Você está na página 1de 1

HOME 35 ANOS GELEDÉS  ÁREAS DE ATUAÇÃO  ARTIGOS EXCLUSIVOS  QUESTÕES DE GÊNERO  EM PAUTA QUESTÃO RACIAL 

ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 


08/05/2023

Enegrecer a
docência
universitária O Portal Geledés utiliza cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação.
Continuar
- + = Ao navegar neste site você concorda com o uso de cookies. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

ENVIADO POR / FONTE Enviado para o Portal Geledés, por Ricardo Corrêa

ARTIGOS E REFLEXÕES 

iStock

 COMPARTILHADO  Facebook  Twitter  WhatsApp  Linkedin 

+ sobre o tema
Um educador em um sistema de opressão é revolucionário ou opressor.
Peraí, meu rei! Antirracismo
também tem limite.
  ‒ Lerone Bennett Jr. 18/05/2023 0

Denúncias de abuso e
Peço licença para iniciar este texto com um dado bastante obsceno: o número de docentes negros na exploração sexual infantil na
internet crescem 70% de
Universidade de São Paulo (USP) é na ordem de 2,3%. Ou seja, há 5.531 docentes na instituição, apenas janeiro a abril deste ano
125 são negros. Essa disparidade é o exemplo indiscutível da existência do racismo institucional, e nos 18/05/2023 0

alerta a respeito das licenciaturas e pós-graduações direcionadas à  formação de professores. Nesse Entenda impactos do abuso e
sentido, a pergunta que me deixa inquieto é a seguinte: será que os valores antirracistas estão presentes exploração sexual em crianças
e adolescentes; psicóloga
durante a formação dos estudantes? explica sobre acolhimento de
vítimas
18/05/2023 0
A obscenidade não é exclusiva da USP. Eu tive aulas somente com dois professores negros em uma
universidade federal. Os meus colegas que se formaram em instituições privadas me relataram experiências Adaptação às mudanças
climáticas em territórios negros
parecidas. Portanto, a desigualdade racial na docência universitária é generalizada e profunda. Ela se é política de reparação
18/05/2023 0
estabelece por meio de um racismo não verbalizado, porém, materializado pelos que decidem as políticas
educacionais. Nos cursos universitários, os estudantes aprendem diferentes teorias para o exercício
docente. Estudam didática, epistemologia da ciência e do ensino, fundamentos losó cos e sociológicos,
metodologias cientí cas, teorias de aprendizagem, mas, nenhum dos subsídios intelectuais são pensados
nas particularidades do povo negro. A abordagem técnica desconsidera as relações políticas baseadas no
racismo e o impacto gerado na aprendizagem dos estudantes negros.

O resultado é catastró co. Os estudantes formados não têm base sólida para lidar com as questões raciais
nas escolas e validam o senso comum. Aderem e reproduzem o mito da democracia racial, responsável pela
perpetuação abstrata da harmonia e igualdade entre pessoas negras e brancas. Nada que encontramos na
realidade concreta, apenas a existência de dissimulação e violência dos brancos, bene ciários de privilégios
políticos, sociais e econômicos, contra os negros.

O currículo das instituições universitárias é repleto de intelectuais brancos, europeus e brasileiros. Se


perguntarmos aos estudantes quem foi Paulo Freire, a maioria conhece, mas se quisermos saber quem o
inspirou, raramente acharemos a resposta. Não por acaso, o importante educador construiu a sua teoria
pedagógica com base nas lições de Amílcar Cabral, revolucionário africano e arquiteto da independência de
Cabo Verde e Guiné-Bissau. Os estudantes deveriam estudar Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Sueli
Carneiro, Kabengele Munanga, Beatriz Nascimento, Clóvis Moura, e outros negros que pensaram, e ainda
pensam, o Brasil sob a ótica racial; sempre propondo mudanças para superação dos problemas resultantes
do racismo. E digo mais, nem precisamos de muito esforço para compreender qual a razão da Lei  10.639,
obrigando o ensino da história e cultura afro-brasileira, enfrentar obstáculos mesmo após vinte anos da
promulgação.  É o racismo institucional impossibilitando a construção de uma sociedade que respeite a
dignidade humana dos negros e indígenas.
para lembrar
A luta antirracista demanda de docentes revolucionários que objetivem ‒ prioritariamente ‒ edi car uma
sociedade igualitária através da educação. Lidamos com estudantes que agirão neste mundo, e onde quer O racismo brasileiro, sete crianças
negras e um passeio no parque de
que estejam poderão se rebelar contra as condições racistas existentes.  Para tanto, depende de como a diversões numa tarde de domingo!
visão de mundo deles será construída. E nós temos parte nisso. Mas, até que essa re exão seja inseparável 07/03/2022 0

da práxis docente, o caminho é enegrecer os quadros das instituições universitárias. Antes da formação e
“Na escola, os meninos negros são
exercício pro ssional, os professores são pessoas negras que sobrevivem lutando contra o racismo. Eles não os que as pessoas mais querem
bater”
precisam de nenhuma determinação para colocar o assunto em discussão, é parte de suas vidas a 28/11/2018 0
compreensão da dinâmica da sociedade e o relacionamento da identidade individual e coletiva. Como
EUA. Mulher acusou falsamente um
professores, operarão a transformação intelectual ao ministrar aulas pautadas numa visão humanizada, e adolescente negro de roubo do
com as questões raciais presentes. Esse é o caminho para a redução signi cativa do ciclo racista, o mesmo telemóvel e foi considerada culpada
de um crime de ódio
citado pela antropóloga Lélia Gonzalez “[…] o sistema de ensino destila em termos de racismo: livros 17/04/2022 0
didáticos, atitudes dos professores em sala de aula e nos momentos de recreação apontam para um
Unicamp amplia diversidade e
processo de lavagem cerebral de tal ordem que a criança que continua seus estudos e que por acaso chega aprova 38% de estudantes pretos e
pardos em primeira chamada
ao ensino superior já não se reconhece mais como negra.”
14/02/2019 0

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
o cial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras
providências

RIOS, Flavia; LIMA, Márcia (Org). Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e
diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020

 ¹“História do racismo na USP coincide com a história da USP”, diz professor 

Disponível em: <https://www.geledes.org.br/historia-do-racismo-na-usp-coincide-com-a-historia-da-usp-


diz-professor/>. Acesso em: 28 mai. 2023

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E


NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA
VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA
SOCIEDADE.

TAGS Educação Estudantes Professores Negros Racismo Racismo Institucional universidades

ARTIGOS E REFLEXÕES QUESTÃO RACIAL CASOS DE RACISMO

A piada de bicha e de escravo Guerreiro Ramos, pioneiro nos estudos ‘Sequelas físicas e psicológicas, só
do racismo no Brasil consigo chorar’, diz jovem que denunciou
18/05/2023 0 racismo após ser expulso de shopping à
15/05/2023 0 força

15/05/2023 0

GELEDÉS INSTITUTO DA MULHER NEGRA GELEDÉS NAS REDES SOCIAIS

Fundada em 30 de abril de 1988, Geledés é uma organização da


sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros por
entender que esses dois segmentos sociais padecem de
   
desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais
em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira.

Copyright © 1997 - 2023 Portal Geledés. Política de Privacidade | Contato

Você também pode gostar