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AQUISIÇÃO DA LINGUA MATERNA (L1) E APRENDIZAGEM DE LINGUA SEGUNDA (L2) OU

LINGUA ESTRANGEIRA (LE): PROCESSOS COGNITIVOS E FATORES CONDICIONANTES

Primeiramente, é importante destacar os termos APRENDIZAGEM e AQUISIÇÃO, que, embora


frequetamente usados como sinónimos, têm significados diferentes.
O termo aquisição é geralmente reservado para a lingua materna, e outras linguas, ou seja L2
ou LE se aprendem. Isto quer dizer que o termo aprendizagem implica o estudo formal da
lingua segunda, ou seja, o estudo que se desenrola geralmente na aula, com profesor, com
explicações gramaticas, exercícios etc., e aquisição da L2 se realiza de forma similar a como
uma criança aprende L1, por contato direito.
Muitos cientistas têm tratado a dar resposta às grandes perguntas sobre a capacidade humana
de linguagem; como por exemplo: Como e porque os seres humanos começam a falar?, Qual é a
relação entre linguagem e pensamento? Quais são os fatores envolvidos na aprendizagem? O
que é que todas as linguas naturais têm em comum? Aprendem-se L1 e outras linguas na
maneira igual?, etc.
Não existem respostas únicas a estas respostas, mas hoje eu vou apresentar as teorias mais
relevantes sobre a aquisição da lingua materna, expor as diferenças entre aquisição de lingua
materna e aprendizagem de lingua segunda, explicar o processo de aprendiyagem e os fatores
condicionantes mais relevantes na aprendizagem de L2.
AQUISIÇÃO DA L1
1) Teorias de aquisição da L1
Há muitas teorias sobre aquisição da L1, mas os mais importantes são:

 As teorias cognitivas, que consideram que a aquisição de linguagem não se difere do


qualquer outro aprendizagem e que se trata de um processo mental que implica o
desenvolvimento gradual de conhecimento das estruturas linguísticas.
 A teoria behaviorista, popularizada por B.H. Skinner, 1957, acreditava que
aprendizagem se dava por meio de imitação, repetição e formação de hábito; e que
aprendizagem se baseia na sequencia estímulo-resposta-reforço. Por exemplo, os
crianças imitam a lingua produzida pelos seus país e por seu esforço, ele recebe um
feedback postitivo, que pode tomar forma de um cumprimento ou de continuação de
comunicação. Mas esta teoria recebeu muitas críticas, especialmente pelo Chomsky e
sua
 A teoria innatista, que rejeitou a teoria behaviorista. As crianças não aprendem falar por
meio da imitação, mas aprendizagem linguística se se produz graças a existência de um
mecanismo inato para aquisição da língua. Chomsky cunhou o conceito de gramática
universal (GU), ou seja, a pré-programação linguística que permite o processamento de
qualquer língua natural.
2) O processo da aquisição de L1
Agora vou apresentar uma breve exposição de desenvolvimento da língua seguindo as
diferentes etapas da aquisição.
Nas condições normais, existem 3 elementos relacionados à aquisição da L1:
a) O desenvolvimento de capacidade linguística da criança
b) O seu relação com o ambiente que o rodeia
c) A capacidade intelelectual
Há 5 etapas em que se pode dividir a aprendizagem linguística:
a)0-2 anos b) 2-4 anos c) 4-7 anos d) 7-12 anos e) adolescencia até idade adulta
Pode se dizer que a criança dispõe de todo o sistema fonético e da gramática ao fim da terceira
etapa, más o léxico e pragmática se desenvolvem ainda durante as últimas duas etapas.

DIFERENÇAS ENTRE AQUISIÇÃO DA L1 E APRENDIZAGEM DA L2


a) Nas condições normais, a aquisição da L1 de uma criança tem um sucesso total em
todos os casos, e o sucesso total de aprendizagem de uma L2 de um adulto é limitado a
uma pequena minoria.
b) A criança aprende a língua para satisfazer os seus necessidades de comunicação,
enquanto o adulto precisa comunicar ideias mais complexas e por isso deve aprender a
língua adequada para esta tarefa.
c) A criança não se preocupa ou tem medo de cometer erros e por isso, a aquisição de L1 é
independente dos fatores como a motivação, aptidão, personalidade etc, que afetam,
de forma decisiva, o aprendizagem do adulto.
d) A criança não precisa de instrução formal para atingir o nível de nativo na sua língua
materna. O adulto, ao contrário, precisa de instrução formal para perceber
determinadas caraterísticas que não é capaz de capturar simplesmente por meio de
input.
e) O objetivo das crianças é pré-determinado pela capacidade de aprender falar, enquanto
os adultos podem ter vários objetivos, por exemplo para ler textos escritos nessa língua,
para enteder os seus clientes etc.
A APRENDIZAGEM DA L2
1) Processos cognitivos
Na aprendizagem da L2 interviram vários fatores que se podem agrupar em três grandes
grupos:
a) Fatores externos – input, relação com o ambiente, contexto e situação de aprendizagem
etc. – estes fatores causam variabilidade no termos de velocidade de aprendizagem e o
grau de acercamento à fala do nativo que pode atingir.
b) Fatores internos – língua materna, conhecimento do mundo e conhecimento linguístico.
c) Fatores individuales – idade, personalidade, iteligencia, etc.
Existe um certo ordem natural e previsível na aprendizagem de L2 que pode incluir as formas
não nativas no seu desenvolvimento. ?? interlíngua – o sistema de regras variáveis da L2 do
aprendente no processo de aprendizagem.
Existem dois tipos de conhecimento linguístico: o implícito e o explícito, que se distinguem por
sua forma de aquisição, armazenamento/memória e processamento, mas não por seu objeto,
que é mesmo, a L2. A aprendizagem do conhecimento implícito não é consciente e adquire-se
quando a informação é processada receptivamente – através da vista e ouvido. A aprendizagem
do conhecimento explícito é consciente e refere-se ao conhecimento das regras e caraterísticas
da L2.
2) Fatores condicionantes na aprendizagem da L2
Os fatores envolvidos no processo da aprendizagem da L2
a) Fatores externos ou sociais: o input
A importância dos fatores externos é no facto que eles determinam a forma em que o
aprendenta vai estar em contacto com a L2 e a qualidade e quantidade do input.
Os fatores mais importantes são o contexto e a situação. Eles são considerados a primeira causa
de variabilidade nos termos de ritmo de aprendizagem e o grau de perfeição que o aprendente
pode atingir.
1. CONTEXTO

 Contexto natural - fala-se de contexto natural quando o aprendente está em


constante exposição e contacto com a língua objeto de aprendizagem; isto é o caso
quando a língua é a língua oficial no país em que o aprendiz vive; neste contexto
fala-se duma segunda língua como o sinónimo de “língua não materna”; no outro
lado, temos a língua estrangeira, cuja aprendizagem ocorre na situação da aula.
 Contexto misto - aquele em que, por um lado, a vida profissional e a vida social de
aprendiz se desenvolvem entre os nativos dum país e, por outro lado, o aprendiz
beneficia da instrução explícita.
POR EXEMPLO, para um emigrante africano no Portugal, a aprendizagem do
português produz-se no contexto natural e para ele, português é uma segunda
língua. Se ele assiste as aulas de português para estrangeiros lá, o contexto é
misto/combinado. Para os estudantes portugueses que estudam croata em Portugal,
por exemplo, croata é uma língua estrangeira que aprendem na situação da aula.
 Contexto de língua oficial - como, por exemplo, inglês na Índia ou inglês nos muitos
países da África

2. SITUAÇÃO

Também, o que é importante na aquisição de L2 é a situação de ensino, por exemplo,


educação formal/não formal, idade adulta/infantil dos aprendizes, ensino
obrigatório/não obrigatório, aulas com muitos alunos/com poucos alunos, professor
nativo/não nativo.

3. INPUT
O input - para o input ser produtivo, deve ser compreensível e compreendido (intake)
 quando o falante adapta o seu discurso para fazê-lo compreensível – facilita a
comunicação, ou seja, simplifica o léxico e articula mais claramente, mas também
contribui à aprendizagem de segunda língua do aprendente.

b) A transferência
A transferência é a influência que resulta das semelhanças e diferenças entre a língua-alvo e
qualquer outra língua previamente adquirida.
As investigações provam que a transferência marca todos os níveis da língua, especialmente na
fonética.
Existem alguns fatores reguladores ou restritivos da transferência que são decisivos nos efeitos
que a transferência produz: podem ser
internos -- a idade de sujeito, o nível de interlíngua ou a perceção do aprendiz sobre a
distância linguística, ou
externos -- o contexto ou a pressão em que se realiza o ato comunicativo
Também, pode ocorrer a interferência -- uma transferência negativa. Por exemplo, o erro
cometido por um falante de espanhol quando diz “no is true” (espanhol: “no és verdad”).
É um facto que a L1 é um fator central na aprendizagem da L2 e por isso não é possível
entender o processo de aprendizagem de uma língua não nativa sem apresentar o papel da L1.
c) Fatores individuais
Alguns autores argumentam que esses fatores não são puramente individuais, já que estão
relacionados com aspetos socioculturais – por isso falamos frequentemente de influências não
linguísticas.
Estes fatores são: a idade, os fatores afetivos (a motivação, a inibição), a aptidão (depende de outros
elementos como a inteligência e a memória), a personalidade, as crenças sobre como se aprende uma
segunda língua, o estilo de aprendizagem (= a forma em que o aprendiz percebe, interage e responde ao
contexto de aprendizagem).

Também se fala das estratégias de aprendizagem, que são definidos como as técnicas e
procedimentos que o aprendiz utiliza para aprender, memorizar e automatizar o conhecimento
da segunda língua.
Bem como das estratégias de comunicação que são definidos como recursos/meios que o
aprendiz utiliza para explorar os seus conhecimentos da segunda língua quando se encontra
perante um obstáculo no seu processo de comunicação.

 a idade
É possível estabelecer algumas generalizações no que diz respeito à idade:
1. Os adultos avançam mais rapidamente do que as crianças no início da aprendizagem de
uma L2.
2. As crianças entre 8 e 12 anos de idade progridem no início mais rapidamente do que as
crianças entre 3 e 8 anos de idade.
3. No entanto, ao longo prazo, as crianças pequenas alcançam um nível superior do que os
outros grupos.
Estas generalizações se devem mencionar com respeito à existência de um período crítico de
aprendizagem, e fora deste prazo não é possível atingir o sucesso total de desenvolvimento de
capacidade linguística.
Também existe um período sensível de aprendizagem dentro qual a aprendizagem é mais fácil,
por exemplo, alcançar a boa pronúncia para um adulto pode ser mais difícil do que adquirir um
vocabulário rico.
Para concluir esta questão de idade podemos dizer que os adultos aprendem mais rápido,
especialmente a gramática, mas as crianças podem alcançar uns níveis na L2 semelhantes aos
dum nativo, particularmente no caso da pronunciação.

 a aptidão
Os estudos destacam que a aptidão é muito importante nas situações informais e contextos
naturais de aprendizagem.
Podem-se distinguir quatro componentes da aptidão:
a) Capacidade de codificação fonética - consiste na habilidade para discriminar, codificar,
recordar e reproduzir sons duma L2
b) Sensibilidade gramatical - capacidade para reconhecer e compreender as diferentes
funções das palavras
c) Capacidade indutiva de análise de L2 - capacidade de inferir regras da L2 a partir das
mostras às que o aprendiz tem acesso
d) Memória associativa - para reter e recuperar vocabulário
A questão: a aptidão se pode desenvolver ou é inata? Geralmente é admitido que o
conhecimento de outras línguas facilita a aprendizagem duma nova língua, já que as pessoas
têm desenvolvidas as estratégias de aprendizagem e de comunicação  a aptidão pode
adquirir-se.

 a inteligência
A avaliação da inteligência apresenta muitos problemas porque não é fácil distingui-la dos
outros fatores como a memória.
Os testos de inteligência podem mostrar a capacidade de aprendizagem das regras gramaticais,
mas não a capacidade de comunicação e interação.

 a personalidade
As características da personalidade que se podem associar com a aprendizagem da L2 são,
entre outras:
a) a dicotomia introversão ou extroversão
b) a capacidade de correr riscos
c) o estilo de aprendizagem dependente de campo ou independente do campo
É muito importante poder separar a capacidade de aprender da capacidade de comunicar
porque a pessoa pode aprender as regras mas pode ter dificuldades na interação.

 outros fatores
Também, é importante mencionar outos fatores relevantes à aquisição da L2, como o sexo, a
ordem de nascimento na família, as crenças de aprendente sobre como se aprende uma L2.

Quando se trata de ordem de nascimento, dizem que as crianças maiores e os filhos únicos são
melhores imitadores da L1, mas não há referências no que diz respeito a L2.
O sexo: resultados de estudos são em favor das mulheres  por causa da mais rápida
maduração do cérebro feminino, a maior motivação para aprender L2, os seus melhores
resultados académicos e as suas habilidades para se relacionar socialmente.

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