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ISBN 978-85-5510-043-7
19-25796 CDD-371.1023
1. Apresentação...............................................................................................................................................................................................................................07
Algumas orientações.....................................................................................................................................................................................................................25
4. Materiais consultados..............................................................................................................................................................................................................33
1. Apresentação
Olá Professor! A presente cartilha trata de informações A cartilha é então direcionada aos profissionais da
relacionadas a prática docente, bem como de comportamentos educação e demais leitores interessados nas contribuições das
que podem auxiliá-lo no processo de ensino e de relacionamento Habilidades Sociais Educativas (HSE). Esperamos que o material
com o aluno. Diante dos desafios observados no cenário educativo, opere como suporte à promoção de interações sociais habilidosas
pensamos num material que pudesse compendiar alguns dos entre professores e alunos, estimulando as práticas educativas
princí�pios desenvolvidos pela área teórico-prática das habilidades que contribuam positivamente à transmissão cultural e ao
sociais, mais especificamente, as direcionadas as práticas desenvolvimento pessoal e profissional da nossa sociedade.
educativas positivas de professores.
Nossa intenção com a cartilha não é a de padronizar a Boa leitura!
atuação docente, nem mesmo a de esgotar as possibilidades
de treinamento em habilidades sociais, mas atuar como um
disparador para a procura de métodos de ensino mais efetivos
ante os objetivos propostos com a educação1.
1
Consideramos aqui os objetivos apresentados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
LDBEN (2013).
EXPRESSÃO
EXPRESSAR E OUVIR COMPORTAMENTO
SENTIMENTOS
OPINIÕES HABILIDOSO
NEGATIVOS
3
Para a elaboração e discussão dos temas, consultamos a Cartilha Informativa para pais,
de Bolsoni-Silva, Marturano & Loureiro (2006); Del Prette & Del Prette (2001; 2013).
Quando falamos em comunicação, é preciso considerar alguns Quando dizemos aos alunos que depois faremos e/ou
comportamentos importantes ao aprimorarmos tal habilidade, conversaremos, é imprescindí�vel lembrarmo-nos deste “combinado”;
entre estes: fazer e responder perguntas; iniciar, manter e encerrar caso contrário, corremos o “risco” de o aluno avaliar nossa conduta
conversação; gratificar e elogiar. como não consistente. Neste caso, além da possí�vel
A atuação docente requer que a comunicação seja clara e dificuldade para estabelecermos novos limites ante a avaliação
eficaz, a fim de que possamos atingir os objetivos propostos pela da nossa conduta pelo aluno, também fornecerí�amos a este um
educação. Todavia, é comum a ocorrência de comportamentos modelo de comportamento não favorável as suas interações sociais
que, quando não observados, podem prejudicar a comunicação positivas e à aprendizagem.
estabelecida com o aluno e, desta forma, interferir no interesse e
qualidade da sua aprendizagem. Como exemplo, temos a situação Reflita:
em que o aluno requer a atenção do professor e/ou realiza algum Como está a sua comunicação em sala de aula?
pedido durante a sua aula. Muitas vezes não respondemos ao Como e com qual frequência tem conversado com os
pedido ou solicitamos que o aluno espere, esquecendo-nos, seus alunos?
mais tarde, de atender/responder ao que fora solicitado. Consegue identificar problemas de comportamento infantis
Neste sentido, é preciso sinalizar aos nossos alunos as gerados por falhas em sua comunicação?
atividades que desenvolvemos que nos impossibilitam, em
determinadas situações, atendê-los e/ou conversar com estes. A
apresentação de um comportamento mais adequado, que também
forneça modelo de comportamento a criança/adolescente, é
extremamente relevante ao seu desenvolvimento.
O ensino torna-se muito mais efetivo quando “Como é o lugar em que vive? O que
o educando estabelece relações claras entre você mais gosta de fazer lá?”
aquilo que aprende e o que vivencia em sua
realidade! Logo, investigar o contexto social, “Conte-me sobre o seu bairro!”
Procure estabelecer relações econômico e cultural dos nossos alunos, nos
“O que te deixa mais feliz em seu
entre o conteúdo aprendido aproxima da sua realidade e facilita o nosso
dia a dia?”
e a realidade do educando! planejamento! Nesta investigação, procure
utilizar perguntas abertas, uma vez que elas “Como é esta questão em seu bairro?”
auxiliarão na coleta de maiores informações com
o aluno (perguntas fechadas, como: “você gosta “Vamos pesquisar sobre isto
disso?” limitam as respostas a “sim” ou “não”). em nossas casas?”
“Ah, sim!”
Demonstrar atenção ao que o outro fala ou faz
produz resultados positivos e estimuladores “Sim, estou entendendo...”.
Demonstre uma escuta ativa, faça para a sua expressão! Logo, apresentar (Acene com a cabeça, a expressão corporal
perguntas sobre aquilo que está comportamentos que revelam a nossa escuta, é uma ótima aliada na comunicação).
sendo relatado a você! auxilia na comunicação com o aluno! Seja
curioso e revele interesse ao que é relatado “Também me sinto triste quando você
a você! me conta isto, mas vamos chegar a
uma solução juntos!”
Você poderia
ORDEM
terminar sua
atividade como
combinamos?
Já conversamos sobre as contribuições de práticas educativas Quanto mais afeto apresentarmos no processo de ensino,
positivas para o engajamento e interesse do aluno em sala de aula. mais modelos de interações sociais saudáveis serão fornecidos
Tais práticas estão intimamente ligadas a nossa habilidade em aos nossos alunos. Portanto, devemos estar preparados para
expressar sentimentos positivos, solidariedade, fazer amizades e receber elogios e também expressá-los aos nossos educandos,
cultivar o amor. Tais habilidades são extremamente importantes, ainda que os comportamentos adequados que esperamos destes
pois é por meio delas que construí�mos relações saudáveis, baseadas estejam apenas no iní�cio do seu desenvolvimento.
em honestidade e confiança.
Muitas vezes, os desafios da atividade docente (salas de Vamos refletir juntos!
aulas cheias, alunos com problemas de comportamento, etc.) Imagine a situação em que o professor solicita a um aluno
dificultam expressarmos que sentimos amor ou agrado pelo que este se comporte e concentre-se na aula. Diante da ordem,
educando; nestas situações, acabamos nos acostumando a o aluno passa a fazer os exercí�cios recomendados, mas,
expressar apenas sentimentos negativos e coercitivos, como pede auxí�lio ao professor a todo o momento. Estressado
desagrado, raiva, tristeza, rancor, etc. Como exemplo, podemos com as dificuldades em sala, o professor chama à atenção
citar a situação em que um aluno desafia e/ou ofende o professor. da criança, alegando que esta não consegue manter-se fo
Neste momento, quais sentimentos são gerados no professor? cada nas atividades, tumultuando a aula. A partir do que
E� compreensí�vel que diante de situações como esta, sintamos discutimos como você avaliaria a conduta do professor?
raiva do aluno e nos distanciamos de relações de afeto com Tal postura irá contribuir para que o aluno apresente
este. Entretanto, tal postura irá colaborar para a mudança no comportamentos vantajosos a sua aprendizagem? E�
comportamento do aluno? provável que não!
LEMBRE-SE:
Expressar elogios colabora ao desenvolvimento
da autoestima e da autoconfiança do outro!
Estes podem ser expressos diante de situações Senti a sua falta na
diretamente ligadas a aprendizagem (como aula de ontem!
a realização de atividades, presença em aula, Que bom que está
etc.), mas também diante de contextos gerais! presente hoje!
O que sentimos quando nossas opiniões são desconsideradas O direito de ser ouvido e levar a sério.
ou desvalorizadas? E� possí�vel que tais condições nos tragam O direito de estar só quando desejar.
sofrimento e, muitas vezes, sentimentos como raiva e revolta. Ouvir O direito de fazer qualquer coisa desde que não viole os
e respeitar opiniões, ainda que difiram da minha, é habilidade direitos de alguma outra pessoa.
fundamental ao bom conví�vio social, além de oportunizar ao O direito de defender aquele que teve o próprio direito
outro exercer os seus direitos enquanto cidadão. violado.
Deste modo, consideramos que os direitos humanos básicos O direito de respeitar e defender a vida e a natureza.
são indispensáveis na relação estabelecida entre professor e aluno;
estes envolvem comportamentos que interferem diretamente na Vamos refletir: devemos punir o comportamento indisciplinar
qualidade das relações interpessoais. Da mesma forma que os ou opositor da criança/adolescente, sem que esta possa manifestar
seus motivos e sem explicarmos qual o comportamento inadequado
professores possuem direitos que devem ser respeitados, as
e as possí�veis consequências negativas deste para a sua aprendizagem?
crianças e adolescentes também os possuem e, portanto, precisam
ser considerados na prática educativa. São eles:
Ao emitirmos um comportamento objetivamos algo, ou
seja, todo comportamento apresentado possui uma função ao
O direito de ser tratado com respeito e dignidade. indiví�duo: fazer “birra” pode, por exemplo, funcionar como
O direito de recusar pedidos (abusivos ou não) quando maneira do aluno se esquivar das tarefas/atividades da aula e/
achar conveniente. ou, em outros momentos, como forma de receber à atenção do
O direito de mudar de opinião. professor. Em ambas as situações, a maneira de o aluno expressar
O direito de pedir informações. os seus interesses é inadequada, no entanto, punir ou ignorar
O direito de cometer erros por ignorância e buscar tais comportamentos pode não ser efetivo para diminuir a sua
reparar as faltas cometidas. frequência. Nestas situações, devemos considerar que é direito
O direito de ter suas próprias necessidades e considerá-las da criança ou adolescente manifestar os seus interesses e opiniões;
tão importantes quanto às necessidades dos demais. devemos ouvir e compreendê-los para que possamos estimular
O direito de ter opiniões e expressá-las. interações pessoais mais positivas.
SE SE
DISCORDANTE: SEMELHANTE:
Validar a opinião Validar a opinião
do aluno, e do aluno e
explicar o porquê reforçar o que
de não concordar pensam de
com esta. maneira
concordante.
SE SIM...
Consegui respeitar
Fui agressiva
a opinião do outro
e/ou impositiva
e, ainda assim,
com o outro? COMPORTEI-ME DE FORMA NÃO
manifestar a minha? HABILIDOSA PASSIVA!
Já conversamos sobre a importância em expressarmos, PASSO 3. Especificar, de forma concreta, qual comporta-
sempre que possí�vel, nossos sentimentos positivos. Mas, o que mento desejamos que o aluno mude. E� interessante sugerirmos
fazer diante dos sentimentos negativos? “Quando um aluno um ou dois comportamentos que não sejam muito difí�ceis. Além
atrapalha a minha aula, como agir nesta situação, considerando disso, devemos perguntar ao aluno se este concorda com a
que estou chateada e/ou com raiva deste?” Vamos lá! nossa opinião, a fim de estimularmos e fornecermos modelo de
uma negociação saudável (lembrando, neste ponto, dos direitos
PASSO 1. Descrever o comportamento que nos desagradou, humanos básicos que devem ser respeitados).
dizendo o que o aluno fez ou disse, o momento e lugar em que
isso aconteceu e a frequência com que esse comportamento PASSO 4. Descrever as consequências positivas que
tem ocorrido. ocorrerão caso o aluno realmente mude de comportamento. No
caso de ser necessário (e apenas nesse caso!), podemos dizer a
PASSO 2. Expressar os sentimentos ou pensamentos ele quais consequências negativas ocorrerão se o comportamento
negativos que o comportamento inadequado nos gerou. não for alterado.
Precisamos também nos lembrar de que, em situações de
fazer e/ou recusar pedidos, devemos ser objetivos, não insistentes
nem ameaçadores, mas assertivos com as respostas.
Utilize palavras de fácil compreensão ao aluno e evite Passo 01: Quando você se levanta
termos que possam ofender ou denegrir a sua imagem: em sala e não realiza o exercício...
lembre-se que estamos nos referindo ao comportamento,
e não a pessoa de forma geral!
Passo 02: Fico triste e preocupada
Seja objetivo e expresse os sentimentos negativos que o em como você aprenderá se não realiza a
comportamento lhe causou lembrando-se da comunicação atividade e ainda atrapalha a aprendizagem
habilidosa e não ativa (agressiva)! dos seus colegas com o barulho...
Compreendendo o contexto de intervenção por si só, satisfatória (Skinner, 2003). Isto quer dizer que a
aprendizagem, além de condizente à realidade do aluno, deve
Professor, ao atuarmos em sala de aula é importante o ser prazerosa e vantajosa ao sujeito. Deste modo, a utilização de
conhecimento sobre os diferentes ritmos de aprendizagem, eventos metodologias ativas de ensino pode favorecer o interesse ao
e ações que possam ser reforçadoras à nossa turma. Compreendemos conteúdo ensinado e colaborar para que a aprendizagem aconteça,
que conhecer o perfil individual de cada aluno é desafiador quando contribuindo a compreensão dos benefí�cios desta aos nossos alunos.
trabalhamos com uma sala numerosa, no entanto, a compreensão Muitas vezes pensamos que as “broncas” em sala de aula atuam
sobre como alguns grupos trabalham é relevante ao estabele- como inibidoras daqueles comportamentos que consideramos
cermos ações que possam trazer sentido ao comportamento inadequados. Todavia, as broncas ou castigos podem atuar como
de aprender. Neste ponto, damos atenção a dois aspectos: o forma de ter / receber atenção para a criança e/ou adolescente
autoconhecimento e a utilização de metodologias que possam que não a possuem em seu ambiente social. Ou seja, ser o foco
auxiliar na aprendizagem. da sala enquanto cobramos por disciplina, ao invés de atuar
Ao aprimorarmos o nosso autoconhecimento, identificamos como algo ruim ao aluno, poderá ser fonte de atenção e, assim,
as habilidades que podem ser melhoradas em nosso perfil, e ter a probabilidade de ocorrência deste mesmo comportamento
também àquelas que estão deficitárias. Além disso, estamos mais (indisciplinar), aumentada.
bem preparados para atentarmos a situações que nos sejam
estressantes e refletirmos sobre a melhor forma de resolvê-las. Reflita: quais comportamentos temos reforçado (dado atenção)
E� importante compreendermos que o conteúdo ensinado precisa em nossa sala de aula? De que forma reforçamos estes: com
ser, de alguma forma, vantajoso ao nosso aluno em sua prática broncas e castigos ou de forma habilidosa? Lembre-se: sempre é
social, a fim de que a aprendizagem possa ter sentido e ser, mais vantajoso trabalharmos com práticas educativas positivas!
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