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Este capítulo apresenta uma breve reflexão sobre o jovem educando do ensino
médio. Uma das características desse nível de ensino é a presença de jovens
adolescentes. Esse fato exige uma flexibilidade maior por parte dos educadores no
momento de dialogar e constituir as práticas docentes significativas. Em função disso,
buscamos abordar esse período de vida com base em reflexões sobre os aspectos
centrais da adolescência que possibilitem a ressignificação dessas características.
Ao mesmo tempo, ressaltamos que, por particularidades da dinâmica escolar
brasileira, não há apenas adolescentes no ensino médio. Muitos adultos também
frequentam a escola básica — o que faz com que à pluralidade de origens sociais dos
jovens do ensino médio acrescente-se também a diversidade etária. Por fim,
destacamos a importância da sociologia para a formação dos jovens e das relações
educativas que tenham como eixo a realidade local.
É comum ouvir em conversas com professores que os melhores grupos etários
para se trabalhar são as crianças e os adultos. As facilidades de comunicação e
diálogo e o reconhecimento obtido com base no trabalho com esses grupos situam no
polo oposto do trabalho escolar os jovens adolescentes, esses rebeldes e resistentes.
As marcas características da fase adolescente da vida acentuam-se na escola,
quando os jovens buscam a resolução de seus problemas imediatos e, muitas vezes,
percebem a inutilidade da ajuda dessa instituição.
Com base nessa percepção, esse sujeito tende a se relacionar com a escola
apenas de forma instrumental, perguntando constantemente: “O que ganho com isso?”,
“Para que isso?”. Aqueles interessados em cursar o ensino superior percebem a escola
como uma ponte que precisa ser atravessada e pragmaticamente se adaptam às
relações de ensino-aprendizagem. Aqueles que almejam apenas o título básico não se
compromete efetivamente com os processos de ensino- -aprendizagem, por percebê-
los como processos inúteis e sem sentido. E, real- mente, há pouco sentido nos
conteúdos e nas práticas comuns da escola para a resolução dos problemas que os
jovens trazem para dentro da sala de aula.
Isso não precisa ser assim, obviamente. Os estudos sobre qualidade de ensino
e sobre os fatores condicionantes de repetência, evasão e desistência da escola de
ensino médio indicam que inúmeros fatores culturais, econômicos e políticos — sociais,
portanto, -— atravessam esses processos.
Para que a relação instrumental dos educandos com o processo de ensino- -
aprendizagem seja enfrentada pelos educadores, é necessário ter clara a concretude
desses fatores sociais na vida institucional da escola e no cotidiano deses jovens*.
Somente a consciência disso pode fazer com que a atuação sobre os fatores
pedagógicos possa resultar em processos significativos de ensino- -aprendizagem
voltados a esses jovens.
Sobre os fatores sociais, os educadores podem atuar nos âmbitos público e
político como qualquer cidadão. No entanto, é sobre os fatores pedagógicos que,
individual e coletivamente, os educadores podem agir diretamente e produzir relações
de ensino-aprendizagem significativas para o conjunto de educandos. Não podemos
esquecer que os jovens estão nas escolas em busca de algo.
Auxiliá-los na construção das soluções para os problemas existenciais vividos
por eles é um caminho certo para a conquista de interesse formativo e construção de
diálogo com esses jovens cidadãos.
No ensino médio, o jovem já constituiu uma série de relações e vínculos. A
experiência sobre e com o mundo apresenta, aos 14, 15 anos, uma densidade
considerável. A vida familiar e comunitária, o grupo de amigos, as angústias amorosas,
as relações institucionais, as primeiras experiências de trabalho, todas essas esferas
da vida individual e social marcam a vida do jovem objetivamente, contribuindo para a
formação das suas percepções sobre o mundo que o rodeia.
Como mencionam Nelson Tomasi e Edmilson Lopes Júnior (2004), os jovens da
atualidade apresentam posturas subversivas, críticas da realidade, sem deixar de
celebrar a vida. Isso se reflete em práticas e comportamentos que não correspondem a
um tipo ideal de aluno, como aquele que faz as atividades prontamente, fica em
silêncio em sala de aula, escuta os comunicados escolares. Ao não corresponder ao
educando que se espera encontrar na escola, é tratado como rebelde, resistente à
aproximação do educador e ao saber escolar.
O desafio é trazer para dentro da sala de aula esse ser questionador e atuante,
até porque “é uma tragédia não conseguir estabelecer um diálogo proveitoso com os
educandos” — como diria um educador sério e comprometido com os processos de
ensino-aprendizagem. Para isso, é importante conhecer esses educandos, situar o
debate a respeito deles e dos conteúdos e das práticas escolares com base nas suas
perspectivas, e não nas perspectivas adultas, como é mais fácil fazer.
Os jovens que cursam o ensino médio no Brasil não são os jovens que
idealmente deveriam estar nesse nível de ensino. Conforme as normas da educação
básica do país, idealmente o ensino fundamental compreenderia a faixa etária entre 6 e
14 anos de idade, e o ensino médio, a faixa etária entre 15 e 17 anos.
O fato é que, no ensino médio, mais de 3 milhões de educandos (36,76% das
matrículas) estão na faixa entre 18 e 24 anos de idade (ver Tabela 3.1), ou seja, mais
de um terço dos jovens matriculados nesse nível de ensino no país não são
adolescentes ou ao menos já passaram pelo início desse período. Por outro lado, 3,5
milhões de jovens entre 15 e 17 anos encontram-se ainda no ensino funda- mental,
convivendo durante seu processo de ensino-aprendizagem com crianças e frustrando-
se cada vez mais com as práticas escolares.
Ponto final
Indicação cultural
Atividades