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Rafaele Rocha Oliveira RA00235006 JORMA4

Sobre mídia, discurso e influência na visão de mundo


Segundo o jornalista e filósofo Antonio Gramsci, a hegemonia
cultural acontece quando uma classe social domina ideologicamente
outra, especialmente a burguesia sobre o proletariado. Para Gramsci,
essa dominação propaga-se por meio da divulgação da visão de mundo
da classe dominante que, sem a efetividade da repressão, faz uso do
ponto de vista ideológico para subjugar a classe trabalhadora. Essa
hegemonia engloba valores, ideais e crenças que são propagados,
inclusive pelos dominados, que os aceitam como verdades legítimas.
Assim, a visão de mundo dos membros da classe dominante é
implantada em todas as camadas da sociedade.
Na mídia, a hegemonia acontece quando sua preocupação
primordial é atender aos interesses de grandes empresas, objetivando o
consumo desenfreado. Neste sentido, hoje em dia a sociedade é
fortemente influenciada pelos grandes e tradicionais veículos de
imprensa, que constroem a hegemonia neste ambiente. O discurso
desses meios articulam uma “uma forma de poder caracterizada por uma
postura totalizante, generalizada” (PAIVA, 2008, p. 164). Ao beber da
fonte dessa narrativa, o indivíduo perde a oportunidade de pensar de
forma crítica e reflexiva e, consequentemente, não olha para além do
óbvio. “Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros
onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das
classes populares, da mulher, do negro do índio na nossa formação
histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles”, já
dizia Lélia Gonzalez. (Mulherio, ano II, nº 5, janeiro/fevereiro de 1982,
p. 3)
Felizmente, apesar de aparentemente ser um cenário impossível de
mudar, principalmente porque muitas pessoas nem sequer percebem
essa dominação ideológica, a teoria gramsciana afirma que aqueles que
são capazes de analisar de forma crítica aquilo que lhes é imposto podem
transformar esse quadro a partir de um pensamento contra-hegemônico.
Entre esses, estão os jornalistas.
Com grande capacidade de agregar e influenciar pessoas, a mídia
tornou-se um poderoso instrumento de luta contra a hegemonia
dominante. Combatendo o poder e controle social, a mídia contra-
hegemônica contribui para a compreensão do cidadão, no que diz
respeito às estruturas das relações de poder e dos discursos. Por atuar
na cobrança de políticas públicas sociais, a mídia contra-hegemônica
ajuda a despertar a consciência da sociedade e gerar transformações
sociais. Hoje, o espaço contra-hegemônico transformou-se em um local
de apoio a ideias que estimulem a reflexão sobre os mecanismos de
dominação existentes, para que a sociedade pense e faça suas próprias
escolhas.
Dessa forma, cada vez mais surgem sites, blogs, rádios e podcasts,
que buscam apresentar as contradições da grande imprensa, cobrando
mais transparência e lutando por democracia e representatividade
midiática. Esses veículos assumem o papel “de fazer pensar, o de
propiciar novas formas de reflexão, com o objetivo precípuo de libertar
as consciências” (PAIVA, 2008, p.166). Determinada a quebrar as
“amarras hegemônicas” da mídia tradicional, a mídia contra-hegemônica
procura ampliar o acesso às informações de caráter político e social –
importantes para a formação e escolhas de todo cidadão. Confira, a
seguir, alguns deles:
Jornalistas Livres
A rede de coletivos intitulada Jornalistas Livres nasceu na
universidade. Segundo o site oficial, eles existem “em contraponto à falsa
unidade de pensamento e ação do jornalismo praticado pela mídia
tradicional centralizada e centralizadora. Se opõem aos estratagemas da
tradicional indústria jornalística (multi)nacional, que, antidemocrática
por natureza, despreza o espírito jornalístico em favor de mal-
disfarçados interesses empresariais e ideológicos, comerciais e privados,
corporativos e corporativistas”.
Site: jornalistaslivres.org
Instagram: instagram.com/jornalistaslivres/
Youtube: youtube.com/jornalistaslivres
Twitter: twitter.com/j_livres
Facebook: facebook.com/jornalistaslivres
Meteora Podcast
É um podcast quinzenal que, de acordo com as idealizadoras, “diz o
que pensa para provocar inspiração e informa para provocar ação”.
Protagonizado por mulheres de estilos diferentes, o Meteora Podcast
debate temas variados, que geram empatia no público. Disponível no
iTunes, Spotify, Deezer, Soundcloud ou no Google Podcast, o podcast foi
reconhecido pelo The Intercept e pelo Mídia Ninja em 2019 como um
dos melhores podcasts da atualidade. Outros reconhecimentos vieram da
Forbes Brasil e YouPix.
Site: meteorapodcast.com.br
Instagram: instagram.com/meteorapodcast/
Facebook: facebook.com/meteorapodcast/
Portal Geledés
O Portal Geledés se posiciona contra o racismo, sexismo, a
homofobia, a lesbofobia, os preconceitos regionais, de credo, opinião e
de classe social. As áreas de atuação prioritárias da ação política e social
de Geledés são a questão racial, as questões de gênero, as implicações
desses temas com os direitos humanos, a educação, a saúde, a
comunicação, o mercado de trabalho, a pesquisa e as políticas públicas.
No site oficial é possível conhecer projetos próprios ou em parceria com
outras organizações de defesa dos direitos de cidadania.
Site: geledes.org.br/
Instagram: https://www.instagram.com/portalgeledes/
Youtube: youtube.com/channel/UCO9-aYrQfWP1Mm0A0hJdbMA
Twitter: twitter.com/geledes
Facebook: facebook.com/geledes
Atualmente, embora exista um aumento na visibilidade e alcance
das mídias contra-hegemônicas, especialmente graças à Internet e redes
sociais, o caminho a percorrer contra a hegemonia na imprensa e meios
de comunicação ainda é longo. “Parece-me que não há nada mais
urgente do que começarmos a criar uma nova linguagem. Um
vocabulário no qual nos possamos todas/xs/os encontrar, na condição
humana” (KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de
racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogá, 2019, Prefácio). É evidente
que há uma disputa ideológica de visões de mundo. Portanto, que a
atuação da mídia alternativa e crítica – hoje sendo fortalecida em muitas
faculdades de jornalismo – se estenda à sociedade de uma forma geral,
para que o nível de cobrança pela transparência da imprensa aumente,
culminando em uma grande transformação midiática e social.
Referências
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemonia_cultural (Acesso em novembro de 2020)

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de


Janeiro: Editora Cobogó, 2019. 244 p

PAIVA, Raquela. Contra-mídia-hegemônica. In: COUTINHO, E. Granja.


Comunicação e contra-hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.

Mulherio, ano II, nº 5, janeiro/fevereiro de 1982

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