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OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: INFLUÊNCIAS, TEN-

DÊNCIAS, DIFICULDADES E POSSIBILIDADES

Profa Dra Suraya Cristina Darido

Depto. Educação Física -UNESP- Rio Claro- SP


LETPEF-Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física
E-mail: surayacd@rc.unesp.br

Neste texto discuto, num primeiro mo- resses, modelos de conduta, etc, cuja as-
mento, o conceito de conteúdo, suas di- similação é considerada essencial para
mensões e o seu papel no interior da esco- que se produza um desenvolvimento e
la. Em seguida, levanto as principais ten- uma socialização adequada ao aluno. É
dências e influências que a disciplina de importante ressaltar que nem todos os sa-
Educação Física sofreu ao longo das úl- beres e formas culturais são suscetíveis de
timas décadas e os seus desdobramentos constarem como conteúdos curriculares, o
na concepção e adoção dos conteúdos es- que exige uma seleção rigorosa da escola
colares. Além disso, busco, a partir da a- (LIBÂNEO, 1994; COLL et al., 2000).
nálise de alguns trabalhos publicados em Assim, conteúdos formam a base obje-
importante evento da área (CONBRACE tiva da instrução-conhecimento sistemati-
97 e 99) desvelar quais as temáticas são zado e habilidade referidos aos objetivos
mais comuns no estudo dos conteúdos, e viabilizados pelos métodos de transmis-
bem como apontar alguns caminhos para são e assimilação.
a condução das pesquisas. Em seguida, LIBÂNEO (1994), do mesmo modo
procedo uma análise das dificuldades e que COLL et al. (2000) e ZABALA
das possibilidades da implementação das (1998), entende que conteúdos de ensino
discussões apresentadas a respeito dos são o conjunto de conhecimentos, habili-
conteúdos na disciplina da Educação Físi- dades, hábitos, modos valorativos e atitu-
ca escolar, com vistas à formação do ci- dinais de atuação social, organizados pe-
dadão. dagógica e didaticamente, tendo em vista
a assimilação ativa e aplicação pelos alu-
1 - CONCEITO E DIMENSÕES DOS CONTE- nos na sua prática de vida.
ÚDOS Desta forma, quando nos referimos a
conteúdos estamos englobando conceitos,
Para iniciar a discussão sobre conteú- idéias, fatos, processos, princípios, leis
dos na Educação Física escolar gostaria científicas, regras, habilidades cognosci-
de esclarecer o seu conceito, uma vez que tivas, modos de atividade, métodos de
este termo é tão utilizado quanto mal compreensão e aplicação, hábitos de es-
compreendido. COLL et al. (2000) define tudos, de trabalho, de lazer e de convi-
conteúdo como uma seleção de formas ou vência social, valores, convicções e atitu-
saberes culturais, conceitos, explicações, des.
raciocínios, habilidades, linguagens, valo- É preciso lembrar, que ao longo da his-
res, crenças, sentimentos, atitudes, inte- tória da educação determinados tipos de

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conteúdos, sobretudo, aqueles relativos a te procedimental, o saber fazer e não o
fatos e conceitos, tiveram e ainda têm saber sobre a cultura corporal ou como se
uma presença desproporcional nas pro- deve ser. Embora, esta última categoria
postas curriculares (COLL et al., 2000; aparecesse na forma do currículo oculto.
ZABALA, 1998). O fato é que o termo Em pesquisa realizada por nós anteri-
conteúdos foi, e ainda é, utilizado para ormente, DARIDO (1999), ficou evidente
expressar o que se deve aprender, numa a falta de tradição da área no encaminha-
relação quase que exclusiva aos conheci- mento do conteúdos numa dimensão con-
mentos das disciplinas referentes a no- ceitual. Através da observação das aulas
mes, conceitos e princípios. É comum ob- de 7 professores de Educação Física do
servamos os alunos afirmando que tal ensino fundamental e médio, verificou-se
disciplina têm "muito conteúdo", sinali- que os professores não trabalham com
zando o excesso de informações concei- conhecimentos acadêmicos nas aulas de
tuais. Educação Física.
Atualmente, há uma tentativa, de acor- Embora os professores pesquisados,
do com ZABALA (1998), de ampliar o todos com pós-graduação, afirmassem
conceito de conteúdo e passar a referen- que um dos objetivos da Educação Física
cia-lo como tudo quanto se tem que a- refere-se à busca da autonomia do aluno
prender, que não apenas abrangem as ca- após o término da escolarização formal, e
pacidades cognitivas, como incluem as esta autonomia é facilitada a partir do
demais capacidades. Desta forma, poderá momento em que o aluno conhece (por-
ser incluído de forma explícita nos pro- tanto, a nível cognitivo), a importância da
gramas de ensino o que antes estava ape- atividade física, os seus benefícios, as
nas no currículo oculto. Esta classificação melhores maneiras de realizá-la, as prin-
corresponde às seguintes questões "o que cipais modificações ocorridas no ser hu-
se deve saber?", "o que se deve saber fa- mano em função da prática da atividade
zer?", e "como se deve ser?", com a fina- física, além do conhecimento sobre o con-
lidade de alcançar os objetivos educacio- texto das diferentes práticas corporais, -
nais. eles não trabalhavam os conteúdos numa
De acordo com COLL et al. (2000) há dimensão conceitual.
uma reivindicação freqüente de que na Em outras palavras, a discussão sobre
escola sejam ensinados e aprendidos ou- a inclusão destes conteúdos na área é ex-
tros conhecimentos considerados tão ou tremamente recente e há dificuldades na
mais importantes do que fatos e concei- seleção e na implementação de conteúdos
tos, como por exemplo, certas estratégias relevantes. Além disso, muitas vezes, a
ou habilidades para resolver problemas, comunidade escolar não oferece respaldo
selecionar a informação pertinente em para os professores trabalharem com esta
uma determinada situação ou utilizar os proposta.
conhecimentos disponíveis para enfrentar CASTELLANI FILHO (1995), lembra
situações novas ou inesperadas, ou ainda, que os cursos de futebol ministrados à
saber trabalhar em equipe, mostrar-se so- época da sua formação (década de 70),
lidário com os colegas, respeitar e valori- eram voltados ao saber fazer, ao saber jo-
zar o trabalho dos outros ou não discrimi- gar (como ainda são hoje, na grande mai-
nar as pessoas por motivos de gênero, i- oria dos casos). O autor se pergunta por-
dade ou outro tipo de características indi- que, depois de 2 ou 3 anos de estudo do
viduais. futebol os alunos não conseguiam enten-
A Educação Física, contudo, ao longo der a razão de pendurar chuteirinhas nos
de sua história, priorizou os conteúdos quartos das mães que tinham dado a luz a
numa dimensão quase que exclusivamen-

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meninos nas maternidades, o significado 2 - AS INFLUÊNCIAS E TENDÊNCIAS DA
da identidade da cultura corporal de uma EDUCAÇÃO FÍSICA E IMPLICAÇÕES PARA
nação, as discussões presentes nas obras OS CONTEÚDOS ESCOLARES
de Nelson Rodrigues ou, ainda, a presen-
ça da estética numa partida de futebol e Os conteúdos escolares não existiam
muitas outras questões vinculadas ao con- na sua forma atual, eles têm um caráter
texto do futebol. histórico, eles vão sendo elaborados e ree-
No nosso entender esta argumentação laborados conforme as necessidades de
também dá sustentação à Educação Física cada época e dos interesses sociais vigen-
no ensino fundamental e médio, ou seja, tes.
não basta ensinar aos alunos a técnica dos No sentido de examinar mais detalha-
movimentos, as habilidades básicas ou, damente algumas facetas dos conteúdos
mesmo, as capacidades físicas. É preciso da Educação Física na escola, neste tópi-
ir além e ensinar o contexto em que se co procurei analisar as principais influên-
apresentam as habilidades ensinadas, in- cias e tendências e os seus desdobramen-
tegrando o aluno na esfera da sua cultura tos no processo de construção dos conte-
corporal. No entanto, como alertou údos escolares.
BETTI, M. (1994), não é propor que a
No Brasil, a Educação Física na escola
Educação Física na escola se transforme
recebeu influências da área médica com
num discurso sobre a cultura corporal,
ênfase nos discursos pautados na higiene,
mas uma ação pedagógica com ela. O au-
saúde e eugenia, dos interesses militares e
tor argumenta que a linguagem deve auxi-
do nacionalismo. De acordo com BETTI ,
liar o aluno a compreender o seu sentir
M. (1991) estes foram os núcleos de con-
corporal, o seu relacionar-se com os ou-
vergência dos grupos interessados na im-
tros e com as instituições sociais de práti-
plantação da Educação Física na escola
cas corporais.
brasileira. Especificamente, quanto aos
Assim, dentro de uma perspectiva de conteúdos, segundo o mesmo autor, até os
educação e também de Educação Física anos 60, esteve centrada nos movimentos
seria fundamental, considerar os proce- ginásticos europeus, especialmente os de
dimentos, os fatos e conceitos, as atitudes Ling, Janh e depois da escola francesa. O
e os valores como conteúdos, todos no método francês, principal referência nesta
mesmo nível de importância. época, preconizava uma Educação Física
A questão que se coloca por ora é a se- orientada pelos princípios anátomo-
guinte; que produtos da atividade humana fisiológicos, visando o desenvolvimento
construídos no processo devem ser assi- harmônico do corpo, e na idade adulta a
milados pelas novas gerações? Ou, que manutenção e melhoria do funcionamento
conteúdos os alunos deverão adquirir a dos órgãos. Enquanto valores subjacentes
respeito da Educação Física a fim de se buscavam um homem obediente, submis-
tornarem preparados e aptos para enfren- so e que respeitasse as autoridades supe-
tar as exigências da vida social, exercício riores sem questionamento, além disso,
da cidadania, e nas lutas pela melhoria não havia preocupação com o ensino de
das condições de vida, de trabalho e de conceitos de qualquer espécie
lazer? (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Em seguida, BETTI, M. (1991) afirma
que a Educação Física brasileira sofreu
forte influência do Método Desportivo
Generalizado, que procurava atenuar o
caráter formal da ginástica incluindo o

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conteúdo esportivo, com ênfase no aspec- Algumas abordagens que tiveram mai-
to lúdico. Para tal finalidade, o jogo es- or impacto a partir da década de 70 foram
portivo foi percebido como um meio pri- as seguintes; psicomotricidade, desenvol-
vilegiado, porque através do jogo o aluno vimentista e construtivista com enfoque
descobre suas aptidões e gostos, adquire psicológico e as críticas (crítico- supera-
conhecimento de si próprio, trabalha coo- dora e crítico emancipatória), com enfo-
perativa e coletivamente e prepara-se, as- que sociocultural. Além destas perspecti-
sim, para a vida. De acordo com Listello, vas, o modelo adotado nos Parâmetros
principal defensor desta proposta, os ob- Curriculares Nacionais - área Educação
jetivos do Método Desportivo Generali- Física e a proposta dos jogos cooperati-
zado são; - iniciar os alunos nos diferen- vos, se constituem numa proposta dife-
tes esportes, - orientar para as especiali- rente das demais. Podemos incluir ainda
zações através do desenvolvimento e a- uma nova perspectiva adotada por muitos
perfeiçoamento das atitudes e gestos, - colegas da área, que é uma visão relacio-
desenvolver o gosto pelo belo, pelo esfor- nada a saúde e aptidão física, porém, com
ço e performance, e provocar as necessi- uma perspectiva renovada.
dades de higiene. Todavia, é preciso ressaltar que a dis-
Nos idos da década de 70 o governo cussão e o surgimento destas abordagens
militar apoiou a Educação Física na esco- não significou o abandono de práticas
la objetivando tanto a formação de um vinculadas ao modelo esportivo, biológi-
exército composto por uma juventude for- co ou ainda, ao recreacionista, que podem
te e saudável como a desmobilização de ser considerados os mais freqüentes na
forças oposicionistas. Assim, estreitaram- prática do professor de Educação Física
se os vínculos entre esporte e nacionalis- escolar.
mo, (BETTI, M., 1991). Fortaleceu-se A seguir, serão apresentadas algumas
desta maneira o conteúdo esportivo na considerações sobre as principais aborda-
escola, reforçando valores como a racio- gens da Educação Física escolar e a ênfa-
nalidade, a eficiência e a produtividade. se atribuída a determinados conteúdos e
A partir da década de 80, em função do as dimensões conceituais, atitudinais e
novo cenário político, este modelo de es- procedimentais.
porte de alto rendimento para a escola
passa a ser fortemente criticado e como 2.1 - PSICOMOTRICIDADE
alternativa surgem novas formas de se
pensar a Educação Física na escola. Essas
considerações, resultaram num período de A psicomotricidade é o primeiro mo-
crise da Educação Física que culminou vimento mais articulado que surge a partir
com o lançamento de diversos livros e da década de 70 em contraposição aos
artigos que buscavam além de criticar as modelos anteriores. Nele o envolvimento
características reinantes da área, elaborar da Educação Física é com o desenvolvi-
propostas, pressupostos e a enfatizar con- mento da criança, com o ato de aprender,
teúdos que viessem a tornar a Educação com os processos cognitivos, afetivos e
Física mais próxima da realidade e da psicomotores, ou seja, buscava garantir a
função escolar. É o que passaremos a ana-
lisar em seguida.1
ção Física escolar. Revista do Colégio Brasileiro
de Ciências do Esporte, 20 (1): 58-66, 1998.
1 DARIDO, S. C. A avaliação em Educação Física
Em textos anteriores procurei analisar as princi-
pais tendências pedagógicas da Educação Física escolar: das abordagens à prática pedagógica. A-
escolar. Por exemplo: DARIDO, S.C. Apresenta- nais do V Seminário de Educação Física escolar,
ção e análise das principais abordagens da Educa- 50-66, 1999.

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formação integral do aluno (SOARES, cução que dependem do sistema muscular
1996). Na verdade, esta concepção inau- que influem no rendimento motor e o sis-
gura uma nova fase de preocupações para tema nervoso central.
o professor de Educação Física que extra- Assim, a psicomotricidade advoga por
pola os limites biológicos e de rendimen- uma ação educativa que deva ocorrer a
to corporal, passando a incluir e a valori- partir dos movimentos espontâneos da
zar o conhecimento de origem psicológi- criança e das atitudes corporais, favore-
ca. cendo a gênese da imagem do corpo, nú-
O autor que mais influenciou o pensa- cleo central da personalidade, (LE
mento psicomotricista no País, foi sem BOUCH, 1986). A educação psicomotora
dúvida, o francês Jean Le Bouch, através na opinião do autor refere-se a formação
da publicação de seus livros, da sua pre- de base indispensável a toda criança, seja
sença no Brasil, e de seus seguidores, pre- ela normal ou com problemas e responde
sentes em várias partes do mundo. Para a a uma dupla finalidade; assegurar o de-
construção das suas idéias Le Bouch ins- senvolvimento funcional tendo em conta
pirou-se em autores que já tinham uma possibilidades da criança ajudar sua afeti-
certa penetração, senão na Educação Físi- vidade a expandir-se e a equilibrar-se a-
ca, em outros campos de estudos. Entre través do intercâmbio com o ambiente
eles, podem ser citados os trabalhos de J. humano.
Ajuriaguerra, Jean Piaget, P. Vayer, H.
Wallon, e Winnicott. 2.2 - CONSTRUTIVISTA
LE BOUCH (1986) afirma que:
É preciso lembrar que a psicomotrici-
“...a corrente educativa em psicomo- dade influenciou a perspectiva construti-
tricidade tem nascido das insuficiências vista-interacionista quer na questão da
na educação física que não teve condi- busca da formação integral, com a inclu-
ções de corresponder às necessidades de são das dimensões afetivas, cognitivas ao
uma educação real do corpo”, (p.23). movimento humano, quer na discussão do
objeto da Educação Física escolar, e as-
O autor prossegue em suas críticas à sim como a psicomotricidade, tem uma
Educação Física, ressaltando que: “...eu proposta de ensino para a área que abarca
distinguia dois problemas em educação principalmente crianças na faixa etária até
física: um deles ligados aos fatores de e- os 10-11 anos.
xecução, centrado no rendimento mecâni- Dentro da perspectiva construtivista a
co do movimento, e outro, ligado ao nível intenção é a construção do conhecimento
de controle e de comando que eu chamei a partir da interação do sujeito com o
psicomotor, (p.23). mundo, e para cada criança a construção
Aliás, entendo que uma das marcas da deste conhecimento exige elaboração, ou
psicomotricidade no espaço da Educação seja, uma ação sobre o mundo. Nesta
Física tenha sido o aumento da populari- concepção a aquisição do conhecimento é
dade do termo “psico” no discurso da um processo construído pelo indivíduo
maioria dos professores. LE BOUCH es- durante toda a sua vida, não estando pron-
creveu um dos seus trabalhos, em 1952, to ao nascer nem sendo adquirido passi-
procurando alertar os professores de Edu- vamente de acordo com as pressões do
cação Física sobre as suas funções psico- meio. Conhecer é sempre uma ação que
motoras. E em 1960, na sua tese de dou- implica em esquemas de assimilação e
torado o autor buscou verificar os valores acomodação num processo de constante
do trabalho corporal, e os fatores de exe- reorganização.

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A principal vantagem desta abordagem citado, no Brasil, principalmente nos tra-
é a de que ela possibilita uma maior inte- balhos de TANI (1987), TANI et alii
gração com uma proposta pedagógica (1988) e MANOEL (1994). A obra mais
ampla e integrada da Educação Física nos representativa desta abordagem é “Edu-
primeiros anos de educação formal. Po- cação Física Escolar: fundamentos de
rém, desconsidera a questão da especifi- uma abordagem desenvolvimentista
cidade da Educação Física. Nesta visão o (TANI et alii, 1988). Para TANI et alii
que pode ocorrer com certa freqüência, é (1988) a proposta elaborada por eles é
que conteúdos que não tem relação com a uma abordagem dentre várias possíveis, e
prática do movimento em si poderiam ser é dirigida especificamente para crianças
aceitos para atingir objetivos que não de quatro a quartoze anos, e busca nos
consideram a especificidade do objeto, processos de aprendizagem e desenvol-
que estaria em torno do eixo cor- vimento uma fundamentação para a Edu-
po/movimento. cação Física escolar. Segundo eles é uma
FREIRE (1989) teve o mérito de le- tentativa de caracterizar a progressão
vantar a questão da importância da Edu- normal do crescimento físico, do desen-
cação Física na escola considerar o co- volvimento fisiológico, motor, cognitivo
nhecimento que a criança já possui, inde- e afetivo-social, na aprendizagem motora
pendentemente da situação formal de en- e, em função destas características, suge-
sino, porque a criança, como ninguém, é rir aspectos ou elementos relevantes para
uma especialista em brinquedo. Deve-se, a estruturação da Educação Física Esco-
deste modo, resgatar a cultura de jogos e lar.
brincadeiras dos alunos envolvidos no Os autores desta abordagem defendem
processo ensino-aprendizagem, aqui in- a idéia de que o movimento é o principal
cluídas as brincadeiras de rua, os jogos meio e fim da Educação Física, propug-
com regras, as rodas cantadas e outras a- nando a especificidade do seu objeto. Em
tividades que compõem o universo cultu- suma, uma aula de Educação Física deve
ral dos alunos. privilegiar a aprendizagem do movimen-
Além de procurar valorizar as experi- to, embora possam estar ocorrendo outras
ências dos alunos, a sua cultura, a propos- aprendizagens em decorrência da prática
ta construtivista também tem o mérito de das habilidades motoras.
propor uma alternativa aos métodos dire- Aliás, habilidade motora é um dos
tivos, tão impregnados na prática da Edu- conceitos mais importantes dentro desta
cação Física. O aluno constrói o seu co- abordagem, pois é através dela que os se-
nhecimento a partir da interação com o res humanos se adaptam aos problemas
meio, resolvendo problemas. do cotidiano, resolvendo problemas moto-
Na proposta construtivista o jogo en- res.
quanto conteúdo/estratégia tem papel pri- Tais conteúdos, devem ser desenvolvi-
vilegiado. É considerado o principal mo- dos segundo uma ordem de habilidades,
do de ensinar, é um instrumento pedagó- do mais simples que são as habilidades
gico, um meio de ensino, pois enquanto básicas para as mais complexas, as habi-
joga ou brinca a criança aprende. Sendo lidades específicas. As habilidades bási-
que este aprender deve ocorrer num am- cas podem ser classificadas em habilida-
biente lúdico e prazeroso para a criança. des locomotoras (por exemplo: andar,
correr, saltar, saltitar), e manipulativas
2.3 - DESENVOLVIMENTISTA (por exemplo: arremessar, chutar, rebater,
receber) e de estabilização (por exemplo:
girar, flexionar, realizar posições inverti-
O modelo desenvolvimentista é expli- das). Os movimentos específicos são mais

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influenciados pela cultura e estão relacio- Embora tal proposta seja bastante inte-
nados à prática dos esportes, do jogo, da ressante na busca de valores mais huma-
dança e, também, das atividades industri- nitários e seja possível, viável em termos
ais. de implementação na prática, e concreta
para os professores de Educação Física,
2.4 - JOGOS COOPERATIVOS considerando a importância do jogo, a
abordagem parece não ter se aprofunda-
do, como deveria, nas análises sociológi-
Esta nova perspectiva para a Educação cas e filosóficas subjacentes a construção
Física na escola está pautada na valoriza- de um modelo educacional voltado para a
ção da cooperação em detrimento da cooperação, além de não considerar os
competição. BROTTO (1995), principal efeitos do sistema capitalista sobre a
divulgador destas idéias no país, baseados competição/cooperação na sociedade con-
nos estudos antropológicos de Margaret temporânea. É possível que estas análises
Mead, afirma que é a estrutura social que estejam em curso, uma vez que suas pu-
determina se os membros de determina- blicações são bastante recentes.
das sociedades, irão competir ou cooperar
entre si. O autor entende que há um con-
dicionamento, um treinamento na escola, 2.5 – SAÚDE RENOVADA
família, mídia, para fazer acreditar que as
pessoas não tem escolhas e tem que acei- NAHAS (1997), GUEDES &
tar a competição como opção natural. GUEDES (1996), só para citar alguns,
Inspirado em Terry Orlick, BROTTO passam a advogar em prol de uma Educa-
(1995) sugere o uso dos jogos cooperati- ção Física escolar dentro da matriz bioló-
vos como uma força transformadora que gica, embora não tenham se afastado das
são divertidos para todos e todos têm um temáticas da saúde e da qualidade de vi-
sentimento de vitória, criando alto nível da. É importante ressaltar que ao longo do
de aceitação mútua, enquanto nos jogos século XX, foram muitos os autores que
competitivos os jogos são divertidos ape- defenderam a Educação Física numa
nas para alguns, a maioria têm sentimen- perspectiva biológica. No entanto, enten-
tos de derrota e são excluídos por falta de do que as considerações destes autores
habilidades. representem uma nova proposta, sobretu-
BROWN (1994), autor do livro tradu- do a partir de meados da década de 90,
zido para o português intitulado: "Jogos pois propõem novas formas de compreen-
cooperativos: teoria e prática" afirma que são destas relações, com novos argumen-
o ponto de partida desta perspectiva é o tos.
jogo, sua mensagem, suas possibilidades GUEDES & GUEDES (1996), por e-
de ser uma prazerosa oportunidade de xemplo, ressaltam que uma das principais
comunicação, e um espaço importante preocupações da comunidade científica
para viver alternativas novas, uma contri- nas áreas da Educação Física e da saúde
buição para a construção de uma nova pública é levantar alternativas que possam
sociedade baseada na solidariedade e na auxiliar na tentativa de reverter a elevada
justiça. Entende o autor que os jogos não incidência de distúrbios orgânicos associ-
são algo novo para entreter os garotos, ados à falta de atividade física. Os auto-
mas uma proposta coerente com valores res, baseados em diferentes trabalhos a-
pedagógicos que deseja transmitir, espa- mericanos, entendem que as práticas de
ços de criação simbólica do povo, espa- atividade física vivenciadas na infância e
ços, onde, a partir da cooperação, se dão adolescência se caracterizam como im-
os sentidos à prática que realizamos. portantes atributos no desenvolvimento

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de atitudes, habilidades, e hábitos que po- 2.6 - CRÍTICAS
dem auxiliar na adoção de um estilo de
vida ativo fisicamente na idade adulta. E Apoiados nas discussões que vinham
como proposta sugerem a redefinição do ocorrendo nas áreas educacionais e na
papel dos programas de Educação Física tentativa de romper com o modelo hege-
na escola, agora como meio de promoção mônico do esporte/aptidão física pratica-
da saúde, ou a indicação para um estilo de do nas aulas de Educação Física, a partir
vida ativa proposta por NAHAS (1997). da década de 80, são elaborados os pri-
Denomino esta proposta de biológica meiros pressupostos teóricos num refe-
renovada porque ela incorpora princípios rencial crítico, de tendência marxista.
e cuidados já consagrados em outras a- Estas abordagens denominadas críticas
bordagens com enfoque mais sócio cultu- ou progressistas passaram a questionar o
ral. NAHAS (1997), por exemplo, sugere caráter alienante da Educação Física na
que o objetivo da Educação Física na es- escola, propondo um modelo de supera-
cola de ensino médio é ensinar os concei- ção das contradições e injustiças sociais.
tos básicos da relação entre atividade físi- Assim, uma Educação Física crítica esta-
ca, aptidão física e saúde. O autor observa ria atrelada as transformações sociais, e-
que esta perspectiva procura atender a to- conômicas e políticas tendo em vista a
dos os alunos, principalmente os que mais superação das desigualdades sociais.
necessitam, sedentários, baixa aptidão fí-
É importante ressaltar que mesmo den-
sica, obesos e portadores de deficiências.
tro da Educação Física surgiram alguns
Além disso, GUEDES & GUEDES desdobramentos da abordagem crítica,
(1996) criticam os professores que traba- com posições nem sempre convergentes,
lham na escola apenas as modalidades como a perspectiva crítico-superadora e a
esportivas tradicionais; voleibol, basque- crítico-emancipatória.
tebol, handebol e futebol., "impedindo,
desse modo, que os escolares tivessem
acesso às atividades esportivas alternati- Crítico-superadora
vas que eventualmente possam apresentar
uma maior aderência a sua prática fora O trabalho mais marcante desta abor-
do ambiente escola", (p.55). Os autores dagem foi publicado em 1992, no livro
consideram que as atividades esportivas intitulado “Metodologia do ensino da E-
são menos interessantes para a promoção ducação Física,” publicada por um
da saúde, devido a dificuldade no alcance COLETIVO DE AUTORES. Isto porém,
das adaptações fisiológicas e segundo não quer dizer que outros trabalhos im-
porque não prediz sua prática ao longo de portantes, como por exemplo, “Educação
toda a vida. Física cuida do corpo ...e mente”
GUEDES & GUEDES (1996), assim (MEDINA, 1983), “Prática da Educação
como NAHAS (1997) ressaltam a impor- Física no primeiro grau: Modelo de re-
tância das informações e conceitos rela- produção ou perspectiva de transforma-
cionados a aptidão física e saúde. A ado- ção?” (COSTA, 1984), “Educação Física
ção destas estratégias de ensino contem- progressista: a pedagogia crítico-social
plam não apenas os aspectos práticos, dos conteúdos e a Educação Física Brasi-
mas também, a abordagem de conceitos e leira,” (GHIRALDELLI Jr., 1988), “Edu-
princípios teóricos que proporcionem cação Física e aprendizagem social”,
subsídios aos escolares, no sentido de to- (BRACHT,1992), não tenham sido publi-
marem decisões quanto à adoção de hábi- cados antes desta data, com importantes
tos saudáveis de atividade física ao longo contribuições para a construção do co-
de toda vida. nhecimento nesta perspectiva.

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Esta abordagem levanta questões de lações com os principais problemas soci-
poder, interesse, esforço e contestação. ais e políticos vivenciados pelos alunos.
Acredita que qualquer consideração sobre
a pedagogia mais apropriada deve versar, Crítico-emancipatória
não somente sobre questões de como en-
sinar, mas também sobre como se adquiri
estes conhecimentos, valorizando a ques- Uma das principais obras já publicadas
tão da contextualização dos fatos e do dentro da perspectiva crítico emancipató-
resgate histórico. ria no escopo da Educação Física é de au-
toria do Professor Elenor Kunz e intitula-
Esta percepção possibilita a compreen- da "Transformação didático-pedagógica
são, por parte do aluno, de que a produ- do esporte", inspirada, especialmente, nos
ção da humanidade expressa uma deter- pressupostos da teoria crítica da escola de
minada fase e que houve mudanças ao Frankfurt. Neste livro, o autor busca apre-
longo do tempo. Esta reflexão pedagógica sentar uma reflexão sobre as possibilida-
é compreendida como sendo um projeto des de ensinar os esportes pela sua trans-
político-pedagógico. Político porque en- formação didático-pedagógica, de tal mo-
caminha propostas de intervenção em de- do que a Educação contribua para a refle-
terminada direção e pedagógico no senti- xão crítica e emancipatória das crianças e
do de que possibilita uma reflexão sobre a jovens.
ação dos homens na realidade, explicitan-
do suas determinações. Para o autor, o ensino na concepção
crítico-emancipatória deve ser um ensino
Quanto à seleção de conteúdos para as de libertação de falsas ilusões, de falsos
aulas de Educação Física propõem que se interesses e desejos, criados e construídos
considere a relevância social dos conteú- nos alunos pela visão de mundo que apre-
dos, sua contemporaneidade e sua ade- sentam a partir do conhecimento. O ensi-
quação às características sócio-cognitivas no escolar necessita, desta forma, se ba-
dos alunos. Enquanto organização do cur- sear numa concepção crítica, pois é pelo
rículo, ressaltam que é preciso fazer com questionamento crítico que chega a com-
que o aluno confronte os conhecimentos preender a estrutura autoritária dos pro-
do senso comum com o conhecimento cessos institucionalizados da sociedade
científico, para ampliar o seu acervo de que formam as convicções, interesses e
conhecimento. Além disso, sugerem que desejos.
os conteúdos selecionados para as aulas
de Educação Física devem propiciar a lei- KUNZ (1994) ao longo do seu traba-
tura da realidade do ponto de vista da lho tece algumas críticas à proposta críti-
classe trabalhadora. co-superadora e apresenta algumas de su-
as limitações. A primeira delas diz respei-
Deve, também, evitar o ensino por eta- to a deficiência das práticas efetivamente
pas e adotar a simultaneidade na trans- testadas na realidade concreta, que ques-
missão dos conteúdos, ou seja, os mes- tionava, criticava e dava a entender que
mos conteúdos devem ser trabalhados de tudo estava errado na Educação Física e
maneira mais aprofundada ao longo das nos esportes, sem, no entanto, fornecer
séries, sem a visão de pré requisitos. elementos para uma mudança ao nível de
A Educação Física é entendida como prática. Assim, o autor apresenta os resul-
uma disciplina que trata de um tipo de tados do desenvolvimento de uma propos-
conhecimento denominado de cultura ta prática em algumas escolas, dentro de
corporal que tem como temas, o jogo, a uma nova concepção de ensino para mo-
ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e dalidades esportivas, baseada na perspec-
de outros temáticas que apresentarem re- tiva crítico-emancipatória.

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 13


O autor relata que a abordagem crítico- primeiro momento, o aluno com a reali-
superadora, na questão metodológica para dade do ensino, o que denominou de
o ensino dos esportes não apresenta ele- transcendência de limites. Concretamente
mentos que norteiem o ensino, conside- a forma de ensinar pela transparência de
rando a dimensão do "conhecimento" que limites pressupõe três fases. Na primeira
os alunos precisam adquirir para criticar o os alunos descobrem, pela própria experi-
esporte e para compreendê-lo em relação ência manipulativa as formas e meios pa-
a seus valores, normas sociais e culturais. ra uma participação bem sucedida em ati-
Kunz entende que o Coletivo de Autores vidades de movimentos e jogos. Devem
propõem a mesma classificação tradicio- também, manifestar pela linguagem ou
nal do esporte, por exemplo, no atletismo representação cênica, o que experimenta-
apresenta a divisão da modalidade em e- ram e o que aprenderam numa forma de
lementos de correr, saltar e arremes- exposição, e por último, os alunos devem
sar/lançar. aprender a perguntar e questionar sobre
Em suma, nas palavras do autor " suas aprendizagens e descobertas, com a
finalidade de entender o significado cultu-
ral da aprendizagem.
... em termos de uma metodologia de
ação para instrumentalizar o profissional
da prática ...defronta-se mais uma vez 2.7 - PARÂMETROS CURRICULARES
com esta nova intransparência metodoló- NACIONAIS
gica para o ensino da Educação Física
numa perspectiva crítica..." (KUNZ, O Ministério da Educação e do Des-
1994, p.21). porto, através da Secretaria de Ensino
Fundamental, inspirado no modelo edu-
KUNZ defende o ensino crítico, pois é cacional espanhol, mobilizou a partir de
a partir dele que os alunos passam a com- 1994 um grupo de pesquisadores e pro-
preender a estrutura autoritária dos pro- fessores no sentido de elaborar os Parâ-
cessos institucionalizados da sociedade e metros Curriculares Nacionais (PCNs).
que formam as falsas convicções, interes- Em 1997, foram lançados os documentos
ses e desejos. Assim, a tarefa da Educa- referentes aos 1o e 2o ciclos (1a a 4a séries
ção crítica é promover condições para que do Ensino Fundamental) e no ano de 1998
estas estruturas autoritárias sejam suspen- os relativos aos 3o e 4o ciclos (5a a 8a sé-
sas e o ensino encaminha no sentido de ries), incluindo um documento específico
uma emancipação, possibilitado pelo uso para a área da Educação Física (BRASIL,
da linguagem. 1998). Em 1999, foram publicados os
A linguagem tem papel importante no PCNs do Ensino Médio por uma equipe
agir comunicativo funciona como uma diferente daquela que compôs a do Ensi-
forma de expressão de entendimentos do no Fundamental, e a supervisão ficou sob
mundo social, para que todos possam par- a responsabilidade da Secretaria de Ensi-
ticipar em todas as instâncias de decisão, no Médio, do Ministério da Educação e
na formulação de interesses e preferências do Desporto (BRASIL, 1999).
e agir de acordo com as situações e con- De acordo com o grupo que organizou
dições do grupo em que está inserido e do os Parâmetros Curriculares Nacionais,
trabalho no esforço de conhecer, desen- estes documentos têm como função pri-
volver e apropriar-se de cultura. mordial subsidiar a elaboração ou a ver-
Do ponto de vista das orientações di- são curricular dos estados e municípios,
dáticas, o papel do professor na concep- dialogando com as propostas e experiên-
ção crítico-emancipatória confronta, num cias já existentes, incentivando a discus-

14 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


são pedagógica interna às escolas e a ela- reivindicar locais adequados para promo-
boração de projetos educativos, assim ver atividades corporais de lazer
como servir de material de reflexão para a (BRASIL, 1998).
prática de professores. Três aspectos da proposta dos PCNs -
Os PCNs são compostos pelos seguin- área Educação Física representam aspec-
tes documentos: documento introdutório, tos relevantes a serem buscados dentro de
temas transversais (Saúde, Meio Ambien- um projeto de melhoria da qualidade das
te, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação aulas, quais sejam; princípio da inclusão,
Sexual, e Trabalho e Consumo) e docu- as dimensões dos conteúdos (atitudinais,
mentos que abordam o tratamento a ser conceituais e procedimentais) e os temas
oferecido em cada um dos diferentes transversais. Assim, a proposta destaca
componentes curriculares. uma Educação Física na escola dirigida a
As propostas elencadas, sobretudo nos todos os alunos, sem discriminação. Res-
PCNs - área Educação Física para os ter- salta também a importância da articulação
ceiros e quartos ciclos - apresentam al- entre o aprender a fazer, a saber por quê
guns avanços e possibilidades importan- está fazendo e como relacionar-se neste
tes para a disciplina; embora muitas des- fazer, explicitando as dimensões dos con-
tas idéias já estivessem presentes no tra- teúdos, e propõe um relacionamento das
balho de alguns autores brasileiros atividades da Educação Física com os
(BETTI, M. ,1991; BETTI, M., 1994; grandes problemas da sociedade brasilei-
1995; COLETIVO DE AUTORES, 1992, ra, sem, no entanto, perder de vista o seu
só para citar alguns), em discussões aca- papel de integrar o cidadão na esfera da
dêmicas, bem como no trabalho de alguns cultura corporal. Sem dúvida, tais aspec-
professores da rede escolar de ensino. tos se constituem em enormes desafios
Contudo, o texto publicado pelos PCNs para os profissionais da área.
auxiliou na organização desses conheci- Na página 25 será apresentado no
mentos, articulando-os nas suas várias Quadro 1 os principais conteúdos sugeri-
dimensões. dos por cada uma das abordagens nas di-
Eleger a cidadania como eixo nortea- mensões procedimentais, atitudinais e
dor significa entender que a Educação Fí- conceituais.
sica na escola é responsável pela forma-
ção de alunos que sejam capazes de: - 3 - ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS
participar de atividades corporais adotan-
do atitudes de respeito mútuo, dignidade e A organização dos conteúdos se refe-
solidariedade; - conhecer, valorizar, res- rem às relações e a forma de vincular os
peitar e desfrutar da pluralidade de mani- diferentes conteúdos de aprendizagem
festações da cultura corporal; - reconhe- que formam as unidades didáticas. Na
cer-se como elemento integrante do am- verdade, quanto mais relacionados entre
biente, adotando hábitos saudáveis rela- si maior a potencialidade de uso e com-
cionando-os com os efeitos sobre a pró- preensão.
pria saúde e de melhoria da saúde coleti-
va; - conhecer a diversidade de padrões Ao longo deste século, de acordo com
de saúde, beleza e desempenho que exis- ZABALA (1998), e cada vez mais, po-
tem nos diferentes grupos sociais, com- demos encontrar propostas e experiências
preendendo sua inserção dentro da cultura que rompem com a organização dos con-
em que são produzidos, analisando criti- teúdos centrados exclusivamente nas dis-
camente os padrões divulgados pela mí- ciplinas escolares. Estas novas formas de
dia; - reivindicar, organizar e interferir no organização buscam estabelecer relações
espaço de forma autônoma, bem como entre os conteúdos de diversas maneiras,

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 15


de tal modo que os alunos passem a com- Esta concepção apresenta uma reflexão
preender a realidade, que sempre se mani- ética como eixo norteador, por envolver
festa globalmente. posicionamentos e concepções a respeito
ZABALA (1998) cita como exemplos das causas e efeitos de sua dimensão his-
desta forma de organização dos conteú- tórica e política. A reflexão ética traz à
dos, que prescindem da compartimentali- luz a discussão sobre a liberdade de esco-
zação disciplinar, os centros de interesses, lha. A ética interroga sobre a legitimidade
o trabalho por temas ou tópicos, os proje- de práticas e valores consagrados pela
tos, nos quais o ponto de partida é o inte- tradição e pelo costume, abrangendo a
resse e aprendizagem do aluno e não a crítica das relações entre os grupos, dos
lógica interna das disciplinas. Por outro grupos nas instituições e ante elas, como
lado, as propostas de organização que não também a dimensão das ações pessoais.
têm como referência a própria disciplina Trata-se, portanto, de discutir o sentido
pode-se ser consideradas em projetos ético da convivência humana nas suas re-
multidisciplinar, a transdisciplinar ou in- lações com várias dimensões da vida so-
terdisciplinar. cial: o ambiente, a cultura, o trabalho, o
consumo, a sexualidade e a saúde.
Na Educação Física as tendências crí-
tico-superadora e aquela propostas pelos Na Educação Física, por exemplo, o
Parâmetros Curriculares Nacionais se Coletivo de autores (SOARES et alii,
manifestaram favoravelmente na busca de 1992) já havia mencionado a necessidade
interfaces dos conteúdos da Educação Fí- e importância de tratar os grandes pro-
sica com os grandes problemas da socie- blemas sociais nas aulas de Educação Fí-
dade brasileira. sica, tais como: ecologia, papéis sexuais,
saúde pública, relações sociais do traba-
O discurso dos PCNs gira em torno da
lho, preconceitos sociais, raciais, da defi-
cidadania, entendendo a escola como um
ciência, da velhice, distribuição de solo
dos espaços possíveis de contribuição pa-
urbano, distribuição da renda, dívida ex-
ra a formação do cidadão crítico, autôno-
terna; e outros, relacionados ao jogo, es-
mo, reflexivo, sensível e participativo. E,
porte, ginástica e dança. De acordo com
na perspectiva de consolidar tal objetivo,
os autores a
o documento apresenta como temática
central os temas sociais emergentes, indi-
cando-os como questões geradoras da rea- “...reflexão sobre estes problemas é
lidade social e que, portanto, necessitam necessária se existe a pretensão de possi-
ser problematizados, criticados, refletidos bilitar ao aluno da escola pública enten-
e, possivelmente, encaminhados. der a realidade social, interpretando-a e
Tais temas são chamados de Temas explicando-a a partir dos seus interesses
Transversais, pois podem/devem ser tra- de classe social” (p. 63).
balhados por todos os componentes curri-
culares, logo, sua interpretação pode se Na verdade, as iniciativas de discutir e
dar entendendo-os como as ruas princi- analisar propostas que ampliem a com-
pais do currículo escolar que necessitam preensão dos conteúdos da Educação Fí-
ser atravessadas/cruzadas por todas as sica para além da perspectiva disciplinar
disciplinas. Os temas desenvolvidos apre- ainda se mostram bastante preliminares.
sentam as seguintes problemáticas: Ética; A seguir, será apresentado o quadro
Meio Ambiente; Trabalho e Consumo; apontando a organização dos conteúdos
Orientação Sexual; Pluralidade Cultural e nas abordagem crítica e aquela proposta
Saúde, ou outros temas que se mostrem pelos PCNs.
relevantes.

16 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


graduação. Podemos citar: "O futebol fe-
Tendências Organização curricular minino nas aulas de Educação Física es-
colar" (SOUZA Jr., 1991), "Atividades
Vínculos com problemas da
sociedade brasileira; ecologia,
rítmicas e expressivas para alunas do ma-
papéis sexuais, saúde pública, gistério" (De ÁVILA, 1995), "O judô nas
Críticas aulas de Educação Física escolar"
dívida externa, distribuição de
renda, relações sociais do tra- (MATHIAS, 1995; NORA, 2000), "A
balho, velhice, e outros prática da ginástica aeróbia nas turmas
mistas" (VENTURA, 1996), "As práticas
Ética, Meio ambiente, Saúde,
Pluralidade Cultural, Traba- corporais alternativas na escola"
PCNs (FERREIRA, 2000). Outros autores bus-
lho e Consumo, Orientação
Sexual caram ampliar o leque de atividades cor-
porais na escola, por exemplo,
Quadro 2 - A organização curricular nas a- TAVALER (1995) propõe a prática do
bordagens. Tai-chi-chuan, SOUZA (1994) a dança
afro e VOLP (1994) a dança de salão.
4 - A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE Do mesmo modo, BETTI, I. (1995)
DOS CONTEÚDOS observou que, na análise do discurso dos
alunos de Educação Física do ensino fun-
Alguns autores têm condenado a práti- damental, eles reclamam por conteúdos
ca da Educação Física vinculada apenas a mais diversificados. Os resultados deste
uma parcela da cultura corporal, os espor- trabalho mostraram que os conteúdos pa-
tes coletivos, especialmente aqueles mais recem restringir-se à prática, ora da ginás-
praticados no Brasil: futebol, voleibol e tica como formas de aquecimento, ora aos
basquetebol. Discutindo este tema fundamentos e ao jogo esportivo propri-
BETTI, I. (1995) pergunta: tendo em vis- amente dito. Ficam, desta forma, ausentes
ta que os currículos das escolas de Educa- das aulas de Educação Física as experiên-
ção Física incluem disciplinas como dan- cias vinculadas às atividades rítmicas, às
ça, capoeira, judo, atividades expressivas, expressivas, e às da cultura popular, res-
ginástica, folclore e outras, como explicar tringindo, sobremaneira as possibilidades
a pouca utilização destes conteúdos? A de um trabalho corporal mais amplo. É
autora levanta as seguintes possibilidades preciso ressaltar que todas estas ativida-
para tal fato: Falta de espaço, de motiva- des fazem parte do currículo do curso de
ção, de material? Comodismo? Falta de formação em Educação Física, todavia,
aceitação destes conteúdos pela socieda- não com a mesma ênfase que as discipli-
de? Ou será que os professores desenvol- nas de cunho esportivo.
vem somente os conteúdos com os quais Porque, então, outros conteúdos não
tem maior afinidade? comparecem no ensino escolar? Os pro-
Segundo KUNZ (1989), o esporte co- fessores experimentaram por mais tempo
mo conteúdo hegemônico impede o de- e provavelmente com mais intensidade as
senvolvimento de objetivos mais amplos experiências esportivas.
para a Educação Física, tais como o sen- Além disso, LOVISOLO (1995) argu-
tido expressivo, criativo e comunicativo. menta, com base num amplo levantamen-
As possibilidades de ampliar as práti- to de opinião, que a comunidade entende
cas corporais na escola têm sido preocu- Educação Física na escola a partir justa-
pação de diversos estudos. Alguns foram mente destes dois fenômenos sociais: o
orientados por mim, como trabalhos de esporte e a ginástica. Um resultado do seu
final de curso de graduação e de pós- trabalho, que chama atenção para as difi-
culdades de efetuar mudanças de conteú-

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 17


do, refere-se ao fato de que a maioria dos que o profissional reconheça o seu papel e
responsáveis (54%), não vê diferença en- a veja criticamente.
tre Educação Física e esporte; apenas É KENSKI (1995) quem nos auxilia na
12,8% dos alunos conseguem diferenciar reflexão sobre a prática de alguns espor-
as duas áreas. tes em detrimento de outros quando lem-
O impacto da mídia sobre a escolha bra que nem todos os esportes tem o
dos conteúdos e sobre a forma como eles mesmo tempo de televisão:
são transmitidos, também não pode ser "Por ser um tipo de programação alta-
desprezado. Em um dos poucos ensaios mente rentável os campeonatos e compe-
existentes sobre o tema, mídia e Educação tições dos esportes mais populares são
Física, KENSKI (1995) avalia que o es- alvo de uma competição paralela, entre as
porte é um ótimo investimento, já que o redes de televisão, na luta pela obtenção
espetáculo é fácil de ser produzido, os ce- dos direitos de transmissão dos eventos.
nários e atletas já estão preparados e custa Criam-se assim hierarquias em que se
pouco para os investidores. A autora a- privilegiam determinados tipos de moda-
firma que: "...para a televisão, e para a lidades esportivas e seus respectivos
mídia em geral, o esporte é uma fonte i- campeonatos e alguns outros esportes,
nesgotável de notícias, de público e de menos nobres, que não são sequer men-
lucro". (p. 131). Sobre o impacto da tele- cionados pela Televisão (p. 131)".
visão na vida das pessoas a autora afirma: Quais esportes são mais valorizados
pela mídia, em termos de quantidade de
"... a penetração da televisão é uma horas de transmissão e em termos qualita-
característica do estágio atual da civili- tivos, como o horário e o canal de vincu-
zação e precisa ser compreendido como lação? A ênfase é sobre a transmissão de
realidade com a qual se tem que convi- jogos de futebol, voleibol e, e, alguns ca-
ver, não a aceitando incondicionalmente, sos, de basquetebol profissional dos Esta-
mas se posicionando e procurando apro- dos Unidos. E são justamente estes que
veitar da melhor forma possível a nova são implementados com maior facilidade
realidade em benefício dos ideais profis- pelos professores.
sionais que merecem ser mantidos" (p. Não se trata, como ressalta
131) . CASTELLANI FILHO (1993), de des-
considerar o esporte como conteúdo da
Em nossos dias foi observado este fe- Educação Física escolar, mas reconhecer
nômeno: até recentemente o futebol era o esporte "como uma prática social, resul-
um jogo praticado apenas por homens. A tado de uma construção histórica que, da-
televisão, em 1994, passou a exibir jogos da a significância com que marca a sua
de futebol feminino, provavelmente por presença no mundo contemporâneo, ca-
razões de ordem econômica, sem inten- racteriza-se como um dos seus mais rele-
ções de diminuir as práticas sexistas nas vantes fenômenos sócio-culturais"(p.13),
aulas de Educação Física. Não obstante, mas não o único.
os seus efeitos foram extremamente posi-
tivos. Hoje é possível observar uma práti- 5 - ESTUDOS RELACIONADOS AOS CON-
ca bastante acentuada do futebol feminino TEÚDOS NOS DOIS ÚLTIMOS CONBRACES
nas diferentes classes sociais. A mídia e,
especificamente a televisão, podem con-
tribuir (como podem atrapalhar) o desen- Neste tópico do trabalho pretendo ana-
volvimento de propostas mais adequadas lisar a produção do conhecimento referen-
da Educação Física na escola; é preciso te aos últimos anos publicados em evento
relevante da Educação Física, no sentido

18 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


de desvelar pistas importantes sobre o en- (MIRANDA et al., 1999; MAZONI,1999;
caminhamento das pesquisas na área dos OLIVEIRA, 1999), e outros com mais 2
conteúdos da Educação Física escolar. publicações (SOUZA & OLIVEIRA,
Nos dois últimos CONBRACES 1999; AMORIM & SILA, 1999).
(Congresso Brasileiro de Ciências do Es- Além destes dois grupos, (o que bus-
porte), um dos mais importantes eventos cou transformações didáticas para o es-
da área, realizados em 1997 em Goiânia e porte escolar, e o grupo que procurou a-
em 1999 em Florianópolis, foram publi- bordar outros conhecimentos para além
cados aproximadamente 28 estudos espe- do esporte), pode ser incluído um grupo
cificamente direcionados aos conteúdos menos numeroso de autores que procurou
da Educação Física escolar. É importante estudar novas formas de organização, se-
ressaltar que a maioria destes estudos uti- leção, sistematização e valores subjacen-
lizaram como referencial teórico a abor- tes aos conteúdos. Neste sentido podem
dagem crítico-superadora, o que é facil- ser citados os trabalhos de BAECKER et
mente explicado, considerando as caracte- al.(1997); FERREIRA (1997) que procu-
rísticas e a tradição do evento em análise, raram abordar as possibilidades do plane-
e também o maior número de pesquisado- jamento participativo na escolha e seleção
res da área pedagógica que se baseiam dos conteúdos escolares enquanto
nesta tendência. BAECKER & BAGGIO (1997) buscaram
Os trabalhos publicados nos anais, que compreender a tematização dos conteúdos
incluíam resumos e trabalhos na íntegra, e os seus valores subjacentes, e finalmen-
se dirigiam predominantemente a dois te RAMOS et al. (1999) que buscaram
aspectos dos conteúdos escolares. O pri- analisar as possibilidades dos temas
meiro grupo de trabalhos procurou abor- transversais para a Educação Física na
dar as transformações didático- escola.
pedagógicas que devem passar os espor- Estes resultados nos permitem, ainda
tes para estarem na escola, com o propó- que de forma preliminar, apontar que os
sito de caracterizar o esporte da escola, e estudos relativos aos conteúdos da Edu-
não o esporte na escola. Neste sentido cação Física têm se dirigido a analisar as
podem ser apontados os seguintes estu- transformações necessárias para o esporte
dos: SANTOS Jr (1997); MENDONÇA na escola, que é extremamente importante
(1997); ALVES (1997); SILVA (1999); dado o papel que desempenha tal conhe-
VIANA & FREITAS (1999); cimento/habilidade no mundo contempo-
VENTURA, P.H. et al. (1999); râneo. Além disso, os estudos parecem
OLIVEIRA (1999); BARROS et al. reconhecer a relevância da ampliação dos
(1999). conhecimentos a serem ensina-
No outro grupo de trabalhos mais fre- dos/aprendidos pelos alunos nas aulas de
qüentes sobre conteúdos apareceu as ex- Educação Física, que deve incluir, as gi-
periências realizadas no sentido de im- násticas, danças, jogos e outros conteú-
plementar outros conteúdos nas aulas de dos, na perspectiva da cultura corporal.
Educação Física escolar, para além dos Dentro do contexto do encaminhamen-
esportes tradicionais, como os jogos e to dos problemas a serem levantados a
brincadeiras populares com 4 indicações respeito dos conteúdos escolares discipli-
(CAMÊLO, 1997; ALMEIDA & nares, entendo que deveria haver esforços
SANTOS, 1999; FERREIRA, 1999, no sentido de investigar as possibilidades,
MAIA, 1999) as danças com 4 o que poderia ocorrer a partir de pesquisa
(MEDEIROS, 1999; BARBOSA, 1999; ação/participante, da construção do co-
BRASILEIRO, 1999; BARRETO, 1999), nhecimento sobre a sistematização e or-
as ginásticas com 3 indicações ganização, mesmo considerando que não

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 19


deverá haver uma padronização para to- lidades motoras, o exercício físico, o jogo
das as escolas ou alunos, uma vez que o cooperativo, as origens históricas das prá-
contexto deverá definir vários aspectos, ticas da cultura corporal e outros.
como interesses, motivações, conheci- Atualmente entende-se a Educação Fí-
mento prévio dos alunos, condições mate- sica escolar como uma disciplina que in-
riais e físicas da escola e, sobretudo, a troduz e integra o aluno na cultura corpo-
proposta pedagógica da própria escola. ral, formando o cidadão que vai produzi-
No entanto, princípios gerais, a partir de la, reproduzi-la e transformá-la, instru-
diferentes experiências com o trato da mentalizando-o para usufruir dos jogos,
cultura corporal precisam ser levantadas e dos esportes, das danças, das lutas e das
explicitadas. ginásticas em benefício do exercício críti-
Além disso, as possibilidades de novas co da cidadania e da melhoria da qualida-
relações com outras disciplinas ou com de de vida. Trata-se de localizar em cada
temas ou projetos da escola, para a Edu- uma destas práticas corporais produzidas
cação Física estar efetivamente integrada pela cultura os benefícios humanos e suas
à proposta pedagógica da escola, também possibilidades na organização da discipli-
se mostram necessários. Um exemplo po- na no contexto escolar.
de facilitar. No ano de 2000 o país co- Um ponto de destaque nessa nova sig-
memorou seus 500 anos, várias escolas nificação atribuída à Educação Física é
adotaram como tema bimestral, semestral, que a área ultrapassa a idéia única de es-
ou até anual esta questão para ser traba- tar voltada apenas para o ensino do gesto
lhada em todas as disciplinares escolares. motor correto. Muito mais que isso, cabe
O fato é que soubemos de várias esco- ao professor de Educação Física proble-
las nas quais os professores de Educação matizar, interpretar, relacionar, compre-
Física se recusaram a participar do proje- ender com seus alunos as amplas mani-
to da escola por não observarem relações festações da cultura corporal, de tal forma
com a temática em questão. Estes aconte- que os alunos compreendam os sentidos e
cimentos nos parecem bastante preocu- significados impregnados nas práticas
pantes, pois na perspectiva da cultura corporais.
corporal, não do esporte ou exclusiva- Assim, o papel da Educação Física ul-
mente da saúde, é possível pensar nas trapassa o ensinar esporte, ginástica, dan-
contribuições dos negros, índios e bran- ça, jogos, atividades rítmicas, expressivas
cos na construção do conhecimento da e conhecimento sobre o próprio corpo pa-
cultura corporal. Na verdade, falta à Edu- ra todos, em seus fundamentos e técnicas
cação Física tradição no encaminhamento (dimensão procedimental), mas inclui
de estudos e propostas de intervenção que também os seus valores subjacentes, ou
caminhem no sentido de observar a disci- seja, quais atitudes os alunos devem ter
plina de fato integrada à proposta peda- nas e para as atividades corporais (dimen-
gógica da escola. são atitudinal). E, finalmente, busca ga-
rantir o direito do aluno de saber por que
CONSIDERAÇÕES FINAIS ele está realizando este ou aquele movi-
mento, isto é, quais conceitos estão liga-
As análises das abordagens da Educa- dos àqueles procedimentos (dimensão
ção Física discutidas ao longo deste traba- conceitual).
lho indicaram que elas enfatizaram dife- Na Educação Física escolar, por conta
rentes conteúdos nas suas construções te- de sua trajetória histórica e da sua tradi-
óricas, o que inclui o esporte de rendi- ção, a preocupação do docente centraliza-
mento, as brincadeiras populares, as habi- se no desenvolvimento de conteúdos pro-

20 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


cedimentais. Entretanto, é preciso superar zação; a história, o contexto das diferen-
essa perspectiva fragmentada, envolven- tes modalidades esportivas; a qualidade
do, também, as dimensões atitudinal e de vida, atividade física e contexto sócio-
conceitual. cultural, as diferenças e similaridades en-
Para facilitar a adesão dos alunos às tre a prática dos jogos e dos esportes; as
práticas corporais seria importante diver- adaptações necessárias para a prática do
sificar as vivências experimentadas nas esporte voltado para o lazer, entre outros.
aulas, para além dos esportes tradicionais
(futebol, voleibol ou basquetebol). Na REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
verdade, a inclusão e a possibilidade das
vivências das ginásticas, dos jogos, das ALMEIDA, R. S., SANTOS, T. P. B.
brincadeiras, das lutas, das danças podem Jogos populares: Na perspectiva de uma
facilitar a adesão do aluno na medida em abordagem inovadora. In: CONGRESSO
que aumentam as chances de uma possí- BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO
vel identificação. É importante ressaltar ESPORTE, XI. Anais...v. III, p. 1448,
também que a Educação Física na escola 1999.
deve incluir tanto quanto possível todos
os alunos nos conteúdos que propõem a- ALVES, F. R. B. Organização e Sis-
dotando para isto estratégias adequadas. tematização do conhecimento sobre o
Não se pode mais tolerar a exclusão que conteúdo do esporte na escola: O que se
historicamente tem caracterizado a Edu- faz, o que se diz e o que se propõe em
cação Física na escola. Todos os alunos Pernambuco. In: CONGRESSO
têm direito a ter acesso ao conhecimento BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO
produzido pela cultura corporal. ESPORTE, X. Anais.... v. I, p. 345, 1997.
Após o período formal de aulas os alu- AMORIN, A; SILVA, R.M. O folclo-
nos deveriam ter condições de manterem re: conteúdo / resgate da cultura popular
uma prática regular, se assim desejarem, nas aulas de Educação Física numa pers-
sem o auxílio de especialistas, e sobretu- pectiva pedagógica transformadora. In:
do, compreenderem os sentidos e signifi- CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊN-
cados da cultura corporal. Este objetivo é CIAS DO ESPORTE, XI. Anais... v. III,
facilitado se os alunos vivenciam as dife- p. 1457,1999.
rentes práticas da cultura corporal e se BAECKER e BAGGIO, I. C. A tema-
compreendem o seu papel na sociedade. tização dos conteúdos das aulas de Edu-
Neste sentido, deverá compor o rol de cação Física e seus valores. Jogo como
conteúdos da disciplina da Educação Físi- conteúdo de ensino da Educação Física.
ca na escola, numa dimensão mais bioló- In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CI-
gica, por exemplo, as relações entre nutri- ÊNCIAS DO ESPORTE, X. Anais... v. I,
ção, gasto energético e as diferentes práti- p. 293, 1997.
cas corporais; as relações entre exercício, BAECKER, I. M. et al. Planejamento
lesões e uso de anabolizantes; o desen- participativo na seleção dos conteúdos.
volvimento das capacidades físicas (força, In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CI-
resistência e flexibilidade) e a aquisição e ÊNCIAS DO ESPORTE, X. Anais... v. I,
melhoria da saúde e da estética. p. 146, 1997.
Além disso, numa dimensão mais só- BARBOSA, K. C. M. Dança na esco-
cio-cultural deve ser esclarecido aos alu- la: a experiência com a oficina de dança
nos as relações entre esporte, sociedade e no 4o ciclo do centro pedagógico /
interesses econômicos; a organização so- UFMG. In: CONGRESSO BRASILEIRO
cial, o esporte e a violência; o esporte DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XI. Anais
com intenções de lazer e da profissionali- .... v. III, p. 1429, 1999.

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24 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


Tendências Finalidades Conteúdos

Procedimentos Valores, atitudes e Fatos e


normas Conceitos
Higienista/ Eugênica Melhoria das funções Ginástica Obediência
orgânicas Método Francês Respeito a autoridade
Formação das quali- Submissão ------------
dades motoras
Método Desportivo Melhora fisiológica, Jogo esportivo Lúdico
Generalizado psíquica, social e ------------
moral
Esportivista Busca do rendimento Esporte Eficiência
Seleção Racionalidade
Iniciação esportiva Produtividade -----------
Perseverante
Saber ganhar e perder
Psicomotricidade Educação Psicomo- Lateralidade
tora Consciência corporal ----------- ---------
Coordenação motora
Construtivista Construção do co- Brincadeiras e jogos Prazer e divertimento Mudanças
nhecimento populares das regras
Resgate da cultura
popular
Desenvolvimentista Desenvolvimento Habilidades locomoto-
motor ras
Manipulativas e de es- --------- ----------
tabilidade
Jogos cooperativos Indivíduos mais coo- Jogos Cooperação
perativos Solidariedade ---------
Participação
Críticas Leitura da realidade Jogos Questionador Origem e
social Esportes contexto da
Dança cultura cor-
Ginástica poral
Capoeira
Saúde renovada Aptidão física Exercício Indivíduo ativo Informações
Ginástica sobre nutri-
ção, capa-
cidades fí-
sica
PCNs (3o e 4o Ciclos) Cidadania Brincadeiras e Jogos Participação Capacidades
Integração à cultura Esportes Cooperação físicas
corporal Ginásticas Diálogo Postura
Lutas Respeito mútuo, às Aspectos
Atividades Rítmicas diferenças histórico-
expressivas Valorização da cultura sociais
Conhecimento sobre o corporal Regras
próprio corpo

Quador 1. Os conteúdos nas tendências pedagógicas da Educação Física escolar.

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 25

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