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Martim Caeiro T3DO20 nº4767

APRECIAÇÃO CRÍTICA - "FARSA DE INÊS PEREIRA", GIL VICENTE

A "Farsa de Inês Pereira", redigida por Gil Vicente, surge no início do século XVI e
pretende claramente analisar vários grupos sociais da época.
O dramaturgo explora temas seus contemporâneos da vida concreta, recorrendo ao
cómico, introduzindo várias personagens e tendo sempre uma intenção crítica perante
cada uma delas. Além disso, serve-se de personagens-tipo, que representavam a
mentalidade de diversos grupos e/ou classes sociais do período histórico em que
estava inserido, e recorre à representação do quotidiano através da exposição de
vários costumes, como, por exemplo, a prática religiosa e a ocupação da mulher
solteira em tarefas domésticas tal como bordar.
Inês, personagem principal da obra, revela-se uma jovem pragmática e pouco
consciente que vê no casamento uma via para a independência e liberdade, tendo por
ideal um homem discreto e avisado. São-lhe apresentados dois pretendentes
totalmente distintos: Pêro Marques, homem leal, rural e ingénuo que Inês põe logo de
parte e Brás da Mata que, em instantes, faz da rapariga sua esposa. É neste momento
da obra que é mais sentida a comédia de enganos, resultante da agilidade com que Gil
Vicente dá asas à literatura: o Escudeiro, que se tinha feito passar por um homem
animado, com posses e reconhecido, demonstra-se violento e mesquinho, acabando
por ser morto por um pastor. Assim se inicia o ciclo de vingança que leva, de forma
astuta, Inês a casar com Pêro Marques, descarregando nele toda a liberdade de que
Brás da Mata a privou, fazendo-o passar por “marido cuco”. Gil Vicente encerra, deste
modo, a trama que, tal como todas as suas obras, foi marcada pela sua distinta
qualidade e criatividade.
Deste modo, esta obra vicentina é um importantíssimo marco histórico da literatura
portuguesa. De facto, a forte sátira, enquadramento histórico e inteligência, aplicados
pelo autor são de elogiar, revelando que estava muito para lá do seu tempo. Apesar de
as classes sociais não serem as mesmas, várias críticas aplicadas por Gil Vicente
mantêm-se, o que contribui para a intemporalidade da sua obra. Este dramaturgo,
satirizava o seu próprio público, encobrindo os seus ferozes ataques através da
provocação do riso. Na verdade, a luta de Gil Vicente não está na busca contínua do
bem, mas sim na correção de atitudes e na eliminação da hipocrisia, tentando fazer
desaparecer o mal existente.

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