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II Encontro Mineiro de Ensino de Física – EMEFis

Universidade Federal de Lavras


01 a 03 de dezembro de 2021

CRENÇAS DE AUTOEFICÁCIA PARA PERMANÊNCIA NA


CARREIRA DOCENTE EM FÍSICA

SELF-EFFICACY BELIEFS TO REMAIN IN THE TEACHING CAREER IN


PHYSICS

Maryelly da Silva Faria¹, Sandro Rogério Vargas Ustra²


¹ Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de
Uberlândia, maryellyfaria@gmail.com
²Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de
Uberlândia, srvustra@gmail.com

Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir a influência das crenças de autoeficácia


na permanência dos professores de Física na carreira docente. Utilizou-se a Teoria de
Autoeficácia de Albert Bandura como referencial teórico, tendo em vista a relação das
crenças de autoeficácia com o aumento do interesse nas tarefas. A pesquisa foi
realizada com 31 professores de Física licenciados pela Universidade Federal de
Uberlândia. A análise foi realizada a partir de um questionário aplicado a esses
docentes, pontuando aspectos da autoeficácia em relação à formação inicial e à
docência. Verificamos que a motivação para permanecer como docente parece ser
construída, no caso desses professores, por aspectos intrínsecos advindos das
experiências vivenciadas ao longo da formação e desejo de fazer a diferença na vida
dos seus alunos.
Palavras-chave: Teoria de Autoeficácia, permanência na carreira, professor
de Física.

Abstract

The objective of this paper is to discuss the influence of self-efficacy beliefs on


physics teachers' permanence in the teaching career. Albert Bandura's Self-efficacy
Theory was used as a theoretical reference, considering the relationship of self-efficacy
beliefs with increased interest in tasks. The research was carried out with 31 Physics
teachers graduated from the Federal University of Uberlândia. The analysis was based
on a questionnaire applied to these teachers, scoring aspects of self-efficacy in relation
to initial training and teaching. We found that the motivation to remain as a teacher
seems to be built, in the case of these teachers, by intrinsic aspects arising from the

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experiences experienced during training and the desire to make a difference in the
lives of their students.

Keywords: Self-efficacy theory, career permanence, physics teacher.

Introdução

O baixo número de professores licenciados disponíveis para atuarem nas


escolas públicas brasileiras é uma discussão recorrente nas pesquisas de Ensino de
Física (NASCIMENTO, 2020; KUSSUDA,2012; ANGOTTI, 2006). Como fatores são
apontados: a falta de jovens interessados na carreira, a formação inicial, as políticas
públicas que se referem ao trabalho do professor, a desvalorização do trabalho
docente, a forma com que se constituiu a identidade docente desse profissional,
volume de horas de trabalho etc. (GATTI, 2009; GARCÍA, 2010; KUSSUDA, 2012).
Neste sentido, permeia a indagação sobre quais motivos levam o professor a
permanecer na carreira docente. São muitos desafios postos, aos quais não existem
soluções rápidas. Em pesquisa com estudantes de pedagogia, Melo e Cruz (2021)
destacam que a motivação para se tornar docente se encontra na afetividade. Os
participantes da pesquisa descrevem o encantamento em conhecer pessoas, ensiná-
las e aprender com elas. Simões (2013) aponta que estudantes que têm experiências
positivas e crenças de eficácia elevada em relação à Física tendem a ter interesse
duradouro nos conhecimentos da área e a seguirem a carreira.
Essa problemática é envolta por diversos contextos e tem sido debatida por
diferentes linhas teóricas. Uma dessas linhas está relacionada aos aspectos afetivos
que podem influenciar no processo de escolha da carreira de professor de Física,
como pode ser visto em trabalhos como de Simões (2013), Custódio, Pietrocola e
Souza (2013), Dalri e Mattos (2008) entre outros. Mediado por estas reflexões, este
trabalho discute a influência das crenças de autoeficácia na permanência dos
professores de física na carreira docente. Para isso, utilizaremos a Teoria da
Autoeficácia para compreensão dos elementos que motivam a permanência na
profissão.

Teoria da Autoeficácia
O conceito de autoeficácia foi introduzido por Bandura em 1977 em seu livro
“Self-efficacy: Toward a Unifying Theory of Behavioral Change”. A autoeficácia é
definida como a percepção ou crença do sujeito sobre sua capacidade para organizar
e executar um conjunto de tarefas que o encaminhem para determinadas realizações
(BANDURA, 1997). Segundo a teoria, as crenças de autoeficácia são construídas por
meio de quatro fontes principais de informação: as experiências pessoais,
experiências vicárias, a persuasão social e a excitação emocional.
As experiências pessoais baseiam-se nas experiências prévias dos sujeitos.
Assim, o bom resultado nas tarefas aumentam o senso de eficácia e as expectativas
em relação a tarefas iguais ou semelhantes, e ao contrário, quando não obtêm-se
bons resultados, as crenças de autoeficácia diminuem. As experiências vicárias são
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aquelas em que o sujeito constrói o julgamento de autoeficácia por meio da


observação do ambiente, ou seja, usam das experiências que outras pessoas viveram
para elevar suas crenças para realizar ações em situações iguais ou semelhantes.
Quando um professor observa a forma com que um colega realiza uma atividade, por
exemplo, pode fazer com que ele também se sinta capaz de realizar. É uma fonte de
experiência mais fraca quando comparada com as experiências pessoais, mas é
importante para construir crenças de autoeficácia sobre situações em que o sujeito
ainda não vivenciou ativamente. A persuasão social ocorre por meio da interferência
do ambiente social, os sujeitos adquirem crenças de autoeficácia por meio de
incentivo de terceiros. Este ambiente pode persuadir o sujeito sobre sua capacidade,
ou falta dela, de realizar determinadas atividades. A excitação emocional relaciona-se
com a avaliação das reações emocionais decorrentes do momento de execução de
determinado curso de ação. Se, ao enfrentar situações ameaçadoras, o sujeito se
coloca em estresse elevado, ele pode entender que o falta capacidade para realizar
as ações e isto debilita seu desempenho (BANDURA, 1977).
Em síntese, os sujeitos se engajam em tarefas em que eles sentem que são
competentes e capazes de realizá-las, e evitam aquelas nas quais não se sentem
confiantes. Se o professor não acredita que suas ações podem produzir os resultados
que espera, ele terá pouco incentivo para persistir em situações de dificuldade (AZZI;
POLYDORO, 2010). Desta forma, pode-se dizer que professores que têm crenças de
autoeficácia elevadas veem as tarefas como desafios que podem ser superados, e
aqueles que não acreditam em suas capacidades, as veem como ameaças que
precisam ser evitadas (BANDURA, 1997). A autoeficácia elevada tem relação com o
aumento do interesse nas tarefas. Desta forma, pode influenciar a escolha por
determinadas atividades e o tempo em que permanece-se nelas. Se o professor
possui autoeficácia elevada em relação a profissão, ele pode desenvolver interesse
duradouro e persistir em permanecer na docência.

Aspectos Metodológicos
O corpus deste estudo é composto pelas respostas de um questionário, que
foi aplicado online, contendo 13 questões sobre a entrada no curso de Física, as
contribuições do curso para o desenvolvimento da docência, e a motivação para ser
e permanecer como professor. Os participantes da pesquisa são 31 professores
licenciados em Física pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O critério de
escolha para a participação na pesquisa foi ter cursado Licenciatura em Física na UFU
e, a partir disso, interesse em participar.
Por motivos de recorte, neste trabalho, o foco se dará em torno de duas
perguntas: (a) Você acredita que o curso de Física forneceu o necessário para você
exercer a profissão docente? e (b) Você se sente confiante na atuação docente? A
primeira, visando compreender se os professores sentem-se confiantes quando a sua
formação inicial, e a segunda, objetivando analisar se o professor tem crenças de
autoeficácia elevadas. A análise dos dados foi realizada por meio da Análise Textual
Discursiva (ATD). A ATD é uma metodologia de análise de cunho qualitativo que visa
a produção de novas compreensões sobre os fenômenos e discursos (MORAES;
GALIAZZI,2011).

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Utilizou-se a Teoria de Autoeficácia como foco para dar início a categorização


por agrupamentos de elementos que tenham significados próximos. Assim, as falas
dos professores serão apresentadas com o intuito de analisar a influência das crenças
de autoeficácia na permanência como professor de Física. Da análise da percepção
dos aprendizes emergiram duas categorias, sendo elas: a) Autoeficácia em relação a
formação inicial; e b) Autoeficácia em relação à docência, que serão discutidas a
seguir.

Discussões
Buscaremos refletir nesta discussão sobre a relação entre a crença de
autoeficácia e a permanência na carreira de professor de física. Desta forma,
apresentaremos algumas falas que compõem a discussão. Os professores serão
chamados por P1, P2, Pn..., visando não identificá-los.

a) Autoeficácia em relação a formação inicial

Dos 31 respondentes, todos apresentam crenças de autoeficácia em relação


aos conteúdos relacionados a Física aprendidos na formação inicial, os professores
acreditam que dominam os conhecimentos e raciocínio lógico.
Acredito que o curso de física desenvolveu em mim muito do raciocínio
crítico voltado para a área da física. Vale mencionar também que o curso me
apresentou outros assuntos da física que eu não tinha conhecimento e
também um formalismo matemático que nunca tinha visto (P10).
Ele me mostrou e me possibilitou através das áreas de pesquisa, vivenciar
experiências de resolver questões elaboradas que me dão segurança para
resolver questões básicas do ensino médio. A licenciatura me deu
autonomia para o raciocínio científico e isso é tudo que eu preciso (P30).
Tanto o professor P10 como o P30 demonstram autoeficácia elevada em
relação ao domínio dos conteúdos de Física. Eles afirmam com clareza que sentem
segurança e se julgam eficazes no raciocínio lógico e matemático necessários para
compreenderem o conhecimento relacionado ao conteúdo. Assim, parece que o curso
fortaleceu a relação dos professores com o conhecimento físico, proporcionando a
eles experiências positivas. Destaca-se que a autoeficácia elevada em relação ao
conhecimento físico pode fortalecer o interesse pela profissão, tendo em vista que no
cotidiano do professor ele se relaciona com a Física para exercer à docência. Além
disso, inferimos que esta parece ser uma fonte de experiência pessoal onde os
professores obtiveram bons resultados. As experiências pessoais são a maior fonte
de influência nas crenças de autoeficácia.
Em relação aos conteúdos pedagógicos, 13 professores apontam que a
formação inicial não foi o suficiente para fazê-los sentirem seguros quanto à atuação
prática.
A formação pedagógica não dialogou com nenhum dos níveis possíveis
(Educação Básica e Superior). A docência descobri na prática. Não que eu
acredite que uma Licenciatura vá te preparar totalmente, mas ele precisa
estar mais próximas das exigências e realidades desses níveis de Ensino
(P19).

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Estes conflitos podem ter relação com sentimentos de dificuldade


experienciados no início da carreira docente. É consenso nas pesquisas (GARCÍA,
1998; HUBERMAN, 2000; PAPI; MARTINS, 2010) que a fase da iniciação no exercício
da docente é permeada de muitos conflitos entre o imaginário e o real. As condições
de trabalho, a solidão, a insegurança são aspectos comuns mencionados na narrativa
dos professores, mostrando momentos difíceis na iniciação da carreira docente. O
início da docência é o momento em que os professores enfrentam o choque da
realidade, onde percebem a diferença entre o que é idealizado em seus cursos de
formação inicial e o que encontram na realidade cotidiana das escolas. As novas
descobertas e aflições podem ser decisivas para a permanência na profissão e
também atuam como constituintes da atuação e identidade deste profissional
(MARIANO, 2006).
Aparentemente, esse sentimento de que não foi preparado para outros
aspectos da docência, além do conteúdo, pode ter criado situação de baixa eficácia
em um primeiro momento. Mas, os professores demonstram que persistiram para
superar quando descrevem que descobriram à docência na prática. É possível que as
crenças elevadas e emoções positivas em relação aos conhecimentos Físicos possam
ter sido suporte para que eles persistissem na docência. Simões (2013, p. 97) destaca
que “experiências emocionais positivas com a Física são marcantes e decisivas na
escolha por essa carreira”. Acreditamos que essas experiências constituem base não
só pela escolha, como pela permanência na carreira, tendo em vista que emoções
positivas podem levar ao interesse duradouro.
Os outros 18 professores acreditam que o curso tenha fornecido o que eles
precisavam para desempenhar a profissão. Demonstrando assim autoeficácia
elevada tanto no que diz respeito ao conhecimento Físico quanto no pedagógico.
Acredito que me auxiliou bastante, principalmente em relação aos
conhecimentos sobre didática, ensino, aprendizagem e diferentes
metodologias. Além disso, a oportunidade de participar da organização
de eventos de divulgação científica, olimpíadas, museu de ciências e a
comunicação com diferentes públicos e em espaços formais e não-formais,
compreendendo as particularidades e importância de cada espaço, foi
fundamental (P23).
O professor relata, também, a importância de outras atividades acadêmicas
como contributivas da experiência positiva em relação a formação inicial. Esse tipo de
reação emocional reforça a crença na capacidade de realizar certas ações que podem
otimizar e revigorar o desempenho como professor.
Além dos conhecimentos físicos, os professores mencionam experiências
vicárias quanto à prática docente. Seus professores influenciaram suas atitudes
perante a profissão, seja descobrindo qual postura eles gostariam de ter enquanto
profissionais como o que não queriam fazer.
Conhecimento tanto científico quanto pedagógico, além de várias
profissionais que me mostraram como ser e como não ser um professor
(P7).
Com o tempo, os diversos problemas vivenciados no curso de licenciatura em
Física, como atividades propostas pouco atrativas; relacionamento professor-
aluno verticalizado; práticas pedagógicas e formas de avaliação com viés
punitivo, em detrimento de situações de aprendizagem se tornaram uma

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oportunidade para eu refletir sobre a minha profissionalidade docente


(P18).
Em todo o percurso formativo temos contato com diversos professores que
podem influenciar tanto a escolha pela profissão docente como a prática. Simões,
Custódio e Rezende-Júnior (2016) apontam a importância do professor para a escolha
e ingresso na carreira. Neste caso, é possível destacar que os professores que nos
acompanham durante a vida influenciam não só o ingresso na carreira como a postura
enquanto profissional da educação.
Em suma, os professores apresentam crenças de autoeficácia quanto ao
percurso de formação inicial. Existe uma forte relação identitária quanto aos
conhecimentos físicos que se mostra positiva para crenças elevadas no desempenho
profissional. Além disso, observa-se que sentem-se pertencentes ao fazer profissional,
pois sempre apresentam um paralelo da formação inicial ao profissional que gostariam
de ser.

b) Autoeficácia em relação à docência

Dos 31 professores participantes da pesquisa, seis relatam não se sentirem


confiantes na atuação docente. Os relatos apontam que essa baixa crença em si na
atuação docente relaciona-se com os conflitos decorrentes do início da carreira, são
professores iniciantes. Os professores passam por várias fases em sua profissão que
são desafiadoras e complexas, quando iniciantes sentem insegurança frente aos
saberes específicos, se sentem sozinhos.
Não muito confiante pela falta de experiência, como eu disse em uma das
respostas anteriores no curso são pouco ofertados momentos dentro da sala
de aula como "disciplinas" obrigatórias (P28).
Apesar desse misto de sentimentos conflituosos, o professor iniciante que
reflete criticamente sobre essas relações, sobre o choque de realidade vive, tem
condições melhores de se adaptar e desenvolver novas estratégias que auxiliam seu
fazer profissional. Esses professores apontam em outros momentos que se sentem
motivados, principalmente pelas emoções positivas relacionadas ao processo de
ensinar.
Ainda não tive experiência o suficiente para poder responder, porém acredito
que o simples fato de ensinar e aprender já é um grande agente
motivador (P28).
Assim, de alguma forma, os elementos afetivos os levam a insistir mesmo em
situações de dificuldades.
As crenças elevadas em relação aos conhecimentos da Física e o interesse
pelas Ciências mostram-se novamente relevantes para a confiança e sentimento de
eficácia do professor. Entendemos que este aspecto foi positivo na vida desses
profissionais, que tentam incutir o mesmo sentimento em seus alunos.
Sim. Tenho confiança na minha prática docente tanto em conhecimento
como em dedicação. Busco meios de aprimorar e melhorar sempre a minha
atuação na educação e contribuir com a escola pública, incentivando meus
alunos nos estudos e olhar a ciência com brilho nos olhos (P11).
Hoje me sinto. Pois aprendi onde começa as minha relações com eles, o que
preciso fazer para compreender as dificuldades individuais de cada um deles,

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me tornei mais humanizada devido aos relatos de vida que tenho deles, me
aprimorei em formas de ensinar para atender os diferentes estilos de
aprendizagem e tudo isso somado a outros aspectos, fez com que eu me
tornasse uma profissional melhor (P19).
Destacamos que o engajamento como professor pode ser maior se eles
perceberem-se aptos em suas atividades, alguns elementos de seus discursos
demonstram que têm crenças de autoeficácia e sentem-se eficazes quanto a sua
atuação. Além disso, podemos ver indícios da importância da relação estabelecida
entre o professor com seus estudantes como motivação para aprender coisas novas
ou buscar aprimorar-se para exercer o seu trabalho.
Não podemos deixar de mencionar os frequentes momentos em que os
professores citam a desmotivação frente a desvalorização profissional. As crenças de
autoeficácia estão presentes, mas, para alguns, outros elementos se tornam
marcantes e influenciam diretamente a escolha por não permanecer na profissão.
Me sinto confiante e preparada para minha atuação, porém me sinto
desmotivada, devido ao baixo salário, falta de estrutura, atrasos de
salário e falta de reconhecimento que o professor da rede pública sofre.
Devido a isso estou na minha segunda graduação e em breve pretendo
abandonar a sala de aula (P2).
Desta forma vemos que não adianta ter professores bem formados se o
exercício da profissão não é atrativo, não é possível desvincular a formação docente
das condições de trabalho da carreira (SAVIANI, 2009).

Considerações Finais
Do discurso dos professores surgem diversos elementos que nos mostram o
que os fazem seguir o caminho da docência, como acreditar que tiverem uma boa
formação, sentir forte relação identitária com os conhecimentos Físicos, relação
professor-aluno, e sentirem-se pertencentes à profissão. Não podemos deixar de
destacar que estudar os aspectos afetivos que os fazem permanecer na carreira é
envolto de complexidade, tendo em vista que outros fatores intermediam essa escolha:
a filosofia de vida, o contexto social e político em que se insere, suas individualidades
etc. Diante dos resultados, verificamos que a motivação para permanecer como
docente parece ser construída, no caso desses professores, por aspectos intrínsecos1
(satisfação pessoal, boa relação professor-aluno, experiência etc.) internalizados das
experiências vivenciadas ao longo da formação e desejo de fazer a diferença na vida
dos seus alunos. A satisfação, gosto ou prazer pela docência, assim como sentir
interesse pelo desenvolvimento dos alunos, tem relação com fatores intrínsecos da
atividade docente (JESUS, 1996), e são estes os que mais influenciam a escolha por
permanecer na profissão. Parece-nos que a identidade relacionada aos
conhecimentos físicos é mais fortemente construída na formação inicial do que aquela
relacionada aos conhecimentos pedagógicos, não conseguimos elementos que
pudessem nos dizer o quanto isso pode afetar a permanência como professor. Os
conhecimentos físicos e a experiência vicária durante a formação, assim como a
experiência pessoal na docência, parecem ajudar a construir crenças elevadas quanto
1
Entende-se que a motivação é uma construção que envolve aspectos intrínsecos e extrínsecos dos indivíduos. Os
aspectos intrínsecos são voltados às predileções e satisfações individuais, e os extrínsecos aos fatores externos
relacionados ao contexto histórico e material em que cada professor se encontra inserido.
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à atuação profissional. Por fim, reafirmamos que é preciso conquistar e garantir


melhorias na carreira docente por meio das políticas públicas, de forma a torná-la mais
atrativa, valorizando o professor e dando condições adequadas para o trabalho e
desenvolvimento profissional.

Referências

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