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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

Campus Araraquara
Docente: Guilherme Andolfatto Libanori
Discente: Artur Pinheiro do Val / Prontuário: 1510011
Curso: Licenciatura em Matemática
Semestre: 3º

RESENHA

JARDIM, João. Filme: PRO DIA NASCER FELIZ. Lançado em 2006, gênero:
documentário, duração: 1h28min, música Dado Villa-Lobos, fotografia: Gustavo
Hadba.

Este documentário aborda a educação no Brasil através dos pontos de


vista das pessoas que estão mais envolvidas com este assunto: alunos,
professores e diretores de escolas. É uma crítica sobre diversos aspectos da
educação brasileira, como escolas com pouca estrutura, desmotivação de
alunos e professores, o peso dos estudos para alguns alunos, a enorme
diferença entre escolas públicas e particulares, a violência nas escolas, e mais.
O filme inicia nos trazendo algumas questões de sentido semelhante a
estas: como podemos esperar algo de um jovem se não lhe damos as
condições necessárias para que ele prospere em sua vida? Como podemos
esperar um Brasil melhor sem uma boa educação para as pessoas? E, através
de imagens, o documentário nos deixa claro que muitos dos problemas vividos
pelo Brasil e pelos brasileiros são oriundos de uma educação defasada.
A primeira escola mostrada neste trabalho, pública e estadual, fica na
cidade de Manari, Pernambuco, considerada uma das mais pobres do Brasil.
Uma pessoa entrevistada nesta escola conta sobre o baixo orçamento que esta
recebe, enquanto as imagens mostram as condições do prédio da escola,
bastante simples e puído. Uma das tomadas nos mostra um banheiro com uma
abertura no telhado bem em cima do vaso sanitário. Este conjunto de situações
nos faz pensar nas dificuldades encontradas por alunos e funcionários desta
escola, na tentativa de garantir e exercer o direito à educação. Em contraste a
toda esta situação, uma aluna entrevistada conta sobre a sua dedicação aos
estudos, nos dizendo que vai a aula todos os dias, mesmo quando está um
pouco doente.
Uma outra situação que denúncia os problemas da educação no Brasil,
mostrada por este documentário, é que nesta mesma cidade, Manari, assim
como em outras do Brasil, não há escola de nível médio, mesmo havendo
diversos estudantes nesta situação escolar. A prefeitura disponibiliza dois
ônibus para que os estudantes possam ir estudar em uma cidade próxima, à 30
quilômetros de distância. Uma outra estudante entrevistada, nos conta sobre as
dificuldades encontradas para ir a esta escola. Além dos problemas da

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distância e do transporte, que fez com que nas duas semanas que ocorreram
as gravações em Manari, a estudante fosse para a escola apenas três vezes,
há ainda o problema da falta de professores, fazendo com que muitas vezes,
mesmo após a longa viagem, ela fique sem aulas. Mas, apesar de todas estas
dificuldades apresentadas, a estudante do ensino médio, moradora de Manari,
presenteia os espectadores com belos textos e poesias, e diz ainda que,
muitas vezes os seus próprios professores não creem serem dela a autoria dos
trabalhos, nos fazendo pensar o quão longe ela poderia chegar, se talvez não
houvessem tantos obstáculos.
O terceiro colégio mostrado neste documentário, também público e
estadual, fica situado na cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Ao
mostrar imagens próximas ao colégio, o filme denúncia a existência de uma
boca de fumo à poucos metros do colégio, mostrando como a escola está
sucessível a fatores que levam ao vício, à violência e outros males. Neste
colégio também é mostrado o problema da falta de professores, quando alguns
alunos são surpreendidos voltando para suas casas sem aula. Alguns deles
são entrevistados e questionados sobre este problema, porém aparentemente
eles demonstram não perceber o mau que isto causará em suas vidas,
demonstrando certo contentamento por não haver aula. Neste último colégio,
algumas questões culturais relativas à violência são bem exemplificadas
através da história de um de seus estudantes. Este aluno, segundo uma de
suas professoras, é um bom rapaz, porém o seu contato com alguns
criminosos da região, assim como uma falta de assistência por parte da
sociedade, está colocando o seu caráter, assim como o seu futuro, em risco.
Esta professora aponta a música, algo em que este jovem se destaca, como
uma forma de atrair sua atenção para coisas mais construtivas. O estudante
relata em entrevista que já utilizou drogas e portou armas, principalmente em
festas, agindo assim principalmente para chamar a atenção de garotas. Devido
a maus valores adquiridos por este jovem em seu convívio social, o seu
comportamento na escola é bastante conturbado, havendo ocorrido até mesmo
uma situação aonde ele foi flagrado falando obscenidades sobre uma de suas
professoras. As questões em torno deste jovem nos mostram que não basta
apenas oferecer uma vaga na escola, mas sim os meios necessários para o
bom desenvolvimento do aluno.
O quarto colégio apresentado neste filme fica em Itaquaquecetuba, São
Paulo, também sendo público e estadual, e apresenta, assim como os
anteriores, o mesmo problema da falta de professores. A diretora do colégio
nos conta que a legislação brasileira permite que isto ocorra, pois não há
nenhum mecanismo que coíba de forma eficiente as faltas dos professores. Por
outro lado, uma professora relata o trabalho sobre-humano que é exigido do
professor, muitas vezes ocasionando-lhe problemas de saúde, fazendo com
que as faltas sejam eminentes. Uma proposta muito interessante apresentada
por este colégio, no sentido de estimular os alunos a participarem mais da
escola, foi a criação de um fanzine. Há um relato de uma aluna deste colégio,

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que passava por dificuldades relativas a sua idade, que teve uma grande
melhora após ingressar nesta atividade. Este relato nos mostra como algumas
medidas simples podem fazer uma grande diferença na vida dos estudantes.
O quinto colégio deste filme é particular, e fica localizado em bairro
nobre da cidade de São Paulo. Observa-se a boa estrutura deste colégio, que
conta com catraca eletrônica na entrada, prédio bonito, com corredores largos,
paredes bem pintadas e ambiente bem iluminado. O contraste da estrutura
entre este colégio e os anteriores é enorme, mostrando a grande diferença das
escolas para quem pode e quem não pode pagar por educação. Alguns alunos
deste colégio também foram entrevistados e, de forma geral, as maiores
preocupações demonstrada por eles são a pressão para atingir as metas da
escola, que aparentemente são bem rigorosas, e adentrar em uma boa
universidade. Esta parte do documentário demonstra o quanto é propedêutico o
ensino no Brasil.
Uma questão bastante impactante trazida por este documentário, são os
relatos de violência vividos por alunos e as suas consequências. No sexto
colégio mostrado neste filme, localizado na periferia da cidade de São Paulo,
algumas jovens com divergências foram entrevistadas. Algo que chama a
atenção nestas entrevistas é a falta de motivos para a divergência entre as
estudantes, e também, a banalização da violência por parte delas, ao relatar de
forma tranquila o desejo de agredir uma outra aluna do colégio. Esta última,
com medo das ameaças e desprotegida pela escola, acabou evadindo-se
naquele ano.
A situação descrita acima deveria ser inadmissível dentro de uma
escola, porém, em um outro colégio de localização não divulgada, uma
estudante entrevistada relata um crime de homicídio de sua autoria.
Novamente, a banalização da violência, por parte desta jovem, se torna
tristemente evidente.
Este documentário ainda trás outras questões importantes como o
abismo que há entre alguns estudantes e seus pais, entre professores e
diretores, a falta de políticas em prol de uma educação melhor, e outras.
As reflexões que este documentário trás serve para que não apenas
aqueles que estão envolvidos com a educação diretamente, mas a sociedade
como um todo, possa repensar a educação no Brasil.

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