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Análise de Entrevista Vocacional a partir da Teoria Sociocognitiva

Juliana Tiemi Suguita (2018177843)

Faculdade de Psicologia e de Ciência da Educação da Universidade de Coimbra

Modelos de Consulta no Contexto Vocacional

Maria Paula Paixão

2022/2023
Enquadramento teórico: Teoria Sociocognitiva da Carreira (TSCC)

O presente relatório tem como objetivo analisar uma entrevista vocacional a partir

de um dos modelos que foram apresentados ao longo do semestre na unidade curricular.

Tendo isso em vista, a discente escolheu o Modelo Sociocognitivo como fundamentação

teórica para a análise dos dados recolhidos. O referido modelo foi desenvolvido por

Lent, Brown e Hacket (1994), tendo sido amplamente influenciado pelo Modelo

Sociocognitivo de Bandura. Logo, dentro desse enquadramento, há uma ênfase em fatores

contextuais, pessoais e comportamentais, que influenciam no desenvolvimento do sujeito

e irão moldar a sua trajetória profissional. De acordo com a Teoria Sociocognitiva os

sujeitos possuem um papel ativo e influenciam o seu contexto a partir de suas ações. Em

contrapartida, os acontecimentos e o contexto irão ter um impacto direto nos afetos e

pensamentos individuais, que por sua vez, influenciam os comportamentos subsequentes.

(Lent & Brown, 2019)

Há três mecanismos cognitivos fundamentais dentro do enquadramento teórico da

TSCC: as crenças de autoeficácia, as expectativas de resultado e os objetivos pessoais.

As crenças de autoeficácia são definidas como a percepção que os sujeitos apresentam

acerca das suas capacidades de organizar recursos pessoais para a execução efetivas de

um determinado objetivo. Vale ressaltar que as crenças de autoeficácia apresentam caráter

dinâmico, interagem com outros fatores e ajudam a determinar em que atividades os

sujeitos irão se envolver, tal como o esforço empregado, a persistência e os padrões

emocionais e de pensamento. Já as expectativas de resultados podem ser descritas como

as consequências imaginadas pelos indivíduos decorrentes de determinados

comportamentos. Essas crenças, juntamente com a autoeficácia, funcionam como um

guia e possuem impacto direto na forma como os sujeitos se comportam. Por fim, os
objetivos pessoais possuem uma função na autorregulação dos comportamentos. O

estabelecimento de metas ajuda a conduzir e a sustentar as ações, tendo em vista os

resultados futuros desejados (Lent et al., 1994).

Inicialmente, a TSCC era composta por três modelos distintos: o Modelo do

Desenvolvimento dos Interesses, o Modelo da Escolha e o Modelo da Performance.

Posteriormente há a adição de dois novos modelos: um que engloba a satisfação e o bem-

estar nos contextos acadêmico e de carreira e o quinto que destaca os processos utilizados

pelos sujeitos para gerenciar os desafios desenvolvimentais comuns e normativos e as

tarefas individuais ao longo da vida profissional (Lent & Brown, 2019). O presente

relatório irá se focar no desenvolvimento dos interesses, mas vale destacar que os aspectos

abordados pelos diferentes modelos estão interligados e os próprios autores reconhecem

o caráter didático e artificial dessa segmentação em diferentes modelos (Lent et al., 1994).

De acordo com Lent, Brown e Hacket (1994), os interesses vocacionais são

desenvolvidos ao longo da infância e da adolescência, quando o sujeito é exposto a uma

série de atividades que são potencialmente relevantes para o contexto da carreira. Além

do efeito da exposição, os sujeitos irão desenvolver seus interesses a partir do feedback

de figuras importantes. Assim, a partir do engajamento repetido, do modelamento e do

contexto, os sujeitos irão formar um senso de autoeficácia em determinadas atividades,

adquirindo expectativas relativamente aos resultados obtidos. Em outras palavras, a

autoeficácia e os resultados são dois componentes fundamentais para a formação dos

interesses. Os interesses emergentes conduzem a uma série de objetivos, que irão levar a

uma série de comportamentos exploratórios. Essa exploração aumenta a probabilidade da

seleção de uma atividade e execução de ações. Por conseguinte, essas ações vão contribuir

para o envolvimento em uma determinada atividade, que produz resultados. Os resultados

obtidos levam a uma revisão das crenças de autoeficácia e nas expectativas de resultado.
Vale ressaltar que pode ser difícil para os interesses se desenvolverem se o sujeito

apresentar uma fraca autoeficácia ou em contextos em que resultados negativos são tidos

como certo. Assim sendo, pode-se dizer que as expectativas de resultado podem afetar

os resultados alcançados direta e indiretamente: primeiramente, os sujeitos se envolvem

em atividades que desencadeiam uma sensação de prazer. Ademais, os sujeitos são

movidos pelas recompensas extrínsecas e intrínsecas que antecipam. (Lent et al., 1994).

Metodologia

A recolha dos dados foi feita a partir do Questionário da História Vocacional,

disponibilizado pela docente na plataforma UCStudent. A discente realizou uma série de

alterações de forma a abranger os principais pontos do Modelo do Desenvolvimento dos

Interesses da TSCC (anexo 2). O questionário foi preenchido por DSS e ao longo da

sessão foi pedido para que o sujeito refletisse acerca das perguntas propostas. DSS

concluiu o ensino secundário no ano de 2022, logo, está passando pelo processo de

transição para o ensino superior. Assim, foi pedido para que respondesse as perguntas

levando em consideração o seu percurso acadêmico. As perguntas adicionadas pela autora

do presente relatório têm como objetivo explorar a forma como as crenças de autoeficácia

e o contexto influenciaram no desenvolvimento dos interesses da pessoa entrevistada,

tendo em vista que o indivíduo em questão nunca exerceu nenhuma atividade

profissional.

Interpretação das informações

O sujeito DSS terminou o ensino secundário em 2018 em São Paulo, Brasil.

Atualmente, DSS está no processo de ingresso ao ensino superior e espera conseguir uma

vaga para cursar Arquitetura. Relativamente as crenças de autoeficácia, DSS assinalou

que tende a subestimar suas capacidades e apresenta uma tendência de demonstrar

ansiedade diante das escolhas no âmbito do contexto acadêmico/de carreira (anexo 1).
Contudo, simultaneamente, acredita que possui capacidades para realizar escolhas no

âmbito profissional. Assim, pode-se dizer que DSS, apesar de apresentar inseguranças

acerca das suas capacidades, apresenta crenças positivas de autoeficácia. DSS, quando

questionada acerca do seu ingresso na faculdade, demonstra preocupações (“me

arrepender das minhas escolhas”, entretanto, tais crenças são normativas e não parecem

impedir o seu desenvolvimento a nível educativo.

Os principais interesses de DSS é a arte e a leitura. O sujeito refere que entrou em

contato com a arte desde muito cedo e teve incentivo dos pais para desenvolver suas

habilidades artísticas. Tal afirmação vai de encontro com a TSCC, que afirma que os

interesses se desenvolvem desde muito cedo, sendo amplamente moldados pelos fatores

externos ao sujeito, com destaque para o feedback de figuras significativas (Lent et al.,

1994). Um ambiente propício ao longo de seu desenvolvimento permitiu que DSS

cultivasse seu interesse pelo desenho, o que acabou influenciando diretamente a sua

escolha de curso: a arquitetura. Vale ressaltar que as suas expectativas de resultado

apresentaram um efeito direto no seu interesse pela arte. DSS diz que se sentiu frustrada

quando não conseguia realizar desenhos da forma como imaginava, o que contribui para

que seu interesse pelo seu hobby fosse diminuindo.

Relativamente a sua escolha profissional de ingressar na faculdade de arquitetura,

observa-se que DSS foi fortemente influenciada por seus interesses. Em adição, a nível

escolar, observa-se que os resultados negativos obtidos na disciplina de Matemática

contribuíram para que DSS colocasse em causa as suas habilidades na área. Por

conseguinte, observa-se que essas crenças fizeram com que DSS apresentasse dúvidas

acerca da sua possível performance na faculdade de arquitetura. Contudo, por ter vivido

em um ambiente em que teve suporte parental, DSS possui crenças de autoeficácia

positivas, que impactam diretamente na sua resiliência diante de um cenário incerto.


Por fim, DSS demostrou enorme determinação em ingressar na faculdade de

arquitetura. Ao longo da sessão da recolha de informação, DSS disse que havia entrado

em contato com um estudante de arquitetura da Universidade de Coimbra para entender

melhor como funcionava o curso. Ademais, DSS disse que teve a oportunidade de

conhecer um profissional da área que esclareceu suas dúvidas. Durante esse encontro,

DSS relata que se encantou pela área, o que contribui para que se empenhasse ainda mais

nos estudos para conseguir ingressar no ensino superior. Assim sendo, pode-se afirmar

que por ter um objetivo claro, o indivíduo se envolveu em uma série de ações

exploratórias, que contribuíram para que DSS consolidasse ainda mais os seus interesses.

Referências Bibliográficas

Lent, R. W., Brown, S. D., & Hackett, G. (1994). Toward a Unifying Social Cognitive
Theory of Career and Academic Interest, Choice, and Performance. Journal of
Vocational Behavior, 45(1), 79–122. https://doi.org/10.1006/jvbe.1994.1027
Lent, R. W., & Brown, S. D. (2019). Social cognitive career theory at 25: Empirical
status of the interest, choice, and performance models. Journal of Vocational

Behavior, 115. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2019.06.004


Anexos

Imagem 1

Consentimento informado

Danilla
Raguri Auguita furiana Trimi
Duguita
Anexo 1

Modelo da entrevista preenchido por DSS

Cormura 3
fanuiro 2
.
ß

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