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Resenha: Fora de série

Acadêmico: Ana Luiza da Silva Rodrigues


O documentário “Fora de série” foi produzido pelo Observatório Jovem do Rio
de Janeiro. O projeto uniu arte e pesquisa por meio de estudantes da Educação de
Jovens e Adultos (EJA). A partir da narrativa e entre relatos de vida, os entrevistados
apresentam os desafios enfrentados durante seus respectivos processos de formação
escolar. O documentário foi lançado em 2018 pelo Centro de Artes UFF (Universidade
Federal Fluminense).
Consiste na narrativa de 13 jovens de escolas públicas e, conforme eles narram,
é possível identificar as fragilidades do ensino público, principalmente, com relação ao
acesso e permanência na escola de alunos da Educação de Jovens e Adultos. Isso porque
o público da EJA é diverso, consiste em diferentes realidades e a escola não está
configurada de modo a lidar com essa diversidade. A escola, por vezes, reproduz o
discurso neoliberal e desconsidera os saberes da experiência, das vivências do
educando, de modo que o mesmo não pode relacionar aquilo que aprende na escola com
a sua prática no mundo. A escola desconsidera a condição de sujeito-histórico do
educando, ou seja, que constrói seu próprio conhecimento.
No documentário os alunos discorrem acerca de suas vivências com a educação.
Observa-se que o contexto do aluno está em constante comunicação com o contexto
escolar. Ou seja, sua realidade própria, enquanto sujeito, transcende para a sala de aula e
interfere nos processos de aprender. A relação, geralmente, começa no ambiente
familiar, com o exemplo da família.
Em sua maioria, os jovens do documentário são de periferia e apresentam
diferentes dificuldades, mas estão relacionadas, de certa forma, a sua primeira
experiência fora da escola. Daí a importância de um ensino contextualizado, haja vista
que a educação, deveria, fornecer subsídios para que esse educando, advindo de
diferentes contextos, possam realizar a crítica do mundo, de modo a refletir sobre os
problemas da sociedade. A educação, portanto, não é neutra. E o discurso dos jovens do
documentário demonstram que a educação é ideológica. Traz uma determinada
perspectiva e incidi no sujeito que se pretende formar. Qual, então, seria o interesse em
um ensino descontextualizado? Que não traz os problemas reais da sociedade para a sala
de aula, sendo que essa é a realidade de seus educandos?
Desse modo, os jovens trazem suas diferentes vivências com o ensino.
Trajetórias de descontinuidade nos estudos, por diversos motivos. A gravidez na
adolescência (precoce), a violência no ambiente familiar, o abandono dos estudos pela
necessidade de trabalhar, o racismo (preconceitos) e por questões que se relacionam
com os problemas sociais. Além da narrativa, o documentário possibilita acompanhar a
rotina desses jovens. Assim como intercalam os estudos com a vida. Alguns dos jovens
apresentam sua expressão por meio da arte e se emocionam ao falar sobre sua vida.
Por fim, é importante destacar o caráter de superação presente nos discursos.
Uma vez que os jovens encontraram possibilidades de melhoria de vida. Porém, há de se
questionar a respeito da educação transformadora e sua presença na perspectiva da
escola atual. Se a educação pode ser um meio de transformação (isto a educação
certamente é), é necessário que a escola assuma tal papel. Isso envolve uma
transformação social e não apenas escolar.

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