciar podem ampliar o autoconhecimento e o reco-
curso “Carta da Terra em Ação” trabalhamos a nhecimento de nossas atitudes diárias.
integração do grupo, a preparação do corpo e da O caminhar acontece um passo após o outro. Segundo
mente para os conteúdos a serem partilhados e o Wosien, B (2000) “o passo é um salto à frente, numa
verdadeiro exercício da convivência. No “Semeando sincronicidade com o meu movimento de corpo e com
Meio Ambiente e Cultura de Paz na Educação Infan- aquilo que acontece em mim.” Na medida em que dan-
til” as Danças são introduzidas como forma afetiva çamos, e esta é uma experiência intransferível, o que
de nos relacionarmos com nosso planeta, de resga- ocorre fora de nós reflete-se internamente e nosso in-
tar a brincadeira infantil e reconhecer a diversidade terior se espelha para fora de nós num movimento de
humana como riqueza preciosa a ser resgatada e va- ir e vir constante como ocorre com as ondas do mar.
lorizada. No “Educação Gaia” as Danças trabalham
para a formação da rede tecida pelo conjunto dos Pelo movimento das Danças Circulares Sagradas
diversos grupos e diferentes individualidades numa redescobre-se que os passos que são realizados nas
mesma família humana. danças ao sabor da harmonia das músicas refletem
como pensamos, sentimos e agimos em nosso dia.
Os povos antigos dançavam para celebrar as mu- Caminhamos de modo leve e solto? Andamos ten-
danças de estações, os casamentos, as colheitas sos? Apertamos a mão de nosso vizinho? Como lida-
e em vários momentos importantes do grupo a re- mos com o erro do vizinho? Como lidamos com nosso
ferência era o círculo e a comunidade reunida em erro ou a dificuldade em entrar no ritmo? Consegui-
torno de um centro comum. O centro determinava mos mudar facilmente de ritmo seguindo a música
um espaço de equidistância entre cada pessoa e proposta pela vida? Como utilizamos a tolerância ao
o grupo como um todo; os integrantes da comu- nos encaixarmos numa estrutura pré-determinada?
nidade, sendo crianças, jovens, adultos e idosos
Observamos a grande diversidade da vida na roda da
dança? Somos criativos ao realizar os gestos pro-
286 | Tratado em artigo específico: Dançando e conviven-
do nos parques públicos de São Paulo. postos? Usamos nossa experiência passada no pre-
184
ao outro e caminhar com o outro; introdução Slaapmuts (Holanda) caminhar ao centro e
da Carta da Terra e seus prinícipios norteado- retornar ao lugar, apontar diferentes direções,
res, trabalho com os temas pegada ecológica girar e olhar para outras paisagens, trazendo
e resíduos; outra perspectiva para cada um e para o gru-
Mykonos (Grécia) trazendo à consciência as po. Abertura para estudar os mapas e indica-
“mochilas” que carregamos dos conhecimen- dores ecológicos;
tos adquiridos ao longo da vida de cada um, os Circular (Brasil) trazendo a consciência do cír-
preconceitos a serem descartados e a abertu- culo presente nas formas, nos ciclos da vida,
ra para receber o novo; conhecer o documento nas relações, na natureza; abertura para os te-
Carta da Terra, revisar valores, repensar sobre mas educação para o consumo e alimentação;
alimentação e consumo responsável;
Meditação para as Árvores para caminhar
Mãe Terra (indios norte-americanos) trazen- juntos, trazer a força da terra para o céu, da
do a força da terra enquanto um “ser vivo”, da semente que brota e nasce a árvore, da rea-
vida que há nas águas, nos solos, nos ventos lização concreta para as transformações das
além da flora e da fauna que convivem com a idéias, da experiência para a reflexão e por fim
espécie humana; refletir sobre a sustentabili- partilhar os frutos, os projetos, as idéias com
dade e a responsabilidade de cada um na vida todo o grupo.
pessoal, na família, na comunidade;
Aya Po Logu (Russia) para o encontro com o
44 beija-flores (Brasil) na versão 1 trazendo outro, o reconhecimento dos diferentes pa-
os balanços da vida, a consciência da transfe- péis necessários e complementares na vida,
rência de peso, os dois lados, o balanço neces- e integração e parcerias; o grande círculo que
sário no processo de ensino / aprendizado. Na dança junto e depois os pequenos círculos das
versão de Estela Gomes trazendo a consciên- relações mais íntimas, conhecer o outro, es-
cia das quatro direções em cada movimento, o tar mais próximo, saborear o encontro; “pen-
centro, a terra, o céu e o círculo / grupo. Estas sar global e agir local”. Vivenciar a troca de
são referências fundamentais que sustentam papéis, conhecer a antropologia cultural e a
todas as relações. Reconhecer o Município de família humana;
São Paulo, rever a evolução da vida, planejar
os projetos pessoais e grupais; Walenki (Russia) a vivência da interdependên-
cia entre todos na grande roda da vida; rodas e
Shetnya (Servia) trazendo o trabalho dos pe- grupos diferentes, que caminham em sentidos
quenos grupos no todo, dançar em pequenos opostos e complementares conseguem em vá-
grupos representando as famílias. Introdução rios momentos se entrelaçar e trabalhar jun-
ao tema integridade ecológica, da existência de tos numa só direção. A fluidez quando cada um
vida neste planeta e suas diferentes possibili- sabe seu papel no grupo (movimento de coroar
dades. Os diversos papéis nos diferentes locais e ser coroado na dança) e aqueles que ainda
do grupo, liderar, ser o último, ficar no meio (a estão inseguros são auxiliados pelos vizinhos.
responsabilidade de cada um fazer sua parte
A grande rede que se forma no entrelaçar das
no todo, como a nossa ação pode repercutir
diferenças, abertura para os temas cidadania
no grupo e em todos os outros grupos)...cada
planetária e redes sociais.
grupo em relação aos outros grupos, o movi-
mento de cada família causando impactos no Além das danças circulares são utilizadas dinâmicas
movimento das demais. Reconhecer a magia da de grupo, prática de Tai Chi Pai Lin, leitura de livro,
evolução, conviver com a diversidade; desenho criativo e meditação ativa.
186
No encerramento do curso é realizada uma grande 1º encontro
celebração, com alimentos para compartilhar e com
as Danças Circulares para festejar a alegria de mais Apresentação individual dos participantes: Di-
uma turma formada. Encontro, alegria, harmonia, nâmica de Grupo; Apresentação do curso,
conexão, integração, celebração, paz! contrato e combinados (horário, material,
intervalo, frequência, avaliação); Exposição
dialogada sobre o histórico do movimento
4. Danças Circulares e Sabedoria das DCS; Exposição dialogada sobre as tra-
dos Povos290 dições culturais e a sabedoria dos povos; En-
cerramento com DCS: Pachelbel – coreografia
4.1 Objetivo “equilíbrio” de Bernhard Wosien
188
Dois poemas dobrados, anonimos, de alguns partici- Navegando pelos mares, construção do co-
pantes do curso de março a abril de 2012: nhecimento, por vezes turbulento, outras ve-
“A força e a luz do pensamento emanam do zes calmo.
nosso coração Tocando os portos dos que convidam para o
E a vida torna-se mais bela quando somos to- entendimento e
mados por essa magia Abraçando, afofando as terras férteis, dispos-
Sentimos os cheiros, as folhas, o barulho das tas a receber algumas pequenas sementes.
águas e toda a natureza ao redor Medida especifica para as aulas são pla-
Vibrante em luz, aconchego e espiritualidade nejadas, outras tantas surgem de maneira
inesperada
Nos inspirando no caminho do bem
E todos crescem, amadurecem, no desenvolvi-
Nos lembrando de quem somos mento da pedagogia da cooperação.
Seres plenos, de sabedoria e beleza Novamente me remete a sabedoria que a Na-
Beleza das águas, fonte de vida e amor” tureza ensina em suas ações... de que
Tudo está interligado, do cosmo ao átomo –
podemos no interno conectar as dimensões.
“Confio em ti, que mora dentro de mim
O que queremos dizer é que nossa metodolo-
Em buscas, andanças, angústias e alegrias, a
vontade de ser humanidade compartilhada gia é de
Dei foi um abraço num danado de precevejo. E como num sonho fantástico,
Notro dia, tudo vira dos avesso E quando volto pra casa,
190
Hora moça linda, Por se tratar de uma prática que se baseia na tra-
dição de diversos povos, estimulando a diversidade
Notra, feia desdentada
cultural, ao mesmo tempo em que trabalha postu-
E o que muda afinal? ras individuais, as Danças Circulares possibilitam
Continuo sendo uma em mil, ampliar a consciência de como nos movimentamos
e transitamos nos planos físico, emocional e mental.
Mil em uma!!! Além disso, atraem as pessoas pelas mais variadas
Depois dessa vivença, toda essa experiença, formas, seja pela beleza das músicas, pela possi-
bilidade da meditação em movimento, pela simpli-
Sorrio alegre pro espeio!
cidade no aprendizado dos passos, pelo ritmo que
Num importa quando óio, quem é que vejo. representa os ciclos da natureza, possibilitando a
O importante é sabê, descoberta e vivência de outras “culturas” que po-
dem ser integradas em nossa realidade.
Que tudo é sagrado
As Danças Circulares conduzem ao maravilhamento
Do carrossel ao precevejo que é viver, ao encantamento pelas relações entre
E assim, vô dançando na vida: todos os seres, pela gratidão por aprender a plantar,
semear, colher e partilhar os frutos. Estas danças
Leveza nas mão,
levam à vivência da totalidade, a experiência da in-
Sorriso nos lábio teireza, juntando o trabalho físico e emocional pelo
Firmeza nos pé ritmo, a harmonia, a cooperação, a energia da roda
que facilita o contato entre os indivíduos, o grupo e a
E muita gratidão e amô no coração.” natureza, tornando-se uma vivência capaz de trazer
Outro depoimento de participante deste curso trou- em um curto espaço de tempo reflexão e mudança.
xe a visão de que muitos dos cursos da UMAPAZ que Concluindo, as Danças Circulares têm sido ampla-
são destinados aos educadores “devolvem o fôlego” mente utilizadas como metodologia integrativa nos
necessário para o profissional seguir na jornada de cursos da UMAPAZ, contribuindo com a missão de
ensino / aprendizagem, e ressalta que os alunos nas formar pessoas para a convivência socioambiental
escolas sustentável e pacífica de forma participativa, coo-
“precisam ser cuidados delicadamente como perativa, reflexiva, acolhedora, inclusiva, prazeirosa,
sementes, pois para germinar bons frutos, simples e alegre.
precisam além de um jardineiro hábil e cheio
de técnicas também de jardineiros com olhos,
ouvidos e sentidos apurados para reconhecer
que no jardim da vida, todos são sementes,
todos são terra, todos são adubo, todos são
vento e todos são luz (elementos fundamen-
tais para o plantio) e que é quase impossível
trabalhar sozinho, quanto mais jardineiros,
mais flores teremos, quanto mais mãos tra-
balhando, mais terra arada teremos, quanto
mais ferramentas, mais condições teremos de
lidar com as ervas daninhas que por ventura
surgirem...
192
DANÇANDO E CONVIVENDO NOS
PARQUES PÚBLICOS DE SÃO PAULO
Estela Maria Guidi Pereira Gomes291
Resumo Abstract
A UMAPAZ - Universidade Aberta de Meio Ambiente The UMAPAZ - Open University of the Environment
e Cultura de Paz – pertencente à Secretaria do Verde and Culture of Peace - belonging to the Secretariat
e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São of the Green and the Environment of the City of São
Paulo desenvolve o Programa “Dançando e Convi- Paulo - develops the “Dancing and Living in Public
vendo nos Parques Públicos de São Paulo” desde Parks of Sao Paulo” since 2009 leading to the Cir-
2009 levando as Danças Circulares para os parques cle Dances municipal parks. The program’s goal is
públicos municipais. O objetivo do programa é o de to provide experience of Circle Dances parks stimu-
propiciar vivência das Danças Circulares nos parques lating self and respect for differences, exercising the
estimulando o autoconhecimento e o respeito às di- values of culture of peace and raising awareness
ferenças, exercitando os valores da Cultura de Paz e about environmental issues. Participation is the
sensibilizando sobre as questões socioambientais. general public who attend the activity for a period
A participação é do público em geral que frequenta of two hours each meeting. We conclude that the ex-
a atividade por um período de duas horas a cada perience of Circle Dances has been both rich tool for
encontro. Conclui-se que a vivência das Danças Cir- the job with the values of the Culture of Peace and
culares tem sido instrumento rico tanto para o tra- for the cultivation of a transformative environmental
balho com os valores da Cultura de Paz quanto para education towards safeguarding the interests of fu-
o cultivo de uma educação ambiental transformado- ture generations, with positive consequences for the
ra rumo à preservação dos interesses das próximas people quality of life .
gerações, com reflexos positivos para a qualidade de Keywords: Circle Dances, Culture of Peace, Environ-
vida de todos mental Education, Environment, Municipal Parks.
Palavras-chave: Danças Circulares, Cultura de
Paz, Educação Ambiental, Meio Ambiente, Parques
Municipais.
291 | Fonoaudióloga. Formada em Danças Circulares, Coordenadora do Programa de Danças Circulares e outros programas de
educação socioambiental da UMAPAZ. Formadora em Danças Circulares da Triom – SP. Docente do Curso de Especialização
em Danças Circulares e Jogos Cooperativos da UNIPAZ Campinas. Certificada como designer de sustentabilidade pelo Gaia
Education, realizado em parceria com a UMAPAZ, 2006.
194
O objetivo geral do programa é o de propiciar vivên- culares e educação; Danças Circulares, saúde e
cia das Danças Circulares dos Povos nos Parques qualidade de vida;Danças Circulares e consumo
Públicos da Cidade de São Paulo estimulando o au- responsável; Danças Circulares e acolhimento;
toconhecimento e o respeito às diferenças, exerci- Danças Circulares e diversidade humana.
tando os valores da Cultura de Paz tais como res-
Uma vez por mês realiza-se uma reunião técnica
peito, ética, diversidade, afetividade, cooperação
entre os focalizadores e a coordenação da UMAPAZ
e sensibilização sobre as questões ambientais. Os
para reflexão e avaliação do programa em cada par-
objetivos específicos são propiciar um espaço de vi-
que, trocas de experiências e relatos das rodas. Nesta
vência grupal pelo exercício corporal da dança de di-
reunião são convidados professores para conversa-
versos povos da terra; respeito às diferenças; cultivo
rem sobre os temas socioambientais e de cultura de
da cooperação; vivência de cultura e sabedoria de di-
paz que auxiliem as preparações das aulas e a for-
versos povos; reflexão sobre as questões ambientais
de forma a modificar atitudes individuais e grupais; mação continuada dos focalizadores em consonância
vivência dos valores da Cultura de Paz tendo como com os objetivos da UMAPAZ. Nos três anos e meio
ponto de partida a paz interior. de programa já foram abordados temas tais como:
qual a função dos parques para o ambiente urbano,
Cada encontro tem duração média de duas horas biodiversidade, flora, fauna, geografia do município de
sendo realizado em ambiente aberto do parque com São Paulo, sustentabilidade, cultura de paz, pegada
participação do público em geral, na maioria jovens, ecológica, experiência da visita à Fundação Findhorn,
adultos e idosos. A frequência média de participação Dançando e Contando Histórias dentre outros.
no início do programa em 2009 foi de 12 pessoas e
atualmente tem-se uma média de 18 pessoas por Figura 12: Roda no Parque do Ibirapuera, com a faci-
roda com exceções em datas de comemorações es- litadora Estela Gomes, no Dia da Árvore de 2011.
peciais como o Dia da Árvore, Dia Mundial da Água
e outros onde a participação é maior. Quando chove
comumente a atividade é cancelada, pois na maioria
dos parques não há área coberta disponível para a
realização da atividade.
São elaborados relatórios diários e mensais deste
trabalho para avaliação trimestral e anual; a cada
evento é realizada lista de presença para registro
da atividade e contratação do professor credenciado
(em anexo os instrumentais utilizados lista de pre-
sença e relatório diário). As aulas são programadas
com temas relacionados às questões socioambien-
tais e dos Valores da Cultura de Paz tais como:
Danças Circulares e educação ambiental; Danças Crédito: Foto da autora
Circulares e Cultura de Paz; Danças Circulares e
cooperação;Danças Circulares e sustentabilida-
de; Danças Circulares e meio ambiente; Danças
3. Relatos
Circulares e integridade ecológica;Danças Circu- As Danças Circulares propõem o encontro atento
lares e convivência;Danças Circulares e inclusão; com as outras pessoas. Ao formar-se um círculo de
Danças Circulares e biodiversidade;Danças Cir- danças, as pessoas são convidadas a dar as mãos e
196
Com a dança “Hava Naguila” em volta de uma árvores, galhos secos, flores e folhas caídas no
fogueira imaginária, buscou-se a consciência chão e entregou para quem quisesse construir
para acender, além da imaginação, também o o centro da roda. Uma das mulheres presentes
fogo de uma atividade conjunta em prol de um teve um cuidado especial ao realizar esta ta-
estilo de vida mais compatível com as neces- refa; o centro lembrou os “kolans” (mandalas
sidades do planeta. A focalizadora refere que a feitas com arroz representando a prosperidade)
roda abriu círculos concêntricos na consciência que mulheres indianas desenham todos os dias
de cada pessoa: centramento no eu, que abriu na soleira de suas casas. Foi observado que
espaço para a consciência da criança interior que certas pessoas tinham uma motricidade limita-
habita cada pessoa, que se vinculou ao grupo na da ao realizar os movimentos propostos pelas
roda, irradiando alegria e harmonia; o grupo em danças, outras pareciam ter distúrbios psíqui-
seguida se vinculando ao planeta terra e se situ- cos, no entanto, o grupo todo formou um con-
ando no universo através da reverência ao sol e junto agradável, belo exemplo de integração e
à lua (com as “Danças do Sol e da Lua”). de aceitação do outro. O grupo foi realizando as
danças e à medida em que se confrontava com
Com a dança” Abre a roda Tindolêlê” retratou- os desafios no aprendizado dos passos o grupo
se a abertura e a consciência dos movimentos se fortalecia mais e expressava seu contenta-
realizados ao redor de um centro comum que mento em realizar as danças.
une a todos.
A roda foi encerrada com uma questão que o 3.4 Relato da focalizadora Arlenice
biólogo Vitor Lucato havia feito em uma aula Juliani sobre o trabalho no Parque
anterior (em uma das reuniões mensais dos fo- Lina e Paula Raia:
calizadores na UMAPAZ): “para que serve um
parque?” E, de resposta em resposta, o grupo No Parque Lina e Paulo Raia, em 27/10/2010,
chegou à afirmação de que somos convida- foi trabalhado o tema “Danças Circulares e
dos no Planeta Terra e no Parque CEMUCAM convivência” e para isso utilizadas as seguin-
e refletiu sobre como poderiam se comportar tes danças circulares: Desengonçada, Cerejei-
e agir em seu cotidiano a partir das reflexões ra, O xote das meninas, Toda Al Kol, Shalom
advindas da prática das Danças Circulares. Aleichem, Shetland Wedding Dance e Aleluia.
Foi relatado o quanto são importantes os mo-
mento de “saída da correria do dia-a-dia”,
3.3 Relato da focalizadora Marie Celine dedicando um tempo a estar juntos de forma
Lorthois sobre o trabalho no Parque diferenciada, com presença mais atenta e in-
Ermelino Matarazzo tenção de um conviver mais harmonioso, amo-
No Parque Ermelino Matarazzo, em 05/10/2010, roso e cooperativo num ambiente tão saudá-
foi trabalhado o tema “Danças Circulares, iden- vel que é o parque.
tidade do grupo e integração” onde foram utili-
zadas as seguintes danças: Ena Mythos, Roda 3.5 Relato da focalizadora Eva Ferri,
do Valentino, Joc de Leagane, Vyesya, Vyesya, sobre o trabalho no Parque Severo
Kaputska, Highland Lilt, Escravos de Jó, An- Gomes:
cient mother, Al Achat, Mãe Terra (cantada) e
Ti Anica de Loulé. O grupo estava bem maior do No Parque Severo Gomes, em 21/08/2010, foi
que na semana anterior, a focalizadora juntou trabalhado o tema “Danças Circulares e coope-
198
tamento da vida. Uma senhora relatou como
mudou seu comportamento após praticar as
danças, como está se sentindo mais segu- 3.9 Relatos de Vaneri de Oliveira sobre
ra e se despedindo da depressão com a aju- o trabalho no Parque da Luz:
da do grupo e tudo que ela agrega às danças
circulares.” No Parque da Luz, em 10/04/2011, foi tra-
balhado o tema “Danças Circulares e valo-
res” e foram utilizadas as seguintes danças:
3.8 Relatos de Vaneri de Oliveira
Meditação para as árvores, Acalanto, haasje
sobre o trabalho no Parque da
Over, Baile da Comare, Phrase Crazy Mixer,
Independência:
Il Cântico delle creature, Poran Hey e Te ofe-
No Parque da Independência, em 08/05/2011, reço paz. Iniciou-se uma manhã ensolarada
foi trabalhado o tema “Danças Circulares e falando um pouco sobre a parceria das Dan-
Educação Ambiental ” e foram utilizadas as ças Circulares nos parques com a UMAPAZ e
seguintes danças: Simple Gifts, Pilky, Haasje Secretaria Municipal do Verde e do Meio Am-
Over, Meditação para as Árvores e Il Cântico biente, mencionando também sobre o tema
delle Creature. Na tarde em que se comemo- do encontro: “Valores”. Na dança “Meditação
rou também o Dia das Mães a focalizadora ao para as árvores” ressaltou-se a importância
chegar para realizar a atividade teve a grata dos valores associados ao cuidado com o ver-
surpresa de encontrar pessoas aguardando o de e meio ambiente. Foi trazida a reflexão de
início da atividade. Três grupos participaram que a roda poderia ser como um tronco de ár-
da roda: uma parte veio do Parque da Luz, vore e as folhas o contato de cada indivíduo
onde as danças haviam acontecido no perí- com o vento e sol. A pergunta para reflexão
odo da manhã do mesmo dia, outra parte foi foi: “Qual a melhor atitude que podemos ter
de pessoas que viram os cartazes espalhados como indivíduo e como grupo para cuidar da
divulgando a atividade e resolveram conhecer nossa relação com o verde e meio ambiente?
e participar e outros ainda eram transeuntes A segunda dança “Acalanto” colocou o grupo
que passeavam ou foram caminhar no parque em contato com a criança existente dentro de
e acabaram participando da roda. Este tercei- cada um e foi estabelecida uma relação com
ro grupo teve a característica de participar de o fato ocorrido na escola pública de Realen-
algumas danças apenas e depois dar continui- go/RJ. Refletiu-se sobre o quanto os valores
dade às atividades de origem, diferentes dos humanos estão banalizados nos dias atuais e
outros dois que foram exclusivamente para a importância de se criar oportunidades para
a roda e ficaram do início ao fim. Também foi fazer prevalecer os valores positivos e cons-
grande o número de curiosos que observavam trutivos, seja através de rodas como esta, seja
e resistiram ao convite, mas não deixaram de com uma palavra, um gesto, a atuação com
fotografar as danças. Foi trabalhado o tema uma atitude não-violenta, etc. “O que posso
da educação ambiental com as danças “Sim- fazer hoje para ser a diferença na expressão
ple Gifts” e “Meditação para as Árvores”. “Pi- de valores humanos positivos?” Com as dan-
lky” e “Haasje Over” possibilitaram a alegria ças “Haasje Over, Baile da Comadre e Phrase
das danças de pares e com “O cântico das Crazy Mixer” que são de pares o objetivo foi
criaturas” foi fechado o encontro com a cons- refletir sobre como somos no contato com o
ciência da necessidade de cuidarmos do meio outro, que valores eu transmito na minha for-
ambiente e dos recursos naturais. ma de ser e até que ponto tenho consciência
200
dança “Foot Prints” se surpreendeu com uma 4. Considerações finais
mulher com deficiência visual total. No momen-
to em que a encontrou na roda dançando ao A vivência das Danças Circulares tem sido instrumento
lado de dois ajudantes, que provavelmente já rico para o trabalho com os valores da Cultura de Paz,
a tinham acolhido no círculo da dança, a foca- retomando as diversas culturas dos povos, seus sím-
lizadora seguiu dançando e refletindo sobre o bolos, mitos e formas de dançar que, através do nosso
repertório que havia preparado para o encon- corpo, podem ser revisitadas e atualizadas, reaproxi-
tro e pensando que talvez devesse modificá- mando o homem urbano da flora e da fauna de maneira
lo em função da presença desta mulher com afetiva, celebrando as mudanças de estação, as formas
e ciclos da natureza, os movimentos dos astros sol e
impedimento visual. Como a próxima dança
lua e a sensibilidade para a convivência cooperativa.
era simples e a maioria do grupo já a conhe-
cia, resolveu seguir na focalização da dança A experiência de dar as mãos no círculo, escutar as
“Slaapmuts”. Passos para o centro, para trás, músicas, exercitar o olhar e juntos aprendermos a
para os lados, meio giro no lugar, completar o dançar tem propiciado o exercício da fraternidade, da
giro e mãos dadas no círculo. Observou que a alegria, da inclusão, da meditação e da cooperação
mulher estava dançando e parecia feliz...seguiu ampliando formas mais saudáveis de viver na busca
com o repertório escolhido e a próxima dança da sustentabilidade e da construção de um mundo
era “Shetnya” em pequenas fileiras dançando mais justo e fraterno.
para frente e para trás. Ela seguiu seu peque- O trabalho com os temas socioambientais se realiza,
no grupo, estava integrada, cuidada e acolhida. durante as danças circulares, de várias formas: pelas
A próxima dança “Veritat” era muito desafian- reflexões sobre textos, pela contínua observação do
te para todo o grupo e para a nova integran- parque em sua flora e fauna, que se modificam com o
te o que gerou uma adaptação da focalização tempo e as estações, pelos símbolos que as danças
da dança (processo de ensino / aprendizagem) e as culturas dos povos carregam sobre a busca da
construindo os passos e as formas aos poucos convivência harmoniosa com a natureza e sobre o que
e acolhendo o ritmo de aprendizado do grupo. acontece a cada dia e em cada parque neste programa.
A dança se fez, o poder da música e a paz nos Encerrando essas considerações, exponho, em for-
movimentos fluidos da linda coreografia se re- ma de poema, minha percepção sobre esse trabalho:
alizaram. Alegria e superação. Harmonia e rea-
lização. O grupo pediu para dançar novamente!
Fluidez, leveza e beleza dos passos na dança! DANÇANDO NOS PARQUES
A nova integrante dançou leve e feliz, seu sem-
Círculos de pessoas que se encontram nos
blante iluminado aqueceu e iluminou outras parques municipais
faces! Mais algumas danças aconteceram até
o final do encontro. No encerramento a nova Rodando nas Danças Circulares Sagradas
integrante partilhou seu depoimento de que Vivenciando através das mãos dadas
a roda havia sido totalmente acolhedora, que
A celebração, o convívio, a tolerância e a
havia se sentido recebida, cuidada e conduzida
fraternidade.
a dançar, que havia se “quebrado uma enorme
barreira dentro dela mesma que a impediam Aprendendo, trocando e ensinando
de dançar com outras pessoas”. Que ela esta- Movimento e serenidade dentro e fora de nós
va plenamente feliz! E todos, além de felizes,
emocionados por vivenciarem este aprendizado Inspiração na natureza, nas árvores, flores,
de inclusão, acolhimento e convivência. vento, sol e água que nos envolvem
Flores que inspiram a beleza e as diferentes Danças Circulares: o Caminho Sagrado. São
Paulo, TRIOM, 2006.(Edição bilíngüe português e
qualidades
inglês)
Cantos dos pássaros que alegram a música da
CARTA DA TERRA. http://www.earthcharterinac-
vida.
tion.org e www.cartadaterrabrasil.org
Pelas músicas, ritmos e danças vivenciadas RAMOS, R. Org.
A arte de estar presente com consciência cui- Danças Circulares Sagradas: Uma Proposta de
dando do nosso meio ambiente, Educação e Cura. São Paulo, TRIOM, 2002.
Dentro e fora de cada um de nós WEIL, Pierre.
Modificando atitudes rumo a uma vida mais A arte de Viver em Paz. São Paulo, Ed. Gente,
simples 1993.
Encontro de beleza, harmonia, amor pela vida Dança: Um Caminho para a Totalidade. São
e paz. Paulo, TRIOM, 2006.
202
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM
TAI CHI E MEDITAÇÃO NA UMAPAZ
Suely Feldman Bassi 293
Resumo Abstract
Neste artigo são relatadas as atividades incorpora- In this article we describe the activities incorporated
das pela Universidade Aberta do Meio Ambiente e by the Open University of the Environment and Cul-
Cultura de Paz – Umapaz – de práticas corporais da ture of Peace - Umapaz - bodily practices and wis-
sabedoria e medicina tradicional chinesa como o Tai dom of traditional Chinese medicine such as Tai Chi
Chi e Meditação que fazem parte das modalidades and Meditation that are part of the modalities of-
oferecidas nesta racionalidade médica na atenção fered this rationale in medical care and search bal-
à saúde e busca do equilíbrio e conexão com a na- ance and connection with nature. These practices in-
tureza. Estas práticas integradas aos conteúdos da cluded the contents of environmental education and
educação ambiental e aos valores da cultura de paz the values of peace culture can provide an expansion
podem propiciar uma ampliação e abertura de per- and opening of perceptions that go beyond the care
cepções que vão além do cuidado com o corpo físico of the physical body and allow deeper connections
e permitem reflexões e conexões mais profundas do and reflections of the individual with the environ-
individuo com o meio em que vive e com o cosmos. ment they live in and the cosmos. The activities go
As atividades caminham na direção desta integração toward the small nature of this integration with na-
da pequena natureza com a natureza maior, como ture more, as pointed out this traditional wisdom.
assinala esta sabedoria tradicional. Keywords: Tai Chi. Meditation. Bodily practices and
Palavras-chave: Tai Chi. Meditação. Práticas corpo- environmental education
rais e educação ambiental.
293 | Psicóloga e nutricionista com especialização em Ecologia, Arte e Sustentabilidade; docente da Umapaz e coordenadora
dos programas Alimentação e Meio Ambiente, Meio Ambiente e Saúde e Tai Chi nos Parques.
204
Por meio da observação dos ciclos da natureza e 3. Tai Chi
suas alternâncias, antigos sábios chineses desen-
volveram um sistema de compreensão do mundo, O tai-chi (taiji), poderia ser definido como a suprema
que no âmbito da saúde se expressa na Medicina Tra- unidade, formada pelo equilíbrio das forças opostas
dicional Chinesa (MTC). Nesta racionalidade médica e complementares Yin e Yang que constituem todo o
existem algumas modalidades de tratamento como universo, que está em constante mutação e transfor-
a acupuntura e fitoterapia e também fazem parte as mação, de forma contínua e cíclica como as fases do
orientações alimentares específicas e cuidados com dia e as estações do ano. “Conhecendo e guiando-se
o corpo, além da busca constante da harmonia com por essa ordem natural, regente de todas as coisas
a vida. do universo, o ser humano pode se harmonizar com
Estas últimas modalidades de atenção à saúde es- o Céu e a Terra, reintegrando-se à grande unidade
tão intimamente relacionadas com a ação da pessoa universal”. (CANALONGA, 2011, p. 21).
no seu autocuidado e requerem além de constância, O Tai Chi Chuan é uma das práticas dessa união atra-
a observação dos ciclos da natureza para sua melhor vés de movimentos suaves e lentos. A prática do Tai
adequação, como na prática dos exercícios corporais Chi, antes de ser forma, é um princípio: princípio da
e na alimentação, que levam em consideração as es- união do homem com a natureza, da alternância na-
tações do ano e horários do dia. tural entre movimento e serenidade. “Através da se-
Esta observação favorece os benefícios que podem renidade treina-se o coração; através do movimento
ser produzidos e evidenciam em nosso microcosmo o treina-se a flexibilização do corpo”. (ASSOCIAÇÃO
reflexo do macrocosmo com a alternância de fluxos e TAI CHI PAI LIN, 2003, p. 5).
encadeamento das mudanças naturais que ocorrem No Caderno Saúde e Longevidade ao responder a
interna e externamente, ao longo do dia, do ano e pergunta “Para que uma vida longa?” encontramos
de toda a vida. Fazem parte dessas práticas aspec- a afirmação do Mestre Liu Pai Lin:
tos da alimentação, horários mais adequados para
as atividades diárias, atividades físicas, entre outros “Para que toda a potencialidade do ser hu-
hábitos comportamentais. mano possa se desenvolver física e espiritu-
almente. O valor da vida deve ser expresso;
Em relação às práticas corporais, os chineses de- o seu brilho só é visto quando se reflete nos
senvolveram ao longo de sua história uma grande outros. A ajuda ao próximo é a sua própria ale-
quantidade de exercícios e movimentos assim como
gria, o sentido de sua vida”. (ASSOCIAÇÃO TAI
danças e massagens com o objetivo de preservar e
CHI PAI LIN, 2003, p. 5).
recuperar a saúde por meio da flexibilização e do for-
talecimento do corpo e da mente. A prática de exercícios corporais como o Tai Chi,
visam esta integração. A sugestão é que seja um
O ponto inicial da aprendizagem é o autoconheci-
treinamento contínuo e que não seja uma ativida-
mento, conhecer sua capacidade, potencialidade e
de puramente corporal, mas integrada ao contex-
limites e assim incorporar formas prazerosas e efi-
to em que é realizada; nas atividades rotineiras e
cientes de bem estar consigo e com o meio. É uma
praticada em qualquer lugar, individualmente ou
forma de observarmos o ambiente a partir de uma
em grupo.
perspectiva interna, de cuidado e percepção de equi-
líbrios e desequilíbrios que podemos aprimorar a A presença desta atividade na Umapaz caminha na
todo o momento, com a possibilidade de preservar direção desta ideia em diversos momentos e aliada
a saúde, cultivar a paz e desenvolver uma ação inte- à sua proposta essencial onde as atividades seguem
grada e positiva com o mundo ao nosso redor. de forma integrada.
206
a todas as pessoas interessadas, além de participar tação de pesquisas que fortaleceram o trabalho e a
de outras propostas direcionadas a públicos espe- evidência do benefício das práticas desenvolvidas.
cíficos como educadores, profissionais do meio am- Este acolhimento permitiu a integração dos profis-
biente, profissionais da saúde entre outros. sionais com formações antigas e recentes, o que en-
riqueceu e fortaleceu o trabalho desenvolvido com
Um dos primeiros projetos de extensão da atividade
seus grupos.
foi a ideia de realização da atividade em outros par-
ques, como continuidade da parceria da Secretaria Além das atividades contínuas, foram desenvolvidos
do Verde e Meio Ambiente com a Secretaria da Saú- alguns cursos com o objetivo de ampliação dos con-
de, como um desdobramento do projeto “Saúde nos teúdos para públicos específicos e interessados em
Parques”, que consistia na implantação e promoção geral.
de exercícios terapêuticos nos parques municipais, O curso Tai Chi – teoria e prática295 com carga horá-
potencializando o trabalho que já existia. ria de 20 horas foi oferecido no ano de 2010 contan-
O objetivo da proposta era a interação do projeto da do com cerca de 70 participantes entre funcionários
saúde com a educação ambiental e cultura de paz, e usuários de parques, assim como profissionais da
visando expandir o processo de formação e sensibi- saúde e público interessado em geral.
lização, tratando-os de forma integrada, de acordo A proposta do curso foi articular o Tai Chi Pai Lin
com os princípios de qualidade de vida e preservação como prática milenar de união e equilíbrio do homem
da saúde pessoal e ambiental. com a Natureza com os temas da educação ambien-
A ideia foi servir de espaço de formação e integração tal e os valores da cultura de paz. Foi enfocado o
de rede de atuação social junto com outras secre- conhecimento milenar dos sábios taoístas sobre a
tarias e da própria secretaria e seus funcionários e relação do ser humano com a Natureza e as práticas
também agentes da comunidade com a possibilidade de Tai Chi elaboradas para promover este equilíbrio
de atuar nos parques da cidade. micro-macrocósmico que podem ser considerados
recursos de fundamental importância nas ações so-
Foram realizadas capacitações nesta direção, com
bre sustentabilidade e qualidade de vida.
objetivos de estimular a prática de atividades no
cotidiano e oferecer à população em geral a opor- Teve como objetivo criar uma rede de cidadãos com-
tunidade de desenvolver uma consciência corporal e prometidos com a vida, o meio ambiente e a cultura
ambiental, reflexão e uma nova postura nas relações de paz, através de práticas cotidianas de autocuida-
socioambientais, com estímulo a práticas de respei- do e de preservação da natureza.
to à vida e ao meio ambiente, com comprometimento Pela própria proposta do curso a metodologia foi te-
e valorização de atitudes positivas nesta direção. órica e vivencial, sendo realizada a parte prática no
Outra parceria desenvolvida com a Secretaria Muni- espaço aberto do parque, com a possibilidade de um
cipal da Saúde foi a realização de aprimoramento- encontro mais próximo deste ambiente o que favore-
supervisão para os monitores já capacitados como ce a vivência e assimilação dos conceitos sugeridos.
instrutores de Tai Chi atuantes nas unidades de Foram acolhidos todos os interessados sendo um
saúde, através de encontros mensais desde o início público bastante heterogêneo no conhecimento da
da Umapaz até o ano de 2011, coordenados por Je- abordagem das práticas oferecidas, ou seja, partici-
rusha Chang e Luci Lurico Oi da Secretaria da Saúde. pantes com a intenção de conhecer a prática e seus
Estes encontros possibilitaram um aprofundamento fundamentos e outros que vieram aprimorar conhe-
do trabalho em andamento, a troca entre os profis-
295 | Curso ministrado por Jerusha Chang, arquiteta e
sionais e ainda com estímulo à realização e apresen- mestre taoísta e professora de Tai Chi Pai Lin.
Neste curso foi enfocada a visão holística do Tai Chi, Como parte de um programa em educação ambien-
com abordagem que visava fomentar ações integra- tal, teve também como objetivo criar uma rede de ci-
das que começam pelo próprio educador, que pela dadãos comprometidos com a vida, o meio ambiente
sua atuação pode ser um importante agente de in- e a cultura de paz através de práticas cotidianas de
formação e conscientização das questões relativas autocuidado e de preservação da natureza.
à preservação do meio ambiente e à cultura de paz, A idéia dos parques como ambientes verdes e sau-
e que nesse sentido, pode se beneficiar da vivência dáveis com poder curativo, é o que leva a considerar
de Tai Chi e incorporá-la em sua vida cotidiana para premente a otimização de seu uso para a melhoria
transmitir com propriedade esses novos valores. da saúde e qualidade de vida da população e, por-
O curso teve como objetivos sensibilizar os educa- tanto, o incentivo a programas e ações dentro dos
dores com princípios e vivências para a paz interior parques é de suma importância na articulação da
e o equilíbrio com a Natureza e instrumentalizá-los saúde e educação ambiental.
com técnicas simples e fáceis de Tai Chi, que pode- A proposta foi colaborar com a implantação do pro-
riam ser aplicadas no processo de seu próprio bem grama nos parques municipais, oferecendo o conhe-
estar e qualidade de vida e consequentemente es- cimento para que os servidores e voluntários pos-
tes multiplicarem o conhecimento na relação com os sam contribuir como agentes de multiplicação das
alunos através de práticas vivenciais na dinâmica da práticas vivenciadas podendo transmitir na rotina de
sala de aula. programação dos parques.
Os conteúdos foram transmitidos de forma teórica e O pressuposto d essas proposições é que, na ação
vivencial, como já mencionado metodologia essen- educativa que visa trabalhar os valores da cultura
cial para possibilitar a assimilação das práticas e de paz e a sustentabilidade, é necessária a utiliza-
seus fundamentos. ção de práticas corporais e artísticas que resgatem a
No ano de 2011 foi realizado o curso Educação Am- afetividade, melhorem as relações pessoais e a con-
biental com Tai Chi nos parques municipais297 com vivência, e exercitem o corpo e seus potenciais, va-
carga horária de 14 horas e participação de 50 pes- lorizando atitudes e comportamentos de paz, saúde
soas aproximadamente, com grande diversidade de e melhoria da qualidade de vida.
ocupação/profissão dos participantes e também di- Enquanto metodologia fora previstas atividades
versidade de interesse na forma como imaginavam a práticas no parque, como nos outros cursos já re-
multiplicação dos conteúdos vivenciados. latados, e também exposições dialogadas dos con-
teúdos teóricos e reflexão conjunta das vivências
296 | Curso ministrado por Jerusha Chang, arquiteta e
mestre taoísta; professora de Tai Chi Pai Lin. e formas adequadas de multiplicação nos diversos
297 | Curso ministrado por Jerusha Chang, arquiteta e grupos e locais de origem dos profissionais.
mestre taoísta e professora de Tai Chi Pai Lin, com a co-
A participação e contribuição do biólogo Vitor Lu-
laboração de Vitor Otavio Lucato, biólogo e docente da
Umapaz. cato possibilitou uma aproximação a conteúdos
208
de educação socioambiental ressaltando aspectos O objetivo é favorecer atividades que resgatem a
inerentes à ações nos parques da cidade, cuidados afetividade, as relações pessoais e convivência, as-
e ensinamentos que podemos ter na observação sim como a promoção da saúde e qualidade de vida.
desses espaços e consequentemente propor ações A participação é aberta a todos os interessados e
construtivas nesse locais. ao longo dos anos podemos observar crescimento
dos grupos e maior adesão a esta proposta. A ideia
Ainda neste ano foi realizado o curso Tai Chi – equi-
é manter a atividade nos locais onde já são desen-
líbrio dos cinco elementos298 com carga horária de volvidas e abrir novos espaços para sua realização.
15 horas em cinco encontros que teve como propos- Encontros periódicos são realizados com os instru-
ta enfatizar a visão holística do Tai Chi como cami- tores para troca e aprimoramento das abordagens
nho de promoção do equilíbrio dos seres, trazendo- oferecidas e contextualização da proposta.
lhes saúde e paz. O público focalizado e participante
foi formado por educadores, profissionais da saúde e Conforme já mencionado, as atividades contínuas de
Tai Chi e Meditação na UMAPAZ foram constituindo
interessados em geral.
um grupo que permanece desde o seu início e tam-
O enfoque também aqui foi da filosofia taoísta e da bém interessados que a todo o momento iniciam a
medicina chinesa que trata da integração do homem prática da atividade. Sua realização em espaço aber-
com a Natureza, como um microcosmo que contém to do parque possibilita esta aproximação e acolhi-
dentro de si todo o potencial do macrocosmo e des- mento assim como a troca entre os participantes
sa maneira relaciona as energias dos cinco elemen- mais antigos e os que chegam, sendo uma oportu-
tos da natureza com os cinco órgãos e emoções dos nidade também de conhecimento do local realizado,
seres humanos. ou seja, a própria Umapaz, abrindo novos contatos e
participação nos outros cursos oferecidos.
Foi assinalada a ênfase da visão taoísta da me-
dicina de equilíbrio que considera fundamental a Mesmo após a aposentadoria de Jerusha Chang a
autopreservação do ser humano através da har- atividade teve continuidade, com a sua participação
monização de suas energias com a Natureza res- nos encontros e om a valiosa colaboração de ins-
saltando a importância do conhecimento da teoria trutores que iniciaram a prática e se aprimoraram
dos cinco elementos e sua vivência nas práticas nesta participação ao longo dos anos ou que já eram
de equilíbrio dos órgãos-emoções. Foi oferecido instrutores antigos e se incorporaram na proposta
a cada encontro o conhecimento de uma energia- voluntária de sua continuidade299.
elemento, órgão, emoção e as práticas mais indi-
cadas para o seu equilíbrio. 6. Meditação na UMAPAZ
Outro programa desenvolvido é o Tai Chi nos par- A prática da Meditação é hoje bastante difundida
ques, como atividade descentralizada em diversos também nos países ocidentais, assim como o cres-
parques do município. Através de instrutores ca- cente interesse científico que acumula evidências
dastrados, a prática do Tai Chi é oferecida a gru- sobre as modificações fisiológicas produzidas pela
pos de usuários dos parques nas diferentes regiões sua prática e o reconhecimento de seus benefícios
da cidade, com o mesmo enfoque de aliar a prática para a saúde das pessoas, apresentando respostas
corporal com os valores da educação ambiental e de redução da ansiedade, melhora da concentração
cultura de paz. mental entre outras, através de experiências subje-
Segundo a visão holística cada parte traz a infor- Ao perguntarmos sobre a importância do tema nos
mação completa do universo ao qual pertence e é cursos, os participantes ressaltam a grande e funda-
capaz de influenciar o funcionamento geral de todo mental importância com afirmações como:
o processo. Curso Tai Chi – teoria e prática:
“Influenciamos a evolução cósmica a partir da “Grande importância, melhorar a qualidade de
nossa própria evolução, tanto em nível pesso- vida e os relacionamentos”; “Foi meu primeiro
al quanto social. Participamos, assim, de tudo contato com o Tai Chi, e o mesmo passou a ser
o que acontece conosco e com o universo, e um novo estilo de me relacionar interna e ex-
210
ternamente”; “Curso de suma importância já equilíbrio e postura em relação à vida, outras formas
que estou aplicando inclusive no meu trabalho de responder aos desafios e perceber o mundo.
e posteriormente vou ampliar”;“Um novo olhar
A intenção de incorporação das práticas para si e
para se colocar diante da vida”.
transmissão do conhecimento aprendido para outras
Curso Autocuidado com a vivência do Tai Chi: pessoas é muitas vezes enfatizada como também a
“É bem relevante. Com certeza vou introduzir multiplicação nos ambientes de trabalho e familiar.
o que aprendi em minhas aulas e palestras”;
“Melhorar a qualidade de vida a começar do 8. Perspectivas
meu eu”; “Fundamental ao equilíbrio e saúde
É possível perceber a evolução da prática do Tai Chi
física e mental”.
no decorrer do tempo. Como já destacado, a ativi-
Em outra questão buscamos saber o que o partici- dade contínua permite um crescimento e aprimo-
pante pretende modificar ou aplicar na sua vida, a ramento para as pessoas com resultados positivos
partir do curso realizado. constantemente relatados.
No Curso Tai Chi – teoria e prática: os participantes Ao integrar sua proposta de forma ampliada com os
assinalam grande motivação de prosseguir na práti- conteúdos da educação ambiental e cultura de paz,
ca dos exercícios e incluí-los em sua rotina diária e permite uma abertura maior no trabalho que os par-
encontramos algumas afirmações como: ticipantes podem desenvolver no seu ambiente de
“Realizar as atividades diariamente e aplicá- trabalho, destacando a conexão desta prática com a
las no trabalho”;“Manter uma rotina pessoal coerente relação e respeito à Natureza.
e profissional para possibilitar que mais pes-
Os grupos de instrutores que desenvolvem a prática
soas possam usufruir deste benefício”;“Eu já
nos parques também nos apresentam este retorno
estou praticando diariamente e pretendo ao
pelos participantes, que incorporaram a atividade na
final do curso ensinar outras pessoas”;“Os
sua rotina, com benefícios para a saúde como tam-
exercícios propostos são de fácil inclusão na
bém vivenciando a convivência em harmonia com os
vida cotidiana, escolher um horário e executá-
outros integrantes do grupo. Relatos neste sentido
lo só depende de mim mesma”.
também são mencionados em avaliações periódicas
Curso Autocuidado com a vivência do Tai Chi: e pelo próprio instrutor que nos transmitem as ob-
“Confiança para vencer desafios profissionais, servações dos participantes.
pessoais, sociais e econômicos”; “Continuar As atividades como cursos, palestras e vivências
praticando Tai Chi e aplicar para os pacientes também são valiosas oportunidades de colaborar
aonde eu trabalho”; “Pretendo ter um tempo com a proposta da educação ambiental. O retor-
para praticar o Tai Chi e poder multiplicar para no apresentado nos incentiva a prosseguir neste
outras pessoas essa prática”.300 caminho.
São inúmeros depoimentos, avaliações após os cur- Inserções em outras propostas e programas também
sos e no dia a dia de nossas atividades, mostrando a são enriquecedores assim como as parcerias com
importância e incorporação das práticas pelas pes- outras secretarias do município e outros locais que
soas assim como integração com outros aspectos de sejam adequados para esse movimento. O cuidado
vida como melhora na saúde física e mental, maior presente nas diversas dimensões que vivenciamos
pode fortalecer os laços e conexões, do individual ao
300 | Todos os depoimentos estão registrados nas ava-
liações dos cursos, disponíveis na UMAPAZ. coletivo, ao ambiente e ao universo maior, e as artes
212
O DIÁLOGO COM O BARRO:
CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E
SUSTENTABILIDADE EMOCIONAL
Regina Fiorezzi Chiesa301
Resumo Abstract
Esse artigo tem o objetivo de constatar o poder do bar- This article has the objective to confirm the power of
ro (argila) no processo de ampliação de consciência no mud (clay) in the process of extension of conscious-
despertar do potencial criativo. O barro é um material ness in the awakening of creative potential. Mud is
vivo, que nos faz entrar em contato com a natureza, a living material that makes us get in contact with
ou seja, com a nossa verdadeira natureza. É um ins- nature, or in other way, with our true nature. It is
trumento mediador que lida com conteúdos afetivos a mediator instrument, which deals with affective
em estado bruto dando sustentabilidade emocional na contents in raw condition providing emotional sus-
medida em que a forma surge trazendo a verdade inte- tainability according as the shape arises bringing
rior. Modelar a emoção põe a energia em movimento e the interior true. Model the emotion puts the energy
ela circulando permite que cada um nós possa ir além, in motion and it circulating allows each one of us
como se a raiz pudesse tocar a copa da árvore. Desde to go further, as a root could touch the top of the
2007 venho desenvolvendo esse trabalho com grupos tree. Since 2007 I have been developing this job with
na UMAPAZ dialogando com o barro, com os elementos groups in UMAPAZ dialoguing with the mud, with the
da natureza, modelando as sensações, sentimentos e elements of nature, modeling sensations, feelings
pensamentos. Cada participante dos grupos, do seu and thoughts. Each member of the groups, in his own
jeito, no seu ritmo encontrou no barro um companheiro way, in his own pace found in the mud a travel com-
de viagem que ajuda no processo de autoconhecimen- panion who helps in the process of self-knowledge.
to. Para que haja uma conexão com o ritmo da nature- To create a connection with the pace of the nature
za é preciso deixar a energia em movimento, em ritmo it’s necessary to let the energy moving, in a crea-
de criação para expandir a consciência, uma consciên- tion pace to extend consciousness, an ecological
cia ecológica que sustenta o emocional, que liberta e consciousness, which maintains the emotional, that
transforma a matéria. sets free and transforms substance.
Palavras-chave: barro, arte, sustentabilidade, cria- Keywords: clay, arte, sustainability, creativity, envi-
tividade, consciência ecológica. ronmental awareness.
301 |Artista plástica e Arte-Educadora (FAAP), com especialização em Arteterapia e Psico-oncologia (Instituto Sedes Sa-
pientiae e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento - Mackenzie).Terapeuta Transpessoal (Dinâmica Energética do Psiquis-
mo – DEP). É professora de vários cursos de pós-graduação latosensu em Arteterapia. É autora do livro “O Diálogo com o
Barro, o Encontro com o Criativo” da Editora Casa do Psicólogo, 2004. E co-autora do livro “Percursos em Arteterapia” da
Editora Summus, 2004.Docente do Curso de Especialização Ecologia, Arte e Sustentabilidade, realizado em convênio entre o
Instituto de Artes da UNESP e a UMAPAZ. rchiesa@uol.com.br.
214
2. O Diálogo com o barro objeto da fantasia que acolhe as emoções, a sensibi-
lidade e a intuição.
O Homem faz parte da natureza e por várias cir-
O elemento ar entra para secar a peça modelada.
cunstâncias acaba se afastando dela e também de
E é no processo de secagem que a forma modela-
si mesmo. Trabalhar o barro é a oportunidade de res-
da muda de cor, se estrutura buscando uma solidez
gatar o contato com a natureza, é um reencontro e
interna. É um processo lento e intenso. Trabalhar
um reconhecimento de si. (CHIESA, 2004).
o ar no barro é se dar conta do ar que respiramos,
O Barro como elemento da natureza estimula a per- do nosso potencial criativo, do poder de criação que
cepção táctil, sendo capaz de responder ao toque ao comunicar liberta. Quando estamos inspirados fi-
humano. Sua plasticidade e maleabilidade facilitam camos mais perto do nosso ser criativo. Chevalier e
a entrada no mundo das emoções e afetos. Geerbrant (1996) nos dizem que o ar é o símbolo de
liberdade, de criação e de comunicação.
A vivência com o barro, onde no encontro de mãos e
barro as imagens tomam forma e a emoção que dor- A peça modelada está pronta para ser comunicada e
me na alma revela-se trazendo o calor íntimo; o in- colocada no forno alquímico.
terior comunica-se com o exterior fazendo a energia É então o momento do elemento fogo entrar em ação
fluir. Modelar o barro facilita o contato direto com as para transformar o barro em cerâmica. Trabalhar o
sensações e, portanto, desencadeia rapidamente o elemento fogo no barro é se conscientizar que a ma-
conteúdo emocional. Dessa forma, contribui para a téria mudou. Há uma mudança interna significativa.
emergência das emoções que, por sua vez, são sen- Para Gouvêa (1989) levar uma peça ao forno é não
tidas no corpo e se expressam através do movimen- saber com precisão absoluta qual será a reação da
to e das sensações. matéria. “Esse é um momento de grande emoção, de
O Barro é terra, água, ar e fogo. Ao tocar no barro, pura emoção. É o momento do fogo da emoção e no
o processo começa, e a terra fria é experimenta- homem, só há vida onde há emoção” (p.73). No forno
da aguçando as sensações e aí podemos voltar no tudo pode acontecer inclusive, a peça explodir (GOU-
VÊA, 1989). O fogo é símbolo purificador, regenera-
tempo acessando nossas raízes, nossas memórias.
dor e transformador, o fogo ilumina, mas também
Trabalhar o elemento terra no barro é poder entrar
pode destruir (CHEVALIER E GEERBRANT, 1996).
em contato com a nossa terra interna que nos dá
sustentação. É poder enraizar para achar o eixo, o Vivenciar os quatro elementos da natureza no barro
equilíbrio e assim, obter nutrição e acolhimento. é possibilitar o encontro com o criativo desde o mo-
Para Chevalier e Geerbrant (1996) a terra é símbolo mento de tocar, de sentir a massa, de dialogar com
da origem da vida, que sustenta, nutre e acolhe e ela até dar forma às sensações experimentadas, às
também é símbolo ligado às raízes. emoções escondidas e às imagens em ação (CHIESA,
2004).
A água contida no barro é responsável pela malea-
bilidade e flexibilidade no processo da modelagem. O diálogo dos quatro elementos no barro faz a ener-
Trabalhar o elemento água no barro é poder entrar gia fluir abrindo-se à fonte energética da natureza.
em contato com a nossa água interna, com o movi- Para que haja uma conexão com o ritmo da natureza
mento, com as emoções, que à medida que vamos é preciso deixar a energia em movimento, em ritmo
modelando, vamos colocando a energia em movi- de criação para expandir a consciência, uma consci-
mento. É a fluidez da água que ajuda dar forma às ência ecológica que sustenta o emocional, que liber-
sensações, sentimentos e pensamentos. Segundo ta e transforma a matéria.
Chevalier e Geerbrant (1996) a água é símbolo de ex- Zaluar (1997, p.8) compartilha a explicação de um
pansão, fluidez, purificação e fonte de vida e também ceramista do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais,
216
Quando o ser humano percebe a sua verdadeira na- e do cuidado, especialmente a partir da psicologia
tureza e que ele e a natureza são uma coisa só, é profunda... , da biologia genética e das implicações
quando ele está passando por uma experiência eco- antropológicas da física quântica” (p.100). Para o au-
lógica profunda que vai além do ego. A sensação de tor o sentimento e o cuidado é a lógica do coração e
pertencer, de conexão, é uma percepção espiritual, que o cuidado é uma força que faz surgir o homem e
de reconhecimento de quem realmente somos que significa trabalhar em sintonia com a natureza, com
traz um sentido maior para a vida. Para Capra (1996) o seu ritmo, em comunhão com todas as coisas que
“percepção ecológica é espiritual na sua essência entretêm entre si e conosco.
mais profunda” (p.26).
Para promover a sustentação da vida é preciso incluir
Capra (1996) cita Arne Naess quando fala da expan- a sustentabilidade emocional, ou seja, o sentimento
são do eu e da identificação com a natureza como e o cuidado entendendo que o verdadeiro sentido da
base da ecologia profunda. sustentabilidade é a prática da sustentabilidade do
próprio ser. A sustentabilidade envolve todas as di-
O cuidado flui naturalmente se o “eu” é ampliado e
mensões da vida do ser humano e de todos os seres
aprofundado de modo que a proteção da natureza
vivos da Terra.
livre seja sentida e concebida como proteção de nós
mesmos. … Assim como não precisamos de nenhu- Capra (1996) fala da importância de se compreender
ma moralidade para nos fazer respirar...[da mesma a vida de forma sistêmica e aí a sustentabilidade fica
forma] se o seu “eu”, no sentido amplo dessa pala- apoiada na teia da via, nos ciclos da natureza e no
vra, abraça um outro ser, você não precisa de adver- fluxo da energia.
tências morais para demonstrar cuidado e afeição...
É a prática da sustentabilidade a partir de cada um
você o faz por si mesmo, sem sentir nenhuma pres-
que vai sustentar a teia da vida, daí a necessidade
são moral para fazê-lo. ...Se a realidade é como é
de um trabalho de autoconhecimento para ampliar
experimentada pelo eu ecológico, nosso comporta-
consciência assim como, os vários níveis de percep-
mento, de maneira natural e bela, segue normas de
ção. Com maior conhecimento de si e consequente-
estrita ética ambientalista (p.29).
mente do outro é possível assumir um compromisso
O cuidar da Natureza implica no cuidar de si mesmo de respeito, de cuidado, de conservação, de coope-
como parte integral da teia da vida. Dentro dessa ração, de qualidade e parceria levando-nos a pensar
visão Capra (1996) esclarece o vínculo entre ecolo- de um modo mais integrativo, intuitivo, holístico e
gia e psicologia pela concepção de um eu ecológico não linear, uma forma mais sistêmica de viver dentro
explorado por vários autores que usaram o termo da visão de Capra (1996).
“reverdecimento do eu” ; “ecologia transpessoal” e
Capra (2002) fecha esse capítulo da consciência eco-
“ecopsicologia”.
lógica e sustentabilidade emocional com a teoria
Outro autor que fala sobre o cuidado com a Natureza da cognição de Santiago (um estudo de Maturana e
é Boff (1999) quando complementa que “o ser huma- Varela nos anos 70). Essa teoria “é uma expansão
no precisa voltar-se sobre si mesmo e descobrir seu radical do conceito de cognição... cognição envolve
modo de ser cuidado” (p.99). E para que isso possa todo o processo da vida – inclusive a percepção, as
acontecer é necessário levar em conta o sentimen- emoções e o comportamento” (p.50). Para a ciência,
to e a capacidade de se emocionar. Para Boff tudo segundo o autor, é uma idéia nova, mas ao mesmo
começa com o sentimento, é ele o responsável pelo tempo é uma das mais profundas e arcaicas da hu-
envolvimento com as pessoas, pelo encantamento manidade; na opinião do autor, é a primeira teoria
e união às coisas e também pelos laços afetivos. “A científica que supera a cisão cartesiana entre mente
reflexão contemporânea resgatou a centralidade do e matéria, colocando as duas como complementares
sentimento, a importância da ternura, da compaixão do fenômeno da vida, processo e estrutura. “A come-
218
O depoimento de A. no contato com o barro: Para A. as sensações foram muito fortes mobilizan-
do bastante energia. Do estímulo sensorial veio a
“Foi uma sensação muito forte ao aproximar
forma trazendo para a concretude aquilo que apenas
o barro do meu rosto. A temperatura dele nas
sentia e imaginava.
minhas mãos era muito quente em contraste
ao meu rosto que era muito frio. A automas- A imaginação criativa será a força ordenadora, co-
sagem foi uma experiência sensível fantásti- ordenadora, baseando-se na necessidade interior
ca. Fiquei muito tempo rolando o barro sobre do artista de realizar este conteúdo expressivo e de
meus lábios porque me recordou demais a pre- comunicá-lo do modo mais direto, sem perder sua
sença do meu marido. Que saudade dos seus riqueza e densidade” (OSTROWER, 1995 p.36).
beijos, do carinho das suas mãos...Ao compar-
tilhar com o grupo, lembrei-me da época em 4.2 O segundo exercício –
que namorávamos e eu passava os dedos so- a metamorfose
bre seus lábios dizendo que eram as asas da
minha andorinha. Beijos que me faziam voar Cada participante recebe uma quantidade de argila
para um tempo desconhecido, impossível de que caiba em suas mãos. É pedido, então, que seja
cronometrar. A sensação foi tão presente que feito uma bola bem redonda, uma esfera, imaginan-
ao final do encontro meu marido me ligou. A do que essa seja o mundo. O participante é convida-
do a criar, acariciando amorosamente o mundo em
primeira coisa que eu perguntei foi se ele es-
suas mãos. O passo seguinte é descobrir as formas
tava pensando em mim e ele simplesmente
da Natureza, transformando a esfera de linhas cur-
respondeu: ‘Se eu te liguei’...”
vas em uma forma com linhas retas, que represente
O nome dado à forma foi Lábios. o Reino Mineral. E depois, as linhas retas em suaves
curvas trazendo presente o Reino Vegetal. Em se-
Figura 13: Lábios. guida, sugiro que as linhas sejam “animadas,” para
assim dar mobilidade aos vegetais, surgindo, então,
o Reino Animal. Para finalizar a metamorfose, o ani-
mal é transformado em uma figura abstrata, que re-
presenta o ser humano em um estado de consciência
em que a criatividade está presente.
O objetivo é fazer um profundo mergulho nas origens.
A intenção é uma maior conscientização do processo
de evolução, assim como do processo criativo.
E o depoimento do processo da metamorfose de A.
ficou assim:
“Sentindo a argila, “meu eu interior”, fiquei
Crédito da fotografia: Regina Chiezza
observando as fissuras e pensei sobre as mar-
cas negativas que a vida deixa em meu cora-
ção. Diminuem com o passar do tempo, mas
O contato direto com o barro promove várias sensa- sempre estarão ali... uma marca que não se
ções. Segundo Kagin e Lusebrink (1978) e Lusebrink apaga jamais.
(1992), o indivíduo pode perceber o seu potencial Comecei a mexer no barro, a estrutura retan-
energético quando em contato com as sensações. gular formada, me despertou a imagem de
Figura 14: A lâmpada mágica em constante O objetivo é poder fazer um reconhecimento de si,
transformação. estando atento a cada etapa. Segundo Allessandrini
(2000), um convite para o indivíduo poder se reco-
nhecer tanto no contexto social quanto cultural.
A intenção dessa observação pode gerar uma parti-
cipação mais ativa e mais consciente na vida.
Para cada etapa A. fez os seguintes depoimentos
para fechar o processo:
Mundo - “ Iniciei o trabalho com o barro pen-
sando em fazer o meu “eu mineral”, uma pe-
dra sem forma a ser lapidada, mas ao come-
çar a mexer, apertar e tentar moldar o barro,
a forma foi se transformando e visualizei uma
mulher de perfil grávida. Retirei um pouco do
Crédito da fotografia: Regina Chiezza barro para delimitar a barriga e deste barro
retirado, moldei a forma de um coração, que
A. fez um profundo mergulho quando voltou na in- apesar de solto foi integrado a peça. Obser-
fância trazendo as marcas negativas. Nesse mergu- vando a peça final concluí que “meu mundo”
220
está passando por transformações... no mo- simples e completamente perceptíveis. Dei
mento estou “gerando meu mundo”. ao pássaro duas asas quase simétricas, que
remetem a parte superior da forma estrutural
Reino Vegetal - “Foi a peça mais rápida de
do desenho de um coração. Concluí que mi-
ser construída. Decidi que meu “eu vegetal”
nha ave pelo seu formato está em ascensão
seriam raízes que dariam sustentabilidade a
e como suas asas me remeteram a figura de
minha vida, meus sonhos, sentimentos e emo-
um coração, peguei um pouquinho de barro e
ções. A base deveria ser firme para conseguir
fiz um rolinho para construir a parte debaixo
dar toda essa sustentabilidade. As raízes, ini-
do meu coração, que se transformou em um
cialmente estavam voltadas para o alto, sem
“V”: VITÓRIA da ascensão que quero buscar na
nenhum contato com a terra. Isso não me sa-
minha vida”.
tisfez, afinal para se sustentar as raízes preci-
sam estar fortemente fincadas na terra. Então,
Figura 15
delicadamente, cortei as raízes ao meio e for-
mei duas partes diferentes: uma delas surgia
da terra e a outra ascendia formando as bases
de um coração.
As raízes que brotam da terra fértil sustentam
o amor que nasce na pureza de um coração
que só deseja amar e ser amado”.
Reino Mineral - “Tive muita dificuldade em fa-
zer meu “eu mineral” e meu “eu animal”. Evi-
tei mexer no barro para construção das duas
peças por muito tempo, mas criei coragem e
iniciei com meu “eu mineral” porque há pou-
cos dias havia assistido um filme que apare-
ceu uma pedra do amor, onde as personagens
acreditavam que essa pedra tinha poderes Crédito da fotografia: Regina Chiezza
mágicos. Decidi que meu “eu mineral” seria
a pedra do amor do filme. Apesar do tama- A. nesse diálogo com as quatro formas pôde ampliar
nho pequeno gostei do resultado. O barro que a percepção e se conscientizar mais do seu proces-
precisei tirar do meu “eu mineral” para fazer so individual. A gestação trouxe o enraizamento que
a abertura em forma de coração, foi transfor- sustenta o amor. Precisou de um tempo até conse-
mado em uma semente com um orifício, que guir fazer a pedra do amor, a semente que a levou
considerei a fecundação de algo novo, inserido até o “V” de vitória, de ascensão na vida.
dentro do amor do meu ‘eu mineral’”. É nesse momento que emoção e cognição interagem,
Reino Animal - “Meu “eu animal” foi algo que quando se pode concretizar uma imagem interna de
eu não sabia o que fazer, não sabia o que eu modo significativo e algo é aprendido.
queria ser. Sabia apenas que deveria ter asas Allessandrini (2000, p. 256) complementa que a ale-
para voar, mas não imaginei que conseguiria gria da constatação integra corpo e mente, afeto e
construir um pássaro. Então, deixei o barro cognição, em um movimento sensível e mental, cria-
me levar e para minha surpresa, foi surgindo dor de um sentido maior. É extraordinário como se
o pescoço e a cabeça de uma ave com formas pode observar a interdependência presente na ener-
222
Para Ostrower (1998), o ser humano tem constan- me incomodando cada vez mais. Pensei em
temente a capacidade de criar contextos de forma desistir, mas percebi que esse trabalho exigia
espontânea, sem muitas vezes dar-se conta disso. muita paciência, tempo e dedicação, então
No entanto, essa é a base dos processos de percep- persisti.
ção, que por sua vez, constituem a base de todos os Ao dar forma aos rolinhos, queria fazer o sím-
processos criativos. bolo do infinito, mas na peça final, eu não con-
O que a autora comenta acima nada mais é “o como sigo visualizar essa forma porque as partes
funciona” o processo criativo. Um processo concreto não ficaram do mesmo tamanho. Um parte
que cria formas a partir de expressões internas que, redonda ficou mais gordinha que a outra. En-
compreendidas intuitivamente, passam a ter um sen- tão fiz uma associação interessante: a parte
tido maior promovendo um novo conhecimento, am- redonda mais gordinha é o meu marido e a
pliando a consciência. Essas formas expressivas comu- outra parte redonda menos gordinha sou eu.
nicam-se através de uma verdade interior com as suas Observando e pensando sobre essa associa-
tensões, vibrações que comovem pela autenticidade ção, refleti sobre as nossas vidas em relação
que Ostrower (1998) chamou de beleza essencial. a tomada de decisões. Sempre pensei que a
posição da peça final deveria ser com a par-
te menor em cima e a parte maior embaixo.
4.5 O quinto exercício – parte e todo Na nossa relação é assim, eu sempre estou à
Essa técnica (Harvey, 1984) consiste em fazer roli- frente de muitas decisões, mesmo que eu não
nhos ou cobrinhas com a argila. Depois vem a eta- queira decidir, é preciso tomar a iniciativa.”
pa da junção dos rolinhos para que uma nova forma
Figura 17: Infinito.
possa surgir. O tamanho dos rolinhos e a quantidade
de argila dependem da necessidade de cada um, po-
dendo a forma ser tanto pequena quanto grande.
A intenção é que cada rolinho represente um as-
pecto interno da pessoa. A cada novo rolinho que a
pessoa vai juntando permite emergir uma forma que
traz, em si, sua totalidade.
O objetivo é poder ter essa percepção de totalidade.
Rhyne (2000), em seu trabalho de arte e gestalt-te-
rapia, usa essa abordagem para explicar a habilida-
de de perceber configurações totais, “[...] como uma
totalidade das muitas partes que, juntas, formam a
realidade que você é” (p. 44). A integração das par-
tes dá uma noção de todo, que Ostrower (1998) com-
Crédito da fotografia: Regina Chiezza
pleta como uma experiência que pode trazer uma
síntese de uma nova ordem com novas qualidades A. vai se dando conta dos seus recursos à medida
que ampliam a percepção. que vai explorando as suas potencialidades. Faz
O depoimento sobre parte e todo de A.: uma associação interessante que ajuda a fazer uma
reflexão consolidando a sua identidade.
“Tive muita dificuldade em conseguir fazer o
rolinho ficar roliço. Ele ficava achatado e ao O homem cria a todo instante para poder entender
enrolá-lo, quebrava em pedacinhos. Isso foi as coisas, mas, nem sempre se dá conta de quão
224
A. nesse momento está mais consciente de suas li- Expandir a consciência ecológica é se aproximar de
mitações, assim como de seus recursos. Dessa for- uma dimensão espiritual que nos conecta com o ritmo
ma pode estar mais presente quando deixa emergir o da natureza, onde a energia flui e cada um pode seguir
que tem de melhor. A caixa guarda as suas recorda- o seu caminho sentindo-se intensamente vivos.
ções que foram vividas e re-significadas para conti-
nuar a caminhada
A. pôde perceber que é completamente emoção, pois
o coração esteve presente o tempo todo. Para dar
continuidade à vida dedica essa vivência com o barro
ao amor pela vida.
5. Considerações Finais
Nos grupos que trabalhei na UMAPAZ com o barro, o
diálogo com o barro aconteceu. Alguns mais profun-
dos, outros mais superficiais, dependendo do esta-
do de consciência de cada um. Sempre acontece um
despertar por mais simples que seja. De algum jeito
uma nova ordem de estar no mundo se estabelece
mesmo que a pessoa ainda não consiga perceber. Os
recursos internos estão ali para serem acessados,
o que ajuda para lidar com as limitações tanto de si
quanto do outro.
Foi possível observar em A. que a partir do contato
com o barro, sensações fortes vieram à tona, som-
bras apareceram e ajudaram a iluminar o caminho na
medida que algo foi apreendido. O aprendizado traz
a constatação, amplia a percepção e A. tomou cons-
ciência de sua beleza essencial. Com mais recursos
consolidou sua identidade. Para continuar a sua ca-
minhada dedicou o amor à vida.
Nas palavras de Boff (1999) A. trouxe a capacidade
de se emocionar, onde sentimento e cuidado traz a
lógica do coração que é essencial para a prática da
sustentabilidade.
O trabalho criativo passou pelos níveis sensoriais,
perceptivos e cognitivos. Maturana e Varela apud
Capra (2002) afirmam que viver é conhecer e seguir
seu próprio fluxo, é perceber as mudanças como um
ato cognitivo, um aprendizado que no processo de
autoconhecimento vai trazendo sentido à vida.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Arte e Gestalt. São Paulo: Summus, 2000
226
ATOS CRIATIVOS SUSTENTÁVEIS
METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL
Maria Cristina Belfort D´Arantes Cariani302
Resumo Abstract
O principal objetivo desse trabalho é refletir sobre The main objective of this paper is to reflect on how
como os níveis de percepção determinam a ação que the levels of perception determine the action that
vem impactando a sustentabilidade da vida no plane- comes impacting the sustainability of life on the
ta. Temos real noção das leis naturais e a realidade planet. We have real notion of natural law and the
que move a vida? Ou será que estamos criando - tec- reality that life moves? Or are we creating - tech-
nologia, moda, arte, produtos, químicas alienígenas, nology, fashion, art, products, chemical aliens, vir-
tecnologias virtuais - a partir de um estado de per- tual technologies - from a state of superficial per-
cepção superficial e gerando impactos irreversíveis? ception and generating irreversible impacts? Do
Será que temos desenvolvido níveis mais amplos de we have developed broader levels of perception, to
percepção, que abram uma porta de compreensão da open the door to understanding the dynamics that
dinâmica em que estamos envolvidos? São apresen- are involved? Courses are presented Web of Life,
tados os cursos Teia da Vida, Arte Efêmera, Ecologia Ephemeral Art, Ecology - new paradigms, new val-
– novos paradigmas, novos valores; Patchwork – do ues; Patchwork - I build recognition of the collective;
reconhecimento do Eu construo o coletivo; Território Territory Looking and Development Potential Crea-
do Olhar e Desenvolvimento do Potencial criativo do tive Educator Transdisciplinary.
Educador Transdisciplinar. Keywords: sustainability and art, ephemeral art,
Palavras-chave: arte e sustentabilidade, arte efê- ecology, transdisciplinarity, creativity
mera, ecologia, transdisciplinaridade, criatividade
302 | Graduada em Artes Plástica/ FAFICILE, Pós Graduada em Arte, Ecologia e Sustentabilidade/Unesp/Umapaz, designer de
sustentabilidade- Gaia Education, Artista Plastica e Terapeuta.
228
estímulos visuais, auditivos, mentais, estresse, ali- Durante o processo de desenvolvimento do conheci-
mentação saturada de agrotóxicos e químicas usa- mento, cindidos da sabedoria milenar, desenvolvida
das para a aceleração de produção, soma-se a uma durante milhões de anos de interação e observação, a
educação que reforça apenas a dimensão material, falta, a anulação e a violação na relação com o mun-
dificultando o acesso dos indivíduos a níveis mais do natural, geraram o totalitarismo e a sacralização
sutis da percepção. absoluta do homem, o antropocentrismo. Apesar da
Enclausurada em sistemas de comportamento, de física quântica e de outras áreas da nova ciência te-
padrões limitantes de movimento corporal, rode- rem mudado a visão para uma ultrareferencialidade e
ados de concreto, a capacidade de experienciar, de multidimenssionalidade do ser e do mundo, vivemos
experimentar novas visões e caminhos, fica cada vez ainda um período do mundo em que o sistema meca-
mais rara. A realidade passa a ser apenas projeção nicista persiste como por inércia, mantendo modelos
de um mental lógico/linear que fragmenta o conhe- de desenvolvimento e visão de realidade, num feroz e
cimento e separa o indivíduo de outras partes de si exponencial rumo à destruição da vida.
e, consequentemente, da totalidade complexa e di- Olhando o caminho que fizemos como humanidade,
nâmica da vida. percebe-se que em algum lugar da caminhada, op-
Se nossos sentidos apenas arranham a complexi- tamos por desenvolver “fora”, em forma de tecno-
dade da realidade dos sistemas naturais, como se logias; potenciais que poderíamos ter aperfeiçoado
pretende criar sustentabilidade sem olhar para o de- interiormente. O fato é que o resultado tem sido a
senvolvimento da percepção humana? degradação do tecido que mantém a vida no planeta.
Sem uma educação que possibilite à consciência Um dia desses vendo um documentário sobre cons-
exercitar todo o seu potencial criativo, continuare- truções de cidades sustentáveis, ouvi a seguinte fala
mos a fazer retrofits tecnológicos e econômicos, que de um dos engenheiros: “A questão da sustentabili-
nunca chegarão à essência da questão que criamos. dade não são novas e mais novas tecnologias, elas
só servirão para dar o tempo necessário para que a
A constatação de que a rapidez com que as mudanças
humanidade amadureça, evolua para um novo pata-
têm ocorrido nestes últimos cinqüenta anos, aprofun-
mar de consciência”.
dou a crise de valores e de percepção da realidade, a
ponto do atual sistema econômico ter relegado a vida Os cursos aqui abordados pretendem ser um impul-
como prioridade. A economia deixa de cumprir seu pa- so à ação, no intuito de criar um caminho em direção
pel de gerenciador do bem estar geral, e gera a escra- ao desenvolvimento integral que, movido pelo sen-
vidão humana e de toda a natureza a seu serviço, do timento de pertencimento a algo maior do que a re-
poder de poucos, sob o slogan de liberdade. alidade percebida até então, dêem início ao alarga-
A destruição das espécies e o desequilíbrio nos sis- mento da visão. Trata-se de uma caminhada lenta,
temas naturais, a falência dos Estados nacionais, mas focada na abertura de um olhar holográfico da
a progressiva degradação de solos férteis e as mu- realidade atual, integrando o ser e o fazer, na rela-
danças geopolíticas, inviabilizam a segurança dos ção com uma realidade que não se reduz à matéria
povos, provocam a desertificação de várias partes sólida, mas refere-se ao movimento contínuo das re-
do mundo, forçam povos a se deslocarem. Muitas lações em permanente transformação. E o mais im-
questões demonstram a insustentabilidade do mo- portante é aprender a aprender durante o processo e
delo e a dificuldade de escaparmos do labirinto em com o processo.
que nos metemos303. A Ciência Cognitiva precisa dialogar com as
experiências humanas vividas, pois não é pos-
303 | BROWN, Lester R. em Plano B 4.0 -Mobilização
para salvar a civilização, 2009. sível conceber uma mente que se constitua
230
tal, fora do encéfalo. Assim, nossas percep- Amparada nessa visão, defendo o desenvolvimento
ções não são registros diretos do mundo ao de todas as capacidades humanas, por meio de uma
nosso redor. Ao contrário, elas são formadas consciência integrada e reconectada.
internamente, de acordo com as limitações
Ciência, espírito, natureza surgem, nesse cenário,
impostas pela arquitetura do sistema nervoso
como um convite para fazermos a alquimia que de-
e por suas habilidades funcionais. ... o mundo
sejarmos. O que escolheremos?
da experiência é produzido pelo homem que a
vivencia... Com certeza existe um mundo real Para que nossas criações correspondam a uma realida-
de árvores, pessoas carros e mesmo livros, de saudável, liberta e consciente, precisamos desen-
que tem uma grande relação com a nossa volver uma abertura de mente, imaginativa e criativa,
experiência desses objetos. Nós, no entanto, e multirrelacional que se comunique com a complexi-
não temos acesso direto ao mundo real, nem dade, impermanente da realidade. Que se comunique
a qualquer de suas propriedades. A Realidade com outras inteligências que não apenas as humanas e
Objetiva é aquela intangível pela restrição per- aprenda com elas. Precisamos aprender a sair do medo
ceptiva de nossos cinco sentidos. A Realidade emocional que nos aprisiona para alçar vôos, para que
objetiva é aquela intangível pela restrição per- possamos nos encantar e surpreender a cada instante.
ceptiva de nossos cinco sentidos. A Realidade Desenvolver a criatividade, segundo Amit Goswa-
Subjetiva é aquela resultante da assimilação mi (2008:169), é “[...] permitir mais encontros entre
dos estímulos externos filtrados pela nossa seu Ego (auto identidade pessoal, hierarquia sim-
capacidade cognitiva que nem sempre corres- ples, previsibilidade condicionada) e sua modalida-
ponde à realidade objetiva e na qual orienta- de quântica, o Self quântico (a parte do Eu, que é
mos nossa vida em função da mesma, tornan- universal, transpessoal, é a hierarquia entrelaçada,
do-se assim, plenamente mutável.” (MULLER, possibilidades mais amplas e mistério). ...Criativida-
2000, p. 1) de tem sabor de liberdade.”
Partindo da possibilidade de desenvolvimento do siste- Difícil é colocar em poucas palavras os saberes que
ma sensorial e cognitivo humano, pode-se dizer que as o corpo, a alquimia interna, é capaz de desenvolve.
realidades podem ser transformadas conscientemente. Ainda mais quando os códigos desse saber estão
No atual estágio de desenvolvimento humano criamos distantes. É como se reduzíssemos ao mínimo a di-
realidades sim, pois seria impossível não fazê-lo, se- mensão que tocamos, que se manifesta, enquadran-
gundo a teoria de Kendel, embora essas realidades do-a, dentro de estreitos limites. E o conhecimento
sejam criadas inconscientemente. O ser humano ainda perde sua dimensão vibrátil (termo perfeito, usado
não percebe que é o contínuo criador da realidade que por Suely Rolnik)306 tornando-se alguma outra coisa:
vive e que o mundo que se lhe apresenta é fruto de seu
próprio mundo mental, emocional e imaginário305. “A partir de um tempo, não muito distante,
Elas tocam profundamente.
305 | Gostaria de referenciar essa teoria com uma experi-
ência que tive há um mês durante um retiro de meditação. E em algum ponto, algo acontece.
Vipassana é um processo de desintoxicação mental. Os
primeiros três dias são trabalhos de respiração e atenção Um nível acima compreende e integra.
para focar a mente. Foram três dias terríveis, pois, por
mais esforço que fizesse não conseguia um minuto inteiro
de atenção. No terceiro dia já conseguia olhar de forma absolutamente inúteis, obstruindo a possibilidade de um
distante para esses pensamentos e observei que minha contato mais profundo comigo e com a realidade.
mente criava histórias, que nada tinham a v+er comigo ou 306 | Disponível em: http://www.corpocidade.dan.ufba.
com algum conhecido. Isso me chocou, na medida em que br/redobra/r8/trocas-8/entrevista-suely-rolnik/ . Aces-
percebi que esse ruído me mantinha ocupada com coisas so em: 10 ago 2008.
232
A ALEGRIA TRANSCENDENTAL que, simbolicamente, nos remeta ao espaço vazio nu-
tridor e mobilizador de um campo de possibilidades.
Com cores e formas, construí a minha... e Com
uma felicidade inexplicável, brinquei como em O círculo permite que todos possam olhar nos olhos
criança. Me senti realizada na Oficina da “Teia uns dos outros, reconhecerem-se como iguais, den-
da Vida” minha sensação foi de liberdade e se- tro da diversidade e complexidade de cada um, co-
gurança, para aprender, criar e tecer. J.C. criadores da realidade vigente. Cria-se um sentido
de empoderamento e de integração das contribui-
Outro cuidado é resgatar o corpo domesticado,
ções de todos ao processo.
trazê-lo de volta como parte fundamental para o
desenvolvimento perceptivo. A expansão aprisiona- A estrutura das aulas é fundamentada tanto nos co-
da, o reconhecimento das sensações, dos impulsos nhecimentos científicos e filosóficos de nosso tempo,
e dos prazeres corporais, o resgate do corpo como como no resgate do conhecimento de povos ances-
sua primeira casa, leva à fase seguinte: para o corpo trais, porque se compreende que a cultura humana,
casa, o corpo social, o corpo natureza, planeta e fi- no estágio em que está, permite compartilhar qual-
nalmente cósmico. Corpo que é o guardião de todas quer descoberta e compreensões por todo o planeta,
as memórias, de todos os tempos. e a trabalhar como um só corpo humanidade.
A reaproximação desse corpo, a libertação dos mo- Não se pode deixar de resgatar os conhecimentos
vimentos, gera um estado de autoconfiança que é acumulados neste corpo em milênios de vida, con-
transferido para todas as dimensões da vida. templação, interação experiencial e observação cui-
dadosa da natureza. Os povos indígenas se compre-
Para Espinosa (1983): endem como parte integral da natureza e conhecem
“Numa sociedade marcada por controle e racio- mais sobre ela que os povos industrializados.
nalidade, os movimentos de liberdade e expres- Reintegrar na consciência o conhecimento, espirituali-
sividade das crianças assustam os adultos. dade e arte, economia, política, e outras práticas sociais
Amarrado ao império do relógio, ao tempo da é fundamental para que as inter-relações aconteçam
produção, aprisionados aos próprios esque- possibilitando o amadurecimento de nossa espécie.
mas, ou melhor, aos limites que nos foram im-
Muitas vezes no início da aula, ou antes de deter-
postos, na vida escolar, na família, no trabalho.
minados processos é solicitado que as pessoas se
Tendo aprendido a engolir os desejos, são estes
coloquem em estado meditativo por alguns minutos,
mesmos esquemas que necessitamos reprodu- aquietando, harmonizando a respiração, integrando
zir, através das normas que pretendemos impor corpo/mente. Meditar desintoxica a mente, diminui
às crianças, modelando os gestos e, simulta- seu ritmo ditatorial e abre espaços criativos.
neamente, aquietando o espírito. Pois, corpo e
espírito não estão separados, o que é ação no Na antiguidade as pessoas viviam o tempo dos ci-
corpo é, necessariamente, ação na alma.” (apud clos e, como na natureza, tinham um tempo de ação,
TIRIBA et al. [20-] p. 8) de nutrição, de germinação e de descanso. Isso gera-
va espaço para que a mente, os sentidos e o corpo se
Para que o processo ocorra é importante considerar mantivessem juntos. Pois é exatamente entre uma
a adequação do espaço físico, o espaço como orga- respiração e outra que a sabedoria e o criativo se
nismo, como palco e parte integrante, indissociável, manifestam, na fusão entre o objeto e o percebedor,
onde as dinâmicas possam ocorrer. É preciso criar um
“Esta noção de mente incorporada (MI) é an-
lugar onde a frequência gerada pelo grupo possa ir se
tagônica ao ponto de vista dualista que efe-
intensificando e leve a estados integradores de cons-
tua a distinção entre corpo e mente. De for-
ciência. É fundamental que as pessoas possam se or-
ma metafórica, a noção de MI vai sustentar
ganizar em círculo com um espaço vazio no centro,
234
tica especifica, como tecelagem, land art, máscaras, Ao trabalhar com a liberação imaginativa, a intenção
patchwork, fotografias, mandalas, barro, corpo. é fazê-lo de maneira ordinária, para que as resistên-
cias cedam lugar ao prazer da criação, para só então
Experiências e reflexões neste processo me levaram
poder mergulhar mais fundo.
a crer que existe um nível de percepção que acontece
em bloco, o saber chega com todas as informações A metodologia usada visa propiciar uma gama ex-
no mesmo momento. E não através de um caminho periências que instiguem e sensibilizem potenciais e
dedutivo linear. Num start alquímico, de repente se habilidades, para que cada pessoa em seu próprio
sabe sobre algo em toda sua complexidade, e esse nível ou capacidade de integração faça sua alquimia.
saber vem através dos sentidos no corpo/ mente.
Todo o Ser sabe ao mesmo tempo. 4. CURSOS
Outro aspecto a ser revisto, sobretudo na concepção
Este item elenca e comenta brevemente os cursos
ocidental, é a questão do imaginário.
que foram realizados com a metodologia proposta,
“A história das ciências mostra uma contradição na UMAPAZ.
flagrante no conceito da imaginação. Se até o
século XVI ela era uma ferramenta do conheci-
4.1 Teia da vida
mento que funcionava baseando-se no princípio
da semelhança, a partir do século XVII transfor- Foram realizadas 4 turmas do Curso Teia da Vida,
mou-se, segundo M. Foucault1, na expressão entre 2008 e 2010
da loucura, da fantasia e da ilusão. Esta con-
Esse Curso propõe um olhar para nossa história como
tradição sobrevive ainda hoje, pois o conceito
Planeta Terra e para o caminho de 4,5 bilhões de anos.
do imaginário é valorizado nas sociedades não
Trata do surgimento do ser humano neste processo
ocidentais, enquanto é desvalorizado na nos-
e do que temos construído juntos. Ao mergulhar na
sa. A abordagem antropológica é testemunha
evolução da Terra e sua trajetória pode-se fazer pa-
da importância do imaginário, dos mitos e dos
ralelos entre o momento presente e eras passadas.
sonhos nas culturas tradicionais. ...o mundo oní-
rico mostra que o sonho não é simples recalque Na intenção de estimular interligações entre fatos
neurótico, mas participa da antropoformação e, distantes no tempo, mas profundamente interliga-
de certa maneira, de uma auto-iniciação.” (Paul, dos, trazemos o desenvolvimento do olhar para ou-
2002 Transdisciplinaridade II- 2002p.123 tro patamar, mais abrangente da realidade.
Refere-se aqui à experiência que não é gerada sim- “Aprender a estrutura,
plesmente pelo pensamento linear, não faz parte do Para depois desestruturar...
mundo das associações, nem mesmo por imagens
abstratas. A partir do vazio, recomeçar.
236
Shui, que fizeram surgir o desejo de compartilhar Essa sequência seguiu o percurso da história do pen-
essa dimensão da realidade com pessoas que esta- samento humano e como as reflexões sobre a ecologia
vam interessadas em meio ambiente. foram evoluindo diante da percepção, das experiências,
e os resultados delas sobre a realidade, mergulhando
A importância dessa abordagem é abrir as pessoas
mais e mais profundamente em sua causa.
para a dimensão da Ecologia Profunda, através da
contemplação, da sensibilização de seus corpos e
do conhecimento de hierarquias da inteligência na 4.5 Patchwork: do reconhecimento do
natureza. Esse contato leva o indivíduo a reflexões “eu” construo o coletivo
sobre suas ações e sobre como estas cooperam
para o equilíbrio ou o desequilíbrio dos sistemas Nesse curso o processo criativo foi trabalhado com
naturais, e propicia caminhos de mitigação. a técnica do patchwork, com tecidos. Foram realiza-
das 4 turmas, de 2008 a 2011
Todo o processo e o conteúdo do curso levam a rea-
lidades sutis, exigindo um amadurecimento de todo O curso de Patchwork busca mobilizar a percepção
o sistema sensório, intuitivo e perceptivo, trazido de padrões, sensações e sentimentos no resgate de
para o consciente. si, com a pergunta: “quem mora dentro de mim?”
O reconhecimento dos potenciais pessoais, o con-
4.4 Ecologia: novos paradigmas, novos sequente empoderamento, seguido do trabalho de
valores construção de redes de relacionamentos, desenca-
deia a possibilidade de engajamento e atuação na
Este curso trabalha o processo criativo por meio da construção coletiva.
produção de máscaras. Foram realizadas 4 turmas,
A partir da identificação e da transformação dos
entre 2009 e 2012.
pontos de resistência, da reflexão sobre as frontei-
As experiências do curso Teia da Vida sugeriram a ne- ras entre o Meu, o Seu, e o Nosso, e o resignificar da
cessidade de ir às bases do que está gerando o de- realidade com a qual interage, abre-se a possibili-
sequilíbrio do sistema de vida neste planeta, despre- dade de cooperação e parceria na construção de um
zando seus ciclos naturais, acelerando o processo e futuro comum.
encurtando o tempo que a espécie humana tem para se
A trajetória através de conteúdos instigadores coloca
adaptar, do ponto de vista biológico e de consciência.
as pessoas em contato com os vários Eus que habitam
O Curso aborda os seguintes níveis da Ecologia: Eco- dentro de si. Exercícios, danças e a construção de um
logia Ambiental, Ecologia Social, Ecologia Mental, patchwork levam a níveis profundos e, ao mesmo tem-
Ecologia Integral e Profunda. po, permitem sua manifestação criativa. Todos esses
Figura 22: Produção do Curso Patchwork 2009 e 2010. Deixar-se tocar para poder ver! Ampliar níveis de
percepção como caminho para mudanças mais con-
sistentes e criativas, que incorporem a natureza
como parte de si.
A mudança na percepção pessoal, é o primeiro e pas-
so para as mudanças e o enraizamento de um viver/
conviver saudável. Fotografia contemplativa ajuda
a aprender a enxergar a realidade de outra manei-
ra. Vem da experiência de arte dentro dos conceitos
budistas e a proposta é nos deixar mais abertos e
atentos para o que nos chama a atenção.
O curso prepara para estados de reconexão, com o as-
pecto do ver/olhar que sai da dimensão de mercadoria
com os objetos vistos, e se alonga para os ambitos
Foto da autora invisíveis do mesmo. Através de 4 caminhos abre-se
a possibilidade de um olhar/sentir para as dimensões
As pessoas saem do Curso manifestando agradeci- profundas da compleição dinâmica da cidade:
mentos e se dizendo transformadas. De fato, tenho
Coração - caminhar em beleza - contemplar a
encontrado depoimentos, pós curso, de pessoas
natureza em si.
que dizem que, depois dele, suas vidas mudaram de
rumo. Umas voltaram a estudar, outros resolveram Perdidos e Achados - contemplar a relação do
mudar de emprego, para melhor qualidade de vida e humano com a natureza
de ser. Uma delas, ao acessar sua criatividade, re- Geometria Urbana - contemplar a estrutura
velou ter se dado conta de que já não cabia na casa fisica da cidade
Condição e Condução- Limites Sutis– contem-
307 | Arquiteta. Professora universitária e integrante do
corpo docente da UMAPAZ, falecida em 2011. plar a relação humana na cidade
238
4.7 Desenvolvimento do potencial cipar [...]. Foi isso, em última análise que tor-
criativo do educador transdisciplinar nou possível a linguagem e a autoconsciência
humanas. (MATURANA; VARELA, 2001, p. 195)
Curso desenvolvido e ministrado em parceria com
Regina Chiesa, do qual foram realizadas 3 turmas, Essa visão nos convida a ser um pouco mais com-
de 2010 a 2012. pletos, menos fragmentados, em nosso trabalho, em
nossa vida e em nosso destino. Caminhar criativamen-
A transdisciplinaridade, como nova abordagem edu- te pela arte é ter a possibilidade de concretizar, de
cacional, é um desafio em sua complexidade e na in- dar forma às sensações, sentimentos e imagens, am-
tenção da unidade do conhecimento. pliando a percepção. E ao ganhar concretude, podem
Em um momento planetário em que temos ao nosso transgredir, transformar e transcender (CHIESA,2004).
alcance todas as culturas mundiais, do passado e do A proposta é resgatar, no instante da criação, a
presente, faz-se necessário o desenvolvimento de um consciência corporal, intelectual e sensorial em cada
Ser Integrado e Integrador desses diversos universos. evento, seja ele de conhecimento, do fazer, do rela-
Wilber (2008) fala que a soma total do conhecimen- cionar-se ou de Ser.
to humano está hoje à nossa disposição, o conheci- A partir de Si próprio, o educador poderá levar a Arte/
mento, a experiência, a sabedoria e a reflexão de to- Integração para os processos educacionais em escolas
das as grandes civilizações pré-modernas, modernas comunidades e organizações, não como ferramenta,
e pós-modernas. mas sim como processo, que se refletirá em mudan-
A arte pode ser um caminho na construção dessa in- ças de comportamento. Novas experiências poderão
tegralidade, na medida em que propicia o revelar de contribuir na formação de um individuo mais integro e
dimensões mais profundas de Si e da Realidade. se refletir em uma sociedade mais sustentável.
A proposta do curso é desenvolver habilidades e de-
A observação da complexidade da percepção ao ex-
senvoltura no educador, para a aplicação da meto-
perimentar o ato criativo e os impactos na realidade
dologia transdisciplinar, à partir da própria experiên-
perceptiva das pessoas que os experienciaram pode
cia corporificada.
ser um primeiro passo no caminho para a amplia-
ção das dimensões dos sentidos gerando uma base
perceptual em que esse Ser que cria e define os des-
tinos, pode surfar na complexidade do Todo, se ali-
nhando com os processos da vida.
O sistema nervoso participa dos fenômenos
cognitivos de duas maneiras complementares.
A primeira – e mais óbvia, - ocorre pela am-
pliação do domínio de estados possíveis do or-
ganismo, que surge da imensa diversidade de
configurações sensório-motoras que o sistema
nervoso pode permitir. Essa é a chave de sua
participação no funcionamento do organismo.
[...] A segunda se dá pela abertura do organismo
para novas dimensões de acoplamento estrutu-
ral, ao possibilitar que ele associe uma grande
diversidade de interações em que pode parti-
240
CONTAR E OUVIR HISTÓRIAS
Maricy Elisabeth Montenegro308, Maria Cecília Martin Ferri309
Resumo Abstract
As histórias de tradição oral, carregadas da sabe- The stories of oral tradition, loaded the accumulated
doria acumulada de gerações podem ser veículos de wisdom of generations can be vehicles of values for
valores para as relações humanas e relações do ho- human relations and relations of man with nature.
mem com a natureza. Neste artigo são apresentadas This paper presents the activities of the Open Uni-
as atividades desenvolvidas na Universidade Aberta versity of the Environment and Culture of Peace -
do Meio Ambiente e Cultura de Paz – UMAPAZ, no UMAPAZ, from January 2008 to June 2012, relating
período de janeiro de 2008 a junho de 2012, referen- to the use of Narrative Art as a tool in promoting the
tes a utilização da Arte Narrativa como ferramenta Culture of Peace and Sustainability, as well as in use
na promoção da Cultura de Paz e Sustentabilidade, in the classroom for literacy and literacy focusing on
bem como na utilização em sala de aula para a al- the teacher as mediator of peace.
fabetização e letramento focalizando o professor Keywords: Narrative Art; storytelling; Culture of
como mediador da paz. Peace; Sustainability; Peaceful relations
Palavras-chave: Arte narrativa; Contação de Histó-
rias; Cultura de Paz; Sustentabilidade; Convivência
Pacífica
308 | Fonoaudióloga, Educadora da UMAPAZ, coordenadora dos cursos de contação de histórias e arte e sustentabilidade.
309 | Fonoaudióloga e Terapeuta Ramain. Atua na Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga e na Escola Nossa Se-
nhora das Graças. Palestrante da UMAPAZ.
242
fabetizando pela Paz” e a oficina “Roda de histórias tar Histórias e o Brincar na Construção da Cultura de
e brincadeiras em família”, ministrados pela fonoau- Paz e no Reencontro com a Natureza” visando pre-
dióloga Maria Cecília Martin Ferri. parar educadores e líderes em geral para que usem
o poder das histórias e do brincar para cultivar na
No curso “Quem conta um conto aumenta um pon-
mente dos jovens novos valores ambientais e pa-
to” uma oficina de linguagem estava em pauta inte-
cíficos. Propiciou aos participantes conhecerem (ou
grando várias áreas do conhecimento, favorecendo o
aprimorarem) conceitos, técnicas, sensibilidade e
desenvolvimento da comunicação oral/escrita dentro
repertório relativos ao ato de se contar histórias e
da cultura de paz e da sustentabilidade. Foi desenvol-
brincar. Através de narrativas, reflexões, dinâmicas
vido entre 2008 e 2010. Seu programa era destinado
e jogos, os participantes vivenciaram como estas
a educadores visando instrumentá-los para uma edu-
duas atividades podem contribuir na construção de
cação pacífica e criativa. Histórias contadas, canta-
uma cultura de paz e de uma nova consciência am-
das, desenhadas, em ciranda... Mobilizam memórias e
biental. Para os frequentadores dos Parques Colina
relações simbólicas e sem dúvida abrem as portas da
São Francisco e Previdência, Fabio Lisboa ministrou
aprendizagem, de modo afetuoso e significativo.
o curso “Danças Circulares e Histórias na Roda”:
O “Era uma vez e ainda é” deu continuidade ao curso dinâmicas com vivências práticas visando a desco-
anterior prestigiando a Arte Narrativa e intensificando berta de diferentes culturas e, ao mesmo tempo,
os afazeres artesanais coletivos, pois foram borda- aprofundando o autoconhecimento, sensibilizando
dos, de outubro/2011 a junho/2012, seis Tapetes de para integração e respeito ao meio ambiente e para
Histórias valorizando-se os contos de tradição oral. a construção de uma Cultura de Paz.
Os tapetes foram doados pela UMAPAZ às bibliotecas
Uma rica contribuição para as atividades de conta-
dos Centros de Educação Unificada – CEU Meninos e
ção de histórias foram os origamis, tradicional e se-
CEU Parque Bristol e ao Centro de Convivência e Co-
cular arte japonesa de dobrar o papel criando repre-
operativa da Vila Prudente buscando promover a arte
sentações de seres ou objetos. O origami é uma arte
narrativa no âmbito educacional e da saúde.
capaz de contribuir na socialização de grupos inter-
As “Rodas de Histórias e Brincadeiras em Família” ini- geracionais, que pode ser inserida em atividades di-
ciadas em abril/2012 foram criadas com a proposta rigidas a crianças e adultos, exercitando a paciência
de reunir o adulto e a criança favorecendo a comuni- e a concentração, estimulando o desenvolvimento
cação, a convivência pacífica e o respeito à infância e da afetividade, raciocínio, imaginação e criatividade,
ao meio ambiente. São resgatadas cantigas de roda, além de estimular a leitura e aproximação das crian-
histórias da tradição oral, brincadeiras ao ar livre ex- ças ao universo literário. Com o objetivo também de
plorando a natureza, além da reciclagem na confec- contribuir para o respeito à biodiversidade, à diversi-
ção de bonecos, fantoches e estandartes reciclando dade cultural e humana e ao incentivo da cultura de
materiais com arte e carinho, unindo pais e filhos. paz foram desenvolvidos os cursos para educadores
O Curso “Alfabetizando pela Paz” iniciado em 2011 e oficinas para frequentadores dos parques: “Conta-
propõe uma reflexão sobre a Alfabetização e Letra- ção de histórias com origamis”, “Oficina de Histórias
mento valorizando a supremacia da Palavra e o po-
der do educador como agente da Paz. e Letras Português-Inglês pela USP, Ludoeducador pela
IPA-Brasil – Associação pelo Direito de Brincar. Forma-
Ministrado pelo contador Fabio Lisboa311 aconteceu dor de Contadores de Histórias e Professores na UMA-
na UMAPAZ, com diversas turmas, o curso “O Con- PAZ e no Centro de Formação Profissional e Educação
Ambiental. Desenvolve projetos sobre o Contar Histórias
e o Brincar (e suas ligações com a educação ambiental
311 | Fábio Lisboa é Contador de Histórias, Autor, Pa- e a cultura de paz) e incentivo à leitura (em português e
lestrante. Graduado em Comunicação Social pela ESPM. inglês). Autor de: “O Mistério Amarelo da Noite”.
244
Realizar portfolios de A à Z colecionando e em minha língua. As palavras nomeiam o mundo e
estruturando palavras –chave relacionadas a nos constituem. Quanto mais palavras conhecermos
variadas áreas do conhecimento desenvolven- maior será o nosso universo vocabular. Se o ambien-
do assim um rico repertório cultural para os te familiar, escolar e comunitário for estimulador, ou
alunos. Além dos tradicionais portfolios sobre seja, recheado de conversas e oportunidades de ou-
brincadeiras e animais podemos valorizar inú- vir histórias as crianças ampliarão constantemente
meros aspectos da cultura brasileira e inserir seu repertório e paulatinamente serão encaminha-
temas da Cultura de Paz e da Sustentabilidade. das para a aquisição da leitura e escrita.
Promover a Arte Narrativa e valorizar as Desde muito cedo as crianças estão inseridas no
palavras-chave das histórias explorando-as mundo das letras, que estão em toda parte. Visuali-
através de atividades artísticas. Por exemplo: zam palavras escritas em rótulos de inúmeros produ-
podemos pintar o cenário da floresta de João tos consumidos no dia a dia, alimentos, brinquedos,
e Maria escrevendo seus nomes, bem como o em suas próprias roupas e calçados, nos panfletos
nome das árvores. publicitários, nos jornais de bairro, revistas, livros,
nas placas das ruas, nos outdoors... E a família deve
Realizar leituras diárias de livros contendo di-
chamar atenção para estas palavras, conversando,
ferentes estilos literários alimentando os alu-
lendo, e oferecendo papel e lápis para se rabiscar,
nos com a riqueza da língua portuguesa e sua
desenhar, recortar, pintar e aos poucos escrever.
estruturação gramatical.
Na escola, durante a Educação Infantil podemos
Promover situações de escrita espontânea
percorrer este mesmo caminho oferecendo boa lin-
encorajando e empoderando os alunos.
guagem através das rodas de conversa, canções,
Promover situações de leitura de memória histórias contadas e lidas, momentos de dramati-
incentivando a leitura de trechos musicais e zação, manipulação de letras, palavras em carte-
poesias já conhecidas pela turma. las, diferentes portadores de escrita. Aos poucos
as crianças são levadas a perceber que letra é som!
4. A trajetória do “Alfabetizando As palavras além se seus sentidos têm um formato
pela Paz” e as Contribuições da específico! A percepção desta conexão entre letra e
Arte Narrativa som é essencial para a alfabetização e deve ser ini-
ciada na educação infantil. De forma lúdica, através
O curso ”Alfabetizando pela Paz” foi elaborado para das brincadeiras e da arte narrativa vamos desper-
questionar as atuais posturas educacionais em sala tando nas crianças o interesse pela leitura e escrita
de aula clamando aos professores a retomada da Pa- e seus usos. Estas são experiências de letramento.
lavra que comunica e propicia o verdadeiro encontro
“O que o conceito de letramento traz é uma
entre o mestre e o aluno. A Palavra imbuída da cultura
ampliação do conceito de alfabetização, (...)
de paz, que nasce nas rodas de conversa e partilha.
tanto que hoje se fala muito em alfabetizar
E concomitantemente a Palavra encantada que nasce
letrando, ou seja, alfabetizar a criança num
do conto maravilhoso, veiculada pela Arte Narrativa.
contexto dos usos sociais reais da escrita. (...)
A palavra humanizou o homem, é o nosso diferen- Alfabetizar implica que a criança aprenda a
cial e melhor instrumento! Através da palavra da- codificar e decodificar, pois é um sistema in-
mos sentido às nossas vidas! A língua é rica em sons ventado, diferente da língua oral: o ser huma-
e idéias. Todos os gestos e tudo que eu faço estão no já nasce programado para falar. A escrita é
acompanhados de um pensamento ou de uma frase uma convenção. É uma ingenuidade achar que
246
O encadeamento da estrutura narrativa e todo o Em nossas aulas iniciávamos o dia na roda canta-
vocabulário veiculado estimulam sobremaneira a da, harmonizando nossas energias, de mãos dadas,
linguagem das crianças. Ao recontarem e dramati- dançando a Ciranda da UMAPAZ, composta em 2009
zarem o conto em suas brincadeiras estarão lucran- por Maria Cecília Martin Ferri, rogando por conscien-
do em diferentes níveis. Vejamos os comentários de tização e coragem:
Ana Maria Pelegrín, pedagoga argentina:
“El cuento y la poesía oídas, recitadas, pro-
CIRANDA DA UMAPAZ
porcionan al niño valiosos datos sobre la len-
gua materna.Reconocer las construcciones del Bem vindos amigos aos encontros na UMAPAZ!
idioma, las formas de lo hablado, las entona- Aqui estamos para confraternizar,
ciones que dan color a la palabra, el cambio
de significaciones según los sentimientos que pra refletir, conscientizar e transformar
expresan; la emoción y el aliento de la pausa, em prol da humanidade
la diferencia entre el relato de la acción y el
diálogo de los personajes, la estructura rít- e da mãe terra a girar!
mica del período sintáctico, la apoyatura de Ô violeiro, violeiro ó!
lo sonoro, las fórmulas rimadas, todo esto le
O som do teu violão
proporcionan a su memoria, el enlace con la
lengua como vehículo de expresión y comuni- alegra o meu coração!
cación.”( PELEGRIN, 2004, p.27 )
Ô violeiro, violeiro ó!
O curso “Alfabetizando pela Paz” foi ministrado neste
O som do teu violão
período a seis turmas: na UMAPAZ em 2011 e 2012,
no CEU Meninos, no Parque da Aclimação e no Parque é a mais pura emoção!
da Luz em 2011 e no CEU Bristol em 2012. Realiza- A vida
mos seis portfólios alfabetizadores: Brasil de A à Z;
Poesias de A à Z; Folclore Brasileiro, Palavras Indíge- embrulha a gente!
nas; Histórias de A à Z e Brincadeiras de A à Z e suas Esquenta, esfria,
avaliações sempre foram favoráveis demonstrando a
conscientização alcançada pelos professores. como diz Rosa!
248
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo
Educação como prática da liberdade. Editora Paz
e Terra. Rio de Janeiro, p. 96, 1980.
HAMPÂTÉ BA, Amadou. Petit Bodiel
ET autres contes de la savane. Paris: Stock, 1994,
p. 248 – aqui na tradução de Gislayne A. Matos
(2005).
MACHADO, Regina
Acordais - Fundamentos teórico-poéticos da arte
de contar histórias. Editora Difusão Cultural do
Livro. São Paulo, p. 23, 24 e 29, 2004
PASSERIINI, Sueli Pecci
O Fio de Ariadne. São Paulo: Antroposófica, p. 13,
1998.
PELEGRÍN, Ana Maria
La aventura de oír. Editora Anaya. Madrid, p.27,
2004.
SOARES, Magda
Guia da Alfabetização, Editora Segmento. São
Paulo, p.8, 2004.
Resumo Abstract
Este artigo tem como objetivo apresentar a experiên- This article aims to present the experience of the
cia da parceria realizada entre UMAPAZ – Universida- partnership between UMAPAZ - Open University of
de Aberta de Meio Ambiente e Cultura de Paz e o Par- the Environment and Culture of Peace and Park Li-
que Lions Clube Tucuruvi de 2008 a 2012. O trabalho ons Club Tucuruvi, from 2008 to 2012. The work of
da equipe de funcionários do parque foi pautado na the staff of the park was founded on the premise of
premissa de aliar cultura, meio ambiente e bem estar, combining culture, environment and well-being in
em um espaço público onde todos têm acesso físico a public space where everyone has physical access
e, principalmente, acesso à participação, onde pos- and, particularly, access to participation, where they
sam caminhar, fazer exercícios, passear, contemplar a can walk, exercise, stroll, contemplate landscape,
paisagem, apreciar exposições, ler um bom livro e/ou enjoy exhibitions, reading a good book and / or at-
participar de cursos, oficinas e eventos. É nesse con- tending classes, workshops and events. It is in this
texto que as ações voltadas para a formação ganham context that the actions for the training are high-
destaque no planejamento das atividades, passando lighted in planning activities, going to provide re-
a propiciar reflexões relativas a diversidade cultural flections on cultural and human diversity, ecological
e humana, a integridade ecológica, a biodiversidade integrity, biodiversity and culture of peace through a
e a cultura de paz por meio de uma trajetória que path that runs through the courses gardening weav-
perpassa pelos cursos de jardinagem, entrelaçando ing workshops of arts in the middle circle dances, al-
as oficinas de artes em meio as danças circulares, ways with a focus on environmental education with
tendo sempre como foco a educação ambiental com emphasis on a methodology based on coexistence
ênfase em uma metodologia baseada na convivência and mutual respect. Below is a brief history of the
e no respeito mútuo. A seguir apresentamos um breve park, the function of public parks and green areas
histórico do parque, a função dos parques públicos e and the reporting of action developed in the Park
áreas verdes e o relato da ação desenvolvida no Par- during this period.
que durante este período. Keywords: environmental education, public park,
Palavras-chave: educação ambiental; parque pú- culture and environment, cultural diversity, human
blico; cultura e meio ambiente; diversidade cultural; diversity.
diversidade humana.
250
1. Introdução radores do entorno com destaque para o grande nú-
mero de apartamentos dos Conjuntos Habitacionais
O Parque Lions Clube Tucuruvi, está localizado na do IPESP. A população residente nas imediações do
Zona Norte de São Paulo, no distrito de Tucuruvi. Parque é de 31.232 pessoas de acordo com o Censo
Originalmente era uma das áreas livres do empre- Demográfico 2000/IBGE. As escolas públicas próxi-
endimento executado pelo Instituto de Previdência mas atendem cerca de 6.000 estudantes do Ensi-
do Estado de São Paulo-IPESP, entre 1951 e 1952 no Infantil, Fundamental I e II, Médio e Suplência,
em terras de sua propriedade no Tucuruvi, o qual re- respectivamente EMEI 9 de Julho, Escola Estadual
cebeu a denominação de Jardim Leonor Mendes de Professor Rafael de Moraes Lima, Escola Estadual
Barros. O projeto de loteamento previu diversas áre- Dr. Alberto Cardoso de Melo Neto e Escola Estadual
as verdes públicas, três com superfícies em torno de Professor Leônidas Paiva.
1,5 e 2,0 hectares, sendo uma situada nas margens
Áreas verdes podem ser definidas como espaços
do ribeirão Tremembé e as outras duas sobre linhas
abertos com cobertura vegetal, tendo função eco-
de drenagem tributárias daquele ribeirão. A maior
lógica, estética, de lazer e com uso diferenciado.
destas duas com 23.700 m2, recebeu tratamento
Entretanto com uma extensão maior que as praças
passando a se chamar Praça Lions Clube, ficando
e jardins públicos, estando integrados no tecido ur-
sob responsabilidade da Administração Regional de
bano aos quais a população tem acesso.
Santana até 1987, quando foi transferida para o De-
pave. Foi inaugurado em 19 de julho de 1987 e pas- As definições de “área verde” variam conforme o
sou a ser denominado Parque Municipal Lions Clube ponto de vista do pesquisador ou do público que a
Tucuruvi (Bartalini, V. 1999). utiliza:
Possuindo uma área relativamente pequena, o par- aspectos estéticos: combinações de formas
que conta com 02 quadras futebol salão e 01 qua- e cores da vegetação, arbustos educados por
dra de areia, academia de musculação, playground, podas drásticas para formar figuras além de
churrasqueiras, jardins franceses, pista de caminha- canteiros floridos;
da e uma área de convivência na qual a comunidade
aspectos sociais: consideram o uso como tri-
pode usufruir de um bom acervo de livros para em-
lhas para caminhadas, bancos para descanso,
préstimo, pesquisa e leitura rápida. São 23.700 me-
play-grounds, espaços para manifestações
tros quadrados de área à disposição da comunidade,
artísticas e outras atividades recreativas;
aberta diariamente das 06:00 às 18:00 horas. A ve-
getação é composta por quaresmeiras, sibipirunas, aspectos ecológicos: microclima mais ameno
patas de vaca, ipês, amoreiras, gerivás, pau brasil, e despoluído, aumento do teor de umidade e
entre outras árvores e arbustos, gramados e herbá- de oxigênio e ainda, pode servir de corredor
ceas. Pássaros como sabiás, periquito rico, alma de para fauna;
gato, bentevi, sanhaços, chopin, joão de barro, beija aspecto educacional: local muito apropriado
flor, tucano e pica pau são visitantes constantes do para a realização de atividades de educação
parque, contando também com visitas esporádicas ambiental, acolhimento de escolas e creches,
de bugios e saguis. pontos multiplicadores de Agenda 21 e locais
A estimativa da freqüência de usuários aponta cer- ideais para atividades esportivas315.
ca de 400 freqüentadores diariamente (2ª a 6ª feira)
e aproximadamente 1.200 usuários aos sábados e 315 | Trechos do artigo: Bem Estar, Cultura e Meio Ambien-
1.500 usuários aos domingos. É importante relatar- te Ação do Parque Lions Clube Tucurvi de Ieda Januário
Varejão e Luciana Pacca – Parques urbanos: preservação e
mos que grande parte dos freqüentadores são mo- lazer nas áreas públicas, Ecopefi –SP : Planetaterra, 2009.
252
olhar para o meio ambiente estivessem presentes e estudantes. O acervo atual conta com cerca de
em seu cotidiano. aproximadamente 5.000 livros, os quais passaram
A importância do Parque Lions Clube do Tucuruvi por uma triagem visando a implantação do “Bosque
para a comunidade do entorno (número significativo, da Leitura” em parceria com a Secretaria Municipal
dada a grande presença de construções verticaliza- de Cultura em dezembro de 2010. O Bosque da Lei-
das/prédios IPESP) e as constantes visitas dos es- tura oferece ambiente cultural alternativo em par-
tudantes das escolas públicas das imediações, ora ques da cidade, incentivando a leitura, facilitando o
antes da entrada, ora depois da saída, faz com que acesso à informação e estimulando a aprendizagem
o parque faça parte da vida desta população. Cabe contínua dos cidadãos. Com um acervo de literatu-
citar as falas de funcionários antigos das escolas e ra, informação e lazer, funcionando no Parque Lions
moradores ao se referirem ao Parque: ...“na praci- Clube Tucuruvi inicialmente todos os domingos e
nha”.... A definição como pracinha nos remete a ori- posteriormente o atendimento foi ampliado tam-
gem do Parque carregada de afeto, é o parque como bém para os sábados das 9h30 às 16h, atendendo
parte da memória histórica do bairro. crianças, jovens, adultos e idosos que frequentam
o parque.
O zelo demonstrado pelos usuários para com os li-
vros, uma vez que a devolução é espontânea, sur-
preende; a respeitabilidade pelo patrimônio seja ele 2.2 Exposições Fotográficas Temáticas
um livro, um banco, uma poesia exposta, uma foto Desde a comemoração de 19 anos do Parque, em
ou as próprias dependências do Parque, refletem a julho de 2006, são organizadas exposições sobre
construção de um processo natural de coletividade, diferentes temas. Desde 2009 as exposições foram
cidadania, e conseqüentemente a noção de pertenci- ampliadas realizando mostras de Grafitti, aquarelas,
mento para com o espaço por parte dos estudantes óleo sobre tela e pintura a tempera e outras técnicas
e freqüentadores. de pintura.
Exposições já realizadas: Mãos que Trabalham do
2. Programação do Parque Lions fotógrafo: João Luis de Brito Neto; Imagens Musi-
Clube Tucuruvi cais do fotógrafo Marco Aurélio Olimpio; O Intimo
Com o objetivo de fortalecer tais procedimentos, a da Primavera da fotógrafa Sylvia Volpi; Aprendiz
programação do Parque passou a ser composta pe- de Sonhador do fotógrafo Douglas Mansur; Ne-
las seguintes atividades: gra Melodia do fotógrafo Marco Aurélio Olimpio;
Atlas Ambiental do Município da Cidade de São
Paulo – Mapas Cidade de São Paulo; História das
2.1 Acervo Comunitário de Livros Escolas de Samba com Cartum e Caricaturas;
É um acervo diversificado voltado para todas as fai- Mulheres Que Fizeram História fotos e cartões;
xas etárias (infanto juvenil e adulta), com revistas, Meio Ambiente: Um Olhar sobre Córregos, Água,
livros didáticos para a pesquisa local e também Lixo e Energia e Consciência Negra expositores
para empréstimo, visando assim estimular e pro- alunos da 6ª séries E e F, 7ª e 8ª da Escola Esta-
pagar o hábito da leitura. A readequação do espaço dual Professor Leônidas Paiva sob orientação da
físico, com a abertura de uma sala especialmente Profª Mônica Costa; Parque Lions Clube Tucuruvi
destinada ao acervo otimizou e qualificou a área de 20 Anos: Um Olhar na Paisagem Exposição come-
convivência, tornando-a um espaço aconchegante morativa Aniversário do Parque; Brasilidade dos
aliado à opção de bons livros para a leitura diária, alunos da Oficina de Fotografia da Fundação Gol
além de ser um ponto de encontro para usuários(as) de Letra; Os Horizontes da Fotografia – Memória
254
2.7 Atividades Livres 3.1 Jardinagem e horticultura
São as atividades esportivas realizadas esponta- A Escola Municipal de Jardinagem realiza a primeira
neamente pelos usuários(as) das diversas faixas turma do curso de jardinagem em dezembro de 2008,
etárias, tais como caminhada, futebol, tênis, voley, na sequencia em abril de 2009, as Danças Circulares
ginástica e recreação no playground. passam a fazer parte da programação semanal do
Parque Lions Tucuruvi. A partir deste momento am-
2.8 Aulas Abertas, Oficinas, Cursos e plia-se dentro desta mesma perspectiva a realiza-
Eventos ção de vários projetos por meio de Oficinas e Cursos
em parceria com a UMAPAZ, sendo que no segundo
Visando aliar a prática de exercícios físicos ao bem semestre (julho a dezembro) de 2009 é implantado o
estar e a qualidade de vida, nossa intenção aqui foi Projeto: Artes no Parque.
de esclarecer de que a saúde do planeta influencia di-
O trabalho proposto em conjunto com a Escola Mu-
retamente a saúde do ser humano e que o bem estar,
nicipal de Jardinagem, sob a coordenação de Cristi-
a saúde e a cultura aliadas, podem vir a proporcio-
na Araújo, realizou mais uma turma do mini-curso de
nar uma reeducação, uma nova visão e consequente-
Jardinagem em outubro de 2009. Em 2010, os cursos
mente uma mudança comportamental. Dentro dessa
ótica foi implementada esta ação, na comemoração e oficinas se intensificam e passam também a serem
do 19º Aniversário do Parque em 19 de Julho/06, com realizados aos sábados e domingos por solicitação
a realização de Aulas Abertas de Yoga e Dança Tera- do público interessado e ofertadas oficinas práticas
pia, ministradas pelos professores do Instituto Neo- com carga horária de 3 horas. No levantamento rea-
Humanista Sada Shiva. Assim como a parceria com a lizado até o final de 2011, apontamos 37 turmas com
Unidade Básica de Saúde do IPESP, a qual ministrou 955 participantes (Mini-cursos de Paisagismo, Jardi-
aulas de Exercícios Chineses “Liang Gong” e Dança nagem e Horta, Oficinas de: Como Cuidar de Plantas
Circular para os(as) usuários(as) do parque. No ini- dentro de Casa, Ervas Aromáticas em Jardineiras,
cio de 2007 implantamos a oficina de Recreação em Terrário, Orquídeas, Montagem Canteiros, Uso de
parceria com a Secretaria de Participação e Parceria forrações em Jardins, Controle de Pragas e Doenças,
(Contação de Histórias, Yoga e Jardim Sensorial de Aprenda a Podas suas Plantas, Como Adubar suas
Plantas Medicinais, Aromáticas e Codimentares). Em Plantas, Compostagem Orgânica e Minhocário).
2009 realizamos Oficinas de Cultivo de Orquídeas em No 1º semestre de 2012 foram realizados entre mini-
parceria realizada com a SOCAN e os Espetáculos cursos e oficinas o Curso Prático de Horta com carga
Teatro nos Parques fruto da parceria da SVMA com a horária de 30 horas, totalizando 18 cursos/oficinas
Cooperativa Paulista de Teatro. com 322 participantes. Assim nestes anos de parce-
ria foram realizados pela Escola de Jardinagem 59
3. A parceria com a UMAPAZ turmas e atendidos 1277 alunos.
O relato da experiência em parceria com a UMAPAZ, Dentre os aspectos positivos, observou-se um au-
que tem o intuito de propiciar reflexões relativas a di- mento crescente das participações de moradores
versidade cultural e humana, a integridade ecológica, das mais diferentes regiões da cidade à procura de
a biodiversidade e a cultura de paz por meio de uma cursos e oficinas na área de jardinagem (ex.: Itaque-
trajetória que perpassa pelos cursos de jardinagem, ra, Butantã, Vila Maria, Mairiporã, Osasco) e conti-
entrelaçando-se às oficinas de artes em meio as dan- nuamos garantindo a meta de atender no mínimo
ças circulares, tendo sempre como foco a educação 15 alunos por turma, número superado em todas as
ambiental, tem seu início em dezembro de 2008. oficinas e cursos realizados.
256
Módulo I e II - Vivenciando os Elementos da Natu- Poesias e otimizar o Acervo Comunitário de Livros, o
reza de Forma Lúdica e Cultura Brasileira (Mestre Curso atingiu o seu objetivo movimentando a criati-
Vitalino): vidade dos participantes e a produção de releituras
e produções de poesias dentro de uma nova ótica
Participaram destas Oficinas os alunos das escolas
estética e espacial. Utilização de chapas de RaioX.
da rede municipal e estadual de educação infantil
Total de 25 inscrições na faixa etária de 16 à 84 anos.
“Nove de Julho” e ensino fundamental “Rafael de
Moraes Lima”, ambas localizadas no entorno do Modulo IV - Projeto Arte em Família:
parque e já parceiros em outros projetos de edu- “... A família humana como partícipe de um destino
cação ambiental. As oficinas propiciaram que as comum, constituído nas relações entre seus membros
crianças tivessem acesso as informações do “fol- e com outros seres vivos.” é uma das três dimensões
clore” da cultura brasileira com a vivência e ma- que a UMAPAZ busca articular em sua programação.
nuseio da argila ao som da Banda de Pífaros de
Caruaru, tendo como referência o Mestre Vitalino Na intenção de serem promovidas atividades para
e experimentassem diversos pigmentos da natu- a interação das famílias que freqüentam o espaço
reza e texturas diferenciadas para colagem. Foram e para que estas desfrutassem de momentos agra-
atendidas no total 166 crianças. dáveis e de descontração, foram realizadas oficinas
de artes uma vez por mês aos domingos nos meses
Figura 25: Oficina Modelagem com Argila. julho, agosto, setembro, outubro e novembro e de-
zembro de 2009, totalizando 06 encontros com cerca
de 230 participantes.
Foram propiciadas situações para sensibilizar o
olhar para com a Natureza e para com os materiais
que descartamos, que não são efetivamente lixo, e
que podem ser transformados em matéria prima.
Estas atividades tiveram uma proposta ecológica
demonstrando que é possível confeccionar ótimos
trabalhos por meio de materiais reutilizados que
descartamos no cotidiano e proveniente da própria
natureza (folhas de árvores, sementes, terra, fibras,
pétalas entre outras matérias natuaris). Em todos
os encontros a única contrapartida para participação
foi trazer os materiais reciclados para o manuseio
nas oficinas (ex.: rolinhos de papel, sacolas, tampi-
nhas variadas e etc).
Crédito: Ieda Varejão Avaliamos também como positiva a referência que as
famílias e as crianças passaram a ter do parque como
Módulo III - Linguagens Plásticas e Poéticas: um espaço educativo devido à presença da Oficina;
Experimentação plástica após leituras de poesias de sendo assim uma importante contribuição para es-
Florbela Espanca, Clarisse Lispector, Cecília Meire- tabelecer vínculos, ampliar e fortalecer a convivência
les Alberto Caeiro, João de Cabral de Mello Neto, familiar. Destaque para a participação, chegando em
entre outros. Com o objetivo de aprimorar o Varal de alguns domingos a ultrapassar 60 pessoas.
258
4. Desdobramentos Tai Chi - Coordenação UMAPAZ Suely Bassi,
(atualmente na 2 ª Edição – 2011, 2012)
Com o sucesso do Programa Dançando nos Parques e
Curso Verde em Acão – Coordenação UMAPAZ
do Projeto Artes Parque, ambos realizados em 2009,
propusemos a sua continuidade para 2010, frente a Débora Pontalti e Lia Salomão, Março/Abril
avaliação positiva e ao aumento crescente da adesão 2010
e procura da população residente no entorno do par- Contação de Histórias com Origami – Coor-
que e região nas diversas atividades propostas. Res- denação UMAPAZ Marcia Moura, 02 Turmas/
saltamos que os usuários das diversas faixas etárias Períodos: Agosto a Novembro 2010 e Março,
utilizam o parque também como ponto de encontro Abril e Maio 2011
e de pesquisa, tendo em vista o Acervo Comunitário
de Livros, o Hall de Exposições e o Varal de Poesias, Figura 28 : Contação de Histórias com Origami.
sempre presentes na área de convivência.
Assim a proposição do projeto “Saúde, Paz e Equilí-
brio” e ampliação do projeto “Diversidade Cultural e
Humana por meio da Arte”, incluindo na programa-
ção a Contação de Histórias, a qual tem como obje-
tivo o estímulo à leitura, a criatividade, ao lúdico por
meio das histórias, onde a preservação do ambiente
(histórias sobre utilização e conservação da água,
tradições indígenas, planeta terra, cultura popular
mitos e lendas e afins), passam a ser prioridade, pois
transmitem uma visão critica sobre a ação do ho-
mem na natureza, podendo contribuir com o desen-
volvimento da consciência cidadã desde pequeninos.
Crédito: Ieda Varejão
O impacto inicial desta oficina para o fortalecimento
do espaço da Casa de Leitura do Parque, que abriga Dançando Histórias no Parque – Coordenação
um acervo de livros com cerca de 5000 exemplares, UMAPAZ Estela Gomes, 03 Turmas: Dezembro
foi primordial para torná-la um local mais aconche- 2010, Março 2011, Abril 2011
gante aliado sempre à opção de bons livros e as ati-
vidades culturais de qualidade. Curso Vivencias com a Natureza - Aprendiza-
do Sequencial, Coordenação UMAPAZ/ Marcia
A continuidade da parceria com a UMAPAZ fez com Moura – Abril e Maio 2011
que o Parque Lions Clube Tucuruvi se torna-se na
região norte um polo de formação na área de educa- Curso Mandalas da Natureza – Coordenação
ção ambiental, tendo sido ministrados no período de UMAPAZ Maricy Montenegro, Maio 2011
março de 2010 até junho de 2012, cerca de 13 cursos/ Curso Lições da Árvore - Coordenação UMAPAZ
oficinas e 02 programas continuos (abaixo descritos) Débora Pontalti e Lia Salomão, Outubro/No-
totalizando 2051 participantes. vembro 2011
Danças Circulares - Coordenação UMAPAZ Es- Curso O Território do Olhar – Fotografia Con-
tela Gomes, (atualmente na 4 ª Edição – 2009, templativa, Coordenação UMAPAZ Nadime
2010, 2011, 2012) Boueri - Abril 2012
Lian Gong – Coordenação UMAPAZ Rose Inojo- Roda de Histórias em Família - Coordenação
sa, Setembro/Outubro/Novembro 2010 UMAPAZ Maricy Montenegro, Abril e Maio 2012
260
ao perfil do profissional/facilitador responsável pela Referência bibliográfica
atividade desenvolvida.
Avaliamos que um dos fatores que contribuiram MANTOVANI, M.S.M e GLEZER, R (0rgs)
para o número significativo de participantes em to- Parques Urbanos: preservação e lazer nas areas
das as atividades ofertadas pelo Parque foi a ampla públicas; Programa Mutisetorial ECOPEFI,-- São
divulgação por meio de cartazes nos condomínios Paulo: Planetaterra,2009
do entorno, equipamentos públicos e Instituições
(UBS, Escolas, Igrejas e afins), mailing/mala direta
do Parque reforçados pelo mailing UMAPAZ e prin-
cipalmente a parceria estabelecida com os veículos
de comunicação da região, através das chamadas/
matérias em jornais e revistas de bairro, Site Portal
Prefeitura, além da conhecida e eficiente propagan-
da “boca a boca”.
Este “projeto” foi realizado na gestão das seguin-
tes administradoras do Parque Lions Clube Tucuru-
vi, respectivamente Luciana Pacca (2006), Natacha
Prospero (2007/2010) e Camila Dias Carvalho (2011
a agosto de 2012), sob a coordenação de Ieda Janu-
ário Varejão (Coordenadora de Cultura e Educação
Ambiental Parque Lions Clube Tucuruvi no periodo
de junho 2006 a junho de 2007 e de janeiro de 2008
a outubro de 2011).
Resumo Abstract
Este texto apresenta e comenta um programa inter- This paper presents and discusses a intersectoral
setorial, o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis program, the Programa Ambientes Verdes e Sau-
(PAVS). Esse programa foi inicialmente desenvolvi- dáveis (Green and Healthy Environments Program)
do por iniciativa da Secretaria Municipal do Verde e - PAVS. This program was initially developed on the
Meio Ambiente em articulação com o Programa das initiative of the Municipal Green and Environment
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), de Department in conjunction with the United Nations
2005 a 2008, com o objetivo de fortalecer a gestão Environment Programme (UNEP), 2005 to 2008,
intersetorial em questões ambientais com impacto with the aim of strengthening intersectoral manage-
sobre a saúde da população. Tecida a articulação ment on environmental issues impacting population
com a Secretaria Municipal de Saúde e uma rede de health. With coordination of the Municipal Health
parceiros, foi realizada a capacitação de 5 mil agen- Department and a network, was held to train 5000
tes comunitários de saúde. A partir de setembro de community health workers. From September 2008,
2008, a Secretaria Municipal da Saúde incorporou o the Municipal Health Department has incorporated
PAVS como um Programa na Estratégia Saúde da the PAVS as a Program in Family Health Strategy, by
Família, na Coordenação da Atenção Básica. Nu- the Coordination in Primary Care. Numerous environ-
merosos projetos socioambientais vêm sendo de- mental projects are being developed with this new
senvolvidos com esse novo olhar pelas equipes das look by teams of health facilities, demonstrating the
unidades de saúde, demonstrando a potência do tra- power of the work of community health workers in
balho dos agentes comunitários de saúde nas ações the promotion and protection of population health,
de promoção e proteção da saúde da população, com with a focus on intersectionality
foco na intersetorialidade Keywords: environment and health, health promo-
Palavras-chave: meio ambiente e saúde; promoção da tion, intersectoral, local action; family health
saúde; intersetorialidade; ação local; saúde da família.
262
1. No início, um projeto onde se definiram: abordagem pedagógica, conteú-
dos, materiais educativos, formas de comunicação e
O Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis: Construin- processo de avaliação.
do Políticas Públicas Integradas foi desenvolvido,
no período 2005-2008, por iniciativa da Secretaria A capacitação desenvolveu-se em 108 salas de
Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA) em ar- aula distribuídas em todas as regiões da cidade,
ticulação com o Programa das Nações Unidas para abrangendo carga horária de 128 horas. Foram ca-
o Meio Ambiente (PNUMA), com o objetivo de forta- pacitados 5.000 Agentes Comunitários de Saúde e
lecer a gestão intersetorial em questões ambientais 170 Agentes de Proteção Social, contando para isso
com impacto sobre a saúde da população, envolven- com 80 professores em tempo integral e 12 espe-
do a promoção de atitudes voltadas à preservação, cialistas que propiciaram apoio e preparação destes
conservação e recuperação ambiental e a promoção professores.
e proteção da saúde da população. Contou com re- No primeiro semestre da capacitação (2007), Fase
cursos da Prefeitura do Município de São Paulo, Ban- 1 do PAVS, os agentes tiveram a oportunidade de
co Interamericano de Desenvolvimento (BID), Minis- adquirir conhecimento sobre uma série de questões
tério da Saúde (MS) e PNUMA. referentes à relação entre meio ambiente e saúde,
Nesta perspectiva, foi firmado um compromisso en- com foco dirigido aos seus respectivos territórios.
tre a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, Buscando desenvolver o processo dentro de uma
Secretaria Municipal da Saúde e Secretaria Municipal concepção de Educação que se constituísse em ele-
de Assistência e Desenvolvimento Social pactuando mento gerador de novas formas de conceber o mun-
uma agenda integrada com enfoque no desenvolvi- do, para nele atuar, o PAVS preconizou uma capa-
mento de políticas de saúde e meio ambiente, tendo citação por meio de metodologia problematizadora
como eixo o fortalecimento da intersetorialidade no com os seguintes pressupostos: a educação como
nível local. um processo contínuo e permanente de transforma-
O projeto foi planejado com vistas a dois resultados ção e humanização de sujeitos e processos; a edu-
complementares. cação como um processo integral do indivíduo nas
dimensões ambiental, cultural, social, econômica,
O primeiro deles, a capacitação dos Agentes Comu-
política e de saúde; a realidade local e regional como
nitários de Saúde (ACS), Agentes de Proteção Social
ponto de partida para as intervenções; a construção
e Agentes de Controle de Zoonoses, atores impor-
coletiva e integrada dos conhecimentos, saberes e
tantes para a melhoria das condições de saúde e
práticas dos diferentes atores envolvidos e o plane-
meio ambiente de áreas vulneráveis, em decorrência
jamento das ações de forma democrática e partici-
de seu trabalho junto à população da cidade. As ca-
pativa, com o controle social das intervenções.
racterísticas de atuação desses agentes locais re-
vestem esses profissionais de grande importância na As temáticas ambientais estratégicas abordadas fo-
implementação do projeto, pelo seu potencial multi- ram: (1) Lixo; (2) Água e energia; (3) Biodiversidade;
plicador na promoção da saúde no território em que (4) Convivência saudável com os animais e Zoono-
atuam e vivem. ses, (5) Consumo responsável e (6) Cultura da Paz e
não-violência.
O desenvolvimento deste objetivo contou com a par-
ticipação das Instituições Parceiras da Estratégia No semestre seguinte desta capacitação (2008), a
Saúde da Família da Secretaria Municipal da Saúde. Fase 2 do PAVS, foram desenvolvidas competên-
Foram realizadas diversas oficinas regionais de pla- cias para identificação e priorização de problemas
nejamento, envolvendo mais de 300 profissionais, ambientais com impacto na saúde e preparação de
projetos de intervenção nestes mesmos territórios. e propostas para a proteção, conservação e recupe-
Foram elaborados de forma participativa, neste pe- ração das bacias hidrográficas dos mananciais que
ríodo, cerca de 400 projetos socioambientais, tais abastecem o Município de São Paulo, estudos e pro-
como: organização de coleta seletiva, coleta de postas de gestão dos parques urbanos).
óleo, oficinas de educação ambiental, revitalização
2. Hoje um programa
de praças e calçadas, oficinas de cultura de paz,
plantio de mudas árvores e hortas, oficinas sobre Finalizado o processo de capacitação dos Agentes
energia solar, agenda ambiental na administração Comunitários, a partir de setembro de 2008, a Se-
pública – A3P, dentre outros. cretaria Municipal da Saúde ousou ao enfrentar um
grande desafio na construção da agenda integrada
O segundo resultado foi o fortalecimento técnico dos
saúde e meio ambiente. Incorporou o PAVS como um
processos de gestão das políticas públicas ambien-
Programa na Estratégia Saúde da Família, na Co-
tais no Município de São Paulo, no que diz respeito
ordenação da Atenção Básica, com a percepção de
ao aprimoramento dos sistemas de informação e à
estimular novas práticas de Promoção de Saúde no
qualificação dos gestores das políticas públicas de
nível local e fortalecer a capilaridade das ações dos
saúde e meio ambiente, conduzindo-os à formulação
Agentes Comunitários de Saúde nos seus territórios.
e implementação de uma agenda de ações interse-
toriais e interinstitucionais voltadas à redução dos Fomentar a abordagem das questões socioambien-
riscos ambientais que ameaçam a saúde da popula- tais no âmbito das ações de promoção realizadas
ção paulistana. pelas equipes da Saúde da Família contribui subs-
tancialmente para a consolidação de uma concepção
Contou também com uma série de Instituições Parcei-
de saúde e meio ambiente mais abrangente, com
ras, cada uma nas suas respectivas áreas de conhe-
evidência para os determinantes sociais do processo
cimento e experiência, como ICLEI – Governos Locais
saúde doença.
para Sustentabilidade (políticas públicas na área de
compras sustentáveis e do clima); FIOCRUZ – Funda- Nesta perspectiva, o PAVS desenvolve nas unida-
ção Oswaldo Cruz (metodologia de estudo do territó- des de saúde ações estratégicas na construção de
rio e de priorização de problemas de meio ambiente Ambientes Verdes e Saudáveis, tendo como pres-
e saúde); IBEAC – Instituto Brasileiro de Estudos e supostos e diretrizes: fortalecimento das ações de
Apoio Comunitário (comunicação interna e externa do Promoção da Saúde; construção de uma agenda de
Projeto), FLACSO – Faculdade Latino-Americana de ações integradas saúde e meio ambiente; proble-
Ciências Sociais (apoio à coordenação geral e admi- matização, contextualização e reflexão da realida-
nistrativa do projeto); CEPEDOC/FSP-USP – Centro de vivenciada; sustentabilidade das intervenções no
de Estudos, Pesquisa e Documentação em Cidades território; o fortalecimento da intersetorialidade e
Saudáveis/ Faculdade de Saúde Pública da Univer- interdisciplinaridade; a promoção de uma cultura de
sidade de São Paulo (avaliação e retroalimentação paz e não violência; a disseminação e construção do
do projeto); ISA – Instituto Socioambiental (estudos conhecimento em uma visão sistêmica; contribuição
264
para redução dos impactos ambientais; empodera- Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz-UMAPAZ/
mento e efetiva participação da comunidade; reco- SVMA, abordando temáticas diversas pertinentes ao
nhecimento da interdependência dos seres da natu- programa, buscando-se o aprimoramento das infor-
reza; participação dos atores e cogestão. mações, a qualificação do quadro de gestores, o in-
tercâmbio de vivências, a humanização dos proces-
Dando continuidade a este processo, a SMS avan-
sos e a integração entre os diversos atores.
çou para a 3ª Fase do PAVS, a de gestão de projetos
socioambientais. Estruturou em articulação com as Em um desses Encontros Técnicos, a diretora da
Coordenadorias Regionais de Saúde e Instituições UMAPAZ, Rose Marie Inojosa, enfatizando a interse-
Parceiras uma equipe de coordenação composta por torialidade no PAVS, falou:
3 técnicos de nível central e 49 gestores ambientais,
“Cada vez mais pessoas compartilham a vi-
sendo 6 regionais e 43 locais, que definem as diretri-
são de que, para alcançar resultados trans-
zes, monitoram e avaliam a execução do programa.
formadores, capazes de promover saúde am-
Além disso, desenvolveu uma proposta ousada, in- biental e social, é preciso que os diferentes
corporando novos atores na rede básica: os Agentes atores sociais se articulem, realizando ações
de Promoção Ambiental (APA). Estes profissionais, cooperativas. Isso vale para as relações en-
com atribuições específicas para fomentar os proje- tre os setores público, privado e terceiro
tos socioambientais junto aos Agentes Comunitários setor e, também, para as relações entre as
de Saúde e suas equipes, contribuem para ampliar e instituições organizadas por setores do sa-
consolidar a atuação intersetorial e a participação ber ou de corporações, como saúde, educa-
social nas áreas de abrangência das equipes da Saú- ção, habitação, transportes, etc. Essa visão
de da Família. começa a permear, também, as organizações
do Estado, tradicionalmente organizadas por
O programa desenvolve um contínuo processo de
setores e com uma estrutura hierárquica pi-
capacitação dos ACS e dos APA, para apropriação,
ramidal, que tende a aprofundar a separação
reconhecimento socioambiental e sustentabilidade
e estimular a competição entre os setores,
das intervenções no território, com uma concepção
por verbas e outras formas de poder.(...) In-
de educação que se constitui elemento gerador de
tersetorialidade é a articulação de saberes,
novas formas de conceber o mundo para nele atuar,
experiências e poderes no planejamento, rea-
compreendendo o sujeito como pleno de possibilida-
lização e avaliação de políticas, programas e
de, inacabado, complexo e singular.
projetos dirigidos a uma comunidade e a gru-
Nesse processo, tem sido fundamental considerar pos populacionais, num dado espaço geográ-
a valorização do conhecimento prévio dos agentes fico, com o objetivo de atender as suas ne-
comunitários de saúde, o favorecimento do pensa- cessidades e expectativas de forma sinérgica
mento crítico, reflexivo e contextualizado, o forta- e integrada.Porém, para que seja possível
lecimento da participação, do diálogo e da proble- viabilizar essa articulação é necessária gran-
matização da realidade vivenciada tanto por esses de disposição para cooperar e clareza de ob-
atores quanto pela população desses territórios jetivos comuns.O Programa Saúde da Família
onde eles vivem e atuam. e o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis
Com o objetivo de fortalecer a gestão dos projetos são excelentes exemplos da viabilidade de
no território, o PAVS desenvolve um processo de trabalhar intersetorialmente e da potência
educação continuada com todos os gestores regio- dessa ação cooperativa para conseguir bons
nais e locais, promovendo Encontros Técnicos e/ou resultados para a saúde da população. Além
Fóruns PAVS mensais, com o apoio da Universidade de trabalharem com a articulação entre o se-
266
Tabela 4: Balanço dos projetos do PAVS.
EIXOS TEMÁTICOS
Centro-Oeste Leste Norte Sudeste Sul TOTAL DE
(95 UBS/ESF) (55 UBS/ESF) (43 UBS/ESF) (46 UBS/ESF) (95 UBS/ESF) PROJETOS
Arborização - 24 2 4 7 37
Hortas/Alimentação
8 51 35 42 25 161
Saudável
Oficinas Educativas/Cultura
16 52 91 76 86 321
de Paz
A3P-Agenda Ambiental
3 87 8 20 74 192
na Administração Pública
Const. de Espaços
- 9 - 3 5 17
de Convivência
Infraestrutura/Revitalização
5 14 17 17 6 59
de espaços públicos
Geração de renda - 29 - 1 4 34
Educomunicação 4 2 33 12 35 86
Área de Mananciais - 1 1 1 7 10
tentabilidade, Participação, Equidade e Justiça Atualmente, são estes os 7 novos eixos temáticos
Social, Intersetorialidade, Consumo Responsável, norteadores do programa: Biodiversidade e Arbori-
dentre outros, com vistas a fortalecer um dos pre- zação; Água, Ar e Solo; Gerenciamento de Resíduos
ceitos do programa que diz respeito à mudança de Sólidos; Agenda Ambiental na Administração Públi-
valores e práticas na concepção de ambientes sau- ca – A3P ; Horta e Alimentação Saudável; Revitali-
dáveis e sustentáveis. zação de Espaços Públicos; Cultura e Comunicação.
268
de 7000 agentes comunitários de saúde nas 1273
equipes de saúde da família, tem sido um grande
desafio para os gestores no campo da intervenção,
na busca da construção de políticas públicas inte-
gradas, compatibilizando desenvolvimento urbano e
humano com conservação e proteção ambiental.
É a expressão concreta do compromisso dos gesto-
res municipais com a incorporação de novos valores
e práticas de saúde, pautadas na concepção de es-
paços saudáveis e sustentáveis, para a melhoria da
qualidade de vida da população paulistana.
Resumo Abstract
Esta seção apresenta dois depoimentos comparti- This section presents two testimonies shared gener-
lhados, generosamente, por pessoas que transita- ously by people who transited by UMAPAZ - Open
ram pela UMAPAZ - Universidade Aberta do Meio University of the Environment and Culture of Peace,
Ambiente e Cultura de Paz, caminhando por seu livre walking by his free path of learning and sharing their
percurso de aprendizagem e compartilhando seus knowledge.
saberes. Keywords: free learning pathways, testimonials,
Palavras-chave: livre percursos de aprendi- educators-learners, learners-educators,
zagem, depoimentos, aprendizes-educadores;
educadores-aprendizes
322 | anandre.art@gmail.com.
323 | adrianogalhardo@uol.com.br.
270
1. Introdução que me interessava muito e descobri - lamentei não
ter perguntado antes- que era gratuito!
Os dois depoimentos aqui apresentados dialogam
Pois é estava numa situação profissional bem difícil-
com as manifestações que figuram em outros arti-
período de transição ,respirei fundo e fui. Foi deter-
gos. Ajudam a realizar o propósito desta publicação
minante na minha prática.
que é mostrar uma metodologia de educação socio-
ambiental, fundada no livre percurso de aprendiza- Comecei com um curso que considerei muito longo
gem e nos princípios da transdisciplinaridade, res- e muitas vezes pouco objetivo e, então sim, fiz um
peito à vida, diversidade cultural e cultura de paz, determinante: Agentes da Paz 2008, uma parceria da
bem como a sua percepção e recepção pelos partici- UMAPAZ com a Palas Athena. Na sequência, mon-
pantes dos cursos e programas da UMAPAZ. tamos um grupo de estudo que durou o tempo sufi-
ciente para encontrar a direção da UMAPAZ, no final
Ana Maria Dubraz da Costa André, artista plástica
de janeiro de 2009 e apresentar meus projetos. Só
multimídia, desenhista, gravadora, fotógrafa, edu-
coma a alma, sem portfolio.
cadora, nasceu em Lisboa, Portugal, fixou residência
no Brasil em 1975. Formada em arquitetura e urba- Nessa ocasião, me foi pedido um projeto, que de-
nismo na USP (1983), Dedicou-se, a partir de 1992, senvolvi com professores, o Caminhar Pela história
à produção de mosaicos em seu ateliê, Artemosaico, da Arte no Brasil, em dois módulos, que foi sucesso
em São Paulo. A partir de 2007 começou a freqüen- absoluto. Em paralelo, eu fazia, como participante,
tar a UMAPAZ, onde acompanhou cursos como alu- o curso Carta da Terra em Ação.
na e, em 2009, paralelamente a sua atividade como Na mesma época, comecei um projeto no Parque Se-
artista plástica, passou a oferecer cursos na sede e vero Gomes, com o qual já tinha relação, pois foi meu
nos Parques. quintal por cinco anos e lá iniciei com Sérgio França
Adriano Galhardo Pedroso, nascido em Botucatu / um projeto espontâneo: uma turma de Liangong,
SP, tem grande experiência com trabalho em grupos. que existe até hoje. Ao mesmo tempo fui solicitada
Pedagogo, Especialista em Gestão de Pessoas, Psi- pelo parque Lions Clube do Tucuruvi. Assim comecei
coterapeuta Holístico, Focalizador de Danças Circu- um trabalho, pela UMAPAZ, em dois Parques, que foi
lares e Formado em Programação Neurolinguistica e num crescendo e, em outubro 2012, estarei ofere-
Análise Transacional. Especialista em Ecologia, Arte cendo atividades em seis parques!
e Sustentabilidade, pela UNESP. Participei de outros cursos, fiz Educação Gaia São
A singularidade desses dois depoimentos advém Paulo. Foi uma onda que cresceu e frutificou.
do fato de que ambas as pessoas foram simulta- Acredito nas ações nos parques por considerar que
neamente educadores e aprendizes na mesma ins- são os espaços mais democráticos da cidade, onde
tituição. Esse também é um aspecto importante da pessoas de todas as possibilidades e condições in-
UMAPAZ – no livre percurso de aprendizagem que teragem em grupo, vivenciam, aprendem e trocam
cada participante pode trilhar, também é possível experiências significativas. Tenho muitos relatos de
que ele exerça ambos os papéis – de aprendiz e de participantes. Uma delas escreveu uma carta con-
educador, como de fato ocorre na vida de todos os tando que, de lá para cá, superou a depressão de es-
que estão em permanente processo de educação. tar aposentada e se encontrou no parque vivencian-
do arte, percebendo o ambiente de forma diferente,
2. Ana André e se tornando, hoje, em grande ativista em defesa
do bairro. De fato, esse processo frutificou no bair-
“Tudo começou no dia em que tive coragem de ligar ro e hoje estarei realizando um encontro, chamado
para UMAPAZ para saber quanto custava um curso “Atelier Aberto”, na Casa Amarela, em Santo Amaro.
324 | Fonoaudióloga, Focalizadora em Danças Circulares ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU ‘ECOLOGIA, ARTE E
Sagradas, responsável pelo Curso de Danças Circulares SUSTENTABILIDADE’: parceria institucional entre a
dos Florais de Bach em conjunto com sua mãe Estela UMAPAZ e a UNESP (Instituto de Artes), em nível lato
Guidi, e também a pessoa responsável pela coordena-
ção dos cursos que posteriormente vim a focalizar na sensu, transitando entre as teorias e vivências pos-
UMAPAZ. síveis nas artes, na ecologia e na sustentabilidade.
272
Desde o início pude mesclar minha experiência como lar a reflexão crítica sobre competição e cooperação;
aprendiz na UMAPAZ entre estudante (discente) com desenvolver a capacidade de empatia e de cooperar;
a possibilidade de também ser professor (docente). desenvolver ainda mais a cooperação nos relaciona-
Esse fato abriu a possibilidade de desenvolver os mentos entre os membros da equipe; vivenciar al-
conteúdos e metodologias com os quais eu já havia guns Jogos Cooperativos e aprender a focalizá-los;
me deparado em minha formação anterior (uma vez vivenciar e praticar a paz em ação; praticar compor-
que já atuava como professor universitário em cur- tamentos e atitudes cooperativas para a construção
sos de graduação e de extensão universitária), com de um mundo melhor e mais fraterno; praticar vários
as novas possibilidades e demandas com as quais jogos e aumentar repertório; oportunizar espaço de
eu me deparei, nos últimos anos, vivendo na cidade focalização de Jogos Cooperativos e exercitar a prá-
de São Paulo. tica do feedback; sensibilizar os participantes sobre
a importância da auto-educação no desenvolvimen-
Pude ser o focalizador do Curso ‘JOGOS COOPERA-
to do focalizador de jogos cooperativos.
TIVOS E PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO’ desde 2008,
que já teve diversas edições, capacitando centenas O programa do Curso trabalha os seguintes temas e
de educadores/as, profissionais da saúde, cidadãos técnicas: O jogo e o brincar, a Aprendizagem Parti-
em geral na pedagogia da cooperação vivenciada por cipativa e o CAV – Ciclo de Aprendizagem Vivencial;
meio dos jogos cooperativos, aproximando-os/as de Andragogia; o Jogo Competitivo e o Jogo Coopera-
novas possibilidades e dinâmicas de convivência nas tivo; a CNV – Comunicação Não-violenta; a asser-
sociedades urbanas contemporâneas. tividde; a Pedagogia da Cooperação; a importância
de compreender os diferentes papéis do professor,
Os trabalhos desenvolvidos utilizando os Jogos
instrutor, facilitador e focalizador; o processo de
Cooperativos na UMAPAZ iniciaram-se em 2008, e
focalização, os estágios e fases dos grupos: o pro-
desde então, diversos grupos se formaram, com uma
cesso de amadurecimento; os diferentes tipos de
média de trinta a quarenta participantes em cada
participantes dentro de um grupo: a abordagem
grupo (dos mais variados perfis – educadores/as,
sistêmica;Feedback e a Janela de JOHARI: a impor-
agentes sócio-culturais, líderes e facilitadores/as
tância de saber administrar o fluxo da comunicação
de grupos, psicólogos/as, educadores/as físicos/as).
do grupo; os diferentes tipos de participantes dentro
Essas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer,
de um grupo: a abordagem sistêmica.
vivenciar, aprender a focalizar e a refletir as diver-
sas possibilidades de uso dos Jogos Cooperativos e Ao longo dos anos e dos diversos cursos vivenciados,
seus benefícios para as relações interpessoais, para fomos nos dando conta de que os Jogos Cooperati-
o desenvolvimento de identidade de grupo, para vos atuam com verdadeiros exercícios de convivên-
criação de sinergia e para a melhoria do clima em cia numa perspectiva da Pedagogia da Convivência
situações de conflitos, além da vivência conjunta de de Xésus Jares325. Além disso, os Jogos Coopera-
Jogos Cooperativos e Danças Circulares. tivos, por sua natureza intrínseca, possibilitam pe-
netração em todos os campos da interação humana.
Em sua maioria, os encontros duram em média três
Para Reinaldo Soler,
horas, sendo realizados uma vez por semana, duran-
te o período de três meses, perfazendo uma média “No jogo cooperativo, aprende-se a considerar
de trinta e duas horas totais de curso. o outro que joga como um parceiro, um soli-
dário, e não mais como o temível adversário.
O curso JOGOS COOPERATIVOS E PEDAGOGIA DA
COOPERAÇÃO tem os seguintes objetivos: Conhecer
e praticar os Jogos Cooperativos; compreender os 325 | Educador espanhol, escritor de diversos livros na
área de educação para a paz, convivência e cultura de
fundamentos da Pedagogia da Cooperação; estimu- paz.
274
papel fundamental em minha vida já há muitos anos.
No entanto, acredito que ela expressa - melhor que
qualquer outra coisa que eu possa escrever - o que
penso sobre o que estamos vivenciando e criando
dia-a-dia na UMAPAZ. Faz mais sentido vivenciando!
Um rabino muito conhecido estava sendo esperado
em um vilarejo israelense. Os habitantes estavam
muito animados e cheios de expectativa. Eles tinham
passado semanas discutindo o teor das perguntas
que deveram fazer ao grande homem. O dia aprazado
chegou e o nervosismo e a apreensão eram tão gran-
des que eram quase palpáveis.
A sinagoga estava repleta; não havia nem um lugar
vazio. O rabino apareceu e a congregação o rece-
beu em silêncio repleto de expectativa. O hóspede
de honra sentou-se, também em silêncio, por algum
tempo e depois começou a cantarolar. As pessoas
passaram a acompanhá-lo e a tensão começou a
se dissolver. Ele, então, cantou uma canção e to-
dos o acompanharam, divertindo-se muito e ficando
cada vez mais envolvidos. Finalmente, ele se levan-
tou e começou a dançar e a congregação também
se levantou e passou a dançar. Quando já estavam
exaustos e muito contentes, o rabino sentou-se no-
vamente e disse baixinho para a multidão reunida:
“Espero ter respondido a todas as suas perguntas”!
Ele saiu da sinagoga e todos concordaram que aque-
la tinha sido uma experiência das mais compensado-
ras e realizadoras. Todas as perguntas que eles ha-
viam pensado em fazer tinham se dissolvido e eles
não mais necessitavam de respostas.
Gratidão!”