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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo pretende desenvolver algumas considerações teórico-conceituais, resultante
de revisão bibliográfica não sistemática, que venham fundamentar possíveis ações de
investigação e intervenção, subsidiando práticas de pesquisa e extensão, com crianças
pré-escolares e os profissionais que lidem com elas em contextos institucionais de
educação formal e informal. Tratar dos processos de cognição social exige focalizar o
modo como os sujeitos processam informações emocionais e sociais nos campos de
interação social. Habilidades de processamento de informações que envolvem
decodificação e interpretação de significações sociais conduzem os sujeitos à
configuração de representações dos seus outros sociais com quem estabelecem relações
intersubjetivas. As experiências, semioticamente mediadas, tornam os sujeitos humanos
capazes de construir conhecimentos sobre a experiência social (MECCA, DIAS,
BERBERIAN, 2016) e estes conhecimentos ou saberes conduzem seus modos de ação no
cotidiano. Estes modos de lidar podem ser compreendidos como um conjunto de
habilidades sociais que situam os sujeitos em contextos de interação social, produzindo
ou fomentando relações sociais mais produtivas e satisfatórias. No desenvolvimento
destas considerações abordam-se as chamadas funções executivas, bases
neuropsicológicas fundamentais para a execução de ações comportamentais consequentes
às demandas sociais de responsividade social e participação social eficiente. Por fim,
justifica-se e recomenda-se que os estudos e a experimentação destes temas e suas
configurações empírico-comportamentais criam as condições para reconhecer na primeira
infância o instante para a promoção da saúde psicológica e a prevenção de possíveis
precursores psicopatológicos.
ABSTRACT
This article intends to develop some theoretical-conceptual considerations, resulting from
a non-systematic literature review, that will support possible research and intervention
actions, subsidizing research and extension practices, with preschool children and
professionals who deal with them in institutional contexts of formal and informal
education. Dealing with the processes of social cognition requires focusing on the way
subjects process emotional and social information in the fields of social interaction.
Information processing skills that involve decoding and interpreting social meanings lead
subjects to the configuration of representations of their social others with whom they
establish intersubjective relationships. The experiences, semiotically mediated, make
human subjects capable of building knowledge about social experience (MECCA, DIAS,
BERBERIAN, 2016) and this knowledge or knowledge guide their modes of action in
everyday life. These ways of dealing can be understood as a set of social skills that place
subjects in contexts of social interaction, producing or fostering more productive and
satisfying social relationships. In the development of these considerations, the so-called
executive functions are approached, fundamental neuropsychological bases for the
execution of behavioral actions consequent to the social demands of social responsiveness
and efficient social participation. Finally, it is justified and recommended that the study
and experimentation of these themes and their empirical-behavioral configurations create
the conditions to recognize in early childhood the moment for the promotion of
psychological health and the prevention of possible psychopathological precursors.
1 INTRODUÇÃO
Tratar dos processos de cognição social exige focalizar o modo como os sujeitos
processam informações emocionais e sociais nos múltiplos campos da interação social.
Habilidades de processamento de informações que envolvem produção, decodificação e
interpretação de significações sociais, por exemplo, conduzem os sujeitos à configuração
de representações dos seus outros sociais com quem estabelecem relações intersubjetivas.
As experiências, semioticamente mediadas, tornam os sujeitos humanos capazes
de construir conhecimentos sobre a experiência social (Mecca, Dias, Berberian, 2016) e
estes conhecimentos ou saberes conduzem seus modos de ação no cotidiano.
Na infância, uma série de alterações cognitivas, emocionais e sócio-interacionais
impactam processos complexos de aprendizagem e desenvolvimento que conduzem
crianças ao incremento de habilidades sociais que as fazem sujeitos sociais competentes
na leitura e atuação em contextos sociais diversos e múltiplos, em que serão inseridos em
função das características culturais dos seus grupos familiares e comunitários. Desde os
2 anos de idade crianças são capazes de compreender estados intencionais de seus
parceiros interacionais (Souza; Veludo, 2016). Noções de justiça diante de situações
Del Prette e Del Prette (2017, págs. 17, 18 e 19) propõem o que denominam de
um “Portfólio Geral das Habilidades Sociais”, que definem como “uma listagem de
classes e subclasses de Habilidades Sociais relevantes e pertinentes às tarefas e papeis
sociais bem como à etapa de desenvolvimento”:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os signos e artefatos sociais, as palavras e os gestos, toda uma gama multifacetada
e infinita de significações sociais situam os sujeitos e, neste cenário, as crianças pré-
escolares como aqueles que experimentam processos complexos de construção cultural
da realidade humana em contextos historicamente situados.
Conforme afirmam Aleixo Reis e Sampaio (2018), quando identificamos um
baixo repertório de habilidades sociais na infância visualizamos sinais preditivos do
desenvolvimento futuro de psicopatologias e problemas de comportamento. Acrescentam
os autores que as dificuldades “no controle de impulsos, falta de empatia e de tomada de
iniciativa também podem estar associados à disfunções dos sistemas frontais do cérebro
relacionados ao controle das chamadas Funções Executivas (FE)” (ALEIXO REIS,
SAMPAIO, 2018: pág. 3).
A recomendação de Andrade, Carvalho, Lucci, Argollo, Mello e Abreu (2016) de
que:
desde a primeira podem, conforme aponta a literatura, promover saúde mental desde o
início do processo de escolarização formal ou informa.
O estudo e a proposição de programas de formação para profissionais da educação
sobre as dimensões neuropsicológicas, cognitivas e afetivas da aprendizagem e do
desenvolvimento na primeira oferecem subsídios para a compreensão dos
comportamentos das crianças, assim como a promoção de comportamentos acolhedores
e proativos destes profissionais no atendimento das demandas típicas da primeira
infância.
Ações interventivas no contexto das práticas pedagógicas na primeira infância
devem buscar promover o reconhecimento das singularidades do outro social, a
preocupação com os sentimentos dos seus parceiros sociais expressos e reconhecidos,
com o reconhecimento e compreensão das próprias emoções para atuar na resolução de
problemas coletivos mediante práticas colaborativas.
Portanto, pesquisas e intervenções que focalizam as funções executivas (FE)
podem, potencialmente, oferecer situações e instantes em que os sujeitos caminhem no
desenvolvimento dos processos complexos de cognição social na medida em que podem,
em situações coletivas desenvolver, experimentar e reavaliar comportamentos e os
significados que deles emergem como aprendizagens sociais.
REFERÊNCIAS
DEL PRETTE, Zilda; DEL PRETTE, A. Psicologia das habilidades sociais na infância:
teoria e prática. Petrópolis: Vozes, 2005.
MARTINS, Talita Pôuzas Soares; MIRANDA, Débora Marques de; FISHER, Marianna.
O desenvolvimento humano de 1 a 5 anos. In. MIRANDA, Débora Marques de;
MALLOY-DINIZ, Leandro (Orgs.). O pré-escolar. São Paulo: Hogrefe, 2018.
UEHARA, Emmy;
MATA, Fernanda; FICHMAN, Helenice Charchat; MALLOY-DINIZ, Leandro F.
Funções executivas na infância. In: SALLES, Jerusa Fumegalli de; HAASE, Vitor
Geraldi; MALLOY-DINIZ, Leandro F. (Orgs.). Neuropsicologia do desenvolvimento:
infância e adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2016.