O documentário “Fora de série” foi produzido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro. O projeto uniu arte e pesquisa por meio de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir da narrativa e entre relatos de vida, os entrevistados apresentam os desafios enfrentados durante seus respectivos processos de formação escolar. O documentário foi lançado em 2018 pelo Centro de Artes UFF (Universidade Federal Fluminense). Consiste na narrativa de 13 jovens de escolas públicas e, conforme eles narram, é possível identificar as fragilidades do ensino público, principalmente, com relação ao acesso e permanência na escola de alunos da Educação de Jovens e Adultos. Isso porque o público da EJA é diverso, consiste em diferentes realidades e a escola não está configurada de modo a lidar com essa diversidade. A escola, por vezes, reproduz o discurso neoliberal e desconsidera os saberes da experiência, das vivências do educando, de modo que o mesmo não pode relacionar aquilo que aprende na escola com a sua prática no mundo. A escola desconsidera a condição de sujeito-histórico do educando, ou seja, que constrói seu próprio conhecimento. No documentário os alunos discorrem acerca de suas vivências com a educação. Observa-se que o contexto do aluno está em constante comunicação com o contexto escolar. Ou seja, sua realidade própria, enquanto sujeito, transcende para a sala de aula e interfere nos processos de aprender. A relação, geralmente, começa no ambiente familiar, com o exemplo da família. Em sua maioria, os jovens do documentário são de periferia e apresentam diferentes dificuldades, mas estão relacionadas, de certa forma, a sua primeira experiência fora da escola. Daí a importância de um ensino contextualizado, haja vista que a educação, deveria, fornecer subsídios para que esse educando, advindo de diferentes contextos, possam realizar a crítica do mundo, de modo a refletir sobre os problemas da sociedade. A educação, portanto, não é neutra. E o discurso dos jovens do documentário demonstram que a educação é ideológica. Traz uma determinada perspectiva e incidi no sujeito que se pretende formar. Qual, então, seria o interesse em um ensino descontextualizado? Que não traz os problemas reais da sociedade para a sala de aula, sendo que essa é a realidade de seus educandos? Desse modo, os jovens trazem suas diferentes vivências com o ensino. Trajetórias de descontinuidade nos estudos, por diversos motivos. A gravidez na adolescência (precoce), a violência no ambiente familiar, o abandono dos estudos pela necessidade de trabalhar, o racismo (preconceitos) e por questões que se relacionam com os problemas sociais. Além da narrativa, o documentário possibilita acompanhar a rotina desses jovens. Assim como intercalam os estudos com a vida. Alguns dos jovens apresentam sua expressão por meio da arte e se emocionam ao falar sobre sua vida. Por fim, é importante destacar o caráter de superação presente nos discursos. Uma vez que os jovens encontraram possibilidades de melhoria de vida. Porém, há de se questionar a respeito da educação transformadora e sua presença na perspectiva da escola atual. Se a educação pode ser um meio de transformação (isto a educação certamente é), é necessário que a escola assuma tal papel. Isso envolve uma transformação social e não apenas escolar.
Desenhos-estórias e narrativas de adolescentes: representações sociais de estudantes moradores de periferia, qualidade de vida e suas leituras de mundo