Você está na página 1de 7

Faculdade Aliança Educacional do Estado de SP

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO


Filme e documentário - Pro Dia Nascer Feliz

Fernanda Aragão Asakura 1

RESUMO

Esse trabalho procura relacionar especificamente o filme/Documentário “Pro dia


nascer feliz” as discussões sobre o cotidiano escolar, haja vista, que este filme
apresenta diferentes composições e realidades dentro das contrariedades do
sistema escolar, traçando assim diversas narrativas e possibilidades de
compreender as escolas e juventudes mostradas no documentário. O termo
cotidiano escolar em súmula é uma prática social que se encontra em construção, e
por isso trataremos as contrariedades a partir do próprio cotidiano e como ela não é
integra e como o filme apresenta isso através das polissemias dos atores principais.

PALAVRA CHAVE: Cotidiano, violência, Escola.

ABSTRACT

This work specifically seeks to relate the film/documentary "Pro dia nascer Feliz" to
discussions about school daily life, given that this film presents different compositions
and realities within the setbacks of the school system, thus tracing different
narratives and possibilities of understanding schools and youth shown in the
documentary. The term school daily life in summary is a social practice that is under
construction, and therefore we will deal with the setbacks from the daily life itself and
how it is not integral and how the film presents this through the polysemy of the main
actors.

KEYWORD: Daily life, violence, School.

1
Graduando no curso de Licenciatura em Pedagogia
1
INTRODUÇÃO

O documentário Pro Dia Nascer Feliz (2006) é um filme de João Jardim que
retrata a vida social de grupos de adolescentes e professores em seis escolas no
Brasil, sendo elas: em Manari – Pernambuco Escola Dias Lima, em São Paulo
Itaquaquecetuba – no Bairro Alto de Pinheiros, e o Colégio Católico de Santa Cruz e
no Rio de Janeiro em Duque de Caxias o Colégio Estadual Guadalajara.

O filme “Pro dia nascer feliz” aborda a questão da educação no Brasil. Para
ilustrar o cenário desigual em que vivemos, nos são apresentadas diversas escolas,
em situações diferentes, levando a (inevitavelmente) compararmos uma com a outra,
o autor busca mostrar as diferentes classes através das vertentes das subjetividades
de adolescentes de escolas particulares e escolas públicas.

É possível problematizar diversas questões ao ver o filme. Problemas como


evasão escolar, analfabetismo funcional, além do descaso na manutenção de
escolas públicas (com pouca verba pública destinada para mantê-las) são comuns.
O filme se caracteriza pelo gênero documentário, em meio a diversos ambientes e
situações no dia-a-dia de professores e alunos (as). Diante do cenário apresentado
no filme podemos dizer que o cotidiano escolar é algo para além das salas de aulas,
fica explicito a diversidade do preconceito, o descaso ao fator social e econômico
dos alunos, e a discrepância entre ensino público X ensino privado.

Temos uma dissonância frente aos assuntos abordados por cada aluno tanto
da escola pública como privada de acordo com as regiões periféricas apresentadas
no filme. A violência acontece antes mesmo de chegarem as escolas. Os alunos das
escolas públicas apresentadas, em sua maioria, não têm chance sequer de sonhar.
A aluna Valéria, talentosa poetisa mirim e que estuda numa cidade no interior de
Pernambuco, escreve em seus textos que crê que sua vida deveria “ser normal”,
como a de qualquer criança que possui acesso à infância e a adolescência de forma
saudável. No entanto, as dificuldades de sua vida e de sua situação a impedem, já
que não pode ir para a escola todos os dias ou não pode se dedicar porque precisa
trabalhar e ajudar em casa.

A violência em relação aos alunos da rede privada se dão através da


manipulação e dominação ao que tange as decisões que precisam tomar frente as
2
escolhas como por exemplo, o de que faculdade escolher ou o curso que dá mais
dinheiro e status. Já na rede pública o problema é outro, a falta de estrutura mínima
em termos físicos da escola ajudam na desmotivação dos alunos em tomarem para
si o lugar como um local de pertencimento, no entanto, isso não é suficiente para a
perpetuação de tal fato, a falta de merenda na região de Pernambuco é um fator
complicado e agravante no ensino dos alunos, que em contrapartida “não ter o que
comer na merenda” não tem o mesmo sentido em ir para aula, se isso não acontece.
Realidade essa que não está muito distante de escolas localizadas no Rio de
Janeiro dentre outros lugares.

Os conflitos sociais expostos no filme vão para além de não ter merenda, de
não saber o que escolher, qual faculdade tentar no vestibular, da falta de
professores, da desvalorização dessa clientela e da relação que há entre professor e
aluno. Antes de tudo já sofremos violências das diversas formas. A oportunidade
que uns recebem e outros não, é atrelada a fatores internos e externos as escolas.

E o filme retrata bem isso. A desigualdade é feroz e desumana com o outro,


não basta somente levar ou doar alimentos, roupas, livros usados para aqueles
alunos, pessoas que estão precisando, é preciso mais do que é, ou melhor dizer é
preciso ensinar a pensar, a dialogar com a realidade existe e não tentar sanar algo
que pode ser provisório. A educação no entanto, tem um papel importante nesse
viés, na construção de um novo mundo, de um novo olhar, na construção do que
realmente faz sentido e não a reprodução de uma sociedade alienada e inútil. De
acordo com as falas expostas do filme, percebemos o quanto estamos longe de
abarcarmos uma realidade igualitária. A noção do que é o papel da escola está
totalmente distorcido frente o que cada aluno e professor das escolas abordadas no
filme colocam e vivenciam. Os alunos do subúrbio do Rio de Janeiro, apesar de não
escreverem poesia, também pensam da mesma forma. Até a localização de sua
escola (a poucos metros de uma boca de fumo) não os permite ter um referencial de
um futuro diferente. Aliás, é até atrativo em alguns casos abandonar a escola, já que
existe um certo status social para os membros da comunidade que atuam no tráfico.
Estes passam a ter acesso ao dinheiro de forma fácil e simples (até elementos mais
rotineiros acabam por serem glamourizados, como andar armado). Para não entrar
neste universo, é exigido muita maturidade e responsabilidade dos jovens.
3
Podemos constatar através deste panorama as múltiplas manifestações de
violência dentro do âmbito escolar e como ela afeta a rotina de ambos, no filme a
uma parte em que uma professora fala do seu desgaste profissional frente ao não
reconhecimento de suas práticas e saberes pedagógicos e como este processo vai
diluindo a relação de reconhecimento e pertencimento do professor. Em contra
partida ao analisar as escolas do Nordeste do país há uma total falta de estrutura do
estado em oferecer o mínimo. As diversas violências, utiliza-se no plural para
mostrar os diferentes significados da violência e como afetam a ordem, a motivação,
a satisfação e as expectativas de todos os que frequentam a escola, têm efeitos
relacionados com a repetência, a evasão, o abandono escolar. O que podemos
concluir brevemente, é que eles teriam mais interesse pela escola e pelo estudo se
souberem que terão oportunidades de crescer. Se lhe fossem dadas todas as
oportunidades eles poderiam ser melhores. Se tiverem acompanhamento adequado
para resolver suas dúvidas e dificuldades na escola, eles se desenvolvem no ritmo
desejado. E não basta somente ter oportunidades na educação, mas sim ter outros
elementos importantes na vida social como um todo. (Em suma, eles conhecem que
“precisam estudar para ser alguém na vida”. Muitos, também, possuem talentos que
transcendem a escola. São alunos que poderiam servir muito bem a sociedade, mas
os desperdiçamos por falta de atenção e cuidado, num lugar onde não tem seus
conhecimentos e experiências valorizados). O que é evidente é que as escolas
precisam mudar a sua estrutura. Precisam ser mais democráticas, horizontais e
abertas, além de pertencentes ao século XXI, que é dinâmico.

Os professores, em todas as escolas, passam pelos mesmos problemas e


situações. Existe o drama do professor que se envolve com os alunos por causa dos
problemas destes. Existe o problema, que são os professores que faltam muito do
trabalho. E existe a relação com o aluno. Na maioria das vezes, nas escolas
públicas, o professor é visto como inimigo. Talvez, seja até por conta disto, desta
rivalidade com os alunos (e o conseguinte desrespeito mútuo) que todos ficam
desmotivados. Outro elemento, é que o professor não é valorizado No fim das
contas, mudar passa a ser muito difícil. Ao reter um aluno, reprovando-o (visando a
sua melhora e aprendizado), o professor precisa cumprir uma série de exigências
burocráticas. Tais exigências são tão complicadas que, para facilitar o trabalho, os

4
professores acabam ignorando os problemas. Assim sendo, é mais fácil adotar o
que está sendo feito, mantendo o status quo, do que mudar ou revolucionar (um dos
fatores que fazem com que a educação sempre seja a mesma, com os mesmos
problemas, é este).

Após apresentar três escolas públicas diferentes, mas com problemas


semelhantes, o filme nos mostra uma escola de elite, localizada em bairro de classe
alta no estado de São Paulo. É evidente o contraste (da elite com os demais). Os
jovens que pertencem a esta realidade possuem de tudo. São livres para sonhar e
não desejam morrer. Para eles, a vida é boa, por mais que exista m um ou outro
problema (como um namoradinho, uma briga com os pais ou um desentendimento
com um colega). O maior sacrifício que eles podem fazer é “deixar de ter aula de
natação para estudar mais”.

Abandonar a escola para estes alunos é impensável. Caso algum deles não
consiga boas notas, a escola não tem dificuldades em se mobilizar para atendê-lo
(bem como os pais, que contratam professores particulares). Outro elemento
interessante a ser observado nesta escola particular específica é a questão racial.
Não é possível ter contato com nenhum aluno que seja negro, o que é reflexo de
uma sociedade que discrimina estruturalmente (e tem reflexos claros na educação).

“Todo mundo sabe dos problemas da educação, mas ninguém faz nada”.

5
CONCLUSÃO

Esse filme surgiu com uma proposta maravilhosa para a educação brasileira
se ver e se enxergar como em um espelho. O grande problema da educação do
Brasil e talvez do mundo seja não se enxergar. Isso mesmo, a solução seria
enxergar ao próximo. Pois se o governo enxergasse as escolas, eles compreendiam
e atenderia a sua demanda, se as escolas enxergassem os professores atenderia
suas necessidades e se os professores enxergassem as dificuldades dos seus
alunos ajudaria a resolver seus conflitos escolares e até sociais. Enfim, se toda a
população brasileira enxergasse o governo como ele é realmente, não se venderia e
votaria conscientemente tentando enxergar o dia de amanhã, para ele realmente
Nascer Feliz...

6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, M (Coord.). Cotidiano das escolas: entre Violências. Brasília:


UNESCO; Observatório de Violências nas escolas; MEC, 2005.

ABRAMOVAY, M. e RUA, M. G. Violências nas escolas. Brasília: UNESCO,


Coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos do Ministério da Justiça, CNPq, Instituto Ayrton Senna,

UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002.


Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001257/125791porb.pdf
Acesso: 10 de abril de 2023.

Documentário “Pro Dia Nascer Feliz”.


Disponível em: Netiflix
Acessado: em 10 de abril de 2023

Você também pode gostar