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XXIV Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2021 1

MOTIVAÇÃO PARA PERMANECER COMO PROFESSOR DE FÍSICA

Maryelly da Silva Faria1, Sandro Rogério Vargas Ustra2


1 Universidade Federal de Uberlândia/Programa de Pós-Graduação em Educação,
maryellyfaria@gmail.com
2 Universidade Federal de Uberlândia/Pós-Graduação em Educação, srvustra@gmail.com

Palavras-chave: Motivação na docência; Professor de Física; Formação de


professores.

Resumo expandido

A formação de professores de Física é envolta desde a problemática dos altos


índices de desistência na licenciatura. Constata-se, também, um déficit de professores
da área de Física com formação superior atuando nas escolas públicas. Estes fatores
podem ter relação com a falta de jovens interessados na carreira, com a formação
inicial, com as políticas públicas que se referem ao trabalho do professor, com a
desvalorização do trabalho docente, com a forma com que se constituiu a identidade
docente desse profissional, volume de horas de trabalho etc. (GATTI, 2009; GARCÍA,
2010; KUSSUDA, 2012; SIMÕES, 2018).
Em levantamento realizado por Kussuda (2012), entre 1991 a 2008, com 52
licenciados em Física da Unesp de Bauru que optaram pela carreira docente, foi
observado que apesar de muitos terem optado pela docência vários abandonaram a
profissão. Os motivos incluíam dificuldades como insatisfação salarial, falta de
condições de trabalho e dificuldade em transpor o conhecimento aprendido no curso
de graduação para a educação básica.
Isso mostra que ser professor de Física implica em inúmeros desafios.
Fazendo uma transposição do discurso de Moreira et al. (2012) sobre o ofício do
professor de matemática, o docente na área da Física tem que lidar com os processos
físicos, psicológicos e intelectuais dos adolescentes, assim como lida com a Física, o
ensino e a aprendizagem inserido dentro de um contexto escolar específico. O que
mostra a quantidade de diferentes conhecimentos que o professor precisa mobilizar
para a sua atuação. Além disso, Moreira et al. (2012) apresentam dados do IBGE
(Brasil, 2003) que apontam que a docência no ensino básico está entre as profissões
de remuneração mais baixas dentre as 19 que foram pesquisadas. As condições de
trabalho dos professores também apresentam cenários conflituosos: violência na
escola, condição de saúde física e mental dos professores, poucos recursos etc.
(MOREIRA et al., 2012).
Este cenário nos leva a questionar quais aspectos motivam os professores na
carreira docente na Física, tendo em vista os vários desafios que permeiam a
profissão. Na psicologia a motivação é entendida como um constructo interno que tem
relação com as razões pessoais que orientam as metas traçadas pelos indivíduos para
alcançar determinados objetivos, e pode ser percebida nas ações tomadas para se
fazer ou não alguma coisa (BZUNECK, 2009). Schwartz (2014) indica que a motivação

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no ensino e aprendizagem se manifesta, também, por meio do interesse,


envolvimento, esforço, concentração e satisfação.
A atuação docente pode ser influenciada por fatores extrínsecos ou
intrínsecos (MAIESKI; OLIVEIRA; BZUNECK, 2013). Os fatores intrínsecos são
caracterizados pelo comportamento afetivo e na liberdade, as atividades são
realizadas com interesse e satisfação, de forma voluntária. Já os extrínsecos se
caracterizam pela realização de atividades em busca de recompensas ou para não
sofrer punições (CLEMENT; CUSTÓDIO; ALVES FILHO, 2014). Para Schwartz (2014)
não existe ausência de motivação. Desta forma, o docente sempre apresentará
alguma motivação para atuar na profissão, seja elas de cunho pessoal, afetivo,
econômico ou por influência de familiares e amigos
Desta forma, o objetivo da pesquisa, fonte deste trabalho, é estudar os
aspectos da docência que contribuem para a motivação dos professores licenciados
em Física pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A pesquisa utilizou
métodos qualitativos de obtenção e análise dos dados. Foi aplicado, no ano de 2020,
um questionário online com 14 questões sobre a entrada no curso de Física, as
contribuições do curso para o desenvolvimento da docência e a motivação para ser
professor. Um total de 34 licenciados e licenciandos participaram da pesquisa. Neste
trabalho o foco se dará em torno da pergunta: Em que aspectos você se sente
motivado com a carreira docente? Ao final foi feita uma discussão e análise dos
dados, por meio da Análise Textual Discursiva (ATD). A ATD é uma metodologia de
análise de cunho qualitativo que visa a produção de novas compreensões sobre os
fenômenos e discursos (MORAES; GALIAZZI,2011). Da análise surgiram três
categorias emergentes: Aspectos afetivos, aspectos de sucesso no processo de
ensino-aprendizagem e aspectos financeiros.
Dos 34 respondentes, 20 relacionam aspectos afetivos como fator de
motivação para o trabalho docente. Como pode ser visto na fala de P21 “O maior
aspecto é quando temos retorno dos nossos alunos, o carinho, a atenção, a gratidão
e principalmente, quando você vê, que com a paciência e compreensão ajudamos
individualmente eles superarem suas dificuldades de aprendizagem ou aprenderem
algo novo”.13 mencionam que se sentem motivados quando percebem bons
resultados advindos das suas práticas, como para o P7: “Quando os estudantes
aprendem significativamente. Quando os estudantes possuem um bom
desempenho. Quando eu, enquanto professor, sou respeitado”. E, dois professores
citam que a motivação tem relação com a profissão prover oportunidades de trabalho
e o sustento financeiro.
Os aspectos motivacionais na carreira destes professores de Física estão
atrelados ao vínculo afetivo com a profissão, seus alunos e aos conhecimentos da
Física. O trabalho muitas vezes aparece como uma missão para mudar a vida de
seus estudantes e/ou fazê-los se sentirem interessados pelo conhecimento e se
manterem sempre curiosos para o que os cerca no mundo. Resultados como este
podem ser vistos em outros trabalhos, como o de Ens et al. (2014). Diferente do que
foi apresentado por estes autores, os professores inseridos no contexto desta
pesquisa não mostram uma visão romantizada e que desconsidera os aspectos
políticos e de faltas de condições de trabalho. Muitos citam a falta de estrutura e
condições de trabalho, como pode ser visto na fala de P10: “Eu me sinto motivada,
pois gosto de ser professora, mas em aspectos econômicos e estruturais da
profissão não”.

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Aspectos afetivos, de sucesso nas atividades com os estudantes e


econômicos, estão atrelados às emoções positivas, interesses e crenças de
autoeficácia elevadas em relação ao trabalho desenvolvido. A relação entre esses
elementos estimula os indivíduos a criarem atribuições e expectativas que levam aos
interesses duradouros (SILVA, 2006). Em sua maioria, os professores de Física
participantes desta pesquisa, apresentam sentimento de esperança e emoções
positivas quanto ao seu trabalho. Entendemos que estes são aspectos que
direcionam à permanência na carreira docente.

Referências

BRASIL. Estatísticas dos professores no Brasil. Ministério da


Educação/INEP. 2003. In: MOREIRA, P. C.; FERREIRA, E. B.; JORDANE, A.;
NOBRIGA, J. C. C.; FISCHER, M. C. B.; SILVEIRA, E. V.; BORBA, M. C. Quem
quer ser professor de Matemática? Zetetiké, v. 20, n. 37, 2012.
BZUNECK, J. A. A motivação do aluno: aspectos introdutórios. In:
BORUCHOVITH, E.; BZUNECK, J. A. (Org.). A motivação do aluno: contribuições
da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 09-36.
CLEMENT, L.; CUSTÓDIO, J. F.; ALVES FILHO, J. P. A Qualidade da
Motivação em Estudantes de Física do Ensino Médio. Revista electrónica de
investigación en educación en ciencias, v. 9, n. 1, 2014.
ENS, R. T.; EYNG, A. M.; GISI, M. L.; RIBAS, M. S. Evasão ou permanência
na profissão: políticas educacionais e representações sociais de professores. Rev.
Diálogo Educ., Curitiba, v. 14, n. 42, p. 501-523, mai./ago., 2014.
GARCIA, C. M. O professor iniciante, a prática pedagógica e o sentido da
experiência. Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre
Formação de Professores, v. 2, n. 3, p. 11-49, 2010.
GATTI, B. A. Atratividade da carreira docente no Brasil: relatório parcial
de pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Fundação Vitor Civita, 2009
KUSSUDA, S. R. A escolha profissional de licenciados em Física de
uma universidade pública. Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência).
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Bauru. 185p.,
2012.
MAIESKI, S.; OLIVEIRA, K. L.; BZUNECK, J. A. Motivação para aprender: o
autorrelato de professores brasileiros e chilenos. Psico-usf, Campinas, v. 18, n. 1,
p. 53-64, 2013.
MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Editora
Unijuí, 2011.
MOREIRA, P. C.; FERREIRA, E. B.; JORDANE, A.; NOBRIGA, J. C. C.;
FISCHER, M. C. B.; SILVEIRA, E. V.; BORBA, M. C. Quem quer ser professor de
Matemática? Zetetiké, v. 20, n. 37, 2012.
SCHAWARTZ, Suzana. Motivação para Ensinar e Aprender. Petrópolis:
Vozes, 2014. 87 p.

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SILVIA, P. J. Exploring the psychology of interest. New York: Oxford


University Press, 2006. 236 p.
SIMÕES, B. S. Relações com o saber no curso de Licenciatura em
Física da UFSC: passado e presente da evasão e permanência. Tese (Doutorado
em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC, Florianópolis, 250p., 2018.

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