Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS ÍNDIOS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ELIEL NUNES DANTAS


EMERSON VITOR FARIAS DE BARROS

AVALIAÇÃO BIMESTRAL 1

Palmeira dos Índios/AL


2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS ÍNDIOS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ELIEL NUNES DANTAS


EMERSON VITOR FARIAS DE BARROS

Análise do filme “Pro dia nascer feliz”


de João Jardim para a disciplina
Escolar 1. Avaliação bimestral I,
solicitado pelo Professora Dra. Lucas
Pereira.

Palmeira dos Índios/AL


2019
1. Identificação da Obra:

Esse texto se pautará em debater alguns temas relevantes citado na obra de cinema
“Pro dia nascer Feliz” de João Jardim.

O longa-metragem de duração de 89 minutos, dirigido por João Jardim, teve seu


lançamento em 2005 na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme
retrata a situação das escolas e dos adolescentes em regiões do país: escolas no
interior de Pernambuco (cidades de Manari e Inajá); escola na periferia de Duque de
Caxias, RJ; escola de Itaquaquecetuba, SP; escola particular de alto custo em São
Paulo, SP. O Longa aborda questões sobre a educação brasileira em diferentes
perspectivas e contextos socioeconômicos a fim de contrapor as diversas
justificativas para as dificuldades do ensino público e periférico do brasil. Para isso,
foram ouvidos professores e discentes de escolas bem distintas.

2. Descrição dos principais elementos:

O filme contempla depoimentos de alunos, professores e sujeitos relacionados a tais


realidades para confirmar problemáticas que já são conhecidas no Brasil com
relação ao sistema educacional brasileiro. Estes depoimentos apresentam de forma
performática o abismo social que distancia a qualidade do sistema público de
ensino, cujo qual apresenta graves problemas como falta de estrutura físicas e
garantias de serviços básicos como de saneamento e água, para o sistema privado
de ensino do brasil, cujas problemáticas são apresentadas no documentário a partir
de crises existenciais, discussões sobre as mazelas sociais, depressão e escolhas
futuras dos participantes. Trazendo à tona também problemas centrais que
decorrem do atual sistema de classes que perpassa a realidade do país.
Além disso, momentos como as reuniões de conselhos e alguns depoimentos de
professores mostram o quanto o sistema escolar atual falha em garantir um real
desenvolvimento de seus alunos, preocupando-se não somente com resultados que
não condizem com o aprendizado, mas também com índices de aprovação que por
si falham em atender as demandas sociais de nossa realidade, confluindo com uma
política excludente e limitada ao campo das ideias.
Outro elemento importante a ser analisado diz respeito à realidade violenta que
decorre de um contexto estrutural que deveria ser combatido nos ambientes
educacionais. Nota-se nos últimos atos do documentário o quanto o sistema falha
em sua função de preparar os sujeitos para a cidadania, apresentando conflitos de
alunos entre si e até mesmo com os professores, que por sua vez também estão
inseridos nesta realidade, chegando a apresentar até mesmo um relato de um caso
de homicídio no ambiente escolar.

3. Análise dos Elementos:

DESIGUALDADE SOCIAL

É inegável que a educação é um dos direitos que mais promovem a transformação


da estrutura sociopolítica de uma cultura, uma educação de qualidade acessível a
todas as classes é sobretudo uma meta estratégica que teoricamente visa em si a
promoção de oportunidades e a redução das desigualdades.

Porém, nota-se na narrativa do documentário que a realidade educacional brasileira


não contribui com seu real objetivo, seus depoimentos, ao se alternarem entre
instituições públicas e privadas mostram demandas emergenciais totalmente
diferentes para os alunos, além disso, seus planos que viajam pelas estruturas
escolares evidenciam a disparidade estrutural entre o ensino público e o privado no
país. Assim, segundo ASBAHR (2014), a comparação entre as escolas, é possível
entender as contradições da educação e as realidades educacionais antagônicas,
dependentes das classes sociais que as produzem.

Estas contradições, herdam-se de um princípio lógico relacionado ao meio de


produção vigente no país e conflagram com uma realidade social excludente de
legitimação das desigualdades e submissão das classes mais pobres sujeitadas à
políticas públicas que atuam de forma tecnicistas/reprodutivistas que negam este
potencial de transformação da educação. Diante disto, referente ao modelo de
políticas educacionais praticados no brasil:

“é dependente da estrutura social, e a escola, em uma


sociedade dividida em classes, reproduz e legitima a
dominação da classe dominante sobre a classe
trabalhadora.” (SAVIANI, 2008).

Quinze anos após a produção do documentário, políticas de interiorização, cotas,


construção de escolas de ensino médio/técnicos e programas de vouchers que
financiam cursos superiores para os estudantes, foram utilizados para tentar diminuir
a disparidade produzida por tais políticas, entretanto, faz-se necessário uma análise
crítica das reais intenções e consequências de tais políticas, pois sem essa análise,
corremos o risco, em nosso trabalho como psicólogos escolares, de atuar numa
perspectiva reformista, reproduzindo dizeres do senso comum: a lei é boa, o
problema é sua aplicação (ASBAHR, 2014).

O entendimento deste contexto, faz-se necessário para a formação de um psicólogo


educacional que tenha como objetivo evitar pensamentos alienantes e trabalhar de
forma a combater e transformar a realidade que decorre deste padrão de políticas. A
análise das consequências reais de tais políticas deve perpassar de forma crítica por
todo tipo de instituição ou governo, a fim de proporcionar um posicionamento ativo
do Psicólogo Educacional em busca da garantia de uma educação transformadora.

FRACASSO ESCOLAR

É evidente que a forma como está sendo feita a educação atualmente tem
fracassado ao tentar atingir os objetivos a que se propõe, ou seja, a escola possui
como objetivo formar pessoas com capacidade crítica, que consiga prosseguir com
sua trajetória e alcançar ao menos o mínimo de uma educação de qualidade, no
entanto, devido a diversos fatores a educação vem fracassando.
Diante o inicial exposto e de acordo com o documentário, percebesse que o fracasso
escolar possui muitas faces, dentre elas estão as dimensões institucionais, político-
sociais, históricas e socioeconômicas. É muito evidente as condições degradantes
em que os alunos de diversas escolas vivem, no documentário há um dado
relevante no qual aponta que 13,7 mil escolas públicas no brasil não possuem
banheiro e 1,9 mil não possuem água (Censo Escolar 2004/MEC-INEP), isso quer
dizer que condições mínimas de utilização de espaço não existe e
consequentemente afetará diretamente o ensino dessas escolas.

Atualmente muitos alunos fazem movimento pendular, saindo de suas casas para
estudarem em outras cidades por não haver escolas disponíveis onde residem.
Desse modo, a prefeitura se encarrega de prover suporte no que se refere a
transporte, no entanto, muitas vezes esses transportes são de baixa qualidade e
eficiência, pois a boa parte do tempo estão quebrados, fazendo com que esses
alunos percam aula, prejudicando assim a qualidade de ensino e estimulação deles
(ANGELUCCI et al. 2004).

Diante do exposto, o fracasso escolar que se instala em muitas escolas públicas


brasileiras tende a ser justificado pelo desinteresse dos alunos e docentes, no
entanto, esses não são culpados, mas sim vítimas de uma política segregacionista e
que não atende as demandas populares. O documentário deixa evidente os
problemas estruturais, de gestão e financiamento das escolas, isso
impreterivelmente reflete em como a educação está sendo feita, ou seja,
profissionais sem qualificação, sem incentivo monetário com uma demanda
extremamente grande e com particularidades que necessitavam de uma atenção
especial, não conseguem dar conta de fomentar o desejo pelo estudo e quando
conseguem ficam alheios sem recursos (MARTINEZ, 2010).

Embora seja falado em fracasso escolar normalmente pensando no ensino público,


esse conceito atinge também alunos de escolas particulares. O universo de escolas
particulares sofre também de índices de evasão escolar, problemas com
criminalidade. Sendo assim não estão ausentes de déficits na educação e sendo
assim necessitam de profissionais qualificados bem como os discentes e a gestão
de escolas públicas.  
A partir disso, faz-se necessário a presença de um profissional de Psicologia que
possa trabalhar a equipe profissional bem como os alunos. De acordo com Martinez
(2010), uma das formas de atuação emergente dos profissionais de psicologia
inseridos no contexto escolar é o diagnóstico, análise e intervenção em nível
institucional. Sendo assim o psicólogo não pode enxergar a escola como um
puramente um local onde deve-se aprender e ensinar como se houvesse uma
transferência de saber, mas lugar de construção desse saber e para além disso, um
lugar de construção de subjetividades. Diante disso,

A partir de um sensível processo de diagnóstico e análise


das necessidades institucionais, o psicólogo pode sugerir,
delinear e coordenar estratégias de intervenção
direcionadas a potencializar o trabalho em equipe, mudar
representações cristalizadas e inadequadas sobre o
processo educativo, desenvolver habilidades
comunicativas, mediar conflitos, incentivar a criatividade e
a inovação, melhorar a qualidade de vida no trabalho e
outras tantas ações, como contribuição significativa para
o aprimoramento do funcionamento organizacional.
(MARTINEZ, 2010)

Destarte, a atuação de um profissional de psicologia nesse ambiente desestruturado


seria de extrema importância, tanto no apoio a equipe que atua na escola como para
os alunos. No entanto, é um tanto inocente acreditar que possa ter a possibilidade
contratação de um Psicólogo nesse contexto atual, visto que muitas vezes falta água
e energia, que seria um recurso básico, quanto mais haver a admissão de mais um
profissional.
VIOLÊNCIA

Sabendo-se que a escola possui um papel fundamental no desenvolvimento de cada


sujeito há nela uma expectativa que seja um ambiente que proporcione a
estimulação de habilidades sociais, intelectuais e críticas de cada sujeito que a
perpassa, no entanto, de acordo o documentário referenciado aqui neste texto, a
escola pública possui um caráter nada acolhedor. Alguns motivos são chaves para
entendermos o porquê que elas possuem essa característica, esses que vão desde
das cores em que são pintadas como o contexto social no qual estão inseridas
(STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010)

A escola, de acordo com Stelko-Pereira & Williams (2010), deveria se o local onde
os alunos sentissem prazer, lugar que lhes fossem seguros, local também que lhes
proporcionasse conhecimento de si e criticidade a respeito do mundo, fazendo com
que eles pensassem sobre si e se projetarem no mundo o qual está inserido. No
entanto no documentário, evidencia que “Na comparação entre as escolas, é
possível entender as contradições da educação e as realidades educacionais
antagônicas, dependentes das classes sociais que as produzem” (ASBAHR, 2014.
p.23).

As classes sociais em que normalmente os alunos de escola pública participam


fazem com que estes morem em locais onde há degradação social e
vulnerabilidade. Muitas vezes esses alunos não possuem expectativa de uma vida
com grandes ganhos e desenvolvimento, isso reflete em como está se dando o
aprendizado. Jardim (2005), durante a gravação do documentário, consegue o
depoimento de jovens discentes que se envolvem com álcool e outras drogas, estes
que quando observado o contexto sócio familiar é averiguado que as condições do
ambiente são favoráveis à não concretização correta dos estudos.

Diante do exposto, a dinâmica do ambiente escolar é multifacetada pelo ambiente


social externo à escola, isto pois o indivíduo é construído a todo momento através
das interações sociais. Diante disso, tendo como pressuposto que a família é um
dos laços sociais de maior influência na formação dos sujeitos, faz-se necessário
entender a dinâmica familiar para que se tenha uma maior compreensão dos jovens.

É evidente no decorrer do documentário, o quanto a criminalidade social está


afetando os jovens. Isso nos toma a pensar como os problemas estruturais das
escolas são apenas o reflexo do contexto social no qual vivemos atualmente,
contexto esse de exacerbada criminalidade nas periferias e grandes centros, estes
que estão a todo momento se permeando dentro das escolas, um contexto de
multifaces.

Destarte, para pensarmos numa educação eficaz, devemos compreender


inicialmente os contextos sociais nos quais os sujeitos que utilizam desses serviços
estão inseridos, pois sabe-se que não importa se é de escola pública ou particular, o
que irá afetar-lhes são os ambientes sociais. A partir disso, pode-se trabalhar o
pensamento crítico que promove uma reflexão a respeito das práticas por parte da
gestão, e concomitantemente trabalhando os discentes para que consigam pensar
sua realidade e ressignificá-la.

4. Considerações Finais:

As análises propostas no presente estudo relacionadas às políticas públicas


educacionais no país abordam questões de caráter social, econômico e histórico.
Apesar de algumas situações emergenciais tenham evoluído nos últimos 15 anos,
ainda há um grande trabalho a ser feito para o psicólogo educacional que vise
trabalhar uma noção transformadora da realidade.

Além disso documentário estudado, embora tenha se proposto a estudar a


perspectivas de diversas classes sociais em municípios, falha em não apontar
realidades de comunidades afastadas, não se atendo a fazer uma reflexão sobre
políticas de ensinos em ambientes rurais distantes, comunidades quilombolas ou
indígenas.
A relação da desigualdade social com a falha do sistema escolar e a violência foram
escolhidos para análise por sua ligação direta com as desigualdades produzidas
pela lógica do atual sistema de produção, mostrando a necessidade de uma análise
crítica do mesmo para entender as causas e possíveis soluções que possam frizar o
real desenvolvimento e aprendizado dos sujeitos.

Assim, embora a realidade até mesmo estrutural muitas vezes torne difícil a
participação do psicólogo escolar nas políticas de educação, faz-se necessário a
proposição de uma formação comprometida com a transformação social e crítica,
que entenda as relações dialéticas às quais o homem está inserido, as intenções por
trás das proposições políticas de seu cotidiano e o reflexo as práticas exercidas pela
profissão, a fim de proporcionar de forma ética uma Psicologia capaz de promover
práticas que conciliam-se com um ideal de justiça social, solidariedade e rompimento
das estruturas produtoras de exploração.

Referências

ANGELUCCI, C. B.; KALMUS, J.; PAPARELLI, R.; PATTO, M. H. S. O estado da arte da pesquisa sobre o
fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 51-72,
jan./abr. 2004.

ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira. Notas sobre o ensino de psicologia escolar em uma concepção crítica. Psicol.
Ensino & Form.,  Brasília ,  v. 5, n. 1, p. 20-31,   2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S2177-20612014000100003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08 jun. 2019.

JARDIM, João. (2005). Pro Dia Nascer Feliz. Brasil: Globo Filmes.

MARTINEZ, Albertina Martijáns. O que pode fazer o psicólogo na escola?. Em Aberto, Brasília, v. 23, n. 83, p.
39-56, mar. 2010.

STELKO-PEREIRA, Ana Carina; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Reflexões sobre o conceito de
violência escolar e a busca por uma definição abrangente. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 18, n. 1, p. 45-55,
2010.mDisponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2010000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 08 jun. 2019.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Ed. com. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (coleção educação
contemporânea).

Você também pode gostar