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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

Campus Araraquara
Docente: Guilherme Andolfatto Libanori
Discente: Artur Pinheiro do Val / Prontuário: 1510011
Curso: Licenciatura em Matemática
Semestre: 3º

RESENHA

PONTE, J. P. M. P. Investigar, ensinar e aprender

Ensinar e investigar são coisas diferentes. Há aqueles que produzem o saber, para que
depois o professor o transmita em sala de aula. Esta separação vem sendo questionada, pois
quem investiga quer aprender, e quem quer aprender pode querer vir a investigar. Desta forma, o
autor deste trabalho procura ver como investigar e ensinar se relacionam, se focando
principalmente na Educação Matemática Portuguesa.
A palavra "investigar" pode ser interpretada de formas muito variadas. Muitas comunidades
acadêmicas de diversas áreas do saber apropriaram-se do significado desta palavra, gerando
inclusive mitos, tal como: "Ensinar e investigar são duas atividades contraditórias, que não se
consegue fazer em simultâneo sem comprometer a qualidade de uma ou outra."
Segundo o autor, existem "grandes pesquisas", que são desenvolvidas através de grandes
recursos e trazem repercussão para a sociedade, porém estas pesquisas muitas vezes são vistas
como únicas, passando a impressão de não haver outras formas de pesquisar. Porém, segundo o
autor, “investigar” não é mais do que procurar conhecer, procurar compreender, procurar encontrar
soluções para os problemas com que nos deparamos.
O autor admite já ter se beneficiado por investigar e trabalhar como docente,
simultaneamente, principalmente quando há o contato entre o aluno e a investigação, e este trás
formulações que fazem repensar um determinado problema. Também acredita ter melhorado muito
o seu trabalho docente devido ao que aprendeu em suas investigações.
Da mesma forma que "investigar", a palavra "aprender" tem muitos usos e apropriações, da
mesma forma também que "como se aprende". Para a antiga escola tradicional, "aprender"
significa adquirir conhecimentos, dos mais variados tipos. Para outros, "aprender" é um fenômeno
natural, que acontece constantemente no nosso dia-a-dia. Há ainda outras formas de conceber a
aprendizagem. Para o autor, o que está em causa na aprendizagem escolar da Matemática, é o
desenvolvimento integrado e harmonioso de um conjunto de competências e capacidades, que
envolvem conhecimento de fatos específicos, domínio de processos, mas também capacidade de
raciocínio e de usar esses conhecimentos e processos em situações concretas, resolvendo
problemas, empregando ideias e conceitos matemáticos para lidar com situações das mais
diversas, de modo crítico e reflexivo.
Muitos trabalhos têm sido feitos em Portugal dando atenção ao processo de investigação
matemática. Há hoje uma noção bastante clara do papel dos problemas, das diversas fases de um
processo típico de investigação. Há também uma boa noção do papel dos aspectos conscientes e
inconscientes desse processo. Sabe-se, também que existem diferentes estilos cognitivos, ou seja
diferentes modos de pensar e de criar Matemática.
O ensino-aprendizagem da Matemática, nos dias de hoje, é feito através das atividades que
os alunos fazem na sala de aula e esta, por sua vez, depende muito das tarefas apresentadas pelo
professor.

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A Matemática tem também as suas tarefas características. A mais conhecida de todas, é o
exercício. Mas há outros tipos de tarefa, como os problemas, as investigações, as tarefas de
modelação e os projetos.
Na perspectiva do autor, uma tarefa tem quatro dimensões básicas: o seu grau de
dificuldade, a sua estrutura, o seu contexto referencial e o tempo requerido para a sua resolução.
Ainda sob sua perspectiva, o autor classifica as tarefas em quatro tipos, e dá-lhes
características específicas, são elas: Exercícios: sem grande dificuldade e estrutura fechada;
Problemas: tarefas também fechada, mas com elevada dificuldade; Investigações: têm um grau de
dificuldade elevado, mas uma estrutura aberta; Tarefas de exploração: são fáceis e de estrutura
aberta.
Muitas vezes não se distingue entre tarefas de investigação e de exploração, chamando-se
“investigações” a todas elas.
Um projeto no fundo não é senão uma tarefa de investigação com um caráter relativamente
prolongado. Mas tanto o projeto como a investigação comportam um caráter aberto.
O projeto é uma excelente tarefa de longa duração enquanto que as atividades de natureza
mais estruturada, em geral, são para se resolver em curto prazo.
Existem vários tipos de tarefas formuladas à partir de situações reais ou semirreais que
aparecem com frequência no ensino da Matemática: exercícios e problemas de aplicação e tarefas
de modelação, por exemplo.
O autor nos trás algumas tarefas que forma utilizadas em pesquisas sobre investigação
matemática, de forma a avançarmos sobre este conceito. Estas tarefas foram três, e serão
descritas a seguir.
A primeira tarefa de que trataremos, foi feita com uma professora e uma turma do 6º ano, e
segundo o autor, pode ser denominada como uma tarefa de exploração. Ela consiste em um
conjunto de quatro questões aparentemente verdadeiras, mas que não o são necessariamente, e
os alunos deverão chegar a tais conclusões sozinhos.
Um outro fator importante, é que esta tarefa trata de assuntos do currículo oficial: potências
e operações com potências, e não um assunto qualquer apenas para tratar do tema de
investigação matemática.
Segundo relato da professora participante desta tarefa, os alunos começaram a trabalhar
em grupos sem dificuldade, e rapidamente perceberam que a primeira questão era falsa. A
segunda questão também não se revelou difícil e a maior parte dos alunos limitou-se a responder
ao que era pedido.
Na realização destas tarefas em sala de aula, a discussão final é um dos momentos mais
importantes para a institucionalização das aprendizagens e até, para a exploração de novos
caminhos.
Segundo a professora, os alunos perceberam que, por vezes, o que parece evidente não se
revela verdadeiro. Fora isto, foram relatadas descobertas interessantes feitas por alguns grupos.
Decisivo para o êxito deste tipo de trabalho, é o modo como o professor responde às
dúvidas dos alunos, dando-lhes atenção e encorajamento sem lhes dar diretamente a resposta, e
formulando as questões de modo a envolver toda a turma e pondo os alunos a argumentar uns
com os outros.
A segunda tarefa desta pesquisa, feita com outra professora e turma do 6º ano, girou em
torno da seguinte questão: " Como é o aluno típico da turma?". Esta tarefa teve como ponto de
partida o estudo das características do aluno típico da turma, supostamente para explicar a um
extraterrestre.

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O trabalho desenvolveu-se em quatro grandes etapas: preparação das questões de
investigação, recolhimento de dados, tratamento dos dados e elaboração de relatórios sobre os
resultados.
A professora relata, dada a forma como o trabalho foi organizado, que os alunos não
sentiram nenhuma dificuldade especial em realizar esta investigação. Pelo contrário, colaboraram
ativamente na formulação de questões, se mostraram bastante participativos. No recolhimento de
dados, os alunos ultrapassaram todas as expectativas, revelando grande capacidade de
organização: enquanto que uns mediam, outros perguntavam, outros observavam e outros
registravam os dados.
Esta tarefa também nos trousse assuntos do currículo oficial: estatística, números e cálculo.
Os números decimais, obtidos através da medição de grandezas associadas ao corpo dos
estudantes, deixaram de ser entidades abstratas e ganharam significado.
Este exemplo mostra como uma investigação formulada em termos de questões da
realidade dos alunos pode servir como ponto de partida, não só para o desenvolvimento de
competências de investigação, mas também para a aprendizagem de novos conceitos
matemáticos.
A terceira tarefa pesquisada por este trabalho foi desenvolvida por diversas professoras e
turmas. A tarefa trata-se de um projeto sobre fractais, tema escolhido devido ao fato a ser algo
novo e atual no campo da matemática.
Os alunos das diversas turmas organizaram-se em subgrupos que estudaram, cada um, um
aspecto particular do tema durante cerca de dois meses.
Segundo a professora, muitos grupos optaram por apresentar a evolução histórica do
conceito ou fazer um estudo matemático de um objeto fractal. Isso ajudou-os a ter com uma ideia
geral sobre o tema.
Apesar dos alunos terem apresentado diferentes respostas no ensino-aprendizagem
através desta tarefa, eles desenvolveram a capacidade de pesquisar, selecionar e organizar, além
de terem estimulado a criatividade, o espírito crítico e a comunicação. Desenvolveram ainda a
iniciativa, a responsabilidade e a persistência.
O autor nos mostra estas tarefas, que possuem a ideia central de que os professores
podem ter interesse em investigar os problemas que se colocam na sua própria prática docente.
Tendo isto em vista, o autor ainda nos mostra algumas pesquisas acerca de investigação
matemática, mostrando como este tipo de pesquisa pode influenciar de forma positiva a profissão
docente. A primeira das pesquisas citadas é de Irene Segurado (2002), que realizou a sua
investigação na sala de aula, assumindo os papéis de professora e investigadora. Como relata em
seu artigo, realizou várias aprendizagens ao longo deste processo.
Segurado (2002) relata que, no início, os alunos mostravam uma grande dependência da
professora, mas no final, mostravam-se já bastante independentes. Conta como os seus alunos
tiveram ótimos desempenhos e mudanças de atitude quanto ao estudo
Outro trabalho que o autor faz referência foi realizado por Olívia Sousa (2002). No ano em
que fez esta experiência, esta professora não tinha alunos a seu cargo e trabalhou em par
pedagógico com Irene Segurado (2002).
No seu balanço desta investigação, Sousa (2002) aponta vantagens para o funcionamento
em par pedagógico tanto para os alunos como para as professoras.
No que diz respeito às professoras, para Sousa (2002), esta forma de trabalho permitiu
utilizar as potencialidades do trabalho colaborativo, tanto na preparação como na concretização
desta experiência.

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Sousa (2002) aponta ainda que o trabalho em colaboração com Segurado (2002) também
foi vantajoso para a investigação, por minimizar a interferência provocada pela presença de um
elemento estranho na sala de aula.
Um último estudo que o autor faz referência neste trabalho foi realizado por Manuela Pires
(2002). Neste caso, o trabalho foi feito por uma equipa colaborativa de cinco professoras – ela
própria e quatro professoras da escola aonde leciona.
As professoras, apesar de se conhecerem há bastante tempo e de terem feito
alguns projetos em conjunto, nunca tinham realizado um trabalho tão prolongado nem tão
aprofundado. Constataram que o seu conhecimento e a sua visão dos diferentes tipos de
tarefa era bastante diferente, e isto fez com que elas pudessem aprender muito umas com
as outras.
Em seu artigo, Pires (2002) sublinha que os conceitos e ferramentas já trabalhados
pelos alunos têm de ser novamente experimentados, e de preferência em novos contextos.
Estes artigos que o autor fez referência foram desenvolvidos no quadro do grupo de
estudos do GTI “O professor como investigador”. Este grupo, em Outubro de 2001, decidiu
empreender a elaboração de um livro, com artigos originais, uns de natureza teórica,
outros relatando estudos centrados na prática profissional dos respectivos autores.
No mundo da educação, são cada vez mais os professores que investigam. Alguns
fazem-no inseridos em programas de mestrado e doutorado, outros fazem-no no quadro de
projeto de suas escolas.
Um dos motivos do porquê Isso acontece é que estes profissionais defrontam-se na
sua atividade com muitos problemas de grande complexidade. Em vez de esperar por
soluções vindas do exterior, eles têm vindo cada vez mais a investigar diretamente esses
problemas.
Os professores envolvidos nas investigações referenciadas pelo autor
desenvolveram-se profissionalmente. Para isso, foram importantes não só as investigações
em si, mas o trabalho de divulgação das suas experiências, através da elaboração dos
artigos, o que permitiu um olhar mais aprofundado sobre as mesmas.
O papel da colaboração também é fundamental. As investigações envolvem formas
diversificadas de colaboração, como foi indicado pelo autor nos artigos de Segurado (2002),
Sousa (2002) e Pires (2002). A colaboração, permitindo conjugar os esforços de diversas
pessoas, constitui uma estratégia de grande valor para enfrentar os problemas da prática
profissional. Ela pode ocorrer entre professores, ajudando a caracterizar os problemas com
que eles se defrontam, definindo estratégias de atuação, avaliando resultados da ação,
criando um ambiente de trabalho conjunto positivo e estimulante.
A investigação não é certamente a solução geral que vai resolver de uma vez por
todas os problemas da educação. Se alguma coisa que sabemos com alguma margem de
certeza é que tal solução não existe. A investigação tem as suas potencialidade mas
também tem os seus limites. Mesmo no ensino, é útil para atingir certos objetivo, mas não
o será para outros. Nem tudo se pode aprender através da investigação. Porém, isso não
invalida a ideia que se trata de uma poderosa forma de construção do conhecimento tanto
para o aluno como para o professor, e por isto, é importante promovê-la no nosso ensino e
na nossa cultura profissional.

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