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Os saberes da Educação Física nas perspectivas dos alunos do ensino fundamental (2o ciclo) e médio View project
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Categoria Respostas
arremesso, atletismo, basquete, corridas de obstáculos, barreira e bastão,
Esportes corridas rasas, esportes, esporte coletivo, fundamentos do esporte, futebol,
futsal, handebol, jogos olímpicos/olimpíadas, saltos verticais e horizontais, vôlei
apostila, aula teórica/teoria, caderno do aluno exercício na apostila, diferença
Aula expositiva entre jogos e esporte, história do esporte/história dos esportes antigos, textos,
trabalhos extras, trabalho em equipe/trabalho em grupo
atividades físicas, exercícios, exercícios corretos/movimentoscertos, movimento,
Movimento e exercício
movimento na prática
Lutas artes marciais/lutas, capoeira, judô, karatê
Danças, atividades
dança, dança típica, hip hop, street dance , música, ritmo, tipos de música
rítmicas e música
Ginásticas ginástica, ginástica artística, ginástica rítmica
- Estratégias e conteúdos:
aula livre, cada bimestre um tema, coisas novas, de tudo de tudo
um pouco, diferente assuntos, muitas coisas, nada,quase nada, outras coisas
- Corpo e saúde: alimentação, beleza corporal, condições do corpo/condições
do corpo humano, cuidados, jeito certo de sentar, músculo, partes do corpo,
Outros postura/postura correta, saúde,vida saudável
- Táticas, técnicas e regras de jogos: como jogar/jogar direito, estratégias de
jogo/táticas/táticas e jogos, regras/regras de jogos, técnica de jogo
- Interação social: colaboração, cooperativo, coletividade, disciplina, respeito,
respeito às regras, ser legal com o colega
- Habilidades: coordenação motora, habilidade
- Aula com movimento corporal: atividades na quadra, prática
REBESCOLAR 161
Quadro 2. Respostas à questão “O que você gostaria
de aprendere nas aulas de Educação Física?”
Categoria Respostas
atletas brasileiros da antiguidade, atletismo, basquete, beisebol, corrida de
obstáculo, ensinamento sobre esporte, esporte novo, esportes diferentes,
esportes, esportes estrangeiros, outros esportes menos conhecidos no
Esportes Brasil, futebol, futebol americano, futebol de areia, futevôlei, futsal, handebol,
levantamento de peso, mais movimentos de esportes, maratona, natação,
olimpíada, regras do futsal, regras do vôlei, regras dos esportes, tênis, tênis de
mesa, vôlei, xadrez
lutas, artes marciais, boxe, capoeira, esgrima, jiu-jitsu, judô, karatê, kung-fu, luta
Lutas
livre, MMA, muay-thai
bets, brincadeira, damas, esconde-esconde, jogo, jogos cooperativos, jogos de
Jogos e brincadeiras antigamente, jogos de rua, jogos diferentes, jogos livres, jogos populares, pega-
pega, pinbolim, ping-pong, queima/queimada, regras dos jogos, soltar pipa
Danças, atividades rítmicas
cantar, dança,dança elaborada, ritmos de dança
e música
dar mortal de costas, ginástica, ginástica artística, ginástica rítmica, musculação,
Ginásticas
virar estrelinha
Capacidades físicas e
alongamento, aquecimento, capacidades físicas, condicionamento físico
condicionamento físico
Movimento e exercício exercícios, exercício para saúde
Aula expositiva apostila
- “Negatividade”: nada, nenhuma brincadeira
- “Positividade”: bastante coisa, de tudo/de tudo um pouco, eu já aprendi tudo,
nada mais, o mesmo que estou aprendendo agora
- Novidades: atividades diferentes e atuais, coisas legais, coisas novas,
novidades, países diferentes
- Aprendizagem de habilidades: aprender a jogar, aprender a jogar bola, na
queimada não consigo jogar a bola direito, nadar, no gol
Outros
- Conhecimento sobre o corpo: caminhar correto, fazer coisas correto, corpo
humano, músculo e outras partes do corpo, saúde
- Estratégias e conteúdos: como aprender a jogar, profundidade do conteúdo
- Interação social: atividade em grupo, colaboração dos colegas na aula
- Esportes radicais: BMX
- Aulas com movimento corporal: aulas na quadra
- Outros: corrida, líderes de torcida, não sabe, yoga
Observa-se a grande amplitu- na categoria “Esportes”. No que
de de tipos de, conteúdos apren- diz respeito ao que os professo-
dizagens e perspectivas sobre as res propõem ensinar, nota-se a
aulas referidas pelas respostas presença de conteúdos habitu-
dos alunos em ambas as ques- ais da Educação Física, tais como
tões, que não se restringiram os esportes coletivos com bola
ao entendimento tradicional de (basquete, futebol/futsal, volei-
“conteúdo”, e incluíram aspectos bol e handebol); além da pre-
relativos a sociabilidade e estra- sença de provas do atletismo
tégias didáticas. (arremessos, saltos e corridas).
É sobretudo notável a dife- Já com relação aos esportes que
rença, entre as duas questões, os alunos gostariam de apren-
dos conteúdos das respostas der, as modalidades habituais
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apresentam-se novamente, mas considerar a maciça presença do
em concorrência com outras mo- esporte nas mídias.
dalidades não mencionados na Assim, é preciso que o profes-
questão anterior, como é o caso sor esteja atento ao fato de que
de “esportes estrangeiros”, “le- há uma relação dialética entre ex-
vantamento de peso”, “tênis”, ou periência anterior e interesse/mo-
seja os alunos clamam por es- bilização de aprendizagem. O pa-
portes “novos”, “diferentes”. pel da Educação Física é propor
“motivos geradores de sentido” e,
Considerações finais isso se dá na apropriação crítica
de diversos elementos da cultura
A constatação de que o espor- de movimento (BETTI, 1994), de
te é o núcleo central das aulas modo que, o aluno não permane-
compactua com diversos estudos ça apenas “gerando sentido” no/
na área da Educação Física esco- sobre o esporte.
lar que já afirmaram que o espor- No entanto, como houve inci-
te é o conteúdo mais ensinado dência entre 1% e 12% de ou-
pelos professores (DEVIDE; RI- tros conteúdos que os alunos
ZZUTTI, 2001; PEREIRA; MOREI- declararam que os professores
RA, 2005; SCHNEIDER; BUENO, ensinam, e entre 2 e 13% de ou-
2005; MELO; FERRAZ, 2007). tros conteúdos que gostariam
No nosso entendimento, tra- de aprender, além do esporte, é
ta-se de um círculo vicioso, possível inferir que alunos e pro-
como se o interesse de apren- fessores começam a dar sentido
der um conteúdo fosse condi- e mobilizar-se em direção à am-
cionado às experiências anterio- pliação dos vários elementos da
res. E de fato o é, pois o aluno cultura de movimento.
mobiliza saberes que lhe fazem Como se trata de escolas es-
sentido, que lhe dão prazer. To- taduais de São Paulo, cuja se-
davia, a mobilização, o sentido cretaria de educação implemen-
e o desejo estão em referência tou um currículo base para toda a
a um sujeito, por sua vez social rede escolar de ensino fundamen-
e que partilha do patrimônio hu- tal (a partir do 6° ano) e ensino
mano. Portanto, o que leva ao médio, podemos também cogitar
desejo de aprender de algo em a hipótese de que esta ampliação
detrimento de outro, é a relação de sentido, ao menos em parte,
que o sujeito estabelece consigo deva-se a esta implementação,
mesmo, com os outros e com o pois este currículo “oficial” propôs
mundo (CHARLOT, 2000). Quer o jogo, esporte, atividades rítmi-
dizer, se o professor (o “outro”, cas, luta e ginástica como eixos
neste caso) ensina habitualmen- de conteúdo para a Educação Fí-
te conteúdos relacionados ao es- sica, com a expectativa de “levar
porte, o “mundo” da Educação o aluno, ao longo de sua escolari-
Física apresentado ao aluno limi- zação e após, as melhores oportu-
tar-se-á ao ele. Ademais, há de nidades de participação e usufruto
REBESCOLAR 163
no jogo, esporte, ginástica, luta e Os dados indicam que, em
atividades rítmicas (SÃO PAULO, certa medida, professores e alu-
2008, p.42). nos tem expectativas diferentes.
Todavia, as relações que o alu- Dessa forma, em estudo recente,
no faz com o movimento corporal Toshioka (2015) menciona que
abrangem um universo maior do um dos motivos alegados pelo
que as aulas de Educação Física. professores para que professores
Não podemos desconsiderar que não ensinem lutas nas aulas de
o aluno é influenciado pelo espe- Educação Física é a hipótese de
táculo esportivo nas diversas mí- que alunos não se sentiriam mo-
dias, que talvez pratique alguma tivados com este conteúdo. Por
atividade física ou esportiva em outro lado, em estudo de caso
clubes ou outras instituições for- que investigou como os alunos se
mais etc. relacionam com o conteúdo lu-
Nessa perspectiva, constata- tas, So (2014) concluiu que elas
mos que muitas modalidades de provocaram grande mobilização e
esportes desejadas pelos alunos participação dos alunos.
não estão presentes nos conteú- De fato, não é possível infe-
rir exatamente quais são os reais
dos que declararam ser ensinados
motivos para a pouca presença de
em aula, e dentre estes alguns
conteúdos como lutas e ginásticas,
também não estão presentes no
por exemplo, pois diversos fatores
curriculo “oficial” das escolas es-
podem levar a isso, como a falta
taduais (por exemplo, futebol de
de material, espaço físico precá-
areia, futvôlei, maratona, nata-
rio, formação inicial deficitária, etc.
ção, tênis de mesa, xadrez) indi- Mas, a partir dos dados analisados
cando o interesse pela aprendi- na atual investigação, concluímos
zagem de “conteúdos novos”. Tal pela necessidade de um melhor
situação nos remete novamen- diagnóstico dos alunos, o que im-
te a Charlot (2000), quando as- plica entender as relações que es-
segura que aprender faz sentido tabelecem com os saberes propos-
por referência à história do sujei- tos pelos professores.
to e às suas expectativas, quan- Outro resultado que de modo
to ao que ele estabelece com o significativo demonstra essa diver-
mundo e com o outro. gência entre professores e alunos
Portanto, tanto para os alunos refere-se à categoria “aula expo-
quanto para o currículo da rede sitiva” (trabalhos em sala, uso da
estadual, espera-se a ampliação lousa, resolução de tarefas escritas,
e abordagem de diversos ele- etc), a quarta mais citada pelos alu-
mentos da cultura de movimen- nos na questão “a” (o que os pro-
to. Diante disso, resta-nos pro- fessores mais ensinam nas aulas),
blematizar quais são os motivos porém é estratégia de aula indese-
que justificam a preferência dos jada pelos alunos, já que nenhum
docente pelas modalidades habi- delas a contemplou na questão “b”
tuais, como o futsal, basquete- (o que gostariam de aprender) me-
bol, volibol e handebol. nos desejado pelos alunos.
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Há aí uma confusão. Várias para caminharmos em direção aos
proposições teórico-metodológi- aprenderes discentes a eles obri-
cas da Educação Física que surgi- gatoriamente relacionados.
ram na década de 1990 apontam Então, diante das aprendiza-
como finalidade desta disciplina a gens apontadas e desejadas pe-
apropriação e apreciação crítica los alunos, entendemos que a
dos elementos da cultura corpo- ampliação dos conteúdos trata-
ral de movimento: “formar o ci- dos nas aulas de Educação Física
dadão que vai usufruir, produzir favorece o potencial de mobili-
e reproduzir as formas culturais zação do sujeito para a aprendi-
das atividades corporais de mo- zagem, visto que, alcança uma
vimento”, nas palavras de Bet- maior condição de interiorização
ti (1994, p.38). No entanto, tal das “coisas que fazem sentido”.
perspectiva pode também ser cri-
ticada sob a égide do “pré-con- Referências
ceito” de que se quer transformar
a Educação Física em discurso te- BETTI, M. Educação física e
órico e, consequentemente, des- sociedade. São Paulo: Movi-
considerar o movimento corporal mento, 1991.
como núcleo central da Educação
Física (BRACHT, 1996). ______. O que a semiótica inspi-
Mas não se trata disso. É preci- ra ao ensino da Educação Física.
so enfatizar que a Educação Físi- Discorpo, São Paulo, n. 3, p.25-
ca lida com dois saberes, segun- 45, 1994.
do Bracht (1996): (a) saber do
movimento (práticas corporais); ______. Educação física e so-
(b) saber sobre o movimento (in- ciedade. 2. Ed. São Paulo: Hu-
corporação via discurso). Con- citec, 2009.
tudo, isso não significa que am-
bos devem ser tratadas de modo BETTI, M.; USHINOHAMA, T. Z.
fragmentado ou dicotômico - por Os saberes da Educação Física
exemplo, falar em “aula teórica” nas perspectivas dos alunos: pa-
versus “aula prática”. norama da literatura e uma pro-
Nesse sentido, o desafio da Edu- posta de investigação a partir
cação Física seria “relacionar orga- da ‘teoria da relação com o sa-
nicamente o saber-movimentar e ber’. Revista Pulsar. Jundiaí,
o saber-sobre esse movimentar- v.6 n.4, p. 1-18, 2014. Dispo-
-se” (BETTI, 1994), e neste sen- nível em <http://www.esef.br/
tido, compreender os pontos de images/stories/arquivos/pdf/re-
vista dos alunos sobre a Educação vista/Artigos/Volume6_Nume-
Física é indispensável. Trata-se de ro04_2014/artigo11.pdf/> Aces-
ir além das intencionalidades pe- so em: 08.04.2015.
dagógicas pensadas pelo profes-
sor e dos saberes docentes consi-
derados como fim em si mesmo,
REBESCOLAR 165
BRACHT, V. Educação física no Revista da Educação Física/
1º grau: conhecimento e espe- UEM, Maringá, v. 16, n. 2, p.
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Alegre: Magister, 1997. fundamental ciclo II e ensino
médio. São Paulo: SEE, 2008.
CHARLOT, B. Da relação com o
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DEVIDE, F. P., RIZZUTTI, E. V.
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educação física escolar após in- vas dos alunos. 2014. 197f. Dis-
tervenção pedagógica, Revista sertação (Mestrado em Educação)
Brasileira de Ciências do Es- – Faculdade de Ciências e Tecno-
porte, v. 22, n. 3, p. 117-136, logia, Universidade Estadual Pau-
maio 2001. lista, Presidente Prudente, 2014.