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Barbosa, W. R. O. & Coguinetti, N. P. (2017). Habilidades sociais e contexto educativo.

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Habilidades sociais e contexto educativo: treino de habilidades


sociais no Ensino Fundamental I

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Wanusa Rita Oliveira Barbosa
Natália Pascon Cognetti
Centro Universitário UNIFAFIBE

RESUMO: A carência de habilidades sociais (HS) na infância e adolescência é compreendida como fator
de risco ao desenvolvimento humano, uma vez que a ausência destas pode colaborar ao estabelecimento
de comportamentos problemas como o desajuste escolar, depressão, abuso de drogas e, até mesmo,
suicídio. Neste sentido, a escola pode ser concebida como espaço de escolarização e educação, o que a
torna favorável para processos que aprimorem os relacionamentos interpessoais e intergrupais. O Treino
de Habilidades Sociais (THS), portanto, pode contribuir à redução de problemas comportamentais em
escolares e impulsionar as interações entre alunos, família e escola. Diante de tais premissas, esse
estudo objetivou analisar as habilidades sociais aplicadas ao ambiente educativo e elaborar um programa
para o treino de habilidades sociais em escolares no Ensino Fundamental utilizando a metodologia de
revisão narrativa da literatura. Por meio dos resultados do estudo, foram observadas as contribuições da
promoção de habilidades sociais para os processos de ensino e aprendizagem. Além disso, a
sensibilização dos alunos ao processo escolar e o fortalecimento do vínculo entre a tríade protagonista do
cenário educativo: alunos, pais e professores. Outro importante aspecto analisado refere-se à
necessidade de programas que avaliem os efeitos do THS em crianças, pais e/ou professores diante da
saúde mental destes. Ainda que pesquisas estejam sendo realizadas, o campo científico de investigação
das habilidades sociais carece de mais estudos teóricos e aplicados.

Palavras-chave: Habilidades sociais, Treino de habilidades sociais, Problemas comportamentais infantis.


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Social skills and educational context: social skills training in


Fundamental Education I

ABSTRACT: The lack of social skills (SS) in childhood and adolescence is understood to be a risk factor
for human development, since the absence of these skills contribute to the establishment of behavioral
problems such as school mismatch, depression, drug abuse and even suicide. Such behaviors can be
classified as internalizing or externalizing, being frequently observed in the educational context. In this
sense, a school can be conceived as a space for schooling and education, which makes it more favorable
for processes of improvement of interpersonal and intergroup relationships. The Social Skills Training
(SKT), before, can contribute to the reduction of behavioral problems in schoolchildren and foster
interactions among students, family and school. About this, this In this research, the methodology of
narrative review of the literature was used. Through the results of the study, the contributions of the
promotion of social skills to the teaching and learning processes were observed. These effects include,
among other benefits, the students' awareness of the school process and the strengthening of the link
between the triad protagonists of the educational scenario: students, parents and teachers. Another
important aspect analyzed is the need for programs that assess the effects of HRT in children, parents and
/ or teachers in relation to their mental health. Although research is being carried out, the scientific field of
social skills research needs more theoretical and applied studies.

Keywords: Social skills, Social skills training, Child behavioral problems.

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Wanusa Rita Oliveira Barbosa. End. Correspondência: Av. Prata, nº 923, CEP 28220-000, Planura, MG, Brasil, e-mail:
wanusarita@hotmail.com

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Barbosa, W. R. O. & Coguinetti, N. P. (2017). Habilidades e contexto educativo.
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(Bolsoni-Silva & Marturano, 2002). Segundo Caballo
Introdução (2003), o comportamento socialmente habilidoso
refere-se a um grupo de condutas do indivíduo
Os déficits em habilidades sociais nas praticadas com seus pares, relacionadas à
interações de crianças e adolescentes têm manifestação de sentimentos, atitudes, desejos,
preocupado estudiosos e pesquisadores do opiniões e direitos, de forma habilidosa. Nesta
desenvolvimento infantil. Neste contexto, o bom ou interação, os comportamentos dos sujeitos
mau desempenho social está relacionado a questões envolvidos são respeitados, solucionando-se assim
interpessoais que influenciam na determinação dos os problemas emergentes da situação, e prevenindo
comportamentos adequados ou não (Naves et al., a possibilidade dos comportamentos inadequados
2011). Quando analisada a ausência do repertório aparecerem novamente.
socialmente habilidoso aos escolares, observam-se Partindo-se das contribuições do treino de
implicações para a qualidade e sucesso dos habilidades sociais para as trocas interpessoais no
processos de ensino e aprendizagem. espaço educativo formal, apresenta-se a seguir a
Bolsoni-Silva, Silveira e Ribeiro (2008) compreensão teórica do termo, e a aplicação deste
consideram a fase escolar um período favorável ao no cenário educacional.
desenvolvimento de tais habilidades; nesta etapa, o
aluno experiencia uma integração social com o meio, O que são habilidades sociais?
diferente daquela proporcionada pela família, sendo
necessária à sua adaptação e ao bom Salter (1949) é considerado um dos teóricos
relacionamento interpessoal, a presença de responsáveis pelo início das discussões em
habilidades como a expressão de sentimentos,
Habilidades Sociais. Relacionado na literatura à
resolução de problemas, empatia e assertividade.
Psicologia Comportamental, o teórico considerou as
A partir do interesse pelos possíveis
descobertas de Pavlov sobre o reflexo condicionado,
benefícios proporcionados pelo Treino de
avançando nos estudos das expressões faciais e
Habilidades Sociais à educação, este estudo
verbais. Wolpe (1958) expandiu os estudos até então
objetivou, por meio de revisão bibliográfica, analisar
realizados e nomeou as classes de HS, oferecendo
tais contribuições e elaborar um programa para THS
em escolares atuantes no Ensino Fundamental I. subsídios para a conceituação da assertividade.
O artigo está organizado em três importantes Lazarus (1977), um dos discípulos de Wolpe,
tópicos: I. Referencial Teórico, em que são recriminou o destaque à manifestação dos
problematizados alguns desafios do espaço escolar sentimentos negativos e sugeriu a expressão de
e definido o conceito de HS; II. Resultados e sentimentos no repertório das habilidades sociais
Considerações, em que são discutidos os benefícios (Bolsoni-Silva & Carrara, 2010).
do THS aplicado ao contexto educativo e, III. É possível observar que nas últimas
Apresentação das etapas relevantes para a décadas, o treino de habilidades sociais tem sido
elaboração do programa. considerado entre as mais vantajosas e eficazes
intervenções na psicologia, especialmente, na
Habilidades sociais e o cenário educacional psicologia do desenvolvimento humano. Este se
estruturou enquanto técnica de intervenção,
O ser humano desenvolve grande parte do promovendo benefícios aos indivíduos que o
seu repertório comportamental por meio do ambiente realizam (Murta, 2005; Bolsoni-Silva et al., 2006b).
social e, para desempenhá-lo de maneira adequada, Segundo Bolsoni-Silva e Marturano (2002),
deverá emitir comportamentos compatíveis às ainda que amplamente divulgado, o conceito de HS é
necessidades estabelecidas socialmente. Neste muitas vezes entendido erroneamente como
ponto, a promoção das habilidades sociais, ganha sinônimo de assertividade. Esta deve ser
destaque. Estas abarcam as relações interpessoais compreendida enquanto subclasse das HS, e não a
do sujeito em seu ambiente social; ao apresentar um sua definição. O termo habilidades sociais se refere
desempenho social competente, este é capaz de a diferentes comportamentos habilidosos do
promover relacionamentos interpessoais satisfatórios indivíduo, diante de suas atuações sociais.

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Na perspectiva dos teóricos Del Prette, Paiva a fim de contribuir a instalação de repertório
e Del Prette (2005) as habilidades estão socialmente habilidoso ao sujeito e à promoção de
relacionadas à aptidão da pessoa em desempenhar- saúde e qualidade às relações estabelecidas por ele.
se e obter sucesso em sua relação interpessoal por
meio da integração entre pensamentos, sentimentos O cenário educacional e as habilidades sociais
e ações, sempre respeitando os parâmetros educativas (HSE)
estabelecidos socialmente e preservando a
autoestima e a relação com o seu par. O sistema educacional brasileiro, acometido
Ao se estudar as habilidades sociais, devem por embates sociais, culturais, econômicos e
ser levadas em consideração três dimensões de comportamentais do final do último milênio, tem
análise: a pessoal, situacional e cultural (Del Prette & apresentado desafios e requerido mudanças, a fim
Del Prette, 2006). A dimensão pessoal refere-se aos de que sejam potencializadas não apenas a
componentes do desempenho social formação técnica do aluno, mas também a sua
comportamentais (fazer/responder perguntas, preparação para a prática da cidadania, conforme
pedir/dar feedback, fazer/recusar pedidos, elogiar), dispõem os Parâmetros Curriculares Nacionais
cognitivo-afetivos (conhecimentos prévios, (PCNs). Estes, objetivando disseminar o início da
autoconceito, objetivos e valores pessoais, empatia, reforma curricular e nortear o trabalho docente,
resolução de problemas, autoinstrução, auto- orientam a participação efetiva do aluno no processo
observação) e fisiológicos (taxa cardíaca e de ensino, identificando a escola como ambiente de
respiração). transmissão de conhecimentos e espaço dinâmico, o
As características dos interlocutores e das qual deve promover, portanto, o desenvolvimento
demandas do contexto em que ocorre o desempenho técnico e social do seu educando (Brasil, 1998).
interpessoal (com o reconhecimento de que Segundo Corrêa (2008), a família e a escola
diferentes situações criam demandas sociais são as duas principais instituições responsáveis pelo
diferenciadas) compõem a dimensão situacional das desenvolvimento social da criança. Neste ponto, a
habilidades sociais. E por fim, a dimensão cultural escola deverá se atentar aos desempenhos
destaca o papel fundamental que as normas, valores apresentados por seus escolares, oferecendo
e regras das diversas culturas exercem sobre o suporte para a elaboração de uma cultura com
maiores possibilidades de sobrevivência saudável.
desempenho social (Del Prette, Paiva & Del Prette,
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
2005, p. 66).
Nacional (LDBEN) preconiza que a escola torna-se
A aquisição de habilidades sociais pelo responsável pelo desenvolvimento do aluno,
indivíduo pode também ocorrer por procedimentos preparando-o para desempenhar seus direitos e
que aconteçam naturalmente, ao longo de sua vida, deveres perante a sociedade, qualificando-o para o
por meio de suas interações sociais e das mercado de trabalho, atrelando ainda a educação
consequências destas sob seus comportamentos escolar, trabalho e exercícios sociais. Para tanto,
(Del Prette & Del Prette, 2011). As fases de vida compreende-se como necessária a criação de
marcantes para tal aquisição são a infância e a métodos pedagógicos capazes de suprirem as novas
adolescência, em que as práticas de aprendizagem demandas no contexto educativo e social (Brasil,
advindas da família e da escola 2015).
agrupam-se à experiência de convivência com os Neste aspecto, o déficit de habilidades
seus pares, fornecendo possibilidades para o sociais em crianças e adolescentes tem sido motivo
aprendizado e o aprimoramento da competência de preocupação entre os estudiosos e pesquisadores
social. Quando práticas que possibilitem esta da Psicologia do Desenvolvimento; as implicações
aquisição não são desenvolvidas, podem-se são observadas diretamente no contexto
observar impactos nas interações interpessoais do educacional. O alto índice de problemas sócio-
indivíduo, comprometendo a qualidade de vidas das emocionais, a falta de habilidades e de competências
pessoas envolvidas nestas relações. Corrêa (2008) sociais, vivenciados por crianças e adolescentes no
descreve que nestas situações em que as ambiente escolar, compromete os processos de
habilidades sociais não estão presentes no repertório ensino e aprendizagem (Naves et al., 2011).
do sujeito, torna-se importante à realização do THS, Segundo Bandeira et al. (2006), as dificuldades
ligadas ao insucesso escolar e a ausência de bom
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desempenho na aprendizagem, são fatores em ocorrência de problemas vivenciados por crianças e
evidência na educação no Brasil e têm sido alvos de adolescentes como crimes, drogas, conflitos
várias discussões; os registros sinalizam déficit na conjugais e emocionais e baixo rendimento
aprendizagem do educando, especialmente no acadêmico, colaborou para que a Organização
ensino fundamental. Mundial de Saúde (OMS) recomendasse o Treino de
Com relação a esse aspecto Okano et al. Habilidades Sociais em crianças, adolescentes e
(2004) comenta que as crianças com implicações no jovens, a fim de impulsionar a saúde mental e
processo de aprendizagem, tendem a apresentar promover condições de proteção a estes em
dificuldades quanto à percepção de si mesmas e circunstâncias de risco. Entre as principais
poucas habilidades sociais; tais dificuldades, caso habilidades a serem desenvolvidas estão o controle
não trabalhadas, podem se estender por todo o da impulsividade, análise das consequências dos
processo de escolarização. Ainda nessa perspectiva, comportamentos e tomada de decisão (Brasil, 2008).
não possuir um bom repertório de habilidades sociais Constata-se que crianças que possuem um
pode ocasionar o desenvolvimento de problemas amplo repertório de habilidades sociais têm mais
psicológicos; estes podem ser classificados como possibilidades de estabelecerem relações saudáveis
internalizantes (na relação consigo mesmo) e e com menor índice de rejeição por outras pessoas.
externalizantes (na relação com o outro) (Del Prette Estudos sugerem ainda que desenvolver habilidades
& Del Prette, 1998). sociais na infância é um fator de assistência contra a
Sobre os problemas de comportamento incidência de dificuldades de aprendizagem e de
internalizantes e externalizantes, Bolsoni-Silva et al. comportamentos antissociais (Castro Melo &
(2006b) discutem que ambas as classes podem ser Silvares, 2003).
relacionadas, respectivamente, às definições de falta
Neste sentido, Del Prette, Paiva e Del Prette
e excesso comportamental. As condutas de
(2005) sugerem um conjunto de habilidades
retraimento, depressão, ansiedade e queixas
compreendidas como essenciais ao desempenho
somáticas são associadas aos comportamentos
satisfatório nas interações sociais. Estas envolvem o
internalizantes; já os externalizantes estão ligados
autocontrole, expressividade emocional, civilidade,
aos comportamentos de impulsividade,
empatia, assertividade, fazer amizades, solução de
agressividade, agitação e demais características
desafiadoras. Desta forma, é importante considerar problemas interpessoais e habilidades acadêmicas.
que qualquer um dos repertórios mencionados Considerando os estudos dos autores é
prejudica o desenvolver psicológico e social da possível entender que a aplicação do treino de
criança, pois enquanto um impede a criança de habilidades sociais no ambiente escolar pode ser
interagir com o ambiente, o outro também pode realizada por meio de atividades estruturadas com a
colaborar para conflitos e provocar rejeição de outras sala de aula e/ou grupos de alunos. Tal processo
pessoas em seu contexto de interação (Bolsoni-Silva precisa ser formalizado e integrado ao currículo
et al., 2006b). escolar, na parte diversificada (Brasil, 2010). Além
A escola é um espaço em que os disso, uma das possíveis formas para a promoção do
relacionamentos interpessoais e intergrupais se treino é utilizar a metodologia de aprendizagem
desenvolvem e são complexos, por isso torna-se um informal ou acidental, aproveitando o desempenho
ambiente favorável à aplicação do treino de insatisfatório em situações naturais do ambiente
habilidades sociais. Este pode contribuir à redução escolar, que demandariam a apresentação de
dos conflitos observados no cenário e a promoção de habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, 1998).
relações positivas, fundamentais para a qualidade
das interações grupais (Corrêa, 2008). Métodos
Ainda, Silva e Murta (2009) relatam que a
carência em habilidades sociais na infância e Adotou-se como método para a realização
adolescência estabelece fatores de risco, pois está desta pesquisa a revisão narrativa de literatura que
relacionada a problemas psicológicos como o envolvesse as temáticas de Habilidades Sociais e
desajuste escolar, depressão, dificuldade em Educação. Para tanto, foram consultados alguns
relacionamentos interpessoais e, até mesmo, portais onlines de pesquisas, como: SciELO
suicídio. Para Gonçalves e Murta (2008), a alta (Scientific Electronic Library Online), Pepsic (Portal

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de Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e Google Esta etapa visa avaliar as habilidades e
Acadêmico. Além dos periódicos, foram revisadas necessidades dos participantes quanto à
dissertações de mestrado, teses de doutorado e competência social. Considerando-se o exposto no
estudos de teóricos renomados na área de referencial bibliográfico deste artigo, entende-se
Habilidades Sociais. Entre estes, foram estudadas as como relevante a participação ativa dos educandos,
pesquisas de: Bolsoni-Silva; Del Prette e Del Prette; professores e familiares nesta etapa. Inicialmente,
2
Murta . sugere-se a aplicação de atividades com os alunos
participantes que possibilitem a apresentação destes
Resultados e Discussão e, também, favoreçam ao facilitador do grupo
identificar as dificuldades nos relacionamentos
Os resultados deste estudo objetivam a interpessoais estabelecidos pela sala.
apresentação de um programa para a promoção de Para o diagnóstico com pais e professores,
habilidades sociais a alunos do Ensino Fundamental, orienta-se a utilização de instrumentos validados
ciclo I. Para esta elaboração, foram utilizados os para estas populações, como o Questionário de
dados observados por meio da revisão de literatura, Respostas Socialmente Habilidosas (QRSH), versão
a fim de que o treino sugerido esteja em consonância para pais e professores, respectivamente QRSH –
com os fundamentos teóricos da área. Pais e QRSH – Professores (Bolsoni-Silva, 2006a).
O QRSH possibilita a classificação das
Como realizar o THS no contexto educativo? habilidades sociais dos participantes em três
subclasses: disponibilidade social e cooperação;
O Treino de Habilidades Sociais é composto interação social positiva e expressão de sentimentos
por quatro fases: a primeira objetiva o levantamento e enfrentamento. Ambos os questionários são
e avaliação do desempenho dos sujeitos compostos por questões que poderão ser avaliadas
participantes, de forma a identificar as dificuldades pelos pais e professores enquanto: “não se aplica”;
relacionadas ao repertório de HS; a segunda “se aplica um pouco” e “certamente se aplica”.
relaciona-se a definição de metas para a intervenção
em habilidades sociais, considerando-se, nesta Etapa 2: elaboração das atividades
etapa, os resultados coletados na Fase I; a terceira
fase visa elaborar e estabelecer os procedimentos de A partir do diagnóstico realizado na etapa
intervenção a serem utilizados, de acordo com as anterior, devem ser sistematizadas as atividades que
metas propostas; já a quarta fase objetiva avaliar a possibilitarão o desenvolvimento das habilidades
intervenção quanto à efetividade do programa e sociais. A análise estatística dos questionários
generalização do repertório treinado (Del Prette & aplicados com pais e professores (QRSH) auxiliará
Del Prette, 1998). na compreensão das habilidades que se apresentem
A partir do exposto, sugere-se a realização deficitárias nos alunos, necessitando, desta forma,
do Treino de Habilidades Sociais com alunos do de treinamento. Considera-se fundamental, nesta
Ensino Fundamental, ciclo I, considerando-se as etapa, a utilização de dinâmicas que estejam ligadas
quatro etapas descritas a seguir: Etapa 1: a realidade escolar e social do educando.
Diagnóstico das necessidades quanto ao As dinâmicas vivenciais favorecem ambiente
desenvolvimento de Habilidades Sociais dos que possibilita a práticas das habilidades sociais e
Educandos; Etapa 2: Elaboração das atividades a podem ser organizadas a partir de uma
partir de situações-problemas vivenciadas pelos complexidade crescente; ao oportunizar situações
alunos em ambiente escolar e social; Etapa 3: práticas, a probabilidade de participação dos alunos
Aplicação do Treino de Habilidades Sociais; Etapa 4: é maior, uma vez que a metodologia tende a ser
Avaliação dos resultados obtidos com o THS, a partir mais prazerosa que apenas a exposição do conteúdo
da visão dos educandos, professores e família. (Del Prette & Del Prette, 2011).
Etapa 1: diagnóstico das necessidades em HS Os autores discutem os requisitos
importantes ao facilitador de vivências com crianças.
Para os teóricos (Del Prette & Del Prette, 2011, p.
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Os anos das publicações revisadas neste artigo estão 105), “a motivação do facilitador para ajudar a
apresentados nas Referências Bibliográficas, ao final do criança a superar suas dificuldades interpessoais é
trabalho.
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condição necessária, porém não suficiente, para a As discussões realizadas neste artigo
implantação de programas vivenciais minimamente sinalizam à importância do treino de habilidades
efetivos”. Neste sentido, reforçam a relevância da sociais em crianças e adolescentes em idade
qualificação do facilitador na área; conhecimento escolar, como estratégia para a prevenção de
sobre os princípios de aprendizagem; habilidades problemas comportamentais e, assim, ferramenta
específicas; participação no planejamento das que possibilite qualidade ao desenvolvimento sócio
atividades e conhecimento do grupo, além de emocional do educando. Como discutido, o programa
atenção as condições éticas. de intervenção em HS pode aprimorar o bom
desempenho social do aluno, trazendo benefícios
Etapa 3: aplicação do THS para a sua interação familiar e escolar (Cia &
Barham, 2009).
A terceira etapa deverá ser realizada depois Além de prevenir situações de risco ao
de analisado o diagnóstico em HS dos educandos, e desenvolvimento infantil, o THS pode colaborar para
também sistematizado o “esqueleto” do programa os processos de ensino e aprendizagem ao
(quantidade de encontros, temas a serem promover no aluno habilidades que o auxiliem na
trabalhados e vivências empregadas). Del Prette e expressão das dificuldades vivencia das neste c
Del Prette (2011) sugerem ao facilitador do treino contexto e nesta etapa de desenvolvimento (Naves
estudos e planejamento quanto às atividades a et al., 2011). As pesquisas na área sinalizam que
serem aplicadas. Quanto maior o domínio sobre a alunos com um bom desempenho social têm
técnica e o conhecimento do facilitador, maior a perspectivas favoráveis para o futuro, pois as HS
probabilidade de resultados efetivos com o processo. cooperam para o sucesso no rendimento escolar,
Deve-se oportunizar, nesta etapa, a participação nas relações pessoais e, até mesmo, na
efetiva de todos os alunos, com igualdade de generalização de tais comportamentos para outros
oportunidades no protagonismo dos papeis centrais espaços de atuação da criança e/ou adolescente
e complementares das dinâmicas utilizadas. Os (Cia & Barham, 2009).
autores orientam a participação de um segundo Outro importante aspecto analisado no
facilitador do grupo, a fim de que este possa se estudo refere-se à necessidade de mais programas
concentrar na observação das atividades e fornecer que avaliem os efeitos do THS em crianças, pais
feedbacks ao desempenho do facilitador aplicador. e/ou professores diante da saúde mental destes.
Ainda que pesquisas estejam sendo realizadas, o
Etapa 4: avaliação dos resultados obtidos com o campo científico de investigação das habilidades
THS sociais carece de estudos teóricos e aplicados.

Após a aplicação do THS, o facilitador Referências


deverá avaliar os resultados decorrentes do
treinamento. Para tanto, deverão ser convocados os Bolsoni-Silva, A. T. & Carrara, K. (2010). Habilidades
pais e professores dos educandos, a fim de que sociais e análise do comportamento:
estes possam novamente responder aos QRSH. compatibilidades e dissensões conceitual-
Estes questionários poderão ser utilizados como metodológicas. Psicol. rev. (Belo Horizonte),
indicadores do desenvolvimento das três subclasses 16(2), 330-350.
avaliadas no início do programa, pelos mesmos Bolsoni-Silva, A. T. et al. (2006a). Habilidades sociais
participantes: disponibilidade social e cooperação; e problemas de comportamento de pré-
interação social positiva e expressão de sentimentos escolares: comparando avaliações de mães e
e enfrentamento (Bolsoni-Silva, 2006a). de professoras. Psicol. Reflex. Crit., 19(3), 460-
Nesta etapa, os alunos participantes também 469.
deverão fornecer feedback sobre a compreensão do
Bolsoni-Silva, A. T. et al. (2006b). Habilidades sociais
THS e benefícios do mesmo. Para tanto, poderão ser
no Brasil: uma análise dos estudos publicados
elaboradas perguntas-chaves que favoreçam a em periódicos. In. M. Bandeira, Z. A. P. Del
compreensão e interpretação dos alunos sobre o Prette & A. Del Prette (Orgs.). Estudos sobre
treino. habilidades sociais e relacionamento
Considerações Finais
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Barbosa, W. R. O. & Coguinetti, N. P. (2017). Habilidades e contexto educativo.
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interpessoal. (pp.1-45). São Paulo: Casa do Corrêa, C. I. M. (2008). Habilidades sociais e
Psicólogo. educação: programa de intervenção para
professores de uma escola pública. Tese de
Bolsoni-Silva, A. T; Marturano, E. M. (2002). Práticas Doutorado, Faculdade de Filosofia e Ciências.
educativas e problemas de comportamento: Universidade Estadual Paulista, Marília, BR.
uma análise à luz das habilidades sociais.
Estudos de Psicologia, 7(2), 227-235. Del Prette, Z, A. P. & Del Prette, A. Habilidades
sociais: programas efetivos em grupo. São
Bolsoni-Silva, A. T; Silveira, F. & Ribeiro, D. C. Paulo, Casa do Psicólogo, 2011.
(2008). Avaliação dos efeitos de uma
intervenção com mães/cuidadoras: Del Prette, Z, A. P. & Del Prette, A. (1998).
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Caballo, V. E. (2003). Manual de técnicas de terapia
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Intervenção com Tarefas Lúdicas. Psicol. Pesq.,
Castro. R. E. F.; Melo. M. H. S. & Silvares. F.M. O 5, 39-50.
Julgamento de Pares de Crianças com
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Ampliado de Intervenção. Psicologia: Reflexão e escolares atendidas em programa de suporte
Crítica (Porto Alegre), 16(2), 309-318. psicopedagógico na escola: avaliação do
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Cia, F. & Barham, E. J. (2009). Repertório de
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comportamento, autoconceito e desempenho Habilidades Sociais para Adolescentes: uma
acadêmico de crianças no início da experiência no programa de atenção integral à
escolarização. Estud. Psicol., 26, 45-55. família (PAIF). Psicol. Reflex. Crit., 22, 136-143.

Recebido em 28/06/2017
Versão final em 16/10/2017
Aceito em 16/10/2017

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