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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

Campus Araraquara
Docente: Guilherme Andolfatto Libanori
Discente: Artur Pinheiro do Val / Prontuário: 1510011
Curso: Licenciatura em Matemática
Semestre: 3º

RESENHA

MOREIRA, Herivelto. A motivação e o comprometimento do professor na


perspectiva do trabalhador docente. In: Série Estudos - Periódico do Mestrado
em Educação da UCDB. Campo Grande-MS, n. 19, p. 209-232, jan./jun. 2005.

O trabalho de um professor vai além dos conhecimentos específicos


necessários para a aula, pois também está relacionado com as atitudes
interpessoais do professor em sala de aula e em todo ambiente escolar,
exigindo deste profissional uma série de competências muito além do conteúdo
próprio de sua disciplina.

Falando sobre motivação no trabalho, observa-se uma falta de material por


parte da literatura de pesquisa, aonde se predomina a ideia de que a motivação
do professor é certa ou constante, mas na verdade veremos que pode variar
devido a uma série de fatores.

Os objetivos do estudo de Moreira tem os seguintes propósitos: examinar a


relevância da satisfação no trabalho, dos investimentos na carreira, das
alternativas de carreira e do comprometimento profissional; identificar as
percepções dos professores em termos de satisfação e insatisfação no
trabalho, investimentos e alternativas na carreira e comprometimento no
trabalho; etc.

Entre as coisas que mais foram estudadas neste trabalho estão os atributos, os
comportamentos, a eficácia e a experiência dos professores. Porém, nota-se
que ainda é muito pouco o que se sabe sobre as percepções do eu e do
trabalho interagindo com as variáveis da qualificação e da experiência pessoal
para a determinação do que motiva o professor no trabalho e na sua
efetividade.

A pesquisa de Moreira adotou o princípio de que o comprometimento com o


trabalho surgirá de uma combinação de fatores: satisfação no trabalho,
disponibilidade e a atratividade de alternativas de trabalho e investimentos
pessoais feitos no atual emprego. A satisfação no trabalho e os investimentos
pessoais feitos para a carreira podem melhorar o comprometimento para com o
trabalho do professor, já a disponibilidade de alternativas de trabalho pode
prejudicar este comprometimento.
Os professores que participaram da pesquisa foram selecionados
intencionalmente tendo como critério a disciplina que ministravam, o sexo e o
estágio na carreira. Todos os professores são oriundos da rede pública
estadual e do distrito de Curitiba. Os estágios na carreira foram considerados
nas seguintes categorias: estágio inicial na carreira (5 anos de experiência ou
menos); estágio intermediário (6 a 12 anos de experiência e estágio avançado
na carreira (13 nos de experiência ou mais).

Originalmente era atribuído como fator de motivação profissional ao professor o


próprio ato de ensinar, contudo outras fontes de motivação tem sido
observadas, sendo elas de três tipos distintos: a recompensa intrínseca, a
extrínseca e a complementar.

As recompensas intrínsecas são aquelas subjetivas à pessoa e só podem ser


notadas à aqueles que estão submetidos ao trabalho, como por exemplo, o
prazer de ensinar. As recompensas extrínsecas estão relacionadas com os
benefícios da função, tais como salário e status, que são ditadas pelas
instituições independentemente dos indivíduos. E as recompensas
complementares são aquelas que estão disponíveis para todos, mas só são
entendidas como benefícios por alguns, como estabilidade, férias e feriados
prolongados.

Os professores entrevistados também falaram sobre algumas das


recompensas intrínsecas da carreira, descritas agora em ordem por maior
quantidade de citações à respeito: o prazer de trabalhar com jovens, a
possibilidade de poder influenciar de forma positiva a vida destes jovens, a
possibilidade de ver o aluno aprender, a possibilidade de atingir objetivos em
conjunto com os alunos. Estas estão entre as recompensas intrínsecas à
profissão mais importantes, citadas pelos professores e, importantes por serem
recompensas que vêm da própria atividade, e não de condições controladas
por outras pessoas.

Os entrevistados concordaram que alguns aspectos do trabalho docente, como


status, estabilidade e férias eram importantes fontes de satisfação.

Outra questão importante levantada pelos professores se refere a qualificação


profissional, crucial para alguns professores, tanto em termos de um melhor
entendimento das inovações educacionais, quanto em termos da obtenção de
um melhor salário e também aumentar as chances de progredir de nível de
ensino.

A questão das recompensas complementares tão valorizada por professores


em outras culturas e na literatura internacional não foi muito enfatizada pelos
professores participantes deste estudo.
Sobre as questões que causam insatisfação no trabalho docente, os
professores foram unânimes em relatar insatisfações com alunos no trabalho,
por ser crescente a falta de interesse e a indisciplina destes na sala de aula.
Porém, diante disto, é necessário ressaltar que muitas vezes o desinteresse do
aluno é causado pelo próprio professor. Não é raro um professor admitir culpa
por este fato acreditando que deveria dominar mais técnicas e métodos de
ensino.

Outro fator causador de insatisfação no trabalho é a falta de união da categoria


e a falta de companheirismo que impera na maioria das escolas. Somados a
isto há também o excessivo trabalho burocrático exercido pelos professores,
como realização de chamadas, preenchimentos de agendas, correções de
provas. O tempo gasto com este serviço poderia ser convertido em um tempo
em prol da melhoria da qualidade das aulas, por exemplo.

O entrevistados neste estudo não manifestaram interesse em status pela


profissão que exercem, mas ao pensarem a este respeito, manifestaram que
isto é motivo de insatisfação, pois o professor não recebe o devido respeito
pela sua profissão, quando o comparamos com um advogado ou um médico.

Com relação ao salário como fonte de insatisfação, a maioria observou que isto
não é tão importante, desde que o professor ganhe o suficiente para viver com
dignidade. Mas em contraste, outros professores entrevistados consideram o
salário como uma fonte de insatisfação, pois o professor brasileiro continua
muito mal pago em comparação com seus colegas em outros países e em
comparação a outras profissões com o mesmo nível de exigência em termos
de formação.

Segundo a pesquisa, o magistério apresenta-se como uma carreira


relativamente sem estrutura. A maior oportunidade de progredir é quando o
professor deixa a sala de aula para assumir funções administrativas.

Embora alguns professores percebam que possuem alternativas fora da


educação, também têm a noção de que as alternativas não estão assim tão
disponíveis, principalmente para pessoas com a idade um pouco avançada
para os padrões brasileiros. Porém, dentro da educação o oferta de emprego é
mais abundante do que em outras áreas, acarretando maior estabilidade.

Os investimentos pessoais são recursos destinados à preparação e


continuidade na profissão, mas que se perdem no caso de desistência de
carreira. Estes investimentos podem ser intrínsecos ao trabalho, como anos de
serviço prestados, treinamento que não é transferível para outra atividade, etc.,
mas conectados ao trabalho, como investimentos em moradia, amigos no
trabalho, benefícios associados ao tipo de trabalho, etc. No entanto, quando
perguntamos aos professores se eles acham que o professor investe em
cursos de pós-graduação e outros cursos que consideram importantes para o
bom desenvolvimento de suas atividades na escola e na sala de aula, a maioria
respondeu que não. De uma certa forma, investir na qualificação é uma das
maneiras de melhorar a qualidade das aulas e na maioria das vezes de obter
um aumento no salário, principalmente quando se trata de cursos de pós-
graduação.

Há diversas formas de comprometimento com o trabalho experimentadas por


um professor: podem ser os fortes vínculos com os alunos, com a escola, com
as diversas áreas do conhecimento e com a profissão ou com nenhuma dessas
formas de comprometimento.

O comprometimento com os alunos diz respeito aos cuidados em relação às


necessidades dos alunos, sendo visto como o aspecto central do ser professor.

O comprometimento com a escola explica o grau pelo qual o professor se


identifica com as metas e os valores da instituição e esforça-se para ajudá-la a
obter sucesso.

O comprometimento com a profissão, diz respeito à identificação e ao


envolvimento na ocupação.

O reconhecimento dessas demandas sob forma de novas abordagens tem


propiciado esforços no sentido de profissionalizar o professor.

As condições de trabalho dos professores podem aumentar ou diminuir os


comprometimentos, mas como a maioria dos participantes argumentou, quando
se trata de comprometimento o principal foco do professor ainda é o aluno.

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